Prévia do material em texto
SUSTENTABILIDADE EM UNIDADES PRODUTORAS DE ALIMENTOS Sumário 1. Sustentabilidade como Estratégia: ........................................................ 2 2. Contexto Mundial e Tendências: ............................................................ 3 3. Conceito de Sustentabilidade ................................................................. 7 4. Sustentabilidade e Saúde...................................................................... 13 5. Sustentabilidade, Alimentação e Nutrição .......................................... 14 6. Dietas Saudáveis e Sustentáveis ......................................................... 21 7. Atuação do Nutricionista no Contexto da Sustentabilidade .............. 29 8. Unidades Produtoras de Alimentos Sustentáveis: Planejamento e Gestão ............................................................................................................. 32 9. Legislação Vigente – Brasil................................................................... 49 10. Tendências Internacionais e Nacionais para Restaurantes ............... 50 11. Liderança Sustentável ........................................................................... 56 12. Considerações Finais ............................................................................ 57 13. Referências Bibliográficas .................................................................... 58 2 1. SUSTENTABILIDADE COMO ESTRATÉGIA: Além de proporcionar benefícios ambientais e sociais, a sustentabilidade também contribui para o resultado econômico dos negócios. Os consumidores buscam a qualidade de produtos, processos e serviços, assim como custo acessível e, cada vez mais, também por restaurantes que compartilham seus valores e crenças responsáveis. Para os restaurantes conectados aos movimentos do mercado, ética e sustentabilidade já foram incorporados aos seus negócios, através de características próprias que possam oferecer mais competitividade e valorização da marca. Há inúmeros ganhos e impactos positivos em operar dentro de princípios de sustentabilidade, quando se busca compreender onde esses conceitos se inserem dentro do negócio. Existem: • Ganhos ambientais diretos, quando se economiza em matéria-prima, energia, nos processos de produção ou no descarte correto de resíduos; • Ganhos sociais, quando é promovida a relação ética e transparente com fornecedores, consumidores e comunidades impactadas pelo negócio; além da compreensão da relação alimentação-nutrição-saúde-sustentabilidade e de que os consumidores também estão interessados em contribuir para causas sociais e adquirir produtos de pequenas comunidades agrícolas; • Ganhos econômicos, através da economia de recursos, otimização de processos e da inovação; e ganhos denominados de intangíveis, como a valorização da marca; • E a saúde dos consumidores. Portanto, uma das principais vantagens de atuar em Unidade Produtoras de Alimentos (UPA) que sejam sustentáveis, além da redução dos impactos ambientais e sociais, é atrair, conquistar e fidelizar clientes. 3 2. CONTEXTO MUNDIAL E TENDÊNCIAS: Nas últimas décadas, tivemos avanços extraordinários: nunca na história vivemos por tanto tempo. A tecnologia dilatou a nossa existência e diminuiu distâncias e a ciência nos tornou mais fortes. Segundo a Organização das Nações Unidas, em abril de 2021, atingimos a marca de 7,87 bilhões de habitantes. Estima-se que, em 2050, menos de três décadas à frente, seremos 9,7 bilhões de pessoas habitando um planeta incapaz de ampliar sua oferta de recursos na mesma velocidade em que aumenta a nossa demanda. É fácil ver que esta conta não fecha. E toda essa mudança exige inovação que pode ser vista como uma ameaça ou uma oportunidade. O foco aqui será as oportunidades. No século XXI, estamos vivendo fortemente a globalização; acesso às informações (o que exige muita transparência); turbulência nos mercados nacional e internacional; os papéis sociais não são mais definidos; aumento do poder de escolha e de consumo; a cultura do “TER e não do SER”; estresse geral (mobilidade, poluição, violência, etc.). Todos esses aspectos estão sendo influenciados e agravados pela pandemia da Covid-19. Essa transformação impacta diretamente as relações pessoais, profissionais e de consumo. Indivíduos e sociedade estão cada vez mais conectados e organizados e, com mais informações, fazem melhores escolhas, pressionam e cobram os seus direitos. Se toda a humanidade consumir, de acordo com o padrão de consumo nos países ricos, seriam necessários seis planetas para suprir todo esse consumo. Para um crescimento sustentável, espera-se um grande desenvolvimento humano com baixo impacto ecológico, ou seja, que este crescimento seja dentro dos limites do planeta. Temos muitos desafios globais: • Mudanças climáticas: alternações no clima que acontecem em todo o planeta, ocasionadas, entre outros fatores, pelo aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera; • Riqueza, economia e consumo: o aumento da população ocorrerá nas regiões menos desenvolvidas, com pessoas que passarão a ter acesso ao consumo e desejarão consumir mais; 4 • Declínio dos ecossistemas: desmatamento de áreas nativas e aumento da poluição que afetam diretamente a preservação da biodiversidade (riqueza de espécies de um ecossistema); • Fontes de energia: fortalecer as energias renováveis e diminuir as não renováveis; • Cidades e urbanização: atualmente 54% da população mundial residem em áreas urbanas e a previsão é que este número aumente para 66% em 2050; com isso há a necessidade de melhorias em vários segmentos como infraestrutura, novas habitações, água e saneamento básico, eletricidade, transporte, saúde, segurança pública, conectividade/internet, entre outros desafios; • Escassez hídrica: falta de recursos de água doce para atender à demanda padrão de água da população mundial; • Escassez de materiais: a dependência do uso de recursos naturais para a produção, cada vez maior, de bens de consumo irá causar escassez e volatilidade de matéria-prima; • Escassez de alimento: o sistema alimentar está no centro de alguns dos maiores desafios ambientais e de saúde globais enfrentado atualmente, sendo o maior fator de contribuição individual para as mudanças climáticas; responsável por aproximadamente um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, pelo desmatamento e também responsável por 70% de todo consumo humano de água no mundo. Esta degradação ambiental acelerada interfere no processo saúde- doença, aumentando a morbimortalidade da população, sendo este um bom motivo para repensarmos a forma como produzimos e consumimos, sendo este último muitas vezes sem necessidade ou em demasia. Quando o assunto é comida/alimentos, a fome ainda é um dos desafios de desenvolvimento mais urgentes da atualidade, embora o mundo esteja produzindo alimento suficiente para satisfazer às necessidades alimentares de toda a população do planeta. Ainda passam fome em todo mundo aproximadamente um bilhão de pessoas E nosso grande problema é o desperdício, pois um terço de toda comida (1,3 bilhão de toneladas) é estragada ou desperdiçada antes mesmo de ser consumida pelas pessoas. E a 5 perda/desperdício acontece em toda a cadeia de suprimentos: da produção inicial até o consumo final pelas famílias, o que chamamos “desperdício do campo à mesa”. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) criou a iniciativa SAVE FOOD (Iniciativa Global sobre Perda de Alimentos e Redução de Resíduos), em parceria com algumas organizações internacionais, setor privado e sociedade civil, visando à consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), para buscar alternativas e permitir que os sistemas alimentaresreduzam a perda de alimentos e o desperdício, tanto no mundo em desenvolvimento como no industrializado. O acesso ao alimento (alimentação saudável e adequada) é um direito de todos. Em 2018, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam que o Brasil retornou ao Mapa da Fome das Nações Unidas, voltando a fazer parte da lista de países que possuem mais de 5% da população em situação de insegurança alimentar nutricional, com a ingestão de menos calorias do que o recomendável, e um desperdício fora do comum. Vale destacar que o sistema alimentar sustentável que se quer atingir não é somente na produção de alimentos (com todas as suas dificuldades) e tampouco na redução do desperdício, devemos ir além e focar na própria dieta, ou seja, precisamos adotar dietas sustentáveis. Cada vez mais o consumidor – com os seus os hábitos alimentares – impactam todo o sistema, pois é ele que gera a demanda para a produção de alimentos. Cada um de nós devemos ter a consciência da alimentação saudável e sustentável para si próprio e para o planeta. Quando uma pessoa decide consumir certo alimento, ela, consequentemente, está alimentando uma cadeia inteira: do agricultor ao consumidor, e impactando o planeta. O volume de alimentos desperdiçados apresenta significativo impacto ambiental; pois alimentos e resíduos são convertidos em lixo, aumentando os custos ambientais. Energia, solo e água são exageradamente usados e podem esgotar-se a serviço da produção de alimentos que são desperdiçados. Todos os alimentos que são produzidos e desperdiçados geram 4,4 bilhões de quilos de gás que atingem a camada de ozônio, aumentando o efeito estufa. Cada prato desperdiçado é um prato que deixa de nutrir uma pessoa. 6 Onde, então, acontece o desperdício? 54% se dá na fase inicial de produção, manipulação, pós-colheita e armazenamento e 46% ocorre na etapa final, ou seja, durante o processamento, na distribuição ou no consumo. Nas últimas décadas, nossa forma de pensar e agir produziu uma “sociedade de consumo”. O aumento da população mundial, somado ao uso indiscriminado de recursos, ao consumo exagerado e também ao desperdício, têm ocasionado problemas ambientais e sociais, como a degradação do meio ambiente e o aprofundamento da exclusão social. Dentre os resultados da “Rio + 20” (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), realizada na cidade do Rio de Janeiro em 2012, vale destacar dois pontos importantes: redução da pobreza e revisão da forma de produção (ecoeficiência). Algum crescimento econômico necessita ser gerado, ou seja, há a necessidade de padrões sustentáveis de crescimento e não crescimento zero. Porém, a maioria dos países está nos extremos: os desenvolvidos estão no uso extremo dos recursos e necessitam reduzir a pegada ecológica. Os países em desenvolvimento devem crescer, mas de maneira diferente, na busca do desenvolvimento sustentável e a economia verde, que aspira melhorar o bem-estar e a saúde das pessoas, aumentar a equidade social, reduzir os riscos ambientais e também reduzir a escassez ecológica. Não se trata de querer salvar o planeta, mas sim de compreender como prosperar nele. 7 3. CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE Em 1972, o conceito de “sustentabilidade” começou a ser esboçado, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, e se baseava do princípio de que “o uso dos recursos naturais para a satisfação das necessidades presentes não deveria comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras”. Já o conceito de “desenvolvimento sustentável” surgiu em 1983, durante as discussões da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, e foi oficializado no ano de 1987, com a publicação do relatório “Nosso Futuro Comum” ou “Relatório Brundtland”, tendo sido definido como “equilíbrio que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”. Segundo a Comissão, o conceito de desenvolvimento sustentável deve fundamentar as políticas públicas de forma que os objetivos do desenvolvimento econômico e social sejam definidos em termos de sustentabilidade. O Relatório Brundtland traz à tona, novamente, a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente” e destaca a incompatibilidade entre os atuais padrões de produção e de consumo e o desenvolvimento sustentável. Esse modelo propõe a conciliação entre as questões ambientais e sociais, de modo a viabilizar o crescimento econômico sustentável a longo prazo. O desenvolvimento sustentável está baseado em três dimensões: ambientalmente saudável, socialmente justo e economicamente viável, ou seja, é o desenvolvimento de atividades que respeitem o meio ambiente (biodiversidade) e a sociedade. Por sua vez, também fundamentam os conceitos de sustentabilidade e de segurança alimentar e nutricional. Para um crescimento econômico sustentável, vários especialistas sugerem que a economia circular pode apresentar-se como uma solução para minimizar o impacto humano no meio ambiente. A economia circular é um conceito baseado na inteligência da natureza na qual os resíduos são insumos para a produção de novos produtos; e se opõe ao processo produtivo da economia linear (extração – produção – distribuição – consumo – descarte). No meio ambiente, por exemplo, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de 8 “cradle to cradle” (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo serve continuamente de nutriente para um novo ciclo. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), lançados em setembro de 2015, durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, são um compromisso mundial composto por 17 objetivos e 169 metas que devem ser atingidos até 2030 (denominado de Agenda 2030). Nessa agenda estão previstas ações globais nas áreas de saúde, educação, erradicação da pobreza, redução das desigualdades, agricultura, segurança alimentar, padrões sustentáveis de produção e de consumo, energia, água e saneamento básico, mudança do clima, cidades sustentáveis, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura, industrialização, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, igualdade de gêneros, entre outros. Por ser uma agenda positiva e de oportunidades, embora existam dificuldades para sua implementação, os ODS possuem um grande poder mobilizador e podem propiciar maior articulação entre os diferentes setores (governos, setor privado e sociedade civil), fundamental para uma implementação bem sucedida. Fonte: https://www.pactoglobal.org.br/ods O documento validado na Assembleia Geral da ONU em 2015, “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, é um guia para as ações da comunidade internacional nos próximos anos e também um plano de ação para todas as https://www.pactoglobal.org.br/ods http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/Agenda2030-completo-site.pdf http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/Agenda2030-completo-site.pdf http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/Agenda2030-completo-site.pdf 9 pessoas e o planeta. Foi criado coletivamente com o propósito de colocar o mundo em um caminho mais sustentável e resiliente até 2030. Fonte: https://www.pactoglobal.org.br/ods A Agenda 2030 é uma Declaração, em um quadro de resultados ( 17 ODS e suas 169 metas), em uma seção sobre parcerias globais e meios de implementação, bem como de um roteiro para acompanhamento e revisão. Os ODS são o núcleo desta Agenda e necessitarão ser alcançados até o ano de 2030. Os 17 ODS são integrados e indivisíveis, e unem, de maneira equilibrada, as três dimensões do desenvolvimentosustentável: a econômica, a social e a ambiental. Consistem em uma lista de tarefas que devem ser cumpridas pelos governos, pelo setor privado, pela sociedade civil e também por todos os cidadãos na jornada coletiva para um 2030 sustentável. Nos próximos anos de implementação da Agenda 2030, os ODS Fonte: https://www.pactoglobal.org.br/ods e suas metas irão estimular e apoiar ações em áreas de fundamental importância para a humanidade: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias. Ao associar os processos dos Objetivos do Milênio e os processos resultantes da Rio+20, a Agenda 2030 e os ODS inauguram uma nova fase para o desenvolvimento dos países, para integrar, de forma completa, todos os elementos do desenvolvimento sustentável e engajar todos os países na construção do futuro que almejamos. A empresa/organização pode trabalhar inicialmente com um único ou alguns ODS, mas é fundamental identificar como o(s) ODS escolhido(s) pode(m) impactar os outros, ou seja, deve-se ter a visão sistêmica de que todos estão interligados. Conceito do Triple Bottom Line https://www.pactoglobal.org.br/ods https://www.pactoglobal.org.br/ods 10 Até o ano de 1987, quando a ONU introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável na sociedade ao lançar o relatório "Nosso Futuro Comum", era incomum pensar sobre o impacto corporativo no meio ambiente e a limitação dos recursos naturais. Em 1994, o sociólogo e consultor britânico John Elkington criou o Triple Bottom Line ou Tripé da Sustentabilidade que integra a visão ecológica nas empresas com base em três princípios: People (Pessoas), Planet (Planeta), Profit (Lucro), também conhecido como os 3Ps da Sustentabilidade e considera que uma empresa para ser sustentável precisa ser “socialmente justa, ambientalmente responsável e financeiramente viável”, muito próximo dos valores ESG – Sustentabilidade, Social e Governança, em inglês. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/551831760591952379/ Com os anos, a sustentabilidade deixou de ser vista como um tema supérfluo. Atualmente, ser uma corporação sustentável é muito mais do que status, significa conquistar o respeito de seus parceiros e consumidores. Por este motivo, o Triple Bottom Line ganhou tanta importância e trouxe um novo mindset para os dirigentes. Para John Elkington, sustentabilidade empresarial é “Um novo modo de pensar e fazer negócios, com ética, integridade, responsabilidade, transparência, respeito ao outro e respeito ao meio ambiente”. https://conteudos.xpi.com.br/esg/ https://br.pinterest.com/pin/551831760591952379/ 11 A sigla ESG (do inglês Environmental, Social and Governance) ou ASG (Ambiental, Social e Governança, em português) é utilizada no universo dos negócios já há alguns anos, sendo apontada como uma das principais tendências para 2021. Essas três palavras se referem aos principais fatores que medem o índice de sustentabilidade e o impacto social de uma empresa. Este conceito necessita ser, cada vez mais, aprendido e empregado nas organizações que pretendem manterem-se competitivas e alinhadas com seu público. Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a ESG não é uma evolução da sustentabilidade empresarial, mas sim a própria sustentabilidade empresarial e nada mais é do que a visão do mercado de capitais sobre a sustentabilidade. É o mesmo objeto, visto e trabalhado por diferentes atores. Para alcançar suas metas de crescimento sustentável, as empresas/organizações/instituições devem buscar novas formas de fazer negócios, o que leva ao conceito de inovação sustentável. Vale elucidar que inovação não se restringe a avanços tecnológicos que criam algo inteiramente novo. Significa, também, uma maneira diferente de pensar e atuar: uma mudança na gestão e/ou uma melhoria no processo de produção e/ou um aperfeiçoamento na logística e/ou novos modelos de negócios. A inovação depende, sobretudo, da criatividade e do envolvimento dos empregados. Ela conecta conhecimento e recursos disponíveis para alcançar avanços. Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, “a empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, empregados, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e consegue incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários”. É, na verdade, a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável. A Responsabilidade Corporativa é o caminho da sustentabilidade por parte das organizações. A integração da sustentabilidade na estratégia dos negócios e a atuação socialmente responsável fazem com que as empresas fiquem mais atraentes 12 para clientes e empregados; mais resilientes diante das crises; e, consequentemente, mais lucrativas. Da mesma maneira que os consumidores já levam em consideração os aspectos relativos à sustentabilidade em suas decisões de compras, os investidores em todo o mundo passam a distinguir as companhias que adotam práticas sustentáveis. Com isso, torna-se cada vez mais perceptível o valor gerado ao mitigar riscos e criar oportunidades, quando há uma estratégia de gestão integrada que busca rentabilidade, sem descuidar dos aspectos ambientais e sociais. É comum acreditar que as soluções mais sustentáveis estão fora da empresa quando, na verdade, as soluções estão dentro! Essas podem ser através de produtos ecoeficientes, processos produtivos limpos, valorização dos recursos humanos, transparência, ética, governança corporativa, relacionamento respeitoso com stakeholders (clientes, fornecedores, empregados e comunidades). O primeiro passo para alcançar a sustentabilidade consiste em cada indivíduo estar consciente sobre o poder (individual) que tem perante suas escolhas cotidianas. Não é um assunto somente de empresas, é o assunto do século XXI – do tipo de sociedade e do estilo de vida que queremos. 13 4. SUSTENTABILIDADE E SAÚDE Segundo Gro Harlem Brundtland, ex-primeira ministra da Noruega e coordenadora do relatório Nosso Futuro Comum (1987): “Se desenvolvimento sustentável é aquele que garante as melhores condições de vida das gerações futuras, ele simplesmente não acontecerá se nossos netos e bisnetos tiverem sua saúde prejudicada por efeitos da escassez de recursos e das mudanças climáticas”. O Princípio I da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) afirma que: "Os seres humanos estão no centro das preocupações do desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza". A saúde tornou-se a mais central das preocupações no desenvolvimento e crescimento dos países, como contribuinte e como indicador do desenvolvimento sustentável. Embora a saúde seja um valor em si mesmo, ela é fundamental para a produtividade das nações (OMS,2002). Isto está sendo atualmente confirmado pela pandemia de Covid-19. Portanto, saúde é parte indissociável do conceito de desenvolvimento sustentável, pois considera o indivíduo em sua complexidade, adicionando a dimensão ambiental. Todas as 17 ODS buscam promover o bem-estar e a prosperidade para todos, protegendo o meio ambiente, incentivando as empresas a reduzirem seus impactos negativos e aumentando a sua contribuição positiva à agenda do desenvolvimento sustentável. 14 5. SUSTENTABILIDADE, ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Como era a nossa alimentação antigamente? Produzíamos o que consumíamos e estávamos mais pertodo plantio. Atualmente, temos um distanciamento entre produtores e consumidores, buscando, cada vez mais, altos níveis de produtividade. Então, saímos de uma alimentação preparada em casa, com alimentos mais naturais, para uma alimentação mais industrializada, com desequilíbrio de nutrientes, de fácil acesso e porções cada vez maiores. Fonte: FAO. The food system transformation. Food and Agriculture Organization of the United Nations. The state of food and agriculture, FAO, Rome, 2013. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), desde o ano de 1900, aproximadamente 75% da diversidade genética das plantas foi perdida porque os produtores rurais deixaram de cultivar variedades locais, preferindo insumos de alta produtividade (100 anos de mudança agrícola). 100 ANOS DE MUDANÇA AGRÍCOLA: Algumas tendências e números relacionados com a biodiversidade agrícola 15 • 75% da diversidade genética de plantas foi perdida desde os anos 1900 quando os agricultores mundiais abandonaram as suas diversas variedades locais e “raças da terra” por variedades uniformes geneticamente de alto rendimento. • 30% de raças de gado estão em risco de extinção; seis raças são perdidas mensalmente. • Atualmente, 75% dos alimentos mundiais são gerados de apenas 12 plantas e cinco espécies de animais. • Dos 4% das 250.000 a 300.000 espécies de plantas comestíveis conhecidas, apenas 150 a 200 são utilizadas pela espécie humana e apenas três – arroz, milho e trigo – contribuem, com aproximadamente 60% das calorias e proteínas obtidas das plantas por seres humanos. • Os animais fornecem aproximadamente 30% dos requisitos humanos para alimentos e agricultura e 12% da população mundial vivem quase que, exclusivamente, de produtos dos ruminantes. FAO. 1999b Fonte: http://www.fao.org/3/y5956p/Y5956P03.htm Impactos à Saúde Humana: O consumo de alimentos vem sofrendo mudanças que promovem impactos negativos para a saúde humana e para o meio ambiente. A alimentação atual, que tem como base produtos com alto valor energético e é pobre em diversidade, suporta e incentiva a agricultura intensiva, além de agravar a tendência crescente de uma epidemia de obesidade global. O consumo de alimentos em excesso também é considerado como contrário a sustentabilidade, já que ultrapassa as necessidades do indivíduo, tornando-se desperdício. Se por um lado – temos aumento na expectativa de vida e diminuição na desnutrição infantil – por outro temos aumento de sobrepeso, obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Então, temos os dois problemas: o excesso e a falta. No mundo, uma em cada três pessoas ou comem em excesso ou têm carência de alimentação, ou seja, além do impacto ambiental, temos um problema grave de saúde, também relacionado com a alimentação atual. Para contribuir com o alcance das metas relacionadas à nutrição no contexto dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030), em 01/04/2016 – a ONU proclamou o período de 2016 a 2025 como a Década de Ação em Nutrição da Organização das Nações Unidas (“Década da Nutrição”). Essa iniciativa convoca os países a firmarem o compromisso para a 16 realização de ações em diferentes frentes com o intuito de reverterem esse cenário. Isto se deve ao fato de, no mundo, existirem 800 milhões de pessoas cronicamente subnutridas; dois bilhões com deficiências de micronutrientes; ao mesmo tempo em que 1,9 bilhão de adultos têm sobrepeso e 600 milhões são obesos. E a obesidade infantil tornou-se uma preocupação global. O Brasil também vem enfrentando um aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias e as doenças crônicas são a principal causa de morte entre os adultos. O excesso de peso acomete um em cada dois adultos e um em cada três crianças brasileiras. (Guia, 2014) Os dados acima refletem hábitos alimentares inadequados e dietas pouco saudáveis. O mundo não precisa produzir mais e, sim, melhor – e precisamos comer melhor. O aumento da obesidade, especialmente da obesidade infantil, é um retrato de uma alimentação inadequada. Temos um consumo excessivo de produtos alimentícios, principalmente de alimentos ultraprocessados. A 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2), organizada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/OMS), em novembro de 2014, teve como resultado que os países membros comprometem-se a melhorar os sistemas alimentares sustentáveis através do desenvolvimento de políticas públicas – da produção ao consumo –, para fornecer acesso durante todo o ano a alimentos que atendam às necessidades nutricionais das pessoas e promovendo dietas saudáveis e diversificadas. O cerne do trabalho da FAO é incorporar a sustentabilidade nos guidelines: o uso dos recursos naturais incluindo os aspectos econômicos e sociais. A OMS recomenda, através da “Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde”, que os governos reformulem e atualizem periodicamente suas diretrizes nacionais sobre alimentação e nutrição. No Brasil, temos o Guia Alimentar da População Brasileira (2014), um importante documento para ampliar a escolha alimentar. Seu objetivo é melhorar a alimentação e a saúde das pessoas. Segundo o Guia, a alimentação saudável deve ser incentivada através do consumo de alimentos nas formas mais naturais, 17 produzidos localmente e pela agricultura familiar, que valorizem os alimentos regionais e a cultura alimentar, devendo também estimular o resgate aos bons hábitos alimentares. Reconhece como prioritária a produção de alimentos que promovam e possam garantir a Segurança Alimentar Nutricional, com o uso da terra e da água de forma ecologicamente sustentável e com impactos sociais e ambientais positivos. Esse documento, baseado em ciência, traz argumentos para evitar o consumo dos alimentos ultraprocessados (aqueles com excesso de sal, gordura, açúcar e aditivos químicos), pois podem trazer diversos males à saúde, além de contribuir para a alta prevalência de doenças crônicas, tais como hipertensão, diabetes, obesidade, entre outras. Os cinco princípios do Guia Alimentar são: 1. Alimentação é mais que ingestão de nutrientes; 2. Recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com o seu tempo; 3. Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável; 4. Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias alimentares; 5. Guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares. Ainda, os governos podem e devem incentivar as empresas a investirem na produção de alimentos saudáveis, através de uma política agrícola e industrial sustentável. Este é um caminho fundamental, pois as empresas têm o poder de influenciar seus consumidores, favorecendo uma alimentação nutricionalmente mais equilibrada. Outro passo importante à mudança nos padrões de consumo da população, na busca da adoção de hábitos sustentáveis é a educação nutricional promovida nas escolas. É fundamental orientar para a diminuição da ingestão de uma alimentação com alto percentual de sal, açúcares e gorduras, bem como de carnes e de lácteos, de alimentos com ingredientes e processos “questionáveis”, como os transgênicos e alguns aditivos. É um equívoco crer que uma alimentação saudável é um luxo para poucos, pois pode ser um hábito acessível a todos, desde que haja planejamento e disciplina. 18 Sindemia Global (ou uma pandemia tripla) Trata da coexistência e sinergia de três pandemias: obesidade, desnutrição e mudanças climáticas, que interagem umas com as outras tendo causas em comum e, por este motivo, precisam ser combatidas em conjunto e com urgência no mundo todo. Em janeiro de 2019, foi divulgadoo relatório “A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas”, produzido pela Comissão de Obesidade The Lancet, que relata ações abrangentes para enfrentar a obesidade dentro do contexto desta sindemia, que representa o maior desafio de saúde para os seres humanos, o meio ambiente e o nosso planeta no século XXI. Para obter o Relatório Completo do The Lancet, acessar em: https://alimentandopoliticas.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Relatório- Completo-The-Lancet.pdf Fonte: https://ojoioeotrigo.com.br/2019/08/obesidade-desnutricao-mudancas-climaticas-tres-faces-de- uma-mesma-questao/ Nu.tri.cí.di.o A expressão nu.tri.cí.di.o, que tem como sinônimo o genocídio alimentar, foi criada pelo médico norte-americano Llaila Afrika, considerado uma das autoridades mundiais em saúde e nutrição, autor do livro Nutricide: The Nutritional Destruction of the Black Race. Ela surge a partir do raciocínio baseado no uso de agrotóxicos, transgênicos e ultraprocessados, e por incentivar o consumo desses alimentos em detrimento de opções in natura. https://alimentandopoliticas.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Relatório-Completo-The-Lancet.pdf https://alimentandopoliticas.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Relatório-Completo-The-Lancet.pdf https://ojoioeotrigo.com.br/2019/08/obesidade-desnutricao-mudancas-climaticas-tres-faces-de-uma-mesma-questao/ https://ojoioeotrigo.com.br/2019/08/obesidade-desnutricao-mudancas-climaticas-tres-faces-de-uma-mesma-questao/ 19 Em suas publicações, Llaila Afrika cita que o açúcar, o sal refinado e a farinha branca são os ingredientes mais prejudiciais da dieta moderna. Ele também inclui na lista os alimentos ultraprocessados, os embutidos, os laticínios, os produtos cheios de açúcar e a gordura em excesso, além dos sucos em embalagem longa vida e refrigerantes, que contêm calorias acima do recomendado pela OMS. Mapa da Fome Em 2014, o Brasil deixou o chamado Mapa da Fome das Nações Unidas1. O estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que se baseou em dados de 2001 a 2017, mostrou que, ao longo de 15 anos, houve a redução da pobreza em 15% e da extrema pobreza em 25%. Dados do IBGE comprovam que, em 2018, o Brasil retornou ao Mapa da Fome e voltou a fazer parte da lista de países com mais de 5% da população ingerindo menos calorias do que o recomendável. O levantamento mostrou avanço da fome no país ou insegurança alimentar grave, que atingia 5% da população brasileira em 2018 (3,6% em 2013), alcançando o patamar de 10,28 milhões de pessoas. Na relação dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pelo Brasil e outros 192 países da Organização das Nações Unidas (ONU), o objetivo 2 é erradicar a fome. Assim, a pesquisa do IBGE aponta para um "retrocesso grande" no combate à fome no país. Este quadro se agravou ainda mais devido à crise na economia originada do avanço da Covid- 19 no país. Com a atual crise sanitária, houve forte perda de renda originada pelo desemprego, principalmente na área de serviços, e observou-se um agravamento do cenário da fome no Brasil. A crise afetou principalmente os pequenos negócios, quando muitos sucumbiram aos sucessivos lockdowns, que visavam impedir o avanço da pandemia. 1O mapa da fome da ONU é um mapa mundi criado no início deste século para mostrar para todos, de uma forma gráfica, os países do mundo onde existe fome;são países onde a fome está acima de 5% da população. 20 Fonte: Fome no Brasil – Foto: Economia G1 (globo.com) O Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) (2013) menciona que a forma de como o mundo cultiva alimentos terá de mudar drasticamente para enfrentar os problemas da fome, do crescimento populacional e das mudanças climáticas, e para evitar a decomposição social e o colapso ambiental. 21 6. DIETAS SAUDÁVEIS E SUSTENTÁVEIS Parte-se da premissa de que um sistema alimentar insustentável é aquele incapaz de produzir alimentos saudáveis para o consumo humano. Considera- se que a alimentação só pode ser saudável se for também sustentável, ultrapassando a perspectiva nutricional. A alimentação saudável e sustentável necessita estar relacionada à produção de alimentos que protejam a biodiversidade e promovam variedade no consumo; resgatando alimentos, preparações e hábitos culturais tradicionais. Precisa ser acessível e disponível a todos, tanto em quantidade como em qualidade, baseada em alimentos produzidos e processados na região, de maneira agroecológica, por agricultores familiares, baseada no comércio justo. Deve aproximar a produção do consumo, ou seja, o produtor do consumidor. Também precisa estar isento de contaminantes físicos, biológicos ou químicos que causem malefícios a todos os envolvidos, de maneira aguda ou crônica. Segundo a FAO e a Biodiversity International (organização global de pesquisa para desenvolvimento), no Relatório “Dietas Sustentáveis e Biodiversidade”, Roma, 2012, “promover dietas sustentáveis é equilibrar saúde, bem-estar, preservação da biodiversidade, do meio ambiente e do clima, comércio justo, alimentos sazonais, conhecimento e herança cultural, acessibilidade e segurança alimentar”. Fonte: Dietas sustentáveis e biodiversidade – FAO, Roma, 2012 22 As dietas sustentáveis “são aquelas com baixo impacto ambiental que contribuem para a segurança alimentar e nutricional e para a vida saudável das gerações presentes e futuras. Protegem e respeitam a biodiversidade e os ecossistemas, são culturalmente aceitáveis, acessíveis, economicamente justas e acessíveis; nutricionalmente adequadas, seguras e saudáveis; ao mesmo tempo em que otimizam os recursos naturais e humanos”. A chamada “Pirâmide Dupla” tem duas pirâmides posicionadas lado a lado: Alimentar e de Impacto Ambiental. Fonte: Adaptado de FAO – Sustainable Diets and Biodiversity Directions and Solutions for Policy, Research and Action, 2012 À esquerda, está a Pirâmide Alimentar do Mediterrâneo, um dos melhores e mais promissores modelos de dietas sustentáveis, por apresentar vários atributos como: diversidade, biodiversidade, variedade de práticas alimentares; os principais alimentos que a compõe demonstram benefícios à saúde; tem um forte compromisso com a cultura e tradições; respeito à natureza humana e sazonalidade; e baixo impacto ambiental graças ao reduzido consumo de produtos de origem animal. À direita, está a Pirâmide Ambiental, que analisa os impactos ambientais da produção, distribuição e consumo dos alimentos. Na base da pirâmide alimentar estão os alimentos que devemos comer em maior quantidade (como legumes, verduras e frutas) e no topo o que devemos comer em menor quantidade, como a carne bovina e os alimentos processados e ultraprocesssados. A pirâmide ambiental é o oposto, ou seja, os https://www.barillacfn.com/en/dissemination/double_pyramid/ 23 alimentos que devemos consumir em maior quantidade são os que menos impactam o ambiente e os que devemos comer em menor quantidade são os que mais impactam. Assim, uma alimentação nutricionalmente equilibrada também é uma alimentação mais sustentável. Vale ressaltar que, a alimentação representa o segundo fator mais importante da sustentabilidade global (seguida da indústria de energia) e, por isso, a redução de impacto ambiental é uma prioridade para todos os atores envolvidos na cadeia de produção de alimentos. Então, em Sistemas Alimentares Sustentáveis, os alimentos devem ser vistos como um bem comum com três eixos sustentáveis: Econômico, Social e Ambiental. Fonte: World Food Day (https://worldfoodday.com.br/painel-01/ ) - Segurança Alimentar e uma Geração sem fome Rede: Sistema Alimentar Sustentável Ambiente Nutrição Economia SocioculturalAgricultura -Seguir práticas sustentáveis; - Aumentar a resiliência dos sistemas de produção; - Promover a diversidade alimentar; - Produzir produtos com - Implantar práticas de cultivo acessíveis; - Promover a autossuficiência - Manter as práticas da agricultura local e promover variedades locais. 24 - Implantar e manter a diversidade. densidade nutricional. através da produção local. Produção de alimentos - Reduzir o impacto da produção, processamento e comercialização. - Preservar nutrientes dentro da cadeia alimentar. - Fortalecer os sistemas alimentares locais; - Produzir alimentos a preços acessíveis. - Produzir alimentos culturalmente aceitáveis. Consumo - Reduzir o impacto ambiental de práticas alimentares. - Promover diversidade alimentar, equilíbrio alimentar e sazonalidade. - Promover o acesso à diversidade alimentar. - Preservação das tradições e da cultura alimentar - Atender a preferência e gosto local. Fonte: Simpósio Científico Internacional sobre Biodiversidade e Dietas Sustentáveis, organizado pela FAO e Bioversity International e realizado na FAO, Roma, de 3 a 5 de novembro de 2010. Segundo o World Wildlife Fund – WWF, 2014, com as dietas e padrões de consumo alimentar modernos, há uma tendência para: maior fluxo de produtos alimentares provenientes de longas distâncias que, somados a alimentos altamente processados e embalados, levam a uma maior emissão de gases de efeito estufa e depleção de recursos renováveis. A proposta atual é promover os alimentos km zero, que implica apoiar uma agricultura local, ou seja, comprar o alimento do produtor ou do agricultor mais próximo. O WWF, 2014, sugere seis passos para uma alimentação saudável e sustentável: 1. Coma mais vegetais/plantas; 2. Coma menos carnes; 3. Diversifique a alimentação; 4. Desperdice menos comida; 5. Coma menos produtos processados; 6. Compre alimentos que atendam a padrões de qualidade. 25 Alimento, Planeta e Saúde Em 2019, The EAT–Lancet Commission on Food, Planet, Health lançou o “The Planetary Health Plate”, que traduzido para o português: “Alimento, Planeta e Saúde – Dietas Saudáveis a partir de Sistemas Alimentares Sustentáveis”. A Comissão da The Lancet reuniu 37 cientistas de destaque de 16 países, durante três anos, liderados por Walter Willet (Harvard T.H.Chan School of Public Health), em várias disciplinas, incluindo saúde humana, agricultura, ciências políticas e sustentabilidade ambiental, para desenvolverem metas científicas globais para dietas e produção sustentável de alimentos, e elaboraram um modelo de dieta saudável para a saúde planetária e toda humanidade. Foram estabelecidos: um objetivo (Conseguir Dietas de Saúde Planetária para quase 10 Bilhões de Pessoas até 2050), duas metas (Dietas Saudáveis e Produção Sustentável de Alimentos) e cinco estratégias. As Dietas Saudáveis têm um ótimo consumo calórico e consistem em grande parte de uma diversidade alimentar à base de plantas, baixa quantidade de alimentos de origem animal, contêm gorduras não saturadas ao invés de saturadas, e quantidades limitadas de grãos refinados, alimentos altamente processados e açúcares adicionados. “A transformação para dietas saudáveis até 2050 vai exigir mudanças substanciais na dieta. O consumo geral de frutas,vegetais, nozes e legumes terá de duplicar, e o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar terá que ser reduzido em mais de 50%. Uma dieta rica em alimentos à base de plantas e com menos alimentos de origem animal confere benefícios à saúde e ao meio ambiente”. Fonte: https://eatforum.org/learn-and-discover/the-planetary-health-diet/ Muitas pesquisas foram conduzidas sobre os impactos ambientais de dietas variadas, resultando na conclusão de que uma dieta rica em alimentos vegetais resulta em benefícios ambientais e de saúde aprimorados. A dieta da saúde planetária é dividida em três áreas: 26 1. alimentos enfatizados: peixes, vegetais, frutas, legumes, grãos inteiros e nozes; 2. alimentos opcionais:ovos, aves e laticínios; 3. ingestão limitada: vegetais com amido e carne vermelha. Quando a comissão propõe dobrar o consumo global de frutas, hortaliças e legumes, e reduzir pela metade o de carne vermelha e açúcar, esse tipo de dieta pode também reduzir as taxas de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, entre outras. Quando falamos de alimentos e produção sustentáveis, vale destacar o que é um alimento orgânico, a importância do conhecimento e o consumo das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e sobre o modelo de trabalho conjunto entre produtores e consumidores: CSA – Comunidade que Sustenta a Agricultura. Alimento orgânico: A produção de alimentos orgânicos contribui para vários pilares que conduzem de fato a busca pela sustentabilidade nas questões sociais, políticas, econômicas e ecológicas, além de atender a soberania alimentar garantindo o direito a todos de consumir alimentos seguros, saudáveis e nutritivos. É um alimento que foi cultivado da maneira mais natural possível, produzido localmente e de maneira sustentável, buscando continuamente a diminuição da dependência de insumos externos à propriedade, utilizando práticas que favoreçam o uso saudável do solo, da água e do ar, de forma a reduzir todas as possíveis formas de contaminação e desperdícios de recursos não renováveis conforme legislação vigente. Podem ser extrativistas ou cultivados, processados ou in natura. Atendem ao mercado interno e ao externo com diversos produtos tanto de origem animal quanto vegetal. Vale ressaltar que os alimentos orgânicos não contêm contaminantes químicos sintéticos (agrotóxicos, drogas veterinárias, hormônios, antibióticos, aditivos artificiais), não contêm organismos geneticamente modificados e não sofrem processos como irradiação e refinamento; além de possuírem maiores quantidades de compostos bioativos (compostos fenólicos). PANCs – Plantas Alimentícias Não Convencionais 27 São plantas nativas de certas regiões que crescem e se desenvolvem espontaneamente, cujo cultivo é simples e sem exigências. Apesar destas características, são plantas pouco conhecidas e utilizadas pela população, mas apresentam alto valor nutricional e econômico, e respeitam a sustentabilidade e a agroecologia. Fornecerem energia e elementos para o crescimento e manutenção do organismo, além de exercem efeitos positivos sobre a saúde. A ingestão de fibra alimentar e fitoquímicos presentes nesses vegetais como flavonóides, esteróis, compostos fenólicos, saponinas, lectinas e glicosinolatos, pode reduzir o risco do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Fonte: IBNF – Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional A composição de fitoquímicos das hortaliças PANC e de diversos vegetais é bastante complexa, podendo se alterar conforme a forma de cultivo, como a intensidade da luz, temperatura e tipo de solo. As PANCs estão presentes em todo Brasil. Abaixo, segue um exemplo de uma PANC de cada região do Brasil. Região PANC Propriedades/benefícios Norte Bertalha Anti-inflamatório, antimicrobiano, redução do colesterol/dislipidemia. Nordeste Vinagreira Antioxidante e anti-inflamatório. Centro- Oeste Pequi Antioxidante, anti-inflamatório e antimicrobiano. Sudeste Ora-pro-nóbis Alto teor de proteínas, antioxidante, possível redução da pressão arterial. Sul Azedinha Antimicrobiano, proteção ao estômago, redução de açúcar do sangue. Fonte: IBNF – elaborado por Dra. Neiva Souza e Dra. Valéria Paschoal CSA – Comunidade que Sustenta a Agricultura O termo Community Supported Agriculture refere-se ao movimento social mundial traduzido no Brasil como Comunidade que Sustentaa Agricultura. Cada iniciativa ou projeto desse movimento é conhecido como uma “CSA”. Modelo de um trabalho conjunto entre produtores de alimentos orgânicos (agricultores) e 28 consumidores (coagricultores): um grupo fixo de consumidores se compromete por um ano (em geral) a cobrir o orçamento anual da produção agrícola. Em contrapartida os consumidores recebem os alimentos produzidos pelo sítio ou fazenda sem outros custos adicionais. Desta forma o produtor, sem a pressão do mercado e do preço, pode se dedicar de forma livre à sua produção. E os consumidores recebem produtos de qualidade, sabendo quem e onde são produzidos. Fonte: http://www.csabrasil.org/csa/ O desenvolvimento das relações pessoais entre agricultores e coagricultores proporciona uma comunidade que promove a sustentabilidade econômica, social e ambiental da agricultura. A CSA BRASIL é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve, como modelos, projetos agrícolas baseados na comunidade nos quais os agricultores podem se informar para garantir um futuro a pequenos empreendimentos agrícolas. Também apoia no processo de transição para uma agricultura ecológica e diversa, acompanhando e supervisionando esses projetos em forma de rede, que já se espalhou por todo o Brasil. http://www.csabrasil.org/csa/ 29 7. ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA NO CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE No Código de Ética e de Conduta do Nutricionista (2018), Art. 7º, há o compromisso com o desenvolvimento sustentável e a preservação da biodiversidade, sendo esse um dos princípios fundamentais da atuação do Nutricionista. As áreas de atuação do nutricionista, regulamentadas pela Resolução 600 (2018), também prevê, como competência esperada na formação profissional, a promoção de ações de incentivo ao desenvolvimento sustentável em todas as áreas de atuação. Assim, o nutricionista é um profissional que deve protagonizar a discussão do desenvolvimento sustentável e a preservação da biodiversidade em todas as áreas de atuação. Para tanto, é fundamental dominar conhecimento técnico sobre o tema e desenvolver habilidades para atuar de forma holística, assumindo a liderança para esclarecer e mobilizar os indivíduos na discussão da sustentabilidade em alimentação. O estudo Integrando Nutrição e Desenvolvimento Sustentável: atribuições e ações do nutricionista (PREUSS, 2009), sugere as ações do Nutricionista no âmbito da Alimentação Coletiva: • Ter um bom diálogo com os fornecedores sobre o desenvolvimento sustentável; • Se informar quanto à origem e ao modo de produção dos insumos utilizados para o preparo das refeições; • Privilegiar um fornecimento racional de alimentos (atenção quanto ao tipo de embalagem e meios de transporte utilizados); • Ao elaborar cardápios, dar preferência aos alimentos produzidos na região, alimentos da estação e alimentos frescos; • Priorizar alimentos oriundos de um modo de produção ambientalmente amigável (agricultura orgânica, sustentável, etc.); • Preferir o uso de materiais, eletrodomésticos e equipamentos econômicos em energia e água; 30 • Desenvolver e/ou apoiar programas junto aos empregadose clientes contra o desperdício de alimentos, uso racional de água e energia, reciclagem e coleta seletiva do lixo; • Realizar oficinas de sensibilização, palestras e confecção de material informativo. Para finalizar, o artigo cita que a capacitação do nutricionista é um meio indispensável para atender às exigências da Agenda 21 em todas as esferas da área de alimentação. Jennifer Wilkins, da Cornell University, propõe em seu trabalho (Civic dietetics: opportunities for integrating civic agriculture concepts into dietetic practice, 2009) o termo “civic dietetics” (tradução livre: “nutrição civil”) e sugere que a prática nutricional deve promover um novo sistema alimentar; sustentável, justo; economicamente viável e baseado na comunidade. As atribuições e contribuições do nutricionista devem conduzir ao alcance do desenvolvimento sustentável, permitindo fomentar o papel desse profissional na promoção de um futuro de qualidade social, ambiental e econômica. Em seu estudo (2009), sobre a atuação profissional do nutricionista voltada para a sustentabilidade, ainda que declarada como importante, é pouco desenvolvida, indicando a necessidade de mudanças na formação e atuação profissional. Outro estudo realizado pelas nutricionistas Camila Ceylão Naves e Elisabetta Recine “Percepção dos nutricionistas participantes em relação aos três principais fatores que dificultam a prática de ações sustentáveis no trabalho. Brasília-DF, 2012” traz como resultados: • Os nutricionistas participantes concordam com a capacidade do nutricionista em transformar o sistema alimentar convencional em um sistema sustentável. • A atuação do nutricionista como “chave” para alcançar o desenvolvimento sustentável, uma vez que este profissional representa o elo entre a sociedade e o sistema alimentar. • É função do nutricionista, profissional capacitado a compreender o alimento em relação à sua composição nutricional, bem como todo arcabouço contextual socioeconômico no qual está inserido, considerando que comer é, antes de tudo, um ato político e ideológico. 31 Desta forma, promover dietas sustentáveis, contribuir para o desenvolvimento sustentável e a preservação da biodiversidade pode ser exercido pelo nutricionista em todas as suas áreas de atuação (Alimentação Coletiva; Nutrição Clínica; Esportes e Exercício Físico; Saúde Coletiva; Cadeia de Produção, na Indústria e no Comércio de Alimentos; Ensino, na Pesquisa e na Extensão). Neste material, abordaremos os conhecimentos e habilidades específicas para os profissionais que atuam em UPAs. Sob o meu ponto de vista, considero quatro eixos importantes inerentes a todas as áreas da nutrição: • Reduzir o desperdício de alimentos. • Fomentar a economia local (agricultura familiar). • Fomentar o consumo de alimentos orgânicos, das Pancs (plantas alimentícias não convencionais) e participar, pessoalmente e profissionalmente, dos CSAs (comunidade que sustenta a agricultura). • Promover dietas nutricionalmente equilibradas, saudáveis e sustentáveis. 32 8. UNIDADES PRODUTORAS DE ALIMENTOS SUSTENTÁVEIS: PLANEJAMENTO E GESTÃO Um sistema de produção de alimentos é constituído pelas áreas e atividades relacionadas com o fornecimento de alimentos, que incluem a produção agrícola, transformação de alimentos, distribuição, comércio e consumo. Esse sistema é considerado sustentável quando todas as suas etapas atendem aos princípios da sustentabilidade (socialmente justo, ambientalmente responsável e economicamente viável), sendo fundamentais para garantir o abastecimento futuro de alimentos que protejam a saúde humana e do planeta. As UPAs têm grande importância para a promoção de refeições sustentáveis, pois tem um papel de destaque no setor de distribuição de alimentos, processamento e consumo através do fornecimento, preparo e distribuição de refeições. Ou seja, são locais estratégicos para a implantação de ações que visem minimizar os impactos ambientais, econômicos e sociais, causados pelo consumo inconsciente de água e energia e pela geração de resíduos sólidos. Vale salientar que o segmento de alimentação/refeições coletivas vem sofrendo modificações, evoluindo e ganhando novo perfil: produção de refeições com volume e qualidade; complexidade e diversificação das preparações; redução de custos; racionalização de recursos naturais e energéticos; e o uso de tecnologias que atendam às novas necessidades. A tendência é de diminuição do espaço disponível para a produção de refeições, a redução dos orçamentos e da disponibilidade de mão de obra. Ao mesmo tempo, para atender a esta demanda e à expectativa dos clientes,novos processos, tecnologias e equipamentos são necessários para auxiliar os profissionais de cozinha a exercerem as suas funções de forma eficiente e segura. Para tanto, há a necessidade de evoluir na capacitação e no conhecimento dos profissionais, nos processos de produção, nos equipamentos, na cadeia de valor e no respeito ao meio ambiente. Segundo o Conselho Regional de Nutricionistas – 3ª Região (Boletim Técnico nº2/2015 – Sustentabilidade em Nutrição), a sustentabilidade em nutrição nas UPAs prevê algumas ações: a) Gestão dos cardápios e compras 33 b) Gestão de recursos c) Gestão das sobras e de resíduos d) Gestão de pessoas Ampliando a proposta do CRN3, apresentam-se, a seguir, de forma mais detalhada, ações de gestão para de todo o processo produtivo, desde a fase de planejamento até o consumo final pelo usuário. I - Gestão de Cardápios O cardápio é a essência de um restaurante e um dos principais responsáveis pelo sucesso de vendas, ou seja, ele é a materialização do negócio. Seu planejamento exige conhecimento, técnica e habilidade tanto na criação dos pratos quanto na confecção e na apresentação dos mesmos. Na estruturação de um bom cardápio existem muitas metodologias envolvidas: planejamento, organização, montagem, marketing, vendas, engenharia do cardápio, equilíbrio nutricional e sustentabilidade. Para elaborar o cardápio, é necessário definir previamente a identidade do restaurante, as necessidades da clientela e os preços. E um dos principais objetivos de um cardápio bem elaborado é despertar e estimular o desejo dos clientes, ou seja, potencializar o poder de venda do cardápio. Porém, esse cardápio não pode ser somente gostoso e bonito aos olhos, ele precisa ser financeiramente acessível, nutritivo, balanceado e sustentável. É fundamental permitir a liberdade de escolha e, sobretudo, promover a saúde das pessoas. Comer de forma saudável é hoje um desejo crescente entre os brasileiros, que parece ter sido ampliado com a pandemia que estamos vivendo. Quando falamos em sustentabilidade, devemos levar em conta, além da própria sustentabilidade do negócio, no sentido de garantir o ganho financeiro para a sobrevivência e para o crescimento da UPA – que é fundamental, – devemos considerar também os aspectos sociais e ambientais. Vale salientar que, em uma UPA lidamos com pessoas, com alimentos e toda uma cadeia produtiva, ou seja, todas as escolhas e decisões em relação aos alimentos que compõem o cardápio – podem impactar toda uma cadeia de produção. Por exemplo, se forem utilizados produtos naturais, esse comércio 34 será favorecido, mas se forem produtos processados/industrializados, será estimulada a indústria que produz alimentos processados e ultraprocessados. Podemos também estimular um pequeno ou um grande produtor, estimular o desenvolvimento de produtos locais ou comprar de longas distâncias, ou mesmo importados. Ou seja, o cardápio elaborado poderá impactar novamente toda uma cadeia de produção e desta forma estaremos ou não contribuindo para a sustentabilidade. Então, ao planejar um cardápio, devemos considerar, para melhor atender ao público e ter um produto de qualidade com o menor custo: 1. O tipo de clientela; 2. Os hábitos alimentares locais; 3. Os recursos humanos (empregados); 4. A disponibilidade de área, equipamentos e utensílios para a produção; 5. O período de safra dos alimentos (alimentos de safra são mais nutritivos e seus custos mais acessíveis); 6. A priorização de alimentos regionais e, de preferência, orgânicos; privilegiando a agricultura familiar e o fortalecimento da economia local; 7. A utilização de fichas técnicas → para manter o padrão de qualidade do prato e evitar desperdícios e gerenciar custos; 8. A elaboração de um Mapa de Produção, por exemplo: • Qual a finalidade? (exemplo: a batata será cozida, purê, sopa, etc.?); • Qual o propósito (rendimento? aparência?); • Qual a forma de preparo? • Qual o tipo de corte? • Qual a matéria-prima será usada? (exemplo: tipo A, AA, AAA) • Serão utilizadas cascas e sementes? (esse processo leva a um maior tempo de operação e maior consumo de água); • Qual é o padrão mínimo de qualidade? Precisa ser perfeito? • Qual o fator de correção (FC), fator de cocção e o rendimento? 9. O uso de técnicas adequadas de armazenamento, descongelamento, pré- preparo, preparo e distribuição. 10. O aproveitamento integral dos alimentos: desde a sua seleção, preparo e apresentação para o consumo ou da reutilização no processo de produção. 35 Aqui, a criatividade é o limite. E como melhor aproveitar os alimentos? Por exemplo, todas as folhas podem virar um molho “pesto”, serem adicionadas em patês, molhos e azeites aromatizados. Todos os legumes e verduras podem ir ao forno e a maior parte não necessita ser descascado. 11. Aplicar os demais fundamentos para evitar o desperdício: utensílios corretos e em bom estado, e aplicar a forma correta de corte. Por exemplo, cortar um talo de um vegetal com uma faca grande pode levar a um desperdício de até 20% em relação à utilização de uma faca menor. Pode-se obter 99% de aproveitamento quando se retira apenas o talo central (com a faca de legumes) e soltando as folhas. 12. Evitar sobras. Estas muitas vezes são geradas pelo apelo estético do prato, tendo como consequência o desperdício de alimentos íntegros, ricos em componentes nutricionais, que poderiam ser utilizados em produções alternativas. 13. Avaliar o número de opções oferecidas: menos é mais! Muitas opções podem levar ao desperdício e, consequentemente, a um custo maior. 14. O orçamento e o custo do cardápio (ter produtos de qualidade, com o melhor custo/benefício, sem perdas ou desperdícios em todo processo). 15. Ter um cardápio que permita uma produção cadenciada/enxuta (aquela que ocorre durante toda a distribuição, ou seja, o preparo dos alimentos é feito aos poucos, de acordo com a demanda). Este ainda é o melhor meio de reduzir os desperdícios pós-cocção e conter os custos. Isso permitirá produzir com muita segurança somente aquilo que será consumido pelos clientes. 16. O equilíbrio nutricional e saúde: além de selecionar alimentos mais nutritivos, utilizar técnicas dietéticas adequadas e ter equilíbrio nutricional, levar em conta que existe uma tendência atual da redução do consumo de carnes. As pessoas têm cada vez mais acesso às informações e estão priorizando uma alimentação mais natural, mais baseada em vegetais (plant-based). Pode-se usar esta tendência positivamente na redução de custos e na incorporação de novas receitas nos restaurantes. Criar, por exemplo: uma “segunda-feira sem carne”. II - Gestão de Recursos 36 Além de preservar o meio ambiente, a gestão de recursos naturais em uma UPA deve valorizar o uso consciente de recursos naturais e incentivar um melhor comportamento das pessoas envolvidas nos processos produtivos. Vão desde o projeto, iluminação, tipo de energia, infraestrutura, aproveitamento de água, etc., até a redução da geração de resíduos. 1) Construções ecoeficientes: ➢ Uso de produtos atóxicos na construção e na mobília; ➢ Energia obtida de fontes renováveis / gás natural / aquecimento solar; ➢ Secagem mãos com ar quente / torneiras automáticas (temporizadas/sensor); ➢ Móveis e utensílios feitos de madeira certificada ou de materiais recicláveis e/ou reciclado; ➢ Ventilação natural / luz natural / iluminação econômica (fluorescentes/ LED) / sensor de presença; ➢ Telhado verde (hortas nos telhados das UPAs). 2) Equipamentos ecoeficientes ➢ Equipamentos com menor emissão de carbono; baixo consumo de água, de energia e produtos de limpeza (biodegradáveis); ➢ Escolher fabricantes com equipamentos certificados dentro de normas de segurança da vida humana e comprometidos com EspíritoVerde; ➢ Utensílios metálicos sem alumínio ou teflon no revestimento (priorizar inox e vidro). 3) Alimentos (Aquisição, preparo e distribuição de maneira sustentável) ➢ Comprar alimentos cultivados e produzidos localmente; ➢ Alimentos frescos ao invés de congelados; ➢ Alimentos orgânicos; ➢ Evitar produtos muito embalados; ➢ Técnicas corretas de preparo (redução do desperdício), sazonalidade; ➢ Evitar o desperdício / reaproveitar o que for possível. ➢ Segundo dados do World Resoucers Institute (WRI), o desperdício no restaurante em relação aos alimentos chega a 940 bilhões de dólares de 37 prejuízo, sendo que isso representa cerca de 8% das emissões globais de gases nocivos ao meio ambiente. O desperdício é preocupante em qualquer gestão do mercado food service, pois os custos de um restaurante são “pesados”, e manter algo que não dá retorno – torna-se quase impossível. Por este motivo, é fundamental tomar medidas que otimizem os recursos e afastem o desperdício de vez. 4) Uso eficiente de recursos naturais ➢ Gestão da Água o Desafio: minimizar o uso em todas as etapas da produção; o Adequar equipamentos: vazamentos, regulagens, redutores, temporizadores; o Hábitos e vícios: esquecimentos, treinamento operacional; o Adequação técnica: higiene das mãos; de equipamentos e utensílios; dos vegetais; o Equipamentos modernos: reduzem até 50% no consumo de água. ➢ Gestão de Energia: o Gerir o consumo de energia elétrica; o Equipamentos modernos: uso reduzido de energia (em torno e 35%– 40%) e de gastos, inclusive na manutenção de equipamentos. ➢ Gestão do Gás Natural: o Recomenda-se o uso de gás natural (constituído em sua maior parte por gás metano e um hidrocarboneto extraído das profundezas do solo), sempre que possível, em substituição ao GLP (gás liquefeito de petróleo). Na gestão da água, energia e gás, é fundamental: ✓ treinamento operacional da equipe; ✓ adequação de equipamentos (vazamentos, regulagens, redutores, temporizadores). ➢ Gestão de Resíduos: o Separar todo o resíduo seco reciclável: papel, plástico, vidro, metal; o Separar o resíduo orgânico; o Condicionar o resíduo orgânico em condições adequadas; 38 o Tratar adequadamente o resíduo orgânico: podem ser reciclados transformando-se em fontes de energia, adubo (compostagem) ou alimentação para animais; o Existem máquinas de compostagem (aquecimento de 40 a 70º C, que produzem compostos com 99,9% de pureza); o O tratamento adequado também evita insetos nas imediações da cozinha. ➢ Gestão de Sobras: Fundamental. Muitas vezes, as sobras são geradas pelo apelo estético do prato, tendo como consequência o desperdício dos alimentos íntegros, ricos em componentes nutricionais, que poderiam ser utilizados em produções alternativas. 5) Cadeia de valor responsável: ➢ Com a crescente implantação dos programas responsible sourcing (abastecimento responsável), as grandes empresas, líderes das cadeias de valor, começam a estabelecer regras de conduta e a demandarem adequações de seus fornecedores e produtos às suas políticas de sustentabilidade (diminuição de riscos econômicos, operacionais e de reputação); ➢ Gestão dos fornecedores: criar meios para garantir que os fornecedores cumpram requisitos legais que garantam a proteção aos direitos humanos, práticas trabalhistas, ética, saúde e segurança do trabalho, entre outras. 6) Desenvolvimento/capacitação de gestores e equipes Devem ser capacitados e receber o conhecimento e treinamento necessários, além de acreditarem e apoiarem a proposta, caso contrário, nada acontecerá; ➢ Capacitação da liderança, da equipe administrativa e operacional; ➢ Educação continuada com formação de profissionais de saúde conscientes (sustentabilidade/consumo consciente). Há ainda um aspecto fundamental: a divulgação 39 ➢ Divulgar todos esses processos e inovações para seus fornecedores, empregados e, especialmente para seus os clientes que, se souberem de todos esses cuidados, se identificarão e valorizarão ainda mais a sua UPA, o que poderá contribuir para uma maior fidelização. Como ser uma Unidade Produtora de Alimentos Sustentável? É fundamental planejar todo processo produtivo, otimizando recursos, definindo metas e prazos, estabelecendo indicadores de desempenho, monitorando e avaliando todo o serviço para a melhoria contínua. Fonte: Elaborado pela autora Em resumo, para diminuir o desperdício em uma UPA: 1. Identifique os pontos de desperdício; 2. Invista em uma estrutura melhor; 3. Conscientize a equipe; 4. Otimize seu cardápio. Selo Restaurante Sustentável Já existem, há alguns anos, no Brasil, certificações para estabelecimentos, que atestam o comprometimento de bares e restaurantes com ações sustentáveis, que vão desde o uso de alimentos orgânicos no cardápio, 40 uso racional dos recursos naturais, até a preocupação da empresa com o bem- estar de seus colaboradores/empregados. Alguns exemplos: 1) Selo Restaurante Sustentável (Pensamento Verde): www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/conheca-selo-restaurante- sustentavel-papel-responsabilidade-socioambiental/ A iniciativa se baseia nos princípios do desenvolvimento contínuo e nas ações sustentáveis realizadas pelos restaurantes, como coleta seletiva, utilização de alimentos orgânicos e ingredientes frescos. O projeto permite associar o desejo de “comer fora” e a preocupação com o meio ambiente. Se o estabelecimento já pratica ações sustentáveis, o selo pode ser adquirido mediante avaliação de auditores. Caso o restaurante ainda não seja sustentável, deverá passar por uma consultoria em que diversos fatores pré-estabelecidos serão analisados, e novos planos de ações serão elaborados visando resultados de médio e longo prazos. Os estabelecimentos que aderirem a, pelo menos, três itens da lista recebem o selo Restaurante Sustentável pelo período de um ano. Os procedimentos listados no checklist são divididos em sete grupos: Fornecedores, Funcionários, Menu, Energia, Água, Material e Resíduos, e Desperdício. Entre as ações recomendadas aos estabelecimentos, estão: • Evitar o uso de peixes ameaçados de extinção no cardápio; • Dar aos clientes a opção de pedir porções menores por preços mais acessíveis; • Instalar sensores de movimento no local para automatizar a iluminação; • Servir aos clientes água filtrada na jarra para evitar as garrafas plásticas; • Reciclar o lixo seco e separar os resíduos orgânicos para compostagem; • Utilizar materiais de limpeza biodegradáveis na higienização do local; e • Criar uma área de descanso para os empregados. 2) Programa Green Kitchen: www.greenkitchen.com.br Busca mostrar que cada ação de sua lista traz necessariamente um benefício ao cliente, ao empregado ou à natureza. São ações sugeridas que dão muita força ao empreendimento, fáceis de implantar, econômicas de manter e http://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/conheca-selo-restaurante-sustentavel-papel-responsabilidade-socioambiental/ http://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/conheca-selo-restaurante-sustentavel-papel-responsabilidade-socioambiental/ http://www.greenkitchen.com.br/ 41 com vários caminhos para evoluir. É um programa que atende tanto a projetos como para operações com alimentos. O programa aborda: Ambientação Natural Alimentação Saudável Sustentabilidade Projetos físicos para ambientes que valorizem: - o controle da insolação, - a iluminação natural e - a ventilação renovada, Utilizando: - materiais naturais, - reusados, - reciclados ou certificados. Levando em consideração projetos integrados ao ecossistema nos quais estarão presentes. Preparar e desenvolver refeições visando: • - equilíbrio de saúde de quem consome, de quem prepara ecom responsabili- dade sobre a origem dos ingredientes utilizados. • - Levar a natureza à mesa, em refeições puras, com controle da adição de produtos químicos, enzimas, hormônios, transgênicos, ou qualquer outra substância que possa alterar a normalidade do organismo humano. • - Estímulo à potencialização das pessoas através da administração de uma boa alimentação. - Boas práticas ambientais com opções por medidas ecoeficientes capazes de não desperdiçar matéria- prima e processos. - Devolver ao ambiente o mínimo de resíduos sólidos, na melhor forma de recuperação, com classificação, caixas de gordura nas saídas de esgoto, lavadores de ar dos sistemas de exaustão e uso de produtos biológicos para limpeza em geral. - Seleção destas práticas de forma a consumir materiais e ingredientes absolutamente indispensáveis e no volume certo. 3) “Lista de verificação de boas práticas ambientais para serviços de alimentação (LVBPA-AS): elaboração, validação de conteúdo e confiabilidade interavaliadores”:www.scielo.br/pdf/bjft/v21/1981-6723-bjft-21- 2017066.pdf Com o objetivo de elaborar, validar o conteúdo de uma lista de verificação das boas práticas ambientais para serviços de alimentação (LVBPA-SA) e verificar a confiabilidade interavaliadores, foi construído um instrumento baseado em pesquisa bibliográfica e nas diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, Política Nacional de Recursos Hídricos e Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia. A LVBPA-SA foi avaliada por painel de especialistas para validação do conteúdo, e apresentou validade de http://www.scielo.br/pdf/bjft/v21/1981-6723-bjft-21-2017066.pdf http://www.scielo.br/pdf/bjft/v21/1981-6723-bjft-21-2017066.pdf 42 conteúdo, reprodutibilidade e consistência interna para a avaliação das boas práticas ambientais, podendo, portanto, ser utilizada para orientar a adoção de boas práticas ambientais no âmbito dos serviços de alimentação. a) Para minimizar os impactos negativos ao meio ambiente causados pelo processo produtivo de refeições, é essencial que sejam adotadas medidas de boas práticas ambientais que se adequem às rotinas operacionais das UPAs. Segue, abaixo, a reprodução, na íntegra, da lista de validação, que está dividida em blocos: resíduos sólidos, água, energia e documentação. Resíduos sólidos – medidas relacionadas à redução, reutilização, tratamento, armazenamento e destinação final; 1. Há ficha técnica de preparação no serviço de alimentação? 2. Há controle de perdas no pré-preparo (fator de correção, fator térmico, perdas no degelo)? 3. É realizado o aproveitamento integral dos alimentos? 4. É realizado controle de temperatura na recepção dos gêneros? 5. É realizado controle de temperatura no preparo/cocção? 6. É realizado controle de temperatura na distribuição das refeições? 7. É realizada a avaliação das características sensoriais dos alimentos/preparações na recepção de gêneros? 8. É realizada a avaliação das características sensoriais dos alimentos/preparações após o preparo/cocção? 9. Há controle de restos por meio de cálculo do índice de restos? 10. Há controle de sobras por meio de cálculo do percentual de sobras de preparações? 11. Há aquisição de produtos em embalagens econômicas que dispensem embalagens secundárias? 12. Há reutilização de embalagens utilizadas no serviço de alimentação? Se sim, quais? ( ) Plástico ( ) Vidro ( ) Papelão ( ) Alumínio ( ) Isopor ( ) Embalagem cartonada tetra pak 13. É realizado o tratamento dos resíduos sólidos e líquidos gerados no serviço de alimentação? Se sim, quais? ( ) Compostagem ( ) Incineração ( ) Tratamento de efluentes ( ) Outros 14. É realizada a separação dos resíduos recicláveis? Se sim, quais: ( ) Plástico ( ) Vidro ( ) Papelão ( ) Óleo e gorduras de origem vegetal e animal ( ) Alumínio ( ) Madeira ( ) Isopor ( ) Embalagem cartonada tetra pak ( ) Outro 15. Há recipientes para acondicionamento de resíduos dotados de saco plástico resistente, tampa e sistema de acionamento sem contato manual? 16. Há número suficiente de coletores de resíduos em cada área da produção de refeições? 43 17. O recipiente de lixo é mantido afastado das mesas, dos utensílios de preparação e da manipulação de alimentos? 18. É realizado o recolhimento frequente do lixo das áreas de produção (quando os recipientes estão cheios)? 19. O lixo da área de produção é retirado por local diferente da entrada de matérias-primas ou, na impossibilidade de áreas distintas, são utilizados horários diferenciados? 20. O resíduo pastoso e/ou aquele que escorre líquido são colocados em recipientes rígidos, até o momento da coleta? 21. Há comercialização (ou doação) de resíduos de alimentos por empresa especializada no processamento desses resíduos? 22. Há comercialização (ou doação) de resíduos de óleo de fritura por empresa especializada no processamento desses resíduos? 23. O óleo de fritura, quando comercializado, é acondicionado em recipiente rígido, fechado e fora da área de produção? 24. É realizado o encaminhamento dos resíduos sólidos para a reciclagem? Se sim, quais? ( ) Plástico ( ) Vidro ( ) Papelão ( ) Óleo e gorduras de origem vegetal e animal ( ) Alumínio ( ) Madeira ( ) Isopor ( ) Embalagem cartonada tetra pak ( ) Outro 25. É realizada capacitação dos manipuladores de alimentos para o manejo de resíduos sólidos? 26. É realizada educação ambiental (sobre resíduos sólidos) para usuários/comensais do serviço de alimentação? 27. Os resíduos sólidos orgânicos de origem alimentar são mantidos temporariamente sob refrigeração até o momento da sua remoção para destinação final? 28. Os resíduos sólidos de origem não alimentar são mantidos em local fechado e isolado da área de preparo até o momento da sua remoção para destinação final? 29. A área de armazenamento temporário dos resíduos é revestida com material de fácil limpeza, provida de ponto de água, de ralo, protegida da chuva, sol, moscas, roedores, outros animais e pessoas estranhas ao serviço? 30. No armazenamento temporário, os resíduos estão acondicionados de forma que não provoquem odores ou incômodos à vizinhança e aos empregados? 31. No caso de refeições transportadas, o SA utiliza embalagens recicláveis ou reutilizáveis? 32. No SA são utilizados alimentos de produtores locais/agricultura familiar no cardápio total? 33. No SA são utilizados alimentos de produtores locais/agricultura familiar no cardápio parcial ou em algum dia da semanal? b) Água – medidas relacionadas ao uso racional de água; 1. Há capacitação dos manipuladores (uso racional de água/prevenção de desperdício durante a higienização do ambiente, dos equipamentos, utensílios e alimentos)? 2. Há atividade de educação ambiental sobre o uso racional de água para usuários do S.A/Comensais? 44 3. Há identificação e correção de vazamentos na rede de água e nos equipamentos? 4. São utilizados materiais de limpeza biodegradáveis? 5. É utilizada quantidade necessária de detergente na higienização do ambiente, equipamentos e utensílios? 6. Há enxágue controlado na higienização do ambiente, equipamentos, utensílios e alimentos? 7. O descongelamento de alimentos é realizado em câmara de refrigeração/geladeira ou forno de convecção ou de microondas? 8. São utilizadas estratégias de reaproveitamento e reúso de água? Se sim, quais? ( ) Coleta e reutilização da água de chuva ( ) Outro tipo de reaproveitamento ou reuso de água ( ) Uso da própria caixa d’agua no momento de sua limpeza ( ) Tratamento e reúso de água cinza (proveniente de processo de higienização de ambiente, utensílios) 9. Há medidores (hidrômetros) individuais de água (por área de processamento de alimentos)? 10. Há torneirascom arejadores? 11. Há duchas com redutor de vazão? 12. Há mictório com válvula automática? 13. Há bacia sanitária com caixa acoplada e acionador com dois botões (para dois fluxos)? 14. Há fossas/esgoto conectados à rede pública? 15. Há tratamento de águas negras (fecal e urina) antes do lançamento no ambiente (rede coletora de esgoto ou corpo receptor) ou reutilização? c) Energia – medidas relacionadas ao uso racional de energia; 1. Há capacitação dos manipuladores para o uso racional de energia? 2. Há atividade de educação ambiental sobre uso racional de energia para usuários do SA/Comensais? 3. Há manutenção de equipamentos e sistemas de aquecimento e refrigeração? Se sim, quais? ( ) PREDITIVA (planilhas de temperatura de câmaras, pass through, balcões de distribuição, etc.) de equipamentos e sistemas de aquecimento e refrigeração ( ) PREVENTIVA de equipamentos e sistemas de aquecimento e refrigeração ( ) CORRETIVA de equipamentos e sistemas de aquecimento e refrigeração. 4. É realizada calibração dos instrumentos ou equipamentos de medição. 5. São adotadas medidas para redução do consumo de energia? Se sim, quais ( ) desligamento programado de sistema de iluminação ( ) instalação de interruptores para desligamento de equipamentos ( ) instalação de sensores de presença ( ) Rebaixamento de luminárias ( ) Uso exclusivo de lâmpadas de led ( ) Medidores individuais de eletricidade ( ) ventilação natural e sistemas de ar condicionado em áreas nas quais a ventilação natural não pode fornecer resultados satisfatórios ( ) uso de painéis solares ou outras tecnologias limpas para o aquecimento da água ( ) outros 45 d) Documentação 1. Há manifesto de resíduos preenchido e arquivado com, no mínimo, as seguintes informações: tipos de resíduos, quantidade, estado físico, origem, tipo de acondicionamento, procedência, tipo de tratamento/disposição, identificação do gerador, do transportador e do receptor? 2. As Notas Fiscais ou notas de serviços prestados pela empresa especializada na coleta dos resíduos sólidos são mantidas no serviço de alimentação? 3. É mantido o registro de comercialização/doação de resíduos de alimentos com, no mínimo, os seguintes dados: nome e endereço da empresa reprocessadora, frequência da coleta e quantidade aproximada do material coletado? 4. É mantido o registro de comercialização/doação de óleo de fritura com, no mínimo, os seguintes dados: nome e endereço da empresa reprocessadora, frequência da coleta e quantidade aproximada do material coletado? 5. É mantido registro diário de sobras das preparações? 6. É mantido registro diário de restos alimentares? 7. Há registro de realização da calibração dos instrumentos ou equipamentos de medição? 8. É realizado o registro da manutenção dos equipamentos? 9. Há Procedimentos Operacionais Padronizados de manutenção dos equipamentos envolvidos no processo produtivo de refeições que contenham, no mínimo: periodicidade e responsável pela manutenção e a operação de higienização adotada após o processo de manutenção dos mesmos? 10. É mantido o registro periódico dos procedimentos de limpeza e manutenção dos componentes do sistema de climatização (ar condicionado) conforme legislação específica afixado em local visível? 11. Há Procedimentos Operacionais Padronizados para higienização das instalações, dos equipamentos, dos móveis e utensílios? 12. Há Procedimentos Operacionais Padronizados do manejo de resíduos com, no mínimo, as seguintes informações: frequência e responsável pelo manejo? 13. Há Procedimentos Operacionais Padronizados para higienização dos coletores de resíduos e da área de armazenamento temporário dos mesmos? 14. Há Programa de gestão integrada e sustentável dos resíduos gerados no processo produtivo de refeições? Fonte: Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 21, e2017066, 2018 –Lista de verificação de boas práticas ambientais para serviços de alimentação: elaboração, validação de conteúdo e confiabilidade interavaliadores. Produtos com baixo impacto ambiental para UPAs: Uma alimentação sustentável combate o uso excessivo de embalagens que são responsáveis por grandes impactos ambientais negativos. É o caso de recipientes plásticos, feitos com petróleo, um recurso natural não renovável. 46 Idealmente, a embalagem sustentável usa a menor quantidade possível de recursos naturais em sua fabricação, é 100% reciclável e impressa com tintas ecológicas. Para serem considerados sustentáveis, precisam atender a alguns critérios: • Fabricação a partir de material orgânico e/ou reciclável; • Em sua produção, demandam pouca energia e recursos naturais; • Após o descarte, oferecem impactos ambientais reduzidos. Atualmente já existem muitos produtos ecológicos com baixo impacto ambiental que contribuem para a segurança alimentar e nutricional: embalagens, copos, pratos, talheres ecológicos que são 100% biodegradáveis, feitos de diversos materiais: fécula de mandioca, amido de milho, bagaço de cana de açúcar, polpa vegetal (bagaço de cana + fibra de trigo), farelo de trigo, fibra de bambu, fibra de coco, madeira, cascas de milho e coroa de abacaxi (este pode ser plantado após o uso). Porém, é importante estar alerta a alguns materiais que se são considerados biodegradáveis, porém, efetivamente não o são. É o caso dos canudinhos descartáveis oxibiodegradável de polipropileno. Estes possuem um oxidante que, em contato com a água e a umidade, começam a se degradar, o que acelera a composição e parece adequado. Porém, ao se fragmentar, esse material vira microrresíduos/nanopartículas que poderão ser ingeridos e, por fim, podem ter como destino final os oceanos. Para ser oxidegradável, o plástico precisa ser degradado pelo oxigênio (processo acelerado pela incidência da luz e do calor – raios UV). E para ser considerado biodegradável, é necessário que seja degradado por bactérias, que fazem o trabalho de decomposição. Utensílios em PLA e CPLA, materiais inovadores e com alta tecnologia, substituem o plástico convencional com matéria-prima isenta de derivados de petróleo e se degradam de três a seis meses em condições de compostagem adequadas. Em composteira industrial o processo de degradação é rápido, em até 24 horas. No entanto, existem questionamentos com relação a problemas ambientais que ocorrem a partir dos resíduos oriundos do descarte inadequado do material, situação semelhante à dos plásticos convencionais; e a decomposição precisa se dar em condições adequadas. https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/4072-produtos-biodegradaveis-o-que-e-um-produto-biodegradavel-oxi-biodegradavel-plastico-detergente-ecologicamente-correto-impactos-geracao-metano-residuos-co2-biomassa-agua-escala-tempo-material-ambiente-condicoes-decomposicao-quimica-desintegracao.html https://www.ecycle.com.br/143-decomposicao.html https://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/686-pros-e-contras-do-plastico https://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/686-pros-e-contras-do-plastico 47 Equipamentos para Reciclagem de Resíduos Orgânicos: Já existem no Brasil equipamentos que transformam resíduos orgânicos em elementos de correção do solo e que reduzem até 90% do volume e peso inicial; não emitem gases, detritos e produtos químicos nocivos ao meio ambiente. A Recicladora de Resíduos orgânicos é um equipamento compacto e de fácil instalação, totalmente automatizado, o operador só precisa ligar e desligar o equipamento. Processa facilmente frutas, verduras, legumes e carnes. NÃO utiliza água e qualquer produto químico ou enzima e nem requera substituição de filtros de água minimizando custos. Ocorre 100% de reaproveitamento do material processado (biomassa). UPAs –Unidades produtoras de alimentos “sustentáveis”: Já existem várias UPAs quetrabalham dentro dos princípios da sustentabilidade, incluindo unidades de alimentação e nutrição (UANs), restaurantes comerciais, concessionárias de alimentação, supermercados, atacadistas, indústria e comércio de alimentos. Estes, atentos aos movimentos do mercado, nasceram ou passaram a compreender que a sustentabilidade, além de trazer ganhos ambientais e sociais, contribui para o resultado econômico dos negócios, agregando atributos queoferecem um diferencial de competitividade e valorizam a marca. O Programa Restaurante Saudável®, uma Iniciativa da Associação Brasileira para a Promoção da Alimentação Saudável e Sustentável (ABPASS), tem o objetivo de levar as principais recomendações do Guia Alimentar da População Brasileira aos profissionais dos restaurantes, lanchonetes, fast food e similares. O objetivo é contribuir para que as refeições realizadas fora do lar também estejam alinhadas aos cuidados preventivos para com a saúde e para a sustentabilidade. Em 2021, a ABPASS e a VP Centro de Nutrição Funcional realizaram a “Jornada: A Saúde dos Restaurantes e dos Consumidores”, um programa online para abordar o que deseja o consumidor pós Covid-19; como se compõe uma oferta econômica e saudável; ações para viabilizar: custos, serviços e operações; oportunidades para ampliar receitas e resultados, levando em conta a sustentabilidade. 48 49 9. LEGISLAÇÃO VIGENTE – BRASIL Em agosto de 2010, a Lei nº 12.305 institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tem como princípios o desenvolvimento sustentável e a ecoeficiência, que: • Prenuncia a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). • Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo e pós-consumo. 50 10. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS PARA RESTAURANTES a) Internacionais (EUA) Segundo Hudson Riehle, vice-presidente sênior do Grupo de Pesquisa e Conhecimento da Associação Nacional de Restaurantes –National Restaurant Association, dos EUA, em pesquisa realizada em 2018 e no relatório de dez anos sobre o estado projetado da indústria de restaurantes em 2030 diz: "As tendências dos cardápios/menus de hoje estão começando a mudar: de itens baseados em ingredientes, para ideias baseadas em conceito, refletindo como os consumidores tendem a adaptar suas atividades às suas filosofias de estilo de vida, como sustentabilidade ambiental e nutrição", Assim, a nutrição e a sustentabilidade impulsionarão os menus. Para permanecerem competitivos, os restaurantes precisarão se adaptar às novas necessidades que estão surgindo (restrições alimentares, vegetarianismo, etc.) e às preferências dos consumidores, cada vez mais conscientes em relação à sua saúde e ao meio ambiente. Os Menus deverão privilegiar ingredientes naturais e integrais, ausentes de corantes e aditivos, os pratos deverão priorizar a simplicidade (é o voltar ao básico). Nos últimos quatro anos (2017 a 2020), a NRA (National Restaurant Association) e a ACF (American Culinary Federation) revelaram tendências para Restaurantes para o ano seguinte. De maneira sintética, as tendências apontadas para 2018, 2019 e 2020: • Saudabilidade (culinária centrada em vegetais, produtos locais e artesanais: hortaliças, grãos e proteína de qualidade) • Conveniência: “grab and go” (sistema de oferecimento de refeições prontas, balanceadas, embaladas e dispostas em um ambiente onde o cliente pode simplesmente pegar o que quer, pagar e sair.) • Simplicidade (de volta ao básico, menos ingredientes) • Sustentabilidade: consumidores mais atentos desejam restaurantes com preocupação social e ambiental: conservação de água e energia; porções menores; doação para bancos de alimentos. 51 De forma mais ampla, seguem dez tendências mais consideradas nestes últimos anos: i. Origem Local e Natural: os chefs estão dando ênfase ao frescor de seus produtos; estão criando jardins no telhado de seus restaurantes ou seus próprios jardins indoor hidropônicos, para cultivar temperos e legumes (salsinha, cebolinha, mostarda, manjericão, brócolis e muito mais). ii. Conceito rápido e casual: os chefs estão explorando cada vez mais o “serviço rápido”. O segmento de restaurantes rápido-casual cresceu de forma explosiva na última década e não mostra sinais de desaceleração. Os menus estão focados em ingredientes frescos e de alta qualidade, pois os chefs criam versões mais elaboradas de sanduíches, pizza hambúrgueres e muito mais. iii. Menus e ingredientes naturais: os chefs estão prestando mais atenção à qualidade e à procedência das matérias-primas que utilizam. Eles estão priorizando os ingredientes minimamente processados e oferecendo uma variedade maior de alimentos naturais e integrais que são saudáveis e de excelente sabor. iv. Sustentabilidade ambiental: cada vez mais clientes, especialmente os millennials (geração Y), estão procurando por marcas de restaurantes que compartilhem suas crenças e valores responsáveis. Eles desejam estabelecimentos/serviços que obtêm seus produtos de origem local, que reciclam e gerenciam corretamente seus resíduos alimentares. E os chefs, que incorporam os benefícios da sustentabilidade, estão ajudando a preservar os recursos naturais e conquistando novos e fiéis clientes. v. Produtos de Origem Local: os chefs sabem que os consumidores estão prestando mais atenção ao que consomem e priorizando produtos cultivados localmente. Muitos estão adquirindo seus produtos de agricultores locais a fim de obter frutas e vegetais mais frescos, e procurando por colheitas de menor escala de produtos exclusivos e variados para inspirar a criatividade culinária. vi. Carnes e frutos do mar de origem local: assim como os demais produtos, os chefs querem oferecer as proteínas frescas e obtidas localmente. Trabalhar com espécies de peixes nativos da sua região ou 52 um criador local inspiram os chefs e, novamente, despertam o interesse dos consumidores em tudo o que é local. vii. Redução do resíduo de alimentos: os restaurantes estão buscando formas de reduzir a quantidade de resíduos alimentares que geram e jogam fora. Para tanto, estão servindo porções menores, doando comida não utilizada aos necessitados, reciclando ou fazendo a compostagem. Impulsionados pela necessidade de aumentar a eficiência para reduzir os custos, a redução dos resíduos alimentares é cada vez mais criativa na busca de um planeta melhor. viii. Kits de refeições: o negócio de kit de refeição está crescendo e os restaurantes estão atentos e aderindo a esta ação. Os pacotes de ingredientes pré-medidos e preparados oferecem aos consumidores a opção de preparar/concluir as refeições em casa, preenchendo o “gap” entre a comida preparada pelo restaurante e o preparo exclusivo em casa. ix. Simplicidade/voltar ao básico: os chefs estão voltando e relembrando os velhos tempos em que trabalhavam principalmente com métodos simples de preparação e receitas simples. x. Nutrição: os consumidores estão conhecendo cada vez mais sobre os alimentos e mais sintonizados com a própria saúde. Querem fazer escolhas de refeições mais saudáveis e comer em restaurantes que oferecem boas opções para toda família, incluindo alimentos integrais, orgânicos, de baixas calorias, e produzidos de formasustentável. b) No Brasil: De acordo com a nutricionista Simone Valvassori, devemos: I. Fomentar a economia local, privilegiando a agricultura familiar e os alimentos regionais e da safra. Estudos mostram que comprar alimentos cultivados e produzidos localmente, pode reduzir em um quinto a quantidade de energia necessária para cultivar e transportar os alimentos. II. Fomentar o uso de alimentos orgânicos/das Pancs – Plantas Alimentícias não convencionais, incluindo alimentos da nossa biodiversidade (ora-pro-nóbis, palma, chaya, beldroega, pata de vaca, hibisco, taioba, babaçu, jurobeba, etc.), pois são de fácil cultivo, 53 ricas em nutrientes e com custo reduzido. Os solos orgânicos absorvem e armazenam o CO2 em taxas muito maiores do que os solos de fazendas convencionais, ou seja, significa levar a natureza à mesa, em refeições puras, com controle da adição de produtos químicos, enzimas, hormônios, transgênicos, ou qualquer outra substância que possa alterar a normalidade do organismo humano. III. Comprar alimentos frescos ao invés de congelados: alimentos congelados consomem dez vezes mais energia para serem produzidos. IV. Evitar produtos muito embalados: se eliminarmos 10% do lixo produzido poderá haver a redução da emissão de CO2 em 544 kg/ano por pessoa. V. Comer menos carne vermelha: o gás metano contribui com o efeito estufa e o gado é o principal emissor desse gás. VI. Plantar – se tiver espaço, faça uma horta com temperos, vegetais em sua UPA – pode ser em uma área disponível ou até mesmo no telhado. O Brasil Trend Foods 2020 é uma iniciativa intersetorial, que reúne diversas indústrias e empresas de variados setores, coordenada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). São divulgadas ao público as principais análises de tendências profundas sobre o consumo de alimentos no país durante os anos subsequentes. Os estudos são resultados do acompanhamento das novidades e tendências no setor de alimentos, bebidas e embalagens. Os dados gerados tiveram como base pesquisas e visitas técnicas a feiras e congressos da área. São cinco os Pilares de Tendências: 1. Sensorialidade e prazer: tendência grandemente valorizada nos estudos, principalmente quando se refere a alimentos e bebidas. O que importa são as sensações que as comidas podem trazer para os consumidores. Além disso, o sabor também é outro fator decisivo, afinal, a preferência será sempre do alimento mais gostoso. 2. Saudabilidade e bem-estar: tendências que valorizam a qualidade de vida que um alimento pode trazer para os consumidores. Há a possibilidade de analisar a preferência do público no momento da escolha entre uma refeição https://www.scuadra.com.br/blog/food-hall-mais-uma-tendencia-que-tem-tudo-para-dar-certo/ 54 barata e que pode trazer prejuízos à saúde ou algo mais caro, porém, saudável. 3. Conveniência e praticidade: é uma tendência que visa favorecer mais conforto e comodidade, especialmente para as pessoas com uma rotina mais agitada. Como muitas pessoas não dispõem de tempo para cozinhar, pode ser crucial, para conquistar a fidelidade, levar em conta este aspecto na hora de providenciar um alimento. 4. Confiabilidade e qualidade: tendência que ajuda a orientar ou determinar as escolhas e a fidelização do público. É válido ressaltar que as pessoas costumam pagar mais por produtos e serviços nos quais eles reconhecem maior qualidade ou nas marcas em que eles têm mais confiança. 5. Sustentabilidade e ética: as tendências deste grupo valorizam as indústrias que têm preocupações ambientais e que deixa essa característica clara para o seu público-alvo. Os consumidores, quando forem consumir alimentos industrializados, darão preferência aos fabricantes que protegem o meio ambiente ou têm projetos sociais. E segundo a Trendwatching, consultoria que atua em seis países, especializada em tendências globais e que gera insights com perspectiva local, aprincipal tendência em alimentação para 2020 é o consumo com propósito, apontando que o consumidor está disposto a adotar hábitos de consumo mais engajados com questões sociais e ambientais. Assim, nós profissionais da área de alimentação devemos treinar o nosso olhar, ou olhar de outra forma, testar algo novo e melhorar a operação e os cardápios de nossos restaurantes. Em resumo, devemos ressiginificar a alimentação e os cardápios: • Oferecer cardápios diversificados com alimentos que atendam a padrões de qualidade • Oferecer mais vegetais (verduras e legumes) e frutas • Oferecer menos carnes (vermelhas e processadas) • Priorizar os alimentos in natura e minimamente processados • Oferecer menos produtos processados e ultraprocessados • Reduzir o fornecimento de alimentos com altos teores de gordura, sal e açúcar https://www.scuadra.com.br/blog/saiba-como-atuar-no-mercado-de-alimentacao-saudavel/ https://www.scuadra.com.br/blog/como-fidelizar-clientes-em-seu-restaurante/ 55 • Oferecer alimentos cultivados e produzidos localmente/regionais – comprar de CSAs – comunidade que sustenta a agricultura • Sempre que possível, oferecer prioritariamente alimentos orgânicos • Adquirir produtos de baixo impacto ambiental e evitar produtos muito embalados • Priorizar alimentos frescos ao invés de congelados • Não oferecer em seu cardápio espécies ameaçadas • Reduzir o desperdício e reaproveitar sobras limpas em outras preparações • Promover dietas nutricionalmente equilibradas, saudáveis e sustentáveis • Por fim, capacitar toda a equipe – se a equipe não tiver o conhecimento e não acreditar na proposta, todo trabalho poderá se perder. E divulgar todos esses processos e inovações para seus fornecedores, empregados e, especialmente, para os seus clientes – que, se souberem de todos esses cuidados – eles se identificarão e valorizarão ainda mais o seu restaurante, podendo aumentar a fidelização. 56 11. LIDERANÇA SUSTENTÁVEL Segundo Ricardo Voltolini, escritor do livro ”Conversas com líderes sustentáveis: o que aprender com quem fez ou está fazendo a mudança para a sustentabilidade”, líderes sustáveis são aqueles que lideram levando em consideração o equilíbrio das tomadas de decisão entre emoção e racionalidade. Ou seja: seu compromisso com a sustentabilidade vai além do meio ambiente como um todo e considera o ecossistema do seu ambiente de trabalho também como uma parte de compromisso de atuação. Voltolini identificou seis diferenciais do Líder Sustentável: 1) Crenças, Princípios e Valores: os líderes sustentáveis acreditam “de verdade” nos valores do conceito de sustentabilidade: Ética, Transparência, Diversidade, Respeito ao outro e Cuidado com o meio ambiente. 2) Coragem, coerência e resiliência: os líderes sustentáveis têm coragem para tomar decisões que desafiam a equação econômica; têm coerência nas atitudes e resiliência para encarar e superar resistências. 3) Construção de Sinergias: líderes sustentáveis têm a capacidade de criar sinergia, envolver pessoas e juntar diferenças em torno da ideia da sustentabilidade. Têm alto poder de conexão entre as pessoas. 4) Visão de oportunidade: enxergam a sustentabilidade pela ótica da oportunidade; identificam os grandes temas, os desafios e os benefícios e os colocam no centro de seus negócios. Entregam valor ao cliente e inovam. 5) Líderes educadores: educam todos seus públicos de relacionamento em torno da idéia da sustentabilidade. 6) Visão sistêmica: líderes sustentáveis compreendem e praticam a noção de interdependência entre os sistemas produtivo, ambiental e social. O líder deve ter a sensibilidade de perceber o essencial. Isso significa liderar com valores. 57 12. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vale salientar que as empresas e negócios são responsáveis pelos impactos de suas decisões e atividades, por meiode um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, incluindo a saúde e o bem estar da sociedade e de seus funcionários. Os interesses das empresas não devem estar acima do planeta e da sociedade. O lucro legítimo e admirado obtido pelas organizações é aquele que vem não em prejuízo, mas em benefício das pessoas e do meio ambiente. Como profissionais: ✓ Cada um de nós deve estar consciente sobre o poder (individual) que temos perante nossas escolhas cotidianas e profissionais. ✓ Devemos atender aos princípios da Ciência da Nutrição, tendo como responsabilidade contribuir para promover, preservar e recuperar a saúde do homem. ✓ Devemos agir de modo criterioso e transformador, de acordo com os padrões socioculturais do meio em que estivermos atuando, acatando os preceitos legais e respeitando os direitos do indivíduo. ✓ Nossa responsabilidade como profissionais: o Ética, transparência o Conhecer a fundo o nosso negócio o Conhecer o público interno o O discurso deve ser condizente com a prática o Conduzir pelo exemplo o Educar / ensinar o Ter pessoas chave o Disseminar internamente o Engajar o Envolver lideranças o Ter coragem e resiliência o Orientar-se por um conjunto de valores individuais importantes e não negociáveis o Deixar um legado: “o que nós como profissionais e empresas estamos deixando para o futuro? “ 58 = O futuro está sendo feito hoje = 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABPASS EDUCACIONAL. Jornada: A saúde dos restaurantes e dos consumidores. Disponível em: <https://abpasseducacional.org/> . 2. AKATU Instituto. Consumo consciente para um futuro sustentável. Disponível em: <http://www.akatu.org.br>. 3. ALSAFFAR, A.A. Sustainable diets: The interacion between food industry, nutrition, health and the environment. Food Sci Technol Int; 22(2):102-11, 2016. 4. BARBOSA, Fabio. As diferentes visões sobre sustentabilidade. HSM ONLINE 2010. Disponível em: <http://darleisimioni.blogspot.com.br/2010/09/fabio- barbosa-as-diferentes-visoes.html> 5. BRASIL FOOD TRENDS 2020. São Paulo: ITAL/FIESP, 2010. 173 p. Disponível em: <www.brasilfoodtrends.com.br>. 6. CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Guia do CEO para a Transformação dos Sistemas Alimentares no Brasil. Disponível em: <https://cebds.org/publicacoes/guia-do-ceo-para-a- transformacao-dos-sistemas-alimentares-no-brasil/#.YOejLOij82w> 7. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. Disponível em: <http://www.cmqv.org/website/artigo.asp?cod=1461&idi=1&moe=212&id=17074> 8. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS (CFN). Resolução nº 599, de 25 de fevereiro de 2018. Aprova o código de ética e de conduta do nutricionista e dá outras providências. Diário Oficial da União 2018; 25 fev. 9. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS (CFN). Resolução nº 600, de 25 de fevereiro de 2018. Dispõe sobre a definição das áreas de atuação do nutricionista e suas atribuições, indica parâmetros numéricos mínimos de referência, por área de atuação, para a efetividade dos serviços prestados à sociedade e dá outras providências. Diário Oficial da União 2018; 20 abr. https://abpasseducacional.org/ http://www.akatu.org.br/ http://darleisimioni.blogspot.com.br/2010/09/fabio-barbosa-as-diferentes-visoes.html http://darleisimioni.blogspot.com.br/2010/09/fabio-barbosa-as-diferentes-visoes.html https://cebds.org/publicacoes/guia-do-ceo-para-a-transformacao-dos-sistemas-alimentares-no-brasil/#.YOejLOij82w https://cebds.org/publicacoes/guia-do-ceo-para-a-transformacao-dos-sistemas-alimentares-no-brasil/#.YOejLOij82w http://www.scribd.com/doc/12906958/Relatorio-Brundtland-Nosso-Futuro-Comum-Em-Portugues http://www.scribd.com/doc/12906958/Relatorio-Brundtland-Nosso-Futuro-Comum-Em-Portugues http://www.cmqv.org/website/artigo.asp?cod=1461&idi=1&moe=212&id=17074 59 10. EAT-Lancet Comission on Food, Planet, Health. Disponível em: <https://eatforum.org/eat-lancet-commission/> 11. ECYCLE. Plástico oxibiodegradável: problema ou solução ambiental? Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/oxibiodegradavel- oxibiodegradaveis/>. 12. EMPRAPA. Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. Disponível em: <https://www.embrapa.br/visao/riscos-na-agricultura> 13. ETIÉVANT, P. Dietary behaviours and practices: Determinants, action, outcomes. In: Burlingame B, DerniniS, editors. Sustainable diets and biodiversity. Rome: FAO; 2012. p. 102-107. 14. FAO, 1999b – Cem anos de mudança agrícola. Disponível em: <http://www.fao.org/3/y5956p/Y5956P03.htm> 15. FAO,Roma 2012 - Dietas sustentáveis e biodiversidade - Orientações e soluções para políticas, pesquisas e ações. Relatório disponível em: http://www.fao.org/3/i3004e/i3004e00.htm 16. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). Sustainable Diets and Biodiversity Directions and Solutions for Policy, Research and Action, 2012. Fao, 2012 17. GREEN RESTAURANT ASSOCIATION. Certification Standards. Disponível em: <http://www.dinegreen.com/>. 18. GREEN KITCHEN. Programa Green Kitchen. Disponível em: <www.greenkitchen.com.br>. 19. GUSSOW JD, CLANCY, KL. Dietary guidelines for sustainability.J Nutr Educ 1986; 18(1):1-5. 20. ISO 26000:2010 e ABNT NBR 16001:2012. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/qualidade/responsabilidade_social/iso26000.asp>. 21. JACOB, M.C.M; ARAUJO, F.R. Desenvolvimento de competências para Nutrição no contexto de Sistemas Alimentares Sustentáveis. Ciênc. Saúde coletiva 25 (11), Nov 2020 22. LETRAS AMBIENTAIS. Dez motivos para levar a sério alimentos sustentáveis, 16/02/2021. Disponível em: <https://www.letrasambientais.org.br/posts/10- motivos-para-levar-a-serio-alimentos-sustentaveis> 23. MACDIARMID, JI. Is a healthy diet an environmentally sustainable diet? The Proc Nutr Soc 2013; 72(01):13-20. https://eatforum.org/eat-lancet-commission/ https://www.ecycle.com.br/oxibiodegradavel-oxibiodegradaveis/ https://www.ecycle.com.br/oxibiodegradavel-oxibiodegradaveis/ https://www.embrapa.br/visao/riscos-na-agricultura http://www.fao.org/3/y5956p/Y5956P03.htm http://www.fao.org/3/i3004e/i3004e00.htm http://www.greenkitchen.com.br/ https://www.letrasambientais.org.br/posts/10-motivos-para-levar-a-serio-alimentos-sustentaveis https://www.letrasambientais.org.br/posts/10-motivos-para-levar-a-serio-alimentos-sustentaveis 60 24. MARTINELLI, S.S; CAVALLI, S.B. Alimentação saudável e sustentável: uma revisão narrativa sobre desafios e perspectivas. DOI: 10.1590/1413- 812320182411.30572017 25. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia Alimentar da População Brasileira. Brasília, DF, 2014. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_alimentar_populac ao_brasileira.pdf>. 26. NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. Declaração do rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. ONU, 1992. 27. NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. Assembleia Geral da ONU proclama Década de Ação sobre Nutrição (2016-2025). ONU, 2017. 28. NAVES, C.C.D; RECINE, E. A atuação profissional do nutricionista no contexto da Sustentabilidade. Brasília, DF, 2012. Disponível em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/viewFile/6246/8819>. 29. NRA SHOW. What’s hot: Top 10 industry trends. 2017. Disponível em: <http://www.restaurant.org/News-Research/News/Whats-hot-Top-10-concept- trends) 30. OMS – FAO. Plates, pyramids, planet. Developments in national healthy and sustainables dietary guidelines: a state of play assessment. 2016. Disponível em: < http://www.fao.org/3/a-i5640e.pdf>. 31. OMS – FAO. Sustainable Diets and Biodiversity. 2010. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/016/i3004e/i3004e.pdf>. 32. OMS (Organização Mundial de Saúde). Healthy and Sustainable Development: Key Health Trends, 2002.Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/events/HSD_Plaq_02.2_Gb_def1.pdf>. 33. ONUBR (Organização das Nações Unidas no Brasil). 17 Objetivos para transformar nosso mundo – Objetivos de desenvolvimento sustentável, 2015. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/>. 34. PASCHOAL, V. et al. Nutrição Funcional & Sustentabilidade: Alimentando um Mundo Saudável – São Paulo: Valéria Paschoal Editora Ltda., 2017, 384 p.; 35. POLZER AMBIENTAL – Restaurantes e consumidores sustentáveis. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2kc77L-yweg&t=23s> 36. SUSTENTAREA. A Rede Alimentar. Disponível em: < http://www.sustentarea.com.br/>. http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/viewFile/6246/8819 http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/viewFile/6246/8819 http://www.who.int/mediacentre/events/HSD_Plaq_02.2_Gb_def1.pdf https://nacoesunidas.org/pos2015/ https://www.youtube.com/watch?v=2kc77L-yweg&t=23s 61 37. The Lancet – A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas. Jan.2019. Disponível em: <https://alimentandopoliticas.org.br/wp- content/uploads/2019/10/Relatório-Completo-The-Lancet.pdf> 38. UNCTAD, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. Disponível em: <https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/unctad-reforca- coro-contra-modelo-convencional-de-agricultura/11880>. 39. VALVASSORI, S. Sustentabilidade na Produção de Refeições. Anotações de palestra. 40. VOLTOLINI, Ricardo. As seis competências do líder sustentável. Disponível em: <http://www.fiesp.com.br/noticias/consultor-explica-na-fiesp-seis-competencias- que-tornam-raros-os-lideres-sustentaveis/>. 41. WIKINS, J. Civic dietetics: Opportunities for integrating civic agriculture concepts into dietetic practice.Agric. Hum. Values. 2009; 26:57-66. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/225358792_Civic_dietetics_Opportu nities_for_integrating_civic_agriculture_concepts_into_dietetic_practice>. CRÉDITOS: - Foto página 1 (capa) - https://www.imr.pt/pt/noticias/alimentacao-sustentavel- um-passo-para-salvar-o-planeta - Foto página 2 - https://www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/noticias/4704- legado-dos-jogos-para-cadeia-de-alimentacao-sustentavel-e-destaque-no- forum https://alimentandopoliticas.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Relatório-Completo-The-Lancet.pdf https://alimentandopoliticas.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Relatório-Completo-The-Lancet.pdf http://www.fiesp.com.br/noticias/consultor-explica-na-fiesp-seis-competencias-que-tornam-raros-os-lideres-sustentaveis/ http://www.fiesp.com.br/noticias/consultor-explica-na-fiesp-seis-competencias-que-tornam-raros-os-lideres-sustentaveis/ https://www.imr.pt/pt/noticias/alimentacao-sustentavel-um-passo-para-salvar-o-planeta https://www.imr.pt/pt/noticias/alimentacao-sustentavel-um-passo-para-salvar-o-planeta https://www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/noticias/4704-legado-dos-jogos-para-cadeia-de-alimentacao-sustentavel-e-destaque-no-forum https://www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/noticias/4704-legado-dos-jogos-para-cadeia-de-alimentacao-sustentavel-e-destaque-no-forum https://www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/noticias/4704-legado-dos-jogos-para-cadeia-de-alimentacao-sustentavel-e-destaque-no-forum