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Finanças Públicas 2020 1 @ Pedro Samissone INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE Cursos de Contabilidade e Auditoria, Contabilidade e Fiscalidade, Contabilidade Pública e Autárquica FINANÇAS PÚBLICAS 1. Introdução a Finanças Públicas Falar de finanças, é falar de meios ou instrumentos financeiros, que são o dinheiro (fundos) e os créditos; os meios financeiros que têm de se adquirir e servem para se utilizar na compra de produtos/bens e serviços ou como reserva de valor. As Finanças Públicas compreendem a globalidade de todos os processos e respectivas operações de planeamento e administração financeira do Estado que garantam a captação, mobilização, alocação, controlo e registo dos recursos públicos (internos e externos) e a sua aplicação em programas, actividades ou património de Instituições dos Sectores Público e Privado do Estado, incluindo o respectivo controlo e prestação de contas, com vista à: Prossecução de fins de interesse público ou privado do Estado; Satisfação de necessidades colectivas (imediatas e mediatas); e Promoção do crescimento económico inclusivo, em prol do desenvolvimento integrado local, nacional e regional. O que é Finanças Públicas? Finanças Públicas são as actividades económicas através do qual o estado ou outro ente público afecta bens económicos1 para a satisfação de certas necessidades sociais. Quando surgem as Finanças Públicas? As Finanças Públicas surgem como consequência da incapacidade do mercado em prover bens e serviços para a satisfação das necessidades colectivas. 1 Bem económico - é aquele que a sua oferta tem preço e é um bem escasso ao contrário do bem livre. Finanças Públicas 2020 2 @ Pedro Samissone Entende-se como necessidade colectiva as carências comuns sentidas por uma colectividade. O exemplo disso são a falta de estradas para a circulação de pessoas e bens, a falta de Escolas Públicas onde as crianças possam estudar, a falta de protecção dos Cidadãos. A função de prover bens e serviços públicos é exclusiva do estado. Por quê da existência de Finanças Públicas? As Finanças Públicas surgem como necessidade de gestão de coisa pública, porque o estado emprega dinheiro para realizar as suas actividades. A Actividade Financeira Pública, para poder ser desenvolvida supõe que se tenham tomado decisões financeiras e que exista um substrato organizacional e humano que não só as haja preparar como as vá executar. 1.1 Objecto do estudo das Finanças Públicas O objecto do estudo das Finanças Públicas abrange o estudo de todos aspectos que envolvem a aquisição e a utilização de recursos económicos, pelo estado com vista alcançar determinados níveis de emprego, crescimento económico, desenvolvimento e de distribuição de rendimento, através de bens e prestação de serviços. 1.2 Objectivo de Finanças Públicas O Objectivo de Finanças Públicas é o estudo da actividade fiscal, ou seja aquela desempenhada pelos poderes públicos com o propósito de obter e aplicar recursos para realizar despesas e investimento dos Serviços Públicos. Assim a política Fiscal orienta-se em duas direcções: a) Política Tributária que se materialize na capitação de recursos para atendimento das funções da administração pública; b) Política Orçamental que pretende atingir objectivos que podem ser assim sumarizados: Eficiência na afectação de recursos; Distribuição adequada de rendimentos; Estabilidade económica; Crescimento e desenvolvimento económico. Finanças Públicas 2020 3 @ Pedro Samissone (i) Eficiência na afectação de recursos Um dos vectores da actividade financeira do Estado é a execução de programas de despesas que constituem a aplicação de recursos a determinados sectores e agentes económicos com vista a alcançar os objectivos pré – determinados. (ii) Distribuição adequada de rendimentos Para garantir uma distribuição adequada de rendimento os Estado intervêm através de Finanças Públicas em dois sentidos: Primeiro subtraindo parte dos rendimentos individuais e empresariais, através do sistema de tributação; Segundo, aplicando as receitas obtidas em programas de despesas que beneficiam, directa ou indirectamente a população e as empresas. (iii) Estabilidade económica O Estado está privilegiadamente colocado para regular o fluxo circular do Produto e do rendimento Nacional, e neste contexto adoptar os meios para anular possíveis e indesejadas flutuações. (iv) Crescimento e desenvolvimento económico O crescimento económico, que em termos reais é avaliado pelo crescimento real do PIB à um ritmo maior que o crescimento populacional, devera ser um dos objectivos da política económica dos Governos e da actividade financeira do estado. O desenvolvimento económico é no essencial, um processo dinâmico visando alcançar a progressiva redução dos desequilíbrios entre regiões e na distribuição do rendimento nacional. 1.3 Missão das Finanças Públicas A Missão das Finanças Públicas é garantir a captação, mobilização, alocação, controlo e aplicação prudente, criteriosa, eficiente e transparente dos recursos públicos com vista a satisfazer as necessidades de interesse público e promover o crescimento económico inclusivo e o desenvolvimento harmonioso e sustentável do País. Finanças Públicas 2020 4 @ Pedro Samissone 1.4 Principais acepções da expressão “Finanças Públicas” A expressão Finanças Públicas pode ser utilizada em três sentidos diferentes, a saber: Sentido orgânico – conjunto de órgãos do Estado ou de outro ente público que tem por função gerir os recursos económicos destinados a satisfazer determinadas necessidades sociais; (p. ex.: Ministério das Finanças). Sentido objectivo – designam a actividade em si desenvolvida pelo Estado ou outro ente público com vista à afectação dos meios económicos necessários à satisfação de determinadas necessidades sociais. Sentido subjectivo – Refere-se a disciplina científica que estuda os princípios e regras que regem a actividade do Estado com o fim de satisfazer as necessidades que lhe estão confiadas. No segundo e terceiros sentidos, tende-se modernamente a designar-se por Economia Pública, quer esta forma de actividade económica, quer o ramo de Economia que a estuda. Em suma: O que nos leva a estudar as Finanças Públicas é, fundamentalmente, a existência de uma actividade financeira pública, que se traduz em obter receitas para a realização de despesas com vista à satisfação de necessidades colectivas. 1.5 Fenómeno Financeiro As entidades públicas, ao satisfazerem as necessidades que lhes estão confiadas, utilizam bens económicos, desenvolvendo uma actividade na natureza económica. Assim, fala-se em fenómeno financeiro procura exprimir justamente essa utilização de meios financeiros próprios para a satisfação das necessidades comuns. Igualmente, representa o estado das relações económicas entre as pessoas e instituições sociais, por um lado, e o Estado, do outro com essas instituições. Sendo o fenómeno financeiro, fenómeno social pode ser encarado sob muitas perspectivas. As mais importantes são: (1) a política, (2) a económica, e (3) a jurídica. 1.5.1 Perspectiva Política do Fenómeno Financeiro A Perspectiva Política do Fenómeno Financeiro – compreende (a) Finanças Públicas e Poder Politico, (b) as Comunidades Religiosas (para leitura), (c) as Organizações Internacionais (para leitura), e (d) as Instituições infra-estatais. null null Finanças Públicas 2020 5 @ Pedro Samissone (a) Finanças Publicas e Poder Político – o fenómeno financeiro, tal como hoje o conhecemos, pressupõe é um processo socialmente organizado e, em regra, coactivo de interpretação e satisfação das necessidades públicas, em função do bem comum da comunidade considerada. Trata-se, pois, de um fenómenocuja base é social, (no sentido de que pressupõe a existência de uma sociedade) e que implica ainda mais a organização dessa sociedade em comunidade politica, com existência de uma diferenciação entre governantes e governados e exercício do poder politico pelos governantes. Na base da actividade financeira encontram-se dois pressupostos: (1) A existência de necessidades sociais, ou seja necessidades que resultam da própria vida em sociedade e que são sentidas pelos indivíduos enquanto elementos integrantes da sociedade e sentidas, ainda, pela própria sociedade em si. (2) A existência de um processo pelo qual são definidas as necessidades que irão ser satisfeitas, de acordo com a hierarquia estabelecida, afectados os recursos à sua satisfação e impostas as opções aos elementos da sociedade (indivíduos e grupos). (b) Comunidades Religiosas – existem no âmbito das comunidades religiosas fenómenos que se assemelham, pelo menos formalmente aos fenómenos financeiros. Numa dupla perspectiva: satisfação das necessidades colectivas e financiamento do funcionamento das instituições. Estas comunidades funcionam à base de comparticipação dos fieis, quer através de doações espontâneas, quer do pagamento de determinadas taxas em troca de serviços, sem no entanto, sem recorrer à coacção. (c) Organizações Internacionais – o problema de particular actualidade é o de saber se o fenómeno financeiro se restringe ao quadro estatal ou se existem para além do Estado fenómenos financeiros próprios da comunidade internacional, nomeadamente nas organizações internacionais. A indagação sobre a existência de fenómenos extra-estatais não se confundem com o reconhecimento forçoso de que existem regras internacionais que se fazem sentir sobre a actividade financeira interna do Estado, como sejam os tratados e convenções internacional relativos à tributação e luta contra a evasão fiscal. Trata-se de saber se na vida das organizações internacionais existem, de facto, fenómenos financeiros. Em princípio, pela sua própria existência e funcionamento, as organizações Finanças Públicas 2020 6 @ Pedro Samissone internacionais implicam que haja formas de financiamento e processos internos que se podem aproximar daqueles que são prática corrente dos Estados. Enquanto esse financiamento for assegurado através das contribuições voluntárias do Estados Membros, como sucede nas Nações Unidas, por exemplo, não existe qualquer elemento que nos permite dizer que estamos perante os fenómenos financeiros. No entanto, o desenvolvimento moderno de organizações supranacionais veio introduzir novos elementos na questão, na medida em que veio nalguns casos atribuir-se a essas organizações um poder que se exerce dentro das fronteiras dos Estados Membros e lhes permite entrar em relação com os cidadãos de cada país; por exemplo, Organização Internacional dos Transportadores (OIT) vs Organizações Nacionais de Transportadores (ONT) geram receitas próprias, com estas receitas podem pagar uma percentagem na OIT. Assim, aumenta o volume financeiro dos recursos afectos a organizações internacionais e qualitativamente, surgem fenómenos financeiros próprios no seu âmbito (finanças supranacionais). (d) Instituições infra-estatais – seria impensável que o Estado chamasse a si a totalidade de satisfação das necessidades públicas; e mais ou menos em todos países existem áreas que estão afectas a outros entes públicos. No país, para além do Estado, encontramos outras entidades que exercem uma verdadeira actividade financeira pública. Assim, no seio da Administração Pública podemos encontrar serviços com autonomia administrativa e financeira que movimentam somas avultadas de fundos são os casos de empresas públicas e autarquias locais e institutos nacionais e outros entes equiparados. 1.5.2 Perspectiva Económica do Fenómeno Financeiro A Perspectiva Económica do Fenómeno Financeiro – compreende (a) economia privada, social e pública, (b) o poder e a economia, ordenação económica, intervenção económica e actuação económica do Estado. (a) Economia privada, social e pública – a actuação económica das pessoas, dos grupos e da sociedade pode ser exercida de diversas formas. Em alguns casos, deparamo-nos perante indivíduos, famílias ou organizações de base contratual que na produção, no consumo, na repartição ou na circulação actuam como unidades individuais ou como organizações de base contratual, na satisfação das respectivas necessidades, segundo critérios predominantemente individuais. Trata-se de economia privada, em regra contratual. Outras vezes, deparamo-nos, Finanças Públicas 2020 7 @ Pedro Samissone também, com organizações que visam satisfazer necessidades, segundo uma lógica cooperativa ou colectiva, recorrendo à disciplina institucional interna do grupo, mas sem a possibilidade de recorrer a mecanismos de coacção externa. Por exemplo, as tradicionais formas de comportamento económico comunitário, as novas modalidades de unidades cooperativas ou autogestionárias, as instituições não contratuais. Estas formas de organização económica constituem exemplos da economia comunitária, cooperativa ou colectiva. Finalmente temos a economia pública (sujeito actual e importante: é o Estado) quando as pessoas podem associar- se em organizações políticas, nas quais tem por fim o interesse geral de sujeitos indeterminados, indo para além da simples satisfação de necessidades comuns sociais. Para tal se socorrem de poderes de autoridade – no duplo sentido da produção de preceitos sociais obrigatórios, mesmo para quem não participou na respectiva elaboração, e da possibilidade de recorrer, se necessário, à coacção por parte dos órgãos da instituição. A economia privada baseia-se no livre comportamento dos agentes económicos e em equilíbrios, parciais e gerais, por eles livremente estabelecidos, de acordo com os seus interesses próprios confrontados com transparência e medido por referências comuns – os preços formados em mercados. Tem como instrumentos fundamentais os contratos e como instituição básica de apropriação dos bens, produtivos ou de consumo, a propriedade privada. A economia social assenta na solidariedade, organizada em grupos de diversa dimensão e nível económico, na liberdade de comportamentos das pessoas e dos grupos, na combinação da propriedade privada com a propriedade social e comunitária, na cooperação organizada (mais livremente ou com maior peso dos interesses sociais); ela pode integrar instrumentos de racionalidade e solidariedade orgânica diversificadas, que combinam o individualismo com o solidarismo, nos seus diversos matizes. A economia pública assenta, à partida, na existência de uma solidariedade organizada e dotada de poder político – portanto, da coacção máxima social – à escala da colectividade ou de subsistemas do sistema social, numa lógica de direcção económica planeada, com formas de apropriação dos bens pela sociedade através dos seus órgãos políticos e juízos colectivos de utilidade; estes impõem-se do centro (órgãos de decisão politica) para a preferia (membros da sociedade), seja qual for a forma de designação e o critério de funcionamento interno da entidade pública considerada. Finanças Públicas 2020 8 @ Pedro Samissone (b) O poder e a economia – é importante entender a relação entre o poder político (modelo ou padrão da organização do Estado) e actividade económica, entendida como o processo orgânico de satisfação das necessidades humanas mediante a afectação de bens materiais raros ou escassos a fins alternativos tais como individuais ou sociais, privados, comunitários ou públicos. Esta relação pode ser de três tipos principais, a saber: (1) a ordenação económica; (2) a intervenção económica e (3) a actuação económica pública. (1) A ordenação económica – corresponde a primeira função da máquina político- administrativa,à qual compete proceder a definição de quadro geral de natureza jurídica e social em que se vai desenvolver a actividade económica. Resulta da própria definição de uma política ou doutrina económica e social do Estado, que se pode inspirar, por exemplo, nas filosofias abstencionista2, liberal, socialista, comunista, etc. e por essa via estabelecer os contornos da actividade económica. Os princípios inspiradores concretizam-se na Constituição Económica que compreende ao conjunto de varias normas, às quais há-de obedecer toda a vida económico-social, e na Legislação Económica que se consubstancia na produção das normas jurídicas que aspiram regulamentar a ordenação económica. O Estado pode ainda, ao abrigo da sua função ordenadora da vida económica, produzir directivas gerais e específicas. No que concerne a directivas gerais que não demarcam os quadros fundamentais de toda a vida económica, mas a ela se subordinam, seja para toda a actividade económica, seja para certos sectores, tipos de actividade ou conjunto de relações económico-sociais gerais e permanentes, regulando de forma directa, por exemplo, um sector ou uma área de actividade. As directivas gerais podem abranger as instituições gerais (nas áreas de produção, do consumo, dos instrumentos reguladores – mercados e plano -, da circulação de bens – moeda e crédito -, dos mercados de factores de produção, de repartição de rendimento e das relações internacionais). E, as directivas especificas orientam a funcionalidade sectorial, por exemplo, agricultura, industria, comércio e outros serviços. 2 Abstenção económica do Estado – o Estado tende a não exercer funções de regulamentação e intervenção sobre a actividade económica, para deixar agir espontaneamente a livre concorrência. Toda a orientação económica é dominada pela preocupação de não modificar o comportamento normal dos sujeitos económicos privados, abstendo-se quanto possível de interferir sobre eles ao desenrolar o seu comportamento próprio (actividade económica) Finanças Públicas 2020 9 @ Pedro Samissone (2) A intervenção económica do Estado acontece quando utiliza os instrumentos monetários ou financeiros de que pode lançar mão dentro dos parâmetros gerais previamente definidos na sua função ordenadora da vida económica. Supondo que o Estado considera indesejável que se produzam mais tecidos de fibras sintéticas. O Estado pode intervir da seguinte maneira: a. Pode evitar que se abram mais fabricas; b. Poderá baixar o preço dos têxteis, implicando a falência de algumas unidades fabris, e (2) outras podem retrair a produção; c. Poderá restringir o crédito ao sector; d. Poderá afixar quotas do mercado; ou e. Restringir a produção de fabricas e f. Etc. Neste contexto, o Estado recorre ao seu poder para modificar o comportamento de sujeitos económicos (não alterando os quadros gerais da actividade económica); e isso pode resultar de disposições directas limitativas, como por exemplo, de restrições financeiras, do agravamento de impostos, de simples movimento de forte persuasão, ou coação psicológica (particularmente quando existem crises graves), ou de muitas outras formas indirectas. A intervenção económica do Estado, como vimos, pode ser directa ou indirecta, e representa a relação mais flexível, diversificada e variada entre o Estado e a actividade económica. De referir que, o Estado ao intervir, fá-lo, sem modificar os quadros gerais, da actividade económica, e sem tão-pouco tomar decisões relativas à utilização de bens e satisfação de necessidades sociais ou estaduais, isto quer dizer o Estado não assume-se como sujeito económico. (3) A actuação económica do Estado - O Estado pode, como “forma” de organização política da sociedade, desenvolver uma actividade de sujeito económico colectivo ou social, comunidade e das pessoas. Em todos os tempos existiram efectivamente zonas da actividade económica que, por serem conexas com as próprias funções do Estado, foram por ele exercidas (desde que existe o Estado). Essas zonas são a Justiça, a Defesa, a Segurança Pública, a Administração Civil e outros Serviços afins, que só o Estado pode satisfazer. Quando o Estado presta serviços Finanças Públicas 2020 10 @ Pedro Samissone está a desenvolver uma actividade económica na medida em que se trata de serviços uteis e “pagos” por taxas ou impostos, que implicam decisões quanto à afectacao de bens ou meios económicos raros, e de serviços que têm custos e implicam o uso de bens económicos. Para além das zonas consideradas, anteriormente, existem outras áreas de actividades que o Estado chamou a si prestar, variando de país para país, como, por exemplo: os correios e telecomunicações, certas modalidades de créditos, a rádio e televisão (por vezes em concorrência com os privados). Resumindo: em todos os casos vistos designam-se por actividade económica directa do Estado, quando o próprio Estado actua como agente ou sujeito económico, formulando escolhas ou opções económicos no interesse de comunidade que lhe cumpre satisfazer. Exemplificando as relações entre as modalidades têm-se: Como formas de ordenação, pode referir-se as disposições constitucionais que se referem à actividade económica; a legislação sobre os sectores institucionais de produção; a legislação sobre sociedades comercias. No que diz respeito a intervenção, de referir, por exemplo, a realização de compras pelo Estado para facilitar o combate à depressão económica; a constituição de empresas públicas com o fim de promover o desenvolvimento económico; o tabelamento de preços (por exemplo, combustíveis), adopção de medidas anti-inflacionárias, a acção psicológica da persuasão dos industriais para estimular o aparecimento de novas indústrias; a aprovação de um Plano Económico e social pelo Parlamento sob proposta do Executivo. Na sua actuação económica, o Estado cobra imposto e realiza despesa; dispõe de edifícios, de florestas, de recursos minerais; tem acções e obrigações de que é titular; contrai e reembolsa empréstimos; vende o seu património; etc. Nenhum dos comportamentos acima referidos exclui um do outro são cumuláveis. Assim, a actuação do Estado pode ser uma forma de intervenção, por um lado, e por outro pode não o ser, a ordenação económica pode assumir-se como mera forma de intervenção generalizada, e até pode ser tomada como meio de criação de bens. Finanças Públicas 2020 11 @ Pedro Samissone 1.6 Conceitos de Finanças Públicas e Finanças Privadas Finanças Públicas – é o estudo das relações financeiras ligadas a formação (angariação), aplicação e o controlo dos recursos financeiros pelas entidades públicas, com vista a satisfação das necessidades em bens e serviços públicos, isto é, a actividade financeira das entidades públicas. Finanças Privadas - compreendem aspectos tipicamente monetários do financiamento de uma economia, abrange problemas relacionados com a moeda e créditos ou, mais restritamente, os mercados financeiros onde se transaccionam activos representados por títulos a médio e a longo prazos. 1.6.1 Diferenças entre Finanças Públicas e Privadas A actividade financeira das entidades públicas enquadra-se nas Finanças Públicas enquanto a actividade das pessoas singulares e colectivas privadas se considera no âmbito das Finanças Privadas. As finanças Públicas distinguem-se claramente das privadas quanto ao fim que prosseguem quer quanto aos meio utilizados. a) Quanto aos meios utilizados: As Finanças Públicas, utilizam meios de financiamentos obtidos através do exercício do poder de coação. Para dizer que, os recursos das finanças Públicas advêm das contribuições autoritariamente imposta pelo estado aos cidadãos, isto é, o estado coage ao cidadão a contribuir, sob a forma genérica de tributos, enquanto, as Finanças Privadas utilizameios de financiamentos provenientes da troca dos bens e serviços produzidos no mercado, isto é, os recursos que resultam dos preços pagos pelos cidadãos, estabelecidos segundo uma forma negocial. b) Quanto ao objectivo (seu fim): As Finanças Públicas providenciam bens e serviços para satisfazer necessidades públicas, isto é, satisfação das necessidades colectivas da sociedade; enquanto, as Finanças Privadas providenciam bens e serviços que colocam no mercado destinados a satisfazer necessidades individuais ou particulares (privadas). Finanças Públicas 2020 12 @ Pedro Samissone c) Quanto às relações entre Receitas e Despesas As Finanças Privadas, são as receitas que determinam as despesas. Uma entidade privada não pode efectuar mais despesas do que o montante que prevê arrecadar com a venda do seu bem/ serviço. Enquanto, as Finanças Públicas, aparentemente são as despesas que determinam as receitas, mas, há que ter em conta que o Estado determina as receitas e as despesas em função do que pretende atingir. 1.7 Processos das Finanças Públicas Designa-se de Processo de Finanças Públicas ao conjunto estruturado de funções, actividades, operações e respectivos procedimentos e responsabilidades pela sua execução, de forma padronizada e em cada componente ou subsistema específico de Finanças Públicas, que concorra para a prossecução da Missão das Finanças Públicas, em geral, ou de uma ou mais partes específicas das Finanças Públicas, em particular. Os diversos processos de Finanças Públicas classificam-se em Primários, Associados, Influentes e de Suporte, atribuindo-se-lhes, respectivamente, os seguintes entendimentos: Processos Primários, os processos que intervêm e contribuem directamente na implementação e prossecução da Missão das Finanças Públicas; Processos Associados, os processos que têm ou podem surtir impactos ou efeitos financeiros sistémicos na cadeia de valor e na prossecução dos objectivos de Processos Primários e da Missão das Finanças Públicas; Processos Influentes, os processos que, ainda que as suas actividades decorram fora do sistema ou da cadeia de valor das Finanças Públicas, os seus efeitos têm ou determinam algum impacto significativo na gestão das Finanças Públicas, podendo implicar a reorientação ou o desvio de aplicação de recursos para se atender a situações concretas ou a efeitos decorrentes da sua ocorrência. Processos de Suporte, são aqueles processos instrumentais e cuja intervenção ou contributo é indispensável para a viabilização ou facilitação da implementação da missão das Finanças Públicas, na sua cadeia de valor. 1.8 Definição do Governo O Governo entende que as finanças públicas representam a fotografia das transacções financeiras do governo. Estas transacções incluem a colecta de receitas através da política tributária ou outras fontes de receitas, assim como a despesa orçamental e as operações financeiras que não são consideradas Finanças Públicas 2020 13 @ Pedro Samissone despesas mas são executadas pelo governo. Por exemplo: o recebimento de um empréstimo ou donativo externo que financia o orçamento. Inclui-se nesta definição as operações do governo central e as dos governos provinciais, a gestão da divida pública e a gestão de activos do Estado da economia. As contas das empresas públicas e dos governos autárquicos não fazem parte das finanças públicas. Embora a legislação referente a Conta Geral do Estado, o encerramento das contas do Estado devem incluir balanços gerais das empresas públicas e dos governos autárquicos. 1.9 Conceito de Dinheiros Públicos Os Dinheiros Públicos – são todos os fluxos anuais de fundos e de valores equiparados, movimentados, durante o período financeiro, no âmbito do Sector Público Administrativo, nomeadamente, pela Administração Central, Provincial, Distrital, pelos fundos e serviços autónomos, pela segurança social, pelas autarquias locais, em principio, no quadro dos respectivos orçamentos anuais independentemente da sua origem ou destino. São, igualmente, dinheiros públicos, todos os fluxos de fundos e valores equiparados, movimentados, possuídos, pelo sector público empresarial, independentemente da sua origem e do seu destino. Notas suplementares 1. Para efeitos de entendimento dos dinheiros como públicos é indiferente o facto de terem sido gerados ou despendidos no estrangeiro; por exemplo as receitas e despesas consulares. 2. Os dinheiros públicos não perdem a sua natureza pública pelo simples facto de serem transferidos para beneficiários privados, exteriores ao sector público. 1.10 Detenção de fundos públicos As entidades públicas que devem possuir ou deter os dinheiros públicos são: o Estado, as instituições públicas, as autarquias locais, as empresas públicas, ou outros organismos ou entidades devidamente autorizados. 1.11 Actividade Financeira Pública ou Economia Pública O fenómeno financeiro é um tipo cientificamente definido de fenómeno social. Na verdade, faz parte da vida social e pode ser objecto de uma análise segundo a óptica própria das diversas ciências sociais: do Direito, se for encarado na perspectiva dos valores de justiça e das normas que se propõe a regula- los; da Economia, se encarado como forma de afectação de recursos materiais e financeiros escassos Finanças Públicas 2020 14 @ Pedro Samissone a fins alternativos; a Ciência Politica se for como forma de exercício do poder em geral; ou politico em especial; da Psicologia, se for encarado nos aspectos de psicologia individual e social; e da Sociologia, se for concebido na sua essência pura e mais geral de fenómeno social. A actividade financeira pública ou economia pública - compreende a actuação económica directa do Estado através de utilização dos meios económicos raros susceptíveis de aplicações alternativas por entidades públicas ou pela própria comunidade, a fim de satisfazer necessidades comuns. Tomemos, um exemplo. Imaginemos que há uma praga de mosquitos, portadores de malária, numa colectividade, e que os membros da comunidade pretendem exterminar os insectos. Para isso, as alternativas possíveis são as seguintes: 1) Não sair de casa para não ser picado por nenhum mosquito. Excepto se algum mosquito entrar em casa, a solução será eficiente; tem porém um inconveniente de os residentes da área não poderem se deslocar fora da casa. O custo directo desta alternativa é quase nulo; mas ela tem o grande contra de impedir a actividade normal das pessoas. 2) A comunidade fica em casa instala-se ar condicionados e assim melhoram as condições de vida e de trabalho. O custo seria mais elevado: 55.000,00Mt. E, o mesmo inconveniente continua a de não permitir a comunidade de desenvolver as suas actividades normais. 3) A comunidade pode sair de casa; usando cremes ou outros processos de protecção contra os mosquitos (redes mosquiteiras). O incómodo pode ser grande, e a eficácia da solução é razoável, mas ela é barata: 800,00Mt. E permita às pessoas fazerem a sua vida fora da casa. 4) Pode-se utilizar um nebulizador ou extintor no jardim de cada um dos residentes, afastando um pouco mais os mosquitos infectados. A eficácia é duvidosa e o custo mais elevado: 5.500,00Mt. 5) Nenhuma destas soluções elimina o mal na origem: os mosquitos continuarão a existir e a multiplicarem-se. A única solução totalmente eficiente será a pulverização aérea dos seus viveiros com pesticidas adequados: esta solução custará, por hipótese, 250.000,00Mt. (frete de uma avioneta e aquisição de produtos químicos). A escolha entre estas diferentes soluções técnicas – que não são equivalentes mas todas minimizam o problema de combater mosquitos causadores de malária – depende das possibilidades orçamentais (constrangimentos orçamental) de cada pessoa e dos inconvenientes pessoais de cada uma delas. Para a generalidade, a alternativa 5 seriadesejável, mas estaria acima das possibilidades orçamentais de Finanças Públicas 2020 15 @ Pedro Samissone cada um. As outras quatro alternativas seriam escolhidas consoante o custo e os orçamentos de cada um: os mais pobres teriam acesso apenas a alternativa 1; outros disporiam de outras alternativas. A acção individual tem, em regra, acesso às quatro primeiras soluções alternativas. Na verdade, a quinta solução, ainda que estivesse ao alcance dos recursos económicos de algum particular muito rico, sempre possibilitaria a “boleia” ou “borla” de todos os outros: estes tirariam o mesmo proveito que o financiador da iniciativa, mas de graça, enquanto este a pagou por inteiro. Ou então, para ela poderão associar-se os vizinhos, empreendendo um acção comum: mas quem garante que todos queiram contribuir, admitindo que algum tome por si a incitativa, de modo parcialmente altruísta? A verdade é que, sem fazer nada, os vizinhos que nada gastaram tiram o mesmo benefício da extinção dos mosquitos; e, mesmo ficando mal vistos, podem não gastar nada, utilizando – por “boleia” ou “à borla” – os benefícios gerados pelas acções dos outros. E pode suceder que os poucos que aceitarem pagar ou cooperar de outra forma, acabariam por achar o custo tão caro que isso os levaria a desistirem por não poderem financiar a acção necessária. A acção pública mostra-se a mais adequada, pois, é a que é empreendida por entidades públicas: entidades dotadas de poder de autoridade, obrigadas à prossecução de fins gerais da colectividade e representativas dos seus membros, com base institucional que não é necessariamente a da voluntariedade de associação (embora possa sê-lo em associações publicas livres). Este conjunto de actividade constitui o cerne da economia pública (em sentido amplo, abrangendo as actividades de ordenação, intervenção ou actuação económica publica); ou em sentido restrito, abrangendo somente a actuação económica publica (do lado de obtenção de recursos – finanças públicas stricto sensu). 1.12 Actividade financeira como forma de satisfação de necessidades Os intervenientes da Economia são todos agentes que intervém na economia exercendo pelo menos uma actividade económica (Produção, Distribuição e Consumo) Empresa – todo conjunto organizado de recursos financeiros, materiais e humanos actuando na produção de bens e serviços que satisfazem necessidades, cujo principal objectivo é a maximização do lucro. Famílias – São os principais demandantes de bens e serviços produzidos pelas empresas e são em simultâneo a mão-de-obra das mesmas. Estado – é o agente regulador da economia, com o intuito de satisfazer as necessidades colectivas. Finanças Públicas 2020 16 @ Pedro Samissone Necessidade - É o estado de carência ou insatisfação pela ausência de consumo de um bem ou serviço. O Estado, ao desenvolver a sua actividade age ou actua para satisfazer um conjunto de necessidades comuns. Assim, é pelo tipo de necessidades e pela forma como são satisfeitas que se pode caracterizar a actividade financeira. 1.13 Classificação das Necessidades › Primária › Importância › Secundária › Económicas Necessidades › Custo › Livres › Individuais › Abrangência › Colectivas 1.14 Traços Fundamenais das Necessidades As necessidades podem ser caracterizadas por três traços fundamentais: 1) Necessidades sociais 2) Necessidades públicas 3) Necessidades de satisfação passivas Necessidades sociais – são aquelas que resultam necessariamente da vida em sociedade e são sentidas pela sociedade no seu conjunto, ou como um todo. Necessidades públicas – são aquelas cuja satisfação é feita pela actuação do Estado ou de outros entes públicos. Finanças Públicas 2020 17 @ Pedro Samissone Necessidades de satisfação passivas – são aquelas cuja satisfação se faz pela mera existência dos bens, e não exigem, qualquer actividade do consumidor. Por exemplo: a necessidade de defesa do território. Os habitantes de determinado país sentem a necessidade de estar permanentemente defendidos ou protegidos contra possíveis ataques externos, mediante o serviço de exército. Daí a razão de criação de exército, e que basta que esse serviço tenha sido criado, para que todos o utilizem, isto é, para que todos satisfaçam a sua necessidade de defesa do território. 1.15 Necessidades financeiras como necessidades públicas O que permite caracterizar uma necessidade como publica é a forma por que é satisfeita. E, a circunstância de ser satisfeita pelo Estado ou por outro ente publico. Quanto a forma de satisfação, assume-se a satisfação privada, que pode ser através de criação de bens, da prestação de serviços ou de utilização de bens. Quanto a circunstâncias de estas necessidades serem satisfeitas pelo Estado ou outro ente publico, tem importantes consequências (1) a possibilidade de uso de coação na determinação das necessidades, como na escolha dos processos de financiamentos (a obtenção de recursos para satisfazer as necessidades). Para isso vai implicar a imposição de um sacrifício patrimonial aos particulares; e (2) os critérios de opção são distintos. Embora possa haver decisões politicas, em geral o processo da decisão financeira obedecer aos critérios que orientam em geral o sistema económico-social. Necessidades de satisfação passiva As necessidades de satisfação passiva não assenta num mecanismo de procura; o seu financiamento faz-se por imposição de um sacrifício ao património dos particulares. São os casos de segurança pública, a defesa nacional, a administração civil e outros serviços. É ao Estado que cumpre a responsabilidade de assegurar a satisfação. Necessidades de satisfação activa As Necessidades de satisfação activa são aquelas cuja satisfação exigem uma certa actividade do consumidor. Por exemplo: a necessidade de alimentação. Para uma pessoa se alimentar, não basta que os bens existam, que mantimentos tenham sido produzidos; é preciso que a pessoa os procure, que desenvolva uma actividade para os utilizar. Estas assentam no mecanismo de troca (procura e oferta no mercado) no qual o critério objectivo do valor é o preço de bens ou serviços. Finanças Públicas 2020 18 @ Pedro Samissone 1.16 Circunstâncias de Satisfação Activa (princípio de exclusão): o produtor dos bens pode exigir um preço pela utilização desses bens. Aí, vigora, o princípio da exclusão: o preço exclui os que não podem ou não estão em condições de pagar. Por exemplo: o padeiro que fabricou o pão, ao marcar o preço impede quem quer comer o pão sem ter pago previamente. Isso permite lhe, através da venda, cobrir as despesas da produção. Passiva (princípio de inexclusão), o produtor dos bens já não pode exigir pela utilização dos bens preço nenhum. Imagine-se que alguém se recordou de organizar o serviço do exército. Desde que o serviço existe, passa a ser utilizado por todos sem pagamento de qualquer preço. O indivíduo que criou o serviço de exército não beneficia do princípio de exclusão: vê-se impossibilitado de obter o mínimo pagamento dos utentes ou utilizadores desse serviço e fica com as despesas integralmente a seu cargo. 1.17 Critérios de satisfação pública de necessidades sociais Várioscritérios têm procurado definir objectivamente critérios de racionalidade económicas, que explicassem as opções formuladas antes ou para além de qualquer decisão politica. De todas teorias, um critério que importa reter é o dos bens públicos ou bens colectivos. Os bens públicos tem uma natureza que implica uma alternativa ou não existem, e afecta o bem-estar geral; ou só pode ser produzido por entes públicos. Tomemos os seguintes exemplos: (1) O farol de navegação marítima, a sua criação e funcionamento é incompatível com as regras do mercado e, no entanto, a sua necessidade é sentida por todos os que fazem a navegação costeira. As utilidades que ele presta não podem ser imputadas a um determinado agente económico que possa como tal pagar a sua criação ou funcionamento. E, (2) Um interesse egoísta chega para financiar o uso de um bem, mas não pode vedar a sua utilização pelos outros: o caminho municipal que dá acessos à quinta do Sr. Mungoi, financiado pelo dono da quinta, é acessível a todos, além de ser considerado beneficiário, fica compensado pelo proveito que tira do caminho. Todavia, isto só sucederá com pessoas altruístas e com bens cujo custo de produção ou provisão não seja excessivamente elevado. Pode ainda suceder que vários interessados se associem para construir o caminho de acesso às suas quintas, mas não poderão, se se tratar de vias públicas, vedar a utilização a outros pelo que alguns se sentirão tentados a não participar, beneficiando-se da obra comum; ou então tentarão cobrar uma portagem, ou vedar o acesso aos outros – o que só pode ser o Estado a consentir ou impor. Finanças Públicas 2020 19 @ Pedro Samissone Provisão Pública de Bens consiste no fornecimento de bens ou serviços através de prestação de serviços públicos com vista a proporcionar maior bem-estar económico e social. A provisão pode assumir o carácter duradoiro (património do Estado) ou anual (despesas públicas). Há uma diversidade de bens. Segundo Finanças Públicas, os bens classificam-se em: Bens Públicos, Bens Privados e Bens Sem-Públicos. Assim, entende-se por um Bem Público um bem cujos benefícios são usufruídos por toda comunidade de modo indivisível, independentemente da vontade de um qualquer indivíduo querer ou não consumir o bem público. Bens públicos ou bens colectivos são aqueles em que, para um determinado nível de existência ou provisão do bem, a sua utilização por uma pessoa não prejudica minimamente a utilização por qualquer outra. Ex.: estradas, hospitais públicos, escolas públicas, defesa nacional, etc. É o caso de um farol, da defesa nacional, do serviço de patrulha policial ou patrulha costeira, do funcionamento geral dos órgãos de soberania, caminho municipal que dá acesso a quinta do Sr. Beltrano. Bens públicos propriamente ditos (puros) – são os que se limitam a satisfazer as necessidades colectivas. O consumo destes bens por um indivíduo não afecta o seu acesso por outro. Todos usufruem dos bens e não há como o governo mensurar o quanto cada indivíduo o usa e assim tributá- lo, podendo ser usados mesmo por aquele que não é tributado. Ex.: iluminação pública. Bens privados são aqueles produzidos por Entidades Privadas e que para sua aquisição, o produtor exige o pagamento de um preço, excluindo todos os que não querem pagar. Estes bens satisfazem as necessidades individuais ou pessoais. Ainda pode-se definir: Bem privado é aquele que não pode ser compartilhado por todos. Há concorrência entre os indivíduos. O direito de propriedade não permite que todos tenham acesso ao bem. Finanças Públicas 2020 20 @ Pedro Samissone Bens semi-públicos são aqueles produzidos por uma colectividade de carácter público ou privado podendo ser gratuitos, parcial ou totalmente custeados pelos utilizadores. Por outra: Bem semi-publico - é aquele que pode ser oferecido tanto pelo Governo quanto pelo sector privado. O governo o oferece para tentar reduzir as desigualdades de acesso. E, em alguns casos, há uma selecção para possibilitar o acesso ao bem, atendem ao princípio de exclusão ou seja excluem do usufruto aqueles que não pagam. Ex: serviços de Educação e Saúde. Aspecto importante: Um bem público não é necessariamente propriedade do Estado. É público no sentido de estar inteiramente disponível para toda a gente. 1.18 Características de bens públicos ou bens colectivos a) Prestam pela sua própria natureza, utilidades indivisíveis todos os indivíduos têm acesso aos bens públicos à mesma disponibilidade, isto é, os bens públicos não são susceptíveis de serem utilizados por um só indivíduo isoladamente. Ex.: a iluminação pública. b) São bens não exclusivos, significa que não é possível privar ninguém da sua utilização. Ex.: o Estado de segurança nacional que é garantido pelo exército e pela polícia é usufruído por todos sem nenhuma exclusão; e c) São bens não emulativos – significa que os sujeitos não entram em concorrência para conseguir a sua utilização. 1.19 Provisão dos Bens Públicos e Bens Privados Bens Públicos: Os bens públicos/colectivos são normalmente fornecidos por entidades públicas; Pode haver provisão conjunta ou por iniciativa comum de bens colectivos por entidades públicas e privadas, caso em que, em regra, a decisão fundamental será pública, contando com a colaboração privada; Satisfazem as necessidades colectivas São produzidos por entidades públicas São custeados por via coativa ou pelo pagamento de um preço igual ao custo do produto Finanças Públicas 2020 21 @ Pedro Samissone Não há concorrência entre os consumidores para a aquisição do bem. O mercado não os pode produzir Não se pode limitar a sua utilização ao um só sujeito. Em contrapartida é extremamente difícil excluir alguém dos benefícios de segurança interna ou defesa nacional, só para mencionar estes dois exemplos. Bens Privados: Os bens privados são fornecidos por entidades privadas; Pode haver bens/serviços individuais objecto de provisão mista (caso muito frequente: parcerias público-privado); A generalidade dos bens individuais tende a ser objecto de provisão privada; Satisfazem as necessidades individuais; São produzidos por agentes privados; Implicam concorrência entre os consumidores; Pagamento do preço fixado pelo mercado entre os produtores e consumidores. Bens semi-públicos São produzidos pela colectividade pública ou privado; Satisfazem necessidades independentes da procura dos consumidores; Podem ser gratuitos, parcial ou totalmente custeados pelos utilizadores. Resumindo: consoante a entidade que oferece os bens ou serviços, consideraremos de bens públicos, nos casos de bens oferecidos por entidades públicas; de bens privados, nos casos de bens oferecidos por entidade privadas e de bens semi-públicos nos casos em que há provisão conjunta ou por iniciativa comum de bens colectivos por entidades públicas e privadas. A provisão dos bens públicos pode e deve ser feita pelo Estado por diversas razões: O Estado tem uma perspectiva de interesse geral, O Estado tem perspectiva temporal ilimitada e uma capacidade de risco superior à dos outros grupos ou associações contratuais. Finanças Públicas 2020 22 @ Pedro Samissone O Estado dispõe de autoridade para impor regras da utilização dos bens patrimoniais e seu funcionamento (coacção, no seu aspecto sociológico); e O Estado tem por via de regra, em cada comunidade, dimensão que lhe possibilita empreender esforços que não estão ao alcance de instituições ou pessoas privadas e que a comunidade em si não pode resolver com êxito. 1.20 Actuação Financeira do Estado As Formas de Actuação Financeira do Estado assumem dois momentos importantes a destacar: A provisão do bem nas condições adequadas à obtenção da satisfação óptima: significa prestar serviços públicos oucolocando bens à disposição da colectividade, com carácter duradouro (património do Estado: edifícios, equipamentos, terra, etc.) ou em cada ano (despesas públicas); Deve observar-se que em casos se trata de actividades sem as quais não haveria Estado; a defesa do prestígio e autoridade do Estado pode levar a proibição de exércitos privados mas não a serviços privado de segurança; já que a sua existência fornecem bens/serviços privados a par do bem público da segurança. Obtenção dos recursos necessários para assegurar a provisão dos bens através de financiamentos: receitas públicas (impostos), créditos e donativos. 1.21 Função do Estado Os elementos constituintes do Estado são: - Povo - Território - Poder Político Definição do Estado: conjunto de pessoas, ou agregado populacional (que possui cultura, costumes, hábitos, passado histórico e língua comuns) que se fixa num determinado território e aí exerce o poder político. A divisão moderna das funções do Estado é a seguinte: Finanças Públicas 2020 23 @ Pedro Samissone a) Funções Políticas – através destas o Estado garante os interesses superiores da Nação, gerindo a administração pública, e aplicando os recursos na satisfação das necessidades colectivas e promovendo a paz. O Estado dispõe, portanto, de múltiplas instituições como as polícias, os tribunais ou o exército. b) Funções Sociais – O Estado promove a melhoria das condições de vida e de bem-estar da população. A garantia de acesso gratuito a serviços essenciais aos segmentos da população mais carenciados (justiça, saúde, educação, etc), correcção das desigualdades sociais, segurança social, fazem parte destas funções. c) Funções Económicas – intervindo mais ou menos numa economia moderna, espera-se do Estado que: Afecte criteriosamente os escassos recursos da economia; Estabilize a economia e garanta o seu bom funcionamento, Defina as regras jurídicas que regulamentam a vida económica, Promova o crescimento e o desenvolvimento económico. 1.22 Externalidades, Bens Públicos e outras Falhas de Mercado Externalidades ocorrem quando o consumo e/ou a produção de um determinado bem afetam os consumidores e/ou produtores, em outros mercados, e esses impactos não são considerados no preço de mercado do bem em questão. Portanto, existe uma externalidade, quando a acção de consumo, producão ou outra realizada por um agente económico, afecta significativamente o bem-estar de outro agente e, esse efeito não é transferido através do sistema de preços. Há vários tipos de externalidades: o No consumo e na produção; o Envolvendo poucos ou muitos agentes; o Positivas ou negativas; o Unidireccionais ou bidireccionais, etc. Assim, por exemplo, empresa de fundição de alumínio (MOZAL), ao provocar chuvas ácidas, prejudica o ambiente e sobre tudo a colheita dos agricultores da vizinhança. Esse tipo de poluição representa um custo externo porque é a agricultura, e não a indústria poluidora, que sofre os danos causados pelas chuvas ácidas. Estes danos não são considerados no cálculo dos custos industriais, que inclui itens como matéria-prima, salários e juros. Portanto, os custos privados, nesse caso, são Finanças Públicas 2020 24 @ Pedro Samissone inferiores aos custos impostos à colectividade e, por consequência, o nível de produção da indústria é maior do que aquele que seria socialmente desejável. Já a educação gera externalidades positivas porque os membros de uma sociedade e, não somente os estudantes, auferem os diversos benefícios gerados pela existência de uma população mais educada e que não são contabilizados pelo mercado. Externalidades Negativas Vamos agora considerar o caso de um bem ou serviço que envolva a geração de externalidades negativas. Esse é o caso, por exemplo, dos custos da empresa de fundição de alumínio (MOZAL), que não está levando em conta os efeitos negativos da poluição. O custo total dessa actividade, para a sociedade, inclui tanto os custos privados da produção de alumínio como os danos causados pelas externalidades (custos externos) aos agricultores e cidadãos que polulam a região de Beluluane. Externalidades Positivas Em presença de externalidades positivas, os níveis de produção, associados ao equilíbrio de mercado, são inferiores àqueles que seriam socialmente ótimos. Assim, por exemplo, a expansão da educação básica gera benefícios para a sociedade que extrapolam os benefícios auferidos pelos estudantes e suas famílias. Esses benefícios externos não são considerados na decisão privada de frequentar a escola porque os estudantes não são compensados pelas vantagens usufruídas pelo resto da coletividade, decorrente de sua decisão de estudar. 1.23 Finanças Públicas como Instrumentos da Política Económica a) Função do Estado Existem três funções do sector público numa economia mista contemporânea: afectação, distribuição e estabilização. A função de afectação tem por objectivo: Promover a afectação eficiente dos recursos Assegurar os fundamentos do funcionamento dos mercados (direitos de propriedade etc.); Ultrapassar os fracassos do mercado (provisão de bens públicos, correcção das externalidades, lidar com assimétrica da informação). Finanças Públicas 2020 25 @ Pedro Samissone Uma das áreas de intervenção do sector público é a da provisão de bens e serviços públicos que, sendo desejados pelos cidadãos, não encontram provisão através do funcionamento dos mercados. A função distribuição tem por objectivo: Promover uma sociedade mais justa Igualdade de oportunidades – assegurar a todos os cidadãos o acesso a certos bens e serviços considerados meritórios (cuidados básicos de saúde, ensino básico, defesa, etc.) Desigualdade de rendimentos – alterar a distribuição de rendimentos resultante do mercado. A distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade é, em grande parte, uma herança do passado, na medida em que determina a distribuição de direitos de propriedade entre os agentes económicos. A função de Estabilização tem por objectivo principal o seguinte: Promover a estabilização macroeconómica da economia, ao nível de: Emprego; Estabilidade de preços; Equilíbrio de contas existentes e; Crescimento económico. A função de estabilização tem por objectivo, promover a estabilização macroeconómica da economia, de forma a contribuir para o crescimento sustentado da economia, para níveis de emprego elevados, para uma estabilidade de preços e para um equilíbrio das contas externas. b) Actividade financeira do Estado A actividade financeira e seus critérios finalistas compreendem (1) os princípios doutrinários e políticas da actividade financeira, e (2) funções de sistema financeiro. 1) Os princípios doutrinários e políticas da actividade financeira – a actividade financeira numa economia descentralizada de mercado, não deixa de ser regida por critérios essencialmente políticos, significa que as decisões políticas estão em primeiro plano embora se observe o primeiro de racionalidade económica. Por tanto, os critérios doutrinários e ideológicas se fazem presente no desenvolvimento da vida social, particularmente no campo económico. Finanças Públicas 2020 26 @ Pedro Samissone As decisões políticas são profundamente influenciadas pela época histórica em que ocorrem, e sujeitam-se a um princípio de equilíbrio entre bens públicos e bens privados, tendentes a definir, em cada sociedade, os óptimos sociais de previsão relativa dos bens públicos e de dimensão global do sector publico, nomeadamente o sacrifício imposto pelo Estado através da tributação, que é nas sociedades modernas o melhor índice sintético da relação público- privada. Opções de sistemas: temos correntes de pensamento a considerar (i) Milton Friedman e F. Von Hayek defendem que a socialização operada pelo crescimento dosector público e das necessidades satisfeitas de forma pública põe em risco os valores liberais, e (ii) Joseph Schumpeter mostrou como a evolução da organização empresarial se orientava no sentido de instauração evolutiva de uma certa forma de socialismo, pela gradual transformação interna do capitalismo. Tudo depende, de opções de princípios e de fins gerais que eles ditam à actividade financeira; a pretensão de apresentar explicações científicas compatíveis com o comportamento do Estado na sociedade industrial não dispensa de ter como enquadramento doutrinário ou ideológico de uma teoria que, não obstante, ser necessário ajustar a uma dada realidade. Há por certo, argumentos teoricamente fundados: o mercado orienta a produção com eficiência, mas não distribui a riqueza com justiça; as soluções globais são, sempre no campo de doutrinas e no plano de ideias e politicas. 2) Funções do Sistema Financeiro – Richard Musgrave e Sousa Franco identificaram três funções do sistema financeiro: (i) afectação de recursos; (ii) distribuição de riqueza; e (iii) objectivos macroeconómicos (estabilização, crescimento e reformas estruturais). i. Afectação de recursos – significa atribuição eficiente de recursos sociais apropriados pelo Estado à provisão de bens públicos, incluindo a função segurança do Estado. ii. Distribuição de riqueza – significa atribuição, de acordo com os critérios adoptados, dos recursos existentes entre os membros da sociedade iii. Objectivos macroeconómicos – designadamente: Finanças Públicas 2020 27 @ Pedro Samissone Estabilização: manutenção de um nível satisfatório da actividade económica, assegurando a expansão equilíbrio, a plena utilização de recursos e a estabilidade da moeda que passa pela adopção de medidas apropriadas, por exemplo o controlo de inflação. Crescimento e reformas estruturais: aumento do potencial produtivo nacional, garantindo assim a manutenção ou intensificação da expansão em períodos longos, outras formas de remodelação das estruturas económicas e sociais. 1.24 Os meios de financiamento dos bens públicos Os bens públicos são financiados por três tipos de receitas públicas, nomeadamente, as receitas patrimoniais, as receitas tributárias e as receitas creditícias. a) Receitas patrimoniais – são valores que o estado recebe pela prestação de serviços, venda de bens e produtos sob o seu domínio ou pela utilização individual do património público. As receitas patrimoniais são voluntárias, pois surgem da manifestação de vontade de um determinado indivíduo em usufruir de um produto, bem ou serviço que esteja sob domínio do estado. b) Receitas tributárias (impostos e taxas) – são valores provenientes do cumprimento de obrigações impostas por lei aos cidadãos. São, portanto, receitas coativas. Os impostos – são prestações coativas, unilaterais, sem fins de punição, que são impostas aos indivíduos em relação aos quais se verificam certos pressupostos, previstos na lei e que exprimem determinadas situações de riqueza. As taxas – são prestações do mesmo tipo que os impostos mas que se diferem daqueles pelo facto de que os particulares a quem são exigidas auferem uma determinada utilidade relacionada com o funcionamento de um serviço ou utilização de um bem. c) Receitas creditícias – são resultantes dos empréstimos contraídos pelo estado para cobrir défices orçamentais ou de tesouraria, ou ainda para esterilizar o poder de compra e combater a inflação. Podem ser portanto, receitas voluntárias ou coativas. Finanças Públicas 2020 28 @ Pedro Samissone 2. Finanças Públicas, Clássicas e Modernas Os sistemas financeiros dependem do regime económico. No capitalismo encontramos dois regimes: A) Liberalismo (Finanças Clássicas) - Reduzido peso do poder público na actividade económica - Liberdade dos múltiplos sujeitos individuais B) Intervencionismo (Finanças Modernas) - Maior coordenação e intervenção do poder politico na economia, respeitando, no entanto, a iniciativa/ propriedade privada. 2.1 Características fundamentais do modelo capitalista liberal (Finanças Clássicas) a) A privatização da economia A economia era totalmente privada, competindo ao Estado criar condições para manter a sociedade organizada e estável e a propriedade privada por si, se defendia. Eram funções do Estado, a defesa, segurança, administração geral e manutenção da ordem, quando muito, a prestação de outros serviços que não interessassem ao capital privado. b) O princípio do mínimo da actividade económica pública Tanto em quantidade como em qualidade, a actividade financeira estatal deve-se reduzir ao mínimo imprescindível de modo a absorver o mínimo de rendimento nacional e restringindo-se as actividades básicas de autoridade e administração. c) Neutralidade financeira Há uma neutralidade entre a actividade financeira e a económica. A actividade financeira é organizada de forma a não perturbar nem destroçar a actividade económica privada e nem deve propôr finalidades de alteração ou comando de actividade económica privada. d) Importância dos impostos e os sistemas fiscais A receita típica do liberalismo é o imposto. O período das Finanças clássicas é o período das Finanças tributárias. O imposto garantia um peso devido a redução do património estatal, aumento da importância da riqueza imobiliária do conjunto do rendimento nacional e ainda generalização da ideia Finanças Públicas 2020 29 @ Pedro Samissone de que o imposto é dever de cidadania. Os sistemas fiscais típicos do liberalismo assentam na ideia de justiça meramente formal. e) Equilíbrio Orçamental Era o princípio orientador da actividade liberal. Para os clássicos, este equilíbrio orçamental significava que as despesas totais devem ser cobertas pelas receitas normais (impostos e receitas patrimoniais) e o recurso ao empréstimo seria excepção em caso de guerra. Resumindo: As Finanças clássicas correspondem a fase de puro liberalismo económico e reflectem todas as suas preocupações, designadamente a restrição do papel do Estado e o elogio da actuação da iniciativa privada como instrumento fundamental da actividade económica. As duas características fundamentais de liberalismo económico são: - Reduzida dimensão do sector público: - Abstenção económica estadual. 2.2 Transição para as Finanças Modernas A transição das finanças neutrais para as finanças modernas ou intervencionistas foi determinada pelos seguintes factores: a) A passagem do sufrágio de censitário a universal – o voto passa a ser garantido não só pelas classes possuidoras mas também pela classe operária e para conquistar o voto desta última classe, o governo no poder cria certos benefícios que aumentam a despesa pública, nomeadamente a instrução e a assistência médica gratuitas entre outros, abrindo-se deste modo o caminho para o alargamento do sector público; b) O reconhecimento pelos clássicos de que a distribuição da riqueza, exclusivamente fundada no funcionamento do mercado, não era a mais desejável do ponto de vista do equilíbrio geral; c) A existência de muitos monopólios e oligopólios, o que levou à subida de preços, aumentou a necessidade da intervenção do estado como regulador e como agente económico, dedicando- se a actividades que exigiam grandes quantidades de capital e que pudessem concorrer com as grandes organizações monopolistas. Finanças Públicas 2020 30 @ Pedro Samissone d) Após os efeitos nefastos das guerras, os liberais sentiram já a necessidade de que o estado lhes garantisse a paz, liberdade e segurança. e) O surgimento de novas teorias económicas com maior ênfases nas de Keynes, que defendiam a existência de um “estado do bem-estar” (welfare state), reafirmando a necessidade da intervenção do governo com vista a corrigir os desequilíbrios, dos quais o subempregoera a manifestação mais visível. Foi com estas teorias que se desenvolveu a ideia de que o recurso ao empréstimo e à emissão da moeda em certas circunstâncias podia ser benéfico à economia. 2.3 As finanças intervencionistas ou modernas As Finanças Intervencionistas ou activas – têm a sua génese nas teorias keynesianas dos anos 30 do séc. XX e defendiam políticas económicas com vista à construção de um “estado do bem-estar social” – (Well fare state). Princípios fundamentais das finanças intervencionistas a) A regra do mínimo é substituída pela regra do estado óptimo – o estado procura, com a sua intervenção directa, suprir as falhas do mercado; b) Alargamento do sector público, motivado pelas novas funções assumidas pelo estado; c) O estado passa a intervir directamente na economia, abandonando o seu papel abstencionista e assumindo um papel de relevo na actividade económica. 2.4 Finanças Públicas Modernas As finanças modernas são fruto dos regimes económicos intervencionais e dirigistas. Esta é a razão de ordem. A dimensão crescente dos actos públicos é uma das características das finanças modernas a qual passa a resolver parcelas que se situam entre 30 a 50% do rendimento nacional. Alarga-se o património estatal, multiplicam-se as empresas públicas e o peso do imposto cresce. As finanças tornam-se activas, pois passam a ter uma atitude e uma prática interveniente. Com o crescimento do papel do Estado na actividade económica, a actividade privada fica restringida e condicionada. Finanças Públicas 2020 31 @ Pedro Samissone Ao contrário do sistema liberal, há uma integração entre a economia e finanças estando sujeitas à intreracção das mesmas forças e princípios. As finanças públicas abandonam o ideal de neutralidade e passam a ser utilizadas como instrumento das políticas económicas e sociais – ou seja, surgem as políticas financeiras. E também alguns aspectos jurídicos próprios do liberalismo como é o caso das garantias individuais que sofrem alterações. O imposto ganha maior importância e surgem as receitas, provenientes do património mobiliário estadual. Portanto, nas finanças modernas o imposto tem tanta importância como nas clássicas; mas ele passa a ser utilizado como instrumento de politica económica ou de politica social servindo, por exemplo, para redistribuir a riqueza. 2.5 Factores Críticos ao Sucesso de um Sistema de Finanças Públicas Moderno De entre os aspectos que o Governo, o Estado e os actores do mercado em geral devem assumir como factores críticos para o sucesso de um sistema de Finanças Públicas efectivo, levando em conta o seu próprio contexto e estágio de desenvolvimento económico e social nacional, e para os quais os processos de suporte e de governação devem concentrar maior atenção e esforços, figuram os seguintes: Assegurar um domínio interno total, efectivo e duradoura de gestão e de execução das operações de Finanças Públicas e de uma Administração Financeira do Estado adequada ao contexto da tendência à modernização e globalização do mundo actual; Assegurar que as transformações organizacionais sejam suportadas por tecnologias de informação e comunicação e prossigam os benefícios económicos e sociais desejados e garantir a escolha e implementação de tecnologias apropriadas e a gestão adequada de mudanças organizacionais e comportamentais para esse efeito requeridas; Assegurar que as transformações se realizem de forma controlada e sistémica, gradual, coordenada, coerente e contemplando, adequadamente, os papéis e estágios de maturidade de cada instituição e aliadas a prioridades estratégicas do Governo e com uma clara Visão de Desenvolvimento e das Finanças Públicas; e Finanças Públicas 2020 32 @ Pedro Samissone Assegurar a valorização da profissionalização dos recursos humanos e uma capacidade política, organizacional, técnica e tecnológica compatível com a capacidade económico-financeira e à altura de promover e viabilizar a implementação de reformas institucionais e comportamentais que se mostrem necessárias ao longo do processo desenvolvimento da gestão das Finanças Públicas e do respectivo sistema no seu todo. 2.6 Conclusão Os bens públicos, apesar da indivisibilidade que lhes é característica, podem prestar utilidades individuais. É o caso dos bens semi-públicos. Importa salientar que o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou oneroso, conforme for estabelecido por meio da lei da pessoa jurídica à qual o bem pertencer. Ex: o uso do zoológico é oneroso. A introdução das receitas tributárias como meio de financiamento dos bens públicos deveu-se essencialmente à insuficiência das receitas patrimoniais, as quais tornaram-se muito mais baixas desde a afirmação do liberalismo. Hoje em dia, as receitas tributárias apresentam a parte mais significativa das receitas públicas e em Moçambique apresentaram um aumento considerável desde o último trimestre do ano passado. A intervenção do estado no domínio económico é muito importante, não só em questões de regulação e controlo, mas também para a criação e execução de políticas de distribuição do rendimento que reduzam as desigualdades sociais.