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NUTRIÇÃO E ÉTICA 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alisson David Silva 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Ao abordarmos a ética no contexto dos cuidados em saúde, naturalmente 
nos deparamos com a complexidade da bioética. Diante da constatação de que 
as questões éticas tradicionais não abrangiam adequadamente os dilemas 
relacionados à saúde humana, pensadores e profissionais introduziram o 
conceito de bioética. Essa abordagem visa oferecer suporte tanto aos 
profissionais de saúde quanto à sociedade em geral, enfrentando os desafios 
relacionados à vida humana para promover o máximo bem-estar possível. 
A bioética incorpora princípios fundamentais, como autonomia, 
beneficência, justiça e respeito à vida, estabelecendo padrões mínimos para 
assistência à saúde, pesquisa e outras esferas ligadas à vida. Além disso, ao 
contemplarmos os cuidados de saúde, inevitavelmente nos deparamos com 
questões relacionadas à morte. Os cuidados paliativos assumem um papel 
crucial no atendimento a pacientes terminais ou aqueles que necessitam de 
cuidados especializados, priorizando o melhor tratamento para esses casos. 
Abordamos os conceitos relacionados à alimentação, uma área que não 
apenas impacta a saúde, mas também suscita uma série de questões éticas a 
serem consideradas. O direito humano à alimentação adequada nos conduz a 
indagações cruciais: quem merece assistência para efetivar esse direito? Qual 
entidade deve garantir esse direito e de que maneira? Estas perguntas são 
abordadas detalhadamente neste capítulo. 
A análise bioética das questões alimentares envolve temas como 
sistemas agroalimentares, o uso de agrotóxicos, a engenharia genética, e a 
influência das propagandas de alimentos, entre outros. Esses elementos são 
parte integrante das discussões bioéticas que permeiam a alimentação humana, 
desencadeando reflexões importantes sobre como conciliar a produção, 
distribuição e consumo de alimentos com princípios éticos sólidos. 
TEMA 1 – SURGIMENTO DA BIOÉTICA 
A Bioética surge durante a segunda metade do século XX, um período 
intrinsecamente moldado por fatores distintivos. Inicialmente, destaca-se a 
influência sociocultural. Os anos 1960, particularmente nos países ocidentais, 
testemunharam movimentos culturais e políticos impregnados por discursos 
críticos que ecoaram no cenário público. Estes movimentos focalizavam 
 
 
3 
questões de justiça, igualdade e a defesa de direitos individuais, intrinsecamente 
ligados à liberdade e à autonomia pessoal. A desconfiança e a contestação em 
relação ao poder e à autoridade das instituições potencializaram transformações 
significativas tanto no âmbito público quanto no privado. 
Com o despertar crítico, o questionamento ao positivismo científico 
também se intensificou. Na esfera médica, críticas foram direcionadas ao 
paternalismo na dinâmica médico-paciente e ao abuso em experimentações com 
seres humanos. A década de 1970 testemunhou a disseminação acelerada 
dessas ideias, impulsionada pela popularização dos meios de comunicação de 
massa, alcançando uma audiência mais ampla. Essa expansão rápida 
consolidou a consciência pública sobre as implicações éticas na prática médica 
e na pesquisa, marcando um ponto crucial na evolução da Bioética. 
O segundo catalisador para o surgimento da Bioética foi o extraordinário 
avanço científico e biotecnológico que caracterizou esse período. Essa 
conjuntura, denominada de diversas formas, como a "nova biologia," "revolução 
biomédica," "revolução biológica," "ecológica" e "médico-sanitária," assim como 
a "revolução terapêutica" e "biológica," foi marcada pela descoberta e 
aprimoramento de inúmeras biotécnicas. Conforme Parizeau (1997), o progresso 
técnico-científico expandiu significativamente a capacidade da medicina de 
intervir de maneira eficaz no corpo do indivíduo doente. Isso se traduziu no 
desenvolvimento de medicamentos como antibióticos, vacinas e antipsicóticos, 
na implementação de técnicas sofisticadas de intervenção, como cirurgia 
cardíaca, reanimação e transplante de órgãos, e na introdução de novos 
mecanismos de diagnóstico, como eletrocardiograma, arteriografia e 
ressonância magnética. 
Esse cenário de avanço técnico-científico não apenas transformou 
radicalmente a prática médica, mas também levantou dilemas éticos imediatos. 
A capacidade ampliada de manipulação do corpo e da genética suscitou 
questões éticas complexas sobre o uso responsável dessas tecnologias, a 
equidade no acesso aos benefícios gerados e os potenciais impactos 
socioeconômicos e ambientais associados à "revolução biomédica." Essa 
interseção entre progresso científico e desafios éticos tornou-se um terreno fértil 
para o florescimento da Bioética como disciplina essencial na orientação das 
práticas e decisões no campo da saúde. 
 
 
4 
A primeira vez que o termo "bioética" é mencionado remonta a décadas 
anteriores, precisamente ao ano de 1927, quando o teólogo alemão Fritz Jahr o 
utiliza em um artigo publicado. Ele "bioética" como a obrigação ética não apenas 
para com os seres humanos, mas estendendo-se a todos os seres vivos. O 
imperativo proposto por Jahr revoluciona o campo da ética, dando origem ao que 
é conhecido como "ética da responsabilidade", a ideia de respeitar cada ser vivo 
essencialmente como um fim em si mesmo e, sempre que possível, tratá-lo como 
tal. 
Conforme Reich (1995), a bioética constitui um exame sistemático das 
dimensões éticas — englobando moralidade, tomada de decisões, 
comportamentos e políticas — inerentes às ciências da vida e à atenção à saúde. 
Esse campo de estudo emprega uma variedade abrangente de metodologias 
éticas, operando de maneira interdisciplinar. O autor também esclarece que a 
moral é um conceito multifacetado que estabelece normas a serem seguidas 
pelos membros da sociedade, visando assegurar o bem-estar e uma 
coexistência harmônica. Em sua essência, a moral representa a garantia de 
tratamento equitativo para todos os seres humanos, independentemente de sua 
condição social, racial ou qualquer outro fator. 
Outro autor, Junqueira (2011), traz que os alicerces fundamentais da 
bioética se embasam em conceitos cruciais: autonomia, beneficência, justiça e 
respeito à vida. No âmbito da bioética, autonomia compreende o direito 
inalienável de cada indivíduo, ao buscar assistência, ter controle sobre si mesmo, 
preservando sua liberdade de escolha e capacidade decisória. Por sua vez, a 
beneficência é conceituada como um princípio que impera aos profissionais da 
saúde a responsabilidade intrínseca de promover o bem ao paciente no exercício 
de suas funções, consolidando, dessa forma, a prestação de cuidados 
humanizados. 
A justiça, enquanto princípio bioético, desempenha o papel crucial de 
assegurar que as necessidades de saúde sejam atendidas de forma imparcial, 
destituída de preconceitos ou segregações. Além disso, o respeito à vida 
constitui-se na premissa de que nenhum dano intencional seja infligido ao outro 
durante a prestação de cuidados de saúde. Esses princípios não apenas 
delineiam as bases éticas para a prática médica, mas também fundamentam um 
arcabouço moral que visa garantir a dignidade e o bem-estar de todos os 
envolvidos no processo de atendimento à saúde. 
 
 
5 
TEMA 2 – FUNDAMENTOS E REFLEXÕES NAS BASES DA BIOÉTICA 
Não necessariamente todas as ações que visam contribuir para o avanço 
científico são automaticamente aceitas ou consideradas éticas pela sociedade. 
No âmbito do atendimento à saúde, surge uma ponderação sobre como agir de 
modo a preservar a dignidade das pessoas. É crucial destacar que os 
profissionais devem estar cientes dos parâmetros aplicados nesse atendimento, 
assegurando que o objetivo seja alcançado sem prejudicar as questões 
humanas fundamentais. Como seres holísticos, somos constituídos por 
dimensões sociais, psicológicas, biológicas, espirituaise físicas, entre outras. A 
bioética, portanto, pode ser entendida como um campo de atuação 
multidisciplinar, onde profissionais de diversas áreas se unem na busca por 
abordar de maneira ética os desafios relacionados à vida humana e ao bem-
estar. 
Ao trazermos essas reflexões para a realidade brasileira, deparamo-nos 
com o Sistema Único de Saúde (SUS). No contexto do atendimento básico em 
saúde, as políticas públicas estabelecem as seguintes diretrizes: 
A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade, na 
complexidade, integralidade e na inserção sociocultural e busca a 
promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a 
redução de danos ou de sofrimentos que possam comprometer suas 
possibilidades de viver de modo saudável. (Brasil, 2006, p. 10) 
As complexidades inerentes ao atendimento em saúde frequentemente 
transcendem a esfera individual do paciente. Questões que envolvem a família, 
a confidencialidade das informações médicas, a condução de pesquisas em 
seres humanos, as relações interpessoais com outros profissionais de saúde, os 
cuidados paliativos, o aborto, a eutanásia, e uma série de outros fatores 
influenciam de maneira abrangente a prestação de cuidados. Enfrentar essas 
questões requer uma abordagem cuidadosa e ética que vá além dos conceitos 
pessoais de cada indivíduo. 
As questões dessas situações demandam parâmetros claros para 
assegurar a consistência e equidade no atendimento. Reconhecer que as 
perspectivas individuais, por vezes, não são suficientes para resolver essas 
questões é o primeiro passo. Nesse sentido, é crucial seguir diretrizes sólidas de 
bioética que considerem a unicidade do ser humano e orientem a conduta 
profissional de maneira a preservar a vida sem causar danos ao outro. 
 
 
6 
Profissionais da saúde, quando comprometidos com pilares éticos, têm o 
poder de equilibrar a complexidade do atendimento, garantindo a preservação 
da vida e o respeito à dignidade humana. Essa abordagem ética não apenas 
estabelece uma base sólida para o exercício da medicina, e de outras áreas da 
saúde, mas também promove uma cultura de cuidado compassivo e centrado no 
paciente. 
TEMA 3 – DILEMAS BIOÉTICOS 
No decorrer do século XX, particularmente durante o regime nazista sob 
a liderança de Adolf Hitler, uma sinistra colaboração entre o poder político e a 
comunidade científica veio à tona. Nesse contexto, prisioneiros, incluindo judeus, 
políticos e militares, foram deliberadamente entregues nas mãos dos médicos 
para a realização de pesquisas biológicas, sem a mínima consideração pelos 
limites éticos. Sob a aprovação de Hitler, essas investigações abarcaram uma 
ampla gama de campos, muitas vezes ultrapassando os padrões éticos 
estabelecidos. 
A divulgação posterior das imagens dessas experiências chocantes 
revelou a desumanização completa do ser humano, tratado meramente como 
objeto de pesquisa e experimentação, desprovido de qualquer respeito pela vida. 
Esse capítulo sombrio da história evidenciou conflitos profundos entre os 
interesses da ciência e os valores fundamentais da sociedade. O impacto global 
dessas revelações foi profundo, provocando uma conscientização generalizada 
sobre a necessidade urgente de estabelecer fronteiras éticas intransponíveis 
entre a busca pelo conhecimento científico e a preservação dos direitos 
humanos. Essa dolorosa revelação tornou-se um ponto de inflexão crucial, 
moldando a trajetória subsequente da bioética como uma disciplina voltada para 
a harmonização dos avanços científicos com os princípios éticos essenciais para 
a preservação da dignidade e da integridade humana. 
Com o desfecho da Segunda Guerra Mundial, o Tribunal Militar 
Internacional em Nuremberg conduziu julgamentos abrangentes de médicos 
envolvidos em pesquisas com seres humanos nos campos de concentração 
nazistas, categorizando essas investigações como crimes contra a humanidade. 
Esse trágico episódio culminou na formulação das Diretrizes Internacionais para 
Pesquisa Biomédica envolvendo Seres Humanos, amplamente conhecidas 
como "O Código de Nuremberg". Este código, composto por dez princípios 
 
 
7 
fundamentais, emerge como um marco na história da bioética, delineando 
normas cruciais para o consentimento informado, regulamentando a 
experimentação científica e defendendo o princípio da beneficência. 
É importante destacar os princípios que fundamentam o Código de 
Nuremberg (Nuremberg, 1947): 
1. Necessidade de consentimento voluntário do sujeito da pesquisa, ou seja, 
direito de livre escolha e sem intervenção de força, mentira, coação, 
astúcia e coerção; 
2. Produção de resultados vantajosos para a sociedade; 
3. Deve ser baseada em resultados de experimentação animal e no 
conhecimento da evolução da doença. A pesquisa deve basear-se em 
conhecimento prévio que justifique a realização do experimento e que não 
possa ser obtido de outra forma. 
4. A pesquisa deve evitar sofrimento e danos desnecessários, físicos ou 
mentais; 
5. A pesquisa não deve ser conduzida caso haja risco de morte ou invalidez 
permanente; 
6. O risco deve ser aceitável e limitado pela importância humanitária; 
7. Cuidados de proteção de dano, adotando precauções especiais para 
salvaguardar o participante do experimento contra qualquer 
eventualidade de dano, incapacidade ou fatalidade, mesmo que essa 
possibilidade seja remota; 
8. Deve ser conduzida por pessoas qualificadas e com habilidades 
específicas; 
9. Prevê a liberdade do paciente se retirar quando quiser; 
10. O pesquisador deve estar pronto para interromper os 
procedimentos experimentais em qualquer fase, caso possua motivos 
justificáveis, agindo com boa fé, habilidade superior e julgamento 
cuidadoso, e acredite que a continuação do experimento possa, 
provavelmente, ocasionar dano, invalidez ou morte para o participante. 
Diante disso, tivemos outros eventos e desenvolvimentos cruciais no 
campo da bioética, destacam-se momentos que moldaram a trajetória da 
bioética. 
O debate inicial sobre transplante de órgãos nas décadas de 1950 e 1960 
revelou questões éticas essenciais relacionadas à doação, alocação de órgãos 
 
 
8 
e definição de morte cerebral. A ética por trás da doação, incluindo 
consentimento informado e a potencial comercialização de órgãos, tornou-se 
foco de intensos debates. A alocação justa de órgãos, diante da escassez, gerou 
dilemas éticos sobre como decidir quem recebe um órgão quando a demanda 
supera a oferta. Além disso, a definição de morte cerebral emergiu como uma 
questão crítica, dado que órgãos frequentemente provêm de doadores com esse 
diagnóstico. 
No final da década de 1970, os princípios de Beauchamp e Childress 
forneceram uma estrutura ética abrangente para a bioética. Autonomia, 
beneficência, não maleficência e justiça tornaram-se pilares norteadores na 
tomada de decisões em contextos biomédicos. Esses princípios refletiram a 
necessidade de equilibrar o progresso científico com preocupações éticas 
fundamentais, respeitando a autonomia do paciente, promovendo beneficência, 
evitando danos intencionais e buscando justiça na distribuição de recursos de 
saúde. 
O Relatório Belmont, originado nos EUA em 1979, respondeu a violações 
éticas em pesquisas médicas, estabelecendo diretrizes éticas fundamentais. 
Respeito pelas pessoas, beneficência e justiça tornaram-se princípios 
orientadores na pesquisa envolvendo seres humanos. Este relatório foi uma 
resposta crucial aos abusos éticos, incluindo o infame Estudo de Sífilis de 
Tuskegee. 
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, casos éticos notórios, como os de 
Karen Ann Quinlan e Nancy Cruzan, que influenciaram debates sobre decisões 
médicas e direitos dos pacientes. Questões como a retirada de suporte vital e o 
direito à recusa de tratamento médico foram centralizadas nessas discussões, 
resultando em desenvolvimentos legais significativos e regulamentaçõessobre 
ética médica. 
Em relação ao Brasil, destacamos as Normas para Pesquisa com Seres 
Humanos no Brasil, delineadas pela Resolução n. 466/2012 do Conselho 
Nacional de Saúde (Brasil, 2012). Este documento aborda, de maneira 
abrangente, aspectos como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
(TCLE) e fornece orientações sobre os Comitês de Ética em Pesquisa e a 
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Vale a pena examinar os quatro 
elementos fundamentais de ética que regem a realização de pesquisas com 
seres humanos: 
 
 
9 
• Respeito ao Participante da Pesquisa: Este princípio reconhece a 
dignidade e autonomia do participante, ciente de sua vulnerabilidade. 
Assegura a livre manifestação de sua vontade em contribuir ou não para 
a pesquisa, por meio de uma expressão clara, livre e esclarecida. 
• Ponderação entre Riscos e Benefícios: Destaca a necessidade de uma 
avaliação cuidadosa e equilibrada dos riscos e benefícios, tanto 
conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos. Compromete-se 
com a maximização dos benefícios e a minimização de danos e riscos. 
• Prevenção de Danos Previsíveis: Este ponto enfatiza a importância de 
evitar danos previsíveis decorrentes da pesquisa, reforçando o 
compromisso com a segurança e bem-estar dos participantes. 
• Relevância Social da Pesquisa: A ética da pesquisa se estende à 
consideração da relevância social, garantindo a igualdade na ponderação 
dos interesses envolvidos. Isso preserva o propósito humanitário e social 
da pesquisa. 
Além disso, é crucial observar que pesquisas envolvendo seres humanos, 
mesmo quando não configuram experimentos científicos, como é o caso de 
pesquisas apenas com aplicação de questionários, devem passar pela avaliação 
dos Comitês de Ética, os quais estão sempre vinculados a instituições de ensino 
superior. Este processo reforça o comprometimento com a integridade ética em 
todas as formas de pesquisa que envolvem seres humanos. 
TEMA 4 – CUIDADOS PALIATIVOS 
A essência do termo paliar, derivado do latim pallium, que refere-se ao 
manto usado pelos cavaleiros para se protegerem nas batalhas, transcende as 
eras, denotando a ação intrínseca de proteção. Proteger alguém, seja física, 
psicológica, social ou espiritualmente, é a essência dos cuidados paliativos. Ao 
receber a notícia de que alguém é elegível para esses cuidados, não há motivo 
para temor; pelo contrário, representa a oferta compassiva de assistência 
especializada em momentos delicados. 
A relevância dos cuidados paliativos nas discussões bioéticas é inegável, 
principalmente em contextos de doenças terminais. A etimologia de "paliar" ecoa 
na ideia contemporânea de proteção, enfatizando não apenas o aspecto físico 
do cuidado, mas também a salvaguarda da dignidade, conforto e qualidade de 
 
 
10 
vida daqueles enfrentando desafios de saúde terminal. Assim, compreender os 
cuidados paliativos como uma extensão do princípio de proteção reforça a 
importância ética desse campo na promoção do bem-estar em situações de 
extrema vulnerabilidade. 
De acordo com o relatório anual de 2021 – 2022 da Worldwide Hospice 
Palliative Care Alliance (Aliança Mundial de Cuidados Paliativos e Hospices), 
anualmente, quase 57 milhões de pessoas e suas famílias necessitam de 
cuidados paliativos, sendo que 12% dessa demanda global está sendo atendida. 
Dentre esse contingente, 45% encontram-se no final de suas vidas, destacando 
a urgência em oferecer suporte compassivo nesses momentos delicados. 
É importante ressaltar que, das pessoas que requerem cuidados 
paliativos, 69% enfrentam doenças não transmissíveis, abrangendo condições 
como câncer, demência, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca-
hepática-renal, doenças pulmonares ou lesões. Essa diversidade de condições 
destaca a necessidade de abordagens especializadas para atender às 
complexidades dessas situações. 
Contudo, apenas 12% da demanda global de cuidados paliativos está 
sendo atendida, evidenciando a disparidade entre a necessidade e a oferta. Além 
disso, 83% dos países enfrentam restrições significativas ou praticamente 
inexistentes no acesso a opioides para alívio da dor, revelando uma lacuna 
crítica no manejo adequado da dor em pacientes que necessitam de cuidados 
paliativos. 
Surpreendentemente, 76% da necessidade de cuidados paliativos em 
adultos concentra-se em países de baixa e média renda. Isso ressalta a 
desigualdade global no acesso a serviços essenciais de cuidados paliativos e 
destaca a necessidade premente de ações que garantam uma distribuição mais 
equitativa desses recursos. 
Olhando para o futuro, espera-se que a porcentagem de cuidados 
paliativos, atualmente em 87%, aumente até 2060. Essa projeção destaca a 
importância de expandir e aprimorar os serviços de cuidados paliativos para 
atender à crescente demanda, além de aprimorar essa discussão. 
Os cuidados paliativos representam uma abordagem abrangente que visa 
melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças 
ameaçadoras à continuidade da vida. Essa prática engloba o alívio do sofrimento 
e o tratamento de sintomas físicos, psicossociais e espirituais. Destaca-se que 
 
 
11 
os cuidados paliativos podem ser oferecidos em diversos contextos, sendo a 
Atenção Primária em Saúde uma opção recente para essa assistência. Essa 
forma de cuidado ativo e integral é especialmente direcionada a pacientes cujas 
doenças não respondem mais a tratamentos curativos, priorizando o objetivo 
central de assegurar a melhor qualidade de vida possível para os pacientes e 
seus familiares. Com foco no controle da dor e de outros sintomas, os cuidados 
paliativos visam mitigar o sofrimento, proporcionando suporte holístico em meio 
aos desafios enfrentados. 
A integração entre bioética e cuidados paliativos é evidente, uma vez que 
ambos compartilham uma base fundamentada no princípio da beneficência. 
Nesse sentido, os cuidados de saúde devem visar a minimização do sofrimento, 
priorizando um atendimento que seja compassivo, respeitoso e que busque 
otimizar a qualidade de vida. Para concretizar esses objetivos, é essencial aderir 
aos princípios mencionados anteriormente, conferindo autonomia aos pacientes 
por meio de informações claras e elucidativas. Esse processo possibilita que os 
pacientes ou seus familiares expressem suas opiniões de maneira efetiva no 
tocante ao tratamento. 
Os cuidados paliativos vão além dos pacientes terminais, estendendo-se 
a uma variedade de situações de saúde. É crucial explorar alguns conceitos e 
desafios pertinentes a áreas específicas, tais como: 
• Eutanásia: refere-se ao ato intencional de proporcionar a alguém uma 
morte indolor como meio de aliviar o sofrimento decorrente de uma 
doença incurável e dolorosa. 
• Distanásia: denota o prolongamento excessivo do processo de morte, 
podendo ser interpretada também como tratamento inútil. 
• Mistanásia: relaciona-se à omissão de socorro estrutural, frequentemente 
direcionada às camadas mais vulneráveis da sociedade. 
No contexto brasileiro, os cuidados paliativos demandam atenção, ampla 
discussão e investimento contínuo. Essa abordagem visa não apenas aliviar o 
sofrimento físico, mas também promover os direitos dos pacientes em situações 
de doenças terminais ou tratamentos de condições graves. Dessa forma, a 
compreensão e a implementação eficaz dos cuidados paliativos são essenciais 
para garantir uma assistência abrangente e humanizada em face das 
complexidades que envolvem a saúde e o bem-estar. 
 
 
12 
TEMA 5 – NUTRIÇÃO E BIOÉTICA 
Para abordarmos esse tópico, é essencial compreender alguns conceitos 
fundamentais que embasam a discussão sobre bioética na nutrição, sendo o 
primeiro deles o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). 
A concepção de Segurança Alimentar e Nutricional é um conceito em 
constante construção, intrinsecamente ligado a diferentesinteresses e variados 
aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos. Portanto, sua definição ainda 
é objeto de debates por diversos segmentos da sociedade, tanto no Brasil quanto 
no restante do mundo. Além disso, o conceito evolui ao longo da história, à 
medida que ocorrem mudanças na organização social e nas relações de poder. 
No contexto brasileiro, o debate sobre o conceito de SAN já perdura há 
pelo menos duas décadas. Inicialmente, foi entendido como a garantia a todos 
de acesso constante a alimentos básicos de qualidade, em quantidade 
suficiente, sem comprometer outras necessidades básicas. Esse entendimento 
foi consolidado durante a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição em 
1986. 
Atualmente, segundo a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional 
(LOSAN), aprovada em 2006, a Segurança Alimentar e Nutricional é a realização 
do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, 
em quantidade suficiente, sem prejudicar outras necessidades essenciais. Esse 
direito deve ser embasado em práticas alimentares que promovam a saúde, 
respeitem a diversidade cultural e sejam sustentáveis do ponto de vista 
ambiental, cultural, econômico e social. A LOSAN também instituiu o Sistema 
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) com o objetivo de 
garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). 
O qual é outro conceito crucial, o DHAA, é considerado indispensável para 
a sobrevivência. Normas internacionais reconhecem o direito de todos a uma 
alimentação adequada e o direito fundamental de cada pessoa estar livre da 
fome, pré-requisitos para a realização de outros direitos humanos. No Brasil, 
desde 2010, esse direito está assegurado como um dos direitos sociais pela 
Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional n. 64. No entanto, é 
importante ressaltar que, apesar dessa garantia legal, muitas pessoas ao redor 
do mundo ainda enfrentam desafios relacionados à fome e à falta de acesso à 
alimentação adequada. 
 
 
13 
Além disso, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos 
estabelece que os avanços e progressos científicos e tecnológicos devem ser 
direcionados para promover o acesso adequado à alimentação e à água, 
assegurando, dessa forma, a manutenção da vida. O art. 14 enfatiza a 
responsabilidade do poder público em lidar com as questões sociais e de saúde. 
É especialmente por meio desse enfoque que a bioética se conecta diretamente 
ao DHAA. 
No que diz respeito à produção e ao acesso aos alimentos, é relevante 
destacar diversas discussões que entrelaçam bioética, alimentação e o Direito 
Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Essas considerações abrangem uma 
variedade de tópicos, refletindo sobre questões fundamentais para a equidade e 
justiça social, que são pilares dos direitos fundamentais. 
• Acesso ao alimento: como se configura o acesso das populações aos 
alimentos? Essa indagação está intrinsicamente ligada à equidade e à 
justiça social, fundamentos essenciais dos direitos fundamentais, 
destacando a importância de garantir que todos tenham acesso digno e 
igualitário à alimentação. 
• Segurança dos produtos alimentares: não se resume apenas ao 
fornecimento de alimentos, mas à disponibilização de alimentos seguros 
para o consumo humano. É uma responsabilidade tanto dos governantes 
quanto da indústria alimentícia garantir que os alimentos oferecidos à 
população atendam aos mais elevados padrões de segurança. 
• Bem-estar animal: a alimentação e o bem-estar dos animais envolvem 
complexas questões bioéticas, pois esses seres vivos merecem respeito 
e consideração. Além disso, o bem-estar animal tem uma relação direta 
com a qualidade dos alimentos destinados ao consumo humano, 
tornando-se um ponto crucial a ser considerado. 
• Aspectos éticos: o mercado de alimentos, a busca por acesso justo e 
igualitário, e as políticas públicas que permeiam o setor estão 
intrinsecamente ligados aos conceitos bioéticos. A análise ética desses 
elementos é essencial para garantir uma abordagem equitativa e justa na 
distribuição e acesso aos alimentos. 
• Aspectos legais: marcos jurídicos desempenham um papel fundamental 
na garantia do DHAA. Leis, decretos e resoluções têm o propósito de 
 
 
14 
assegurar, por meio da força legal, que os cidadãos obtenham acesso 
irrestrito e digno à alimentação adequada. 
Todos esses assuntos, que abrangem desde o acesso aos alimentos até 
questões éticas, legais e de bem-estar animal, têm implicações cruciais no 
campo da nutrição. Esses temas devem ser objetos de estudo que visem 
promover bases sólidas para a garantia do Direito Humano à Alimentação 
Adequada (DHAA) e da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), assegurando, 
assim, um desempenho eficaz das atividades profissionais na área da saúde e 
afins. Ao explorar esses diversos ângulos, emerge a compreensão da 
complexidade das relações entre bioética, alimentação e DHAA, destacando a 
necessidade premente de uma abordagem abrangente e ética para impulsionar 
um sistema alimentar mais equitativo e sustentável. 
Outro ponto importante da Bioética na nutrição está relacionado à 
regulação da propaganda, visando proteger a sociedade e orientar a promoção 
de alimentos. No Brasil, a regulamentação das propagandas é realizada pelo 
sistema de autorregulação. Entretanto, no caso dos alimentos infantis, destaca-
se a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e 
Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL). Esta 
norma estabelece diretrizes para a comercialização e proíbe certas práticas na 
publicidade de alimentos voltados para crianças. 
A NBCAL tem como objetivo garantir o uso adequado desses produtos, 
evitando interferências na prática do aleitamento materno. Configura-se como 
um instrumento crucial para controlar a publicidade indiscriminada de alimentos 
e produtos de puericultura que competem com a amamentação. Fica proibida a 
promoção comercial em diversos meios, incluindo merchandising, divulgação 
eletrônica, escrita, auditiva e visual. Estratégias de marketing voltadas para 
induzir vendas no varejo, como exposições especiais, cupons de desconto, 
preços abaixo dos custos, destaque de preço, prêmios, brindes, vendas 
vinculadas e apresentações especiais também são vetadas. Essas medidas 
visam garantir a ética na promoção de alimentos, especialmente aqueles 
direcionados ao público infantil. 
Diante de um mundo em que a produção de alimentos é abundante, é 
inadmissível que situações de total insegurança alimentar persistam. No entanto, 
os desafios relacionados à alimentação e aos princípios de bioética vão além 
dessas circunstâncias. Ao longo da carreira do profissional de nutrição, diversos 
 
 
15 
dilemas surgem, como cirurgias, enfermidades graves, comprometimento da 
capacidade do trato gastrointestinal, estudos patrocinados por indústrias 
alimentícias com interesses específicos, propagandas, uso de agrotóxicos e 
transgenia. Essas questões bioéticas exigem abordagens éticas e reflexivas 
para garantir a integridade e a responsabilidade no exercício dessa profissão. 
NA PRÁTICA 
A relação entre nutrição e bioética é intrínseca, abrangendo questões 
éticas essenciais para promover uma alimentação saudável e sustentável. 
Dentre os desafios contemporâneos, a discussão sobre transgênicos destaca-
se, suscitando debates sobre segurança alimentar, impactos ambientais e 
autonomia do consumidor. Nesse contexto, o profissional de nutrição 
desempenha um papel crucial ao buscar equilíbrio entre avanços científicos, 
necessidades nutricionais e princípios éticos. 
Além disso, ao aconselhar pacientes e comunidades, o profissional 
nutricionista destaca a importância da transparência na rotulagem de produtos 
transgênicos, garantindo o direito do consumidor à informação e escolha 
consciente. Ao incorporar princípios debioética, como autonomia e beneficência, 
o nutricionista contribui para um ambiente alimentar mais ético e sustentável. 
Elabore uma análise crítica acerca da capacidade da população em escolher 
conscientemente o consumo de alimentos transgênicos nos mercados ou locais 
de compra. 
FINALIZANDO 
Nos exploramos os conceitos de ética da saúde e nos aprofundamos na 
bioética, fundamentais para a atuação de profissionais da área da saúde, 
incluindo a nutrição. Questões como guerras, que impactaram a dignidade 
humana, e outros temas relacionados à ciência colocaram a bioética no centro 
de debates internacionais, visando estabelecer consensos sobre a intervenção 
ética na vida humana. Os princípios fundamentais da bioética, como autonomia, 
beneficência, justiça e respeito à vida, constituem as bases para a reflexão nas 
ações que envolvem a preservação e o fim da vida. Temas como eutanásia e 
cuidados paliativos são abordados sob a égide desses princípios éticos para 
maximizar o bem-estar. 
 
 
16 
Normativas internacionais, como o Código de Nuremberg, e leis nacionais 
que regulam pesquisas em humanos, respaldam a ética na condução de estudos 
em animais e humanos, visando garantir a segurança e aderir aos princípios 
bioéticos. Quando transitamos para a esfera da alimentação humana, nos 
deparamos com diversos dilemas que demandam parâmetros éticos. Questões 
como acesso aos alimentos, segurança alimentar, transgenia, uso de 
agrotóxicos e políticas públicas são alvos de intensas discussões. Profissionais 
de nutrição precisam estar atentos às mudanças na sociedade e na ciência, 
agindo em conformidade com as questões éticas emergentes. 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário Oficial da 
União. Brasília, DF, 2012. 
PARIZEAU M. Bioéthique. In: Canto-Sperber M. Dictionnaire d’éthique et de 
philosophie morale. 2. ed. Paris: Presses Universitaires de France; 1997. 
GOLDIM J. Bioética: origens e complexidade. Clin Biomed Res, v .26, n. 2, p. 
86-98. p. 86, 2006. 
JUNQUEIRA, C. Bioética: conceito, fundamentação e princípios. São Paulo: 
UNASUS/UNIFESP, 2011. 
NUREMBERG. Código de Nuremberg. Tribunal Internacional de Nuremberg – 
1947. Trials of war criminal before the Nuremberg Military Tribunals. Control 
Council Law, 1949, v. 10, n. 2, p. 181-182. 
REICH, T. Encyclopedia of Bioethics. Nova Iorque: MacMillan, 1995.

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