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AULA 1 ESTRUTURAÇÃO, ELABORAÇÃO DE PROJETOS E A FARMÁCIA SATÉLITE Profª Fabrine Cecon 2 INTRODUÇÃO Vamos inicialmente conceituar a principal função e responsabilidade da farmácia hospitalar. A farmácia hospitalar realiza vários processos que visam o uso racional e consciente de medicamentos e correlatos dentro de uma instituição. Nesse local são armazenados, controlados e dispensados os materiais e medicamentos, sempre primando pela segurança do paciente (Brasil, 1994). A farmácia central ou geral, independentemente da maneira como é chamada, geralmente é a maior estrutura do serviço de farmácia dentro de uma instituição hospitalar. Podemos fazer uma analogia ao chamar a farmácia central de Matriz de distribuição de medicamentos e as farmácias satélites de filiais desse atendimento. Porém, as farmácias satélites têm um papel importantíssimo em relação à criticidade do setor onde está estruturada, sendo que sua principal função é tornar a dispensação de medicamentos e toda assistência farmacêutica mais ágil e efetiva. Dentro do sistema de dispensação de medicamentos e correlatos dentro da instituição hospitalar se faz necessário facilitar e agilizar a disponibilização dos medicamentos e materiais, sendo, portanto, de extrema importância as unidades satélites. Essas unidades estratégicas de distribuição são chamadas de farmácias satélites. A estruturação das farmácias satélites é destinada à mesma área física dos setores críticos. Como todas as farmácias em ambiente hospitalar, essas também têm a finalidade de estocar adequadamente os medicamentos e materiais médico- hospitalares, incluindo assim a assistência farmacêutica efetiva e direta, proporcionando aos pacientes um atendimento ágil, eficaz e seguro. Dessa forma, as farmácias satélites podem ser compreendidas como núcleos farmacêuticos distribuídos em locais específicos dentro de uma instituição hospitalar, tendo como principal objetivo garantir uma maior rapidez na entrega dos medicamentos para os pacientes, com controles rigorosos dos estoques. Uma das estratégias relacionadas à farmácia satélite é a descentralização dos serviços prestados, viabilizando assim uma maior agilidade ao sistema de distribuição de medicamentos e permitindo maior interação entre as farmácias e os diversos setores do hospital (Carbonera, 2011). Após analisarmos os conceitos de farmácia hospitalar geral e de farmácia satélite, podemos concluir que o controle de estoque de materiais médico- 3 hospitalares e medicamentos é o ponto focal em qualquer instituição hospitalar, e que as atividades de assistência farmacêutica colaboram com a integridade dos controles. Não podemos nos esquecer de conceituar as atividades de gestão e controle realizadas pelo farmacêutico, como a farmácia clínica e a atenção farmacêutica – atividades inseridas na cadeia assistencial farmacêutica. O objetivo principal do estudo da farmácia satélite é expandir a gestão farmacêutica, o abastecimento de materiais médico-hospitalares e medicamentos de qualidade em locais estratégicos dentro da instituição hospitalar. É muito importante que qualquer ambiente destinado à dispensação de medicamentos, em âmbito hospitalar, seja assistido pelo profissional farmacêutico. A preocupação com a gestão de estoques farmacêuticos é constante dentro dos hospitais, e várias ferramentas de gestão e de controle são implementadas para assegurar a dispensação segura, o que, além de reduzir as divergências de estoques, garante a segurança para os pacientes. Além dos controles da assistência farmacêutica, a gestão de estoques impacta na redução de custos e garante que o fluxo de distribuição e armazenamento seja realizado corretamente, garantindo a integridade dos materiais médico-hospitalares e medicamentos. TEMA 1 – HISTÓRICO DA FARMÁCIA HOSPITALAR Não podemos deixar de abordar o histórico da profissão farmacêutica. Antigamente, as farmácias eram conhecidas como boticas coloniais. Conforme Silva (2015): O boticário pesquisava, manipulava e avaliava novos produtos – a maioria de origem animal ou vegetal. Uma de suas principais funções era garantir que os medicamentos fossem puros, sem alterações, e preparados de acordo com as técnicas adequadas à sua época. Era responsável, acima de tudo, pelo aconselhamento sobre o uso correto dos medicamentos magistrais e por sua indicação. A origem da profissão farmacêutica é milenar e data de 200 d.C, quando Galeno – seguidor de Hipócrates, que, por sua vez foi considerado o Pai da Medicina – organizou o primeiro compêndio de técnicas de manipulação de ervas e drogas com a finalidade de curar as mais diversas doenças conhecidas na época. Desde então, o farmacêutico é o responsável pela arte de dispor de medicamentos, seja nas farmácias de manipulação (magistral ou homeopática), farmácias hospitalares e em grandes indústrias de medicamentos. A profissão farmacêutica pode ser considerada uma das mais antigas e fascinantes, tendo como princípio fundamental a melhoria da qualidade de vida da população. O farmacêutico deve nortear-se pela ética, apresentando-se como essencial para a sociedade, pois é a garantia do fornecimento de toda a informação voltada ao uso dos medicamentos. 4 Em 1752, foi criada a primeira farmácia hospitalar em um hospital da Pensilvânia (EUA), sendo assim definida a primeira proposta de padronização de medicamentos. No Brasil, as farmácias hospitalares mais antigas foram instaladas nas Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Militares. O prof. José Sylvio Cimino foi pioneiro na área do serviço de farmácia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, como um dos baluartes da farmácia hospitalar brasileira, cujo trabalho contribuiu efetivamente para o desenvolvimento da assistência farmacêutica hospitalar. A farmácia hospitalar é uma “unidade tecnicamente aparelhada para prover as clínicas e demais serviços dos medicamentos e produtos afins de que necessitam para normal funcionamento” (Cimino, 1973). 1.1 Industrialização Com a industrialização dos medicamentos, e surgindo assim o fármaco pronto para uso, houve uma crise na profissão farmacêutica, atingindo de forma parecida o farmacêutico de hospital. Esse profissional praticamente desapareceu dos hospitais, só permanecendo nas instituições de grande porte. Em alguns países desenvolvidos, a saída dessa crise foi o retorno do farmacêutico para o hospital, ou seja, o farmacêutico passou a ser um especialista em medicamentos, recuperando a relação médico-farmacêutico e farmacêutico- paciente, cuja principal habilidade estava na informação sobre os medicamentos (Magarinos-Torres et al., 2007). O farmacêutico é o profissional detentor de todas as informações sobre os medicamentos, uma vez que este é o profissional que mais estuda e se dedica às informações referentes aos medicamentos. Esse profissional insere a assistência no ambiente hospitalar, por meio de suas atividades clínicas e administrativas, contemplando inúmeras ferramentas de controle relacionadas à dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares. E é importante ressaltar que: A importância do gerenciamento dos estoques implicará em lucros para o hospital, pois um bom controle evitará perdas e desperdícios de medicamentos. Estes serviços de controle e distribuição serão de inteira responsabilidade da farmácia. (Barbosa, citado por Santana; Oliveira; Ribeiro Neto, 2014) 5 TEMA 2 – FARMÁCIA HOSPITALAR A farmácia hospitalar é “uma unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por farmacêutico, ligada hierarquicamente à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de assistência ao paciente” (CFF, 2008). A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH) identifica a possibilidade de redirecionamento da farmácia hospitalar para ações clínico-assistenciais: O farmacêutico responsabiliza-se com os resultados da assistência prestada ao paciente e não apenas com a provisão de medicamentos e outros produtos farmacêuticos. Como unidade assistencial, o foco da atenção da farmácia deve estar no paciente e em suas necessidades e no medicamento como instrumento. (SBRAFH, 1997) Carbonera (2011) menciona que: Em relação aos custos da assistência, e conforme a realidade sanitária, é necessário implementar ações na assistência farmacêutica hospitalar, cujos resultados, nos aspectos clínicos, humanitários e financeiros, causem impactos positivos na gestão hospitalar, promovendo a melhoria da qualidade e a segurança na assistência prestada aos pacientes. O foco principal do serviço de farmácia hospitalar é servir o paciente, com o objetivo de dispensar medicações seguras e oportunas. A principal missão da farmácia é dispor todas as informações referentes aos medicamentos, desde a seleção dos produtos até sua dispensação ao paciente, acompanhando toda a jornada da administração que compreende o plano assistencial, econômico e investigativo das funções dos medicamentos. Em outras palavras, “O farmacêutico tem, portanto, uma importante função clínica, administrativa e de consulta” (Celestino et al., 2012). O Serviço Farmacêutico Hospitalar é um setor com autonomia técnica e científica, sendo primordial a administração deste ser assegurada por um farmacêutico hospitalar, constituindo uma estrutura importante aos cuidados de saúde dispensados no meio hospitalar. Segundo o CRF-SP (2019), o farmacêutico: é responsável pela orientação de pacientes internados e ambulatoriais, visando sempre à eficácia terapêutica, à racionalização dos custos, ao ensino e à pesquisa, propiciando, assim, um vasto campo de aprimoramento profissional. De acordo com Celestino et al. (2012), 6 A instituição hospitalar é um órgão de abrangência assistencial, técnico- científica e administrativa, onde se desenvolvem atividades ligadas à produção, armazenamento, controle, dispensação e distribuição de medicamentos e correlatos às unidades hospitalares. É igualmente responsável pela orientação de pacientes internos e ambulatoriais, visando sempre à eficácia da terapêutica, além da redução dos custos, voltando-se também para o ensino e a pesquisa, propiciando, assim, um vasto campo de aprimoramento profissional. 2.1 Objetivos da Farmácia Hospitalar + Satélites Conforme encarte da Pharmacia Brasileira de 2011 (citada por Dantas, 2011): O objetivo de uma farmácia hospitalar é visar o alcance e eficiência na assistência ao paciente e integração às demais atividades desenvolvidas no ambiente hospitalar. Para atingir seus objetivos, a farmácia deve contar com um sistema eficiente de informações, dispor de sistema de controle e manipular corretamente os fatores de custo. É essencial, também, o planejamento e gerenciamento adequado do serviço: Dentro de um hospital, as questões referentes ao gerenciamento dos medicamentos e a forma como estes são distribuídos entre seus vários setores (postos de enfermagem, centro de tratamento intensivo, centro cirúrgico) nos dizem muito em relação à qualidade da prestação deste serviço pela farmácia. (Freitas, 2004) A existência de farmácias satélites em setores críticos de um hospital promove a racionalização no seu sistema de distribuição de medicamentos; a redução dos custos na aquisição desses produtos, devido a um controle maior; e uma maior proximidade do profissional farmacêutico com as necessidades dos pacientes (Carbonera, 2011). É necessário implementar, nas farmácias satélites, atividades não somente pertinentes à farmácia geral, mas outras, como as descritas a seguir: 1. planejar, adquirir, analisar, armazenar, distribuir e controlar medicamentos e correlatos; 2. promover o desenvolvimento de pesquisas e trabalhos próprios ou em colaboração com profissionais do setor; 3. desenvolver atividades didáticas; e 4. mapear a necessidade de implantação e o desenvolvimento da farmácia clínica (Sousa, 2012). 7 TEMA 3 – FARMÁCIAS SATÉLITES De acordo com Santana, Oliveira e Ribeiro Neto (2014), A farmácia hospitalar pode ser dividida entre farmácia central e satélite. A farmácia central tem como objetivo receber, armazenar (estocar), controlar o estoque e distribuir os medicamentos e materiais para as farmácias do hospital. Em alguns hospitais, cada andar tem uma farmácia satélite. Sobre a necessidade de supervisão diária, Carbonera (2011) argumenta: É preciso que haja supervisão diária de um farmacêutico do hospital nas farmácias satélites, proporcionando uma assistência farmacêutica adequada, levando à racionalização e ao controle do estoque de medicamentos, considerando sempre a eficiência do sistema de distribuição. Quando isto acontece, os medicamentos são distribuídos conforme as quantidades que realmente serão utilizadas pelos pacientes, evitando a formação de estoques desnecessários nos setores e eliminando os desperdícios. A importância da Farmácia Satélite entra em foco, pois em um hospital existem setores de áreas críticas (diferenciadas), que possuem características específicas e necessidades próprias de um sistema de dispensação de medicamentos e materiais. Podemos usar como exemplos os setores que necessitam do serviço mais próximo da farmácia satélite, como o centro cirúrgico (CC), o ambulatório, o pronto-socorro e a unidade de terapia intensiva (UTI). Segundo Cavallini e Bisson (2002), Nesses setores críticos, há necessidade de uma atenção diferenciada, pois são caracterizados por aspectos de estoques elevados de materiais e medicamentos sem controle efetivo; o consumo de medicamentos e materiais nestes setores geralmente é excessivo e o custo dos materiais e medicamentos são mais altos, sendo assim, o uso inadequado de alguns itens pode levar ao desperdício, além disso, vários itens necessitam de cuidados no armazenamento e no controle especial. As farmácias satélites facilitam a distribuição segura e assistida dos medicamentos, bem como o controle de estoque destes, o que proporciona um sistema correto de distribuição, reduzindo o desperdício e os custos com aquisição dos medicamentos na instituição. Com as farmácias satélites dentro dos setores críticos, é possível a redução de contaminação cruzada devido à menor circulação de profissionais para retirada de medicamentos na farmácia. Setores como Pronto-Socorro, Centro Cirúrgico/Centro Obstétrico, Oncologia e Cardiologia são locais em pontos estratégicos onde as farmácias satélites podem ser instaladas, contribuindo para a agilidade do trabalho da equipe médica e da enfermagem, com maior presteza na dispensação dos medicamentos e materiais médico-hospitalares, proporcionando, assim, um atendimento imediato aos pacientes (Celestino et al., 2012). 8 A infraestrutura das farmácias satélites muitas vezes não são as mais adequadas, o que impossibilita a manipulação de produtos, seja qual for sua categoria. As dispensações nas farmácias satélites são realizadas com produtos acabados, oriundos da manipulação, produtos industrializados e correlatos, de acordo com a necessidade do setor (Sousa, 2012). As farmácias satélites devem observar atentamente o alcance de seus deveres, de forma consciente e apropriada. Simplesmente atendê-los não significa muito; o que importa é o modo como são alcançados e a seriedade com que são cumpridos. As farmácias satélites geralmente não têm uma estrutura física ampla, capaz de armazenar um estoque para atendimento por período. Sendo assim, e vindo ao encontro do conceito de agilidade e de proximidade das unidades críticas, os estoques são enxutos e de abastecimento constante, o que requer controles igualmente constantes e fidedignos. As farmácias satélites englobam todas as atividades de controle, assim como a farmácia geral.Esta última apresenta uma estrutura física maior, pois necessita de espaço de armazenamento, atividades administrativas, área de fracionamento, entre outras. 3.1 Olhar sob gestão de processos Conforme Bernardino (2014): Revendo a conceituação atual para farmácias central e satélite, comparando com os modelos de gestão modernos que preconizam que na mesma estrutura não devem ter processos que se sobrepõem e, ainda, considerando que o termo “satélite”, em seu contexto amplo, trata- se de um objeto que orbita em torno de um maior, entende-se que as farmácias satélites não deveriam orbitar em torno de uma farmácia central e repetir, muitas vezes, seus processos. Ampliando a análise, pode-se também questionar por que a farmácia central repete, em grande parte, o processo da Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF), especialmente quanto aos processos de estocar e distribuir para as farmácias satélites. Na utilização de um fluxo racional de logística de entradas e saídas, cabe a CAF receber, armazenar e distribuir para as farmácias especializadas e descentralizadas conforme a necessidade da organização. Assim, neste modelo, o termo mais correto a substituir “farmácia satélite” é o de “farmácia descentralizada”, que é aquela que tem seus próprios processos de trabalho, sem replicação daqueles exercidos pela CAF ou pela farmácia central. Da mesma forma, a farmácia central não deve redistribuir para as farmácias descentralizadas. Um novo olhar sobre a estrutura da farmácia hospitalar com ferramentas da administração moderna permite repensar a organização dos processos e do sistema de gestão, integrando as atividades, redefinindo as competências e conhecimentos necessários 9 ao farmacêutico hospitalar no desempenho de suas atribuições neste novo cenário. O profissional farmacêutico deve rever os conceitos processuais e estar preparado para mudanças de paradigmas e, sobretudo, para processos necessários no modelo de gestão tradicionalmente utilizado para um modelo mais racional, o de gestão por processos. TEMA 4 – ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Assistência farmacêutica compreende atitudes, valores, éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico como usuário, visando a uma farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde. (OPAS/OMS, 2002) A normativa regente RDC 357/10 define a atenção farmacêutica como papel exclusivo do profissional farmacêutico com formação acadêmica, devido ao seu conhecimento no fármaco e toda abrangência social e biológica, com ênfase clínica e patológica, consolidando a relação existente entre a prática e o conhecimento teórico, de modo a promover a saúde, a segurança e o bem-estar do paciente (Oliveira et al., 2001, citado por Silva, 2015, p. 12). Linda Strand (citada por Couto, 2010, p. 24) conceituou a expressão atenção farmacêutica como inacabada, passando a defender a seguinte definição: “prática por meio da qual o profissional assume a responsabilidade pela definição das necessidades farmacoterápicas do paciente e o compromisso de resolvê-las”. É bom enfatizar que a atenção farmacêutica deve ser considerada uma prática que auxilia a população, assim como as demais áreas de saúde, e esta segue um processo de cuidado com paciente, uma filosofia e um sistema de manejo, diferentemente do conceito de 1990, que foca na obtenção de resultados. Mas, para a autora, os resultados não têm significado fora do contexto de uma prática assistencial (Pharmaceutical..., 1997). A atenção farmacêutica tem a finalidade de reduzir os custos com assistência médica e garantir maior segurança aos usuários de medicamentos. Conforme Pereira e Freitas (2008) conceituam: Atenção Farmacêutica já é realidade e tem demonstrado ser eficaz na redução de agravamentos dos portadores de patologias crônicas e de custos para o sistema de saúde. 10 No Brasil, esta atividade ainda é incipiente e alguns fatores dificultam sua implantação; entre eles, a dificuldade de acesso aos medicamentos por parte dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), Unidades Básicas de Saúde sem farmacêutico e a ausência de documentação científica que possibilite demonstrar aos gestores do sistema público e privado que a implementação da Atenção Farmacêutica representa investimento, e não custo. Por outro lado, sendo uma nova atividade do profissional farmacêutico, torna-se primordial que as instituições de ensino farmacêutico promovam adaptações curriculares, de modo a fornecer o conhecimento formal necessário ao desempenho desta atividade. Pode-se definir a atenção farmacêutica como parte importante da profissão farmacêutica, sendo responsável pelo acompanhamento farmacológico, com o propósito de atingir resultados concretos, melhorando assim a qualidade de vida do paciente. De acordo com Faus et al. (2000), “A Atenção Farmacêutica é uma área dentro da Assistência Farmacêutica que foca suas atividades no paciente”. A assistência farmacêutica engloba todas as atividades inerentes à profissão farmacêutica; assim, qualquer unidade envolvida na dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares desenvolve uma atividade inerente à função do farmacêutico. Isso garante ao paciente um plano terapêutico eficaz e seguro. TEMA 5 – FARMÁCIA CLÍNICA A farmácia clínica teve início no século XX, pois os farmacêuticos que atuavam na área assistencial começaram a converter-se em meros dispensadores de produtos fabricados, distanciando-se da equipe de saúde e do paciente. As inquietudes geradas por essa situação levaram ao nascimento, na década de 1960, de um movimento profissional que, questionando sua formação e atitudes, determinou como poderiam ser corrigidos os problemas que estavam sendo detectados. Assim, líderes profissionais e educadores norte-americanos passaram a discutir o conceito de orientação ao paciente, que levou à criação do termo farmácia clínica, compreendida como uma atividade que permitiria aos farmacêuticos novamente participar da equipe de saúde, contribuindo com seus conhecimentos para melhorar o cuidado (Instituto Racine, [S.d.]) Foram formulados vários conceitos para farmácia clínica, como farmácia orientada, de forma equivalente ao medicamento e ao indivíduo que o recebe; farmácia realizada ao lado do paciente, entre outros. 11 Os conceitos de farmácia clínica foram sendo paulatinamente difundidos e incorporados pela profissão farmacêutica no mundo todo. No Brasil, o grande interesse pelo tema se deu na década de 80, em especial na área hospitalar, onde esta prática se desenvolveu com mais força. Por esta razão, ainda hoje existe a ideia de que farmácia clínica é uma atividade somente exercida no ambiente hospitalar, onde está presente toda a equipe de cuidado ao paciente. Esta é uma ideia que pode e deve ser repensada, pois o exercício da atividade clínica não pode ser uma questão de ambiente e oportunidade, mas uma questão de filosofia profissional, ou seja, o profissional que está voltado para o exercício da clínica, age como clínico em qualquer ambiente onde se requeira uma postura de avaliação de situação para identificação e resolução de problemas de saúde. Um exemplo disso pode ser verificado diariamente na postura de profissionais clínicos diante de situações que demandem sua atuação, como em vias públicas, cinemas, aviões. Portanto, seja em qualquer local onde esteja presente, caso surja um problema que gere necessidade de prestação de cuidado especializado, o profissional clínico percebe sua responsabilidadede atuar e age no sentido de identificar e ajudar a solucionar o problema. (Instituto Racine, [S.d.]) O principal objetivo da farmácia clínica está em aprimorar e auxiliar o corpo clínico a ter habilidade e destreza na hora de decidir sobre o melhor medicamento para o paciente. O médico se responsabiliza pelos resultados da farmacoterapia, e ao farmacêutico cabe fornecer serviços de suporte adequados, com base em conhecimentos especializados sobre a utilização dos medicamentos (Holland; Nimmo, 1999) Zubioli (2001) e Ferracini e Borges Filho (2010) descrevem a farmácia clínica como uma prática profissional farmacêutica com foco no paciente, que dá prioridade ao uso racional e à segurança no uso dos medicamentos, voltada a atividades para minimizar os efeitos colaterais da terapêutica medicamentosa e os custos do tratamento para o paciente. Zubioli (2001) afirma que o farmacêutico é o profissional fundamental na prevenção, detecção, avaliação do risco/benefício e, principalmente, na eficácia do uso de medicamentos. Assim, a atividade clínica do profissional tem um papel fundamental na prevenção das reações adversas a medicamentos, promovendo o uso racional destes. Isso envolve monitorização do paciente, de sua história clínica e de seu tratamento medicamentoso. Conforme relato de Storpirtis et al. (2008): A farmácia clínica vem se desenvolvendo com a finalidade de minimizar ocorrências de problemas relacionados a medicamentos. Acompanhar os resultados nos pacientes também é definido como objetivo da farmácia clínica. Na visão atual, conforme descrito pela American CollegeofClinicalFarmacy(ACCP), a farmácia clínica traz de volta a atenção farmacêutica voltada exclusivamente ao paciente. Dantas (2011) descreve com base nisso: 12 O principal objetivo do farmacêutico é garantir o uso seguro e racional de medicamentos, implantar a farmácia clínica em busca de ter o máximo rendimento terapêutico, e atender a demanda de medicamentos utilizados pelos pacientes hospitalizados. A farmácia clínica atua em conjunto com a farmácia hospitalar, por meio da inserção do farmacêutico na equipe multiprofissional de saúde. A farmácia clínica deve ser aplicada nas unidades críticas, onde as farmácias satélites estão instaladas. Além de integrar e aproximar os profissionais das equipes multidisciplinares, o farmacêutico vem a contribuir para a segurança e racionalização do uso de medicamentos. Com o surgimento da farmácia clínica nos EUA em 1965, o uso racional dos medicamentos se tornou meta principal, passando o farmacêutico a ter atribuições não somente de promover o uso seguro dos medicamentos, mas também ter atividades clínicas voltadas para os pacientes. A disciplina de Farmácia Hospitalar foi inserida no currículo do curso de Farmácia em 1975 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mais tarde inserida foi no currículo da demais universidades. Em 1980, foi implantado o primeiro curso a nível de pós-graduação em Farmácia Hospitalar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1995, foi criada a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH), contribuindo intensamente para a determinação e definições da profissão farmacêutica e para o desenvolvimento da produção técnico-científica nas áreas de assistência farmacêutica hospitalar. Em nações subdesenvolvidas como o Brasil, a saída para a crise da profissão foi buscar novos caminhos de atuação, dando ênfase principalmente às análises clínicas. As consequências desse fato foram bastante danosas para o país e para a profissão farmacêutica, pois a questão do medicamento ficou aleijada. Conforme a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (2017): Atualmente, embora o Brasil seja uma das dez maiores economias do mundo, o quarto mercado farmacêutico em vendas, com uma flora medicinal riquíssima, importa a maioria dos medicamentos que consome. Nesse momento, vivemos uma fase clínico-assistencial da farmácia hospitalar, como expressa o conceito da SBRAFH: “unidade clínica, administrativa e econômica, dirigida por profissional farmacêutico, ligada, hierarquicamente, à direção do hospital e integrada funcionalmente com as demais unidades de assistência ao paciente”. A atuação da farmácia hospitalar se preocupa com os resultados da assistência prestada ao paciente e não apenas com a provisão de produtos e serviços. Como unidade clínica, o foco de sua atenção deve estar no paciente, nas suas necessidades e no medicamento, como instrumento. 13 REFERÊNCIAS ATENÇÃO farmacêutica – Conceitos e métodos de acompanhamento. Sanar Saúde, 4 fev. 2019. Disponível em: <https://www.sanarsaude.com/portal/concursos/artigos-noticias/atencao- farmaceutica-conceitos-metodos-farmacia>. Acesso em: 1 abr. 2022. BERNARDINO, H. M. O. M. Farmácia central e satélite: um olhar por meio da gestão por processos. 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