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BIOÉTICA Professora: Maria Luiza Reis INTRODUÇÃO O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de duas obras muito importantes de um pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia, Van Rensselaer Potter. (Junqueira, 2010). INTRODUÇÃO A Bioética pode ser compreendida como “o estudo sistemático de caráter multidisciplinar, da conduta humana na área das ciências da vida e da saúde, na medida em que esta conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais” (Koerich; Machado;Costa,2004). A ética da responsabilidade e a bioética conduzem a responsabilidade para com as questões do cotidiano e das relações humanas em todas as dimensões desde que tenhamos uma postura consciente na arte de cuidar do outro como se fosse a si mesmo (Koerich; Machado; Costa, 2004). CONFORME JUNQUEIRA (2010) A Bioética pretende contribuir para que as pessoas estabeleçam “uma ponte” entre o conhecimento científico e o conhecimento humanístico, a fim de evitar os impactos negativos que a tecnologia pode ter sobre a vida (afinal, nem tudo o que é cientificamente possível é eticamente aceitável). FUNDAMENTAÇÃO DA BIOÉTICA FUNDAMENTAÇÃO DA BIOÉTICA Para Junqueira (2010), existem diversas propostas para estabelecer quais são os critérios (o fundamento, a base) que devem nos orientar nos processos de decisão com os quais podemos nos deparar na nossa vida profissional. Ainda de acordo com o autor, nosso fundamento ético é tão importante quanto a estrutura de um prédio. Se esse fundamento não está bem entendido, corremos o risco de não enfrentar de maneira adequada os desafios éticos que a nossa profissão pode trazer. O fundamento ético será sempre a base para a nossa tomada de decisão. Esse fundamento ético é pessoa humana. FUNDAMENTAÇÃO DA BIOÉTICA FUNDAMENTAÇÃO DA BIOÉTICA FUNDAMENTAÇÃO DA BIOÉTICA Para o enfrentamento das questões bioéticas, devemos lembrar que: 1. A PESSOA É ÚNICA. Isso significa que as pessoas são diferentes (mesmo os gêmeos idênticos são diferentes), têm suas características, seus anseios, suas necessidades, e esse patrimônio, essa identidade, merece ser respeitado (para que as pessoas não sejam tratadas como números). 2. A PESSOA HUMANA É PROVIDA DE UMA “DIGNIDADE”. Isso significa que a pessoa tem valor pelo simples fato de ser pessoa. Fundamentação da bioética 3. A PESSOA É COMPOSTA DE DIVERSAS DIMENSÕES: dimensão biológica, dimensão social ou moral e dimensão espiritual. Por isso, falamos que a pessoa é uma totalidade, pois todas essas dimensões juntas compõem a pessoa. PPRINCÍPIOS DA BIOÉTICA A Bioética se sustenta em quatro princípios. Estes princípios devem nortear as discussões, decisões, procedimentos e ações na esfera dos cuidados da saúde. São eles: beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça ou equidade. PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA Beneficência Não-maleficência Autonomia Justiça ou equidade. O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA ➢Beneficência significa “fazer o bem”. ➢ O princípio da beneficência relaciona-se ao dever de ajudar aos outros, de fazer ou promover o bem a favor de seus interesses. ➢ Reconhece o valor moral do outro, levando-se em conta que maximizando o bem do outro, possivelmente pode-se reduzir o mal. PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA Neste princípio, o profissional se compromete em avaliar os riscos e os benefícios potenciais (individuais e coletivos). ➢ Busca o máximo de benefícios, reduzindo ao mínimo os danos e riscos. O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA De acordo com Koerich, Machado e Costa (2005), para utilizarmos este princípio é necessário: O desenvolvimento de competências profissionais, pois só assim, poderemos decidir quais são os riscos e benefícios aos quais estaremos expondo nossos clientes, quando decidirmos por determinadas atitudes, práticas e procedimentos. O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA ➢ De acordo com Koerich, Machado e Costa (2005), para utilizarmos este princípio é necessário: Avaliar os riscos e os benefícios potenciais (individuais e coletivos) e Buscar o máximo de benefícios, reduzindo ao mínimo os danos e riscos. PRINCÍPIO DE NÃO-MALEFICÊNCIA ➢ Significa “evitar o mal”. ➢ Implica no dever de se abster de fazer qualquer mal para os clientes, de não causar danos ou colocá-los em risco. ➢ O profissional se compromete a avaliar e evitar os danos previsíveis. ➢ É universalmente consagrado através do aforismo hipocrático primum non nocere (primeiro não prejudicar), cuja finalidade é reduzir os efeitos adversos ou indesejáveis das ações diagnósticas e terapêuticas no ser humano. PRINCÍPIO DE NÃO-MALEFICÊNCIA Para Koerich, Machado e Costa (2005), implica no dever de se abster de fazer qualquer mal para os clientes, de não causar danos ou colocá-los em risco. O profissional se compromete. ➢ A avaliar ➢ Evitar os danos previsíveis. PRINCÍPIO DE NÃO-MALEFICÊNCIA Para Koerich, Machado e Costa (2005), para atender ao princípio da não-maleficência, é preciso: Evitar qualquer situação que signifique riscos para o mesmo e verificar se o modo de agir não está prejudicando o cliente individual ou coletivamente Se determinada técnica não oferece riscos e ainda, se existe outro modo de executar com menos riscos. Princípio da Autonomia ➢ As pessoas têm “liberdade de decisão” sobre sua vida. ➢ Autonomia diz respeito à autodeterminação ou autogoverno. ➢ Ao poder de decidir sobre si mesmo. ➢ Preconiza que a liberdade de cada ser humano deve ser resguardada. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRINCÍPIO DA AUTONOMIA ➢ De acordo com esse princípio, as pessoas têm “liberdade de decisão” sobre sua vida. A autonomia é a capacidade de autodeterminação de uma pessoa, ou seja, o quanto ela pode gerenciar sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas (Junqueira,2010). PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRINCÍPIO DA AUTONOMIA Koerich, Machado e Costa (2005), afirmam que esta autodeterminação é limitada em situações em que “pensar diferente” ou “agir diferente”, não resulte em danos para outras pessoas. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRINCÍPIO DA AUTONOMIA Cabe aos profissionais da saúde oferecer as informações técnicas necessárias para orientar as decisões do cliente, sem utilização de formas de influência ou manipulação, para que possa participar das decisões sobre o cuidado/assistência à sua saúde, isto é, ter respeito pelo ser humano e seus direitos à dignidade, à privacidade e à liberdade. Princípio da justiça ➢ Representa dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo suas necessidades. ➢ O princípio da justiça estabelece como condição fundamental a equidade: obrigação ética de tratar cada indivíduo conforme o que é moralmente correto e adequado, de dar a cada um o que lhe é devido. Para Junqueira (2010), o princípio da Justiça se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas do Estado para a saúde, a pesquisa etc. Bioética das situações emergentes e bioética das situações persistentes Os mais variados temas, que vão desde os dilemas éticos que se colocam ao administrador de saúde frente à repartição de verbas insuficientes para atividades impostergáveis, até problemas gerados a partir da aplicação da tecnologia de ponta, são hoje objetos da bioética, que, em poucos anos de vida, ampliou substancialmente seu campo de estudo, ação e influência (Garrafa,1997). De acordo com Garrafa (2005), a discussão bioética surge para contribuir na procura de respostas equilibradas ante os conflitos atuais e os das próximas décadas. Já tendo sido sepultado o mito da neutralidade da ciência, a bioética requer abordagens pluralistas e transdisciplinares a partir de visões complexas da totalidade concreta que nos cerca e na qual vivemos. BIOÉTICA DAS SITUAÇÕES EMERGENTES E BIOÉTICA DAS SITUAÇÕES PERSISTENTES Bioética das situações emergentes e bioética das situações persistentes Objetivando melhor sistematização e compreensão de sua área de estudo e abrangência, a bioética foi dividida a partir de dois grandes campos de atuação,de acordo com sua historicidade: A bioética das situações emergentes e a bioética das situações persistentes. BIOÉTICA DAS SITUAÇÕES EMERGENTES Estão vinculados, principalmente, os temas surgidos mais recentemente e os que se referem às questões derivadas do grande desenvolvimento biotecnocientífico experimentado nos últimos cinquenta anos. Bioética das situações emergentes O projeto genoma humano e todas as situações pertinentes à engenharia genética, incluindo a medicina preditiva e a terapia gênica; Podem ser mencionados: Bioética das situações emergentes As doações e transplantes de órgãos e tecidos humanos, com todas as suas interferências que se refletem na vida e na morte das pessoas na sociedade, e a relação disso tudo com as “listas de espera” e o papel controlador e moralizador do Estado; Podem ser mencionados: Bioética das situações emergentes O tema da saúde reprodutiva, que passa por diversos capítulos, que vão desde a fecundação assistida propriamente dita, passando por assuntos como a seleção e descarte de embriões, a eugenia (escolha de sexo e de determinadas características físicas do futuro bebê), as “mães de aluguel”, a clonagem etc.; Bioética das situações emergentes As questões relacionadas com a biossegurança,cada dia mais importantes e complexas; As pesquisas científicas envolvendo seres humanos e seu controle ético; entre outras. Bioética das situações Persistentes São aquelas que persistem teimosamente desde a Antiguidade, estão listadas todas as que dizem respeito à exclusão social; às discriminações de gênero, raça, sexualidade e outras; os temas da equidade, da universalidade e da alocação, distribuição e controle de recursos econômicos em saúde; os direitos humanos e a democracia, de modo geral, e suas repercussões na saúde e na vida das pessoas e das comunidades; o aborto; a eutanásia. Bioética e temas polêmicos Distanásia É conceituada como uma morte difícil ou penosa, usada para indicar o prolongamento do processo da morte, por meio de tratamento que apenas prolonga a vida biológica do paciente, sem qualidade de vida e sem dignidade. Bioética e temas polêmicos Eutanásia O termo significa morte sem dor, sem sofrimento desnecessário. Atualmente, é entendida como uma prática para abreviar a vida, a fim de aliviar ou evitar sofrimento para os pacientes. Bioética e temas polêmicos Ortotanásia O indivíduo em estágio terminal é direcionado pelos profissionais envolvidos em seu cuidado para uma morte sem sofrimento, que dispensa a utilização de métodos desproporcionais de prolongamento da vida, tais como ventilação artificial ou outros procedimentos invasivos. A finalidade primordial é não promover o adiamento da morte, sem, entretanto, provocá-la; é evitar a utilização de procedimentos que aviltem a dignidade humana na finitude da vida. Bioética e temas polêmicos Aborto Do ponto de vista médico, aborto é a interrupção da gravidez até 20ª ou 22ª semana, ou quando o feto pese até 500 gramas ou, ainda, segundo alguns, quando o feto mede até 16,5 cm. No Brasil, o ato de provocar um aborto é considerado crime (artigos 124, 125, 126 e 127 do Código Penal Brasileiro), exceto em duas circunstâncias: Quando não há outro meio para salvar a vida da gestante ou é resultado de estupro (artigo 128). A bioética, diferentemente da ética profissional e deontológica, de cunho legalista, não tem por base a proibição, a limitação ou a negação. Ao contrário, atua com base na legitimidade das ações e situações, tratando de atuar afirmativamente, positivamente. Para ela, a essência é a liberdade, porém, com compromisso e responsabilidade (Garrafa, 1998). JUNQUEIRA, Luiz Antonio de Castro. Bioética e Saúde Pública: interfaces e desafios. In: FORTES, Paulo Sérgio de Moraes; ZOBOLI, Elma Lourdes Campos Pavone (Org.). Bioética e Saúde Pública. 1. ed. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 2010. p. 19-34. GARRAFA. V. Bioética de intervenção: proposta teórica e prática. Revista Latinoamericana de Bioética, Bogotá, v. 5, n. 1, p. 12-21, 2005. KOERICH, M. S.; MACHADO, A. C.; COSTA, C. A.Bioética e saúde pública: possibilidades de aproximação. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 13, n. spe, p. 69-75, 2004. DOI: 10.1590/S0104-07072004000500009. REFERÊNCIAS