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AULA 4 INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E SOCIAL Prof. Dálcio Roberto dos Reis Júnior 2 TEMA 1 – CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO: CONCEITOS INICIAIS Desde os tempos mais remotos da história da humanidade, a criatividade tem sido uma força motriz essencial para o progresso e a evolução. Desde os primórdios, quando nossos ancestrais enfrentavam desafios de sobrevivência em um mundo hostil, até os dias de hoje, em que lidamos com complexidades sociais, tecnológicas e ambientais, a capacidade de encontrar soluções inovadoras tem sido um diferencial humano. No cenário atual, no século XXI, a importância da criatividade só aumenta. Vivemos em uma era de rápida mudança em que os desafios são cada vez mais multifacetados e interconectados. Nesse contexto, a habilidade de pensar de forma original e encontrar novas abordagens para problemas complexos é uma vantagem competitiva crucial, tanto na esfera profissional quanto no pessoal. Mesmo que as máquinas e os algoritmos tenham avançado em muitos aspectos, ainda não conseguem replicar a capacidade humana de gerar ideias verdadeiramente originais e criativas. Portanto, o papel das pessoas na geração de inovação continua sendo insubstituível. Em qualquer ambiente organizacional, a criatividade é valorizada como um recurso essencial para impulsionar a inovação e a diferenciação competitiva. Ao longo da história, a compreensão da criatividade passou por diversas transformações. Em períodos antigos, era muitas vezes vista como um dom divino reservado a poucos indivíduos privilegiados. No entanto, ao longo do tempo, estudiosos como Platão e Sigmund Freud começaram a explorar e desvendar os mecanismos por trás do processo criativo, pavimentando o caminho para uma compreensão mais profunda e abrangente desse fenômeno. Hoje, sabemos que a criatividade é uma habilidade que pode ser cultivada e desenvolvida por qualquer pessoa, independentemente de suas origens ou talentos inatos. Ela é influenciada por uma variedade de fatores, incluindo o ambiente social, cultural e organizacional em que uma pessoa está inserida, bem como suas próprias características individuais, como capacidade cognitiva, personalidade e estratégias de pensamento. É importante reconhecer que a criatividade não é um processo isolado, ela está intrinsecamente ligada ao contexto em que ocorre. A capacidade de pensar de forma original e encontrar soluções inovadoras é moldada pela interação entre 3 o indivíduo e seu ambiente, incluindo sua educação, experiências passadas e interações sociais. No ambiente de trabalho, a criatividade é valorizada em uma ampla gama de ocupações e setores. Desde as artes e design até a tecnologia e negócios, a capacidade de gerar ideias novas e úteis é uma habilidade altamente procurada e valorizada pelos empregadores. Além disso, a criatividade desempenha um papel fundamental no processo de inovação. A capacidade de gerar ideias originais é o ponto de partida para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos que atendam às necessidades do mercado e impulsionem o crescimento organizacional. Crédito: Studio_East/Adobe Stock. Apesar de os temas “criatividade” e “inovação” serem assuntos diferentes, estão muito relacionados no entendimento da maioria das pessoas. Entretanto, são assuntos ainda estudados separadamente pelos pesquisadores. No entanto, segundo Heerwagen (2002), essa distinção é infeliz, uma vez que a criatividade representa para as organizações um aspecto fundamental na geração de novos produtos, processos ou serviços, de forma a lhes garantir a efetividade, a sobrevivência e a competitividade. Em resumo, a criatividade é uma força poderosa que impulsiona a inovação e o progresso em todas as esferas da vida. É uma habilidade fundamental que nos permite enfrentar os desafios do mundo moderno e encontrar soluções para os problemas mais complexos. Portanto, é essencial cultivar e nutrir a criatividade em todas as etapas da vida e em todos os aspectos da sociedade. 4 TEMA 2 – O PROCESSO CRIATIVO Reis Junior (2021) afirma que a criatividade individual é representada por um processo aberto e que não se permite representar por fórmulas de nenhuma espécie. Qualquer tentativa de se estabelecer um passo a passo, um tutorial ou quaisquer orientações preestabelecidas para que a criatividade individual aconteça pode acarretar o efeito inverso e ser considerada um fator bloqueador da criatividade. Em suma, cada pessoa possui uma forma muito particular de estimular a própria criatividade e de desenvolver o seu processo criativo. Todavia, mesmo sendo, como dissemos, um processo aberto e que pode ser estimulado de diversas formas, alguns princípios são comuns e representam o desenvolvimento do processo criativo de uma parte representativa das pessoas. Esse processo é fundamentado em três em princípios mentais: atenção, fuga e movimento. 2.1 Atenção A atenção representa que a concentração está totalmente voltada para uma necessidade específica. Quando dedicamos atenção para algo específico, passamos a compreender melhor todo o contexto que nos cerca e, com isso, obtemos mais informações sobre o problema a ser resolvido ou o cenário a ser compreendido. A atenção nos permite perceber detalhes e aumentar a nossa capacidade de estruturar possíveis oportunidades de solução (ideias), visando resolver a situação-problema. Com isso, a atenção se refere à fase de análise na qual tal situação- problema deve ser compreendida da melhor forma possível. Independentemente da complexidade da problemática, compreender todas as variáveis que podem influenciar as possíveis soluções é de suma importância. 2.2 Fuga Depois de dedicar a atenção a uma situação-problema, o indivíduo passa pelo processo de fuga, que diz respeito ao momento em que a criatividade surge como resultado de um processo mental de atenção e identificação de problemas. É nesse contexto que a mente se dedica à geração de novas ideias, com propostas para solucionar o problema central levantado na fase anterior. 5 A etapa da fuga se refere a ultrapassar os modelos de pensamento dos sujeitos. É a hora de assumir um risco a mais e tentar se livrar de barreiras mentais que, porventura, possam existir. Tais barreiras normalmente ocorrem por meio de lembranças de ações que não deram certo, escolhas malfeitas e posições mal tomadas e que fazem parte da nossa história. Exatamente pela existência dessas barreiras, a etapa da fuga é a mais complicada do processo criativo. Hábitos, costumes e rotinas comportamentais devem ser desconsiderados, na medida do possível. A capacidade para se livrar desses bloqueios varia de pessoa para pessoa. Dependendo da intensidade das barreiras existentes, esse processo pode ser mais árduo, mas ainda possível (Siqueira, 2015). As barreiras mentais podem ser classificadas em cinco categorias: culturais; intelectuais e de comunicação; emocionais; percepção; e ambientais e organizacionais. • Culturais: barreiras que o indivíduo impõe a si mesmo, gerados pela cultura e pelos conceitos aprendidos desde a infância, normalmente comuns à sociedade, cultura ou grupo a que o indivíduo pertence. Esses bloqueios impedem o indivíduo de aceitar o modo de pensar de indivíduos que pertencem a outros grupos ou culturas. • Intelectuais e de Comunicação: falta de habilidade para formular e expressar ideias com clareza e [...] para reconhecer problemas [...]. Às vezes ocorre por falta de conhecimento sobre o assunto, excesso de especialização [...] e incapacidade de enxergar além do observado. • Emocionais: desconforto [...] ao lidar com determinadas situações ou ao enfrentar determinados problemas. Muitas vezes, têm origem nos traumas vividos, seja na infância ou na idade adulta.Impedem o indivíduo de se comunicar adequadamente com outras pessoas quando envolve comunicar suas ideias e sentimentos e se caracteriza como medo de correr riscos, medo de parecer ridículo na frente de outros, medo de arriscar, dificuldade para resolver problemas, pensamentos negativos e baixa autoestima. • Percepção: bloqueios que dificultam a percepção e a visualização de situações-problema. É caracterizado como uma dificuldade em encontrar soluções para os problemas sob diferentes pontos de vista. Ocorre, muitas vezes, como consequência de ideias fixas e estereotipadas sobre diversas 6 situações ou como resultado de uma sobrecarga de informações e de detalhes que restringem o pensamento. • Ambientais e organizacionais: envolvem condições de trabalho e cultura organizacional. Dentro de uma organização, este é o pior bloqueio à criatividade e à inovação. Isto acontece porque as barreiras organizacionais, muitas vezes, estão fortemente entrincheiradas na cultura organizacional e no estilo de gestão adotado, criando ambiente não propício para o surgimento de ideias criativas. 2.3 Movimento Concentrar-se para compreender a situação-problema e conseguir alterar e melhorar a forma de pensar é o começo do processo criativo. Todavia, para que as ideias se transformem em oportunidades de inovação, é necessária a ação. Você já deve ter percebido que a criatividade coletiva tende a ser mais eficaz que a individual. Isso acontece devido à limitação da capacidade humana poder ser superada quando há um somatório dos esforços criativos de outros indivíduos dedicados a encontrar uma solução para a mesma solução-problema. O processo criativo de um pode começar onde acaba o de outro. Esse fenômeno propiciará que as soluções encontradas e as ideias geradas sejam associadas e atinjam um nível de complexidade inatingível, a priori, para um único indivíduo. Após esse processo coletivo, a criatividade é aplicada e transformada em algo real, desenvolvido, inserido no mercado e aceito pelos consumidores (ou usuários internos), solucionando a situação-problema inicial. Nesse ponto, pode- se ver o resultado do processo criativo, transformado em ideia desenvolvida em forma de projeto e se transformando em algo útil (Siqueira, 2015). É nesse momento que a inovação surge. Mais adiante, vamos nos dedicar a explicar com mais detalhes a relação entre criatividade e inovação. Portanto, para resumir os três princípios mentais envolvidos no processo criativo: • Atenção: etapa que envolve a concentração e dedicação para compreender o problema ou a situação. 7 • Fuga: fase que possibilita extrapolar as formas de pensamento preestabelecidas e se desvencilhar das barreiras impostas pelos ambientes interno e externo à empresa. • Movimento: criatividade em ação. Nessa etapa, a coletividade pode auxiliar a aumentar a complexidade das ideias. Trata-se do momento em que as ideias devem sair do papel e se tornar projetos possíveis de serem desenvolvidos e implantados no mercado. A soma dessas três etapas forma o processo criativo dos indivíduos e das equipes. TEMA 3 – RESISTÊNCIA A MUDANÇAS Todo ser humano é resistente a mudanças. Por mais que alguns neguem, é da nossa natureza ver a mudança como um momento de certo risco. Contudo, já sabemos que a inovação está deixando de ser um diferencial competitivo para se tornar uma questão de sobrevivência para as empresas nesse ambiente em constante evolução. As mudanças vão fazer parte da vida de qualquer organização, invariavelmente. Diante disso, passar a vê-las como necessárias para a sobrevivência em longo prazo torna muito mais fácil se adaptar a elas e até incentivá-las, evitando que as pessoas caiam na famosa zona de conforto. São alguns fatores que podem explicar a natural resistência às mudanças que todos nós apresentamos em alguns momentos: 3.1 Percepção contextual Berns (2009) destaca que, embora esses elementos alimentem nossa capacidade criativa, também podem limitar aqueles que desejam algo verdadeiramente diferente. Já percebeu como jovens, com menos bagagem de vida, às vezes têm ideias revolucionárias e originais? A explicação reside na fisiologia. Nosso cérebro, visando conservar energia por questões de sobrevivência, tende a se apoiar nas informações armazenadas, o que pode limitar nossa criatividade. Para mitigar esse fenômeno, Berns (2009) sugere ampliar nossa percepção do mundo. Se a criatividade se baseia em informações e experiências, devemos 8 continuar alimentando nosso cérebro com novos conhecimentos e vivências. Podemos aprender e nos adaptar em qualquer fase da vida, criando novos contextos. Quanto mais experientes nos tornamos, mais resistência temos a novas informações, pois acreditamos que já temos o suficiente para guiar nossas ações. Porém, é um equívoco. Reconhecer que estamos sempre em processo de aprendizado é crucial. Mudar de ambiente, estabelecer novas relações, exercitar a imaginação e ampliar nossos interesses são ações que podem nos ajudar nesse sentido. Nosso cérebro tende a formar padrões com base nas informações passadas, resistindo a absorver novos dados que contrariem os anteriores, dificultando, desta forma, o processo criativo. O Triângulo de Kanizsa (1955) exemplifica isso na prática. Figura 1 – Triângulo de Kanizsa Crédito: vector_master/Adobe Stock. A imagem mostra três figuras com círculos pretos parcialmente completos e mais três pares de linhas em formato de “V”. Depois de alguns segundos olhando a imagem, é bem provável que você identifique um triângulo branco no centro. O mais interessante disso é que, além de esse triângulo não existir de fato, ainda é quase impossível deixar de vê-lo após o seu cérebro tê-lo identificado pela primeira vez. 9 Nosso cérebro opera dessa forma em diversas situações. Fisiologicamente, é mais fácil para ele mostrar o triângulo branco já registrado do que questionar a existência deste. Uma vez que temos informações registradas, nosso processo criativo tende a ser limitado ao uso dessas informações, restringindo nossa capacidade de enxergar sob uma nova perspectiva. Quando nos esforçamos para ver de forma diferente, expandimos as possibilidades de gerar novas ideias. No entanto, esse processo não é simples, pois demanda consciência sobre nossas limitações e exige do cérebro um esforço extra. Walt Disney, Warren Buffett, Pablo Picasso, Ray Kroc (McDonald's) e Steve Jobs são exemplos de indivíduos citados por Berns em seu livro, não apenas por suas realizações notáveis como empresários e artistas, mas também por sua capacidade de enxergar o que outros não viam e de fazer o que outros consideravam impossível. A grande virtude deles era reconhecer suas próprias limitações, estar sempre abertos a aprender e perceber o mundo de maneira abrangente, gerando, com isso, ideias inovadoras. 3.2 Controle do medo Pensar de forma criativa, gerar ideias ou se expor para transmiti-las pode acionar o sistema de medo em nosso cérebro. Muitas pessoas veem isso como um fator limitante, devido ao medo do desconhecido, da diferença, do isolamento e do fracasso. Todos experimentamos esses medos comumente, mas algumas pessoas conseguem gerenciá-los, motivadas pela confiança e pela motivação, para que não impeçam sua criatividade. Mais adiante, explicaremos que o risco é inerente à inovação. Portanto, nenhuma inovação surge sem assumir certo nível de risco. Com a criatividade, é a mesma lógica. Toda ideia, por mais embasada que seja, carrega consigo alguma possibilidade de falha. Fisiologicamente, o medo atua no cérebro causando estresse, o que serve como mecanismo de defesa, nos levando a buscar sair rapidamente da situação, mesmo que a ação tomada não seja a mais adequada. Isso limita nossa criatividade, pois tendemos a buscar a primeira ideia quenos livre da situação desagradável, em vez de explorar alternativas melhores. 10 3.3 Medo do desconhecido Esse tipo de medo é comum no processo criativo, pois nos coloca em alerta e nos faz gerenciar o risco. Se isso é importante na vida, é ainda mais crucial em organizações. No entanto, quando o medo do desconhecido é excessivo, ele pode bloquear boas ideias devido à imprevisibilidade associada a elas. Quanto mais audaciosa uma proposta, mais difícil é prever suas consequências. Durante o processo criativo, nosso cérebro naturalmente tenta fornecer informações sobre as possíveis consequências de nossas ideias, mas quando essas informações não estão disponíveis devido à natureza desconhecida da situação, o medo se instala. Existe um experimento interessante para mostrar como o medo do desconhecido pode nos limitar. Um pesquisador convidou um grupo de pessoas e mostrou a eles duas urnas fechadas. A maioria escolheu a urna com 50 bolas de cada cor, evitando a urna com distribuição desconhecida. O medo do desconhecido deve ser gerenciado, pois toda ideia traz consigo algum nível de risco. 3.4 Medo do isolamento Superar o medo do isolamento é uma característica de pessoas criativas e inovadoras. Questionar a opinião majoritária e desafiar o consenso são características de indivíduos criativos. No entanto, o medo do isolamento pode criar dúvidas sobre a validade de nossas ideias. O medo do isolamento é natural, pois somos seres sociais. Argumentar a favor de nossas ideias e buscar apoio podem ajudar a mitigar esse medo antes de decidirmos seguir adiante. TEMA 4 – O PROCESSO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO Na literatura, não existe um consenso sobre como chamar esse processo de transformar uma ideia em inovação. Entretanto, uma forma muito simples de exemplificar isso é pelo método chamado de processo de gestão da inovação (PGI). Esse método foi idealizado pelos professores doutores Dálcio Reis, Hélio Gomes de Carvalho e Márcia Cavalcante e representa uma metodologia de desenvolvimento de ideias até se tornarem oportunidades de inovação em apenas 11 cinco etapas, de forma didática e aplicável a quaisquer empresas, independente do porte, setor ou mercado. As cinco etapas representadas são: levantamento; seleção; definição de recursos; implantação; e aprendizagem. As quatro primeiras fases são sequenciais, e a quinta é transversal a todas elas, acontecendo simultânea e paralelamente às demais. Figura 2 – Processo de gestão da inovação O PGI é um processo testado em diversas situações e contextos, de salas de aula a empresas multinacionais. Isso mostra que não há nenhum pré-requisito técnico para o desenvolvimento dessa metodologia. Para sua implantação, basta apenas uma equipe engajada, ciente dos objetivos da organização, e lideranças comprometidas e com atitude positiva perante as mudanças que podem (e devem) surgir a partir daí. As cinco etapas do PGI, desta forma se desenvolvem: • Levantamento: é a etapa em que a criatividade deve estar mais presente. Representa a busca sistemática de oportunidades de inovação (ideias) que permitam antecipar tendências de novos produtos, novos processos e serviços, observando sinais de mudança no ambiente competitivo. Algumas dicas para essa etapa contemplam a capacidade de enxergar além do que está aparente; perceber novos canais de comunicação; 12 identificar necessidade do cliente; compreender ameaças e oportunidades sinalizadas pelo mercado; eliminar desperdícios de forma sustentável e efetuar comparações com os concorrentes. • Seleção: selecionar uma ou mais oportunidades de inovação, procurando analisar criteriosamente as opções disponíveis. A comunicação será a habilidade mais importante nessa fase. Muitas ideias excelentes acabam parando nessa etapa pelo fato de não serem corretamente explicadas aos demais. Para a etapa de seleção ser eficaz e conseguir filtrar a(s) ideia(s) mais interessante(s) para esse momento, são necessários alguns critérios técnicos. Deve-se cuidar para não acabar escolhendo a melhor ideia com base no feeling. Nem tudo que parece bom de fato é. Exemplos de critérios importantes para auxiliar a tomada de decisão sobre a melhor ideia podem ser: contribuição na redução dos custos; contribuição na redução dos prazos; aceitação pelo cliente; tamanho do mercado a ser atendido e facilidade de financiamento do desenvolvimento e a relação retorno/investimento, por exemplo. • Definição de recursos: definir os recursos (humanos, financeiros, infraestrutura, tecnologias) necessários para introduzir e/ou implementar as oportunidades de inovação selecionadas, identificando as formas de acesso (financiamento, compra, desenvolvimento interno etc.). Nessa fase, a capacitação e o conhecimento técnico da equipe sobre gestão desses recursos podem fazer a diferença. Para essa fase, algumas ações são muito importantes, como compatibilizar os recursos necessários com as competências internas; saber comprar, licenciar ou contratar novidades fora da empresa e definir as formas de acesso às tecnologias que serão necessárias. • Implantação: executar os projetos da(s) oportunidade(s) de inovação por meio do acompanhamento de seu desenvolvimento em termos de prazo, custos e qualidade, considerando as necessidades de outros setores da empresa (marketing e vendas, por exemplo). Nessa fase, é fundamental que um programa de reconhecimento e recompensa já esteja estabelecido. Ver uma ideia se transformar em uma inovação de sucesso é fantástico para a empresa. Por isso, nada mais justo que reconhecer e recompensar o autor da ideia. 13 • Aprendizagem: refletir sobre o processo de gestão da inovação como um todo, revisando etapas, ações e ferramentas e registrando as lições aprendidas. Como vimos, o PGI é uma metodologia capaz de estimular a geração de ideias e auxiliar o processo de desenvolvimento dessas ideias até se tornarem inovações. O papel da criatividade se faz presente em todo o processo. Podemos dizer, sem receio, que ela é o principal insumo à inovação. Dinheiro, conhecimento e tempo são recursos importantíssimos, mas se não se traduzirem em ideias e em projetos de oportunidades de inovação, de pouco adiantarão. TEMA 5 – AS ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO DA INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGICA Devemos pensar a gestão da criatividade como uma estratégia em longo prazo, pois seu principal indicador de sucesso é o número de ideias geradas que originaram inovações, algo que, por si só, já carece de um tempo de “gestação” para ser, de fato, um sucesso e passível de ser medido. A gestão da criatividade se inicia pela conscientização dos gestores sobre a importância do tema até a fase de amadurecimento e acompanhamento dos indicadores de desempenho. A seguir, estudaremos todas as etapas com as quais uma organização deve cumprir para atingir a sua capacidade de gerenciar a criatividade. Figura 3 – Etapas da gestão da criatividade 14 É importante salientar que tais etapas não demonstram uma metodologia fechada, imutável, que deverá ser eficiente em qualquer situação, independente do contexto da empresa. Todavia, todas elas foram identificadas ao longo da história de inúmeras empresas reconhecidamente inovadoras. Portanto, considere-as como uma linha de apoio ao pensamento estratégico e à tomada de decisão, e não como uma receita pronta de sucesso. 5.1 Fase 1: conscientização O primeiro passo para o desenvolvimento de uma cultura voltada à criatividade, passível de ser gerenciada, é a conscientização do empresário ou do gestor de topo da empresa sobre a importância desse aspecto para a organização. 5.2 Fase 2: disseminação Líderes que disseminam suas convicções com os subordinados, conferindo-lhes um propósito para agir e, principalmente, compartilham suas crenças sobre a importância da criatividadepara o presente e o futuro da empresa tendem a desenvolver nos indivíduos e nas equipes um círculo virtuoso, em que todos os colaboradores compreenderão a importância da criatividade e passarão a incluí-la na maior parte dos processos da organização. 5.3 Fase 3: estratégia A conscientização, apesar de ser a importante base para o desenvolvimento de um ambiente voltado à criatividade, não necessariamente implicará a implantação de ações práticas na rotina da empresa. Apenas a boa intenção não basta; é preciso ação. Diante disso, colocar o estímulo à criatividade como estratégia formal da organização é fundamental. 5.4 Fase 4: parcerias A quarta fase representa o momento de construir parcerias. Normalmente, as empresas que acabaram de estabelecer a criatividade como estratégia ainda não são maduras o suficiente, em vários sentidos, para desenvolver ações voltadas à criatividade e à inovação. Toda inovação pressupõe um risco que, por menor que seja, sempre pode ser minimizado por meio do estabelecimento de parcerias. 15 5.5 Fase 5: estruturação Feitas as parcerias, é hora de começar a se estruturar para ser uma empresa voltada ao desenvolvimento da criatividade. A fase de estruturação contempla diversas ações que uma organização pode realizar para estimular a criatividade e a inovação entre seus colaboradores e equipes de trabalho. É o momento de tirar as ações do papel e colocá-las em prática. 5.6 Fase 6: processo de gestão da criatividade e inovação Depois de as cinco primeiras etapas terem sido atingidas, a instituição já reunirá as condições necessárias para começar a gerenciar a criatividade. Alguns indicadores de criatividade já serão mensuráveis, por exemplo: a qualidade das informações provenientes dos parceiros, os custos envolvidos, o nível de desempenho dos indivíduos e das equipes após a implantação de iniciativas de estímulo à criatividade, entre outros. 5.7 Fase 7: capacidade de inovar Nessa fase, a empresa já passa a perceber que as ações de estímulo à criatividade começam a gerar indicadores mais consistentes. Novas soluções, negócios, produtos, serviços e processos começam a surgir e a trazer mais valor para a organização, gerando cases de sucesso que podem ser replicados. 5.8 Fase 8: acompanhamento de indicadores Por fim, depois de percorrer um grande caminho, a organização já possui dados consistentes o suficiente para apoiar as decisões de seus gestores em relação a práticas voltadas à criatividade e ao desenvolvimento do potencial criativo de colaboradores e equipes. A partir desse ponto, e à medida que as decisões se mostrarem acertadas, já se pode afirmar com segurança que a instituição possui todas as condições para conseguir gerenciar a criatividade. É importante notar que essas fases exigem tempo, dedicação e muito trabalho de todos os stakeholders da organização. Um erro a não se cometer é tentar gerir o que não é mensurado. Portanto, avançar em todas essas fases é fundamental para que os dados e as informações advindas dos indicadores 16 referentes aos resultados das ações e do aprendizado coletivo possam, efetivamente, fomentar decisões dos gestores da organização. O tempo para essas fases decorrerem depende de cada contexto e ambiente, isto é, não há uma regra. Algumas empresas podem ir mais rapidamente, e outras, avançar de forma mais gradativa. Mas isso não importa. O essencial é se conscientizar da importância da criatividade para a competitividade e, a partir daí, passo a passo, torná-la um ponto estratégico e parte da cultura da empresa. 17 REFERÊNCIAS REIS JÚNIOR, D. R. dos. A criatividade nas organizações. Curitiba: Editora Intersaberes, 2021.