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59 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Unidade II 5 UROGINECOLOGIA A uroginecologia é uma das áreas, na saúde da mulher, em que o fisioterapeuta tem seu trabalho bastante reconhecido, principalmente no tratamento da incontinência urinária (IU). Atualmente, é difícil uma mulher com IU realizar uma cirurgia como tratamento inicial sem antes passar pelo tratamento conservador com o fisioterapeuta. Além disso, mesmo realizando a cirurgia, essa mulher precisará de fisioterapia no pós-operatório para garantir o sucesso da intervenção. Entretanto, antes de estudar a uroginecologia em si, é preciso conhecer bem a anatomia e a fisiologia do sistema urinário feminino. Anteriormente, vimos rapidamente a anatomia, entretanto, a partir de agora, o assunto será mais detalhado e relacionado ao sistema urinário. 5.1 Anatomia do sistema urinário 5.1.1 Bexiga A bexiga é um órgão autônomo, de musculatura lisa, cuja função é armazenar a urina sem esforço, dor ou perda involuntária e eliminá-la de forma voluntária, também sem dor ou esforço. Ela é envolvida pelo músculo detrusor e inervada pelos nervos hipogástrico e pélvico. 5.1.2 Uretra A uretra é constituída por músculos estriado e liso da parede uretral. Sua função é realizar o fechamento uretral e manter a resistência elevada durante a fase de armazenamento, independentemente de fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os fatores intrínsecos estão a integridade das estruturas anatômicas da uretra, elasticidade e tônus. Já entre os extrínsecos estão as estruturas que sustentam a uretra, ou seja, músculos, fáscias e ligamentos. 5.1.3 Fáscia endopélvica A fáscia endopélvica pode ser dividida em dois folhetos, o parietal e o visceral. O folheto parietal reveste as paredes abdominal e pélvica, e o folheto visceral funciona como um “envelope” para o útero, a vagina, a bexiga e o reto. Dentro do folheto visceral, encontra-se uma fáscia importante na manutenção do suporte vesical e do eixo uretrovesical, a fáscia pubocervical, que ainda pode ser dividida em porção horizontal e porção vertical. 60 Unidade II A porção horizontal da fáscia pubocervical sustenta a vagina e a bexiga, enquanto a porção vertical sustenta a uretra e fornece apoio a esta durante o esforço. Portanto, pode-se observar que as fáscias têm um importante papel na continência. Lembrete Fáscias são estruturas formadas por tecido conjuntivo fibroso que interligam e envolvem estruturas do nosso corpo, além de desempenhar um importante papel de apoio ao sistema musculoesquelético. 5.1.4 MAP Anteriormente, foram detalhados todos os músculos que compõem os MAP. Nesta etapa, é importante saber que toda essa musculatura é composta por fibras rápidas e lentas – 70% dos MAP são compostos por fibras de contração lenta ou sustentadas, fibras tônicas ou fibras do tipo I e os outros 30% são formados por fibras de contração rápida, fibras fásicas ou do tipo II. Assim, a principal função dos MAP é sustentar estruturas, como pode ser observado na figura a seguir. A compreensão a respeito dos MAP é muito importante, uma vez que os exercícios propostos à paciente estarão relacionados a essa função. A contração dos MAP é diferenciada por três camadas, e cada uma delas contrai em sentidos diferentes. A camada superior, por exemplo, participa do mecanismo de continência, realizando contrações na direção horizontal, com o músculo elevador do ânus contraindo na direção horizontal posterior, e todos os outros na direção horizontal anterior. A camada inferior também realiza contrações horizontais, mas com a função de sustentação. Já a camada intermédia apresenta cotrações no sentido caudal. Musculatura longitudinal do ânus Elevadores do ânus Região Região lombossacralombossacra (EA)(EA) Esfíncter Esfíncter externo do ânusexterno do ânus Região doRegião do PúbisPúbis Músculo puborretal Músculo pubococcígeo Figura 34 – Sustentação dos órgãos pelos MAP Disponível em: https://bit.ly/3C5QPVG. Acesso em: 3 fev. 2021. 61 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 5.1.5 Inervação dos MAP Dois nervos principais realizam a inervação dos MAP: o nervo sacral, raízes S3 e S4, que inerva o músculo elevador do ânus, e o nervo pudendo, raízes de S2 a S4, que inerva os músculos esfíncter externo do ânus e da uretra, transverso superficial e profundo do períneo, isquiocavernoso e bulboesponjoso. 5.1.6 Ligamentos do assoalho pélvico Os ligamentos são estruturas resultantes de condensações da fáscia endopélvica. São estruturas contráteis, portanto têm um importante papel no suporte dos órgãos pélvicos, e a falta de integridade deles pode induzir a algumas disfunções pélvicas. A vagina e o útero são sustentados com auxílio dos ligamentos uterosacral e cardinal, a bexiga é sustentada pelo ligamento pubovesical, e a uretra e o ânus pelos ligamentos pubouretral e anococcígeo, respectivamente. Os principais ligamentos podem ser visualizados na figura a seguir. Região Região lombossacralombossacra PúbisPúbis Ligamentos Ligamentos Útero CérvixCérvix Corpo perinealCorpo perineal Bexiga LC Ligamentos Ligamento cardinal Reto Figura 35 – Ligamentos Disponível em: https://bit.ly/3k6ErhE. Acesso em: 3 fev. 2021. 5.2 Fisiologia da micção A micção é um processo cíclico do nosso organismo no qual a urina é armazenada e eliminada. Essa função é autonômica, portanto, mediada pelo sistema nervoso autônomo, apesar de poder ser influenciada por aspectos culturais, comportamentais, sociais, neurológicos, alterações emocionais, bem como pelo gênero e pela idade. Para compreender melhor como ocorre a micção e todas as suas etapas, ela será dividida em duas fases: fase de armazenamento e fase de esvaziamento, que serão exploradas a seguir. 62 Unidade II A fase de armazenamento tem função mediada pelo sistema nervoso simpático. Nessa fase, com a distensão da parede vesical para o acúmulo de urina na bexiga, mecanoceptores são estimulados e encaminham a informação ao cérebro através das vias aferentes sensitivas, mais especificamente ao córtex pré-frontal e ao centro pontino da micção, que mantêm o sistema nervoso parassimpático inibido. Ocorre, assim, a atuação do sistema nervoso simpático, com a informação retornando via eferente, na medula, e utilizando como neurotransmissor pós-ganglionar a noradrenalina (Nor) através do nervo hipogástrico (T10-L2), que se liga aos receptores nicotínicos α1 uretrais e β3 vesicais, os quais promovem a contração do esfíncter interno e o relaxamento vesical, respectivamente. Simultaneamente, o nervo pudendo é ativado, que, por sua vez, realiza a contração do esfíncter uretral externo, aumentando o tônus e o fechamento uretral. Então, quando se tem aquela sensação de repleção vesical, a “bexiga cheia”, após o enchimento de determinado volume de urina, essa informação é enviada ao encéfalo por receptores de tensão-estiramento e é desencadeado o reflexo miccional no momento e no local adequados, iniciando a fase de esvaziamento vesical. A fase de esvaziamento é mediada pelo sistema nervoso parassimpático. Quando a micção é desejada, o centro pontino da micção interrompe a comunicação com o sistema nervoso parassimpático, fazendo com que este comece a atuar e interrompa a ação do sistema nervoso simpático. Nessa fase, utiliza-se a acetilcolina (Ach) como neurotransmissor através do nervo pudendo (S2-S4), que estimula os receptores muscarínicos, provocando a contração vesical e o relaxamento do esfíncter uretral externo. As funções de armazenamento e esvaziamento vesicais dependem da interação de várias estruturas, sistemas nervoso simpático e parassimpático, neurotransmissores, medula espinhal e áreas superiores do sistema nervoso central (SNC). O principal centro facilitador da micção é o centro pontino da micção, localizado no tronco encefálico, na substância cinzenta pontina-mesencefálica, e funciona como uma via final de todos os neurônios motores vesicais. O cerebelo tem um importante papel na coordenaçãoe no relaxamento do assoalho pélvico, bem como na frequência, força e amplitude de contração do detrusor, além de fazer as interconexões com centros encefálicos. O córtex cerebral, por sua vez, exerce um efeito inibitório sobre a micção. Portanto, a micção é deflagrada pelo sistema nervoso periférico, mas controlada e mediada pelo SNC. Lembrete A fase de armazenamento vesical, na qual ocorre o relaxamento da bexiga e a contração uretral, é mediada pelo sistema nervoso simpático. Já a fase de esvaziamento vesical é mediada pelo sistema nervoso parassimpático e nela ocorrem a contração da bexiga e o relaxamento da uretra. 63 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 5.3 Fisiopatologia da incontinência urinária Para entender a fisiopatologia da IU, é necessário conhecer as estruturas que compõem a continência urinária. A continência urinária é mantida pela integridade funcional, anatômica e nervosa dos MAP, juntamente com a fáscia endopélvica e as estruturas uretrais. Sempre mantemos uma pressão uretral maior que a pressão vesical e qualquer interrupção nessa integridade gera disfunções, como a IU. A IU é definida como queixa de qualquer perda involuntária de urina, exceto em crianças. Ela é mais comum em mulheres e pode acometer até 50% delas em alguma fase da vida. A IU pode ser classificada em três diferentes tipos: • Incontinência urinária de esforço (IUE): caracterizada por uma perda involuntária de urina por esforços, durante o exercício físico, ou ao tossir, rir ou espirrar. • Incontinência urinária de urgência (IUU) ou emergência ou urgecontinência: caracterizada por uma perda urinária acompanhada de forte desejo miccional. • Incontinência urinária mista: quando há IUE e IUU, simultaneamente. Antes de discutir mais sobre a IU, é necessário conhecer algumas nomenclaturas importantes, que podem ser classificadas de acordo com os sintomas da mulher. Nos sintomas de armazenamento vesical, é possível falar em: frequência miccional diurna aumentada, em que a paciente revela urinar muitas vezes ao dia; enurese, qualquer perda de urina durante o sono; noctúria, acordar todas as noites, uma ou mais vezes, para urinar; e urgência, que é caracterizada por um desejo repentino e dificilmente adiável de urinar. Entre os sintomas de esvaziamento durante o ato miccional estão: jato fraco, em que ocorre a diminuição da força do jato de urina; hesitação, dificuldade em iniciar a micção; e esforço para urinar, fazer um esforço para iniciar, manter ou aperfeiçoar a micção. Por último, os sintomas pós-miccionais que ocorrem imediatamente após a micção: sensação de esvaziamento incompleto, sensação de ainda ter urina na bexiga após a micção; e gotejamento pós-miccional, caracterizado por uma perda involuntária de urina após a micção, que nas mulheres ocorre assim que levantam do vaso sanitário, ou seja, quando realizam um esforço. 5.3.1 IUE Como visto anteriormente, a IUE é definida como qualquer perda involuntária de urina por esforços, tosse ou espirro, ou seja, quando há aumento da pressão intra-abdominal. Esse tipo de incontinência é a mais comum e afeta cerca de 23% da população mundial. A perda de urina causa constrangimento, isolamento social e impacto negativo na qualidade de vida. Normalmente, quando aumentamos a pressão intra-abdominal, realizamos reflexamente a contração dos MAP e, consequentemente, ocorre maior deslocamento do colo vesical, coaptação uretral e manutenção 64 Unidade II da pressão uretral maior que a pressão vesical para que não ocorra a perda de urina. Faça um teste: tente forçar uma tosse ou realize uma manobra de Valsalva, na qual você inspira o ar e o prende, aumentando a pressão intra-abdominal. Perceba como, reflexamente, você contrairá os MAP. No caso da IUE, essa contração reflexa não acontece ou é insuficiente. Portanto, esse tipo de IU ocorre, principalmente, por três motivos: fraqueza ou atrofia dos MAP, ruptura ou estiramento da fáscia endopélvica ou alteração na vascularização da mucosa, que causa um fechamento anormal da uretra, gerando uma pressão vesical maior que a pressão uretral e, por isso, ocorre a perda da urina. Existem alguns fatores de risco que predispõem pacientes a terem IUE: atletas de alto nível, exercícios de alto impacto, obesidade, tabagismo, constipação intestinal, multiparidade (acima de três gestações), IU gestacional, uso de fórceps, episiotomia, recém-nascido acima de 4 kg, tempo prolongado de trabalho de parto, déficit de colágeno no tecido conectivo pélvico e déficit de elastina na matriz celular. 5.3.2 IUU Na IUU, a mulher se queixa de perda involuntária de urina acompanhada por ou imediatamente precedida de urgência, o desejo súbito de urinar e difícil de adiar. Nesse tipo de IU ocorre a contração involuntária do detrusor, que assim como na IUE, acarretará uma pressão vesical maior que a pressão uretral. Uma patologia que tem entre seus sintomas a IUU e que muitas vezes é diagnosticada como tal é a síndrome da bexiga hiperativa ou hiperatividade do detrusor. Esses pacientes apresentam como característica a presença de contrações involuntárias do detrusor no estudo urodinâmico, ou seja, sem que se dê ordem para urinar, ocorre a contração do detrusor. Além disso, estão presentes outros sintomas, como urgência miccional, aumento da frequência, noctúria e enurese. Essa hiperatividade do detrusor pode ser classificada de acordo com sua etiologia em neurogênica ou idiopática. A do tipo neurogênica ocorre em pacientes com disfunções neurológicas, e a idiopática, quando não há causa aparente e ocorre em pacientes sem alterações neurológicas. Normalmente, a IUU, devido à falta do controle miccional, gera maior perda de urina que na IUE, impactando negativamente a qualidade de vida das pacientes em virtude da urgência. São pacientes que, por exemplo, quando saem de casa, querem saber onde é o banheiro e ficam sempre próximas a ele. 5.4 Diagnóstico da IU Inicialmente, para diagnosticar um paciente com IU, ele deve ter como queixa a perda involuntária de urina. Então, antes de iniciar qualquer avaliação, deve-se excluir a possibilidade de infecção do trato urinário (ITU) e, portanto, devem ser solicitados exames de urina I e urocultura. Descartada a hipótese de ITU, a IU poderá ser diagnosticada através de dois testes simples: o diário miccional e o pad test ou teste do absorvente. 65 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER O diário miccional avalia o horário das micções, o volume de líquido ingerido, os episódios de incontinência e o grau da urgência ou incontinência. Já o pad test é utilizado para quantificar a perda de urina durante os episódios de incontinência, podendo ser realizado como testes provocativos ou em até 24 horas. O pad test de uma hora é preconizado e validado pela International Continence Society (ICS). Nesse teste, a paciente coloca um absorvente, com o peso previamente aferido, e em seguida ingere 500 mL de água e fica 15 minutos em repouso. Depois, ela executa atividades provocativas, como subir e descer escadas, sentar e levantar, tossir, pegar objetos no chão, lavar as mãos e, então, após uma hora, o absorvente é retirado e pesado. O teste é considerado positivo para IU quando o peso do absorvente for maior que 1,1 gramas. Já no caso do teste de 24 horas, o absorvente será pesado e a mulher irá utilizá-lo por 24 horas, sendo sempre orientada a realizar suas atividades comuns, sem alterar a rotina. Após as 24 horas, o absorvente será novamente pesado; se ele estiver com um peso maior que 4 gramas, a paciente será considerada positiva para IU. Outro exame utilizado para o diagnóstico de IU é a urodinâmica, que realiza um estudo do funcionamento da bexiga e da uretra durante as fases de armazenamento, enchimento e esvaziamento. 5.5 Tratamento da IU O tratamento da IU, assim como em outras patologias que envolvem a saúde da mulher, deve ser sempre multidisciplinar. Atualmente, os médicos têm sempre optado, inicialmente, pelo tratamentoconservador e somente diante de um resultado não satisfatório é indicado o tratamento cirúrgico. A fisioterapia é uma das bases do tratamento da IU, e mesmo quando se opta pelo tratamento cirúrgico, a paciente deverá realizar fisioterapia especializada no pré e no pós-operatório. Além da fisioterapia, no tratamento conservador, a paciente é orientada a diminuir os fatores agravantes, como obesidade, tabagismo, ingesta excessiva de líquidos e controle de outras patologias que interfiram no trato urinário. Existem também medicamentos específicos que podem ser utilizados, como estimulantes α adrenérgicos, hormônios, anticolinérgicos e antimuscarínicos. Já o tratamento especializado é realizado através de aplicação de toxina botulínica ou neuromodulação. Por último, o tratamento cirúrgico é mais utilizado quando o tratamento conservador falha. Existem várias técnicas cirúrgicas, que são mais efetivas para IUE, mas, na síndrome da bexiga hiperativa, o insucesso é alto e o risco de infecções é grande. As técnicas mais utilizadas para IUE são as suspensões suprapúbicas e os slings. Na suspensão suprapúbica, são realizadas de duas a três suturas na via púbica e os tecidos são elevados. Os slings são faixas que podem ser inseridas em diferentes vias – abdominal, vaginal ou ambas – para compensar o enfraquecimento da musculatura. 66 Unidade II 5.6 Distopias genitais As distopias genitais ou prolapsos genitais ocorrem devido a um relaxamento generalizado da fáscia endopélvica com envolvimento tanto das fibras musculares quanto do tecido fibroso, podendo ocorrer um defeito de ligação da fáscia com a parede da pelve. Com isso, quando a paciente faz um esforço, as vísceras se deslocam para baixo e ocorre a descida patológica do órgão pélvico, devido ao defeito de sustentação. São patologias mais comuns em mulheres e, com o aumento da idade, há mais risco de ocorrer o relaxamento pélvico, por isso há prevalência em mulheres mais velhas. Entretanto, existem vários fatores intrínsecos e extrínsecos que contribuem para o aparecimento das distopias. Entre os fatores intrínsecos estão: • hereditariedade; • raça, acometendo mulheres brancas, com maior frequência; • doenças neurológicas que causam diminuição da força dos tecidos; • alterações posturais, como aumento da cifose torácica, diminuição da lordose lombar e orientação vertical da bacia; • alterações no tecido conjuntivo; • estado nutricional ruim. Entre os fatores extrínsecos é possível citar condições nas quais as pressões abdominal ou intra-abdominal fiquem aumentadas por tempos prolongados e condições hormonais, como: • fatores relacionados à gravidez e ao parto, como período expulsivo prolongado, aumento de peso superior a 13 kg, recém-nascido com peso maior que 4 kg e aumento da progesterona; • efeitos hormonais que ocorrem na pós-menopausa, como a diminuição do estrógeno; • condições que aumentam a pressão abdominal, como tosse crônica ou obesidade; • constipação intestinal crônica; • tabagismo; • atletas ou mulheres que praticam atividade física em excesso; 67 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER • trabalho físico em que se realizam atividades com levantamento constante de peso; • cirurgias na região do assoalho pélvico, como histerectomia. Pacientes com distopias genitais apresentam um quadro clínico com sintomas que afetam diferentes sistemas – urinário, sexual e intestinal –, e sintomas locais. Entre os sintomas urinários, pode estar presente IU, aumento da frequência miccional, esvaziamento incompleto e hesitação. Já entre os sintomas sexuais, podem-se destacar a dor ou desconforto ao coito, dificuldade na penetração e diminuição da sensação vaginal. Os sintomas intestinais, como prisão de ventre, dificuldade ou desconforto para defecar, sensação de evacuação incompleta, incontinência fecal ou flatos e urgência fecal são mais comuns em prolapsos do reto e do intestino. Por último, a paciente pode relatar sintomas na região do prolapso, ou seja, sensação de pressão ou peso na região vaginal, dor vaginal e perineal e visualização da protrusão do tecido. O diagnóstico da patologia é realizado, principalmente, através do exame físico, que consiste em exame pélvico padrão utilizando espéculo vaginal, toque, determinação de simetria e força dos MAP e exame da extensão máxima do prolapso. Para isso, devem ser realizadas manobras provocativas com aumento de pressão abdominal, manobra de Valsalva, tosse e em diferentes posturas, como decúbito dorsal, sentada e em pé. Exames complementares também devem ser realizados, incluindo a urodinâmica, e exames de imagem, ressonância nuclear magnética (RNM) e ultrassom (US). 5.6.1 Classificação das distopias Os prolapsos podem ser classificados por graus através da classificação de Baden Walker. O prolapso de cada segmento é avaliado de acordo com sua posição anatômica em relação ao hímen, podendo ser graduado de zero a quatro, como demonstrado no quadro e na figura a seguir. Quadro 1 – Classificação de Baden Walker para distopias genitais Graduação Grau 0 Ausência de prolapso Grau 1 Prolapso leve; antes do hímen Grau 2 Prolapso moderado; atinge o hímen Grau 3 Prolapso grave; ultrapassa parcialmente a entrada da vagina Grau 4 Prolapso total; órgão totalmente para fora Adaptado de: Baracho (2007). 68 Unidade II Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 1 Plano médio vaginal Anel himenal Eversão completa 1972 Baden Introito Figura 36 – Classificação de Baden Walker Fonte: Baracho (2007, p. 317). Os prolapsos são nomeados e classificados de acordo com o órgão que é deslocado para baixo, podendo ser do tipo cistocele, enterocele, prolapso uterino, retocele e prolapso da cúpula vaginal. No tipo cistocele, a bexiga urinária aparece na face anterior da parede vaginal; no enterocele, o intestino desce na face posterior da vagina; no prolapso uterino, ocorre a descida do útero, aparecendo inicialmente o colo e, depois, o corpo uterino. Já no tipo retocele, o reto desce sobre a face vaginal posterior e, por último, no prolapso da cúpula vaginal, a vagina desce sobre ela mesma, como se invertesse sua posição. Esse tipo de prolapso é mais comum em mulheres que realizaram histerectomia, ou seja, a retirada de útero e ovários. 5.6.2 Tratamento O tratamento das distopias ou prolapsos deve ser sempre multidisciplinar. Ainda existem poucos estudos em relação ao efeito da fisioterapia no tratamento dessas patologias. Entretanto, os melhores resultados demonstrados são nos graus 1 e 2, ou seja, até o prolapso moderado. Nos estágios mais graves, 3 e 4, a mulher já tem indicação cirúrgica, mas, após a intervenção, haverá necessidade da atuação da fisioterapia. Bons resultados também são apresentados em relação à fisioterapia como forma de prevenção dos prolapsos. 69 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Entre as técnicas utilizadas estão, principalmente, a cinesioterapia e o uso dos cones vaginais, que serão discutidos adiante. Orientações sobre redução de peso e de esforço físico também são recomendados. 5.7 Avaliação fisioterapêutica nas disfunções uroginecológicas Antes de discutir as diferentes técnicas de tratamento, é necessário aprender a avaliar a paciente. A avaliação uroginecológica apresenta características específicas e deve ser realizada com muito cuidado e atenção. Afinal, através de uma avaliação minuciosa, é possível traçar objetivos específicos para a paciente e realizar uma conduta precisa e eficaz. Assim, uma boa avaliação é extremamente importante para o fisioterapeuta. A avaliação deve se iniciar por uma anamnese detalhada. Nesse momento inicial, deve-se questionar a paciente sobre sua história clínica, incluindo todo o histórico gineco-obstétrico e urológico, perguntar sobre a queixa principal, quando os sintomas se iniciaram, se apresenta alguma patologia associada, como diabetes, infecções ou doenças neurológicas, pois estas podem estar interferindo na atual disfunção, se já realizou cirurgias anteriormente,quais as medicações em uso e quais sintomas apresenta atualmente. Entre os sintomas urinários, questionar sobre dor, urgência, noctúria, enurese, aumento de frequência miccional e, especificamente, sobre a IU; perguntar sobre a frequência de perdas de urina, fatores desencadeantes, impacto social e qualidade de vida. A paciente deve realizar exames complementares, como urina tipo I, urocultura e urodinâmica. O pad test de 24 horas é indicado na avaliação inicial, juntamente com a realização de um diário miccional de, no mínimo, 3 dias. Além desses recursos, um questionário deve ser aplicado, como o Questionnaire for urinary incontinence diagnosis (Quid), validado e traduzido para o português, o qual distingue sintomas de incontinência por esforço e de urgência. A paciente deve responder se possui IU, mesmo que em gotas, em seis diferentes situações e com qual frequência. O teste está detalhado no quadro a seguir. Quadro 2 – Quid Você apresenta IU mesmo em gotas nessa situação? Nunca Raro Às vezes Frequente Maior parte do tempo O tempo todo 1. Tosse/espirra 0 1 2 3 4 5 2. Abaixa/levanta peso 0 1 2 3 4 5 3. Caminha rápido/corre/exercita 0 1 2 3 4 5 4. Ao tirar a roupa para ir ao banheiro 0 1 2 3 4 5 5. Com vontade forte/incontrolável de urinar e perde urina antes de chegar ao banheiro 0 1 2 3 4 5 6. Corre ao banheiro por sentir desejo forte e súbito de urinar 0 1 2 3 4 5 Adaptado de: Baracho (2007). Após essa anamnese, deve-se realizar um exame físico com a paciente em posição ginecológica, em decúbito dorsal e com as pernas flexionadas e abduzidas. Começa-se pela inspeção, que deve ser 70 Unidade II realizada em repouso e, depois, solicita-se a contração dos MAP, para observar a coloração da região vaginal e se há presença de cicatrizes, feridas, prolapsos, secreções e assimetrias. Após isso, realizar manobras chamadas provocativas, ou seja, manobras que aumentam a pressão intra-abdominal, por exemplo, tosse. Então, pedir para a paciente tossir e observar se há contração reflexa dos MAP, depois, solicitar que faça Valsalva e observar se há prolapsos ou perda de urina. Durante a inspeção, também deve ser realizada uma avaliação postural, pois algumas assimetrias pélvicas podem gerar danos nos MAP. A seguir, deve ser iniciada a palpação uni ou bidigital. Mantendo a paciente em posição ginecológica, introduzir o segundo e/ou terceiro dedos até o terço médio da vagina com luva lubrificada e, então, sentir se há assimetria, laceração, pontos dolorosos ou atrofia das paredes vaginais e dos MAP. Durante a palpação, também deve ser testado o reflexo bulbocavernoso ou clitoriano: ao estimular o clitóris, com um leve toque, ele deve realizar uma sutil elevação. Após a palpação, o fisioterapeuta deve realizar o teste de força muscular manual específico dos MAP, mantendo o segundo e/ou o terceiro dedos na vagina da paciente e utilizando o método Perfect (power, endurance, repetition, fast contractions, every contraction time) para avaliação e a escala de Oxford de zero a cinco para graduação da força, ambos demonstrados nos quadros a seguir. Quadro 3 – Método Perfect P Power (força) Medida de força muscular durante a contração voluntária máxima, graduada pela escala de Oxford E Endurance (duração) Quantidade de tempo que a contração é mantida e sustentada, preferencialmente, acima de 10 segundos R Repetition (repetição) Número de contrações mantidas, quantas repetições fez e por quantos segundos as sustentou F Fast contractions (contrações rápidas) Número de contrações rápidas: contração e relaxamento o mais rápido e o mais forte possível ECT Every contraction time (tempo de toda contração) Monitorar a habilidade do relaxamento, que deve ser sempre rápido e completo Adaptado de: Baracho (2007). Quadro 4 – Escala de Oxford para os MAP Graduação 0 Ausência de contração 1 Esboço de contração 2 Contração fraca 3 Contração média, com elevação dos dedos sem resistência 4 Contração boa, com elevação dos dedos com resistência 5 Contração forte, com elevação e ascensão dos dedos com resistência Adaptado de: Baracho (2007). 71 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER A avaliação da força muscular pode ser também realizada através de aparelhos conhecidos como Perina (figura 38), que utilizam a manometria, a qual avalia a pressão de contração dos MAP. Outra avaliação dos MAP pode ser realizada através da eletromiografia de superfície (EMG), que faz a captação da atividade mioelétrica do músculo, ou seja, a EMG não avalia a força muscular, mas a ativação muscular, podendo ser utilizados nessa avaliação eletrodos de superfície ou intracavitários (figura 39), mas estes são mais utilizados devido à menor interferência no sinal a ser tratado. Durante essas duas avaliações, o fisioterapeuta deve, inicialmente, observar se a paciente consegue relaxar a musculatura; depois, partindo do relaxamento, solicitar que ela faça três repetições máximas e rápidas, e, após esses dois testes, solicitar que faça uma contração forte e a sustente por pelo menos 10 segundos, com as curvas bem parecidas. Através das avaliações da força e ativação dos MAP, é possível conseguir detectar a contração e o relaxamento muscular voluntário em momentos adequados. Caso essa contração ou relaxamento não esteja acontecendo, é detectada a disfunção dos MAP, que pode estar acontecendo por três fatores: hiperatividade ou hipertonia dos MAP, hipoatividade ou enfraquecimento dos MAP, ou, então, não funcionamento dos MAP. A partir da avaliação, o fisioterapeuta deve traçar objetivos, metas e condutas de tratamento adequados e individualizados. Figura 37 – Aparelho de manometria Perina Disponível em: https://bit.ly/3nsYwAN. Acesso em: 3 fev. 2021. 72 Unidade II Figura 38 – Eletrodo intracavitário Disponível em: https://bit.ly/3kgbEaB. Acesso em: 3 fev. 2021. 5.8 Disfunções dos MAP Nas IUE, ocorre uma deficiência no suporte uretral, promovendo uma pressão vesical maior que uma pressão uretral, por hiperatividade ou hipoatividade dos MAP. Já nas IUU, é possível destacar a hiperatividade do detrusor, devido à bexiga hiperativa. 5.8.1 Hiperatividade dos MAP Na hiperatividade dos MAP, os músculos não relaxam e podem até contrair quando não são solicitados. A paciente, em geral, apresenta dificuldade de micção ou evacuação, infecções urinárias de repetição, distúrbios sexuais, como vaginismo (contração involuntária durante o ato sexual) e dispaneuria (dor durante o ato sexual) e dor pélvica. Durante a avaliação e o exame físico, a paciente apresentará dor na palpação e dificuldade de contração e relaxamento da musculatura. Portanto, o objetivo da fisioterapia será relaxar a musculatura e conscientizar a função muscular, ou seja, a mulher deverá perceber quando contrair e relaxar a musculatura. Para isso, é possível utilizar como recursos terapêuticos o biofeedback, a manometria, a eletroestimulação e a massagem perineal. Todos os recursos serão discutidos a seguir. 5.8.2 Hipoatividade dos MAP Na hipoatividade, os músculos não contraem de forma efetiva voluntariamente ou quando são solicitados, portanto, no exame físico, pode-se notar uma diminuição da força de contração dos MAP, com queixas como IUE e anorgasmia por parte da paciente. Devido à perda de força, os principais objetivos de tratamento são fortalecer os MAP e conscientizar sobre a função muscular, podendo ser utilizados como recursos terapêuticos cinesioterapia, biofeedback, cones vaginais e eletroestimulação. 73 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 5.8.3 Bexiga hiperativa Não se deve confundir bexiga hiperativa com hiperatividade dos MAP. Na bexiga hiperativa, ocorrem as contrações involuntárias do detrusor. Portanto, o tratamento é diferente, por meio da terapia comportamental, além da cinesioterapia e da eletroestimulação. 5.9 Recursos terapêuticos nas disfunções uroginecológicas 5.9.1 Terapia comportamental A terapia comportamental é utilizada com o objetivo de realizaro retreinamento vesical, fazendo com que a paciente aprenda a inibir as contrações do detrusor, ou seja, ela irá readquirir o funcionamento sadio da bexiga através de hábitos saudáveis. A terapia se inicia através da análise do diário miccional da paciente, observando o menor intervalo em que ela apresentou a perda de urina. A partir disso, a paciente será orientada a realizar micções com hora marcada, em intervalos menores que o da perda de urina. Então, aos poucos, esse intervalo é aumentado quando a paciente não tiver perdas urinárias. Além disso, a ingesta hídrica também deverá ser controlada e, durante toda a terapia comportamental, é aconselhado o uso de absorventes. 5.9.2 Cinesioterapia Arnold Kegel, no final da década de 1940, foi quem introduziu os exercícios de fortalecimento dos MAP para tratar as incontinências urinárias. Atualmente, preconiza-se o treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP), um programa de exercícios para melhorar força, resistência, potência e relaxamento dos MAP, que podem ser realizados em conjunto ou não. A cinesioterapia deve incluir exercícios de contrações lentas e prolongadas para o recrutamento de fibras do tipo I, que representam 70% do assoalho pélvico, exercícios de contrações rápidas e fortes, que recrutam fibras do tipo II, presentes em 30% do assoalho pélvico, e exercícios para conscientização da região perineal. Os exercícios devem ser realizados em diferentes posturas, associados a outros movimentos, realizando contrações isoladas e em conjunto com os músculos sinergistas. Os exercícios devem sempre ser prescritos de forma individualizada, seguindo a avaliação e os objetivos traçados, por isso são considerados uma prática segura, sem efeitos colaterais. Além disso, os exercícios devem ser realizados como prevenção e ser mantidos de forma contínua. Outros tipos de exercício como relaxamento, alongamentos e exercícios para melhora da consciência corporal também podem ser utilizados. 74 Unidade II Figura 39 – Almofada auxiliando a isolar a ação dos músculos sinergistas Fonte: Baracho (2007, p. 438). Figura 40 – Cinesioterapia para assoalho pélvico associada à mobilização pélvica Fonte: Baracho (2007, p. 419). 75 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Figura 41 – Cinesioterapia para assoalho pélvico associada à contração abdominal Fonte: Baracho (2007, p. 420). Saiba mais Para conhecer mais sobre os benefícios do TMAP, leia a revisão sistemática a seguir: DUMOULIN, C; CACCIARI L. P.; HAY-SMITH, E. J. C. Pelvic floor muscle training versus no treatment, or inactive control treatments, for urinary incontinence in women. Cochrane Database of Systematic Reviews, issue 10, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3zqudgf. Acesso em: 3 fev. 2021. 5.9.3 Biofeedback O biofeedback é um recurso capaz de fornecer informação imediata à paciente a respeito da contração muscular que está sendo realizada, por meio de sinais sonoros ou visuais, levando-a a se motivar e a obter controle voluntário dessa contração, promovendo também maior conscientização da musculatura. É uma técnica que pode ser utilizada em pacientes desmotivadas ou que não conseguem compreender a forma correta de contrair os MAP. Existem dois tipos de biofeedback: o manométrico e o eletromiográfico, como mostrados na figura a seguir. 76 Unidade II O biofeedback manométrico é realizado através do manômetro e capta a pressão dos MAP, utilizando uma sonda intracavitária, que pode ser vaginal ou anal. Como o feedback é visual, a paciente vê essa escala subindo – que pode ser arbitrária, de luz ou coluna de água ou gel e milímetros de mercúrio (mmHg). Já o eletromiográfico utiliza a EMG de superfície como meio de captação e registro da atividade mioelétrica dos MAP, podendo ser utilizados protocolos para treinamento de força, resistência ou para relaxamento muscular. Além disso, podem ser recrutadas as diferentes fibras musculares, utilizando contrações sustentadas ou rápidas, diversas situações de esforço e diferentes posturas. Figura 42 – Biofeedback eletromiográfico (esquerda) e manométrico (direita) Fonte: Baracho (2007, p. 439). Figura 43 – Trabalho de fibras musculares do tipo II através do biofeedback eletromiográfico Fonte: Baracho (2007, p. 459). 77 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Figura 44 – Trabalho de fibras musculares do tipo I através do biofeedback eletromiográfico Fonte: Baracho (2007, p. 460). Figura 45 – Relaxamento observado nos MAP Fonte: Baracho (2007, p. 461). 5.9.4 Cones vaginais Os cones vaginais são dispositivos intravaginais utilizados para o treinamento dos MAP. Eles treinam mais a resistência muscular, portanto, as fibras do tipo I. São pesos vaginais com variações de 25 g a 65 g, e a padronização de uso é 15 minutos, duas vezes por dia, podendo ser realizado o treino passivo, apenas com a sustentação do cone na cavidade vaginal, e o treino ativo, em que a mulher deve sustentar o cone durante os exercícios. Com o treino, o terapeuta deve aumentar o peso dos cones e a dificuldade dos exercícios. 78 Unidade II Figura 46 – Cones vaginais Disponível em: https://bit.ly/3kgbEaB. Acesso em: 3 fev. 2021. 5.9.5 Massagem perineal A massagem perineal tem como objetivos promover o relaxamento da musculatura, dessensibilizar áreas dolorosas e dissolver os pontos dolorosos focais (trigger points). Para a realização da massagem, a mulher deve se deitar em decúbito dorsal com as pernas e os joelhos semiflexionados e as pernas abduzidas. Além disso, o terapeuta deve utilizar luva de procedimento com gel lubrificante neutro e toque uni ou bidigital. 5.9.6 Eletroestimulação A eletroestimulação pode ser utilizada com diferentes objetivos, como conscientizar a contração dos MAP, melhorar a dor, proporcionar a hipertrofia ou o aumento da resistência muscular e inibir a contração involuntária do detrusor. Utiliza-se corrente bifásica com onda simétrica e retangular para evitar acomodação através de eletrodos intracavitários vaginais ou anais, ou então eletrodos de superfície perineais, parassacrais e tibial posterior. Figura 47 – Eletrodo intracavitário anal Disponível em: https://bit.ly/3nAH5wL. Acesso em: 3 fev. 2021. 79 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER A frequência utilizada para ativação muscular é de 30 Hz a 65 Hz e, quanto menor a frequência, maior a ativação de fibras do tipo I, e quanto maior a frequência, maior a ativação de fibras do tipo II. Para inibição do detrusor e dores crônicas, são utilizadas frequências mais baixas, de 8 Hz a 20 Hz, pois ativam fibras eferentes do plexo hipogástrico (SN simpático), relaxam o detrusor junto com a contração de esfíncter uretral externo, além de liberar opioides. A largura de pulso mais confortável é de 200 a 400 µseg, e quanto maior a largura de pulso, maior o recrutamento de fibras motoras e sensitivas. A intensidade (mA) é variável de acordo com a sensibilidade do paciente e não deve provocar dor. Em relação ao tempo on/off, o tempo de contração (on) deve ser metade ou um terço do tempo de relaxamento (off), ou seja, em proporção de 1:2 ou 1:3. Por último, o tempo de estímulo varia de 20 a 30 minutos, mas sempre deve-se evitar a fadiga da paciente. 5.9.7 Eletroestimulação do nervo tibial posterior O nervo tibial posterior é proveniente de uma ramificação do nervo isquiático (L4-S3) e se projeta na mesma região medular do centro sacral da micção. Para estimular esse nervo, são utilizados eletrodos de superfície e a Tens, proporcionando uma neuromodulação periférica. A posição dos eletrodos está demonstrada na figura a seguir. Figura 48 – Eletrodos de superfície no nervo tibial posterior Entretanto, não há ainda uma padronização quanto ao número de sessões e ao tempo de aplicação. Usualmente, são realizadas de 10 a 12 sessões durante 20 minutos, com frequência de 10 Hz a 20 Hz e largura de pulso de 300 a 500 µseg. 80 Unidade II 5.9.8 Eletroestimulação parassacral Ainda não há padronização quanto à utilizaçãoda eletroestimulação parassacral, mas usualmente são utilizados eletrodos de superfície sobre a região correspondente às raízes sacrais S2-S3, utilizando a Tens em frequência de 10 Hz, com largura de pulso de 700 µseg por 20 a 30 minutos, durante 20 sessões. Todo recurso de eletroestimulação possui algumas contraindicações que também são relevantes às pacientes com IU. Mulheres em período menstrual, portadoras de marcapasso e DIU, com prolapsos graus III e IV, com neuropatia diabética ou que apresentem déficits cognitivos e de sensibilidade, não devem realizar a eletroestimulação. 6 ONCOLOGIA O câncer de mama é a segunda neoplasia mais frequente nas mulheres, perdendo somente para a de pele. Pelo fato de todos os tipos de câncer terem etiologia desconhecida, é caracterizado por ser uma doença crônica degenerativa que apresenta evolução prolongada e progressiva, ocasionando danos quanto aos aspectos físicos, psicológicos e estéticos. Lembrete Como já discutimos anteriormente, as glândulas mamárias são formadas por lobos, e cada glândula é composta por 15 a 20 lobos. Desses lobos partem os ductos lactíferos. As mamas podem ser divididas em três regiões: • Região periférica: formada por tecido cutâneo, glândulas sebáceas e sudoríparas. • Aréola: região mais central, de coloração rosa-acastanhada. • Papilar: centro da aréola, onde os ductos se abrem. As mamas são inervadas pela porção anterior dos 4º, 5º e 6º nervos intercostais e possuem uma rede linfática importante, formada por linfonodos axilares e por linfonodos mamários divididos em três níveis. O nível I é formado por linfonodos localizados na borda do peitoral menor; o nível II é composto por linfonodos localizados atrás do peitoral menor; e os linfonodos de nível III estão localizados medialmente ao peitoral menor, como mostra a figura a seguir. Além desses, ainda existem linfonodos entre as mamas. 81 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Linfonodos Figura 49 – Rede linfática da mama Disponível em: https://bit.ly/3za9Oft. Acesso em: 6 fev. 2021. Além disso, é importante lembrar que as mamas têm íntima relação com a parede torácica e a cintura escapular, incluindo os músculos grande dorsal, peitoral maior, peitoral menor, serrátil anterior, abdominais e intercostais. É importante destacar também que o câncer de mama pode atingir qualquer uma dessas estruturas. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2020, foram mais de 66 mil novos casos de câncer de mama em mulheres. É considerado câncer de mama toda neoplasia que tenha origem em qualquer estrutura da mama, ou seja, no epitélio glandular, no mesênquima ou na epiderme. No epitélio glandular, são formados os carcinomas ductal e lobular, que correspondem a 10% e 85% de todas as neoplasias mamárias, respectivamente. No mesênquima ou estroma, estão presentes os sarcomas e os filoides malignos, enquanto na epiderme considera-se um melanoma primário da pele da mama. Estes últimos correspondem a 5% de todas as neoplasias mamárias. As metástases mais comuns da neoplasia mamária são os linfonodos regionais, ossos, pulmões, fígado, pele e cérebro. 6.1 Fatores de risco Fatores de risco isolados não devem trazer tanta preocupação, mas deve-se ficar alerta quando eles aparecerem em conjunto. 82 Unidade II O primeiro fator de risco para o câncer de mama é a idade, pois ele é mais comum em mulheres acima de 40 anos de idade, com maior incidência em mulheres acima de 70 anos, enquanto menos de 1% de todas as neoplasias mamárias ocorrem em mulheres com menos de 24 anos. Um dos fatores de risco mais importantes é o histórico familiar, sendo mais relevante em mulheres cujas mãe ou irmã tenham tido câncer de mama antes da menopausa. Este corresponde a cerca de 10% do total de casos de câncer de mama. Além disso, outro fator de risco muito significativo é a presença de mutações dos genes BRCA-1 e BRCA-2, que são supressores de tumor e podem ser herdados, estando presentes em muitos casos familiares. Os fatores de risco reprodutivo têm muita relação com a exposição maior ao estrógeno, por isso envolvem: mulheres que tiveram menarca precoce, ciclos menstruais curtos, nuliparidade ou primeira gestação após os 30 anos, que não amamentaram (menor tempo de amenorreia), sofreram aborto, tiveram menopausa tardia, e que fizeram uso prolongado de contraceptivos orais e de terapia de reposição hormonal, principalmente quando associados estrógeno e progesterona. Além disso, como qualquer neoplasia, existem fatores de risco ambientais, por exemplo, obesidade, tabagismo, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e exposição à radiação. 6.2 Diagnóstico O melhor prognóstico para qualquer tipo de neoplasia acompanha a importância de um diagnóstico precoce, que não é realizado apenas através da mamografia. A seguir, o assunto será discutido com mais detalhes. 6.2.1 Autoexame das mamas O autoexame das mamas deve ser realizado mensalmente, após a menstruação ou no mesmo dia de cada mês, devido às alterações hormonais que acontecem durante o ciclo menstrual. Ele é uma ferramenta importante no diagnóstico precoce, entretanto, nunca deve substituir o exame físico realizado por um profissional da saúde. Para realizar o autoexame, a mulher deve, inicialmente, em frente a um espelho, observar suas mamas, comparando-as e observando se há diferenças de coloração, presença de ondulações ou rugas. Depois, em pé, deve elevar um dos braços e examinar cada uma das mamas com a mão oposta. Por último, deitada em decúbito dorsal e com uma das mãos atrás da cabeça, deve examinar cada uma das mamas com a mão oposta. O exame das mamas deve ser realizado com movimentos circulares para cima e para baixo, de um lado para o outro. Para finalizar o autoexame, a mulher deve apertar os mamilos e observar se sai alguma secreção. A sequência do autoexame está demonstrada na figura a seguir. 83 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Figura 50 – Autoexame das mamas Disponível em: https://bit.ly/2XoWKpF. Acesso em: 6 fev. 2021. 6.2.2 Exame clínico O exame clínico deve ser feito anualmente por um profissional da saúde capacitado, que realizará a inspeção e a palpação das mamas. A eficiência desse exame está proporcionalmente ligada à experiência do profissional. Achados mais comuns durante esse exame são massas mamárias, secreções mamilares, e feridas e alterações mamilares. 6.2.3 Mamografia A mamografia é um exame que realiza o rastreamento das mamas e é capaz de diagnosticar nódulos que muitas vezes não podem ser palpados. Portanto, com esse exame, muitas vezes é possível realizar diagnósticos precoces de nódulos que são clinicamente impalpáveis. O SUS preconiza a realização de mamografia após os 40 anos de idade. Dos 40 a 49 anos, esse exame deve ser realizado a cada dois anos e, após os 50 anos, anualmente. Para uniformizar a interpretação dos resultados e padronizar a conduta, é utilizado o sistema Breast Imaging Reporting and Data System (BI-Radis), criado pelo Colégio Americano de Radiologia (ACR), que pode ser pontuado de zero a seis: • BI-RADIS 0: resultado inconclusivo. Conduta: repetir nova mamografia e realizar ultrassom e ressonância nuclear magnética. • BI-RADIS 1: resultado normal. Conduta: repetir exames conforme rotina. • BI-RADIS 2: achados benignos. Conduta: segmento normal. • BI-RADIS 3: achados provavelmente benignos. Conduta: repetir mamografia e exames complementares em 6 meses. • BI-RADIS 4 A, B ou C: achados com baixa, intermediária ou moderada suspeita. Conduta: realizar investigação cito-histológica (biópsia). 84 Unidade II • BI-RADS 5: resultado altamente sugestivo de malignidade. Conduta: investigação citohistológica. • BI-RADS 6: exame com neoplasia maligna já conhecida. 6.2.4 Ultrassonografia Usualmente, a ultrassonografia (US) é utilizada como complemento à mamografia e para guiar as punções cito-histológicas. Por isso, é indispensável sua utilização em mamas densas, pois caracteriza bem tumores sólidose císticos. A ressonância nuclear magnética (RNM) também pode ser utilizada para complementar o diagnóstico. 6.2.5 Biópsias Existem alguns tipos de biópsia, sendo responsabilidade do mastologista a sua indicação e escolha de tipo. O primeiro tipo é a biópsia aspirativa com agulha fina (Baaf), considerada um método seguro, eficaz, rápido e pouco traumático, além de ter acurácia de cerca de 92%. É indicada para qualquer tipo de nódulo que é visibilizado pelo US, lesões profundas e não palpáveis. O segundo tipo é a biópsia percutânea com agulha grossa que, quanto à acurácia, é superior à Baaf, mas para sua realização é necessária anestesia local. É uma técnica dolorida, que gera um pouco de incômodo à paciente, mas efetiva em nódulos acima de 1,5 cm. Como complicações desse tipo de biópsia, a mulher pode apresentar infecções, hematomas e dor. Outra opção é a biópsia excisional, na qual é realizada a remoção total com ou sem borda do parênquima normal circundante. É utilizada em tumores palpáveis e não palpáveis. A última forma de biópsia é a percutânea com agulha grossa vácuo assistida, que também necessita de anestesia local. Contudo, pelo fato de a cânula ser introduzida apenas uma vez, torna-se mais cômoda para as pacientes. Ela é mais indicada para lesões não palpáveis e permite o planejamento pré-cirúrgico. 6.3 Cirurgias conservadoras No caso do câncer de mama, existem cirurgias consideradas conservadoras e radicais. Independentemente da cirurgia escolhida, o objetivo é ter o máximo de controle loco regional, solucionar e avaliar a terapêutica no pós-cirúrgico e gerar um melhor prognóstico com menos morbidades e mutilações. 6.3.1 Tumorectomia A tumorectomia é uma cirurgia para remoção do tumor sem margem, ou seja, é retirado somente o tumor. Ela é indicada apenas para nódulos pequenos de até 1 cm e, após sua conclusão, a mulher deve realizar radioterapia. Se houver recidiva após a retirada do tumor, deverá ser realizada uma quadrantectomia. 85 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 6.3.2 Quadrantectomia A quadrantectomia é uma cirurgia na qual é retirado um quadrante da mama, superior ou inferior. É realizada em tumores de até 3 cm, portanto, a margem do tumor é de 2 a 2,5 cm. Esta cirurgia pode ou não ser acompanhada de uma linfadenectomia axilar (retirada dos linfonodos axilares), e pode ser classificada como monobloco (quando está do mesmo lado do tumor e pode ser realizada uma única incisão) ou dibloco (quando está separada do tumor e são retirados os quadrantes mediais). Após essa cirurgia, sempre é indicada a realização da radioterapia. 6.3.3 Linfonodo sentinela A pesquisa do linfonodo sentinela evita linfadenectomias axilares desnecessárias. A dissecção dos linfonodos axilares muitas vezes é realizada, pois os carcinomas de mama se disseminam por essa via, portanto, muitas vezes é uma opção para evitar o retorno da doença. Até o final dos anos 1990, a linfadenectomia axilar era completa e sempre realizada. Entretanto, estudos demonstraram que isso poderia ser um exagero para a maioria das mulheres, principalmente as que eram acometidas por tumores de até 3 cm. Além disso, essa dissecção axilar ainda favorece o aparecimento de outros sintomas, como sensação de peso no braço, diminuição de sensibilidade, linfedema e infecções. Atualmente, é realizada a dissecção axilar seletiva, baseada na biópsia do linfonodo sentinela, que é o primeiro linfonodo a drenar o tumor, quando a paciente apresenta tumores menores que 3 cm e axila clinicamente negativa, ou seja, sem a presença de nódulos. A identificação do linfonodo sentinela é feita através da injeção de um radiofármaco (tecnécio 99m) ou de corantes vitais (como azul patente) na região peritumoral, para que seja absorvido pelo primeiro linfonodo, ou seja, o linfonodo sentinela. Então, este é retirado e estudado histologicamente. Na presença de células neoplásicas que acometem o linfonodo sentinela, a linfadenectomia axilar total é indicada; entretanto, se ele estiver livre, a linfadenectomia axilar não é indicada. Após a cirurgia, sempre é indicada a radioterapia. A pesquisa do linfonodo sentinela é uma técnica relativamente nova que proporciona menor morbidade, mas requer treinamento da equipe cirúrgica, disponibilidade de materiais, medicina nuclear e patologia. 6.4 Cirurgias radicais Cirurgias radicais são mais complexas, utilizadas em tumores maiores e com maior gravidade. Nelas, tecidos são retirados para maior margem de segurança. A seguir, são apresentados os tipos de cirurgias radicais. 86 Unidade II 6.4.1 Mastectomia radical de Halsted Essa técnica cirúrgica é realizada em casos de câncer avançado, com alto índice de morbidade, na qual é retirada toda a mama e os músculos peitoral maior e menor. A mastectomia radical de Halsted é sempre acompanhada de linfadenectomia axilar e, após a cirurgia, a mulher realiza quimioterapia e/ou radioterapia. 6.4.2 Mastectomia radical modificada à Patey Nessa técnica cirúrgica, é retirada toda a mama e o músculo peitoral maior. O médico opta por esse tipo cirúrgico quando a mulher apresenta tumores maiores que 3 cm, mas que não estão fixados à musculatura. Também é sempre indicada a linfadenectomia axilar. 6.4.3 Mastectomia radical modificada à Madden Nesta cirurgia, é realizada a retirada de toda a mama, a aponeurose do músculo peitoral maior e a linfadenectomia axilar, preservando os músculos peitorais, o que facilita a reconstrução das mamas. É indicada para tumores de até 3 cm. 6.4.4 Mastectomia simples Na mastectomia simples, é retirada toda a mama e a aponeurose anterior do músculo peitoral maior. Nesse caso, não é realizada a linfadenectomia axilar. 6.4.5 Mastectomia higiênica Neste procedimento cirúrgico, é retirada apenas a mama, funcionando como uma limpeza da região mamária. Também não é necessário que a linfadenectomia axilar seja realizada. 6.5 Reconstrução das mamas A retirada das mamas, após cirurgias radicais, traz para as mulheres um impacto psicológico muito grande, por isso, atualmente, existem várias técnicas para a reconstrução das mamas, que pode ser imediata, ou seja, no mesmo procedimento de retirada do tumor o médico já realiza a reconstrução, ou tardia, quando essa reconstrução é realizada posteriormente, em outra cirurgia. As técnicas de reconstrução mais comuns são: • silicone gel; • retalho do músculo grande dorsal; • uso de expansor, que é colocado e, depois, é inserida uma solução salina por até 6 meses, que posteriormente é retirada para dar lugar ao silicone; • Transverse rectus abdominis myocutaneous (Tram), através do músculo retoabdominal. 87 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 6.6 Tratamento clínico O tratamento clínico é realizado através de radioterapia, quimioterapia e/ou hormonioterapia. 6.6.1 Radioterapia A radioterapia pode ser utilizada de forma paliativa ou curativa, a fim de diminuir recidivas locais. Inicialmente, através do exame clínico e dos dados cirúrgicos e radiológicos, são determinados o número de sessões e a dose total. Em seguida, são feitas algumas marcações na paciente para orientar a incidência dos raios. Em geral, a aplicação da radioterapia é feita cinco vezes por semana, e aos finais de semana as pacientes descansam para que o tecido saudável se recupere. Assim, a dose é distribuída durante toda a semana. Em alguns casos, a radioterapia é indicada no pré-operatório, mas isso ocorre normalmente quando a doença está mais avançada localmente, quando não há condições de realizar a ressecção e quando não houve resposta à quimioterapia. Entretanto, a radioterapia pode gerar algumas complicações, como a radiodermite, as modificações vasculares, a diminuição de amplitude de movimento (ADM) do ombro e o linfedema. A radiodermite é caracterizada por uma alteração cutânea que pode ser classificada em quatro graus: • Grau 1: há presença de hiperemia local, com descamação leve e seca. • Grau 2: a paciente apresenta hiperemia e descamaçãosevera e seca. • Grau 3: há presença de descamação severa e úmida. • Grau 4: a paciente apresenta necrose tecidual. Nos casos de radiodermite graus 3 e 4, a radioterapia deve ser suspensa por 2 semanas. Nas modificações vasculares, as pacientes apresentam edema secundário a uma reação inflamatória, o que gera diminuição das propriedades elásticas dos tecidos e pode evoluir para fibrose. Além disso, os tecidos adjacentes também podem ser afetados, como a pele da parede torácica, o ombro e as cavidades axilar e supraclavicular. A diminuição da ADM do ombro ocorre devido à formação de fibrose nos tecidos, já que os músculos suportam muito bem a radioterapia, mas as articulações envelhecem precocemente. 88 Unidade II Por último, outras complicações bastante comuns são o linfedema, que ocorre consequentemente pela diminuição da ADM, as fibroses e as modificações vasculares. O linfedema será discutido mais adiante. Para que as complicações sejam evitadas ou minimizadas, o fisioterapeuta deve orientar as pacientes para que evitem o uso de sutiãs, utilizem somente roupas de algodão, mantenham a pele sempre hidratada, com o uso de hidrante de pH neutro, e realizem exercícios para posicionamento na maca da radioterapia e para aumentar ou manter a ADM. O fisioterapeuta, durante a radioterapia, atua posicionando a paciente na maca da melhor forma possível, a fim de minimizar dores e manter a ADM do membro superior, bem como no tratamento da radiodermite em que, nos graus 1 e 2, utiliza laser. 6.6.2 Quimioterapia O princípio da quimioterapia é a utilização de drogas danosas às células tumorais que podem ser aplicadas por vias endovenosa, intra-arterial ou oral. Entretanto, os agentes quimioterápicos bloqueiam reações químicas comuns ao tumor, mas também as células sadias, e devido a isso é normal que as pacientes apresentem efeitos colaterais ao tratamento. Entre os efeitos colaterais, é possível destacar: indisposição às atividades físicas, fadiga, maior suscetibilidade a infecções e sangramentos, inflamações do trato digestivo, diarreias, aftas, náuseas e vômito, queda de cabelos e pelos, uma vez que o medicamento age sobre a raiz, e flebites. Para maior eficácia do tratamento, os quimioterápicos são utilizados de forma combinada, pois a utilização de diferentes drogas aumenta a chance da destruição completa do tumor. 6.6.3 Hormonioterapia A terapia hormonal é indicada para mulheres com tumores receptores hormonais positivos e constitui uma forma de terapia sistêmica, ou seja, que não atinge exclusivamente as células cancerígenas da mama, mas em qualquer parte do corpo. A hormonioterapia é frequentemente utilizada após a cirurgia para diminuir o risco de recidiva da doença e é, em geral, administrada por pelo menos 5 anos. Saiba mais Para ler um pouco mais sobre o câncer de mama, acesse a página do Instituto Nacional de Câncer (Inca) do Ministério da Saúde: BRASIL. Câncer de mama: versão para profissionais de saúde. Inca, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3CgmQtW. Acesso em: 5 fev. 2021. 89 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 6.7 Fisioterapia oncofuncional A fisioterapia oncofuncional é uma especialidade recente, reconhecida pelo Coffito apenas em 2009. O fisioterapeuta que atua nessa área está presente tanto na prevenção primária quanto na reabilitação. Na prevenção, o profissional atuará conscientizando e orientando quanto à prevenção do surgimento do câncer de mama. Já na reabilitação, a atuação se dá em todas as fases do câncer de mama, começando na pré-operatória. No pré-operatório, deve ser realizada uma avaliação detalhada da paciente para conhecer alterações preexistentes e identificar possíveis fatores de risco para o aparecimento de complicações pós-operatórias. O tratamento fisioterapêutico terá como objetivos minimizar e prevenir essas alterações, conscientizar sobre a importância da fisioterapia no pós-operatório e prestar esclarecimentos sobre a cirurgia. Já no pós-operatório, a fisioterapia terá como principal objetivo prevenir e tratar complicações pós-operatórias. Entre as principais complicações estão: linfedema, seroma, lesões nervosas, dor, parestesias, diminuição da ADM e da força muscular do membro superior envolvido, bem como distúrbios cicatriciais. Posteriormente, serão discutidas mais detalhadamente cada uma delas. Essas complicações pós-operatórias trazem prejuízos físicos e emocionais às mulheres. Tais complicações podem ser divididas em três tipos: complicações imediatas ou precoces, que surgem em até 24 horas após a cirurgia; complicações mediatas, que surgem até o sétimo dia de pós-operatório; e complicações tardias, que surgem somente após a retirada do dreno. No período pré-operatório e nos primeiros dias de pós-operatório, o profissional de fisioterapia deve orientar a paciente quanto a alguns cuidados com o membro superior do lado da mama que foi operada. A paciente deve manter o membro superior apoiado em um travesseiro, mantendo o braço um pouco mais alto que o ombro. Quando for se sentar na cama, deve virar em decúbito lateral, do lado contrário da cirurgia, e se apoiar com o cotovelo desse lado para se sentar. Além disso, deve-se orientar para que a paciente utilize o membro superior em algumas atividades de vida diária, como lavar e pentear os cabelos, vestir-se, alimentar-se, entre outras. Por último, ela deve ter cuidado para não machucar esse membro e não exagerar nas atividades, principalmente não realizar atividades repetitivas, pois esse membro está mais suscetível a infecções e inflamações. 6.7.1 Complicações nervosas Atualmente complicações nervosas são mais raras, pois ocorrem devido a manipulações cirúrgicas, que hoje são mais precisas. São caracterizadas por alterações sensitivo-motoras transitórias, podendo ocorrer em dois nervos: intercostobraquial e torácico longo. A lesão do nervo intercostobraquial é caracterizada por uma anestesia ou hipoestesia na região medial e posterossuperior do braço e da axila. Para o tratamento dessa complicação, deve ser realizada a dessensibilização com diferentes texturas na região. 90 Unidade II Já a lesão do nervo torácico longo ou nervo de Bell gera a escápula alada, pois inerva o músculo serrátil anterior. Para minimizar essa complicação, o fisioterapeuta deve realizar exercícios para diminuir a fraqueza muscular e evitar as compensações. 6.7.2 Seroma O seroma é caracterizado por uma coleção subcutânea de fluido seroso com aspecto semelhante ao plasma que tem seu aparecimento relacionado a condições como aumento do peso corporal, idade superior a 70 anos, retardo em cura de feridas, necrose de bordas da pele, transfusões de sangue, edema do braço, curativos apertados e radioterapia. Normalmente, ele ocorre após as primeiras semanas de pós-operatório e a paciente se queixa de desconforto, com uma sensação de deslocamento de líquido e abaulamento local. Para tratar o seroma, é necessário realizar a punção local, mas o fisioterapeuta deve restringir a ADM do ombro e realizar uma compressão externa com ataduras de crepe na região. Deve-se atentar também para o fato de que a drenagem linfática, nesse caso, é contraindicada. 6.7.3 Aderência cicatricial As aderências cicatriciais ocorrem devido a uma fixação anormal dos tecidos moles, e a fisioterapia é fundamental para a prevenção e o tratamento dessas aderências. Como recursos terapêuticos, utilizam-se a massagem, que pode ser mecânica, através da vacuoterapia, ou manual cicatricial. 6.7.4 Disfunções no ombro As disfunções no ombro do lado operado podem ocorrer no pós-operatório por vários motivos, entre eles a dor, os cuidados inadequados com o membro ou a imobilização total sem indicação. Além disso, outros fatores podem agravar essas disfunções, como a radioterapia, as lesões nervosas e a realização de exercícios sem orientação. A paciente normalmente se queixa de dor e fraqueza muscular, portanto, durante a avaliação desse ombro, não se pode esquecerde realizar a goniometria, os testes de força muscular e a avaliação postural. Observação A goniometria é a medição dos ângulos articulares presentes nas articulações humanas, através do goniômetro. A avaliação mensura a amplitude de movimento passivo e ativo das articulações em graus. No caso do câncer de mama, deve ser realizada nos ombros. Para o tratamento e a prevenção das complicações, devem ser realizados alongamentos das regiões cervical e escapular, bem como de membros superiores, mobilização escapular e exercícios ativos assistidos, ativos e resistidos com carga inferior a 2 kg. Quando a paciente tem ADM normal, devem ser adotados exercícios para reeducação postural e para melhorar o condicionamento cardiorrespiratório, iniciando com poucos minutos e aumentando gradativamente. 91 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER 6.7.5 Linfedema de membro superior O linfedema é caracterizado por um inchaço crônico que ocorre em virtude da deficiência do sistema linfático, com acúmulo anormal de fluido rico em proteínas no espaço intersticial, que gera desconforto, dor, aumento do risco de infecções, diminuição de ADM e alterações sensitivas. Essa condição está presente em cerca de 20% a 30% das mulheres com câncer de mama, com a possiblidade de ocorrer no pós-operatório imediato ou tardio, e ser resultante da retirada dos linfonodos axilares ou da obstrução dos canais linfáticos por tumor, cicatriz ou infecção. É importante ressaltar que linfedema não tem cura, mas o papel do fisioterapeuta é muito importante na sua contenção. Alguns fatores podem causar o linfedema, por isso é importante que a mulher tenha alguns cuidados com o membro superior do lado operado durante toda a vida. Entre esses cuidados estão: não ferir o membro superior com faca, tesoura ou fogo e utilizar luvas para proteção, evitar raspar ou depilar a axila, evitar aplicar injeções, vacinas ou realizar acupuntura nesse membro, não realizar grandes esforços com o membro superior, como carregar peso, não realizar pequenos movimentos repetitivos, evitar calor excessivo, sol ou ambientes muito quentes por muito tempo, não usar relógios, pulseiras e anéis apertados, manter a pele sempre hidratada, com o uso de hidratante de pH neutro, ingerir bastante líquidos e manter o peso ideal, através de dieta balanceada. O linfedema pode ser classificado em quatro estágios, que podem ser observados na figura a seguir. O estágio 0 é considerado um estágio subclínico, em que o edema não é evidente, mas o transporte linfático está prejudicado. No estágio 1, ocorre um acúmulo de fluido relativamente rico em proteínas, mas o edema desaparece com a elevação do membro. Já no estágio 2 a elevação do membro não reduz o edema e a paciente pode apresentar ou não um início de depressão tecidual. Por último, o estágio 3 é caracterizado pela elefantíase linfostática e ocorrem alterações cutâneas, como deposição de gordura e verrugas. Estágio 0 Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Figura 51 – Estágios do linfedema Adaptada de: https://bit.ly/3tHbw6X. Acesso em: 7 fev. 2021. 92 Unidade II Antes de um aprofundamento acerca do tratamento do linfedema, o fisioterapeuta deve aprender a avaliá-lo. Começa-se pela inspeção, devendo observar se há alterações ortopédicas no membro afetado e qual é o aspecto da pele (coloração, presença de linfocistos ou cicatrizes e localização do linfedema através da comparação com o outro membro). Depois da inspeção, deve-se palpar o membro superior para saber quais são a extensão e a consistência do edema (quanto mais duro, mais fibrose tecidual), a temperatura (se aumentada, pode ser sinônimo de infecção), presença de dor durante a palpação e trofismo muscular. É importante, então, realizar a goniometria para checar se há diminuição de ADM, bem como o teste de força muscular. Por último, deve ser realizada a perimetria dos dois membros, com o uso da prega do cotovelo como ponto fixo para mensuração. A perimetria deve ser realizada 5, 10 e 15 cm acima e abaixo da prega; diferenças acima de 2 cm entre os membros são consideradas clinicamente significativas para o diagnóstico de linfedema. O tratamento do linfedema, linfoterapia ou terapia física complexa é dividido em duas fases e seis passos de tratamento. Na primeira fase, o objetivo do fisioterapeuta é mobilizar o excesso de líquido e reduzir o volume do membro. Já na segunda fase, o linfedema foi reduzido e o objetivo é manter e controlar o linfedema, a fim de impedir novo acúmulo de líquido. Os seis passos, por sua vez, consistem em: cuidado com a pele, drenagem linfática manual, enfaixamento progressivo, cinesioterapia, contensão elástica e automassagem. Em relação aos cuidados com a pele, a mulher é orientada a manter a higiene e a hidratação do membro superior, além dos cuidados apresentados anteriormente. A drenagem linfática manual tem como objetivo drenar excesso de líquido acumulado no interstício, no tecido e dentro dos vasos, por meio de manobras lentas, rítmicas e suaves e seguindo sempre a anatomia linfática do corpo, No entanto, deve-se lembrar que se a mulher realizou linfadenectomia, deve-se drenar o líquido para a direção de outros linfonodos, como axila contralateral, linfonodos supraclaviculares e linfonodos inguinais do mesmo lado. Para a drenagem, são utilizadas as manobras de evacuação dos linfonodos e, depois, de captação. Observação É essencial conhecer as contraindicações da drenagem linfática manual: arritmias cardíacas graves, edemas de origem renal ou cardíaca, insuficiência renal ou cardíaca e processos inflamatórios ou infecciosos agudos. Portanto, se o linfedema apresentar sinais de infecção ou inflamação, encaminhe a paciente imediatamente ao médico. Após a drenagem linfática, é realizado o enfaixamento compressivo para manter e melhorar a absorção do fluxo linfático através do aumento da pressão tecidual, a fim de prevenir também novos acúmulos de líquido. Essa técnica deve ser realizada de modo que a paciente consiga manter a função do membro superior e possa realizar exercícios com o membro. A pressão maior é sempre na região distal e vai diminui até a região proximal. O enfaixamento pode ser mantido por até 2 dias, mas é contraindicado em pacientes com hipertensão arterial sistêmica grave, que apresentem sinais de infecções ou inflamações, façam uso de fixador externo ou tenham grandes déficits sensitivos. 93 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER A cinesioterapia, quando utilizada em conjunto com o enfaixamento compressivo, tem efeitos mais positivos na contensão do linfedema. Os exercícios são empregados para estimular o sistema linfático e aumentar a absorção da linfa – chamados de exercícios linfocinéticos –, e neles são trabalhadas articulações de ombro, cotovelo, punho, dedos e cintura escapular, com grande amplitude e de fácil memorização, para que a paciente possa realizá-los todos os dias. Já a contensão elástica é utilizada na fase 2 do tratamento, para manutenção. São utilizadas malhas de compressão, do tipo braçadeiras, feitas sob medida, que devem ser utilizadas de forma contínua e retiradas somente para higiene. Por último, o fisioterapeuta orienta e ensina a automassagem para as pacientes, que deve ser realizada em todas as fases do linfedema, a fim de diminuir e conter, mas também prevenir o novo acúmulo de líquido. Essa automassagem é similar à drenagem linfática e deve ser realizada em quatro passos, mas pode ser orientada a utilização de um rolinho de bambu, que facilita a manobra para as pacientes. Como primeiro passo da automassagem, a paciente deve evacuar a axila contralateral, por meio de movimentos circulares lentos com pressão leve, mas suficientes para promover um deslocamento da pele. No passo dois, ela deve realizar a evacuação da virilha, do mesmo lado da mama operada, de maneira semelhante ao passo um. No passo três, a paciente irá realizar movimentos em onda com a mão apoiada sobre a área massageada ou utilizar umrolinho, com início na região da mama operada, em direção à axila do lado oposto, dividindo o tronco em três partes superiores, e realizar cinco movimentos em cada parte, da mama operada para a axila contralateral. Repetir por cerca de 10 minutos. No último e quarto passo, ela realizará a massagem na região lateral do tronco, no lado da mama operada, também dividindo em três partes e repetindo o mesmo processo do passo três, agora com início na axila, em direção à virilha. Também deve repetir por cerca de 10 minutos. Observação É importante nunca deixar de orientar a paciente quanto à manutenção do ritmo e da direção da massagem. 7 DISTÚRBIOS GINECOLÓGICOS Entre os distúrbios ginecológicos, existem algumas patologias importantes que afetam a mulher: a dor pélvica crônica, a dismenorreia, a endometriose, a síndrome pré-menstrual e as disfunções sexuais femininas, como anorgasmia, dispaneuria e vaginismo. A fisioterapia tem um importante papel no tratamento dessas patologias, por isso tais distúrbios serão discutidos a seguir. 7.1 Dor pélvica crônica A dor pélvica crônica (DPC) é uma síndrome com presença de episódios de dor pélvica recorrente ou persistente associada a sintomas sugestivos de disfunção no trato urinário baixo, disfunção sexual, na bexiga ou de origem ginecológica, na ausência de infecção comprovada ou patologia óbvia. A 94 Unidade II paciente apresenta dor cíclica ou acíclica, localizada na pelve, que persiste por 6 meses ou mais e que pode causar incapacidade funcional. Além disso, essa dor, embora investigada, não apresenta causa ou explicação definida. A prevalência da DPC é de quase 4% nos países desenvolvidos, e em mulheres em idade reprodutiva a prevalência aumenta, numa variação entre 10% a 14%. No Brasil ainda não existem dados de prevalência dessa patologia, mas sabe-se que é uma patologia que gera altos custos, pois muitas mulheres se afastam do trabalho ou diminuem sua produtividade devido à dor e aos gastos com consultas, exames e tratamento, que correspondem a 10% da razão das consultas dos ginecológicas. A etiologia da DPC é multifatorial e frequentemente está relacionada com queixas de dor na região da pelve, na parede abdominal anterior, e nas regiões infraumbilical, lombar e glútea. Assim, é considerada uma patologia de difícil manejo, uma vez que suas causas não são identificadas e há múltiplos fatores associados, inclusive aspectos sociais e psicossomáticos. Entre alguns fatores etiológicos estão: cistite intersticial, dispaneuria, aderências cicatriciais, estenose vaginal, síndrome da dor miofascial, alterações posturais, doenças ou lesões musculoesqueléticas, dismenorreia, endometriose, alterações psicológicas, história de vida, como abusos sexuais, divórcios e problemas familiares. Daremos ênfase a três dessas patologias – a dismenorreia, a endometriose e a dispaneuria –, que serão discutidas com outras disfunções sexuais femininas. 7.1.1 Endometriose A endometriose é caracterizada pela implantação do tecido endometrial fora da cavidade uterina, que apresenta a mesma resposta fisiológica do ciclo menstrual. Lembrete O endométrio é o tecido localizado na camada mais interna do útero, no qual o ovo fecundado se implanta e, caso não ocorra a fecundação, sofre hipóxia antes da menstruação e descama. Portanto, a menstruação é composta por sangue com células endometriais. Quando há a descamação do endométrio dentro da cavidade uterina, decorrente da fase do ciclo menstrual, os implantes desse tecido que se encontram fora do útero também se descamam e sangram, o que causa inflamação, irritação e muita dor. O quadro clínico é caracterizado por dismenorreia muito forte e progressiva, que aumenta a cada ciclo menstrual, DPC em região infraumbilical, com piora na fase pré e menstrual, incapacidade funcional, diminuição da qualidade de vida e dispaneuria. Além disso, existem sintomas que são denominados sintomas de agravamento, que quando aparecem são indícios de que a patologia está piorando: dor acíclica, ou seja, fora do período pré-menstrual e menstrual, e dor que se projeta para a região do intestino ou do reto durante o ato sexual. 95 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Além dos sintomas citados, a endometriose pode gerar complicações. A mais comum e grave é a infertilidade, que pode estar presente em até 40% dos casos (principalmente nos estágios mais avançados da doença). A mulher também pode apresentar cistos ou tumores preenchidos de sangue nos ovários, aderências, hemorragia intestinal, cansaço, alterações de humor e depressão. O diagnóstico é realizado com base nos dados clínicos da paciente e através da videolaparoscopia, na qual será retirado o tecido e encaminhado para biópsia. O tratamento cirúrgico também é realizado através da mesma técnica. 7.1.2 Dismenorreia A dismenorreia incide em mais de 60% das mulheres com idade entre 18 e 25 anos. Entre elas, cerca de 10% se tornam incapazes de desenvolver suas atividades habituais. Os sintomas mais frequentes são: cólicas, náuseas, vômitos, fadiga, nervosismo, dor lombar, diarreia, tontura e cefaleia. A dor é caracterizada como espasmódica em forma de cólica, com crises agudas que se manifestam horas antes ou no início da menstruação. Essa dor é frequentemente mais intensa no primeiro dia e raramente ultrapassa 2 dias. A dismenorreia pode ser classificada como primária ou secundária. A dismenorreia primária, também conhecida como intrínseca, essencial ou idiopática, ocorre na mulher sem nenhuma doença pélvica orgânica e é caracterizada por uma dor que surge, em geral, na puberdade, 6 a 12 meses após a menarca, bem como quando ocorrem as menstruações ovulatórias. Já a dismenorreia secundária, também chamada de extrínseca ou adquirida, está associada a doenças pélvicas orgânicas como a endometriose, o mioma submucoso, as doenças inflamatórias, a presença de dispositivo intrauterino (DIU), entre outras patologias que causam congestão pélvica no período menstrual, o que origina fenômenos dolorosos. 7.1.3 Tipos de DPC A DPC pode ter três causas principais: psicogênica, orgânica e musculoesquelética. A causa psicogênica, em geral, é a de mais difícil diagnóstico por ser mal definida, pois a mulher tem dificuldade em localizar os sintomas pelo fato de eles serem desconexos e não irradiarem. Além disso, é possível a relação com eventos emocionais, quando a mulher apresenta histórico de dificuldades emocionais e sociais. Já a causa orgânica é diagnosticada mais facilmente, pois é bem definida: a dor é atribuída a órgãos específicos e a mulher apresenta poucos sintomas associados. Além disso, é um tipo de dor que piora com a manipulação ou alteração postural. A causa musculoesquelética geralmente se inicia após um trauma ou uma queda. A paciente relata que a dor piora com o esforço e melhora com o repouso, entretanto a dor é difusa e pode irradiar para os membros inferiores. 96 Unidade II 7.1.4 Avaliação da DPC Por ser uma patologia de etiologia multifatorial e difícil diagnóstico, a avaliação clínica da paciente é de extrema importância para sua confirmação. Inicialmente, é importante que o fisioterapeuta realize uma anamnese detalhada e questione pontos como história pregressa, incluindo histórico obstétrico e ginecológico, e informações sobre o sistema gastrointestinal e urinário, queixas de dismenorreia e dispaneuria, cirurgias prévias e histórico psicológico, bem como doenças e traumas, como depressão, problemas conjugais, violência sexual ou doméstica e outros transtornos psíquicos. Após verificar esses dados iniciais, é importante avaliar a dor da mulher, questionando como ela se apresenta, quais são as características dessa dor, a localização, quais fatores melhoram ou pioram a dor (por exemplo, durante o trabalho, ao praticar atividades físicas, durante o sono, no ato sexual, durante a micção ou evacuação, entre outros), qual a duração e a frequência da dor, se ela tem ou não relação com o ciclo menstruale se a paciente já realizou tratamentos prévios para a dor. Em seguida, deve ser realizado o exame físico, através, inicialmente, da avaliação postural, da marcha e do comprimento dos membros inferiores, da inspeção e palpação abdominal, genital e das regiões lombar e glútea, observando cicatrizes, deformidades e pontos dolorosos, bem como a avaliação da força muscular dos membros inferiores, tronco e assoalho pélvico. Além disso, o fisioterapeuta deve realizar alguns testes ortopédicos específicos para diagnósticos diferenciais de algumas patologias musculoesqueléticas que causam DPC, como teste de Laségue, teste do piriforme, teste de Thomas e teste de Patrick-Fabere. Observação Em geral, são encontradas estas alterações em mulheres com queixa de DPC: anteroversão pélvica, hiperlordose lombar, hipercifose torácica, encurtamento de psoas, hipertonia de piriforme e obturadores, diferença de membros inferiores, fraqueza abdominal e diminuição de ADM de quadril. 7.1.5 Tratamento Após o diagnóstico de DPC, a mulher deve passar por um programa de tratamento multiprofissional integrado com o objetivo de aliviar a dor para que ela possa retornar as suas atividades e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida. O enfoque multiprofissional é essencial e deve ser dividido em terapias para o tratamento dos fatores emocionais, como psicoterapia e hipnose, e para o tratamento da dor, através de medicamentos, cirurgia e fisioterapia. Os medicamentos mais utilizados no tratamento da DPC são anti-inflamatórios não esteroides, anestésicos locais, analgésicos opioides e não opioides, antiespasmódicos, miorrelaxantes, antibióticos 97 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER (caso haja suspeita e confirmação de infecção), contraceptivos orais que suspendam a menstruação e antidepressivos. O tratamento cirúrgico é reservado apenas aos casos em que não há resposta com tratamento convencional (medicamento e fisioterapia), e as técnicas cirúrgicas mais utilizadas são a videolaparoscopia e a histerectomia, respectivamente. 7.1.6 Fisioterapia Os objetivos da fisioterapia com as mulheres que apresentam DPC são auxiliar no controle da dor, desfazer o ciclo dor-tensão-dor, tratar a dor de origem musculoesquelética, corrigir encurtamentos e retrações provocados por posturas antálgicas, relaxar a musculatura, prevenir incapacidades e restaurar a função. Para isso, o fisioterapeuta dispõe de vários recursos terapêuticos, como a termoterapia, a crioterapia e a massoterapia, incluindo a massagem perineal, a terapia manual, a eletroterapia, a cinesioterapia e as terapias complementares. Tanto a termoterapia com o uso do calor superficial quanto a crioterapia têm funções analgésicas e antiespasmódicas. A cinesioterapia é muito utilizada para o tratamento das disfunções musculoesqueléticas, podendo ser realizada individualmente ou em grupo, com o objetivo de harmonizar a cintura pélvica, prevenir IU, conscientizar para gerar melhor estabilização pélvica, contração e relaxamento dos MAP, músculos abdominais, paravertebrais e diafragma, bem como prevenir ou reverter alterações posturais e posturas antálgicas. Também é recomendado que essas mulheres pratiquem exercícios aeróbios leves e moderados por, no mínimo, 40 minutos, três vezes por semana, para reduzir estresse, prevenir dores miofasciais e liberar endorfina. A massagem pode ser realizada com o objetivo de normalizar o tônus muscular, o aumento da circulação sanguínea e o fluxo linfático, bem como para diminuir a dor. A massagem perineal pode ser realizada durante 5 minutos para relaxar os MAP. Outra técnica de massagem específica que pode ser utilizada nos casos de dismenorreia é a massagem do tecido conjuntivo (MTC). Ela deve ser iniciada 14 dias antes da próxima menstruação, com três sessões semanais na primeira semana, e sempre que possível, diariamente, na segunda semana. Depois da menstruação, deve-se prosseguir com o tratamento de uma a duas vezes por semana e, em seguida, na frequência anteriormente descrita, até os sintomas melhorarem. A eletroterapia é um recurso que visa à utilização da eletroestimulação para promover efeitos terapêuticos nos tecidos em que é aplicada. Nos casos de DPC, é preconizada a utilização do Tens, que pode ser empregado com alta frequência, nos casos de agudização da dor crônica ou baixa frequência para dor crônica. Para o alívio de dor, a eletroestimulação pode ser aplicada através de eletrodos transcutâneos suprapúbicos ou intravaginais, durante 30 minutos. Contudo, é importante que os eletrodos estejam o mais próximo possível do local de dor. Os parâmetros para dor crônica são frequência baixa, ou seja, de 8 Hz a 20 Hz, com largura de pulso alta, acima de 1 ms e intensidade alta, porém suportável. Também é interessante utilizar a variação de intensidade e frequência (VIF) para evitar a acomodação do estímulo. Já nos casos de dores crônicas “agudizadas” a frequência deve ser alta (100 Hz), com largura de pulso de 250 µseg e intensidade suportável pela paciente. 98 Unidade II Figura 52 – Aplicação de Tens - eletrodos transcutâneos suprapúbicos Outras terapias complementares, como RPG e pilates, também devem ser orientadas às pacientes com DPC. Por último, também é função do fisioterapeuta orientar a paciente quanto à prática de hábitos saudáveis, como ter uma alimentação balanceada, ingerir bastante água, não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, praticar atividades físicas e ter hobbies. 7.2 Síndrome pré-menstrual A síndrome pré-menstrual (SPM) é o que se chama popularmente de tensão pré-menstrual (TPM). A SPM é definida como um conjunto de sintomas físicos, psíquicos e comportamentais que afetam mulheres durante a fase de vida reprodutiva, exclusivamente nos dias que antecedem a menstruação. No Brasil, cerca de 85% das mulheres já apresentaram algum sintoma pré-menstrual em alguma fase da vida. Assim como na DPC, a SPM também apresenta uma etiologia multifatorial, em que normalmente a paciente possui desequilíbrios hormonais entre estrógeno e progesterona, deficiência de vitaminas B6 e E, atividade inapropriada das prostaglandinas e alteração das endorfinas e serotoninas. Os sintomas são extremamente variados, tendo sido encontrados e descritos mais de 150. 99 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER A SPM pode ser classificada em quatro diferentes tipos – A, C, D e H –, e as mulheres podem variar entre os tipos a depender do ciclo menstrual. No tipo A ou ansiedade, predominam os sintomas ansiosos, a pressa, a instabilidade humoral, a agressividade, a falta de concentração e a insônia. No tipo C ou carboidratos, predomina a compulsão alimentar, principalmente por doces. Nesse tipo de SPM, a mulher também pode apresentar enxaquecas, tonturas e irritabilidade. Já no tipo D ou depressão predominam sintomas depressivos nos 15 dias que antecedem a menstruação, e seu sintoma mais comum é a sensação de grande tristeza. Por último, no tipo H ou hídrico a mulher apresenta inchaço dos seios e do abdome e retenção de líquidos, pois grande parte do sal ingerido permanece na corrente sanguínea. Além isso, a mulher urina menos e ganha peso, bem como pode apresentar cefaleia e dores musculares. Observação Na prática, mulheres com SPM, devido aos desequilíbrios hormonais, podem apresentar mais de um tipo em um mesmo ciclo menstrual ou variações destes entre os ciclos. Por exemplo, em um mesmo período pré-menstrual, a mulher apresenta retenção de líquido e agressividade – tem-se o tipo A com H. Num outro exemplo, a mulher em período pré-menstrual apresenta sintomas de agressividade e instabilidade emocional, portanto, tipo A. Porém, em outro mês, ela apresenta compulsão alimentar, ou seja, tipo C. A fisioterapia também atua nos sintomas da SPM, principalmente no controle das dores, no relaxamento, na diminuição da retenção hídrica, entre outros aspectos. Entre os recursos que podem ser utilizados, destacam-se técnicas de relaxamento comrespirações, massagem relaxante, drenagem linfática manual, Tens, acupuntura e hidroterapia, a fim de aliviar tensões musculares, melhorar a circulação e aliviar a dor. 7.3 Disfunções sexuais femininas A sexualidade sofre influências sociais, psíquicas, culturais e orgânicas que podem causar disfunções sexuais, caracterizadas como a dificuldade de ter ou manter uma das fases da resposta sexual ou de completar uma relação sexual com o parceiro. As disfunções sexuais são classificadas de acordo com a desordem que a paciente apresenta, ou seja: • Desordem do desejo sexual hipoativo: a paciente apresenta redução ou ausência da libido. • Desordem de aversão sexual: paciente tem abstinência sexual completa. • Desordem de excitação sexual: paciente apresenta excitação inadequada e/ou insuficiente. 100 Unidade II • Desordem orgástica: paciente apresenta dificuldade persistente ou recorrente e/ou atraso para atingir ou ausência de orgasmo (anorgasmia). • Desordem das dores sexuais: dispaneuria e vaginismo. A atuação da fisioterapia nas disfunções sexuais femininas está mais concentrada na anorgasmia ou ausência de orgasmo, na dispaneuria, que é a dor durante o ato sexual, e no vaginismo, que ocorre quando a mulher apresenta espasmos musculares involuntários persistentes ou recorrentes durante o ato sexual. Os MAP responsáveis pelo ciclo de resposta sexual feminina são os músculos bulboesponjoso, isquiocavernoso e elevadores do ânus. Os músculos bulboesponjoso e isquiocavernoso colaboram para intensificar o desejo sexual e o orgasmo quando contraem voluntariamente, bem como são responsáveis pelas contrações rítmicas e involuntárias que ocorrem durante o orgasmo. Já os músculos elevadores do ânus modulam a resposta orgástica. É importante compreender a diferença entre as patologias para posteriormente tratá-las. O vaginismo e a dispaneuria são patologias que têm como característica a hipertonia dos MAP; já na anorgasmia as mulheres apresentam hipotonia dos MAP. Portanto, os tratamentos devem ser diferentes. O tratamento nas disfunções sexuais deve ser sempre multidisciplinar, com a integração de diferentes profissionais, como psicólogo, psiquiatra, sexólogo, ginecologista, urologista, fisioterapeuta, entre outros. O fisioterapeuta tem como objetivos orientar sobre a anatomia pélvica e os distúrbios sexuais, reabilitar a postura e a consciência corporal, reeducar e conscientizar sobre a contração e o relaxamento dos MAP e aliviar a dor. Inicialmente, deve ser realizada uma avaliação na paciente, a qual deve conter a anamnese em que se pergunta sobre a queixa principal, o início dos sintomas, as histórias atual, pregressa e familiar, a presença de IU, infecção do trato urinário, hemorroidas, constipação intestinal, incontinência fecal, flatos vaginais, como é a vida sexual, incluindo desejo sexual, orgasmos e excitação, se apresenta dor, se sofreu traumas psicológicos e todo o histórico ginecológico e obstétrico. No exame físico, deve-se realizar uma avaliação postural, a inspeção e a palpação vaginal, observando a sensibilidade da região, a coloração da vulva, a presença ou não de secreção, edema, cicatrizes, fibrose, pontos gatilho e prolapsos. Por último, deve-se avaliar a força muscular dos MAP através do toque bidigital e da manometria. Como recursos terapêuticos para o tratamento das disfunções sexuais podem ser utilizados a cinesioterapia, o biofeedback e a eletroterapia. A cinesioterapia tem o intuito de aumentar a vascularização local, normalizar o tônus e melhorar a propriocepção dos MAP, ou seja, a percepção de contração e relaxamento da musculatura, além de fortalecer ou relaxar os MAP, dependendo da patologia que a paciente apresente e do que foi encontrado na sua avaliação. Nos casos de hipotonia dos MAP, como na anorgasmia, na diminuição da sensação vaginal, nos flatos genitais e na IU durante o ato sexual, a fisioterapia foca o fortalecimento dos MAP. 101 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Já na dispaneuria e no vaginismo, em que a paciente apresenta hipertonia da MAP, o foco do tratamento é o relaxamento dos MAP e dos músculos acessórios. Nesse caso, também é possível utilizar a massagem perineal. O biofeedback apresenta efeitos positivos no tratamento das disfunções sexuais quando associado a cinesioterapia, pois a paciente e o terapeuta conseguem uma melhor monitorização dos exercícios. Ele pode ser utilizado tanto para o fortalecimento quanto para o relaxamento dos MAP, bem como para a melhora da conscientização dos MAP, pois a paciente consegue visualizar tanto a contração quanto o relaxamento da musculatura. Como recurso de eletroterapia pode ser utilizado o Tens para analgesia, de preferência com eletrodos intracavitários, nos casos da dispaneuria e do vaginismo. Para o fortalecimento dos MAP, pode-se utilizar estimulação elétrica neuromuscular, também com eletrodos intracavitários, nas pacientes que apresentam fraqueza dos MAP, anorgasmia, flatos vaginais, flacidez muscular e sensação de peso, com parâmetros semelhantes aos da IUE. 8 CLIMATÉRIO E MENOPAUSA O climatério representa a transição entre as fases reprodutiva e não reprodutiva, ou seja, do menacme para a senilidade, com consequências sistêmicas e potencialmente patológicas. O menacme é o período fértil da mulher, que se inicia com a menarca (primeira menstruação) e termina com a menopausa (a última menstruação). Portanto, o climatério é uma fase de intensas modificações físicas e psicológicas para a mulher. A menopausa é um evento dentro do climatério e não pode ser considerada um período. É o dia que ocorre a cessação permanente da menstruação e, para que seja assim considerada, a mulher deve apresentar 12 meses de amenorreia. A idade média para que isso ocorra é de 51,4 anos, mas é comum entre mulheres de 40 a 58 anos. As fases do climatério foram definidas pela Sociedade Internacional de Menopausa (IMS) em 1999. De acordo com essa definição, o climatério foi dividido em três períodos: pré-menopausa, perimenopausa e pós-menopausa. A fase pré-menopausa inicia-se, em geral, após os 40 anos em mulheres com ciclos menstruais regulares ou com padrão menstrual similar ao que tiveram durante sua vida reprodutiva, ocorrendo a diminuição da fertilidade. A fase perimenopausa ou transição menopausal se inicia 2 anos antes da última menstruação e estende-se até 1 ano depois. Nessa fase, os ciclos menstruais são irregulares (mais curtos ou longos demais), com pouca frequência ovulatória e alterações hormonais. Já a fase pós-menopausa tem seu início 1 ano após o último período menstrual e é subdividida em precoce (até 5 anos da última menstruação) ou tardia (após 5 anos da última menstruação). A menopausa ocorre pela insuficiência ovariana primária, ou seja, pelo envelhecimento. Nos ovários, há a atresia (morte) dos folículos ovarianos e os ovários passam a não conseguir responder aos hormônios hipofisários (FSH e LH), o que diminui de maneira drástica a produção ovariana de estrógeno (principalmente) e progesterona. Portanto as principais consequências da menopausa estão 102 Unidade II relacionadas, sobretudo, ao hipoestrogenismo, ou seja, à deficiência de estrógeno, que causa alterações fisiológicas marcantes. 8.1 Manifestações clínicas Cerca de 75% das mulheres se queixam de pelo menos um sintoma durante o climatério. As manifestações clínicas durante essa fase da vida da mulher são vastas e podem incluir: alterações neurogênicas ou vasomotoras, psicogênicas, metabólicas, mamárias, genitais, urinárias e do sistema tegumentar. A seguir, cada uma delas será discutida. 8.1.1 Manifestações neurogênicas Como manifestações neurogênicas destacam-se as ondas de calor ou fogachos, sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, insônia, perda de memória, cansaço e fadiga. Entre essas, é possível destacar os fogachos, o sintoma mais comum entre as mulheres climatéricas, estando presentes entre 65% a 75% das mulheres. Estima-seque dois terços das mulheres já apresentaram esse sintoma na perimenopausa e até 80% permanecerão com essa queixa por mais de um ano. Fogachos são caracterizados por uma sensação súbita de calor no tronco superior, especialmente no pescoço e na face, que pode gerar aumento de temperatura da pele em até 5 ºC, com duração de até 5 minutos, mas que geram aumento de FC. São sensações transitórias, repentinas e sem padrão de frequência ou intensidade. Por ser um sintoma marcante e desagradável, acaba interferindo na qualidade de vida, nas atividades domésticas, no trabalho e no sono, apesar de não trazer riscos à saúde da mulher. Os fogachos só melhoram com a terapia de reposição hormonal (TRH) com o uso de estrógenos, sendo esse sintoma o maior responsável pela busca de tratamento com TRH. 8.1.2 Manifestações psicogênicas Mulheres que estão emocionalmente adaptadas não sofrem grandes perturbações existenciais durante o climatério. Entretanto, as limitações impostas por esse período (fogachos, IU, entre outras) influenciam o estado emocional, pois a insegurança determinada pelos problemas físicos pode gerar transtornos psíquicos, sendo o mais comum a depressão. 8.1.3 Manifestações metabólicas As manifestações metabólicas ocorrem principalmente em dois sistemas, o metabolismo lipídico e o metabolismo ósseo. No metabolismo lipídico, o hipoestrogenismo gera lesão e disfunção endotelial, o que propicia a formação das placas de ateroma, que, por sua vez, acabam gerando alterações pressóricas e vasomotoras. Por isso, a incidência de doenças cardiovasculares na pós-menopausa aumenta significativamente. Entretanto, essas doenças são mais comuns em mulheres que já apresentam outros fatores de risco, como história pessoal de doença coronariana, idade superior a 55 anos ou menopausa sem TRH, histórico familiar, diabetes, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica e doença vascular periférica. 103 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Já as alterações no metabolismo ósseo podem causar osteoporose. Após a menopausa, a mulher perde cerca de 1% a 3% de osso cortical e mais de 5% do osso trabecular por ano, em virtude da diminuição da absorção do cálcio pelo hipoestrogenismo. A osteoporose caracteriza-se pela diminuição da massa óssea e pelo desenvolvimento de ossos ocos, finos e de extrema sensibilidade, que ficam mais sujeitos a fraturas, seja por pequenos traumas ou espontaneamente. Por isso, a osteoporose é muito mais comum em mulheres, com predominância em 85% dos casos. O hipoestrogenismo é responsável pela perda de 1/6 da massa óssea durante a vida da mulher, com a maior perda óssea nos primeiros 3 anos pós-menopausa. Entretanto, nem toda mulher apresentará osteoporose; por essa razão, é necessário realizar a identificação clínica, através da avaliação dos riscos de desenvolver a doença e um exame de imagem, de preferência densitometria óssea. Na identificação clínica, é preciso estar atento aos fatores indicadores e aos fatores aceleradores. Entre os indicadores destacam-se: mulheres de cor branca com histórico familiar de osteoporose, de estatura baixa e compleição física magra, que apresentaram menopausa precoce ou cirúrgica. Já entre os fatores aceleradores destacam-se fatores nutricionais, inatividade física, hábitos de vida, vícios, uso de algumas medicações e patologias prévias. 8.1.4 Manifestações mamárias Com a diminuição hormonal, as mamas sofrem involução, ou seja, tornam-se flácidas, atróficas e diminuem de volume, ocorrendo uma progressiva involução de todos os tecidos mamários, exceto do tecido adiposo. 8.1.5 Manifestações genitais As manifestações genitais mais comuns são a dispaneuria, o prurido vulvar (coceira), os corrimentos vaginais e as alterações menstruais, caracterizadas pela amenorreia ou metrorragia (sangramento entre as menstruações e fluxo intenso). 8.1.6 Manifestações urinárias Todos os elementos responsáveis pela continência são estrógenodependentes, portanto, a diminuição desse hormônio pode causar, principalmente, a IUE devido a alguns fatores, como a diminuição do tônus e o trofismo dos MAP, do tecido colágeno e da mucosa uretral, bem como a diminuição do número e da sensibilidade dos receptores α adrenérgicos da uretra. Além da IUE, outras manifestações urinárias também podem estar presentes, como a IUU, a disúria (dificuldade para urinar), a urgência, o aumento da frequência miccional, a noctúria, a enurese e a hipoatividade do detrusor, que gera a dificuldade em esvaziar a bexiga. 104 Unidade II 8.1.7 Manifestações do sistema tegumentar Entre as alterações do sistema tegumentar é possível destacar o envelhecimento cutâneo, caracterizado pela pele mais fina e sem apoio, pela diminuição progressiva dos pelos do corpo, das axilas e do púbis, pela diminuição da massa muscular, com o enfraquecimento e a diminuição do trofismo muscular, bem como por embranquecimento e queda dos cabelos. 8.2 Tratamento O tratamento de mulheres no climatério, assim como em outras patologias, deve ser sempre multidisciplinar, com enfoque biopsicossocial, com orientação à mulher em todas das fases do climatério. A TRH não é para todas as mulheres e deve ser sempre discutida entre médico e paciente, pois traz benefícios, mas também riscos. Portanto, deve-se sempre deixar isso claro, apresentando os dois lados às pacientes. Em geral, a TRH é realizada com a utilização de hormônios, principalmente o estrógeno, de forma isolada ou combinada com a progesterona e/ou outros hormônios. Entre os objetivos da TRH estão: • corrigir a disfunção menstrual; • prevenir lesões endometriais; • melhorar a síndrome climatérica; • prevenir a osteoporose; • diminuir a incidência de doenças cardiovasculares; • diminuir a incidência da doença de Alzheimer. Mas, como já dito, nem todas as mulheres são candidatas à TRH e existem contraindicações absolutas para esse tipo de tratamento, como: • câncer de mama ou de endométrio ou outros tumores hormônio-dependentes; • tromboflebite aguda; • alteração tromboembólica; 105 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER • sangramento vaginal de origem indeterminada; • doença hepática aguda. Existem outros recursos para o tratamento da síndrome climatérica, baseados em terapias não hormonais e que normalmente focam os sintomas apresentados pela mulher. Além disso, a fisioterapia e os exercícios físicos têm importante papel nessa fase, com os objetivos de melhorar a qualidade de vida da mulher e prevenir e tratar IU, osteoporose e doenças cardiovasculares. Os tratamentos fisioterapêuticos para as patologias mais presentes nessa fase da vida da mulher já foram apresentados neste livro-texto, como, por exemplo, IU, dispaneuria e outras, bem como no caso das doenças cardiovasculares. Portanto, a seguir, será discutido em mais detalhes o tratamento da osteoporose. 8.2.1 Fisioterapia na prevenção e no tratamento da osteoporose A diminuição da densidade mineral óssea aumenta muito o risco de fraturas que, em conjunto com as quedas, determina os riscos de fratura, sendo mais comum em idosos. Os procedimentos fisioterapêuticos que serão realizados com a paciente com osteoporose dependem da idade, da severidade da condição patológica, dos resultados da densitometria óssea, das patologias associadas e de seu status funcional. É importante destacar que exercício físico somente após a menopausa e isoladamente não previne a perda óssea rápida, não podendo substituir a TRH. Portanto, o ideal é a junção do exercício físico com a TRH. Os exercícios nas pacientes com osteoporose ou osteopenia têm o objetivo de prevenir quedas, melhorar a função, diminuir possíveis dores e conservar a densidade mineral óssea. Antes de iniciar o programa de exercícios, é necessário que fisioterapeuta realize uma avaliação, iniciando com uma avaliação postural e de ADM, testes de força muscular e resistência máxima, principalmente de membros inferiores e abdominais, testes funcionais, como levantar e sentar, timeup and go (TUG), avaliação da capacidade aeróbica, com teste de caminhada de 6 minutos ou testes em esteira, testes de equilíbrio, como alcance funcional e escala de equilíbrio de Berg, bem como questionar sobre dores e atividades de vida diária. As recomendações clínicas para exercícios em mulheres pré-menopausa são atividades com peso e alto impacto. Em mulheres com osteopenia e osteoporose, o treinamento com peso deve ser progressivo e de baixo a moderado impacto. Além disso, outras atividades para equilíbrio, postura e condicionamento aeróbio também devem ser prescritas. Existem exercícios que sempre devem ser evitados em pacientes com osteoporose, como de alto impacto, com movimentos abruptos e explosivos, de torção e abdominais dinâmicos. 106 Unidade II Via de regra, é possível dividir os pacientes em três grupos: com massa óssea normal; com osteopenia, mas sem fratura; e com osteoporose e/ou fratura. No primeiro grupo, com massa óssea normal, as pacientes apresentam baixo risco de queda, portanto devem ser realizadas atividades com alto impacto e exercícios vigorosos. No segundo grupo, em que há presença de osteopenia, mas não há fraturas, existe um risco moderado de quedas, então, essas mulheres devem realizar exercícios de baixo a moderado impacto, exercícios de equilíbrio e mobilidade para prevenir quedas, exercícios para postura e orientações. Por último, no terceiro grupo, em que as pacientes apresentam osteoporose e/ou fratura, o risco de quedas é alto; por isso, devem ser realizados somente exercícios de baixo impacto, prevenção de quedas e exercícios para postura, analgesia, função e mobilidade, além de serem dadas orientações. Saiba mais Para aprender um pouco mais sobre a utilização de exercícios na prevenção da osteoporose nas mulheres pós-menopausa, leia o seguinte artigo: DALY, R. M. et al. Exercise for the prevention of osteoporosis in postmenopausal women: an evidence-based guide to optimal prescription. Brazilian Journal of Physical Therapy, v. 23, n. 2, p. 170-180, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3tYWAkK. Acesso em: 7 fev. 2021. 107 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER Resumo Na unidade II, foi dado início ao estudo da uroginecologia, talvez a área de atuação mais conhecida na saúde da mulher. Nesse momento, foram estudadas mais profundamente a anatomia do sistema urinário e a fisiologia da micção, fatores importantes para entender como ocorrem as incontinências urinárias e as distopias genitais, e como a fisioterapia pode atuar na prevenção e no tratamento dessas patologias. Nesse momento, houve um aprofundamento nos tipos de IU e na importância da avaliação uroginecológica, que apresenta algumas características diferentes, as quais possivelmente ainda não tinham sido abordadas. Através dessa avaliação, que pode ser realizada com a ajuda de algumas escalas, testes, avaliação de força muscular, entre outros equipamentos, é possível indicar os objetivos e o melhor tratamento para cada uma das pacientes. Nesse sentido, foram abordados diferentes recursos terapêuticos utilizados nas disfunções uroginecológicas. Após a uroginecologia, a oncologia foi estudada, mais precisamente o câncer de mama, inclusive as formas de diagnóstico, os tratamentos cirúrgicos e clínicos, as complicações geradas pelos tratamentos e pela patologia em si e como a fisioterapia pode atuar nesses casos, em todas as fases do tratamento e nas complicações que essas pacientes possam apresentar. Em seguida, foram discutidos os distúrbios ginecológicos, inclusive a dor pélvica crônica, que pode apresentar causas diferentes, a síndrome pré-menstrual e as disfunções sexuais femininas, bem como a atuação do fisioterapeuta nesses distúrbios. Por último, foi estudada uma fase em que as mulheres apresentam intensas modificações físicas e psicológicas e todas as manifestações que podem ocorrer durante o climatério e a menopausa, principalmente devido ao hipoestrogenismo, e como tratar algumas das manifestações e complicações. 108 Unidade II Exercícios Questão 1. A IU pode ser considerada um problema social para a mulher devido à tendência de restrição do convívio social, o que pode reduzir sua qualidade de vida. Sobre os tipos de incontinência urinária, assinale a alternativa correta. A) Na incontinência urinária de urgência, é observada perda involuntária da urina diante de situações de esforço, como tosse, espirros e atividade física. B) A incontinência urinária de esforço é a forma mais comum de disfunção uroginecológica e é caracterizada por uma ineficiente contração reflexa da musculatura do assoalho pélvico durante esforços, como a tosse. C) O maior volume de urina perdido de forma involuntária associado ao desejo súbito de urinar é observado na incontinência por esforço. D) A opção de tratamento médico para todas as formas de incontinência urinária é a cirúrgica, sendo a atuação fisioterapêutica necessária apenas na fase pós-operatória. E) A prática de atividades físicas de impacto, a obesidade, o tabagismo, a constipação intestinal e a multiparidade são considerados fatores de risco para a incontinência urinária mista. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: esforços associados à tosse, ao espirro e à prática de atividades físicas como corrida e o salto podem favorecer o desenvolvimento da incontinência denominada por esforço. B) Alternativa correta. Justificativa: ao aumentar a pressão intra-abdominal para tossir, é verificada a contração reflexa dos músculos do assoalho pélvico. Na incontinência por esforço, essa contração não é suficiente, sendo esse um dos fatores que favorecem a perda da urina. C) Alternativa incorreta. Justificativa: o maior volume de urina perdido é observado diante da IU do tipo emergencial. 109 FISIOTERAPIA APLICADA À SAÚDE DA MULHER D) Alternativa incorreta. Justificativa: qualquer que seja o tipo de IU presente, o médico inicialmente opta pelo tratamento conservador, no qual a abordagem fisioterapêutica se faz necessária. E) Alternativa incorreta. Justificativa: os fatores apontados na alternativa estão associados à IU por esforço. Questão 2. O autoexame das mamas deve ser realizado mensalmente pela mulher e é um procedimento importante e barato que auxilia o diagnóstico precoce do câncer de mama. O diagnóstico tardio requer, na maioria dos casos, a intervenção cirúrgica combinada a sessões de quimioterapia e de radioterapia. Sobre o tratamento fisioterapêutico no câncer de mama, avalie as afirmativas. I – A intervenção fisioterapêutica em mulheres com história de câncer de mama se faz necessária desde o período pré-operatório e é caracterizada por exercícios respiratórios e orientações sobre os cuidados no membro superior do lado da mama a ser operada. II – O linfedema é uma complicação comum após a cirurgia. Sua instalação ocorre apenas no pós-cirúrgico imediato, sendo indicada a drenagem linfática somente nesse período. III – A radioterapia e as complicações relacionadas à cirurgia, como lesões nervosas, podem explicar a instalação de disfunções na articulação do ombro, sendo indicados exercícios de mobilização para ganho de amplitude articular e força muscular. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) I e II, apenas. C) I e III, apenas. D) III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa C. 110 Unidade II Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: o acompanhamento terapêutico do profissional de fisioterapia, nessa situação clínica, é importante durante todas as fases do tratamento médico. No período pré-operatório, o fisioterapeuta deve solicitar exercícios respiratórios, uma vez que após a cirurgia o quadro de dor pode limitar a função pulmonar da paciente. Além disso, as orientações sobre os cuidados com o membro superior do lado da mama a ser operada devem ser explicadas à paciente. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: o linfedemaé uma das principais complicações observadas durante um longo período após a intervenção cirúrgica. A atuação fisioterapêutica é feita por meio da drenagem linfática, e a utilização de enfaixamento é combinada a exercícios ativos do membro superior. Deve ser contínua, e não restrita ao pós-operatório imediato. III – Afirmativa correta. Justificativa: além do linfedema, outra complicação pós-cirúrgica que necessita da intervenção fisioterapêutica é a disfunção da articulação do ombro. Essa articulação tende a perder sua amplitude de movimento pela fraqueza dos músculos envolvidos nos movimentos devido à tendência da paciente de evitar a movimentação do membro com receio de sentir dor. 111 REFERÊNCIAS Textuais BARACHO, E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4. ed. 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