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Moduladores Intestinais Conteudista Prof. Dr. Anderson Sena Barnabe Revisão Textual Esp. Jéssica Dante 2 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis- ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão. No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para melhor aproveitamento. OBJETIVO DA UNIDADE • Proporcionar ao aluno o conhecimento sobre a importância do equilíbrio microbiano junto ao trato gastrointestinal, suas relações com distúrbios patológicos e a interação com o sistema imunológico. 3 Modulação Intestinal Nosso intestino tem uma diversidade de aplicações, sendo responsável por ações tais como a digestão de proteínas, carboidratos e lipídios provenientes da nossa alimentação e, com isso, implica-se a absorção de líquidos e micronutrientes. Além disso, outro papel fundamental está associado ao fato dele ser uma barrei- ra física e imunológica para uma grande quantidade de microrganismos, corpos e elementos estranhos e antígenos, os quais inviavelmente podem ser consumi- dos juntamente com o alimento. Todas essas intrincadas redes de ações, reações e relações sofrem modulações e regulação graças a ação integrada do nosso metabolismo, constituição das células intestinais e seus tecidos (histologia) mor- fologia, fisiologia e ação de nossa microbiota endógena e ou entérica (ALMEIDA et al., 2009). Essa interação é dependente e promove uma regulação associada à nossa mi- crobiota intestinal (uma complexa variedade de microrganismos conviventes no nosso organismo). Essa comunicação se dá de formas e vias complexas chama- das de eixo bidirecional. Nossa microbiota tem como papel modular essa comu- nicação. Uma das grandes dificuldades desse processo é manter essa microbiota viável, pois, se houver algum tipo de quebra nessa cadeia biológica, pode ser desencadeado desequilíbrios quantitativos. Quando essa microbiota se encon- tra em desequilíbrio, isso promove processos patológicos, ou seja, desequilíbrios no ecossistema intestinal ou na comunicação bidirecional com o cérebro, que estão associados a distúrbios gastrointestinais, doenças metabólicas e distúrbios neurocomportamentais. O trato digestivo humano é habitado por cerca de 100 trilhões de microrganismos (bactérias, vírus, fungos, arqueia e protozoários). A colonização microbiana humana começa no nascimento. Sais, minerais, nutrien- tes e bactérias saprófitas agem de forma a regular a proliferação ou não de de- terminados microrganismos em nossa microbiota intestinal, realizando, assim, um processo de “modulação” em nosso intestino. A esse processo denominamos MODULADOR INTESTINAL (PAIXÃO; CASTRO, 2016). Essa modulação é de extrema importância para nossa homeostase, vamos citar como exemplo o mineral Selênio (Se) e a microbiota humana (Figura 1). A presen- ça de selênio no intestino também reduz a absorção de metais pesados, como o Mercúrio, porém o Selênio, quando em excesso, também é prejudicial, podendo inclusive ser tóxico ao organismo. Contudo, algumas espécies de microrganis- mos intestinais podem melhorar a biodisponibilidade do Selênio e nos proteger contra sua própria toxicidade (FERREIRA et al., 2021). 4 Figura 1 – Relações do Selênio e da Microbiota intestinal Fonte: FERREIRA et al., 2021 #ParaTodosVerem: imagem de um ser humano em desenho na cor amarela (da parte central para a parte esquerda da figura) com demonstração do sistema digestório em vermelho (no centro da figura do ser humano), acompanhado de três setas azuis (no centro da imagem), as quais mostram quadros (em cor azul), partindo para o lado esquerdo centralizado. Na parte oposta (totalmente à esquerda) temos indicadores da interação das bactérias vistas em bastonetes vermelhos e círculos (cocos) roxos. Toda essa imagem se encontra sob um fundo branco. Fim da descrição. Regulação da Microbiota e Disbiose É sabido o papel que as ações do Sistema Nervoso Central (SNC) exercem sobre o intestino, regulando funções gastrointestinais como, por exemplo, a motilidade e a produção hormonal e imunológica na produção de citocinas pelas células do sistema imune na mucosa intestinal, mas, além desse processo, a carga micro- biana presente no sistema digestório como um todo também tem muita influên- cia nessas regulações fisiológicas. Quando ocorre alteração na diversidade ou densidade da população de micror- ganismos, pode ocorrer desregulação da microbiota e instalar-se um quadro de disbiose. Estudos recentes abordam a associação entre a microbiota intestinal e diferentes sistemas biológicos, dentre eles o impacto no sistema nervoso central (ALMEIDA et al., 2009). 5 Saiba Mais A disbiose acontece quando as bactérias que compõem nosso trato gastrointestinal – que inclui o estômago e o intestino – fi- cam desequilibradas em relação à quantidade e diversidade. Alguns efeitos da disbiose, como dor de estômago, são tem- porários e leves. Em muitos casos, o próprio organismo pode corrigir o desequilíbrio sem tratamento. Problemas de humor, ansiedade, irritabilidade e uma sensação de tristeza e/ou cansaço podem ocorrer devido a esse fato. Quando a disbiose não é tratada e permanece por um longo período, existe o risco de o paciente desenvolver doenças mais graves como a intolerância à lacto- se, doença celíaca, síndrome do intestino irritável, doenças cardíacas, Alzheimer, câncer no reto e até mesmo doenças do sistema imunológico, como lúpus, podem surgir. Podemos citar também que a disbiose entérica pode agravar do- enças congênitas de ordem genética e inflamatórias (Figura 2). Figura 2 – Processos de disbiose e perda de benefícios fisiológicos quanto a baixa diver- sidade de microrganismos (MO) Fonte: Adaptada de PETERSEN; ROUND, 2014 #ParaTodosVerem: primeiro quadrante em verde mostrando um círculo representando variações de bactérias em cores avermelhadas, amareladas e esverdeadas. Segundo quadrante em cor roseada, mostrando três círculos com representações de bactérias em colorações vermelhas (patogênicas), avermelhadas e com filamentos azuis (redução de diversidade microbiana) e no último círculo com poucas bactérias em tonalidades claras, representando a perda de diversidade microbiana. Fim da descrição. 6 Dentre os problemas mais associados à disbiose, citamos, por exemplo, o caso da Doença de Crohn (DC), caracterizada por tolerância imunológica comprometida à microbiota comensal intestinal, causando um estado de inflamação da barreira intestinal. A disbiose da microbiota intestinal pode ser um fator determinante na etiologia da DC. Sabe-se que portadores de DC apresentam uma baixa diversi- dade microbiana e uma alta abundância de bactérias potencialmente patogêni- cas. A microbiota humana equilibrada atua beneficiando a saúde do hospedeiro humano contra invasões patogênicas. Sem essa microbiota específica, a mucosa intestinal fica exposta a antígenos que precisarão ser eliminados por barreiras imunológicas, as quais são afetadas por fatores como antibióticos, estilo de vida e a dieta do hospedeiro, sendo a dieta, o fator que mais se associa com a micro- biota intestinal e seus eventuais desequilíbrios (DIAS et al., 2020). Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequa- das, asseguram benefícios à saúde do hospedeiro. Uma das alternativas para amenizar os impactos desses desequilíbrios micro- bianos seria o uso de prebióticos que equilibram a flora intestinal, desde que associados com uma alimentação saudável. Prebióticos são componentes alimentares não digeríveis que afetam benefica- mente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou ativida- de de populações de bactérias desejáveis no cólon. Adicionalmente, o prebióti- co pode inibir a multiplicação de patógenos, garantindo benefícios adicionais à saúdedo hospedeiro (PERBELIN et al., 2019). Alguns fatores, tais como a amamentação e consequentemente a presença de elementos prebióticos no leite materno que induz a colonização de bactérias en- terais no trato gastrointestinail do recém-nascido. Após o desmame, ocorrem modificações na microbiota intestinal pós-natal do bebê, que se caracteriza por uma fase de transição para alimentos sólidos. Através da alimentação, novos microrganismos são introduzidos para formar uma microbiota intestinal madura (PERBELIN et al., 2019). Observamos, nesse contexto, que é através da alimentação ao longo da vida que há a diversificação microbiana, a qual beneficia a saúde do hospedeiro. Eventuais alterações no desenvolvimento da microbiota podem ter efeitos negativos na saúde do hospedeiro, não só sob a ótica da imunidade, mas também com dese- quilíbrios etiopatológicos. 7 Disbiose e Imunidade Além de o intestino ser um órgão de digestão e absorção, também assume im- portante função no sistema imunológico. O bom aporte de nutrientes pode mo- dular e melhorar a resposta imune neste local (ALMEIDA et al., 2009). A microbio- ta natural do trato gastrointestinal (TGI) realiza o papel colaborativo na barreira fisiológica, que é composta pelo epitélio da mucosa do intestino, localizada no sistema digestivo e, em maior parte, no cólon do intestino grosso. As partes cons- tituintes integrantes da barreira correspondem ao epitélio mucoso, o sistema imune local, Placa Peyer, lâmina própria, barreira linfoepitelial e a circulação he- mato-linfática (PERBELIN et al., 2019). A mucosa intestinal quando exposta, devido, entre outros fatores, à disbiose e à uma variedade de outras situações, fica suscetível a uma ampla variedade de antígenos provenientes de alimentos e agentes etiológicos invasores, e esses mi- crorganismos necessitam ser limitados e impedidos de proliferação pela barreira mucosa que fornece a defesa imune a antígenos prejudiciais (PERBELIN et al., 2019). Nesse processo haverá a necessidade de produção de antígenos, os quais são definidos como moléculas exógenas ou endógenas que resultam em corpos estranhos. Eles podem ser ligados especificamente por um anticorpo ou por um receptor de células T. (PERBELIN et al., 2019). Os microrganismos intestinais, conhecidos como flora “normal”, influenciam for- temente os sistemas imunológico mucoso e sistêmico nesse processo infeccioso, e a dinâmica da colonização no início da vida está ligada na educação do sistema imunológico em desenvolvimento (PERBELIN et al., 2019). Os microrganismos comensais do intestino induzem a manutenção de células e de outros elementos imunes de grande importância para a nossa resposta ime- diata proveniente da imunidade da mucosa. O sistema imunológico identifica os microrganismos comensais do intestino e causa uma resposta imunológica, mediada pelas células do sistema imunológico, como macrófagos, células den- dríticas, linfócitos T e linfócitos B, produtores de anticorpos da classe das imu- noglobulinas tipo A (IgA). É importante salientarmos que todas essas células e elementos são encontrados em associação direta à mucosa intestinal, e atuam em conjunto para proporcionar o equilíbrio do organismo aos ataques junto a esse ambiente (Figura 3). A ingestão de alimentos fonte de probióticos e prebióticos favorece a modula- ção saudável da microbiota intestinal humana, desde o início da vida até a idade adulta, agindo de maneira preventiva e terapêutica. Os probióticos são micror- ganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, benefi- ciam à saúde do hospedeiro, promovendo balanço de sua microbiota intestinal (PAIXÃO; CASTRO, 2016). 8 Saiba Mais Probióticos são elementos muito divulgados na mídia como promotores de saúde, mas você sabe o que são eles? Probi- óticos são definidos como microrganismos vivos, os quais são administrados em quantidades certas, que conferem uma série de benefícios à saúde do hospedeiro. Os probióticos auxiliam de forma pertinente a estruturar a microbiota intestinal, através da adesão e colonização da mucosa intestinal. Esse mecanismo de ação imune impede a adesão e subsequente produção de toxinas ou invasão das células epiteliais (dependendo do mecanismo de patogenicidade) por bactérias patogênicas. Adicionalmente, a indução dos probióticos faz com que aumentem a competição com as bactérias indesejáveis pelos nutrientes disponíveis no nicho ecológico, efetivando redução da carga microbiana. Devemos lembrar que os hospedeiros fornecem as quantidades de nutrientes que as bactérias intestinais necessitam e estas indicam ativamente as suas necessidades. Essa relação simbiótica impede uma produção excessiva de nutrientes, a qual favoreceria o estabelecimento de competidores microbianos com potencial patogênico ao hospedeiro. Além disso, os probióticos podem impedir a multiplicação de seus competidores, através de compostos antimicrobianos, principalmente as bacteriocinas (SAAD, 2006). Figura 3 – Células do sistema imune em ambiente pouco colonizado por bactérias (A) e com colonização adequada (B) Fonte: Adaptada de SOMMER; BACKHED, 2013 #ParaTodosVerem: representação de células intestinais em marrom, com fundo amarelado no primeiro quadrante, com células arredondadas em azul e vermelho, indicando as células do sistema imune. No segundo quadrante, temos representação de células intestinais com pequenos pontos representando bactérias e, ao lado, círculos azuis de maior tamanho, representando células do sistema imune sob um fundo amarelado. Fim da descrição. 9 Histologia do Sistema Digestório e Flora Microbiana Sabemos que o sistema digestório é constituído pelo trato digestório (cavidade oral, esôfago, estômago, intestinos delgado e grosso) e suas glândulas associadas (glândulas salivares, fígado e pâncreas). Em relação à carga microbiana nessas regiões, as bactérias nativas não se prolife- ram aleatoriamente no trato gastrointestinal, sendo que determinadas espécies são encontradas em concentrações e regiões específicas (ALMEIDA et al., 2009). A regulação ocorre, portanto, pelo próprio meio, devido à presença dos diversos grupos que se estabelecem à medida que as condições se apresentam favoráveis em relação às interações microbianas e substâncias inerentes ao seu metabo- lismo, aos fatores fisiológicos do hospedeiro e nutrientes provenientes da dieta alimentar. Outros fatores que podem ser citados são: estado clínico do hospedei- ro; idade; tempo de trânsito intestinal e pH intestinal; disponibilidade de material fermentável; interação entre os componentes da microbiota; suscetibilidade a in- fecções; estado imunológico; requerimentos nutricionais e o uso de antibióticos e imunossupressores (ALMEIDA et al., 2009). Entre essas áreas, entendemos então que há uma diversificação microbiana de- pendendo da localização e de fatores fisiológicos do hospedeiro. Com base nes- ses dados, podemos citar o povoamento microbiano em determinadas áreas, como, por exemplo, a cavidade oral que contém uma mistura de microrganis- mos, sendo principalmente encontradas bactérias anaeróbicas, tendo como es- truturas anatômicas e histológicas aqui representadas pela boca e língua: A boca é a entrada inicial e principal do sistema digestório. Todo processo di- gestivo se inicia por aí. A ingestão, os mecanismos bioquímicos iniciais, parte da digestão e a formação do bolo alimentar são funções da boca e de suas glândulas salivares associadas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). Quanto à língua, seus dois terços anteriores são formados por uma massa cen- tral de fibras musculares esqueléticas. O terço posterior apresenta agregados de tecido linfoide, as tonsilas linguais. A superfície da língua é revestida por um epitélio pavimentoso estratificado que- ratinizado sustentado por uma lâmina própria associada à musculatura central da língua. Glândulas mucosas e serosas se estendem até a lâmina própria e pela musculatura (UNIVERSIDADEFEDERAL DE ALFENAS, c2023). 10 Essa superfície contém numerosas projeções em sua estrutura, as quais deno- minamos de papilas linguais. Ainda na abordagem das estruturas anatômicas e histológicas, podemos abordar que na língua existem células quimiossensoriais chamadas células receptoras gustativas. Essas células estão em contato sinápti- co com as terminações dos nervos gustativos. Em regiões mais implicadas aos processos digestórios, podemos inferir situa- ções diferentes quando relacionamos o estômago, por exemplo. Normalmente há pouca ação bacteriana no estômago, pois o ácido clorídrico atua como um agente germicida. Geralmente estão presentes na concentração de 0-103 UFC/ ml, a Helicobacter pylori, que tem sido encontrada em pacientes com úlceras pép- ticas e neoplasia de estômago. Outras espécies encontradas nesse órgão são Lactobacillos e Streptococos (ALMEIDA et al., 2009). As condições marcadas pela secreção diminuída de ácido clorídrico podem diminuir a resistência à ação bac- teriana, ocasionalmente levando à inflamação da mucosa gástrica ou um risco maior de supercrescimento no intestino delgado, que em geral é relativamente estéril (PAIXÃO; CASTRO, 2016). O estômago, similarmente ao intestino delgado, é um órgão que exerce funções exócrinas e endócrinas, digerindo o alimento e secretando hormônios, cuja fun- ção principal é transformar este bolo alimentar em uma massa viscosa (quimo). No estômago são identificadas quatro regiões: cárdia, fundo, corpo e piloro. As regiões do fundo e corpo possuem estrutura microscópica idêntica e, portanto, histologicamente apenas três regiões são consideradas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). O estômago vazio apresenta pregas da mucosa gástrica, ou rugas, cobertas por fossetas ou fovéolas gástricas. Na sequência, vamos fazer um pequeno descritivo histológico desse importante órgão: Mucosa O epitélio que recobre a superfície do estômago é cilíndrico simples com células secretoras de muco. Esse epitélio sofre invaginações em direção à lâmina própria, formando as fossetas gástricas. No fundo dessas fossetas, na lâmina própria, se abrem muitas glândulas pequenas. A lâmina própria do estômago é composta por tecido conjuntivo frouxo contendo fibras colágenas e reticulares, já as fibras elásticas são raras. Separando a mucosa da submucosa adjacente, existe uma camada de músculo liso (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). 11 Região Cárdia A cárdia é uma banda circular estreita, com cerca de 1,5 a 3,0 cm de largura, na transição entre o esôfago e estômago. Sua mucosa contém glândulas tubulares enoveladas que se abrem nas fossetas gástricas, denominadas glândulas da cár- dia. Suas células secretoras produzem muco e lisozima, mas algumas poucas cé- lulas produtoras de elementos componentes dos processos digestivos também podem ser encontradas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). Fundo e Corpo A lâmina própria da região do corpo e fundo está preenchida por glândulas tubu- lares ramificadas (glândulas fúndicas), das quais três a sete abrem-se no fundo de cada fosseta gástrica. As glândulas possuem três regiões distintas: istmo, colo e base. A distribuição dos diferentes tipos celulares epiteliais nas glândulas gás- tricas não é uniforme. O istmo possui células mucosas em diferenciação que substituirão as células da fosseta e as superficiais, células-tronco indiferenciadas e células oxínticas (parietais); o colo contém as células mucosas do colo, célu- las-tronco mitoticamente ativas e células parietais; e a base, representando a maior parte da glândula, contém principalmente células parietais e zimogênicas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). As células mucosas superficiais revestem a superfície da mucosa gástrica e das fossetas gástricas. As células enteroendócrinas estão distribuídas pelo colo e base das glândulas. As glândulas fúndicas possuem cinco tipos celulares principais: (1) células muco- sas do colo, (2) células principais ou zimogênicas, (3) células parietais ou oxínti- cas, (4) células-tronco, e (5) células enteroendócrinas ou gastroenteroendócrinas (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). A mucosa gástrica do corpo e fundo possui duas classes de células produtoras de muco: (1) as células mucosas superficiais, que revestem as fossetas, e (2) as células mucosas do colo, localizadas na abertura da glândula fúndica na fosseta (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). 12 Tipos Celulares da Região Fúndica Células-tronco Encontradas em pequenas quantidades na base do istmo e colo, as células-tron- co são colunares baixas com núcleos ovais próximos da base da célula. Estas células possuem uma elevada taxa de mitoses, algumas delas movem-se para a superfície para repor as células mucosas superficiais e da fosseta, que se renova a cada 4-7 dias. Outras células filhas migram mais profundamente nas glândulas e se diferenciam em células mucosas do colo ou parietais, zimogênicas ou ente- roendócrinas. Essas células são repostas muito mais lentamente que as células mucosas superficiais (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). Células Mucosas do Colo Estas células são observadas agrupadas ou isoladamente entre as células parie- tais no colo das glândulas gástricas. Sua secreção mucosa é diferente daquela proveniente das células epiteliais mucosas da superfície. Elas possuem formato irregular, com núcleos na base das células e os grânulos de secreção próximos da superfície apical (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). Células Oxínticas (Parietais) Células parietais estão presentes, principalmente, na metade superior das glân- dulas gástricas e no colo; elas são escassas na base. São células arredondadas ou piramidais, com um núcleo esférico que ocupa a posição central e citoplas- ma intensamente eosinofílico. As células parietais secretam o ácido clorídrico do suco gástrico e o fator intrínseco, uma glicoproteína que se liga à vitamina B12 para facilitar a sua absorção no intestino delgado. A vitamina B12 se liga no estômago ao fator intrínseco. No intestino delgado, o complexo vitamina B12 – fator intrínseco se liga ao receptor para o fator intrínseco localizado na superfí- cie dos enterócitos do íleo e é transportado para o fígado pela circulação porta (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). Células Zimogênicas ou Principais As células principais possuem todas as características de células que sintetizam e exportam proteínas. Sua basofilia se deve ao retículo endoplasmático rugoso abundante. Secretam a enzima inativa pepsinogênio que é rapidamente conver- tido na enzima pepsina após ser secretado no ambiente ácido do estômago. Em 13 humanos, as células zimogênicas também produzem a enzima lipase. A exocito- se do pepsinogênio é rápida e estimulada pela alimentação (após jejum). Células Enteroendócrinas Presentes na mucosa desde o estômago até o cólon (intestino grosso), sintetizam hormônios peptídicos, os quais regulam várias funções no sistema digestório e nas glândulas associadas. São encontradas principalmente próximo à base das glândulas gástricas. São considerados seis hormônios peptídicos gastrointestinais principais: secre- tina, gastrina colecistoquinina, pepitídioinsulinotrópico dependente de glicose, motilina e grelina (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). A secretina é produzida pelas glândulas das criptas de Lieberkuhn duodenais quando o conteúdo gástrico chega ao duodeno. Ela estimula a liberação de um fluido rico em bicarbonato pelas glândulas duodenais de Brunner e pelo pân- creas para controlar a secreção ácida e regular o Ph do conteúdo duodenal (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). A gastrina é produzida pelas células G localizadas no antro pilórico, ela estimula a produção de HCl pelas células parietais. A colecistoquinina é produzida no duodeno e estimula a contração da vesícula biliar e o relaxamento do esfíncter de Oddi, quando o quimo rico em proteínas e gorduras entra no duodeno. A motilinaé liberada ciclicamente pela região superior do intestino delgado du- rante o jejum e estimula a motilidade gastrointestinal. A grelina é produzida no estômago (fundo). A grelina estimula a secreção do hormônio do crescimento. Os níveis plasmáticos de grelina aumentam durante o jejum, causando a sensação de fome ao agir sobre os centros hipotalâmicos da fome (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). O peptídeo isulinotrópico dependente de glicose, produzido no duodeno, esti- mula a liberação de insulina (efeito insulinotrópico) quando a glicose é detectada no intestino delgado. A deglutição, a digestão e a absorção ocorrem por todo o tubo digestório ou alimentar, um conduto muscular oco de 7 a 10 m de comprimento. O processo digestório converte o alimento em uma forma solúvel fácil para ser absorvida pelo intestino delgado. 14 A eliminação de resíduos insolúveis e outras substâncias é a função do intestino grosso. Histologicamente o tubo digestório é formado por quatro camadas, ou túnicas, principais: 1. Uma camada mucosa interna, ao redor do lúmen; 2. Uma camada submucosa; 3. Uma camada muscular externa; 4. Uma camada adventícia ou serosa. A camada mucosa interna apresenta variações significativas ao longo do tubo di- gestório e é subdividida em três componentes: (1) uma camada epitelial, (2) uma lâmina própria de tecido conjuntivo, e (3) uma camada muscular da mucosa de músculo liso. A aderência de alguns microrganismos na parede do intestino é um importante elemento que controla a composição das comunidades epiteliais e do lúmen. Certas bactérias apresentam estruturas de adesão diferentes na sua superfície, citadas como adesinas, as quais possibilitam o reconhecimento nos eritrócitos da mucosa, sendo possível dessa forma, a adesão da bactéria na parede do in- testino e possibilitando a sua multiplicação. Para essa fusão complexa entre as porções intestinais e a microbiota, temos que nos atentar às estruturas da mucosa intestinal. A mucosa do intestino delgado apresenta várias estruturas que aumentam a sua superfície, aumentando, assim, a área disponível para a absorção de nu- trientes, são elas: (1) as pregas circulares, (2) as vilosidades ou vilos intestinais, (3) as glândulas intestinais e (4) os microvilos na superfície apical das células do epitélio de revestimento (enterócitos). Entre os vilos existem pequenas aberturas de glândulas tubulares simples denominadas de glândulas intes- tinais ou criptas de Lieberkunh, conforme visto na Figura 4 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, c2023). 15 Figura 4 – Estruturas da mucosa intestinal Fonte: Reprodução #ParaTodosVerem: estruturas representantes de células do intestino em amarelo com inclusões roxas no centro da figura, acima no quadrante superior esquerdo, uma figura representando um intestino humano em roxo, com uma seta em verde apontando para a célula e ao lado figuras em amarelo, azul, vermelho e com formas circulares, toda representando células intestinais. Todas as imagens sob um fundo branco. Fim da descrição. Observamos, então, que em diferentes regiões do trato gastrintestinal estão pre- sentes grupos específicos de microrganismos, que são capazes de produzir uma grande variedade de compostos, com variados efeitos na fisiologia. Esses com- postos podem influenciar a nutrição, a fisiologia, a eficácia de drogas, a carcino- gênese e o processo de envelhecimento, assim como a resistência do hospedeiro à infecção. A alimentação saudável favorece o crescimento das bactérias benéficas, man- tendo a qualidade da microbiota e a integridade da mucosa intestinal. Em con- trapartida, padrões alimentares com predomínio de alimentos processados e ultraprocessados, ou seja, dietas ricas em gordura, açúcares, aditivos químicos, álcool e pobre em fibras, contribuem para a disbiose, e consequentemente para o desenvolvimento de alergias, doenças crônicas, autoimunes e um desequilíbrio geral do sistema imune (ALMEIDA et al., 2009). MATERIAL COMPLEMENTAR Vídeos Os Verdadeiros Benefícios dos Probióticos https://youtu.be/HGU_q9dOKfw Probióticos – Quando Usar? https://youtu.be/FrMf-bZNLFI Leituras Relação entre Homeostase e Disbiose https://bit.ly/4adUv9g Probióticos e Resposta Imune https://bit.ly/47RZfzS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. B. et al. Disbiose intestinal. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, [S. l.], v. 24, n. 1, p. 58-65, 2009. DIAS, P. A. R. et al. A relação do microbioma intestinal e o sistema imune no desen- volvimento da doença de Crohn. Revista Eletrônica Acervo Científico, [S. l.], v. 17, p. e5618-e5618, 2020. FERREIRA, R. F. et al. Selênio na saúde humana e na microflora intestinal: biodisponi- bilidade de selenocompostos e relação com doenças. Front. Nutri, [S. l.], v. 8, p. 1-19, 2021. PAIXÃO, L. A.; CASTRO, F. F. dos S. Colonização da microbiota intestinal e sua influên- cia na saúde do hospedeiro. Universitas: Ciências da Saúde, [S. l.], v. 14, n. 1, p. 85-96, 2016. 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