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1 Criatividade, Inovação e Empreendedorismo Unidade I Patrícia Simões Sena Soares APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Professora conteudista: Patrícia Simões Sena Soares Patrícia Simões Sena Soares, casada, paulista, nascida e residente na cidade de Guarulhos, São Paulo. Formada em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica e Teoria Psicanalítica e especialista em Gestão de Pessoas. Atualmente, atua fortemente nas áreas de Recrutamento, Seleção, Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas. É palestrante de temas comportamentais e sobre saúde emocional. Possui 20 anos de experiência profissional adquirida na clínica psicológica, consultorias nas áreas e seleção, avaliação, treinamento e desenvolvimento de pessoas em empresas como Danone, Tellure Rota do Brasil, Editora Abril, CAE do Brasil e através de palestras ministradas em empresas nacionais e multinacionais. É professora colaboradora dos cursos de pós-graduação da UNIP e da Universidade de Guarulhos (UNG). SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 5 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 6 1. CRIATIVIDADE E SUAS BASES .............................................................................................. 7 1.1. O potencial criativo .............................................................................................................. 7 1.2. Personalidade e Criatividade .............................................................................................. 8 1.3. Habilidades cognitivas e Criatividade ................................................................................ 9 1.4. Criatividade e Cérebro ......................................................................................................... 9 1.4.1. Momento “Eureka” .......................................................................................................... 11 1.5. Bloqueios à criatividade .................................................................................................... 12 2. A CRIATIVIDADE COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA ORGANIZAÇÃO. ................... 16 2.1. Da tecnologia à criatividade: um novo modelo de competitividade ............................. 16 2.2. Gestão de recursos humanos criativos ........................................................................... 17 2.3 Objetivos da criatividade na empresa ............................................................................... 18 2.4. Benefícios da criatividade aplicada às organizações .................................................... 19 3. TÉCNICAS E FERRAMENTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE E A GERAÇÃO DE IDEIAS ................................................................................................................ 22 3.1. Técnicas de criatividade individuais e técnicas de grupo ............................................. 23 3.1.1. Técnicas de grupo – Brainstorming .............................................................................. 24 3.1.2. Técnicas de grupo – Técnica criativa de Disney ......................................................... 25 3.1.3. Técnica Individual: Matriz GUT ...................................................................................... 26 3.1.3.1 Como montar a Matriz GUT .......................................................................................... 28 4. CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO NO TRABALHO ..................................................................... 30 4.1 Como estimular a criatividade no trabalho ...................................................................... 30 4.1.2 Fatores que estimulam a criatividade no trabalho: ...................................................... 30 5. SOLUÇÃO CRIATIVA DE PROBLEMAS ................................................................................ 32 5.1 Como usar a criatividade para obter soluções inovadoras ............................................ 33 5.2 Pensamento lateral ............................................................................................................ 35 5.2.1.Como utilizar o pensamento lateral para encontrar a solução de um problema ...... 36 6. O AMBIENTE INOVADOR E A COMPETITIVIDADE ORGANIZACIONAL ........................... 38 6.1. Como as empresas devem buscar a inovação ............................................................... 38 6.2 Como identificar um profissional inovador ...................................................................... 40 6.3. Como ser um profissional inovador ................................................................................. 41 7. PROCESSOS MENTAIS ASSOCIATIVOS E INOVAÇÃO ..................................................... 42 7.1 Mapa mental ......................................................................................................................... 42 7.2 Utilidades do Mapa Mental ................................................................................................. 43 7.3. Aplicação do mapa mental em organizações e projetos: .............................................. 44 7.4 Como fazer um mapa mental: ............................................................................................ 44 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 46 5 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Tudo começa com ideias - desde a criação do mundo até à simples, mas poderosíssima, pasta de dente. Alguém viabilizou um projeto fantástico e hoje podemos falar a milhares de quilômetros de distância com quem quisermos e, num clique (e com dinheiro) comprar tudo o que desejarmos. A compreensão da criatividade e da inovação proporciona uma base para as mudanças necessárias, a qualidade do produto, a colaboração, a motivação, o desenvolvimento de novos líderes, empreendedores, startups, enfim, a criatividade e a inovação tornaram-se a base para o novo mundo em que vivemos hoje. Portanto, compreender estes conceitos nos abre caminhos para compreender o processo de evolução e melhoria do humano e do não humano. Um empreendedor sempre tem um desejo de criar algo – o aspecto central do empreendedorismo. Criar uma nova organização, um novo modo de pensar sobre o mercado, a implantação de uma nova cultura, novas maneiras de fazer as coisas, novos produtos, nova administração. Compreender o papel da criatividade e da inovação torna-se então habilidade essencial para viver no século XXI e fazer bons negócios e empreendimentos. Sendo assim, estudar sobre Criatividade, Inovação e Empreendedorismo é fundamental para a assimilação de outros conceitos e práticas igualmente importantes estudados no curso de Psicologia Organizacional. Espero que este conteúdo seja relevante para sua vida, sua carreira e seu futuro e que seu verdadeiro talento criativo aflore a partir deste material. Então, bom estudo para você! 6 INTRODUÇÃO Inicialmente conceituaremos os termos “Criatividade” e “Inovação”. Abordaremos enfaticamente o termo “Empreendedorismo” na Unidade II da disciplina. Criatividade: o termo origina do latim creare, que indica a capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas. É um ato voluntário e decisório de alguém que criou uma nova solução para um problema antigo ou um novo conceito para um serviço ou produto potencialmente útil. De forma mais simples, “criar” significa fazer existir algo que não existia anteriormente. O processo da criatividade engloba o pensamento não convencional, a experimentação, a ambiguidade, a incerteza,a intuição, a surpresa, a audácia, a exploração, a pesquisa. Ideias originais, entretanto, são raríssimas. Nada pode ser criado do nada e qualquer nova ideia é uma associação de algo abstrato que se conecta a algo concreto e que já existe e a maioria esmagadora deriva de invenções anteriores que já existiam. Inovação é uma palavra latina que significa incorporar, trazer para dentro, inserir o é novo, coisa nova, novidade. Inovar não tem relação com a ideia de criar ou inventar, mas traz a ideia de uma construção de um valor a partir de algo já existente. Tornar novo e contextual o que, por uma questão temporal, não mais se adequa à realidade contemporânea. Não quer dizer simplesmente criatividade ou invenção. Em inovação, isso é apenas o começo. A criatividade que conta para a inovação tem disciplina e método e é um processo que pode ser sistematizado. 7 1. CRIATIVIDADE E SUAS BASES “Não pretendamos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode suceder a pessoas e países, porque a crise traz progressos” Albert Einstein Acostumamo-nos a associar a criatividade à atividade artística. Não estávamos errados, já que a arte se relaciona com a expressão criativa de nossas emoções, percepções e sensações que temos a respeito de algo. Mas também podemos definir criatividade através do viés da ideia e pensamento. Sendo assim, dizemos que criatividade é a habilidade para gerar ideias, alternativas e soluções para um determinado problema. A criatividade pode ser definida como um “[...] processo multifacetado, que inclui processos mentais, com o intuito de compreender as dificuldades e anomalias de uma determinada situação e, posteriormente, formular hipóteses e possíveis resultados.” (Heinze, Shapira, Rogers & Senker, 2009). Levando em conta esta definição e relacionando-a com o conceito de inovação, a criatividade representa o processo de criação de ideias. De certo modo, é a inspiração que nos permite criar novas soluções. A inovação é a capacidade de converter estas ideias em algo aplicável e tangível, dando-lhes sentido e valor dentro de um determinado contexto. Deste modo, pode acontecer algo paradoxal: uma pessoa muito criativa, com uma grande capacidade de gerar ideias, pode também ser pouco inovadora, ao ser incapaz de selecionar as melhores ideias para aplicá-las eficazmente. Para ultrapassar esta dificuldade e para desenvolver o potencial criativo inato a todas as pessoas, é possível recorrer a técnicas que, como poderemos ver mais adiante, podem ser de grande valor no âmbito empresarial. Figura 1. Criatividade e inovação Fonte: SENA, 2020 1.1. O potencial criativo A criação de ideias e sua utilização de forma inovadora segue um processo cuja análise e aplicação permite solucionar problemas e formular estratégias de mudança que permitam a adaptação a uma nova situação. Criatividade Geração de Ideias Inovação Aplicação prática das ideias 8 O potencial criativo é inerente ao ser humano, porém sua manifestação varia de pessoa para pessoa. Podemos comparar a criatividade com a eletricidade, que pode tanto se expressar numa poderosa descarga elétrica durante uma tempestade como acender uma lâmpada de uns poucos volts. Podemos entender a criatividade sob dois aspectos, o individual e o coletivo. Se você vai criar uma receita com os poucos ingredientes que tem em casa, pode ser considerado altamente criativo num plano pessoal. Mas, para quem vai comê-lo será um bolo como qualquer outro. Neste caso, consideramos você uma pessoa criativa no âmbito individual. Sendo assim, ideias geniais são aquelas que são consideradas geniais por um grande grupo comum de pessoas. As condições sociais, culturais, econômicas e políticas determinam o quão criativa uma pessoa será. Algumas circunstâncias encorajam o desenvolvimento do potencial criativo ou apoiam a expressão desse potencial. Outras agem negativamente, agindo como bloqueador, como a guerra, as crises e qualquer tipo de tensão ou instabilidade que a pessoa esteja vivenciando na vida. Situações de estresse ou sobrecarga de trabalho podem desestimular o potencial e processo criativos. Mozart é um exemplo de uma pessoa que, desde cedo, demonstrou talento especial para a música. Com apenas 4 anos de idade já tocava cravo e violino e, aos 5 anos, compôs seus primeiros minuetos. Seu pai e seu tio eram músicos, o que contribuiu fortemente para a sua habilidade e criatividade excepcional para a música. Além disso, viveu numa época em que a música era valorizada e os grandes compositores reconhecidos. “[...] Mozart dificilmente nasceria numa favela brasileira no final do século XX [...]” (Revista Super Interessante. Como nascem as ideias. 31/10/2016. Disponível em: www.super.abril.com.br/ciencia/como-nascem-as-ideias/ Acesso em: 18/12/2019) 1.2. Personalidade e Criatividade A personalidade também desempenha um papel essencial no processo criativo. Alguns estudos revelam que as pessoas criativas apresentam características em comum, tais como: independência de pensamento, persistência, curiosidade, ousadia, inconformismo, resiliência, entre outros fatores. Além disso, os criativos apresentam uma motivação intrínseca para a realização da tarefa e sentem um prazer imenso em fazer o que estão fazendo. Assim como outras características de personalidade, a habilidade da criatividade também pode ser ensinada. Crianças que vivem em ambientes onde foram constantemente estimuladas e incentivadas a solucionarem desafios e também elogiadas diante das soluções criativas encontradas têm mais chance de crescerem e se tornarem adultos mais criativos. 9 1.3. Habilidades cognitivas e Criatividade As pessoas criativas partilham também de uma gama de habilidades chamadas cognitivas: fluência de ideias, flexibilidade, originalidade e atenção aos detalhes capacidade de análise e síntese. Outros exemplos de habilidades cognitivas incluem habilidades motoras, memória, atenção, percepção e uma categoria ampla conhecida como habilidades executivas, todas aliadas ao processo criativo. Primeiramente, as habilidades cognitivas são empregadas para resolver problemas, perceber o mundo de uma maneira que faz sentido e é consistente, e de aprender novas habilidades e informações. Uma das categorias mais importantes de habilidades cognitivas envolve as funções executivas. Estas são habilidades que podem ajudar a governar outras habilidades e fornecer um quadro mental, essencial para a aprendizagem. Funções executivas da cognição incluem resolução de problemas e flexibilidade. 1.4. Criatividade e Cérebro Há quatro etapas pela qual o pensamento criativo é construído em nossa mente: Preparação, Incubação, Inspiração e Verificação. a) Fase da Preparação: Reflexão sobre o problema e os elementos que são relevantes. É o período em que a mente acumula informações e realiza um brainstorming de hipóteses e possibilidades sobre a situação. b) Fase da Incubação: É o período de pausa, em que se deixa de focar conscientemente os dados disponíveis quando não encontra nenhuma solução satisfatória. A mente, porém, continua trabalhando e processando soluções e passa a criar conexões entre elementos aparentemente divergentes. c) Fase da Inspiração: É quando surge o momento “Eureka!”, o ponto máximo da inspiração, quando se enxerga a saída possível para o problema, a partir de uma composição de informações completamente original. Há um prazer experimentando pelo cérebro d) Fase da Verificação: O momento de trabalhar e lapidar a nova ideia e checar se ela realmente funciona. Todas essas fases interagem entre si de forma complexa. A inspiração, por exemplo, está presente em todo o processo criativo. Não existe um momento mágico no nascimento do projeto ou no final da produção. A criação é resultado de trabalho. As ideias vão ganhandoforma aos poucos. Há desvios ao longo do processo e também a interferência de uma circunstância casual – um telefonema, por exemplo, pode inspirar um músico a compor uma canção. A inspiração está relacionada a do pensamento que ocorrem no nível do pré- consciente, parte do inconsciente à qual temos acesso e que inclui lembranças de 10 experiências e sensações, como cheiros de alguns perfumes e impressões de viagens, segundo a teoria freudiana. São essas informações que a mente acessa, aleatoriamente, quando desenvolvemos um trabalho criativo. Pode ocorrer o fato de muitas ideias inspiradoras surgirem enquanto sonhamos. Quando recuperamos a lembrança do sonho no qual cenas e imagens são conectadas, pode surgir uma nova ideia criativa. Foi assim que surgiu a famosa música dos Beatles “Yesterday” e a também famosa obra literária “Frankstein” de Mary Shelley. Também precisamos levar em conta que a criatividade é proporcional ao repertório da pessoa: quanto maior o número de experiências, leitura, viagem, atividades artísticas que uma pessoa vive, maior a possibilidade de associações e reassociações significativas de informações. Ou seja, é importante estimular a mente com atividades que despertem a imaginação e a fantasia. A ciência tenta explicar a fisiologia da criatividade da seguinte forma: os elementos criativos são extraídos da memória, tanto a de trabalho – que retém as informações durante um curto período – quanto a memória de longo prazo. Isso, porém, não é uma regra. Existem pessoas com transtornos de memória de trabalho que apresentam uma capacidade criativa excepcional. Um bom exemplo é o personagem principal do filme “Uma Mente Brilhante” (2001), o matemático John Nash, que apesar de sua grave esquizofrenia, era capaz de fazer incríveis associações de ideias. Apesar disso, é mito achar que a criatividade precede a loucura. Ou mesmo achar que o uso de drogas estimula o pensamento criativo. Pelo contrário. As drogas levam a pessoa a acreditar que está mais criativa, mas isso ocorre porque a substância afeta sua capacidade de julgamento. Outra informação que julgo importante desmistificar é a de que utilizamos mais o lado direito do cérebro para as questões criativas, enquanto o esquerdo é utilizamos mais para a racionalidade. A neurociência tem estudado e comprovado que não há nenhuma evidência de que as pessoas utilizam preferencialmente a parte esquerda ou direita do cérebro. Isto quer dizer que durante o processo criativo, ambos os hemisférios cerebrais são ativados. O que difere o processo são os tipos diferentes de conexões feitas entre os neurônios e isto ocorre em todo o cérebro. Infelizmente, embora a maioria das empresas insista para que as pessoas sejam mais criativas e colaborem com mais ideias, isso não ocorre porque ao longo da vida muitos de nós não fomos prestigiados quando “sonhamos acordados” ou tivemos uma ideia “fora da caixa”. Em muitas organizações ainda estão impregnados velhos paradigmas que serviram para a geração passada, mas que não servem mais para o momento atual que vivemos. Portanto, o que precisa ocorrer é uma mudança cultural e de paradigmas. A programação neolinguística traz um modelo que auxilia na compreensão da aprendizagem, inclusive da criatividade. Nos ajuda a entender os mapas internos e a construção intrínseca e subjetiva do indivíduo quanto ao ato de aprender. Possui 4 quadrantes, distribuídos da seguinte forma: 11 Figura 2. Ciclo do Aprendizado Fonte: SENA, 2020 1.4.1. Momento “Eureka” Eureka é uma interjeição que significa “encontrei” ou “descobri”, exclamação famosa em todo mundo, dita pelo cientista grego Arquimedes de Siracusa (287 a.C. – 212 a.C.), quando descobriu a solução para um complexo dilema apresentado pelo rei Hierão. É normalmente pronunciada por alguém que acaba de encontrar a solução para um problema difícil. O momento em que temos uma ideia considerada “brilhante” ocorre quando desfocamos do problema e adquirimos a capacidade de reinterpretar um estímulo, situação ou problema para produzir uma interpretação que parece não ser óbvia. Nos anos 90, os cientistas cognitivos John Kounios e Mark Beeman descobriram que milésimos de segundo antes do momento Eureka!, a atividade da área visual do cérebro basicamente se desliga. Isso antecede o momento da “inspiração”. Kounios chamou este momento de “brain blink”, que é quando o cérebro “pisca” e se vira para dentro. Darei uma ilustração simples: muitas vezes, quando alguém nos coloca uma questão difícil, temos a tendência de desviar o olhar para um ponto indefinido no espaço, como se estivéssemos à procura de um foco onde possamos encontrar a solução. Nesse momento, nosso cérebro está tentando reduzir a informação visual recebida e voltando-se para a criação interna de associações e conexões, pesquisando em sua base de dados. A investigação sobre os momentos Eureka começou há mais de cem anos, mas apenas com o surgimento da neuroimagem é que os cientistas conseguiram perceber o que acontece quando o cérebro passa de um estado sem ideias para um fluir de insights criativos. Segundo os cientistas, atitude positiva, bom humor e sono de qualidade tendem a promover mais estes momentos. 1. Incompetência Inconsciente (não sabe que não sabe) 2. Incompetência Consciente (sabe que não sabe) 3. Competência Consciente (Sabe que sabe) 4. Competência Inconsciente (competência no "piloto automático") 12 1.5. Bloqueios à criatividade No livro Breakpoint and Beyond: Mastering the Future Today (Ponto de Ruptura e Além: Dominando o Futuro Hoje), escrito por George Land e Beth Jarman, vemos que aprendemos a sermos não-criativos. O declínio da criatividade não ocorre devido à idade, mas aos bloqueios mentais construídos ao longo da vida. No gráfico a seguir visualizaremos isto: Figura 3. Nascimento e Declínio da Criatividade Fonte: LAND, 1990 Existem fatores que facilitam e outros que bloqueiam a geração de ideias criativas no indivíduo e na organização. Dividi em 3 blocos: os bloqueios emocionais, culturais, ambientais e organizacionais e os intelectuais e de comunicação. 1.5.1 Bloqueios Emocionais: a) Acomodação e passividade Quando falamos que o ócio é importante para a geração de novas ideias estamos relacionando-o à fase da incubação (vista anteriormente), ou seja, quando a mente tira o foco do problema e se vê livre para outras experiências e pensamentos que poderão levá-la a associações novas. Já a acomodação, esta não contribui para a criatividade pois a mente que nega a existência de um problema, obviamente não buscará uma solução para ele. Se pensarmos um pouco mais sobre esse assunto, veremos que as maiores descobertas e invenções criativas originaram-se de pessoas que estavam incomodadas com algo, na maioria dos casos, com a falta ou a dificuldade. Tomas Edison (1847-1931), Graham Bell (1847-1922), Henry Ford (1863–1947) comprovam que o incômodo traz mais benefícios que a acomodação. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 5 anos 10 anos 15 anos acima 25 anos 13 b) Medo O medo é natural quando decidimos fazer algo novo. A novidade tem seu lado obscuro. É inerente ao ser humano buscar situações confortáveis e não ameaçadoras, por isso encarar uma mudança decorrente de uma ideia criativa pode causar medo e até paralisar a ação. Aprendemos que os erros sempre são punidos, e quem inova fica sujeito a não acertar visto que está lidando com o novo. Por isso, nosso cérebro, diante de uma possível mudança, tenta rejeitá-la porque isso exigirá uma dose extra de energia, tempo para readaptação, além de incorrer no risco de errar. Além disso, pensar que alguém criticará o seu trabalho pode bloquear o processo criativo, porque o medo da crítica e da exposição constrangedora certamente será evitado por todos. c) Ameaças ao Status e à SegurançaA segurança é um lugar onde sempre desejamos estar. Há pessoas que se sentem extremamente inseguras quando têm que implantar novas ideias, processos ou estruturas, por estarem arraigadas ao passado e, não raramente, bloqueiam as mudanças por medo de serem prejudicadas. Resistem a novas ideias e a tudo que possa significar ameaça ao que já conquistaram. Exemplo disso são os primeiros automóveis que foram recebidos como algo demoníaco pela Sociedade Inglesa pelo Progresso da Ciência, e a imprensa, inventada por Gutenberg, que enfrentou acirrada oposição dos calígrafos e copistas da época, receosos de perderem seus empregos. d) Falta de autodisciplina e falta de perseverança O esforço contínuo e boa orientação são fundamentais para o processo criativo. Quando não há foco ou objetivo, a ideia criativa não encontra força ou ambiente para surgir e permanecer. Nosso cérebro é orientado a gastar energia com aquilo que de fato considera importante para sua manutenção e a de seu dono. A indisciplina e falta de perseverança são indícios para o cérebro de que a solução ou a mudança não são, realmente, necessárias. e) Apego a normas e padrões Normas e padrões são necessários no ambiente organizacional e para o convívio em sociedade. Porém apegar-se a regras obsoletas ou tradições podem bloquear a criatividade e impedir que novas ações sejam realmente implementadas. f) Paradigmas e pressupostos rígidos A rigidez de pensamento e paradigmas, geralmente aqueles que são arraigados e fazem parte da estrutura-padrão de comportamento do indivíduo podem bloquear o processo criativo. A pessoa rígida, geralmente, tem muita dificuldade para criar, sendo mais fácil para este tipo de personalidade reproduzir e fazer as coisas como sempre fez. Não é fácil desapegar-se dos velhos mapas e das velhas rotas. A criatividade se dá em um território totalmente novo e, portanto, precisamos de um novo mapa para 14 chegarmos até lá. Não é fácil, pois exige de nós que saiamos de nossa zona de conforto de nossos padrões mentais para descobrir novas fronteiras em nosso território cerebral que, geralmente, está acostumado a trilhar sempre o mesmo caminho. 1.5.2. Bloqueios culturais: Bloqueios culturais são barreiras que impomos a nós mesmos, geradas por pressões da sociedade, cultura ou grupo a que pertencemos. Eles nos levam à rejeição do modo de pensar de pessoas ou grupos diferentes. Alguns destes bloqueios têm a ver com os seguintes padrões de pensamento: “Nós não pensamos ou agimos deste jeito aqui.” “Nosso jeito é o certo.” “Respeitamos nossas tradições.” “Não se mexe em time que está ganhando.” 1.5.3. Bloqueios ambientais e organizacionais: São aqueles resultantes das condições e do ambiente de trabalho (físico e cultural): a) Distrações no ambiente de trabalho, reais ou imaginárias (interrupções, ruídos, telefone, e-mail). b) Ambiente de trabalho opressivo, inseguro, desagradável. c) Atitudes inibidoras à expressão de sentimentos, emoções, humor e fantasia. d) Autoritarismo, estilos gerenciais inibidores. e) Falta de apoio, cooperação e confiança. f) Rotina estressante e inibidora. 1.5.4. Bloqueios intelectuais e de comunicação: a) Falta de informação e pouco conhecimento sobre o problema ou situação analisada. b) Informação incorreta ou incompleta. c) Fixação profissional ou funcional, isto é, procurar soluções unicamente dentro dos limites de sua especialização ou campo de atividade. d) Crença de que para todo problema só há uma única solução válida. e) Uso inadequado ou inflexível de métodos para solução de problemas. f) Inabilidade para formular e expressar com clareza problemas e ideias. 1.6. A atitude criativa Tal como já definimos, a criatividade procura alternativas para uma situação existente ou a formulação de soluções que deem resposta inovadora e apropriada a 15 problemas que possam surgir. A predisposição para encontrar soluções e para a mudança positiva implica também na existência de uma atitude criativa. A criatividade está relacionada com a utilização de mecanismos e métodos que não respondem a esquemas e lógicas tradicionais. Quanto mais complexos a situação do meio e os problemas que enfrentamos, maior a exigência de novas ideias e, sobretudo, novos enfoques. Uma mente criativa é aquela que procura métodos diferentes e que é capaz de reinterpretar a realidade segundo novos parâmetros lógicos. Tudo com a finalidade de encontrar novas formas de interpretar a situação e de dar respostas criativas e eficazes aos problemas que possam surgir. De um modo mais explícito, a existência de uma atitude criativa concretiza- se na existência dos seguintes aspectos: 1.6.1. Aspectos fundamentais de uma atitude criativa a) Apresentar um espírito de busca contínua por novas soluções e alternativas; b) Motivação intrínseca para realizar um progresso significativo, para superar um desafio do trabalho em si, sem sujeição a estímulos externos; c) Originalidade na utilização de novos enfoques e de novos métodos, relacionando elementos sem relação aparente; d) Vontade e flexibilidade de adaptação às necessidades do meio; e) Determinação pelo sucesso e autoconfiança; f) Inconformismo com a situação existente e desejos de encontrar formas de melhorar; g) Formação profunda numa área de conhecimento; h) Otimismo, transformando as situações de crise em oportunidades para melhorar. 16 2. A CRIATIVIDADE COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA NA ORGANIZAÇÃO. As mudanças pelas quais nossa sociedade vem passando são cada vez mais profundas, afetando em grande medida a forma como entendemos o meio onde vivemos. Estas mudanças não são importantes apenas pela intensidade com que se apresentam, como também porque estamos produzindo em grande velocidade, o que requer mais flexibilidade e capacidade de adaptação por parte das pessoas e das organizações. Para assimilar este novo paradigma ou modelo econômico e social em constante evolução, é necessário que as nossas sociedades se preparem e tenham capacidade para se adaptarem às mudanças ou, melhor ainda, para serem protagonistas das mudanças. 2.1. Da tecnologia à criatividade: um novo modelo de competitividade Há relativamente poucas décadas, a capacidade tecnológica era o elemento diferenciador das sociedades mais avançadas. No entanto, com o passar do tempo, a tecnologia começa a mostrar-se insuficiente para assegurar a competitividade num contexto tão complexo como o atual, apesar de continuar a ser uma necessidade indispensável. Para superar esta situação, uma das estratégias mais utilizadas consiste na aplicação intensiva do conhecimento para a implementação de processos inovadores. Considera-se que o conhecimento é um elemento-chave neste tipo de processos porque, em grande medida, é o responsável de que alguns bens e serviços, embora utilizem a mesma base tecnológica que outros, tenham mais valor acrescentado e, por outras palavras, sejam mais competitivos no mercado. Neste sentido, as políticas empresariais têm-se dirigido ao desenvolvimento de capital humano com uma elevada qualificação, capaz de colocar o seu conhecimento científico e tecnológico a serviço da inovação. Porém, atualmente, não basta a existência de capacidade tecnológica e de capital humano altamente qualificado. O crescente fluxo de informação e de pessoas facilitou o acesso à economia do conhecimento, equilibrando as capacidades de uma grande parte das nossas sociedades. Neste novo contexto, a criatividade surge como um novo fator de competitividade, também ligado à inovação e ao conhecimento, mas que se ergue como um elemento diferenciador das economias mais avançadas. Nesta perspectiva, são três os elementos que determinam a capacidade de competir: criatividade, capacidade de gerar conhecimento e nível de desenvolvimento tecnológico.17 Figura 4. Capacidade de Competitividade Fonte: SENA, 2020 Os três elementos interagem entre si de tal forma que não se estabelecem inter- relações num único sentido, uma vez que cada elemento alimenta continuamente os restantes, estabelecendo relações dentro de uma dinâmica de interação contínua. Para que este modelo funcione adequadamente, é necessário um capital humano que o alimente, ou seja, é necessário que existam pessoas que possuam os perfis requeridos em cada um dos três âmbitos indicados. 2.2. Gestão de recursos humanos criativos O consumidor é quem dirige o mercado, exigindo novos produtos adaptados às suas necessidades. Sendo assim, o sucesso de um produto ou serviço já não reside no conceito tradicional de qualidade. Os consumidores exigem, além um bom produto, uma série de outras características: novidade, inteligência, atratividade. Ou seja, um produto que ofereça valor acrescentado quando comparado com os restantes produtos, algo que exige elevados níveis de criatividade. As pessoas selecionadas e preparadas para atender à demanda dos clientes cada vez mais exigentes contribuirão para empresas cada vez mais competitivas e líderes de mercado. Os novos modelos de gestão passaram do controle completo à supervisão do trabalho criativo autônomo. A constante pressão sobre a equipe não promove o fluir do pensamento criativo. Além disso, a gestão de recursos humanos criativos com novas motivações exige a adoção de novos métodos, que permitam associar as necessidades dos trabalhadores com talento às necessidades da empresa. A criatividade é complexa e ambígua. Por esse motivo, a gestão da criatividade deve Nível de Desenvolvimento Tecnológico Capacidade de gerar conhecimento Criatividade 18 ser feita com técnicas que ofereçam a liberdade necessária para o seu desenvolvimento, mas que não se desvie dos objetivos da organização. Deste ponto de vista, as novas fórmulas procuram oferecer mais liberdade e responsabilidade aos talentos, fomentando um ambiente mais flexível para o desenvolvimento da criatividade. 2.3 Objetivos da criatividade na empresa O objetivo principal da implantação de enfoques e técnicas criativas na empresa é a resolução de problemas e a gestão da mudança baseada na inovação para aumentar a competitividade. No entanto, estes objetivos são genéricos e exigem uma adequação à realidade dos negócios. A criatividade como ferramenta para desencadear processos de mudança e melhoria aplicados à empresa tem objetivos específicos, como: a) Reduzir os ciclos de vida dos produtos, ao introduzir inovações que permitam a sua substituição por outros; b) Ampliar a oferta através da criação de novos produtos e serviços; c) Dar resposta aos desejos de consumidores cada vez mais exigentes quanto à qualidade e aos serviços oferecidos; d) Desenvolver novas tecnologias que permitam reduzir despesas e criar novos produtos; e) Mudar os sistemas de gestão para modelos mais flexíveis; f) Melhorar o design dos produtos; g) Aumentar os mercados da nossa oferta de produtos e serviços; h) Atingir novos nichos de mercado; i) Utilizar novas técnicas de venda ou marketing; j) Desenvolver novas fórmulas para distribuir os produtos. Estes objetivos clássicos levariam à utilização da criatividade como uma ferramenta, entre outras, por parte das empresas. Por outro lado, a criatividade na empresa, entendida como uma atitude e não como uma ajuda à qual recorrer pontualmente para solucionar problemas, inclui outros objetivos mais ambiciosos: a) Assegurar a sintonia entre os objetivos e ações dos empregados com os objetivos da empresa; b) Impulsionar a iniciativa individual dos empregados, de forma que sintam os problemas da empresa como seus, aumentando assim a sua implicação, sentimento de pertencimento e capacidade de dar resposta a cada situação, bem como o intraempreendedorismo, termo que falaremos um pouco mais na próxima unidade; c) Fomentar o desenvolvimento de atividades dos empregados fora das funções estritamente oficiais, facilitando a concretização de ideias que tenham como finalidade introduzir melhoramentos ou práticas inovadoras; d) Aproveitar as ideias surgidas ao acaso. A pesquisa e o trabalho intensivo podem levar a uma associação de elementos sem relação aparente, mas que se traduzam em progressos para a empresa; 19 e) Estimular a utilização de ideias provenientes de origens alheias ao âmbito da empresa, em particular as que surgem dentro da esfera pessoal de cada trabalhador, pois podem ter um grande impacto na criação de novas ideias dentro no negócio. f) Aumentar e melhorar a comunicação interna da empresa que, geralmente, é mais deficitária nas grandes empresas, pois pode contribuir para aumentar o fluxo de informação valiosa. 2.4. Benefícios da criatividade aplicada às organizações Como temos dito, a criatividade é um elemento que afeta toda a organização, passando pelo centro de decisão e atingindo todas as áreas e departamentos da empresa. A utilização de enfoques e técnicas criativas permite alimentar e melhorar os processos de inovação, que constituem o elemento diferenciador e competitivo das empresas que se posicionam na liderança do mercado. Os benefícios da atividade criativa na empresa podem ser classificados em quatro grandes grupos: Desenvolvimento do negócio, Relação com o cliente, Novas oportunidades, Aumento da competitividade. a) Desenvolvimento do negócio A criatividade pode contribuir para a criação de novos modelos de negócio nos casos onde se faz necessário implementar metodologias de trabalho mais participativas que aumentem a contribuição dos trabalhadores. Em relação à concorrência, a criatividade intensifica a colaboração com organizações que permitam iniciar processos inovadores que, devido à possível escassez de recursos (humanos, financeiros ou ideias) não seriam viáveis de outra forma. A adoção de modelos de gestão mais inovadores aumenta a proatividade no posicionamento no mercado. Um bom modelo para se pensar a criatividade para intensificar e manter seu posicionamento no mercado é a Apple, com seu produto Iphone, que revolucionou o mercado e levou a empresa a duplicar os lucros relativamente aos anos anteriores à sua inserção no mercado. Steve Jobs, cofundador da Apple, previa que o crescimento da empresa se manteria graças ao lançamento de novos produtos revolucionários a cada ano. Desenvolvimento do Negócio Relação com o Cliente Novas Oportunidades Aumento da Competitividade 20 Figura 5. Iphone Fonte: https://www.apple.com/br/shop/buy-iphone/iphone-11/tela-de-6,1-polegadas-128gb- roxo b) Relação com o cliente A melhoria de produtos e serviços a partir da adaptação da estratégia criativa e inovadora da empresa às exigências do mercado permite, não só que as empresas mantenham os clientes já fiéis e que conquistem ainda mais, como também favorece a descoberta de novos nichos de mercado que criem potenciais clientes. Em 1939 um inventor autodidata chamado Earl Tupper desenvolveu um processo de refinamento que tornava restos de material sintético (doados pela empresa Du Pont), um material transparente, flexível, inquebrável, antitóxico, leve e fácil de limpar. Nascia, então a Tupperware. Em 1947, Tupper começou a vender o produto em lojas do varejo. Dois anos depois, a ideia de uma de suas distribuidoras mudou radicalmente a forma da comercialização do produto: ela juntava pessoas em sua casa para uma festa e apresentava os produtos. A ideia deu tão certo que ainda hoje a empresa utiliza-se desta forma de interação com o cliente para a venda de seus produtos. Figura 6. Tupperware Fonte: Disponível em: https://www.comprastupperware.com.br/produto/tupperware-bea-basic- line-colors-12-pecas/. Acesso em 13. Janeiro.2020 c) Novas oportunidades 21 O processo criativo pode permitirdescobrir novos mercados ou formas de penetrar nos mercados conhecidos. A ampliação dos mercados geográficos ou a incursão em novas atividades de negócio dependem da capacidade para desenvolver produtos e serviços inovadores. Em 1968, o departamento de investigação da empresa 3M inventou a cola que é utilizada nos Post-It. Este produto foi o resultado de um trabalho para a criação de uma cola potente, mas que, justamente por ser fraca, foi recusada para tal uso. Em 1974, seis anos depois da recusa, um funcionário da empresa resolveu utilizar essa cola, considerada fraca, para marcar algumas páginas de um livro de hinos da igreja que costumava consultar. Ele compartilhou a ideia e hoje em dia existe, inclusive, uma evolução tecnológica dos Post-It com a forma das janelas de anotação nos programas de informática. Figura 7. Post-it Disponível em www.post-it.com.br/3M/pt_BR/post-it-br/. Acesso em 13 jan. 2020 d) Aumento da competitividade Competitividade é um dos termos mais falados entre empresários, consultores e representantes do governo. A introdução de enfoques criativos na gestão pode representar um maior rendimento devido a uma utilização mais eficiente da tecnologia e de todos os recursos de que uma empresa dispõe. Este tipo de estratégia traduz-se em melhoramentos significativos na capacidade de competir com empresas rivais. A criatividade pode contribuir para a diferenciação de uma empresa e, consequentemente, destacá-la no mercado. Atributos que geram diferenciação incluem qualidade superior, durabilidade, exclusividade por sua utilidade e/ou funcionalidade. A diferenciação, se alcançada, é uma abordagem viável para se obter retornos realmente acima da média, pois proporciona liderança isolada contra a competição, se obtém a lealdade dos consumidores quanto a marca e se reduz a sensibilidade do consumidor quanto ao preço. 22 3. TÉCNICAS E FERRAMENTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE E A GERAÇÃO DE IDEIAS As técnicas criativas são ferramentas que, se aplicadas, proporcionam ao cérebro “visitar” caminhos que normalmente não trilharia. Assim, buscam-se soluções em quantidades bem maiores e também com incrementado grau de originalidade. Mesmo quando um indivíduo tenha capacidades e aptidões criativas ou uma empresa tenha condições para favorecer o fluxo criativo dentro dela, existe uma série de ferramentas e técnicas que facilitam o trabalho da geração de ideias. Estas técnicas podem ser utilizadas para a geração de ideias num sentido mais geral ou com caráter mais específico em função das necessidades da empresa. Neste sentido, podem ser encontradas técnicas que sirvam para diferentes fins, como: a) Compreender o problema que enfrentam; b) Gerar ideias perante uma escassez no fluxo criativo; c) Selecionar ideias existentes; d) Planejar as atividades. As técnicas são classificadas tendo em vista o número de pessoas que são necessárias à sua utilização, podendo ser individuais ou em grupo. Junto com estas classificações, que servem para facilitar a escolha de uma ou outra técnica em função das necessidades concretas que se apresentem, existem uma série de recomendações que farão com que os resultados da utilização das técnicas sejam mais positivos, se for possível: • Adiar o julgamento. Não valorizar ou julgar nenhuma ideia proposta. Permitir a sugestão de qualquer tipo de ideias por mais absurdas que estas possam parecer. Apenas no final do processo de geração serão avaliadas. • Favorecer o pensamento intuitivo. As técnicas criativas são especialmente úteis para situações em que as soluções lógicas e racionais não funcionem. Trata-se de facilitar as ideias aparentemente absurdas e ilógicas a partir dos parâmetros convencionais, dando liberdade ao pensamento lateral e criativo. • Gerar uma grande quantidade de ideias. O objetivo é ter o maior número de ideias possível; não existem ideias más, pois qualquer uma delas pode dar origem a outra que, por sua vez, origine a inovação importante para a empresa. • Dispor de um espaço adequado. Para que existam as condições anteriores, o indivíduo deve sentir-se livre. Esta liberdade é facilitada pela existência, na medida do possível, de uma divisão ampla, aberta ao exterior, uma decoração agradável e uma disposição adequada de cadeiras ou mesas que possibilitem a interação. 23 Figura 8. Exemplo de ambiente de trabalho que estimula a criatividade Fonte: https://www.rsdesign.com.br/o-que-e-um-escritorio-tipo-google/. Acesso em 14 jan. 2020 3.1. Técnicas de criatividade individuais e técnicas de grupo Como vimos, as técnicas criativas podem ser utilizadas tanto de forma individual como coletiva. Descrevo algumas das técnicas mais utilizadas, sendo geralmente mais habituais as que são implementadas de maneira conjunta, pois a geração de ideias a partir de uma perspectiva de grupo, especialmente na empresa, oferece vantagens perante uma perspectiva individual. As principais razões para este fato são as seguintes: • A empresa é uma organização em que trabalham conjuntamente diferentes pessoas e onde a execução dos objetivos passa pela ação de grupo, que é a soma da racionalidade e de inteligência das individualidades que a compõem. Neste sentido, o processo criativo dentro da empresa deve ser também algo partilhado. • O trabalho em equipe cria um efeito multiplicador/sinérgico em que os resultados se vêm consideravelmente melhores do que se fossem realizados de maneira individual. • Estimula atitudes de abertura, tolerância e de escuta ativa das propostas de outros, o que favorece a superação e a melhoria das próprias propostas. • Obtém-se uma visão mais plural e mais rica em perspectivas e experiências dos membros do grupo. • Permite criar uma consciência de grupo. Partilhar de maneira sistemática as ideias de uns e de outros e a aceitação recíproca de propostas, o que gera uma maior coesão e integração dos trabalhadores da empresa. • A vinculação entre pessoas representa um estímulo e uma ajuda para superar os obstáculos no trabalho, oferecendo saídas e alternativas. 24 3.1.1. Técnicas de grupo – Brainstorming O brainstorming ou chuva de ideias é uma ferramenta que consiste em anotar num quadro as ideias que surgem de maneira não sistematizada num grupo de pessoas para que depois possam discutir, avaliar e selecionar a que consideraram a mais adequada para o contexto. Para esta técnica é necessário criar um ambiente propício que favoreça o aparecimento de ideias. O brainstorming favorece o trabalho em equipe, o que contribui para reforçar a colaboração entre pessoas e equipes dentro da empresa. Grande parte das técnicas de criatividade é baseada nesta ferramenta. A utilização desta técnica é recomendada para resolver todo o tipo de situações relacionadas com a necessidade de gerar um grande número de ideias. Pode ser utilizada individualmente. Contudo, recomenda-se o seu uso em grupos de trabalho para maximizar os seus resultados. a) Quando utilizar? Antes da reunião. Recomenda-se que as pessoas convidadas a participar sejam pessoas predispostas a contribuir ativamente com o processo de geração de ideias. Para que isto ocorra, também é necessário dar conhecimento, com antecedência suficiente, do motivo da reunião, para que as pessoas levem algumas ideias previamente preparadas. Início da reunião. Centrar o objetivo da reunião, definindo o foco criativo do brainstorming. Estabelecer o resultado final em termos de número de ideias e o limite de tempo para a apresentação e discussão em comum destas. Recomendações básicas de funcionamento Evitar as críticas, pois todas as ideias, associações de ideias ou até mesmo as ideias absurdas favorecem o processo. O objetivo é gerar o máximo de ideias possível. 25 Figura 9. Brainstorming Fonte: https://neilpatel.com/br/blog/o-que-e-brainstorming/.Acesso em 14 jan. 2020 3.1.2. Técnicas de grupo – Técnica criativa de Disney Esta técnica, desenvolvida por Walt Disney, consiste em examinar a situação em três planos distintos de percepção: o sonhador, o realista e o crítico. Para aplicar esta técnica estabeleça um espaço físico para cada um dos tipos. Em cada espaço deve haver um flip-chart para que as ideias vão sendo escritas na medida em que os ocupantes se revezam entre cada tipo e espaço. No espaço do sonhador, a pessoa deve escrever tudo o que vier à mente, sem regras, julgamentos ou limitações. No espaço físico do realista, a pessoa deve escrever as formas que acredita que transformará os sonhos em realidade. No lugar do crítico, vai avaliar os frutos do trabalho do realista. É ele quem vai avaliar a espontaneidade do sonhador e a organização e exploração do realista. Após serem feitos todos os apontamentos pelo realista e pelo crítico, o sonhador reinicia, considerando o que foi indicado por estes e propondo novas soluções ou adaptações. Este processo se repete até que as ideias propostas se mostrem satisfatórias para todos os personagens. 26 Figura 10. Técnica Criativa de Disney Fonte: SENA, 2020 3.1.3. Técnica Individual: Matriz GUT Priorizar as situações importantes é uma atividade essencial para todos os setores de uma organização. Para isso muitas empresas utilizam a Matriz GUT. Matriz GUT é uma ferramenta de priorização de problemas. Ela auxilia na categorização e na métrica racional para o problema que deve ter atenção primordial. Visa solucionar problemas de gestão, de acordo com o seu nível de importância dentro de uma empresa. GUT é a sigla para as palavras gravidade, urgência e tendência. Este método foi criado por Charles Kepner e Benjamin Tregoe nos anos 80, com o objetivo de priorizar a resolução de problemas complexos nas indústrias americanas e japonesas. Considerando que os recursos organizacionais são limitados, seus criadores entenderam que é preciso escolher com rigor onde eles serão investidos, sob o risco de não atingir os resultados esperados. A Matriz GUT é uma ótima aliada de outros processos de gestão, como Análise SWOT, o Diagrama de Ishikawa e o Ciclo PDCA. Em vista disso, pode ser aplicada em vários processos dentro do meio organizacional, como no planejamento estratégico, gestão de projetos, gestão por processos e na identificação de processos e correção de falhas operacionais. Na Matriz, o grau de importância de um problema é o resultado da multiplicação entre a gravidade, urgência e tendência. Sonhador • Criar • O quê Realista • Organizar • Como Crítico • Avaliar • Equacionar Importância = G x U x T 27 a) Gravidade (impacto): A gravidade é caracterizada como o impacto que um problema pode causar no andamento dos processos da empresa. Essa ferramenta da qualidade também é importante para dar uma direção aos gestores, pois em meio a tantas situações inesperadas e ao trabalho que deve ser executado no dia a dia, é comum que as pessoas não saibam o que fazer primeiro. Os níveis de gravidade são: 1. Sem gravidade 2. Pouco grave 3. Grave 4. Muito grave 5. Extremamente grave b) Urgência (tempo): A urgência corresponde ao tempo ou prazo limite em que um problema deve ser solucionado. O critério de urgência leva em consideração o prazo disponível para realizar o projeto. Quanto menor o prazo, maior a urgência (e vice-versa). Então, ao analisar a urgência você precisa se perguntar: quanto tempo esse projeto pode esperar para ser realizado? Os níveis de urgência são: 1. Sem urgência 2. Pouco urgente 3. Urgente 4. Muito urgente 5. Extremamente urgente c) Tendência (probabilidade de crescimento do problema) A tendência é relacionada à piora de um problema. Este critério leva em consideração a predisposição que um problema tem de se agravar com o tempo. Ao •Fator impacto •É o impacto que um problema pode causar à organização G Gravidade •Fator tempo •Prazo limite para que o problema seja solucionado U Urgência •Fator desenvolvimento •Grau de piora que um problema pode apresentar T Tendência 28 analisar a tendência você precisa se perguntar: se este problema não for resolvido hoje, com qual intensidade ele vai piorar? Um exemplo é o caso de um vazamento num restaurante. Se ele não for contido em até 3 dias, pode rapidamente se transformar em uma infiltração, agravando-se e colocando o restaurante e seus clientes em risco, além da imagem negativa que pode levar e a outros prejuízos, inclusive financeiros. Os níveis de tendência são: 1. Sem tendência de piorar 2. Piorar em longo prazo 3. Piorar em médio prazo 4. Piorar em curto prazo 5. Agravar rápido 3.1.3.1 Como montar a Matriz GUT A Matriz GUT pode ser elaborada tanto em um programa de computador quanto com papel e caneta. Porém, para fins organizacionais, o mais indicado é que se utilize um software como o Excel. Esse programa tem todas as funções necessárias para elaborar uma tabela adequada. a) Liste todos os seus problemas O primeiro passo para a elaboração da Matriz GUT deve ser a listagem de todos os problemas que impedem o bom andamento dos processos organizacionais. É aconselhável que esta etapa seja realizada em equipe, portanto faça um brainstorming. O ponto de vista dos outros funcionários é de extrema importância para que nenhum problema passe despercebido. b) Atribua notas Você deve atribuir uma nota, de 1 a 5, para cada problema que você listou. Sendo que a escala de prioridade dos mesmos é crescente. A tabela abaixo apresenta os critérios que você deve seguir na hora de atribuir a nota. Tabela 1. Notas Nota Gravidade Urgência Tendência 5 Extremamente Grave Precisa de ação imediata Irá piorar rapidamente 4 Muito Grave Muito urgente Irá piorar em pouco tempo 3 Grave Urgente Irá piorar em médio prazo 2 Pouco Grave Pouco urgente Irá piorar em longo prazo 1 Sem Gravidade Pode esperar Não vai piorar 29 c) Classifique os problemas Com a Matriz GUT quase pronta (todos os problemas listados e as devidas notas atribuídas) é hora de finalizar a tabela. Para isto, é necessário multiplicar todas as notas que foram concedidas a cada problema, encontrando o grau crítico da situação. Assim, os problemas que ficaram com maior nota terão prioridade na resolução. Para a resolução de problemas deve ser elaborado um plano de ação com os devidos responsáveis e prazos para a solução de cada item da Matriz GUT. Tabela 2. Modelo de Matriz GUT Problema Gravidade Urgência Tendência Grau Crítico (GxUxT) Prioridades Atraso na entrega da matéria prima 4 4 3 48 2º Falta de capacitação da equipe de vendas 3 3 1 9 3º Defeitos na produção das embalagens 5 5 5 125 1º Aumento no consumo de água 3 2 1 6 4º Fonte: SENA, 2020. A partir do modelo acima podemos identificar que o que necessita prioritariamente de foco é o problema relacionado aos defeitos na produção das embalagens, seguido do atraso na entrega da matéria prima, a falta de capacitação da equipe de vendas e o aumento no consumo de água. Sendo assim, os problemas deverão ser resolvidos seguindo esta ordem de prioridades. 30 4. CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO NO TRABALHO Somos a Sociedade do Conhecimento. Temos acesso a mais informação do que as gerações anteriores. As crianças nascidas nesta geração têm acesso à mais informação que grandes reis e personalidades da antiguidade. A informação, com sua força extraordinariamente multiplicadora, acionada pela mídia eletrônica, com seus inúmeros recursos, provocou uma reformulação global de critérios em relação ao aprendizado e ao acúmulo de informação e conhecimento. Júlio Verne já afirmava: “seja o que for que um homem possa conceber, outros serão capazes de executar”. Ou seja, podemos muito,apesar de nossas limitações. O sentimento de auto realização é uma das principais motivações humanas. Com base nessa premissa, pode-se afirmar, cientificamente, que todo ser humano deseja realizar um bom trabalho. Se não o faz, é por alguma forma de desajustamento, por um desinteresse que reflete frustração, desorientação e falta de adequada supervisão. Ou seja, trabalhos malfeitos refletem um problema que precisa ser corrigido, seja a nível operacional profissional ou a nível pessoal. 4.1 Como estimular a criatividade no trabalho Thomas Edson afirmou que o gênio é 10% de imaginação e 90% de transpiração. A imaginação criativa, no entanto, sem o esforço orientado corre o risco de ser apenas uma fantasia que alguém teve sem pensar na consequência. Partindo do pressuposto de que a criatividade é matéria fundamental torna-se necessário cuidar de seu desenvolvimento sistemático. Sempre existe uma melhor maneira de se executar uma tarefa e uma das condições para o êxito é manter a percepção aberta a novas descobertas e experimentos. Criar e desenvolver o hábito de pesquisar, descobrir as causas, diagnosticar e ampliar o leque de alternativas na solução de problemas, é essencial para renovar o trabalho e aumentar a produtividade. 4.1.1 Fatores que estimulam a criatividade no trabalho: Tenha uma liderança participativa e estimule o diálogo e o consenso; Permita que sua equipe faça pausas durante o expediente; Torne acessível todas as fontes de informação relevantes; Oriente sua equipe para inovação; Possibilite a aplicação das boas ideias; Promova campanhas que estimulem a criação de ideias novas e de equipes empreendedoras; Reconheça sua equipe diante dos êxitos. A experiência demonstra que, por melhores que sejam as intenções, os planos e as normas institucionalizadas, são as lideranças participativas e o clima motivacional 31 que irão permitir deflagrar processos criativos, desenvolver a inovação e o empreendedorismo na empresa. 32 5. SOLUÇÃO CRIATIVA DE PROBLEMAS A solução criativa de problemas é o processo mental da busca por uma solução original e desconhecida para um problema, de forma inovadora e independente. O objetivo é amplificar a criatividade que está latente dentro da pessoa para que ela possa desenvolver pensamentos não convencionais. O processo de solução criativa começa com a definição exata do problema. É imprescindível saber detectar o problema de forma clara e ter a certeza de que se trata realmente de um problema que precisa ser solucionado. Problemas simples podem ter soluções simples e não necessariamente criativas. Por exemplo: a lâmpada queimou. A solução lógica e simples é trocá-la. Problemas complexos muitas vezes exigem soluções arrojadas ou inovadoras. Para resolvê-los, é necessário o uso da criatividade. Uma solução criativa geralmente terá características distintas, que incluem o uso de componentes existentes no problema. Um exemplo exagerado é a série de TV MacGyver (lembra-se?), onde o protagonista improvisa objetos comuns do dia-a-dia para escapar de desastres e derrotar seus inimigos. Após detectado o problema e achada uma solução, o passo final é implementá- la. Aqui deve-se criar um plano de ação, identificando o que será feito, por quem, quando, onde e como. Esse plano deve ser apresentado e explicado a todas as pessoas envolvidas, bem como as que serão afetadas pelas mudanças. Figura 11: Processo convencional para a solução de problemas Fonte: SENA, 2020 O princípio da solução criativa de problemas inicia na separação dos pensamentos em criativos e críticos. O pensamento criativo ou divergente é o início da produção. Quando julgamos excessivamente as ideias criativas enquanto elas surgem, corremos o risco de perdermos a inspiração para prosseguirmos com a criação, e novas conexões mentais são bloqueadas. Já o pensamento crítico ou convergente é a fase onde o foco está na avaliação ou julgamento do que já foi produzido e em como isso pode atender seus objetivos. A ideia básica, então, é antes divergir para depois convergir. Os conceitos de pensamento divergente e pensamento convergente foram criados pelo psicólogo Definir o problema Definir o nível do problema Definir o tipo de solução Implementar a solução 33 americano Joy Paul Guilford, muito lembrado também por seu estudo psicométrico da inteligência humana. Pensamento divergente então, é aquele que não se importa com a solução certa inicialmente. O importante, nesta etapa é a quantidade de ideias e soluções que podem ser geradas através de múltiplas combinações e possibilidades. Já o Pensamento Convergente é aquele que converge para ter a melhor solução para o problema. É quando se instala a preocupação com a avaliação crítica da solução. 5.1 Como usar a criatividade para obter soluções inovadoras a) Não avaliar as ideias enquanto elas estão sendo desenvolvidas Um grande equívoco de quem está procurando explorar sua criatividade é tentar corrigir suas ideias ao mesmo tempo em que está pensando na solução. Ao se escrever um texto, por exemplo, é instinto do escritor corrigir a ortografia a cada frase ou parágrafo. Entretanto, o momento inicial de pensamento é sempre fundamental para se produzir o máximo de ideias possível. b) Fazer pausas e repousar É praticamente impossível elaborar criações produtivas o tempo todo, sem intervalos. Pausas e descanso são necessários para que haja energia e disposição suficiente, pois isto contribui com o processo criativo. O corpo é capaz de suportar a exaustão física, mas o cérebro não funciona da mesma forma. Cerca de 20% de todas as calorias que consumimos durante o dia é destinado ao cérebro. Tendo gasto essas calorias, ele precisa de repouso para se revigorar e voltar a trabalhar de forma eficaz. O livro “The Power of Full Engagement”, de Jim Loehr e Tony Schwartz, afirma que, enquanto muitos acreditam que deveriam gerenciar melhor seu tempo, eles precisam, na verdade, gerenciar sua energia para obter alto desempenho. Gerenciar a energia significa reconhecer que logo após os picos de produção é necessário descansar de forma que o corpo e a mente estejam prontos para uma nova demanda de processo criativo e produtividade. Com esse conceito em mente, o sociólogo italiano Domenico De Masi desenvolveu a noção do “ócio criativo” (1995), ou seja, a capacidade de se produzir insights enquanto se está ocioso. O ócio criativo não se trata de ficar à toa, levado pela preguiça, mas de deixar seu cérebro trabalhar inconscientemente naquilo que você acabou de pesquisar. Assim, ideias surgirão de forma espontânea enquanto você repousa. “O objetivo da vida não é o domínio sobre os outros, mas a felicidade no viver. E ainda assim, muitos governantes educam os cidadãos para a guerra, mas descuidam em educá-los para o ócio e para a paz.” (Domenico De Masi, O ócio criativo, 1995) http://amzn.to/2ga7Sht 34 c) Considerar frustração e dificuldade como impulsionadores Em 1975, o pianista americano Keith Jarrett foi convidado por uma garota alemã de 17 anos para fazer um concerto em Colônia, na Alemanha. Mas o piano dado ao músico estava em péssimas condições, o que o deixou nervoso e fez desistir da performance. Conhecido pelo rigor quanto aos detalhes técnicos e às condições de suas apresentações - várias vezes interrompeu um concerto para reclamar das tosses na plateia e dos flashes dos fotógrafos, inclusive abandonando espetáculos pela metade -, Jarrett cogitou cancelar o recital. Foi convencido a entrar em cena pela organizadora do evento, Vera Brandes – na época a mais jovem produtora de shows da Alemanha, com 17 anos. Apesar desse conturbado início, a performance foi excelente. Para compensar as deficiências do piano e realçar as notas graves, o solista investiu mais energia em sua apresentação do que comumente o fazia. O Concerto de Colônia,como ficou conhecido o evento, é até hoje o álbum mais vendido da história do gênero, com mais de 3,5 milhões de vendas. A razão de o pianista ter tocado tão bem é que o piano estava tão debilitado que foi necessário se esforçar ao máximo para compensar o déficit. Muitos acham que a abundância de recursos é a solução para seus problemas, mas a realidade é que é a fome que faz as pessoas caçarem a comida. Dificuldades geram oportunidades e inovações. Um estudo realizado pelo psicólogo Daniel Oppenheimer atesta este fato. Durante um tempo ele pediu que professores do Ensino Médio dessem as mesmas apostilas para seus alunos, porém metade delas com uma fonte boa e a outra metade com uma fonte que dificultava a leitura. Os alunos que receberam o material com uma fonte pior tiveram um desempenho melhor do que os demais, já que eles demoravam mais para ler e acabavam prestando mais atenção no material. d) Adicionar aleatoriedade e deixar a zona de conforto Um estudo feito pela psicóloga americana Shelley Carson que testou seus alunos na Universidade de Harvard para verificar a qualidade dos seus filtros de atenção, quebra alguns paradigmas. Ela verificou que muitos dos seus alunos tinham dificuldade para se concentrar, se distraindo facilmente quando eram interrompidos com as visões e sons do mundo ao redor. O que Carson descobriu com este estudo é que isso não é uma desvantagem, pelo contrário. Aqueles com filtros mais baixos conseguiram um desempenho de longo prazo maior do que os demais. As distrações eram um desafio para a criatividade dos alunos e os faziam pensar aleatoriamente. Isso nos leva a pensar que a solução de problemas pode ser mais efetiva quando se inclui elementos aleatórios. Dentro da zona de conforto ou acomodação não é possível desenvolver criatividade, já que ideias novas nunca surgirão daí. A novidade de pensamentos vem atrelada à novidade de locais e experiências. Pense em um trabalho em grupo na faculdade, por exemplo. Em qual dessas situações você esperaria que surgissem mais ideias originais: em um grupo onde só 35 tem amigos que conversam todos os dias sobre os mesmos assuntos, ou no grupo onde pelo menos um membro não conhece os demais e traz novos pontos de vista? Um exercício simples para adicionar aleatoriedade à uma situação: quanto tiver um problema, pegue um livro qualquer, abra em uma página aleatória e escolha algum substantivo aleatório. Experimente usar essa palavra na construção do processo de resolução do seu problema, pensando em soluções que a contenham. e) Use a estratégia do constrangimento Algo muito comum quando alguém se vê em situações constrangedoras ou que lhe causam vergonha é o choque da realidade. Sentir-se constrangido, por pior que seja a situação, pode nos tirar da zona de conforto. Você pode criar uma lista com uma série de instruções inusitadas para aplicar em sua equipe de trabalho, como tomar uma atitude disruptiva e imprevisível qualquer, trocar o sapato com alguma outra pessoa ou definir qual sua característica mais vergonhosa e amplificá-la. 5.2 Pensamento lateral A expressão "Pensamento Lateral" foi criada pelo escritor e psicólogo maltês Edward de Bono e representa uma abordagem sistemática ao pensamento criativo, fazendo uso de técnicas que podem ser utilizadas de forma deliberada. As ferramentas desta abordagem são baseadas diretamente no comportamento do cérebro humano: o comportamento das redes neurais. Assim, o Pensamento Lateral é uma maneira de pensar que procura soluções para problemas complexos utilizando métodos não convencionais ou elementos que normalmente seriam ignorados num raciocínio lógico. O inverso do pensamento lateral é o pensamento vertical ou lógico-critico. Ele está baseado na ruptura de percepções que o modelo auto organizável do cérebro desenvolve. O sistema cerebral estabelece uma sequência de atividades com as primeiras informações que chegam e com o tempo essa sequência passa a ser uma espécie de caminho preferido ou atalho. Com o pensamento lateral o grupo pensa de modo comum em determinada situação e depois muda de direção quantas vezes forem necessárias sem que o foco se perca. Quando se é capaz de fazer o grupo pensar de forma coletiva, a capacidade de pensamento do grupo é amplificada. Algumas estratégias que podem ser adotadas são: Questionar tudo, inclusive as certezas; Proibir julgamentos na fase de pensamento criativo; Fazer o brainstorming, analogias e simulações de problemas reais. 36 5.2.1.Como utilizar o pensamento lateral para encontrar a solução de um problema Imagine que você esteja preso em um quarto e que existem duas saídas. A primeira leva a uma sala que tem uma porta com um sol escaldante que o preenche. Caso resolva atravessá-la, esse sol irá queimar você em questão de segundos. A segunda saída leva a uma sala onde há um elevador com um leão faminto dentro. Vamos pensar sobre este problema a partir dos 5 passos propostos por Shane Snow, autor de Smartcuts: How Hackers, Innovators, and Icons Accelerate Success, para treinar essa capacidade: a) Liste os pressupostos Quando confrontado com uma pergunta, problema ou desafio, escreva as suposições inerentes à pergunta. No caso do exemplo “do quarto”, a lista poderia incluir o seguinte: Você quer sair do quarto Você tem que escolher uma das duas opções Você tem que fazer algo agora – Saída 1: você vai morrer, não importa o que aconteça – Saída 2: você vai morrer, não importa o que aconteça b) Verbalize o que está “convencionado” Em seguida, pergunte-se: “Como uma pessoa comum abordaria esse problema?” Procure mapear as soluções óbvias e diretas. Então pergunte a si mesmo: “E se eu não fosse ou não pudesse ir por esse caminho?” c) Pergunte-se Pergunte a si mesmo: “E se eu pudesse redefinir a pergunta?”. Reorganize as peças, como sugere De Bono, para formar um novo cenário. No cenário você está preso no quarto, em vez de “Qual saída devo usar?”, você pode reformular a pergunta para: “Eu irei passar por uma delas?” ou “Será que isso realmente me matará?” ou “Eu preciso mesmo passar por uma delas?”. d) Comece voltando para trás Muitas vezes a rota para resolver um problema é revelada quando você começa primeiro com a solução e em seguida volta para trás. Por exemplo, faça a pergunta: “Como eu entraria em um quarto trancado que estivesse conectado a uma sala que tem um sol?” 37 e) Mude a perspectiva Por fim, uma das razões pelas quais a inovação acontece frequentemente quando uma empresa entra em uma nova indústria, ou quando grupos diferentes se chocam uns com os outros, é o fato de trazerem novas perspectivas. Para começar pensando lateralmente finja que você é alguém tentando resolver um problema. Se você fosse um mágico, ou um cientista, ou um atleta – como você escaparia da sala com sol escaldante? Ou como o leão responderia a essa pergunta? Enfim, já conseguiu solucionar o problema do quarto? A solução mais óbvia seria: espere o sol se pôr e depois entre na sala onde, antes, lá estava ele. Figura 12: Pensamento vertical e pensamento lateral Pensamento Vertical: Pensamento Lateral Fonte: SENA, 2020 38 6. O AMBIENTE INOVADOR E A COMPETITIVIDADE ORGANIZACIONAL Entende-se que a criatividade e a inovação são, atualmente, os elementos básicos da cultura organizacional que mais ganharam relevância na atual “era da informação”, mais precisamente a partir de 1991. Permitiram às empresas e países não só uma nova dimensão de desempenho, mas também “enxergar o presente pelo olhar do futuro”. A cultura organizacional sofreu forte impacto do mundo exterior e passou a privilegiar a mudança e a inovação, voltadas para o futuro e para o destino das organizações. As mudanças passaram a ser rápidas e velozes, sem a continuidade com o passado, trazendo um contexto ambiental de turbulências e imprevisibilidades. Como jádizemos, inovação é a criatividade posta em prática, a concretização de ideias novas. Não é possível inovar sem criatividade. E a criatividade sem inovação nada transforma. A criatividade e a inovação traduzem-se na exploração bem-sucedida de novas ideias, essenciais para sustentar a competitividade e a geração de riquezas. Um país, uma empresa ou qualquer outra organização que almeje manter-se à frente de seus competidores, precisará de sistemas inovadores e criativos. A inovação bem-sucedida requer bom gerenciamento, finanças apropriadas, e acima de tudo, um clima organizacional estimulante, que possibilite criar vantagens; e não se trata apenas de inovações científicas ou criação de demandas inteiramente novas, com foco total nos clientes e consumidores potenciais, mas em tudo: como se executar os serviços, como vender, como posicionar o produto no mercado, entre outros. Atualmente, as organizações incapazes de se redescobrirem ou de se reinventarem continuamente (em termos de novos produtos e serviços), provavelmente irão desaparecer. Em face das organizações empresariais terem o desafio de enfrentar, nos dias de hoje, um dos ambientes mais hostis e competitivos que não haviam experimentado anteriormente, posso ressaltar que as atitudes, os valores e as percepções devem mudar para poderem se adaptar a uma nova organização econômica mundial. Todas essas mudanças devem ocorrer dentro de um clima organizacional favorável ao aprendizado, com contatos amigáveis, descontraídos, e com os quais as informações possam circular sem restrição, onde as ideias não devem ser “sufocadas”. Portanto, a criatividade deve ser considerada como a geração de novas ideias, e a inovação como a materialização dessas ideias. Criar, inovar e desenvolver conceitos e modelos de modernização é uma questão de sobrevida, básica para o aprimoramento da gestão e da obtenção do oxigênio necessário à continuidade do negócio. A inovação é o resultado da criatividade empregada na condução e gerenciamento de todos os seus processos. Agindo e trabalhando assim, as empresas acumulam vantagens competitivas, reduzindo as possibilidades fracassos e falências. 6.1. Como as empresas devem buscar a inovação 39 Muitas empresas que hoje são símbolos de inovação começaram copiando. Ou seja, começaram seguindo modelos da concorrência e melhorando processos e produtos. No século 19, as empresas americanas copiavam as inglesas. Nos anos 50, as japonesas copiavam as americanas. Nos anos 80, as empresas coreanas copiavam as americanas e as japonesas e assim segue-se até hoje. Analisar a concorrência, os produtos e processos que tem dado resultado em outras empresas e aplicar um diferencial pode ser uma forma muito eficaz de inovação. Mas não basta copiar e melhorar um produto para lança-lo no mercado. É necessário ter um processo estruturado e organizado de inovação. É importante destacar que lançar um novo produto não quer dizer, necessariamente, inovar. Muitas vezes a inovação encontra-se em processos internos, nas operações ou até mesmo na gestão de pessoas. Essas ações também podem gerar resultados exponenciais. Afinal, ao melhorar algum processo, reduzir custos e agregar qualidade ao produto ou serviço, ocorre também a criação de uma nova percepção por parte do consumidor e fomenta ainda mais o acesso aos seus produtos e serviços, por quem precisa deles. Uma forma de inovar é também trabalhar no sentido de transformar os colaboradores de uma organização em “intraempreendedores”, ou seja, fazê-los sentirem-se parte fundamental da grande engrenagem a tal ponto de desejarem ser criativos e inovadores para que, tanto a empresa quanto profissional, possam crescer. A inovação é um dos elementos do combustível que tornará os produtos e serviços de uma empresa mais competitivos. Seja a inovação um processo realizado para dentro ou para fora da empresa ou nos dois sentidos. Há muitas maneiras de uma empresa buscar a inovação, mas destaco aqui cinco formas de como inovar, ou ao menos, despertar esse sentimento em uma organização: 1. Questionar sua equipe: como podemos fazer o que fazemos de maneira diferente, para melhor? Por mais que as pessoas, em boa parte das organizações, sejam remuneradas para trabalhos operacionais e manuais, muitas delas esperam oportunidades de oferecer suas mentes para o trabalho. 2. Analisar o que os concorrentes estão fazendo. Às vezes, quando alguém dá uma ideia, outra pessoa acaba usando-a como trampolim para algo muito maior. Então, ao invés de deixar as boas ideias para o concorrente, é importante usá-las em favor da própria organização. 3. Fazer o fluxo reverso. Partir da necessidade do cliente, analisando como ele gostaria de interagir com o produto ou serviço da empresa; 4. Investir em pesquisa com pessoas que não conhecem o produto, como resolveriam uma determinada situação, na qual seu cliente em potencial se aplica; 5. Criar uma rede de relacionamento com superiores e parceiros que geram produtos ou serviços correlatos ao que você comercializa. Às vezes algum 40 parceiro de processo percebe nuances do mercado que a organização não se atentou, pelo fato de que este é responsável por apenas uma parte do processo. Um exemplo de produto existente melhorado são as embalagens de mostarda ou ketchup que tornaram mais prática a utilização pelo consumidor invertendo a posição da tampa (tampa para baixo) que facilita a utilização até o final do produto. Figura 13. Reformulação das embalagens de condimentos https://www.trabalhosescolares.net/reformulacao-da-embalagem. Acesso em 16 jan. 2020 6.2 Como identificar um profissional inovador De acordo com Dieter Kelber, diretor-executivo do Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual (2009) “a busca por um profissional inovador, que trará soluções para diminuir gastos ou aumentar o lucro, é cada vez maior nas empresas”. No processo de seleção, é comum que o recrutador avalie características da pessoa que possam indicar se ela é ou não inovadora em seu trabalho. “Inovar é pegar algo que já existe e, em cima disso, fazer algo que não existe. Transformá-lo em uma coisa melhor. Isso tem a ver com criatividade, percepção e visão, e existem dinâmicas e jogos para ver se a pessoa é criativa, ou se a sua personalidade é mais fechada ou de rebeldia.” Dieter Kelber Extraído: https://administradores.com.br/artigos/o-que-e-inovacao Acesso em 24.12.19 Dieter Kelber ressalta que a “inovação dificilmente está naquela pessoa fechada, centralizada e metódica, mas sim no profissional mais aberto a novas experiências, e é isso que as empresas procuram identificar no processo seletivo”. Uma forma comum de avaliar se o candidato ao emprego é inovador é questioná-lo sobre a sua motivação. Mas o principal fator que as empresas levam em consideração no processo seletivo, é a experiência profissional que é uma característica que se adquire com o tempo. Um profissional sem experiência pode até ter boas ideias, mas só vai ser inovador em um contexto em que se sinta motivado e estimulado a aplicar suas ideias. 41 6.3. Como ser um profissional inovador Apesar de a inovação ser uma característica que o profissional irá adquirir com o tempo, considera-se que há algumas atitudes que podem contribuir. Por exemplo: Pesquisar sobre o contexto, o cliente ou a dificuldade existente; Fazer propostas viáveis e que tragam resultados; Procurar referências sobre o processo de ascensão e declínio de um produto ou serviço no mercado; Aprender a lidar com riscos; Fazer coisas que não são habituais no dia-a-dia do profissional (por exemplo: assistir uma palestra de biologia, embora trabalhe com engenharia civil). 42 7. PROCESSOS MENTAIS ASSOCIATIVOS E INOVAÇÃO Os chamados “processos mentais” interagem com a nossa vida em três grandes áreas:o saber, o sentir e o fazer. Estes processos surgem logo após o nascimento e vão se desenvolvendo na medida em que amadurecemos. Isto para que consigamos nos relacionar com a realidade física e social. O primeiro dos processos a ser definido é o chamado processo cognitivo, que está relacionado com o saber, com o conhecimento, utilizando sempre a informação do meio interno e externo. Dentre os processos cognitivos estão: • A percepção; • A memória; • A aprendizagem. Este último, a aprendizagem, tem como finalidade ajudar a desenvolver as capacidades nos indivíduos para que eles possam estabelecer relações com o meio em que vivem. Desta forma, a mesma está ligada à história do homem, à sua construção enquanto ser social com capacidade de adaptação a novas situações, o que inclui, inexoravelmente, o processo criativo. E é por isso que falar sobre aprendizagem quando estamos falando de criatividade e inovação faz todo sentido. O processo de criatividade é um processo que passa pelo nível da cognição. Está diretamente ligado ao que já conhecemos e àquilo que incorporamos cotidianamente às nossas experiências. Cada vez que assimilamos mais informação e construímos conhecimento, aumentamos nossa gama de associações e nossa capacidade criativa porque aumentamos nossa bagagem, ampliando nossa rede de possibilidades. Portanto criar faz parte do processo de aprendizagem e aprender nos estimula à criação. Os processos mentais associativos são aqueles onde ocorre a associação de ideias - das mais simples às mais complexas. Isso quer dizer que, para resolver um conteúdo complexo, precisamos primeiro compreender as partes simplificadas do contexto. Isso acontece quando, ao recebermos novas informações e estímulos, comparamos e combinamos com elementos internos que já aprendemos. Esse processo pode resultar na reelaboração e transformação de padrões e pensamentos e favorecer o surgimento de uma nova ideia. 7.1 Mapa mental Mapa mental é um método dinâmico que tem como objetivo estimular e explorar recursos cerebrais, como a memória e o aprendizado. Está relacionada à gestão de informações, ao conhecimento e à capacidade intelectual no que diz respeito à solução de problemas e estruturação e consolidação da memória a longo prazo. Em suma, é uma estrutura lógica visível do nosso próprio pensamento. É uma ferramenta simples e visual criada pelo psicólogo inglês Tony Buzan, na década de 70, baseado no fato de que elementos como cores, desenhos, símbolos e informações segmentadas ajuda o cérebro a raciocinar e gravar dados com mais 43 facilidade. Promove também a associação de novas ideias a partir das imagens que vão sendo construídas e visualizadas. Podemos compreender o mapa mental como uma árvore cujos galhos consistem em informações concisas que saem de um eixo principal, como o modelo a seguir. Figura 14 – Exemplo de Mapa Mental Fonte: www.manualdasecretaria.com.br/mapa-mental/ Acesso em 15. Janeiro.2020 7.2 Utilidades do Mapa Mental Os mapas mentais procuram representar, com o máximo de detalhes possíveis, o relacionamento existente entre informações que normalmente estão fragmentadas e difusas no ambiente operacional ou corporativo. Ela ilustra ideias e conceitos, dando-lhes forma e contexto, traçando os relacionamentos de causa, efeito, simetria e/ou similaridade que existem entre as ideias e as torna mais palpáveis e mensuráveis, sobre os quais se possa planejar ações e estratégias para alcançar objetivos específicos. O mapa mental se difere principalmente daquela anotação puramente linear, quando anotamos no caderno tudo o que consideramos importante. É também uma ferramenta de brainstorming e de auxílio na gestão estratégica de uma empresa ou negócio. Por ser um método de associação mental, o mapa mental não estimula o raciocínio lógico, apesar de se utilizar dele na elaboração. O mapa mental estimula o pensamento lateral e a aleatoriedade. 44 7.3. Aplicação do mapa mental em organizações e projetos: É possível usar o mapa mental em diversos contextos, tais como: Rotina diária – para organizar as atividades do dia, a preparação de uma viagem, as informações em uma palestra, o resumo de um relatório, etc.; Identificação de oportunidades – o mapa mental pode servir ao mapeamento do mercado, à análise de tendências, às demandas do consumidor, à análise da evolução tecnológica, de competição, à definição de perfis de clientes; Planejamento do negócio – útil na elaboração de um plano de negócio ou de um projeto; Planejamento de marketing e vendas – o planejamento de eventos e a criação de conteúdo para um site, por exemplo, podem ser mais bem estruturados com um mapa mental; Planejamento de recursos humanos –a ferramenta pode ser utilizada para elaborar questões para entrevista de emprego, avaliar desempenho dos colaboradores, etc.; 7.4 Como fazer um mapa mental: a) Material necessário: • Papel em branco • Canetas coloridas ou marca-texto (utilizar cores diferentes ajuda o cérebro a associar e ativar o conteúdo na memória) b) Defina o tema principal Antes de começar a fazer seu mapa mental, é necessário definir o assunto ou tema principal a ser trabalhado. c) Busque informações Para elaborar um mapa mental é preciso ter conteúdo. Será difícil resumir e condensar um assunto se seu conhecimento sobre ele for superficial. Por isso, compreenda sobre o assunto, busque informações sobre o projeto, suas implicações, os resultados que espera, os riscos, etc. Só assim, o mapa mental será realmente útil na elaboração de um novo projeto. d) Comece a fazer Elemento central: No centro do papel em branco escreva ou desenhe o tema principal. Como nosso cérebro não pensa de maneira linear, a forma tradicional e também linear de escrever não é tão efetiva quando você quer raciocinar sobre algo. 45 O mapa mental então vai funcionar a partir de um elemento central que irradia do centro em direção às bordas, de forma a respeitar o funcionamento natural do cérebro. Desenho: Por ser constituído por ramificações, o tema central terá subtópicos que, por sua vez, terão outros subtópicos que se conectarão em até 4 níveis. É importante utilizar setas, linhas ou figuras que sejam mais adequadas e interessem ao seu cérebro. As informações devem ser organizadas de forma sucinta e criativa. Evite fazer linhas retas para essas conexões, pois estruturas comuns podem entediar seu cérebro. Desenhos e símbolos também são importantes para melhorar a memória e a criação, por isso faça associações com símbolos e outras imagens. Palavras-Chave: Evite usar frases inteiras ou com mais de 2 palavras para montar as ramificações que conectarão seu mapa mental pois ocupará espaço e não facilitará a memória. Figura 15. Estrutura básica de um mapa mental Fonte: https://www.gp4us.com.br/como-criar-um-mapa-mental/. Acesso em 26 jan. 2020. 46 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 2006. DE BONO, Edward. “O pensamento lateral”. Rio de Janeiro: Record - Nova Era, 1995. DE MASI, Domenico. O ócio criativo. Tradução de Léa Manzi. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. DRUCKER, P.F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. Editora Pioneira – São Paulo, 1994. KOUNIOS, & BEEMAN, Mark. The Eureka Factor: AHA Moments, Creative Insight, and the Brain. Random House, 2015. LAND, GEORGE & JARMAN, BETH. Breakpoint and Beyond: Mastering the Future Today.