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Disbiose C A R A C T E R Í S T I C A S E A T U A L I Z A Ç Õ E S M Ô N I C A D E O L I V E I R A S A N T O S A D R I A N A A L V E S D E M E N E S E S D E L E V E D O V E ( O R G A N I Z A D O R A S ) Disbiose C A R A C T E R Í S T I C A S E A T U A L I Z A Ç Õ E S M Ô N I C A D E O L I V E I R A S A N T O S A D R I A N A A L V E S D E M E N E S E S D E L E V E D O V E ( O R G A N I Z A D O R A S ) SBCSaúde Goiás ISBN 978-65-87580-02-9 Copyright © da Editora SBCSaúde Ltda Editora SBCSaúde: http://sbcsaude.org.br/ ou http://editorasaude.com.br/ Copyright © da Editora SBCSaúde Ltda Diagramação: Editora SBCSaúde Capa: Editora SBCSaúde Revisão: Corpo editorial Está obra estará disponibilizada no formato eletrônico no site da editora (SBCSaúde), no qual é permitido o download completo, bem como compartilhamento da mesma. Vale salientar que sua reprodução parcial ou total somente será permitida desde de que seja atribuído crédito aos autores, bem como a citação da fonte. Em hipótese alguma poderá utilizar essa obra para fins comerciais. Ainda é relevante ressaltar que a violação dos direitos autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal. O Conteúdo dos artigos, bem como seus dados, correção e confiabilidade são exclusivamente responsabilidade dos autores. DADOS DE CATALOGAÇÃO ___________________________________________________________________________ S237 Disbiose: Características e Atualizações/ Mônica de Oliveira Santos, Adriana Alves de Meneses Delevedove [organizadoras]. 1 ed – Goiânia, Goiás: SBCSaúde, 2020. 155 p. 12000 kb - ePUB Incluída bibliografia ISBN 978-65-87580-02-9 1. Disbiose. 2. Intestino. 3. Saúde intestinal. 4. Microbiota Índice para catálogo sistemático CCD 610 ___________________________________________________________________________ Editora SBCSaúde: http://sbcsaude.org.br/ ou http://editorasaude.com.br/ E-mail address: publicacoes@sbcsaude.org.br http://sbcsaude.org.br/ mailto:publicacoes@sbcsaude.org.br Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 3 | Corpo Editorial Dr. Aroldo Vieira de Moraes Filho/ UNIFAN - GO Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto/ UFG - GO Dr. Ernane Gerre Pereira Bastos/ ULBRA- TO Dr. Jonas Byk - Universidade Federal de Manaus - AM Dr. Lucas Silva de Oliveira/ UNB - DF Dr. Luiz Paulo Araújo dos Santos/ UFG - GO Dra. Adriana Alves de Meneses Delevedove – UNAERP – SP Dra. Aline Helena da Silva Cruz/ UFG - GO Dra. Aline Raquel Voltan/ UNIRV - GO Dra. Aliny Pereira de Lima/ UFG - GO Dra. Andrielle de Castilho Fernandes/ UNIFAN - GO Dra. Carolline Silva Borges/ UFG Dra. Debora de Jesus Pires/ UEG – GO Dra. Érica Izumi - UFT do Paraná - Campus de Santa Maria - PR Dra. Juliana Santana De Curcio/ UFG - GO Dra. Lilian Carla Carneiro/ UFG - GO Dra. Mônica de Oliveira Santos/ UFG - GO Dra. Mônica Santiago Barbosa/ UFG – GO Dra. Pablinny Moreira Galdino de Carvalho/ UFOB - BA Dra. Patricia Fernanda Zambuzzi Carvalho/ UFG – GO Dra. Tereza Cristina Vieira de Rezende/ Universität Basel – Switzerland Dra. Lara Stefânia Netto de Oliveira Leão – UFG-GO Dra. Marcia Regina Pincerati - Universidade Positivo, Curitiba - PR. Dra. Carla Cardoso da Silva/ UNIFAN - GO Dra. Lorena Motta da Silva/ UEG - GO Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 4 | Autores Adriana Alves de Meneses Delevedove Aline Luiza Ribeiro Ana Paula Silva Servato Brunna Camargo dos Santos Caroline Araujo Silva Clara Elisa Melo Mundim Mariana Queiroz Borges Cynthia Nishigaki Sericaku Daniela Ferreira de Araújo Débora De Bortoli Verdelho Dirceu Alves Carvalho Fernanda Cristina de Abreu Mendes Claudino Gabrielly Medeiros de Souza Giovanna Cabrini Franco Martins Herik Jansen de Souza Pimentel Ingrid Oliveira Camargo Isabela Gonçalves Costa Kalitta Menezes e Silva Karolyna Matos Silva Kissy Rodrigues Borges Laura Macruz David Amaral Capual Lívia Costa de Assis Luana Tavares Gonçalves Ludmyla Auxiliadora Baumgratz de Brito Luís Felipe Pires Fontana Marcella Giovana Gava Brandolis Marconi Augusto Toraci Marçal Mariana Akemy Lopes Iuasse Mariana Queiroz Borges Matheus Campoy Tomazella Matheus Mundim Bernardes Milla Proto de Mattos Sabino Mônica de Oliveira Santos Nayra Cristina da Silva Melo Ondina Almeida Resende Sara Borges de Oliveira Sayro Louis Figueredo Fontes Tallita Rodrigues Suriani Tauana Pereira Lacerda Thayane Fogaça De Medeiros Vinicius Morais De Sousa Yhasmin Fernanda Silveira Lameira Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 5 | Sumário CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................................... 6 História da Disbiose CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................................. 20 Microbiota intestinal: composição e características CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................................. 31 Microbiota intestinal: ações e funções para o organismo CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................................. 43 Fatores que propiciam o desenvolvimento da disbiose CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................................. 57 Ação de drogas e fármacos na microbiota intestinal CAPÍTULO 6 ............................................................................................................................................. 70 Como a disbiose causa doenças CAPÍTULO 7 ............................................................................................................................................. 76 Relação entre intestino e sistema imune CAPÍTULO 8 ............................................................................................................................................. 86 Diagnóstico da disbiose CAPÍTULO 9 ............................................................................................................................................. 98 Dieta e efeitos atribuídos aos efeitos dos probióticos e prebióticos ao organismo CAPÍTULO 10 ......................................................................................................................................... 113 Prevenção e Tratamento da Disbiose CAPÍTULO 11 ......................................................................................................................................... 127 Disbiose em Paciente Obesos e Bariátricos CAPÍTULO 12 ......................................................................................................................................... 142 Disbiose e Doenças Mentais https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176698 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176698 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176699 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176700 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176700 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176701 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176702https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176702 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176703 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176704 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176704 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176705 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176706 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176706 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176707 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176708 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176708 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176709 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176710 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176710 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https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176717 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176718 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176718 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176719 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176720 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176720 https://d.docs.live.net/003f59dd8d99b2ad/SBCSAÚDE/LIVROS-SBCSAUDE/Livro%20Disbiose%20.docx#_Toc77176721 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 6 | Sara Borges de Oliveira1 1. Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser Aparecida de Goiânia - Goiás Dirceu Alves Carvalho1 Mariana Akemy Lopes Luasse1 2. Faculdade de Medicina. – Universidade Federal de Goiás. Goiânia - Goiás Thayane Fogaça de Medeiros1 Mônica de Oliveira Santos2 A história da disbiose tem início com as primeiras análises da microbiota intestinal no final do século XIX e início do século XX. Metchnikoff, zoólogo-imunologista e pesquisador de longevidade, ganhador do Prêmio Nobel, jamais mencionou a palavra disbiose. Porém, ele chamou a atenção para os microrganismos residentes e seus diferentes efeitos no corpo humano, que ele questionou serem "normais" ou "patológicos". Metchnikoff acreditava que o intestino grosso humano não era útil e funcionava “meramente” para fornecer condições favoráveis às bactérias, muitas das quais ele pensava não poderem ser úteis e provavelmente estavam diminuindo a vida humana e que um dia a cirurgia permitiria a remoção cirúrgica de rotina deste órgão inútil [1]. Um médico-romancista da mesma época, Elliott Furney, usou “eubiose” e “disbiose” em seu relato de ficção científica sobre clonagem e regeneração de animais. No entanto, ele implantou esses termos em um sentido diverso ao da microbiologia portanto não é adequado citar ele como a fonte do conceito de disbiose [1]. O primeiro uso microbiológico do termo disbiose aparece em um artigo de 1920 de C. Arthur Scheunert que alegou que a disbiose intestinal estava implicada na doença dosequinos e que poderia ser evitada por estábulos e água limpa. Mais tarde em sua carreira, Scheunert se envolveu em pesquisas sobre digestão em seres humanos, especialmente prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, mas o principal legado desse projeto é uma forte crítica ética [1]. O renascimento da disbiose na literatura científica ocorreu na década de 60, através do trabalho de Helmut Haenel, um “microecologista” da era do pós-guerra em Potsdam, Alemanha. Haenel fez menções repetidas à disbiose e deu a ela seu conceito atual de mudança e desequilíbrio, o que CAPÍTULO 1 História da Disbiose Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 7 | poderia ser contrastado com o estado "normal" positivo que ele chamou de eubiose [2]. Haenel realizou análises do conteúdo intestinal humano e das fezes, a fim de caracterizar os microrganismos no intestino humano nas diversas fases da vida. Ele descobriu que crianças convalescentes, apesar de consideradas “clinicamente saudáveis”, possuíam uma microbiota tão alterada que não deve ser entendida como eubiose com composição normal, mas como disbiose com relações perturbadas. Haenel então propôs critérios para detectar essas associações perturbadas quantificando variações das contagens bacterianas típicas para intestinos e fezes. Haenel reconheceu que a cultura não poderia mostrar a composição total da microbiota, mas pensou que suas contagens orgânicas funcionavam como indicadores efetivos do estado global da “MICROBIOTA intestinal”. Sua pesquisa ergueu questões sobre a estabilidade da microbiota hospedeira, desequilíbrio e respostas a perturbações, como os efeitos da dieta (incluindo leite materno), cesarianas e tratamentos antimicrobianos nas comunidades de micróbios intestinais [2]. MICROBIOTA INTESTINAL O termo microbiota intestinal refere-se a uma diversidade de microrganismos vivos principalmente bactérias anaeróbias, que colonizam o intestino logo após o nascimento. É constituído por microbiota nativa e de transição temporária, sendo considerado como um dos ecossistemas mais complexos, com cerca de 1.000 bactérias distintas. Seu estabelecimento é influenciado por múltiplos fatores e chega ao ápice por volta dos dois anos de idade [4]. A microbiota intestinal influencia diretamente na saúde do Hospedeiro, sendo fundamental salientar que as bactérias podem ser patogênicas, mas também são essenciais à vida, devendo haver uma simbiose entre o hospedeiro e as bactérias, uma espécie de mutualismo, a qual ambos se beneficiem em prol da saúde do hospedeiro. O ser humano criou uma relação simbiótica e mutualista com a microbiota intestinal e 95% bactérias não trazem efeitos maléficos para ser humano. Não é a microbiota que está dentro da gente, somos nós que estamos dentro da microbiota. 100 micróbios para cada célula humana. A primeira fonte de micróbios para a colonização do trato gastrointestinal (TGI) é o parto, principalmente o normal, por ter contato direto com a microbiota fecal da mãe. Seguido então pelo ambiente e amamentação, essa por sua vez sofre grande influência pelo uso de leite humano ou leite industrializado [5]. As principais bactérias que compõea microbiota entérica são benéficas e/ou probióticas e as nocivas. Como exemplo de probióticas temos as Bifidobactérias e Lactobacilos (Bacteroides spp., Bifidobacterium spp., Lactobacillus spp., e para as nocivas podem ser citadas a Enterobacteriaceae e Clostridium spp. São Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 8 | encontrados também na microbita entérica a Eubacterium spp., Fusonbacterium spp., PeptoStreptococcus spp., Ruminococcus [6]. O trato gastrointestinal humano saudável é colonizado por microorganismos e a sua formação possui tanto bactérias (principalmente anaeróbicas), como fungos e vírus. De acordo com alguns autores, ao nascer, o intestino é estéril, sendo colonizado durante o parto normal ou cesária [1]. No entanto, tem autores que afirmam através de estudos que o intestino é colonizado ainda no útero materno, mesmo sem haver qualquer evidência de ruptura da barreira amniótica. Esse estudo mostra que a placenta possui uma MICROBIOTA microbiana que compreende micróbios não patogênicos dos filos Tenericutes, Firmicutes, Bacteroidetes, Proteobacteria e Fusobacteria; que o líquido amniótico tem uma comunidade microbiana distinta, mas que é caracterizada por baixa diversidade, baixa riqueza e com predominância de Proteobacteria; e que o mecônio contém uma microbiota complexa, com Prevotella sendo a predominante no primeiro mecônio [7]. Assim sendo, em média a microbiota intestinal atinge a sua composição até os dois anos de idade, mantendo-se estável até que alterações no sistema imunológico, fatores genéticos do hospedeiro e fatores ambientais consigam, casualmente, desequilibrar a sua composição [2,3]. A colonização do TGI infantil completa é de extrema importância para a saúde do bebê e posteriormente para o adulto, a sua instalação e manutenção pode reduzir a proliferação e disseminação de bactérias multirresistentes. As bactérias entéricas apresentam funções favoráveis ao hospedeiro como as antibacterianas, imunomodulação e metabólicos nutricionais [8]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 9 | Os períodos neonatais e da infância são etapas importantes no estabelecimento da comunidade microbiana intestinal. Os neonatos nascidos de partos normais são expostos a vagina materna e a microbiota fecal, esses possuem predominância por Prevotella spp. e Lactobacillus. Todavia, os que nascem por cesariana não entram em contato direto com a população microbiana vaginal materna e, acaba que, são mais propensos a ter um microbioma dominado por micróbios (Corynebacterium, Staphylococcus e Propionibacterium spp) que são derivados da pele da mãe, do ambiente ou da equipe hospitalar. Durante a primeira semana após o nascimento, o domínio principal é o gênero Bifidobacterium, observados em recém- nascidos vaginais, enquanto os bebês nascidos de cesariana tem a prevalencia em Firmicutes [7]. A microbiota é fundamental para sobrevivência. Ela contribui para o bem-estar do organismo do ser humano impedindo o estabelecimento de bactérias patogênicas que geralmente são ocasionadas pelo desequilíbrio dessa. Os micróbios que colonizam o trato digestivo influenciam na transformação de nutrientes, no suprimento de vitaminas, na maturação da imunidade da mucosa e na comunicação intestino-cérebro. A função da microbiota intestinal depende principalmente de bactérias dos filos Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria e Proteobacteria. Grandes mudanças na proporção entre esses filos, como, ampliação de patógenos e/ou redução de bactérias benéficas de novos grupos bacterianos levam a disbiose. O descontrole dessa microbiota pode causar perda de efeitos imunes reguladores na mucosa intestinal, sendo associada a doenças inflamatórias e imuno-mediada [9]. Alcançar uma homeostase adequada durante o momento de colonização do trato gastrointestinal, é um dos elementos imprescindíveis para a modulação do sistema imune adequado e indução da tolerância imunológica. O não funcionamento desse Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 10 | sistema é a principal causa de doenças autoimunes. A disbiose apresenta um agravante quando associado com permeabilidade intestinal, constipação e diarreia. Na microbiota anormal, a quebra dos peptídeos e reabsorção de toxinas do lúmen intestinal acontece de maneira inadequada, induzindo o surgimento de patologias pelo não funcionamento das funções da microbiota intestinal. Em pessoas saudáveis, nota-se uma microbiota estável. Os agentes patogênicos quando obtidos são eliminados devido à presença da microbiota comensal. Contudo, ao obter uma quantidade significativa de bactérias patogênicas (Salmonella spp., Vibrio ou Estafilococcus), podem induzir uma desordem na microbiota natural, lesando assim os mecanismos de defesa e gerando sintomas clínicos. As bactérias intestinais são apreciadas por propocionarem benefícios ao hospedeiro, como, fornecendo vitaminas, metabolizando compostos indigestíveis, defendendo contra colonização de patógenos, contribuindo para o desenvolvimento da arquitetura do intestino e para o funcionamento do sistema imune. As bactérias colônicas podem fermentar substratos endógenos derivados do hospedeiro, tais como, muco e enzimas pancreáticas. À vista disso, a microbiota intestinal produz metabólitos (substância resultante do processo de metabolismo) que certamente são absorvidos pelo sangue onde eles podem alcançar o cérebro e o fígado [10]. Definição de disbiose: Podemos definir disbiose intestinal como um desequilíbrio do ambiente microbiano: Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 11 | A disbiose intestinal ocorre pelo desequilíbrio da microbiota local, havendo nesse caso, aumento no número de microrganismos patogênicos em relação àqueles considerados benéficos para nosso organismo [22]. Esse desequilíbrio pode ocasionar aumento na permeabilidade intestinal, resultando na passagem ascendente de lipopolissacarídeo (LPS) para a circulação sistêmica, gerando uma endotoxemia metabólica e desenvolvimento de um estado inflamatório crônico [11]. De modo geral a disbiose intestinal é causada pela falta de cuidado adequado com o trato gastrointestinal como má alimentação, consumo excessivo de alimentos processados e estresse. Tratamentos prolongados com antibióticos também podem desempenhar um importante papel no desenvolvimento da disbiose intestinal, pois além de conferir resistência aos microrganismos patogênicos ainda podem diminuir consideravelmente a população de microrganismos benéficos [12]. Com referência a isso, a disbiose caracteriza-se como um problema sério, e consequente dos hábitos mantidos atualmente, que tem grandes chances de perturbar o organismo humano e por isso deve ser mais investigada. Gases, cólicas, diarreias e prisão de ventre frequentes já é um quadro clínico que indica disbiose [13]. Ela pode ocasionar uma série de complicações ao organismo como a má digestão e absorção de nutrientes no intestino delgado, produção de toxinas, mal estar, diarreia, inflamação e produção de substâncias peptídicas mutagênicas e carcinogênicas através da combinação de toxinas e proteínas provenientes da alimentação [21]. É uma característica de doenças inflamatórias intestinais, distúrbios metabólicos, doenças auto-imunes e distúrbios neurológicos, podendo desencadear doenças nas primeiras semanas de vida ou durante a vida adulta [9]. Ela pode apresentar diversas causas como por distúrbios metabólicos, autoimunes, neurológicos e inflamatórios [2]. O Quadro clínico típico do paciente com disbiose intestinal engloba mau hálito,flatulência, dispepsia, eructação, distensão abdominal. É inquestionável o impacto que a saúde intestinal trás e as consequências advindas da disbiose estão relacionadas com diversas patologias, como, por exemplo, o câncer. Bactérias intestinais patogênicas produzem carcionógenos poderosos. Ademais, metabólitos bacterianos podem possuiratividade genotóxica, mutagênica ou carcinogênica e contribuir para o desenvolvimento de câncer, quando há um longo período de exposição, que é o que acontece na disbiose intestinal. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 12 | Anatomofisiologia: Quando pensamos em disbiose temos que entender também o conceito de barreira intestinal, que é influenciada fisiologicamente pelo MUCO, TIGH JUNCTIONS (TJ), ADHERING JUNCTIONS (AJ), MICROBIOTA, SECREÇÃO ÁCIDA DO ESTÔMAGO, E PERISTALTISMO. O nosso contato do meio interno com o meio externo é feito através de um tubo que vai da boca até ânus. Esse tubo é chamado de TGI. Ele funciona como um exército, que vai escolher o que entra e o que sai do corpo. O intestino possui 8 a 9 metros de comprimento, fornecendo a maior interface entre o corpo e o mundo exterior. As células epiteliais cobrem as superfícies externas da mucosa intestinal e negociam a interação com o ambiente circundante. É a interação entre os indivíduos e o meio ambiente em que vivem que dita o destino clínico, ela é fisicamente e mecanicamente regulada por interfaces biológicas que dividem o corpo humano do ambiente que o circunda. Tanto fatores exógenos, como endógenos afetam a estruturação microbiana do intestino. Muitas vezes, é necessário mais que um fator para induzir à disbiose, visto que a microbiota intestinal tem uma capacidade de se adaptar a variações na disponibilidade de nutrientes e mudanças de condições ambientais. Os fatores imprescindíveis que influenciam a composição da microbiota intestinal são a dieta, fármacos, sistema imunológico e a devida microbiota. Mudanças moderadas na composição microbiana podem fornecer uma oportunidade para que outros fatores agravantes (estresse oxidativo, bacteriófagos) amplifiquem as mudanças em agentes bacterianos, ao ponto de levar a uma disbiose [9]. Para digestão e absorção, além de nutrientes absorvíveis, a mucosa intestinal também enfrenta antígenos externos. Assim, é necessária uma barreira para bloquear a entrada desses antígenos enquanto absorve nutrientes. No intestino, a linha dessa barreira é mantida por uma camada de células epiteliais especializadas que estão ligadas entre si por proteínas de junção estreita (TJ). Se ocorrer alguma anormalidade entre esses fatores, a permeabilidade intestinal pode aumentar. Com isso, poderá levar a um vazamento intestinal o que permitirá a entrada de antígenos externos do lúmen intestinal no hospedeiro, o que pode promover respostas imunes locais e sistêmicas; podendo surgir ou exacerbar doenças, como doença inflamatória intestinal, doença celíaca, hepatite autoimune, diabetes tipo 1, esclerose múltipla e lúpus eritematoso sistêmico [14]. A barreira física entre o lúmen intestinal e a circulação sistêmica permite a absorção de nutrientes e impede a penetração da bactéria. A barreira intestinal é composta preferencialmente por enterócitos (são sobrepostos por uma camada de muco que forma uma barreira física entre epitélio subjacente e o lúmen do trato gastrointestinal e protege o epitélio contra agentes nocivos, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 13 | vírus e bactérias patogênicas). A barreira do muco consiste em camada interna, que é presa à camada celular epitelial e é desprovida de bactérias; e em camada externa que pode ser lavada facilmente e é colonizada por bactérias. Os mecanismos de defesa intestinal são reforçados por células imunes na lâmina própria, que desempenham um papel essencial na proteção da mucosa intestinal contra invasões de bactérias [8]. Abaixo do epitélio intestinal, existem placas de Peyer e folículos linfóides isolados. Dentro destes, há Células B, células T, células dendríticas (DCs) e neutrófilos que orquestram a resposta imune. As células caliciformes apresentam antígenos luminais adquiridos às células CD103 e dendríticas em lâmina própria no intestino delgado. Além disso, células caliciformes e GAPs são capazes de detectar patógenos invasores e inibir a translocação de bactérias patogênicas para o sistema imunológico do hospedeiro. Outro componente da barreira imunológica é a IgA secretora, que reside principalmente nas superfícies da mucosa intestinal [14]. As células epiteliais intestinais (IECs) servem como uma barreira física no intestino, sendo renovadas a cada 3-5 dias. Existem vários tipos de IECs funcionais, como os enterócitos, células caliciformes, células Paneth, células M, células enteroendócrinas, células de tufo. Os enterócitos são células absorventes e vitais para captação de nutrientes, e podem controlar a abundância de bactérias Gram positivas. O revestimento das células epiteliais intestinais são contínuo e o contato entre elas são selado por TJs. A via paracelular permite o transporte de substâncias através do epitélio intestinal pelos espaços entre essas células. No topo do epitélio intestinal, existem as camadas interna e externa, que cobrem o revestimento epitelial intestinal e fornecem proteção para separar os microrganismos luminais do epitélio [14]. As moléculas bioquímicas com propriedades antimicrobianas existem no muco e no interior do lúmen, elas formam uma rede para diminuir a carga de bactérias colonizadas e reduzir a chance de contato entre antígenos no lúmen e células hospedeiras [14]. Permeabilidade intestinal: A permeabilidade intestinal se refere a mudanças no fluxo de solutos e fluidos entre o lúmen e os tecidos através do epitélio [17]. O epitélio do intestino é sustentado pelo citoesqueleto, que se estende através das porções látero-apicais das células e forma as TJ. Essas junções são uma via de acesso de macromoléculas, que permite ou não a passagem bidirecional de substâncias. As rotas de permeação de substâncias pela mucosa do intestino são: a transcelular, onde as moléculas são menores que 0,4nm (manitol) e atravessam as membranas celulares através de pequenos poros aquosos, de alta incidência, presentes na membrana dos enterócitos; e paracelular, no qual as moléculas são maiores que 0,5nm (lactulose) Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 14 | e atravessam canais aquosos maiores existentes nas TJ, de baixa incidência e susceptíveis ao estresse hiperosmolar [18]. Quando se utilizam marcadores com pesos moleculares variáveis, constata-se a presença de poros maiores e menores localizados entre as células epiteliais. Esse modelo é conhecido como teoria da via única. A permeação a macromoléculas aumenta em processos que causam reação inflamatória na mucosa intestinal. A ruptura da barreira intestinal e a permeação aumentada de macromoléculas têm sido relacionadas a mecanismos etiopatogênicos comuns a doenças inflamatórias do trato gastrointestinal e a doenças autoimunes. Para que a mucosa possa desempenhar sua função de forma adequada, sua integridade deve permanecer e o uso de bactérias probióticas vem sendo relacionado a essa manutenção da integridade do epitélio do intestino [18]. A permeabilidade do intestino pode ser alterada por excesso ou por defeito, e sua análise tem implicações na etiologia e na patogenia de doenças intestinais e sistêmicas [16]. No entanto, a modulação da permeabilidade intestinal mantém a homeostase da mucosa e, portanto, nem sempre resulta em resultados clínicos patológicos [19]. Diferençasentre as junções: As tigh junctions (TJ) e adhering junctions (AJ) fornecem contatos adesivos entre as células epiteliais vizinhas. Embora essas junções compreendam proteínas diferentes, há semelhanças nos papéis das proteínas transmembranares especializadas na formação de contatos adesivos extracelulares entre as células e intracelulares ao citoesqueleto de actina e vias de sinalização. A AJ desempenha múltiplas funções, como por exemplo, iniciação e estabilização da adesão célula-célula, regulação do citoesqueleto de actina, sinalização intracelular e regulação transcricional. O núcleo da AJ inclui interações entre glicoproteínas transmembranares da superfamília de caderina (caderina-E), e os membros da família da catenina (p120-catenina, β-catenina e α-catenina). Juntas, essas proteínas controlam a formação, manutenção e função das AJ. As TJ têm duas funções exclusivas, são elas: função de vedação que impede a mistura de proteínas da membrana entre as membranas apical e baso-lateral e função de portão que controla a passagem paracelular de íons e solutos entre as células. As TJ contêm proteínas transmembranares, occludinas e claudinas, que conferem essas funções, e proteínas citoplasmáticas de andaimes ZO-1, -2 e -3 associadas que podem vincular TJ ao actina-citoesqueleto e à AJ [15]. A função de barreira da mucosa intestinal pode ser alterada por: infecções intestinais, disbiose, deficiência de IgA secretora, consumo de alimentos alergênicos ou de compostos tóxicos, álcool, anti-inflamatórios Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 15 | não esteroides, antibióticos, quimioterapia, radioterapia, entre outros [16]. A função da barreira intestinal refere-se à capacidade da mucosa e componentes da barreira extracelular (muco) para evitar trocas. As camadas do muco intestinal e cólon formam a primeira barreira. Ainda que o muco e as camadas sem agitação previnam alguns organismos e moléculas grandes, eles fazem pouco para impedir o fluxo de moléculas pequenas. Entretanto, a interrupção da produção de muco pode levar a danos intestinais e doenças inflamatórias. Se falamos em disbiose, temos uma mucosa intestinal mais fina, ruptura na localização e distribuição das TJ e resposta anormal do hospedeiro de peptídeos antimicrobianos e de imunoglobulinas IGA. O aumento de permeabilidade intestinal, que é a perda ou redução da expressão das TJ, estão relacionadas a várias doenças crônicas. Tudo acompanha um processo inflamatório crônico corporal, que por muitas vezes está alojada no TGI. Com toda essa alteração da permeabilidade, ele perde essa função de barreira e começa a entrar partículas que não deveriam entrar. Como se nosso exército estivesse enfraquecido. Entram partículas bacterianas (LPS) e partículas alimentares. E isso faz um stress no sistema imune, pois este entende que está sendo atacado e começa a formar anticorpos, principalmente IgG. A permeabilidade intestinal e o antígeno luminal (Ag), através da via transcelular e de células dendríticas, regulam a passagem das moléculas entre o lúmen intestinal e a submucosa. As TJ regulam firmemente o tráfico de Ag paracelular [19]. A TJ é um complexo proteico que se forma dentro dos lipídios da membrana plasmática específica. Essas junções restringem fluxo com base no tamanho e na carga. Citocinas relacionadas à doença, fator de necrose tumoral e interleucina-13, podem regular diferencialmente a seletividade do tamanho e a seletividade da carga dessa junção. Existem as vias de poros e de vazamentos de fluxo paracelular através da TJ que se referem a alta capacidade, rotas seletivas e seletivas de carga, e rotas não seletivas de baixa capacidade, respectivamente. A interleucina- 13 eleva o fluxo através da via dos poros. O fator de necrose tumoral aumenta o fluxo pela via de vazamento. Ambas as vias são envolvidas na perda de barreira associada à doença [17]. A zonulina é um biomarcador de permeabilidade intestinal que descreve o papel patogênico do intestino com vazamento em uma variedade de doenças inflamatórias crônicas (CIDs), mas também, a ativação da via da zonulina faz parte do mecanismo fisiológico para manter a homeostase da mucosa. Contudo, a zonulina não está envolvida em todos os CIDs e que nem todos os CIDs foram associados ao aumento da permeabilidade intestinal. A Zonulina é composta por uma família de proteínas [pré- Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 16 | haptoglobina 2 (HP2), precursor da HP2] relacionadas. Haptoglobina evoluiu de uma proteína associada à serina protease associada à lectina de ligação à manose (MASP) que perdeu sua função de protease devido a mutações para adquirir novas funções, como por exemplo a capacidade de modular TJs intercelulares. Entre alguns estímulos luminais intestinais que podem estimular a liberação de zonulina, o crescimento excessivo de bactérias e as proteínas causadoras de doença celíaca (DC) foram identificadas como os dois gatilhos mais poderosos. A secreção de zonulina é dependente de MyD8825 e é seguida por um aumento na permeabilidade intestinal secundária à desmontagem da proteína ZO-1 do complexo juncional apertado. A gliadina desencadeia a liberação de zonulina através do receptor CXCR3 ativado pelo seu envolvimento no MyD88 com um subsequente aumento da permeabilidade intestinal. A ativação da via da zonulina pode representar um mecanismo defensivo que libera microorganismos, contribuindo para a resposta imunológica inata do hospedeiro contra alterações no ecossistema microbiano (colonização bacteriana intestino delgado ou alterações na sua composição ou ambas). Estes achados estão de acordo com a crescente evidência sobre o papel das mudanças na composição e função do microbioma, causando alterações funcionais na permeabilidade intestinal, com subsequente aumento Tráfico de pessoas e quebra de tolerância, levando a doença inflamatória crônica em indivíduos geneticamente suscetíveis. As doenças que a zonulina tem sido implicada são: envelhecimento, doença celíaca, síndrome do intestino irritável, obesidade, diabetes mellitus, entre outras. Independentemente dessas CIDs, as etapas que levam a quebrar tolerância e logo depois o desenvolvimento da CID, parecem serem semelhantes [19]. Vários componentes do meio inflamatório estão envolvidos no aumento da permeabilidade. O fator de necrose tumoral alfa (TNFα) é a citocina mais associada à junção epitelial (TJ), à desregulação e ao comprometimento da barreira intestinal, no entanto, as interleucinas-13 (IL-13), os interferon gama (IFN-γ), as IL-6 ou IL-1beta (IL- 1β) também foram envolvidos [20]. O butirato e os ácidos graxos de cadeia curta aumentam a transcrição da claudina 1 e a competência de barreira, e abaixam a claudina 2 formadora de poros. Os polifenóis da dieta têm sido usado na tentativa de reduzir a permeabilidade intestinal e melhorar a função TJ, interferindo nas vias de transdução, porém tem ocorrido efeitos adversos, como atividades pró-oxidantes, perturbações de transportadores e modulação de algumas enzimas. A Catequina (CAT) é um dos principais monômeros de flavan-3-ol (polifenol) na dieta, enquanto a procianidina dímero B2 (PB2) é uma proantocianidina dimérica generalizada; esses dois estão presentes em alimentos, como cacau, maçã, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 17 | vinho tinto, chá, entre outros e promovem respostas anti-oxidantes, impedindo produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e morte celular apoptótica. Entretanto, os efeitos por trás do papel protetor dos flavan-3-ols no início da doença intestinal inflamatória podem estar relacionadosa diferentes vias. Apesar de suas limitações, os modelos celulares in vitro ainda são úteis para prever os efeitos mediados pelos compostos naturais na permeabilidade da barreira epitelial [20]. Várias substâncias exógenas coloniza o lúmen intestinal, como microorganismos, toxinas e antígenos. Sem a barreira intestinal funcionando adequadamente, essas substâncias podem penetrar nos tecidos abaixo do revestimento epitelial intestinal, difundir no sangue e circulações linfáticas e perturbar a homeostasia tecidual. Entretanto, existe um sistema de barreira com propriedades físicas, bioquímicas e imunológicas que impedem a entrada da maioria dos patógenos [14]. No intestino, a comunicação entre bactérias e o hospedeiro é amplamente dependente do reconhecimento de padrões moleculares associadas a micróbios por padrões receptores expressos em células imunes e não imunes. Quando há um intestino com vazamento, bactérias comensais no lúmen intestinal são capazes de escapar deste, com isso poderá induzir a inflamação e causar danos sistêmicos ao tecido se translocado para circulação periférica [14]. A fosfatase alcalina intestinal é ativamente ancorada na membrana do epitélio ou secretada no lúmen intestinal, a atividade dela pode aumentar bactérias supressoras de lipopolissacarídeos (Bifidobacterium) e reduzir as produtoras de lipopolissacarídeos (Escherichia coli). A ativação do receptor 4 do toll-like (TLR4), que é uma proteína transmembranar que pertence à família de receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) e que é mais conhecido por reconhecer o lipopolissacarídeo (LPS), inibi a proliferação e promove a apoptose de células- tronco intestinais. Metabólitos bacterianos (butirato) também foram identificados como inibidores da proliferação de células-tronco do intestino, porém a arquitetura de cripta intestinal protege as células-tronco intestinais desse efeito negativo dele [14]. Conclusão: Portanto, a microbiota é fundamental para a sobrevivência. Grandes mudanças na proporção entre os filos Bacteroidetes, Firmicutes, Actinobacteria e Proteobacteria levam a disbiose [9]. Na disbiose ocorrerá aumento da quantidade de bactérias maléficas e diminuição das benéficas, diminuição da diversidade das bactérias e crescimento em locais onde normalmente não são encontradas essas bactérias. https://en.wikipedia.org/wiki/Pattern_recognition_receptor https://en.wikipedia.org/wiki/Lipopolysaccharide Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 18 | REFERÊNCIAS: 1. HOOKS, K. B.; MALLEY, M. A. O. Dysbiosis and Its Discontents. American Society for Microbiology, Volume 8 Issue 5 e01492-17, 10 out. 2017. https://doi.org/10.1128/mBio.01492-17 2. NEUHANNIG, C.; RÉGIS, C. P.; SOIKA, J. H.; SILVA, L. A. S.; QUINTANILHA, V. A. B.; BUSSOLOTTO, L. T.; VICENTINI, M. S.; BELLO, S. R. B. Disbiose Intestinal: Correlação com doenças crônicas da atualidade e intervenção nutricional. Res., Soc. Dev. 2019; 8(6):e25861054, 29 março 2019. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v8i6.1054 3. PANTOJA, C. L.; COSTA, A. C. C.; COSTA, P. L. DE S.; ANDRADE, M. DE A. H.; SILVA, V. 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Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP. Vinicius Morais de Sousa1 Adriana Alves de Meneses Delevedove2 Composição da microbiota intestinal A formação da colonização do trato gastrointestinal inicia durante o nascimento e continua a se desenvolver até 3 anos de idade, modificando os microrganismos prevalentes. Nessa parte do organismo aloja uma variedade de gênero/espécies bacterianas, sendo compostos em sua maioria por Bacteroidetes e Firmicutes que podem variar em composição de acordo com a idade, comprimento do trato gastrointestinal e sexo. A divisão da microbiota do intestino varia de acordo à sua localização no trato gastrointestinal. No estômago e duodeno, devido à presença de suco gástrico e pancreático e das enzimas; a densidade bacteriana é abundantemente baixa. Essa densidade aumenta gradativamente no intestino delgado distal até chegar a atingir o cólon, onde a sua maior concentração. Um desequilíbrio da microbiota pode interferir na motilidade e na permeabilidade intestinal, na função visceral e na resposta imune [3]. Determinadas alterações que ocorrem tanto no sistema imune quanto no sistema metabólico do hospedeiro, podem levar a distúrbios gastrointestinais, como em distúrbios intestinais (doença celíaca), distúrbios metabólicos (obesidade, diabetes), doenças mentais (distúrbios alimentares, transtorno do espectro autista) e distúrbios do sistema neural central [1,2,3]. Microbiota intestinal é um ecossistema simbiótico com o qual os seres humanos estão sempre interagindo. A microbiota entérica é composta por microrganismos, constituindo um ecossistema rico, com cerca de 500 espécies bacterianas. Cada pessoa apresenta 160 espécies bacterianas distintas. 90% das bactérias fecais no adulto pertencem às Firmicutes (Gram positivas - 65%) e Bacteroidetes (Gram negativas - 25%). Sendo CAPÍTULO 2 Microbiota intestinal: composição e características Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 21 | que os anaeróbios (principalmente Bacteroides e Bifidobacterium) dominam em relação aos aeróbios [4]. Existe o microbioma que é um genoma coletivo dos microrganismos que habitam no intestino e em outros nichos ecológicos, no qual contém 600.000 genes em cada indivíduo. E o metagenoma que é um genoma humano e microbiano [4]. É concedido ao microbioma, a habilidade para formar uma barreira no intestino pelas bactérias patogênicas, a diminuição do pH relacionada à fabricação de ácidos e o estímulo à produção de substâncias (imunoglubulina A e mucina) que inibem a adesão de agentes patogênicos [4]. O sistema nervoso central modifica o microambiente intestinal, regulando a motilidade do intestino de secreção. Tanto fatores extrínsecos, como intrínsecos regulam a composição da microbiota intestinal. No entanto, as bactérias reagem a essas mudanças produzindo neurotransmissores ou neuromoduladores (colina derivada de bactérias, triptofano, gorduras de cadeia curta, ácidos graxos essenciais e grelina ou leptina) no intestino [1]. Padrões gerais de enterotipos que compõem a microbiota intestinal ajudam a distinguir as populações microbianas. A variedade de microbiomas é influenciada por microrganismos geneticamente relacionados, idade semelhante e dietas comuns [3]. A relação entre as células procariotas e eucariotas desempenha um papel importante desde o nascimento. Na fase inicial o número e a variedade da colônia bacteriana são reduzidos, aumentando gradualmente sua complexidade, que com 2 anos de idade consegue a maioria das propriedades da microbiota do adulto. Os fatores, como, o tipo de parto ou de leite, o ambiente ou a genética, podem influenciar na colonização do hospedeiro, na sua fase mais precoce. A alimentação tem a capacidade de causar alterações na composição do microbioma [4]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 22 | Os Firmicutes, os Bacteroidetes e as Proteobacteria, são as principais bactérias intestinais. Esses filos bacterianos auxiliam na absorção e na degradação dos nutrientes. Os Firmicutes incluem os Clostridium spp., Eubacterium spp., Faecalibacterium spp., Roseburia spp. e Ruminococcus spp. Os Bacteroidetes incluem bactérias pertencentes ao gênero Bacteroides spp. e Prevotella spp. O principal gênero pertencendo ao filo Actinobacteria no intestino humano é Bifidobacterium spp [3]. Acredita-se que os fungos compreendem aproximadamente 0,03% do microbioma intestinal. Nota-se alta diversidade fúngica entre os seres humanos. O gênero Candida spp. é o mais comum e o mais frequente, seguido de Saccharomyces spp. e Cladosporium spp. Alguns fungos podem estar presentes em altas taxas no intestino humano, a existência destes é devido a fontes Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 23 | ambientais tais como a água, local onde eles podem ser facilmente encontrados. Gêneros como Penicillium spp. e Aspergillus spp., não residem em intestino humano. As principais espécies de fungos encontrados em organismos humanos são fungos transitórios ou ambientais e não podem colonizar o intestino. Os fungos são instáveis e apenas 20% destes, isolados em primeira coleta, são identificados novamente após quatro meses. Alguns fungos estão correlacionados a processos inflamatórios (Malassezia sympodialis que é conhecido por secretar alérgenos potentes que podem aumentar a inflamação local na parte lesada do intestino de pacientes com doença inflamatória intestinal). M. sympodialis pode acionar os mastócitos para liberar leucotrienos cisteínicos e elevar a resposta da IgE dos mastócitos, o que pode levar à inflamação [3]. Foram identificadas 13 espécies de poliomavírus, onde uns causam doenças e outros não. As colônias virais são formadas por 90% de bacteriófagos, ao passo que os vírus eucarióticos representam aproximadamente 10%. Os recém-nascidos salietam a maior variedade de fagos, essa multiplicidade diminui com o avançar da idade. A função dos vírus no trato gastrointestinal humano é ampliar a aptidão bacteriana como fontes de informação (exemplo: fonte de genes de resistência a antibióticos), para melhorar a imunidade das bactérias ou do hospedeiro humano e proteger contra patógenos [3]. O gênero da Archaea que tem sido encontrado no trato gastrointestinalé a Methanobrevibacter spp. Outros gêneros que também têm no intestino, são Methanosphaera spp., Nitrososphaera spp., Thermogynomonas spp., e Thermoplasma spp. Distinções nas amostras de microbioma de Archaea podem ser devidas ao método utilizado e/ou relações complexas com outra microbiota. As espécies, Methanobrevibacter e Nitrososphaera, revelaram previamente ser mutuamente exclusiva e potencialmente associada à ingestão de carboidratos [3]. Ainda que, fungos, arqueas e vírus são considerados raros na composição da microbiota, eles apresentam um impacto significativo na saúde do hospedeiro [3]. A colonização do trato gastrointestinal infantil completa é muito importante para a saúde do recém-nascido e posteriormente para o adulto, pois a sua instalação e manutenção pode reduzir a disseminação de bactérias resistentes. As principais bactérias que compõe a microbiota da criança são benéficas e/ou probióticas (Bifidobactérias e Lactobacilos) e as nocivas (Enterobacteriaceae e Clostridium spp). Probióticos são microrganismos vivos que oferecem vantagens para a saúde do hospedeiro (ex: normalização da microbiota, diminuição da permeabilidade intestinal, proteção contra invasores patogênicos, auxílio nos reestabelecimentos pós antibicoterápicos e estimulação do sistema imunológico) [9]. As fezes de bebês que são amamentados com o Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 24 | leite materno, possuem 99% de bifidobactérias na sua microbiota, já os que se alimentam de leite de fórmula possuem uma MICROBIOTA mais heterogênea. Na composição das espécies de bifidobactérias que colonizam o intestino das crianças existe um predomínio de Bifidobacterium longum e Bifidobacterium bifidum [4]. Em adultos pode ser comum o encontro de Bifidobacterium spp., Bacteroides spp., Clostridium spp. e Eubacterium. Em menor presença pode ser encontrados os gêneros Lactobacillus spp., Escherichia spp., Enterobacter spp., Streptococcus spp. e Klebsiella spp [3]. Os idosos possuem uma diminuição da variedade e uma instabilidade da microbiota intestinal, levando ao favorecimento dos patobiontes (Helicobacter hepaticus, Helicobacter pylori, Clostridium difficile, Prevotela spp. e Klebsiella spp, Streptococcus, Staphylococcus e Enterococcus e algumas espécies da família Enterobacteriaceae), que são espécies de bactérias que favorecem estados patológicos, no qual não são capazes de gerar doença na presença de uma microbiota normal de um indivíduo saudável [4]. BACTÉRIAS FUNÇÕES BIOLÓGICAS Clostridium sporogenes, E. coli Proteger contra lesões induzidas pelo estresse a nível GI, modulação da expressão de gene pro-inflamatórios, aumentar a expressão de genes anti- inflamatórios. Associação das patologias GI, do eixo cérebro- intestino de algumas condições neurológicas Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterobacter, Bacteroides, Clostridium Absorção das gorduras alimentares e vitaminas lipossolúveis, manter a função de barreira intestinal, auxiliar em funções endócrinas que visam a regulação homeostática dos triglicerídeos, do colesterol, da glicose e da energia Bifidobacterium, Ativar o eixo neuronal intestino- cérebro-fígado para regular a Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 25 | Roseburia, Lactobacillus, Citrobacter, Clostridium homeostase da glicose, influenciar a permeabilidade da parede intestinal Bifidobacterium Fornecer fontes endógenas complementares de vitaminas, fortalecer a função imune e exercer efeitos epigenéticos na proliferação celular Eubacterium, Roseburia, Faecalibacterium e Coprococus Diminuição do pH, inibição do crescimento de agentes patogênicos; estimulação da absorção de água e sódio; participação na síntese de colesterol; fornecimento de energia às células epiteliais A colonização do trato gastrintestinal possui uma comunidade bacteriana estável. As espécies bacterianas são encontradas em concentrações e regiões específicas [5]. A pele é composta por bactérias das espécies de Actinobacteria, Firmicutes, Proteobacteria e bacteroidetes; pelos gêneros Staphylococcus, Propionibacterium (associado a locais sebáceos) e Corynebacterium basicamente; e pelo Filo de Thaumarchaeota da arquéia, possivelmente envolvido na oxidação de amônia [6]. Na cavidade oral encontra-se principalmente bactérias anaeróbicas na concentração de 106 - 109 UFC/ml, sendo as espécies: Bifidobactéria, Propionibactéria, Bacterióides, Fusobactéria, Leptotrichia, Peptostreptococci, Estreptocci, Veillonella e Treponema [5]. Há pouca ação das bactérias no estômago por causa do ácido clorídrico que atua como um agente germicida na concentração de 0-103 UFC/ml, sendo as espécies: a Helicobacter pylori (indivíduos com úlcera péptica ou neoplasia de estômago), Lactobacillos e Streptococos. A resistência bacteriana pode ser diminuída por uma baixa secreção de HCL, o que leva em alguns casos à inflamação da mucosa gástrica ou até mesmo um risco aumentado de supermultiplicação no intestino delgado, na qual, é moderadamente estéril [5]. O H. pylori Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 26 | é uma bactéria Gram negativa de forma espiralada, sendo a principal causa de gastrite crônica ativa; acomete mais da metade da humanidade, sendo considerada importante problema de saúde pública [11,13]. Esse agente desempenha importante papel na gênese da úlcera péptica. Admite-se que a infecção pelo H. pylori seja adquirida principalmente na infância [11]. O gênero Helicobacter é composto atualmente de, no mínimo, 27 espécies que compartilham propriedades comuns, especialmente aquelas relacionadas com a vida no estômago, onde podem localizar-se no fundo e no corpo, mas é principalmente no antro onde as bactérias são encontradas em maior densidade [12]. A microbiota do íleo proximal consiste em 103 -104 UFC/ ml com predominância de bactérias gram positivas aeróbicas e a do íleo distal consiste em 1011-1012UFC/ml do íleo distal, com principalmente bactérias gram- negativas aneróbicas (Escherichia coli), pois a bactéria no intestino delgado é impulsionada pela rápida absorção e utilização de carboidratos simples, que poderia tornar essa população particularmente sensível à composição dos alimentos ingeridos. Em particular, o gênero Streptococcus expressou genes para essas funções em altas correspondentes à alta abundância relativa da população . No entanto, a comunidade não é necessariamente consistente ao longo de todo o intestino delgado, e há evidência de que a composição bacteriana se torna mais semelhante à do cólon em o íleo terminal [6]. Logo, o espaço de trânsito por meio do intestino delgado não concede um maior desenvolvimento bacteriano. Todavia, no cólon o tempo de trânsito é mais alargado, tendo uma microbiota mais diversificada [5]. O gênero archaeal Metanobrevibacter, que se alimenta de metabólitos de outros micróbios intestinais e produz metano, geralmente é encontrado no cólon e é altamente ativo; junto com outros desse mesmo gênero, no entanto, menos dominante, esses organismos removem o hidrogênio do ambiente local e, tornando assim, a fermentação do polissacarídio mais termodinamicamente favorável. No cólon, há uma barreira contínua de muco intestinal que cobre o epitélio, organizado em uma camada interna que bloqueia a maioria das bactérias e uma camada externa que abriga bactérias de espécies como: mucolíticas (como Akkermansia muciniphila), mucolizáveis (como Bacteroides), Bifidobacterium, e não- mucolíticas que podem se alimentar a jusante metabólitos desse processo. Entretanto, no intestino delgado, existeapenas uma camada de muco intestinal e é mais irregular do que a do cólon [6]. No intestino grosso, há a microbiota dominante com 109 -1011 UFC/ml, constituída apenas por bactérias anaeróbias estritas (Bacteroides, Eubacterium, Fusobacterium, PeptoStreptococcus, Bifidobacterium); a microbiota subdominante com concentração de 107 -108 UFC/ml, possui principalmente bactéria anaeróbia Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 27 | facultativa (Escherichia coli, Enterococcus faecalis e algumas vezes Lactobacillos); e a microbiota residual (< 107 UFC/ml de conteúdo), que possui uma grande diversidade de microrganismos procarióticos (Enterobacteriaceae, Pseudomonas, Veillonella) e alguns eucarióticos (leveduras e protozoários) [5]. PRINCIPAIS BACTÉRIAS ANAERÓBICAS DO TGI DE IMPORTÂNCIA CLÍNICA MÉDICA A comunidade bacteriana vaginal na maioria dos indivíduos é dominada pelo gênero Lactobacillus, possuindo uma baixa diversidade, mas com espécies e linhagens presentes diversas e variáveis que têm efeitos importantes na saúde feminina [6,7]. Os lactobacilos beneficiem o hospedeiro reduzinho o pH vaginal por meio de produtos finais de fermentação, fazendo com que a vagina esteja protegida de infecções genitais [8]. Entretanto, trabalhos recentes também revelaram que um subconjunto de indivíduos possui uma microbiota vaginal mais heterogênea, incluindo Gardnerella, Atopobium, Megasphaera, Streptococcus e Prevotella [6]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 28 | Características da microbiota intestinal: PH NO TGI BACTÉRIAS CARACTERÍSTICAS Lactobacilos spp. Não esporulados Aerotolerantes pH 5-6,2 Habitat: cavidade oral, trato intestinal e geniturinário feminino Raramente provocam doenças (ex: infecções genitais femininas) Bifidobacterium spp. Bacilos gram-positivos não formadores de esporos Anaeróbios estritos Mais prevalente em crianças < 5 anos e leite materno ESTÔMAGO pH 1,5-5 DUODENO pH 5-7 JEJUNO pH 7-9 ÍLEO pH 7-8 CÓLON pH 5-7 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 29 | Produtor de ácido lático e ácido acético Diminui pH intestinal Clostridium spp. Esporulados Anaeróbios estritos e aerotolerantes Habitat: trato intestinal Bacteroides spp. Habitat: cólon Patologias associadas: infecções microbianas e extraintestinais Fusobacterium Bacilo gram-negativo Patologias associadas: infecções bucais e câncer cólon Prevotella spp. Microbiota residente oral e intestinal Patologias associadas: infecções bucais Conclusão: Portanto, no trato gastrointestinal (TGI) é alojado uma variedade de gênero/espécies bacterianas, sendo compostos em sua maioria por Bacteroidetes e Firmicutes. A formação desse trato se inicia durante o nascimento e continua até os 3 anos de idade. A composição e as características da microbiota variam de acordo com a sua localização no TGI. Um desequilíbrio dessa microbiota pode interferir na motilidade, na permeabilidade intestinal, na função visceral e na resposta imune. REFERÊNCIAS 1. ZHU, S.; JIANG, Y.; XU, K.; CUI, M.; YE, W.; ZHAO, G.; JIN, L.; CHEN, X. The progress of gut microbiome research related to brain disorders. Journal of Neuroinflammation, 17 de janeiro de 2020. https://doi.org/10.1186/s12974-020-1705-z https://doi.org/10.1186/s12974-020-1705-z Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 30 | 2. DALILE, B.; OUDENHOVE, L V.; VERVLIET, B.; VERBEKE, K. The role of short-chain fatty acids in microbiota– gut–brain communication. Nature Reviews | Gastroenterology & Hepatology, 23 de maio 2019. https://doi.org/10.1038/s41575-019-0157-3 3. SANTOS, M. O.; SILVA, L. M.; SOUSA, G. R.; CARNEIRO, L. C. 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Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser Aparecida de Goiânia – GO. 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP. Marconi Augusto Toraci Marçal1Brunna Camargo dos Santos1 Adriana Alves de Meneses Delevedove2 O trato gastrointestinal (TGI) é formado por vários órgãos, os quais se diferem, em suma, por sua localização e características constitucionais como pH, temperatura, presença de alguns solutos e enzimas, por exemplo. A partir dessas características, sabe- se que, teremos para cada região uma composição heterogênea de sua microbiota. Então, intuitivamente, é possível perceber que a microbiota de todo TGI é variada, sendo composta por diferentes tipos de microrganismos, como fungos, vírus e bactérias, como vimos anteriormente, e todos com uma gama extensa de gêneros. Sabendo que cada microrganismo tem preferência por uma localidade, seja devido alteração de pH ou por maior ou menor relação com o peristaltismo, cada local possui uma microbiota específica (1). Essa microbiota é diferente para cada indivíduo, sendo diretamente determinada por sua dieta, estrutura anatômica do organismo hospedeiro, imunidade, genética do hospedeiro, envelhecimento, condições de higiene e uso de medicamentos, entre outros. Então, mudanças que ocorram em quaisquer desses fatores podem interferir na relação entre esses microrganismos e o organismo que os possui (2). Funções A microbiota do TGI, assim como de outras partes do organismo, possui uma relação simbiótica com o seu hospedeiro, ou seja, ambos se beneficiam dessa associação. Esses microrganismos são numerosos e desempenham diversos papeis no organismo humano como proteção contra agentes CAPÍTULO 3 Microbiota intestinal: ações e funções para o organismo Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 32 | infecciosos através da competição por sítios de adesão e por nutrientes, imunomodulação, influenciam e auxiliam na digestão e metabolismo de alimentos (Figura 1), sendo importantíssimos para a manutenção da saúde do indivíduo. Essa interação ocorre de maneira específica, por meio de sítios de ligação determinados geneticamente (3). Além disso, ressaltaremos a importância do intestino, ou melhor dizendo, a microbiota intestinal com diversos órgãos do corpo, sejam eles próximos ou não. Corroborando com a máxima que “o que acontece nos intestinos não fica nos intestinos”, visto que quando estudadas as patologias, em sua maioria não ocorrem de forma individualizada, tendo repercussões por todo o organismo, principalmente, nesse caso, quando falamos em disbiose intestinal que pode ter repercussões neurais, dermatológicas, ginecológicas, gástricas etc. Nos mostrando a importância de se reconhecer a importância de olhar para o organismo de uma forma integral. Figura 1 - Funções da microbiota intestinal Influência no metabolismo Os microrganismos residentes do TGI auxiliam na digestão, melhorando o desempenho intestinal. O ser humano absorve açúcares simples (galactose, glicose), dissacarídeos (sacarose, galactose e maltose), porém tem limitações diárias quanto à hidrolisação de polissacarídeos. Esses polissacarídeos não hidrolisados pelo organismo do hospedeiro são prontamente degradados pela microbiota intestinal (4). Essa digestão dos polissacarídeos promove formação e liberação de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) como acetato, propinato e butirato, principalmente (Figura 2), e é a principal forma de obtenção desses produtos no TGI. Porém, algumas condições podem contribuir para que o metabolismo realizado pelo próprio organismo contribua mais significativamente para a formação de AGCC como ingesta alcoólica, intolerância à glicose, jejum prolongado, entre outros (5). Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 33 | Figura 2 - Principais ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) formados. Os AGCC têm diferentes funções, eles servem de substrato tanto para a gliconeogênese, quanto para a síntese de lipídeos (lipidogênese) no fígado, também são precursores na formação de colesterol, atuam no crescimento, desenvolvimento e diferenciação celular, são apontados como moduladores em processos inflamatórios e resposta imune a bactérias anaeróbicas, além de servir como fonte de energia para as células colônicas e intestinais, entre outros (5). O butirato é a principal fonte energética para os colonócitos, e substrato para a cetogênese. O acetato tem pouca absorção no cólon, logo que produzido é quase que instantaneamente absorvido e captado pelo fígado, onde é utilizado na gliconeogênese, cetogênese, lipogênese, produção de glutamina, glutamato e colesterol. Já o butirato, que também serve de substrato no fígado, é associado a gliconeogênese, síntese de colesterol, e formação de piruvato (5). Além da formação de AGCC, no processo de digestão de materiais que não foram digeridos previamente pelo organismo, outros nutrientes são formados como a vitamina K, vitamina B12, tiamina e riboflavina, que ficam disponíveis para a absorção. Eles também hidrolisam andrógenos, estrógenos, sais biliares e ésteres de colesterol. O que reforça a importância desses microrganismos residentes no TGI de um hospedeiro saudável (6). Imunomodulação A associação hospedeiro-microbiota fornece estimulação de forma contínua ao sistema imunológico humano, favorecendo o desenvolvimento dele. Os microrganismos provocam expansão de linfócitos intraepiteliais, aumento de centros de maturação de células produtoras de anticorpos (imunoglobulinas) nas Placas de Peyer (tecido organizado que forma centro germinativo de linfócitos B e de proveniência A G C C Acetato Propinato Butirato Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 34 | de células precursoras, reguladoras e produtoras de IgA ao longo do intestino), e consequentemente aumentam o número desses compostos circulantes no sangue. Essa relação aconteceu para aperfeiçoar o sistema imune de forma a evitar hipersensibilidade à antígenos alimentares, tolerar microrganismos que vivem em simbiose e destruir organismos patogênicos detectados (7). Para manter a relação harmônica entre o binômio hospedeiro-microbiota, o contato direto da mucosa com esses microrganismos é minimizado, evitando a inflamação de mucosa e translocação bacteriana, para isso, temos uma barreira física formada pela camada tecidual simples, camada de muco e secreção de IgA presente na lâmina própria da mucosa e moléculas antimicrobianas (Figura 3) (8). As proteínas antimicrobianas exercem um papel fundamental na imunidade inata do organismo, elas podem tanto agredir a parede celular bacteriana através de enzimas como por ruptura da membrana interna das bactérias. As α-defensinas são expressas pelo tecido epitelial, ou são fabricadas a partir de produtos derivados da microbiota comensal, relacionada com receptores de reconhecimento de padrões (RRPs). A REG3γ é uma lectina controlada de acordo com a microbiota, está expressa no organismo humano desde seu nascimento e possui efeito microbicida sobre bactérias gram-positivas (8). A resposta inata está relacionada tanto pela detecção direta de microrganismos ou de derivados de seus produtos, que emitem sinais através de receptores tipo Toll, tipo Nod, e ácidos graxos de cadeia curta. Ainda não se sabe o mecanismo de penetração sistêmica dos metabólitos microbianos. Esses metabólitos através dos receptores citados anteriormente impulsionam a produção e a emigração de monócitos da medula óssea, caracterizando, dessa forma, um estímulo à hematopoese do hospedeiro (8). Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 35 | Figura 3 - Composição do sistema imune inato do TGI humano Caso, de alguma forma, os microrganismos comensais entrarem em contato com a mucosa intestinal (bacteremiatransitória, por exemplo), eles irão desenvolver o sistema imune adaptativo local e sistêmico do organismo hospedeiro. Quando a barreira física é atravessada, as bactérias são fagocitadas por células dendríticas (o tipo celular do sistema imune com maior interação inicial com microrganismos invasores). Essas células repletas internamente com bactérias (sobrevivendo por dias) podem interagir com células T e B nas Placas de Peyer, ou também podem migrar para linfonodos intestinais (7). Linfócitos previamente produzidos em locais especializados movem-se para as Placas de Peyer através do sangue e ao se depararem com antígenos (Ag) estranhos ativam-se. Assim, linfócitos B são diferenciados em plasmócitos e produzem, a partir desse momento, IgA contra esse antígeno. Linfócitos T ativados e plasmócitos deixam a Placa de Peyer, transportados através da linfa e são coletados pelo ducto torácico, posteriormente retornam à circulação sanguínea e atingem a lâmina própria intestinal, banhando também outras mucosas, como do trato geniturinário e trato respiratório, sendo ambos imunizados contra esse Ag (Figura 4) (7). Si st em a im u n e in at o Camada epitelial Camada mucosa IgA em lâmina basal Moléculas antimicrobianas Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 36 | Figura 4 Mecanismo de ativação do sistema imune adaptativo no hospedeiro Os mecanismos de defesa compostos pelo sistema imune inato (barreira física inespecífica) e o sistema imune específico (resposta gerada de maneira exclusiva para determinado agente) trabalham simultaneamente e de forma complementar para a proteção do organismo, na preservação de sua mucosa intestinal (7). Proteção contra infecções Há uma sequência específica para o estabelecimento da colonização pelos microrganismos desde o nascimento, e esse processo tem duração de cerca de seis meses a um ano (apesar de ser discutível já que alguns autores afirmam que há colonização intraútero por passagem através da placenta e outros afirmarem que esse processo ocorre entre 2 a 4 anos), quando a microbiota será, então, semelhante à de um adulto. Inicialmente, o organismo é exposto aos microrganismos da mãe logo no parto, isso pode ser influenciado pelo tipo de parto (que é uma fonte natural de seus micróbios iniciais), em cesarianas, por exemplo, a transferência dos microrganismos da mãe para o recém- nascido não acontece. Posteriormente, o organismo adquire outros microrganismos a partir do meio ambiente. Outras situações que também podem estar relacionadas são isolamento em incubadora, amamentação exclusiva ou por fórmula, entre outras (Figura 5) (6). A linhagem e a genética do hospedeiro são importantes na composição da sua microbiota, mas fatores externos como o uso de antimicrobianos, alimentação, estilo de vida, contato com o meio ambiente também possuem participação (Figura 5) (9). Ativação do sistema imune adaptativo Células dendríticas carregadas Ativação de linfócitos T e B Produção de IgA Destruição das bactérias Bactéria em contato com a mucosa Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 37 | Figura 5 - Mecanismos envolvidos na formação da microbiota humana A função protetora da microbiota está associada ao impedimento da adesão de microrganismos patogênicos, tem-se a formação de uma barreira mecânica. Isso ocorre pela adesão da microbiota a sítios de ligação que são determinados geneticamente. A resistência à colonização envolve não somente a competição aos sítios de ligação, mas também, como citado anteriormente, a defesa própria da mucosa intestinal, fatores anatômicos, fatores fisiológicos (integridade da mucosa, por exemplo), salivação, descamação da mucosa, motilidade gastrointestinal, há também a competição por nutrientes, o que é importante para a regulação da microbiota patogênica (3). Sendo assim, mais uma vez, se mostra importante ressaltar a importância de uma boa nutrição aliada a um estilo de vida saudável, sabedoria em relação ao uso de medicamentos a fim de que o organismo se mantenha em homeostase, a relação hospedeiro-microbiota seja simbiótica, evitando-se patologias. Associações com outros órgãos Recentemente, têm-se voltado os estudos para a composição da microbiota humana, visto que, a sua interação com o organismo sugere uma influência significativa no processo saúde e doença de seu respectivo hospedeiro. - Doenças cardiovasculares Há uma recente preocupação sobre o grau de importância sobre a relação da microbiota intestinal com doença cardiovascular (DCV), devido a DCV ser a principal responsável por mortes em países desenvolvidos (10). Formação da microbiota Genética Linhagem Fatores externos Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 38 | A microbiota intestinal age de forma direta sobre o organismo, como anteriormente citado em suas ações e funções, mas também pode interagir de forma indireta, com a formação de moléculas, que podem provocar efeitos no hospedeiro por meio de diversos processos. Existem as vias da trimetilamina (TMA)/ N-óxido de trimetilamina (TMAO), via dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e de ácidos biliares primários e secundários (ABs), que podem afetar processos realizados pelo hospedeiro (10). A nossa dieta fornece precursores como colina, betaína, carnitina, γ-butirobetaína, crotonobetaína, glicerofosfocolina, fosfatidilcolina, entre outros. Alguns microrganismos que compõem a microbiota parecem expressar enzimas como colina- trimetil-liase (cut C/D), carnitina monooxigenase (cnt A/B), betaína redutase, por exemplo, que estão associadas à formação de trimetilamina a partir desses substratos. No hospedeiro, existem flavinas monooxigenases (FMOs) que podem catalisar a oxidação da TMA em TMAO, essas enzimas são produzidas no fígado. Existem três tipos dessas enzimas, a FMO1, FMO2 e FMO3 que é a mais predominante (11). Existem estudos que mostram a associação de níveis elevados de TMAO com eventos cardiovasculares, principalmente à aterosclerose. A TMAO está vinculada à uma placa aterosclerótica mais instável, além do efeito pró-trombótico devido a sinalização de cálcio plaquetário, aumentando assim o risco de quadros de infarto (10). Outras substâncias que podemos citar são as toxinas urêmicas, que são metabólitos de aminoácidos, que tanto a microbiota quanto o fígado do ser humano sintetizam. Essas toxinas podem estar concentradas no organismo devido à doença renal crônica (DRC). Na circulação sanguínea, elas se associam às proteínas, que geralmente estão aumentadas nesses pacientes. O aumento dessas proteínas (ligadas às toxinas urêmicas) como a indoxil sulfato e p-cresil sulfatos e tantas outras estão intimamente relacionadas ao agravamento da fibrose cardíaca, hipertrofia de cardiomiócitos, fibrilação atrial, aumentam a resposta do colágeno à trombina com tendência à trombose, aumentam a expressão de moléculas de adesão intercelular (ICAMs) em células endoteliais que acarretam formação de placa aterosclerótica, entre outras. E assim, consegue-se o entendimento das complicações da DRC, que estão correlacionadas com o aumento dessas toxinas (11). - Eixo intestinos-pele Esses órgãos possuem em comum uma série de características, tais como a sua rica vascularização, perfusão e colonização massiva, além de ambos serem barreiras que entram em contato com o meio externo e serem integrados ao sistema imune e endocrinológico. O funcionamento deles é Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 39 | primordial no processo saúde e doença do organismo (12). Apesar da fisiopatologia não ser muito bem compreendida,essa correlação é perceptível quando reconhecemos que alterações digestivas geram manifestações cutâneas e vice-versa. Como exemplo disso podemos citar pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) que pode se apresentar-se com úlceras na pele e psoríase ou pacientes com doença celíaca podem se apresentar com dermatite, por exemplo (12). Estudos apoiam que essa correlação ocorra pela regulação do ambiente imunológico pela microbiota tanto da pele quanto do intestino. O intestino quando em equilíbrio produz metabólitos (neurotransmissores e hormônios) que podem entrar na circulação sanguínea e repercutir diretamente na pele. Componentes da dieta também podem influenciar de forma direta ou através da metabolização pelos microrganismos intestinais e influenciar o nosso tecido mais externo. Da mesma forma, a pele produz algumas substâncias, vitamina D, por exemplo, que tem repercussão direta e uma grande função intestinal. Já em disbiose, além da hiperproliferação de bactérias, podem ter toxinas produzidas no intestino e ambas conseguirem atravessar barreira intestinal podendo criar ambiente pró-inflamatório culminando em repercussões em todo o organismo, inclusive na pele (12) - Eixo intestinos-músculo A composição da microbiota do ser humano está em constante mudança durante toda sua vida, sejam mudanças bem aceleradas (do nascimento até aproximadamente três anos, segundo alguns autores), ou quando há alguma certa estabilidade (vida adulta, principalmente). Porém mudanças aberrantes da microbiota podem ocorrer após 65 anos de idade, aproximadamente, por causas ainda indefinidas, mas que enfatizam ainda mais a relevância do estudo sobre a relação desses microrganismos residentes e sua variação com a presença ou ausência de algumas doenças, que quando avaliada a idade, estão mais presentes em pessoas idosas. (13) Tão importante quanto saber sobre a atividade secretora do músculo esquelético que possibilita sua comunicação com outros órgãos, é saber que outros órgãos também se comunicam com o músculo e o influencia de alguma forma. (Nihms) Como forma de tentar comprovar toda essa correlação, podemos citar com casos de Kwashiorkor (forma de desnutrição aguda grave) associada a alterações do metabolismo de aminoácidos e carboidratos e que temporariamente poderiam ter uma melhora com terapêutica nutricional que promove reconfiguração microbiana. (13) Um estudo realizado em 2004 por Backhed et al., demonstrou a regulação da função metabólica muscular (já que tem papel no descarte da glicose), visto fizeram infusão de conteúdo cecal de animais com criação Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 40 | convencional em camundongos nascidos e criados em condições estéreis e sem formação de uma microbiota, demonstrando aumento da gordura corporal desses animais e uma redução na sensibilidade à insulina e tolerância à glicose. (13) Outro ponto crucial a ser ressaltado, foi abordado em um estudo realizado por Cani et al. que demonstrou que uma alimentação rica em gorduras em camundongos acarreta aumento de peso corporal, de marcadores inflamatórios, além de diminuir a tolerância à glicose. O estudo corroborou um aumento da permeabilidade intestinal, devido ao comprometimento das junções epiteliais no intestino, culminando na facilitação da passagem de lipopolissacarídeos (componente de membrana externa de bactérias Gram-negativas) que promovem uma resposta inflamatória do organismo e consequentemente diminuem essa tolerância à glicose. (13) Por fim, de acordo com o envelhecimento há uma diminuição na função e tamanho do músculo esquelético, fato que está relacionado ao estado inflamatório exacerbado que pode ser gerado por senescência imuno endócrina, dano do DNA, distorção da microbiota intestinal, entre outros, que provocam o aumento de endotoxinas circulantes que afetam o equilíbrio proteico contribuindo para a redução da massa muscular. (13) - Eixo intestinos-pulmão Eixo pouco compreendido, porém, com potencial para tratamento de doenças pulmonares com manipulação da microbiota intestinal. (budden2016) O pulmão e o trato gastrointestinal (TGI) têm a mesma origem embrionária, sendo assim possuem algumas semelhanças em sua estrutura, então podendo ser órgãos que se comunicam tanto no organismo saudável quanto doente, porém a forma que a microbiota intestinal interfere na imunidade pulmonar não está bem esclarecida. (14) Há anos, o pulmão era considerado local estéril, porém com o advento da cultura, observou-se uma comunidade em território pulmonar, mesmo que de indivíduos saudáveis. Acredita-se que por meio da microaspiração, visto que quando comparamos, os microrganismos presentes são semelhantes ao do TGI e diferentes de órgãos vizinhos. Acredita-se que essa microbiota pulmonar possa não ser residente, mas sim uma colonização transitória que ocorre devido microaspirações e respiração. (14) De forma análoga, pulmões e intestino servem de barreira mecânica para entrada de microrganismos, além da colonização normal servir de resistência à patógenos. (14) Na prática, observamos essas correlações pois é comum doenças pulmonares crônicas (asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica) associar-se com doenças crônicas do TGI (doença inflamatória Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 41 | intestinal ou síndrome do intestino irritável. (14) Por terem a mesma origem embrionária, alguns receptores encontrados no TGI se encontram também nos pulmões, sendo assim explicada a associação, estímulos causados na parede do TGI podem entrar em contato com o tecido pulmonar e motivar a mesma resposta, e vice-versa. (14) Por fim, existem várias outras associações/relações entre intestino e órgãos distantes, inclusive que serão abordados posteriormente. E o avanço de estudos nessa área nos mostra o quanto o TGI é fundamental no processo de saúde e adoecimento do ser humano, visto isso, é importante uma abordagem cada vez maior sobre esse assunto. REFERÊNCIAS 1 Santos MO. Atualizações sobre síndrome fúngica: saúde e doença. 1 ed - Goiânia: SBCSaúde; 2019. 2 Blum VF. Microbiota intestinal, disbiose e o papel das fibras na manutenção da saúde do gastrointestinal. Editora Arte e Cuidar – São Paulo; 2015. 3 Paixão LA, Castro FFS. A colonização da microbiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro. Universitas: Ciências da Saúde, 2016. 4 Musso G, Gambino R, Cassader M. Interactions Between Gut Microbiota and Host Metabolism Predisposing to Obesity and Diabetes. Annu. Rev. Med.; 2011. 62:361–80. 5 Vinolo MAR. Efeitos dos ácidos graxos de cadeia curta sobre neutrófilos. Tese de Doutorado em Fisiologia Humana, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo; 2010. 6 Almeida LB, Marinho CB, Souza CS, Cheib VBP. Disbiose intestinal. Revista Brasileira de Nutrição Clínica; 2009; 24 (1): 58-65. 7 Pampolini F, Malheiros SVP. Microbiota normal intestinal: efeitos fisiológicos e ação imunomoduladora. Revista Multidisciplinar da Saúde; 2011. 8 Belkaid Y, Harrison OJ. Homeostatic immunity and the microbiota. Immunity; 18 de abril de 2017. 9 Young VB. The intestinal microbiota in health and disease. Curr Opin Gastroenterol, janeiro de 2018; 28(1): 63–69. 10 Tang WHW, Kitai T, Hazen SL. Gut microbiota in cardiovascular health and disease. Circ Res. 2017 March 31; 120(7): 1183–1196. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 42 | 11 Wang Z, Zhao Y. Gut microbiota derived metabolites in cardiovascular health and disease. Protein & Cell, 2018, 9(5):416–431. 12 O’neill CA, Monteleone G, McLaughlin JT, Paus R. The gut-skin axis in health and disease: A paradigmwith therapeutic implications. Bioessays, 2016 Nov; 38 (11): 1167-1176. DOI: 10.1002 / bies.201600008. 13 Grosicki GJ, Fielding RA, Lustgarten MS. Gut microbiota contribute to age-related changes in skeletal muscle size, composition, and function: biological basis for a gut-muscle axis. Calcif Tissue Int, 2018 Apr; 102(4):433-442. DOI: 10.1007/s00223-017-0345-5. 14 Budden KF, Gellatly SL, Wood DLA, Cooper MA, Morrison M, Hugenholtz P, Hansbro PM. Emerging pathogenic links between microbiota and the gut-lung axis. Nat Rev Microbiol, 2017 Jan; 15(1):55-63. DOI: 10.1038/nrmicro.2016.142. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 43 | Caroline Araujo Silva1 Carol_rox06@hotmail.com Daniela Ferreira de Araújo1 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser Aparecida de Goiânia – GO. 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP. Sayro Louis Figueredo Fontes1 Lívia Costa de Assis1 Fernanda Cristina de A. M. Claudino1 Adriana Alves de Meneses Delevedove2 A disbiose é caracterizada como qualquer alteração indesejável na composição da microbiota intestinal que resulta em um desequilíbrio entre as bactérias benéficas, como lactobacilos e/ou bifidobactérias, e patogênicas, em comparação com as encontradas em uma população saudável. Recomenda-se entender os diferentes tipos de disbiose que podem afetar cada indivíduo, possibilitando uma investigação clínica e um manejo no tratamento mais adequado e assertivo. De acordo com Ayoub, os fatores que predispõem ao desenvolvimento da disbiose são: estresse, uso frequente de antibióticos, laxantes, corticoides e antiácidos, alterações na motilidade intestinal, alimentação inadequada, toxinas alimentares, poluição, alcoolismo, imunodeficiência, infecção ou infestações intestinais e alterações do pH gástrico ou intestinal. Além disso, outros fatores também podem contribuir para o desenvolvimento da disbiose, como a idade, o tempo de trânsito e o pH intestinal, a disponibilidade de material fermentável e o estado imunológico do hospedeiro. (14) CAPÍTULO 4 Fatores que propiciam o desenvolvimento da disbiose Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 44 | AS PRINCIPAIS CAUSAS DO DESEQUILÍBRIO DA MICROBIOTA INTESTINAL SÃO: ▪ O consumo excessivo de alimentos processados ricos em carboidratos simples (farinhas e açúcares) em detrimento de alimentos crus e naturais; ▪ O uso indiscriminado de antibióticos, que matam tanto as bactérias úteis como nocivas; ▪ As doenças consumptivas, como câncer e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) ▪ O uso de anti-inflamatórios hormonais e não hormonais; abuso de laxantes; ▪ As disfunções hepatopancreáticas e capacidade digestiva ▪ A excessiva exposição a toxinas ambientais, como os antibióticos nas carnes e os agrotóxicos nas plantas; ▪ O estresse crônico e imunidade debilitada ▪ Constipação intestinal e diverticulose As células endoteliais revestem internamente os vasos sanguíneos e linfáticos, formando a monocamada endotelial. Essa última funciona como uma barreira ativa e reguladora do endotélio. (27) O endotélio vascular, como já referido anteriormente, é composto por células endoteliais que se conectam entre si por junções de células, aos quais se unem por estruturas complexas, que compreendem numerosas proteínas transmembranares que interagem com ligantes de ligação em células adjacentes e com parceiros intracelulares associados. Sendo as duas principais conexões estruturais as junções estreitas que incorporam membros da família da molécula de adesão juncional (JAM), seletiva pelas células endoteliais de molécula de adesão e junções claudinas e aderentes. Formamos então uma interface altamente dinâmica e plástica entre a corrente sanguínea e o tecido intersticial, controlando a troca de água e solutos. Também desempenham um crítico papel na regeneração, vasculogênese e angiogênese, inflamação e progressão tumoral das células endoteliais e junções de células endoteliais passam por um programa específico e diferenciado de diferenciação em órgãos e segmentos. (26) Os fatores de risco, que lesam a integridade física da mucosa intestinal, acarretando o fenômeno de intestino permeável ou leaky gut, são propostos pelo estresse, uso abusivo de laxativos, envelhecimento, ingesta rica em açúcares, consumo excessivo de álcool dieta rica em alimentos processados. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 45 | Parto cesária e Disbiose O contato de fato com o meio ambiente decorre durante o nascimento, onde de fato a colonização do recém-nascido acontece. O parto normal e a termo são condições que provavelmente garantem a constituição do que chamamos de microbiota saudável. Crianças nascidas de parto normal serão inicialmente colonizadas por bactérias do períneo da mãe, essas bactérias trazem benefícios, entre eles incluem o auxílio na digestão, defesa contra microrganismos patogênicos, além de contribuir no amadurecimento do sistema imunológico. A transmissão direta da microbiota vaginal ao recém-nascido pode desempenhar um papel defensivo, ocupando nichos e reduzindo a colonização por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina e outros agentes patogênicos. (18) No parto cesariano, serão as bactérias do hospital e da pele do abdome materno os primeiros a serem recebidos pela criança, sendo inclusive, o trabalho de parto em si, considerado de suma importância, para que esta colonização inicial seja feita de modo considerado saudável. Em estudos, neonatos nascidos por cesariana possuem níveis baixos de colonização, se comparados aos que nasceram por via vaginal. E bactérias importantes na constituição da microbiota, como Lactobacillus e Bifidobacterias, que estão relacionadas com um decréscimo do risco de doenças atópicas, são influenciadas negativamente na prática do parto cesáreo, já as bactérias mais comuns a colonização se dão as anaeróbias - Bacteroides e Clostridium. Os indivíduos que apresentaram déficit no microbioma podem apresentar como consequências casos de obesidade e aumento de infecções na vida adulta. (19) Existem evidências convincentes de que o aleitamento materno e o parto normal apresentam efeito protetor contra infecções virais e bacterianas e previnem o desenvolvimento de doenças alérgicas e autoimunes (AKAGAWA et. al., 2019). Crianças nascidas de parto cesárea, principalmente partos agendados sem rotura da bolsa amniótica e sem trabalho de parto, tendem a ter chance maior de desenvolver doenças alérgicas, autoimunes, degenerativas, metabólicas, tanto intestinais como extra intestinais, incluindo obesidade e doenças cognitivas como, por exemplo, o autismo e a depressão. Uma colonização inicial por Clostridium difficille está associada ao risco de asma, eczema e sensibilização a alérgenos alimentares aos 6 e 7 anos de vida. (29) Estudos recentes revelam a presença de microrganismos no líquido amniótico, nas membranas fetais, cordão umbilical, placenta e mecônio. Sendo que, neste último, encontramos dois momentos distintos: o primeiro menos diversificado e com predomínio de bactérias da família Enterobacteriaceae; o segundo, mais tardio e diversificado, tem predomínio de bactérias do filo Firmicutes, especialmente bactérias Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 46 | ácidoláticas. Esta população bacteriana difere do perfil encontrado na vagina, na pele ou nas fezes da mulher grávida, sugerindo que esta população de bactérias do mecônio tenha origem uterina, já que se assemelha ao perfil do líquido amniótico. Neste sentido, acredita- se que a colonização do trato gastrintestinal fetal possa acontecer, jáintra-útero, pela deglutição do referido líquido. Dessa forma, neonatos nascidos de cesárea terão alguns microrganismos provenientes desse contato mãe-feto, apesar de seu número reduzido em relação aos nascidos por parto vaginal. (20) Ao nascimento, antes mesmo de realizar sua primeira respiração, esta criança já está sendo colonizada. Nas primeiras horas, ainda pela presença do oxigênio, o predomínio é de bactérias aeróbias, como o Estreptococos e a E. coli. Mais tarde, à medida que o oxigênio vai sendo consumido, prevalecem as estritamente anaeróbias, como as Bifidobactérias, Bacterióides e o Clostridium. Medicamentos e Disbiose O uso irracional e indiscriminado de medicamentos, sobretudo antibióticos, está entre as principais causas da disbiose. Entende-se que o uso de antibióticos de amplo espectro como, ampicilina, amoxicilina, cefalosporina e clindamicina levam a alterações no equilíbrio da microbiota, principalmente sobre as bactérias benéficas, causando diarreia em até 20% dos pacientes (ANTUNES et al., 2007). Os antibióticos são responsáveis por atingir tanto as bactérias nocivas quanto as benéficas, promovendo o crescimento de fungos que produzem toxinas que irritam diretamente a mucosa intestinal. O aumento da permeabilidade intestinal favorece a absorção das toxinas pelo organismo. Outros fármacos envolvidos na causa da disbiose são os anti-inflamatórios hormonais e não- hormonais, e os laxantes (SANTOS, 2010). Alimentação e Disbiose A dieta do indivíduo pode ser considerada uma das mais importantes causas da disbiose, pois a alimentação influência de modo direto a composição da microbiota intestinal. (10) Os consumos exagerados de sódio, conservantes e gorduras saturadas contribuíram para o aumento da incidência da obesidade, do diabetes e das doenças inflamatórias intestinais. Tais hábitos, quando frequentes, acarretam um desequilíbrio da microbiota intestinal, relacionando-se diretamente na manutenção da fisiologia do trato gastrointestinal (TGI) e nos aspectos imunológicos. A disbiose propriamente dita, surge perante esse desequilíbrio da microbiota intestinal, mediado também por abuso de antibióticos, dieta inadequada e fatores emocionais. Entende-se, atualmente, que para um bom funcionamento do trato gastrointestinal (TGI) é preciso equilíbrio entre os microrganismos comensais presentes no sítio Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 47 | intestinal. Cada indivíduo possui uma composição bacteriana específica, definida por padrões genéticos e ambientais, sendo que, majoritariamente bactérias dos filos Firmicutes, em especial a ordem lactobacillales, e bacteroidetes. Em adultos, essa microbiota permanece estável, até um estímulo levar a alterações, seja pela alimentação, higiene, idade ou trânsito intestinal. As espécies bacterianas, uma vez em desequilíbrio, com a proliferação de bactérias patológicas, como a Clostridium sp., sobre as bactérias comensais, prejudicam o metabolismo dos nutrientes e a sua adequada absorção e provocando um quadro de hipovitaminose pela deficiência na síntese da vitamina K2. Levando, também, há deficiência na produção de ácido clorídrico. Como principal consequência, temos o rompimento da barreira da mucosa intestinal, condição patológica chamada de permeabilidade intestinal. Sendo assim, produtos como toxinas, bactérias e alimentos não digeridos ultrapassam a barreira da mucosa e atingem a corrente sanguínea, levando a uma resposta do sistema imunológico. O organismo interpreta tais substâncias como antígenos, montando uma resposta imune contra o antígeno. Quando constante o estímulo, um estado inflamatório crônico é atingido, estimulando o desenvolvimento de obesidade, diabetes e manifestações alérgicas em pacientes suscetíveis. A disbiose também pode estar associada a intolerâncias alimentares decorrentes da deficiência de enzimas digestivas, por exemplo, a deficiência de lactose, que promove intolerância ao leite. (11) Segundo evidências, o consumo de leite e seus derivados são datados há 4 mil anos a.C. Esse consumo, pelo valor nutritivo do leite, fez com que aumentasse as variedades desse produto. A partir disso, o surgimento de novos tipos de leites, pelo avanço da indústria alimentar. A exclusão do leite e seus derivados, para indivíduos com distúrbios de digestão, além de aliviar os sintomas, tem uma função de prevenção da disbiose. Essa patologia em questão causa redução das microvilosidades da parede intestinal, diminuindo a superfície de absorção dos nutrientes e aumentando a taxa de passagem de grandes moléculas no intestino. (34) As proteínas que compõem o leite são classificadas em proteínas do soro do leite, contendo a alfa-lactalbumina e beta- lactoglobulina e as proteínas caseínas, a exemplo a alfa s1, alfa s2, beta-caseína (CSN2) e kappa. Em maioria, temos as CSN2, que possui variantes genéticas, as mais comuns sendo A1 e A2. A produção de peptídeos bioativos (PB), como beta-casomorfina-7 (BCM-7), é associada a variante A1, liberados em seguida a hidrólise enzimática pelas enzimas gastrointestinais e estão relacionados a efeitos adversos da saúde humana, como alergia a Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 48 | proteína do leite, doença cardíaca isquêmica humana, diabetes mellitus tipo-1 e autismo. (35) Contudo, leite e derivados contendo a variante A2, evidenciaram a menor produção do bioativo BCM-7, após a digestão enzimática. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e Disbiose A redução das bactérias no intestino ocasiona uma perda da capacidade de controle da inflamação no trato gastrointestinal em indivíduos portadores do vírus HIV, o que culmina em uma diminuição maciça de subconjuntos das células T, já suprimidas inicialmente após o primeiro contato com o vírus. Além disso, à perda das bactérias alteram o processo de degradação de gorduras e glicanos derivados de animais na dieta de indivíduos infectados pelo vírus, gerando manifestações de inúmeras doenças metabólicas (WU et al., 2011; LOZUPONE et al., 2014). A disbiose gerada durante a patogênese do HIV contribui para a diminuição de células inatas como as Células NK, importantes na eliminação de células infectadas. Também está associada positivamente com a ativação de marcadores de monócitos, ativação maciça de células TCD4+ com consequente aumento da inflamação sistêmica pela indução de citocinas plasmáticas inclusive aquelas associadas à mortalidade, como IL-6, TNFα, IL-10, IFNγ, IL-1β e diminuição da ativação de células dendriticas (DC) levando ao aumento da carga viral do HIV (DILLON et al., 2017; KOAY et al., 2017). Desse modo, a disbiose incitada pelo HIV é caracterizada por um desequilíbrio, com características de diminuição de bactérias que são consideradas comensais, juntamente com o aumento de bactérias potencialmente patogênicas, o que culmina no fenótipo geral da inflamação da mucosa durante a infecção pelo vírus, fazendo com que a disbiose microbiana se torne um importante fator de risco para diversas patologias intestinais, como a Síndrome do Intestino Irritável, desnutrição, diarreia aguda e crônica em indivíduos portadores do vírus HIV (ZEVIN et al., 2016; PUTIGNANI et al., 2016). Álcool e Disbiose Estudos demonstram já estabelecida a relação entre a ingestão de álcool entérico e a perda de função da barreira intestinal, podendo inclusive a ingesta aguda ou crônica de álcool resultar em lesões funcionais e estruturais no trato gastrointestinal (LEQUERQ ela t., 2014). Essas lesões foram descritas morfologicamente e incluem descobertas que vão desde erosões da mucosa gástrica à lesão das pequenasvilosidades intestinais (QIN; DEITCH, 2014). O consumo crônico de etanol, acarreta uma diminuição na secreção de ácido gástrico contribuindo para a ocorrência de supercrescimento bacteriano jejunal. Ocorre também uma elevação na permeabilidade Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 49 | intestinal à bactérias e/ou toxinas. Estes fatores, somados a quebra da barreira intestinal vão ocasionar a liberação de bactérias por três mecanismos: aumento do número de bactérias no intestino, aumento de permeabilidade da mucosa intestinal e diminuição da defesa imunológica (1). Essas mudanças induzidas pelo estresse metabólico gerado pelo consumo de álcool, podem melhorar a capacidade de agentes patogênicos entéricos colonizarem o intestino, além disso, o estresse metabólico agudo repetido afeta os níveis de secreção de IgA no intestino, impactando na homeostase intestinal promovendo uma possível disbiose (COLLINS et al. 2014). Consequências da Disbiose Intestinal induzida pelo Álcool Aumento da permeabilidade intestinal Lesão das tight junctions Supercrescimento bacteriano ↑ Fusobacteria e Proteobacteria ↓ Clostridiales ↑ Candida sp ↓ Bacteroidadales ↑ Enterobacteriaceae ↓ Lactobacillus Doenças do Trato Gastrointestinal e Disbiose A microbiota tem um papel importante no desenvolvimento de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), apresentando uma tendência a ocorrer no cólon e íleo distal, devido à serem regiões do intestino com maior concentração de bactérias. (28) Inclusive, compreende-se que agentes microbianos fazem parte da patogénese das DII, sendo desenvolvidas de quatro formas distintas: 1) Desequilíbrio da microbiota comensal; 2) Indução de inflamação por patogénos microbianos; 3) Disbiose da microbiota comensal com aumento de espécies agressivas para o hospedeiro 4) Resposta desapropriada à microbiota comensal a. Alteração da permeabilidade da mucosa b. Ineficácia da capacidade bactericida c. Imunorregulação deficiente Essas apresentações caracterizam as principais evidencias que apoiam a participação da microbiota na fisiopatologia da Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa. (31,32) Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 50 | A disbiose desempenha um papel muito importante na Doença de Crohn, uma vez que a diminuição de bactérias produtoras de butirato, um ácido graxo de cadeia curta (AGCC), tem consequências diretas no meio ambiente intestinal, designadamente a diminuição da sobrevivência dos enterócitos, aumento da produção de citocinas inflamatórias e a diminuição da eliminação de Proteobacteria (agente potencialmente patogénico). Estudos recentes identificaram a microbiota intestinal e alguns fatores ambientais, como dieta e estilo de vida, como potenciais promotores do desenvolvimento do Câncer de Cólon e Reto. Estudos in vitro e in vivo, identificaram que a alta ingestão de fibras pode trazer benefícios à saúde intestinal e diminuir a incidência de câncer colorretal. Isto ocorre devido às fibras serem fermentadas pelas bactérias do cólon, formando posteriormente aminoácidos de cadeia curta, e, dentre eles, o butirato, que depois de capturado pelos enterócitos, é usado como fonte local de energia. O butirato parece ser capaz de induzir apoptose e inibir a proliferação de células do cólon neoplásico. (33) Porém, ainda não foi esclarecida a existência de microrganismos específicos particularmente patogênicos e que podem participar diretamente da carcinogênese ou se o processo requer interações específicas entre os tecidos hospedeiros e a microbiota do cólon. Já a Síndrome do Intestino Irritável, se apresenta como uma síndrome multifatorial, sendo que nos últimos anos foi realizada a demonstração de casos em que pacientes apresentaram alterações na microbiota e na mucosa intestinal. Existem evidencias relevantes que apoiam uma possível participação da microbiota na fisiopatologia da SII, sendo elas (30): 1) Alterações qualitativas e quantitativas observadas com frequência na microbiota intestinal; 2) Subgrupo de pacientes apresentando histórico de gastroenterite aguda precedendo o início dos sintomas crônicos, sendo considerado neste caso como tendo SII pós-infecção; 3) Maior prevalência de supercrescimento bacteriano intestinal quando comparado com grupos controles saudáveis; 4) Restrição alimentar de oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis (FODMAPs) frequentemente atenua a inflamação intestinal; 5) Possível modulação da microbiota intestinal com antibióticos, probióticos e prebióticos e melhora clínica. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 51 | Diabetes Mellitus tipo 2 e Disbiose O diabetes mellitus tipo 2 é caracterizado pela insuficiência da produção ou resistência aos efeitos da insulina. A relação entre a microbioma intestinal e o diabetes mellitus tipo 2 é estabelecida a partir do desequilíbrio de determinados filos de bactérias. O diabetes tipo 2 está associado a composição do microbioma, vinculando-se ao nível de tolerância a glicose. Abordagens metagenômicas recentes ajudaram a definir a composição específica da microbiota fecal em pacientes com DM2. Curiosamente, alguns estudos correlacionaram o comprometimento do controle glicêmico e a resistência à insulina com a composição específica do microbioma intestinal. (17) Li K e colaboradores (2019) em estudos com camundongos confirmou a hipótese de que o diabetes mellitus tipo 2 está intimamente correlacionado com inflamação crônica de baixo grau e disbiose intestinal. Em seu estudo, realizou testes de glicemia de jejum e de tolerância à glicose oral. Os ratos foram divididos em grupos, onde, após seis semanas de intervenção com insulina pode-se observar que a abundância de Cyanobacteria e Bacteroides estava positivamente correlacionada com IL-10; a abundância de Deferribacteres, Tenericutes, Mucispirillum e Rumini Clostridium estava intimamente relacionada à IL-6 ou TNF-α. Além disso, a abundância de Mucispirillum e Rumini Clostridium foi correlacionada positivamente com o lipopolissacarídeos plasmáticos. Estresse e Disbiose O termo homeostasia é entendido como a constância entre um meio interno diante de um ambiente de mudança, já o estresse é definido como a perturbação dessa homeostasia, respostas severas e prolongadas ao estresse podem levar a danos e doenças nos tecidos. Várias situações tendem a provocar diferentes padrões de respostas ao estresse, também existindo diferenças individuais nas respostas ao estresse para a mesma situação, essa tendência a exibir um padrão particular de respostas ao estresse em uma variedade de estressores é referido como resposta estereotipada. Com a evolução, os mamíferos, progrediram com mecanismos homeostáticos razoavelmente eficazes para lidar com estressores de curto prazo; na qual respostas agudas em indivíduos jovens e saudáveis não fornece ônus a saúde. Entretanto, uma vez que tal ameaça torna-se persistente, em especial para indivíduos idosos ou não saudáveis, os efeitos os efeitos a um longo prazo podem ser prejudiciais à saúde. (23) A infância é uma fase de suma importância para o desenvolvimento da microbiota e da saúde mental, sendo assim, é necessário perceber como o estresse, nos primeiros dias de vida leva a alterações da vida adulta. A separação materna, por exemplo, é responsável pela disbiose intestinal na infância, a qual persiste na vida adulta, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 52 | segundo pesquisas em ratos de laboratório. As maiores diferenças se dão na quantidade de bactérias do filo Firmicutese do filo Bacteroidetes, que aumentaram seu número, sendo que bactérias de outros filos sofreram uma diminuição significativa. Em um trabalho, a relação da depleção da microbiota intestinal na adolescência, por uso de antibióticos, provocou diminuição de bactérias intestinais, bem como da sua diversidade. Predominando Proteobacterias e Cyanobacterias em relação as Firmicutes e Bacteroidetes. Em decorrência dessa depleção intestinal, tem-se alterações de neuromoduladores, a exemplo o triptofano, participante na regulação de comportamentos associados a desregulações do eixo intestino- cérebro. (24) Nossa microbiota intestinal, poderia, ainda, afetar o sistema serotoninérgico no hipocampo, importante no controle de estresse e ansiedade. O controle desse sistema varia com o sexo, contudo, tanto machos como fêmeas de ratos, apresentam aumento da reatividade do eixo hipotálamo- pituitária-adrenal (HPA), em decorrência do aumento dos níveis de corticosterona após estímulo estressante. Porém, aumento de concentração de serotonina ocorreu apenas em ratos do sexo masculino. Já os níveis de triptofano e seu metabolismo eram menores em ratos do sexo feminino, se comparado com o sexo masculino. E ambos os sexos apresentaram diminuição do rácio quinurenina-triptofano, sendo assim, o metabolismo do triptofano ao longo da via da quinurenina se encontra alterado. Também os níveis de triptofano e o seu metabolismo se encontravam alterados nos animais livres de germes. Os machos apresentavam concentrações de triptofano superior ao das fêmeas e do grupo controle, mas os ratos de ambos os sexos. Portanto, verificou-se que estas alterações neuroquímicas mas não as comportamentais, são resistentes à restauração da microbiota intestinal demonstrando o quão difícil é reverter as modificações neuroquímicas induzidas pela ausência de microbiota nos primeiros tempos de vida. (2) Fatores genéticos e Disbiose Existem evidências cientificas que corroboram a influência preponderante da genética do hospedeiro na aquisição e no desenvolvimento da microbiota intestinal em idade pediátrica. A sua contribuição fora avaliada em diferentes graus de parentesco, sendo verificado maior semelhança da microbiota intestinal entre pares de gêmeos, quando comparado a indivíduos não aparentados. Quanto a herdabilidade individual da taxa de microbianos, as bactérias do phylum Bacteroidetes foi moldada, principalmente, por fatores ambientais. Para as famílias do phylum Firmicutes, incluindo Ruminococcaceae, Lachnospiraceae e Christensenellaceae, a influência da hereditariedade foi mais significativa. A Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 53 | Christensenellaceae possui o táxon de maior heritabilidade, concorrendo com outros táxons altamente hereditários, como a família Methanobacteriaceae. Tal concorrência deve- se ao fato de múltiplos táxons serem hereditários e concorrerem, contudo, cada um é afetado de forma independente pela genética do hospedeiro. Em estudos, a partir dos 12 meses de idade, o perfil microbiano de um par de gêmeos monozigóticos com um irmão fraterno tornou-se uniforme entre os lactentes, sendo proposto que a genética do hospedeiro possui papel significativo na composição da microbiota intestinal durante o início da vida e os determinantes ambientais dominam posteriormente. Em outro estudo, temos uma abordagem de genes candidatos para análise do envolvimento de genes individuais na composição microbiana intestinal. O indivíduo que possui o gene funcional fucosiltransferase 2 (FUT2), conhecidos como secretores, possuem comunidades microbianas diferentes em comparação com indivíduos não- secretores. A condição de secretor, regula existência de antígenos dos grupos sanguíneos ABO e Lewis na mucosa intestinal, também a glicolisação do muco intestinal e dos oligossacarídeos do leite materno. A FUT3, adicionalmente, produz antígenos de Lewis A para indivíduos não- secretores e antígenos B para indivíduos secretores. Outros genes foram apontados como influenciadores da composição da microbiota intestinal, em especial, aqueles que codificam mediadores imunológicos, a exemplo o domínio de oligomerização de ligação de nucleotídeos (NOD-2) e o gene da Febre Mediterrânica Familiar (MEFV). Um receptor de NOD-2 reconhece os fragmentos de dipéptido de muramilo, derivados da parede celular bacteriana e regula assim a libertação de α-defensinas por células de Paneth. Em nós, humanos, mutações de NOD- 2, são um fator de risco para desenvolvimento de doença inflamatória intestinal e estão associadas à disbiose intestinal. Já mutações do gene MEFV, levam a Febre Mediterrânica Familiar, doença autoimune, que tem como causa a liberação desequilibrada de interleucina 21, com alterações da microbiota intestinal. (25) REFERÊNCIAS 1. GUERRA, I.B.R.; VIEIRA, M.L. Efeitos intestinais do uso abusivo do álcool etílico. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, [S.l.], v. 34, n. 67, p. 84-94, mar. 2019. ISSN 2596-2809. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 54 | 2. SILVA, D. F. Avaliação etiológica de enterobactérias em pacientes soropositivos (hiv) e marcadores inflamatórios para disbiose intestinal e translocação microbiana. 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RELAÇÃO DO TIPO DE PARTO NA CONSTITUIÇÃO DA MICROBIOTA INFANTIL; 2018 20. Débora Borges de Oliveira Silva¹, Eduardo Henrique Mendes Rezende¹, Guilherme do Vale Bessa¹, Kamylla Borges Santos¹, Aline de Araújo Freitas². . Desenvolvimento da microbiota do recém-nascido e sua relação com o tipo de parto;2019. 21. Andréa Claudia dos Anjos Martins1 ; Daniela Miguel Marin Sabanai2 ; Bianca Languer Vargas. DISBIOSE INTESTINAL: IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA E CONDUTAS NUTRICIONAIS; 2016. 22. Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas – SBRT Probióticos, prebióticos e simbióticos: definição, benefícios e aplicabilidade industrial; 2014. 23. Neil Schneiderman, Gail Ironson, and Scott D. Siegel Department of Psychology, University of Miami, Coral Gables,. STRESS AND HEALTH: Psychological, Behavioral, and Biological Determinants; 2005. 24. Joana Almeida Vilão Raposo Landeiro,. INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EGAS MONIZ, MESTRADO INTEGRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS, IMPACTO DA MICROBIOTA INTESTINAL NA SAÚDE MENTAL; 2016. 25. Diana Patrícia Pereira da Costa, Microbiota intestinal e disbiose em idade pediátrica: o que esperar no plano fisiológico? 2019. 26. Jiahui Cao and Hans Schnittler, Putting VE - cadherin into JAIL for junction remodeling ; 2019 27. Joanna Kim and John A. Cooper Departments of Biochemistry & Molecular Biophysics and Cell Biology & Physiology, Washington University, St. Louis, MO 63110, Septins regulate junctional integrity of endothelial monolayers; 2018 28. Ribeiro ARP. A Microbiota Intestinal nas Doenças Inflamatórias do Intestino e o Potencial Recurso a Probióticos e Prebióticos, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; 2016. 29. Chong-Neto HJ, Pastorino AC, Melo ACCDB, Medeiros D, Kuschnir FC, Alonso MLO, et al. A microbiota intestinal e sua interface com o sistema imunológico. 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Flávio Sader Corbucci; Beta-caseína A2 como um diferencial na qualidade do leite; Araçatuba – São Paulo 2017 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 57 | Luís Felipe Pires Fontana1 Herik Jansen de Souza Pimentel1 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser Aparecida de Goiânia - GO. 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP Aline Luiza Ribeiro1 Mariana Queiroz Borges1 Débora de Bortoli Verdelho1 Adriana Alves de Meneses Delevedove2 A microbiota, por fazer parte da mucosa intestinal, interage com as drogas no lúmen intestinal antes de serem transmitidas para a corrente sanguínea. Devido a esse contato direto, as bactérias não só podem atuar na metabolização de compostos (Fig. 1) como também são influenciadas pela ação dos fármacos utilizados pelo paciente. Dessa forma, o receituário de um indivíduo é capaz de marcar uma “assinatura microbiótica” em sua flora intestinal. A partir dessa premissa, em 2019, uma metanalise com 1883 participantes demonstrou que 19 de 41 remédios testados, sendo esses comumente usados, tiveram um reflexo característico na microbiota intestinal. 2, 4, 6, 7 A mistura de maior efeito na composição bacteriana foi de IBPs, laxantes e antibióticos. Os antibióticos atuam na sobrevida bacteriana; enquanto laxantes e inibidores da bomba de prótons afetam fisicamente o trânsito intestinal e as características do hospedeiro. Apesar das alterações, a riqueza da microbiota não é alterada, mas alguns tipos bacterianos apresentaram ligeiro aumento ou redução, o que é proporcionalmente significativo, visto que o número de bactérias em um corpo é quase equivalente ao de células humanas. 1, 4, 6 CAPÍTULO 5 Ação de drogas e fármacos na microbiota intestinal Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 58 | Figura 1 – Diferentes mecanismos pelos quais a microbiota intestinall influencia a metabolização de medicamentos. Imagem adaptada de [2] Bi-directional drug-microbiome interactions of anti-diabetics: Os mecanismos subjacentes à disbiose intestinal ainda permanecem incertos, uma vez que combinações de variações ambientais e fatores de estresse medeiam cascatas de eventos que alteram a microbiota. O estresse oxidativo, a indução de bacteriófagos e a secreção de toxinas bacterianas podem desencadear mudanças rápidas entre os grupos microbianos intestinais, produzindo, assim, a disbiose. 5 Há muito se sabe da relação entre diversas doenças crônicas e alterações de microbiota. Alguns desses relatos, no entanto, geraram resultados diferentes e, por vezes, contraditórios, devido à pouca tecnologia para pesquisas nessa área, o que vem sendo elucidado pela medicina contemporânea. Busca-se cada vez mais diferenciar a alteração causada pelo efeito sistêmico na doença de base da mudança gerada pelo medicamento utilizado no tratamento. 3, 4 INIBIDORES DA BOMBA DE PROTONS Os IBPs geram impactos diretos e indiretos na microbiota. Os primeiros, decorrentes da redução do pH gástrico, o que reduz a ação antisséptica do conteúdo que transita no interior do estômago; e o seguinte como resultado de alterações metabólicas, como o aumento da biossíntese de ácidos graxos e lipídios. 6 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 59 | Com a queda da acidez gástrica, ocorre translocação de bactérias, causando o aumento de flora tipicamente oral em níveis mais baixos do trato. Além disso, tem efeito direto de inibição de certas bactérias intestinais de características comensais como as da espécie Dorea e Ruminococcus. Os IBPs, sem a combinação de outras medicações, segundo estudo de 2019, conseguiu gerar o impacto que outras drogas só atingiram quando combinadas. 4, 6, 7, 8 Espécies com grande prevalência oral, como o Streptococcus parasanguinis, se tornam bem características no intestino e, em conjunto com outros tipos bacterianos, apresentam um aumento em seu metabolismo, afetando as vias de degradação de carboidratos e de biossíntese de L- arginina. Além disso, características como resistência a macrolídios também foram encontradas em amostras fecais dos usuários. Devido à ausência do efeito protetor do pH gástrico, o usuário se torna mais susceptível a infecções, sendo a colonização por Clostridium difficile, causador da colite pseudomembranosa, uma das maispreocupantes em usuários de longo prazo. O aumento do risco é atribuído ao surgimento de cepas mais virulentas nos usuários. Observa- se também um aumento da abundância de Veillonella parvula, que é conhecido por estabelecer uma relação mutualística com Streptococcus mutans co-agregando e transformando os produtos metabólicos de bactérias fermentadoras de carboidratos. 4,6,7,9 As alterações funcionais resultantes incluem o aumento da biossíntese de ácidos graxos e lipídios, o metabolismo da fermentação NAD e a biossíntese de L- arginina. A degradação de desoxirribonucleósidos de purina, uma via usada como fonte de energia e carbono, foi prevista a partir de genomas de gêneros bacterianos diferentes. O aumento dessa função no microbioma intestinal de usuários de IBP pode ser explicado por um aumento abundância de espécies de Streptococcus (S. salivaris, S. parasanguinis e S. vestibularis) O uso de IBPs a longo prazo, principalmente em idosos ou em associação com gastrite atrófica e acloridria, pode prejudicar a absorção de vitamina b12, cuja desconjugação de sua proteína nativa depende de um meio ácido. A sua ausência nos enterócitos, contribui para o crescimento bacteriano. Apesar desse crescimento por si só não aparentar ser significado. É importante lembrar que drogas de absorção em meio ácido, também terão sua ação prejudicada, o que inclui, mas não se limita a, itraconazole, ketoconazole, isoniazid, levotiroxina, oral iron supplements, and several protease inhibitors. 6,7,9,10 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 60 | (B12 – Imagem adaptada de 11 - Methods to assess vitamin B12 bioavailability and technologies to enhance its absorption) METFORMINA Apesar de muito estudado, o efeito hipoglicemiante da Metformina ainda não teve suas formas de ação quantificadas. Seu composto originalmente se tratava de uma biguanina desenvolvida a partir da planta Galega officinalis, conhecida com Lilás Francês. A partir de 1920, passou a ser produzido sinteticamente, e a partir de 1950, passou a ser usado para combater a Diabetes Mellitus tipo II. 12, 15 Com base em análises recentes foram propostos diversos mecanismos de ação como a supressão da gliconeogênese Hepática; aumento da captação de glicose no tecido muscular esquelético mediado pela ativação da Proteína Quinase Ativada por Adenosina Monofosfato (AMPK) 12,13,14; Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 61 | Inibição da Cadeia Respiratória Mitocondrial (Complexo I); Inibição da sinalização de cAMP – PKA através da supressão da Adenilato Ciclase; Inibição de Glicerofosfato Desidrosenage na mitocôndria e alteração de microbiota intestinal. A maioria dos estudos, portanto, direciona para uma ação dupla do fármaco, sendo capaz de inibir a absorção e reduzir a produção endógena de glicose. 16, 17, 18 Diversos fatores corroboraram para a sugestão da ação intraluminal da metformina e o surgimento de novas pesquisa na área, dentre eles, a maior concentração da droga no lúmen em relação ao plasma; a incapacidade de relacionar o nível de glicose com a concentração no plasmática da droga; Incapacidade de ação rápida em bolus IV, indicando um processo adaptativo ao fármaco; a ação em sua forma original, sem a necessidade do efeito de primeira passagem para ativação. A metformina também não é alterada pelas bactérias intestinais e consegue chegar sem alterações no intestino delgado distal, onde se acumula na mucosa em concentrações superiores a 300 vezes ao valor plasmático. 19, 20, 21, 22, 23 Em imagens de PET-CT, é aparente o aumento da utilização de glicose no intestino, especialmente pela captação de fluorodeoxyglicose (FDG). No intestino, o metabolismo das incretinas, como a secreção de GLP-1, e o microbioma são modificados. Não se sabe exatamente como esse conjunto modifica o metabolismo da glicose e gera efeitos colaterais gastrointestinais. 13, 19, 24 No entanto, é conhecido que, usuários de metformina possuem uma maior abundância de Akkermansia muciniphila, uma bactéria conhecida por degradar mucina, além de outras bactérias produtoras de ‘short chain fatty’ como o Butyrivibrio. A abundância de A. muciniphila cresceu 18 vezes em comparação com os controles, até um máximo de 12,44% do bioma existente. Ela é capaz de contribuir com a manutenção da camada de mucina e reduz a translocação de lipopolissacarídeo pró-inflamatórios, influenciando, assim, o metabolismo do tecido adiposo, bem como o processo de estocagem de gordura. A alteração bacteriana promovida pela metformina também favorece bactérias intestinais com maior capacidade de produzir butirato e propionato, substâncias envolvidas na homeostase da glicose, biossíntese de quinona, degradação de derivados de açúcar e vias de resistência à polimixina. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 62 | Imagem adaptada de [13] The mechanisms of action of metformin ANTIBIÓTICOS Diferentes mudanças no microbioma intestinal podem ser obtidos dependendo da abrangência do antibiótico e da combinação utilizada. A vancomicina, por exemplo, afeta drasticamente a população de Firmicutes phylum. Combinações de Ampicillina, Gentamicina, metronidazole, Neomicina, e Vancomicina se mostraram particularmente eficazes na redução da diversidade e, como resultado, possuem efeitos colaterais relacionados, como a diarreia, que pode afetar cerca de 1/5 dos pacientes. 26, 27 Mesmo drogas administradas seletivamente para microorganismos patogênicos podem acometer membros do microbioma relacionados. Como resultado, ocorre aumento de cepas resistentes, gerando reservas na microbiota intestinal. O retorno da microbiota para os níveis basais varia de dias a semanas. 27 Além de sua ação em bactérias dentro de seu espectro, outras espécies podem ser indiretamente afetas. Isso ocorre devido ao sistema de simbiose e codependência bacteriana em seu processo de ocupação de um ambiente, que normalmente se inicia com uma primeira linha de bactérias colonizadoras, aderindo à superfície e facilitando as condições para que outras bactérias tenham nutrientes e matéria orgânica disponível. Outra ação em conjunto é a excreção de produtos tóxicos, como ocorre entre o Methanobrevibacter smithii e a bactéria Bacteroides thetaiotaomicron, que em estudos em ratos, só foram capazes de colonizar efetivamente quando em conjunto. 27, 28 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 63 | Um dos exemplos mais fisiológicos dessa colaboração mútua é a ação de Lactobacilis, Bifidobactéria, Clostridium e Bacteroides no processo de desconjugação dos ácidos biliares. Os ácidos, quando metabolizados e separados de seu radical adicionado pelo fígado, podem ser tanto utilizados por bactérias quanto reabsorvidos de volta ao fígado pela circulação enterro- hepática. 27,28. Como resultado, o mecanismo de proteção contra patógenos infecciosos modulados pela própria microbiota, fica danificado. Esses mecanismos ainda estão sendo pesquisados, revelando potenciais papeis de diferentes famílias de bactérias na defesa do “território colonizado” através de alterações em carboidratos, hormônios e cadeias de ácidos graxos. 47 Dentre as estratégias de recuperação e atualização dos sintomas, uma das mais utilizadas é o uso de probióticos, que acelera a recolonização por bactérias simbióticas e, por vezes, é utilizada diretamente como opção tratamento. Outra alternativa superior, porém mais invasiva, como o transplante de microbiota fecal, pode ser utilizada em infecções oportunistas de C. difficile, entretanto o seu uso adianta é questionado quando se possui antibioticoterapiaviável. 46 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 64 | Imagem adaptada de About Bile Acid Diarrhoea (https://www.bad-uk.org/why-does-it-occur) LAXATIVOS Um fator que prejudica o estudo da relação entre laxativos e a microbiota intestinal é a variação do tempo de trânsito intestinal de pacientes usando a medicação. Em pacientes com rápido trânsito intestinal, por exemplo, ocorre uma maior colonização por espécies Bacteroides. Não há evidência da capacidade de ação direta de compostos laxantes no crescimento bacteriano. Experimentos em ratos sugerem que todas as mudanças são causadas como consequência da alteração de osmolalidade, mudanças essas que podem persistir por semanas quando administrado por gastrostomia percutânea endoscópica. Como resultado, se observa um aumento relativo de Alistipes genus. Não existe benefício claro da presença de A. genus, tendo alguns estudos apresentado efeito protetor à algumas https://www.bad-uk.org/why-does-it-occur Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 65 | doenças, como a Colite e a Fibrose hepática, enquanto outros indicaram patogenicidade no câncer colorretal. 29, 45 O contrário também é valido, foi observado que crianças com constipação funcional possuem redução dessa espécie [30]. Alguns estudos inclusive sugerem que essa bacteria possa ter um papel na patogênese da constipação. 31 Esteróides A influência do gênero na microbiota, apesar de não ter sido bem quantificada e ter apresentado divergências, pode ser provada por diversos estudos tanto em humanos quanto em animais 32, 33. Sabe-se que a microbiota masculina e feminina apresenta diferenças e que, em animais, essa diferença se reduz após a castração. 34, 35. Além disso, a retirada das gônadas é capaz de gerar mais alterações do que a mudança para uma dieta gordurosa. 36 Em contrapartida ao efeito dos esteróides gonadais na microbiota, a absorção intestinal também influencia nos níveis hormonais. Dentro desse contexto é memorável que algumas proteínas podem ser capazes de mimetizar quimicamente alguns hormônios e se ligar a receptores, como ocorre com os fitoestrógenos 37. O principal, mais complexo e mais estudado esteroide que se relaciona com a microbiota é o estrogênio, cuja microbiota intestinal está associada à proporção de metabólitos na urina, em mulheres pós-menopausa. 38 Estrogênio Apesar de não ter mecanismos exatos, sabe-se que o uso de contracepção oral a longo prazo está associado com o maior risco do surgimento de doenças inflamatórias intestinais e de necessidade de abordagem cirúrgicas em casos já instalados. Diversas hipóteses vêm ganhando espaço: como a modificação da permeabilidade intestinal, pela ação direta do estrogênio do intestino; a relação entre uso de hormônios endógenos com o aparecimento de doenças relacionadas à ação inflamatória do Th1 e Th2; e a relação entre uso de andrógenos exógenos e disbiose, influenciando o aparecimento de doenças auto-imunes. 39, 40 Estroboloma é o termo utilizado para designar tanto o efeito do estrogênio na microbiota intestinal quanto o conjunto de genes microbianos capazes de metabolizar esse hormônio. As principais enzimas envolvidas são as β-glucuronidases e β- glucuronidas, secretadas pela microbiota, são capazes de desconjugar o estrogênio para a sua forma ativa. 41, 42 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 66 | Imagem adaptada de [42] Microbiome and Malignancy Devido a variedade de tecidos que apresentam receptores de estrogênio, como por exemplo no cérebro, ossos, tecido adiposo e no próprio intestino, esse desbalanço pode ser relacionado com doenças como endometriose, síndrome do ovário policístico, obesidade, síndrome metabólica, câncer (endométrio, mama, gástrico), infertilidade. Além disso, a integridade e permeabilidade intestinal são modificadas pelo estrogênio. Essa ação pode ser ilustrada em estudos que mostram maior resistência à lesão intestinal em mulheres. 41, 43, 44 REFERÊNCIAS 1 - Sender R, Fuchs S, Milo R. Revised Estimates for the Number of Human and Bacteria Cells in the Body. 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Mônica de Oliveira Santos2 A microbiota intestinal normal é constituída pela harmonia dos microrganismos que habitam no trato gastrointestinal (TGI), as bactérias probióticas, comensais e patogênicas, as quais demonstram papeis importantes naregulação do sistema imune, nutrição, fisiologia e mente de todo o organismo2. Nosso intestino é um extenso filtro capacitado a beneficiar ou interditar o trânsito de substâncias ou nutrientes que podem ou não ser prejudiciais a nossa saúde. Se a mucosa do intestino está saudável, os nutrientes são bem absorvidos e as toxinas presentes nas fezes não conseguem penetrar na corrente sanguínea. O contrário ocorre quando suas paredes estão prejudicadas e a microbiota bacteriana está em desequilíbrio, gerando ou facilitando o aparecimento de doenças4. A disbiose intestinal é caracterizada como um estado de alterações da quantidade e qualidade da microbiota intestinal, da sua função metabólica e do seu local de distribuição, sendo determinada pela elevação do número das bactérias patogênicas no intestino. A alteração da permeabilidade do intestino prejudica a integridade da barreira intestinal, o que podem induzir a maior permeação de antígenos à mucosa intestinal começando ou esticando processos inflamatórios locais7. A fisiopatologia da disbiose ocorre há um desequilíbrio em alguma parte dessa passagem intestinal, pois esse deixa de garantir a digestão e absorção de nutrientes, minerais e fluidos, produzindo a tolerância da mucosa e sistêmica, protegendo e defendendo o hospedeiro de infecções e enviando sinais da periferia para o cérebro1. A permeabilidade intestinal corresponde as ações de barreira, impedimento feito pelo epitélio intestinal, competente de admitir ou não a entrada de moléculas por mecanismos CAPÍTULO 6 Como a disbiose causa doenças Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 71 | de difusão não-mediada por diferenças de gradiente de concentração ou pressão sem a ajuda de um sistema carreador bioquímico passivo ou ativo. Essa função possui alterações transitórias reversíveis devido ao estresse hiperosmolar, por doenças, hormônios, medicamentos, dietas, citocinas, fatores ambientais e outros3. Os mecanismos de desenvolvimento da disbiose estão representados por combinações de variações naturais e fatores de estresse, com cascatas de eventos que alteram a microbiota intestinal. Destacam-se o estresse oxidativo, a indução de bacteriófagos e a secreção de toxinas bacterianas podem desencadear mudanças rápidas entre os grupos microbianos intestinais e assim causando a doença5. O incremento da permeabilidade intestinal pressupõe um aumento da passagem de substâncias não desejadas ao fluxo sanguíneo, provocando inflamação na mucosa intestinal e alterações imunológicas crônicas, de forma sistêmica e local. Esta mudança é reconhecida como síndrome do “intestino furado” (ou leaky gut em inglês), devido principalmente à alterações das uniões estreitas e da absorção paracelular8. Quando o conjunto de bactérias naturais do nosso corpo estiver alterado, com bactérias maléficas em maiores quantidades, não é possível obter a eficácia do aproveitamento de vitaminas e minerais, além de provocar uma desarmonia na absorção de energia vinda dos alimentos, podendo resultar em sobrepeso e até mesmo desenvolvendo a obesidade, já que a saúde intestinal está integralmente relacionada à normalidade da absorção energética diária6. Esse estado acomete e lesiona a integridade da mucosa intestinal, estimulando o aumento da permeabilidade a carboidratos não digeridos e redução da seletividade na absorção de outras substâncias, como toxinas, bactérias, proteínas ou peptídeos não digeridos que ativam o sistema imunológico, causando à sua fadiga e alterações dermatológicas, como urticárias e acne9. A estabilidade da microbiota intestinal e a nutrição saudável de enterócitos e colonócitos estão intimamente vinculadas com a plenitude intestinal. A disbiose ocasiona um estado de hiperpermeabilidade de antígenos via paracelular e reduz a absorção de nutrientes via transcelular., gerando a translocação de patógenos através desta, piorando ainda mais o estado de saúde do indivíduo12. A disbiose inibe a síntese de vitaminas no intestino, como a B12, e também de neurotransmissores como a dopamina e serotonina. Possibilita o crescimento desordenado de fungos e bactérias capazes de afetar o funcionamento intestinal e de todo o organismo. O quadro clínico é bem comum, como constipação crônica, gases, cólicas, diarreia10. Entre as principais causas das disbiose estão: o uso de medicamentos, o estresse https://www.sinonimos.com.br/pressupoe/ https://www.minhavida.com.br/temas/disbiose Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 72 | psicológico e fisiológico, a hospitalização a idade, a hospitalização, um hábito alimentar desequilibrado e o desenvolvimento imune do feto que é influenciado pelos microrganismos da mãe ainda dentro do útero13. A utilização desorientado de antibióticos que matam tanto as bactérias benéficas como as patogênicas, assim como o uso de anti- inflamatórios hormonais e não hormonais e abuso de laxantes conseguem modificar a microbiota intestinal. Em decorrência do ritmo moderno de vida, o hábito alimentar da população tem se modificado15. A alimentação diária do indivíduo é considerada uma das mais relevantes causas da disbiose, pois a dieta influência de modo imediato e contínuo a formação e conteúdo da microbiota intestinal. A disbiose é um distúrbio cada vez mais significativo no diagnóstico de várias doenças, considerada como causa ou coadjuvante no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis11. As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são um conjunto de condições que estão ligadas a múltiplos fatores, com início gradativo, de prognóstico incerto e com longa ou indefinida duração. As DCNT são um dos maiores problemas de saúde pública na atualidade. Entre os principais indicativos de risco para o desenvolvimento de DCNT, estão: tabaco, inatividade física, consumo nocivo de álcool, maus hábitos alimentares14. As mais comuns doenças crônicas não transmissíveis relatadas são as doenças respiratórias crônicas, a síndrome do intestino irritável, o câncer e a hipertensão, intolerância a lactose, glúten, refluxo, diabetes, anemia crônica. É importante que sejam excluídas doenças do trato intestinal antes de chegar ao diagnóstico de disbiose isolado, devido essas DCNT encontrar-se de maneira simultânea com a disbiose e se retroalimentando16. A disbiose é uma característica das doenças inflamatórias intestinais, como a colite ulcerativa e a doença de Crohn, mas também de distúrbios metabólicos, doenças autoimunes e distúrbios neurológicos, câncer colorretal, ou em pessoas idosas, como exemplificado pela diarreia associada à Clostridium difficile19. Entre as possíveis causas da disbiose estão: emprego imoderado de antibióticos, que matam tanto as bactérias boas assim como as nocivas. Uso indiscriminado de antiinflamatórios hormonais e não-hormonais, abuso de laxantes, corticoides, anti-ácidos, ingestão excessiva de alimentos processados em detrimento de alimentos naturais, envelhecimento, estresse, estado imunitário do hospedeiro, alérgenos alimentares, uso crônico de inibidores da bomba de prótons, pois alteram o pH do estômago o qual tem que ser ácido, alcoolismo, açúcares, frutose em excesso principalmente a industrializada em excesso e farinha de trigo, uso abusivo de adoçantes artificiais como sucralose, sacarina e acessulfame22. Também esta associada a outros fatores alimentares, dieta com excesso de proteína, gordura ou carboidrato, porque uma grande Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 73 | ingestão de carboidrato provoca uma elevada taxa de fermentação pelas bactérias no intestino grosso, ou com baixo teor de fibras ou ainda carênciade vitaminas20. A síndrome do intestino irritável é um distúrbio na motilidade intestinal designado por uma série de alterações gastrointestinais crônicas, ou então recorrentes e não associadas a nenhuma alteração bioquímica. A causa não é bem conhecida, mas há relação íntima com a disbiose intestinal. Algumas pessoas experimentam sensações frequentes de desconforto abdominal, cólicas, diarreia, obstipação e aumento dos movimentos intestinais18. As evidências mais relevantes que comprovam a participação da disbiose intestinal na fisiopatologia da síndrome do intestino irritável são: as alterações quantitativas e qualitativas observadas com frequência na microbiota intestinal, o supercrescimento bacteriano intestinal, a restrição alimentar de oligossacarídeos fermentáveis atenuam os sintomas, melhora clínica após modulação da microbiota intestinal com uso de probióticos e prebióticos23. Determinados alimentos são mal tolerados por quem apresenta a síndrome do intestino irritável, como couve-flor, feijão, repolho, cebola crua, uva, vinho, ameixa, cerveja e alimentos ou bebidas com cafeína. O hábito de fazer um diário alimentar ligando os sintomas com os alimentos ingeridos pode ser um instrumento bem útil17. O trato gastrointestinal (TGI) e o trato respiratório, embora órgãos separados, ambos fazem parte de um sistema imunológico da mucosa compartilhado denominado eixo intestino-pulmão. As alterações na composição da microbiota intestinal, designada de disbiose podem modificar a resposta imunitária e, como consequência, estar vinculada com o aparecimento de determinadas doenças respiratórias como a asma, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e as infecções respiratórias21. Nas infecções respiratórias ou doenças crônicas como asma, DPOC, tem observa-se o efeito protetor da microbiota intestinal, analisando estudos recentes que demonstraram uma relação entre o desequilíbrio da microbiota com as quebras nos mecanismos de defesa imunitária e o desenvolvimento de infecções respiratórias bacterianas ou virais24. As doenças inflamatórias do intestino (DII), que abrangem a Doença de Crohn (DC), retocolite ulcerativa (RCU) e Colite Indeterminada (CI), são patologias sistêmicas, imunomediadas, representadas pela presença de uma inflamação crônica que tem como local principal o trato gastrointestinal, acometendo frequentemente outros órgãos e sistemas, com períodos ativos e outros de remissão5. O quebra das inter-relações entre nutrição e metabolismo do microbioma e do hospedeiro certamente constitui a principal origem do rompimento da homeostase normal https://www.minhavida.com.br/saude/temas/sindrome-do-intestino-irritavel https://www.minhavida.com.br/temas/cafe%C3%ADna Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 74 | do intestino, causando a disbiose, um desequilíbrio na estrutura e/ ou função da microbiota que perturba o equilíbrio do microrganismo hospedeiro, sendo também uma das características marcantes das DII25. Apesar da etiologia das DII continuar desconhecida, sua fisiopatologia apresenta dados suficientes para acreditar-se que resulta da desregulação do sistema imunitário inato e adaptativo contra as bactérias e seus produtos no lúmen intestinal, em hospedeiro geneticamente suscetível de desenvolvê-las2. A alimentação tradicionalmente ocidentalizada, presente na maior população do mundo é marcada por grande ingestão de açúcares refinados e pobre em fibras, tem sido uma das viáveis justificativas para o aumento de incidência das DII. Tem-se analisado que doentes com DII exibem com regularidade insuficiência de vitamina D, todavia não se sabe se tal será uma consequência da doença ou se a vitamina D terá um papel na modulação da função imunitária do intestino8. A mucosa intestinal é constituída por uma camada única de células unidas por tight junctions e caracteriza a primeira linha de defesa contra a invasão de agentes/bactérias patogênicas. A inflamação da mucosa intestinal provoca alterações nas tight junctions, fazendo com que a integridade desta barreira seja comprometida10. Isto permite que bactérias entrem nas células epiteliais e provoquem inflamação da mucosa. São particularmente importantes nesta interação, os Toll-like receptores, importantes na regulação da permeabilidade intestinal e sua sinalização é relevante no efeito anti-inflamatório dos probióticos13. Nas DII, ocorre redução da tolerância às bactérias comensais, levando a disbiose e produzindo uma inflamação crônica. A microbiota intestinal estimula constantemente o sistema imunitário do hospedeiro, perpetuando a doença. Isto pode resultar do sistema imunológico reconhecer a microbiota intestinal comensal como uma ameaça ou pela falha dos mecanismos que controlam a resposta imunitária da mucosa às bactérias intestinais15. REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD). Jornada do Paciente com Doença Inflamatória Intestinal – estudo quantitativo e qualitativo sobre a vida do paciente com DII no Brasil. 2017. 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Em condições normais, o trato gastrointestinal do feto é estéril, sendo o primeiro contato com microrganismos gerado na passagem pelo canal vaginal. Além disso, outros processos naturais de imunização e exposição contribuem para que grupos de microrganismos específicos se desenvolvam e uma relação mutualística se estabeleça. 10 A placenta, nos últimos 3 meses de gestação, e o leite materno, após o nascimento, constituem as principais formas de controle de patógenos indesejáveis, e possuem como fator principal a Imunoglobulina IgA, cuja origem é imunidade materna, estendendo a imunidade adaptativa da mãe para o feto. 10,14. A ação do leite materno, constituído por células imunes, metabolitos, IgA e citocinas é estratégica para que ocorra uma colonização desejada. Os anticorpos restringem a imunidade fetal, combatem de forma parcialmente seletiva os grupos patogênicos e permitem que os metabolitos, constituídos principalmente por oligossacarídeos, sejam utilizados por tipos bacterianos comensais, como as Bifidobacterium. 10 CAPÍTULO 7 Relação entre intestino e sistema imune. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 77 | A forma de nascimento também é um fator que modifica os elementos pioneiros de colonização. Crianças nascidas por parto vaginal adquirem microbiota intestinal que lembra a microbiota da vagina materna, que inclui Lactobacillus, Prevotella, Atopobium, Sneathia spp, dentre outros tipos bacterioides 14. Por outro lado, bebês nascidos de cesariana apresentam microbiota intestinal parecida com o microbioma da pele, que inclui Staphylococcus spp., Corynebacterium e Propionibacterium spp. 2,14 Essas diferenças, no entanto, tendem a diminuir após os 3 meses de idade, atingindo uma equidade que independe do nascimento em torno do nono mês. 4,19 A maior transformação da microbiota ocorre nos primeiros anos de vida, se estabilizando em seguida. Fatores como idade, geografia, tradições culturais, exposição ambiental e uso de medicações definem a diversidade de microbiomas existentes pelo mundo, podendo explicar a epidemiologia de diversas doenças. 3 O período de estabilização do microbioma finaliza em torno do terceiro ano de idade. [20,21,22]. Apesar de curto, diversos estudos apontam que as consequências imunológicas desse período podem predispor ou evitar diversas alterações ao longo da vida, principalmente doenças auto-imunes e imunomediadas. [20,21,22,23] Um agrupamento bacteriano adequado é capaz de prevenir o desenvolvimento de algumas enfermidades, como doenças inflamatórias intestinais e enterocolite necrosante. [1,12, 28] Além disso, novos estudos, ainda sem consenso e sem fisiopatologia totalmente elucidadas, buscam relacionar a formação da microbiota intestinal com o surgimento de enfermidades na primeira infância, como asma e alergias 23, e na fase adulta, como diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade e doenças inflamatórias intestinais. 2 O sistema imunológico associado ao intestino O trato digestivo é composto por cavidade oral, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. Trata-se de um tubo oco, composto por um lúmem, circundado por quatro camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa. 4 O intestino delgado é o sítio terminal responsável pela digestão dos alimentos, absorção de nutrientes e secreção endócrina. Com comprimento de aproximadamente 5 metros, é dividido em três segmentos: duodeno, jejuno e íleo. Estes apresentam muitas características em comum, que podem ser discutidas em conjunto. [4] A parede do intestino delgado é composta de vilos - projeções alongadas formadas pelo epitélio e lâmina própria. Seu epitélio de revestimento é do tipo cilíndrico simples, formado por enterócitos e células caliciformes. Abaixo dos vilos estão as criptas, que são formadas, também, por células absortivas (enterócitos) e células caliciformes, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 78 | além de células enteroendócrinas, células de Paneth e células tronco. Na parte proximal do trato, linfócitos estão comumentes dispersos na junção oclusiva, e abaixo dela, plasmócitos secretores de IgA e macrófagos. Já na porção distal, estão as células M. [4] As células de Paneth são células exócrinas granulares. Seus grânulos contêm lisozima e defensina, enzimas de função antibacteriana que permeabilizam e digerem a parede de bactérias, atuando assim, no controle da microbiota intestinal. [4] As Células microfold (células M) são células epiteliais que, na placa de Peyer, localizadas no íleo, recobrem os folículos linfoides. Essas células possuem invaginações em sua base que acomodam linfócitos e APCs (células apresentadoras de antígenos), como os macrófagos. Células M podem captarantígenos por endocitose e transportá-los até os macrófagos e células linfoides, as quais migram para outros compartimentos do sistema linfoide (linfonodos), onde acontece a resposta contra estes antígenos. A lâmina basal sob as células M é descontínua a fim de facilitar o trânsito de células entre tecido conjuntivo e as células M. [4] Na mucosa e na submucosa do trato gastrintestinal encontram-se células imunes como linfócitos B e T, macrófagos, células apresentadoras de antígenos (incluindo células dendríticas e linfócitos específicos). Estas formam o tecido linfoide associado ao trato digestivo (GALT, do inglês gut-associated lymphoid tissue), que é a maior massa de tecido linfoide do corpo. O GALT é designado tanto para proteger de doenças infecciosas, quanto para evocar tolerância imunológica. [4, 31,32] Ainda, correlacionando com o sistema imune, outros fatores, como a microbiota comensal presente na luz do intestino, desempenham importante função na manutenção dessa homeostasia. Estima-se que mais de 500 espécies de bactérias, totalizando cerca de 1014, residam no intestino de mamíferos. Chega a ser cerca de 10 vezes mais o número de células no corpo humano. Assim sendo, essa abundância de microrganismos desempenha importantes funções, dentre elas a degradação de componentes da nossa dieta que nossas próprias células não podem digerir e a competição com microrganismos potencialmente patogênicos, prevenindo de infecções pelos mesmos. [5, 11] Mesmo que esses microrganismos comensais sejam benéficos quando contidos no lúmen intestinal, ao cruzar a barreira da mucosa – entrando em contato com o tecido subjacente ou circulação – podem ser potencialmente letais, particularmente em indivíduos imunocomprometidos. [5, 30] Por outro lado, organismos patogênicos podem ser introduzidos de diversas formas, como por ingestão em alimento ou água Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 79 | contaminados. Bactérias, vírus, protozoários e parasitas helmintos, podem causar diversas doenças, mesmo sem invadir o epitélio e mesmo representando uma pequena fração de microrganismos no lúmen. [5, 30] Para vencer esses desafios, foi desenvolvido em processo evolutivo um conjunto complexo de estratégias de reconhecimento imune inato e adaptativo e mecanismos efetores para a eliminação desses patógenos, mesmo em situações discretas e numericamente irrelevantes [5]. Alguns deles já foram citados, porém devem ser melhor descritos nos tópicos seguintes: Microbiota e Imunidade Inata A imunidade inata é mediada, em parte, por barreiras físicas e químicas fornecidas por celulas do epitélio e suas secreções. As células epiteliais adjacentes são unidas por proteínas (zônula occludens 1 e claudinas) nas chamadas junções oclusivas. Estas, bloqueiam a entrada de microrganismos pelos espaços intercelulares até a lâmina própria. Além disso, conforme descrito, as células epiteliais produzem substâncias antimicrobianas. A resposta inflamatória inata pode ser mediada pelas próprias células epiteliais da mucosa, células dendríticas e macrófagos. A maioria dessas respostas é induzida pela interação entre receptores e ligantes associados a patógenos. [5, 7, 9] Diversas proteínas extensamente glicosiladas, as chamadas mucinas (MUC2, MUC5 e MUC6), formam uma barreira física viscosa responsável por evitar o contato entre microrganismos e células epiteliais. Essa barreira é formada por um gel hidratado que pode ser dividido em duas camadas, sendo a mais externa menos densa e colonizada por bactérias e a mais interna, ligada ao epitélio, mais densa e livre de bactérias. [5] Essa barreira mucosa sofre constantemente renovação e alterações químicas, a depender do estímulo, que pode aumentar sua função defensiva contra os patógenos. Podem ser citados, dentre estes estímulos, citocinas (IL-1, IL-4, IL-6, IL-9, IL-13, fator de necrose tumoral [TNF] e interferons do tipo 1), produtos de neutrófilos (tais como elastase) e proteínas de adesão microbiana. [5, 28] As defensinas, peptídeos que interagem com a membrana fosfolipídica dos patógenos, exercem efeito tóxico e letal sobre esses microrganismos. Por isso, a deficiência de defensina está associada a doenças inflamatórias intestinais, sendo muito associada à Doença de Crohn. No intestino delgado, destacam-se as α-defensinas, HD5 e HD6, produzidas por células de Paneth. No cólon, as β-defensinas são produzidas pelos enterócitos, sendo algumas em resposta a expressão de IL-1 ou invasão bacteriana. [5] Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 80 | Destacam-se, também, os TRLs (receptores do tipo Toll) e NLRs (receptores do tipo NOD citoplasmáticos). Esses receptores reconhecem padrões moleculares relacionados à patógenos (PAMPs) que são produzidos pelos microorganismos e que induzem a resposta inflamatória. Bactérias comensais podem expressar conjuntos de PAMPs similares ao expresso por bactérias patogênicas. Por esse motivo, foi desenvolvido um sistema extremamente complexo e rigoroso para controlar a resposta pró- inflamatória induzida por TRLs a bactérias comensais. A variedade de TLRs (TLRs 2, 4, 5, 6, 7 e 9) é distribuída em distintas regiões do intestino. A sinalização de alguns TLRs aumenta a resistência das junções de oclusão e a motilidade e proliferação do epitélio intestinal, aumentando a função de barreira, mas não a inflamação. Esses receptores estão localizados em áreas estratégicas, geralmente na camada basolateral das células epiteliais, sendo acessíveis apenas a bactérias que atravessarem a barreira. Os NLRs (por exemplo, NAIP e IPAF-1) são expressos no citoplasma de células do epitélio intestinal, ativando as respostas inflamatórias apenas quando as bactérias patogênicas ou o produto de bactérias patogênicas adentrarem ao citoplasma celular. A secreção de citocinas anti-inflamatórias por macrófagos, como a IL- 10, pode reduzir a resposta inflamatória contra bactérias comensais. [5,6,8,28]. Microbiota e Imunidade Adaptativa No intestino, o sistema imunológico adaptativo possui características diferentes de outros tecidos. [5,6] Em 200 milhões de anos de evolução, os mamíferos foram dotados de um sistema com uma série de mecanismos de proteção que permitem uma existência mutualística entre hospedeiro e microbiota. [9] A imunidade humoral regula a homeostase dos microrganismos no lúmen, evitando que organismos comensais e patógenos colonizem e invadam a barreira epitelial da mucosa. Isso é possível através, principalmente, de anticorpos IgA diméricos em associação com uma proteína epitelial transmembrana conhecida como receptor polimérico de Ig (pIgR). O IgA dimérico tem um diâmetro anormalmente grande em relação ao seu peso molecular, devido à combinação de duas moléculas de Imunoglobulinas. Isso pode limitar a penetração de micróbios revestidos por IgA através do epitélio da superfície intestinal ou diminuir a permeabilidade paracelular efetiva dos componentes de decomposição bacteriana ligados. [5,7,8,9] A imunidade celular é mediada principalmente por células TH17, principais células efetoras que estão presentes na mucosa intestinal. A ativação de células T regulatórias no intestino, quando comparada a outros locais do corpo, é muito maior. Isso porque esse sistema imune deve prevenir Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 81 | potenciais respostas inflamatórias nocivas que podem comprometer a barreira da mucosa. Sendo assim, há uma maior tolerância aos antígenos alimentares e de outros microorganismos. [5,6,8,28] Disbiose e doenças alérgicas Houve um aumento considerável na prevalência de alergia alimentar mediadapor IgE nas últimas décadas, especialmente entre bebês e crianças pequenas. Há evidências crescentes que associam alterações da composição microbiana intestinal durante a primeira infância ao desenvolvimento de doenças atópicas, inclusive respiratórias. [15,16] A imunoglobulina E é um anticorpo produzido em resposta à alergia, sendo essa IgE específica, parte integrante da patogênese dos distúrbios alérgicos. A IgE também é produzida localmente no intestino como resultado da estimulação de patógenos alimentares e serve como um indicador de sensibilização alimentar. [15] Estudos demonstraram a relação entre disbiose intestinal e respostas alérgicas mediadas por IgE para eczema, rinite alérgica e asma, ainda na primeira infância. [15,17,18] Sabe-se que a composição da microbiota gastrointestinal fornece uma fonte inicial e importante de estimulação imune e parece ser um pré-requisito para o desenvolvimento de tolerância oral. Apesar da maioria dos estudos ter indicado uma associação entre a composição da microbiota intestinal e sintomas atópicos, ainda não foram identificados micróbios prejudiciais ou protetores específicos, sendo uma área que necessita de mais estudo. [15] O Sistema Imune na homeostase A mucosa intestinal possui sua defesa resultante de diversos fatores relacionados à imunidade adaptativa sistêmica, à defesa inata local e seus eventos inflamatórios, e às respostas citoprotetoras geradas pelos próprios enterócitos (fig. 1) [24]. O trato intestinal representa um desafio único para o sistema imunológico pois lida com o trânsito de uma gama diversa de antígenos e subprodutos do metabolismo bacteriano. [26] Células epiteliais participam diretamente da vigilância e do direcionamento das respostas imunológicas intestinais. Isso ocorre pela presença de inúmeros padrões de receptors, incluindo os Toll-like 5 (TLR5), TLR1, TLR2, TLR3, TLR9 e a Proteína 2 de Domínio de Oligomerização de Nucleotídeos (NOD2), bem como produção de fatores quimiotáticos para atração de células mieloides e linfoides em sítios específicos durante o processo de inflamação. O tecido mucoso possui, abaixo de sua lâmina própria, uma população nativa de células linfóides que Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 82 | exercem tanto a função protetiva quanto a disfunção danosa encontrada na fisiopatologia de muitas doenças gastrointestinais. As células dendriticas que residem na lâmina própria regulam se a resposta será inflamatória ou anti-inflamatória com base nos antígenos circulantes. [25] Figura 1: Imagem adaptada de [24]. Defeitos na tolerância da mucosa ocorrem nas Doenças Inflamatórias Intestinais, como na Doença de Crohn e na Retocolite Ulcerativa. [26] Não se sabe detalhadamente como esse processo ocorre, mas estudos apontam para uma resposta exacerbada do hospedeiro voltada para agentes comuns e não patogênicos. [29] Microbiota na homeostase O hospedeiro fornece um ambiente rico em nutrientes e as bactérias podem conferir importantes benefícios à saúde do hospedeiro humano. Provavelmente a função mais importante da microbiota intestinal é a chamada resistência à colonização. As bactérias nativas não apenas competem por nutrientes e locais de adesão, mas também produzem substâncias antibacterianas (bacteriocinas) que atingem gêneros diferentes, dificultando a colonização de bactérias potencialmente patogênicas. Outras funções importantes são a fermentação de resíduos alimentares não digeríveis e muco endógeno, recuperação de energia, produção de vitamina K e absorção de íons [17]. Além disso, ocorre a síntese de graxos de cadeia Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 83 | curta, polissacarídeo A, metabólitos de a- galactosilceramida e triptofano, que podem induzir respostas de interleucina-22, Reg3c, IgA e interleucina-17. [25,26,27] Como a disbiose da mucosa intestinal altera o sistema imunológico. Classicamente as Doenças Inflamatórias Intestinais foram relacionadas com o aumento de citocinas pró inflamatórios com destaque para o Fator de Necrose Tumoral (TNF) e o Interferon-Y (IFNy). Recentemente foram encontradas novas relações com a patogênese dessas enfermidades, como a presença de uma nova população de células T nomeadas T helper 17(TH17), que seria responsável pela produção da interleucina 17 (IL-17) e seria retroalimentada pela IL-23. [28] Figura 2: Imagem adaptada [28]. REFERÊNCIAS 1. Shi N, Li N, Duan X, Niu H. Interaction between the gut microbiome and mucosal immune system. 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Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 86 | Nayra Cristina da Silva Melo nayra-melo@hotmail.com Giovanna Cabrini Franco Martins Ana Paula Silva Servato Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser Aparecida de Goiânia – GO. Laura Macruz David Amaral Capual Matheus Campoy Tomazella Nayra Cristina da Silva Melo A definição de disbiose intestinal compreende de forma temporária algumas disfunções associadas a condições externas que causam um desequilíbrio na microbiota normal do intestino. Dentre as causas estão a má alimentação, uso exagerado de antibióticos, de antiinflamórios hormonais e não-hormonais, laxantes, doenças de base como síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), alterações hepáticas e pancreáticas, diverticulose, consumo exacerbado de bebidas alcoólicas, tabagismo de longa data. Outros fatores incluem idade avançada, estresse, estado imunológico, pH intestinal, entre outros. (1,2) A disbiose é um grave problema que desestrutura não só as funções intestinais, mas todo o organismo. Dessa forma, deve ser investigada criteriosamente e bem tratada. O diagnóstico é definido através de alguns pontos essenciais. Deve-se investigar a história do adoecimento, relacionar com sinais e sintomas e se necessário utilizar exames auxiliares para o diagnóstico. Anamnese Durante o processo diagnóstico da disbiose intestinal é importante realizar uma anamnese criteriosa. Além da história da doença atual, em que o paciente apresenta sinais e sintomas característicos de disfunção intestinal, entre os mais relatados estão diarréia, gases, cólicas abdominais, constipação, esteatorreia e distensão abdominal, é necessário um interrogatório sintomatológico voltado para o aparelho digestivo. CAPÍTULO 8 Diagnóstico da disbiose mailto:nayra-melo@hotmail.com Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 87 | A pesquisa de alterações do aparelho digestivo pode revelar algumas condições como obstipação, constipação, diarréia, náuseas, vômitos, distensão abdominal, cólicas abdominais, gases, esteatorreia, dispepsia, eructações, pirose. Nesse momento, deve-se averiguar a consistência das fezes por meio da Escala Bristol de forma fecal uma escala de fácil entendimento para que os pacientes consigam descrever o tipo das fezes. Alguns fatores que causam disfunções imunológicas e cursam com inflamação são a alimentação rica em ácidos graxos trans, alimentos saturados e/ou araquidônico. Alergias alimentares são necessárias de serem investigadas, pois frequentemente algumas alergias estão associadas com o desenvolvimento de disbiose como a intolerância ao glúten e consumo de carboidratos não digeríveis Investigar processos de ingestão, digestão, absorção, transporte e excreção de nutrientes. Quanto a ingestão, fazer um levantamento da quantidade e qualidade de alimentos ingeridos, a frequência com que tais alimentos são consumidos e se há monotonia alimentar. Avaliando assim, o excesso de alimentos gordurosos, ricos em açucares, sódio, se existe carência nutricional de vitaminas, fibras e minerais. Sobre a digestão, deve-se investigar condições que interferem na quebra alimentar como a mastigação, produção diminuída de acido gástrico, que pode ser causado por uso de medicamentos como o omeprazol, se as enzimas digestivas estão cumprindo o seu papel corretamente. Achados que indicam má digestão são gases, dispepsia, eructações, distensão abdominal. Na absorção, alguns fatores podem interferir na absorção de nutrientes, a mastigação inadequada pode não fracionar corretamente os alimentos dificultando a ação de enzimas gástricas; a ingestão de líquidos juntamente com as refeições causa diluição do sulco gástrico que é necessário para a ação das enzimas digestivas, absorção de nutrientes e destruição de bactérias nocivas ao aparelho gastrointestinal. Com isso, a carência de nutrientes e de proteínas pode afetar no transporte de proteínas. Durante a excreção, os produtos resultantes do metabolismo que não serão utilizados pelo organismo devem ser excretados, pois algumas substâncias quando acumuladas podem causar danos orgânicos, quanto mais substâncias desconhecidas forem absorvidas pelo organismo maior a possibilidade de intoxicação orgânica e desequilíbrios funcionais. São de importante investigação a excreção por via urinária, fecal, trato respiratório e pele que serão melhor discutidos adiante. (6 ,9 ,10, 11, 12) Avaliar a saúde mental do indivíduo, um dos principais fatores predisponentes para disbiose, estresse mental, ansiedade, depressão, síndrome do pânico, hiperatividade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, características da personalidade e sempre relacionar com Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 88 | convívio familiar e profissional, condições e tipo de trabalho. (6, 9 ,10, 11, 12) Hábitos de vida importantes como tabagismo, alcoolismo, tipo de alimentação (pobre em fibras, rica em carboidratos, gorduras e sódio) e sedentarismo são importantes e podem ser associados com a disbiose. Outro componente essencial na investigação é o uso crônico de medicamentos. Devem ser listados todos os medicamentos e posologias que o paciente possausar. Sendo um importante fator de risco o uso de antibióticos, antiinflamatórios hormonais e não-hormonais, inibidores da bomba de prótons e laxativos. (6, 9, 10, 11, 12) Questionar se o paciente tem infecções de repetição pode ajudar no diagnóstico. Infecções do trato urinário, candidíase e infecções intestinais de repetição podem afetar o microbioma intestinal. (6 ,9 ,10, 11, 12) Faz-se necessário também questionar sobre o nascimento. No nascido a termo (Idade gestacional de 37 semanas a 41 semanas e 6 dias), o lactente tem o intestino estéril e começa a ser colonizado pelas bactérias provenientes da mãe e do meio ambiente durante os primeiros dias de vida. A MICROBIOTA bacteriana infantil evolui para a forma adulta a partir dos 2 anos de idade. (6 ,9 ,10, 11, 12) Manifestações clínicas Na maioria dos casos, os pacientes afetados por disbiose intestinal cursam com sinais e sintomas importantes que devem ser relacionados com o distúrbio quando existem os fatores de risco associados e que levam a suspeitar de disbiose. Um ponto muito importante no processo diagnóstico da disbiose intestinal é apurar se realmente existe alteração na microbiota intestinal, na permeabilidade intestinal e processos inflamatórios. Para isso, é preciso preencher cinco critérios para evidenciar um intestino saudável e descartar alterações intestinais presentes na disbiose. Percebe-se, que os critérios que classificam um intestino saudável (BISCHOFF, 2011) têm grande relevância na conservação da integridade da barreira intestinal e em sua composição normal da microbiota. Os critérios estão descritos na tabela 1. (3,4) Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 89 | Tabela 1. Critérios para um Trato Gastrointestinal saudável (Adaptada) Critérios para TGI saudável Sinais de saúde gastrointestinal 1. Digestão e absorção de alimentos eficazes - Estado nutricional normal e efetiva absorção de alimentos, água e minerais. - Movimento intestinal regular, trânsito normal e sem dor abdominal. - Consistência normal das fezes e raras náuseas, vômitos, diarréia, constipação e inchaço. 2. Ausência de doença gastrointestinal - Nenhuma doença péptica ácida, refluxo gastroesofágico ou outra doença inflamatória gástrica. - Ausência de deficiências enzimáticas ou intolerâncias a carboidratos. - Ausência de doença inflamatória intestinal, doença celíaca ou outro estado inflamatório. - Ausência de câncer colorretal ou outro gastrointestinal. 3. Microbiota intestinal normal e estável - Ausência de supercrescimento bacteriano. - Composição normal e vitalidade do microbioma intestinal. - Nenhuma infecção gastrointestinal ou diarréia associada a antibióticos. 4. Estado imune eficaz - Função de barreira gastrointestinal eficaz, produção normal de muco e sem aumento de translocação bacteriana. - Níveis normais de IgA, número e atividade normal de células imunes. - Tolerância imunológica e ausência de alergia ou hipersensibilidade de mucosa. 5. Estado de bem-estar - Qualidade de vida normal. - “Qi (ch’i)”, ou sensação intestinal positva. - Produção equilibrada de serotonina e função normal do sistema nervoso entérico. Legenda: TGI: trato gastrointestinal; IgA: imunoglobulina A; Qi: ideograma chinês. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 90 | Após aplicar os critérios para um intestino saudável se faz necessário instituir uma anamnese completa, cuidadosa e efetiva para identificar sinais e sintomas relacionados à alterações da microbiota, presentes na disbiose intestinal. A investigação quanto ao hábito alimentar, hábitos de vida e saúde mental são importantes. (3) As manifestações clínicas de disbiose intestinal são caracterizadas por diarréia, distensão abdominal, cólicas, gases e constipação. Tais sintomas correspondem à síndrome disabsortiva. Algumas alterações encontradas na síndrome de mal-absorção intestinal relacionada com os sintomas gerados por ela (tabela 2) podem ser encontrados, também, na disbiose intestinal. Faz-se importante também, relacionar a história da evolução dos sintomas intestinais da doença com alteração do humor, depressão e fadiga. (5,6) Tabela 2. Relação entre alterações e sintomas da síndrome disabsortiva. Alterações Sintomas Deficiência Dissacaridase ou Infecção Intestinal Diarréia e borborigmos Aumento na produção de H2/CO2/CH4 Distensão abdominal, cólicas e flatulência Má absorção de nutrientes Perda de peso Deficiência de Vitamina D, cálcio e magnésio Tetania, parestesias e fraturas patológicas Deficiência de Vitamina C e K Sangramentos/ Equimoses Deficiência do complexo B, ácido Fólico e ferro Glossite/quelite Hipoalbuminemia Edema Hipoproteinemia, deficiência de Vitamina E Amenorréia e diminuição da libido Deficiência de vitamina A Nictalopia Deficiência de ácidos graxos essenciais e zinco Acrodermite Pancreatopatias Fezes alteradas: Esteatorreia (fezes gordurosas, brilhantes, acinzentadas, odor rançoso), fezes aquosas Anemia Fraqueza e fadiga Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 91 | Ao exame físico é importante realizar o exame completo do abdome, nele será observado ruídos hidroaéreos aumentados, hipertimpanismo à percussão e dor à palpação. A dor é referida principalmente em cólon ascendente. (7) Exames laboratoriais A confirmação diagnóstica de disbiose intestinal pode ser feita através de testes laboratoriais. Inicialmente devem ser solicitados testes básicos, são eles: - Hemograma - VHS (velocidade de hemossedimentação) - Ferro sérico, Ferritina, vitamina B12, ácido fólico - Perfil lipídico - Cálcio e Magnésio - TPA - Proteinemia - EPF (exame parasitológico de fezes) - pH fecal: o pH fecal deve estar entre 6,0 e 7,0. Valores abaixo de 5,5 indicam mal- absorção intestinal e fermentação dos hidratos de carbono. Um estudo realizado nos Estados Unidos da America evidenciou, na cultura bacteriana de fezes, que a Shigella e a Escherichia coli está entre os principais grupos que contribuem para disbiose intestinal. (8) Os exames laboratoriais solicitados em um primeiro momento auxiliam ou descartam o diagnóstico de disbiose. Tais exames, evidenciam a síndrome disabsortiva e a partir dos resultados deve-se dar seguimento em outros exames auxiliares como o coprológico de funcional, Coprológico funcional O coprológico funcional ou prova coprológica funcional é um exame sistemático das fezes, essencial para compreender o processo patológico que será investigado. Este exame visualiza vários aspectos da fisiopatologia digestiva como o trânsito intestinal, o aspecto da MICROBIOTA intestinal, o estado da parede intestinal e se há disfunções secretoras. Contudo, este exame deve ser solicitados após uma investigação com exames mais simples quando o exame parasitológico de fezes é negativo, a pesquisa de sangue humano oculto é negativo e coprocultura negativa para microorganismos enteropatogênicos. (13,14) Para a realização do exame é indicado uma dieta prévia, o regime de prova. O paciente deverá, por 3 a 5 dias, no mínimo por 3 dias, seguir uma alimentação restrita descrita por Schmidt e Strasburger modificado (Tabela 2). É necessário prolongar os dias de regime para 5 ou 6 dias quando o paciente sofre de constipação intestinal. (13,14) Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 92 | Tabela 2. Descrição do regime de prova para realização do Coprológico funcional No quarto dia de regime, deve ser coletado todo material fecal da primeira evacuação do dia, em recipiente próprio. Com o cuidado para que não haja contaminação com urina ou água.Na análise laboratorial são analisados: Regime de prova para realização do Coprológico funcional Café da manhã - 1 copo de leite, com ou sem café e açúcar - 40 a 60 gramas de pão torrado - 20 gramas de manteiga Almoço - Arroz e purê de batatas à vontade ou 2 batatas cozidas e picadas - 1 bife de coxão duro (100-150gramas), mal-passado (sangrante) - 1 colher de sopa de caldo de feijão - 1 banana - 1 fatia de queijo minas Lanche da Tarde - Opcional, podendo ser igual ao café da manhã Jantar - Arroz e purê de batatas à vontade ou 2 batatas cozidas e picadas - 1 bife de coxão duro (100-150gramas), mal passado (sangrante) - Sopa de macarrão com cenoura cozida e picada em rodelas ou pedaços pequenos - 1 ovo cozido adicionado na sopa - 1 banana ou goiabada - 1 fatia de queijo minas Líquidos - Apenas água sem gás, a vontade - Não ingerir bebidas alcoólicas ou gasosas Outros - Não usar medicamentos por via oral - Não usar laxantes Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 93 | 1. Características gerais Primeiramente, são analisadas características gerais com grau de hidratação, forma, odor, cor e pH. (13,14) 2. Exame macroscópico São avaliados se há presença de restos alimentares como o tecido conjuntivo da carne crua, fragmentos de carne, fragmentos de batata e cenoura. São sinais sugestivos de digestão gástrica insuficiente que pode ocorrer por uma hipossecreção ou pelo esvaziamento rápido do sulco gástrico. (13,14) 3. Exame microscópico Parte do exame que permite um conhecimento mais profundo do aparelho digestivo. Durante a análise, são pesquisados se há presença de fibras musculares bem digeridas ou mal digeridas, celulose digerível, amido, gorduras neutras, ácidos grasxos, sabões, cristais, MICROBIOTA iodófila, bacilos filiformes, leucócitos, hemácias e leveduras. Tais achados dizem se há aceleração do trânsito intestinal, excesso de fermentação ou putrefação, entre outras. (13,14) 4. Reações químicas Após a análise micro e macroscópica, o exame químico é essencial uma vez que, existem várias substâncias dissolvidas que são visualizadas por meio de reações químicas. São elas, pigmentos biliares (estercobilina + bilirrubina), hemoglobina, albumina (integra ou degradada), corpos protéicos, fermentos. Se presentes, podem revelar doenças ocultas com icterícia oculta e sangramento oculto. (13,14) 5. Dosagens químicas Para avaliar a MICROBIOTA intestinal são dosados os ácidos orgânicos totais e o amoníaco. (13,14) Com o término da análise é possível evidenciar algumas síndromes coprológicas causadas por distúrbios motores, insuficiências digestivas, síndromes de lesões da mucosa e microbismos. (13,14) Teste dos gases expirados É um teste diagnóstico não invasivo, simples de ser realizado e tem precisão diagnóstica alta. Através dele, é possível avaliar e classificar o paciente em algumas situações, se há ou não presença de disbiose, supercrescimento bacteriano no intestino delgado, intolerância, má-absorção ou sensibilidade alimentar. São analisados 4 gases o hidrogênio (H2), o metano (CH4), o sulfeto de hidrogênio (H2S) e o acetato de metila. (15) A importância desse teste consiste na determinação se a MICROBIOTA da disbiose produz H2, CH4, H2S ou acetato de metila. Evidencia o tipo de disbiose presente, a provável localização (estomago, duodeno, intestino delgado, cólon ou se há associação). Revela também, se o quadro é grave pela Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 94 | presença de gases em maior quantidade que podem causar maior dano. Quando a avaliação é feita com os 4 gases os resultados falsos-negativos são baixos, ao contrário, o teste com apenas 1 gás aumenta os resultados falsos-negativos. (15) As amostras de gás expirado são colhidas através de um aparelho a cada 20 minutos, com duração total de 2 a 3 horas. São recomendados alguns cuidados antes da realização do teste como evitar medicamentos e suplementos que não são de uso diário obrigatório, bebidas alcoólicas, alimentos de difícil digestão, o tempo de jejum antes do teste é de 12 horas. (15) Indican O indican é resultado da decomposição do triptofano intestinal, um aminoácido presente em alimentos. Em condições normais o triptofano é convertido em indol que é convertido em indican pela ação das bactérias intestinais, sendo normal ser encontrado em traços da urina. A absorção intestinal do indican é maior quando há constipação ou aumento da putrefação intestinal. Dessa forma, o nível de indican está aumentado na presença de enterites, obstrução intestinal, íleo paralítico e neoplasias gastrointestinais. A elevação do indican também é evidenciado em situações de decomposição bacteriana de proteínas corpóreas (septicemias e grangrenas). Esse aumento na concentração de indican confirma o diagnóstico de disbiose intestinal. Porém, é um exame pouco utilizado por ter um valor alto. (16) O indican é realizado a partir de uma amostra de urina, a primeira da manhã ou concentrada por 4 horas. O resultado é obtido em cerca de 10 dias. Exame do microbioma A análise da microbiota se dá por várias técnicas q evoluíram ao logo do tempo, anteriormente feito por cultura em placas e sendo hoje a mais utilizada a analise de amostra fecal. Alguns estudos se destacam na avaliação das amostras, os chamados sequenciamento de nova geração são o “16s RNA” e o “Shotgun – sequenciamento”. Ambas as técnicas irão sequenciar o RNA das bactérias presentes na microbiota intestinal. O que diferencia tais estudos é o alcance do exame, o 16s RNA identifica o gênero da bactéria e o Shotgun – sequenciameto além de identificar o gênero mostra também a espécie da bactéria. (17) A técnica 16s RNA, subunidade menor do RNA ribossomal, sendo o principal alvo para análise das comunidades bacterianas. Em resumo, o 16s RNA, possui regiões com sequências de bases de nucleotídeos que são altamente conservados quando estão no domínio bacteriano, intercaladas por regiões variáveis e altamente variáveis que são denominadas de V1 a V9. A região V4 é a mais utilizada para análise de microbioma por apresentar perfil taxonômico das comunidades microbianas, sendo assim, mais Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 95 | fiel quando se compara com a análise da sequência completa do gene 16 rRNA. Dessa forma, é possível vários estudos de caracterização filogenética de grupos e de espécies de bactérias. (18) O shotgun – sequenciamento utiliza o sequenciamento genômico completo associado à análise de bioinformática avançada. Identifica os perfis taxonômicos funcionais e as potenciais comunidades microbianas conhecidas e desconhecidas, não há necessidade de cultura em laboratório, apesar de algumas amostras precisarem ser exploradas. Tal técnica é abrangente e assertiva, mas ainda não é muito explorada por estudos. (19) Mesmo com avanços nas técnicas de sequenciamento de última geração existem limitações em aplicações clínicas e de pesquisas. Pode haver variação na qualidade e quantidade dos ácidos nucléicos dependendo do horário e do método em que a amostra foi coletada, o tipo de armazenamento e a falha na técnica de processamento. Assim, podem ser encontradas alterações na composição da microbiota que não refletem as verdadeiras mudanças. (19) Diagnóstico diferencial Algumas doenças surgem a partir do desenvolvimento da disbiose ou até mesmo podem gerar a disbiose. Quando a microbiota normal é desregulada as vitaminas ali existentes são erradicadas, as enzimas são inativadas deixando de realizar suas funções. Com a produção de toxinas por microorganismos ea ausência de mecanismo protetor intestinal, a mucosa intestinal é lesada, levando a uma absorção de nutrientes reduzida. A alergia alimentar é um diagnóstico que cursa com a disbiose intestinal por causa do “efeito exorfina”. Este efeito é resultado do aumento da permeabilidade da membrana da mucosa intestinal e pela invasão de microbiota anormal, surgindo a disbiose, o que promove uma irregularidade na quebra de peptídeos e reabsorção exacerbada de toxinas, atingindo a circulação. O efeito exorfina faz com que sejam absorvidas substâncias estranhas para o sistema imune, gerando a alergia alimentar. (2) A síndrome do intestino irritável pode ser provocada pelo acometimento da microbiota intestinal resultando em uma fermentação irregular no cólon. Isto, impede que o cólon realize suas funções habituais, o resultado dessa desrregulação são diarréias frequêntes e dores abdominais. (2) Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 96 | REFERÊNCIAS 1 Caldeira BS, Ferreira JCC. Estado nutricional e associação com o risco para disbiose. Centro universitário Toledo. Trabalho de conclusão de curso. Araçatuba. 2018 [acesso em 20 de Fevereiro 2020].27p. Disponível em: https://servicos.unitoledo.br 2 FERREIRA, G. S. Disbiose intestinal: aplicabilidade dos prebióticos e dos probióticos na recuperação e manutenção da microbiota intestinal. 2014. 33 f. Monografia (Graduação em Farmácia). Centro Universitário Luterano de Palmas, Palmas. 3 Santos MO. Atualizações sobre síndrome fúngica: saúde e doença. SBCSaúde. 2019 [acesso em: 20 de fevereiro 2020]; 1 ed: 77p. Disponível em: http://sbcsaude.org.br/ 4 Souza MLR. Probióticos e a permeabilidade intestinal. 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Disponível em: https://drkleiner.com.br/teste_dos_gases_expirados/ 16 Pesquisa INDICAN (teste de disbiose). Alvaro apoio. [acesso em: 07 de Março de 2020]. Disponível em: https://alvaroapoio.com.br/detalhe-exame?ex=INDICAN 17 Science Play, Anytime, Everywhere, Meeting de Nutrição Eficiente, 2019, Campinas. Campinas: BF Eventos; 2019. [acesso em:30 de Junho de 2020]. Disponível em: https://www.bfeventos.com.br/wp- content/uploads/2019/11/Ebook-Meeting-Nutric%CC%A7a%CC%83o-Eficiente-2019.pdf 18 Ribeiro RM. Estudo do efeito de diferentes métodos de armazenamento das amostras de Fezes para a caracterização da microbiota intestinal, por meio de sequenciamento de nova geração [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 2017 19 Tang WHW, Bäckhed F, Landmesser ULF, Hazen SL. Microbiota intestinal na saúde e doença cardiovascular, Revisão do Estado da Arte do JACC. 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Adriana Alves de Meneses Delevedove2 Mônica de Oliveira Santos 3 O ser humano é formado por um número dez vezes maior de bactérias (cerca de 10 a 100 trilhões) do que de células humanas, vivendo em harmonia. A formação da microbiota humana inicia-se no momento do parto (natural ou cesariana) em média, até os dois anos de idade, a criança atinge o pico de formação das bactérias adquiridas que seguirão até sua vida adulta19,54. A alimentação exerce um importante papel no bom funcionamento do organismo. As alterações nos hábitos alimentares, como o consumo elevado de sódio, conservantes e gorduras saturadas contribuíram para o aumento da incidência da obesidade, do diabetes e das doenças inflamatórias intestinais. Tais escolhas, quando frequentes,levam a um desequilíbrio da microbiota intestinal, influenciando na manutenção da fisiologia do trato gastrointestinal (TGI)22,50. A esse desequilíbrio da microbiota intestinal, também mediada por abuso de antibióticos, dieta inadequada e fatores emocionais, dá-se o nome de disbiose intestinal. Nesta, há alteração na composição da microbiota intestinal, com um aumento de bactérias patológicas sobre as comensais. Tal desequilíbrio prejudica o metabolismo dos nutrientes, há deficiência na produção de ácido clorídrico e provoca um quadro de hipovitaminose pela deficiência na síntese da vitamina K220,55. O principal fator de risco associado é a quebra da barreira da mucosa intestinal, condição patológica chamada de permeabilidade intestinal. Nesta, produtos como toxinas, bactérias e alimentos não digeridos ultrapassam a barreira da mucosa e atingem a corrente sanguínea, ativando o sistema imunológico. O organismo, ao interpretar tais substâncias como antígenos passam a montar uma resposta imune contra o antígeno. O constante estímulo causa um estado inflamatório crônico, o que estimula o CAPÍTULO 9 Dieta e efeitos atribuídos aos efeitos dos probióticos e prebióticos ao organismo Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 99 | desenvolvimento da obesidade, diabetes e manifestações alérgicas em pacientes suscetíveis23,40. Apesar de fatores genéticos de o hospedeiro terem certa influência na composição da microbiota intestinal, aspectos ambientais promovem um papel de prevalência e importância significativa na formação do consórcio microbiano. Os genes hospedeiros que foram encontrados para afetar a microbiota intestinal estão relacionados às preferências alimentares. Com isso, a regulação de fatores não genéticos, especialmente a dieta, é uma medida viável de prevenção e controle de doenças, como a disbiose para manter homeostase21, 56. A microbiota intestinal é um ecossistema prevalente bacteriano que reside normalmente nos intestinos do homem, possui várias funções de grade importância, destaca-se a de bloquear a presença de bactérias patogênicas que geralmente é produzido pelo desequilíbrio da microbiota. Esta é formada por bactérias benéficas, como bifidobacterias e lactobacilos, e de bactérias nocivas, como Enterobacteriaceae e Clostridium spp., além de Eubacterium spp., Fusobacterium spp., PeptoStreptococcus spp. e Ruminococcus26, 42. A disbiose tem muitos fatores causais que predispõe o aparecimento do desequilíbrio intestinal como alterações autoimunes, neurológicos e inflamatórios e distúrbios metabólicos, sendo de origem endógena e exógena e variando de momentâneos a prolongados. Dentre consequências da disbiose, destacam-se a produção de toxinas pelas bactérias patogênicas e a diminuição de absorção dos nutrientes pela destruição da microbiota intestinal24, 57. Seu tratamento é baseado na alteração nutricional, com a utilização de simbióticos, os quais são formados por prebióticos e probióticos que recuperam a microbiota intestinal atuando na prevenção de outras enfermidades crônicas como câncer, obesidade27, 43. A conduta nutricional na disbiose é feita seguindo alguns passos, com o intuito de reparar, inserir e equilibrar a microbiota intestinal. As consequências dos estados de desequilíbrio da microbiota intestinal e suas funções fisiológicas refletem no comprometimento local e sistêmico do indivíduo, através da exposição a vários fatores ambientais, incluindo dieta, toxinas, medicamentos e patógenos5, 58. A dietoterapia para a prevenção e o tratamento da disbiose passa, principalmente, por uma reeducação alimentar, evitando-se o excesso do consumo das carnes vermelhas e de alimentos processados7. A ingestão de grandes quantidades e lactose e glúten em particular por indivíduos com intolerância, pode provocar flatulência e diarreia25. A dieta é um fator modificável e, consequentemente, é uma abordagem terapêutica muito atraente para modular a microbiota intestinal. Vários alimentos são propostos atualmente, mas uma dieta Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 100 | adequada a todos os indivíduos é impossível, devido a variação de cada biótipo. Uma abordagem baseada na dieta para modular a microbiota deve considerar o efeito de longo prazo dietas. Entre as intervenções dietéticas, um regime alimentar com baixo conteúdo oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis (FODMAPs) demonstrou reduzir sintomas gastrointestinais em pacientes com alterações na microbiota intestinal28,44. As dietas mediterrânea e atlântica são apresentadas como protetoras de um bom estado de saúde. A dieta mediterrânea é uma variedade de comportamentos alimentares habituais seguidos por pessoas de países contíguos ao Mar Mediterrâneo. A dieta atlântica tem sido relacionada à saúde metabólica e menor mortalidade por doenças coronárias e alguns tipos de câncer. A dieta atlântica inclui alguns elementos essenciais, como o complexo de vitamina B, ácidos graxos: ômega 3 e 6 e iodo, que podem trazer benefícios à saúde dos consumidores na região atlântica. A dieta tem um imediato impacto na composição da microbiota33,59. Os carboidratos não digeríveis são fermentado pela microbiota sacarolítica intestinal, produzindo assim SCFAs. Para aumentar a fermentação bacteriana e a produção de SCFAs, o ajuste da dieta é muito atraente e estratégia terapêutica segura. Além disso, ao adotar uma abordagem alimentar, a contribuição de micronutrientes deve ser considerada um fator importante que influencia a composição da microbiota intestinal29, 46. É importante consumir alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos e aditivos químicos, tais como glutamato, sulfitos e nitratos. Para reinocular e modular a microbiota intestinal utiliza-se os probióticos e prebióticos. Os Lactobacillus são importantes para colonizar principalmente o intestino delgado e o gênero Bifidubacterium para albergar o intestino grosso8, 22. A dieta não irritativa refere-se à exclusão de frituras, café, e alimentos industrializados e a moderação do consumo de carne bovina. Em concomitância com a dieta, utiliza-se a suplementação de probióticos e prebióticos. Também dão usados nutrientes importantes para o reparo da mucosa intestinal, como o zinco, ácido fólico, vitamina A, D e os polifenóis. Constatam-se benefícios na adoção de uma dieta não irritativa, isenta de frituras, refrigerantes e alimentos industrializados. Sendo recomendada a ingestão hídrica sozinha ou associar com hortelã, gengibre, canela em pau, cravo, rodelas de limão, ou laranja2, 47. A inclusão de fibras na dieta alimentar é outro fator importante, sendo agregado aos oligossacarídeos e outros carboidratos não- digeríveis. Existe uma promoção da função intestinal, concedido as ações da fibra alimentar o que leva há um maior volume da massa fecal, e da frequência de evacuação, promovendo um melhor trânsito intestinal. A ingestão de fibra alimentar também está associada a riscos reduzidos e à melhora de Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 101 | uma série de doenças, como inflamação e infecção a distúrbios metabólicos, bem como aumento da abundância de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (SCFA)30,24. Inversamente, ingestão insuficiente de fibra alimentar faz com que a microbiota intestinal utilize fontes alternativas de nutrientes, como a barreira ao muco rico em glicoproteínas com isso o epitélio intestinal do hospedeiro torna-se mais vulnerável a patógenos. Além de a fibra alimentar, outros alimentos saudáveis têm demonstrado efeitos benéficos no microbiota intestinal32, 37. A ingestãode óleo de peixe que contém muitos ácidos graxos poliinsaturados, como o ômega-3 é positiva, pois esta associada ao aumento da diversidade de espécies da microbiota intestinal e a elevação da produção do metabólito microbiano N ‐ carbamilglutamato, este tem associação com a redução do estresse oxidativo31, 49. O Kefir, uma bebida composta de leite fermentado que se traduz na associação de leveduras e bactérias, também tem sido utilizado no tratamento de pacientes portadores de disbiose, uma vez que contribui para a redução dos níveis séricos de glicose e de colesterol LDL. É rico em vitaminas do complexo B, vitaminas D, E e K, além de minerais como fósforo, cálcio, aminoácidos essenciais e ácido fólico. Algumas pesquisas relatam presença também de cobre, zinco, magnésio, potássio e manganês34, 39. A banana também é reconhecidamente como um alimento benéfico para a saúde intestinal, especialmente quando verde e cozida, pois apresenta amido resistente, o qual está associado a múltiplos benefícios a saúde intestinal. Um de seus derivados, a biomassa de banana verde auxilia no controle de glicemia, colesterol e ajuda no tratamento de distúrbios intestinais. Acredita-se que esse alimento, promova benefícios na microbiota intestinal, modificando a microMICROBIOTA do cólon e aumentando a excreção fecal de nitrogênio. Tal ação, reduz de maneira importante o risco de câncer de cólon37, 52. PROBIÓTICOS A evidência de que existiam bactérias que exerciam um papel benéfico para a saúde surgiu no início do século XX. Posteriormente, nasceu à designação probiótico, a qual deriva do grego e significa “para a vida”. O termo foi introduzido pela primeira vez por Lilly e Stillwell em 1965, referindo-se às substâncias secretadas por um microrganismo, as quais estimulavam o crescimento de outros. Atualmente, o conceito é ligeiramente diferente, sendo definido como microrganismos vivos que contribuem para o equilíbrio da MICROBIOTA comensal entéricos, os quais quando são administrados nas quantidades adequadas, exercem um efeito benéfico na saúde do hospedeiro25, 32. Nos últimos anos, graças à sua segurança e eficácia, os probióticos foram incluídos não apenas em produtos lácteos, mas também em alimentos não derivados do leite, como sucos de frutas e cereais. Vários Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 102 | estudos recentes se concentraram na utilização de probióticos para prevenir antibióticos associados diarreia, limitar o uso de antibióticos e, consequentemente, reduzir a disseminação de estirpes40. Os probióticos são amplamente utilizados como suplementos dietéticos para um contributo nutritivo adicional, ao deixar a digestão e absorção mais eficientes e restabelecer o equilíbrio intestinal ao hospedeiro. Entre os probióticos mais usados estão as bactérias lactoacidófilas dos géneros Lactobacillus e Bifidobacterium, e uma levedura não patogénica, a Saccharomyces boulardii6, 24. Os probióticos podem ser usados para prevenir o aparecimento de disbiose quando o paciente é exposto a condições predisponentes (terapias antibióticas prolongadas, estresse físico ou mental intenso, doenças debilitantes crônicas etc.) e como agentes terapêuticos reequilibrar uma condição contínua de disbiose45, 26. As estirpes probióticas devem: pertencer a espécies que compõe de forma normal a nossa microbiota intestinal. Pertencem ao grupo de microrganismos designados GRAS (geralmente considerado seguro), mesmo para pacientes imunocomprometidos. Provaram permanecer ativo e vital no ambiente intestinal e resistir quando exposto ao estômago ambiente (secreções biliares e pancreáticas). Por isso são usados como profilaxia e terapêuticos porque competem por nutrientes36, 25. Os probióticos podem atuar quer através dos seus constituintes, nomeadamente, DNA, peptidoglicano, lipopolissacarídeo e flagelina, quer como através dos seus metabolitos microbianos. Os efeitos benéficos dos probióticos devem-se à sua capacidade de influenciar a microMICROBIOTA intestinal residente e à sua habilidade de gerar produtos com propriedades bioativas, como por exemplo, péptidos e ácidos gordos de cadeia curta38, 27. A estes metabolitos microbianos foram reconhecidas propriedades neuroativas, principalmente ao ácido butírico, propiónico e acético. São vários os neurotransmissores produzidos por espécies comensais como a serotonina, GABA, catecolaminas, acetilcolina e a histamina. Há evidência científica de que determinados probióticos conseguem regular a resposta imunológica ao nível do trato gastrointestianal (TGI) e externamente a este. A capacidade que os probióticos, e a microbiota, têm de influenciar diretamente o sistema imune, e o papel que a imunidade inata e adquirida exerce a este nível é crucial para a manutenção da homeostasia do lúmen entérico30, 41. Todavia, a literatura dá a conhecer que os probióticos parecem, também, agir através: da competição metabólica com os agentes patogênicos; favorecimento da função de barreira da mucosa intestinal, com inibição da translocação bacteriana, revertendo o estado de permeabilidade, chamado de leaky gut e a resposta inflamatória verificada por exemplo em situações de estresse crônico. Por Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 103 | indução, ao nível do epitélio TGI, de receptores opióides e canabinóides e por modulação do sistema imunitário. Sendo um dos possíveis mecanismos de ação, é a redução de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF-α) e o papel antioxidante que conseguem exercer ao nível do TGI e além deste, pois parecem produzir um efeito sistêmico39, 53. Possuem potencial para a aplicação clínica de probióticos é na atenuação sintomática abdominal referente ao trânsito e motilidade colónica anormal e com as síndromes intestinais inflamatórias, entre elas a síndrome do intestino irritável. Devido alguns probióticos funcionarem na regulação dos receptores µopióides e canabinóides das células epiteliais intestinais, modulando e restaurando a normal percepção da dor visceral4,20. Promovem a aderência da mucosa intestinal e sintetizarem substâncias bacteriostáticas como as bacteriocinas, ácido e peróxido de hidrogénio. Também favorecem a produção de substâncias bactericidas, como a angiogenina e a β-defensina e citocinas que agem no bloqueio da apoptose celular. Todos esses mecanismos estimulam a proliferação de bactérias benéficas em detrimento de outras prejudiciais ao hospedeiro, reforçando os seus mecanismos de defesa9, 21. Os benefícios não imunológicos incluem o processo de digestão, a competição com potenciais patógenos para nutrientes e locais de adesão intestinal, alterações de pH e produção de bacteriocinas. As propriedades anticâncer também foram associadas aos probióticos, que atuam como anti- mutagênicos e exercer efeitos em diferentes estágios da carcinogênese42. Outra ação importante é que após a absorção, ocorre a redução da produção de colesterol e triglicerídeos, causando a regularização de seus níveis na corrente sanguínea. Além de produzir ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), contribuem para a destoxificação hepática e auxiliam na metabolização de medicamentos, xenobióticos, hormônios, carcinógenos e metais tóxicos16. Os benefícios imunológicos dos probióticos podem ser devidos à modulação da produção de IgA local e sistemicamente, podendo ser associada ao exame coprológico funcional, analisando a IgA secretória. Também promove a ativação dos macrófagos locais, a fim de causar alterações nos perfis das citocinas pró/anti-inflamatórias ou a modular a resposta com contato com os antígenos alimentares18. Em algumas situações, os probióticospodem repelir bactérias patogênicas e suas toxinas, previamente aderidas ao epitélio. Mediante a atuação das bacteriocinas, que são pequenos péptidos antimicrobianos produzidos por Lactobacillus spp., estes têm um estreito espectro de ação e são especialmente tóxicas para as bactérias gram- positivas, ao formar poros na sua membrana plasmática ou interferir nas vias enzimáticas de umas espécies10. Sabe-se que os lactobacilos são moduladores da inflamação intestinal e das Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 104 | respostas imunes. Sua administração é recomendada em doenças gastroentéricas caracterizadas por altos níveis de inflamação, na prevenção da diarreia, no tratamento de infecções causadas por patógenos entéricos e pacientes pediátricos para prevenir e tratar cólicas infantis44. Determinadas estirpes de Bifidobacterium spp. são produtoras de toxinas, com capacidade suficiente para intervir quer nas bactérias gram-positivas, quer nas gram-negativas. A levedura Saccharomyces boulardii origina uma protease que reduz a ação das toxinas A e B do Clostridium difficile13. Há também estirpes de Lactobacillus spp . e Bifidobacterium spp que são capazes de produzir o ácido láctico, o acético e o propiónico, levando a redução local do pH. Devido a esse mecanismo observa-se a inibição do desenvolvimento de uma imensa pluralidade de patógenos gram-negativos, com consecutiva estabilidade da microbiota intestinal15. Bifidobactérias representam 8 a 10% da microbiota intestinal e são capazes de produzir vitaminas, enzimas, ácidas acéticas e lácticas. Eles também diminuem o pH do cólon, inibem patógenos e têm propriedades de ativação imune. A administração oral de Bifidobacterium bifidum G9-1 parece suprimir a produção de imunoglobulina E, para promover a resposta IgA, que é útil no tratamento profilático em respostas alérgicas à IgE6, 46. São predominantes na microbiota de bebês amamentados, e sua presença está positivamente correlacionada com o estado de saúde. Em contraste, a microbiota intestinal da fórmula crianças alimentadas com leite ou misto é caracterizada por uma prevalência significativamente reduzida de bifidobactérias e por um aumento nas espécies de Bacteroides e Escherichia coli50. O Bacillus subtilis é capaz secretar muitas enzimas extracelulares (a-amilase, arabinase, celulase b-glucanacase e DNase), e é uma das terapias anti-diarréia mais eficazes. A Escherichia coli estirpe Nissle 1917 aumenta a homeostase intestinal e melhora a barreira intestinal, reduzindo a epitelial intestinal invasão celular por vários patógenos. Finalmente, cepas de bactérias pertencentes à Streptococcaceae família, particularmente os dois gêneros Streptococcus e Lactococcus, bem como a cepa Enterococcus faecium (ex Streptococcus, agora separado do gênero Enterococcus), também foram utilizados como probióticos em alimentos e rações. é altamente resistente ao ácido gástrico artificial e sucos biliares. O probiótico Lactococcus lactis é uma espécie indígena que produz bacteriocinas (ativo em vários patógenos) e ácido lático17, 47. O Streptococcus thermophilus tem propriedades anti-inflamatórias e ajuda a combater bactérias potencialmente patogênicas. Distúrbios gastrointestinais tratados com probióticos Enterococcus spp. foram avaliados em vários hospedeiros Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 105 | (camundongos, leitões e humanos) E. faecium demonstrou afetar a estrutura da microbiota intestinal, regular a função imunológica e mostrar efeitos inibitórios versus patógenos entéricos e é produtor de ácido lático e butírico51. O Saccharomyces boulardii é um probiótico de levedura resistente à acidez gástrica, à proteólise e, é claro, aos antibióticos. Embora a administração oral de S. boulardii não é capaz de colonizar de forma estável o intestino (é eliminado dentro de alguns dias), no entanto, é capaz de atingir e manter altas concentrações em um curto espaço de tempo. Essas características torná- lo adequado para uso durante tratamentos com antibióticos 48. Os dados disponíveis indicam que o uso dos probióticos promove a eubiose facilitando a produção de ácido lático e vitaminas do grupo B e impedindo a proliferação de leveduras prejudiciais. PREBIÓTICOS O termo prebiótico é utilizado para caracterizar ingredientes alimentares não digeríveis que ajudam o organismo por estimular seletivamente a reprodução e a atividade de uma quantidade limitada de espécies bacterianas no intestino, sendo importante na alteração da qualidade da microbiota colônica tornando mais saudável1. Os prebióticos são componentes alimentares que possuem um papel importante para o hospedeiro, na medida em que, funcionam como substratos, nutrem um grupo seleto de microrganismo que habita no intestino, estimulando o seu crescimento e a produção de ácidos gordos de cadeia curta que são utilizados pelo organismo como fonte de energia 52. Assim, denota-se a sua influência sobre a microbiota, favorecendo uma comunidade microbiana mais saudável. Os prebióticos consistem essencialmente em hidratos de carbono, nomeadamente, na maioria dos casos, oligossacáridos e polissacáridos que não são digeríveis pelas enzimas intestinais e que conferem vantagem, principalmente, o crescimento e/ou a atividade das bactérias benéficas 49. São substâncias alimentares compostas principalmente por polissacarídeos não amido e oligossacarídeos. Sendo carboidratos complexos, resistentes às atividades das enzimas salivares e intestinais, não ocorrendo a absorção e digestão no trato gastrintestinal. Dessa forma, servem de um ingrediente que altera a formação da microbiota, de modo que as bactérias benéficas se tornam predominantes7. Mais conhecido e caracterizado prebióticos incluem suplementos de frutooligossacarídeos (FOS), galacto- oligossacarídeos, inulina (também capaz de aumentar a absorção de cálcio), lactulose (um dissacarídeo sintético usado como medicamento para o tratamento da constipação e encefalopatia hepática) e oligossacarídeos do leite materno. No entanto, a suplementação de inulina modula Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 106 | endotoxemia metabólica e inflamação em mulheres com diabetes tipo 252. A administração ou uso de prebióticos visa influenciar beneficamente o ambiente intestinal dominado por trilhões de micróbios comensais. Através da característica de não digerível pelo hospedeiro beneficia a saúde do indivíduo graças a seu efeito positivo sobre os micróbios benéficos autóctones9. Em decorrência, produzem o desenvolvimento de bifidobactérias e lactobacilos, modificando favoravelmente a composição da microbiota intestinal e/ou estimulando a atividade metabólica destas bactérias. Os prebióticos alteram o trânsito intestinal, reduzindo metabólitos tóxicos e previnem alterações intestinais como diarréia e obstipação intestinal18. Também encontram-se outros ingredientes que são introduzidos na alimentação humana que são prebióticos, entre eles as fibras dietéticas, açucares não absorvíveis, féculas, alcoóis do açúcar e oligossacarídeos. Os prebióticos mais usados e conhecidos são: oligofrutose, inulina, galactooligossacarídeos, lactulose1. Essas substâncias são frequentemente incluídas em formulações de simbióticos contendo bactérias probióticas para promover seu rápido crescimento no ambiente intestinal. FOS são capazes atravessar o lúmen digestivo, não digerido e não absorvido, para alcançar o cólon ascendente sem modificação, onde serão metabolizados seletivamente pelo componente probiótico residente da microbiota. Sua digestão causa uma diminuição significativano pH, criando um habitat desfavorável para a putrefação crescimento de bactérias (clostrídios)53. A oligofrutose prebiótica está evidenciada espontaneamente em muitos alimentos como exemplos no trigo, bananas, mel, cebolas, alho e alho-porró. Também pode ser retirada da raiz de chicória ou pode ser sintetizada por via enzimática a partir da sacarose. A sua fermentação no cólon resulta em várias ações fisiológicas, incluindo: elevação da absorção de cálcio, encurtamento da duração do trânsito gastrointestinal e aumento da quantidade de bifidobactérias no cólon15. A inulina é derivada da raiz da chicória e encontrada em muitas plantas que fazem parte da dieta humana, sendo a cebola a mais consumida entre elas. Ela trabalha para melhorar as funções intestinais, como o desenvolvimento de anticorpos, a diminuição significativa em diversas condições pediátricas, como diarreia, vômitos, febre e flatulência e também demonstraram ajudar na modulação dos níveis no sangue de hormônios envolvidos na regulação do apetite10. Galacto-oligossacarídeos (GOS) são carboidratos constituídos por até 7 unidades de galactose e uma glicose terminal, são resistentes aos efeitos das enzimas digestivas. Produzem um significativo incremento, principalmente na população de Bifidobacterium, com a conseguinte redução da concentração de bactérias patogênicas8. https://www.sinonimos.com.br/introduzidos/ https://www.sinonimos.com.br/espontaneamente/ https://www.sinonimos.com.br/conseguinte/ Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 107 | Os efeitos benéficos ao trato gastrintestinal são vários, desde a modulação do sistema imune, por meio das características antiadesivas que se relacionam a reduções nos riscos de câncer no cólon, ocorre a melhora no trânsito intestinal e também uma significativa adequação da absorção de minerais desejáveis, em especial cálcio e magnésio16. REFERÊNCIAS 1. Bindels LB, Delzenne NM, Cani PD, Walter J. Towards a more comprehensive concept for prebiotics. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 2015;12:303–10. doi: 10.1038/nrgastro.2015.47. PubMed PMID: 25824997. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nrgastro.2015.47. 2. BIBBÒ, S. et al. 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Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP. Adriana Alves de Meneses Delevedove3 A microbiota gastrointestinal (GI) humana é um ecossistema complexo que abriga trilhões de organismos, principalmente bactérias, mas também vírus e organismos eucarióticos. Estima-se que a microbiota intestinal contém 1.014 células bacterianas, superando as células do hospedeiro em dez vezes. Além disso, o potencial genético do microbioma intestinal, o genoma coletivo de a microbiota é 100 vezes maior que a do genoma humano.1,2,3,4 Ao contrário do nosso próprio genoma, o microbioma intestinal não é apenas transmitido e fixado verticalmente, mas pode ser modificado por eventos de vida, dieta e tratamentos farmacêuticos que afetam a composição, estabilidade e função do ecossistema intestinal.5 Imediatamente após o nascimento, todos os mamíferos são iniciados em um processo de colonização ao longo da vida por microorganismos estranhos que habitam a maioria das superfícies ambientalmente expostas (como o pele, boca, intestino e vagina).3,6 Moldado por milênios de evolução, algumas associações bactérias-hospedeiros desenvolveram-se em relacionamentos benéficos, criando um ambiente para mutualismo, como no trato gastrointestinal baixo de mamíferos.3,7,8,9 Na idade adulta jovem, tanto humanos quanto outros mamíferos suportam um dos mais complexos ecossistemas microbianos do planeta, com mais de 100 trilhões de bactérias compostas de potencialmente muitos milhares de espécies microbianas no intestino distal.10,11 As bactérias simbióticas do intestino de mamífero há muito tempo é apreciado pelos benefícios que proporcionam ao hospedeiro: através fornecimento de nutrientes essenciais, metabolismo de compostos indigeríveis, defesa contra colonização por patógenos oportunistas e até mesmo CAPÍTULO 10 Prevenção e Tratamento da Disbiose Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 114 | contribuição para o desenvolvimento da arquitetura intestinal.12 A microbiota intestinal está envolvida na maturação do sistema imunológico13 e na regulação das respostas da imunidade inata e adaptativa,14 na proteção contra o supercrescimento de patógenos, na proliferação de células hospedeiras e de sua vascularização, na regulação das funções endócrino-intestinais, na sinalização neurológica e na densidade óssea, como fonte de biogênese energética (5 a 10% das necessidades diárias de energia do hospedeiro), na biossintese de vitaminas, neurotransmissores e múltiplos outros compostos com alvos ainda desconhecidos, na metabolização sais biliares na reação ou modificação de drogas específicas; e na eliminação de toxinas exógenas.15 Embora a barreira mucosa, que consiste na camada de muco e células epiteliais, evita o contato direto com as bactérias intestinais, há uma interlocução constante entre os dois sistemas que permitem benefícios mútuos. Ao contrário dos patógenos oportunistas, que provocam respostas imunológicas que resultam em danos ao tecido durante a infecção, algumas espécies bacterianas simbióticas demonstraram prevenção de doenças inflamatórias durante a colonização. A microbiota "normal" também contém microrganismos que mostraram induzir inflamação sob condições particulares. Portanto, a microbiota tem potencial para exercer tanto respostas pró quanto antiinflamatórias e equilíbrio na estrutura da comunidade de bactérias intestinais podem estar intimamente ligado ao funcionamento adequado do sistema imunológico. Dentre os fatores que podem influenciar negativamente a microbiota saudável temos nos primeiros dias/semanas de vida, parto cesárea, fórmulas para alimentação infantil, higiene, vacinação e uso de antibióticos, o que pode alterar o desenvolvimento imunológico da criança e potencializar a predisposição do indivíduo a diversas doenças inflamatórias ao longo da vida.16 As alterações da microbiota intestinal e o desbalanço da composição e funcionalidade destes microorganismos é chamado de disbiose, e pode ser um fator importante na patogênese de diversas doenças. Mudanças composicionais na microbiota – disbiose – têm sido associadas a várias condições desde distúrbios do trato GI, como diarreias, obstipação crônica, colite pseudomembranosa, doença de Crohn, recolite ulcerativa, síndrome do intestino irritável, câncer de cólon,17,18, 19 até desordens neurológicas, respiratórias, metabólicas, hepáticas e cardiovasculares.15 A prevenção e tratamento da disbiose se dá através de uma reeducação alimentar visando a eubiose. Dentre os artifícios que podemos utilizar no manejo da disbiose podemos destacar: retirada de alimentos deletérios, reparação da mucosa intestinal, reintrodução de enzimas digestivas e reinoculação de probióticos, buscando assim equilibrar a microbiota intestinal, obter uma maior biodisponibilidade de nutrientes e Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 115 | intervir em fatores externos à saúde orgânica.20 RETIRADA DE ALIMENTOS DELETÉRIOS A dietoterapia para a prevenção e o tratamento da disbiose passa, principalmente, por uma reeducação alimentar, evitando-se o excesso de ingestão das carnes vermelhas, do leite e derivados, dos ovos, do açúcar branco e de alimentos processados.21 Uma grande ingestão de carboidrato leva a maior fermentação pelas bactérias no intestino grosso e a proteína produz putrefação aumentada. Se a absorção imperfeita no intestino delgado permitir que grandes quantidades de carboidrato e proteína atinjam o intestino grosso, a ação bacteriana pode levar à formação de gases emexcesso ou certas substâncias tóxicas que comprometem a microbiota intestinal benéfica.22 O consumo de grandes quantidades de lactose, especialmente por indivíduos com intolerância, e de açúcares pode causar flatulência e diarréia, prejudicando também a microbiota intestinal.20 Para tratamento e prevenção da disbiose intestinal em indivíduos susceptíveis, devem ser retirados alimentos que causem maior fermentação bacteriana no intestino grosso como: glúten, cafeína, carboidratos refinados, especialmente o açúcar branco, leite e seus derivados para uma desinflamação da parede intestinal.23 REPARAÇÃO DA MUCOSA INTESTINAL Fibras Fibras alimentares são polissacarídeos vegetais da dieta (celulose, hemicelulose, pectina, gomas e mucilagens), oligossacarídeos, amido resistente e lignina, as quais não são hidrolisadas pelas enzimas digestivas. São também conhecidas como prebióticos.24 As fibras podem ser classificadas com base em sua solubilidade em água, podendo ser solúveis (pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemiceluloses), as quais apresentam efeito metabólico no trato gastrointestinal (retardam o esvaziamento gástrico e o tempo de trânsito intestinal, diminuem a absorção de glicose e colesterol), alteram a composição da microbiota intestinal e do metabolismo por meio da produção de ácidos graxos de cadeia curta; ou insolúveis (celulose, lignina e hemicelulose), que apresentam um efeito mecânico no trato gastrointestinal (pouco fermentáveis, aumentam bolo fecal, aceleram o tempo de trânsito intestinal).24 Os feitos benéficos das fibras alimentares são bastante conhecidos, seja na prevenção ou no tratamento de diversas afecções, como diabetes mellitus, aterosclerose, câncer de cólon, síndrome do intestino curto e doença diverticular. Elas aumentam o volume das evacuações, regulam o tempo de trânsito intestinal e diminuem a pressão da luz intestinal. Além disso, atuam no metabolismo dos carboidratos e no controle da glicemia, na redução dos triglicerídeos e colesterol Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 116 | sanguíneo e como substrato para formação de ácidos graxos de cadeia curta, os quais são responsáveis pela nutrição dos enterócitos e colonócitos, entre outros.24 Uma alimentação escassa em fibras prejudica a microbiota intestinal. No estudo de Pedrosa (2018), foi demonstrado que ao ingerir amêndoas de diversos aspectos (inteira, torrada, picada e a manteiga) ocorre modificação aleatória favorável a formação da microflora. Também foi identificado quando realizamos uma dieta rica em fibras obtemos uma microbiota que reage as modulações apropriadas para dieta.25 Glutamina A glutamina (Gln) é um aminoácido efetivo na nutrição, que possui um papel fundamental na barreira intestinal e na saúde. Pesquisas recentes mostram que a GLn é benéfica para o crescimento intestinal e de todo o corpo, favorece a proliferação e sobrevivência de enterócitos e adéqua a função da barreira intestinal em lesões, infecções, estresse no desmame, impede a apoptose induzida por estresse oxidativo, organiza a expressão proteica da junção e a imunidade intestinal, melhora a condução de íons pelo intestino em neonatos e adultos, e outras condições imprescindíveis para o equilíbrio intestinal.26 Alguns indícios mostram que a glutamina é essencial para o neonato e relativamente necessário para adultos. Nota-se, que no desenvolvimento intestinal do neonato, a Gln realiza uma função importante no crescimento e desenvolvimento do trato gastrointestinal.26 Segundo estudos, recém- nascidos com restrição de crescimento intra- uterino (RCIU) mostram maior taxa de mortalidade e morbidade perinatal. A RCIU em recém-nascidos prematuros e a termo mostra uma diminuição de Gln no plasma e no intestino. Essa diminuição é devida uma alteração no desenvolvimento do intestino, que interfere na absorção e utilização de nutrientes e isso gera uma elevada morbimortalidade relacionada à RCIU.26 Foi observador que ao administrar via oral, em leitões, uma quantidade de Glutamina (1,0g/kg de peso corporal por dia) no dia 0 ao dia 21 foi obtido um crescimento de leitões com RCIU e diminuiu a mortalidade pós -desmame. Investigação similar foram feitos em bebês com baixo peso ao nascer, ficando clara a necessidade de uma estratégia nutricional benéfica para reestabelecer o desenvolvimento intestinal em neonatos com RCIU.26 Outro estudo, analisou o uso da suplementação de glutamina em atletas correndo em climas quentes, e identificamos uma redução nos marcadores de permeabilidade gastrointestinal. Dessa forma, comprovamos que 0,9 g kg- 1 de suplementação aguda de glutamina mantém a permeabilidade gastrointestinal em relação ao placebo, porém doses mais baixas de 0,25 g kg - 1 também seria capaz de ter algum benefício. Nesse estudo, não foi possível Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 117 | esclarecer nenhum sintoma gastrointestinais nos atletas. Foi concluído então que o uso de suplementação com glutamina, antes do exercício mantém a integridade gastrointestinal. 27 REINTRODUÇÃO DE ENZIMAS DIGESTIVAS Enzimas são substâncias de natureza proteica que facilitam uma reação química, como a quebra dos alimentos. As enzimas são responsáveis pela formação estrutural, crescimento, reparo, desintoxicação, defesa e existência dos mecanismos de cura do corpo, assim sendo essenciais para a vitalidade e longevidade. O corpo produz milhares de espécies de enzimas vitais que tem funções específicas no organismo, mas elas também podem ser sintetizadas a partir das enzimas contidas nos alimentos da dieta, que são as enzimas exógenas.28 Neste sentido, de acordo com Bontempo (2003),28 é preciso evitar a depleção ou o enfraquecimento enzimático através de “depósitos regulares” no “estoque de enzimas” do organismo. Isso pode ser feito por meio do consumo de alimentos crus ricos em enzimas, ou pela ingestão de suplementos enzimáticos, que geralmente incluem as enzimas digestivas amilase, protease, lipase, lactase, celulase, bromelina e papaína. Normalmente o corpo conta com a presença de enzimas digestivas exógenas que já existem nos alimentos crus, e que servem para sua própria digestão. Entretanto, atualmente, a maioria dos alimentos são consumidos cozidos. Quando estes alimentos ingeridos não possuem enzimas, o pâncreas é forçado a produzir enzimas digestivas para poder compensar a sua deficiência na comida. No entanto, com a presença de alimentos crus na dieta ou com uma suplementação enzimática, o pâncreas tem o seu trabalho diminuído e muitos sintomas ruins desaparecem, como, entre outros, a constipação intestinal. Ainda segundo Almeida et al. (2009),29 um dos fatores que competem para o desequilíbrio da microbiota intestinal é a má digestão. Assim sendo, a suplementação de enzimas pode prevenir a má digestão por diminuir carências enzimáticas e consequentemente favorecer as condições de defecação, pois a disbiose pode ser uma manifestação secundária da constipação, ou um fator que contribui para esse quadro.30 REINOCULAÇÃO DE PROBIÓTICOS O tratamento da disbiose envolve também uma dieta composta por alimentos que possuem microorganismo vivos benéficos a saúde humana, os probióticos, com objetivo principal em restaurar a microbiota intestinal. A dieta contendo probióticos é importante, pois a influência desses microorganismo sobre a microbiota intestinal humana engloba fatores como competição e efeitos imunológicos gerando o aumento da resistência contra patógenos.31 Já o uso de alimentos prebióticos na dieta estimula a multiplicação de bactérias benéficas, que interrompem a sobrevida de Dibiose– Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 118 | bactérias patogênica sendo assim um auxílio na imunidade pelos mecanismos de defesa do organismo. A ação dos prebióticos ocorre principalmente no intestino grosso, mas isso não se exclui que ocorra determinada ação na microbiota do intestino delgado. Ao realizar ingestas diárias, os prebióticos podem gerar um aumento de bifidobactérias, e uma adesão dessas bactérias ao trato gastrintestinal, alterando e reestruturando a composição de sua microbiota. Ao mesmo tempo, ocorre uma inibição do crescimento de bactérias nocivas, por exemplo Escherichia coli, Clostridium perfringens, entre outros.31 Prebióticos Prebióticos são fibras especiais, basicamente de origem vegetal, resistentes à hidrólise pelas enzimas do trato digestivo humano. Os prebióticos mais conhecidos são resinas de aveia, pectina e oligossacarídeos.32 Dentre os alimentos que contém maior quantidade de prebióticos destacamos: betaglicanos, presentes na aveia, pectina, encontrado em frutas, verduras e legumes; inulina, presente no alho, cebola e banana; frutooligissacarídeos (FOS), no aspargo e raiz da chicória; galactooligossacarídeos, presente no leite, amido resistente, na banana verde, entre outros.33 Também encontramos uma boa quantidade destas fibras nas leguminosas: grãos de soja, grão-de-bico, lentilhas, feijões e ervilha. Ocorre também a possibilidade de retirada de prebióticos por cozedura, ação enzimática ou alcoólica. Ademais, temos os oligossacarídeos sintéticos gerados pela polimerização direta de alguns dissacarídeos no envoltório extracelular de leveduras ou fermentação de polissacarídeos. 34 A recomendação diária de ingestão de fibras é em torno de 18 a 20 gramas/dia. No entanto, a quantidade necessária a cada pessoa deve ser avaliada individualmente de acordo com suas necessidades. O consumo excessivo de prebióticos pode levar a efeitos colaterais como diarreia, cólicas, distensão abdominal e flatulências, que são convertidos após adequação de sua quantidade.34,35 Probióticos Probióticos são organismos vivos, que quando ingeridos em determinado número exercem benefícios sobre a saúde e a nutrição básica intrínseca. Estes devem satisfazer alguns critérios para serem assim classificados, como: não patogênico; resistentes a acidez gástrica e a lise biliar; viáveis no ambiente gastrointestinal; devem aderir ao epitélio; produzir substâncias antimicrobianas; e modular a resposta imune do hospedeiro.36 Assim, a ANVISA aprovou o uso de alguns probióticos, podendo estes serem acrescidos aos alimentos, geralmente em laticínios, sendo eles: Lactobacillus casei, lactobacillus acidophilus, lactobacillus rhamnosus e bifidobacterium lactis.37 Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 119 | Cepas de probióticos estabelecidos pela ANVISA/OMS 33 Bactéria Dose Lactobacillus casei 10 10 ufc/g - 2x/dia Lactobacillus acidophilus 10 9 - 10 10 ufc/g - 1 a 3 x/dia Lactobacillus rhamnosus 1010 - 10 11 ufc/g - 2x/dia Bifidobacterium lactis 1010 ufc/g - 2x/dia Fonte: (ANVISA/OMS). 33 A Legislação Brasileira aconselha que a dose mínima de um probiótico esteja na faixa de 108 a 109 UFC (unidades formadoras de colônias) na quantidade diária da alimentação. Observa-se que os probióticos contribuem na formação de vitaminas do complexo B, que possuem a função de proteção hepática, agem no trânsito intestinal, auxiliam na absorção de nutrientes, aumentam o teor nutritivo dos alimentos e geram uma redução na acidez no decorrer do estoque final do produto, dentre diversas outras ações mencionadas anteriormente.33 Efeitos colaterais mais comuns são flatulências e desconforto abdominal leve, raramente chegando a casos mais graves como septicemia. Não existe contraindicação absoluta para a utilização de probióticos, no entanto deve-se lembrar que efeitos adversos graves e até letais em pacientes incapazes, como gestantes, pacientes imunossuprimidos como transplantados ou com distúrbios vasculares não são descartados.38 Simbióticos Simbióticos são um ou mais probióticos e prebióticos combinados.36 Seu consumo gera uma melhora do ambiente físico para as bactérias benéficas do organismo o que potencializa sua ação. Observa-se que os simbióticos ajudam na sobrevida da bactéria probiótica em meio digestivo, auxiliando no funcionamento do intestino. Estudos apontam ser necessário diferentes proporções dos diversos tipos de bactérias para encontrar o equilíbrio, pois a eubiose tem importante papel na modulação do sistema imune, contribuindo significativamente na prevenção de doenças. A presença de bactérias convivendo em simbiose é um fator protetor, gerando uma competição contra bactérias ruins, trazendo benefícios para o paciente.39 A recombinação dos simbióticos causa um aumento da resistência de cepas bacterianas, potencializando os probióticos dos alimentos, contribuindo assim para manutenção da eubiose. Um estudo de caso realizado na Universidade de Vila Velha Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 120 | mostrou a eficiência dos simbióticos para tratamento de Constipação e Síndrome do intestino irritável, em um intervalo de 3 meses com 107 UFC/g das cepas: Bifidobacterium lactis DN-173010, Bifidobacterium bifidum, Lactobacillus casei Shirota, Lactobacillus acidofilus, Lactobacillus rhamnosus), associados a 1 grama de oligofrutose. Os participantes relataram melhoras no trânsito intestinal, defecando com maior facilidade, aumento da frequência, fezes mais pastosas e maior sensação de esvaziamento diário. Mas, não se pode descartar os efeitos colaterais como: dor abdominal, flatulência e fezes liquidas, em uma menor porcentagem de pessoas.37, 40 Nesse período do tratamento os alimentos funcionais são recomendados pois possuem funções nutritivas básicas com grande potencial de trazer benefícios à saúde e diminuição de riscos de doenças crônicas. Prebióticos e probióticos constantemente são utilizados e recomendados no tratamento dessas por conterem nutrientes funcionais que ajudam no equilíbrio das funções da microbiota bacteriana do intestino, e assim diminuindo os riscos de doenças intestinais.40 Transplante da Microbiota fecal O Transplante de Microbiota Fecal (TMF) é um novo tratamento que vem sendo bastante discutido. Este se baseia na reintrodução e fortalecimento da microbiota intestinal em busca da eubiose, aplicando microrganismo vivos em quantidades e variedades diferentes para cada paciente de acordo com as necessidades dos mesmo, ocasionando benefício para o hospedeiro.15 São utilizadas bactérias comensais, que pertencem ao sistema digestório de pessoas saudáveis, as quais são processadas e inseridas de um indivíduo para outro por sonda nasogastrica ou por colonoscopia, com o objetivo de restaurar a microbiota benéfica. Essa terapia é mais indicada e utilizada em infecções persistentes como Doença de Crohn Clostridium resistente, transplante para obesos, idosos caquéticos.41 O primeiro caso de transplante de microbiota fecal foi publicado na revista Surgery nos anos 50, quando o procedimento foi realizado com quatro pacientes, os quais apresentaram melhora clínica após 48 horas do procedimento. Os resultados foram ótimos com 93% de cura entre os participantes, demonstrado ser um tratamento eficaz.42 Observa-se uma grande dificuldade para encontrar doadores adequados, sendo geralmente escolhido cônjuge ou parente de primeiro grau, por possuírem hábitos alimentares parecidos, na tentativa de evitar rejeição e doenças. Existe alguns pontos para a escolha do doador que devem ser considerados, são eles: pesquisa de sangue oculto embusca de patógenos e exames de sangue como hemograma, questionário com perguntas pessoais sobre comportamentos de alto risco, realização de tatuagem ou piercing recentes, uso de drogas ilícitas, múltiplos parceiros sexuais, pessoas com viagens recentes para áreas com alto risco de infecções entéricas ou incidência de bactérias Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 121 | resistentes. Além do mais, o paciente não pode ter alterações mentais como ansiedade ou depressão.43 Contudo, mesmo apresentando tantos benefícios, ainda existe um certo receio ao uso de transplante de microbiota fecal, pela falta de pesquisas e dados relevantes, além de não se ter conhecimento de seus riscos a logo prazo, não conhecendo efeitos adversos do procedimento, não padronização e a falta de consenso sobre o protocolo a ser seguido e a periculosidade de transmitir outros tipos de patógenos, são itens que ainda necessitam serem melhor avaliados para se ter um maior respaldo e aceitação da população para tal procedimento.44 O tratamento da disbiose consiste na abordagem dietética, por meio da ingestão de alimentos que contenham probióticos e/ou prebióticos. Nos casos mais críticos, pode haver a necessidade de lavagens colônicas (hidrocolonterapia), para remover conteúdos putrefativos do intestino e permitir a drenagem linfática do cólon, o tratamento nutricional por sua vez, tem início com a inserção de alimentos que contenham probióticos e/ou prebióticos associados ao uso ou não de simbióticos, podendo contribuir para melhora no quadro geral do paciente.29 Sendo assim, as campanhas de educação nutricional tornam-se importantes para promover a saúde por meio de melhores práticas alimentares e do autocuidado dos indivíduos, uma vez que um dos principais problemas de saúde da população esta relacionado diretamente com a alimentação e o estilo de vida. As evidências atuais revelam que os fatores dietéticos afetam o ecossistema microbiano no intestino, se fazendo assim necessário uma maior conscientização da população na tentativa de promoção de saúde.45 A alergia alimentar vem sendo cada vez mais citada em estudos, afetando cerca de 10% da população mundial. Consideramos alergia alimentar um efeito adverso por gerar uma resposta imune exacerbada, podendo causar anafilaxia e morte. Alguns pesquisadores atribuem esta a uma predisposição genética, no entanto tem-se dado uma grande importância a fatores ambientais com ênfase na microbiota. O microbioma possui uma grande atividade patogênica alterando a sensibilidade a alérgenos.46 Um estudo de Feehley realizou transplante de microbiota de bebês com alergia ao leite de vaca à bebês sem alergia em camundongos. Observou-se que os camundongos transplantados com fezes do bebê alérgico apresentaram sinais de reação alérgica.46 Assim observa-se que as respostas para tratamentos de doenças alimentares e imunes, estão intimamente ligadas a microbiota fecal. Dieta, probióticos, prebióticos, simbióticos e transplantes de microbiota fecal são promissores tratamentos para alergias, apesar de ainda observar poucas evidências e referências disponíveis. Dessa forma, faz-se necessário elucidar a importância não só do tratamento mas Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 122 | também da prevenção com bons hábitos alimentares e introdução de suplementação com probióticos para melhora da qualidade de vida do paciente na busca por uma dessensibilização imune.46 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dessa maneira, compreendemos que uma alimentação saudável não está ligada somente ao tipo de alimento ingerido, mas também ao estilo de vida, hereditariedade, biodisponibilidade dos nutrientes e meio ambiente. O intestino pode ser considerado o grande mantenedor da saúde. O acúmulo de maus tratos na função intestinal afeta o equilíbrio da microbiota, fazendo com que as bactérias nocivas proliferem e gerem consequências locais e sistêmicas ao organismo humano. Até então o que se tem de mais robusto na prevenção e tratamento da disbiose é a reeducação alimentar, evitando o consumo excessivo de alimentos processados, de açúcares simples, das carnes vermelhas e do leite e derivados, aumento na ingestão de vegetais, frutas e cereais. Além disso, o uso de produtos probióticos, prebióticos e simbióticos auxiliam na prevenção e no tratamento das possíveis alterações da microbiota intestinal. Esta abordagem revela uma nova forma de se pensar a saúde a fim de garantir uma vida saudável, na qual a alimentação e a nutrição efetiva estão relacionadas ao bom funcionamento intestinal e por fim a uma boa saúde em geral. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 123 | REFERÊNCIAS 1. Backhed F, et al. Host-bacterial mutualismo in the human intestine. Science. 2005; 307, 1915-1920. 2. Huttenhower C, et al. Structure, function and diversity of the healthy human microbiome. Nature. 2012; 486, 207-214. 3. Ley RE, Peterson DA, Gordon JI. 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Yhasmin Fernanda Silveira Lameira A microbiota intestinal, tem funções fisiológicas, metabólicas, imunológicas e neurais no corpo. Composta por mais de 1.000 espécies, porém principalmente por bactérias anaeróbias Bacteroidetes e Firmicutes, que constituem mais de 90% da microbiota intestinal total. Pode ser classificado em 6 grupos bacterianos em indivíduos saudáveis (tabela 11.1). Alterações da microbiota podem afetar a motilidade e a permeabilidade intestinal, a função visceral e a resposta imune, propiciando doenças não transmissíveis, como obesidade, diabetes, asma, alergias e atopias, doença inflamatória intestinal, síndrome metabólica e aterosclerose, que estão intimamente associadas à microbiota intestinal. (ULKER, 2019) CAPÍTULO 11 Disbiose em Paciente Obesos e Bariátricos Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 128 | Fonte: (ULKER, 2019; SANTOS, 2019) Destaca-se a má alimentação, má digestão, idade, tensão emocional, infecções intestinais e o uso de medicamentos, principalmente de antibióticos, no desenvolvimento de patologias como a disbiose, alergias alimentares e dermatite atópica. Doenças intestinais e extra intestinais que podem comprometer a integridade da barreira mucosa e levar a alterações da permeabilidade intestinal facilitando a (Tabela 11.1) Microbiota intestinal Humana Grupo: Principais exemplos: Bactérias Firmicutes (gram-positive) - Clostridium, - Eubacterium, - Ruminococcus, - Butyrivibrio, - Anaerostipes, - Roseburia, - Faecalibacterium. Bacteroidetes (gram-negative) - Bacteroides, - Porphyromonas, - Prevotella. Proteobacteria - Enterobacteriaceae Actinobacteria - Bifidobacterium genus Fusobacteria Verrucomicrobia - Akkermansia Vírus - Poliomavírus Fungos - Candida spp. - Saccharomyces spp. - Cladosporium spp. Archaea - Methanobrevibacter smithii - Nitrososphaera spp Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 129 | exposição do organismo a determinados antígenos, que definem o surgimento de respostas imunológicas inapropriadas. Esse processo pode ocasionar a translocação de bactérias e antígenos bacterianos para a circulação sanguínea, levando a estimulação do sistema imunológico, desencadeando ou agravando a síndrome de resposta inflamatória sistêmica e por fim acometendo doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade (MARTINS, 2018). A obesidade é uma doença crônica, caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura no organismo, e está associada a comorbidades. Essa doença é resultantedo desequilíbrio energético prolongado, tem etiologia multifatorial, estando envolvidos fatores genéticos e ambientais (ABESO, 2010). A prevalência de sobrepeso e obesidade no mundo tem sido reconhecido como um importante problema de saúde pública. O IMC (Índice de Massa Corporal) por ser simples, prático e de baixo custo é recomendado pela OMS para classificação da obesidade. Um IMC acima de 30kg/m² caracteriza obesidade grau 1 e IMC de 35-39,9kg/m² e um IMC 40kg/m², enquadram respectivamente obesidade grau II e III (tabela 11.2). (Tabela 11.2) Classificação de peso pelo IMC adaptada pela OMS (ABESO, 2010) Classificação IMC (kg/m²) Risco de comorbidades Baixo peso <18,5 Baixo Peso normal 18,5 a 24,9 Médio Sobrepeso 25,0 a 29.9 Aumentado Obeso I 30,0 a 34,9 Moderado Obeso II 35,0 a 39,9 Grave Obeso III ≥ 40 Muito Grave Há um complexo sistema de mecanismos neuronais, hormonais e químicos que mantêm o equilíbrio entre ingestão e o gasto de energia dentro de limites relativamente precisos. Dessa forma a obesidade é permeada por alterações Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 130 | neuroendócrinas. Incluindo o sistema aferente, que envolve a leptina que é um hormônio que possui efeitos no sistema nervoso central, fazendo controle de ingestão e outros sinais de saciedade e de apetite de curto prazo. Há uma evidência crescente que a leptina, além dos seus efeitos no cerébro, está envolvida na deficiência da resposta imune humoral e celular. Existem ainda alterações neuroendócrinas da unidade de processamento do sistema nervoso central e do sistema eferente, um complexo de apetite, saciedade, efetores autonômicos e termogênicos, que leva ao estoque energético. (VIANA, 2009). O tecido adiposo é o agente responsável pela incompetência do sistema imunológico no organismo do obeso. As Interleucinas, como a Interleucina 6 (IL-6) e a Interleucina 8 (IL-8) e o fator de necrose tumoral alfa (TNFα) também são secretados pelo tecido adiposo e possuem participação direta na resposta inflamatória. O peptídeo Adinopectina é também secretado pelos adipócitos e participa na resposta, atuando como protetor da inflamação. O organismo do obeso é inflamado, o que deve ser observado no tratamento terapêutico, para que a inclusão de nutrientes de ação anti-inflamatória seja introduzida na alimentação como função de auxiliadores da resposta imune (ALVES, 2006). Para tal evento ocorrer é necessário que todos os órgãos, principalmente do aparelho digestório, estejam desempenhando suas funções, para que ingestão, digestão, transporte, utilização e excreção ocorram de maneira eficiente. A microbiota do intestino tem uma função ambiental relacionada à obesidade (SANTOS, 2019). Pacientes obesos têm menor variabilidade na microbiota intestinal do que indivíduos magros. O fenótipo obeso se associa com a capacidade de produzir fermentação e alterações na composição da microbiota intestinal, que pode aumentar extração de energia a partir dos alimentos, contribuindo assim para a obesidade. Outra diferença entre indivíduos obesos e magros é que os ácidos graxos de cadeia curta não podem ser produzidos a partir de alimentos que não foram adequadamente digeridos (ULKER, 2019). Dessa forma além de alterada na microbiota intestinal de indivíduos obesos, a população bacteriana tem o potencial de influenciar na patogênese da obesidade (MARTINS, 2018). Pacientes obesos ou aqueles submetidos à cirurgia bariátrica podem cursar com alguns problemas intestinais, favorecendo a disbiose. Mudanças na composição da microbiota intestinal, correlacionada com a ingestão dietética, podem induzir a produção de moléculas pró-inflamatórias e, consequentemente, desencadear alterações na expressão do gene hospedeiro. Como consequência, afeta o epitélio celular intestinal e suas funções endócrinas, desequilibrando vias homeostáticas e impactando na resistência e na adiposidade da insulina (SANTOS, 2019). Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 131 | A microbiota intestinal de pacientes obesos tem menos Bacteroides e mais Firmicutes do que pessoas com peso normal. Dietas ricas em ácidos graxos saturados levam ao desenvolvimento de esteatose hepática e obesidade, aumentando as quantidades da razão Firmicutes/Bacteroidetes. Dietas com restrição de gordura e carboidratos e perda de peso corporal aumentam a quantidade de Bacteroidetes. Porém estudos divergem quanto a relação entre o índice de massa corporal e o Firmicutes/Bacteroidetes. A redução da ingestão de carboidratos em pacientes com obesidade diminui os níveis de butirato nas fezes e o nível de Roseburia spp. e Eubacterium retale. Um aumento na proporção de Firmicutes/Bacteroidetes tem sido associado a obesidade e resistência insulínica. A microbiota é afetada pela perda de peso corporal causada por dieta e exercício. Foi relatado que as quantidades de Bacteroides e Lactobacillus aumentam como resultado da restrição energética e do exercício em pacientes obesos. (ULKER, 2019). O tratamento da obesidade se dá através de abordagens nutricionais, medicamentosas e da prática de exercícios físicos. Considerando que há uma grande preocupação médica com risco elevado de doenças associadas ao sobrepeso e à obesidade, tais como diabetes, doenças cardiovasculares e alguns cânceres. A cirurgia bariátrica é um dos métodos de tratamento eficazes no tratamento da obesidade e complicações, alcançando perda sustentada de peso a longo prazo. Os efeitos metabólicos da obesidade são reduzidos, muitas doenças são prevenidas e há uma melhora na qualidade de vida (ULKER, 2019). Os benefícios da cirurgia incluem melhora acentuada de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e hiperlipidemia (BORDALOL, 2011). O Conselho Federal de Medicina (CFM) especifica as comorbidades que poderão ter indicação para a realização da cirurgia bariátrica a pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 35 kg/m² (resolução CFM - nº 2.131, de 12 de novembro de 2015)(tabela 11.3). Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 132 | Tabela 11.3 - Indicações Gerais Para Cirurgia Bariátrica (CFM, 2015) 1) Pacientes com índice de massa corpórea (IMC) acima de 35kg/m2. 2) Pacientes com IMC maior que 35 kg/m² e afetados por comorbidezes que ameacem a vida como: ▪ Diabetes, ▪ Apneia do sono, ▪ Hipertensão arterial, ▪ Dislipidemia, ▪ Doenças cardiovasculares incluindo doença arterial coronariana, ▪ Infarto de miorcárdio (IM), ▪ Angina, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), ▪ Acidente vascular cerebral, ▪ Hipertensão e fibrilação atrial, cardiomiopatia dilatada, ▪ Cor pulmonale e síndrome de hipoventilação, ▪ Asma grave não controlada, ▪ Osteoartroses, ▪ Hérnias discais, ▪ Refluxo gastroesofageano com indicação cirúrgica, ▪ Colecistopatia calculosa, ▪ Pancreatites agudas de repetição, ▪ Esteatose hepática, ▪ Incontinência urinária de esforço na mulher, ▪ Infertilidade masculina e feminina, ▪ Disfunção erétil, ▪ Síndrome dos ovários policísticos, ▪ Veias varicosas e doença hemorroidária, ▪ Hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebri), ▪ Estigmatização social e depressão. 3) Idade: maiores de 18 anos. 4) Obesidade estabelecida conforme os critérios acima, comtratamento clínico prévio insatisfatório de, pelo menos, dois anos. Precauções para indicação da cirurgia: • Não uso de drogas ilícitas ou alcoolismo. • Ausência de transtorno de humor grave, quadros psicóticos em atividade ou quadros demenciais. • Compreensão, por parte do paciente e familiares, dos riscos e mudanças de hábitos inerentes auma cirurgia de grande porte sobreo tubo digestivo e da necessidade de acompanhamento pós-operatório com a equipe multidisciplinar, a longo prazo. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 133 | Dentre os diversos procedimentos cirúrgicos que se diferenciam pelo seu mecanismo de funcionamento estão às técnicas restritivas, disabsortivas e as técnicas mistas. No Brasil Quaisquer cirurgia que não seja a banda gástrica ajustável, a gastrectomia vertical, derivação gastrojejunal e Y de Roux, a cirurgia de Scopinaro ou de ‘switch duodenal’, são consideradas experimentais e não devem ser indicadas (CFM, 2015). De acordo com a Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO), uma federação de 62 sociedades nacionais, em 2016 a cirurgia mais comumente realizada foi a gastrectomia vertical (53,6%). É necessário destacar que o tratamento cirúrgico da obesidade não se resume ao ato cirúrgico. A cirurgia bariátrica proporciona a perda de peso corporal através da redução da digestão de macronutrientes, alteração dos hábitos alimentares, aceleração do esvaziamento gástrico, regulação das alterações hormonais (por exemplo, peptídeo semelhante ao glucagon 1 [GLP-1] e peptídeo YY [PYY]) e alterações no o metabolismo dos ácidos biliares. (ULKER, 2018). Embora a cirurgia bariátrica seja adequada para o tratamento da obesidade, algumas complicações imediatas, a curto e a longo prazo (tabela 11.4) (BAHIA, 2014). Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 134 | (Tabela 11.4) Complicações da Cirurgia Bariátrica (BAHIA, 2014) Período: Principais complicações: Mortalidade (%): Precoce (até 30 dias após a cirurgia): - Hemorragia, - Estenose, - Ulceração, - Formação de fístulas (0,5% a 3%), - Estenose da anastomose gastrojejunal (mais frequente quando se usam grampeadores circulares), - Hérnia incisional (mais frequente após a cirurgia aberta, 24%, que na videola paroscópica - até 1,8%); - Tromboembolismo venoso com embolia pulmonar. - Atelectasias, infecções respiratórias, pneumonias. - Infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca. 2% • 4,8% indivíduos com idade > 65 anos vs. 1,7% entre os indivíduos mais jovens Tardias (Após 90 dias): - Colelitíase (38% dos operados em até 6 meses da cirurgia); - Rabdomiólise - Insuficiência renal, - Síndrome de Dumping, - Deficiências de ferro, cálcio, zinco, selênio, cobre e de vitaminas B12, D, C e K; 2,8% • 6,9% indivíduos com idade > 65 anos vs. 2,3% entre os indivíduos mais jovens Longo prazo (Após 1 ano): - Déficits nutricionais (proteínas, vitaminas, sais minerais) 4,6 % • 1,1% indivíduos com idade > 65 anos vs. 3,9% entre os indivíduos mais jovens Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 135 | O grau de perda de peso dos pacientes varia, no entanto, entre indivíduos, tipo cirurgias e tempo decorrido. A perda de peso bem-sucedida após a cirurgia se baseia em cerca 50% de perda do excesso de peso. Nos 10 anos seguintes, aproximadamente 20 a 30% dos pacientes apresentaram perda de peso insuficiente, com alguns pacientes cursando até com reganho de peso. Além disso, após 10 anos da cirurgia, aproximadamente 20 a 25% do excesso de peso perdido, pode ser recuperado. (SJOSTROM, 2007) Para o sucesso no tratamento cirúrgico da obesidade com promoção de perda ponderal satisfatória e manutenção da saúde, é fundamental que o paciente tenha um acompanhamento nutricional direcionado para suas necessidades. Fazem-se imprescindíveis modificações de hábitos alimentares, com auxílio de instrumentos que promovam o entendimento dos pacientes em relação aos grupos alimentares e suas funções, favorecendo a educação nutricional, além de promover maior autonomia para adequada seleção dos alimentos, adotando uma dieta equilibrada e variada (SOARES, 2013). Estima-se que 50% dos candidatos a cirurgia bariátrica tenham sinais de vício em comer. Este quadro pode ser considerado como um suposto estado alimentar vicioso, pois o vício em comer é uma situação no qual o paciente exibe um padrão de dependência para certos tipos de alimentos, geralmente ricos em lipídios ou carboidratos. Durante o pré-operatório pacientes que consomem poucos alimentos fontes de vitaminas e minerais, possuem um risco maior para aquisição de doenças associadas a obesidade ou um potencial aumento dela, uma vez que maus hábitos alimentares e de vida inadequados, contribuem para tais comorbidades (MARTINS, 2018). Durante pós-operatório desses são exigidas muitas adaptações nos hábitos alimentares, pois o consumo de alimentos ricos em lipídeos e de alto valor calórico são desencorajados, visando aumentar a perda de peso, diminuir a prevalência de deficiências nutricionais e manter a saúde pós-cirurgia (BONAZZI, 2007). Havendo então a necessidade do indivíduo aumenta a ingesta de alimentos ricos em vitaminas e minerais (alimentos integrais, proteínas magras, frutas, legumes e vegetais) em virtude do tratamento e um novos hábitos de vida, pois implicações podem prejudicar as vias de absorção dos nutrientes e consequentemente afetando o estado nutricional (MARTINS, 2018). A capacidade do paciente se adaptar às mudanças na dieta e estilo de vida após a cirurgia pode ser influenciada pelos traços psicológicos de comportamento alimentar do próprio indivíduo, podendo interferir diretamente nos resultados esperados após a cirurgia. A alimentação e suplementação desses pacientes bariátricos devem conter pré e probióticos, fibras solúveis, manter macros e Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 136 | micronutrientes em equilíbrio para a manutenção das funções físicas, mentais e emocionais, não esquecendo que os nutrientes são a fonte natural de formação das moléculas que constituem e mantém o funcionamento adequado do nosso organismo. (VIANA, 2009). A cirurgia bariátrica é baseada em mudanças fisiológicas e anatômicas do trato gastrointestinal, que incluem grandes mudanças nas comunidades microbianas do intestino, há um interesse crescente em entender que mudanças na microbiota intestinal. Que podem atrapalhar a cirurgia metabólica ou levar a uma melhoria da glicemia, controle e perda peso, principalmente tecido adiposo. Significativas alterações na microbiota intestinal são relatadas após cirurgia bariátrica (tabela 11.5). Os possíveis mecanismos para essas alterações na microbiota intestinal incluem mudanças no padrão alimentar, má absorção de nutrientes, alterações no metabolismo dos ácidos biliares, alterações no pH gástrico e alterações no metabolismo dos hormônios. Ocasionando impacto na eficácia da cirurgia durante o pós-operatório. (ULKER, 2019) A curto prazo as mudanças no padrão alimentar podem causar rápidas alterações na composição da microbiota intestinal. Os enterótipos de Prevotella foram associados a dietas ricas em carboidratos (simples e complexos), enquanto o enterótipo Bacteroides estão associados a uma "dieta ocidental" típica, rica em proteína animal e gordura saturada. Em particular, dietas com baixo teor de gordura, alto teor de carboidratos e dietas com alto índice de carboidratos e índice glicêmico afetam as quantidades de cepas específicas de maneira diferente na microbiota intestinal (FAVA, 2103). Após a cirurgia bariátrica, o jejuno distal e íleo proximal são expostos a uma quantidade alta de ácidos biliares, enquanto o intestino superior terá a ausência de “competição” desses ácidos com os lipídios da dieta. Como a desconjugação da taurina e da glicina é catalisada pelas hidrolases do sal biliar, presentes em todas as principaisdivisões bacterianas, esse aumento na quantidade de bactérias no intestino superior foi associado ao aumento da desconjugação da BA (ANHÊ, 2017). A alteração no tamanho do estômago aumenta significativamente o pH gástrico, afetando também o pH intestinal. A redução da acidez estomacal está ligada a alterações na população microbiana, gerando crescimento no espaço gastrointestinal. Essa elevação do pH fornece um ambiente mais favorável para bactérias como Akkermansia muciniphila, E. coli e Bacteroides spp. Além disso, a redução da barreira gástrica (isto é, pH aumentado) poderia facilitar a colonização intestinal pela microbiota oral, explicando o aumento da presença de Streptococcus spp., Fusobacterium nucleatum, Bifidobacterium dentium e Veillonella spp. (ANHÊ, 2017). Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 137 | Algumas bactérias têm a capacidade de modular a secreção enteroendócrina, como por exemplo a E. coli, mostrando correlação positiva com os níveis plasmáticos de GLP-1. Além disso, a bactéria degradante de mucina A. muciniphila está associada também à secreção de GLP-2. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 138 | (TABELA 11.5) PERFIL TAXONÔMICO DA MICROBIOTA INTESTINAL APÓS CIRURGIA BARIÁTRICA (ANHÊ, 2017) MICRORGANISMO ALTERAÇÃO RELATADA Microbiota total ↑ H Firmicutes ↓ A,H − Erysipelotrichales (ordem) ↓ A Lactobacillales (ordem)/Lactobacillus spp. ↓ A − Lactobacillus reuteri ↓ H Clostridiales (ordem) ↓ H − Clostridium difficile ↓ H Dorea spp. ↓ H − Streptococcus spp. ↑ H − Staphylococcus epidermis ↓ H Eubacteriumrectale ↓ H Faecalibacterium prausnitzii ↓ H ↑ H* Veillonella spp. ↑ H Bacteroidetes ↓ A,H Bacteroides/Prevotella spp. ↑ H Alistipes spp. ↑ A,H Actinobacteria Bifidobacterium spp. ↓ H ↑ H* Chloroflexi Thermomicrobiumroseum ↓ H Fibrobacteres Fibrobacter succinogenes ↓ H Verrucomicrobia Akkermansia muciniphila ↑ A,H Proteobacteria ↑ A,H GammaProteobacteria (classe) ↑ A,H Escherichia coli ↑ A,H − Klebsiella pneumoniae ↑ H Shigellaboydii ↑ H − Salmonella enterica ↑ H Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 139 | A, estudos em animais; H, estudos em humanos. Notas: Os filos são descritos em negrito. Gêneros e espécies estão em itálico. *divergências de resultados entre diferentes estudos. Hormônios como a leptina e a grelina alteram seu padrão de liberação após cirurgia bariátrica. A mudança nos hormônios está relacionada ao metabolismo energético e à microbiota. Embora a relação entre a microbiota intestinal e a grelina não seja totalmente compreendida, é relatado que os prebióticos modulam a microbiota intestinal e os prebióticos diminuem os níveis circulantes de grelina (CANI, 2009). Foi relatado que os níveis séricos de leptina em circulação se correlacionam positivamente com Mucispirillum, Lactococcus e a alta quantidade de Lachnospiraceae que não pode ser classificada. Outro estudo relatou que a leptina tem uma correlação negativa com Bacteroides, Clostridium e Prevotella, e uma correlação positiva com Bifidobacterium e Lactobacillus (ANHÊ, 2017). Sabe-se hoje que pessoas obesas e magras possuem diferentes microbiotas intestinais e as bactérias que habitam no trato gastrointestinal afetam o ganho de peso e a regulação do metabolismo energético. A adoção e promoção de novos hábitos alimentares saudáveis são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida e consequentemente para a manutenção da perda de peso a longo prazo. − Enterobacter hormaechei ↑ A Pseudomonas spp. ↑ H EpsilonProteobacteria − Helicobacter spp. ↓ H Citrobacter spp. ↑ H Spirochaetes − Treponema pallidum ↓ H Fusobacteria − Fusobacterium nucleatum ↑ H − Fusobacterium periodonticum ↓ H Archae (reino) ↓ H ↑ A* Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 140 | REFERENCIAS ANGRISANI, L., SANTONICOLA, A., IOVINO, P., VITIELLO, A., HIGA, K., HIMPENS, J., 623 BUCHWALD, H., IFSO Worldwide Survey 2016: Primary, Endoluminal, and Revisional Procedures. Obesity Surgery, 28(12), 3783- 3794. (2018). ANHÊ, F. F.; VARIN, T. V.; SCHERTZER, J. 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Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 142 | Kissy Rodrigues Borges1 Kissy95@hotmail.com Ludmyla Auxiliadora Baumgratz de Brito1 1.Faculdade de Medicina – Universidade Alfredo Nasser Aparecida de Goiânia – Goiás . 2. Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP – SP Adriana Alves de Meneses Delevedove2 Na era moderna (século XX), George Porter Philips foi o estudioso pioneiro que notou que o intestino pode influenciar nos distúrbios mentais. O mesmo observou a presença de constipação intestinal em seus pacientes com depressão e melancolia no Bethlem Royal Hospital em Londres. Muito se dizia na época que as emoções influenciavam o hábito intestinal, no entanto, Philips buscou provar que o contrário também era verdadeiro [1]. Por conseguinte, para isso, George Porter Philips introduziu na dieta desse grupo de pacientes com quadros depressivos e constipação intestinal, kefir, bebida láctea fermentada que constitui microorganismos probióticos, como Lactobacillus, por exemplo. Além disso, ele realizou nesse grupo uma restrição alimentar para baixo teor calórico [1]. No estudo, em seu teste terapêutico, Philips constatou que dentre os dezoito pacientes observados, onze se recuperaram completamente dos sintomas e outros dois tiveram uma evolução positiva [1]. Portanto, surgiram inúmeros estudos posteriores a Philips relacionando as disfunções gastrointestinais a distúrbios mentais. Todavia, para aprofundar satisfatoriamente sobre as patologias é necessário saber como a disbiose intestinal pode influenciar e gerar consequências para o sistema nervoso central (SNC). CAPÍTULO 12 Disbiose e Doenças Mentais Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 143 | Tabela 1: retratação dos resultados do estudo de George Porter Philips (de maneira estimada) Comunicação entre o sistema gastrointestinal e o cérebro O sistema nervoso entérico (SNE) e o SNC se correlacionam bidirecionalmente, ou seja, ambos são capazes de se influenciar. Essa comunicação pode ocorrer por meio de sinalização neuronal (nervo vago e sistema nervoso entérico), metabólica, imunológica e hormonal [2]. Há literaturas que tratam a microbiota intestinal como um órgão próprio e “funcional” [3]. O SNE possui neurônios do plexo de Meissner (submucoso) e Auerbach (mioentérico). Em todo TGI (trato gastrointestinal), existe o plexo primário, no qual esses neurônios são reunidos formando gânglios que interagem entre si [3]. O plexo de meissner constitui apenas o plexo primário, contudo, o de Auerbach assume ramificações culminando no plexo secundário, sendo que em algumas regiões ocorre ramificações seguintes mais afinaladas (plexo terciário), logo, todas as camadas parietais são envolvidas com essa extensa rede que é arquitetada [4]. O nervo vago é o componente essencial das vias parassimpáticas (aferente e eferente). Dentre suas aplicações engloba-se o peristaltismo intestinal (figura 1). Sabe-se que algumas vertentes afirmam que o nervo vago aferente se ativa por meio da microbiota intestinal, logo, o nervo vago possui certa competência anti-inflamatória, o que protege contra infecções, todavia as evidências literárias trazem certas dúvidas sobre essa função [5, 6]. Diversos neurotransmissores (catecolaminas, acetilcolina, GABA, histamina) são obtidos por meio de precursores, que são microorganismos comensais no TGI. Portanto, forma-se o eixo entre cérebro e intestino, pelo fato de bactérias serem necessárias para que substâncias neuroativas sejam geradas (Figura 1 e tabela 2) [2]. Evolução Número de pacientes Porcentagem Pacientes que se recuperaram totalmente 11 61,11% Pacientes que tiveram melhora significativa (mas sem resolução do quadro) 2 11,11% Pacientes sem melhora significativa 5 27,77% Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 144 | Figura 1 – Características da microbiota intestinal e os neurotransmissores. Por conseguinte, na tabela abaixo há uma exemplificação de bactérias e os neurotransmissores produzidos por intermédio das mesmas: Bactérias Neurotransmissor produzido Candida, Streptococcus, Escherichia, Enterococcus Serotonina Lactobacillus, Bifidobacterium GABA Bacillus, Serratia Dopamina Lactobacillus Acetilcolina Escherichia, Bacillus, Saccharomyces Noradrenalina Tabela 2: gêneros bacterianos precursores e os respectivos neurotransmissores produzidos. A resposta motora intestinal sofre influências da microbiota através da formação de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e peptídeos (quimiotáticos) que excitam o SNE. Com isso, nota-se a importância que a MICROBIOTA intestinal confere à homeostase, pois ao estar desregulada pode acarretar diarreia e constipação intestinal [4]. Bifidobacterium bifidum e Lactobacillus acidophilus promovem a motilidade, já determinadas espécies de Escherichia vão inibir. Bifidobacterium infantis possui relação com a produção do precursor de triptofano, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 145 | aminoácido indispensável para a estruturação de muitos agentes biologicamente ativos, como neurotransmissores, por exemplo, a serotonina (5HT), estando relacionado, assim, à fisiopatologia da depressão [5, 6]. Tendo em vista atribuições dos saberes metagenômicos (estudo genético de uma amostra ambiental que torna possível a análise de organismos não-cultiváveis em laboratório), nota-se que há correlação com a baixa pluralidade bacteriana e o consequente risco de evoluir para doenças inflamatórias e assim, levar a alterações comportamentais e ao estresse do organismo [2, 7]. Esses eventos inflamatórios podem se dar devido a produção de toxinas metabólicas por microoganismos patogênicos que advêm da instabilidade da microbiota intestinal, bactérias patogênicas e benéficas competem entre si [6]. Por ventura uma mulher tenha feito uso de antibióticos indiscriminadamente no decorrer da vida, assim como, a via do parto que a mesma escolher ter seu filho, pode influenciar direta e indiretamente a microbiota do recém-nascido (RN). Os RNs possuem um ecossistema imaturo que aumenta gradativamente e aproximadamente aos dois anos e meio de idade a criança possui a maioria da microbiota constituinte do adulto. Com isso, na infância, a disposição microbiana que habita o intestino pode estabelecer o desenvolvimento futuro de certas patologias [2]. 1. Alterações comportamentais e patologias relacionadas à disbiose intestinal 2.1. Autismo O Transtorno do Espectro Autista (TEA) se estabelece no sistema neurológico por fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, sendo caracterizado por resistência a interação social e comunicação, assim como, comportamentos repetitivos e restritivos [8]. Apesar de ser um transtorno que não há cura e de ser permanente, ao fazer uma intervenção precoce, pode-se ter uma melhora significativa do prognóstico, com alívio de alguns comportamentos esteriotipados, por exemplo [8]. Pode-se citar como fatores de risco para o autismo, além de serem fatores que alteram uma MICROBIOTA intestinal em pleno desenvolvimento, o nascimento por cesárea, hospitalização, infecções prévias e uso de antibióticos [9]. Por conseguinte, ao tentar intervir precocemente no TEA deve-se compreender os fatores ambientais que influenciam o comportamento e outras manifestações, como sintomas gastrointestinais[9]. É relevante afirmar que o TEA não é um distúrbio cerebral primário, no entanto, envolve anormalidades sistêmicas, interferindo na função imunológica e metabólica [9]. Há uma teoria que sugere que indivíduos portadores de TEA são incapazes de digerir completamente peptídios em aminoácidos, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 146 | levando à produção de gluteomorfinas e caseomorfinas (cadeias peptídicas que se estruturam de maneira similar aos opiáceos) [10]. Crianças com a alimentação irrestrita apresentam maior liberação de citocinas pró- inflamatórias que as com dietas restritas, de acordo com estudos [10]. Logo, acredita-se que há um aumento da permeabilidade intestinal em pessoas com TEA e isso resulta na passagem dos peptídios para a corrente sanguínea, e posteriormente, para a barreira hematoencefálica culminando nos sintomas do TEA, que previsivelmente se aproxima à influência dos opióides nessa patologia, (em uma menor sociabilidade e persistência desses comportamentos) [10]. Por isso, há estudos que buscam fundamentos para intervenções dietéticas, como diminuir da dieta peptídios com funções opióides, ou seja, fontes alimentares contendo glutén e caseína [10]. Dessa forma, há evidências que a subtração dessas substâncias da dieta demonstra diminuição da quantidade de peptídios na urina com melhora considerável do comportamento e redução dos sintomas gastrointestinais. Sabe-se também que a gliadina é componente do glutén que é responsável por sinalizar e ativar a zonulina (proteína moduladora da permeabilidade) [10]. Apesar dessa dieta restritiva poder diminuir o quadro inflamatório intestinal, há controvérsias, pois existe indícios que possivelmente é prejudicial quando se refere à diversidade da microbiota intestinal, por reduzir mecanismos reguladores e de defesa contra patógenos. Portanto, nota-se a importância de um bom acompanhamento nutricional dos pacientes com TEA, pelo fato, de a resposta terapêutica ser bastante individual [10]. Agora, no que se diz respeito, aos ácidos graxos entéricos de cadeia curta (AGECCs), estes podem ser produzidos na fermentação feita pelas bactérias oportunistas intestinais devido ao carboidrato na dieta e podem ser fatores ambientais que favorecem o surgimento e manifestação do TEA [9]. Pode-se citar como principais AGECCs relacionados ao TEA: ácido acético, ácido propiônico (APP) e ácido butírico. Estes podem agir como substratos energéticos, contudo, são capazes de modificar fenotipicamente as células epiteliais do cólon [9]. Hoje, sabe-se que o APP está aumentado nas fezes de crianças com TEA. Este é o produto fundamental da fermentação das bactérias ligadas ao autismo, sendo elas, clostrídios, desulfobrio e bacteróides e é essencial para a modulação de reações bioquímicas dessa patologia [9]. Dessa forma, percebe-se que os AGECCs são um agrupamento de metabólitos da microbiota intestinal vinculado ao TEA que impulsiona repercussões no intestino, cérebro, sistema imunológico e metabólico e no próprio comportamento [9]. Em um estudo feito por Derrick F. Macfabe com ratos Long-Evans grávidas, Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 147 | injetou-se APP uma vez ao dia e em filhotes duas vezes ao dia a cada dois dias, posteriormente notou-se que o APP pré e pós natal aumentou o comportamento de ansiedade em ratos fêmeas [9]. Hsiao e outros estudiosos também buscaram comparar a microbiota de animais com autismo e saudáveis. Percebeu-se em ratos com a patologia variações parecidas aos pacientes humanos com TEA, de modo que as maiores alterações se encontravam nas bactérias pertencente ao filo Firmicutes com elevação e nas do filo Bacteroidetes com diminuição. Realizou-se o tratamento com Bacterioides fragilis (comensal humano), com isso, houve melhora da microbiota intestinal e redução de comportamentos típicos do TEA [11]. Em uma outra pesquisa, foi feita uma suplementação probiótica por três meses em crianças com TEA com idades entre cinco e nove anos, tendo como resultado melhora da microbiota e dos sintomas do TGI e melhora significativa comportamental [11]. Com isso, observa-se a grande diversidade de análises que foram feitas ao longo dos anos almejando explanar sobre a relação constituinte entre autismo e disbiose intestinal. Desse modo, pode-se notar o questionamento a respeito da via bidirecional que o TEA possivelmente envolve, entre o próprio transtorno e os sintomas, se ambos podem se influenciar e qual seria predominante. Se o TEA provoca a disbiose intestinal ou as modificações da microbiota que são culpadas pelo surgimento do autismo e seus sintomas [11]. 2.2. Depressão, estresse e ansiedade A depressão é uma síndrome psiquiátrica com altos níveis de incapacitação funcional [6]. O quadro clínico comum é: humor triste, irritabilidade, perda de interesse em executar atividades que antes geravam prazer, baixa autoestima, presença de distúrbios do sono e apetite [12]. Ela é definida por uma disfunção bioquímica cerebral provocada pela diminuição no metabolismo da serotonina (seja por uma menor quantidade ou um déficit no próprio metabolismo). Como foi afirmado anteriormente, a produção de serotonina está diretamente relacionada à microbiota intestinal e consequentemente à depressão [6, 13]. As motivações são multifatoriais, neurobiológicas e genéticas (endógenas) e psicossociais (exógena) [6]. No que se diz respeito à fisiopatologia da disbiose conectando à depressão e estresse, há indícios que tenha envolvimento de citocinas, por meio da ativação de vias imunológicas tanto centrais quanto periféricas e da translocação da microbiota, por conta do aumento da permeabilidade intestinal e na diminuição da seletividade na absorção de toxinas, proteínas ou peptídeos, colaborando assim, para a inflamação local e sistêmica [14, 12]. Conforme pode-se ver na exemplificação a seguir (figura 2): Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 148 | Figura 2 – Fisiopatologia da disbiose. As citocinas sintetizadas pelo sistema imunológico que influenciam diretamente a atividade cerebral, em especial em regiões hipotalâmicas, são as interleucinas pro- inflamatórias (IL-1 e IL-6), na qual, proporcionam a liberação do hormônio liberador de corticotrofina (CRH). O mesmo é o hormônio regulador peptídico preponderante do eixo hipotálamo-hipofisário- adrenal, que é o eixo núcleo do estresse [6]. A serotonina é uma indolamina que é vista em células do TGI, plaquetas e no SNC de mamíferos e 95% desta é produzida no intestino (dentro dessa porcentagem, cerca de 90% é produzido em células enteroendócrinas, um subtipo de células enterocromafins, e 10% nos neurônios entéricos) [15]. Com isso, nota-se sua atuação na modulação da motilidade do TGI, tônus vascular periférico, tônus vascular cerebral, além de importante função plaquetária e age na fisiopatologia de alterações do humor, hipertensão sistêmica e pulmonar [15]. Conforme pode-se observar no esquema da figura 3, o triptofano (precursor da serotonina) sofre ação da enzima triptofano hidroxilase se transformando em 5- hidroxitriptofano, logo, é descarboxilado a 5HT pela enzima 5-hidroxitriptofano descarboxilase. Posteriormente, é armazenada em grânulos secretórios por meio de um condutor vesicular e liberada para a fenda sináptica por exocitose dos neurônios serotoninérgicos. Dessa forma, pelas ações das enzimas, monoamina oxidase e aldeído desidrogenase, tem-se sua metabolização e consequente origem a um dos seus metabólitos mais importantes, ácido 5- hidroxiindolacético [15]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9149 | Figura 3. Via simplificada da produção Serotonina. Por conseguinte, a serotonina está relacionada com o equilíbrio do sono, humor, apetite, alucinações, comportamentos estereotipados e percepção de dor, por exemplo [15]. A serotonina age nos receptores 5-HT3 (fibras aferentes vagais), despolariza os neurônios sensitivos dessa via o que leva na ativação do nervo vago que conduz vários estímulos, do TGI ao SNC. As adulterações na produção e liberação da serotonina (síntese deficiente e consequente baixa liberação, por exemplo) sucedidas no TGI são transmitidas ao SNC pelo nervo vago, pois ele possui uma extensa quantidade de fibras aferentes que provém do TGI [15]. Portanto, pode-se afirmar que o estado inflamatório intestinal, entrelaçado a alterações na absorção de nutrientes, diminui a sintetização de serotonina, evoluindo para quadros clínicos de ansiedade e depressão, constantemente frequente na população idosa [15]. Sabe-se que os medicamentos antidepressivos (como o Inibidor seletivo da recaptação de serotonina) não atuam no aumento da produção do neurotransmissor e sim permite um maior tempo de ação na fenda sináptica, por exemplo. Deste modo, percebe- se que ao usar um fármaco antidepressivo para que se obtenha resultados efetivos é necessário que o paciente tenha uma boa produção de neurotransmissores, sendo necessário preparar o ambiente intestinal. Logo, atrelar uma dieta saudável à ação de probióticos e aos antidepressivos seria um método adequado para minimizar o processo inflamatório, normalizando a microbiota intestinal e reduzindo assim, os sintomas relacionados à depressão [16]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 150 | 2.3. Alzheimer O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa relacionada principalmente à idade, com deterioração cognitiva e neuropsiquiátrica, acarretando uma progressiva incapacitação funcional (em atividades básicas e instrumentais de vida diária). Uma das primeiras manifestações clínicas é a deficiência da memória anterógrada, sendo que, à medida que a patologia progride outras funções cognitivas retrocedem. É muito comum também, evidenciar distúrbios comportamentais como, alucinações, agressividade, hiperatividade, irritabilidade e depressão [17]. A doença é qualificada pela presença de placas de péptidio beta-amiloide e de agregados intracelulares de proteína tau hiperfosforilada que ocasionam lesão neuronal gradativamente [18]. Dessa maneira, pode-se afirmar que o desenvolvimento da Doença de Alzheimer (DA) se dá por inúmeros fatores, genéticos, idade, história familiar e fatores ambientais com grande relevância [11]. Mesmo que a influência da microbiota entérica no desenvolvimento e na progressão da doença de Alzheimer seja pouco compreendida, há importantes investigações a respeito. Elmira Akbari e outros pesquisadores notaram após suplementarem 200 mL de leite (enriquecido com Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium bifidum e Lactobacillus fermentum) por dia, por 12 dias, em um grupo de pessoas com Alzheimer boa evolução do score do Mini-Mental State Examination, além de outras melhoras consideráveis como, da sensibilidade à insulina, do nível de triglicerídeos, redução dos níveis da proteína-C reativa e do malondialdeído [18]. Diversos pesquisadores afirmam que a inflamação intestinal provocada pela disbiose é um fator que está correlacionado ao desenvolvimento da DA. Observou-se que enterobactérias, por meio de citocinas inflamatórias (em estado inflamatório sistêmico), acentuam a progressão desta patologia, havendo aumento de colônias de Escherichia e Shighella e baixa de número de colônias de E. rectale, sendo possível perceber deterioração da cognição e elevação do número de placas beta amiloides [18]. Como foi explicitado anteriormente, bactérias entéricas, como Lactobacillus e Bifidobacterium produzem GABA, neurotransmissor indispensável para a cognição. Possui conexão com metabolização do glutamato, logo, se elevado o GABA também estará. Portanto, com a disbiose, ocorrerá uma considerável redução deste neurotransmissor no TGI e no SNC e consequente deterioração da cognição (didaticamente visto na figura 4) [18]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 151 | Figura 4. Via de possível evolução da disbiose. Por conseguinte, ao analisar as pesquisas e estudos atuais sobre DA e microbiota intestinal, ainda não se compreende verdadeiramente o mecanismo envolvido, no entanto, os mesmos apontam ligação entre a disbiose entérica e a progressão da doença de Alzheimer [18]. 2.4. Parkinson A Doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa progressiva do SNC, onde ocorre a morte celular de neurônios produtores de dopamina da substância nigran (SN). É determinada pelo acúmulo da proteína alfa-sinucleína (AS) intracelular e por sua agregação na SN (chamados de corpos de Lewy), ela atinge todos os níveis do eixo cérebro-intestino, incluindo o sistema nervoso central, entérico e autónomo. A DP pode ser classificada como parkinsonismo primário, secundário, plus e heredodegenerativo [19, 20]. A etiologia é idiopática, porém, presume- se que possui origem devido a fatores genéticos, toxinas ambientais, estresse oxidativo e anormalidades mitocondriais. Também pode-se afirmar que a DP está profundamente relacionada ao envelhecimento, pois com o passar dos anos há uma certa aceleração de perda de neurônios dopaminérgicos [20]. O quadro clínico característico é: tremores em repouso, acinesia, bradicinesia, rigidez (cujo sinal clínico é o sinal em dente de serra), instabilidade postural, transtornos neuropsiquiátricos (ansiedade e depressão) e disfunção do SNA (os sintomas predominantes relacionados ao SNA estão ligados ao TGI, como, a diminuição do paladar, os distúrbios da deglutição, o esvaziamento gástrico lento, a perda de peso e a constipação intestinal) [19, 20, 21]. Há indícios que ocorre acumulação de AS agregada em inclusões intraneuronais Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 152 | extracerebral, como, em neurônios do SNE do plexo submucoso mioentérico do TGI. Ao nível intestinal também observou-se que a concentração de AS fosforilada segue o padrão de inervação do nervo vago. Em um estudo feito por Svensson e outros estudiosos a vagotomia troncular completa em um grupo de pacientes com DP comparada à vagotomia parcial em outro grupo, apresentou diminuição do risco de progressão da doença, concluindo que pode haver um envolvimento do nervo vago na disseminação dos corpos de Lewy do SNE para o SNC [18, 21]. A desregulação do eixo cérebro- intestino-microbiota na DP pode estar correlacionada a sintomas gastrointestinais, que habitualmente antecedem as manifestações motoras, sustentando a hipótese de que a patologia pode ter princípio intestinal e se disseminar para o cérebro. Vários estudos demonstraram que a microbiota intestinal das pessoas com DP está alterada e está relacionada com os fenótipos da doença [21]. Scheperjans e seus associados ao analisarem pacientes com DP notaram-se uma redução de bactérias Prevotellaceae e aumento de Enterobacteriaceae em relação às pessoas saudáveis. A diminuição de Prevotellaceae pode decrescer a síntese de mucina, o que ocasiona uma elevação da motilidade intestinal, concedendo uma maior exposição regional e sistêmica da mucosa intestinal a endotoxinas bacterianas. Scheperjans ao comparar pacientes com fenótipos mais graves de instabilidade postural e pacientes apenas com tremor observou-se maior quantidade de Enterobacteriaceae no primeiro grupo, percebe-se assim, interligação entre elevaçãoda quantidade desta bactéria e os sintomas axiais mais graves em indivíduos com DP [21]. Os receptores do tipo Toll possuem função importante no sistema imunológico, pois reconhecem diversos antígenos que estão presentes nos microrganismos, e a alteração da sinalização pode estar envolvida na alfa-sinucleinopatia na doença de Parkinson. Uma alta estimulação do sistema imunológico inato pela disbiose adicionado a uma permeabilidade intestinal aumentada, podem suscitar uma inflamação regional e sistêmica, ativação das células gliais do sistema nervoso entérico, e assim, fomentando o desenvolvimento da alfa- sinucleinopatia. O sistema imunológico também pode sofrer interferência pelas proteínas bacterianas, pela reação cruzada com os antígenos humanos, e pelos componentes bacterianos, como os Lipopolissacarídeos [21]. Portanto, mesmo ainda não tendo evidências concretas que a microbiota intestinal intervenha diretamente na fisiopatologia da DP, Sampson e outros pesquisadores concluíram que a microbiota intestinal é fundamental para provocar os déficits motores, ativar a micróglia e fazer com que ocorra a agregação da AS [21]. Dibiose – Características e Atualizações - ISBN 978-65-87580-02-9 153 | Referências: [1] BROWN, Jessica. How your belly could heal your brain. 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