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Apresentação Caro aluno (a), De acordo com a Lei n° 8.234/91, que regulamenta a profissão nutricionista, a organização, o planejamento, o controle, a supervisão e avaliação das etapas produtivas em uma unidade produtora de alimentos, são atividades inerentes do nutricionista. Sendo assim, o conhecimento aprofundado das legislações sanitárias vigentes, o domínio de técnicas e atribuições que envolvam as atividades relacionadas, são intrínsecas a formação do profissional. Em áreas de alimentação coletiva, essas atribuições englobam diversas atividades, que vão além do planejamento de um cardápio. Ao nutricionista se atribui a gestão de pessoas, de compras, financeiros, de qualidade, de resíduos, ações de vigilância de saúde, controle integrado de pragas urbanas, o controle da água e tantas outras que impactam direta ou indiretamente na vigilância ambiental. Aliado ao tamanho da responsabilidade inerente ao profissional, está o desenvolvimento de novas habilidades, portanto o nutricionista atualizado, capacitado e preparado para as exigências mercadológicas atuais, se destacam. Estas atividades, a cada vez mais, asseguram a importância e a necessidade da presença de um nutricionista consciente de que a alimentação saudável só pode ser assim considerada se for também sustentável. Para isso, os aspectos de sua produção, processamento, comercialização e consumo devem respeitar o meio, ou seja, todo o ambiente que o cercam como, solo, água, descarte correto dos resíduos, controle de pragas e vetores urbanos e o uso consciente dos recursos naturais, que serão descritos neste material. Esta obra, tem como objetivo principal proporcionar ao nutricionista um conhecimento ampliado de assuntos pertinentes aos métodos mais adequados de controle das principais pragas urbanas, bem como os padrões adequados de qualidade da água, que podem afetar direta e indiretamente os processos produtivos de áreas de manipulação de alimentos, meio ambiente, e que devem ser associados a vigilância ambiental. Para tal, o material está dividido em cinco (5) unidades, conforme apresentado a seguir. A Unidade 1 aborda os conceitos introdutórios de gestão ambiental, sustentabilidade e vigilância ambiental, para que nas unidades seguintes seja possível desenvolver os temas relevantes sobre ao papel do nutricionista e das unidades produtoras de alimentos. Na Unidade 2, daremos início ao conhecimento das principais pragas urbanas, sua biologia, seu ciclo de vida seu comportamento, os fatores que favorecem a sua proliferação, e que dificultam seu controle. Na Unidade 3, daremos início ao estudo das legislações sanitárias que asseguram e norteiam o emprego do controle integrado de pragas urbanas e o controle de qualidade da água, nas esferas federais, estaduais e municipais, bem como as legislações que regulamentam as empresas prestadoras de serviços na realização desses controles. Já na Unidade 4, iniciaremos os estudos sobre a avaliação de qualidade da água regulamentados no Brasil, bem como os controles que devem ser seguidos nas unidades produtoras de alimentos com o intuito de garantir a sua eficácia e evitar a contaminação de origem alimentar. Para finalizar na Unidade 5, discutiremos sobre a vigilância ambiental e as suas relações diretas e indiretas com as unidades produtoras de alimentos, cujo controle irá possibilitar o menor impacto ao meio ambiente. Neste momento, o(a) convido, a se dedicar na construção da ampliação de seus conhecimentos. Siga as recomendações para o desenvolvimento da disciplina, para que isso possa te conduzir a ser um profissional seguro, autônomo e de excelência. Ótimos estudos! Sumário Introdução...................................................................................................................... 4 1.As Principais Pragas Urbanas (Baratas, Formigas, Moscas E Ratos) Encontradas .................................................................................................................. 7 1.1. A Biologia e o Ciclo de Vida das Principais Pragas Urbanas e os Fatores que Favorecem a sua Proliferação e que Dificultam o seu Controle................. 8 1.1.1. Insetos ....................................................................................................... 8 1.1.2. Baratas....................................................................................................... 8 1.1.3. Formigas.................................................................................................. 11 1.1.4. Moscas..................................................................................................... 14 1.1.5. Ratos ........................................................................................................ 15 2.Legislação Sanitária e o Controle Integrado das Principais Pragas Urbanas ........................................................................................................................ 20 2.1. Legislações Sanitárias Vigentes para o Controle Integrado das Principais Pragas Urbanas nas Unidades Produtoras de Alimentos............... 21 3.O Uso, a Qualidade e Monitoramento da Água Utilizada nos Processos de Produção de Alimentos............................................................................................ 26 3.1. Avaliação da Qualidade da Água Utilizada nos Processos de Produção de Alimentos ............................................................................................................. 36 4.Vigilância Ambiental e as Relações Diretas e Indiretas com as Áreas Produtoras de Alimentos ......................................................................................... 38 4.1. O Desperdício de Alimentos nas Unidades Produtoras de Alimentos . 41 4.2. A Importância da Reciclagem e do Reaproveitamento dos Resíduos Gerados nas Unidades Produtoras de Alimentos ............................................... 43 4.3. O Uso Racional da Água nas Unidades Produtoras de Alimentos ....... 47 4.4. O Uso Racional da Energia Elétrica nas Unidades Produtoras de Alimentos ................................................................................................................... 48 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 50 4 Introdução Ao contrário do que muitos pensam, o assunto “gestão ambiental” não é modismo dos séculos XX e XXI. De fato, o assunto começou a ser destaque a partir de 1960, depois de ameaças globais, como por exemplo, a erosão da camada de ozônio, o aquecimento do planeta, que incluíram a questão ambiental na lista das grandes discussões internacionais. No final da década de 1960, segundo Castells (2008), os movimentos ambientalistas, surgiram ligados aos organismos que promoviam ações que valorizavam o meio ambiente e a natureza. O objetivo dos organismos, era a garantia da qualidade de vida e da questão ecológica, com um olhar crítico aos agentes poluidores, ao crescimento das indústrias, e o crescimento global desenfreado. A partir daí, o termo “sustentabilidade” que anteriormente era muito ligado a questão ambiental, surge da plena necessidade da conciliação entre o progresso de utilização dos recursos naturais, com a manutenção e sobrevivência das futuras gerações. Com o crescimento desordenado, o planeta Terra já apresentava sinais claros e fadiga e devastação. Com o passar dos anos, a sustentabilidade tomou um contexto mais amplo, obtendo como foco principal ser um tema transdisciplinar que avança por diversas áreas e aborda diferentes linhas de pesquisa (MENDES, 2021). A sustentabilidade segundo Elkington (2001) é denominado Triple Bottom Line, os três pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. Segundo Mendes, 2021 a vertente ambiental procura dar enfoque às questões maispreocupantes da ecologia, o cuidado com o planeta por meio da proteção ambiental, da utilização dos recursos renováveis, da ecoef iciência, da gestão de resíduos e de riscos. O pilar econômico procura alinhar os conceitos de prosperidade e crescimento econômico com resultados econômicos produtivos, melhoria na competitividade e melhores relações de mercado, como entre clientes e fornecedores. O último pilar, o social, começou a ser mais discutido no início do século XXI. Está ligado à questão de dignidade humana, como direitos humanos, direito dos trabalhadores, envolvimento de comunidades, transparência, ética e postura coerente dos indivíduos e das organizações (MENDES, 2021. p.200). 5 Sendo assim, ao unir o elemento econômico mais o ambiental, são favorecidos: o uso eficiente dos recursos, a eficiência energética e a preocupação com o clima global. Alinhado a economia e o elemento social, emergem os valores (treinamento, desenvolvimento e empregabilidade e incentivo às economias locais). Já a união dos elementos ambiental e social: vem à tona a saúde, a seguridade, a legislação e as preocupações públicas como prioridades. É justamente nesse momento, que a vigilância ambiental surge, e algumas ações prioritárias a geração de informações no campo da vigilância ambiental, merecem destaque conforme descreve Funasa (2000), como o controle de animais peçonhentos, vetores, de hospedeiros, do reservatório de água e da qualidade da água para o consumo humano que representam os fatores biológicos a serem monitorados. Somados a estes, outros fatores passam a monitorados, pois podem interferir na qualidade da água, como os contaminantes: químicos, físicos e ambientais, e ainda os riscos resultantes de acontecimentos naturais como os desastres naturais e os acidentes com produtos perigosos. Não é novidade para um bom profissional e um cidadão consciente que o uso indiscriminado, predatório da natureza, e que a geração de poluentes no meio ambiente são questões importantes, e merecedores de foco e atenção. Sem sombra de dúvidas, vivemos em um período de conflitos antagônicos onde temos por um lado o crescimento e o desenvolvimento das indústrias, e consequentemente da geração de poluentes, e de outro, a busca incansável pela necessidade de preservar o planeta em que vivemos. Mas existe a possibilidade de conciliar os dois movimentos de maneira a se restringir o impacto no meio ambiente? A resposta para este questionamento, é sim! Especialistas apontam que é possível se criar meios e estruturas que possam possibilitar um menor impacto ao meio ambiente. É claro que para que isso aconteça, investimentos, estudos e treinamentos devem acontecer com toda a cadeia envolvida no processo. Foi justamente por conta destas modificações ambientais que aconteceram durante todo o processo de crescimento e urbanização das cidades, que causaram alterações no meio ambiente, e consequentemente proporcionaram condições ideais para a aproximação entre humanos com outros animais. O fenômeno da sinantropia, é uma condição indesejável que foi gerada a partir dessas modificações, e se trata da 6 aproximação entre humanos, animais e insetos. Ou seja, homem interveio, se aproximou de espaços e gerou “condições favoráveis” para o crescimento e aproximação desses animais e insetos. Em uma unidade produtora de alimentos, várias “condições favoráveis” podem ser citadas, fortalecendo a ligação comensal entre o homem e algumas espécies de pragas no meio urbano. Essas condições, proporcionam a elas elementos indispensáveis à sua preservação, ou seja: abrigo, alimento e água (ZUBEN, 2006). No capítulo a seguir, vamos aprofundar os estudos sobre as principais pragas, as condições favoráveis e os fatores que possam dificultar o seu controle. Bons estudos! 7 1. As Principais Pragas Urbanas (Baratas, Formigas, Moscas E Ratos) Encontradas As pragas urbanas são as principais espécies de animais que não convivem em seu habitat natural e muito bem se adaptaram no meio urbano. As várias modificações impostas pelo homem, geraram condições favoráveis, e elas encontraram formas de se abrigar, se manter e assim criar o seu próprio novo habitat (SILVA JUNIOR, 2005). Assim como todas as espécies, as pragas urbanas buscam incansavelmente maneiras de sobreviver e de perpetuar a sua espécie. Sua sobrevivência está baseada nas ações e condições que lhe são impostas. É notório que em uma unidade produtora de alimentos, existem condições favoráveis para que as pragas urbanas, possam se manter, se abrigar, se alimentar, e principalmente perpetuar a sua espécie. O abrigo é facilmente encontrado nos vãos das caixas de papelão onde as mercadorias são entregues, nas frestas dos azulejos, no interior das tubulações de energia, atrás dos equipamentos, no interior dos fornos que não são frequentemente utilizados, nos forros e ainda em decorrência do armazenamento inadequado de produtos, acessórios, utensílios e equipamentos em desuso acumulados, além de muitos outros locais. O alimento e a água também são encontrados em abundância. Sendo assim, o controle integrado de pragas (CIP) é indispensável e exigido em regulamentações vigentes. Sua importância se dá, ao fato de evitar a transmissão de microrganismos patogênicos, prevenindo a toxinfecção alimentar (SILVA JUNIOR, 2005). As principais pragas urbanas são os insetos (baratas formigas e moscas) e os ratos. A seguir, te convido a explorar o conteúdo onde vamos abordar a biologia, o ciclo de vida, as condições que favorecem a sua proliferação, assim como os fatores que dificultam o seu controle. Vamos lá? 8 1.1. A Biologia e o Ciclo de Vida das Principais Pragas Urbanas e os Fatores que Favorecem a sua Proliferação e que Dificultam o seu Controle 1.1.1. Insetos Aproximadamente três quartos (¾) das pouco mais de 1 milhão de espécies de animais existentes e descritas no mundo são compostos por insetos. Isso demostra a sua capacidade de adaptação ao meio ambiente. De qualquer maneira, curiosamente, a maioria dos insetos não são consideradas pragas, por não causarem danos à saúde. O que se preza é o convívio equilibrado entre eles e os humanos. Os insetos possuem patas articuladas e exoesqueleto, portanto são chamados de artrópodes. Possuem três (3) pares de patas, um (1) par de antenas e na maioria deles, dois (2) pares de asas. O corpo do inseto é segmentado em três (3) partes: a cabeça, onde se fixam as antenas, o tórax, onde se fixam as patas e as asas, e o abdômen (ZUBEN, 2006). Vamos estudar com maiores detalhes os principais insetos sinantrópicos. 1.1.2. Baratas As baratas existem no planeta há cerca de quatrocentos (400) milhões de anos e poucas mudanças aconteceram nestes animais ao longo do tempo. Isso é demonstrado claramente em estudos de seus fósseis. Por esse motivo, de acordo com o Zuben (2006), a barata é considerada uma das espécies de maior capacidade de adaptação e resistência do reino animal, podendo adaptar-se às mais variadas condições do meio ambiente (ZUBEN, 2006, p. 31). As baratas não são vetores, ou seja, não são causadoras diretas de doenças ou zoonose. Não há evidências a esse respeito. No entanto, as baratas são consideradas disseminadoras mecânicas de diversos patógenos, como: bactérias, vírus, e esporos de fungos, entre outros, já que percorrem em esgotos, lixeiras e diversos outros lugares contaminados. Assim, carregam em seu corpo, diferentes microrganismos patogênicos (ZUBEN, 2006). Esse inseto é classificado como onívoro, uma vez que consomem qualquer tipo de alimento que contenha algum valor nutritivo, sendo atraídas com maior facilidade por 9 alimentos gordurosos, doces ou alimentos de origem animal. Desta forma, esse fator correlacionado com a sua elevada capacidade de adaptação a diversos locais, propiciam a suaproliferação facilmente (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002). Há diversas espécies de baratas no mundo todo, sendo que as mais comuns encontradas são: Periplaneta americana (barata de esgoto) e Blattella germânica (barata alemã). O perfil das principais espécies de baratas será apresentado no Quadro 1 a seguir. Popularmente conhecida como Barata de Esgoto (Periplaneta americana), é a espécie mais encontrada no Brasil, sendo que seu ciclo de vida dura em torno de cento e oitenta (180) a um mil e noventa e cinco (1.095) dias. Situam-se em ambientes reclusos como esgoto, caixas de gordura (inspeção), canaletas de cabos, tubulações elétricas e em locais úmidos e escuros (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002). A Barata Alemã (Blattella germânica) é uma espécie de pequeno porte e tem um alto índice de proliferação, mas seu ciclo de vida é menor, variando entre duzentos (200) a trezentos (300) dias. São encontradas facilmente em locais quentes, úmidos e costumam se alojar em locais como armários e prateleiras de madeira, motores de equipamentos, azulejos quebrados, conduítes elétricos, batentes de portas, debaixo de pias e balcões, dentre outros locais (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002). Quadro 1. Perfil das principais espécies de baratas. Característica Blattella germânica Periplaneta americana Tamanho 1,5 cm 5,0 cm Coloração Marrom claro Castanho avermelhado Detalhes Duas listas longitudinais no dorso Faixa mais clara na parte posterior do pronoto Comportamento das fêmeas Carregam ooteca até 24hs do nascimento Carregam ooteca por pouco tempo Ovos para oosteca (cápsula) 30 a 5 14 a 16 Amadurecimento da ooteca 28 dias 45 dias Nº de mudas (estrutura de proteção externa) 5 a 7 7 a 9 10 Produção de ovos 6 a 8 ootecas 10 a 60 ootecas Vida média da fêmea 200 dias 440 dias Fonte: Adaptado de Silva Junior (2005) De acordo com Zuben (2006), há diversos fatores que contribuem para a proliferação desses insetos, sendo destaque: • Acúmulo de lixos acondicionados de forma incorreta; • Falta de higienização em recipientes de descarte (lixeiras); • Resíduos de alimentos em superfícies ou armazenados de forma inadequada; • Ausência de limpeza periódica ou avarias em caixas de gorduras (inspeção); • Móveis de madeira (armários, mesas, etc.) danificados; • Ineficácia de higienização (interna e externa) de móveis, equipamentos, bancadas, dentre outros; • Armazenamento inapropriado de embalagens de papelão; • Inexistência ou danificação de vedações de borracha em portas, principalmente as externas, e • Ambientes com pouca luminosidade, quentes ou úmidos. Entretanto, se forem adotadas medidas básicas de organização, higiene e saneamento, será possível controlar o surgimento e/ou proliferação desses insetos. Caso haja a sua infestação em um determinado local, poderá ser adotado outro método para o controle e erradicação, como a aplicação de inseticidas no abrigo desse inseto, realizada por empresa especializada e seguindo as recomendações descritas em legislações pertinentes, que serão apresentadas mais adiante neste material. Existem diferentes tipos de substâncias químicas que podem ser utilizadas de forma segura na apresentação de líquido (aerossol) ou sólido (grânulos, armadilhas, isca a base de gel, dentre outros). É de extrema importância conhecer os diversos tipos de substâncias químicas e para quais fins as mesmas podem ser utilizadas, bem como quais cuidados o gestor e a sua equipe devem adotar na organização dos espaços e áreas onde serão aplicadas, como: ausência de manipulação de alimentos no local, onde serão aplicados as substâncias químicas, proteger os 11 equipamentos com uma cobertura apropriada (tampas ou outros materiais que cumpram esse papel) e a limpeza com água somente após o período de tempo estipulado pela empresa. Um monitoramento constante propicia a prevenção, o controle do aparecimento e proliferação de baratas (ZUBEN, 2006). Daí a importância do cumprimento das exigências sanitárias descritas nas legislações pertinentes que serão apresentadas nesse material na unidade 3. 1.1.3. Formigas As formigas fazem parte da Ordem Hymenoptera, um dos maiores grupos de insetos existentes, do qual também pertence as vespas e as abelhas. São considerados insetos sociais, divididos em castas, com funções diferentes dentro da colônia (ZORZENON, 2002). Atualmente, se considera que existam cerca de dezoito mil (18.000) espécies de formigas no mundo, sendo que no Brasil há mais de duas mil (2.000) espécies listadas. Entretanto, apenas vinte (20) a trinta (30) espécies são classificadas como pragas urbanas. Destas, são conhecidas as formigas cortadeiras (saúvas e quenquéns) e formigas domésticas (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002). Segundo Zuben (2006), as formigas apresentam um grande perigo à saúde pública, por sua alta capacidade de transportar microrganismos patogênicos, já que costumam circular livremente por qualquer lugar (abrigo de lixo, esgoto e outros diferentes ambientes). Habitualmente, nos deparamos com as formigas operárias que são todas fêmeas, não possuírem asas e são estéreis, mas desempenham papéis importantes na colônia (formigueiro), como a escavação e limpeza do ninho, proteção da colônia e a caça de alimentos para todos. O ciclo de vida dessas formigas dura em torno de dois (2) a três (3) meses. As formigas rainhas são reprodutoras, juntamente com as formigas machos. São de tamanho maior, e seu ciclo de vida é longo. A formiga rainha saúva vive em média até vinte anos (20) e a rainha doméstica, cerca de dois (2) a quatro (4) anos. De maneira geral, as formigas se alimentam de gordura animal, produtos açucarados, carnes, frutas, insetos mortos, fungos, dentre tantos outros (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002). É importante lembrar que todas as formigas picam, e suas picadas podem ocasionar processos alérgicos, dependendo da sensibilidade de cada indivíduo (ZUBEN, 2006). As formigas domésticas são capazes de construir ninhos em diversos locais, como dentro de aparelhos eletrônicos, batentes de portas, pisos e azulejos 12 danificados, armários, tomadas elétricas, conduítes de eletricidade, frestas nas calçadas, etc. O controle de erradicação das formigas é difícil, pois elas apresentam facilidade de deslocar seus ninhos rapidamente, além disso, são responsáveis por provocarem desconforto aos seres humanos, uma vez que costumam atacar restos de alimentos expostos em superfícies ou até mesmo dentro dos armários (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002). Segundo Zuben (2006) existem diversas espécies de formigas domésticas, sendo as mais comuns: • Formiga Fantasma (Tapinoma melanocephalum): são extremamente pequenas, ao procurar por alimentos movimentam-se em ziguezagues e não fixam seus ninhos por muito tempo em um mesmo lugar. Consomem diversos tipos de alimentos, mas possuem predileção por doces; • Formiga-Louca (Paratrechina longicornis): pequenas e escuras, andam rapidamente em círculos ao se movimentarem. Ingerem uma grande variedade alimentos como carnes, doces, frutas, verduras e até bebidas açucaradas como por exemplo sucos e refrigerantes; • Formiga Carpinteira (Camponotus ssp): apesar da maioria desta espécie construírem seus ninhos em troncos de árvores ou madeiras mortas, as mesmas não se alimentam de madeira. Consomem alimentos como carnes, bolos, ovos e doces; • Formiga Lava-Pés (Solenopsis spp): são classificadas como onívoras, pois se alimentam de plantas ou animais, além dos alimentos domésticos como carnes, óleos, manteiga, queijos, pães e doces; • Formigas Cortadeiras: classificadas como saúvas (Atta spp) ou quenquéns (Acromyrmexspp), são encontradas em todo país e basicamente se alimentam da seiva que são liberadas pelas plantas das quais elas cortam e transportam. Em uma unidade produtora de alimentos pode ser muito comum se encontrar formigas,pois naturalmente existem os três (3) elementos fundamentais para a sua sobrevivência. Sendo assim, além do controle de estocagem, higiene e sanitização de áreas e equipamentos, a adoção de ações de monitoramento e controle são fundamentais. Portanto, se faz necessário a adoção de medidas preventivas com o objetivo de impedir o surgimento das formigas domésticas, como: eliminar qualquer resto de alimento, acondicionar 13 sobras de alimentos em recipientes adequados e vedados, preencher qualquer tipo de frestas em azulejos, pisos, portas, batentes, janelas entre outros cuidados relacionados a limpeza, organização e sanitização de áreas, equipamentos e utensílios. Vale a pena ressaltar que a resolução sanitária RDC Nº 275, 2002 que dispõe sobre o regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados (POP) aplicados aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos, especifica a importância da existência de POP para o monitoramento das pragas e vetores urbanos, mas conversaremos sobre o assunto com mais detalhes no momento oportuno (RDC Nº 275, 2002). A prevenção e o controle deste inseto de um modo geral, depende do monitoramento constante das possíveis infestações, bem como o conhecimento de qual espécie pertence, assim será possível identificar onde estão seus ninhos e suas preferências alimentares, com intuito de minimizar os fatores que garantam a sua proliferação e utilizar a substância química adequada para a eficaz realização de procedimentos de erradicação. Lembrando que tais procedimentos sempre devem ser realizados por empresa especializada e regularizada conforme determinações do Ministério da Saúde (MS) (ZUBEN, 2006; ZORZENON, 2002; SILVA JUNIOR, 2005). Para que ocorra o controle dos insetos rasteiros citados, existem basicamente duas posturas diferentes, conforme cita Silva Junior (2005): 1) O controle realizado por empresa especializada e regularizada pelo MS: através da utilização de substâncias químicas com variados graus de toxicidade, diferentes formulações e o emprego de diferentes técnicas / equipamentos / cuidados para a sua aplicação; 2) A adoção de condutas de exclusão das pragas do ambiente, por meio de ações simples, de baixo custo já citadas anteriormente, que devem estar descritas em POP e no Manual de Boas Práticas (MBP) das unidades produtoras de alimentos com especificações claras, em vocabulário simples e de fácil compreensão, quanto as ações preventivas e corretivas, que deverão ser executadas por toda equipe. O tema consta em resolução vigente como um dos tópicos obrigatórios, (existência de um POP de controle integrado de pragas urbanas), que deverá descrever 14 minuciosamente os procedimentos a serem executados para impossibilitar a atração, o abrigo, o acesso e ou a proliferação de vetores e pragas urbanas (RDC Nº 275, 2002). 1.1.4. Moscas As moscas são vistas pelos seres humanos como insetos insuportáveis, repugnantes e estão presentes praticamente em todo o planeta Terra. Pertencem a ordem Diptera (tem duas asas), uma das maiores ordens de insetos, da qual também fazem parte os mosquitos, pernilongos, mutucas, borrachudos, varejeiras, entre outros (EMBRAPA, 2008). Estima-se que existam cerca de cento e cinquenta (150) mil espécies de moscas, sendo que as mais comuns são: mutuca, varejeira, mosca-das-frutas e mosca doméstica. Apresentam mutação completa (fases do ovo, larva, pupa e adulto), com uma alta capacidade de reprodução, porém seu ciclo de vida é de apenas vinte e oito (28) dias. São facilmente encontradas em lixeiras, esgotos e fezes, onde acabam se alimentando dos restos orgânicos presentes. Devido a esses hábitos, as moscas carregam em seus corpos vírus, bactérias, fungos e parasitas, se tornando portadoras de inúmeras doenças, ocasionando sério risco para a segurança e saúde humana. Na afecção causada pela presença de larvas de moscas em órgãos e tecidos do homem, ou de outros animais, elas se nutrem e evoluem como parasitas denomina-se miíase (SILVA, 2014). Esses insetos tendem a depositar seus ovos em materiais orgânicos, com intuito de servir de alimento ao eclodir os ovos. Ostentam uma visão de trezentos e sessenta graus (360º), contribuindo na identificação de ambientes dos quais possam invadir para se alimentar, bem como se desvencilhar de possíveis ataques dos seres humanos ao tentar abatê-los. As moscas são propensas a invadir cozinhas e dispensas, devido a sua busca incessável por alimento, podendo com isso contaminar o alimento de milhares de pessoas em uma única vez (EMBRAPA 2008). Ainda de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (2008), existem inúmeras espécies de moscas que se diferenciam por sua forma, tamanho e comportamento, podendo ser predadoras, sugadoras de sangue ou se alimentar de pequenos resíduos de alimentos ou detritos. As espécies mais usuais serão descritas a seguir: 15 • Mutuca (Tabanidae): são carnívoras e se alimentam do sangue de suas vítimas (humano e animais), além de sua picada ser dolorosa, pode transmitir moléstias; • Varejeira azul (Calliphora vomitória): possui olfato aguçado, o que faz captar os alimentos à distância. Preferem consumir carnes, principalmente as carnes em decomposição. Depositam suas larvas em feridas existentes nos homens ou animais, ocasionando as miíases; • Mosquinhas ou mosca da banana (Drosophila melanogaster): conhecidas também como mosca-do-vinagre ou mosca-de-frutas, alimentam-se basicamente de fungos ou bactérias presentes nas frutas; • Mosca doméstica (Musca domestica): consideradas uma das espécies mais importante, são adaptáveis aos diversos ambientes e capazes de conduzir inúmeros organismos patogênicos para os seres humanos. Ao pousarem em fezes, feridas ou animais mortos, aglutinam em suas patas bactérias, vírus e protozoários, transportando esses patógenos aos alimentos e ambientes onde possam pousar. O controle desta praga necessita ser efetuado de forma direcionada, com intuito de erradicar o problema com segurança e eficácia. Há diversas ações que podem controlar esses insetos, seja através de manuseio químico (se houver viabilidade no local), através de iscas ou outras técnicas atrativas de captura. É de suma importância adotar rigorosos critérios na higienização dos ambientes, bem como o acondicionamento e descarte correto do lixo e de restos alimentares (ZUBEN, 2006). A adoção de telas milimétricas, equipamentos de fluxo de ar contínuo ou molas para o controle de fechamento automático das portas, bem como outras ações como: o correto descarte de resíduos, limpeza, armazenamento e sanitização de áreas e equipamentos são primordiais, e estão bem descritos em legislações sanitárias, visando a prevenção e o monitoramento ao aparecimento de moscas nas diversas áreas da cozinha ou refeitório (RDC Nº 275, 2002; CVS Nº 5, 2013; RDC Nº 216, 2004; PORTARIA Nº 2619, 2011). 1.1.5. Ratos É de conhecimento de todos que há muitos anos existe o convívio entre os roedores e humanos. Os ratos pertencem a classe dos mamíferos, são 16 extremamente adaptáveis e apresentam eminente capacidade de proliferação e sobrevivência (TREVISO, 2020). As perdas econômicas que esses roedores resultam são inúmeras, tanto na área rural quanto na urbana. De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), se supõe que existam três (3) roedores para cada habitante, sendo estipulado um prejuízo financeiro de US$ 10,00 por cada roedor. Isto posto, conforme descrito no Manual de Controle Integrado de Pragas Zuben (2006), O Brasil possui cerca de 150 milhões de habitantes, e o prejuízo anual esperado está acima de US$ 4,0 bilhões (ZUBEN, 2006. p. 56). Se pensarmos na contaminação que esses roedores são capazes de causar, através da sua urina e fezes, os prejuízos podem ser bem maiores, ocorrendo o desperdíciode alimentos, farelos e rações de animais, devido ao rompimento de sacarias e outras embalagens que podem vir a ser danificadas por eles. Além da interferência no fator econômico, os ratos são responsáveis por transmitir diversas doenças, como a leptospirose, peste bubônica, tifo murinho, raiva, micoses, sarnas, entre outras (TREVISO, 2020). Segundo Zuben (2006), esses roedores urinam cerca de quarenta (40) vezes ao dia e em pequenas quantidades. Sabendo-se que há presença de patógenos causadores de doenças em sua urina, podemos imaginar quantos possíveis focos de contaminação são disseminados por eles no ambiente. Os ratos detêm de hábitos noturnos, onde saem de seus ninhos à procura de alimentos, até o nascer do sol. Quando vistos durante o dia, é sinal que há casos de superpopulação. Costumam realizar o mesmo percurso do ninho ao alimento, e vice-versa, fazendo surgir trilhas com manchas de gordura corporal no trajeto. Apesar de serem classificados como onívoros - hábitos alimentares diversificados – optam por alimentos fresco e desprezam os estragados, azedos ou fermentados (TREVISO, 2020). De acordo com Treviso (2020) e Prefeitura de São Paulo (2020) existem diversas espécies de roedores, sendo as mais importantes para as áreas urbanas citadas a seguir na apresentação de seu perfil no Quadro 2: 17 • Camundongo (Mus musculus): por ter hábito intradomiciliar, é facilmente encontrado na área urbana, e costumam criar seus ninhos em armários, fogões e despensas. Apresentam comportamento curioso, o que propicia o uso de ratoeiras (controle mecânico). Sua vida média dura cerca de doze (12) meses, possuem um raio de ação de três (3) metros e, por serem pequenos, podem ser transportados facilmente em caixas ou outros materiais; • Ratazana ou Rato de esgoto (Rattus norvegicus): são ratos de grande porte, vivem em colônias e tem preferência em abrigar-se abaixo do solo, onde cavam suas tocas e formam túneis que podem danificar a estrutura do terreno, além de galerias de esgotos e pluviais. Possuem vida média de 2 anos e um raio de ação de aproximadamente cinquenta (50) metros; • Rato de telhado ou Rato de forro (Rattus rattus): pertencem ao mesmo gênero da ratazana, porém não escavam tocas e preferem morar em locais altos como sótãos, telhados, dentre outros. Possuem um raio de ação maior que as ratazanas, porém sua vida média é inferior dezoito (18) meses. Quadro 2. Perfil das principais espécies de roedores. Característica Camundongo (Mus musculus) Ratazana ou Rato de esgoto (Rattus norvegicus): Rato de telhado ou Rato de forro (Rattus rattus): Orelha Grandes, saliente em relação a cabeça Pequenas e arredondadas Grandes Olhos Pretos, salientes e pequenos Pequeno em relação a cabeça Grandes e salientes em relação a cabeça Pelagem Muito delicada e sedosa Mais áspera que a do rato Delicada Cor Preto (tons de cinza), Aguti (tons marrons), Branco (olhos brancos) ou albino (olhos vermelhos) Marrom e cinza, mas pode haver as mesmas variações do camundongo Oscila entre branco, negro cinza e castanho 18 Tamanho Corpo delgado, 8 a 9 cm de comprimento Corpo robusto de 18 a 25 cm de comprimento Corpo esguio de 16 a 21 cm de comprimento Cauda Fina e sem pelos, de 8 a 10 cm Grossa e peluda de 15 a 21 cm Fina, em chicote, com poucos pelos. Mede de 19 a 25 cm de comprimento. Habito Noturno Noturno, sedentários e agressivos Noturno. Escalam com extrema facilidade Habitat Escondido em locais estreitos e de difícil acesso Normalmente vive nas áreas externas das residências e empresas. É o mais comum dos roedores urbanos Acima do nível do solo. Em residências prefere forros e sótãos. Em áreas abertas prefere o topo das árvores. Fonte: Adaptado de Treviso (2020). A presença de certos indícios pode sugerir que haja a presença de roedores em determinadas áreas como: presença de fezes, urina e trilhas; marcas de gordura; roeduras nos cantos de portas ou janelas; ninhos feitos de materiais macios ou pelos do rato mãe; visualização do roedor durante o dia (ZUBEN, 2006). O aparecimento de roedores em ambientes urbanos se deve, muitas vezes, as condições oportunas criadas pelo homem (Sinantropia) conforme cita a prefeitura de São Paulo (2020), • Acondicionamento do lixo e alimentos em recipientes fechados e inacessíveis aos ratos; • Dispor o lixo na rua somente na hora que o coletor passa para recolher; • Nunca jogar lixo a céu aberto ou em terrenos baldios; • Evitar o acúmulo de entulho ou inservíveis, bem como, inspecionar periodicamente locais que possam servir de abrigo a roedores; • Vedar frestas ou vãos que possam servir de acesso aos ratos para os ambientes internos; 19 • Manter terrenos baldios limpos e murados; • Manter limpas as instalações de animais domésticos e não deixar a alimentação deles acessível a roedores, principalmente à noite; • Vistoriar e manter limpos garagens e sótãos (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2020). Nas unidades produtoras de alimentos, todas estas medidas preventivas e de controle para se evitar o aparecimento ou erradicação desses animais devem ser adotadas, principalmente a adoção das medidas exigidas em legislações sanitárias, e são: a utilização de ratoeiras ou até o uso de raticidas químicos por profissionais qualificados. O uso inadequado desses raticidas químicos pode causar o efeito bumerangue, onde ocorre o aumento de roedores infestantes de um determinado local, do qual sofreu desratização recentemente de forma equivocada. Portanto, ao pensarmos no controle de roedores, não devemos considerar o número de roedores que foram eliminados, e sim a quantidade de sobreviventes que ainda existem, para avaliar a eficácia da ação de desratização (TREVISO, 2020). Além disso, nas unidades produtoras de alimentos devem ser adotadas outras medidas de prevenção e combate aos roedores como: 1) O estabelecimento de um controle de esclarecimento e campanhas educativas dos colaboradores sobre o assunto. Abordar o tema abertamente, é uma maneira simples, fácil de baixo custo para combater a presença e a infestação desses animais. Esconder a presença dos roedores, somente mascara o problema, e facilita a sua proliferação; 2) A utilização de armadilhas de cola e de mola, são maneiras de controlar e prevenir a presença e a infestação desses animais com baixo custo; 3) Por último a utilização de raticidas aplicados por empresa especializada e regularizada pelo MS, que é a maneira mais restrita e danosa, conforme descrito anteriormente, por causar o efeito bumerangue. Normas e especificações sanitárias devem ser seguidas antes que a empresa especializada opte para aplicação dessas substâncias químicas (SILVA JUNIOR, 2005). Vale a pena ressaltar que em unidades produtoras de alimentos as medidas de controle e prevenção adotadas, devem estar descritas em POP e no MBP, bem 20 como os registros de treinamentos e capacitação de toda equipe, além da realização da constante supervisão por parte do gestor (RDC Nº 275, 2002). Na unidade a seguir, abordaremos com mais rigor as legislações sanitárias vigentes para o controle integrado de pragas. 2. Legislação Sanitária e o Controle Integrado das Principais Pragas Urbanas No decorrer dessa produção, abordamos o fenômeno da sinantropia e de quanto essa aproximação pode gerar prejuízos à sociedade humana (doenças, desequilíbrio financeiro, dentre outros) (ZUBEN, 2006). Um dos métodos capazes de auxiliar na erradicação das pragas urbanas, é a realização eficaz do Controle Integrado de Pragas (CIP). Mas afinal, do que se trata o CIP? Sua definição segundo o Manual de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos da Prefeitura de São Paulo (2019) é, o conjunto de medidas preventivas necessáriaspara impedir a atração, o acesso, o abrigo e a proliferação de insetos (moscas, baratas, formigas), ratos e pombos, evitando a aplicação de produtos químicos (MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS, 2019. p.68). Desta forma, o serviço de CIP faz parte das atividades essenciais para a preservação da saúde, seja no setor privado ou público. A sua aplicação tem o intuito de proporcionar qualidade e segurança nos processos de fabricação de diversos estabelecimentos, protegendo contra a proliferação de pragas urbanas, uma vez que a sua existência pode gerar a contaminação de superfícies e disseminar diversas doenças. Portanto, o CIP atua de forma preventiva contra diversos microrganismos, conforme mencionado por Cunha, vírus e bactérias podem causar muitos problemas à saúde dos humanos, contudo baratas, moscas e formigas não ficam para trás nesse quesito. Com capacidade para carregar milhões de microrganismos contaminantes, elas se tornam aliadas dos vírus e bactérias na disseminação de doenças (CUNHA, 2020. p.29). É obrigatório em estabelecimentos como bares, restaurantes comerciais, ou 21 institucionais, dentre outros estabelecimentos de alimentos, a adoção de tal controle, conforme determinado em legislações sanitárias, sendo que os órgãos de vigilância sanitária (municipais e estatuais) são os responsáveis por fiscalizarem a prestação deste serviço. As leis existentes, servem de guia para que as empresas apliquem o CIP em áreas produtoras de alimentos, sendo necessário a atenção em verificar sob qual jurisdição o estabelecimento se encontra para que assim, siga a lei correta, já que existem legislações em âmbito federal, estadual e municipal, conforme será apresentado a seguir. 2.1. Legislações Sanitárias Vigentes para o Controle Integrado das Principais Pragas Urbanas nas Unidades Produtoras de Alimentos É considerada uma atividade profissional de risco realizar o controle de pragas urbanas, visto que para tal ação, pode ser necessária a utilização de substâncias químicas com um determinado grau de toxicidade. Cada estado brasileiro, determina as normas que deverão ser adotadas pelas empresas que realizam esse tipo de prestação de serviço. No geral, a fiscalização e controle dessas empresas é realizada pela Vigilância sanitária em detrimento da resolução RDC nº 18, de 29 de fevereiro de 2000, que dispõe sobre Normas Gerais para Funcionamento de Empresas Especializadas na Prestação de Serviços de Controle de Vetores e Pragas Urbanas (BRASIL, 2004). Já a Portaria nº 9 (2000), estabelece as normas técnicas necessárias que regulamentam a prestação de serviço em controle de vetores e pragas urbanas, através da implantação das Boas Práticas Operacionais descritas nesta portaria (BRASIL, 2000). Segundo a determinação das legislações vigentes, o usuário desse tipo de serviço deverá exigir das empresas prestadoras de serviço de controle de pragas e vetores urbanos, uma documentação específica que comprove a legalidade da empresa para prestar o serviço a ser contratado, bem como a certificação da aplicação da substância química ou método a ser adotado, e sua respectiva validade (BRASIL, 2013). Portanto, se regulamentada essa empresa deverá obrigatoriamente, apresentar: 22 1) Alvará de funcionamento – esses certificado possui validade de doze (12) meses e deverá conter: o nome do estabelecimento, o endereço completo, o nome e número de registro do profissional responsável técnico (RT); 2) A cada serviço prestado, a empresa deverá emitir um certificado detalhando: local e data, a área que foi tratada, a (s) substância (s) química (s) utilizada (s), o percentual do princípio ativo utilizado, bem como o antídoto correspondente, além da data de validade do serviço prestado. Esse certificado é solicitado pelos agentes fiscalizadores da Vigilância Sanitária durante a fiscalização realizada na unidade produtora de alimentos conforme descrito em legislação sanitária (SILVA JUNIOR, 2005). É notável que os estabelecimentos como restaurantes, bares, lanchonetes, dentre outros, que manuseiam os alimentos, necessitam realizar procedimentos de boas práticas para a produção dos alimentos em todas as etapas de seus processos. E com intuito de oferecer diretrizes para os estabelecimentos e seus respectivos colaboradores, foram desenvolvidas normas e leis direcionadas a esse fim. Esses procedimentos são importantes para assegurarem a oferta de um alimento seguro e isento de microrganismos minimizando a probabilidade das doenças de origem alimentar (DOA). Sabemos que através da organização, higienização, sanitização e descarte correto dos resíduos, do local de trabalho, bem como a execução de todas as medidas preventivas citadas nesse livro para o controle das pragas urbanas são necessariamente importantes. Para garantir e nortear a realização desses procedimentos, temos as leis: federal, estadual e municipal. Dependendo da localização do estabelecimento, se não houver leis na esfera municipal, se deve buscar leis na esfera estadual ou até mesmo federal. No âmbito Federal destacamos a resolução RDC nº 216 (2004), que discorre sobre o regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação, esclarecendo quais são as ações mínimas a serem executadas durante o processo de manipulação, com a finalidade de garantir a oferta de alimentos com qualidade e seguros aos consumidores (BRASIL, 2004). Na esfera Estadual, em São Paulo, a legislação em vigor é a Portaria CVS nº 5 (2013), que aprova o regulamento técnico sobre boas práticas para 23 estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços de alimentação, indicando requisitos essenciais de boas práticas e de procedimentos operacionais padronizados, com objetivo de garantir condições higiênico- sanitárias dos alimentos, além de apresentar recursos que auxiliam à execução de um roteiro de inspeção nesses estabelecimentos (BRASIL, 2013). Ainda em São Paulo, mais precisamente em seu município, a Portaria nº 2619 (2011) orienta os estabelecimentos, que visa resguardar a saúde da população e as particularidades locais, através da execução do regulamento de boas práticas e de controle de condições sanitárias e técnicas de todas as atividades relacionadas ao alimento, sendo elas: importação, exportação, extração, produção, manipulação, beneficiamento, acondicionamento, transporte, armazenamento, distribuição, embalagem e reembalagem, fracionamento, comercialização e uso dos alimentos, aditivos e embalagens para os alimentos (BRASIL, 2011). De acordo com a Portaria nº 2619, os estabelecimentos que realizam a produção de alimentos, devem adotar medidas preventivas e corretivas para o CIP, como: • Qualquer tipo de instalação, seja interna ou externa, deve estar livre de qualquer tipo de vetores ou pragas urbanas; • Impossibilitar qualquer local que possa servir de abrigo para as pragas, como buracos, rachaduras ou brechas em portas, janelas, pisos, paredes ou qualquer outro lugar; • Instalação de proteções que inviabilizem o contato com o ambiente externo, como telas milimétricas em janelas e portas, dentre outros; • Análise criteriosa no recebimento dos produtos, principalmente aqueles que são armazenados em caixas de papelão ou caixotes, uma vez que essas embalagens podem conter algum tipo de praga dentro; • Armazenamento correto dos alimentos no estoque, principalmente que foram abertos e não necessitem de refrigeração, para que não sirvam de comida para as pragas; • Acondicionamento adequado dos lixos, visando não atrair nenhum tipo de praga; 24 • Higienização adequada de todas as áreas do estabelecimento, objetivando a remoção de qualquer sujeira ou resto de alimentos que possam atrair insetos ou ratos; • Limpeza periódica em caixas de gorduras, caixa d´água e ductos de exaustão, eliminando o acúmulode sujeiras (BRASIL, PORTARIA Nº 2619, 2011. p. 32). É importante destacar que os restos alimentares e demais resíduos podem ser considerados como grandes focos de atração para os insetos e ratos, uma vez que servem de subsídios para a manutenção no ciclo de vida das pragas, ocasionando a sua proliferação e consequentemente a transmissão de doenças (São Paulo, 2019). Já na esfera federal a resolução RDC Nº 275 (2002) que dispõe sobre o regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados (POP) aplicados aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a lista de verificação das boas práticas de fabricação (BPF) em estabelecimentos produtores ou industrias de alimentos, além de organizar e disciplinar o controle sanitário de todos os processos relacionados à produção, industrialização, fracionamento, armazenamento e transporte de alimentos no Brasil (RDC Nº 275, 2002). Além de garantir a proteção da saúde da população, a resolução foi firmada com o objetivo de harmonizar as ações de inspeção sanitária em negócios do setor alimentício (produtores e indústrias). A resolução apresenta a relação dos POPs obrigatórios que as empresas do setor de alimentos devem ter e o que cada um dever conter. Os POPs exigidos para empresas produtoras de alimentos segundo essa resolução, são a) Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios. b) Controle da potabilidade da água. c) Higiene e saúde dos manipuladores. d) Manejo dos resíduos. e) Manutenção preventiva e calibração de equipamentos. f) Controle integrado de vetores e pragas urbanas. g) Seleção das matérias-primas, ingredientes e embalagens. 25 h) Programa de recolhimento de alimentos (BRASIL, RDC Nº 275, 2002. p. 4). A resolução informa, entre outras diretrizes, que os POPs devem estar datados e assinados pelos responsáveis técnico legal operacional e pelo dono do estabelecimento, devem informar a frequência das operações, como e com quais produtos devem ser realizados, quais os colaboradores devidamente capacitados devem estar envolvidos na execução dos procedimentos previstos. Além disso, todo POP deve ser apresentado como anexo do Manual de Boas Práticas de Fabricação do estabelecimento, estar acessível aos responsáveis pela execução das operações e às autoridades sanitárias. As legislações apresentadas, possuem diretrizes específicas referentes ao CIP item este obrigatório de ser realizado em qualquer estabelecimento na área de alimentos. Entretanto, para se obter resultados eficazes, é fundamental que todos os colaboradores da unidade produtora de alimento, tenham pleno conhecimento dos POPs existentes, portanto, os mesmos devem ser elaborados de maneira clara, simples e objetiva, além é claro da ocorrência periódica de treinamentos que garantam a capacitação dos colaboradores, não descartando a importância da supervisão constante do gestor. A resolução contempla em seu item 4.2.6. a necessidade de a empresa adotar os POPs referentes ao CIP, que devem conter as seguintes informações: quais são as medidas preventivas e corretivas empregadas a fim de se impedir a atração, o abrigo, o acesso e a proliferação desses seres, e se a empresa adotar o controle químico, que este seja realizado por prestadora de serviço regularizada e que apresente o certificado de execução de serviço, contendo as especificações claramente estabelecidas em legislação sanitária específica (RDC Nº 275, 2002). Desde 1967, a oferta de alimento com qualidade à população brasileira foi sempre uma grande preocupação do governo federal, conforme apresentado na publicação, em 27 de fevereiro de 1967, no Decreto Lei 209 que institui o Código Brasileiro de Alimentos (BRASIL, 1967). Outra inovação que fortaleceu essa preocupação, foi a Portaria 1.428 de 26 de novembro de 1993/ANVISA sobre os fatores contribuintes para a contaminação alimentar, e as diretrizes para o estabelecimento de boas práticas de produção e de prestação de serviços na área de alimentos. (BRASIL, 1993). Mas, uma nova visão a respeito dos fatores 26 determinantes de contaminação alimentar surgiu com o controle de pragas urbanas. ratos e insetos, portanto, este procedimento passa a integrar todos os documentos legais que foram sendo gerados pelo MS e da Agricultura (MATIAS, 2007). Contudo, devemos destacar o quanto é importante o poder que a junção de todas as legislações traçadas com o mesmo objetivo, que é o controle integrado de pragas. Com a publicação da RDC Nº 18, 2000 - ANVISA, o controle químico passa a ser realizado apenas pelas empresas desinsetizadoras que estejam em conformidade com essa legislação federal, porém não isenta a responsabilidade legal da unidade produtora de alimentos de estabelecer no seu POP a inclusão do controle de pragas, seja físico e/ou químico. Sendo assim, em consequência de todo o conteúdo abordado fica evidente que o gestor possui um papel fundamental no CIP, que é assessorado pelas legislações vigentes no Brasil, e que não basta delegar tal atribuição para as empresas prestadoras de serviço no controle da CIP. Existem diversas ações de prevenção e controle das pragas urbanas de responsabilidade da equipe e do gestor da unidade produtora de alimentos. 3. O Uso, a Qualidade e Monitoramento da Água Utilizada nos Processos de Produção de Alimentos Podemos afirmar que a dignidade e a sobrevivência do indivíduo, está ligada à sua condição e acesso ao saneamento, bem como o seu acesso a água em quantidade e qualidade adequadas. O indivíduo envolvido em atividade econômica e social, depende incialmente de qualidade e condições de vida, e elas estão condicionadas pelo acesso ao saneamento, a saúde a educação e a moradia dignas (FORTES et al. 2019). No Brasil, o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, estão descritos na Portaria de Consolidação nº 05, 2017 do Ministério da Saúde, em seu Anexo XX, que define entre outros objetivos, segundo Fortes (2019), garantir que procedimentos de tratamento executados nos chamados sistemas de abastecimento cumpram sua finalidade, ao estabelecer o Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), âmbito no qual estão 27 inseridas as ações de controle e vigilância da qualidade, colocadas aqui, como elemento fundamental para garantir acesso, especialmente qualitativo da água (FORTES et al., 2019, p. 21). As normas de potabilidade de água no Brasil, são basicamente os padrões recomendados pela OMS, contidas no Guidelines for Drinking Water Quality e cabendo ao Ministério da Saúde a atribuição de criar as normas e o padrão de potabilidade de água para consumo humano (PINTO VG, 2006; BRASIL, 2006). Os caminhos percorridos para o estabelecimento do padrão de potabilidade quanto a definições, parâmetros e vigilância da água foram longos até que no ano de 2017 o Ministério da Saúde publicou a Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017, por meio desta e de seu art. 864. Esta portaria consolidou as normas sobre ações de todos os serviços de saúde ofertados pelo SUS (BRASIL, 2017). No Quadro 3 abaixo, serão apresentados os objetos de mudanças entre todas as portarias já instituídas ao longo dos anos, e é possível notar que desde a primeira portaria criada no ano de 1990 até a de 2011, novas definições para o controle de qualidade da água foram incluídas, novos parâmetros a serem monitorados foram adicionados, causando assim uma elevação expressiva de indicadores, tudo isso em decorrência a melhoria das condições tecnológicas. Porém, foi somente na Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017, que se apresenta a noção de vigilância da qualidade da água. Mesmo assim, especialistas como Fortes (2019), ainda a considera frágil e tímida, conforme apresentado: ...consideramque a relevância das ações executadas e magnitude dos seus impactos, a atuação ao longo dos anos ainda é tímida e fragilizada pelos arranjos estruturais dos executores, os municípios (FORTES, et al., 2019. p.26). Quadro 3. Comparativo das portarias de potabilidade existentes no Brasil, quanto a definições, parâmetros e vigilância. Portaria MS nº 56, 1977 Portaria MS nº 36, 1990 Portaria MS nº 1.469, 2000 Portaria MS nº 518, 2004 Portaria MS nº 2.914, 2011* Definiçã o - Valor Máximo - Extinção do Valor Máximo - Aprimora definições de: - São mantidas. 28 Desejável (VMD). Desejável (VMD) e substituição pelo Valor Máximo Permissível (VMP). água potável, controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano. - Acrescenta definição de solução alternativa de abasteciment o, cianobactérias cianotoxinas Parâme tros 36 parâmetros microbiológico s, físico, químicos, organolépticos: 12 substâncias orgânicas, 10 inorgânicas e 14 organo- lépticas. - Padrão de potabilidade dividido em 3 categorias: características físicas, organolépticas e químicas (4 físicas, 10 componentes que afetam a qualidade organoléptica, 31 químicos, sendo 11 inorgânicos e 20 orgânicos, incluem os subprodutos de desinfecção); características bacteriológicas (tolerante a coliformes termotolerantes ) e carac - Padrão microbiológico distinto para água para consumo humano, na saída do tratamento e no sistema de distribuição. - Padrão de turbidez para água pós- filtração ou pré- desinfecção definido para água subterrânea, submetidas à filtração lenta e filtração rápida. - Padrão de potabilidade pra substâncias químicas - Padrão microbiológico distinto para água para consumo humano, na saída do tratamento e no sistema de distribuição. - Padrão de turbidez para água pós-filtração ou pré-desinfecção definido para água subterrânea, submetidas à filtração lenta e filtração rápida. Padrão de potabilidade pra substâncias químicas que representam risco à saúde: 13 inorgânicas, 12 - Padrão microbiológico distinto para água para consumo humano, água tratada na saída do tratamento. Água tratada no sistema de distribuição. - Padrão de turbidez para água pós- filtração ou pré- desinfecção definido para água subterrânea, submetidas à filtração lenta e filtração rápida. 29 terísticas radioativas. que representam risco à saúde: 13 inorgânicas, 12 orgânicas, 21 agrotóxicos,6 desinfetantes e produtos secundários a desinfecção, 1cianotoxina. - Padrão de radioatividade : alfa global e beta global. - Padrão de aceitação para consumo humano: 20. orgânicas, 22 agrotóxicos (acrescenta o hexaclorobenzeno), 6 desinfetantes e produtos secun- dários a desin- fecção, 1cia- notoxina. - Padrão de potabilidade para substâncias químicas que representem riscos à saúde: 15 inorgânicos, 15 orgânicos, 27 agrotóxicos, 7 desinfetantes e produtos secundários à desinfecção, cianotoxinas. - Padrão de radioatividade da água: rádio 226 (alfa) e 228. - Padrão organoléptico: 21 substâncias e parâmetros que alteram características organoléptica s. Vigilân cia Não define vigilância, mas obriga as secretarias estaduais de saúde a efetuar registro continuo das informações sobre Define controle e vigilância da qualidade de água de abastecimento público. - Pouco explícita quanto às funções, competências e Define controle e vigilância da qualidade de água para consumo humano. - Torna mais clara as competências, procedimento Define controle e vigilância da qualidade de água para consumo humano. - Torna mais clara as competências, procedimentos e responsabilidades das 3 esferas considerando as diretrizes e modelo Esclarece a atuação municipal no contexto do Vigiagua. - Estabelece procedimento de controle operacional tanto para sistemas como para 30 qualidade de água. responsabilida des. s e responsabilida des das três esferas considerando as diretrizes e modelo de organização do SUS. de organização do SUS. soluções alternativas. Fonte: FORTES, el al, A vigilância da qualidade da água e o papel da informação na garantia do acesso. Revista saúde em debate. Rio de Janeiro, v. 43, n. especial 3, p. 20-34, dez 2019. *Não houve modificação das definições e parâmetros de qualidade da água entre a Portaria MS nº 2.914, 2011 e a Portaria de Consolidação Nº 5 (2017). A água potável é um direito fundamental da pessoa humana, sendo assim, o seu acesso em quantidade e qualidade devem ser garantidos pela federação. Para a garantia da qualidade, devem estar envolvidos o tratamento e as estratégias de vigilância. O termo vigilância da qualidade da água para o consumo humano, veio à tona no Brasil, em meados a 1986, com a criação do Vigiagua programa estruturado pelo MS (FORTES, 2019). Infelizmente, muitos locais no Brasil apresentam déficit na oferta de água adequada para a população, logo ela que é tão necessária para diversos fins, como para o consumo próprio, na preparação de alimentos, na limpeza de ambientes, na higiene pessoal, entre tantos outros. Isto posto, a qualidade da água potável é essencial e deve seguir os parâmetros determinados pela legislação vigente, devendo ser livre de microrganismos e demais parâmetros físicos, químicos e radioativos determinados, com o propósito evitar danos e agravos à saúde do consumidor (BRASIL, 2017). Segundo O Manual de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos da prefeitura de São Paulo (2019), água potável deve ser segura para consumo, limpa e isenta de microrganismos causadores de doenças. Para isso, a lei determina que a água produzida e distribuída seja tratada, através da incorporação de produtos apropriados para a sua desinfecção. A água pode ser proveniente de diversos locais, por esse motivo, a certificação de sua procedência e qualidade, devem ser atentadas. O acesso a água em muitos locais se dá por meio de: saneamento básico (abastecimento público), poços artesianos e caminhão pipa. Em estabelecimentos comerciais a lei determina 31 que a água deve ser tratada adequadamente, seguindo todas as exigências determinadas por órgãos competentes e legislações vigentes (BRASIL, 2017). Entretanto, somente isso não basta para garantir a sua qualidade, uma vez que a falta de cuidados com higiene, manuseio e manutenção dos reservatórios podem interferir nas suas propriedades, a tornando inapropriada para utilização e consumo. No Estado de São Paulo, não é recomendado o uso de água originada de poços em estabelecimentos que lidam com alimentos, justamente devido ao grande risco de contaminação que o seu contato com o solo pode gerar (MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO DE ALIMENTOS, 2019). Portanto, assim como as pragas urbanas a água também é um importante veículo de contribuição com a contaminação nos estabelecimentos produtores de alimentos, principalmente aqueles que utilizem água imprópria para consumo humano, ou água que não obedeça aos parâmetros determinados na legislação vigente. O consumo ou a utilização de água imprópria nos processos produtivos, pode dar origem a contaminação dos alimentos, áreas, equipamentos ou utensílios gerando agravos à saúde dos consumidores. Inúmeras doenças podem ser ocasionadas pelo consumo de água não potável. Segundo o MS (2022), A transmissão de agentes infecciosos através da água pode ocorrer pelo contato com a pele durante o banho, pela ingestão ou pela aspiração de germes presentes na água(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022). Já nas unidades produtoras de alimentos, a contaminação pode acontecer de maneira direta, ou seja, através do consumo propriamente dito da água contaminada, ou de maneira indireta através do consumo de alimentos lavados, preparados ou diluídos com a água contaminada, sendo essas as maneiras mais comuns de contaminação a nível global. Segundo o MS (2022) as doenças mais comuns relacionadas a transmissão de agentes infecciosos através da água, estão descritas no Quadro 4 abaixo: Quadro 4. Principais doenças transmitidas por agentes infecciosos através da água e seus sintomas Doença Via de transmissão Principais sintomas 32 Hepatite A (infecção viral) Via fecal-oral, como: • mãos de manipulador mal higienizadas, que contaminam o alimento (consumidos mal cozidos ou crus); • consumo de água contaminada; Diarreia, perda de apetite, náuseas e vômitos; fraqueza, dor muscular, dor de cabeça e febre. Após uma semana surge a icterícia, sintoma clássico da hepatite A aguda, que se caracteriza por pele e olhos amarelados Cólera (Infecção causada por bactéria Vibrio cholerae) Via fecal-oral, como: • mãos de manipulador mal higienizadas que contaminam o alimento (consumidos mal cozidos ou crus); • consumo de água contaminada. Severo quadro de diarreia aquosa, que evolui rapidamente à grave desidratação. Diarreia infecciosa (causada outros germes, como: Bactérias (Escherichia coli, Salmonella, Shigella, Campylobacter pylori, Chlamydia trachomatis, Yersinia enterocolítica e Vibrio vulnificus); vírus (Rotavírus, Norovírus, Adenovírus, Sapovírus, Astrovírus, Adenovírus entérico, Pólio, Hepatitis E), e parasitas (Giardia lamblia, Entameba, histolytica, Trichuris trichiura, Isospora belli, Cryptosporidium parvum, Cyclospora cayetanensis). Via fecal-oral, como: • mãos de manipulador mal higienizadas que contaminam o alimento (consumidos mal cozido ou crus); • consumo de água contaminada; • consumo de carnes contaminadas com parasitas durante o abate, consumidas mal passadas ou crua. Infecção por bactéria: existem diferentes cepas, mas na maioria dos casos, o indivíduo apresenta quadros gastrointestinais de moderado a grave e a depender da cepa ou da bactéria, outras infecções podem estar associadas, como: cistite, abscesso no fígado, pneumonia, meningite, artrite, colecistite, entre outras patologias. Infecção por vírus: quadros gastrointestinais agudos, sem febre alta ou sangue nas fezes. Infecção por parasitas: Diarreia, normalmente bem líquida, esteatorreia (presença de gordura nas fezes), cólicas abdominais, mal-estar, flatulência, náuseas, vômitos e emagrecimento. 33 Leptospirose (Infecção causada pela urina de ratos de esgoto) A infecção pode ocorrer após o consumo de líquidos e alimentos contaminados. Porém, a principal via de contaminação se dá pelo contato direto da pele com água e embalagens (latas de refrigerante e cerveja, por exemplo) contaminadas pela urina destes roedores. A atenção deve ser redobrada a esse tipo de contaminação em situações de enchentes. Febre alta com calafrios (mais de 75% dos casos), dor de cabeça e dor muscular, náuseas (50% dos casos), vômitos, diarreia e os olhos acentuadamente avermelhados (típico da doença). Esquistossomose (infecção causada pelo parasita Schistosoma, que se hospeda no caramujo) Ingestão de água contaminada. Mas, a sua principal via de contaminação é através da pele (pessoas que se banham em águas contaminadas pelo parasita). Pode causar uma grave doença no fígado e no intestino. Fonte: Elaborado pela autora (2022) * O indivíduo precisa ter contato com fezes humanas contaminadas para que a contaminação ocorra. Nota-se no Quadro 4. apresentado acima, que a maioria das infecções causadas pela contaminação da água e de alimentos, ocasionam as gastroenterites. Mundialmente, estima-se que as gastroenterites de origem viral sejam responsáveis por mais de cinco (5) bilhões de episódios de diarreia a cada ano. Contudo, os números das gastroenterites de origem parasitária e bacteriana estão reduzindo a cada ano, devido ao avanço tecnológico, a evolutiva melhora nas infraestruturas (rede de esgoto e saneamento básico), as condições de saúde pública, o acesso à informação em saúde, disponibilidade de água potável, e o cumprimento as leis e ao seguimento das boas práticas de fabricação (BPF) quando nos referimos as empresas que lidam com a produção dos alimentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022). Nas BPF em unidades produtoras de alimentos em relação a água, são envolvidas ações para o seu armazenamento, controle e monitoramento, com o objetivo de não causar 34 prejuízos a saúde dos usuários. Saiba que devemos entender por água tratada, segundo Silva Junior (2005), água de rede de abastecimento clorada pela companhia de distribuição (Companhia de saneamento básico do estado de ~São Paulo – SABESP), água fervida por no mínimo dois (2) minutos e água filtrada e clorada com no mínimo 1,5 mg/L e no máximo 2,5 mg/L de hipoclorito de sódio adequado para essa finalidade (SILVA JUNIOR. 2005. p. 161). As ações de BPF, recomendadas são: 1) Reconhecer a procedência da água; 2) Buscar informações (departamento de engenharia ou manutenção da empresa) se as condições do reservatório de água são adequadas, ou seja, se estão íntegros, sem rachaduras, com tampa, se são de material liso, resistente e bem vedados, se estão localizados em local acessível em caso de fiscalização e se está distante de locais sujeitos a enchentes, ou contaminação de água de esgoto; 3) Instalar filtros em áreas ou setores que necessitem de mais atenção e cuidado (áreas de preparo de sucos, sobremesas, lactários, sala de manipulação de dietas enterais, refeitórios, entre outras); 4) Providenciar a higienização periódica (a cada 6 meses ou sempre que necessário) nos reservatórios de água (caixa d´água) através da contratação de empresas prestadoras de serviços especializadas e regularizadas por leis vigentes; 5) Estabelecer uma rotina de coleta de amostras de água em diferentes áreas e torneira, para a realização de análise microbiológica, em laboratórios credenciados para tal; 6) Capacitar os colaboradores para que realizem ações seguras com o intuito de evitar a contaminação dos alimentos; 7) Criar POPs específicos para essas finalidades e registrar em MBP (RDC Nº 275, 2002: Portaria Nº 2619, 2011; CVS Nº 5, 2013; RDC Nº 2619, 2011). A água pode ainda acarretar outros graves problemas a saúde, por ser veículo de inúmeras substâncias químicas, portanto, se o indivíduo a consumir durante 35 um período elevado de tempo, ou em doses aumentadas, sofrerá com consequências a sua saúde, conforme descrito no Quadro 5 a seguir: Quadro 5. Componentes químicos que podem ser veiculados pela água e os seus efeitos a saúde Componente Efeito a saúde Inorgânico Arsênico Em doses baixas causa debilidade muscular, perda de apetite e náusea. Em doses altas causa comprometimento do sistema nervoso central. Cadimo Provoca desordem gastrintestinal grave, bronquite, enfisema, anemia e cálculo renal. Chumbo Provoca cansaço, ligeiros transtornos abdominais, irritabilidade e anemia. Cianeto Pode ser fatal em doses altas. Cromo Em doses baixas causa irritação nas mucosas gastrintestinais, úlcera e inflamação da pele. Em doses altas causa doenças no fígado e nos rins, podendo levar à morte. Fluoretos Em doses baixas melhoram o índice de fertilidade e crescimento e trazem proteção contra as cáries. Em doses altas provocam doenças nos ossos e inflamação no estômago e no intestino, causando hemorragia. Mercúrio Causa transtornos neurológicos e renais, tem efeitos tóxicos nas glândulassexuais, altera o metabolismo do colesterol e provoca mutações. Nitratos Causam deficiência de hemoglobina no sangue em crianças, podendo levar à morte. Prata É fatal para o homem em doses extremamente altas. Provoca a descoloração da pele, dos cabelos e das unhas. Orgânicos Aldrin e Dieldrin Afetam o sistema nervoso central. Em doses altas são fatais para o homem. 36 Benzeno A exposição aguda ocasiona a depressão no sistema nervoso central. Estudos sugerem que existe relação entre exposição de benzeno e leucemia. Clordano Provoca vômitos e convulsões. Pode causar mutações. DDT Causa problemas principalmente no sistema nervoso central. Lindano Causa irritação do sistema nervoso central, náusea, vômitos, dores musculares e respiração debilitada. Fonte: Radichii et al., Saúde ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002 p. 52. Por todos esses potencias agravos a saúde citados que podem ser veiculados através da água, que existem leis para o seu controle e monitoramento regulamentadas no Brasil, e o nutricionista deve segui-las para garantir a continuidade do padrão de qualidade da água utilizada nas unidades produtoras de alimentos. Vale a pena ressaltar que a água disponível nas nossas torneiras não é gratuita, portanto, cabe a empresa distribuidora a responsabilidade de sua limpeza, e a garantia da sua potabilidade. A partir desse momento, ela assume o risco e fica responsável por responder a todos os danos que podem ser gerados a partir do fornecimento de um bem inadequado para o consumo, sendo assim qualquer inconsistência observada pela nutricionista em relação a qualidade da água, deve ser pesquisada a fundo e relatada aos órgãos competentes. A seguir, vamos estudar sobre os padrões de avaliação da qualidade da água destinada ao consumo e a produção de alimentos. 3.1. Avaliação da Qualidade da Água Utilizada nos Processos de Produção de Alimentos Já vimos que a qualidade da água não está relacionada somente a sua procedência, mas aos fatores capazes de afetar a sua potabilidade, como por exemplo, o seu inadequado armazenamento. E que a água proveniente da companhia de abastecimento público, é tratada e devem seguir a padronização de qualidade exigida pelo MS em legislação existente, visando assim garantir a 37 manutenção de sua qualidade para as residências, estabelecimentos comerciais, hospitais, escola entre outros. Na unidade produtora de alimentos, para que as características de qualidade que a tornam potável e segura para o consumo humano, sejam mantidas, devem ser adotadas condições de monitoramento. Esse monitoramento deve ser periódico, e é regulamentado pelas legislações vigentes, como a RDC Nº 275 (2002), RDC Nº 216 (2004), Portaria Nº 2619 (2011) e CVS Nº 5 (2013). Sendo assim, faz parte da atribuição do nutricionista conhecer cada uma delas e seguir as suas orientações, pois assim, será garantida a manutenção dos padrões de qualidade da água recebida da companhia de abastecimento público. Outro ponto importante deve ser destacado, antes da água ser fornecida aos usuários pelas companhias de abastecimento público, seguem para a análise de diversos parâmetros como: físicos (temperatura, sabor e odor, cor, turbidez e sólidos), parâmetros químicos (pH, alcalinidade, dureza, ferro, magnésio), matéria orgânica e parâmetros biológicos (coliformes e algas). É por isso que na unidade produtora de alimentos, além dos cuidados com o reservatório de água, é recomendado a realização periódica de análise microbiológica da água, garantindo assim a sua potabilidade. Como resultado esperado, o padrão microbiológico de potabilidade da água para o consumo humano, deve apresentar ausência de Escherichia coli ou coliformes termotolerantes e totais para cada 100ml de amostra coletada (SILVA JUNIOR, 2005). O Ministério da Saúde, através da Portaria Nº 518 (2004), estabelece que, a água destinada ao consumo humano deve obedecer ao padrão de potabilidade e está sujeita à vigilância da qualidade da água (PORTARIA Nº 518, 2014.p. 2). Desta forma, a água potável é isenta de patógenos desde o seu fornecimento inicial realizado através da companhia de abastecimento público até a utilização dela ou de seu subproduto (gelo, alimento) ao cliente no ponto de distribuição. Isso deve ser garantido pela unidade produtora de alimento. Nesses estabelecimentos, a água utilizada deve seguir algumas diretrizes estabelecidas nas legislações vigentes já descritas, e outros cuidados como: 38 • Para a manipulação ou fabricação de gelo e produção de vapor deve se utilizar somente água potável; • A higienização de instalações, equipamentos, utensílios, móveis e afins deve ser realizada com água proveniente do abastecimento público, dos quais sigam os padrões estabelecidos em legislação; • Caso o estabelecimento não possua água proveniente do abastecimento público, pode ser utilizada fontes alternativas (água de poço ou mina, dentre outras), desde que tenha licença autorizada por órgãos competentes, seja tratada e apresente periodicamente atestado de qualidade através de análises laboratoriais; • Os reservatórios de água devem ser higienizados a cada 06 meses ou quando houver algum incidente que possa contaminar a água; • A higienização dos reservatórios necessita seguir os critérios estabelecidos pelos órgãos oficiais (RDC Nº 216, 2004). Tais parâmetros foram elaborados com a finalidade de assessorar os estabelecimentos produtores de alimentos ao fornecimento e manuseio adequado da água, assegurando sua qualidade, evitando possíveis contaminações e danos à saúde dos consumidores. O nutricionista possui uma atribuição muito especial em relação a garantia da potabilidade da água e ela está diretamente condicionada ao padrão de qualidade do seu processo produtivo, por isso deve ser criteriosamente seguido e constantemente analisado. Na próxima unidade, vamos discutir sobre a vigilância ambiental e como ela se relaciona com os processos produtivos de uma unidade produtora de alimentos. Curioso? 4. Vigilância Ambiental e as Relações Diretas e Indiretas com as Áreas Produtoras de Alimentos O meio ambiente está a cada dia mais contaminado devido ao avanço industrial e econômico em várias regiões do planeta, gerando lixo e a poluição química, que por sua vez gera impactos sobre a qualidade da água, do solo e consequentemente dos alimentos. Esse lixo gerado traz consigo o crescimento desordenado das pragas e vetores urbanos detalhadamente mencionados no 39 início desse material (RADICCHI, 2009). Devemos crer que controlar a geração desse lixo através da reciclagem, serão igualmente proporcionais a redução e a contaminação química da água do solo e dos alimentos. O Brasil ainda não formalizou a sua Política Nacional de Saúde Ambiental (PNSA), mas isto não significa a sua omissão no assunto, que é conduzido desde 1998 pelo MS, inicialmente por intermédio da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e atualmente pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por meio da Coordenação Geral de Vigilância Ambiental em Saúde (CGVAM) (RADICCHI, 2009). O propósito da criação dessa política é o de aliar o crescimento a sustentabilidade, tarefa nada fácil de se cumprir, e pautada em inúmeros desafios. Os objetivos e finalidades da PNSA são definidos em Brasil (2009), como: [...] proteger e promover a saúde humana e colaborar na proteção do meio ambiente, por meio de um conjunto de ações específicas e integradas com instâncias de governo e da sociedade civil organizada, para fortalecer sujeitos e organizações governamentais e não-governamentais no enfrentamento dos determinantes socioambientais e na prevenção dos agravos decorrentes da exposição humana a ambientes adversos, de modo a contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população soba ótica da sustentabilidade. (BRASIL, 2009, p.21). Nota-se que a promoção da saúde ambiental é uma questão que inclui a participação dos diversos atores sociais, da corresponsabilidade dos governos estaduais, municipais, do governo federal na elaboração de leis, decretos e portarias que sejam necessárias no decorrer de sua formulação e implementação. Os desafios na implementação da PNSA devemos destacar o envolvimento entre as habilidades de todos os ministérios envolvidos, como os da Saúde, Trabalho e Emprego, Meio Ambiente, Cidades, Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura, entre outros, mesmo assim sem esclarecer quais são de fato as competências de cada um (BRASIL, 2009). Isso é sem sombra de dúvidas um obstáculo, para a implementação desta política social, pois há a necessidade de envolvimento de vários ministérios sem exista a correta definição das competências de cada um deles na atuação da PNSA. A origem 40 do termo “Vigilância em saúde”, surgiu nas ações de isolamento e quarentena (Augusto LGS et al. 2001). Após a II Guerra Mundial, especialmente nos Estados Unidos da América no período da Guerra Fria, o conceito de Vigilância esteve associado à ideia de “inteligência”, em razão dos riscos de guerra química e ou biológica (LIEBER RR et al, 2000). Já no Brasil, até a década de 50, a Vigilância em saúde era compreendida como um conjunto de atividades de avaliação sistemática sobre as doenças surgidas nas comunidades e as suas ações de controle (LIEBER RR et al, 2000). A essas atividades, foram dadas novas estruturas a partir da década de 60, quando se passou a incorporar medidas de intervenção. A partir de então, se estabeleceu o controle da produção, do consumo de produtos e da fiscalização de serviços de saúde, sob a denominação de Vigilância Sanitária, que posteriormente, evoluiu-se para um sistema de vigilância capaz de identificar os dados epidemiológicos e os seus respectivos fatores de condições. (WALDMAN, 1991). Desde então, o termo “Vigilância em saúde” foi crescendo e tornando formas diferentes até que nos Estados Unidos na década de 80 os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) definiram esse novo sistema onde as ações referentes aos dados coletados (coleta, análise e interpretação) se articulam à informação periódica como instrumento da prevenção, o que implica uma ação de controle sobre os riscos ambientais para a saúde (AUGUSTO LGS, 2003). Hoje, existe no Brasil o Sistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde (SNVA), que prioriza a informação no campo da vigilância ambiental, de fatores biológicos (vetores, hospedeiros, reservatórios, animais peçonhentos), qualidade da água para consumo humano, contaminantes ambientais químicos e físicos que possam interferir na qualidade da água, ar e solo, e os riscos decorrentes de desastres naturais e de acidentes com produtos perigosos (AUGUSTO LGS, 2003). Foi o curso do processo de transição epidemiológica vigente em diversos países que fez com que o pensamento fosse ampliado para o caráter preventivo, e o enfoque que era individual se tornasse coletivo, evidenciando assim, um novo marco para a saúde pública. Quando se trata de Vigilância Ambiental, a prevenção é uma preocupação eminente, e é utilizada com o significado de ação antecedente, que está conectado ao curso do tempo (LIEBER RR et al, 2000). As unidades produtoras de alimentos tanto comerciais como institucionais vem 41 crescendo exponencialmente, devido as jornadas intensas de trabalho da população em geral, e dificuldades de deslocamento nas grandes metrópoles. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (ABERC) (2022), esse mercado distribui atualmente 14.7 milhões de refeições diariamente, e emprega cerca de 250 mil colaboradores. Faturou no ano de 2021 mais de 21 bilhões de reais (ABERC, 2022). Conforme apresentado nesse material, o crescimento das empresas é proporcionalmente igual a geração de resíduos e ao impacto do meio ambiente. As unidades produtoras de alimentos desempenham um papel importante na saúde coletiva, já que podem interferir no estado nutricional, saúde e bem-estar dos indivíduos, na economia, pois são unidades geradoras de empregos e grandes consumidoras de matéria prima. Além disso, atualmente se tem falado muito sobre os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social, justamente pelo fato dessas empresas gerarem um representativo impacto ambiental (DIAS et al. 2016). Conforme descreve Dias (2016), O desenvolvimento sustentável implica em atender às necessidades presentes sem comprometer as necessidades futuras. Está diretamente relacionado com a justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento (DIAS et al. p.27. 2016). Portanto, temas preocupantes e diretamente envolvidos no crescimento desse tipo de empresa, merecem destaque, e serão apresentados a seguir. Vamos juntos? 4.1. O Desperdício de Alimentos nas Unidades Produtoras de Alimentos O desperdício de alimentos nas unidades produtoras de alimentos é mundialmente reconhecido, e se destaca como um assunto de extrema atenção. Estima-se que anualmente no Brasil, segundo o Serviço Social do Comércio (SESC) (2018), são desperdiçados cerca de doze (12) bilhões de reais por ano, o equivalente a 39 milhões de toneladas de alimentos. Já a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), refere que a cada ano, 42 um terço dos alimentos produzidos para consumo humano é perdido ou desperdiçado mundialmente (FAO, 2011). Segundo FAO (2011), PORPINO et al.,2018 e CEDES, 2018 esses números são maiores ainda, conforme descrito no Quadro 6 abaixo: Quadro 6 - Desperdício de Alimentos no Mundo, na América Latina e no Brasil Local Quantidade de alimentos desperdiçados Toneladas de alimentos/ ano Suficiente para alimentar Mundo 1,3 bilhão 2 bilhões de pessoas América latina 127 milhões 36 milhões de pessoas Brasil 26 milhões 13 milhões de pessoas Fonte: FAO, 2018; PORPINO et al.,2018 e CEDES, 2018.In: DIAS, N. A.; OLIVEIRA, A. L. Sustentabilidade nas unidades de alimentação e nutrição: desafios para o nutricionista no século XXI. Higiene Alimentar, v. 30, n. 254/255, p. 26-31. 2016. O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). Estima-se que cerca de 33,1 milhões de pessoas vivem em estado de insegurança alimentar. Este valor é quase o dobro do alcançado no ano de 2020 (FAO, 2022). É correto afirmar que o desperdício pode variar de acordo com o tipo de serviço, nível tecnológico dos espaços (restaurantes e cozinhas) e o nível de capacitação dos colaboradores que atuam na unidade produtora de alimentos, porém de acordo com Silvério, Oltramari (2014) é sinônimo de falta de qualidade no serviço, e o correto planejamento da produção de alimentos, contribuirá para a redução dessas sobras e do desperdício. A seguir, destacaremos alguns fatores que podem contribuir com a redução do desperdício nas unidades produtoras de alimentos como: 1) Planejar o cardápio de forma adequada consciente e sustentável, levando em consideração além das Leis de Pedro Escudeiro (1934), questões relacionadas ao clima do local, sazonidade, o número de comensais, os indicadores culinários (per capita, índice de reidratação, 43 índice de cocção e fator de correção) a padronização de receitas, a quantidade de alimento que deve ser preparada, acompanhar diariamente as sobras, e periodicamente a satisfação do seu cliente em relação a avaliação sensorial das preparações servidas, nível tecnológico da cozinha, avaliar o padrão de conhecimento no preparo das preparações culinárias por parte da sua equipe decolaboradores, parceria com fornecedores para adquirir alimentos de melhor qualidade e de produtores locais; 2) Monitorar e otimizar as técnicas de armazenamento, pré-preparo, preparo e distribuição dos alimentos, que deve ser realizado frequentemente, a fim de se otimizar as técnicas envolvidas; 3) Adotar procedimentos relacionados com a pratica do reaproveitamento integral dos alimentos. Vale a pena destacar que os fatores citados acima contribuirão com a redução do desperdício de alimentos, desde que estejam aliados ao processo de treinamento de capacitação de toda a equipe. Um gestor consciente e ativo, desperta em seus colaboradores inicialmente a curiosidade sobre a real necessidade de cumprimento das ações e depois a conscientização da importância da aplicação das mesmas. Sendo assim, devemos insistir na realização das diversas ações mesmo que possa nos soar repetitivas e monótonas. 4.2. A Importância da Reciclagem e do Reaproveitamento dos Resíduos Gerados nas Unidades Produtoras de Alimentos Um dos maiores desafios do nosso século é lidar com as grandes quantidades de resíduos sólidos gerados nas indústrias e empresas. Nos últimos anos, o descarte dos resíduos vem se tornando um importante fator de vigilância em saúde, pois muitos são realizados inadequadamente em aterros e lixões a céu aberto, proporcionando a infestações de insetos e a contaminação direta e indireta dos seres humanos, solo e água causando grande impacto ambiental (DIAS et al. 2016). A unidade produtora de alimentos a depender de seu porte, gera grandes quantidades de resíduos sólidos, semissólidos e líquidos 44 diariamente, portanto é importante que o gestor crie condições adequadas para o seu correto descarte e a reciclagem. Toda equipe deve estar unida e inserida no neste propósito, por isso a importância das padronizações das ações (POP), treinamentos e monitoramento constante merecem destaque. De acordo com Dias, É importante que o descarte dos resíduos seja feito de maneira consciente, privilegiando os processos de reciclagem, preparando os detritos para a coleta seletiva, para transformar matérias aparentemente inúteis em novos produtos e também em matéria- prima. Essa prática se faz importante por poupar energia e recursos naturais, o que se torna uma atitude sustentável (DIAS et al. 2016 p. 28). No Brasil, a lei que dispõe sobre a política nacional de resíduos prevê o seu gerenciamento desde as etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento, destinação e deposição final ambientalmente adequada, ainda assim, a deposição de diversos tipos de materiais em lixões é uma realidade (BRASIL, 2022). Jacobi, Besen (2011) afirmam a responsabilidade das autoridades públicas em gerenciar os resíduos sólidos, desde sua coleta até a disposição final e esta deve ser ambientalmente segura, porém esse movimento envolve o coletivo. Todos devem participar para que o processo ocorra de maneira satisfatória. Nas unidades produtoras de alimentos, a coleta seletiva contribui muito para a prática sustentável na sociedade urbana, tem merecido destaque e se trata de uma opção empregada nos centros urbanos com o intuito de reduzir a produção excessiva de lixo. Consiste nas etapas de separação de materiais recicláveis nas suas diferentes áreas e o seu encaminhamento para o processo de reciclagem. Apresenta série de vantagens, como: a educação ambiental, geração de trabalho e renda, redução do uso de matéria-prima, economia dos recursos naturais renováveis, economia de energia, redução da disposição de lixo nos aterros e dos impactos ambientais decorrentes, dentre outros (RIBEIRO, BESEN, 2007). Vale a pena destacar que todo o resíduo orgânico tem origem animal ou vegetal, ou seja, fizeram parte de um ser vivo, portanto se constituem de uma grande fonte geradora de impactos ambientais, já que geram gases, maus odores, a geração de líquidos percolados (chorume), atração de animais 45 vetores e pragas urbanas, corrosão de equipamentos e componentes da infraestrutura, portanto é importante o seu descarte correto a fim de se evitar tais danos (NETO et al., 2007). Separar os resíduos orgânicos (madeira, aparas e restos de alimentos), inorgânicos (latas, plásticos, isopor e vidro), líquidos (óleo), e providenciar o correto destino dos mesmos, é uma ação que deve ser empregada por todos domicílios e empresas, principalmente as com foco a produção de alimentos. No Brasil, Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), foi criado com o objetivo de ser o principal instrumento da Lei n° 12.305, de 02 de agosto de 2010, que firmou a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ele cria metas importantes, como o encerramento dos lixões até o ano de 2024, reciclagem de 50% dos resíduos gerados, incentivo a participação dos catadores, criação de cooperativas de catadores, obrigatoriedade de empresas particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos nos diferentes segmentos, como shopping, escolas, industrias (BRASIL, 2010). Sendo assim, mais do que nunca, as ações que envolvam a reciclagem estão em evidências. A PNRS, em seu art. 3º, inciso VII, Brasil, 2021, definiu que destinação final ambientalmente adequada compreende a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes, dentre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar impactos ambientais adversos (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Qualidade Ambiental. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, DF. 2022p 26). As etapas envolvidas na aplicação da coleta seletiva dos resíduos devem ser pautadas nos cinco (5) erres da sustentabilidade como: 1) Reutilizar - se trata do reuso propriamente dito dos algum produto sem a aconteça a sua transformação química, biológica ou físico-química; 2) Reciclar - que é a efetivamente a transformação de um material em um insumo ou um novo produto, o que acontece por exemplo com o óleo pós fritura; 46 3) Reduzir - que nada mais é do que diminuir o consumo de materiais e bens de consumo diretamente ligados a sustentabilidade como em nosso objeto de estudo, usar com consciência os recursos naturais (água, energia elétrica); 4) Recusar – utilizar com consciência as marcas e os produtos produzidos por empresas não comprometidas com as causas ambientais, e em uma unidade produtora de alimentos diminuir a utilização de descartáveis; 5) Repensar – é baseada na reflexão sobre as diversas possibilidades de se reduzir o consumo, como por exemplo, ao solicitar a compra de um determinado insumo para a produção de alimentos, se pensar na apresentação de sua embalagem. Assim, se reduzirá o volume de embalagens a serem descartadas. Um outro fator que merece destaque na nossa abordagem é a compostagem do resíduo orgânico que pode ser adotado pela unidade produtora de alimentos e que certamente irá contribuir com a reutilização do resíduo orgânico gerado que é o de maior volume coletado no Brasil, o equivalente a 45.30% segundo PNRS, 2022, ... nota-se que a fração orgânica, abrangendo sobras e perdas de alimentos, resíduos verdes e madeiras, é a principal componente dos resíduos sólidos urbanos, com 45,3%. Os resíduos recicláveis secos somam 33,6%, sendo compostos principalmente pelos plásticos (16,8%), papel e papelão (10,4%), vidros (2,7%), metais (2,3%), e embalagens multicamadas (1,4%). Outros resíduos somam 21,1%, dentre os quais resíduos têxteis, couros e borrachas representam 5,6% e rejeitos, estes compostos principalmente por resíduos sanitários, somam 15,5% (PNRS, 2022). A compostagem segundo a EMBRAPA, é o destino mais digno a ser dado para estes resíduos, pois possibilita a sua transformaçãoem adubo orgânico e o reconduz ao seu papel inicial que é a fertilização dos solos naturalmente (EMBRAPA, 2021). Contudo, os cuidados e a gestão dos processos desencadeados a partir da geração dos resíduos em uma unidade de produtora de alimentos deve ser criterioso, registrado em POP e no MBP conforme 47 determinado em legislações sanitárias vigentes. A seguir, vamos dar continuidade os estudos iniciados nessa unidade, com o foco no consumo consciente dos recursos naturais necessários envolvidos na produção de alimentos. 4.3. O Uso Racional da Água nas Unidades Produtoras de Alimentos Outra enorme preocupação atual é quanto ao uso e o desperdício de água. Nas unidades produtoras de alimentos o uso da água é muito necessário, seja para o processo de produção propriamente dito, ou para higienização das diferentes áreas, setores, utensílios, e dos equipamentos. Todavia, especialistas alertam para que o uso dessa água seja realizado de maneira consciente, se evitando os excessos desnecessários (VALLE, MARQUES, 2006). Segundo Valle e Marques (2006), a adoção de algumas estratégias pode contribuir para a redução desse desperdício como: 1) A instalação de redutores nas torneiras; 2) Evitar que as torneiras fiquem abertas além de sua necessidade; 3) Realizar a manutenção periódica das torneiras, equipamentos e tubulações para identificar possíveis vazamentos; 4) Utilizar de maneira correta a máquina de lavar louças e, na sua ausência, é aconselhável encher as pias com água quente para a realização da maceração dos utensílios (retirar parte da sujidade e gordura) antes do processo de lavagem; 5) Treinar e monitorar a equipe a fim de se reduzir o desperdício da água; 6) Padronizar o uso da limpeza biodegradável, e 7) Adotar um plano de reaproveitamento e reuso de água, quando possível. Por fim, cabe ao nutricionista analisar e mediar o impacto ambiental envolvido nas etapas pertinentes ao seu processo produtivo, e traçar ações que visem minimiza-los. 48 4.4. O Uso Racional da Energia Elétrica nas Unidades Produtoras de Alimentos A energia elétrica possui um papel primordial para a realização dos processos produtivos de uma unidade produtora de alimentos. Ela irá intermediar, auxiliar e otimizar a realização das tarefas além de fornecer a iluminação e proporcionar a ambiência. Sendo assim, o correto planejamento e ambiência (cor, ventilação, iluminação) da área física, contribuirá para a redução do consumo excessivo de iluminação artificial. A iluminação natural é a mais indicada, mas rotineiramente ocorre a sua complementação com a iluminação artificial que deve seguir alguns critérios como: as luminárias localizadas na área de produção devem estar protegidas contra quedas e explosões, além desse fator a proteção evita o acúmulo de sujidades (poeira e gordura), facilitando a limpeza, as lâmpadas adequadas para esse fim são as fluorescentes, já que não produzirem calor e a distribuição uniforme da luz é permitida (DIAS et al. 2016). Outros critérios devem ser foco de atenção do gestor, como: aquisição de equipamentos que consumam menos energia, evitar luzes acesas em dias claros, manter regulada a temperatura dos refrigeradores e freezers, providenciar manutenção periódica nos equipamentos a fim de se evitar desperdício do consumo de energia como por exemplo, a vedação inadequada das portas dos refrigeradores, freezers e passthrough por ineficácia das borrachas de vedação, geram esse desperdício, além do treinamento e monitoramento periódico de toda a equipe sobre a importância dessas questões. A otimização da utilização dos recursos naturais e o descarte dos resíduos gerados em uma unidade produtora de alimentos, também impacta direta e indiretamente na sociedade no presente e no futuro. Consequentemente aliado a todas as atribuições do nutricionista, devemos incluir a sustentabilidade. Neste caso, leis relacionadas à sustentabilidade ambiental tornam-se essenciais, uma vez que o processo de transformação da matéria-prima por meio da atividade desta esfera é capaz de produzir grande quantidade de resíduos, sejam eles orgânicos, inorgânicos e líquidos que se incorretamente descartados, acarretam prejuízos ao meio ambiente. A conscientização dos gestores das unidades produtoras de alimentos quanto a vigilância ambiental é fundamental, mas não podemos descartar o importante papel que a administração pública possui quanto a coleta seletiva, tratamento de 49 resíduos e todas as demais infraestruturas necessárias, para que a melhoria, abrangência e eficácia do ponto de vista da sustentabilidade, aconteça. Finalizando esta produção, podemos concluir que o nutricionista tem um compromisso proeminente na implantação e manutenção das boas práticas de fabricação, aliadas a sustentabilidade nas unidades produtoras de alimentos, por meio da atuação em perspectivas relacionadas à postura dos seus colaboradores e clientes, bem como na utilização dos recursos naturais, relacionadas a responsabilidade social e ambiental. 50 Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO DAS EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS – ABERC. Disponível em: https://www.aberc.com.br/mercado-real/. Acesso em: 5 junho 2022. AUGUSTO, L. G. S. Saúde e vigilância ambiental: um tema em construção. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 12, n. 4, p. 177-87, 2003. AUGUSTO, L. G. S.; FLORENCIO, L.; CARNEIRO, R. M. Saúde e Ambiente na Perspectiva da Saúde Coletiva. In: ______(Org.). Pesquisa (ação) em Saúde Ambiental. Recife: Editora Universitária -UFPE, 2001. v. 1, p. 3-6. BESEN, G. R. et al. Resíduos sólidos: vulnerabilidades e perspectivas. 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