Prévia do material em texto
Unidade 3 Análise de Leucpgrama e a Leucemia Hematologia Clínica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ADRIANA DALPICOLLI RODRIGUES AUTORIA Adriana Dalpicolli Rodrigues Sou formada em Biomedicina e tenho mestrado em Biotecnologia. Tenho experiência profissional na área de análises clínicas por mais de sete anos. Atuei em laboratórios de pesquisa e análises clínicas em diversos setores, incluindo Hematologia. Atualmente trabalho como analista científica no Laboratório Alfa Ltda. e no Centro Universitário UniFtec. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Gênese Leucocitária e Leucócitos Normais do Sangue Periférico......................................................................................................... 12 Gênese Leucocitária ..................................................................................................................... 13 Leucócitos Normais do Sangue Periférico ................................................................... 19 Morfologia dos Leucócitos Normais do Aangue Periférico ......... 20 Funções dos Leucócitos Normais do Sangue Periférico ...............24 Leucograma: Processos Infecciosos e Inflamatórios ..................28 Interpretando o Leucograma com Alterações Quantitativas ......................... 30 Interpretando o Leucograma Quanto a Alterações Morfológicas ..............32 Desvio à Esquerda .....................................................................................................33 Reações Leucemoides ............................................................................................34 Anormalidades das Células Linfoides ..........................................................35 Hipersegmentação nos Neutrófilos ................................................................37 Granulações Tóxicas dos Neutrófilos ...........................................................37 Vacuolização Citoplasmática dos Neutrófilos ....................................... 38 Corpúsculos de Döhle............................................................................................. 38 Granulócitos Hipogranulares ou Agranulares ........................................ 39 Doenças Hereditárias Autossômicas da Série Branca ..................... 39 Gênese da Leucemia e as Classificações das Leucemias .........42 Gênese da Leucemia ...................................................................................................................43 Classificações dos Tipos de Leucemias ........................................................................ 46 Leucemia Mieloide Aguda ................................................................................... 48 Leucemia Linfoide Aguda ..................................................................................... 50 Leucemia Mieloide Crônica ..................................................................................53 Leucemia Linfoide Crônica ...................................................................................54 Principais Leucemias e Outras Mielodisplasias .............................56 Características Morfológicas dos Leucócitos Imaturos ..................................... 56 Diagnóstico Laboratorial das Leucemias Agudas .................................................. 58 Hemograma da Leucemia Mieloide Aguda ............................................ 59 Hemograma da Leucemia Linfoide Aguda ..............................................60 Diagnóstico Laboratorial das Leucemias Crônicas ................................................61 Hemograma da Leucemia Mieloide Crônica ...........................................62 Hemograma da Leucemia Linfoide Crônica ........................................... 64 Diagnóstico das Síndromes Mielodisplásicas ...........................................................66 9 UNIDADE 03 Hematologia Clínica 10 INTRODUÇÃO Você sabia que o leucograma é a etapa do hemograma em que são avaliados os leucócitos? É nessa etapa que são contados os leucócitos totais e é feita a diferenciação dos tipos presentes no sangue periférico (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos). Também é realizada avaliação morfológica dessas células. O número e a morfologia podem sofrer alterações tanto em quadros clínicos fisiológicos (como a gestação) quanto patológicos (como as leucemias e outras mielodisplasias). Então, para que você possa interpretar o resultado do leucograma, é importante começar entendendo a gênese leucocitária. Esse processo é responsável pela produção e renovação dos leucócitos, tendo início no período embrionário e seguindo por toda a vida do indivíduo. Quando algo não está bem no organismo, células imaturas, percussoras dos leucócitos são visualizadas no sangue periférico. Entendeu? Pois então, esses precursores e demais inclusões/alterações (granulações, vacuolização, atípicas etc.) também serão vistos nessa unidade letiva, juntamente com as patologias correspondentes. Pronto para começar? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Hematologia Clínica 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Análise de leucograma e a leucemia. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar como funciona a gênese leucocitária e quais são os leucócitos do sangue periférico. 2. Interpretar o leucograma, principalmente associado a processos infecciosos e inflamatórios. 3. Interpretar a gênese da leucemia e a classificação delas. 4. Apontar laboratorialmente as principais leucemias e outras mielodisplasias. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Hematologia Clínica 12 Gênese Leucocitária e Leucócitos Normais do Sangue Periférico OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a gênese leucocitária e identificar os leucócitos normais e alterados que podem ser observados no sangue periférico. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, pois, ao analisar um hemograma, especialmente na parte do leucograma, saberá identificar os diferentes tipos de leucócitos de acordo com suas características morfológicas. Além disso, compreenderá qual é a função de cada célula leucocitária no organismo humano. E, então, quando em alguma amostrade um paciente aparecer leucócitos com alterações, seja no número ou na morfologia, você conseguirá identificar e compreender que o paciente pode estar passando por um processo infeccioso, inflamatório, leucêmico ou por uma alguma outra mielodisplasia. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante! NOTA: Em nosso estudo, as palavras eritrócito, hemácia e glóbulo vermelho serão usadas como sinônimos. O processo de formação e desenvolvimento dos elementos figurados do sangue é chamado de hematopoese. As células e fragmentos celulares produzidos e que circulam livremente no sangue periférico são: os leucócitos, os eritrócitos e as plaquetas. O foco dessa etapa da unidade de aprendizagem é a gênese leucocitária (produção de leucócitos) e, consequentemente, as células produzidas nesse processo, desde a célula hematopoética até as mais maduras que são disponibilizadas no sangue Hematologia Clínica 13 periférico (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos) de um indivíduo saudável. Além disso, você aprenderá que cada uma apresenta características morfológicas diferentes, assim como as funções biológicas distintas e importantes para o sistema imunológico do organismo, seja um simples corte até uma infecção mais grave causada por microrganismos como a tuberculose. Gênese Leucocitária DEFINIÇÃO: A gênese leucocitária, também chamada de leucogênese ou leucopoese, se refere à formação e desenvolvimento das células da série branca, ou seja, dos leucócitos (glóbulos brancos). Primeiramente vamos iniciar com os órgãos hematopoéticos responsáveis pela produção dos leucócitos. As células progenitoras estão no saco vitelínico, mas a diferenciação ocorre primariamente na série eritroide. Monócitos e megacariócitos podem, ocasionalmente, serem identificados nas ilhotas sanguíneas. Na medida em que ocorre a formação do sistema vascular, as células sanguíneas entram em circulação. Então, a gênese leucocitária inicia no período fetal, no tecido hepático (no fígado), em baixa intensidade. A primeira linhagem leucocitária a ser desenvolvida é a granulopoiese, ou seja, os granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e, em sequência, os linfócitos. O fígado e o baço são os principais órgãos hematopoéticos até aproximadamente o sexto ou sétimo mês do feto e podem continuar em média até duas semanas após o nascimento. Os linfonodos (também chamados de gânglios linfáticos) e o timo apresentam atividade reduzida no desenvolvimento de leucócitos durante a fase fetal do indivíduo. Hematologia Clínica 14 Figura 1 – Fígado Fonte: Wikimedia Commons O desenvolvimento das células sanguíneas (hematopoéticas) ocupa sequencialmente o saco vitelínico (primeiro), o fígado (pode ser reativado em casos de necessidade), o baço (é produtor de linfócitos por toda a vida e pode produzir outras células, caso seja necessário) e a medula óssea (até o fim da vida). Figura 2 – Medula óssea Fonte: Wikimedia Commons Hematologia Clínica 15 A medula óssea também produz leucócitos e demais células sanguíneas no período fetal, tendo continuidade após o nascimento e por toda a vida do indivíduo. A partir do nascimento, os granulócitos passam a ser desenvolvidos apenas na medula óssea, ou seja, fora dos vasos sanguíneos do sistema circulatório (extravascular). Os ossos achatados e longos do sistema esquelético são os locais de produção de células do sangue na infância. Entretanto, no adulto, o local de desenvolvimento celular é mais restrito, ocorrendo no esqueleto central e na região proximal dos ossos longos. Os granulócitos e monócitos formados na medula óssea irão ficar armazenados ali até serem necessários na circulação sanguínea periférica. Os linfócitos também são produzidos pela medula óssea. Os órgãos linfoides também participam da produção de células sanguíneas, promovendo principalmente o desenvolvimento de linfócitos, classificados em linfócitos B e linfócitos T. A medula óssea e o timo (importante para no processo de produção de linfócitos T) são considerados órgãos linfoides primários devido à intensidade de desenvolvimento celular e os demais, como secundários. São classificados como órgãos linfoides: os linfonodos, o baço, o timo e as tonsilas. Esses órgãos compõe o sistema linfático (importante para produção de células de defesa, drenagem de fluídos em excesso, absorção dos ácidos graxos e transporte subsequente da gordura para o sistema cardiovascular) e do organismo em geral. Há células do intestino que também produzem leucócitos. NOTA: As tonsilas formam uma espécie de anel protetor de tecidos linfáticos ao redor das aberturas das cavidades do sistema respiratório superior (nasal, oral e faríngea). Desse modo podem ser classificadas em: tonsila faríngea (também chamada de adenoide), tonsila palatina (também denominada de amídala) e tonsila lingual. Embora sejam tecidos produtores de células que são responsáveis pelas defesas do organismo, também são passiveis de infecções, como: faringite e amidalite. Hematologia Clínica 16 Figura 3 – Faringite Fonte: Wikimedia Commons VOCÊ SABIA? Os linfonodos são os órgãos linfoides mais numerosos (em torno de 500 a 600) espalhados pelo organismo; já o baço é único e o maior em tamanho comparado a todos os outros. IMPORTANTE: A gênese leucocitária precisa estar constantemente em produção de leucócitos, pois, em condições normais do organismo, os granulócitos permanecem ativos na circulação sanguínea periférica por aproximadamente doze horas até três dias. Para os granulócitos esse período apresenta duração mais longa que pode variar de cem a trezentos dias. Agora que você já sabe quais são os órgãos hematopoéticos envolvidos na produção dos leucócitos, convido você a saber como ocorre a gênese leucocitária propriamente dita. Esse processo se inicia por uma célula-tronco hematopoética. Essa célula apresenta capacidade de se Hematologia Clínica 17 autorrenovar e de se diferenciar, podendo originar células especializadas, hematopoéticas, como os leucócitos. A primeira célula que sofre estímulos é o blasto, que pode seguir por dois caminhos, linhagem mieloide (mieloblasto) ou linfoide (linfoblasto) de acordo com o estímulo recebido pelos fatores de crescimento de células do estroma. Os fatores de crescimento responsáveis por estimular a proliferação e diferenciação dessas linhagens são as interleucinas (exemplo: IL-1, IL-3, IL-5, IL-6, IL-11) e os fatores estimuladores de colônias granulocítico-macrofágicas (GM- CSF), granulocíticas (G-CSF) e monocíticas (M-CSF). VOCÊ SABIA? Além de estimular a produção de células, os fatores de crescimento afetam também a função das células maduras, favorecendo processos como a fagocitose, a geração de superóxido e a citotoxicidade (com intuito de eliminar os patógenos) e inibem a apoptose das células de defesa. O mieloblasto segue a linhagem mielocítica (mielopoese) e o linfoblasto, a linhagem linfocítica (linfopoese). A linhagem mielocítica se divide ainda em granulopoese (produção dos granulócitos – células que possuem grânulos visíveis) e monopoese (produção dos monócitos). O mieloblasto ou mielomonoblasto irá se diferenciar em promielócito (também chamado de progranulócito) ou promonócito, respectivamente. Essas células seguirão se maturando e diferenciado. Para facilitar seu entendimento, você começará lendo sobre toda a sequência de maturação/diferenciação dos granulócitos e depois sobre os monócitos. Então, após o mieloblasto originar o promielócito, esse, por sua vez, dará origem ao mielócito basofilo ou mielócito eosinófilo ou mielócito neutrófilo de acordo com as necessidades do organismo. Essas células originarão o metamielócito basófilo, o metamielócito eosinófilo e o metamielócito neutrófilo, respectivamente. Em sequência, surgirão: a célula basófila em bastão, a célula eosinófilaem bastão e a célula neutrófila em bastão (neutrófilo bastonado). As células maduras formadas e disponibilizadas no sangue periférico serão, concomitantemente: basófilo, eosinófilo e neutrófilo segmentado. Hematologia Clínica 18 NOTA: O amadurecimento celular implica em perda da capacidade de proliferação da célula, ou seja, quando mais madura estiver, menores são as chances de se dividir e se diferenciar. O neutrófilo segmentado é o leucócito mais prevalente no sangue periférico em condições normais do indivíduo adulto saudável, logo, há muito mais metamielócito e célula bastonada dessa linha celular. Dentre os granulócitos, o segundo lugar de maior produção é o eosinófilo e por último o basófilo (leucócito produzido em menor quantidade em relação a todos os outros). IMPORTANTE: O neutrófilo bastonado, ou outra célula bastonada, também pode ser visualizado no sangue periférico de um paciente saudável, entretanto, sua concentração deverá ser inferior a 5%, caso seja maior, poderá estar indicando algum processo fisiológico ou patológico. Voltando ao promonócito (originado pelo mielomonoblasto), ele dará origem ao monócito. O monócito será liberado na circulação periférica e também poderá se diferenciar em macrófago conforme forem as necessidades do organismo a nível tecidual. Repare como essa linhagem apresenta um menor número de células para diferenciação, assim como a linhagem linfocítica que você verá a seguir. A linhagem linfocítica, por meio do linfobasto dará origem ao linfócito, que poderá ser classificado em linfócito T, linfócito B e linfócito natural killer (NK) (células NK - tipo de linfócitos citotóxicos necessários para o funcionamento do sistema imune inato) de acordo com o local que foi produzido, características morfológicas (embora haja pouca diferença) e com a função específica que irá desenvolver. Hematologia Clínica 19 NOTA: As células da linhagem monocítica e linfocítica não têm grânulos grandes no seu citoplasma (normalmente quando apresentam grânulos não são facilmente visualizados em análise microscópica), desse modo, também podem ser classificadas em leucócitos agranulócitos (ou não granulócitos). Figura 4 – Célula linfocitária Fonte: Wikimedia Commons Leucócitos Normais do Sangue Periférico Os leucócitos podem ser divididos em: fagócitos e linfócitos. Os fagócitos incluem as células do sistema imune inato (podem agir rapidamente após uma infecção, sendo a primeira linha de defesa) e os linfócitos medeiam a resposta imune adaptativa (memória imunológica, anticorpos). Os fagócitos podem ser subdivididos em granulócitos ou, ainda, polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e Hematologia Clínica 20 monócitos. Os monócitos e linfócitos podem também ser classificados como agranulócitos ou mononucleares. A seguir você poderá verificar as diferenças morfológicas e as funções de cada leucócito, começando pelos granulócitos e depois pelos agranulócitos. Morfologia dos Leucócitos Normais do Aangue Periférico O granulócito mais prevalente no sangue periférico é o neutrófilo. Essa célula corresponde a aproximadamente 56% (variando entre 45 e 70%) dos leucócitos totais em um adulto saudável. O neutrófilo apresenta em média um diâmetro de 12 a 15 μm, o citoplasma é acidófilo apresentando coloração rosa pálido, com grânulos delicados e núcleo azul-arroxeado com cromatina em grumos. O neutrófilo segmentado pode ter o núcleo dividido em dois a cinco lóbulos em disposição circular. Já o neutrófilo bastonado não apresenta nenhum segmento, é um núcleo único. Comparados aos demais leucócitos, geralmente, os neutrófilos são menores que os monócitos e eosinófilos e discretamente maiores que os basófilos. Figura 5 – Netrófilos segmentados Fonte: Wikimedia Commons Hematologia Clínica 21 O formato do núcleo dos neutrófilos pode ser semelhante a letras do alfabeto: “E, Z, S e U”. No caso dos neutrófilos segmentados, apresentam rompimentos visíveis em microscopia óptica. Já os neutrófilos bastonados, de modo geral, apresentam o núcleo inteiro, sem nenhuma fragmentação. VOCÊ SABIA? Os leucócitos são praticamente invisíveis ao serem observados no microscópio em esfregaço sanguíneo sem coloração. Normalmente para avaliação de suas características morfológicas, o esfregaço sanguíneo é corado por uma mistura cor-de-rosa avermelhada (eosina) e uma coloração azul arroxeada (hematoxilina). As células que apresentam mais afinidade por corante ácido coram- se com tons avermelhados e as que tem mais afinidade com o corante básico coram-se em tons de azuis. Os eosinófilos correspondem a em torno de 3% (1 a 5%) dos leucócitos totais, o seu tamanho é por volta de 12 a 17 μm de diâmetro. Essas células são muito semelhantes aos neutrófilos, apresentam o núcleo normalmente segmentado, tendo como principal diferença a presença de grânulos grosseiros laranja-avermelhados devido afinidade por corantes ácidos. É uma célula bem característica, que não causa dúvida ao analista quando presente (fácil identificação). Os basófilos são os leucócitos mais raros no sangue periférico, sua representação é menor do que 1% (0 a 1%) dos leucócitos totais. O tamanho dessa célula é de aproximadamente 10 a 14 μm de diâmetro. Também são semelhantes aos neutrófilos, o que os diferencia são os grânulos maiores com forte afinidade por corantes básicos. Também é uma célula bem característica de fácil identificação quando presente. Hematologia Clínica 22 REFLITA: Como o percentual dos basófilos é menor do que dos demais leucócitos no sangue periférico, muitas vezes na contagem diferencial realizada pelo analista laboratorial em microscópio óptico, em que 100 células são contadas, eles não são observados. Os monócitos representam em torno de 4% dos leucócitos totais, podendo variar de 2 a 10%. O seu tamanho é de 12 a 20 μm de diâmetro, sendo o maior leucócito maduro circulante no sangue periférico. O núcleo dessa célula é irregular, ou seja, lobulado em parte, profundamente endentado ou com forma de ferradura, podendo, às vezes, ser arredondado ou oval, sua disposição na célula é excêntrica ou central, cor azulada, com cromatina delicada. Não apresenta nucléolo visível. O citoplasma do monócito é abundante, cinza-azulado opaco com grânulos finos, podendo ser vacuolizado. Figura 6 – Monócito Fonte: Wikimedia Commons Hematologia Clínica 23 NOTA: Equipamentos automatizados contam um número maior de monócitos do que a contagem manual realizada microscopicamente pelo analista de laboratório e isso se deve, provavelmente, à distribuição não uniforme dessa célula na lâmina devido ao tamanho dela ser grande. Os linfócitos correspondem a aproximadamente 34% (20 a 40%) dos leucócitos totais. São células que possuem núcleo único (mononucleares), definido redondo, excêntrico e de coloração azul escura. Não apresentam grânulos citoplasmáticos específicos. O tamanho dos linfócitos pode variar de 10 a 12 μm de diâmetro quando pequenos, sendo um pouco maiores que os eritrócitos, ou podem ser grandes, com aproximadamente 12 a 16 μm de diâmetro. VOCÊ SABIA? Linfócitos grandes são comumente encontrados em sangue de criança podendo dificultar a diferenciação entre os linfócitos e os monócitos. Figura 7 – Linfócitos Fonte: Wikimedia Commons Hematologia Clínica 24 Em indivíduos saudáveis, em que os leucócitos estão em número dentro da normalidade, a ordem de maior prevalência dos leucócitos no sangue periférico para um adulto é: neutrófilos segmentados, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Crianças, por sua vez, apresentam uma maior quantidade de linfócitos do que de neutrófilos. Ao avaliar o resultado de um leucograma é fundamental observar a idade do paciente, pois linfócitos em maior número em um adulto podem ser indicativos de uma infecção, já em uma criança, é justamente o que se espera observar.ACESSE: Para que você possa conhecer e se familiarizar com as características morfológicas dos leucócitos imaturos e maduros, não deixe de acessar o link. Funções dos Leucócitos Normais do Sangue Periférico VOCÊ SABIA? A função básica dos leucócitos é de defesa contra os mais variados tipos de patógenos e outras substâncias, mantendo a imunidade íntegra. Os patógenos, ou agentes infecciosos, são definidos como todo o organismo capaz de causar infecção, como: bactérias, vírus, fungos e parasitas (helmintos ou protozoários). Como fazem parte do sistema de defesa do organismo, os leucócitos circulam no sangue periférico por um período curto, utilizando a corrente sanguínea para chegar o mais rápido possível em locais em que existe algum tipo de lesão ou infecção, passando grande parte do tempo migrando entre os mais variados tecidos. Todos os leucócitos podem migrar para fora da corrente sanguínea quando estão ativos e existe essa necessidade, podendo ser atraídos por estímulos químicos até o patógeno invasor ou substância imprópria (desconhecida pelo Hematologia Clínica https://laces.icb.ufg.br/p/20023-leucopoese 25 organismo). O aumento ou diminuição dos leucócitos no sangue periférico é consequência da função de cada célula no organismo. Você vai ver na sequência, a função dos diferentes tipos de leucócitos normais do sangue periférico. Os neutrófilos são a primeira linha de defesa do organismo em casos de corte epidérmico (camada mais externa da pele), ou seja, quando nos cortamos são as células que irão agir para evitar a entrada de microrganismos. Além disso, apresentam-se em maior número no sangue periférico em casos de infecções bacterianas. Como são fagócitos, apresentam a capacidade de englobar o microrganismo causador da infecção e provocam a morte dele por fagocitose. DEFINIÇÃO: Fagocitose é o processo pelo qual uma célula usa sua membrana plasmática para englobar partículas, dando origem a um compartimento interno, o fagossoma, rico em enzimas que irão destruir o elemento englobado. As enzimas são citotóxicas. Além das infecções bacterianas, os neutrófilos podem ser observados atuantes em casos de: traumas, cirurgias, queimadura, infarto do miocárdio e leucemia mieloide crônica. Os eosinófilos também são fagócitos, realizando o mesmo processo que os neutrófilos, entretanto, atuam especialmente em infecções parasitárias. Os parasitas principais são: Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercoralis, Schitosoma sp., Fascíola Hepática, Filarias. Normalmente, os protozoários não causam reação eosinofílica. Os processos alérgicos (rinite, asma) também são combatidos pelos eosinófilos. Podem ser observados aumentados também em síndrome hipereosinofílica, câncer com metástases, doença de Hodgkin, leucemias, eczema, psoríase, dermatite. Hematologia Clínica https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula https://pt.wikipedia.org/wiki/Membrana_plasm%C3%A1tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Fagossoma 26 VOCÊ SABIA? O aumento no número de eosinófilos pode ser um indicativo útil de alergia medicamentosa em pacientes hospitalizados. Os basófilos apresentam a capacidade de adentrarem nos tecidos danificados (característica semelhante aos macrófagos) e assim liberam histamina e outras substâncias químicas promovendo a inflamação. Podem também atuar em processos alérgicos, leucêmicos (leucemia mieloide crônica) e policitemia vera. Normalmente, a presença dos basófilos representa um mal prognóstico em pacientes que estão recebendo tratamento para leucemia. Os monócitos conseguem sair dos vasos sanguíneos para executar uma função fagocitária nos tecidos, onde passam a ser denominados de macrófagos. Além disso, frequentemente, são observados em maior número em casos de infecções virais, infecções crônicas, regeneração medular e leucemia monocítica. Os linfócitos são a principal célula do sistema linfático e aparecem em maior número no sangue periférico quando há infecção viral ou, como você viu anteriormente, no sangue de crianças saudáveis. Em torno de 80% dos linfócitos encontrados no sangue periférico são linfócitos T (aproximadamente 20% são linfócitos B) que tem responsabilidade sobre a imunidade celular. Os linfócitos B (podem ser classificados como plasmócitos ou células B de memória) são responsáveis principalmente pela produção de anticorpos, ou seja, imunidade humoral. EXEMPLO: Como exemplo de infecções em que se observa aumento no número de linfócitos, temos as virais: sarampo, caxumba, rubéola, varicela, mononucleose infecciosa; leucemia linfocítica aguda e crônica; e algumas infecções bacterianas, como coqueluche e tuberculose. Devido ao fato dos leucócitos apresentarem características morfológicas diferentes e, em geral, cada um ter uma função específica, Hematologia Clínica 27 permite aos profissionais da saúde, ao analisar um leucograma, identificar, desconfiar ou confirmar a presença de uma patologia específica, principalmente associadas a quadros infecciosos. ACESSE: Veja uma animação que mostra exatamente o processo de atuação das células de defesa. Veja o vídeo aqui. RESUMINDO: Vimos neste capítulo como funciona a gênese leucocitária e identificar os leucócitos normais e alterados que podem ser observados no sangue periférico. Hematologia Clínica https://www.youtube.com/watch?v=7gGfoDL2fwU 28 Leucograma: Processos Infecciosos e Inflamatórios OBJETIVO: Neste capítulo, veremos sobre o leucograma e o processo de interpretação desta parte do exame de sangue. O hemograma é dividido em três etapas: eritrograma, leucograma e plaquetograma. O leucograma (ou análise da série branca) é a etapa em que é realizada a contagem global (total) e diferencial (específica de cada um dos diferentes tipos de leucócitos) relativa e absoluta dos leucócitos, além da avaliação morfológica dessas células. Os leucócitos encontrados em um leucograma de um paciente em condições normais de saúde são: neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. As alterações do leucograma podem ser quantitativas (referente ao número de leucócitos) ou qualitativas (associada a características morfológicas dos leucócitos). Quando há alterações no número dos leucócitos, presença de células imaturas ou variações na morfologia dessas células, podem caracterizar respostas fisiológicas ou patológicas (tais como: infecções, inflamações, neoplasias) do organismo que podem exigir tratamentos específicos e até mesmo imediatos. A partir de agora você será capaz de entender como o leucograma deve ser interpretado. DEFINIÇÃO: É definida como infecção (ou processo infeccioso) a invasão/penetração e desenvolvimento de patógenos em tecidos do organismo capazes de causar algum tipo de doença. Já a inflamação (ou processo inflamatório) pode ser conceituada como reações do organismo (febre, eritema, edema, queimação, dor) a uma infecção ou lesão. Hematologia Clínica 29 Figura 8 – Infecção da pele Fonte: Freepik EXPLICANDO MELHOR: O sistema de defesa geral do organismo é dividido em: imunidade inata e imunidade adaptativa. A imunidade inata é representada pelas barreiras físicas (principalmente a pele, anexos cutâneos, mucosas), sistema complemento e pelos fagócitos (macrófagos, granulócitos e células dendríticas). A imunidade adaptativa é constituída pelos linfócitos (T e B). Quando um patógeno transpassa as barreiras físicas, supera as células de defesa e as moléculas solúveis da imunidade inata, ele começa a colonizar um tecido ou órgão e, assim, nesse momento, instala-se o processo infeccioso. Na porta de entrada do patógeno ou próximo a ela, os mecanismos locais de defesa podem ser suficientes e não deixarem evidência clínica da infecção. Mas quando não foram suficientes, ocorre o processo inflamatório. A inflamação tem a função de destruir, diluir, causar lesão no patógeno e, além disso, restaurar o tecido lesado. Medicamentoscom propriedades anti-inflamatórias têm como objetivo controlar os efeitos indesejáveis da inflamação. Hematologia Clínica 30 Interpretando o Leucograma com Alterações Quantitativas O resultado da contagem dos leucócitos deve ser avaliado segundo valores de referência previamente estabelecidos em uma população saudável por idade (há grande variação etária referente ao leucograma). Quando o número de leucócitos totais e/ou dos diferentes tipos de leucócitos se alteram, pode ser indicativo de que a saúde do paciente não está bem (pode haver algum processo infeccioso, inflamatório, neoplásico ocorrendo) ou está passando por alguma situação fisiológica devido a um quadro clínico específico, como ocorre na gestação ou atividade física (principalmente de alta intensidade). NOTA: Os leucócitos totais são liberados no laudo na unidade de medida por microlitro (/µL) de sangue. A primeira observação que deve ser feita ao analisar o leucograma é o valor da contagem total dos leucócitos. Quando esse valor estiver abaixo do valor de referência definido para a idade respectiva do paciente, é denominado como leucopenia e quando está acima, como leucocitose. Hematologia Clínica 31 EXPLICANDO MELHOR: Quando, em um adulto, o número de leucócitos totais diminui a um valor inferior a 3.600/µL de sangue periférico, é um caso de leucopenia. Essa situação se deve em muitas situações à diminuição no número dos neutrófilos ou de linfócitos, ou de ambos, mas não pode ser interpretada sem conhecimento da contagem diferencial. Pode ter causas fisiológicas, sendo comum em afrodescendentes, ou induzida por drogas (anti-inflamatórios, antibióticos, anticonvulsivantes e antidepressivos) e poluentes (benzeno, fertilizantes, agrotóxicos), doenças como dengue, febre tifoide e leishmaniose e processos imunológicos (autoimune). Em contrapartida, quando o número de leucócitos totais aumenta em adultos, superior a 11.000/µL, é determinado como leucocitose. Em geral, na maioria dos casos, essa elevação é resultado do aumento de neutrófilos, algumas vezes de linfócitos, menos frequente de eosinófilos, e em algumas ocasiões pela presença de células imaturas da linhagem mieloide ou linfoide. As leucocitoses podem ainda ser classificadas em fisiológicas, reativas e patológicas. As leucocitoses leves são fisiológicas e ocorrem frequentemente em gestantes, recém-nascidos, lactantes, após realização de atividade física (exercícios intensos podem duplicar o número de neutrófilos) ou em casos de febre. As leucocitoses reativas estão associadas normalmente a aumento no número de neutrófilos que ocorrem em quadros de infecção bacteriana, processos inflamatórios, necrose tecidual (infarto agudo do miocárdio, inflamação muscular ou vascular) e doenças metabólicas (gota, pré- eclampsia, diabetes). As leucocitoses patológicas relacionam-se com leucemias, policitemias, mieloesclerose e linfomas. Na contagem diferencial os leucócitos específicos são apresentados em valor relativo (percentual) e absoluto (/µL). Cada grupo celular também receberá nomenclatura semelhante de acordo com seu nome mais o sulfixo “-penia” quando estão diminuídos, e “-filia” ou “-ose” quando estão aumentados no sangue periférico. Hematologia Clínica 32 REFLITA: Chama-se de neutropenia a situação em que há diminuição do número de neutrófilos abaixo dos valores considerados normais; o aumento acima dos valores normais, denomina- se neutrofilia; respectivamente ocorre com os linfócitos: linfopenia e linfocitose; com os monócitos: monocitopenia e monocitose; com os eosinófilos: eosinopenia e eosinofilia; e com os basófilos: basopenia e basofilia. As leucocitopenias e leucocitoses podem estar sendo causadas por alterações em mais de uma célula. Por exemplo, o paciente pode estar com leucocitose e com neutrofilia e eosinofilia, ou seja, os neutrófilos e eosinófilos que estão levando a um aumento na contagem total dos leucócitos. IMPORTANTE: É fundamental que, ao serem analisados os resultados do leucograma, sejam sempre observados os valores relativos quanto absolutos dos leucócitos para a definição do quadro como leucopenia ou leucocitose, ou ainda como neutropenia ou neutrofilia quando provocada por alteração nos neutrófilos, e assim segue com os demais leucócitos. Em alguns casos os valores relativos estão dentro da normalidade e os absolutos alterados, ou vice-versa. Deve- se sempre levar em consideração os valores absolutos. Interpretando o Leucograma Quanto a Alterações Morfológicas Os leucócitos podem sofrer alterações quanto a sua morfologia de acordo com o tipo de reação que está ocorrendo no organismo. Normalmente essas alterações são associadas a processos infecciosos ou inflamatórios e, consequentemente, acompanhadas de contagens de leucócitos totais e diferencias fora da normalidade. Nos subtítulos a seguir, você irá conhecer as principais alterações morfológicas que podem Hematologia Clínica 33 ser observadas no leucograma e as situações fisiológicas e patológicas associadas a elas. IMPORTANTE: Atenção, todos os achados em análise de esfregaço sanguíneo referente a alterações morfológicas dos leucócitos devem ser descritos no laudo. Desvio à Esquerda DEFINIÇÃO: O desvio à esquerda representa a presença de células imaturas no sangue periférico. O desvio à esquerda é uma das alterações mais frequentes do leucograma e é provocada pelos seguintes quadros clínicos: infecções bacterianas, principalmente causadas por bactérias piogênicas; inflamação e necrose tecidual, doenças metabólicas, período gestacional, exercícios intensos e prolongados, doenças neoplásicas etc. Ele ocorre quando há aumento do número de neutrófilos circulantes acima de 7.500/µL (em adultos), caracterizando neutrofilia. Além disso, há um aumento no número de neutrófilos bastonados e presença ocasional de células ainda mais imaturas, como os metamielócitos e os mielócitos. O desvio à esquerda pode ainda ser classificado em reacional ou não reacional. O desvio reacional é descrito quando o processo infeccioso é escalonado (resposta escalonada), ou seja, a quantidade de leucócitos maduros é maior do que a de leucócitos imaturos no sangue periférico. O desvio à esquerda não escalonado relaciona-se a liberação de granulócitos imaturos em processo de produção não hierarquizado, associado à disfunção da medula óssea. Hematologia Clínica 34 REFLITA: O aumento do número de neutrófilos bastonados é valorizado como um indicador sensível e específico de infecção, entretanto, essa avaliação pode não ser totalmente correta. Isso se deve ao fato de que não há uma definição universal do que é um neutrófilo com núcleo em bastão comparado a um neutrófilo de núcleo segmentado. Os segmentados são considerados por alguns analistas como tendo apenas os núcleos com lóbulos distintos, ligados por filamentos de cromatina, já outros, quando o núcleo se estreita em um ponto a um terço do diâmetro dominante. Fatores que também devem ser considerados em relação a isso são: a dificuldade de distinção do núcleo da célula na microscopia por diferentes profissionais, a pressa na realização da análise devido à alta demanda de amostras na rotina laboratorial e nem sempre são obtidos esfregaços sanguíneos de boa qualidade. EXEMPLO: Recém-nascidos saudáveis apresentam o número de neutrófilos aumentado se comparado a outros estágios da vida de um indivíduo, além de desvio à esquerda. Nesse caso, é uma situação fisiológica. Reações Leucemoides Reações leucemoides são caracterizadas por leucocitose reacional excessiva, geralmente marcada pela presença de células imaturas no sangue periférico, como: mieloblastos, pró-mielócitos e mielócitos. Condições associadas incluem infecções graves ou crônicas, hemólise intensa e câncer metastático. Costumam ser muito intensas em crianças. EXEMPLO: Como exemplos de reações leucemoides podemser citadas as seguintes infecções: sarampo, caxumba, varicela, mononucleose, coqueluche, catapora etc. que geralmente ocorrem na infância ou adolescência (como no caso da mononucleose). O aumento no número Hematologia Clínica 35 de leucócitos é comumente no máximo até 60.000/µL, com 30-90% de linfócitos no leucograma (semelhantes às leucemias linfocíticas). Há casos de anemia hemolítica, tuberculose, hemorragia grave, malária, pneumonia e sífilis que também podem levar ao aumento significativo dos leucócitos, com desvio à esquerda, sendo muito semelhantes às leucemias mieloides. VOCÊ SABIA? O que diferencia a reação leucemoide da leucemia é que a primeira ocorre em resposta a um processo infeccioso, pode ter granulação tóxica presente nas células, a contagem de eosinófilos e basófilos geralmente se encontra diminuída, há resposta escalonada, o eritrograma e plaquetograma encontram-se dentro da normalidade (a não ser que o paciente tenha alguma doença base que cause alteração em parâmetros dessa série). Em contrapartida, a segunda é uma doença hematopoética, não apresenta granulação tóxica nos leucócitos, o número de eosinófilos e basófilos normalmente encontra-se aumentado e há hiato leucêmico (resposta não escalonada). Anormalidades das Células Linfoides Alterações na morfologia dos linfócitos podem ser causadas por vários estímulos imunológicos de doenças inflamatórias e/ou infecciosas, principalmente as de origem viral, assim como, nas neoplasias (leucemias e linfomas). A terminologia para esse tipo de variação é muito variável e confusa, tais como: atipias linfocíticas, linfócitos ativados, variantes, anormais ou atípicos ou, ainda, virócitos. A recomendação da ICSH (Conselho Internacional para Padronização em Hematologia) é que seja utilizado o termo “linfócito reativo” para descrever linfócitos de etiologia benigna e “linfócito anormal” quando houver suspeita de malignidade ou etiologia clonal. Hematologia Clínica 36 IMPORTANTE: Os linfócitos reativos apresentam o núcleo jovem com nucléolo perceptível, cromatina sem condensação, contorno nuclear irregular ou lobulação. O citoplasma apresenta-se amplo, irregular, basófilico (de azul pálido a intenso), vacuolizado e que pode se indentar em torno dos eritrócitos adjecentes. Linfócitos reativos são mais facilmente visualizados quando há linfocitose, embora possam ser encontrados no leucograma de um paciente sem lifocitose e em boas condições de saúde. Entretanto, quando em baixo número, não devem ser destacados (inferior a 5%). Normalmente os linfócitos reativos são incluídos no número total de linfócitos no leucograma e a referência a eles é feito como uma observação, que pode ser seguida de semiquantificação em cruzes, ou adjetivação de raros a numerosos. A expressão do percentual dessas células não tem sido utilizada, pois entre o linfócito reativo e o normal há toda uma gama de formas intermediárias. Linfócitos reativos maiores e muito basófilos são classificados como imunócitos e quando têm nucléolos chamativos, como imunoblastos. Os plasmócitos (núcleo denso e excêntrico e citoplasma muito basófilo, com um halo claro justanuclear correspondente ao centríolo) são originados da proliferação terminal de linfócitos B. EXEMPLO: Uma das principais viroses em que são visualizados leucócitos reativos com linfocitose é a mononucleose infecciosa (popularmente conhecida como “doença do beijo”, geralmente ocasionada pelo vírus Epstein Barr transmitido pela saliva), bem comum em adolescentes. Outras situações em que eles aparecem com linfocitose é citomegalovirose (lifocitose significativa) e a toxoplasmose aguda (linfocitose leve). Sem linfocitose, podem ser vistos em: hepatite A, rubéola, viroses eruptivas, infecções pelo HIV (contágio) e dengue hemorrágica. Hematologia Clínica 37 Hipersegmentação nos Neutrófilos A hipersegmentação nos neutrófilos (também chamados de neutrófilos hipersegmentados ou polilobócitos) é descrita no leucograma quando os neutrófilos apresentam núcleos com cinco ou mais lóbulos. IMPORTANTE: A hipersegmentação é um processo normal de maturação do núcleo dos neutrófilos. A progressão do neutrófilo bastonete para o segmentado e após para o hipersegmentado ocorre de modo contínuo. Entretanto, os neutrófilos segmentados normalmente deixam o sangue periférico (permanecem somente por 3 a 12h) antes de hipersegmentarem e seguem para os tecidos. Sua presença em análise do esfregaço sanguíneo indica que há permanência do neutrófilo na circulação por um período superior ao normal. EXEMPLO: Os neutrófilos hipersegmentados são comumente observados em casos de anemia megaloblástica (deficiência da vitamina B12 e folatos). Nessas situações podem ser observados concomitantemente neutropenia e eritrócitos macrocíticos. Outras situações em que podem ser observados é o efeito de corticoides (endógenos como nos casos de hiperadrenocorticismo ou exógenos como em tratamentos de doenças inflamatórias crônicas), defeito genético raro sem significado clínico, insuficiência renal crônica, tratamento quimioterápico, síndromes mielodisplásicas ou mieloproliferativas. Granulações Tóxicas dos Neutrófilos As granulações tóxicas são pequenas formações em grânulos azurófilos que aparecem no citoplasma dos neutrófilos maduros do sangue periférico. As granulações neutrofílicas são primárias e ricas em enzimas, refletindo perturbação na maturação dos neutrófilos ou, ainda, podem ser Hematologia Clínica 38 resultado da endocitose de agentes tóxicos (bactérias, proteínas séricas desnaturadas) com formação de novos grânulos anormais. EXEMPLO: As granulações tóxicas podem ocorrer em várias situações clínicas, tais como: infecções bacterianas graves, infecções sistêmicas (septicemia), processos inflamatórios, câncer, pneumonia, coma diabético ou hepático, pré-eclampsia, envenenamento químico e outros. Vacuolização Citoplasmática dos Neutrófilos A vacuolização citoplasmática ocorre nos neutrófilos e consiste na presença de vacúolos claros (estrutura celular arredondada ou ovalada). São causados provavelmente por autodigestão, pois as toxinas bacterianas podem induzir ruptura dos lisossomos, liberando seu conteúdo enzimático (enzimas líticas: elastase, colagenase, glicosidade, mieloperoxidase) necessário para eliminação de microrganismos. Os tamanhos desses vacúolos podem variar de muito pequenos e discretos, como buracos de agulha ou maiores e de fácil observação. Devem sempre ser relatados no laudo quando presentes. EXEMPLO: Causas de vacuolização podem ser a toxicidade alcoólica ou a exposição prolongada ao anticoagulante EDTA (utilizado no tubo de coleta para a realização do hemograma), nesse caso normalmente a amostra é velha. Corpúsculos de Döhle Os corpúsculos de Döhle são corpos basofílicos redondos ou ovais de retículo endoplasmático rugoso (em que houve liquefação dos ribossomos) na periferia dos neutrófilos. São vistos como “mancha lilás ou azul claro” e representam imaturidade celular. Muitas vezes, as células que possuem esses corpúsculos apresentam também granulação tóxica. Quando presentes, afetam todos os leucócitos, exceto os linfócitos, e indicam processos infecciosos ou inflamatórios graves. Também foram Hematologia Clínica 39 observados em pacientes com queimaduras, mielodisplasia e em gestantes. Granulócitos Hipogranulares ou Agranulares DEFINIÇÃO: Os granulócitos hipogranulares ou agranulares são, normalmente, granulócitos displásicos que perderam os grânulos citoplasmáticos. Essa alteração ocorre com mais frequência em neutrófilos segmentados e bastonados, mas pode ocorrer em metamielócitos, mielócitos e promielócitos. Essa situação pode ser observada nas síndromes mielodisplásicas. Doenças Hereditárias Autossômicas da Série Branca Há algumas doenças hereditárias autossômicas que são caracterizadas poralterações nos leucócitos. As principais são: • Anomalia de Pelger-Hüet – foi descrita por Pelger em 1982. Essa anomalia é uma doença hereditária autossômica dominante e benigna que envolve a diferenciação terminal de leucócitos, apresentando segmentação incompleta do núcleo de granulócitos e cromatina grosseira, sendo predominantes os neutrófilos bastonados e bilobulados. As células Pelger-Hüet são funcionalmente normais (fagocíticas) e possuem a mesma sobrevida dos demais granulócitos. Há também a pseudoanomalia de Pelger-Huët, uma forma adquirida da anomalia, que pode ser observada em casos de leucemia granulocítica, doenças mieloproliferativas e alguns casos de infecções (as células apresentam núcleos ovais). Hematologia Clínica 40 SAIBA MAIS: Sobre a anomalia de Pelger-Huët, com presença de desvio à esquerda, entre outras alterações morfológicas, lendo o artigo de revisão intitulado: “Anomalia de Pelger-Huët: Revisão da Literatura”. Acesse aqui. • Alder-Reilly (recessiva) – anomalia caracterizada por grânulos grosseiros de cor púrpura, os quais podem ser encontrados em granulócitos, monócitos e linfócitos. Deve-se liberar no laudo num campo de observação: presença de granulação azurófila grosseira nos neutrófilos, sugestiva de anomalia de Alder-Reilly. • May-Hegglin (dominante) – marcada por presença de inclusões citoplasmáticas azulada de RNA nos neutrófilos, semelhante aos corpos de Döhle. Doença associada também à diminuição no número de plaquetas e presença de plaquetas gigantes. Na observação do laudo pode ser escrito: presença de neutrófilos com inclusões citoplasmáticas sugestivas de anomalia de May- Hegglin. • Chediak-Higashi (dominante) – os granulócitos, monócitos e linfócitos se apresentam com grânulos gigantes nessa doença, associada a infecções piogênicas frequentes e anormalidade funcional dos leucócitos, geralmente com sobrevida curta. No laudo pode ser liberada a observação: presença de granulócitos, monócitos, linfócitos e eosinófilos com grânulos grosseiros, sugestivos de anomalia de Chédiak-Higashi. IMPORTANTE: Ao serem observadas essas e outras alterações no leucograma associadas a doenças autossômicas dominantes ou recessivas, é importante que sejam investigados também os demais membros da família. Hematologia Clínica https://revistas.ufpr.br/academica/article/view/44140/27879 41 IMPORTANTE: Neste capítulo, você deve ter aprendido que diversas situações fisiológicas e patológicas e especialmente processos infecciosos e inflamatórios, podem causar algum tipo de alteração nos leucócitos, sejam elas quantitativas e/ou qualitativas. As quantitativas se referem ao número de leucócitos, a qual sempre deve ser considerada a contagem absoluta, e não, a relativa. Em relação as qualitativas, as principais que podem ser observados são: desvio a esquerda, reação leucemoide, linfócitos reativos, hipersegmentação dos neutrófilos, granulação tóxica, vacuolização citoplasmática, presença de corpúsculos, hipogranulação ou agranulação e anomalias hereditárias. Então é isso, pronto para o próximo capítulo? Hematologia Clínica 42 Gênese da Leucemia e as Classificações das Leucemias OBJETIVO: A partir de agora você vai compreender como a leucemia surge por meio do estudo da sua gênese e como ela é classificada. Desse modo, quando você se deparar com um esfregaço sanguíneo de paciente leucêmico, terá conhecimento para avaliar as células características desses casos. As leucemias são doenças que se caracterizam pela infiltração no sangue, na medula óssea e em outros tecidos por células neoplásicas do sistema hematopoiético. Em outras palavras, essa patologia é conhecida como câncer do sangue e envolve a série leucocitária (leucócitos). No século XIX a palavra referia-se à cor pálida ou branca do sangue, devido ao número elevado de leucócitos no paciente doente. Existem vários tipos diferentes de leucemia, mais de doze já foram classificados. Os tipos variam entre as leucemias que apresentam um desenvolvimento rápido e fatal e as que apresentam evolução bem lenta, podendo ser denominadas agudas (mais alarmantes) ou crônicas (mais leves) de acordo com as características diagnósticas apresentadas. Figura 9 – Leucemia de células pilosas Fonte: Wikimedia Commons Hematologia Clínica 43 Gênese da Leucemia DEFINIÇÃO: Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a leucemia é definida como uma doença maligna dos glóbulos brancos, geralmente de origem desconhecida. Essa doença tem como principal característica o acúmulo de células sanguíneas doentes na medula óssea, que substituem as células normais. Como você viu na leucogênese, a medula óssea é o local de fabricação dos elementos figurados do sangue. Nela são encontrados os precursores (células imaturas) que dão origem aos leucócitos, eritrócitos e as plaquetas. Basicamente, os casos de neoplasia hematológica ocorrem, pois uma célula sanguínea que ainda não atingiu a maturidade sofre uma mutação genética que a transforma em uma célula neoplásica (cancerosa). As células neoplásicas amadurecem de forma lenta e incompleta, mostrando-se inapropriadas às funções normais dos leucócitos, afetam o sistema imunológico como um todo (as defesas contra os microrganismos ficam comprometidas) e desenvolvem desvios funcionais deletérios ao microambiente celular, comprometendo a proliferação das células normais. Muitas células neoplásicas têm sobrevida superior a uma célula normal, outras têm vantagens proliferativas e há as que mostram um exagero apoptótico (apoptose é a morte celular programada). Essas proliferações promovem acúmulo de células neoplásicas que, quando são próprias da medula, ou a invadem, substituem parcial ou totalmente a mielopoese normal. IMPORTANTE: Quando as células neoplásicas se originam ou se disseminam na medula óssea e invadem o sangue periférico, são chamadas de leucemias. Hematologia Clínica 44 O que provoca esses eventos de alteração nos genes das células ainda é desconhecido, podendo ser apenas um acidente randômico, resultado de uma aquisição aleatória de uma alteração citogenética. Entretanto, há um crescente número de casos, que indicam que esses eventos podem estar associados à predisposição genética e/ou o estilo de vida ambiental. Em relação à herança genética, famílias que apresentam casos de leucemia ou câncer apresentam uma predisposição maior de ter casos em seus descendentes do que as famílias que não apresentam nenhum caso. EXEMPLO: A leucemia está sendo bastante diagnosticada em algumas doenças genéticas, como: na síndrome de Down, síndrome de Bloom, anemia de Fanconi, na ataxia-telangiectasia, na neurofibromatose, na síndrome de Klinefelter e na síndrome de Wiskott-Aldrich. Já em relação aos fatores ambientais, os que predispõem a ocorrência de leucemia são: • Exposição prolongada ao benzeno. • Uso de fármacos como: agentes alquilantes, como clorambucil ou melfalan. • Exposição à radiação ionizante. EXEMPLO: Houve um aumento significativo nos casos de leucemia nos sobreviventes das explosões de bombas atômicas da Segunda Guerra Mundial no Japão, devido à radiação em que eles foram expostos. • Infecção – infecções virais são associadas a vários tipos de neoplasias da hematopoese, principalmente alguns subtipos de linfoma. EXEMPLO: O vírus Epstein-Barr está associado a quase todos os casos de linfoma de Burkitt endêmico (africano), à doença linfoproliferativa pós- transplante e alguns casos de linfoma de Hodgkin. O herpes-vírus Hematologia Clínica 45 humano 8 pode causar o sarcoma de Kaposi e o linfoma primário de efusões. A infecção por HIV é associada a um aumento de incidência de linfomas. A infecção pela bactéria Helicobacter pylori tem sido implicada na patogênese do linfoma de células B associado a mucosa gástrica. A malária também é associada ao linfoma de Burkitt.Em geral, o câncer resulta do acúmulo de mutações genéticas dentro de uma célula e o número presente pode variar de mais de 100, em alguns casos, para cerca de 10 na maioria das hemopatias malignas. Os genes afetados pela mutação podem ser classificados em oncogêneses ou genes supressores de tumor. Os oncogenes surgem como resultado de mutações de ganho de função ou de padrões de expressão inapropriada em genes normais, denominados de proto-oncogenes. Esses genes alterados são gerados quando a atividade dos proto-oncogenes está aumentada ou quando estes adquirem uma nova função. Esse fenômeno pode ocorrer devido a processos celulares de translocação cromossômica (alta frequência em casos de malignidade), mutação ou duplicação. São afetados os processos de sinalização, diferenciação e sobrevida celulares. EXEMPLO: As tiroquinases são enzimas que fosforilam proteínas em resíduos de tirosina. Elas são importantes na sinalização intracelular. Mutações nessas enzimas resultam em um número significativo de hemopatias malignas e são alvo de inúmeros fármacos eficazes utilizados no tratamento da doença. Os genes supressores de tumor podem adquirir mutações de perda de função, comumente por mutação pontual ou deleção, que levam ao desenvolvimento maligno. Esses genes atuam como componentes dos mecanismos de controle preparatórios para a divisão celular, regulando a passagem da célula da fase G1 para a fase S, ou da fase S para a fase G2 e a própria mitose. O gene supressor de tumor mais significativo em câncer humano é o p53. Hematologia Clínica 46 REFLITA: A proliferação das células normais depende do equilíbrio entre a ação de proto-oncogenes e de genes supressores de tumor. Na leucemia esse equilíbrio é perturbado, resultando em divisão celular descontrolada da célula maligna. As células malignas surgem, provavelmente, em um processo de múltiplos passos com aquisição de mutações nas mais variadas vias intracelulares. Essa progressão clonal pode ocorrer por uma evolução linear, na qual o clone final envolve todas as mutações que surgiram durante a evolução da neoplasia, ou por uma evolução ramificada, na qual há mais de um clone de células caracterizadas por diferentes mutações somáticas. Mas, mesmo assim, apresentam ao menos uma mutação que pode ser esboçada retroativamente até uma única célula ancestral. Um subclone pode gradualmente adquirir uma vantagem de crescimento durante a progressão da neoplasia ou durante um tratamento que agrida seletivamente alguns subclones, outros podem se sobressair ou ocorrer o surgimento de novos. NOTA: Todas as hemopatias malignas são responsáveis por mais de 5% das mortes por câncer em geral e aproximadamente em torno de 50% dos casos de oncologia pediátrica. A incidência mundial é da ordem de 10 casos por 100 mil por ano. Muitas permitirem longa sobrevida, mas também é crescente o número de casos em remissão ou de cura. Classificações dos Tipos de Leucemias As neoplasias hematológicas (leucemias, linfomas, doenças mieloproliferativas) devem ser diagnosticadas de acordo com a classificação de tumores da hematopoese e do tecido linfoide estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2008. Antes das definições descritas pela OMS, era utilizada a classificação Franco-Americano- Hematologia Clínica 47 Britânica (FAB) (baseada em aspectos morfológicos e citoquímicos). Agora a FAB é utilizada somente para a descrição dos blastos vistos no hemograma e no mielograma, e para orientar a escolha dos marcadores imunológicos da imunofenotipagem por citometria em fluxo, exames citogenéticos e de biologia molecular para confirmação diagnóstica. Em locais em que não é possível realizar testes mais complexos, e até mesmo para iniciar o tratamento o mais cedo possível, essa classificação ainda é utilizada. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a classificação minuciosa das neoplasias leia o artigo intitulado: “Classificação da Organização Mundial da Saúde para os tumores dos tecidos hematopoético e linfoide, 4ª edição, 2008 - principais modificações introduzidas em relação à 3a edição, 2001”. Disponível aqui. Leia também a Portaria número 705, de 12/08/2014 sobre as diretrizes diagnósticas e terapêuticas da leucemia. Disponível aqui. De modo geral, as leucemias são proliferações clonais, originadas de células que sofreram mutações na sequência de bases do DNA, rearranjos cromossômicos com expressão inadequada de oncogenes e/ ou inibição de mecanismos de controle proliferativo. Elas podem ser tanto de origem mieloide como linfoide, de acordo com o percursor afetado. Além da origem celular (mieloide ou linfoide), como ocorre à evolução espontânea da doença, também é frequentemente utilizada para a sua classificação. Nas leucemias agudas, independente da linhagem, são associadas a células que perdem a capacidade de se maturarem, desse modo, a expansão dos clones é rápida e causa insuficiência hematopoética fatal se não for contida pelo tratamento. Na maioria dos casos, o leucograma apresenta leucopenia. As leucemias agudas podem ser classificadas em: leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia linfoide aguda (LLA) ou leucemia de fenótipo misto (casos raros que expressam marcadores tanto de diferenciação mieloide como linfoide, e em geral, não apresentam bom prognóstico). Hematologia Clínica https://www.scielo.br/j/ramb/a/6ZD9w5tK57NLGVyX85HtKQw/?format=pdf&lang=pt https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2014/prt0705_12_08_2014.html 48 No adulto, predomina a LMA (80% dos casos), já na infância a maior prevalência é de LLA (85% dos casos). Os casos agudos não tratados causam insuficiência hematopoética progressiva, rapidamente fatal, se não for contida pelo tratamento intensivo com quimioterapia. O transplante alogênico de medula óssea é o mais indicado e pode ser curativo. Nas leucemias crônicas, mesmo que a célula se origine de eventos oncogênicos de precursores primitivos, a capacidade de maturação celular é mantida. Nesse caso, a insuficiência hematopoética é tardia e a sobrevida do paciente pode ser medida em meses ou anos. Chamam- se nesses casos de leucemia mieloide crônica (LMC) e leucemia linfoide crônica (LLC). Leucemia Mieloide Aguda DEFINIÇÃO: A leucemia mieloide aguda é uma patologia leucocitária de progressão rápida, decorrente da proliferação de algum clone de células mieloides (mieloblasto) que não se diferenciaram e apresentam maturação defeituosa ou ausente. A leucemia mieloide aguda (LMA) é um tipo de câncer que pode acontecer em qualquer idade, mas é mais prevalente em indivíduos com mais de 65 anos e do gênero masculino. Não é uma patologia hereditária, entretanto, pouco se sabe sobre os mecanismos que desencadeiam o seu surgimento. O paciente com LMA apresenta as seguintes manifestações clínicas: hepatomegalia (aumento do tamanho do fígado) e esplenomegalia (aumento do tamanho do baço) devido à proliferação celular descontrolada e de células imaturas dos leucócitos (principalmente os blastos); e também anemia (diminuição nos parâmetros do eritrograma) e sangramento (devido à diminuição no número de plaquetas), decorrentes da substituição da medula óssea normal pela doente. Como você viu anteriormente, por a LMA ser uma leucemia aguda, ela apresenta rápido desenvolvimento, sendo necessário que o tratamento seja iniciado o quanto antes. Hematologia Clínica 49 IMPORTANTE: O clone neoplásico na maioria das vezes resulta de uma célula mieloide indiferenciada multipotente, mas pode também derivar de uma célula já com comprometimento de linhagem ou, ainda, de uma célula linfoide-mieloide indiferenciada multipotente. DEFINIÇÃO: A lista de subclassificações da LMA da OMS é muito longa, para conhecer mais sobre elas, não deixe de ler os materiais citados no “Saiba mais” anteriormente. A LMA é subclassificada com base em aspectos do sangue periféricoe da medula óssea segundo os critérios estabelecidos pela OMS. Aqui serão destacados os seis grupos principais: 1. LMA com anormalidades genéticas recorrentes – subtipos com translocações cromossômicas ou mutações genéticas específicas. A detecção dessas anormalidades define o tumor como LMA, sendo dispensada a necessidade de haver mais de 20% de blastos na medula. Em geral, têm um bom prognóstico. 2. LMA com alterações relacionadas a mielodisplasias – apresenta sinais de mielodisplasia microscópica em mais de 50% das células (em pelo menos duas linhagens). O prognóstico desses pacientes é pior do que os do primeiro subgrupo. 3. Neoplasias mieloides relacionadas a tratamento prévio (antiblásticos) – surgem em pacientes que foram tratados com fármacos, como etoposido ou agentes alquilantes. A maioria dos casos apresenta mutações no gene MLL e a resposta ao tratamento normalmente é pobre. 4. LMA não especificada separadamente – é definida pela ausência de anormalidades citogenéticas e constitui em torno de 30% dos Hematologia Clínica 50 casos. As mutações nos genes NPM1 e FLT3 são mais presentes nos que têm citogenética normal. 5. Sarcoma mieloide – doença rara semelhante a um tumor sólido, mas composta por blastos mieloides. 6. Proliferações mieloides relacionadas à síndrome de Down – Crianças com essa síndrome têm risco considerável de desenvolver leucemia. IMPORTANTE: Uma a cada 150 crianças com síndrome de Down desenvolvem leucemia. Nos três primeiros anos de vida a LMA é a forma mais comum, a partir daí em torno de 80% dos casos são de leucemia linfocítica. NOTA: A FAB classifica as LMA em oito tipos, principalmente de acordo com o número de blastos e características morfológicas apresentadas: M0 (evidências mínimas de diferenciação mieloide, menos de 3% de blastos), M1 (mais de 90% de blastos), M2 (com maturação granulocítica, presença de 30 a 89% de blastos), M3 (predomínio de promielócitos), M4 (similar a M2, em torno de 30% de blastos, e presença de mieloblastos), M5 (leucemia monoblástica -indiferenciada-, ou monocítica – diferenciada -; componente monocítico superior a 80%), M6 (presença de mais de 50% de eritroblastos - eritrócitos nucleados -, mais de 30% de blastos) e M7 (mais de 30% de megacarioblastos). Leucemia Linfoide Aguda DEFINIÇÃO: A OMS define as leucemias linfoides (ou lifoblásticas) agudas (LLA) como expansões clonais de precursores de linfócitos B e T, que são os linfoblastos.. Hematologia Clínica 51 A frequência de LLA é maior em crianças com idade inferior a 10 anos, mas pode persistir durante toda a infância, a adolescência e a vida adulta, com um segundo aumento no número de casos nos idosos. As manifestações clínicas mais comuns decorrentes da proliferação das células leucêmicas são: dor óssea, hepatosplenomegalia (aumento do fígado e do baço) e linfonodomegalias (aumento dos linfonodos), associados à infiltração de órgãos; devido à anemia: palidez, letargia, dispneia; manifestações hemorrágicas (equimoses espontâneas, púrpura, sangramento gengival e menorragia) decorrentes da trombocitopenia; síndrome meníngea (cefaleia, náuseas e vômitos, visão turva, diplopia). Vários pacientes têm febre, que cessa com o começo da quimioterapia. NOTA: Se houver predomínio de massas sólidas linfonodais ou extranodais com valor inferior a 20% de blastos na medula óssea, a doença é denominada linfoma linfoblástico, mas tratada como LLA. A LLA pode ser de linhagem B (LLA-B) ou T (LLA-T), podendo ter uma designação mais ampla como leucemia/linfoma linfoblástico B ou T. Ela é subclassificada pela OMS de acordo com os defeitos genéticos subjacentes. Na LLA-B existem vários subtipos, tais como: translocações t(9;22) ou t(11;21), rearranjos no gene MLL ou aneuploidia (alterações no número de cromossomos). Na LLA-T, em 50 a 70% dos casos se observa um cariótipo anormal e a via sinalizadora está ativada. Hematologia Clínica 52 NOTA: Translocação é uma anomalia cromossômica causada pelo rearranjo de partes entre cromossomos não homólogos. Um gene de fusão pode ser criado quando a translocação se une a outros dois genes separados. Os números indicam o cromossomo envolvido no processo – t(9;22) e t(11;21). Rearranjo é uma mutação, um tipo de anomalia cromossômica envolvendo uma mudança na estrutura do cromossomo nativo. Tais mudanças podem envolver várias classes diferentes de eventos, como deleções, duplicações, inversões e translocações cromossômicas. ACESSE: Para você relembrar o que são cromossomos, assista o vídeo aqui. A classificação FAB se baseia na citologia, desse modo, são classificadas morfologicamente de acordo com a coloração basofílica, conteúdo citoplasmático, presença de vacúolos, entre outros, em L1, L2 e L3. Figura 11 – DNA Microscópica Fonte: ©Pixabay Hematologia Clínica https://www.youtube.com/watch?v=UBfInkTvqt8 53 Leucemia Mieloide Crônica DEFINIÇÃO: A leucemia mieloide crônica é uma patologia leucocitária de progressão lenta decorrente da proliferação de algum clone de células mieloides (mieloblasto – granulócitos e mais raramente monócitos) que não se diferenciaram e apresentam maturação defeituosa ou ausente. A leucemia mieloide crônica (LMC), também chamada de granulocítica crônica ou leucemia mielógena crônica, é responsável por aproximadamente 15% das leucemias. Ela pode ocorrer em qualquer idade e gênero (1,4:1 masculino:feminino), com mais frequência entre os 40 e 60 anos de idade. Em torno de 50% dos casos, o diagnóstico é notado incidentalmente, ao se fazer um hemograma de rotina. Nos casos sintomáticos, os aspectos gerais são: associados ao hipermetabolismo (perda de peso, anorexia ou suores noturnos); esplenomegalia (pode ser associado a desconforto abdominal, dor ou indigestão); sintomas de anemia (palidez, dispneia e taquicardia); equimoses, epistaxe, menorragia e hemorragia (trombocitopenia); gota ou insuficiência renal causadas pela hiperuricemia do catabolismo excessivo de purina; e embora sejam raros, podem ocorrer distúrbios visuais e priapismo. Essa doença é associada com uma translocação específica t(9;22) (q34;q11), ou seja, entre os cromossomos 9 e 22, em que parte do oncogene ABL1 é transferida para o gene BCR no cromossomo 22, e parte do cromossomo 22 é transferida para o cromossomo 9. Este cromossomo 22 anormal é chamado de cromossomo Filadélfia (Ph). Algumas pessoas podem albergar esse cromossomo sem desenvolver a doença. Essa translocação também é observada em uma minoria de casos de LLA e, em alguns deles, o ponto de ruptura do BCR ocorre na mesma região que na LMC. Morfologicamente pode ser detectada devido à presença de mieloblastos no sangue periférico e desvio a esquerda bastante significativo. Hematologia Clínica 54 Leucemia Linfoide Crônica DEFINIÇÃO: As leucemias linfoides ou lifoblásticas crônicas são caracterizadas por acúmulo de linfócitos maduros no sangue, de tipo celular B ou T. A leucemia linfocítica crônica (LLC) é a mais comum das leucemias linfoides crônicas. A maior incidência é entre os 60 e 80 anos (média 72 anos) de idade, com apenas 15% dos casos antes dos 50 anos. O gênero masculino é o mais afetado (relação 2:1). A etiologia é desconhecida, mas há variações geográficas na incidência, sendo mais comum na Europa e nos Estados Unidos da América. Mais de 80% dos casos são diagnosticados em hemograma de rotina, realizado por alguma outra razão. NOTA: O risco de desenvolvimento dessa leucemia é sete vezes maior em familiares próximos de pacientes com a doença (indicando uma predisposição genética), embora os genes de risco sejam desconhecidos. Em relação à sintomatologia e sinais clínicos, os mais observados são principalmente o aumento simétrico de linfonodos cervicais, axilares ou inguinais. Além disso, os pacientes podem apresentar sintomas relacionados à anemia e trombocitopenia (manifestaçõespurpúricas). Pode ocorrer esplenomegalia e, com menos frequência, hepatomegalia nos estágios tardios. Em geral, essa doença é incurável, costuma ter uma evolução crônica e flutuante. O linfócito B maduro com fraca expressão de imunoglobulina (Ig) de superfície (IgM ou IgD) é a célula neoplásica. Elas exibem diminuição da apoptose e sobrevida prolongada, resultando em acúmulo no sangue periférico, na medula óssea, no fígado, no baço e nos linfonodos. O linfoma linfocítico de células pequenas é o equivalente tecidual da LLC (apresentam o mesmo fenótipo e citogenética). Entretanto, o acúmulo de Hematologia Clínica 55 células do linfoma é quase exclusivamente nos linfonodos, com presença no sangue de células B monoclonais em valor inferior a 5000/µL. SAIBA MAIS: Para entender melhor como ocorre o desenvolvimento das leucemias, acesse pelos links de cada leucemia a seguir: LMA – acesse aqui. LLA – acesse aqui. LMC – acesse aqui. LLC – acesse aqui. RESUMINDO: Compreendemos, neste estudo, a gênese da leucemia e como ela é classificada: Leucemia linfoide crônica, Leucemia mieloide crônica, Leucemia mieloide aguda e Leucemia linfoide aguda. Desse modo, você se torna capaz de avaliar as células características desses casos. Hematologia Clínica https://blausen.com/pages/sitesecurityaccess.aspx https://blausen.com/pages/sitesecurityaccess.aspx https://blausen.com/pages/sitesecurityaccess.aspx https://blausen.com/pages/sitesecurityaccess.aspx 56 Principais Leucemias e Outras Mielodisplasias OBJETIVO: A partir de agora você vai conhecer as características das células imaturas percursoras dos leucócitos e o que pode ser observado em cada hemograma nos diferentes tipos de leucemias e mielodisplasias. Assim, quando na sua rotina laboratorial você se deparar com algum desses casos, pelo menos saberá que não se trata de um hemograma dentro da normalidade.. O diagnóstico laboratorial das leucemias e de outras mielodisplasias é bastante complexo. Muitos profissionais não se sentem seguros ao analisar um esfregaço sanguíneo com a presença de leucócitos anormais ou com alto nível de imaturidade. Isso se deve ao fato de que a liberação no laudo de, principalmente, presença de blastos dará ao médico e ao seu paciente um diagnóstico importante e preocupante. Além disso, diferenciar se a célula é um blasto ou um linfócito reativo gera bastante dúvida. Características Morfológicas dos Leucócitos Imaturos Relembrando o que você viu no capítulo “gênese leucocitária”, o primeiro precursor dos leucócitos reconhecível, é o blasto, que pode ser um mieloblasto ou linfoblasto. Agora você verá quais são as características morfológicas dessa célula e das células subsequentes, para identificá-las quando estiverem presentes no hemograma. O mieloblasto é a primeira célula da linhagem granulocítica. Ela apresenta tamanho variável (12-20 µm de diâmetro), com núcleo grande redondo ou ovalado, relação núcleo-citoplasmática elevada, cromatina fina e presença de 2 a 5 nucléolos (maior frequência de 2 a 3) não muito proeminentes. O citoplasma é basófilo (tom azul pálido) e sem grânulos Hematologia Clínica 57 visíveis na análise microscópica (em análise citoquímica os grânulos são detectados). Essa célula é raríssima em pacientes saudáveis, por isso é muito utilizada como critério diagnóstico para os casos de leucemia. IMPORTANTE: Normalmente não é possível fazer a distinção morfológica entre mieloblasto e linfoblasto. Desse modo, no laudo é liberado apenas como blasto. Sabe-se que é um mieloblasto quando há a presença de bastão de Auer (risquinho rosado presente no citoplasma da célula).. Seguindo a linhagem mieloide, o mieloblasto originará os promielócitos. Essas células se apresentam com tamanho um pouco maior do que o mieloblasto, em torno de 15 a 25 µm de diâmetro, e a relação núcleo-citoplasma é menor e é mais basofílica (azulada). É uma célula redonda ou ovalada com desenvolvimento de grânulos primários no citoplasma. A cromatina nuclear apresenta ligeira condensação e os núcleolos são proeminentes. O núcleo é oval com indentação em um lado. Essa célula (morfologicamente anormal) são vistos no sangue periférico em vários subtipos de LMA. Os mielócitos são as células seguintes, menores que os promielócitos (diâmetro de 10-20 µm) e apresentam como característica marcante grânulos secundários ou específicos. Em algumas análises podem ser diferenciados os mielócitos percursores dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos devido ao tipo de grânulo e coloração apresentada. A cromatina nuclear é mais condensada e os nucléolos não são visíveis. O núcleo é oval, podendo apresentar pequena indentação. O citoplasma é mais acidófilo (tons mais rosados). Mielócitos neutrófilos e eosinófilos podem aparecer no sangue tanto em condições reacionais quanto em leucemias, já o mielócitos basófilos limita-se aos casos de leucemias. Hematologia Clínica 58 NOTA: Em leucemias agudas, os mielócitos circulantes no sangue periférico podem apresentar alterações na morfologia como: hipogranularidade ou grânulos muito grandes. Os mielócitos originam os metamielócitos. Essas células não sofrem mais divisão celular e medem de 10 a 12 µm de diâmetro. A cromatina apresenta-se em grumos, o núcleo indentado ou em forma de ferradura (ou da letra “U”). O citoplasma do metamielócito neutrofílico é acidófilo e o do eosinofílico é levemente basófilo. Apresentam grânulos primários e secundários. Em pequeno número podem ser vistos no sangue periférico de indivíduos saudáveis. São frequentemente observados em condições reacionais e leucemias. A forma que segue o metamielócito até o granulócito maduro é a célula bastonada (neutrófilo bastão, eosinófilo bastão e basófilo bastão), que pode ser vista no sangue periférico de pacientes saudáveis em valores abaixo de 5%. ACESSE: Para que você possa verificar as características morfológicas dos leucócitos imaturos, comparando as linhagens, acesse o site aqui. Comece observando o mieloblasto e no menu do lado direito vá clicando em cima da célula que deseja visualizar. Diagnóstico Laboratorial das Leucemias Agudas As leucemias agudas, independentemente da origem (mieloide ou linfoide), geralmente apresentam no hemograma redução no número das três séries e presença de blastos leucêmicos em número variável (normalmente crescente). A intensidade das citopenias é proporcional ao grau de comprometimento da medula óssea pelas células blásticas e, na maioria dos casos, ao número de blastos circulantes. Já o diagnóstico Hematologia Clínica https://hematologia.farmacia.ufg.br/p/7052-mieloblasto https://hematologia.farmacia.ufg.br/p/7052-mieloblasto 59 e a evolução da doença variam com a progênie de origem, mas as características costumam ser suficientes para caracterizá-las. IMPORTANTE: Em geral, as leucemias agudas apresentam um diagnóstico difícil, de grande responsabilidade e de relativa urgência. Hemograma da Leucemia Mieloide Aguda No hemograma do paciente com LMA observa-se anemia (diminuição na contagem de eritrócitos, concentração de hemoglobina e do valor do hematócrito) normalmente normocítica (VCM normal) e normocrômica (CHCM normal). Raramente pode apresentar macrocitose (VCM aumentado). Podem ser observados eritroblastos (eritrócitos imaturos, nucleados) no sangue periférico. A trombocitopenia também está presente, com contagem abaixo de 50.000 plaquetas/mL, em torno de 50% dos casos. Mas um pequeno número dos pacientes apresenta contagem de plaquetas normal ou trombocitose. O número total de leucócitos geralmente está acima de 25.000 leucócitos/µL, mas abaixo de 100.000 leucócitos/µL. Há alguns casos que se observa leucocitose acima de 100.000 leucócitos/µL, assim como contagens dentro dos valores de referência e leucopenia, embora seja menos comum. O número de blastos é variável, mas normalmente estascélulas estão presentes, e o percentual é maior que 20% na contagem diferencial, podendo chegar a até mais de 90%. A presença de blastos ou de promielócitos com bastão de Auer caracterizam a origem mieloide. Podem ser mieloblastos, monoblastos, megacarioblastos, eritroblastos primitivos ou ainda uma população mista. Podem ser vistas algumas células em maturação. Em alguns casos, a célula predominante é um promielócito anormal. A maioria dos pacientes apresenta neutropenia, exceto os casos em que há maturação do clone leucêmico desse tipo celular, com consequente neutrofilia ou, com menor frequência, eosinofilia e, muito raramente, basofilia. Em um pequeno número de casos, há pancitopenia Hematologia Clínica 60 (diminuição global dos elementos figurados do sangue), sem células imaturas circulantes. NOTA: Equipamentos automatizados podem emitir flag (mensagem, observação de alteração) de “blast cells”, ou seja, presença de blastos, que devem ser confirmados com microscopia. IMPORTANTE: O diagnóstico diferencial da LMA é feito principalmente com a LLA, com a transformação blástica de LMC e de outras neoplasias mieloproliferativas, com as SMDs e com outras causas de insuficiência da medula óssea, como anemia aplástica. Ocasionalmente, é preciso distinguir entre leucemia aguda e reação leucemoide. Medulograma, testes moleculares, citogenéticos, de imunofenotipagem, entre outros, são indicados pela OMS. Hemograma da Leucemia Linfoide Aguda O hemograma geralmente apresenta anemia, neutropenia e trombocitopenia. A contagem global dos leucócitos é variável (podendo se apresentar baixa, normal ou alta), ou seja, desde uma leucopenia de 1.000 leucócitos/µL até uma leucocitose acima de 150.000 leucócitos/ µL. A medula óssea é hipercelular, com contagem de blastos (linfoblastos) superior a 20%, embora alguns casos podem se apresentar sem a presença de células leucêmicas. Eosinofilia reacional é vista em poucos pacientes. Como você viu anteriormente, a classificação FAB, considerando a morfologia das células no esfregaço sanguíneo, determina três grupos para as LLAs: LLA-L1, LLA-L2 e LLA-L3. Na LLA L1, os blastos são pequenos ou de tamanho médio (em média o tamanho é entre 1 a 2 vezes o tamanho de um linfócito pequeno) e têm aparência uniforme. Os blastos menores não têm nucléolo aparente e Hematologia Clínica 61 mostram alguma condensação da cromatina, já os maiores têm cromatina difusa e podem ter pequenos nucléolos. O núcleo é arredondado e pode ser endentado. O citoplasma é escasso (maior relação núcleo do que citoplasma), de leve a moderadamente azulado, podendo apresentar vacúolos. Na LLA L2, os blastos são maiores e mais pleomórficos (variação na forma da célula), com núcleos irregulares, nucléolos mais proeminentes e citoplasma mais abundante com coloração fraca a fortemente basófila, podendo conter vacúolos. A LLA L3 caracteriza-se por basofilia citoplasmática intensa e vacuolização variável (geralmente proeminente). O núcleo ocupa grande parte do citoplasma (elevada relação núcleo/citoplasma) com nucléolo proeminente. IMPORTANTE: O diagnóstico diferencial deve ser feito principalmente com a LMA e com linfocitoses reacionais. Para isso são necessários os exames adicionais (mielograma, imunofenotipagem, testes moleculares etc.) recomendados pela OMS. Diagnóstico Laboratorial das Leucemias Crônicas As leucemias crônicas, diferente das leucemias agudas, se apresentam com maior de maturação celular, principalmente a linhagem mieloide. A evolução da doença é mais lenta. A seguir, você saberá as características dessas doenças observadas no hemograma. NOTA: Normalmente o diagnóstico das leucemias crônicas são mais fáceis do que das leucemias agudas. E da LMC é o menos difícil de todas. Hematologia Clínica 62 Hemograma da Leucemia Mieloide Crônica Na LMC, observa-se inicialmente leucocitose muitas vezes considerável e neutrofilia com desvio à esquerda. A segunda célula com maior prevalência são os mielócitos. Pode-se também observar basofilia. Pacientes com contagem muito elevada, as células blásticas podem chegar a 15%, ma, representam um valor percentual menor do que os promielócitos (menos frequentes que os mielócitos). Em mais de 90% dos casos também pode haver aumento na contagem absoluta de eosinófilos (podem apresentar uma parte dos grânulos com coloração basófila). Monócitos estão aumentados, mas não na proporção dos neutrófilos e podem ser vistos alguns eritroblastos. Normalmente o número de plaquetas é normal ou aumentada, uma minoria dos casos apresenta trombocitopenia. Além disso, podem ser vistas as macroplaquetas (plaquetas com tamanho aumentado). Algumas vezes, observam-se megacariócitos (célula percursora das plaquetas) circulantes. Poucos pacientes apresentam trombocitose isolada. IMPORTANTE: Alguns pacientes apresentam alterações acentuadas cíclicas do número de leucócitos, com a periodicidade de 50-70 dias, variando os níveis de francamente leucêmicos a quase normais (todas as células mieloides participam dos ciclos). NOTA: Geralmente esse tipo de leucemia é detectado em hemograma de rotina, em etapa ainda assintomática. Com a evolução da doença, o hemograma começa a ser mais útil no diagnóstico. Com o advento do tratamento eficaz com inibidores da tirosinaquinase (leva à duradoura remissão na maioria dos pacientes) a evolução da LMC é vista com menor frequência. Algumas vezes após o tratamento, a doença pode se tornar refratária e evoluir como era a regra Hematologia Clínica 63 antes do advento da droga. Há uma mudança no aspecto do hemograma e uma progressiva deterioração clínica. Nesse caso, observa-se no hemograma anemia progressiva, trombocitose e grande basofilia; a seguir, o hemograma converte-se aos poucos em um quadro semelhante ao de leucemia aguda (principalmente pelo número crescente de blastos). A transformação blástica pode ser súbita e avassaladora. Na maioria dos casos, os blastos são mieloides, podendo ter marcadores megacariocíticos ou eritroides. NOTA: Em relação às neoplasias mieloides de lenta evolução oriundas dos tecidos eritroide (série vermelha) e megacariocítico (série plaquetária), para as quais não poderia ser utilizado o termo “leucemia” (apenas para série branca), foi criada uma designação genérica, mais ampla, neoplasias mieloproliferativas. IMPORTANTE: O diagnóstico diferencial deve ser feito com neutrofilias reacionais, com as demais leucemias mieloides e com os estágios iniciais da policitemia vera e da trombocitemia essencial. As leucemias crônicas podem ainda ser classificadas como neutrofílicas, eosinofílicas ou mastocítica. A LMC neutrofílica é rara com hemograma caracterizado por leucocitose progressiva com presença escalonada da série neutrófila, com amplo predomínio de neutrófilos segmentados e bastonados. Os promielócitos e os blastos são poucos ou ausentes. Há presença de anemia e trombocitopenia. A translocação t(9;22) (q34;q11.2) não está presente. Ocorre só em pacientes idosos. A LMC eosinofílica apresenta o valor de eosinófilos acima de 1.500/ µL e persistente (deve-se sempre excluir a hipótese de verminose e alergias). Alguns casos em que há presença de granulócitos imaturos Hematologia Clínica 64 (inclusive blastos) no sangue periférico, e aumento de blastos na medula óssea, é válido considerar como leucemias eosinofílicas. Há casos em que o hemograma apresenta eosinofilia de 20.000 a mais de 100.000/ µL; há eosinófilos parcialmente agranulados, com áreas citoplasmáticas claras e vacuolização, alguns com hipersegmentação nuclear. Há alguns mielócitos e promielócitos com granulações eosinófilas óbvias ou esboçadas. A LMC com mastocitose se refere à proliferação neoplásica caracterizada pela presença multifocal de infiltrados ou conglomerados coesos de mastócitos clonais. A mastocitose cutânea é a mais frequentee indolente. A mastocitose sistêmica é rara, nela há pequenos conglomerados (≥ 15 mastócitos) na medula óssea ou em órgãos extramedulares. A franca invasão sanguínea (leucemia mastocítica) é ainda mais rara e os mastócitos circulantes costumam ser muito atípicos e difíceis de serem identificados morfologicamente. As células apresentam citoplasma hipogranular, núcleo monocitoide ou podem apresentar aspecto de blastos metacromáticos. Para confirmar o diagnóstico da LMC e seus tipos são indicadas análises citogenética e molecular. Na grande maioria dos casos, a LMC está associada a t(9;22) (q34;q11). Hemograma da Leucemia Linfoide Crônica A LLC caracteriza-se por linfocitose crônica relativa (acima de 70% de linfócitos maduros) e absoluta (acima de 5.000 linfócitos/µL, podendo ultrapassar 300.000/µL) persistentes no sangue periférico. A contagem de leucócitos totais varia de pouco acima da normalidade a muito elevadas (25.000 e 100.000 leucócitos/µL, podendo chegar a valores superiores a 300.000 leucócitos/µL). Os linfócitos são muito parecidos com os normais, mas com uma aparência mais uniforme (cromatina aglomerada e nucléolos pequenos), citoplasma escasso e levemente basófilo. No entanto, em muitos casos, pode haver variação de morfologia, sendo, às vezes, pró-linfócitos (células maiores, com citoplasma mais abundante, núcleo com condensação cromatínica visível e com nucléolo bem Hematologia Clínica 65 aparente) ou linfócitos atípicos (citoplasma mais abundante e cromatina mais frouxa ou ainda do tipo plasmócito). IMPORTANTE: Células esmagadas na distensão sanguínea (“bascket cells”, células em cesto, restos nucleares ou celulares) também costumam serem visualizadas. Essas células indicam fragilidade celular, as quais se arrebentam no momento da confecção da distensão sanguínea em lâmina. O paciente costuma apresentar anemia normocítica e normocrômica nas fases tardias da doença como resultado de infiltração medular ou de hiperesplenismo. Trombocitopenia é um achado comum, porém, contagens normais de plaquetas e, mais raramente trombocitose também podem ser encontradas. A contagem de neutrófilos de pacientes não tratados raramente está reduzida. NOTA: Hemólise, policromasia, esferócitos e trombocitopenia ocorrem em alguns pacientes com patogênese autoimune. De acordo com a morfologia observada, a LLC pode ser classificada em: • LLC comum – com predomínio de linfócitos maduros pequenos • LLC mista – proporção variável de linfócitos atípicos inferior a 10% de pró-linfócitos • LLC com transformação pró-linfocítica – pró-linfócitos superiores a 10% e inferiores a 55% • LLC pró-linfocítica – pró-linfócitos > 55% Hematologia Clínica 66 ACESSE: Para ver imagens dos diferentes tipos de leucemias, acesse aqui. E faça um passeio pelo menu do lado direito do site. acesse aqui. É importante que você saiba as diferenças morfológicas que podem ser observadas nos blastos e demais células sanguíneas dos diferentes tipos de leucemias, pois isso ajuda a caracterizá-las e para diferenciar se realmente é blasto ou linfócitos reativos, monócitos etc. Entretanto, o analista de laboratório que realiza a análise do hemograma não classifica o tipo de leucemia pelas células apresentadas (embora possa desconfiar de qual tipo se trata). No laudo é apenas descrito o número e as alterações morfológicas observadas em relação as três séries das células sanguíneas: leucócitos, eritrócitos e plaquetas. Sugere-se ainda que na presença de células blásticas ou jovens se deva fazer um contato com o médico do paciente antes da liberação do laudo. O médico avaliará se o quadro condiz com o resultado do hemograma e depois terá que solicitar medulograma e demais testes de biologia molecular, citogenética e imunofenotipagem para realizar essa diferenciação, segundo critérios estabelecidos pela OMS. Diagnóstico das Síndromes Mielodisplásicas DEFINIÇÃO: Síndromes mielodisplásicas (SMDs) ou mielodisplasia são proliferações mieloides clonais, caracterizadas por exagero apoptótico, hematopoese ineficaz e citopenias periféricas, mas cuja história natural prevê novas mutações e súbita ou paulatina transformação leucêmica. Há neoplasias mielodisplásicas/mieloproliferativas por manifestarem, ao mesmo tempo, características de ambas. Hematologia Clínica https://www.atlasdosangueperiferico.com.br/leucemias.php https://www.atlasdosangueperiferico.com.br/leucemias.php https://hematologia.farmacia.ufg.br/p/7148-leucemia-linfoide-aguda-sangue-periferico 67 As displasias, em geral, são descritas como produção insuficiente das células sanguíneas. Desse modo, a maioria dos pacientes com SMDs é anêmica, com eritrócitos normocrômicos, normocíticos ou macrocítico, presença de anisocitose (variação no tamanho dos eritrócitos) e pecilocitose (variação na forma dos eritrócitos) são comuns. NOTA: Ainda não se sabe os motivos para o surgimento dessa doença, mas não é uma doença hereditária. Ela é mais comum em indivíduos acima dos 60 anos. A mielodisplasia refere-se a um grupo de doenças, divididas em sete categorias pela OMS. Sendo elas: 1. Citopenia Refratária com Displasia em uma linhagem (CRDU) – caracterizada por anemia, neutropenia, trombocitopenia. O percentual de blastos na medula óssea é inferior a 5%. 2. Anemia Refratária com Sideroblastos em Anel (ARSA) – o percentual de blastos na medula óssea é inferior a 5%, e sideroblastos anelados apresentam valor igual ou superior a 15%. Alterações displásicas são restritas à linhagem eritroide. 3. Citopenia Refratária com Displasia Múltipla (CRDM) – o percentual de blastos na medula óssea é inferior a 5%. Alterações displásicas são observadas em pelo menos 10% das células de, no mínimo, duas linhagens envolvidas. Pode haver ou não sideroblastos em anel (superior a 15%). 4. Anemia Refratária com Excesso de Blastos (AREB) – alterações displásicas observadas em uma ou mais linhagens. No tipo 1, o percentual de blastos na medula varia de 5% a 9% e no tipo 2 de 10% a 19%. 5. Síndrome Mielodisplásica não Classificada (SMD-U) – o percentual de blastos na medula óssea é inferior a 5%. 6. Síndrome Mielodisplásica Associada à Deleção Isolada do braço longo de Cromossomo 5 – alterações displásicas observadas Hematologia Clínica 68 em menos de 10% de uma ou mais linhagens, acompanhadas de alteração citogenética específica. O percentual de blastos na medula óssea é inferior a 5%. IMPORTANTE: Em alguns casos, a mielodisplasia pode evoluir para uma LMA (quando a medula para completamente de produzir células saudáveis). As mielodisplasias podem ainda ser classificadas em primária e secundária. A primária é aquela que não se sabe o motivo para as modificações nas células da medula, e corresponde a maior parte dos casos. Já a secundária refere-se ao paciente que passou por um tratamento com, por exemplo, quimioterapia ou radiação e acabou desenvolvendo a doença por este motivo. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre as mielodisplasias, leia o artigo intitulado: “O diagnóstico das síndromes mielodisplásicas: revisão da literatura”. Acesse aqui. RESUMINDO: Neste estudo, conhecemos as características das células imaturas percursoras dos leucócitos e o que pode ser observado em cada hemograma nos diferentes tipos de leucemias e mielodisplasias. Hematologia Clínica http://www.rbac.org.br/wp-content/uploads/2019/04/RBAC-vol-50-4-2018-ref-665.pdf 69 REFERÊNCIAS BAIN, B.J. Células sanguíneas: um guia prático. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. DE GRAAFF, K.M.V. Anatomia Humana. 6ª ed. Barueri: Editora Manole, 2013. FAILACE, R.; FERNANDES, F. Hemograma: manual de interpretação 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. HOFFBRAND, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. INCA - Instituto nacional de câncer. Leucemia. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/leucemia.Acesso em: 17 set. 2021. NAOUM, P. C.; NAOUM, F. L. Interpretação laboratorial do hemograma. São Paulo: AC&T Científica, 2008, p. 01-11. PALMER, L.; BRIGGS, C.; MCFADDEN, S.; ZINI, G.; BURTHEM, J; ROZENBERG, G; PROYTCHEVA, M; MACHIN S.J. ICSH recommendations for the standardization of nomenclature and grading of peripheral blood cell morphological features. Int J Lab Hematol. 2015 Jun;37(3):287-303. SILVA, P. H. et al. Hematologia laboratorial: teoria e procedimentos. Porto Alegre: Artmed, 2016. SWERDLOW, S.H.; CAMPO, E.; HARRIS, N.L.; JAFFE, E.S., PILERI, S.A., STEIN, H, et al. editors. World Health Organization classification of tumors of haematopoietic and lymphoid tissues. Lyon: IARC Press; 2008. ZERBINI, M.C.N; SOARES, F.A.; VELLOSO, E.D.R.P.; CHAUFAILLE, M. L.L.F. & PAES, RP. Classificação da Organização Mundial da Saúde para os tumores dos tecidos hematopoético e linfoide, 4ª edição, 2008: principais modificações introduzidas em relação à 3ª edição, 2001. Rev. da Associação Médica Brasileira. 2011. 57(1), 6-73. Hematologia Clínica https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/leucemia https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25728865 _GoBack Gênese Leucocitária e Leucócitos Normais do Sangue Periférico Gênese Leucocitária Leucócitos Normais do Sangue Periférico Morfologia dos Leucócitos Normais do Aangue Periférico Funções dos Leucócitos Normais do Sangue Periférico Leucograma: Processos Infecciosos e Inflamatórios Interpretando o Leucograma com Alterações Quantitativas Interpretando o Leucograma Quanto a Alterações Morfológicas Desvio à Esquerda Reações Leucemoides Anormalidades das Células Linfoides Hipersegmentação nos Neutrófilos Granulações Tóxicas dos Neutrófilos Vacuolização Citoplasmática dos Neutrófilos Corpúsculos de Döhle Granulócitos Hipogranulares ou Agranulares Doenças Hereditárias Autossômicas da Série Branca Gênese da Leucemia e as Classificações das Leucemias Gênese da Leucemia Classificações dos Tipos de Leucemias Leucemia Mieloide Aguda Leucemia Linfoide Aguda Leucemia Mieloide Crônica Leucemia Linfoide Crônica Principais Leucemias e Outras Mielodisplasias Características Morfológicas dos Leucócitos Imaturos Diagnóstico Laboratorial das Leucemias Agudas Hemograma da Leucemia Mieloide Aguda Hemograma da Leucemia Linfoide Aguda Diagnóstico Laboratorial das Leucemias Crônicas Hemograma da Leucemia Mieloide Crônica Hemograma da Leucemia Linfoide Crônica Diagnóstico das Síndromes Mielodisplásicas