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ESTRUTURAS PSICANALÍTICAS 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Juliana Santos 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta etapa, vamos dar continuidade ao tema do diagnóstico diferencial 
da clínica psicanalítica. Para a psicanálise, o que lhe interessa, de fato, são as 
estruturas que constituem os fenômenos. Portanto, ao estabelecer um 
diagnóstico diferencial, como propôs Freud, estamos falando de uma ruptura 
com a psiquiatria que apresenta a cada nova edição do manual uma descrição 
nosográfica ampliada para estabelecer um diagnóstico. Assim, para pensarmos 
sobre a constituição estrutural que orienta o diagnóstico da clínica psicanalítica, 
temos que retomar os pensamentos iniciais de Freud. 
Freud, no Projeto para uma psicologia científica (1895), nos apresenta a 
fundação do aparelho psíquico através da primeira experiência de satisfação, 
onde a relação mãe-filho é uma fonte contínua de excitação e satisfação sexual 
que se intensifica a cada toque e faz despertar, na criança, a pulsão sexual. E é 
dessa relação primitiva e arcaica, na qual a criança se considera o objeto de 
amor exclusivo dessa relação, que Freud extrai o complexo de Édipo, como 
sendo, este, o fundamento da fantasia do sujeito, pois, como afirma Nasio (2007) 
na abertura de seu livro Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa: 
“não, o Édipo nada tem a ver com sentimento e ternura, mas com corpo, desejo, 
fantasias e prazer. Provavelmente, pais e filhos amam-se ternamente e podem 
se odiar, mas, no coração do amor e do ódio familiar, medra o desejo sexual”. 
São, portanto, os efeitos da vivência edípica no psiquismo que, quando 
recalcado, desmentido ou foracluído, vão traçar o destino do sujeito e posicioná-
los dentro ou fora da partilha dos sexos. Então, para esta aula, iremos nos deter 
de forma minuciosa sobre a teoria do complexo de Édipo que foi formulada por 
Freud em 1900 e que, desde então, sustenta a sua tese sobre a constituição 
psíquica, visto que o complexo de Édipo é o complexo nuclear da constituição 
das neuroses, como também da sexualidade humana. 
O Édipo é a experiência vivida por uma criança de cerca de quatro anos 
que, absorvida por um desejo sexual incontrolável, tem de aprender a 
limitar seu impulso e ajustá-lo aos limites de seu corpo imaturo, aos 
limites de sua consciência nascente, aos limites de seu medo e, 
finalmente, aos limites de uma lei tácita que lhe ordena que pare de 
tomar seus pais por objetos sexuais. Eis então o essencial da crise 
edipiana: aprender a canalizar um desejo transbordante. No Édipo, é a 
primeira vez na vida que dizemos ao nosso insolente desejo: “Calma! 
Fique mais tranquilo! Aprenda a viver em sociedade!” Assim, 
concluímos que o Édipo é a dolorosa e iniciática passagem de um 
 
 
3 
desejo selvagem para um desejo socializado, e a aceitação igualmente 
dolorosa de que nossos desejos jamais serão capazes de se satisfazer 
totalmente. (Nasio, 2007, p. 10) 
TEMA 1 – O ÉDIPO REI 
A peça do Édipo rei foi a inspiração de Freud para a sua teoria do 
complexo de Édipo. A peça retrata a história do jovem Édipo que, em dúvida 
quanto à sua origem, vai em busca de um oráculo. Este, lhe adverte sobre o seu 
destino e profetiza dizendo que Édipo mataria o seu pai e se casaria com a sua 
mãe. Horrorizado com a fala do oráculo, Édipo abandona sua cidade em Corinto, 
onde vivia com seus pais Pólibo e Peribéia, e vai em direção a Tebas, a fim de 
evitar o cumprimento da tão sinistra profecia enunciada pelo oráculo. 
No caminho para Tebas, Édipo se envolve numa briga com um 
desconhecido, tendo como resultado a morte do homem. Prosseguindo seu 
caminho, encontra-se com uma Esfinge às portas de Tebas, que lhe propõe um 
enigma, pelo qual, se Édipo o decifrasse, a cidade se livraria da peste que a 
assolava, caso contrário, seria devorado. Tendo decifrado o enigma, Édipo é 
acolhido como herói, recebendo em troca o trono de Tebas, que estava vago 
devido à morte do rei Laio. Juntamente com o trono, Édipo recebe a mão da 
rainha Jocasta. 
Com o passar do tempo, a cidade passa a ser assolada por uma nova 
peste, onde os sacerdotes declaram que o motivo da peste vinha por conta de 
um acolhimento dado a um culpado. Desse modo, enquanto o culpado se 
mantivesse encoberto, a peste seguiria dizimando a população. 
Édipo ordena, então, que houvesse uma investigação em busca do 
culpado. No transcorrer da investigação, eis que na cidade chega um adivinho, 
vindo de Tirésias, e ele dá indícios de que o culpado seria ninguém menos que 
o próprio Édipo. Ao final, depois da revelação de que Édipo seria um filho 
adotado por Pólibo e Peribéia, fica evidente que seus verdadeiros pais são Laio 
e Jocasta. Com isso, a trágica verdade emerge: rei Édipo, parricida e incestuoso. 
1.1 A tese do complexo de Édipo 
Antes mesmo de publicar a sua tese do complexo de Édipo na 
Interpretação dos sonhos, Freud, em 1987, já havia abordado o tema com Fliess, 
seu amigo de correspondências, porém vale ressaltar que a construção 
 
 
4 
conceitual do complexo de Édipo como operador clínico foi elaborado ao longo 
de toda a sua obra. 
Édipo assassinou o seu pai e casou-se com a sua mãe e, para Freud, o 
efeito trágico da peça se efetua ao ecoar nos espectadores o reconhecimento de 
seus desejos criminosos, a saber: o assassinato do pai e o incesto com a mãe. 
Garcia Roza, em seu livro Introdução à metapsicologia Vol. II (2008), enfatiza 
que a verdade do parricídio e do incesto só emerge para Édipo no final do 
processo, pois entre a certeza do rei Édipo (ser herói) e a verdade do criminoso, 
interpõe-se um processo que transforma o primeiro momento no segundo, sendo 
este o produtor-revelador da verdade de Édipo. 
Em primeiro lugar, para Freud, o complexo de Édipo vem vinculado à 
interdição do incesto, diferentemente do que ocorreu na peça, onde após 
assassinar o pai, Édipo casa com a mãe e tem quatro filhos. Mas o que se segue 
da peça mostra que Édipo, ao descobrir seu ato incestuoso, fura seus olhos, se 
autocegando, o que, para Freud, configura-se uma punição, que equivale ao que 
ele nomeou de castração, uma consequência lógica da vivência edipiana. 
O mito de Édipo forneceu a Freud a estrutura de um desejo criminoso que 
se articula a uma proibição de um impossível de ser suportado. Por outro lado, 
por se tratar de um desejo, o sujeito se divide — rejeitando na consciência o 
desejo proibido e conservando no inconsciente, “entre não querer saber e um 
saber que não cessa de se escrever”, como declara Quinet em seu livro Édipo 
ao pé da letra (2015). 
Portanto, a condição de não saber do Édipo é a condição legitima do 
inconsciente, enquanto saber não-sabido, isto é, o saber inconsciente do qual o 
sujeito não quer conscientemente saber. Assim, o destino do complexo de Édipo 
tende sempre ao recalque, que resulta, como veremos, em algumas 
consequências psíquicas. 
TEMA 2 – O COMPLEXO DE CASTRAÇÃO 
Freud (1924) explica a relação do complexo de Édipo com o complexo de 
castração nos textos A organização genital infantil e A dissolução do complexo 
de Édipo. No primeiro texto, Freud apresenta a primazia do falo como 
característica da organização sexual infantil, onde o órgão genital masculino 
representa o falo. Freud então instaura a fase fálica no desenvolvimento sexual, 
 
 
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onde explica que o pênis está em posse comum a ambos os sexos, portanto, o 
falo é universal. 
Mas com o surgimento da imagem “acidental” do órgão genital feminino, 
faz emergir a primeira negação da falta de pênis e, posteriormente, a conclusão 
de que ele esteve lá, mas foi arrancado. Assim, para o menino, ele conclui que 
ele também pode ser castrado (ameaça de castração). 
Para a menina, a visão do pênis faz com que repare na sua falta 
(castrada). Dessa forma, Quinet (2015) declara: “Doravante, o falo imaginário, 
objeto ameaçado de perda para um, e objeto de inveja para outro, é inscritona 
subjetividade, para ambos os sexos como faltante (-). Nesse momento, que 
representa o declínio do Édipo para os meninos e a entrada no drama edípico 
das meninas, Freud estabelece o surgimento do supereu, como o herdeiro do 
complexo de Édipo, cujas exigências serão paradoxais, pois ao mesmo tempo 
que exige que se cumpra a lei, ordena a sua transgressão. Veremos isso adiante. 
Mas o que precisamos destacar por ora é que tal momento que constitui 
o complexo de castração é o momento de instauração da lei, pois, em termos, é 
a ameaça a castração que valida a vivência edipiana e funda a relação do ser 
humano através da interdição universal, a lei do incesto. 
2.1 O efeito trágico da epopeia edipiana 
No texto Para além do princípio de prazer, Freud (1920) retoma a 
dimensão trágica do Édipo para mostrar que na repetição transferencial e nas 
relações amorosas, o que se repete é o que se encontra na própria estrutura do 
complexo de Édipo, que se conjuga com o complexo de castração, onde Quinet 
sublinha o “ser-para-o-sexo”: 
O laço da afeição, que via de regra liga a criança ao genitor do sexo 
oposto, sucumbe ao desapontamento, a vã expectativa de satisfação, 
ou ao ciúme pelo nascimento de um novo bebê, prova inequívoca da 
infidelidade do objeto da afeição da criança. Sua própria tentativa de 
fazer um bebê, afetuada com trágica seriedade, fracassa 
vergonhosamente. A menor quantidade de afeição que recebe, as 
exigências crescentes da educação, palavras duras e um castigo 
ocasional mostram-lhe por fim toda extensão do desdém que lhe 
concederam. (Freud citado por Quinet, 2015, p. 30) 
 
 
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Trata-se da experiência que está para além do princípio do prazer, o gozo 
oriundo daquilo que escapa a simbolização do complexo de Édipo, que mais 
tarde Lacan textualiza pelo não inscrição da relação sexual. 
TEMA 3 – TOTEM E TABU 
Na peça grega Édipo rei, o assassinato do pai permitiu o gozo à mãe, 
mesmo que tenha sido preciso pagar o preço dos olhos furados (castração real 
no corpo). Anos depois, Freud elabora o texto de Totem e tabu (1913-14), onde 
demonstra a interdição universal ampliando a discussão sobre o complexo de 
Édipo, projetando-o no âmbito social. 
Esse texto, segundo Quinet, é mais adequado do que o mito de Édipo, 
pois, como vimos, o próprio Édipo não tinha o complexo de Édipo. Em Totem e 
tabu, o pai da horda primitiva retinha o gozo total de todas as mulheres, enquanto 
seus filhos eram proibidos de gozar sexualmente delas. O gozo do pai primitivo 
era absoluto, e ameaça de castração os outros homens, pois ele era o único que 
podia gozar, já que seu gozo estava excluído de interdição. 
Certa vez, movidos pelo ódio da proibição, os filhos em comum acordo 
assassinam o pai gozador. No entanto, depois do pai assassinado, os próprios 
filhos restauram a interdição da endogamia e erguem um totem que simbolizava 
o pai morto, erigindo a interdição do incesto, ou seja, não se goza com a mulher 
do pai, esteja ele vivo ou morto. Nesse mito, verificam-se duas figuras do pai: o 
pai gozador e o pai morto, que após a sua morte assume a função do pai 
simbólico. 
Freud, então, ressalta no texto a importância do assassinato do pai da 
horda para que todos pudessem ter acesso ao gozo, mas não ao gozo supremo, 
pois, com o pai morto, o acesso ao gozo supremo também foi excluído. 
Quinet (2015) afirma que tanto na tragédia do Édipo rei, onde o parricídio 
permite o gozo à mãe ao preço da castração no real do corpo (os olhos furados), 
quanto no parricídio do pai da horda, onde se erige um totem que o representa 
e reafirma que o gozo supremo está barrado para o sujeito, é a função do pai, 
enquanto morto, ou seja, enquanto função simbólica, que faz barra o gozo da 
mãe, pois o sentimento de culpa é que faz vigorar o olhar de vigilância e a voz 
que critica sob a forma do supereu. Diz: 
 
 
7 
O gozo do pai desaparece com a sua morte e fica a Lei da interdição 
do incesto e o nome (substituto do pai que é um animal) como 
significante da lei e insígnia identificativa daquela “tribo”. Assim, o 
Nome-do-Pai elaborado por Lacan a partir do mito de totem e tabu 
nomeia o pai da lei e o pai da nomeação (função que Lacan atribuirá 
ao Nome-do-Pai nos anos 1970). (Quinet, 2015, p. 26) 
O pai é o personagem que ameaça com a castração para punir o sujeito 
pelo desejo incestuoso. Quinet (2015) apresenta as articulações propostas por 
Freud na seguinte ordem: 1º - desejo sexual com a mãe; 2º - ameaça da punição-
castração; 3º - desejo de assassinar o pai. Lacan, ao incidir sobre a teoria do 
complexo de Édipo e o mito de totem e tabu, acrescenta que o pai é o portador 
da lei, não só para proibir o incesto, mas o pai da Lei simbólica que funciona no 
psiquismo com o significante do Nome-do-Pai, que articula a Lei e desejo [lei (do 
pai) e desejo (pela mãe)]. 
Para além da lei civilizatória imposta pela figura do pai, como pai 
simbólico, Lacan pontua que o pai de Totem e tabu é o pai gozador que submete 
todos a seu poder. Tal representação constitui a figura do pai real que, em Freud, 
recebe o nome de supereu, instância herdada pelo filho. 
TEMA 4 – A RELEITURA DO ÉDIPO EM LACAN 
A leitura que Lacan faz do complexo de Édipo rende novos horizontes 
para a clínica, pois ele coloca o Édipo no centro do diagnóstico estrutural, isto é, 
o complexo de Édipo surge como divisor de águas entre o campo da neurose e 
psicose, isso significa que, sem o complexo de Édipo, o sujeito responderá a 
partir da foraclusão do Nome-do-Pai. 
O Édipo em Lacan corresponde, então, a uma primeira metaforização, do 
desejo materno, pois como vimos em Freud, a mãe e o bebê inicialmente vivem 
uma relação plena de amor, com a incisão da lei do pai, o bebê se separa da 
mãe, e esse momento representa a entrada do sujeito na linguagem. Desse 
modo, verificaremos que os desdobramentos do complexo de Édipo nos ensinos 
de Lacan implicarão o sujeito na sua relação com o seu desejo, situando-o na 
partilha dos sexos. 
É, então, no seminário 5, As formações do inconsciente (1958), que Lacan 
traz à tona o que sempre esteve na mira de Freud, a função do pai. O pai, como 
um registro imaginário, tem a função de sustentar a lei simbólica através do 
significante do Nome-do-Pai, interditando o gozo da mãe. Assim, Lacan nos 
 
 
8 
ensina a ler o Édipo pela “metáfora paterna” uma operação lógica dos 
significantes que terá como resultado a inscrição do Nome-do-Pai no lugar do 
Outro. 
4.1. A metáfora paterna 
A metáfora paterna é o modo como Lacan nos ensina a ler o 
acontecimento edipiano. Em primeiro lugar, verificamos a preeminência do 
simbólico sobre o imaginário e o real, e reordenando o campo das estruturas 
clínicas. 
A função simbólica do pai é apreendida pela linguagem, onde o pai se 
transforma num significante que Lacan nomeou de Nome-do-Pai. O momento 
fecundo que institui essa constituição pode ser pensado através do mito 
freudiano de Totem e tabu, onde o pai morto provoca uma dívida simbólica, que 
liga o sujeito a vida e a lei, destaca Antonio Quinet (2015). 
Desse modo, a função paterna evocada por Lacan não é a do pai genitor, 
e sim a função simbólica do significante do Nome-do-Pai que representa a lei 
simbólica no lugar do Outro. 
A importância do simbólico como um registro na organização psíquica é 
abordada por Lacan no seminário 3, As psicoses (1956), onde a função da 
estruturação da cadeia significante é destacada pelo seu arranjo especifico, que 
operar por meio da metáfora. Ou seja, a metáfora opera pela lei de linguagem, 
portanto, ela não ocorre por qualquer arranjo de significante, é preciso de um 
vínculo posicional, internos ao significante, para que haja ordem das palavras e, 
assim, gere um fundamento de sentido. Assim, é apenas por esse sentido, que 
ordena a cadeia significante, que a metáfora pode cumprir sua função e precipitar 
um novo sentido. “Para que vocês compreendamisso, basta lembrarem-se de 
que Pedro mata Paulo não é equivalente a Paulo mata Pedro”, portanto, a 
organização das palavras, da cadeia significante, é um sistema de linguagem de 
coerência posicional. 
Lacan afirma que o inconsciente funciona pela mesma lei de linguagem. 
Assim, a metáfora é a substituição de significantes que se articulam na cadeia, 
cuja função é criar um novo sentido a uma articulação já existente. Keylla 
Barbosa, em seu artigo “De Jakobson a Lacan: a construção da metáfora 
paterna”, declara: 
 
 
9 
Para que os significantes possam se substituir, eles devem estar 
encadeados e deve haver uma identidade entre eles, porque a 
identidade se dá pela posição, e, para haver pareamento posicional, é 
indispensável uma cadeia significante articulada. Portanto, se a 
metáfora se faz por uma articulação posicional, a condição para que 
ela exista é que haja articulação significante e que, nesta articulação, 
cada elemento ocupe a posição específica que lhe caiba. Um 
significante resta e outro é elidido. O significante que cai no decorrer 
desta operação não sai totalmente de cena. Ele se mantém em uma 
relação metonímica com o restante da cadeia. 
Portanto, é preciso sublinhar que na operação da metáfora, ela fica 
subordinada à metonímia, pois é ela que garante o encadeamento para dar 
origem a um novo sentido, ou seja, o significante metaforizado se mantém na 
cadeia pela metonímia: “É a metonímia a responsável por fazer com que toda 
significação remeta a outra e, deste modo, a cadeia não para de se articular”. A 
fórmula da metáfora apresentada por Lacan em De uma questão preliminar é a 
seguinte: 
 
Onde se lê assim: os S são significantes, x é a significação desconhecida 
e s é o significado induzido pela metáfora, que consiste na substituição, na 
cadeia significante, de S’ por S. A elisão de S’ está representado pelo risco, 
sendo essa a condição de sucesso da metáfora. No segundo termo da fórmula, 
o símbolo I (inconsciente) nos lembra que S’ foi recalcado. 
Vamos pelo exemplo de Antonio Quinet, que explica essa operação 
assim: se digo: “Maria é uma flor” é porque há um significante que encontro tanto 
em “Maria” quanto em “flor”: o significante “delicado”, podemos então escrever 
através da operação: 
 
Na metáfora paterna, o pai como significante que metaforiza o desejo da 
mãe para a criança vai ser posto por Lacan a partir do seminário 3, onde o pai 
totêmico, de Freud, passará assumir a função simbólica, instância da lei. Isso 
significa que o pai, que funciona para o filho, não é o pai genitor, mas trata-se do 
significante Nome-do-Pai. 
 
 
10 
O Nome-do-Pai é um significante e não uma pessoa, ele está no discurso 
da mãe, declara Antonio Quinet (2015). Assim, Lacan propõe uma operação 
simbólica, fundamental, que corresponde em Freud à epopeia edipiana, que 
efetuara a inscrição do Nome-do-Pai, o significante que permite a simbolização 
da procriação, isto é, da posição feminina e masculina na partilha dos sexos. Em 
última análise, o significante do Nome-do-Pai é o significante que estrutura o 
inconsciente como uma linguagem e instaura a ordem das leis de linguagem — 
metáfora e metonímia, portanto, trata-se do significante primordial para a 
organização psíquica. 
4.1.2 A leitura da metáfora paterna 
Se tomarmos a metáfora por fração, verificamos que, de início, temos a 
relação mãe-bebê, onde o bebê está enredado ao Desejo-da-Mãe (DM), resume-
se o desejo por ele (o bebê) como desejo dela. O denominador X é o que significa 
para o sujeito, portanto, uma incógnita, pois para o sujeito bebê, perante o desejo 
da mãe: o que ela quer? 
 
No segundo tempo, de um tempo lógico e não cronológico, o discurso da 
mãe insere na relação o Nome-do-Pai, pelo qual este vem substituir o DM, pela 
operação metafórica (trabalho, pai, corpo etc.); desse modo, X recebe uma 
significação, ou seja, um valor fálico: 
 
Assim, a operação de substituição metafórica resulta na inscreve o Nome-
do-Pai no lugar do Outro em A. Logo, o sujeito entra na lógica fálica, pois o falo 
é significação dada ao desejo do Outro, que é marcado pela falta. 
 
O falo, diz Quinet, entra em jogo como significante (ɸ) produto da 
operação da metáfora paterna. Ele se distingue do falo imaginário, que é sempre 
 
 
11 
negativo (-φ), pois evoca nos homens a castração e nas mulheres a inveja desejo 
de pênis. Lacan faz da metáfora paterna a sua releitura do Édipo freudiano. 
TEMA 5 – OS TRÊS TEMPOS DO ÉDIPO 
Ainda no seminário 5, As formações inconscientes (1958), Lacan introduz 
uma nova forma de pensar o complexo de Édipo, distinguindo três tempos 
lógicos. 
• 1º tempo: momento em que a criança está totalmente identificada ao 
objeto de desejo da mãe. O bebê=falo, uma equivalência simbólica que é 
resultado do complexo de Édipo na mulher, pois daí resulta essa posição 
de identificação com o falo materno. Antonio Quinet (2015) sublinha que 
há nesse tempo três elementos: a criança, a mãe e o falo, sendo que a 
criança equivalente ao falo. 
Nesse tempo, a mãe está na posição do Outro absoluto, pois, para a 
criança, ela é a única capaz de suprir as suas necessidades, dependendo 
apenas da boa ou má vontade. Trata-se da lei do capricho, ressalta Quinet, na 
qual a criança se encontra assujeitada, assim, “nesse primeiro tempo lógico do 
Édipo, a mãe é para a criança um Outro absoluto. Se a criança jubilar, se ela 
atinge o equivalente ao orgasmo, como diz Freud em Três ensaios sobre a teoria 
da sexualidade”, é porque ela responde de um lugar de objeto do desejo da mãe” 
(Quinet, 2015, p. 40). 
• 2º tempo: esse momento corresponde à inauguração da simbolização. 
Lacan explica essa passagem através do brincar da criança e resgata o 
jogo de carretel (fort-da), descrito por Freud em Além do princípio de 
prazer. Trata-se da repetição feita de forma lúdica pela criança, onde ela 
lança o carretel, fazendo desaparecer; depois puxa o carretel, fazendo 
reaparecer. Tal repetição seria uma forma de simbolizar o 
desaparecimento e o retorno da mãe que é enunciando pelas palavras 
que representam o seu afastamento e o seu retorno (fort-da). 
Lacan aponta nessa brincadeira uma tentativa de poder representar a 
mãe de forma simbólica pelo objeto e fonemas entonados. Pois, ao enunciar o 
par de fonema “ooo”, que Freud interpreta por fort (longe), e “aaa”, por da (aqui), 
 
 
12 
é fundada a sua entrada na linguagem, posto que é possível situar o par 
significantes (S1 – S2) base da cadeia significante, por onde se desloca o sujeito. 
Quinet diz assim: 
Ela (a criança) entra no binarismo significante (S1 – S2), fundamento 
da cadeia significante, por onde se desloca o sujeito. A mãe, podendo 
ser simbolizada por um significante, passa do status de objeto 
primordial ao de signo. A relação da criança com ela deixa de ser 
imediata, pois há uma mediação simbólica pela linguagem. (Quinet, 
2015, p. 40-41) 
É preciso enfatizar que no segundo tempo do Édipo, essa operação que 
efetua a simbolização da ausência da mãe não ocorre de forma espontânea, é 
necessário que surja a intervenção de um quarto termo que possa inscrever a lei 
de interdição. Trata-se do significante do Nome-do-Pai, que se impõe barrando 
o desejo da mãe, interditando a posse da criança como objeto e significando 
para a criança que o desejo da mãe está para além dessa relação. 
O Nome-do-Pai, portanto, o pai enquanto uma função simbólica, entra em 
cena para metaforizar o lugar de ausência da mãe. Se no primeiro tempo o Outro, 
encarnado pela mãe, era um Outro pleno e absoluto, com a interdição do Nome-
do-Pai o Outro é barrado e, assim, a lei simbólica se instaura para o sujeito, pela 
qual o Outro em A, passa a se constituir como lugar de lei, do pacto da fala. 
O segundo tempo do Édipo, portanto, equivale à castração simbólica, o 
recalque originário, pelo qual a criança perde a sua identificação ao falo da mãe, 
oupelo menos recalca. O falo é elevado ao nível de significante de desejo da 
mãe, pois a ela o falo falta também (A). Quinet declara assim: 
O Nome-do-Pai, inscreve-se no Outro, lugar ocupado anteriormente 
pela mãe, não simbolizada, permite a articulação entre o complexo de 
castração e o acesso ao simbólico no processo do Édipo. Por 
intermédio da metáfora paterna, a significação do falo é evocada no 
imaginário do sujeito. Antes disso, não havia tal possibilidade. Mas o 
preço de tornar-se significante é o próprio desaparecimento do falo. O 
efeito da castração simbólica aparece no imaginário como falta: (-φ). 
(Quinet, 2015, p. 41) 
Dessa forma o falo é elevado ao nível de significante (ɸ), como desejo do 
Outro, não como (-φ), que é a sua forma imaginarizada. O falo, diz Quinet, é o 
significante que permitirá ao sujeito atribuir significações a seus significantes, ou 
seja, é o significante que, por excelência, permite ao sujeito situar-se na ordem 
simbólica e na partilha dos sexos. “O sujeito passa de uma posição de ser falo a 
uma posição de falta-a-ser, entrando na dialética do ter ou não ter”. 
 
 
13 
• 3º tempo: configura-se pelo declínio do complexo de Édipo, onde o 
menino passa da posição inicial de ser o falo à posição de ter o falo, 
podendo a partir daí dar uma significação ao seu pênis. Nesse sentido, a 
figura do pai, enquanto marido da mãe, é tomado como modelo de 
identificação do Ideal do eu, cuja matriz simbólica é o significante do 
Nome-do-Pai. A mulher se situará como o objeto de desejo do homem, 
ser o falo. 
5.1 A problemática do falo 
A assimetria que há no Édipo, entre menina e menino, deve ser entendida 
pela assunção do falo, isto é, ter ou não o falo como o elemento pivô, na qual a 
identificação sexual (e não genital) do sujeito se organiza e se diferencia. Patrick 
Valas (2001) nos ajuda a alcançar esse discernimento em seu livro As 
dimensões do gozo, que diz assim: 
• a menina entra no Édipo através do complexo de castração, isto é, 
como castrada, e ela sai pela angústia, que funciona para ela como 
equivalência da castração, pois na realidade a ela o falo só falta 
simbolicamente; ela não está privada de nenhum órgão; 
• o menino entra no Édipo pela angústia de castração, angústia de ser 
castrado, e sai pelo complexo de castração, o que significa que paira 
sempre sobre ele o temor de ser castrado - Freud precisa que se trata 
essencialmente de um temor que se enraíza no narcisismo. 
A posição de ter o falo ou ser castrado, é importante que se entenda, não 
se designa pela realidade anatômica, mas sim entre a presença e ausência de 
um único termo — o simbólico. A função simbólica que pode dizer ao homem 
tem o falo, enquanto a mulher se diz castrada. Isso porque o pênis, enquanto 
forma, é sede de um gozo privilegiado, que, como situa Patrick, Freud o designa 
muito bem, pois é a parte de libido que permanece fixada ao corpo próprio, 
porque sempre há uma parte de libido que não é transferida para o objeto. 
O falo, como definido por Lacan, “é a significação, nenhuma outra 
significação, que não a própria significação", dito de outra maneira, por Patrick 
valas: “o falo como significado é justamente o objeto que dá à criança a 
significação das idas e vindas da mãe, isto é, o falo enquanto ela não o tem e 
enquanto a criança o atribui a ela, na sua fantasia”. Sendo assim, o falo torna-se 
pivô da economia do desejo, na medida que ele é o desejo sexual (o que falta a 
mãe). 
 
 
14 
Lacan faz a distinção de dois falos, o falo como significante do desejo 
resultado da inscrição simbólica (ɸ) e o falo significado, que é o objeto imaginário 
da castração (-φ). Suas articulações se inscreve no processo da metáfora 
paterna, que se efetua no processo edipiano, onde um laço vem se estabelecer 
entre eles, por suas funções respectivas, como situa Patrick, não são 
intercambiáveis, naquilo que Lacan chama de heteróclito do complexo de 
castração — termo que aparece para lembrar que os elementos reais, 
imaginários e simbólicos que o organizam são heterogêneos. 
 
NA PRÁTICA 
A nova leitura de Lacan sobre o complexo Édipo deu ao conceito uma 
afinação precisa para a clínica, pois a referência edípica passou a se situar no 
centro da escuta para o diagnostico diferenciado das estruturas clínicas. Pois é 
só partir da escuta da epopeia edípica do sujeito que podemos pensar na 
hipótese de um diagnóstico diferencial. Na psicose, o sujeito não viveu o 
complexo de Édipo, a inscrição do Nome-do-Pai foi foracluído. 
Mas, na prática, como ouvir a história edipiana na clínica? Claro que o 
sujeito não fala declaradamente sobre a sua relação edipiana, pois ela é 
inconsciente. Ela em suas relações transferenciais. Por exemplo: nas entrevistas 
preliminares, o analista deve investigar as relações do sujeito, se ele é casado, 
se namora, com quem vive, se tem muitos amigos etc. Essas relações sociais 
apontam para o modo como o sujeito se posiciona no laço social. 
Certa vez, uma mulher de 49 anos, divorciada, sem filhos, formada em 
história, mas nunca exerceu a profissão, buscou análise, pois dizia que estava 
muito cansada da vida. Tudo lhe cansava, não tinha ânimo para nada, queria 
dormir e não falar com ninguém. Aparentemente, parecia um quadro de 
depressão, mas, ao ser questionada sobre o tempo que vinha se sentindo assim, 
ela responde que sempre foi assim, nunca viu sentido na vida. 
 
 
15 
Sobre o seu casamento, diz que na faculdade conheceu um rapaz muito 
bonito e que ele gostou dela, pois ela sempre chamou muita atenção. Assim, 
eles começaram a namorar, ficaram noivos, sem saber o real motivo, pois 
brigavam muito, ele vivia na praia e não gostava de trabalhar, mas que mesmo 
assim se casaram, pois queria ter um casamento bem chique e eles juntos 
faziam um belo casal. O casamento durou menos de um ano, um dia ele saiu e 
não voltou mais. O seu pai conseguiu anular o casamento e, depois dele, nunca 
quis ficar com ninguém. 
O decorrer de suas sessões foi marcado por relatos de intrigas familiares. 
Ela declaradamente odeia a sua mãe, chegando a agredi-la fisicamente, e nutre 
um amor sexual pelo seu pai. Suas declarações não passam por nenhum crivo 
de censura. 
Portanto, nesse curto recorte de um caso clínico, é possível notar que no 
discurso da paciente, o desejo como causa é esvaziado, pois a vivência edipiana 
que funda o desejo através da interdição do incesto não ocorreu. Nesse caso, a 
hipótese do diagnóstico estrutural é de uma psicose com delírios paranoicos. 
FINALIZANDO 
1. O mito de Édipo forneceu a Freud a estrutura de um desejo criminoso que 
se articula a uma proibição de um impossível de ser suportado. Mas, por 
outro lado, por se tratar de um desejo, o sujeito se divide — rejeitando na 
consciência o desejo proibido e conservando no inconsciente, “entre não 
querer saber e um saber que não cessa de se escrever”, como declara 
Quinet (2015). 
2. O complexo de castração é o momento de instauração da lei, pois, em 
termos, é a ameaça de castração que valida a vivência edipiana e funda 
a relação do ser humano através da interdição universal, a lei do incesto. 
3. No mito de Totem e tabu, o pai é o personagem que ameaça com a 
castração para punir o sujeito pelo desejo incestuoso. Quinet (2015) 
apresenta as articulações proposta por Freud na seguinte ordem: 1º - 
desejo sexual com a mãe; 2º - a ameaça da punição-castração; 3º - desejo 
de assassinar o pai. Lacan, ao incidir sobre a teoria do complexo de Édipo 
e o mito de totem e tabu, acrescenta que o pai é o portador da lei, não só 
para proibir o incesto, mas o pai da Lei simbólica que funciona no 
 
 
16 
psiquismo com o significante do Nome-do-Pai, que articula a Lei e desejo 
[lei (do pai) e desejo (pela mãe)]. 
4. Na releitura do complexo de Édipo em Lacan, ele vai resumir o complexo 
de Édipo na metáfora paterna, onde o Nome-do-Pai surge como um novo 
termo quevem barrar o gozo do Outro, destruído a identificação da 
criança com o falo da mãe. E elabora os três tempos lógicos do Édipo: 1º) 
A criança está identificada ao falo materno (mãe-bebê-falo); 2º) A criança 
perde a identificação ao falo e recalca, simbolizando a ausência da mãe 
pelo Nome-do-Pai (recalque originário); 3º) A saída do complexo de Édipo, 
onde a questão do falo é colocada entre o ser e o ter. 
5. A problemática do falo: Lacan faz a distinção de dois falos, o falo como 
significante do desejo resultado da inscrição simbólica (ɸ) e o falo 
significado, que é o objeto imaginário da castração (-φ). 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BARBOSA, K. De Jakobson a Lacan: a construção da metáfora paterna. Ágora: 
Estudos em Teoria Psicanalítica [online], v. 23, n. 3, p. 29-37, 2020. Disponível 
em: <https://doi.org/10.1590/1809-44142020003005>. Acesso em: 10 maio 
2022. 
FREUD, S. As neuroses de defesa. In: Obras completas. Vol. I. Rio de Janeiro: 
Imago, 1996. 
_____. Conferência XXXI. A dissecção da personalidade. In: Obras completas. 
Vol. XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 
LACAN, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: 
Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. 
_____. Livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
1999. 
NASIO, J. D. Édipo, o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de 
Janeiro: Zahar. 
QUINET, A. Édipo ao pé da letra: fragmentos de tragédia e psicanálise. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2015. 
_____. Os outros em Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. 
VALAS, P. As dimensões do gozo: do mito da pulsão à deriva do gozo. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

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