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CAO Crim 
 
Boletim Criminal Comentado 
 n° 1 4 6 , 
 7 /202 1 
 
( se man a nº 
 
2 ) 
 
 Pro curador - Geral de Justiça 
Mário Luiz Sarrubbo 
 
Secretário Especial de Políticas Crimina is 
Arthur P into Lemos Junior 
 
Asses sores 
Fernanda Narezi P . Rosa 
Ricardo José G . de Almeid a Silva res 
Rogé rio Sanches Cunha 
Valéria Scarance 
Paulo José de Palma ( descentra lizado) 
 
A rtigo 28 e Conflito de Atribuições 
Marcelo Sorrentino Neira 
Manoella Guz 
Roberto Barbos a Alves 
Walfredo Cunha C ampos 
 
Analista s Jurídic os 
Ana Karenin a Saura Rodrigues 
V ictor Gabriel Tosetto 
Boletim Criminal Comentado 146- Julho 2021 
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SUMÁRIO 
ESTUDOS DO CAO-CRIM.......................................................................................................................3 
1-Tema: O MP tem o dever de juntar peças para instruir o agravo em execução ou basta 
indicálas?..................................................................................................................................................
......3 
2 - A LEI 14.064/20 E SEUS REFLEXOS NO CRIME DE MAUS-TRATOS AOS ANIMAIS.............................4 
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM.......................................5 
DIREITO PROCESSUAL PENAL:...............................................................................................................5 
1-Tema: Indícios de crime permanente legitimam ingresso da polícia em imóvel sem ordem 
judicial...................................................................................................................................................5 
DIREITO PENAL:...................................................................................................................................10 
1-Tema: Substituição da Pena Privativa de Liberdade por Restritiva de Direitos. Perda do Cargo ou 
Função Pública: Possibilidade?...........................................................................................................10 
2-Tema: Casa de Prostituição. Artigo 229 do Código Penal. Conduta Típica?....................................12 
MP/SP: decisões do setor art. 28 do CPP............................................................................................13 
1-Tema: divergência sobre o foro competente para processar e julgar o crime apurado, com reflexo 
na atribuição funcional.......................................................................................................................13 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boletim Criminal Comentado 146- Julho 2021 
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ESTUDOS DO CAOCRIM 
 
1- Tema: o MP tem o dever de juntar peças para instruir o agravo em execução ou basta indicar as 
peças a serem trasladadas? 
O STJ já firmou entendimento no sentido de que, indicadas as peças de que o agravante pretenda o 
traslado, o recurso deve ser apreciado. Nesse sentido: 
STJ, Sexta Turma, AgRg no AREsp 1.242.316/MG: 
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. 
DEFICIÊNCIA INSTRUTÓRIA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DAS PEÇAS PARA TRASLADO. NÃO 
CONHECIMENTO DO RECURSO PELA CORTE DE ORIGEM.AGRAVO IMPROVIDO.1. Esta Corte 
Superior firmou compreensão no sentido de que, indicadas as peças de que o recorrente pretenda o 
traslado, o recurso deve ser apreciado.2. Não indicadas, no entanto, as peças necessárias, correta a 
decisão que não o conheceu por deficiência de instrução.3. Agravo regimental improvido.” (STJ, Sexta 
Turma, AgRg no AREsp 1.242.316/MG, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, j. em 13/08/2019, DJe de 
23/08/2019). 
Clique aqui para ter acesso ao acórdão 
STJ, Quinta Turma, REsp 1497029/MG: 
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO. ART. 197 DA LEI N. 7.210/1984. 
OBSERVÂNCIA DO RITO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. ART. 587 DO CPP. FORMAÇÃO DO 
INSTRUMENTO. TRASLADO DAS DAS PEÇAS. ATRIBUIÇÃO DO ESCRIVÃO. PROVIMENTO. 1. Nos termos 
da jurisprudência do STJ, à míngua de expressa previsão legal, deve ser observado o rito do recurso 
em sentido estrito quando do. manejo do recurso de agravo em execução. 2. Conforme o art. 587 do 
Código de Processo Penal, quando o recurso tiver que subir por instrumento, a parte fará a indicação 
das peças que deverão setrasladadas, cuja extração compete à escrivania do Juízo de primeiro grau. 
Precedentes. 3. Logo, tendo sido indicados os REsp 1497029/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, 
QUINTA TURMA documentos necessários para a instrução do agravo, não poderia a Corte de origem 
deixar de conhecer do recurso em razão da sua ausência. 4. Recurso especial provido para determinar 
que, após a baixa dos autos para o traslado das peças indicadas pelo recorrente, o agravo em 
execução ministerial seja submetido a julgamento pelo Tribunal a quo. (, DJe 25/02/2015) 
Clique aqui para ter acesso ao acórdão 
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Jurisprudencia/Execucao_jurisprudencia/STJ-%20AGARESP-1242316-2019-08-23.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Jurisprudencia/Execucao_jurisprudencia/STJ-%20AGARESP-1242316-2019-08-23.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Jurisprudencia/Execucao_jurisprudencia/STJ-%20AGARESP-1242316-2019-08-23.pdf
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201403107528&dt_publicacao=25/02/2015
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201403107528&dt_publicacao=25/02/2015
Boletim Criminal Comentado 146- Julho 2021 
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Cumpre destacar que foram localizadas decisões recentes do TJSP em sentido contrário, não 
conhecendo de agravos, mesmo tendo o agravante indicado as peças a serem trasladadas. Foi 
decidido que cabe ao agravante, além de indicar as peças necessárias, também fiscalizar a formal 
instrução do agravo. Nesse sentido, Agravo de Execução Penal nº 0000293-14.2021.8.26.0590 
Clique aqui para ter acesso ao inteiro teor do acórdão do TJSP. 
 
2 - A LEI 14.064/20 E SEUS REFLEXOS NO CRIME DE MAUS-TRATOS AOS ANIMAIS 
Eloísa Baissardo Gagliardi 
Promotora de Justiça Criminal 
 
Clique aqui para ter acesso ao artigo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Jurisprudencia/Execucao_jurisprudencia/TJSP-%20agravo%20em%20execu%C3%A7%C3%A3o.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Menu_Jurisprudencia/Execucao_jurisprudencia/TJSP-%20agravo%20em%20execu%C3%A7%C3%A3o.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Jecrim_Artigos/A-NOVA-LEI-14064.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Jecrim_Artigos/A-NOVA-LEI-14064.pdf
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Criminal_Juri_Jecrim/Jecrim_Artigos/A-NOVA-LEI-14064.pdf
Boletim Criminal Comentado 146- Julho 2021 
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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM 
DIREITO PROCESSUAL PENAL: 
 
1-Tema: Indícios de crime permanente legitimam ingresso da polícia em imóvel sem ordem judicial 
STJ- Notícias do STJ 
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou que, havendo elementos suficientes 
da prática de crime permanente, foi legítima a entrada de policiais em domicílio particular sem 
mandado judicial, mas com autorização de parente hospedado no local. 
A decisão, unânime, manteve acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) que negou o 
trancamento de ação penal contra mãe e filho suspeitos de tráfico de entorpecentes. 
A investigação partiu de denúncia anônima sobre o plantio de maconha em propriedade rural 
localizada em São José dos Pinhais (PR). A revista foiautorizada por uma mulher que estava na casa 
e se identificou como nora da dona da chácara. Os policiais visualizaram a plantação e identificaram 
o cheiro característico da droga. Foram encontrados 155 pés de maconha, 780g de sementes e 
utensílios utilizados na estufa destinada ao cultivo da planta. 
Presos em flagrante, a dona da chácara e seu filho obtiveram liberdade provisória após a audiência 
de custódia. Em habeas corpus dirigido ao TJPR, a defesa pleiteou o trancamento da ação penal, 
sustentando a ilicitude das provas. Alegou que a revista policial violou a garantia de inviolabilidade 
do domicílio, uma vez que os policiais não sabiam do flagrante até entrarem no local. Além disso, a 
autorização para ingresso na propriedade foi dada por pessoa não residente da chácara. O pedido foi 
negado. 
Teoria da aparência 
No recurso apresentado ao STJ, a defesa reiterou as alegações. O relator, ministro Reynaldo Soares 
da Fonseca, observou que o cenário antecedente mostra riqueza de elementos indicativos da prática 
de crime, "não sendo possível vislumbrar nulidade das provas obtidas por meio do ingresso dos 
policiais na residência". 
Fonseca afirmou que, mesmo a autorização tendo sido dada por pessoa não residente no imóvel – 
no caso, uma hóspede não eventual –, essa situação não é capaz, por si só, de tornar ilícita a ação 
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policial. Para o relator, é o caso de aplicação da teoria da aparência, pois quem autorizou o ingresso 
dos agentes foi a ex-companheira do filho da proprietária, que se referiu a ela como "sogra". 
 
A teoria da aparência define a aparência de direito como sendo "uma situação de fato que manifesta 
como verdadeira uma situação jurídica não verdadeira, e que, por causa do erro escusável de quem, 
de boa-fé, tomou o fenômeno real como manifestação de uma situação jurídica verdadeira, cria um 
direito subjetivo novo, mesmo à custa da própria realidade" (RMS 57.540). 
Tráfico é crime permanente 
O ministro explicou também que o tráfico de drogas é crime permanente, e está em flagrante quem 
o pratica em sua residência, ainda que para guarda ou depósito. "Legítima, portanto, a entrada de 
policiais para fazer cessar a prática do delito, independentemente de mandado judicial, desde que 
existam elementos suficientes de probabilidade delitiva", afirmou. 
O magistrado lembrou que são necessárias fundadas razões (justa causa) para que o ingresso em 
domicílio seja considerado válido e regular. "Somente quando o contexto fático anterior à invasão 
permitir que se conclua, para além de dúvida razoável, que a residência está sendo palco de um 
delito", declarou. 
O relator chamou atenção para o fato de a jurisprudência cada vez mais considerar inválido o ingresso 
da polícia em residência quando não ficar demonstrada a presença de elementos indicativos de causa 
provável, não se tolerando, por exemplo, a invasão de domicílio baseada apenas em denúncia 
anônima. 
Contudo, segundo Fonseca, essa não é a hipótese dos autos. "Existia crime permanente (situação 
flagrancial) a ser interrompido pelo Estado. Não há, portanto, que se falar, de plano, em nulidade das 
provas obtidas mediante ingresso dos policiais no imóvel, de maneira que inexiste motivo para que 
se conceda a ordem de habeas corpus", concluiu o ministro. (RHC 141544) 
Clique aqui para ter acesso ao acórdão do RHC 141544 
COMENTÁRIOS DO CAOCRIM 
Há no crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/06) determinadas figuras típicas 
classificadas como permanentes, ou seja, nas quais a consumação se prolonga no tempo, admitindo 
o flagrante a qualquer momento. O indivíduo que, por exemplo, guarda ou tem em depósito 
determinada quantidade de droga em sua residência está permanentemente em flagrante delito. 
Considerando a exceção trazida pelo art. 5º, inc. XI, da Constituição Federal a respeito da 
inviolabilidade do domicílio (flagrante delito ou desastre, prestação de socorro, ou, durante o dia, por 
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/29042021-Quinta-Turma-considera-valida-busca-autorizada-por-quem-parecia-representar-a-empresa-investigada-.aspx
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/29042021-Quinta-Turma-considera-valida-busca-autorizada-por-quem-parecia-representar-a-empresa-investigada-.aspx
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2067998&num_registro=202100159474&data=20210621&peticao_numero=-1&formato=PDF
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=2067998&num_registro=202100159474&data=20210621&peticao_numero=-1&formato=PDF
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determinação judicial), conclui-se que o armazenamento de drogas em determinada residência 
permite a entrada de agentes policiais independentemente de autorização judicial. 
 
Mas há um problema: nem sempre é possível ter certeza sobre o armazenamento de drogas em uma 
residência. Há situações em que os órgãos de polícia judiciária são capazes de investigar amplamente 
a movimentação de membros de organizações criminosas e, com isso, conseguem estabelecer um 
grau razoável de certeza a respeito da conduta criminosa permanente. É comum, por exemplo, que 
policiais em campana observem por dias a movimentação em imóveis utilizados por traficantes, o 
que lhes dá segurança para uma abordagem certeira. 
Mas há casos em que a investigação prévia é simplesmente impossível. São rotineiras as ocasiões em 
que policiais militares ou mesmo guardas municipais se defrontam com indivíduos em atitudes 
suspeitas – normalmente próximos a pontos de venda de drogas – e iniciam uma abordagem que 
culmina na vistoria de imóveis residenciais baseada apenas na suspeita de que nesses locais algo 
ilícito pode estar sendo armazenado. Isto faz surgir a dúvida: a entrada no imóvel é legal? 
Não há uma resposta a priori, sem que se considerem as inúmeras circunstâncias que caracterizam 
um determinado fato. O STJ tem diversos julgados no sentido de que o mandado de busca e 
apreensão é dispensável, justamente porque se trata de crime permanente, que atrai a situação de 
flagrância: 
“1. É dispensável o mandado de busca e apreensão quando se trata de flagrante de crime 
permanente, podendo-se realizar a prisão sem que se fale em ilicitude das provas obtidas. Doutrina. 
Precedentes do STJ e do STF. 2. No caso, o paciente foi acusado de praticar o crime de tráfico na 
modalidade guardar e manter em depósito substâncias entorpecentes, estandose diante de ilícito de 
natureza permanente, o que legitima a medida adotada” (HC 373.388/RS, DJe 01/02/2017). 
“A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que tratando-se de crimes de natureza 
permanente, como é o caso do tráfico ilícito de entorpecentes, prescindível o mandado de busca e 
apreensão, bem como a autorização do respectivo morador, para que policiais adentrem a 
residência do acusado, não havendo falar em eventuais ilegalidades relativas ao cumprimento da 
medida (HC 345.424⁄SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, j. 18⁄8⁄2016, DJe 16⁄9⁄2016)” 
(HC 326.503/RS, DJe 15/03/2017). 
Mas essa dispensa deve ser fundamentada em evidências de que o crime de fato está ocorrendo, 
como, por exemplo, na situação em que a polícia presencia o comércio de drogas em frente a uma 
residência e constata que usuários e traficantes a estão frequentando. Se, no entanto, tratar-se 
apenas de uma presunção, sem elementos concretos, o próprio STJ tem julgado inválidas as violações 
de domicílios. Recentemente, o tribunal considerou ilegal a busca e apreensão em situação na qual, 
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em razão de uma “denúncia” anônima, uma equipe se deslocou ao local apontado e, ao avistá-la, o 
indivíduo apontado como traficante fugiu:“No caso, as razões para o ingresso no imóvel teriam sido a natureza permanente do tráfico, a 
denúncia anônima e a fuga do investigado ao avistar a polícia. Em relação à tentativa de fuga do 
agente ao avistar policiais, deve-se salientar que, nos termos do entendimento da Sexta Turma deste 
Superior Tribunal de Justiça, tal circunstância, por si só, não configura justa causa exigida para 
autorizar a mitigação do direito à inviolabilidade de domicílio. 
Deve-se frisar, ainda, que “a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros elementos 
preliminares indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado, estando, 
ausente, assim, nessas situações, justa causa para a medida.” (HC 512.418/RJ, Rel. Ministro Nefi 
Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 26/11/2019, DJe 03/12/2019). 
Neste ensejo, vale destacar que, em situação semelhante, a Sexta Turma desta Corte entendeu que, 
mesmo diante da conjugação desses dois fatores, não se estaria diante de justa causa e ressaltou a 
imprescindibilidade de prévia investigação policial para verificar a veracidade das informações 
recebidas (RHC 83.501/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 6/3/2018, DJe 
5/4/2018). 
Desta feita, entende-se que, a partir da leitura do Tema 280/STF, resta mais adequado a este 
Colegiado seguir esse entendimento, no sentido da exigência de prévia investigação policial da 
veracidade das informações recebidas. Destaque-se que não se está a exigir diligências profundas, 
mas breve averiguação, como “campana” próxima à residência para verificar a movimentação na casa 
e outros elementos de informação que possam ratificar a notícia anônima” (RHC 89.853/SP, j. 
18/02/2020). 
Curiosamente, semana passada, a Corte reprovou a invasão de domicílio precedida da existência de 
denúncia anônima e certeza visual do crime (policiais conseguiram ver da rua pessoas manipulando 
drogas). Para a Sexta Turma do STJ, em razão da ausência de mandado judicial e da realização de 
diligência baseada apenas em denúncia anônima – com a consequente caracterização de violação 
inconstitucional de domicílio –, a entrada dos policiais deve ser rotulada como ilegal. 
De acordo com os autos, antes do ingresso na residência, os policiais avistaram duas pessoas em volta 
de uma mesa, manipulando a droga, motivo pelo qual decidiram ingressar na residência e apreender 
o entorpecente. 
Ao manter as condenações, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) entendeu que não houve 
ilegalidade na entrada dos policiais, tendo em vista que a diligência teve origem em denúncia e que 
os agentes viram a manipulação da droga antes de entraram no local – circunstâncias que, para o 
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TJSP, afastariam a necessidade de autorização para ingresso no imóvel, já que a ação teria sido 
legitimada pelo estado de flagrância. 
 
O relator do recurso, ministro Antonio Saldanha Palheiro, apontou que as circunstâncias que 
motivaram a ação dos policiais não justificam, por si sós, a dispensa de investigações prévias ou de 
mandado judicial. Segundo o ministro, o contexto apresentado nos autos não permite a conclusão de 
que, na residência, praticava-se o crime de tráfico de drogas. 
Antonio Saldanha Palheiro lembrou que o Supremo Tribunal Federal, no RE 603.616, firmou o 
entendimento de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em 
período noturno, quando amparada em razões fundadas, as quais indiquem que, dentro da casa, 
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente 
e de nulidade dos atos praticados. 
Ao anular as provas e absolver os réus, o ministro também apontou recente precedente da Sexta 
Turma no HC 598.051, em que se estabeleceu orientação no sentido de que as circunstâncias que 
antecedem a violação do domicílio devem evidenciar, de modo satisfatório e objetivo, as razões que 
justifiquem a diligência e a eventual prisão em flagrante do suspeito, os quais não podem derivar de 
simples desconfiança da autoridade policial. (REsp 1.865.363.) 
Cique aqui para ter acesso ao acórdão 
Este julgado será objeto de debate, nesta quinta-feira (15/7), por integrantes do Grupo Nacional 
de Coordenadores do Centro de Apoio Criminal (GNCCRIM, órgão vinculado ao CNPG), numa 
parceria com a CONAMP, no canal do Youtube. 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3774503
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3774503
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3774503
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DIREITO PENAL: 
 
1-Tema: Substituição da Pena Privativa de Liberdade por Restritiva de Direitos. Perda do Cargo ou 
Função Pública: Possibilidade? 
Pesquisa Pronta- STJ 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL IMPUGNAÇÃO AOS FUNDAMENTOS DA 
DECISÃO DE INADMISSÃO. RECONSIDERAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 
POR RESTRITIVA DE DIREITOS. PENA DE PERDA DO CARGO PÚBLICO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. 
RECURSO PROVIDO PARA CONHECER DO AGRAVO, MAS PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO 
ESPECIAL. 
1. Devidamente impugnados os fundamentos da decisão de inadmissão do recurso especial, deve ser 
reconsiderada a decisão para conhecer do agravo. 
2. A substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos, por si só, não afasta 
o efeito previsto no art. 92 do Código Penal (perda do cargo público), ainda que exija 
fundamentaçãoidônea. 
3. A incompatibilidade entre a permanência no cargo público de agente penitenciário, em 
decorrência de condenação por tráfico de drogas no interior do presídio, justifica a imposição da 
pena acessória. 
4. Agravo regimental provido para conhecer do agravo, mas negar provimento ao recurso especial. 
(AgRg no AREsp 1818183/MS, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO 
DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 25/05/2021, DJe 31/05/2021) 
Clique aqui para ter acesso as pesquisas 
O inciso inaugural do art. 92 do CP anuncia efeitos da condenação de natureza administrativa (perda 
de cargo e função pública) e política (perda de mandato eletivo). 
Os efeitos administrativos abrangem os crimes praticados por servidores ocupantes de cargo público 
ou que desempenham função pública, variando os seus pressupostos de acordo com a espécie de 
crime praticado pelo agente. 
De acordo com o STJ, este efeito da condenação não se aplica ao agente aposentado para cassar o 
benefício: “1. O art. 92 do Código Penal apresenta hipóteses estreitas de penalidade, entre as quais 
https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisa_pronta/toc.jsp?livre=@docn=%27000007225%27
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não se encontra a perda da aposentadoria e, por se tratar de norma penal punitiva, não admite 
analogia in malam partem” (AgInt no REsp 1.529.620/DF, j. 20/09/2016). Nem se aplica se o agente 
público estiver em cargo diverso daquele no exercício do qual cometeu o crime: “O cargo, função ou 
mandato a ser perdido pelo funcionário público como efeito secundário da condenação, previsto no 
art. 92, I, do Código Penal, só pode ser aquele que o infrator ocupava à época da conduta típica. 
Assim, a perda do cargo público, por violação de dever inerente a ele, necessita ser por crime 
cometido no exercício desse cargo, valendo-se o envolvido da função para a prática do delito. No 
caso, a fundamentação utilizada na origem para impor a perda do cargo referiu-se apenas ao cargo 
em comissão ocupado pelas pacientes na comissão de licitação quando da prática dos delitos, que 
não guarda relação com o cargo efetivo, ao qual também foi, sem fundamento idôneo, determinada 
a perda” (HC 482.458/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 22/10/2019). 
Nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública, 
é imprescindível a aplicação de pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano. Já 
em se tratando de crime comum, a pena aplicada deve ser privativa de liberdade por tempo superior 
a 4 (quatro) anos. 
Segundo decidiu o STJ, é possível considerar, para a perda de cargo, emprego ou função pública, que 
o crime foi cometido com violação de dever para com a Administração Pública mesmo em situações 
nas quais o agente público não tenha se valido do cargo. O tribunal julgou válido este efeito da 
condenação sobre um policial militar condenado a menos de quatro anos de pena privativa de 
liberdade por ter cometido um roubo tentado. Embora não estivesse ele no exercício do cargo no 
momento da conduta, tratou-se de evidente violação do dever para com a Administração Pública 
(REsp 1561248/GO, DJe 01/12/2015). 
Cumpre ao magistrado sentenciante examinar a extensão de sua gravidade para decidir se 
absolutamente incompatível a permanência do agente nos quadros da Administração. 
Quando a condenação for inferior a 1 ano (nos crimes com abuso ou violação de dever funcional) ou 
não superior a 4 anos (nos demais casos), não se pode cogitar do efeito do art. 92 do CP, mas nada 
impede a perda do cargo público na esfera administrativa (improbidade), ante a independência das 
instâncias. 
Cabe este efeito (perda do cargo) quando o juiz substitui a pena de prisão por penas alternativas? 
Existe corrente lecionando que a condenação à pena restritiva de direitos ou multa não gera o efeito 
do art. 92 do CP, mas o STJ vem sistematicamente decidindo em sentido contrário. 
 
 
 
 
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2-Tema: Casa de Prostituição. Artigo 229 do Código Penal. Conduta Típica? 
Ao editar o art. 229 do Código Penal, o legislador pretendeu abarcar todo e qualquer local onde se 
pratique a exploração sexual, e não apenas 'em casa de prostituição ou lugar destinado a encontros 
para fim libidinoso'. A vontade da nova lei é tornar mais amplas as hipóteses de incidência do 
dispositivo penal, pois nada mais faz do que trazer a prática inerente a quem detém a propriedade 
ou a gerência dos locais antes descritos. O novo dispositivo agrava a situação daqueles que, a partir 
da vigência da Lei n. 12.015/2009, levarem a efeito atos de exploração sexual em qualquer 
estabelecimento que seja, e não só naqueles outrora taxativamente descritos. 
Pesquisa Pronta- STJ 
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MP/SP: decisões do setor do art. 28 do CPP 
 
1-Tema: divergência sobre o foro competente para processar e julgar o crime apurado, com reflexo 
na atribuição funcional. 
 
 
CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÃO 
 
Autos nº 1503xx4-6x.2021.8.26.0050 – MM. Juízo da Vara da Infância e Juventude da Comarca de 
São José do Rio Preto 
Suscitante: 18ª Promotora de Justiça de São José do Rio Preto (Infância e Juventude) 
Suscitada: 54ª Promotora de Justiça Criminal da Capital 
Assunto: divergência sobre o foro competente para processar e julgar o crime apurado, com reflexo 
na atribuição funcional. 
 
 
 
Trata-se de investigação criminal instaurada visando à apuração do crime previsto no artigo 
241-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), praticado, em tese, por FRANKLIN 
BOTELHO DE ARAÚJO. 
Depreende-se dos autos que, na denominada “Operação Black Dolphin”, de cunho nacional, 
visando ao combate da prática de pornografia infantil e de crimes correlatos, o MM. Juízo da Vara da 
Infância e da Juventude de São José do Rio Preto fez expedir mandados de busca e apreensão nos 
autos nº 0014505-19.2020.8.26.0576 (fls. 2). 
No dia 25 de novembro de 2020, em cumprimento a um desses mandados, policiais civis 
entraram no imóvel localizado na Rua Henry Charles Potel, nº 266, Brasilândia, nesta Capital. 
Estavam no local FRANKLIN BOTELHO DE ARAÚJO e seu filho M.L.B.A. 
 
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Durante a diligência, os policiais apreenderam os dispositivos informáticos encontrados na 
residência, consistentes em três CPUs, nove HDs, quatro pendrives e quatro notebooks, conforme 
auto de exibição e apreensão de fls. 6/7. Os moradores da casa foram encaminhados à Delegacia de 
Polícia e, ouvidos em declarações, negaram a prática de crime (fls. 8/9). 
Os dispositivos informáticos apreendidos foram submetidos a exame pericial, conforme 
laudos acostados a fls. 14/371. 
Ouvido novamente na Polícia, FRANKLIN BOTELHO DE ARAÚJO afirmou que navegava em 
sites de pornografia, encontrou um arquivo compactado e o baixou para seu computador. Abriu o 
arquivo por curiosidade e nele encontrou várias fotos de crianças mantendo relações sexuais entre 
si, com adultos e com animais. Disse que tinha mera curiosidade, mas não pretendia satisfazer a 
lascívia (fls. 381/382). 
Nos dispositivos informáticos pertencentes a M.L.B.A. não se encontrou material ilícito 
(laudos de fls. 397/413), razão pela qual os equipamentos foram restituídos (fls. 416). 
Relatado o inquérito, a Douta Promotora de Justiça que recebeu o feito, oficiante junto ao 
DIPO 4, requereu a remessa dos autos à Vara da Infância e da Juventude da Comarca de São Josédo 
Rio Preto, onde foi expedido o mandado de busca e apreensão, considerando-a competente para 
conhecer dos fatos (fls. 432/433). 
A manifestação ministerial foi acolhida e os autos foram remetidos àquela Comarca (fls. 434). 
A Douta Promotora de Justiça recipiente, contudo, discordou da remessa e suscitou o 
presente conflito negativo de atribuições, argumentando que o crime investigado nestes autos foi 
praticado por pessoa imputável na Comarca da Capital. Não vislumbrou qualquer delito praticado em 
São José do Rio Preto, e salientou ter atribuição exclusiva no âmbito infracional (fls. 438/441). 
Foi determinada a remessa a esta Chefia institucional para a resolução do impasse (fls. 
442). 
 
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É o relato do necessário. 
A remessa se fundamenta no art. 115 da Lei Complementar Estadual n.º 734/93, 
encontrando-se configurado, portanto, o incidente supramencionado entre promotores de justiça. 
Como destaca HUGO NIGRO MAZZILLI, tal incidente tem lugar quando o membro do 
Ministério Público nega a própria atribuição funcional e a atribui a outro, que já a tenha recusado 
(conflito negativo), ou quando dois ou mais deles manifestam, simultaneamente, atos que importem 
a afirmação das próprias atribuições, em exclusão às de outros membros (conflito positivo) (Regime 
Jurídico do Ministério Público, 6.ª edição, São Paulo, Saraiva, 2007, pp. 486-487). 
Considere-se, outrossim, que em semelhantes situações o Procurador-Geral de Justiça não se 
converte no promotor natural do caso; assim, não lhe cumpre determinar qual a providência a ser 
adotada (oferecimento de denúncia, pedido de arquivamento ou complementação de diligências), 
devendo tão somente dirimir o conflito para estabelecer a quem incumbe a responsabilidade de 
oficiar nos autos. 
Pois bem. 
Com razão a Douta Promotora de Justiça Suscitante, com a máxima vênia da Ilustre Suscitada. 
A norma incriminadora em tese aplicável está assim redigida: 
 
“Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, 
fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de 
sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa”. 
 
 
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O material apreendido era guardado pelo investigado em sua residência, situada nesta 
Capital. Não há notícia de que as imagens tenham sido compartilhadas pelo investigado em ambiente 
virtual. 
Não se verifica, por outro lado, qualquer conduta típica que tenha sido praticada em São José 
do Rio Preto. E, sendo assim, há de prevalecer a regra do art. 70, caput, do Código de Processo Penal, 
que estabelece a competência territorial no local onde o crime é praticado. 
A anterior decretação de busca e apreensão domiciliar, em operação de âmbito nacional, não 
altera a competência. É que a prevenção é critério residual de fixação de competência, que só se 
aplica quando verificada a concorrência ou cumulação de jurisdições, consoante o art. 83 do Código 
de Processo Penal. 
Na hipótese dos autos, que trata de delito permanente (art. 241-B do Estatuto da Criança e 
do Adolescente), o critério da prevenção só seria aplicável se a conduta típica houvesse sido praticada 
no território de duas ou mais jurisdições, o que não se verificou 
Sobre o tema, já se decidiu: 
 
Conflito Negativo de Jurisdição – Ação penal que versa sobre crime 
de roubo, ajuizada perante o juízo onde ocorreram os fatos – 
Remessa do feito ao juízo que apura possível crime de organização 
criminosa, dito prevento pelo deferimento de autorização de escutas 
telefônicas – Descabimento – Crimes diversos – Ausência de 
concorrência de jurisdição ou mesmo de conexão entre os feitos, 
nos termos dos arts. 70, § 3º, 76 e 77 do CPP – Ação penal que deve 
ser julgada perante o Juízo da Comarca do lugar onde ocorreu a 
infração, a despeito de Juízo de outra comarca ter deferido, 
anteriormente, providências relativas a atos investigatórios – 
Aplicação da regra prevista no artigo 70, caput, do Código de 
Processo Penal – Precedentes – Conflito acolhido – 
Competência do suscitado (3ª Vara Criminal da Comarca de 
Guarulhos). 
 
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 (TJ-SP - CJ: 00479524820188260000 SP 0047952- 
48.2018.8.26.0000, Relator: Renato Genzani Filho, Data de 
Julgamento: 05/07/2019, Câmara Especial, Data de Publicação: 
5/7/2019). 
 
“CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO. Apuração de crimes 
tipificados nos arts. 33 e 35 da Lei nº 11.343/06. Denúncia oferecida 
perante a Vara Criminal de Cotia. Inicial acusatória que não veicula a 
ocorrência de fatos perpetrados perante a jurisdição do suscitante. 
Interceptação telefônica e expedição de mandados de busca e 
apreensão que, por si só, não previnem a competência do Juízo. 
Para a ocorrência da prevenção, exige-se a concorrência de 
competência entre Juízos. Inteligência do art. 71 do CPP. 
Competência do Juízo do local do fato, consoante o art. 70 do CPP. 
Precedentes. CONFLITO PROCEDENTE. COMPETÊNCIA DO JUÍZO 
SUSCITADO” 
(TJSP; Conflito de Jurisdição 0022796-58.2018.8.26.0000;Relator (a): 
Sulaiman Miguel; Órgão Julgador: Câmara Especial; Foro Central 
Criminal Barra Funda - 12ª Vara Criminal; Data do Julgamento: 
22/10/2018). 
 
Anote-se, de resto, que a prova dos autos não sugere internacionalidade na conduta 
criminosa, porque, ao menos em princípio, o que se analisa é o armazenamento das imagens, que 
ocorreu no Brasil e não se projetou no exterior. Assim, nos termos do que já decidiu o Supremo 
Tribunal Federal em tema de repercussão geral (Recurso Extraordinário n. 628624), a competência 
deve ser fixada na Justiça Estadual. 
Diante do exposto, conhece-se do presente incidente para declarar que a atribuição para 
funcionar nos autos é da Douta Suscitada, 54ª Promotora de Justiça Criminal da Capital. 
A designação de outro Representante Ministerial, na hipótese vertente, afigura-se 
desnecessária, tendo em vista que a questão central não envolve divergência sobre a capitulação 
jurídica das condutas objeto dos autos, não havendo, portanto, qualquer menoscabo ao princípio da 
independência funcional. 
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São Paulo, 16 de junho de 2021. 
 
Mário Luiz Sarrubbo 
Procurador-Geral de Justiça

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