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FAVENI FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE PSICOLOGIA JURÍDICA E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA THAIS MONIELLY SOUSA RIBEIRO PSICOLOGIA JURÍDICA E A LEI MARIA DA PENHA: A PERPETUAÇÃO DOS CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER MONTES CLAROS 2022 PSICOLOGIA JURÍDICA E A LEI MARIA DA PENHA: A PERPETUAÇÃO DOS CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos autorais. RESUMO- O presente trabalho teve como principal objetivo o de identificar a produção científica sobre a Lei Maria da Penha e a perpetuação da violência contra a mulher, através da seleção e análise de periódicos específicos. Tratou-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, na qual a coleta do material empírico se deu através das bases de dados Lilacs e Scielo, utilizando das palavras-chave: “Lei Maria da Penha” e “Violência contra a mulher”, dispondo de artigos, teses e dissertações nacionais e internacionais publicados no período de 2016 a 2021, em português, que posteriormente foram analisadas por meio de leitura reflexiva. A pesquisa resultou na análise de 12 publicações qualificadas para o estudo, que revelaram aspectos pontuais que colaboram para a discussão da reincidência dos casos de violência doméstica contra as mulheres. Portanto, a elaboração deste trabalho evidenciou que os serviços de assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar se tornam mais efetivos se estes atuarem de maneira articulada com os serviços de segurança pública e os de saúde, bem como promover ações que visem a prevenção e a discussão da dimensão multifatorial dos casos de violência doméstica PALAVRAS-CHAVE: Psicologia Jurídica. Violência Contra a Mulher. Lei Maria da Penha. 1. INTRODUÇÃO A Lei Maria da Penha (11.340/2006) define violência doméstica como qualquer ação ou omissão que seja baseada no gênero que cause sofrimento, lesão ou morte da mulher. Essa violência pode ser de origem sexual, psicológica, moral, patrimonial ou física. O combate à violência doméstica e familiar de mulheres dispõe de dispositivos legais, institucionais e públicos para que sejam adotadas as medidas que assegurem os direitos, a segurança, o bem-estar e o atendimento assistencial das vítimas de violência em todo o território brasileiro. O que infelizmente se observa são constantes situações nas quais os pressupostos da lei e as medidas preventivas se tornam ineficazes, fazendo com o que os casos de violência se manifestem de maneira significativa, se beneficiando do sofrimento das vítimas e garantindo a impunidade dos agressores. Mediante essa premissa, esse trabalho traz em forma de pergunta o seguinte problema de pesquisa: Quais elementos estão presentes na perpetuação da violência contra a mulher em contraste com o que propõe a Lei Maria da Penha? Dentre as hipóteses que nortearam essa problemática da perpetuação dos casos de violência, incluem-se a existência de uma fragilidade nas redes responsáveis pelo atendimento às vítimas, informações e proteção às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, bem como a falta de um serviço psicossocial de acolhimento às vítimas adequado, escancarando a ineficácia protetiva, preventiva e punitiva da aplicabilidade da Lei. Dessa forma, o principal objetivo deste trabalho foi o de identificar a produção científica sobre a Lei Maria da Penha e os aspectos que promovem a perpetuação da violência contra a mulher, analisar as produções selecionadas, de maneira que fosse possível levantar um número significativo de referências sobre o tema investigado ao selecionar o material empírico encontrado, e por fim, apresentar uma discussão dos dados obtidos. Essa discussão se faz necessário tanto para comunidade acadêmica quanto para a sociedade, uma vez que, busca-se evidenciar a realidade dos serviços de atendimento, na qualidade e na exequibilidade de suas ações quanto a estarem capacitados e articulados para receber essas mulheres vítimas de violência e oferecê- las um serviço empático, humanizado e eficiente, a fim de que esta mulher sinta-se amparada e que, além disso, o ciclo de violência seja rompido, tornando os cidadãos conscientes da disponibilidade de recursos financeiros que o poder público agrega para estas ações, analisando se são de fato utilizadas aos fins que se destinam. Portanto, a presente pesquisa tratou-se de uma revisão bibliográfica da literatura e a coleta do material empírico aconteceu através das bases de dados Lilacs e Scielo, utilizando as palavras-chave: “Lei Maria da Penha” e “violência contra a mulher”. Os critérios de inclusão foram artigos, teses e dissertações nacionais e internacionais publicados no período de 2016 a 2021, em português e os de exclusão foram monografias, anais de conferências internacionais ou nacionais. A análise foi realizada por meio de leitura reflexiva. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A inserção do Psicólogo pelo sistema de justiça tem se tornado bastante requisitada, seja em tribunais judiciais, pelos promotores de justiça ou mesmo na fase pré-processual, durante o período investigativo ou pela polícia judiciária. A demanda por psicólogos, em casos envolvendo a infância, conflitos familiares e adolescência são muito frequentes, uma vez que, os materiais produzidos por esse profissional subsidiam relevantemente a decisão judicial (CADAN; ALBANESE, 2018). Em meados da década de 60, a Psicologia foi regulamentada como profissão no Brasil, mas foi somente em 1985 que ocorreu o primeiro concurso público para a área jurídica. Nesse sentido, esse campo era especializado na investigação psicológica que estudava o comportamento dos atores jurídicos no âmbito do direito, da lei e da justiça, entretanto, ao longo do tempo esse fazer foi sendo modificado, limitada apenas a produção de laudos psicológicos, até que se expandiu para outros fazeres (LAGO et al., 2009; JESUS, 2010 apud SILVA, ALVES; 2016). Mediante essa expansão, certos conflitos teóricos-éticos, principalmente no que tange a questão da confidencialidade surgiram, assim, era necessário que novas resoluções e regulamentações da profissão fossem implantadas, bem como explica Cadan e Albanase (p. 321, 2018): Como exemplo de embates fervorosos entre a Psicologia e as demandas do campo jurídico, temos algumas resoluções emitidas pelo CFP que, não muito tempo após suas publicações, foram anuladas pelo poder judiciário. Por meio desses documentos de orientação e regulamentação da prática do psicólogo, o conselho de classe buscou direcionar como o profissional deve atuar frente às solicitações advindas no contexto da justiça, inclusive esclarecendo que o seu descumprimento levaria à punição do psicólogo. Dentre os novos afazeres do profissional Psicólogo no âmbito jurídico, a vitimologia é um setor que tem como objetivo prestar assistência psicológica às vítimas que tiveram contato direto com o criminoso (agressão, sequestro, furtos, assaltos de residências) e em crimes onde não há contato. Assim, o profissional da psicologia lança mão de seus conhecimentos e avalia os aspectos biopsicossociais, atende a vítima/testemunha (família ou grupo), favorece a consciência de cidadania da vítima/testemunha, trabalha os sentimentos, ajuda na reorganização e na reestruturação pessoal e familiar das vítimas (VALADÃO, 2005; CRUCES, 2011). A violência é umaforma de legitimar uma intimidação a outrem por meio da força, entretanto, a violência não se resume à apenas agressão física: pode ser psicológica, moral, patrimonial, sexual ou física, traços marcantes em casos que envolvem, predominantemente, o público feminino vítimas de violência doméstica, bem como Almeida, Perlin, Vogel e Watanabe (p.58, 2020) relatam no seguinte estudo: Em 1979, a psicóloga norte-americana Lenore Walker desenvolveu uma teoria sobre o ciclo da violência contra a mulher para explicar os comportamentos que se repetem nas situações de violência doméstica. Em seus estudos, Walker entrevistou centenas de mulheres nessas situações, de forma a identificar semelhanças em seus discursos e assim explicar, em parte, as dificuldades encontradas por tantas mulheres para sair de contextos de repetitivo abuso físico e psicológico. Simone de Beauvoir (1908-1986), em meados do século XX, forneceu contribuições importante para os campos teóricos que envolvem a dominação e a desigualdade de gênero entre homens e mulheres, na qual identificou o estabelecimento de hierarquias sociais do trabalho, do espaço público, do acesso à cultura e de prestígio social apenas restritas historicamente por homens (ALMEIDA; PERLIN; VOGEL; WATANABE, 2020). A Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104/2015) alterou o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio no rol dos crimes hediondos e a partir dessa redação, a legislação considera como homicídio qualificado com uma pena superior à do homicídio simples: “O feminicídio é considerado a expressão máxima da violência ou a etapa final do processo de violência contra a mulher, da cultura da dominação masculina e da desigualdade nas relações de poder existentes entre homens e mulheres” (ALMEIDA; PERLIN; VOGEL; WATANABE, p.76, 2020). A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), por sua vez, representa um dos mais importantes avanços na tipificação de várias formas de violência, tendo se tornado uma das referências internacionais no combate à violência contra a mulher por criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar, prevenir, punir, erradicar, na criação dos Juizados especializados, além de apresentar um olhar ampliado de promoção dos direitos humanos e da defesa dos direitos das mulheres (SARDENBERG, TAVARES, 2016; ALMEIDA, PERLIN, VOGEL, WATANABE, 2020; BRASIL, 2006). Diante o exposto, os avanços supracitados favoreceram o estabelecimento da Rede de Enfrentamento à violência contra a mulher (2011), na qual reúne serviços e instituições que atuam efetivamente no combate a esse tipo de violência, na prestação de assistência qualificada e garantem a proteção dos direitos das mulheres, bem como a criação da central de atendimentos à mulher (LIGUE 180), um canal direto de denúncia 24 horas, todos os dia da semana: Diversas instituições atuam no enfrentamento e na prevenção à violência. Além do trabalho da Polícia Militar e da Polícia Civil, tem-se a atuação do Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Centros Especializados de Atendimento à Mulher, da Casa da Mulher Brasileira, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, além de serviços de saúde, procuradorias da mulher no âmbito do Poder Legislativo, secretarias da mulher no âmbito estadual e municipal, entre outros serviços especializados (BRASIL, 2011). Dessa maneira, a Rede assume essa atuação em articulação com essas instituições e serviços governamentais, não governamentais e com a comunidade, almejando o aprimoramento de estratégias efetivas de proteção e de políticas que assegurem o empoderamento e autonomia das mulheres, dos direitos humanos, pena aos agressores e assistência às vítimas. E assim, a Rede tem por objetivo cumprir a lei no combate, prevenção, assistência e garantia de direitos, além de dar conta da complexidade do fenômeno da violência contra as mulheres. Do ponto de vista teórico, esses serviços tendem a ser bastante benéficos, entretanto, no campo prático os resultados apresentam resultados bem diferentes, o que dificulta sua efetividade. Esses aspectos perpassam desde o despreparo de certos profissionais que atuam na prestação de alguns desses serviços, como: “conflitos de competências”, falta de comprometimento e um atendimento estereotipado e preconceituoso (BONETTI, PINHEIRO, FERREIRA, 2016). Bonetti, Pinheiro e Ferreira (2016) ao analisar a qualidade do serviço de segurança pública no atendimento às mulheres, a partir do Ligue 180 e de dados coletados de reclamações dos usuários a respeito do serviço da central de atendimento, observaram esses agravantes nos serviços de atendimento. O trabalho desenvolvido pelos referidos autores foi dividido a partir de três grandes grupos de reclamações, comuns aos três serviços analisados pelos pesquisadores: 1) problemas de infraestrutura; 2) despreparo dos agentes de segurança pública e 3) recusas dos agentes de segurança pública. Um outro conjunto de reclamações também nos remete à ideia da banalização da violência e de sua desqualificação enquanto crime ao trazerem como objeto central o descaso dos agentes públicos na realização de suas obrigações enquanto servidores do Estado. Neste caso, não há explicitamente uma manifestação de valores preconceituosos a respeito das convenções de gênero, mas um escamoteamento das reais intenções da recusa de atendimento, que parece sem qualquer justificativa cabível (BONETTI; PINHEIRO; FERREIRA, p. 174, 2016). Em estudos mais recentes acerca desse tema, é perceptível a necessidade de se analisar a qualidade e a ampliação dos serviços da rede de enfrentamento à violência, bem como destaca Maia (p. 224, 2020): É necessário criar ou fortalecer as redes integradas e operacionais que dão respostas às situações cotidianas de violência. Embora previstas na lei, percebe-se grandes dificuldades em articulá-las, especialmente pela ausência de responsabilização e do poder público. Em muitas situações, os serviços existem, mas não estão articulados, fazendo com que a vítima necessite repetir o histórico da violência e acabe desistindo no percurso. O número de casas abrigo, de Centro de Referência é ainda bastante reduzido, as Delegacias da Mulher que existem em maior número raramente funcionam 24 horas e possuem equipes multidisciplinares. Além disso, esses equipamentos de proteção, em geral, se concentram nas capitais e cidades maiores. Portanto, ao se analisar os aspectos que favorecem ou desfavorecem a efetivação das ações no combate à violência doméstica e familiar, deve-se ser levado em consideração os atores responsáveis pelo cumprimento e manutenção desses serviços e profissionais que se dispõem no desempenho de suas funções, bem como os recursos necessários para alcançar os objetivos pressupostos na Lei Maria da Penha. 2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho baseia-se em uma pesquisa de revisão bibliográfica da literatura. Sousa, Oliveira e Alves (2021) inferem que a pesquisa bibliográfica apresenta benefícios, como: baixo custo e o pesquisador não tem a necessidade de se deslocar para obter as pesquisas científicas, pois no meio eletrônico encontram-se muitas pesquisas realizadas. Entretanto, se o pesquisador não analisar as fontes bibliográficas corretamente, a pesquisa será sem qualidade, baseando-se em dados infundados ou na escolha do tema em poucas publicações, o que pode comprometer a qualidade ao final. Nesse sentido, foi realizada a revisão bibliográfica de estudos e pesquisas sobre a Lei Maria da Penha e da violência contra a mulher, através de uma seleção de leitura reflexiva. Diniz e Silva (2008) entendem que a leitura crítica ou reflexiva corresponde à leitura dos aspectos mais relevantes do texto ao separar as ideias secundárias da ideia central. Os materiais foram coletados a partir das bases de dados Scielo e Lilacse a busca foi limitada aos estudos de artigos, teses, dissertações nacionais e internacionais, publicados no período compreendido entre 2016 e 2021, no idioma português, através das palavras-chave “Lei Maria da Penha” e “violência contra a mulher” no idioma português. Como resultado dessa estratégia de busca, encontrou-se um total de 35 produções científicas nas bases selecionadas. Ao eliminar as produções duplicatas (7), as que fugiam do problema pesquisado (12) e as que apesar de tratarem do tema proposto, não foram incluídos no escopo da revisão por levarem a saturação do tema (4), registaram-se 12 na amostra final, sendo Lilacs (4) e Scielo (8). As 12 publicações foram filtradas a partir da leitura dos títulos, seguido dos resumos e que tinham como foco de análise: violência contra a mulher, enfrentamento da violência contra a mulher e serviços especializados às mulheres. O tratamento dos dados coletados ocorreu após a realização das leituras das publicações recuperadas. Foi elaborado um texto de análise a partir dos objetivos propostos, configurando-se como: aspectos sobre o ciclo da violência e o déficit do corpo institucional no combate da violência contra a mulher. 2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS Os dados coletados proporcionaram a análise de 12 produções científicas que foram publicados em periódicos no sistema de avaliação da CAPES de Qualis A2, B1 e B2, como podem ser observados no quadro a seguir: Quadro 1 - Síntese das principais publicações utilizadas na revisão bibliográfica Autores / Ano / Bases de dados Título Objetivos Métodos Resultados 1. OLIVEIRA, J; SCORSOLINI- COMIN, F. (2021) Scielo Percepções sobre intervenções grupais com homens autores de violência contra as mulheres Compreender as percepções sobre a participação em grupo reflexivo voltado a autores de violência contra as mulheres. Entrevistas semiestruturadas Culpabilização da vítima na expressão dos sentimentos dos agressores. 2. FERRAZ, B. D; SILVA, S. A; SIMÕES ,I. A, R. (2021) Scielo Percepção da população feminina sobre a Lei Maria da Penha Conhecer a percepção das mulheres de uma cidade sul mineira a respeito do que elas sabem sobre a Lei Maria da Penha. Análise discursivo do sujeito coletivo As mulheres sabem do que se trata a lei, mas não de maneira aprofundada. 3. SOUZA, T. M. C; MARTINS, T. F. (2021) Scielo Vivências de policiais de uma DEAM no Sudoeste Goiano Investigar as vivências de policiais civis de uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) em um município goiano no atendimento às mulheres em situação de violência doméstica. Entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo A delegacia foi descrita como ambiente inadequado para o atendimento das mulheres em situação de violência, sem acolhimento ou orientações adequadas. 4. ALBUQUERQU E, K. K. (2020) Lilacs Diálogos de gênero na educação: considerações sobre o projeto Lei Maria da Penha vai às escolas Apresentar o projeto Lei Maria da Penha às escolas e discutir sobre os seus efeitos ao enfrentamento destas violências no âmbito escolar. Pesquisa-ação, com base empírica A discussão levantada no espaço fértil de diálogo e construção de novas formas de se pensar as relações de gênero. 5. AGUIAR, J. M; D’OLIVEIRA, A. F. P. L; SCHRAIBER, L. B (2020) Mudanças históricas na rede intersetorial de serviços voltados à violência contra a mulher Analisar os resultados de uma pesquisa no município de São Paulo, com profissionais da rede de Entrevista semiestruturada Dificuldades no entrosamento entre os serviços, resistência de profissionais da assistência Lilacs – São Paulo, Brasil serviços intersetoriais especializados em relação às mudanças ocorridas com a Lei Maria da Penha. policial, jurídica e assistência psicossocial. 6. BEIRAS, A; NASCIMENTO, M; INCROCCI, C. (2019) Lilacs Programas de atenção a homens autores de violência contra as mulheres: um panorama das intervenções no Brasil Apresentar um mapeamento de programas para Homens autores de violência (HAV) no Brasil realizado entre 2015 e 2016. Metodologia, monitoramento, avaliação e resultados do programa. Escassez de recursos financeiros para a manutenção e ampliação das redes de enfrentamento. 7. CARNEIRO, J. B. et al (2019) Scielo Contexto da violência conjugal em tempos de maria da penha: um estudo em grounded theory Desvelar o contexto da violência conjugal experienciados por mulheres em processo judicial. Entrevistas individuais de mulheres com processos judiciais. No contexto conjugal os agressores também ameaçam destruir seus bens e de levar os filhos sem decisão judicial. 8. MACARINI, S. M.; MIRANDA, K. P. (2018) Scielo Atuação da psicologia no âmbito da violência conjugal em uma delegacia de atendimento à mulher Caracterizar a violência conjugal denunciada por mulheres em uma delegacia de proteção à mulher. Análise de boletins de ocorrências registrados. Desistência do processo criminal por parte das mulheres, apontando para o aspecto cíclico da violência conjugal. 9. COUTO, V. A at al. (2018) Lilacs Intersetorialidade e ações de combate à violência contra a mulher Entender qual é a capacidade das redes construídas no âmbito da Lei Maria da Penha e do projeto Mulheres da Paz para lidar com as temáticas da violência de gênero. Entrevistas semiestruturadas A incapacidade de realizar um atendimento amplo à vítima por parte da rede não conseguir estabelecer ações intersetoriais suficientes. 10. COIMBRA, J. C; RICCIARDI, U.; LEVY, L. (2018) Scielo Lei Maria da Penha, equipe multidisciplinar e medidas protetivas Investigar o papel da Equipe de Atendimento Multidisciplinar na aplicação das medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha. Análise das medidas protetivas. Necessidade de alinhamento estratégico entre diretrizes da EAM, juízes, promotores de justiça e defensores públicos. 11. CASTRO, A. V. A., et al (2018) Scielo Representações sociais da violência contra a mulher: atuação multiprofissional social Analisar e investigar as representações sociais dos profissionais frente às mulheres vítimas de violência. Entrevistas semiestruturada, análise de conteúdo. Desconhecimento sobre denúncias, sobre a lei e falta de manejo. 12. MACHADO, M., et al (2017) Scielo Percepção de profissionais da saúde sobre violência contra a mulher: estudo descritivo Conhecer a percepção dos profissionais de saúde sobre a violência contra a mulher. Entrevistas semiestruturadas. Violência institucional das vítimas encaminhadas de outros serviços de atendimento (delegacia). Fonte: Própria acadêmica (2022). Aspectos sobre o ciclo da violência Nas análises presentes neste tópico, destaca-se a fragilidade que a falta de conhecimento de pressupostos importantes da Lei Maria da Penha pode se tornar um dificultador no combate à violência doméstica e gerar consequências com base na literatura. Ferraz, Silva e Simões (2021) com relação a esse agravante ressalta que “é importante para a mulher conhecer e identificar como são as fases daquele processo de violência, ou seja, como funciona o ciclo daquele conflito, fazendo com que não se reproduza novamente”. Segundo a teoria Psicológica de Leonare Walker (1979), o ciclo de violência é composto por três fases: 1) aumento gradativo da tensão de hostilidade e ofensas verbais por parte do agressor; 2) ocorrem os atos de violência física em si e 3) o agressor demonstra arrependimento pelos comportamentos das fases anteriores. Essas três fases supracitadas se repetem sucessivamente e a fase de repetição ocorre até que a mulher rompa o ciclo ou que haja alguma fatalidade. Macarini e Miranda (2021) sintetizam que quando a mulher busca a delegacia para efetuar o registro, ela se encontra em uma situação que a violência acabou deacontecer e ela apresenta raiva. Com o passar do tempo, esse sentimento vai diminuindo e surge a possibilidade de perdoar o seu agressor. Nesse momento, ela é chamada novamente na delegacia e acaba desistindo da denúncia, por muitas vezes. No artigo 8º inciso V no corpo da Lei 11.340/06, quando se trata das medidas integradas da prevenção, o texto é bastante enfático ao estabelecer a importância da disseminação de informações na comunidade em geral, bem como destaca-se: A promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres (BRASIL, 2006). Mediante os textos supracitados, é possível notar que a disseminação de informações do que seja a violência, seus principais aspectos e o fortalecimento da decisão de denunciar o agressor são fatores que colaboram para diminuir os casos de incidência de violência, enquanto um meio de tornar as práticas conhecidas, que as mulheres sejam capazes de identificá-las no contexto em que estão inseridas e os agressores sejam devidamente penalizados. Portanto, o investimento do poder público na promoção da disseminação de informações entre profissionais e a comunidade são iniciativas necessárias e práticas indispensáveis para o rompimento do ciclo de violência contra a mulher. O déficit do corpo institucional no combate da violência contra a mulher É previsto no artigo 9º § 3º da Lei 11.340/06 que a assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá ocorrer de maneira articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), no Sistema Único de Saúde (SUS), no Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso (BRASIL, 2006). Entretanto, o que se observa é que os serviços especializados sofrem um processo de sucateamento com precariedade de recursos materiais e humanos nas Delegacias Especializadas e nos serviços de assistência psicossocial. Esse sucateamento também encontra-se presente nos programas voltados para homens autores de violência previstos pela Lei Maria da Penha (AGUIAR; D’OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2020; BEIRAS; NASCIMENTO; INCROCCI, 2019). No contexto institucional das Delegacias Especializadas no Atendimento às Mulheres (DEAMs), estudos apontaram para situações deficitárias que envolvem falta de conhecimento e de preparo para prestar atendimento às mulheres, falta de um local reservado para relatar a agressão, o que gera constrangimento por parte da vítima e falta de acolhimento (SOUZA; MARTINS, 2021; CASTRO et al, 2018;). Dentro dos serviços de saúde, Machado et al (2017) aponta para problemas semelhantes aos identificados nas delegacias e complementa da falta da notificação dos casos de violência contra a mulher, pois é a partir dessas informações em saúde que se baseiam para formulação de políticas públicas de combate à violência. Couto et al (2018), Coimbra, Ricciardi e Levy (2018) ressaltam que as práticas interseccionais de combate são precarizadas por ausência de estrutura das organizações e as equipes multidisciplinares revelam uma tensão entre seus serviços em contraste com a Lei. Com base nesses percalços encontrados dentro dos serviços quando se trata dos profissionais que agem diretamente no atendimento às vítimas de violência, ações de educação permanente e discussões pertinentes ao tema devem ser fortalecidas para possibilitar reflexões conjuntas sobre a violência e gerar mudanças nas práticas e melhorar os atendimentos. Assim, o fortalecimento das práticas integrativas entre esses setores também se tornariam benéficas nas ações de combate à violência doméstica e familiar contra as mulheres. Enquanto uma base eficiente, a educação também é prevista na Lei artigo 8º, inciso VIII enquanto medida integrativa de prevenção na promoção de programas educacionais. Nesse ponto, a escola também se constitui enquanto meio que viabiliza o combate à violência. Albuquerque (2020) afirma que “a realização das intervenções no formato de oficinas tem se revelado uma ferramenta importante para o enfrentamento e a prevenção à violência contra a mulher no âmbito escolar” e nas produções selecionadas para análise, um número reduzido foi encontrado. 3. CONCLUSÃO A elaboração deste trabalho evidenciou que os serviços de assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar se tornam mais efetivos se estes atuarem de maneira articulada ao dispor de recursos financeiros, organização institucional e de qualificação dos profissionais responsáveis pelos atendimentos às vítimas para mantê- los funcionais. Todo esse movimento reflete diretamente na atitude das mulheres vítimas de violência que se predispõe a buscar ajuda necessária e denunciar seus agressores, por isso é necessário realizar um trabalho eficiente, o que sugere um olhar mais atento das autoridades responsáveis, bem como da sociedade em geral acerca de ações que visem a prevenção, educação e a discussão da dimensão multifatorial dos casos de violência doméstica. Portanto, este trabalho buscou apresentar as condições nas quais a reincidência da violência doméstica é perceptível, desde a maneira como os casos são acolhidos, manejados pelas autoridades e os regimentos na Lei. Assim, as produções científicas se tornam relevantes ao contrastar as contribuições da Psicologia Jurídica nas ações nesse âmbito para promover as mudanças significativas no tratamento das vítimas de violência em todas as suas esferas. REFERÊNCIAS AGUIAR, J. M; D’OLIVEIRA, A. F. P. L; SCHRAIBER, L. B. 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