Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROFESSORA Me Thanise Pitelli de Nigro Controle de Qualidade de Alimentos ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17131 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 PRODUÇÃO DE MATERIAIS Coordenador de Conteúdo Renato Castro da Silva Designer Educacional Leticia Matheucci Curadoria Gisele Porto Revisão Textual Graziele Bento Porto Editoração Juliana Duenha Ilustração Andre Luis Azevedo da Silva Realidade Aumentada Maicon Douglas Curriel Fotos Shutterstock. Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar Diretoria de Design Educacional FICHA CATALOGRÁFICA C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. NIGRO, Thanise Pitelli de. Controle de Qualidade de Alimentos. Thanise Pitelli de Nigro. Maringá - PR: Unicesumar, 2022. Reimpresso em 2023. 216 P. ISBN: 978-85-459-2255-1 “Graduação - EaD”. 1. Alimentos 2. Qualidade 3. Nutrição. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 613.2 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 02511343 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17299 Me. Thanise Pitelli de Nigro Olá, querido(a) acadêmico(a) e futuro(a) nutricionista! Seja bem-vindo(a) a essa disciplina que é cada vez mais relevante dentro das diversas áreas de atuação do profissional nutricionista. Eu sou a professora Thanise Pitelli de Nigro e, com muito prazer e satisfação, trouxe minha contribuição para sua formação! Minha contri- buição decorre da minha experiência profissional, que vou compartilhar com você agora. Sou formada em nutrição e em tecnologia em alimentos. E mesmo após formada e já atuando profissionalmente na área, continuei minha vida acadêmica. Fiz especialização em Nutrição e Metabolismo e em Docência do Ensino Superior. Também fiz mestrado em Ciência de Ali- mentos na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e sou doutora pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Escolhi ser nutricionista por inspiração da minha mãe, que quando se separou do meu pai, com duas filhas pequenas, começou a fazer docinhos para festas, como casamentos e aniversários. São mais de 30 anos vivendo no meio do chocolate. Sou privilegiada, não é mesmo?! Apesar de sempre ter certeza de que a nutrição é minha área, eu não sabia que, dentro da profissão, a vida ainda me surpreenderia, pois, inicialmente, achei que iria seguir a área clínica, mas como a grande maioria dos nutricionistas, a primeira oportunidade que surgiu foi um emprego em um serviço de alimentação. Depois disso, nunca mais quis seguir outra área da nutrição. Atualmente, tenho uma empresa de consultoria e assessoria em alimentos e, dentre as atividades que exerço, o controle de qualidade é o principal. Espero que possa lhe mostrar fazê-lo se apaixonar por essa área tão importante da nutrição! Lattes: http://lattes.cnpq.br/4060411620527998 Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. �https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11632 Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS EU INDICO Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das possibilidades de interação de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido PÍLULA DE APRENDIZAGEM Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discutido, de forma mais objetiva. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 CONTROLE DE QUALIDADE DE ALIMENTOS Você já refletiu sobre como o campo de atuação do profissional nutricionista é vasto? Mesmo dentro de uma única área, como em unidades produtoras de refeições, existem muitas atividades específicas em que um nutricionista pode atuar, seja na elaboração de cardápios, na elaboração de rotulagem de alimentos ou, ainda, no controle de qualidade de alimentos. Essa versatilidade ocorre nas demais áreas de atuação, como na área clínica, por exemplo, na qual o nutricionista pode se especializar no atendimento de crianças. Imagine que você, profissional nutricionista recém-formado(a), recebe uma notícia com uma vaga de emprego para nutricionistas. Na descrição da vaga, estão apresentadas informações como “atuação no controle de quali- dade de alimentos em restaurantes e demais estabelecimentos de alimentação desenvolvendo visitas técnicas e rotinas pertinentes a essa atividade, com foco na elaboração de documentos para controle de qualidade a cada serviço de alimentação”. Você ficou interessado(a) em saber mais informações para poder se candidatar à vaga. Ao entrar em contato com os responsáveis, você foi informado(a) de que o trabalho possui remuneração compatível e horário de tra- balho flexível. Para se candidatar, seria necessário realizar uma prova teórica sobre controle de qualidade, com foco nos documentos necessários para serem elaborados para as empresas. Nesse contexto, você começou a se preparar e relembrar quais são os documentos necessários para serem elaborados pelo nutricionista que atua nesse negócio? Quais são as atribuições de um profissional nutricionista no controle de qualidade? O nutricionista possui importante papel nos serviços de alimentação para exercer o controle de qualidade de alimentos. O nutricionista possui o conhecimento necessário para organizar o fluxograma da produção das refeições, es- tabelecendo critérios necessários em cada etapa, bem como os requisitos para higiene pessoal dos manipuladores de alimentos e higienização dos equipamentos, móveis e utensílios, assim como todos os controles necessários para o controle de qualidade. Um serviço de alimentação é um estabelecimento destinado à produção e comercialização de alimentos e refei- ções para uma coletividade, ou seja, um considerável número de pessoas. Nessas empresas, são exercidas atividades como as que fazemos em nossa residência (logicamente, na nossa residência ocorre a produção em pequena es- cala). Algumas atividades que fazemos em casa não são recomendadas pela vigilância sanitária, como, por exemplo, cozinhar sem touca de proteção nos cabelos, usar pano de prato, não separar a pia onde fazemos a higienização das mãos, enfim. Já pensou quantas mudanças seriam necessárias para adequar os processos às regulamentações? Esse conhecimento, aliado aos demais conhecimentos obtidos no decorrer do estudo, possibilitarão que você possa pensar estrategicamente e utilizar de diferentes ferramentas para exercer o controle de qualidade em serviços de alimentação. Reflita comigo sobre os diversos documentos que o nutricionista elabora para auxiliar no controle de qualidade na produção de alimentos: manual de boas práticas, procedimentos operacionais pa- dronizados, planilhas de controle, dentre outros. Vale lembrar que a elaboração e a implantação de planilhas de controle dos serviços de alimentação é uma das ferramentas utilizadas para o controle de qualidade. Porém, esses documentos e ferramentas devem ser elaborados especificamente para cada serviço de alimentação em que o nutricionista atua, vistoque cada estabe- lecimento é único e possui características próprias que determinarão os controles e procedimentos necessários. Após refletir sobre todos esses documentos e ferramentas de controle de qualidade, pense na importância que o profissional nutricionista possui nos serviços de alimentação, pois, além de entender sobre qualidade de alimentos, também entende sobre as particularidades necessárias para cada característica do serviço de alimen- tação, seja pelo tipo de cardápio, modalidade de distribuição, materiais empregados nas áreas e características dos colaboradores da empresa. Assim, aluno(a), o conhecimento adquirido ao longo de sua formação em nutrição, somado à visão estratégica do nutricionista, possibilita a utilização de ferramentas para controle de qualidade dos alimentos, garantindo a segurança do consumidor e o direito humano à alimentação adequada – DHAA. Espero que, com esse estudo, você possa compreender as normas e regras necessárias para o manipulador de alimentos, edificação das áreas e preparo de alimentos, para garantir a segurança dos alimentos, bem como a importância da inocuidade do alimento para saúde da população. 1 2 43 5 6 71 11 51 31 CONTAMINAÇÕES EM ALIMENTOS 115 HIGIENE PESSOAL E USO DE UNIFORMES NA MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS REGULAMENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO EM ALIMENTOS CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA EM ALIMENTOS ESTRUTURA FÍSICA EM ÁREAS DE MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS HIGIENE AMBIENTAL, MANEJO DE RESÍDUOS E CONTROLE DE PRAGAS 93 7 8 9 135 185 161 ETAPAS DE PREPARO DOS ALIMENTOS VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE DOS ALIMENTOS E INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS MANUAL DE BOAS PRÁTICAS E PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRONIZADOS 1 Olá, querido(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a mais uma disciplina do curso de Nutrição. Iniciaremos, agora, a primeira unidade de estudo de Gestão da Qualidade em alimentos. Compreenderemos quais são os tipos de contaminações que podem existir nos alimentos e, em seguida, as medidas que podem ser adotadas para evitá-las, ga- rantindo então a segurança dos alimentos e a segurança alimentar e nutricional dos consumidores. Espero que esteja animado para esse estudo. Vamos lá? Contaminações em Alimentos Me. Thanise Pitelli de Nigro 12 Aluno(a), como futuro(a) nutricionista, você sabia que a busca pela segurança dos ali- mentos é uma das atividades obrigatórias nos mais diversos campos de atuação profis- sional? A falha durante a manipulação de alimentos ocorre frequentemente, justamente por alguns hábitos inadequados se tornarem rotina nos lares brasileiros. Vamos pensar em uma situação de uma churrascaria fictícia denominada de “Carne na Brasa”. Esta churrascaria é bastante tradicional na cidade e possui grande movimento de clientes, por isso, precisa assar 100 kg de carne bovina por dia e, devido ao alto consumo de matérias primas, possui uma negociação diretamente com um abatedouro, que faz quatro entregas mensais da quantidade necessária de carne congelada. Diariamente, o cozinheiro responsável pela churrascaria realiza o descongelamento dos 100 kg de carne bovina, tirando da câmara fria congelada, ao final do expediente do almoço, mantendo-a em descongelamento, em temperatura ambiente durante toda a noite. Será que essa prática adotada pelo estabelecimento “Carne na Brasa” poderia ser revista para implantação de uma maneira mais segura de realizar o procedimento? O profissional nutricionista é essencial nesse processo. A resolução do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) número 600/2018 apresenta as atividades profissionais exercidas. Dentre as atividades consideradas obrigatórias ou complementares, a gestão da qualidade é citada. Seja quando atuamos em Unidades Produtoras de Refeições (UPR) ou durante o atendimento clínico a um paciente, temos que ter em mente que a qualidade de um alimento inclui a qualidade nutricional, sensorial e, ainda, a qualidade higiênico-sanitária. A manipulação dos alimentos objetiva transformar alimentos, ou seja, transformar uma matéria prima (como carne crua, cebola, creme de leite etc.) em uma preparação (como um estrogonofe). Em todas as etapas de preparo do alimento, da compra de uma matéria prima, até a distribuição do alimento preparado, o alimento é exposto a riscos de contaminação. Refletindo acerca da situação da churrascaria, o descongelamento à temperatura ambiente não é considerado uma forma segura para efetuar essa etapa de pré-preparo do alimento. E, conforme exposto, além de depararmos com essa prática em UPRs, também é frequentemente realizada nas residências de grande parte da população. Além do descongelamento de alimentos em temperaturas incorretas, quais outras práticas incorretas de manipulação de alimentos são consideradas comuns para a popu- lação em geral? Você saberia listar? Cite essas práticas incorretas no seu diário de bordo. Após listar as práticas incorretas que comumente ocorrem durante a manipulação de alimentos, reflita como cada uma delas poderia ser corrigida. Aproveite o diário de bordo e corrija cada uma dessas práticas. Refletir essas práticas é importante, visto que o profissional nutricionista tem o dever de realizar a educação alimentar e nutricional e conscientizar a população e manipula- dores de alimentos acerca das práticas corretas que devem ser adotadas durante todas as etapas de preparo dos alimentos. UNICESUMAR UNIDADE 1 13 O serviço de alimentação fora do lar, uma denominação que engloba setores da rede hoteleira, restau- rantes comerciais (em diversas categorias, como fast-food, lanchonetes, bares e restaurantes), institu- cionais (escolas, presídios, asilos e creches, hospitais) e catering (refeições servidas para um grupo de usuários, seja em eventos como em transporte aéreos, marítimos etc.). representa, do ponto econômico, um dos principais setores na geração de emprego e renda no Brasil e no mundo. Considera-se que setor de alimentação fora do lar possui uma expansão em torno de 10% ao ano e gera cerca de 450 mil novas oportunidades de emprego por ano (SEBRAE, 2021). Segundo a Gazeta do Povo (2021), o crescimento médio desse setor que atende aos 21,5 milhões de habitantes de São Paulo e região metropolitana foi de 4,5% ao ano entre 2006 e 2019. Já em 2020, este crescimento foi abruptamente interrompido de uma hora para a outra devido à pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo que o setor possui grande perspectiva de crescimento, em 2016 a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL, 2022) já alertava que o setor também é caracterizado pela alta mortalidade. A estimativa é que, aproximadamente 35% dos novos empreendimentos fecham antes do primeiro ano, porcentagem que aumenta para 50% quando se analisa um período de dois anos e, na análise de uma década, apenas 3 entre 100 estabelecimentos continuam abertos. Esses dados foram reforçados durante a pandemia, pois cerca de 300 mil restaurantes fecharam as portas no Brasil em 2020 (GAZETA DO POVO, 2021). 14 Para buscar a sobrevivência, os estabelecimentos devem ter como meta a busca pela qualidade, mas sem esquecer-se que a qualidade é um aspecto pessoal, afinal, um critério que eu considero de qualidade em um produto pode ser diferente do que você considera, caro(a) aluno(a). Por exem- plo, a presença de gás em um refrigerante não é um fator que eu, pessoalmente, avalio na quali- dade de um refrigerante, visto que gosto de refri- gerante sem gás. Isso ocorre pois existem vários fatores que são inerentes ao indivíduo (físicos, patológicos e psico- lógicos) e ao meio em que ele vive (aspectos sociais, econômicos, culturais) que podem ser caracteri- zados como determinantes do comportamento alimentar das pessoas, contribuindo, sem dúvida, para a escolha dos alimentos em uma refeição. Dessa forma, a qualidade com relação aos ali- mentos deve ser centrada no ser humano, pois a qualidade pode ser percebida, pelo menos, sob algumas óticasdescritas por Poulain e Saint-Sevin (1990) e representadas a seguir, na Figura 1. Nutricional: se refere à qualidade nutricional do alimento. Sensorial: se refere à qualidade nos atributos sensoriais (cor, odor, sabor, apresentação). Higiênico-sanitária: se refere à segurança, ou ausência de riscos à saude. De serviço: se refere ao bom atendimento. Regulamentar: se refere ao atendimento das leis (bombeiros, vigilância sanitária...). Simbólica: se refere ao signi�cado que o alimento possui ao indivíduo, em respeito a sua cultura, memória afetiva. Hedônica: se refere às preferencias alimentares pessoais. Social ou convival: se refere ao alimento como responsável pelo seu signi�cado social, lazer e convívio entre as pessoas. Descrição da Imagem: apresenta um infográfico descrevendo as dimensões da qualidade, são citadas as seguintes dimen- sões: nutricional: refere-se à qualidade nutricional do alimento; sensorial: refere-se à qualidade nos atributos sensoriais (cor, odor, sabor, apresentação); higiênico-sanitária: refere-se à segurança, ou ausência de riscos à saúde; de serviço: refere-se ao bom atendimento; regulamentar: refere-se ao atendimento das leis (bombeiros, vigilância sanitária...); simbólica: refere-se ao significado que o alimento possui ao indivíduo, em respeito à sua cultura, memória afetiva; hedônica: refere-se às prefe- rências alimentares pessoais; social ou convival: refere-se ao alimento como responsável pelo seu significado social, lazer e convívio entre as pessoas. Figura 1 – As dimensões da qualidade / Fonte: adaptada de Poulain e Saint-Sevin (1990). Conforme visto, a qualidade envolve muitos as- pectos simultaneamente. Figueiredo e Costa Neto (2001), afirmam que este conceito sofre alterações conceituais ao longo do tempo. Esses autores le- vantaram alguns conceitos usados ao longo dos anos e encontraram três principais: “Qualidade é a adequação ao uso”, “Qualidade é a condição UNICESUMAR UNIDADE 1 15 necessária de aptidão para o fim a que se destina”, “Qualidade é o grau de ajuste de um produto à de- manda que pretende satisfazer”. É interessante ressaltar tais conceitos correlacionam-se por voltar a qualidade aos interesses e ao atendimento às necessidades do cliente. A qualidade designa padrões no que se refere à segurança e ao atendimento em relação às expectativas do cliente, ou seja, o que define a qualidade é a expectativa que o cliente tem do serviço ou do alimento. Cabe às empresas adaptar, comunicar e manter padrões adequados para o desempenho do serviço oferecido pelo estabelecimento em busca de satisfazer as necessidades do cliente. Inclusive, aluno(a), a necessidade de entender a expectativa do cliente é abordada desde 1985, quando um dos primeiros grupos de pesqui- sadores propuseram um modelo de ferramenta para estudo da qualidade em serviços (PARASURAMAN; ZEITHAM; BERRY, 1985) e necessário até os dias atuais (CARVALHO; CHEMIN; VALDUGA, 2021). No entanto, Proença (2002), ressalta a percepção de que, quando se discute qualidade em alimen- tação, ocorre a supervalorização, praticamente no mundo todo, da dimensão higiênico-sanitária da qualidade. Fato necessário e justificado devido ao alarmante número de doenças que podem ser trans- mitidas por meio dos alimentos. Sobre as doenças transmitidas por alimentos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2004) já ressalta sua importância: “ As doenças transmitidas por alimentos (DTA) são uma importante causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Em muitos países, durante as últimas duas décadas, têm emergido como um crescente problema econômico e de saúde pública. Numerosos surtos de DTA atraem atenção da mídia e aumentam o interesse dos consumidores (BRASIL, 2020, s.p.) Além disso, apesar do grandioso número de ocorrência dessas doenças, ainda há previsões de que o problema aumente no século XXI, decorrendo das várias mudanças globais, tais como o crescimento da população, pobreza, exportação de alimentos e rações animais, que influenciam a segurança ali- mentar internacional. Portanto, no que se refere aos alimentos, a qualidade voltada à segurança higiênico-sanitária do produto é um fator determinante, pois uma falha nesse aspecto pode comprometer a saúde do con- sumidor e ocasionar as DTAs. A ocorrência das DTAs pode ser relacionada à ingestão de alimentos contaminados, ocasionada por fatores como inadequações nas condições de saneamento e falta da qualidade da água para consumo A qualidade, mais que uma necessidade, é considerada uma vantagem competitiva que irá diferen- ciar uma empresa de outra, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à sua expectativa no momento de adquirir um determinado produto (FIGUEIREDO E COSTA NETO, 2001). 16 humano, descaso aos fatores de higiene pessoal, falha na higiene ambiental e na manutenção de áreas e equipamentos, manipulação incorreta dos alimentos. Enfim, diversos são os fatores que podem ocasionar os riscos de contaminação dos alimentos, é por isso que, apesar de existir muita subnotificação de casos, os números de casos notificados assustam. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2021): Caro(a) aluno(a), chamo atenção para um fator importante: a relação da segurança de alimentos com a segurança alimentar e nutricional (SAN) é essencial para a ciência da nutrição. Segundo Burity, Franceschini e Valente (2010), o conceito de SAN está em permanente construção e evolução. Ele pode ser entendido como: “ Direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BURITY; FRANCESCHINI; VALENTE, 2010, s.p.). A SAN, então, envolve a dimensão alimentar, que se refere à produção e disponibilidade de alimentos que seja suficiente, estável, autônoma e equitativa, bem como a dimensão nutricional, que incorpora • A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que as DTA são preocupantes em nível mundial, representando uma preocupação de saúde pública por estimar que, a cada ano, uma a cada 10 pessoas adoecem após a ingestão de alimentos conta- minados, além de 33 milhões de vida são perdidos anualmente no mundo. • Como as DTA podem ser fatais especialmente em crianças menores de cinco anos, estima-se que esta seja a causa de 420 mil mortes anuais (estimando que destas 420 mil mortes, 125 mil sejam de crianças menores de cinco anos). • Na região das Américas, 95% das DTA são consequências das doenças diarreicas. • O Centro de Vigilância de Doenças dos Estados Unidos, ou Centers for Disease Control and Prevention (CDC), estima que, a cada ano, um a cada seis americanos fica doente (resultando em 48 milhões de pessoas), 128 mil são hospitalizadas e 3.000 morrem devido às DTAs. • No Brasil, existe um órgão responsável pelo monitoramento dos surtos de DTA, a vigilância epidemiológica das DTA (VE-DTA). De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), a cada ano são conhecidos e notifi- cados uma média de 700 surtos, com envolvimento de 13 mil doentes e 10 óbitos ocorrem por DTA. UNICESUMAR UNIDADE 1 17 as relações entre o ser humano e o alimento, com foco na disponibilidade de alimentos saudáveis, o consumo alimentar e condições de promoção dos cuidados à saúde adequados a cada fase do ciclo da vida, e, dentre outras questões, o preparo dos alimentos com técnicas que preservem o seu valor nutricional e sanitário, com condições de promoção da saúde e da higiene para melhorar e garantir a adequada utilização biológica dos alimentos consumidos. Entende-se que a segurança alimentar é essencial para a segurança nutricional e engloba o controle das contaminações dos alimentos, em busca da oferta de alimentos seguros, que não ocasionam riscos de doenças aos consumidores.Assim, o controle das contaminações dos alimentos é parte essencial para evitar as DTA. Por de- finição, caracteriza-se contaminação a presença de qualquer matéria estranha que não pertença ao alimento (ARAÚJO; MACHADO; MOLIN, 2019). Outra definição de contaminação de alimentos é apresentada por Stolarsk et al. (2015), sendo iden- tificado como qualquer elemento estranho que não faça parte do alimento, que pode ser originário do ser humano, ou por condições inadequadas de temperaturas, instalações, utensílios e equipamentos. A contaminação pode ocorrer de maneira direta, ou seja, quando há contato do manipulador diretamente com o alimento, seja por má higienização das mãos, tosse ou espirros, por exemplo, ou ainda de maneira indireta, quando o alimento é contaminado por materiais (por exemplo fezes, poeira, urina) que é levado por insetos (moscas e baratas), roedores ou utensílios mal higienizados e ainda por transmissão ambiental, visto que o ar, a água e o solo também se tornam fontes de contaminação. O Quadro a seguir sintetiza as vias de transmissão. Identificação Via de transmissão Ocorrência Transmissão direta Homem Fezes, urina, coriza, espirro, gotículas de saliva, mãos mal lavadas ou com ferimentos. Transmissão indireta Material levado até o alimento por vetores Fezes, escarro, urina etc. levado por moscas, baratas, ratos e outros ve- tores (incluindo utensílios mal higie- nizados). Transmissão ambiental Ambiente (superfície de trabalho, equipamentos, utensílios) contami- nado Material animal, poeira, microrganis- mos. Quadro 1 – Vias de transmissão de contaminação dos alimentos / Fonte: adaptado de Silva Junior (2020). Dessa forma, para evitar a contaminação dos alimentos, é necessário adoção de medidas que incluam a higiene pessoal, a higiene ambiental e dos alimentos, com atenção ao ambiente de trabalho, utensí- lios utilizados, uniformes dos colaboradores e ter atenção na manipulação e armazenamento correto dos alimentos. Silva Junior (2020) esquematiza as contaminações, conforme apresentado na Figura 2. 18 FONTES DE INFECÇÃO VIAS DE ELIMINAÇÃO VIAS DE TRANSPIRAÇÃO VIAS DE PENETRAÇÃO SUSCETÍVEL INDIRETA DIRETA HOMENS E ANIMAIS • Pele • Secreções • Fezes • Urina • Gotículas respiratórias • Pele • Mucosas • Vias respiratórias • Via digestiva • Vias urinárias TREINAMENTO ÁGUA, AR, SOLO ALIMENTOS EDUCAÇÃO SANITÁRIA CONSUMIDOR • Manipulador • Higiene pessoal • Vestimenta • Luvas e máscaras • Manipulador • Educação sanitária • Medidas do Saneamento Básico e Ambiental • Matéria-prima (origem), tratamento de água, condições de manipulação, ambiente, equipamentos, utensílios, armazenamento, refrigeração e cocção Descrição da Imagem: a imagem apresenta um fluxograma sobre as contaminações direta ou indireta, no qual o homem e os animais são fonte de contaminação pois a “pele, secreções, fezes, urina, gotículas respiratórias” são vias de eliminação. Assim, considera-se uma contaminação “direta”, por “pele, mucosa, vias respiratórias, via digestiva e vias urinárias”, enquanto ocorre contaminação “in- direta” por “Água, ar e solo”, chegando aos “alimentos”. visando evitar tais riscos, cabe ao consumidor receber “educação sanitária”, aos manipuladores receber orientações sanitárias e conscientizar sobre a higiene pessoal, vestimenta, luvas e máscara e quanto aos alimentos, importante conhecer a origem da matéria prima, a qualidade do tratamento de água, condições de manipulação, ambiente, equipamentos, utensílios, armazenamento, refrigeração e cocção”. Figura 2 – Esquema da transmissão da contaminação / Fonte: adaptada de Silva Junior (2020). UNICESUMAR UNIDADE 1 19 Segundo Soares et al. (2006), a maioria dos surtos de DTA decorre das falhas no processo produtivo de alimentos, tais como manipulação inadequada, má utilização da temperatura de preparo e conservação dos alimentos, higiene pessoal deficiente, limpeza inadequada dos equipamentos e utensílios e contato de manipuladores infectados com o alimento pronto para consumo, ou seja, a contaminação pode acontecer em toda a cadeia alimentar, desde a matéria-prima, passando pela produção primária, até o consumo. Por isso, além de entender as vias de transmissão, torna-se necessário conhecer os tipos de contaminação que ocorrem nos alimentos, que serão divididos a seguir em contaminantes químicos, físicos e biológicos. Os contaminantes químicos causam a contaminação denominada “contaminação química”. É o primeiro tipo de contaminação a ser citada e pode ser entendida como toda substância química presente em concentrações inadequadas que pode gerar danos à saúde do consumidor, seja resíduos de pesticidas, produtos de limpeza ou até mesmo metais tóxicos presentes nos alimentos, que podem estar relacionados a produtos adicionados em qualquer etapa da produção do alimento (por exem- plo, armazenar um alimento ao lado de um produto químico), bem como substâncias naturalmente presentes na composição do alimento (como o caso da mandioca brava, que possui alto teor de ácido cianídrico e é considerado tóxico quando ocorre o consumo do alimento cru). Por isso a importância do controle periódico dos alimentos usados como matéria prima e dos alimentos preparados. Esta contaminação pode ser endógena (ou do próprio alimento), ou seja, ocorre quando os agen- tes se encontram na matéria-prima antes de sua obtenção; e exógena, que é quando os alimentos 20 são contaminados por agentes químicos durante a sua manipulação, como durante a adição dos aditivos alimentares. Considerando que a contaminação exógena é um tipo de contaminação que ocorre quando os ali- mentos entram em contato com substâncias químicas ou com os seus resíduos e ocorre devido ao uso incorreto de detergentes, desinfetantes, lubrificantes, sabão e, ainda, da adição de produtos usados nos processos de produção, tais como aditivos alimentares, resíduos de pesticidas e medicamentos veteriná- rios, são práticas necessárias para evitar a contaminação química durante a manipulação de alimentos: • Evitar o contato entre os alimentos e os produtos químicos durante o armazena- mento em estoques ou armários. • Evitar o contato entre os alimentos e os produtos químicos durante a manipulação dos alimentos, principalmente quando os químicos são mantidos nas bancadas usadas para manipulação. • Não reaproveitar as embalagens de produtos químicos para armazenar alimentos, e toda vez que um produto químico for retirado de sua embalagem original, o novo recipiente deverá ser identificado quanto ao produto químico existente. • Respeitar as instruções de uso, como diluição, tempo de contato e necessidade de enxágue do produto químico conforme recomendado pelo fabricante, incluindo a utilização de equipamentos de proteção individual como luvas impermeáveis. • Usar o produto de limpeza ao fim a que se destina, principalmente em superfícies em que há contato direto com os alimentos. Por exemplo, não lavar a louça usando sabão de coco. • Não misturar produtos químicos sem orientações sobre a necessidade do pro- cedimento. • Não utilizar embalagens recicladas ou coloridas (como sacolinhas de mercado) quando em contato primário e direto com o alimento. • Controlar a quantidade do aditivo alimentar (corantes, conservantes, acidulantes etc.) adicionado para não exceder os limites aprovados. • Não utilizar aditivos alimentares e produtos de limpeza clandestinos, caseiros ou sem registro no Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária. • Qualificar os fornecedores de matérias primas, visando evitar a utilização de produ- tos contaminados como a carne animal contaminada com resíduos de medicamentos como antimicrobianos, vermífugos e carrapaticidas. • Não aplicar produtos de desinsetização sem profissional responsável ou empresa especializada e seguir as orientações passadas acerca dos procedimentos pós-apli- cação. • Não utilizar embalagens metálicas que estejam amassadas ou danificadas, visto quea proteção interna pode ter sido prejudicada. • Não armazenar alimentos quentes em recipientes plásticos compostos de material que não possa ser aquecido (por exemplo, preferindo plástico que suporta altas temperaturas e seja livre de Bisfenol A). UNICESUMAR UNIDADE 1 21 Aluno(a), ressalto que essas são algumas das medidas necessárias, mas aguarde que, ao longo do nosso material, veremos outras regras existentes que se justificam pela necessidade de evitar esse tipo de contaminação. Stolarski et al. (2015) afirmam que a contaminação química pode ocasionar graves intoxicações por inalação ou ingestão, ou, ainda, se houver contato manual direto, com efeitos agudos ou crônicos. Em casos mais graves esse tipo de contaminação pode levar à morte. Agora vamos abordar os contaminantes físicos. • Ter atenção com manutenções de equipamentos, visto que graxas e lubrificantes também são riscos de contaminação química. • Estabelecer o procedimento padrão para desinfecção das frutas e hortaliças a serem utilizadas, respeitando a diluição do produto e o tempo de contato. • Definir o melhor material de utensílios e equipamentos, bem como para o acaba- mento, por exemplo, pratos ou copos pintados com produtos que em sua compo- sição possuem chumbo podem contaminar alimentos ácidos. • Não manipular alimentos utilizando maquiagem, perfumes e cremes hidratantes. O Bisfenol A (BPA) é um produto químico obtido industrialmente e amplamente utilizado, em sua forma monomérica, na produção de resinas epóxi e plásticos de policarbonato por suas caracte- rísticas físicas e químicas, tornando-o interessante para revestimento de embalagens metálicas, fabricação de mamadeiras e potes plásticos para alimentos. Porém, baixas doses de Bisfenol A têm efeitos adversos na fisiologia da fertilidade, sistema nervoso e comportamento, e está envolvido com o desenvolvimento de diabetes, câncer, obesidade, puberdade precoce e doenças cardíacas (BESERRA et al., 2012). 22 Entende-se por contaminantes físicos qualquer corpo estranho que esteja presente nas preparações dos alimentos que possam causar riscos à saúde do consumidor. Exemplo disso podem ser sujidades como pedras e pedaços de madeira, fios de cabelos, cacos de vidro, pedaços de unhas, grampos, pedaços de embalagens, insetos e roedores ou parte deles, adornos de uso pessoal como anéis e brincos, bem como qualquer outro objeto que, acidentalmente atinja o alimento. Este é um dos tipos de contaminação dos alimentos mais comuns. Araújo, Machado e Molim (2019) ressaltam alguns casos que ocorrem frequentemente em alimentos, que são representados na Figura 3. Também é comum encontrar partes de equipamentos e utensílios, como parafusos e farpas de madeira e adornos de uso pessoal. Esse tipo de contaminação, por mais que seja considerado menos perigoso por, muitas vezes, ser identificado por ser visível, deve ser considerado preocupante, pois é capaz de provocar danos na boca, dentes e graves consequências caso seja engolido, com risco de cortes e sufocamento. Fragmentos de palha de aço Fios de cabeloe pelos Pedaçosde unha Pedras Cacos de vidro Pedaço de embalagem plástica Descrição da Imagem: a figura apresenta um alimento preparado, com a exemplificação da contaminação física, representada por balões que se projetam dos alimentos contendo nomes de materiais como: fragmentos de palha de aço, fios de cabelo e pelos, pedaços de unha, pedras, pedaço de embalagem plástica e cacos de vidro. Figura 3 – Representação da contaminação física dos alimentos / Fonte: Reviva Nutri ([2022], on-line). UNICESUMAR UNIDADE 1 23 Tipo de perigo físico Característica Medida preventiva a ser adotada Cabelos e pelos Causam repulsa ao consumidor, além de trazer, junto a ele os microrganismos patogênicos e até contaminação quími- ca de produtos usados, como xampu. Utilização de protetor para cabelos por todos os manipuladores de alimentos e visitantes que circulam na área de ma- nipulação. Fragmentos de madeira Podem vir de caixas de transporte ou de utensílios de madeira, como tábuas de corte e colheres. Podem causar perfu- rações diver sas ao consumidor, além de ocasionar o risco de contaminação bio- lógica por serem materiais permeáveis. Solicitar ao fornecedor a entrega de hor- tifruti em caixas plásticas. Não utilizar qualquer tipo de utensílios ou móveis de madeira nas áreas de produção de alimentos. Fragmentos de metal Oriundos de esponjas de aço, pontas de facas, agulhas de vacinação em animais, sua presença em alimentos pode causar perfurações. Não utilizar palhas de aço e ter atenção com pontas de faca. Adequada seleção de fornecedores e capacitação dos ma- nipuladores de alimentos para o manu- seio seguro dos insumos. Ossos e espi- nhas Decorre das falhas no processamento de alimentos, ou a presença natural de espinhas e escamas, por exemplo. Po- dem causar perfurações e/ou engasga- mento no cliente. Deve-se capacitar os manipuladores para minuciosa atenção em alimentos que contenham ossos e espinhas. Informar ao cliente sobre a existência de espinhas em determinados pescados servidos no cardápio. Pedras Perigo físico mais comum, presente em grãos, e que permanece no alimento mesmo depois de enxágue, remolho ou cozimento, podendo refletir em danos na boca dos consumidores. Preferir fornecedores que façam a pré- -seleção de grãos ou implantar o proce- dimento no próprio estabelecimento e providenciar um local iluminado e ergo- nomicamente adequado para a seleção. Plásticos Ocorre por pedaços de plástico oriun- dos da industrialização ou manipulação inadequada dos alimentos. Podem levar ao risco de engasgamento e/ou causar aversão aos consumidores. Capacitação da equipe para manuseio responsável dos insumos. Uso de superfícies adequadas ou livre de contaminantes. Pragas Ocorre quando se encontra insetos e/ou seus fragmentos, como baratas, abelhas, aranhas, moscas etc. Podem causar aversão, riscos à saúde e des- confortos aos clientes. Adotar controle periódico, suficiente e adequado das pragas, padronização dos procedimentos de sanitização de frutas e hortaliças (visto que muitas pragas es- tão neles). Vidros Oriundos do processamento ou mani- pulação de alimentos, podendo resultar em sérios danos à integridade física do consumidor. Evitar louças de vidro na área de ma- nipulação, caso algum objeto de vidro quebre, descartar todos os alimentos expostos. Adornos pes- soais Os anéis, brincos e outros adornos utilizados pelos manipuladores de ali- mentos podem chegar ao alimento de maneira acidental, causando danos aos dentes ou perfurações no trato digestivo do consumidor. Devem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal. Quadro 2 – Características dos principais perigos físicos e respectivas medidas preventivas / Fonte: a autora. 24 É importante ressaltar que, em todos os casos, como a matéria-prima já pode estar contaminada, é importante uma adequada seleção de fornecedores com visitas técnicas frequentes para garantia da matéria-prima adquirida, bem como reforçar o treinamento dos manipuladores de alimentos para adoção de medidas adequadas para evitar tais perigos. Resumidamente, os contaminantes físicos ocorrem por falhas na manipulação dos alimentos, poden- do ocorrer em diferentes fases do processo de produção, seja por utilização de materiais inadequados, falta de manutenção, falhas nas normas de higiene pessoal. Veja, aluno(a), que a higiene pessoal foi citada tanto na contaminação química quanto na física, e veremos que também estará envolvida na contaminação biológica. Temos, ainda, os contaminantes biológicos, que causam a contaminação por microrganismos como bactérias, vírus, fungos ou parasitas. Apesar de os microrganismos estarem presentes em todos os lugares, visto que habitam a água, o ar e os próprios manipuladores de alimentos, quando estes chegam aos alimentos, encontram condições favoráveis à sua multiplicação e, ao atingir números elevados,podem se tornar um grande risco à saúde do consumidor. As contaminações por perigos biológicos podem causar sintomas diversos, como desconfortos gastrointestinais, e podem até resultar na morte, mas sua gravidade depende do tipo de microrganismo envolvido, quantidade ingerida e da imunidade do próprio consumidor. Alguns tipos de contaminação podem ser originários do próprio alimento (como fungos presentes em frutas cítricas) ou incorporada durante a manipulação (como a manipulação realizada com as mãos sujas após ir ao banheiro e não serem lavadas adequadamente), de modo que a inspeção do alimento durante o prepara se mostra de extrema importância, assim como a higienização das mãos. UNICESUMAR UNIDADE 1 25 Além disso, outro fator importante sobre os contaminantes biológicos é que os microrganismos po- dem ser levados aos alimentos pela falta de higiene pessoal e/ou ambiental, mas quando encontram no alimento as condições favoráveis à sua multiplicação, podem atingir níveis que representam riscos à saúde do consumidor. Dentre as condições que são favoráveis ao crescimento microbiano, podemos citar: alta atividade de água, pH próximo à neutralidade e o binômio tempo X temperatura favorável. Basicamente, em baixas temperaturas, o crescimento microbiano é muito lento, e em altas tempe- raturas, a maior parte dos microrganismos de interesse em alimentos, passa a ser eliminado. Porém, temperaturas na faixa entre 5 e 10 ºC e 60 e 65 ºC são consideradas temperaturas perigosas, visto que são favoráveis à atividade microbiana. A Figura 4, a seguir, ilustra essas informações. Descrição da Imagem: a figura apresenta um termômetro com três diferentes faixas de temperatura e sua respectiva atividade mi- crobiana. Abaixo de 5 ºC é apresentado um desenho de um microrganismo dormindo, representando a inativação, mas sobrevivência, Entre 5 e 60 ºC estão os microrganismos em atividade. Acima de 60 ºC, há uma figura ilustrando a morte microbiana. Figura 4 – Atividade dos microrganismos de interesse em alimentos em diferentes faixas de temperatura Fonte: adaptada de Anvisa (2022). 26 Caro(a) aluno(a), deve-se reduzir o tempo no qual o alimento é mantido nessas temperaturas, a fim de garantir a segurança do alimento. Por isso, voltando ao exemplo da churrascaria, quando o descongela- mento é realizado a temperatura ambiente, este pode ser um fator favorável ao crescimento microbiano e propiciar a contaminação microbiológica do alimento. Rodrigues et al. (2010) afirma que as doenças causadas por agentes microbianos transmitidos pelos alimentos constituem preocupação mundial de saúde pública. Esse assunto será estudado mais a fundo na próxima unidade. Outro tipo de contaminação existente é denominado de contaminação cruzada. Segundo Soares et al. (2006), esse tipo de contaminação ocorre quando o causador da contaminação de um alimento é transferido para outro alimento, seja pelas mãos dos manipuladores, de uma superfície, ou simples- mente pelo contato entre os alimentos em questão. A Figura 5 apresenta um exemplo de contaminação cruzada, no qual um manipulador de alimentos está usando a mesma faca e mesma tábua para cortar dois alimentos diferentes, um de origem animal e outro de origem vegetal, sendo que um pode vir a contaminar o outro. É sempre bom escutar um relato de um profissional da área, não é mesmo? Para o primeiro podcast do nosso material, convidei uma nu- tricionista da área de controle de qualidade para abordar, dentro da sua vivência profissional, diferentes situações que envolveram riscos de contaminação. Aperte o play e aproveite a oportunidade! Descrição da Imagem: a figura é uma fotografia que apresenta um manipulador de alimentos representado por mãos com cor da pele escura, onde a mão esquerda segura um fragmento de brócolis e a direita segura a faca. O manipulador usa a mesma tábua e a mesma faca para cortar frango cru e o brócolis, representando o contato entre um alimento de origem animal e um alimento de origem vegetal. Figura 5 – Exemplo de contaminação cruzada UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11623 UNIDADE 1 27 Os principais fatores relacionados com esse tipo de contaminação cruza- da são as superfícies de manipulação, utensílios e equipamentos e mãos não higienizadas corretamente ou outra parte do corpo do manipulador, panos de limpeza, vassouras e esponjas contaminadas, acréscimo de ingredientes crus nas preparações e cruzamento das atividades no pro- cesso produtivo proporcionado pelo leiaute da cozinha. A contaminação cruzada pode envolver a transferência de agentes de contaminação de origem química, física ou biológica. Reforçando questões acerca da contaminação cruzada, Rodrigues (2010) afirma que essa contaminação é a principal causa de DTA, por isso, cita que os cuidados devem se dar desde o planejamento da empresa, de forma que as instalações e o fluxo de operações sejam planejados para evitar cruzamento entre as atividades, com fluxo contínuo entre as etapas para que a fase inicial do processo não se cruze com fases posteriores. A contaminação cruzada é um dos tipos de contaminação que mais ocorre nas empresas que trabalham com manipulação de alimentos e é causada, geralmente, por falha do manipulador de alimentos, que deixa de higienizar suas mãos corretamente, armazena e manipula alimentos lado a lado e não procede a higienização correta da área de manipulação e dos utensílios de trabalho, como as tábuas e facas. A contaminação cruzada não pode ser negligenciada pelos manipu- ladores de alimentos, portanto, eles devem compreender que a mesma ocorre na transferência de contaminantes de um alimento para outro, por meio das mãos ou utensílios, e se torna mais grave entre alimentos crus e alimentos cozidos, entre alimentos animais e vegetais ou, ainda, entre carnes de diferentes origens (não se restringindo apenas a isso). A higiene local, a separação do material, o local de armazenamento adequado e a higiene pessoal são alguns meios de evitá-la. Entretanto, conforme a própria Agência Nacional de Vigilância Sa- nitária apresenta, existem situações nas quais a eliminação total de um contaminante não é possível, ou que pequenas quantidades desses agentes podem ser toleradas, pois não trazem riscos ou danos à saúde do consu- midor. Por isso, são estabelecidos limites máximos aceitáveis do agente contaminante, os quais normalmente são variáveis por tipo de alimento. Dessa forma, o alimento com teores de contaminantes superiores aos estipulados nos regulamentos específicos ao seu tipo e enquadramento não podem ser comercializados (BRASIL, 2021). O estudo de tais limites é responsabilidade da Anvisa e é baseado em princípios científicos e fundamentados em prol da proteção à saúde humana. Ele segue o esquema apresentado na Figura 6. 28 Vale ressaltar que a Anvisa é a autoridade federal responsável por esse processo de estabelecimento de limites de contaminantes nos alimentos no Brasil, mas a Anvisa adota as metodologias recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), mundialmente reconhecidas. Por isso, respeitar as legislações e recomendações estabelecidas por este órgão é, além de obrigatório, necessário para que os riscos de contaminação dos alimentos sejam minimizados. Caro (a) aluno(a), chegamos ao fim da unidade entendendo sobre os tipos de contaminação de alimentos, de forma que possamos, posteriormente, identificar que as normas estabelecidas pelos ór- gãos sanitários são pautadas na prevenção dos riscos, sendo o nutricionista essencial para o processo de manutenção da qualidade dos alimentos. Dessa forma, caro(a) aluno(a), você, como futuro(a) nutricionista, deve entender que para a nutrição de um indivíduo ser completa, não basta o equilíbrio na ingestão de nutrientes, por exemplo, pois di- versos aspectos envolvem o ato de comer e, dentre eles, a manipulação correta do alimentoé essencial. Pensando em todos os pontos que você levantou no diário de bordo acerca dos hábitos incorretos que comumente ocorrem e depois de entender sobre os tipos de contaminação existentes nos alimen- tos, o nutricionista deve estar atento às possíveis falhas durante as etapas de produção dos alimentos, buscando orientar a população e os manipuladores de alimentos sobre medidas preventivas e/ou corretivas dessas falhas. Descrição da Imagem: a imagem descreve um infográfico da sequência adotada pela ANVISA acerca do estabelecimento de limites. Na avaliação do risco são feitas 3 etapas: 1) determinação da característica do contaminante, que considera a natureza do contaminante, os danos potenciais à saúde e as doses ou quantidades que trazem efeitos danosos; 2) avalia-se a cadeia de produção: considera a contaminação nos diferentes tipos de alimentos, a ocorrência do contaminante no Brasil e medidas de prevenção e controle adotadas; por fim 3) os dados de exposição, no qual estima a exposição ao contaminante, considerando os diversos grupos populacionais e as diferentes formas de consumo, com especial atenção aos grupos considerados como mais vulneráveis e aos consumidores que con- somem maior quantidade dos alimentos de interesse e, potencialmente mais expostos aos contaminantes. Figura 6 – Estabelecimento de limites de contaminantes em alimentos / Fonte: adaptada de Brasil (2020). UNICESUMAR 29 Após conhecer os contaminantes químicos, físicos e biológicos, estamos chegando ao fim da unidade. Te convido a praticar os conhecimentos adquiridos nesta unidade! Iniciaremos com a con- strução do Mapa Mental. Sugiro que você dê sequência a esse mapa mental iniciado, descreven- do o conceito de contaminação e especificando as formas de contaminação dos alimentos. 30 Agora, vamos resolver algumas questões? Visando à produção e manutenção de alimentos seguros, os órgãos de vigilância sanitária do Brasil instituíram legislações, portarias e resolu- ções específicas sobre os procedimentos de controle para redução e eliminação dos riscos de contaminações de alimentos. Com base no que foi estudado ao longo da unidade, avalie as situações expostas a seguir. Veja se ocorre, ou não, o risco de algum dos tipos de contaminação, identificando-os quando houver (pode ter mais de um em cada caso). Além disso, explique o motivo pelo qual o risco existe, ou justifique quando a prática for correta. 1. Carla é uma nutricionista muito cuidadosa e o hotel cinco estrelas em que ela trabalha disponi- biliza banheiro com chuveiro para que todos os funcionários tomem banho antes de manipular alimentos. Ela costuma chegar com 20 minutos de antecedência para tomar banho, passar hidratante nas mãos e perfume e coloca o uniforme, que é lavado todos os dias, para manter a higiene pessoal e dar o exemplo aos funcionários. 2. Eduardo é dono de um restaurante. Na quinta-feira, esqueceu-se de fazer o pedido de carnes e, no dia anterior ao preparo, a equipe notou que não tinha carne para fazer estrogonofe. No final da tarde, Eduardo foi até um mercado próximo com urgência e comprou 10 kg de coxão duro e deixou no carro para levar ao restaurante no dia seguinte. 3. Bruno, com muita experiência na área de grãos, treinou a auxiliar de cozinha do restaurante que trabalha a escolher feijão, já que não era uma prática comumente realizada pela empresa. 4. A cozinheira de um determinado restaurante levou um produto químico utilizado para lavar carro para ser utilizado na limpeza da chapa, afinal, a gordura que fica queimada é bastante difícil de ser retirada e é necessário usar produtos mais concentrados. 5. Ao ser contratada como nutricionista de um restaurante, Bárbara trocou o uniforme dos funcionários para que, ao invés de usar boné, utilizassem toucas descartáveis que cobrissem totalmente o cabelo. 2 Olá, aluno(a) e futuro(a) nutricionista! Espero que você esteja ani- mado para mais uma unidade do material de Controle de Qualidade em alimentos. Vamos aprofundar nosso estudo na contaminação microbiológica dos alimentos, entendendo os fatores que podem influenciar a contaminação dos alimentos e compreender as estra- tégias que podem ser adotadas para minimizar os riscos à saúde dos consumidores. Bons estudos! Contaminação Microbiológica em Alimentos Me. Thanise Pitelli de Nigro 32 Você já reparou em como as pessoas mudaram seus hábitos com o início da pandemia da Co- vid-19? A presença alarmante e disseminada de um vírus fez com que grande parte da população começasse a estabelecer processos que deveriam já fazer parte da rotina, como a constância da hi- gienização das mãos, não é mesmo? E, após ver o que vírus e microrganismos são capazes de fazer com a nossa saúde, algumas pessoas passaram a se atentar à sua presença, principalmente em superfícies e em alimentos. Compreende-se por segurança alimentar e nu- tricional (SAN) a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qua- lidade, em quantidade suficiente, sem compro- meter o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (BURITY; FRANCESCHINI; VA- LENTE, 2010). A SAN deve contemplar o acesso aos alimentos de qualidade, que não propiciem riscos à saúde da população, por isso, entender os fatores que propiciam o crescimento micro- biano nos alimentos é essencial para a garantia de alimentos seguros. Sendo assim, é importante compreender os efeitos da presença dos microrganismos nos ali- mentos, visto que um alimento livre de conta- minantes a nível potencial garante à população suas condições nutritivas sem oferecer riscos de doenças que possam ser veiculadas por alimentos. Muitas vezes, os alimentos são considerados am- bientes favoráveis ao crescimento microbiano, por apresentar água, nutrientes, estar em contato com oxigênio e por outros fatores propícios à multi- plicação de microrganismos, que são veiculados nos alimentos pela falta de higiene. Araújo, Machado e Molin (2019) afirmam que a falta de higiene torna o alimento inseguro quando a contaminação presente nele, como as ocasionadas pelos microrganismos, atingem um nível suficiente para causar doença na pessoa que o consome. Os microrganismos estão presentes em todos os lugares, mas, quando chegam aos alimentos, usam tal alimento como fonte de multiplicação. No entanto, você já reparou que às vezes um ali- mento estraga mais rápido que outro? Isso ocorre pois os microrganismos podem se multiplicar ao encontrar condições favoráveis para isso. Nesse contexto, aluno(a), use o diário de bordo e, pensando em um alimento que se contamina rapi- damente, cite os fatores que você acha que podem fa- vorecer o crescimento microbiano em um alimento. Após refletir acerca dos fatores mencionados, reflita na comparação entre a durabilidade do ar- roz cru e do arroz após o cozimento, por exemplo, há uma grande diferença, não é mesmo? Tanto que o arroz cru é mantido por meses a tempera- tura ambiente e o arroz cozido deve ser mantido sob refrigeração e, ainda assim, com durabilidade de dias, apesar de ser um mesmo alimento que apenas foi submetido ao processo de cozimento, que resulta em um aumento da quantidade de água disponível para o microrganismo utilizar para sua multiplicação. Além da água, podemos pensar em outros fatores como a presença de nutrientes, a tempe- ratura etc. Por isso, caro(a) aluno (a), existem as recomendações dos órgãos de vigilância sanitária, que estabelecem medidas que visam prevenir a contaminação, reduzir a contaminação (quando inerente ao alimento já que todo alimento possui certa quantidade de microrganismos, denomina- da de contaminação de origem) e/ou evitar que o alimento fique em condições favoráveis a ela. UNICESUMAR UNIDADE 2 33 A produção de alimentos seguros exige a adoção de vários procedimentosque tenham como foco a prevenção dos contaminantes de origem química, física e biológica para garantir a qualidade nutricional e higiênico-sanitária dos alimentos, prevenindo a transmissão de doenças, que inclusive podem ser letais ao consumidor, dependendo do agente causador e demora no tempo de diagnóstico e tratamento. Dessa forma, a Doença Transmitida por Alimentos (DTA) é considerada uma síndrome originada pela ingestão de alimentos e/ou água contaminada com agentes etiológicos patogênicos em quanti- dade suficiente para causar danos à saúde do consumidor, individualmente ou em grupo. Rodrigues (2010), define que: • Caso de DTA: consiste em um episódio no qual uma pessoa apresenta sinais e sintomas após ingerir um alimento contaminado. • Surto de DTA: é um episódio no qual duas ou mais pessoas consomem o mesmo alimento considerado contaminado e apresentam sinais e sintomas. 34 De maneira geral, os sintomas clínicos nas duas situações estão relacionados ao trato digestivo como náuseas, vômitos, dores abdominais, flatulência e diarreias, podendo resultar também em dores de cabeça, fadiga, perda de apetite e, dependendo do tipo de doença, causando ou não a febre (BRIN- QUES, 2016). A manifestação clínica depende de alguns fatores como virulência do agente, inóculo causador e competência imunológica do hospedeiro, por isso, os sintomas variam de pessoa para pessoa. Soares et al. (2006) torna claro que, para as pessoas sadias, as DTA podem ser passageiras, durando poucos dias e, geralmente, não evoluem para complicações. Entretanto, em pessoas mais suscetíveis (gestantes, crianças, idosos e pessoas que já estejam com o sistema imunológico debilitado), as DTA podem ser graves, deixar sequelas ou até levar ao óbito. Para evidenciar as DTA, tanto em casos ou em surtos, não basta resgatar na memória o último alimento contaminado. Araújo, Machado e Molin (2019) descrevem que os sintomas podem ocorrer muito depressa, logo após a ingestão do alimento, ou podem levar horas, dias ou semanas a aparece- rem, por isso é necessário realizar a análise clínica epidemiológica e/ou laboratorial para confirmação. As DTA se dividem em três grandes grupos: infecções, intoxicações e toxinfecções alimentares. Conforme apresentado por Soares et al. (2006), elas podem ser entendidas como: • Infecções alimentares: nesse caso, há a ingestão de alimentos contaminados com microrganismos patogênicos vivos, que provocam a doença quando os microrganismos são capazes de invadir a parede intestinal e se multiplicarem para outros órgãos. • Intoxicações alimentares: essa patologia é causada pelo consumo de alimentos contaminados por toxinas liberadas por microrganismos como bactérias e fungos. • Toxinfecções alimentares: resultam da ingestão de alimentos contendo determinada quantidade de microrganismos patogênicos e capazes de liberar toxinas quando ingeridos. A Organização Mundial da Saúde reafirma, desde 1989, que há uma estimativa de que 60% das DTAs são provocadas por microrganismos, sendo esses os principais responsáveis (manipuladores) dessa transmissão (OMS, 1989). Os causadores das DTAs são classificados em: • Patógenos Clássicos: quando são conhecidos epidemiológica e clinicamente desde tempos atrás e continuam causando surtos, como, por exemplo, a bactéria Staphylococcus aureus. • Patógenos Emergentes: são novos agentes etiológicos de doenças alimentares, por exemplo, a bactéria Streptococcus sp. No Brasil, a Portaria número 1.271 de 2014 estabelece que hospitais notifiquem surtos de DTAs quando duas ou mais pessoas apresentarem sintomas iguais, após o consumo de produtos similares no mesmo estabelecimento (BRASIL, 2014). No entanto, sabe-se que algumas notificações não são realizadas, pois os consumidores não procuram ajuda médica, se automedicando e dificultando a investigação dos casos de DTA pela vigilância epidemiológica. UNICESUMAR UNIDADE 2 35 • Patógenos Reemergentes: são aqueles que estavam controlados e que estão causando nova incidência clínica, como o parasita Taenia solium (causador da cisticercose). Os perigos biológicos são, então, caracterizados pelos vírus, fungos, parasitas e bactérias. Eles serão descritos conforme os conceitos de Germano e Germano (2019), a seguir: • As bactérias são seres unicelulares e estão presentes em todos os lugares (solo, ar, animais, alimentos e nos seres humanos). As bac- térias têm vida própria e se multiplicam quando encontram con- dições favoráveis, sendo os principais agentes causadores de DTAs. • Os vírus são seres microscópicos, sem metabolismo próprio, e que dependem de outros organismos para sobreviverem, por isso são chamados de intracelulares obrigatórios. Apesar de não se multiplicarem nos alimentos, podem ser transmitidos por meio deles. • Os parasitas podem ser classificados como protozoários: seres unicelulares, ou helmintos (populares “vermes”: seres pluricelu- lares). No caso dos helmintos, a contaminação se dá a partir dos ovos desses parasitas. Já no caso dos protozoários, a contami- nação pode ocorrer por meio dos ovos ou seres adultos. Esses podem estar presentes no solo, na água, no intestino humano e no de outros animais, podendo chegar aos alimentos, conta- miná-los e causar doenças àqueles que os consomem. Um dos principais exemplos são os cistos (ovos) de vermes como a tênia, que, se ingeridos, podem causar doenças como a cisticercose (STOLARSKI et al., 2015). • Já no grupo dos fungos, estão os bolores e leveduras, também seres unicelulares. Eles deterioram os alimentos e são capazes de multiplicar-se nos alimentos a ponto de serem visíveis a olho nu. A grande preocupação com esses fungos se deve às micotoxinas, produtos tóxicos liberados por alguns deles, que representam grande perigo químico. 36 Para adoção de medidas de segurança dos alimentos, é importante compreender as características dos microrganismos. Soares et al. (2006) afirma que existem microrganismos inofensivos, sendo úteis para os seres humanos, para os animais e até, muitas vezes, aplicados intencionalmente na produção de alimentos (como na fabricação de queijos, iogurtes, bebidas fermentadas ou alcoólicas). Entretanto, é necessário entender que existem os microrganismos nocivos, que podem causar alte- rações sensoriais nos alimentos (ou sua decomposição), mas também existem os que podem transmitir enfermidades sem causar alterações nos alimentos. Resumidamente, Araújo, Machado e Molin (2019) descrevem que alguns dos microrganismos são úteis, como aqueles que são utilizados na produção de queijos, iogurtes e leites fermentados. Por outro lado, também existem aqueles que são deteriorantes (os que “estragam” os alimentos por mudar a textura, cheiro e sabor), resultando no impedimento do consumo do produto. Por último, existem os patogênicos, que são os que causam doenças a quem consome, mas que estão aparentemente normais, visto que os microrganismos estão presentes sem alterar aspecto, cheiro ou sabor do alimento. A Figura 1 retrata essa classificação. Microrganismos úteis: representado pelo ke�r, cepas de microrganismos que atuam como probióticos. Microrganismos deteriorantes: representado por um alimento com mal cheiro, ou seja, deteriorado pelos microrganismos com alteração perceptível em um ou mais dos quesitos sensoriais. Microrganismos patogênicos: representado em um alimento aparentemente normal, mas com quantidades de microrganismos capazes de causar riscos à saúde. Descrição da Imagem: a imagem se refere a um infográfico que ilustra os microrganismos úteis, deteriorantes e patogênicos. Inicial- mente apresenta-se a imagem de um iogurte, seguido do texto referência: microrganismos úteis: representado pelo kefir, cepas de microrganismos que atuam como probióticos. Em seguida, tem-se a imagem de um homem afastando um saco que contém um peixe, aparentemente com mau cheiro e estragado. Abaixo, um texto com as seguintes palavras: microrganismosdeteriorantes: representado por um alimento com mau cheiro, ou seja, deteriorado pelos microrganismos com alteração perceptível em um ou mais dos quesitos sensoriais. Por fim, está uma bandeja de ovos, e em um deles uma lupa demonstrando a presença de microrganismos. Abaixo, o texto: microrganismos patogênicos: representado em um alimento aparentemente normal, mas com quantidades de microrganismos capazes de causar riscos à saúde. Uma seta com duas pontas (apontando para a direita e para a esquerda), situadas abaixo do texto de cada quadro, cruzam os quadros que contêm as três imagens. Figura 1 – Representação dos microrganismos úteis, deteriorantes e patogênicos. Fonte: adaptado de Araújo, Machado e Molin (2019). UNICESUMAR UNIDADE 2 37 Os principais agentes microbianos envolvidos nos casos de contaminação dos alimentos podem ser classificados de acordo com o grau de risco para a saúde e a capacidade de difusão, ou seja, a expan- são do microrganismo no organismo humano. Considera-se uma difusão extensa quando estes se espalham pelo organismo e podem atingir vários órgãos. Para se multiplicarem, os microrganismos necessitam de condições que favoreçam o seu crescimento e multiplicação, tais como características próprias dos alimentos, denominados de fatores intrínsecos, como pH, atividade de água, potencial de oxirredução, conteúdo de nutrientes, constituintes antimicrobianos e estruturas biológicas — ou, ainda, características do ambiente no qual os alimentos são armazenados. Esses fatores são denominados de fatores extrínsecos, como temperatura, umidade relativa do am- biente, presença de gases no meio e até a luz. O Quadro a seguir (Quadro 1) descreve os principais fatores: Fator Características do fator Aplicação em alimentos Extrínseco Tempo Muitas vezes, os microrganismos neces- sitam de pouco tempo para se multipli- carem, caso haja condições favoráveis. Por simples divisão, algumas bactérias podem se reproduzir em cerca de 15 a 20 minutos. Em pouco tempo que o alimento per- manecer em condições favoráveis já é possível apresentar quantidade de microrganismo que atinja a dose infec- tante capaz de causar doença. Oxigênio Existem microrganismos denomina- dos aeróbicos, que só se desenvolvem na presença de oxigênio, outros, os anaeróbios, que não precisam desse elemento para seu desenvolvimento, e os facultativos, que se desenvolvem na presença ou não de oxigênio. Dependendo da atmosfera no qual o alimento é armazenado, este pode se tornar um ambiente determinante no tipo de microrganismo que venha a se multiplicar. Temperatura A maioria dos microrganismos se de- senvolve a uma velocidade considerável em uma faixa de temperatura que varia entre 10 e 65 ºC. À temperatura de refrigeração (inferior a 5°C) desenvolvem-se lentamente, e abaixo de 0°C (temperatura de conge- lamento), os microrganismos entram em estado de latência, mas não são destruídos. Enquanto temperaturas altas (acima de 65 ºC dependendo do binômio tempo X temperatura no inte- rior do alimento), podem ser capazes de eliminar os microrganismos. Temperaturas muito altas ou muito bai- xas dificultam a multiplicação dos mi- crorganismos, sendo importante o mo- nitoramento das temperaturas durante as etapas de produção dos alimentos. Umidade relativa do ambiente Os microrganismos são dependentes de água, e esse fator ambiental se re- laciona diretamente com a atividade de água de um alimento (fator intrínseco), visto que os alimentos tendem a equi- librar a umidade. Ambientes com alta umidade podem fa- vorecer a proliferação microbiana, visto que os alimentos tendem a aumentar sua atividade de água. 38 Fator Características do fator Aplicação em alimentos Intrínseco Nutrientes Os microrganismos, como todos os se- res vivos, necessitam de nutrientes para se desenvolverem. Os alimentos preferidos pelas bactérias são os ricos em proteínas, tais como: carnes, leite e ovos. Atividade de água Os microrganismos desenvolvem-se bem em alimentos que apresentam água livre, ou seja, alta atividade de água. Quanto mais água livre um alimento ti- ver, maior é a multiplicação dos micror- ganismos, como ocorre em carnes e leite, em contrapartida alimentos secos como pão, bolacha, cereais matinais e goiabada possuem maior durabilidade por possuírem baixa atividade de água. pH Os microrganismos preferem alimentos neutros para sua multiplicação, visto que em pH adverso, o metabolismo co- meça a ficar comprometido, diminuindo a multiplicação microbiana. A maioria dos microrganismos não se multiplicam quando o alimento é muito ácido, por isso, a indústria de alimentos utiliza tecnologia para acidificar os pro- dutos. Como exemplos simples, temos as conservas. Os alimentos pouco áci- dos, como o palmito, milho, manga, me- lão, melancia, mamão, queijos, carnes, pescados, dentre outros, favorecem a multiplicação de microrganismos Estrutura biológica A presença de pelos, pele, casca e de- mais estruturas biológicas funcionam como barreiras mecânicas ao contato com o microrganismo. Manter os alimentos protegidos (seja pela sua casca ou pela embalagem – que funciona como uma barreira) é interessante para evitar o crescimento microbiano no interior do alimento. Fatores antimicro- bianos naturais Algumas substâncias naturalmente presentes nos alimentos retardam ou inibem o crescimento microbiano, po- dendo agir inibindo a síntese do ácido nucleico ou as proteínas da parede celular. Estes fatores estão presentes em ali- mentos como: - Condimentos/especiarias: óleos es- senciais (eugenol no cravo e canela; aldeído cinâmico na canela; alicina no alho; timol e isotimol no orégano). - Ovos: a clara contém vários agentes antimicrobianos (lisozima, avidina). - Determinadas frutas: possuem ácidos orgânicos e taninos. Quadro 1 - Fatores que interferem no crescimento microbiano / Fonte: adaptado de Germano e Germano (2019). O conceito dos obstáculos de Leistner (hurdle theory) é baseado no estudo das interações entre os fatores intrínsecos e extrínsecos e é baseado na utilização simultânea de mais de uma forma de controle microbiano, de forma a dificultar o desenvolvimento dos microrganismos. A interação entre os fatores intrínsecos e extrínsecos para impedir a multiplicação de microrganismos deteriorantes e patogênicos é capaz de atuar melhorando a estabilidade e a qualidade do alimento. UNICESUMAR UNIDADE 2 39 Os dados da vigilância epidemiológica das DTA no Brasil demonstram que os alimentos mais frequen- temente associados a surtos alimentares entre 2000 e 2013 são os alimentos à base de ovos, doces e sobremesas, água, carnes bovinas, suínas, aves e pescados in natura ou processadas, leites e derivados, cereais e produtos de cereais e as hortaliças. Veja que esses alimentos citados possuem um ou mais fatores favoráveis ao crescimento microbiano. Sobre os agentes etiológicos, a vigilância epidemiológica afirma que os agentes etiológicos mais comuns são as bactérias. Caro(a) aluno(a), no controle de qualidade, consideramos a temperatura um dos fatores mais importantes para condicionar o crescimento mi- crobiano, visto que este é, muitas vezes, controlável. Para abordar um pouco mais esse fator, preparei um podcast especial. Aperte o play para aprofundar os conhecimentos nesse fator. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/11624 40 Dados disponíveis de surtos apontam como agentes mais frequentes os de origem bacteriana, dentre eles, Salmonella spp, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Shigella spp, Bacillus cereus e Clostri- dium perfringens (BRASIL, 2021). O quadro a seguir descreve os principais agentes bacterianos causadores de doenças, identificados pela vigilância epidemiológica das DTA no Brasil, os fatores contribuintes e alimentos incriminados, bem como o período de incubação ou latência do agente. Agente Fatores Contribuintes Alimentos incrimináveis Período de incubação ou latência Quadro clínico Salmonellaspp (S. enteritidis, S.ti- phymurium) Carne bovina, suí- na, aves e seus produtos, pro- dutos à base de ovos crus, outros alimentos conta- minados.. Refrigeração in- suficiente, arma- zenamento de alimentos a tem- peraturas eleva- das (incubação bacteriana), coc- ção e reaqueci- mento inapropria- dos, preparo de alimentos várias horas antes de servi-los. Conta- minação cruzada, falta de limpeza da equipe, trabalha- dores infectados que manipulam alimentos cozidos, alimentos de fon- tes contaminadas. 6 a 72 horas (em geral 18 a 36h). Aparecem após período entre 8 e 22 horas. Provoca diarreia, cólicas e mal-estar, com ou sem febre. Escherichia coli 1.Enterotoxigê- nica 2.Enteroinvasiva Água; hortaliças regadas com água c o n t a m i n a d a ; massas frescas; molhos; sobreme- sas etc. Cocção inadequa- da dos alimentos, manipulação de alimentos por pes- soas infectadas, emprego de água contaminada para lavagem, preparo ou refrescagem dos alimentos, refrigeração insu- ficiente. - 12 a 36 horas no caso da Enteroto- xigênica; - 16 a 48 horas no caso da Enteroin- vasiva. Provoca diarreia, febre, vômitos, cólicas e calafrios. UNICESUMAR UNIDADE 2 41 Agente Fatores Contribuintes Alimentos incrimináveis Período de incubação ou latência Quadro clínico Escherichia coli O157:H7 Carne bovina mal- cozida, leite cru. Cocção inadequa- da dos alimentos, manipulação de alimentos por pes- soas infectadas, emprego de água contaminada para lavagem, preparo ou refrescagem dos alimentos, refrigeração insu- ficiente. 4 a 8 dias. Provoca diarreia, febre, vômitos, cólicas e calafrios. Toxina produzida por Staphylococcus aureus Bolos e similares com recheio e cobertura; produ- tos de confeitaria doces e salgados, tortas salgadas, massas salgadas com recheio e/ou cobertura, carne moída, presunto etc. Manipuladores com infecções purulentas são os principais veicula- dores desse mi- crorganismo e de sua toxina, visto que habita as vias respiratórias. São falhas que podem favorecer a mul- tiplicação: a refri- geração deficien- te, manipulação inadequada, pre- paro de alimen- tos várias horas antes do consu- mo, manutenção de alimentos em temperaturas ele- vadas (incubação bacteriana). 1 a 8 horas (em geral 2 a 4 horas). Causa intoxicação alimentar. É uma das principais bac- térias causadoras de gastroenterites no mundo. Provoca náuseas, dor de cabeça, vô- mitos, dor abdo- minal e calafrios. Shigella spp (Shigel- la flexneri, S. dysen- teriae, S. sonnei, S. boydii) Qualquer alimen- to contaminado, principalmente saladas, água e mariscos. Refrigeração in- suficiente, cocção e reaquecimento inapropriados, preparo de ali- mentos várias horas antes de servi-los. Manipu- ladores infecta- dos. 24 a 72 horas. Provoca disente- ria (uma forma de diar reia com muco e sangue. Costuma ser mais grave que a diar- reia comum), có- licas, mal-estar, febre e vômitos. 42 Agente Fatores Contribuintes Alimentos incrimináveis Período de incubação ou latência Quadro clínico Toxinas produzi- das pelo Bacillus cereus (cepa emé- tica) Produtos de ce- reais, arroz, mo- lhos, almôndegas de carne, outros alimentos conta- minados Refrigeração de- ficiente, manipu- lação inadequa- da, preparo de alimentos várias horas antes do consumo, manu- tenção de alimen- tos em tempe- raturas elevadas (incubação bacte- riana), reaqueci- mento inadequa- do de restos de comida. 2 a 4 horas. Provoca vômitos e náuseas. Normal- mente sem febre. Toxinas produzi- das por Bacillus cereus (cepa diar- reica) Produtos à base de cereais, arroz, molhos, almôn- degas de carne, outros alimentos contaminados Refrigeração de- ficiente, manipu- lação inadequa- da, preparo de alimentos várias horas antes do consumo, manu- tenção de alimen- tos em tempe- raturas elevadas (incubação bacte- riana), reaqueci- mento inadequa- do de restos de comida 8 a 16 horas. Provoca vômitos e náuseas e diar- reia. Toxina produzida por Clostridium perfringens Carne cozida de bovino, de ave, ou de suínos, caldos, molhos e sopas. Refrigeração de- ficiente, manipu- lação inadequa- da, preparo de alimentos várias horas antes do consumo, manu- tenção de alimen- tos em tempe- raturas elevadas (incubação bacte- riana), reaqueci- mento inadequa- do de restos de comida. 8 a 22 horas (em geral 10 horas). Provoca diarreia, dores abdominais, mal-estar e ausên- cia de febre. Quadro 2 – Principais agentes bacterianos causadores das DTAs e suas características Fonte: adaptado de Brasil (2022) e Germano e Germano (2019). É importante ficar claro que mesmo os alimentos que foram submetidos a temperaturas elevadas durante o cozimento podem conter bactérias resistentes na forma de esporos. Os esporos dão origem a novas bactérias quando o alimento volta a condições favoráveis a sua multiplicação. UNICESUMAR UNIDADE 2 43 Caro(a) aluno(a), os principais agentes envolvidos são de origem bacteriana. No entanto as DTAs ocasionadas por vírus, fungos e parasitas também possuem significância. Germano e Germano (2019) descrevem os principais: • Vírus » Rotavírus: é muitas vezes o vírus típico da “virose” (quando não há identifica- ção do patógeno nas gastroenterites). É encontrado principalmente no in- testino humano e na água contamina- da. Os principais alimentos propensos ao contágio são água, gelo, hortaliças e frutas mal higienizadas, além dos alimentos contaminados durante a manipulação. São sintomas: diarreia, febre e dores abdominais. » Norovírus ou Norwalk-like virus: este vírus ficou conhecido após uma série de surtos de DTA em navios de cruzeiros em 2005. É encontrado em fezes humanas e água contami- nada, sendo os mesmos alimentos envolvidos em surtos ou contágios do rotavírus. Seus sintomas são náuseas, vômito, diarreia e gastralgia, febre, dores abdominais e, às vezes, sintomas respiratórios. Caro(a) aluno(a), Germano e Germano (2019) também afirmam que as viroses têm incidência pouco conhecida em alimentos por várias razões, sendo a principal estes serem parasitas obrigatórios. Entre- tanto qualquer patógeno viral intestinal, sob condições sanitárias insatisfatórias, pode ser encontrado em produtos alimentícios, apesar de não serem capazes de proliferar-se nos alimentos, por isso, qualquer tipo de alimento pode servir de veículo de transmissão de vírus para o homem. Por exemplo, o vírus da hepatite A (HAV) é transmitido preferencialmente por via oral-fecal e apresenta distribuição mundial. Essa infecção é provocada por um RNA vírus, pertence à família Picornaviridae, do grupo dos enterovírus, que tem um período de incubação médio é de 30 dias, dependendo da quantidade de partículas virais ingeridas (acredita-se que de 10 a 100 partículas virais sejam suficientes para causar a doença). Dentre os sintomas, no início da manifestação clínica da infecção, é comum mal-estar, fadiga, febre, perda de apetite e náuseas, mas conforme evolução da doença, observam-se dor abdominal na área do fígado, vômitos e fezes de cor mais clara do que a habitual e, em uma fase mais adiantada, icterícia e escurecimento da urina. São os principais alimentos envolvidos em surtos: pratos à base de ostras, saladas, sanduíches, frutas e sucos de frutas, leite e produtos lácteos e doces confeitados. Basicamente, a água (e consequentemente os moluscos e as saladas) são as vias de transmissão mais comuns para as populações humanas e os manipuladores infectados são as maiores fontes de infecção. Outro vírus importante é o causador da Hepatite E, também transmitida pela via intestinal e de ocorrência mundial, com período de incubação que varia de 15 a 62 dias, sua evolução sintomática é semelhante ao descrito para a HAV, sendo a água contaminada a principal envolvida na contaminação. 44 • Parasitas » Giardia lamblia é um protozoá- rio presente nas fezes de animais e do homem e que atinge água, hortaliças, frutas mal higieniza-
Compartilhar