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IBADEP Instituto Bíblico da Assembleia de Deus Ensino e Pesquisa www.IBADEP.com Rua IBADEP, S/Nº - Vila Eletrosul / Bairro IBADEP Cx. Postal 248 85980-000 - Guaíra – PR Fone/Fax: (44) 3642-6642 E-mail: ibadep@ibadep.com Coord. Pastor M. Douglas Scheffel Jr. Aluno(a): ___________________________________________________ DIRETORIA CIEADEP Pr. Perci Fontoura Presidente Pr. Isaias Cardoso dos Santos 1º Vice-Presidente Pr. Antônio Batista Maia 2º Vice-Presidente Pr. Daniel Sales Acioly 1º Secretário Pr. Samuel Azevedo dos Santos 2º Secretário Pr. Antonio Ferreira 1º Tesoureiro Pr. Izaias Rodrigues Porto 2º Tesoureiro IBADEP Pastor Douglas Junior Coordenador Copyright © 2017. IBADEP – Instituto Bíblico da Assembleia de Deus – Ensino e Pesquisa. Antigo Testamento I. IBADEP, 2017. 224p. Inclui Bibliografia. 3ª Edição – Janeiro/2017 Todos os direitos reservados ao IBADEP Contato: Email: ibadep@ibadep.com Web Site: www.ibadep.com Fone: (44) 3642 - 6642 Antigo Testamento I Diagramação e texto: Equipe IBADEP Projeto e desenvolvimento: Pastor Douglas Junior Direitos e Deveres do Aluno São direitos do aluno: 1. Estar devidamente matriculado no curso de sua escolha; 2. Conhecer o funcionamento do curso por meio da leitura e aceitação do termo constante no sistema online do IBADEP; 3. Receber, mediante solicitação e pagamento de valor previamente es- tipulado, a carteirinha de estudante; 4. Ter acesso ao sistema online do IBADEP, onde poderá acessar seus dados bem como acompanhar o lançamento de suas notas referentes as matérias estudadas; 5. Receber o certificado do curso que houver concluído com êxito, me- diante o atendimento dos padrões especificados no manual do curso, bem como os abaixo mencionados. 5.1 O recebimento do certificado está condicionado a: 5.1.1 Conclusão do curso com aproveitamento de todas as matérias dentro da média prevista no Manual Geral para Cursos do IBADEP. Obs. As notas deverão estar lançadas no Sistema Online do IBADEP; 5.1.2 Solicitação e preenchimento de requerimento específico junto ao responsável pelo núcleo de estudos da igreja, que deverá enviar o requerimento devidamente preenchido ao IBADEP; • O requerimento de certificado, bem como outros documentos en- contra-se também disponível para download no endereço www.iba- dep.com/downloads • Alunos da modalidade de curso individual deverão solicitar seu cer- tificado diretamente ao IBADEP mediante preenchimento e envio do requerimento; 5.1.3 Envio prévio de toda a documentação exigida, conforme cons- tante no Manual Geral para Cursos do IBADEP; São Deveres do Aluno: 1. Assistir às aulas e aceitar a orientação sadia da palavra de Deus, in- dividualmente ou através do Monitor(a); portando-se de forma ética para com os professores e colegas de classe; 2. Honrar o nome de Deus, da Igreja, e do IBADEP, divulgando os trabalhos do IBADEP e convidando novos alunos; 3. Submeter-se às provas e aos trabalhos previstos para o curso e dedi- car tempo ao estudo diário, conforme o previsto para cada modali- dade de curso; 4. Entregar toda a documentação exigida; 5. Atentar para os prazos de carência de cada curso, a fim de que, em caso de desistência, possa retornar ao curso com aproveitamento das matérias já estudadas; 6. Acompanhar suas notas junto ao monitor do núcleo ou diretamente através o sistema online do IBADEP; 7. Estar ciente de que, será considerado concluinte, apenas o(a) aluno(a) que possua, nos registros junto à sede administrativa do IBADEP, todos os documentos exigidos e todas as notas referentes às disciplinas que formam a grade curricular do curso concluído, estando estas dentro da média prevista no manual geral para cursos do IBADEP 8. Estar ciente de que a certificação do curso não implica na ascensão do concluinte ao ministério, seja este como Pastor, Missionário, Diá- cono ou outro; tal ascensão ministerial é prerrogativa da igreja onde o concluinte servir como membro. 9. As convenções que adotam os cursos do IBADEP como pré-requi- sito para a consagração de obreiros, poderá valer-se de avaliação própria, contudo, o concluinte somente terá direito a certificação do IBADEP se houver passado pelo sistema de avaliação previsto no manual do curso que houver concluído. Informações mais detalhadas poderão ser encontradas no manual geral para cursos do IBADEP, disponível para download no site www.ibadep.com bem como em todos os demais canais de comuni- cação do IBADEP. Cremos 1. Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas: O Pai, Filho e o Espírito Santo. (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). 2. Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14- 17). 3. Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expi- atória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9). 4. Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expi- atória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19). 5. Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo 3.3-8). 6. No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nos- so favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9). 7. No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo intei- ro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2.12). 8. Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, inspirador e santifi- cador do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Cristo (Hb 9.14 e 1Pd 1.15). 9. No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). 10. Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espíri- to Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua sober- ana vontade (1Co 12.1-12). 11. Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16. 17; 1Co 15.51- 54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14). 12. Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo, para receber recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10). 13. No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis (Ap 20.11-15). 14. E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tris- teza e tormento para os infiéis (Mt 25.46). Metodologia de Estudo Para um bom aproveitamento, o aluno deve ser con- sciente que a dedicação de tempo e esforço no estudo das Sagradas Escrituras proporcionará o crescimento na graça e sabedoria divina. Você é o autor de sua história! Consciente desta realidade se prepara para as provas ou trabalhos por fazer. Siga o roteiro como estudar esta matéria e comprove os resultados. 1. Devocional: a) Inicie o estudo com uma oração, agradecido ao Senhor pela oportunidade concedida de ser um Salvo e estudar a sua Palavra para melhor servi-lo no seu Reino. b) Peça a orientação e revelação do Espírito Santo enquanto estuda para ser revelado ao seu coração as verdades eternas da Palavra de Deus! c) Para melhor aproveitamento do estudo, seja organizado, leia com atenção e medite nas lições. 2. Local de estudo: Disponibilize um lugar adequadopara estudar. Que deve ser: a) Arejado e com boa iluminação (de preferência, que a luz venha da esquerda); b) Isolado da circulação de pessoas; c) Silencioso. 3. Disposição: Tudo o que fazemos por opção alcança bons resultados. Conscientize-se da importância dos itens abaixo: a) Estabelecer um horário de estudo extraclasse, dividindo-se entre as disciplinas do currículo (dispense maior tempo às matérias que tiver maior dificuldade); b) Reservar diariamente tempo para descanso e lazer. c) Concentre-se na matéria estudada; d) Adote postura correta (sentar-se à mesa, tronco ereto), para evitar o cansaço físico; e) Não passar para outra lição antes de dominar bem o que estiver estudando; f) Não abuse da capacidade física e mental. Quando perceber que está cansado e o estudo não alcança um bom rendimento, faça uma pausa para descansar. 4. Aproveitamento das aulas: Cada disciplina apresenta características próprias, envolvendo diferente comportamento raciocínio, analogia, interpretação, aplicação ou simplesmente habilidades motoras. Exigindo sua participação ativa. Para melhor aproveitamento, procure: a) Colaborar para a manutenção da disciplina na sala-de-aula; b) Participe ativamente das aulas e pergunte quando algo não ficar bem claro; c) Anotar as observações complementares do monitor em cad- erno apropriado; d) Anotar datas de provas ou entrega de trabalhos. 5. Estudo extraclasse: Observando as dicas dos itens 1 e 2, você deve: a) Fazer diariamente as tarefas indicadas; b) Rever os conteúdos do dia; c) Prepare as aulas da semana seguinte (caso você tenha algu- ma dúvida, anote-a para apresentá-la ao monitor durante a aula). Não deixe que dúvidas se acumulem. d) Materiais que poderão ajudá-lo: • Mais que uma versão ou tradução da Bíblia Sagrada; • Atlas Bíblico; • Dicionário Bíblico; • Enciclopédia Bíblica; • Livros de História Geral e Bíblica; • Dicionário de Língua Portuguesa; • Livros e apostilas que tratem do assunto. e) O estudo, sendo em grupo, tenha sempre na mente: • A necessidade de prestar colaboração pessoal; • O direito de todos os integrantes opinarem. 6. Como obter melhor aproveitamento em avaliações: a) Revise a matéria antes da avaliação; b) Permaneça calmo e seguro (você estudou!); c) Concentre-se no que está fazendo; d) Não tenha pressa; e) Leia atentamente as questões; f) Resolva primeiro as questões mais acessíveis; g) Revise tudo antes de entregar a prova. Bom Desempenho! Abreviaturas a.C. – antes de Cristo. ARA – Almeida Revista e Atualizada ARC – Almeida Revista e Corrida AT – Antigo Testamento BLH – Bíblia na Linguagem de Hoje BV – Bíblia Viva c. – Cerca de, aproximadamente cap. – capítulo; caps. – capítulos cf. – confere, compare d.C. – depois de Cristo. ex. – por exemplo. fig. – Sentido Figurado gr. – grego hb. – hebraico IBB – Impressa Bíblica Brasileira i.e. – isto é km – Símbolo de quilômetro lit. – literal, literalmente. LXX – Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) MSS – manuscritos NT – Novo Testamento N. T. – Nota do Tradutor NVI – Nova Versão Internacional p. – página ref. – referência; refs. – referências ss. – e os seguintes (isto é, os versículos consecutivos de um capítulo até o seu final. Por exemplo: 1Pe 2.1ss, significa 1Pe 2.1-25). séc. – século (s) v. – versículo; vv. – versículos ver – veja Índice Capítulo 1 O Pentateuco.........................................................................15 Capítulo 2 Gênesis...................................................................................69 Capítulo 3 Êxodo - Levítico....................................................................101 Capítulo 4 Números - Deuteronômio...................................................159 Referências Bibliográficas.................................................221 14 • Capítulo 1 1515 O Pentateuco 1º Capítulo O Pentateuco 16 • Capítulo 1 O Pentateuco 17 O ícone abaixo indica: Neste capítulo veremos; • O que é o Pentateuco? • O Pentateuco – Narrativa histórica unificada? • Qual é a origem do Pentateuco? • Autoria do Pentateuco • Qualificações de Moisés como Autor do Pentateuco 1 Capítulo Atenção e Foco O que é o Pentateuco? O Pentateuco é formado pelos cin- co primeiros livros do Antigo Testamen- to: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. O vocábulo “Pentateuco” vem do grego “pente” cinco, e “teúchos”, “livro”, “rolo” (originalmente, um vaso ou implemento). Os judeus chamam esses livros de Torá (i.e., “instrução”), que em geral se traduz por lei (Mt 5.17; Lc 16.17; At 7.53; 1Co 9.8). Os judeus atribuem à Torá maior autoridade e santidade que ao restante das Escrituras. Pentateuco é um modo adequado de identificar esses livros. Em virtude dos quase dois mil anos de uso, ele está pro- fundamente enraizado na tradição cristã. Entretanto, um termo preciso e informa- tivo é Torá (hebraico torah). Esse nome baseia-se no verbo yarah, ensinar. Torá é, portanto, ensino. A atenção cuidadosa a esse fato levará à apreciação do conteúdo do Pentateuco, seu propósito fundamental: instruir o povo de Deus acerca do próprio Deus, e dos propósitos divinos concernen- tes ao povo. A quantidade de material legal no Pentateuco (metade de Êxodo, a maior parte de Levítico, grande parte de Números e praticamente todo o Deuteronômio) levou à designação comum Lei ou Livros da Lei. Essa maneira de ver o Pentateuco desfrutava a sanção do uso que se fazia dele no antigo mundo judaico, e mesmo no Novo Testamento não é de todo sem razão. Entretanto, estudos recentes têm mostrado de modo conclusivo que o Pentateuco é essencialmente um manual de instrução (daí torah) cujo propósito era guiar Israel, o povo da 1 O Pentateuco 18 • Capítulo 1 aliança, na peregrinação diante de seu Deus. Por exemplo, Gênesis, embora contenha poucas leis, ainda assim instrui o povo de Deus mediante suas narrativas da história primeva1 e dos patriarcas. A lei formava “a constituição e os regulamentos” da nação escolhida. Torá é, portanto, a denominação adequada para descrever todo o conteúdo e o propósito dessa parte antiga da Bíblia. Até o Iluminismo2 no século XVIII, havia consenso entre as tradições judaica e cristã de que o testemunho do Pentateuco revelava Moisés como seu autor. Tanto o Antigo (Dt 1.5; 4.44; 31.9; 33.4; Js 8.31-34; 1Rs 2.3; 2Rs 14.6; 23.25; 2Cr 23.18; Ed 3.2; Ne 8.1; Ml 4.4) como o Novo Testamento (Lc 2.22; 24.44; Jo 1.17; 7.19; At 13.39; 28.23; 1Co 9.9; Hb 10.28) sustentam a tradição da autoria mosaica. Alguns intérpretes, antes do Iluminismo, levantaram questões inci- dentais sobre discordâncias cronológicas. Observaram, por exem- plo, a referência aos reis de Israel em Gênesis 36.31, a referência de Moisés a si mesmo como varão “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12.3), e o relato que ele fez de sua própria morte (Dt 34.5-12). Tais referências, porém, podem ser explicadas ou como resultado da revelação divina sobre o futuro ou provavelmente como exemplos de acréscimos posteriores ao texto. Aqueles que aceitam Moisés como personagem histórico, cuja vida e experiência são evidenciadas pelas Escrituras (Êx 2.10- 11; Hb 11.23-24), devem admitir a possibilidade genuína de ele ser o autor dos escritos que tradicionalmente levam o seu nome. Vários estudiosos declaram positivamente as contribuições significativas de Moisés para formação do Pentateuco, mas sustentando que a forma final desses livros evidencia algum trabalho de edição posterior à época de Moisés. Esses críticos de modo algum negam a inspiração divina do Pentateuco ou a confiabilidade de sua história. Antes, afirmam que após a morte de Moisés Deus continuou a estimular o povo da fé de modo que este desenvolvesse com cuidado as verdades ensinadas por Moisés. Entre os indícios de que os relatos foram recontados após a morte de Moisés encontram-se Deuteronômio 34.10-12 que mos- tram refletir umalonga história de experiência com profetas que não conseguiram se igualar a Moisés. Outros indícios são as notas 1 Relativo aos tempos primitivos. Antigo, primitivo. 2 Movimento filosófico do séc. XVIII que se caracterizava pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. O Pentateuco 1 19 históricas que se refere a uma época posterior à conquista da terra dos cananeus por Israel (Gn 12.6; 13.7) e identificam nomes de lu- gares que aparentemente foram atualizados para os que eram usados depois da morte de Moisés (compare Gênesis 14.14 com Josué 19.47 e Juízes 18.29). Alguns críticos radicais têm negado a possibilidade de en- volvimento sobrenatural de Deus na história e questionado a fi- dedignidade da história no Pentateuco. Contudo, qualquer visão do Pentateuco deve reconhecer a contribuição real de Moisés e a confiabilidade histórica de suas tradições (veja a discussão seguinte sobre o Pentateuco como história). Deuteronômio, o último livro do Pentateuco, foi composto por Moisés nas campinas de Moabe (Dt 1.1-5; 4.44-46; 29.1) pouco antes de sua morte (Dt 31.2,9,24). Os primeiros quatro livros prova- velmente compartilham o mesmo período e local de origem. Gênesis, Êxodo e Levítico, porém, podem ter sido escritos já por ocasião da convocação no Monte Sinai, trinta e oito anos antes. Essa localização em Moabe é particularmente apropriada porque Deus já tinha infor- mado Moisés de que ele não viveria para cruzar o Jordão e participar da conquista e povoamento de Canaã (Nm 20.10-13; 27.12-14). Ele precisava, portanto, legar3 com urgência ao seu povo a herança da revelação divina – o Pentateuco – que o Senhor lhe havia confiado. O profeta inspirado tinha de tratar de qualquer questão que o povo tivesse acerca de suas origens, propósito e destino naquele exato momento e lugar. A data da forma final do Pentateuco tal como veio das mãos de Moisés é cerca de 1400 a.C quarenta anos após a saída do Egito. A descrição do Pentateuco como torah, “instrução”, revela de imediato o seu propósito: educar o povo de Israel acerca de sua iden- tidade, sua história, seu papel entre as nações da terra e seu futuro. O Pentateuco contém informações acerca de coisas como a criação, o cosmo e a distribuição e dispersão de povos e nações. Entretanto, essas informações têm sua relevância principalmente em relação a Israel, povo a qual Moisés se dirigiu em Moabe. O propó- sito verdadeiro e último da literatura bíblica não pode ser separado de sua mensagem teológica. O Pentateuco procurava informar ao povo de Deus sobre sua identidade e objetivo. Embora os dois te- 3 Deixar como legado; transmitir, transferir. 1 O Pentateuco 20 • Capítulo 1 mas, venham à tona freqüentemente em Êxodo, especialmente em Deuteronômio, o texto chave que se declara à identidade e ao obje- tivo de Israel é Êxodo 19.4-6, aqui, na véspera do encontro para a aliança no Sinai, o Senhor falou com Israel: “Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas da águia e vos cheguei a mim. Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa”. Esse texto que constitui o núcleo do Pentateuco apresenta o tema central ao qual se relacionam todos os demais temas e ensinos e sob cuja luz eles e todo o Pentateuco devem ser entendidos. Nessa afirmação o Senhor proclamou que Ele mesmo havia conduzido Israel para si. O texto pressupõe de imediato a libertação de Israel, o ato redentor em que Deus venceu o Egito (“tendes visto o que fiz aos egípcios”) por meio de intervenção miraculosa (“como vos levei sobre asas de águia”). Declara, além disso, que o Deus soberano de todas as nações estava oferecendo a uma única nação – Israel – uma aliança que lhe concederia o privilégio de servir a todos os povos da terra como “reino de sacerdotes e nação santa”. Esse texto central evidencia o passado como futuro. A refe- rência ao êxodo naturalmente chama a atenção para o passado de Israel. Este havia saído do Egito, uma terra de escravidão, onde tinha permanecido temporariamente por 430 anos (Êx 12.40). A razão para a longa estada foi uma fome que forçou os patriarcas a fugir de Canaã em busca de ajuda. Outra razão, porém, foi que Jacó e seus filhos tinham começado a perder sua identidade como a família da promessa por se misturarem com os cananeus e se contaminarem com seus costumes ímpios. O sórdido4 acontecimento envolvendo Judá (Gn 38) ilustra essa tendência de modo muito mais claro. Moisés teve de reportar-se, dessa maneira, ao tempo dos an- cestrais da nação até o relato sobre a estada no Egito e até o próprio acontecimento do êxodo. Além disso, precisava explicar quem eram os patriarcas e por que Deus os chamou. A resposta se encontra na antiga aliança patriarcal. Um homem, Abraão, foi chamado do paganismo sumério para fundar uma nação que seria uma bênção para todas as nações 4 Que tem ou denota sordidez; imundo, abjeto, repugnante. O Pentateuco 1 21 que reconhecessem sua natureza e vocação peculiar (Gn 12.1-3). Israel era essa nação, essa descendência de Abraão, que agora estava pronto para desempenhar o papel revelado havia muito tempo. O propósito do chamado de Abraão e a promessa da aliança a ele confiada também são cuidadosamente declarados. A humanidade, que Deus criou segundo sua imagem objetivando dominar sobre sua criação (Gn 1.26,28), violou essa confiança sagrada e lançou todo o universo em ruína caótica5 e rebelião. O que se exigia era um povo chamado para fora dessa perdição a fim de manifestar obediência piedosa perante o mundo, atuar como mediadores e sacerdócio re- dentor e preparar de antemão a matriz pela qual o Deus encarnado poderia entrar no mundo e concretizar seus planos salvíficos e so- beranos de recriação. Esse povo era Israel. Com certeza, ele entendeu sua vocação, mas é provável que isso nunca tenha sido declarado plenamente até Moisés fazê-lo nas vésperas da conquista. A forma que essa recapitulação do significado de Israel assu- miu foi, evidentemente, o livro de Gênesis. Não é possível saber com certeza se o relato desses grandes eventos já existia antes em forma escrita, embora haja fortes indícios disso no próprio livro de Gênesis (Gn 2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10; 11.27; 25.12; 25.19; 36.1). Moisés deu forma à história como a conhecemos hoje. Ele forneceu a Israel a base histórica e teológica da condição de povo peculiar (isto é, “propriedade peculiar” de Deus). O restante do Pentateuco é, em grande parte, narração histórica dos eventos con- temporâneos a Moisés e sua geração. Inserida nela, estão o texto da aliança do Sinai (Êx 20.1; 23.33), instruções para a criação do taber- náculo (Êx 25.1-27.21; 30.1-38; 35.4-39.43; Nm 7.1-8.4); seleção e consagração de um sacerdócio (Êx 28.1-29.46); sistema de sacrifícios e outros regulamentos culturais (maior parte de Levítico); Lei e ritual apropriado para o povo no deserto (Nm 5.1-4; 9.15-32) e o texto da renovação da aliança (maior parte de Deuteronômio). Todas essas seções não-narrativas e mesmo as narrativas remetem ao tema de Israel como uma comunidade de sacerdotes. O Pentateuco, dessa forma, conta de onde veio Israel e por que razão. Informando como ele entrou em aliança com o Senhor em seguida 5 Que está em caos; confuso, desordenado. 1 O Pentateuco 22 • Capítulo 1 à sua redenção do Egito, que exigências essa aliança impôs sobre ele e de que modo ele deve se comportar como povo-servo de um Deus santo e soberano. Os intérpretes assumem uma das três abordagens principais do Pentateuco como fonte histórica: 1. Muitos lêem o Pentateuco como um relato fiel dos eventos. 2. Críticos radicais desconsideravam o Pentateuco como uma fon- te para história. Por exemplo, Julius Wellhausen e sua escola de críticada fonte viam as narrativas – notadamente as de Gênesis – como reflexos do primeiro milênio a.C. que teriam sido com- postas, e não dos tempos de Moisés e dos patriarcas (segundo milênio a.C.). O crítico Hermann Gunkel uniu esse ceticismo histórico a uma rejeição do sobrenatural. Ele via os onze pri- meiros capítulos de Gênesis como mitos e lendas e as histórias dos patriarcas como lendas que fazem parte de uma tradição oral ou como poemas épicos. Os críticos mais radicais conside- ravam apenas o núcleo das tradições mosaicas, o próprio fato do êxodo, como história confiável. Mesmo esse evento tinha de ser despido de todos os seus matizes6 miraculosos antes que pudesse ser aceito como história no sentido estrito7. O restante das histórias de Moisés era considerado embelezamento de fatos reais ou fictícios idealizadas para justificar crenças e práticas religiosas posteriores. 3. Outros vêem o Pentateuco principalmente como uma interpre- tação teológica de pessoas e acontecimentos reais. Para esses intérpretes, nas narrativas foram escritas da perspectiva de uma época posterior. Tais estudiosos divergem amplamente quanto à possibilidade e valor de se descobrirem os “fatos nus” por trás da interpretação bíblica do que ocorreu. Muitos estudiosos entendem que as descobertas da arque- ologia científica, relativas à Bíblia servem para confirmar que o Pentateuco se encaixa melhor exatamente no ambiente do segundo milênio a.C. em que o Antigo Testamento o situa. Assim, a descoberta de histórias antigas, sumérias e babilônicas sobre criação e dilúvio na biblioteca de Assurbanipal em Nínive, bem como em outras lo- 6 Adornar, ornar, enfeitar, alindar; variar, diversificar. 7 Rigoroso, exato. Que não comporta extensão ou analogia; preciso, restrito. O Pentateuco 1 23 calidades, tem proporcionado crédito à Antigüidade desses relatos na tradição israelita. Milhares de documentos de Ebla, Mári, Alalakh e Nuzi con- firmam, para alguns intérpretes, que o estilo de vida, usos e costumes dos patriarcas encaixa-se melhor na Idade Média do Bronze (cerca de 2000-1500 a.C.) em que a cronologia bíblica os coloca. Semelhantemente, o ambiente agora bem conhecido do Novo Reino do Egito e Amarna Canaã (cerca de 1570–1300 a.C.) demonstra que o relato da história de Israel atribuído à época de Moisés é com- patível com aquele período. Em suma, a historicidade do Pentateuco é afirmada pelo muito que foi ou está sento entendido acerca do seu contexto no mundo antigo. Embora isso não possa provar (e de fato não prova) a historicidade dos detalhes específicos, em especial dos episódios da vida particular de algumas pessoas, bem como de in- tervenções miraculosas, a evidência mostra que o Pentateuco relata fatos históricos genuínos centrados em personagens reais. A importância fundamental e a relevância do Pentateuco re- sidem em sua teologia, não em sua historicidade ou mesmo em sua forma literária. Que verdade Deus está comunicando acerca de si e de seus propósitos? Que significado essa comunicação tinha para o Israel do AT e para a Igreja do NT (teologia bíblica)? Que significado ela tem para a teologia cristã contemporânea? Tais perguntas, é óbvio, estão relacionadas à questão do tema do propósito do Pentateuco, assunto com que já lidamos an- teriormente. O contexto histórico, social e religioso dos escritos mosaicos aponta para o seu propósito de instruir Israel acerca do seu passa- do, presente e futuro. A nação havia sido redimida pelo grandioso evento do êxodo com resultado da livre escolha de Israel por Yahweh (“aportuguesado Javé”), em cumprimento das promessas feitas aos patriarcas. Israel tinha de entender o contexto dessas promessas e seu necessário cumprimento sob o prisma da salvação do êxodo e da subseqüente aliança no Sinai. Israel agora herdeiro da aliança e o povo-servo encarregado de mediar os propósitos salvadores de Javé para toda a terra. O grande tema do Pentateuco, portanto, é o tema da: recon- ciliação e da ressurreição. A criação de Deus, afetada pela desobe- diência humana, necessita de restauração. A humanidade, tendo-se 1 O Pentateuco 24 • Capítulo 1 alienado8 de Deus, necessita de perdão. O plano redentor de Deus começou com uma promessa solene de que abençoaria o mundo por intermédio de Abraão e de sua descendência (Israel). A promessa foi expressa numa aliança concedendo a Abraão, descendentes e terra e designando-o como instrumento de Deus para a redenção. Séculos mais tarde, essa aliança com Abraão incorporou uma aliança de outra espécie. A aliança do Sinai – um tratado soberano-vassalo – oferecia a Israel o papel de mediação redentora se ele se submetesse ao domínio de Deus. A aceitação desse papel de servo por parte de Israel produziu todo o aparato9 da lei, ritual religioso e sacerdócio. Essas instruções capacitavam à nação a viver sua tarefa de servo como povo santo e, por meio dessa santidade, atrair à humanidade perdida para o único Deus vivo e verdadeiro. Esta é, em resumo, a teologia do Pentateuco. O cristão também faz parte de um “reino de sacerdotes” (Êx 19.6; 1Pe 2.5,9; Ap 1.6), com privilégios e responsabilidades corres- pondentes aos do Israel do Antigo Testamento. A Igreja, bem como todo e qualquer indivíduo salvo, encon- tra-se dentro da corrente das promessas graciosas da aliança com Deus. Os salvos são feitos “filhos de Deus” (Jo 1.12), libertados da escravidão do pecado por meio de um êxodo da redenção pessoal, colocados no caminho da peregrinação para a terra prometida e su- pridos de todos os recursos mediante a nova aliança em que atuarão como instrumentos da graça reconciliadora de Deus. A teologia do Pentateuco é importante para os cristãos porque apresenta os planos eternos de Deus quanto à criação e redenção. 8 Cedido, transferido; vendido. 9 Ostentação em atos públicos ou particulares. Magnificência, luxo, pompa. O Pentateuco 1 25 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. Sabemos que o Pentateuco é formado pelos cinco primeiros livros da Bíblia; porém, para os judeus é conhecido mais como a) ☐ Lei do Sinai b) ☐ Torá c) ☐ Proféticos d) ☐ Lei Abraâmica 2. Deuteronômio, o último livro do Pentateuco, foi composto por a) ☐ Josué nas planícies do Jordão b) ☐ Abraão no monte Moriá c) ☐ Moisés nas campinas de Moabe d) ☐ Arão no monte Sinai 3. O Pentateuco contém informações acerca de coisas como a) ☐ Os cativeiros do povo de Israel nas nações: Assíria, Babilônia e Egito b) ☐ O estabelecimento de juízes e reis c) ☐ A restauração dos povos e nações primitivos d) ☐ A criação, o cosmo e a distribuição e dispersão de povos e nações 4. A importância fundamental e a relevância do Pentateuco residem em sua a) ☐ Teologia b) ☐ Historicidade c) ☐ Harmonia d) ☐ Forma literária 5. O grande tema do Pentateuco, portanto, é a) ☐ O restabelecimento de Israel como nação 1 O Pentateuco 26 • Capítulo 1 b) ☐ O tema da: reconciliação e da ressurreição c) ☐ A saída do povo hebreu do Egito à Canaã d) ☐ Os milagres operados no deserto Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) Moisés deu forma à história como a conhe- cemos hoje. Ele forneceu a Israel a base his- tórica e teológica da condição de povo pecu- liar (isto é, “propriedade peculiar” de Deus) 7.( ) O plano redentor de Deus começou com uma pro- messa solene de que abençoaria o mundo por inter- médio de Noé e de sua descendência (seus filhos) 8.( ) A teologia do Pentateuco é importante para os cristãos porque apresenta os planos eter- nos de Deus quanto à criação e redenção. Anotações 27 AnotaçõesAnotações Anotações 28 O Pentateuco 1 29 O Pentateuco – Narrativa histórica unificada? O Pentateuco contém uma grande variedade de material: histórias, episódios, leis, rituais, regulamentos, cerimônias, registros cronológicos, exortações, etc. Ainda assim, é uma narrativa histórica unificada. A importância vital dessa narrativa histórica é atestada por seu uso no Novo Testamento como pano de fundo e preparação para a obra de Deus em Cristo. Os autores do Novo Testamento recorrem especialmente à seqüência dos atos divinos desde o chamado de Abraão até ao rei- nado de Davi. Um exemplo marcante é o discurso de Paulo aos judeus na sinagoga de Antioquia da Pisídia (At 13.17-41). Ele começa (v. 17- 23) com um resumo confessional do que Deus fez desde Abraão até Davi, passando depois de imediato para Jesus Cristo. Paulo infere10 que a história desde os patriarcas até Davi é a parte mais significativa da narrativa do Antigo Testamento. Ele afirma que Cristo é o ápice e o cumprimento dos propósitos redentores de Deus ali iniciados. Há resumos semelhantes no Antigo Testamento, especial- mente a confissão prescrita para o ritual das primícias (Dt 26.5-10; denominada “o Pentateuco resumido”; compare Dt 6.20-24 e Js 24.2- 13). Essas narrativas contêm os mesmos detalhes básicos dos atos salvíficos de Deus: • Deus escolheu Abraão e seus descendentes (At 3.25; Js 24.3) e lhes prometeu a terra de Canaã (Dt 6.23). • Israel desceu ao Egito (At 13.17; Js 24.5-7; Dt 6.21s.; 26.8). • Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometera (At 13.19; Js 24.11-13; Dt 6.23; 26.9). Os blocos que formam o Pentateuco, portanto, são promessas, eleição, livramento, aliança, lei e terra. 10 Tirar por conclusão; deduzir pelo raciocínio. 1 O Pentateuco 30 • Capítulo 1 O elemento central dessas confissões de fé é o Êxodo, pois representa tanto o livramento concedido por Javé a Israel, encerrando sua escravidão no Egito, como sua eleição para povo de Deus. O ato salvífico central de Javé na história de Israel, o Êxodo, serve de modelo para outros atos salvíficos (cf. Am 2.4-10; 3.1s; Jr 2.2-7; Sl 77.13-19). Eis o enredo11 da narrativa do Pentateuco: Javé escolheu o povo e os livrou de modo dramático no mar Vermelho como sua “propriedade peculiar dentro todos os povos” (Êx 19.5). Depois os uniu a si por meio de sua aliança como seu Deus. Seu livramento gracioso, imerecido, é, portanto, a base da aliança. Javé deu a lei a seu povo, como se lhes fosse uma constituição. Essa história é registrada de Êxodo a Deuteronômio. Gênesis 12-50, o prólogo patriarcal, apresenta a promessa de que o livramento do Egito,o cumprimento da aliança e a posse da terra serão concretizados. O elemento promessa nessa estrutura narrativa é importante e essencial. É apresentado em sua forma mais sucinta12 nas palavras de Deus a Abraão em Gênesis 12.1-2. Como revela a passagem, essa promessa contém três aspectos. Consistem em terra, nacionalidade e bênção. Em outras formulações da promessa, no entanto, o terceiro elemento, a promessa de bênção, é expresso de outras maneiras: “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência” (Gn 17.7a,19); “Serei contigo” (Gn 26.3,24; 28.15; 46.4; Êx 3.12); “Para ser o teu Deus e da tua descen- dência” (Gn 17.7c; Êx 6.7; Lv 26.12); “Eu sou o Deus de Abraão, teu pai” (Gn 26.24; 46.3; 48.15). Todas essas formulações diferentes podem ser agrupadas com mais proveito à reflexão sob o título “a promessa de um rela- cionamento com Deus”. Essa promessa, portanto, cujo cumprimen- to se verifica apenas parcialmente no próprio Pentateuco, inclui a posteridade (nacionalidade, comunidade), um relacionamento divino-humano e a terra. Esse tema tripartido13 é repetido nas histórias acerca de Abraão (cf. Gn 13.14-17; 15.2-5,18-21; 17.7s, 15-19). Renova-se em cada geração patriarcal: Isaque (Gn 26.2-4), Jacó/Israel (Gn 28.13; 35.11-13), e, José e seus filhos (Gn 48.1-6). Seu cumprimento é pro- 11 Intriga, mexerico, confusão. Manha, ardil, maquinação. 12 Que consta de poucas palavras; breve, resumido, condensado, conciso. 13 Dividido em três partes; tripartite. O Pentateuco 1 31 metido no livramento iniciado no Êxodo (Êx 6.6-8; Dt 34.1-4). A história toda recebe um significado teológico especial por causa de sua relação com o prefácio, o prólogo primevo (Gn 1-11). Em contraste com a perspectiva mais restrita da promessa e da eleição, que caracteriza Gênesis 12 a Deuteronômio 34, a pers- pectiva de Gênesis 1-11 é universal. Volta-se para a própria criação. Diz como, o homem e mulher passaram a ser inimigos de si mesmos, alienados e separados de Deus e de seu próximo. A sina14 deles envolve desarmonia social, bem como a aliena- ção individual. Em vista dessa profunda alienação humana, o autor de Gênesis 1-11 trata da questão fundamental do relacionamento futuro de Deus com a criação. Estaria esgotada a perseverança paciente de Deus? Teria ele condenado as nações a uma ira perpétua? Em resposta a essas per- guntas, a eleição e a bênção de Abraão possuem grande significado para toda a humanidade. Assim, é notável o contraste entre Gênesis 1-11 e a história particularizada de promessa, eleição, livramento e aliança que ocupa o restante do Pentateuco. No relacionamento especial de Deus com Abraão e seus descendentes repousa a resposta para a angústia de toda a família humana. O Pentateuco, portanto, possui duas divisões principais: • Gênesis 1-11 • Gênesis 12 à Deuteronômio 34 A relação entre ambas é de pergunta e resposta, problema e solução; a chave é Gênesis 12.3. Essa estrutura não só evidencia à unidade nítida do Penta- teuco, mas também revela que a estrutura que aqui inicia estende- se muito além do próprio Pentateuco. No final de Deuteronômio, Israel como o povo da aliança de Deus na terra da promessa ainda permanece no futuro. Aliás, a plena concretização do plano de Deus 14 Sorte, destino, fado, fadário. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. 1 O Pentateuco 32 • Capítulo 1 não está além somente de Deuteronômio 34, mas também de todo o Antigo Testamento, que não apresenta, em parte alguma, a solução final para o problema universal retratado de modo tão incisivo em Gênesis 1-11. Essa consumação encontra-se no Filho de Abraão (Mt 1.1), que atrai todas as pessoas para si (Jo 12.32). Ele assim encerra alie- nação da humanidade para com Deus e dos indivíduos entre si, re- tratada de modo tão pungente15 no prólogo primevo. 15 Que punge. Comovente, doloroso, lancinante. Quando o Antigo Testamento termina, Israel ainda está à espera da consumação final, quando a esperança será cumprida, e a promessa, concretizada. Anotações O Pentateuco 1 33 Qual é a origem do Pentateuco? O Pentateuco revela, além da clara unidade definida de pro- pósito e plano, uma diversidade igualmente impressionante. Essa complexidade tem dado lugar a várias teorias acerca de sua origem. Muitas dessas teorias, infelizmente, oferecem opiniões acerca de sua origem, data e autoria que avaliam negativamente seu valor histórico e teológico. Uma vez que se entenda que o Pentateuco ori- ginou-se muitos séculos após o período mosaico, pensa-se às vezes que preserva poucas informações históricas genuínas. Por exemplo, J. Wellhausen, um eloqüente proponente16 dessas teorias, via o Pentateuco como um produto dos períodos do exílio e do pós-exílio e, portanto, somente como o ponto de partida para a história do judaísmo e não do antigo Israel. Embora a concepção de Wellhausen esteja hoje tão modificada, a ponto de ser quase irreco- nhecível, a modificação não resultou numa avaliação mais favorável ao Pentateuco. Aliás, de acordo com uma escola de pensamento im- portante acerca do Antigo Testamento, representada por estudiosos como Martin Noth, mal se pode fazer alguma declaração histórica positiva com base nas tradições do Pentateuco. Noth alega que é errado ver Moisés como o fundador de uma religião ou mesmo falar de uma religião mosaica.Como vimos, porém, o Pentateuco é uniforme na afirmação de que Deus tem agido na história em favor de toda a família huma- na nos eventos das histórias dos patriarcas e de Moisés. Concepções como as de Noth atacam o próprio cerne da proclamação bíblica. Reagir contra tais críticas extremistas é a única abordagem possível para os que confiam na verdade da Bíblia. É preciso combater o erro. Entretanto, os estudiosos conservadores com muita freqüên- cia reagem indo para outro extremo, sem produzir uma introdução completa ao Pentateuco – uma introdução que leve em consideração tanto às provas da unidade básica da Lei, como à diversidade em que se baseiam as teorias de abordagem negativa. 16 Que ou quem propõe. 1 O Pentateuco 34 • Capítulo 1 Evidências Literárias da Complexidade Assim que se começa a lidar com o caráter literário do Penta- teuco, depara-se com uma mistura de lei e história. Nenhum código de leis, antigo ou moderno, traz algo parecido. A narrativa histórica atravessa e interrompe constantemente a legislação. Essa dualidade deve ser reconhecida quando se busca a origem do Pentateuco. Deus não se limitou a promulgar17 um có- digo de leis ou a redimir o povo por meio de uma série especial de atos salvíficos. Fez uma coisa e outra, escolheu um povo e pela lei estabeleceu um relacionamento com ele. O Pentateuco, portanto, possui um caráter duplo intencional: blocos de conteúdo legal totalmente integrados à narrativa. Outras complexidades literárias também se tornam óbvias numa análise cuidadosa do texto: • Tanto a narrativa como a divisão legal apresenta uma notável falta de continuidade e ordem quanto ao assunto tratado. Por exemplo, não há seqüência entre Gênesis 4.26 e 5.1; aliás, Gênesis 2.4b – 4.26 interrompe a linha do relato de Gênesis 1.1-2.4a; 5.1ss. De novo, há uma descontinuidade clara entre Gênesis 19.38 e 20.1, assim como entre Êxodo 19.25 e 20.1. De fato, o decálogo que se encontra em Êxodo 20.1-17 distingue-se da narrativa de seu contexto literário (Êx 19.1-25; 20.18-21). Além disso, os próprios códigos legais não são agrupados sob nenhuma ordem lógica. • Dada à diversidade do material, não é de surpreender que se en- contrem diferenças significativas de vocabulário, sintaxe18, estilo e de composição geral das várias seções da obra. Tais diferenças, por exemplo, são manifestadas na comparação dos códigos de leis de Levítico e de Deuteronômio. • Outra evidência de complexidade literária é o uso variável dos nomes divinos Javé (“Senhor”) e Elohim (“Deus”) de Gênesis 1 à Êxodo 6. Embora esses nomes muitas vezes ocorram sem evi- denciar nenhum motivo que justifique a escolha, alguns capítulos ou partes de capítulos, especialmente em Gênesis, usa exclusiva ou predominante um nome ou outro. Há uma correlação entre 17 Transmitir ao vulgo; tornar público; publicar oficialmente. 18 Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si; construção gramatical. O Pentateuco 1 35 o nome escolhido e os conceitos teológicos apresentados na passagem. • Ocorrem duplicações ou triplicações de material no Pentateu- co. O que interessa não são as repetições simples de material idêntico, mas a repetição do mesmo assunto básico, repleto de elementos em comum, mas com certas divergências marcantes. Embora expoentes zelosos da teoria da fonte documentária tenham identificado com duplas passagens que teriam outras explicações muito mais simples, permanece o fato de que certos números de tais duplicações não podem ser explicados de pronto. Por exemplo: Em dois relatos, Abraão arrisca a honra de Sara fazendo-a passar por sua irmã (Gn 12; 20; compare o episódio surpreendentemente parecido de Isaque, Gn 26.6-11). O nome Berseba19 comemora não apenas uma aliança entre Abraão e Abimeleque (Gn 21.22-31), mas também um acordo entre Isaque e Abimeleque (Gn 26.26-33). A passagem sobre animais puros e impuros em Levítico 11.1-47 aparece duplicada em Deuteronô- mio 14.3-21, e a passagem acerca de escravos ocorre três vezes (Êx 21.1-11; Lv 25.39-55; Dt 15.12-18). As evidências insinuam uma longa história de transmissão e de desenvolvimento do texto. Um número notável de termos, fatos e observações exigem uma data posterior à de Moisés. Declarações como “nesse tempo os cananeus habitavam essa terra” (Gn 12.6; 13.7) e “comeram maná até que chegaram aos limites da terra de Canaã” (Êx 16.35) implicam que Israel já ocupava Canaã. Gênesis 14.14 indica que Abraão perseguiu os captores de Ló até Dã, mas o lugar só recebeu esse nome quando Dã capturou a cidade após a conquista (Js 19.47; Jz 18.29). 19 Poço do Juramento. 1 O Pentateuco 36 • Capítulo 1 O Pentateuco 1 37 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. O Pentateuco contém uma grande variedade de material, a saber a) ☐ Cinco livros representados por escritores inspirados e intér- pretes da lei b) ☐ Histórias, episódios, leis, rituais, regulamentos, cerimônias, registros cronológicos, exortações c) ☐ Regras para sobrevivência humana, exortações acerca do plano para a salvação d) ☐ Profecias que já se cumpriram e que ainda se cumprirão 10. Os autores do Novo Testamento recorrem especialmente à se- qüência dos atos divinos desde o a) ☐ Chamado de Abraão até o ministério de Moisés b) ☐ Chamado de Moisés até o reinado de Salomão c) ☐ Chamado de Abraão até o reinado de Davi d) ☐ Chamado de Moisés até à entrada em Cana 11. Não faz parte da história registrada de Êxodo a Deuteronômio a) ☐ Deus escolheu Abraão e seus descendentes e lhes prometeu a terra de Canaã b) ☐ Javé deu a lei a seu povo, como se lhes fosse uma constituição c) ☐ O livramento gracioso de Deus, imerecido, é, portanto, a base da aliança d) ☐ Javé escolheu o povo e os livrou de modo dramático no mar Vermelho como sua “propriedade peculiar dentro todos os povos” 12. Gênesis 12-50, o prólogo patriarcal, apresenta a promessa que contém três aspectos fundamentais. Portanto, assinale o incorreto a) ☐ Terra b) ☐ Nacionalidade 1 O Pentateuco 38 • Capítulo 1 c) ☐ Bênção d) ☐ Cessar dos conflitos 13. É errado dizer que a) ☐ Assim que se começa a lidar com o caráter literário do Penta- teuco, depara-se com uma mistura de lei e história b) ☐ A legislação atravessa e interrompe constantemente a narrati- va histórica. Essa dualidade deve ser reconhecida quando se busca a origem do Pentateuco c) ☐ Deus não se limitou a promulgar um código de leis ou a redi- mir o povo por meio de uma série especial de atos salvíficos. Fez uma coisa e outra, escolheu um povo e pela lei estabeleceu um relacionamento com ele d) ☐ O Pentateuco, portanto, possui um caráter duplo intencional: blocos de conteúdo legal totalmente integrados à narrativa Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) O Pentateuco é uma narrativa histórica unificada. A importância vital dessa narrativa histórica é atesta- da por seu uso no Novo Testamento como pano de fundo e preparação para a obra de Deus em Cristo 15.( ) O Pentateuco revela, além da clara unidade defi- nida de propósito e plano, uma diversidade igual- mente impressionante. Essa complexidade tem dado lugar a várias teorias acerca de sua origem 16.( ) Em dois relatos, Abraão arrisca a honra de Sara fazen- do-a passar por sua irmã (Gn 12; 20). Episódio sur- preendentemente parecido com de Jacó (Gn 26.6-11) Anotações 39 AnotaçõesAnotações Anotações 40 O Pentateuco 1 41 Autoria do Pentateuco É comum nos círculos liberais ou neo-ortodoxos20 afirmar que Moisés não tem relação com a composição do Pentateuco. A maior parte dos críticos que sustentam essa versão acredita que os ditos livros de Moisés foram escritos por diversos autores anônimos, tendo início no século IX a.C. e terminando com a parte final, o “Código sacerdotal”, por volta de 445 a.C. – a tempo de Esdras lê-lo em voz alta na Festa dos Tabernáculos (cf. Ne 8). Outros especialistas, de modo especial, os da escola da crí- tica da forma, acham que só pequeníssima parte do Pentateuco foi escrita até o tempo de Esdras, ainda que algumas partes tenham existido antes sob a forma de tradição oral, durante séculos – talvez remontando ao tempo do próprio Moisés. Tendo em vista o consenso entre os especialistas não-evangé- licos de que as vindicações da autoria mosaica são todas especiosas21, é bom que façamos uma revisão, pelo menos breve, da evidência sólida e irresistível, tanto interna como externa, de que o Pentateuco todo é obra autêntica de Moisés sob a inspiração do Espírito Santo. 20 Teologia elaborada por Karl Barth, Emil Brunner e Reinhold Niebuhr. Seu objetivo: opor-se ao liberalismo que, desde o século XIX, vinha levando o povo de Deus à apatia. 21 De aparências enganadoras; ilusório, enganoso. 1 O Pentateuco 42 • Capítulo 1 Testemunho Bíblico da Autoria Mosaica Qual o testemunho bíblico da autoria mosaica? O Pentateuco com freqüência se refere a Moisés como seu autor, a começar por Êxodo 17.14: “Então, disse o SENHOR a Moi- sés: Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué, porque eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu”. Em Êxodo 24.4 lemos: “Moisés escreveu todas as palavras do SENHOR...”. Lemos, ainda, no v. 7: “E tomou o livro da aliança e o leu ao povo...”. Outra referência ao fato de Moisés ter escrito o Pentateuco encontra-se em Êxodo 34.27, Números 33.1,2 e Deuteronômio 31.9, das quais, na última temos: “Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes...”. Dois versículos adiante encontram uma exigência se- vera a respeito do futuro: “... quando todo o Israel vier a comparecer perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que este escolher, lerá esta lei diante de todo o Israel”. Essa norma sabidamente percorre Êxodo, Levítico, Números e a maior parte de Deuteronômio (pelo menos até o capítulo 30, inclusive). Mais tarde, após a morte de Moisés, o Senhor deu estas ins- truções a Josué, sucessor de Moisés: “Não cesses de falar deste livro da lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhascuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido” (Js 1.8). Negar a autoria de Moisés significa que todos os versículos acima citados são infundados22 e indignos de aceitação. Josué 8.32- 34 registra que a congregação de Israel estava reunida fora da cidade de Siquém, no sopé23 do monte Ebal e do monte Gerizim, quando Josué leu em voz alta a lei de Moisés, escrita em tábuas de pedra, e os trechos de Levítico e de Deuteronômio referentes às bênçãos e 22 Que não tem fundamento, alicerce, base ou motivo; sem razão de ser; desmotivado. 23 Base (de montanha); falda. A parte inferior de encosta, muro, etc. O Pentateuco 1 43 às maldições, como Moisés havia feito anteriormente (cf. Dt 27.26). Se a hipótese documentária estiver correta, esse relato tam- bém deve ser rejeitado por se tratar de mera invencionice. Outras referências do Antigo Testamento à autoria mosaica do Pentateuco são 1Reis 2.3; 2Reis 14.6; 21.8; Esdras 6.18; Neemias 13.1; Daniel 9.11-13 e Malaquias 4.4. Todos esses testemunhos também deveriam ser totalmente rejeitados por se tratar de erros. Cristo e os apóstolos igualmente de- ram testemunho inequívoco24 de que Moisés foi o autor da Torá (Lei). Em João 5.46,47, Jesus disse: “Porque, se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; portanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?”. Deveras! De maneira semelhante, em João 7.19 Jesus disse: “Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa...”. Se a confirmação de Cristo de que Moisés foi de fato o autor do Pentateuco é descartada – como de fato o faz a teoria da crítica moderna – segue-se indubitavelmente25 a negação da autoridade do próprio Cristo. Pois, se o Senhor estava enganado a respeito de uma verdade factual26 e histórica desse tipo, poderia enganar-se também a respeito de princípios e doutrinas que estivesse ensinando. Em Atos 3.22 Pedro diz a seus compatriotas: “Disse, na ver- dade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser” (cf. Dt 18.15). Afirmou Paulo em Romanos 10.5: “Ora, Moisés des- creve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que pratica a justiça decorrente da lei viverá por ela”. Mas a teoria JEDP27, de Wellhausen, e a crítica moderna racionalista negam que Moisés tenha escrito quaisquer dessas coisas. Isso significa que Cristo e os apóstolos estavam totalmente enganados ao julgarem que Moisés as tenha escrito de fato? Um erro dessa categoria, tratando-se de fatos históricos que podem ser atestados, levanta séria dúvida quanto a poderem os en- 24 Em que não há equívoco; claro, evidente, manifesto. 25 Sobre que não pode haver dúvida; incontestável, irrefragável. 26 Relativo a, ou que se baseia em fato(s). 27 A sigla refere-se aos códigos Eloísta, Javista, Deuteronômico e Sacerdotal (“Priestly” em inglês, de onde se extrai o “P”). 1 O Pentateuco 44 • Capítulo 1 sinos teológicos que tratam de assuntos metafísicos28 fora de nossa capacidade de comprovação, ser aceitos como dignos de confiança ou cheios de autoridade. Assim vemos que a questão da autentici- dade de Moisés como escritor do Pentateuco é assunto da maior importância para o cristão. A autoridade do próprio Cristo está em jogo nessa questão. 28 Transcendente. Difícil de compreender; sutil, nebuloso. Anotações O Pentateuco 1 45 Evidência Interna da Composição Mosaica Qual a evidência interna da composição mosaica? Além dos testemunhos diretamente oriundos29 dos trechos do Pentateuco mencionados acima, temos o testemunho de alusões30 fortuitas31 a acontecimentos ou questões da época, a situações so- ciais ou políticas ou a assuntos relacionados ao clima ou à geografia. Quando todos esses fatores são pesados de modo imparcial e corretos, chega-se à seguinte conclusão: o autor desses livros e seus leitores devem ter vivido originariamente no Egito. Além disso, esses fatores revelam que tiveram pouco ou nenhum conhecimento direto da Palestina, dela sabendo apenas por meio de tradições orais, vindas de seus antepassados. Citamos as seguintes evidências: 1. O clima e as condições atmosféricas mencionadas no Êxodo são tipicamente egípcias, não palestinas (cf. a referência à seqüência da colheita, em relação à praga da saraiva, em Êxodo 9.31,32). 2. As árvores e os animais a que se faz referência de Êxodo a Deu- teronômio são todos naturais do Egito ou da Península do Si- nai, e nenhum deles é peculiar à Palestina. A árvore chamada acácia é nativa do Egito e do Sinai, mas dificilmente se encontra em Canaã, exceto ao redor do mar Morto. Essa árvore forneceu madeira para grande parte do mobiliário do tabernáculo. As peles com que o exterior do tabernáculo foi recoberto eram de um animal chamado tahas, ou dugongo, que é estranho à Palesti- na, mas encontrado nos mares adjacentes ao Egito e ao monte Sinai. Quanto à lista de animais limpos e imundos que encontra- mos em Levítico 11 e em Deuteronômio 14, alguns são peculiares à Península do Sinai, como o dîson, ou ovelha montês (Dt 14.5); o ya‘anah, ou avestruz (Lv 11.16); e ote’ô, ou antílope selvagem (Dt 14.5). 29 Originário, proveniente, procedente; natural. 30 Menção, referência, relação. 31 Casual, acidental, eventual. Inopinado, imprevisto. 1 O Pentateuco46 • Capítulo 1 É difícil imaginar como uma lista desse tipo poderia ter sido feita nove séculos após o povo de Israel ter vivido todo esse tempo numa terra que não tinha nenhum desses animais. 3. Mais conclusivas ainda são as referências geográficas que anun- ciam perspectivas de uma pessoa não familiarizada com a Pa- lestina, mas boa conhecedora do Egito. • Em Gênesis 13.10, em que o autor deseja transmitir aos leitores como era verde o vale do Jordão, ele o compara a uma localida- de bem conhecida da região oriental do delta do Nilo, perto de Mendes, entre Busiris e Tânis. Declara ele que o vale do Jordão era “como a terra do Egito, como quem vai para Zoar”. Nada poderia ser mais evidente com base nessa referência casual que o fato de o autor estar escrevendo para um grupo de pessoas não-familiarizadas com a aparência das regiões da Palestina, mas pessoalmente familiarizadas com a aparência do baixo Egito. Tal familiaridade só poderia crescer no próprio Egito, e isso se en- quadram muito bem numa datação mosaica para a composição do livro de Gênesis. • A fundação de Quiriate-Arba (nome pré-israelita de Hebrom, no sul de Judá), segundo Números 13.22, ocorreu “sete anos antes de Zoã no Egito”. Isso implica com toda a clareza que os leitores de Moisés estavam bem cientes da data da fundação de Zoã, mas desconheciam a data em que Hebrom – que se tornaria uma das mais importantes cidades de Israel após a conquista – havia sido fundada. • Em Gênesis 33.18 há uma referência a “cidade de Siquém na terra de Canaã”. Para um povo que havia vivido na Palestina mais de sete séculos a partir da conquista (de acordo com a data atribuída a essa passagem pela escolha de Wellhausen), parece-nos estranho ser preciso dizer que uma cidade tão importante como Siquém ficava “na terra de Canaã”. Todavia, seria perfeitamente cabível um povo que ainda não se houvesse estabelecido ali – como era o caso do povo conduzido por Moisés. 4. A atmosfera e a ambientação do deserto prevalecem por toda a narrativa, desde Êxodo 16 até o fim de Deuteronômio (con- quanto haja algumas referências à agricultura, como previsões das condições da terra que logo o povo haveria de conquistar). A importância atribuída a um grande tabernáculo (tenda) como O Pentateuco 1 47 lugar central de culto e reunião, dificilmente teria pertinência32 a um público leitor que houvesse vivido na Palestina mais de sete séculos, e só estivesse familiarizado com o templo de Salomão ou com o de Zorobabel como santuário central. A explicação de Wellhausen para isso, que o tabernáculo era simplesmente extrapolação artificial do templo, não se harmoniza aos fatos reais; o templo era muito diferente em tamanho e no mo- biliário em comparação ao tabernáculo, descrito na Torá. Todavia, nem mesmo essa teoria de ficção histórica supre alguma explicação sobre por que os contemporâneos de Esdras teriam estado tão in- teressados num mero tabernáculo a ponto de a ele devotar tantos capítulos em Êxodo (25-40) e a ele referir-se em quase três quartas partes de Levítico e também com muita freqüência em Números e em Deuteronômio. Não se consegue encontrar outro exemplo de tamanha atenção dada a uma estrutura que na verdade (segundo Wellhausen) jamais existiu, e nunca exerceu influência sobre a ge- ração para a qual aqueles textos foram escritos. 5. Há grande evidência de natureza técnica e lingüística que se pode reunir em apoio da existência de um contexto egípcio para todo o texto da Torá. Podem-se encontrar exemplos cheios de minúsculas a esse respeito no livro “Merece confiança o Antigo Testamento?” da Editora Vida Nova. Basta que se diga que existe um enorme número de nomes egípcios e de palavras tomadas de empréstimo da língua egípcia que se encontram mais no Penta- teuco que em qualquer outra seção das Escrituras. Isso é o que se poderia esperar de um autor que houvesse sido educado no Egito e escrevesse para um povo nascido e vivido nesse mesmo ambiente. 6. Se o Pentateuco tivesse sido escrito entre os séculos IX e V a.C. como crê e ensina aquela Escola Documentária, e extrapolasse as práticas religiosas e as perspectivas políticas dos séculos V e VI, indo até os tempos de Moisés (mediante uma mentira piedosa), seria razoável esperar que esse documento espúrio33, forjado34 muito tempo depois de Jerusalém tornar-se a capital do reino israelita, ter-se-ia referido a Jerusalém por esse nome em muitas 32 Importante, relevante, válido. 33 Não genuíno; suposto, hipotético. Que não é do autor ao qual se atribui. Adulterado, modificado, falsificado. Ilegítimo, ilegal: 34 Falso, forjado. 1 O Pentateuco 48 • Capítulo 1 ocasiões. É certo que teria incluído algumas profecias sobre as futuras conquistas dessa cidade e de sua situação privilegiada como localidade permanente do templo de Javé. Entretanto, um exame minucioso de todo o texto de Gênesis até Deuteronômio leva-nos à espantosa conclusão de que o nome de Jerusalém jamais é mencionado. É certo que o monte Moriá aparece em Gênesis 22 como o local em que Abraão tentou oferecer o filho, Isaque, em sacrifício, mas nenhuma ideia há ali de que aquele seria o local do futuro tem- plo. Em Gênesis 14 há uma referência a Melquisedeque como “rei de Salém” – tampouco temos algum indício de que mais tarde essa cidade haveria de tornar-se a capital política e religiosa da comuni- dade hebraica. Em Deuteronômio 12.5-18 encontramos referências a um “lugar que o SENHOR, vosso Deus, escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e sua habitação; e para lá ireis”. Tais referências são verdades, são tão genéricas que podem incluir cidades como Siló e Gibeão, em que o tabernáculo foi guardado por longos períodos antes da construção do templo de Salomão; entretanto, é justo presumir que Deuteronômio 12.5 tenha a intenção de prever o estabelecimento do templo de Jerusalém. No entanto, é quase impossível explicar as razões por que essa obra de Moisés, alegadamente espúria, escrita muito mais tarde do que se supõe, deixe de mencionar Jerusalém pelo nome, embora houvesse o máximo de incentivos para que esse nome ali constasse. Só a suposição que a Torá foi autenticamente mosaica, ou pelo menos composta muito antes da conquista de Jerusalém no ano 1000 a.C. pode explicar a ausência do nome dessa cidade. 7. Ao datar documentos literários, é da maior importância avaliar os termos-chave aparentemente em uso na época em que o autor executou seu trabalho. No caso de um livro religioso, os títulos pelos quais Deus é caracteristicamente chamado assumem grande importância. Durante o período entre 850-450 a.C., encontramos crescente realce atribuído ao título de YHWH seba’ôt (Às vezes traduzido em nossas versões por “SENHOR dos Exércitos”). O Pentateuco 1 49 Esse nome confere especial realce à onipotência do Deus da aliança de Israel, e ocorre 67 vezes em Isaías (final do século VIII a.C.), 83 vezes em Jeremias (final do século VII e início do VI a.C.), treze vezes nos dois capítulos de Ageu (final do século VI a.C.) e 51 vezes nos catorze capítulos de Zacarias (final do século VI e início do V a.C.). Esses profetas cobrem quase todo o tempo durante o qual o texto do Pentateuco esteve sendo composto na forma dos manuscritos J, E, D e P. Entretanto, é de espantar que nem uma única vez o título “SENHOR dos Exércitos” se encontre no Pentateuco todo. Na pers- pectiva da ciência da literatura comparada, esse fato seria considerado evidência mais forte que a Torá teria sido composta numa época em que o título “SENHOR dos Exércitos” não era utilizado. Portanto, toda a Torá, até mesmo o chamado Código sacerdotal, devem ter sido compostos antes do século VIII a.C. Caso essa dedução seja válida, toda a hipótese documentária deve ser totalmente abandonada. 8. Se a parte do Pentateuco chamada Código sacerdotal de fato foi composta nos séculos VI e V a.C. seria de se esperar que algu- mas instituições caracteristicamentelevíticas e certos valores culturais do povo, introduzidos a partir dos dias de Davi, fossem mencionados com alguma freqüência no Pentateuco. Dentre estes, estariam os corais, formados pelos cantores do templo, os quais Davi organizou lançando 24 sortes (1Cr 25), e aos quais tantas referências esse fazem nos títulos dos Salmos. No entanto, nenhum coral organizado por cantores levíticos é mencionado uma única vez na Torá. A ordem dos escribas (soperîm) certamente teria sido mencio- nada, pois o grande chefe deles, o próprio Esdras, estaria concluindo grandes porções do Pentateuco a tempo de celebrar-se a Festa dos Tabernáculos em 445 a.C. – segundo a hipótese de Wellhausen. Entretanto, por alguma estranha razão, nenhuma referência se per- cebe, de modo algum à ordem dos escribas, nem à função deles, e tampouco um indício35 profético de que um dia haveria de existir um corpo de guardiões do texto sagrado. A partir da época de Salomão passou a existir uma importan- tíssima classe de serviçais no templo, conhecidos como netinins (“os 35 Sinal, vestígio, indicação. 1 O Pentateuco 50 • Capítulo 1 que foram dados”, i.e., dados para o serviço do Senhor no templo). O número dos netinins (392) que se uniram aos 42 mil que retornou da Babilônia em 538 a.C. está incluído nas estatísticas de Esdras 2.58 e de Neemias 7.60, ao lado da contagem dos levitas e dos sacerdotes. No entanto, não existem referências a eles ou previsão a respeito deles no “Documento P”. Que estranho! Desde o tempo de Davi, “o mavioso36 salmista de Israel” (2Sm 23.1), fazia-se uso abundante de vários instrumentos musicais (de corda, de sopro, de percussão – desses três tipos) em relação ao culto público diante de Deus. É certo que a sanção de Moisés para tão importante característica do culto levítico deveria aparecer na Torá, tivesse esta sido composta tardiamente, no século X a.C ou depois. É de surpreender, no entanto, que não exista uma única referência a instrumentos para acompanhamento musical no culto do tabernáculo. É impossível harmonizar esse fato com a data de composição no século V a.C. Não resta a menor dúvida de que um corpo sacerdotal profissional como esse, descrito pelos autores da crítica documentária, teria tido a maior das motivações para incluir tais instituições tão queridas entre as ordenações de “Moisés”. 9. (9) O Pentateuco, especialmente Deuteronômio, contém várias referências à futura conquista de Canaã pelos descendentes de Abraão. O autor de Deuteronômio escreve cheio de confiança em que as hostes hebraicas venceriam toda oposição dentro da terra de Canaã, derrotariam todos os exércitos inimigos e im- plodiriam todas as cidades que decidissem atacar. Isso se reflete com clareza em todas as repetidas exortações para que destruíssem todos os templos e santuários cananeus, e tudo se reduzisse a pó (Dt 7.5; 12.2,3; cf. Êx 23.24; 34.13). Visto que todas as nações defendem seus relicários37 sagrados com a máxima força de que é capaz, a presunção de que Israel seria capaz de destruir todos os santuários pagãos por toda a terra presume a supremacia militar do povo de Javé após a invasão de Canaã. Em que outra circunstância na carreira da nação hebréia poder-se-ia nutrir tão grande confiança senão nos dias de Moisés e de Josué? 36 Afável, afetuoso, terno. Piedoso, compassivo. 37 Recinto especial, ou urna, cofre, caixa, etc., próprio para guardar as relíquias de um santo; osculatório. O Pentateuco 1 51 Aqui, outra vez, a evidência interna aponta com força para uma data de composição nos dias de Moisés. Nada poderia estar mais fora da realidade do que supor que Josias, em 621 a.C., quando Judá era um pequenino estado vassalo38 sob o domínio do Império Assírio, pudesse almejar destruir todos os altares idólatras, demolir todos os altos (massebah), árvores veneradas (’aser‘ah) e esmagar todas as estruturas de templos, reduzindo-os a pó, de norte a sul, de leste a oeste da Palestina. Como poderia a pequenina colônia que lutava para sobreviver esperar eliminar todos os relicários religiosos de Dã até Berseba? A única conclusão que se pode tirar das ordens exaradas39 no Pentateuco para que se destruíssem todos os traços da idolatria é que estava na capacidade militar de Israel o poder de fazer cumprir essas ordens por todo o país. Nada, porém, seria menos cabível nos dias de Zacarias, de Esdras e de Neemias que planejar e executar tão grande extirpação do culto idólatra em toda a Palestina. A Grande batalha deles era a sobrevivência, em face das rei- teradas más colheitas e grandes hostilidades por parte das nações vizinhas. Nem o “Documento P” do tempo de Esdras, poderia har- monizar-se com as passagens aqui mencionadas. 10. Deuteronômio 13.2-11 prescreve a pena de morte por apedreja- mento para qualquer idólatra ou falso profeta, fosse irmão, es- posa, filho. Os versículos de 12 a 17 prosseguem dizendo que até mesmo uma cidade toda que se voltasse para a idolatria deveria ter todos os seus moradores sentenciados à morte. Todas as suas casas deveriam ser reduzidas a pó e cinza, todas as propriedades condenadas a essa excomunhão. Isso não é teoria visionária40, mas ordem séria com procedimentos investigadores nela em- butidos, o que refletia um programa que deveria ser posto em execução no Israel da época. No entanto, quando examinamos o registro bíblico da situ- ação espiritual de Judá no século VII a.C. (ou, na verdade, no séc. VIII, a partir do tempo de Acaz), descobrimos que a adoração de ídolo era tolerada em quase todos os recantos do reino – exceto durante a reforma religiosa empreendida por Ezequias e por Josias. Isso teria induzido à destruição de todas as cidades e vilas, incluin- 38 Que paga tributo a alguém. Subordinado, submisso. 39 Consignar ou registrar por escrito; lavrar. 40 Que tem ideias extravagantes; excêntrico. 1 O Pentateuco 52 • Capítulo 1 do-se Jerusalém. Ninguém cria leis cuja implementação seja totalmente im- possível de ser executada, por causa das condições reinantes. A úni- ca época em que tal legislação poderia ter sido posta em vigor foi a dos dias de Moisés e de Josué – e possivelmente nos dias de Davi (já nos dias de Salomão, o culto às relíquias nos “lugares altos” estava sendo praticado). O Pentateuco 1 53 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. Afirmam que Moisés não tem nenhuma relação com a composi- ção do Pentateuco a) ☐ Os neo-ortodoxos b) ☐ A escola da crítica da forma c) ☐ Os cristãos d) ☐ Os judeus 2. “Não cesses de falar deste livro da lei; antes, medita nele dia e noite...”. São instruções do Senhor dadas, após a morte de Moisés, à a) ☐ Calebe b) ☐ Eleazar c) ☐ Josué d) ☐ Finéias 3. Para evidenciar a composição mosaica, o clima e as condições atmosféricas mencionadas no Êxodo são tipicamente a) ☐ Palestinos b) ☐ Egípcios c) ☐ Babilônicos d) ☐ Assírios 4. Não está relacionado com as evidencias internas da composição mosaica a) ☐ Há grande evidência de natureza técnica e lingüística que se pode reunir em apoio da existência de um contexto egípcio para todo o texto da Torá b) ☐ A árvore chamada acácia é nativa do Egito e do Sinai, mas difi- cilmente se encontra em Canaã, exceto ao redor do mar Morto c) ☐ A atmosfera e a ambientação do deserto prevalecem por toda a narrativa, desde Êxodo 16 até o fim de Deuteronômio 1 O Pentateuco 54 • Capítulo 1 d) ☐ As árvores e os animais a que se faz referência de Êxodo a Deuteronômio são todos naturais do Palestina 5. É incorreto dizer que a) ☐ Deuteronômio 13.2-11 prescreve a pena de morte por apedre- jamento para qualquer idólatra ou falso profeta, fosse irmão, esposa, filho b) ☐ A partir do tempo Ezequias e Josias a adoração de ídolo era tolerada em quase todos os recantos do reino de Judá - exceto durante a reforma religiosa empreendida por Acaz c) ☐ Época em que a legislação poderia ter sido posta em vigor foi a dos dias de Moisés e de Josué – e possivelmente nos dias deDavi d) ☐ Nos dias de Salomão, o culto às relíquias nos “lugares altos” estava sendo praticado Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) As peles com que o exterior do tabernáculo foi re- coberto eram de um animal chamado tahas, ou du- gongo, que é estranho ao Egito e monte Sinai, mas encontrado nos mares adjacentes à Palestina 7.( ) No Pentateuco há várias referências a instrumentos para acompanhamento musical no culto do tabernáculo 8.( ) O Pentateuco, especialmente Deuteronômio, tam- bém contém várias referências à futura conquis- ta de Canaã pelos descendentes de Ismael Anotações 55 Anotações Anotações Anotações56 O Pentateuco 1 57 Qualificações de Moisés como Autor do Pentateuco Quais são as qualificações de Moisés como autor do Pentateuco? Tendo em mente as referências bíblicas da educação acadê- mica de Moisés, torna-se patente que ele possuía as qualificações certas para empreender uma obra do porte da Torá. • Recebeu excelente formação como príncipe criado na corte do Egito (At 7.22), num país em que a cultura era superior a de qualquer outra nação do Crescente Fértil. Até mesmo os cabos dos espelhos e das escovas de dente eram adornados com ins- crições hieroglíficas, bem como as paredes de todos os prédios da administração pública. • Deve ter percebido de seus ancestrais israelitas, as leis orais que eram obedecidas na Mesopotâmia, de onde Abraão tinha vindo. • É provável que recebeu de sua mãe e parentes consangüíneos conhecimento pleno da vida dos patriarcas, desde Adão até José; e, com base nessa riqueza da tradição oral, ele teria recebido to- das as informações contidas no livro de Gênesis, por estar sob a orientação do Espírito Santo ao redigir o texto inspirado da Torá. • Residido por muitos anos no Egito e também na terra de Midiã, no Sinai, adquiriu conhecimento pessoal sobre o clima, práti- cas agrícolas e as peculiaridades geográficas egípcias como da Península do Sinai, o que é óbvio por todo o texto (Êxodo até Deuteronômio), que tratam do mundo do século XV a.C, nas vizinhanças do mar Vermelho e do rio Nilo. • Sendo designado por Deus para ser o fundador de uma nova nação, que deveria ser governada pela lei concedida pelo Se- nhor, Moisés compõe sua obra, incluindo Gênesis, com todos os relatos integrais do trato gracioso de Deus com os ancestrais 1 O Pentateuco 58 • Capítulo 1 dos israelitas antes da imigração da família de Jacó ao Egito. A jovem nação deveria ser governada segundo as leis de Deus, em vez de por um déspota41 real, à semelhança das nações pagãs. • Moisés recebeu a responsabilidade de compor (sob inspiração e orientação de Deus) uma lista cuidadosamente pormenorizada de todas as leis que Deus havia concedido a fim de guiar seu povo pelo caminho da justiça, da piedade e do culto. Ao longo do período de quarenta anos de peregrinação, Moisés tinha todo o tempo e oportunidade que precisava para esboçar o sistema integral das leis religiosas e civis que Deus lhe havia revelado, as quais serviriam de constituição da nova comunidade teocrática. 41 Senhor absoluto e arbitrário; tirano, opressor. Dominador absoluto. Anotações O Pentateuco 1 59 A Falácia42 Principal em que se Baseia a Hipótese Documentária Qual a falácia principal em que se baseia a hipótese documentária? A mais séria de todas as pressuposições falsas subjacentes à hipótese documentária e à abordagem crítica da forma (a primeira presume que nenhuma parte da Torá teve forma escrita senão depois de meados do século IX a.C., e, a segunda afirma que todo o texto hebraico do Pentateuco só foi redigido depois do exílio), é que os israelitas esperaram durante muitos séculos, após a fundação de sua comunidade, até terem a Torá na forma escrita. Tal pressuposição desaparece diante de todas as descobertas arqueológicas dos últimos oitenta anos, segundo os quais todos os vizinhos de Israel conservaram registros escritos sobre sua história e religião desde antes dos tempos de Moisés. Talvez as grandes quan- tidades de inscrições em pedra, barro e papiro exumado43 na Meso- potâmia e no Egito poderiam ser questionados como comprovantes necessários do extenso uso da escrita na própria Palestina – até a descoberta em 1887 dos tijolos de barro de Tell el-Amarna, no Egito, que datam de cerca de 1420 a 1380 a.C. (época de Moisés e Josué). Esse arquivo contém centenas de tabuinhas escritas em ca- racteres cuneiformes babilônicos (nessa época era a língua da corres- pondência diplomática no Oriente Próximo). Eram comunicações à corte egípcia por parte de oficiais e de reis palestinos. Muitas dessas cartas contêm relatos de invasões e ataques dos Ha-bi-ru (a pronúncia também pode ter sido “habiru”) contra as cidades-estados de Canaã. O próprio Wellhausen concluiu que teria de desprezar com- pletamente essa evidência, após a publicação inicial desses tijolos de 42 Afirmação falsa ou errônea. 43 Tirar da sepultura; desenterrar. 1 O Pentateuco 60 • Capítulo 1 Amarna, cerca de 1890. Ele se recusou a considerar as implicações dos fatos descobertos e agora estabelecidos de que Canaã, até mesmo antes da conquista israelita completar-se, possuía uma civilização de elevado nível de instrução literária (ainda que escrevessem na língua babilônica, em vez de em seu próprio idioma). Os proponentes44 posteriores da hipótese documentária revelaram-se igualmente inca- pazes de abertura no que concerne às implicações dessas descobertas. O golpe mais cruel sobreveio, porém, quando se decifraram as inscrições alfabéticas de Serabit e el Khadim, na região das minas de turquesa do Sinai, exploradas pelos egípcios durante o II Milênio a.C. Tais inscrições consistiam num novo jogo de símbolos alfabéti- cos, parecidos com os hieróglifos egípcios, mas escritos num dialeto cananeu, muito parecido com o hebraico. Eles continham registros de quotas de mineração e dedicatórias à deusa fenícia Baalat (ao que tudo indica equivalente da divindade egípcia Hathor). O estilo irre- gular da execução exclui toda possibilidade de atribuir essesescritos a um grupo seleto de escribas profissionais. Existe apenas uma conclusão possível a ser tirada dessas inscrições publicadas em “The Proto Sinaitic Inscriptions And Their Decipherment” (Cambridge, Harvard University, 1966). Já nos séculos XVII e XVI a.C., até mesmo as pessoas das camadas sociais mais bai- xas da população cananéia, os escravos das minas que trabalhavam sob feitores egípcios, sabiam ler e escrever em sua própria língua. Uma terceira descoberta importante foi à biblioteca de tabui- nhas de barro na região Síria ao norte de Ras es-Shamra, conhecida em tempos antigos como Ugarite, onde havia centenas de tabuinhas escritas por volta de 1400 a.C., num dialeto cuneiforme cananeu, muito parecido com o hebraico. Ao lado de cartas comerciais e do- cumentos do governo (alguns dos quais registrados em caracteres babilônicos cuneiformes), esses tijolos continham muita literatura religiosa, relacionada aos amores, às guerras e às aventuras empol- gantes de várias divindades do panteão cananeu, como El, Anate, Baal, Asserate, Mote e muitos outros; compostas em forma poética, em semelhança da poesia hebraica de paralelismos, como as que se encontram no Pentateuco e nos Salmos de Davi. 44 Que ou quem propõe. O Pentateuco 1 61 Temos aqui novamente provas irrefutáveis45 que os conquis- tadores hebreus sob o comando de Josué, tendo emigrado de uma cultura que atribuía grande valor às letras, no Egito, chegaram à outra civilização que usava a escrita com incomum liberdade. Além disso, a alta porcentagem de literatura religiosa encontrada tanto em Ras Shamra como em Serabit el-Khadim nega veemente a suposição que, de todos os povos do antigo Oriente Próximo, somente os hebreus não se interessaram nem se esforçaram por dar forma escrita a seus conceitos religiosos, senão mil anos mais tarde. Só a modalidade de desvio mental por parte de estudiosos liberais pode explicar como desprezam e evitam a grande massa de dados objetivos que agora dão apoio à proposição que Moisés poderia ter escrito e com toda a probabilidade realmente escreveu os livros que lhe são atribuídos. Uma falácia mais absurda ainda acha-se sob a abordagem moderna da teoria documentária, não só com respeito à autoria do Pentateuco, mas também no que se refere à composição de Isaías 40- 66 como obra autêntica do próprio Isaías, que viveu no século VIII a.C, e com respeito à data do século VI para o livro de Daniel. Todas essas teorias racionalistas que atribuem datação muito posterior e natureza espúria a esses livros do AT repousam numa suposição firmemente sustentada: a impossibilidade categórica da profecia bem-sucedida de acontecimentos futuros. Toma-se por certa a inexistência da revelação divina autêntica nas Escrituras, de modo que todas as profecias que pela aparência teriam sido cumpridas, na verdade foi resultado de mentira piedosa. Noutras palavras, as predições não foram escritas senão depois de “cumpridas” – ou quando prestes a cumprir-se. O resultado é uma falácia lógica conhecida como petitio principii, ou raciocínio em círculo. Isso significa que a Bíblia dá testemunho da existência de um Deus pessoal que opera milagres e que revela seus propósitos para o futuro aos profetas escolhidos para orientação e o estímulo de predições cumpridas. As Escrituras fornecem a mais impressionante evidência dos fenômenos sobrena- turais, demonstradas por um Deus pessoal que tem cuidado de seu povo o suficiente para revelar-se a Ele, e revelar sua vontade quanto à salvação. No entanto, o racionalista aborda essa evidência toda com a mente completamente fechada, presumindo que não existe 45 Que não se pode refutar; evidente, irrecusável, incontestável. 1 O Pentateuco 62 • Capítulo 1 o chamado sobrenatural, e que, portanto, não são possíveis que se cumpram as profecias. Existindo esse tipo de desvio, é impossível dar a devida atenção a qualquer evidência que diga respeito ao assunto que estamos investigando. Após cuidadosa ponderação e estudo da história do surgimen- to da alta crítica moderna, segundo a prática dos adeptos da doutrina documentária e da escola da crítica da forma, estamos convictos que a razão básica para a recusa em aceitar a evidência arqueológica ob- jetiva, que parece hostil ante a teoria desses críticos, que desaprovam o sobrenatural, encontra-se na mentalidade de autodefesa essencial- mente subjetiva. Assim é que se torna absolutamente essencial que os documentaristas atribuam às predições do cativeiro babilônico e a subseqüente restauração (como as que encontramos em Levítico 26 e em Deuteronômio 28) a uma época em que tais acontecimentos já pertenciam ao passado. Essa é a verdadeira base filosófica para que se atribuam tais partes (que estão incluídas no “Código dos Sa- cerdotes” ou “Escola Deuteronômica”) ao século V a.C., ou mil anos depois da época em que as pessoas crêem terem sido escritas. É que, obviamente, nenhum mortal pode predizer com sucesso o que ainda está no futuro, ainda que á uns poucos anos. Visto que um Moisés do século XV a.C. precisaria ter previsto o que haveria de acontecer em 587 e em 537 a.C. a fim de poder escrever uns capítulos como esses, na verdade ele nunca poderia tê-los escrito. No entanto, o Pen- tateuco afirma que Moisés apenas escreveu o que o Deus Todo-Po- deroso lhe revelou; ele não registrou o mero produto de sua previsão profética. Daí não haver nenhuma dificuldade lógica em supor que Moisés poderia ter previsto, sob inspiração divina, acontecimentos que ainda estavam num futuro longínquo – ou que Isaías no início do século VII poderia saber de antemão do cativeiro babilônico e do subseqüente retorno a Judá, ou que Daniel poderia ter predito os grandes acontecimentos da história ainda por ocorrerem entre seus próprios dias (580 a.C.) e a vinda de Antíoco Epifânio em 170 a.C. Em todos esses casos a profecia foi proveniente de Deus, o Senhor da história, e não de homem. Portanto, não existe razão lógica por que Deus devesse ignorar o futuro que ele próprio faz aconte- cer. Além de tudo, o horizonte profético de Daniel (Dn 9.24-27) na verdade aprofunda-se e vai além do período dos macabeus, que lhe atribuíram estudiosos racionalistas, pois a profecia aponta para 27 d.C. como ano exato em que Cristo nasceu (Dn 9.25,26). O mesmo O Pentateuco 1 63 se deve dizer a respeito da predição de Deuteronômio 28.68 sobre as conseqüências da queda de Jerusalém em 70 d.C. e da predição de Isaías 13.19,20, da total e permanente desolação da Babilônia, que não aconteceu senão depois da conquista maometana do século VII d.C. Não há esperança alguma em tentar explicar o cumprimento de profecias como essas, tanto tempo depois, mediante a alegação de que os livros que as contêm foram escritos depois dos aconteci- mentos. Vemos, assim, que esse princípio orientador subjacente à estrutura completa da hipótese documentária, de modo algum pode manter-se em base objetiva e científica. Portanto, essa teoria deve ser abandonada em todas as instituições de ensino superior nas quais ainda é ensinada.Anotações 1 O Pentateuco 64 • Capítulo 1 O Pentateuco 1 65 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. Quanto às qualidades de Moisés, assinale a incerta a) ☐ Recebeu excelente formação como príncipe criado na corte do Egito, num país em que a cultura era superior a de qualquer outra nação do Crescente Fértil b) ☐ Deve ter percebido de ancestrais egípcios, as leis orais que eram obedecidas no Egito, de onde Jacó tinha vivido c) ☐ É provável que recebeu de sua mãe e parentes consangüíneos conhecimento pleno da vida dos patriarcas, desde Adão até José d) ☐ Com base na riqueza da tradição oral, ele teria recebido todas as informações contidas no livro de Gênesis 10. Moisés tinha todo o tempo e oportunidade que precisava para esboçar o sistema integral das leis religiosas e civis que Deus lhe havia revelado a) ☐ Ao longo do período de quarenta anos de peregrinação b) ☐ Ao longo do período de cem anos de peregrinação c) ☐ Ao longo do período de oitenta anos de peregrinação d) ☐ Ao longo do período de vinte anos de peregrinação 11. Afirmam que os israelitas esperaram durante muitos séculos, após a fundação de sua comunidade a) ☐ O terminismo e o territorialismo b) ☐ A crítica das religiões comparadas c) ☐ A baixa crítica d) ☐ A hipótese documentária e a crítica da forma 12. Comprova que Canaã, até mesmo antes da conquista israelita completar-se, possuía uma civilização de elevado nível de instrução literária a) ☐ Julius Wellhausen 1 O Pentateuco 66 • Capítulo 1 b) ☐ A teoria JEDP c) ☐ A arqueologia d) ☐ A crítica moderna racionalista 13. Quanto à descoberta da biblioteca de tabuinhas de barro na região Síria ao norte de Ras es-Shamra, é errado dizer que a) ☐ Era conhecida em tempos antigos como Ugarite, onde havia centenas de tabuinhas escritas por volta de 1400 a.C., num dialeto cuneiforme cananeu, parecido com o hebraico b) ☐ Esses tijolos continham somente narrativas de aventuras em- polgantes de várias divindades como: Baal, El e Anate c) ☐ São compostas em forma poética, em semelhança da poesia hebraica de paralelismos, como as que se encontram no Pen- tateuco e nos Salmos de Davi d) ☐ São provas de que os comandados de Josué, tendo emigrado de uma cultura que atribuía grande valor às letras, no Egito, chegaram à outra civilização que usava a escrita com inco- mum liberdade Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) Moisés residiu-se por muitos anos no Egito e também na terra de Midiã, no Sinai, adquiriu conhecimento pessoal sobre o clima, práticas agrícolas e as peculiari- dades geográficas egípcias como da Península do Sinai 15.( ) O racionalista presume que não existe o chamado sobre- natural e que não é possível o cumprimento das profecias 16.( ) A hipótese documentária, de modo algum pode manter-se em base objetiva e científica. Portan- to, deve ser abandonada nas instituições de en- sino superior nas quais ainda é ensinada Anotações 67 AnotaçõesAnotações Anotações 68 69 Gênesis 2º Capítulo Gênesis 70 • Capítulo 2 Gênesis 71 Gênesis O livro de Gênesis toma seu nome da versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta), que o chamou Gênesis, ter- mo que significa começo. É uma tradução precisa de bereshit, a primeira palavra no livro hebraico. O título é adequado ao conteúdo do livro, pois este diz respeito à origem divina de todas as coisas, seja matéria ou energia, seres vivos ou inanimados. Isso significa que, com exceção de Deus, todas as coisas remontam ao ponto de partida em que os planos e as obras de Deus tomaram forma. Bereshit demonstra que Deus criou “os céus e a terra” como o primeiro ato da criação (Gn 1.1). As tradições judaica e cristã têm atribuído de maneira quase unânime a autoria de Gênesis a Moisés (veja a Lição 1). Gênesis é o único livro do Pentateu- co que não menciona Moisés nem indica algo sobre sua autoria. A omissão pode ter ocorrido porque os últimos eventos do livro precedem Moisés em vários séculos. Também, os livros bíblicos raramente in- dicam seus autores. Contudo, o restante do Pentateuco é baseado em Gênesis, sem o qual as constantes alusões46 aos patriarcas e outras pessoas e eventos não fariam sentido. A síntese da conclusão de Gênesis (Gn 46.8-27) em Êxodo 1.1-7 serve como uma ponte entre os patriarcas e a liber- tação no êxodo e destaca a continuidade da história do Pentateuco. 46 Menção, referência, relação. O ícone abaixo indica: Neste capítulo veremos; • Gênesis • Abraão: A Obediência da Fé • A Luta de Jacó Pelas Promessas • A Libertação Mediante José 2 Capítulo Atenção e Foco 2 Gênesis 72 • Capítulo 2 Por que ler esse livro? Se você é como a maioria das pessoas, e talvez já tenha se preocupado com as profundas questões da vida, como: Por que es- tamos aqui? Qual o significado da vida? Gênesis leva-nos ao início das eras para encontrar as respos- tas. Esse livro fala sobre começos: as primeiras plantas e os primeiros animais; o primeiro homem e a primeira mulher; o primeiro pecado; o primeiro anúncio da salvação de Deus. Mostra também a maneira de Deus tratar com Noé, com Abraão e com muitos outros, demons- trando o desejo de ter comunhão com o seu povo. O nome Gênesis descreve pelo menos um dos principais temas do livro – as origens. Ele relata as origens dos céus e da terra, de todas as coisas criadas que neles existem. Descreve a relação pac- tual47 de Deus com a humanidade, o pecado, a redenção, as nações e Israel, o povo escolhido de Deus. As origens, porém, não é um tema-síntese48 inteiramente satisfatório, pois não há resposta à questão históricae teológica fundamental – por quê? Saber o que Deus fez – Ele criou todas as coisas – é importante. Mas, saber por que Deus agiu na criação e pela redenção é compreender a verdadeira essência da revelação divina. O tema de Gênesis centraliza-se em volta da primeira de- claração de Deus ao homem e à mulher registrada no texto sagrado, ou seja, Gênesis 1.26-28: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”. Os versículos acima deixam claro que Deus criou o homem e a mulher para abençoá-los e a fim de que pudessem exercer domínio em lugar dele sobre toda a criação. A desobediência humana amea- çou o plano de Deus para a humanidade expressa na criação. Deus respondeu chamando Abraão, por meio de quem a bênção divina triunfaria por fim. Como essa é uma questão de teologia, será mais produtivo considerá-la adiante sob o subtítulo “Propósito e Teologia”. 47 Referente a pacto; pactício. 48 Reunião de elementos concretos ou abstratos em um todo; fusão, composição. 2 Gênesis 73 Como foi escrito? As três principais seções de Gênesis são caracterizadas por tipos literários distintos. Os eventos primevos (Gn 1-11) são dis- postos em uma forma de narrativa poética para ajudar a transmissão oral. As narrativas sobre os três primeiros patriarcas (Gn 12-36; 38) são relatos acerca de ancestrais mantidos em registros familiares. A narrativa de José (Gn 37; 39-50) é um breve conto, com tensão e resolução. Dentro de cada um desses principais tipos literários, porém, encontram-se outros tipos menores tais como genealogias (Gn 5.3-32; 11.10-32), narrativas em que Deus aparece (Gn 17-18; 32.22-30), palavras de Deus (Gn 25.23), bênçãos (Gn 1.28; 9.1; 27.27- 29) e ditados tribais (Gn 49.3-27). Gênesis apresenta a história na plena acepção do termo. Apresenta, porém, essa história em forma de narrativa que abrange grande número de tipos literários a fim de comunicar sua mensagem teológica de modo claro e eficaz. • O alvo da criação de Deus: domínio, bênção e relacionamento (Gn 1.1-2.25); • O pecado, suas conseqüências e a graça salvadora de Deus (Gn 3.1-10.32); • Abraão: a obediência da fé (Gn 12.1-22.19); • Isaque: elo das promessas de Deus a Abraão (Gn 22.20-25.18); • A luta de Jacó pelas promessas (Gn 25.19-36.43); • A libertação mediante José (Gn 37.1-50.26). 2 Gênesis 74 • Capítulo 2 Propósito e Teologia O que se deve buscar em Gênesis? O propósito de Gênesis era dar à nação de Israel uma expli- cação sobre sua existência no limiar49 da conquista de Canaã (veja o tema). Moisés tinha em mãos tradições escritas e orais acerca do passado de Israel e registros concernentes a outros grandes temas de Gênesis. Ele foi, porém, o primeiro a organizar esse material, a escolher no meio de tudo o que era apropriado aos propósitos reden- tores de Deus e a compô-los na forma atual. Sua tarefa como autor inspirado e profético foi tornar claro ao seu povo como e por que Deus o tinha trazido à existência. Também desejava que os israeli- tas soubessem qual era a missão deles como um povo sacerdotal da aliança e como sua situação presente cumpria promessas antigas. Uma atenção concentrada nos temas que ligam Gênesis ao restante do Pentateuco tornam-se claro esses propósitos. Deus havia revelado a Abraão que ele receberia a terra de Canaã (Gn 12.1,5,7; 13.15), que seus descendentes deixariam essa terra por um tempo (Gn 15.13), mas seriam libertados da sua terra de opressão para voltar à terra da promessa (Gn 15.16). Essa terra seria deles para sempre (Gn 17.8) como uma arena dentro (e a partir) da qual se tornaria instrumento de bênção para todas as nações da terra (Gn 12.2-3; 27.29). José entendeu isso e viu em sua própria peregrinação no Egito à preservação de seu povo por Deus (Gn 45.7-8). Deus o tinha enviado para lá a fim de salvá-los da extinção física e espiritual (Gn 50.20). Viria o tempo em que Deus se lembraria de sua promessa a Abraão, Isaque e Jacó e os faria voltar à Canaã (Gn 50.24). 49 Entrada, começo, início. 2 Gênesis 75 O elo com Êxodo é evidente no chamado de Moisés para li- derar seu povo do Egito à terra prometida (Êx 3.6-10,16-17; 6.2-8). O privilégio deles como nação da aliança – um “reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19.6) – recorda a promessa de Deus de que iria abençoar as nações por intermédio de Abraão (Gn 12.3; 22.18). A renovação da aliança nas campinas de Moabe repete os mesmos temas. O Senhor estava para guiar seu povo para Canaã a fim de que a possuíssem como herança (Dt 4.1; 5.33; 7.1,12-16; 8.1-10; 9.5; 11.8-12,24-25). Ali eles o serviriam como agentes da redenção, um catalisador50 ao redor do quais as nações seriam reconciliadas com Deus (Dt 4.5-8; 28.10). A mensagem teológica de Gênesis, porém, vai além dos inte- resses limitados de Israel. Gênesis de fato dá a razão de ser de Israel, mas faz mais do que isso. Explica a condição humana que clama por um povo da aliança. Isto é, revela os grandes propósitos criativos e redentores de Deus que têm seu foco em Israel como agência de recriação e salvação. Os propósitos originais e eternos de Deus são esboçados em Gênesis 1.26-28. Deus criou o homem e a mulher como sua imagem para abençoá-los de tal modo que eles exercessem em nome dele o domínio sobre toda a criação. Os temas-chave da teologia bíblica e de Gênesis são, portanto, “a bênção de Deus e o domínio humano debaixo do reinado de Deus”. A queda da humanidade no pecado subverteu51 o alvo divino de bênção e domínio. Precisava ser desenvolvido um processo de redenção desse estado de queda e de restabelecimento do mandato divino original da aliança. Isso se concretizou em forma de esco- lha de Abraão, por cuja descendência (Israel e por fim o Messias) poderia cumprir os propósitos divinos da criação. Esse homem e a nação, ligados por aliança eterna a Javé, foram encarregados da ta- refa de servir-lhe como o modelo de um povo sob domínio divino e o veículo mediante o qual um relacionamento salvador poderia ser estabelecido entre Deus e o mundo alienado52 das nações. Obviamente, Israel fracassou como povo-servo, fracasso este já previsto na Torá (Lv 26.14-39; Dt 28.15-68). Os alvos de Deus não 50 Estimulante, dinamizador, incentivador. 51 Destruir, aniquilar (o que está assente); arruinar, derrubar. 52 Louco, doido, desvairado, alheado. 2 Gênesis 76 • Capítulo 2 podem, porém, ser frustrados. Por isso, um remanescente, por fim, reduzido a um único descendente de Abraão – Jesus, o Cristo Sal- vador – que cumpriu em sua vida e morte os propósitos redentores e soberanos de Deus. A Igreja existe agora como seu corpo a fim de servir, assim como Israel foi escolhido e redimido para servir. O povo de Deus do Antigo Testamento serviu como modelo do Reino do Senhor e como o instrumento que tornou possível a realização da obra reconciliadora sobre a terra por intermédio do seu povo do Novo Testamento. A teologia de Gênesis, portanto, é envolvida pelos propósitos do Reino de Deus que, em seu objetivo último, apesar dos fracassos humanos, não pode ser impedido de manifestar a sua glória mediante sua criação e soberania. O Alvo da Criação de Deus: Domínio, Bênção e Relacionamento (Gn 1.1-2.25) Os registros bíblicos descrevem a criação, a queda, o dilúvio, a torre de Babel e a distribuição da raça humana. Abrangem todos os aspectos da experiência humana de Abraão para comprometer-se ao serviço pactual ao Senhor. Os dois relatos da criação (Gn 1.1-2.3; 2.4-25) destinam-se demonstrar, respectivamente, asoberania de Deus: • Caracterizada pela sabedoria e pelo poder absoluto; • Em criar especialmente a humanidade para governar em Seu lugar todas as demais criaturas. Embora as histórias da criação sejam fundamentalmente teo- lógicas e não científicas, nada nelas é contestado pela compreensão científica moderna. Gênesis insiste em que todas as formas de vida foram criadas “segundo a sua espécie” (Gn 1.11-12,21,24-25); ou seja, elas não evoluíram cruzando linhas de espécies. O mais importante é que o homem e a mulher foram criados como “imagem de Deus” (Gn 1.26). Em outras palavras, a humanidade foi criada para representar Deus sobre a terra e para dominar todas as coisas em seu nome (Gn 1.26-28). A vontade de Deus era abençoar a humanidade e relacio- nar-se com o homem. 2 Gênesis 77 O Pecado, suas Conseqüências e a Graça Salvadora de Deus (Gn 3.1-10.32) O privilégio do domínio também acarretava responsabilida- de e limitação. O fato de ser colocado no jardim para “o cultivar e o guardar” representa a responsabilidade humana (Gn 2.15). A ár- vore no meio do jardim, que os seres humanos não deviam comer, representava aquelas áreas de domínio reservadas somente a Javé. O homem e a mulher, entretanto, desobedeceram a Deus e co- meram do fruto. Eles “morreram” no que diz respeito aos privilégios da aliança (Gn 2.17) e foram alvos de acusação e julgamento do seu Soberano (Gn 3.14-19,22-24). Isso acarretou sofrimento, tristeza e conseqüente morte física. Deus havia criado o homem e a mulher para desfrutarem comunhão com ele e entre si. A desobediência deles fez com que se apartassem do SENHOR e também um do outro. O tipo de pecado e suas conseqüências que se estabelece no Éden repetem-se ao longo de Gênesis, a saber: nos relatos de Caim, na geração do dilúvio e nos homens de Sodoma. A queda significa que os homens estão predispostos a pecar. Embora Deus puna o pecado, este não frustra o propósito último e gracioso de Deus em relação à sua criação humana. Embutido na maldição estava o lampejo53 de uma promessa de que a descendên- cia da mulher um dia levaria a raça humana ao triunfo (Gn 3.15). As conseqüências do pecado tornaram-se claras na segunda geração, onde, Caim, o filho mais velho de Adão, matou seu irmão Abel (Gn 4.8). Exatamente como os seus pais tinham sido expulsos da presença de Deus no jardim (Gn 3.23), Caim é expulso para viver como nômade54 no oriente (Gn 4.16). Embutido na maldição estava o lampejo da graça, o “sinal de Caim” (Gn 4.15), simbolizando a proteção de Deus. 53 Clarão ou brilho repentino. Manifestação rápida e/ou brilhante duma ideia. 54 Diz-se das tribos ou povos errantes, sem habitação fixa que se deslocam constantemente em busca de alimentos, pastagens, etc. 2 Gênesis 78 • Capítulo 2 A benção do domínio e a maldição do pecado (Gn 4.17-5.32). A genealogia de Caim ilustra a tensão entre a bênção de Deus e o pecado que se propaga. Mediante as realizações dos descendentes de Caim, a humanidade começou a experimentar a bênção do domí- nio sobre a criação. O avanço nas artes e na tecnologia era, porém, acompanhado pelo avanço no pecado, como se pode ver no cântico de Lameque, orgulhando-se de um assassinato (Gn 4.23-24). Enquanto isso, o mandato redentor de Deus revelado na cria- ção continuava por intermédio de outro filho de Adão e Eva – Sete (Gn 4.25-26). Sua genealogia (Gn 5.1-32) levou diretamente a Noé, a quem foi reafirmada a promessa original da criação (Gn 6.18; 9.1-7). A libertação pela graça de Deus e a obediência de Noé (Gn 6.1-9.29). Com o passar do tempo, tornou-se cada vez mais claro que a humanidade não tinha vontade nem capacidade de viver de acordo com as responsabilidades de administração. Os homens violaram novamente seu próprio lugar dentro da ordem divina, ultrapassando os limites que Deus lhes havia estabelecido. Como conseqüência da mistura imprópria dos “filhos de Deus” (entendido ou como anjos ou como dominadores sobre a terra) com as “filhas dos homens” (Gn 6.1-4), Deus viu novamente a necessidade de reafirmar seu senhorio (Gn 6.3) e dar um novo começo que pudesse conceder à raça humana outra oportunidade de obedecer. A conseqüência do pecado foi o grande dilúvio (Gn 6.5-8), uma catástrofe55 tão grande que toda a vida e as instituições pereceram da face da terra (Gn 7.22-23). A graça de Deus continuava agindo, preservando um remanescente na arca. Em resposta ao culto de seu povo, Deus prometeu nunca mais destruir a terra enquanto a histó- ria seguisse seu curso (Gn 8.20-22). A promessa de Deus para Noé reafirmava as promessas de bênção e domínio dadas na criação (Gn 9.1-19). Embora haja diferenças de detalhes em comparação com a declaração original de Gênesis 1.26-28, o mandato central é idêntico. A nova humanidade que brotaria de Noé e seus filhos foi chamada 55 Acontecimento súbito de conseqüências trágicas e calamitosas. Grande desastre ou desgraça; calamidade. 2 Gênesis 79 para exercer domínio sobre toda a terra como a imagem de Deus. O sinal de permanência dessa disposição era o arco-íris (Gn 9.12). Uma vez mais, como que para sublinhar os efeitos da queda sobre a fidelidade humana, Noé cai vítima do seu ambiente. Adão havia pecado por comer um fruto proibido; Noé pecou por perver- ter o uso de um fruto permitido. Ambos os casos ilustram o fato de que os homens desassistidos56 nunca conseguem elevar-se ao nível da responsabilidade ordenada por Deus. Quando Noé soube do ultraje que havia sofrido nas mãos de seu filho Cam, amaldiçoou a descendência de Cam – os cananeus. E abençoou os descendentes dos outros dois filhos (Gn 9.24-27). Isso coloca em movimento os relacionamentos dentro da tríplice divisão da raça humana que daí em diante determinaria para sempre o curso da história. Deus engrandeceria Jafé (os gentios), mais no devido tempo Jafé encontraria refúgio nas tendas de Sem (Israel), que resguardam e protegem. Os semitas seriam, portanto, o canal da graça redentora. A reafirmação da bênção de Deus (Gn 10.1-32). O “quadro das nações” (Gn 10) demonstra o cumprimento da ordem de Deus de que os homens fossem frutíferos e enchessem a terra. Os semitas ocupam o ponto culminante, e a atenção concen- tra-se em Héber (Gn 10.21,24-25), de quem os hebreus (hb. ibri) tomaram nome. Esse ancestral de Abraão antecede os patriarcas dos judeus, sobre quem está o foco da segunda metade de Gênesis. A confusão em Babel (Gn 11.1-32). A história da torre de Babel (Gn 11.1-9) separa a genealogia da linhagem de Noé até Héber e Pelegue da genealogia que liga Noé e Abraão (Gn 11.10-32). Nos dias de Pelegue, filho de Héber “se re- partiu a terra” (Gn 10.25). Por meio de Abraão e a aliança abraâmica ela seria algum dia unida novamente. 56 Privados de assistências, amparos, ajudas; desprotegidos. 2 Gênesis 80 • Capítulo 2 A história de Babel ilustra, assim, o falso e rebelde sentimento humano de solidariedade humanista que procura escapar do mandato da criação para encher a terra sob o domínio de Deus. A dispersão das nações cumpre esse propósito, mas não produz a submissão à vontade de Deus que faça do verdadeiro serviço uma realidade. Essa é a razão pela qual tinha de ser estabelecida uma nova aliança, com aspectos redentores. 2 Gênesis 81 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. Quanto ao livro de Gênesis, assinale a alternativa que não condiz com a verdade a) ☐ O livro de Gênesis toma seu nome da versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta) b) ☐ Gênesis é um termo que significa revelação c) ☐ É uma tradução precisa de bereshit, a primeira palavra no livro hebraico d) ☐ Bereshit demonstra que Deus criou “os céus e a terra” como o primeiro ato da criação 2. Sabe-se que as três principais seções de Gênesis são caracterizadas por tipos literários distintos, portanto, os relatos acerca de ancestrais mantidos em registros familiares são a) ☐ Os eventos primevos b) ☐ As narrativas de José c)☐ As narrativas sobre os três primeiros patriarcas d) ☐ Genealogias, narrativas em que Deus aparece, palavras de Deus, bênçãos e ditados tribais 3. Homem a quem foi reafirmado a promessa original da criação a) ☐ Noé b) ☐ Lameque c) ☐ Caim d) ☐ Enoque 4. A nova humanidade que brotaria de Noé e seus filhos foi chamada para exercer domínio sobre toda a terra como a imagem de Deus. O sinal de permanência dessa disposição era a) ☐ A chuva b) ☐ A estrela 2 Gênesis 82 • Capítulo 2 c) ☐ O arco-íris d) ☐ A pomba 5. Noé amaldiçoou um de seus filhos, conseqüentemente sua des- cendência, cujo nome é a) ☐ Aram b) ☐ Sem c) ☐ Jafé d) ☐ Cam Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) Os temas-chave da teologia bíblica e de Gêne- sis são, portanto, “a bênção de Deus e o domí- nio humano debaixo do reinado de Deus” 7.( ) O alvo da Criação de Deus é: domí- nio, bênção e relacionamento 8.( ) Nos dias de Pelegue, filho de Héber “uniu-se a ter- ra” (Gn 10.25). Por meio de Abraão e a aliança abraâ- mica ela seria algum dia repartida novamente Anotações 83 Anotações Anotações Anotações84 2 Gênesis 85 Abraão: A Obediência da Fé (Gn 12.1-22.19) A história dos patriarcas centraliza-se e baseia-se na aliança ao qual Deus fez com Abraão, em sua chamada. A história da raça humana desde a queda até os dias de Abraão era suficiente para mostrar que os grandes propósitos reais de Deus não poderiam ser alcançados até que a humanidade fosse redimida e restaurada à capacidade de guardar a aliança. Já fora dada a promessa de que a descendência da mulher algum dia prevaleceria sobre as forças que se opõem a Deus. Agora, essa promessa da descendência estava para se cumprir em um homem e seus descendentes, cuja cabeça devia ser o Messias, que realizaria a salvação e o domínio. Promessas de Deus: descendentes, bênção e terra (Gn 12.1-9). Abraão foi chamado do paganismo sumério para a fé no Deus vivo. Deus lhe concedeu um conjunto incondicional de promessas – descendentes e bênção. Prometeu guiá-lo para Canaã, o cenário terreno para a concretização das promessas divinas (Gn 12.1-3). Quando Abraão chegou a Canaã, recebeu a promessa divina de uma terra (Gn 12.4-9). Promessas sob ameaça (Gn 12.10-20). Uma vez feito a promessa de Deus, seu cumprimento foi “ame- açado”. Confrontado pela fome, Abraão deixou a terra prometida e colocou Sara – o elo com os descendentes prometidos – numa po- sição potencialmente comprometedora, de membro do harém57 do Faraó (Gn 12.10-20). 57 Parte da casa muçulmana destinada à habitação das mulheres. 2 Gênesis 86 • Capítulo 2 Alcançando a promessa de terra (Gn 13.1-18). Abraão antecipou a história de seus descendentes habitando por breve tempo em Canaã, peregrinando no Egito (Gn 12.10-20) e saindo dali com riquezas e honra como Israel fez mais tarde no êxodo (Êx 11.1-3; 12.35-36). Então, em sua própria “conquista” e ocupação, Abraão dividiu a terra com Ló (Gn 13.6-13). Os territórios através dos quais ele tinha viajado antes como nômade agora havia se tornado sua habitação permanente (Gn 13.14-18). Possuindo a terra, abençoando os vizinhos (Gn 14.1-24). O domínio de Abraão sobre sua herança não seria sem lutas. A invasão e a dominação das cidades da planície pelos reis do oriente (Gn 14.1-12) representavam resistência à reivindicação da terra por Abraão. Este, agindo em nome de El Elyon, o Deus Altíssimo (Gn 14.20,22), venceu essa ameaça. Ao resgatar o povo de Ló (Gn 14.16), Abraão estava cumprindo a ordem divina de ser uma bênção para outras nações. A promessa da descendência e da terra (Gn 15.1-21). Embora tivesse herdado a terra por promessa, Abraão ainda não tinha a descendência prometida, mesmo depois de dez anos na propriedade (cf. Gn 16.3). O Senhor reafirmou sua promessa incalculável (Gn 15.5). Essa hoste de descendentes, Javé prometeu, Abraão iria para uma terra de peregrinação, assim como tinha feito anteriormente, mas no fim voltaria com riquezas para encher a terra da promessa (Gn 15.12-21). O esforço humano para concretizar a promessa de Deus (Gn 16.1-16). Sara, esposa de Abraão, tinha passado da idade de ter filhos. Então, ela e o marido, seguindo o costume da época, decidiram que a promessa de descendência só se cumpriria se eles assumissem o 2 Gênesis 87 comando da situação. Sara ofereceu sua serva a Abraão para ser a mãe substituta. No devido tempo nasceu um filho, Ismael (Gn 16.15-16). Essa tentativa de encurtar os caminhos e os métodos de Deus não poderia oferecer vantagem. A reafirmação da promessa de herdeiro (Gn 17.1-18.15). Uma vez mais o Senhor afirmou suas intenções expressas na aliança. Abraão seria o pai de nações (Gn 17.1-8), mas as nações nasceriam de Sara e não de Agar (Gn 17.16). Como sinal de sua inabalável58 lealdade às promessas da aliança, o Senhor estabeleceu o rito da circuncisão59 (Gn 17.9-14). Logo, o Senhor se manifestou como o Anjo do Senhor, revelando a Abraão e Sara que, dentro de um ano, ela daria à luz ao descendente prometido (Gn 18.10). Uma bênção sobre as nações vizinhas (Gn 18.16-19.38). Deus lembrou a Abraão que ele era o meio escolhido para abençoar as nações (Gn 18.18). Como ilustração do que isso signi- ficava, Javé revelou a Abraão que estava indo a Sodoma e Gomorra para destruir aquelas cidades cuja pecaminosidade havia se tornando irremediável. Abraão tinha consciência de que isso implicava a morte de seu próprio sobrinho Ló, que vivia em Sodoma. Portanto, exerceu seu ministério de mediação pleiteando junto a Deus que poupasse os justos e, assim, as cidades em que eles viviam. Embora nem mesmo dez justos pudessem ser encontrados, e as cidades, por conseguinte, fossem submetidas a julgamento, pode-se ver claramente o papel de Abraão como alguém em quem as nações poderiam ser abençoadas (Gn 18.22; 19.29). 58 Firme, fixo, arraigado, constante: 59 Rito de iniciação, que consiste em cortar o prepúcio. 2 Gênesis 88 • Capítulo 2 A ameaça à promessa de herdeiro (Gn 20.1-18). O encontro de Abraão com Abimeleque de Gerar (Gn 20) tam- bém dá testemunho do papel de Abraão como mediador. Ele mentiu a Abimeleque acerca de Sara, afirmando que ela era apenas sua irmã. Abimeleque levou-a para seu próprio harém, colocando em risco a promessa divina de descendência por intermédio de Sara. Antes que o caso pudesse ir mais longe, o Senhor revelou a Abimeleque que Abraão era um profeta (Gn 20.7), alguém cujas orações eram eficazes. Então, a praga que Javé havia trazido sobre Abimeleque por causa de sua conduta em relação a Sara foi removida em resposta à intercessão de Abraão (Gn 20.17). Uma vez mais fica evidente a função de Abraão como dispensador da bênção ou maldição. O cumprimento da promessa de herdeiro (Gn 21.1-34). Finalmente nasceu Isaque, o filho da aliança (Gn 21.1-7). Por meio de Ismael, Deus honrou sua promessa de que não é só os hebreus, mas, “numerosas nações” chamariam Abraão de “pai” (Gn 21.8-21; cf. 25.12-18). A obediência e a bênção de Abraão (Gn 22.1-19). Poucos anos depois o Senhor provou a Abraão (Gn 22.1), or- denando-lhe que oferecesse seu filho da aliança como holocausto. A intenção era ensinar a Abraão que a bênção da aliança exige total compromisso e obediência. O relato enfatiza também que a obediência pactual traz nova dádiva de bênção da aliança (Gn 22.16-18). A prontidão de Abraão para entregar seu filho garantiu o cumprimento das promessas de Deus para consigo. 2 Gênesis 89 Isaque: O Elo com as Promessas de Deus a Abraão (Gn 22.20-25.18; 26.1-33) Isaque cumpriu um papel passivo do elo, de modo bem diferente dos demais patriarcas, os quais tiveram um papel ativo na realização das promessas de Deus. Abraão já havia esperado pelo nascimento de Isaque; mostrou-se pronto para oferecer Isaque como sacrifício. Depois da morte e do funeral de Sara (Gn 23.1-20), Abraão tomou providências para que Isaque recebesse uma esposa dentre os seus próprios parentes de Harã (Gn 24.1-67; cf. 22.20-24). Agiu dessa forma para assegurar que a promessa de descendência continuasse na próxima geração. Feito isso, Abraão morreu (Gn 25.7-8) e foi sepultado ao lado da esposa por Ismael e Isaque. Este raramente ocupou o centro do palco. Nos anos seguintes, Isaque, que antes havia sido objeto das ações de seus pais, tornou-se objeto de luta de seu filho Jacó pelas promessas (Gn 27.1-40). Uma cena rara focalizando Isaque mostra-o como o elo me- diante o qual se cumpriram às promessas divinas de que iria receber terra e seria fonte de bênçãos para as nações. O Senhor enviou Isaque para viver entre os filisteus de Ge- rar como Abraão havia feito (Gn 26.1-6). Ali Isaque, a contragosto, abençoou as nações cavando poços de que os filisteus se apropria- ram para o seu uso. Isaque e seu clã60 provaram ser tamanha fonte de alimentos aos seus vizinhos, que Abimeleque, rei dos filisteus, fez aliança com ele, reconhecendo-lhe os direitos na terra prometida. A Luta de Jacó Pelas Promessas (Gn 25.19-34; 27.1-36.43) Isaque exerceu o papel de um elo passivocom as promessas de Deus a Abraão. Em contrapartida, Jacó, o caçula de Isaque, lutou ao longo de sua vida pelo melhor que Deus havia prometido. 60 Unidade social formada por indivíduos ligados a um ancestral comum por laços de descendência demonstráveis ou putativos. 2 Gênesis 90 • Capítulo 2 O começo da luta (Gn 25.19-26). Assim como a esterilidade de Sara exigiu a Abraão que con- fiasse em Deus para obter o descendente, a mesma deficiência em Rebeca exigiu séria oração do marido Isaque (Gn 25.21). Javé, agindo fielmente com a promessa que fizera a Abraão, respondeu e concedeu não só um, mas dois filhos: Esaú e Jacó. O fato de Jacó nascer agarrado ao calcanhar de Esaú num esforço por ser o primogênito (Gn 25.26) introduz o tema principal das histórias de Jacó – sua luta pelas bênçãos prometidas. A luta pelo direito de primogenitura (Gn 25.27-34). Contrariando as normas sobre sucessão e herança, o Senhor deu a Jacó os direitos de primogenitura, embora humanamente Jacó tenha manipulado seu irmão a fim de recebê-la (Gn 25.27-34). Esaú, sendo o filho mais velho de Isaque, devia ter herdado o direito de primogenitura, o direito à liderança da família. No entanto, ele o perdeu num momento de autopiedade (Gn 25.27-34). A luta pela bênção (Gn 26.34-28.9). Esaú ainda conservava sua posição como herdeiro das pro- messas da aliança em sucessão a Abraão e Isaque. Mas quando ficou evidente por meio de seu casamento com mulheres hititas que ele era indigno do privilégio da aliança (Gn 26.34-35), sua mãe Rebeca pôs-se a substitui-lo pelo irmão Jacó. Quando chegou o dia de Isaque designar Esaú como benefi- ciário das bênçãos prometidas de Deus, Jacó apareceu em seu lugar. Estando Isaque já cego foi enganado, e concedeu sua bênção irre- vogável (Gn 27.27-29). No mundo antigo, o ato de proferir uma bênção, do mesmo modo que a assinatura de um contrato em nossos dias, dava às pa- lavras uma força de obrigação. Jacó conseguiu assim o controle do direito de primogenitura e da bênção. Embora o meio pelo qual adquiriu a bênção não tenha sido honroso, porém, o Senhor havia predito o seu triunfo já na ocasião de seu nascimento (Gn 25.23). 2 Gênesis 91 Enfurecido por esse desenrolar dos acontecimentos, Esaú planejou matar seu irmão. Rebeca instou com Jacó para que fugisse para Padã-Arã, sua terra natal, a fim de salvar sua vida e também para conseguir uma esposa dentre seus parentes. A fidelidade de Deus quanto às promessas (Gn 28.10-22). O cuidado vigilante de Deus se torna evidente em Betel, onde Jacó encontrou a Javé num sonho (Gn 28.10-12). Ele se revelou a Jacó como o Deus de seus pais, aquele que daria continuidade às promessas da aliança através dele (Gn 28.13-14). A luta continua (Gn 29.1-31.55). Encorajado dessa forma, Jacó foi até Harã, onde planejou junto ao seu tio Labão o direito de se casar com suas filhas Lia (ou Léia) e Raquel (Gn 29.1-30). A promessa divina de muitos descendentes começou a se cumprir com Jacó se tornando pai de onze filhos e uma filha na luta das esposas por filhos (Gn 29.31-30.24). Em sua luta contra o astuto tio Labão, Jacó se tornou próspero, além de suas mais fantásticas ex- pectativas (Gn 30.25-43). Raquel se uniu a Jacó na luta contra Labão roubando-lhe os ídolos do lar (Gn 31.17-35). Com Labão decidido a se vingar, só a intervenção de Deus num sonho trouxe um final pacífico à sua luta com Jacó (Gn 31.36-55). O retorno à terra prometida (Gn 32.1-33.17). Finalmente, após vinte anos, Jacó retornou à sua terra natal. No caminho, ficou sabendo que Esaú vinha ao seu encontro (Gn 32.3-8). Temendo que seus próprios esforços para salvaguardar-se da vingança de Esaú fossem insuficientes, Jacó suplicou ao Senhor que o livrasse (Gn 32.9-21). O Senhor apareceu novamente a Jacó, dessa vez em forma de adversário humano e lutou com o patriarca por toda a noite (Gn 32.22- 2 Gênesis 92 • Capítulo 2 32). Impressionado com a luta persistente, o “homem” abençoou a Jacó com uma mudança de nome (de Jacó para Israel, príncipe de Deus). O enganador (hb. ya akob) havia se tornado nobre, apto para governar por meio da autoridade do Deus Soberano. O encontro com Esaú logo a seguir foi pacífico (Gn 33.1-17). De fato, Jacó viu no perdão de Esaú o reflexo da face de Deus. A ameaça da assimilação (Gn 33.18-34.31). Jacó se mudou para Canaã, chegando inicialmente a Siquém, o primeiro ponto de parada do seu avô Abraão (Gn 33.18-20; veja 12.6). Tendo obtido uma grande propriedade ali, Jacó edificou um altar. O estupro de Diná ilustra com cores vivas a moralidade licen- ciosa dos cananeus nativos (Gn 34.1-7). A proposta de casamento de Siquém ilustra a ameaça do casamento misto (Gn 34.8-24). A matança dos homens de Siquém (Gn 34.25-31) antecipa a conquista da terra por Israel sob liderança de Josué. A reafirmação das promessas (Gn 35.1-36.43). Jacó viajou para Betel, de novo nos passos de Abraão (Gn 35.1- 7; veja 12.8). Ali, como tinha ocorrido antes, Jacó viu o Senhor numa visão e recebeu ainda outra promessa de presença divina e bênção (Gn 35.9-12). Ele seria pai de nações e reis e herdaria a terra de seus pais. A lista de seus descendentes imediatos (Gn 35.23-26) atesta o início do cumprimento da promessa. Mesmo Esaú, que teve de se contentar com uma bênção se- cundária (Gn 27.39-40), deu origem a um povo poderoso (Gn 36). 2 Gênesis 93 A Libertação Mediante José (Gn 37.1-50.26) O papel de Israel como “o povo da promessa” estava sendo colocado em risco pela aceitação dos baixos padrões morais dos cananeus nativos. O incesto61 entre Rúben e a concubina de seu pai (Gn 35.22) dá uma ideia dessa transigência62 moral. O casamento de Judá com a cananéia Sua e o seu caso posterior com a sua nora Tamar torna claro o perigo. A fim de preservar seu povo, Javé removeu os israelitas desse ambiente pecaminoso para o Egito, onde poderiam amadurecer e se tornar em uma “nação da aliança”, condição para a qual ele os estava preparando. Isso explica a história de José. Seus irmãos o venderam para o Egito a fim de se livrarem do irmão sonhador. Deus, no en- tanto, usou essa expressão de ódio como oportunidade para salvar Israel tanto da fome física como da extinção espiritual. A ascensão de José à posição de autoridade no Egito, em cumprimento de seus sonhos dados por Deus, ilustra a bênção do Senhor sobre seu povo. A sabedoria de José na administração dos negócios agrícolas do Egito é mais um cumprimento da promessa divina: “abençoarei os que te abençoarem”. Ficou comprovado que o que parecia uma série de disparates63 e injustiças nas experiências terrenas de José era, na verdade, Deus agindo nas sombras para demonstrar sua obra soberana do Reino entre as nações. Ninguém tinha mais consciência disso do que José, pelo menos nos últimos anos. Depois de se revelar aos irmãos, ele disse: “Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento” (Gn 45.7). Anos mais tarde, após a morte de Jacó, quando os irmãos de José temiam por sua vingança, ele lhes lembrou: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer [...] que se conserve muita gente em vida” (Gn 50.20). A tragédia humana havia se tornada ocasião para triunfo divino. O último desejo de José – ser sepultado na terra da promessa – olha adiante, para a futura tragédia da experiência de escravidão de Israel, e antecipa o triunfo de Deus no êxodo (Gn 50.22-26). 61 União sexual ilícita entre parentes consangüíneos, afins ou adotivos. 62 Ato ou efeito de transigir; condescendência, tolerância. 63 Dito ou ação desarrazoada; absurdo. 2 Gênesis 94 • Capítulo 2 A Mensagem Para Hoje Como aplicar? Uma contribuição óbvia do livro de Gênesis ao mundo moder- no é a sua explicação sobre as origens das coisas que não poderiam ser entendidas de nenhum outro modo. Ou seja, ele tem valor cien- tífico e histórico, mesmo que este não seja seupropósito principal. Mais fundamentalmente, Gênesis lida com a essência do significado do fato de os seres humanos terem sido criados à imagem de Deus. Quem somos nós? Por que existimos? O que devemos fazer? A não consideração dos planos de Deus para a humanidade tem resultado em pensamentos e ações caóticos64, sem propósito. Em última análise, a vida sem o verdadeiro conhecimento da natureza humana como imagem de Deus, e da função humana na adminis- tração da criação de Deus, é uma vida sem sentido. Quando alguém vive o resto de seus dias à luz de Gênesis, vê a vida em contato e harmonia com o Deus do universo. O domínio de Deus se torna uma realidade à medida que os seres humanos se conformam com os alvos divinos para a sua criação. Gênesis resume as in- tenções do Criador. Como pecadores, somos incapazes de realizar os propósitos de Deus para as nossas vidas mediante nossos próprios esforços. Só a intervenção de Deus traz esperança para nossa vida. Nossa salvação é obra de Deus. 64 Que está em caos; confuso, desordenado. 2 Gênesis 95 O Valor Ético Qual é a principal lição de Gênesis? O Efeito horrível do pecado é um dos temas admiráveis de Gênesis. Essa maleficência frustrou os planos de Deus para a raça humana. Portanto, tinha de ser tratado antes que esses planos pu- dessem ser concretizados. Gênesis ensina o horror e a seriedade do pecado e suas reper- cussões trágicas. Além da história da “queda”, cada relato em Gênesis mostra às pessoas como viver de modo vitorioso diante de elementos contrários a Deus que atuam neste mundo decaído e descreve o que acontece quando fracassamos nisso. Caim, por sua falta de fé, desonrou a Deus e depois matou seu irmão. Lameque, com orgulho jactancioso, revelou os absurdos das concepções humanas da vida. A mistura das sociedades dos “filhos de Deus” e humana mostra o resultado inevitável da desobediência às regras quanto às posições na vida definidas por Deus. O orgulho dos construtores da torre de Babel demonstra a arrogância do povo que procura tornar conhecido o próprio nome em vez de honrar o nome do Senhor. Os modelos de fé e obediência – Abel, Enoque, Noé, Abraão e José – são instrutivos. O compromisso deles com a justiça e com a integridade de vida fala com eloqüência do que significa ser um cidadão do Reino, trabalhando fielmente para cumprir as elevadas e santas responsabilidades desse chamado. 2 Gênesis 96 • Capítulo 2 2 Gênesis 97 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. Quanto a Abraão, é incerto dizer que a) ☐ A história dos patriarcas centraliza-se e baseia-se na aliança ao qual Deus fez com ele b) ☐ Foi chamado do paganismo assírio para a fé no Deus vivo c) ☐ Deus lhe concedeu um conjunto incondicional de promessas – descendentes e bênção d) ☐ Prometeu guiá-lo para Canaã, o cenário terreno para a con- cretização das promessas divinas 10. Cumpriu um papel passivo do elo, de modo bem diferente dos demais patriarcas, os quais tiveram um papel ativo na realização das promessas de Deus a) ☐ Abraão b) ☐ José c) ☐ Jacó d) ☐ Isaque 11. A mudança de nome de Jacó para Israel, príncipe de Deus, ocorreu a) ☐ Durante sua fuga à Padã-Arã, para que seu irmão Esaú não o matasse b) ☐ Após o Senhor ter aparecido novamente, dessa vez em forma de adversário humano para lutar contra ele por toda a noite c) ☐ Em sua viagem à Betel, onde, viu o Senhor numa visão e rece- beu ainda outra promessa de presença divina e bênção d) ☐ No caminho de sua ida ao Egito, onde fora morar num lugar designado por José, seu filho 12. A proposta de casamento de Siquém, ilustra a) ☐ A benção do casamento b) ☐ A benção do casamento na direção de Deus 2 Gênesis 98 • Capítulo 2 c) ☐ A ameaça do casamento misto d) ☐ A ameaça do casamento entre consangüíneos 13. Não agiu como modelo de fé e obediência a) ☐ Lameque b) ☐ Abel c) ☐ Enoque d) ☐ José Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) Por meio de Ismael, Deus honrou sua promessa de que só os hebreus chamariam Abraão de “pai” 15.( ) A sabedoria de José na administração dos negócios agrícolas do Egito é mais um cumprimento da pro- messa divina: “abençoarei os que te abençoarem” 16.( ) Uma contribuição óbvia do livro de Gênesis ao mundo moderno é a sua explicação sobre as origens das coi- sas que podem ser entendidas de diversas maneiras Anotações 99 AnotaçõesAnotações Anotações 100 101 Êxodo - Levítico 3º Capítulo Êxodo - Levítico 102 • Capítulo 3 Êxodo - Levítico 103 Êxodo - Levítico Uma fuga espetacular e uma cena de perseguição de arrepiar os cabelos são apenas duas das muitas histórias que en- chem as páginas do livro de Êxodo. Mas esse livro é muito mais que uma aventura épica65; relata o livramento sobrenatural de Deus para com um povo. Apesar da intervenção de Deus, os israelitas foram incapazes de permanece- rem fiéis – mesmo diante de milagres que Ele realizou no meio deles. Mas, observar a falta de fé do povo de Israel pode servir de clara lição. Mesmo um povo imperfei- to pode conhecer o Deus que o ama de modo perfeito. Êxodo, cujo significado é “saída, partida”, foi o título que a Septuaginta, tradução do vocábulo grego “éksodos”, deu ao segundo livro da Torá (cf. Êx 19.1). Alguns intérpretes entendem que as declarações contidas em Êxodo 17.14; 24.4; 34.27 apontam Moisés como o autor da forma final do livro. Outros estudiosos entendem que tais declarações indicam que Moisés escreveu só partes específicas, como o relato da derrota dos amalequitas (Êx 17.8-13), o “livro da aliança” (caps. 21-23) e as instruções em Êxodo 34.10-26. Os críticos mais radicais negam toda ligação de Moisés com o material de Êxodo. Os intérpretes que aceitam a autoria tradicio- 65 Fora do comum; incomum, extraordinário, homérico. Respeitante à epopéia (ação ou série de ações heróicas) e aos heróis. O ícone abaixo indica: Neste capítulo veremos; • Êxodo - Levítico • Extrutura Literária • Propósito e Teologia • Deus e a Libertação da Escravidão Egípcia • Levítico • A Necessidade de Mediadores Sacer- dotais 3 Capítulo Atenção e Foco Êxodo - Levítico 3 104 • Capítulo 3 nal do livro sustentam que Moisés o colocou em sua forma presente desde a peregrinação no Sinai (cerca de 1444 a.C.) até a conquista das planícies de Moabe, logo antes de sua morte (cerca de 1406 a.C.). Moisés foi testemunha ocular de praticamente todas as ocorrências do livro, exceto Êxodo 1.1-2.10. A primeira seção, com certeza, pode ter chegado a ele por fontes escritas ou orais. O restante do livro traz todos os indícios66 de ter sido composto como um diário registrado à medida que os vários episódios aconteciam. O autor, portanto, designa Moisés como o editor final de uma coletânea de memórias. Outros intérpretes vêem o livro de Êxodo como produto da reflexão inspirada de muitas gerações do povo de Deus que trabalharam para discernir o significado do evento do êxodo para o culto e para a vida prática. 66 Sinal, vestígio, indicação. Êxodo- Levítico 3 105 Por que ler esse livro? É difícil destacar um tema que unifique todos os dados va- riados de Êxodo. Um grupo de estudiosos vê o encontro do Sinai, onde a nação redi- mida encontrou Javé e concordou em firmar aliança com Ele, como o centro teológico. A perseguição de Israel no Egito; o nascimento de Moisés, seu exílio em Midiã e sua volta para o Egito como líder de Israel; e o próprio acontecimento grandioso do Êxodo; são fatores que levam ao ápice o compromisso da aliança. Assim também, tudo o que ocorreu depois – o estabelecimento dos métodos de adoração, sacerdócio e tabernáculo – brotam da aliança e permitem que ela possa ser colocada em prática. Um segundo grupo de estudiosos vê a presença de Deus com Israel e em seu meio como o centro teológico do livro. A presença salvadora do Senhor com Israel resulta em livramento da escravidão egípcia (Êx 1-15). A presença contínua de Javé com os israelitas exige culto e obediência ao compromisso da aliança (Êx 16-40). Um terceiro grupo vê o senhorio do Pai como o tema teológico cen- tral. Em Êxodo, Deus é revelado como Senhor da história (Êx 1.1- 7.7), Senhor da natureza (Êx 7.8-18.27), Senhor de Israel, o povo da aliança (Êx 19.1-24.14) e Senhor do culto (Êx 25.1-40.38). Como foi escrito? Êxodo inclui vários tipos e gêneros literários, entre eles poesia, textos de aliança e material legal. Não é possível examinar aqui todo o livro e identificar a rica variedade de expressões literárias; portanto, é preciso ater-nos a poucas passagens. Um dos grandes poemas do Antigo Testamento é o “Cântico do Mar” (Êx 15.1-18,21). Essa obra celebra o livramento de Israel, o êxodo do Egito, com a travessia do mar Vermelho (Êx 15.1a). O po- ema mistura características de hino de louvor, cântico de coroação, litania67 e salmo de vitória. Essa mistura dá a entender que tenha múltiplos propósitos. 67 Oração formada por uma série de invocações curtas e respostas repetidas. Êxodo - Levítico 3 106 • Capítulo 3 A presença de certos temas e termos característicos de mitos mesopotâmicos e cananeus não indica que seja um simples mito, nem mesmo moldado segundo os mitos. O poema só emprega as imagens e o estilo vivo da poesia mí- tica68 para comunicar a majestade esplêndida de Deus e seu domínio sobre seus inimigos. Por um lado, os paralelos entre a poesia épica ugarítica69 da Idade Posterior do Bronze (cerca de 1500-1200 a.C.) dão evidências de sua grande antigüidade e composição mosaica. Benefício ainda maior proveio da descoberta de que partes do livro, especificamente Êxodo 20.1-23.33, lembram, tanto em forma como em conteúdo, certos textos de alianças e códigos legais do antigo Oriente. Estudiosos têm observado paralelos nítidos entre textos hiti- tas antigos, textos de aliança e textos legais do Antigo Testamento. Uma conseqüência disso é que, pelo menos agora, muitos estudiosos pensam que essas passagens de Êxodo são muito mais antigas do que se imaginava. De acordo com alguns estudiosos, Êxodo 20-23 segue o padrão de um tratado soberano-vassalo, em que um grande rei, como o rei hitita, iniciava um contrato com um rei derrotado ou mais fraco (agora um vassalo ou agente dos hititas) e firmava alguns compro- missos da parte do rei hitita. Os textos dos tratados hititas contêm invariavelmente certas cláusulas70 numa ordem em geral inalterável. O texto de aliança em Êxodo 20-23, como o tratado hititas, contém estipulações71 tanto gerais como específicas. Os Dez Mandamentos (Êx 20.1-17) constituem a chamada seção de “estipulações gerais” do texto de aliança. Eles definem prin- cípios fundamentais de comportamento sem referências a motivos ou resultados. A segunda divisão principal, Êxodo 21.1-23.19, é descrita como “estipulações específicas”. Seu propósito é detalhar os princípios es- tabelecidos dos Dez Mandamentos e tratar de problemas específicos enfrentados pela comunidade. 68 Relativo ou pertencente a mito. 69 Referente à antiga cidade de Ugarit (na atual Síria). A língua que era falada nessa cidade. 70 Cada um dos artigos ou disposições dum contrato, tratado, testamento, ou qualquer outro documento semelhante, público ou privado. 71 Ajuste, convenção, contrato. Condição de um ajuste ou contrato; cláusula. Êxodo - Levítico 3 107 A primeira subdivisão dessa parte (Êx 21.1-22.7) consiste em jurisprudência72. Ali os estatutos dizem: “Se alguém... eis a penali- dade”. A segunda subdivisão (Êx 22.18-23.19) é composta principal- mente de absolutos morais: “Não...” ou “Se fizerdes isto e aquilo... não fareis isto e aquilo”. A importante percepção teológica obtida quando se reconhece que Êxodo 20-23 é aliança em natureza, não só lei, depende em última análise da comparação com tratados antigos do Oriente. O livro insere material legal (Êx 20-23) entre narrativas que prenunciam (Êx 19) e relatam o compromisso de Israel com a aliança (Êx 24). Essa estrutura de inserção dá a entender que as partes legais encontram seu devido lugar no contexto da aliança. Em outras palavras, Êxodo não é um tratado legal “abstrato”. Antes, é lei nascida na situação “concreta” da aliança de Javé firmando compromisso com a nação de Israel, a quem Ele livrou da escravidão egípcia. Extrutura Literária É árdua a tarefa de descobrir a estrutura literária de Êxodo. Alguns intérpretes discernem uma estrutura geográfica. • Israel no Egito (Êx 1.1-13.16); • Israel no deserto (Êx 13.17-18.27); • Israel no Sinai (Êx 19.1-40.38). Outros se atêm ao conteúdo para esboçar Êxodo: • Livramento do Egito e jornada em direção ao Sinai (Êx 1.1-18.27); • Aliança no Sinai (Êx 19.1-24.18); • Instruções para o tabernáculo e para o culto (Êx 25.1-31.18); • Quebra e renovação da aliança (Êx 32.1-34.35); • Construção do tabernáculo (Êx 35.1-40.38). 72 Ciência do direito e das leis. Conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores. Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento. Êxodo - Levítico 3 108 • Capítulo 3 Ainda outros intérpretes focalizam um tema teológico central. Por exemplo, Êxodo pode ser dividido em duas partes centradas no nascimento físico (Êx 1.1-15.27) e espiritual (Êx 16.1-40.38) da nação de Israel. O esboço a seguir toma a presença de Javé como o tema central de Êxodo. • A presença salvadora de Deus: libertação da es- cravidão egípcia (Êx 1.1-13.16); • A presença orientadora e provedora de Deus: a jornada para o Sinai (Êx 13.17-18.27); • A presença existente de Deus: a aliança do Sinai (Êx 19.1-24.18); • A presença do Deus a ser adorado: regras para o tabernáculo e para os sacerdotes (Êx 25.1-31.18); • A presença de um Deus que disciplina e perdoa junto a um povo desobediente (Êx 32.1-34.35); • A presença permanente de Deus junto a uma co- munidade obediente e que o adora (Êx 35.1-40.38). Êxodo - Levítico 3 109 Propósito e Teologia O que se deve buscar em Êxodo? O livro de Êxodo é a história de dois parceiros em aliança – Deus e Israel. Aponta, em forma de narrativa, como Israel tornou-se povo de Javé e estabelece os termos da aliança pela qual a nação devia viver como povo de Deus. Define o caráter do Deus fiel, poderoso, salvador e santo que estabelece uma aliança com Israel - caráter esse que é revelado pelo nome e também pelos atos de Deus. • Nome. O mais importante dos nomes de Deus é Javé, o nome da aliança, Javé designa Deus como o “Eu Sou”, que está presente com o seu povo e age em favor dele. Outro nome importante, “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Êx 3.6,15- 16), retrata Deus como aquele que é fiel às suas promessas aos patriarcas. • Atos. Êxodo também revela o caráter de Deus por meio de seus atos. Deus preservou Israel da fome, enviando José ao Egito (Êx 1.1-7). Faraós vêm e vão (Êx 1.8); Deus, porém, permanece o mesmo e preserva seu povo através da opressão da escravatura (Êx 1.8-2.10). O Deus de Israel resgata e salva (Êx 6.6;14.30), guia e provê (Êx 15.13,25; 16.4,8), disciplina e perdoa (Êx 32.1-34.35). Êxodo também define o caráter do povo de Deus. Linhas de ligação com Gênesis, especialmente com as narrativas acerca dos patriarcas, demonstram que os propósitos do Senhor para com Is- rael repousavam nas promessas aos pais. O livro olha também para o futuro, para a terra da promessa, pois a terra era indispensável para Israel ser uma nação plena. Coloca-se, por conseguinte, como encruzilhada entre as promessas do passado e a culminação73 delas no futuro. 73 Auge, apogeu, zênite; culminação. Êxodo - Levítico 3 110 • Capítulo 3 O seu ápice teológico aparece em Êxodo 19.4-6, que esboça a verdadeira natureza de Israel e seu lugar no plano de Deus. Javé havia julgado os egípcios; libertado seu povo “sobre asas de águias” e o aproximara deles mesmo no Sinai. Ali o Senhor ofereceu a Israel uma aliança. Se fosse aceita e vivenciada, a aliança faria com que Israel fosse “propriedade peculiar”, escolhido como “reino de sacerdotes” e “nação santa”. O povo aceitou esses termos e jurou: “Tudo o que o SENHOR falou faremos” (Êx 19.8). Para Israel, ser reino de sacerdotes implicava que o povo de Deus atuaria como mediador e intercessor, pois esse é o âmago da função sacerdotal. Israel devia preencher a lacuna entre o Deus santo e um mundo alienado. Em outras palavras, Israel tornar-se-ia um povo de servos, servos de Javé, cuja tarefa era ser um canal de recon- ciliação. Essa missão foi pronunciada na aliança que os descendentes de Abraão (Israel) foram apontados como o meio pelo qual todas as nações da terra seriam abençoadas (Gn 12.1-3; 22.18; 26.4). O chamado de Israel para a aliança era fundamentado, não em seu mérito, mas na livre escolha de Deus: “vos levei sobre asas de águia e vos cheguei a mim” (Êx 19.4). A aliança, portanto, não fez de Israel o povo de Javé. Israel era povo de Javé por descender de Abraão, Isaque e Jacó, os receptores das promessas de Deus. Mesmo o êxodo, por conseguinte, não criou o povo de Deus. O êxodo resgatou o povo escravizado de Deus, formou com eles uma nação e os colocou numa posição histórica e teológica em que pudesse aceitar (ou rejeitar) voluntariamente a responsabilida- de de tornar-se instrumento de Deus para abençoar todas as nações (cf. Sl 114.1-2). Em outras palavras, a oferta da aliança só acarretava função. Não fazia de Israel povo de Deus, pois tal relacionamento fora esta- belecido e reconhecido muito antes (cf. Êx 3.7; 4.22-23; 5.1). O que a aliança do Sinai realizou foi definir a tarefa do povo de Javé. Para concluir, a teologia de Êxodo está arraigada no serviço. Ela está centrada na verdade que um povo escolhido, libertado da escravidão a um poder hostil pelo poder de Javé, foi levado a um ponto decisivo. Que faria com a oferta divina de torná-lo o povo de servos há muito prometida a Abraão? A aceitação voluntária dessa oferta generosa abrigou o povo às suas condições, detalhadas no livro da aliança (Êx 20.1-23.22) e no restante do livro de Êxodo. Êxodo - Levítico 3 111 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. Êxodo, foi o título dado pela Septuaginta, cujo significado é a) ☐ “Passagem” b) ☐ “Jornada” c) ☐ “Despedida” d) ☐ “Saída, partida” 2. De acordo com um grupo de estudiosos, são acontecimentos que brotam da aliança e permitem que ela possa ser colocada em prática a) ☐ O estabelecimento dos métodos de adoração, sacerdócio e tabernáculo b) ☐ O próprio acontecimento grandioso do Êxodo c) ☐ A perseguição de Israel no Egito d) ☐ O nascimento de Moisés, seu exílio em Midiã e sua volta para o Egito como líder de Israel 3. Sabendo que o livro de Êxodo possui um dos grandes poemas do Antigo Testamento, assinale a alternativa correta a) ☐ O poema é conhecido como o “Cântico de Hesbom” b) ☐ Emprega as imagens somente, para comunicar a majestade esplêndida de Deus e seu domínio sobre seus inimigos c) ☐ Essa obra celebra o livramento de Israel, o êxodo do Egito, com a travessia do mar Vermelho d) Não mistura características de hino de louvor, cântico de coroação, e sim, litania e salmo de vitória 4. O livro de Êxodo é a história de dois parceiros em aliança, que são a) ☐ Moisés e Arão b) ☐ Deus e Israel c) ☐ Moisés e Israel Êxodo - Levítico 3 112 • Capítulo 3 d) ☐ Deus e Moisés 5. O que a aliança do Sinai realizou foi a) ☐ Definir a tarefa do povo de Javé b) ☐ Estabelecer um relacionamento à Israel como povo de Deus c) ☐ Fundamentar a aliança, devido aos méritos de Israel d) ☐ A aliança, portanto, fez de Israel o povo de Javé Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) Alguns intérpretes apontam Moisés como o autor da for- ma final do livro, outros, como os críticos mais radicais, negam toda ligação de Moisés com o material de Êxodo 7.( ) Êxodo inclui vários tipos e gêneros literários, en- tre eles poesia, textos de aliança e material legal 8.( ) Êxodo não é um tratado legal “concreto”. Antes, é lei nascida na situação “abstrata” da aliança de Javé firmando compromisso com a nação de Israel Anotações 113 AnotaçõesAnotações Anotações 114 Êxodo - Levítico 3 115 Deus e a Libertação da Escravidão Egípcia (Êx 1.1-13.16) A presença de Deus em seu povo oprimido (Êx 1.1-22). A história de Êxodo começa recordando o relato, contido em Gênesis, da descida de Jacó e seus filhos ao Egito e sua permanência ali até depois da morte de José (Gn 46-50). O elo com Gênesis lembra aos leitores que Deus enviou Israel ao Egito para livrá-lo da fome. A prosperidade e sucesso na nova terra mostram que Israel era beneficiário das bênçãos de Deus para a criação e para Abraão (Êx 1.1-7). Mas, a hospitalidade egípcia não sobreviveu muito depois de José; dentro de uma geração ou duas antes do nascimento de Moi- sés, transformou-se em amargura hostilidade e opressão. Israel foi subjugado a trabalho forçado e por fim, sujeito à matança de seus recém-nascidos de sexo masculino (Êx 1.8-22). Mesmo nos anos de opressão, Deus estava com Israel, fa- zendo-o prosperar (Êx 1.12,20). O Senhor havia revelado a Abraão que sua descendência sofreria opressão, mas que sua servidão seria suspensa por um grande ato redentor. Os egípcios seriam julgados, e o povo (Israel), escravizado, liberto para retornar à própria terra (Gn 15.13-16). A experiência de escravidão não foi um desastre que provou a irrelevância de Deus; foi só uma parte do plano redentor do Senhor da história. Em oposição ao Senhor da história encontram-se os fara- ós, que iam e vinham (Êx 1.8; 2.23) e tremiam de medo (Êx 1.9-10). A presença de Deus com o jovem Moisés (Êx 2.1-22). A presença salvadora de Deus é evidente no início da vida de Moisés, o agente humano no livramento divino. Os pais levitas de Moisés o salvaram de morte cruel, escondendo-o num cesto no Nilo (Êx 2.1-10). Êxodo - Levítico 3 116 • Capítulo 3 Resgatado pela filha de Faraó, o menino foi criado pela própria mãe, que o apresentou ao Deus de Israel. Ainda que mais tarde tenha desfrutado os privilégios da corte real, Moisés jamais esqueceu sua herança israelita. Ao ver um com- patriota hebreu ser maltratado, foi em seu socorro, matando assim o oficial egípcio (Êx 2.11-14). Esse ato impulsivo, embora heróico, forçou-o ao exílio em Midiã. Ali foi ajudar as filhas de Reuel (Jetro), sacerdote midianita. Lá se casou com Zípora, uma das filhas do pas- tor (Êx 2.15-22). Deus revela sua presença a Moisés (Êx 2.12-4.17). A morte do antigo rei do Egito abriu caminho para a volta de Moisés a fim de conduzir seu povo à liberdade (Êx 2.23-25). Mas, primeiro o Deus eterno tinha de revelar-se a ele, fazendo uma demonstração convincente de seu poder e propósitos. Deus o fez no monte de Horebe(Sinai), na sarça ardente que não se consumia (Êx 3.1-12). Nessa manifestação maravilhosa, o Senhor identificou-se como o Deus dos ancestrais74 de Israel, aquele que tinha consciência do sofrimento de seu povo e agora vinha para cumprir a promessa de livramento e terra. Mesmo conhecendo o Deus de seus pais e as antigas promessas da aliança, Moisés precisava saber com exatidão como Deus se identificaria para com seu povo. A resposta foi como Javé, o “Eu Sou”, que os redimiria e viveria entre eles (Êx 3.13-22). Moisés sentiu-se despreparado para a tarefa dada por Deus. O ponto crucial não era o “quem sou eu?” de Moisés, mas, o “Eu serei contigo” de Deus (Êx 3.11-12). Moisés duvidou que o povo aceitasse sua liderança ou cresse em seu relato sobre a experiência da sarça ardente. Assim, Javé lhe deu evidência tangível de sua presença e bênção, transformando o cajado de Moisés numa serpente e fazendo sua mão ficar leprosa (Êx 4.1-9). Ainda sem confiar no sucesso, Moisés alegou que não era elo- qüente. Mais uma vez, diante de suas objeções, Javé prometeu fazer de se irmão Arão seu porta-voz. Aliás, Deus já havia enviado Arão ao seu encontro (Êx 4.10-17). 74 As pessoas de quem se descende; antecessores, antepassados, ascendentes, avós. Êxodo - Levítico 3 117 A presença de Deus com Moisés no Egito (Êx 4.18-13.16). Moisés finalmente rendeu-se a Deus e voltou ao Egito com esta mensagem à Faraó: “Israel é meu filho, meu primogênito [...] deixa ir meu filho, para que me sirva” (Êx 4.22,23). No percurso, Javé encontrou-se com Moisés e ameaçou ma- tá-lo porque ele, que estava para conduzir o povo circuncidado de Israel, falhara, deixando de circuncidar o próprio filho. Só a rápida intervenção de Zípora o salvou, pois ela logo circuncidou o filho em obediência às exigências da aliança (Êx 4.18-26). Nos limites do deserto Moisés encontrou Arão. Juntos, entraram no Egito para enfrentar os anciões de Israel. Depois de Moisés relatar tudo o que Deus havia dito e feito, os anciões e o povo ouviram com fé e se curvaram diante do Senhor (Êx 4.27-31). A pergunta do Faraó: “quem é o SENHOR para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel?” (Êx 5.2), prepara o palco para o conflito que domina a cena até Êxodo 15. Antes de terminar o drama da redenção, Faraó “conheceria o SENHOR” e se submeteria à sua poderosa presença salvadora. Mas, Faraó intensificava os sofrimentos dos israelitas (Êx 5.1-21). E isso fez com que Moisés, amargurado, acusasse Javé (Êx 5.22-6.1). O Pai renovou sua promessa de estar com Israel no livramento, promessa baseada de modo seguro no próprio nome da aliança, Javé (Êx 6.2-9). Deus ordenou que Moisés voltasse à presença de Faraó com a promessa de que o monarca egípcio ficaria sabendo que havia uma autoridade maior. Moisés seria como o próprio Deus para com Faraó, e Arão seria seu profeta. Por seus atos poderosos de julgamento, Deus se faria conhecer aos egípcios (Êx 6.28-7.7). Várias vezes Moisés e Arão ordenaram a Faraó que deixasse o povo de Deus sair do Egito para prestarem cultos. Apesar dos sinais, maravilhas e pragas que revelaram a presença poderosa do Senhor, o rei do Egito não se abrandou75. Na primeira rodada do conflito, o bordão76 de Arão tornou-se numa serpente que engoliu as dos magos egípcios (Êx 7.8-13). 75 Tornar brando; amolecer. 76 Pau grosso, de arrimo; cajado, báculo, bastão, vara, vara-pau. Êxodo - Levítico 3 118 • Capítulo 3 Seguiram-se três pragas: • O Nilo foi transformado em sangue (Êx 7.14-25), • A terra ficou cheia de rãs (Êx 8.1-15), • E o Egito foi afligido por piolhos (Êx 8.16-19). Os próprios mágicos de Faraó conseguiram repetir os dois primeiros feitos, de modo que ele não se impressionou. Mas, o rei egípcio pediu que Moisés e Arão orassem: “Rogai ao SENHOR que tire as rãs de mim e do meu povo” (Êx 8.8). Faraó estava travando conhecimento com Javé, o Deus de Israel. A praga dos piolhos, a última da primeira rodada, excedeu os poderes mágicos dos magos egípcios, fazendo-os confessar: “Isto é o dedo de Deus” (Êx 8.19). Na segunda rodada do conflito, a praga das moscas (Êx 8.20-32) demonstrou que Javé estava presente no Egito. Nessa praga, a grave doença do gado (Êx 9.1-7) e os tumores (Êx 9.8-12), Deus fez distinção entre os egípcios que sofreram o julgamento de Deus e os israelitas, que gozaram de sua proteção (Êx 8.23; 9.7,11). A terceira rodada do conflito consiste igualmente em três pragas. Antes de enviar o granizo77 (Êx 9.13-35), o Senhor afirmou que só Ele é Senhor da história. Javé havia levantado Faraó com o propó- sito expresso de demonstrar seu poder grandioso e proclamar seu santo nome (Êx 9.16). Aliás, alguns dos oficiais do monarca egípcio “temiam a palavra do SENHOR” (Êx 9.20), e Faraó confessou seu pecado (Êx 9.27). A oração de Moisés para acabar com o granizo demonstrou que “a terra é do SENHOR” (Êx 9.29). Faraó, porém, voltou a endu- recer o seu coração. As pragas de gafanhotos (Êx 10.1-20) e densas trevas (Êx 10.21-29) seguiram-se inutilmente. A quarta e decisiva rodada do conflito consistiu em uma única praga: a morte do primogênito de cada família no Egito. Por fim, Faraó permitiu que Israel deixasse o Egito com suas ovelhas e gados (Êx 12.31-32). 77 Tipo de precipitação atmosférica na qual as gotas de água se congelam ao atravessar uma camada de ar frio, caindo sob a forma de glóbulos ou pedaços de gelo, separadamente ou aglomerados em blocos irregulares; saraiva, chuva de pedra. Êxodo - Levítico 3 119 A estrutura de Êxodo 11-13 delineia a importância teológica permanente dessa praga final. Aqui o linguajar da narrativa relata eventos salvadores únicos (Êx 11.1-10; 12.29-42; 13.17-22) alterna- se com uma fala institucional aplicável ao culto contínuo de Israel (Êx 12.1-28,43-13.16). A Celebração da Páscoa, a Consagração dos Primogênitos e a Festa dos Pães Asmos servem como memoriais contínuos daquilo que Deus fez para redimir seu povo. Os primogênitos de todas as famílias de Israel pertenciam ao Senhor porque Ele os poupou quando dizimou as famílias do Egito (Êx 13.11-16). A Jornada do Sinai – Orientação e Provisão Divina (Êx 13.17-18.27) Êxodo 1.1–13.16, que se concentra na presença poderosa, sal- vadora de Deus, chega com firmeza à sua conclusão dramática – a morte dos primogênitos do Egito e o êxodo de Israel. Êxodo 13.17–18.27 focaliza igualmente a presença de Deus, que aqui orienta, guarda e protege. Por meio das colunas de nuvem e fogo, o Senhor guiou Israel de Sucote ao deserto de Etã, logo ao oeste do mar Vermelho (ou de Juncos, Êxodo 13.17-22). Ali pareciam encurralados pelo mar ao leste, pelos desertos ao norte e ao sul e pelos exércitos egípcios que avançavam pelo oeste. Mais uma vez o Senhor endureceu o coração de Faraó, de modo que, pela sua derrota, o Egito soubesse que Javé é Deus (Êx 14.1-18). Através de uma noite inteira de angústia, a presença do Senhor guardou Israel dos exércitos do Egito (Êx 14.19-20). Então Javé, no ato redentor mais maravilhoso do Antigo Testamento, abriu o mar para que seu povo pudesse passar com segurança, enquanto seus inimigos pereciam (Êx 14.21-31). Dali em diante, por várias gerações, Israel comemorou sua salvação cantando cânticos triunfantes de Moisés e Miriã, hinos que louvaram Javé como Soberano e Salvador (Êx 15.1-21). A jornada do mar Vermelho ao Sinai foi repleta de milagres, assim como: provisão de água (Êx 15.22-37), codornizes (Êx 16.1- Êxodo - Levítico 3 120 • Capítulo 3 20), maná (Êx 16.21-36) e novamente água (Êx 17.1-7). Tudo isso ocorreu apesar da insubordinação queixosa de Israel. Tribos hostis e selvagens do deserto também caíram diante do povo de Deus à medida que ele o fazia avançar, triunfante (Êx 17.8-16). Quando pesados encargos administrativos ameaçavam sobre- carregar Moisés, seu sogro Jetro, lhe ensinou como distribuir melhor a tarefa (Êx 18.1-27). A Aliança do Sinai e a Presença Divina (Êx 19.1-24.18)Várias vezes no relato das pragas Moisés transmitiu a mensagem de Deus à Faraó: “Deixa ir o meu povo, para que me adore (ou sirva)”. Por fim, chegou o momento de culto possibilitado pelo êxodo e pela libertação. No Sinai, Israel devia comprometer-se com Deus em aliança. Javé baseou seu chamado ao compromisso por aliança em seus atos poderosos de livramento (Êx 19.4). Só por meio da obediência à aliança de Deus, Israel podia cumprir sua função como “reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19.5-6). O povo foi unânime em concordar com suas condições, de modo que Moisés preparou-se para subir o monte Sinai a fim de celebrar solenemente o acordo (Êx 19.7-15). Quando estava ele para subir, Javé desceu, visitando o monte com relâmpagos e trovões de sua presença gloriosa. Moisés alertou o povo a respeitar a presença santa (e potencialmente perigosa) de Deus no monte (Êx 19.16-25). Conforme já apontado, a aliança sinaítica (ou mosaica) está em forma textual de tratado soberano–vassalo bem comum no an- tigo Oriente Próximo. O tratado estabelecia a relação entre o rei (Deus) e seus servos (Israel). Seu primeiro trecho é um preâmbulo78 que apresenta aquele que estabelece a aliança, o próprio Deus (Êx 20.2a). Em seguida, um prólogo histórico esboça o já decorrido rela- cionamento das partes e justifica a presente aliança (Êx 20.2b). Se- gue-se então a divisão conhecida como as estipulações gerais, nesse 78 Preliminar. Êxodo - Levítico 3 121 caso, o Decálogo ou Dez Mandamentos (Êx 20.3-17). Após um breve interlúdio narrativo (Êx 20.18-22), o livro da aliança (Êx 20.23-23.33) fornece as estipulações específicas do tratado. As partes contratantes com freqüência selavam o acordo com votos e com uma cerimônia que incluía uma refeição de confraterni- zação. A aliança sinaítica também teve seu sacrifício, selando o voto com sangue (Êx 24.1-8) e com uma refeição de aliança (Êx 24.9-11). A aliança ou os textos do pacto também tinha de ser prepara- dos em duplicata e preservados em lugar seguro para leitura regular, periódica. Assim, Moisés desceu da montanha com as tábuas de pedra que deviam ser guardadas na arca da aliança (Êx 24.12-18; 25.16). A Presença de Deus: Regras do Tabernáculo e Sacerdotes (Êx 25.1-31.18) Uma vez que Javé e seu povo Israel concluíram a aliança, era preciso tomar providências para que o grande Rei vivesse e reinasse entre eles. Assim, seguem-se instruções detalhadas para a construção do tabernáculo (ou tenda de culto) com seus acessórios (Êx 25.1- 27.21; 30.1-31.18) e para as vestes e consagração dos sacerdotes (Êx 28.1-29.46). Os sacerdotes atuavam como mediadores da aliança. Ofere- ciam sacrifícios em favor da nação e outras formas de tributos para o grande Deus e Rei. A Presença de Deus: Disciplina e Perdão (Êx 32.1-34.35) A comunhão da aliança entrou quase de imediato num perí- odo difícil. Antes mesmo de Moisés descer do monte com as tábuas de pedra e com outros textos da aliança, o povo, com apoio de Arão, violou os termos da aliança, fundindo um ídolo de ouro e curvan- do-se diante dele. Esse ato de apostasia provocou o julgamento de Deus até uma ameaça de aniquilação (Êx 32.1-29). Só a intercessão de Moisés evi- tou a anulação da aliança com a comunidade maior (Êx 32.30-35). Êxodo - Levítico 3 122 • Capítulo 3 O Senhor atentou para o clamor de Moisés e não destruiu comple- tamente, de imediato, os idólatras (Êx 32.33-34). Deus renovou sua promessa de levar o povo à terra da promes- sa. Javé, porém, declarou que não podia seguir com Israel, a menos que destruísse o povo obstinado e rebelde (Êx 33.1-6). Duas narrativas que destacam a intimidade de Deus com Moi- sés (Êx 33.7-11,18-23) só salientam ainda mais a separação entre o Santo e Israel. O povo de Deus jamais conseguiria chegar à terra da promessa sem a presença de Deus. Por duas vezes Moisés intercedeu perante Deus em favor do Israel rebelde (Êx 33.15-17; 34.9). Javé por duas vezes revelou-se a Moisés como um Deus de misericórdia e compaixão (Êx 33.19; 34.6-7). A misericór- dia e compaixão de Deus – não a fidelidade de Israel - formavam a base para a renovação da aliança violada (Êx 34.1-28). Ao descer do monte com as tábuas da aliança, Moisés apareceu diante do povo com a face brilhante pelo reflexo da glória de Deus (Êx 34.29-35). A Presença de Deus: Obediência e Adoração (Êx 35.1-40.38) Êxodo encerra-se com a resposta de Israel à oferta divina de perdão. Logo se iniciou o trabalho de construção do tabernáculo (Êx 35.1-40.33). Quando por fim completado, totalmente de acordo com a ins- trução explícita do Senhor e pela sabedoria de seu Espírito, a estrutura foi preenchida com a glória impressionante de Deus (Êx 40.34-38). Por meio da nuvem e do fogo, Deus revelava sua presença entre o povo de Israel, quer o tabernáculo estivesse parado, quer em trânsito rumo à sua morada terrena definitiva em Canaã. Êxodo - Levítico 3 123 A Mensagem para Hoje Como aplicar? O livramento do êxodo está para o Antigo Testamento assim como a morte e ressurreição de Cristo estão para o Novo Testamen- to – o ato central, definitivo, pelo qual Deus intervém para salvar seu povo. O Antigo Testamento ilustra como os atos redentores de Deus exigem uma resposta do seu povo. A proclamação dos atos salvado- res de Deus no êxodo era a função principal do culto de Israel (cf. Sl 78.11-55; 105.23-45; 106.7-33; 136.10-16). O culto cristão centraliza-se no ato salvador de Deus em Cristo (cf. os hinos em Filipenses 2.6-11 e Apocalipse 5.12). A intervenção salvadora de Deus no êxodo formou a base tanto do chamado pro- fético à obediência (Os 13.4) como do anúncio de julgamento contra os que violassem a aliança (Am 3.1-2; Os 11.1-5; Jr 2.5-9). Hoje, o ato salvador de Deus em Cristo forma a base para o chamado à vida cristã (Rm 6.1-14). Os atos salvadores de Deus no passado deram a Israel a esperança de que Ele interviria para os salvar no futuro (Is 11.16; Mq 7.15). Assim também, o ato salvador de Deus em Cristo é a base para a esperança cristã (Rm 8.28-39). O livramento no êxodo, a aliança sinaítica, a experiência do deserto e a promessa de uma terra fornecem modelos da vida cris- tã. Aquele que crê, tendo já sido incondicionalmente adotado pela família de Deus, empreende o próprio “êxodo”, deixando de ser escravo do pecado e do mal para servir sob a nova aliança. Os cris- tãos vivem suas peregrinações no deserto do sistema deste mundo como que correndo rumo à terra eterna da promessa ainda por vir e desfrutando dela. Êxodo - Levítico 3 124 • Capítulo 3 O Valor Ético Qual é a principal lição de Êxodo? Deus salvou seu antigo povo de Israel e fez aliança com ele, exigindo dele um estilo de vida coerente com esse chamado santo. Ele exige de todos os que se consideram seu povo essa mesma adesão a seus padrões imutáveis. Os Dez Mandamentos são algumas expressões do próprio caráter de um Deus santo, fiel, glorioso e salvador. Mesmo os “estatutos” e “julgamentos” voltados para o Israel do Antigo Testamento exemplificam padrões de santidade e integridade, sendo partes indispensáveis do que Deus espera de seu povo de todas as épocas. Pode-se também aprender muito acerca de vida prática e dos relacionamentos pelo exame cuidadoso das seções narrativas. É inevitável que se fique impressionado com a fé dos pais pie- dosos que, diante de perseguição e perigo, entregaram seu filho nas mãos de Javé e esperaram para ver como ele o protegeria. Desde o nascimento, Moisés desfrutou os benefícios de um ambiente espiri- tual saudável em casa. É evidente que o próprio Moisés inspira os leitores a uma vida de dependência e ainda a uma determinação obstinada. Apesar da lentidão para atender ao chamado do Senhor no deserto, ele pros- seguiu em fé, desafiando as estruturas políticas e militares da maior nação da terra. Pelo poder de seu Deus, Moisés superou o insuperável e testemunhou inúmeras intervenções miraculosas. Seriapossível citar muitos outros exemplos, mas esses são suficientes para mostrar que Êxodo é eterno em sua importância moral e ética, bem como teológica. Êxodo - Levítico 3 125 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. Moisés casou-se com uma das filhas de Reuel (Jetro), por nome de a) ☐ Mirian b) ☐ Zípora c) ☐ Débora d) ☐ Zenaide 10. Primeira praga a exceder os poderes mágicos dos magos egípcios, fazendo-os confessar: “Isto é o dedo de Deus” a) ☐ A praga dos piolhos b) ☐ A praga das moscas c) ☐ As pragas de gafanhotos d) ☐ A praga de granizo 11. Não faz parte das festas que servem como memoriais contínuos daquilo que Deus fez para redimir seu povo a) ☐ A Celebração da Páscoa b) ☐ A Consagração dos Primogênitos c) ☐ A Festa dos Pães Asmos d) ☐ A Festa dos Tabernáculos 12. O Senhor guiou Israel de Sucote ao deserto de Etã, logo ao oeste do mar Vermelho, por meio a) ☐ De visões e profecias b) ☐ Das colunas de nuvem e fogo c) ☐ Das estrelas d) ☐ Do sol e da lua Êxodo - Levítico 3 126 • Capítulo 3 13. Sabendo que, a jornada do mar Vermelho ao Sinai foi repleta de milagres, portanto, aponte a alternativa que não corresponde com os milagres acontecidos ali a) ☐ Provisão de água b) ☐ Provisão de codornizes c) ☐ Provisão de maná d) ☐ Provisão de leite e mel Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) O ato do povo, com apoio de Arão em vio- lar os termos da aliança, fundindo um ídolo de ouro e curvar-se diante dele, provocou o julga- mento de Deus e uma ameaça de aniquilação 15.( ) O livramento no êxodo, a aliança sinaítica, a ex- periência do deserto e a promessa de uma ter- ra fornecem modelos da vida cristã 16.( ) Afirmar que o livramento do êxodo está para o Antigo Testamento assim como a morte e res- surreição de Cristo estão para o Novo Testa- mento é fazer uma comparação incerta Anotações 127 Anotações Anotações Anotações128 Êxodo - Levítico 3 129 Levítico O nome Levítico vem da antiga tradução grega, a Septuaginta, que intitulou a composição Leueitikon, ou seja, (O Livro dos) Levitas. Os levitas, porém, não são as personagens principais do livro. O título destaca mais a utilidade do livro para os levitas em seu ministério como líderes do culto e mestres da moral. O último versículo de Levítico localiza o livro em seu contexto nas Escrituras: “São os mandamentos que o SENHOR ordenou a Moisés, para os filhos de Israel, no monte Sinai” (Lv 27.34). Uma tradução ampliada ilumina melhor o contexto: “Estes são os mandamentos [obrigações prescritas pela aliança] que o SENHOR [Javé, o Deus da aliança] deu a Moisés [o mediador da aliança] no monte Sinai [o local da aliança] para Israel [o povo da aliança]”. Em primeiro lugar, não se pode compreender Levítico à parte do propósito de Deus para seu povo da aliança. No relato do embate79 entre Moisés e Faraó em Êxodo 4-12, Deus exigiu várias vezes que Israel tivesse liberdade para cultuá-lo (Êx 4.23; 7.16; 8.1; 9.1; 10.3; 12.31). Num sentido real, o livramento do êxodo estava incompleto até Israel começar a cultuar a Deus no Sinai (Êx 3.12), cumprindo assim o alvo de Deus para o êxodo. Israel foi libertado da escravidão egípcia e conduzido a uma nova relação de aliança com Deus exatamente para que tivesse li- berdade de culto. Em segundo lugar, não se pode compreender Levítico à parte do desejo divino de estar com o povo de sua aliança. Mas, já que o Deus Santo não pode tolerar o pecado, a experiência idólatra de Is- rael com o bezerro de ouro (Êx 32) levou Deus a um dilema80. Por duas vezes Ele alertou os israelitas: “És povo de dura cerviz81; se por um momento eu subir no meio de ti, te consumirei” (Êx 33.5; veja 79 Choque impetuoso; encontro violento; colisão. Oposição, resistência. 80 Situação embaraçosa com duas saídas difíceis ou penosas. 81 Submeter-se à autoridade, à escravidão. Êxodo - Levítico 3 130 • Capítulo 3 também Êx 33.3). Como um Deus santo poderia permanecer com um povo de- sobediente e rebelde? Êxodo 34-40 e o livro de Levítico respondem a essa pergunta. Tema Por que ler esse livro? O propósito geral do livro de Levítico era comunicar a mara- vilhosa santidade do Deus de Israel e delinear os meios pelos quais o povo poderia ter acesso a Ele. Isso está em harmonia com o grande tema central da aliança no Pentateuco, tema que descreve a relação entre o Senhor e Israel como a de um grande Rei e um povo vassalo (servo). Assim como os servos tinham de seguir o devido protocolo para se aproximar do rei, Israel precisava reconhecer a própria in- dignidade para entrar nos preceitos sagrados da morada de Deus. O abismo entre o povo e seu Deus só podia ser vencido pela confissão da indignidade e por uma profunda submissão aos ritos e cerimônias prescritos82 por Deus como pré-requisitos para comunhão. 82 Explicitamente ordenado ou estabelecido. Que prescreveu. Êxodo - Levítico 3 131 Formas Literárias Como foi escrito? Com exceção de poucas passagens narrativas (Lv 8-10) e uma seção de bênção e maldição (Lv 26), Levítico consiste em material legal, particularmente de natureza cultural (cerimonial). A maior parte desse material é altamente estruturada em forma quase poética (Levítico 1-7 e, em menor grau, Levítico 11-15). A parte final de Levítico (cap. 17-26) é uma coleção vaga de material legal conhecida como “código de santidade”, termo adequado que expressa a noção predominante de santidade ali contida. A forma legal da maior parte de Levítico (prescrições e estatutos) dá a entender que ele pertence a um texto de aliança. De fato, ele trata das exigências da aliança que regulam os meios pelos quais a nação e os indivíduos israelitas poderiam estabelecer e manter o devido relacionamento com o Senhor Deus. Nesse sentido, Levítico, como boa parte de Êxodo, é um corpo de estipulações da aliança com o propósito de fechar o abismo entre a santidade de Deus e o pecado da humanidade. Êxodo - Levítico 3 132 • Capítulo 3 Propósito e Teologia O que se deve buscar em Levítico? Israel era uma “nação santa”, ou seja, uma nação separada para ser povo especial de Deus. Portanto, Israel foi chamado para cumprir uma missão especial para Deus sobre a terra, por causa de seu ato salvador (cf. Lv 22.32-33): “Eu sou o SENHOR, que vos santifico, que vos tirei da terra do Egito, para ser o vosso Deus”. Tendo aceitado esse encargo da aliança, Israel tornou-se vassalo de Deus, o mediador de sua graça salvadora para todas as nações da terra. Mas a incapacidade de Israel para viver de acordo com os requisitos da aliança de Deus ameaçava sua condição como “nação santa”. Para ser uma nação santa, Israel precisava de um meio pelo qual essa santidade – ou separação – pudesse ser mantida. Precisava de um conjunto de orientações que estipulassem cada aspecto daquele relacionamento entre a nação e seu Deus. O povo de Deus tinha de aprender a relação entre a santidade como posição e a santidade como condição. Como posição, santida- de significa separação de uma pessoa, objeto ou instituição para uso de um deus. Isso não implica necessariamente nenhum corolário83 ético ou moral; os vizinhos pagãos de Israel separavam prostitutas “sagradas” para o culto de seus deuses. Israel separou um lugar sagrado (o tabernáculo), rituais (os sacrifícios), pessoas (os sacerdotes) e dias (o sábado, as festas, o ano sabático e de jubileu), consagrando-os. Tudo o que não foi designado santo é comum ou profano. Como condição, a santidade passa a englobar pureza moral e retidão. A própria santidade de Deus implica não só sua distância e singularidade, mas também sua perfeição moral. As pessoas e coisas que Ele santifica e declara santas devem também manifestar retidão 83 Proposição que imediatamente se deduz de outra demonstrada. Decorrência, dedução, conseqüência, resultado, consectário. Êxodo - Levítico 3 133 moral. O código de santidade de Levítico 16-25 destaca a santidade como uma condição moral. Levítico esboça como Israel podia prestar a devida homenagem a Deus para cultivar e manter a relação criada pelo compromisso mútuo com a aliança. Uma vez que Israel não conseguia viver de acordo com os compromissos da aliança, não podia aproximar-se do Deus santo. Só Deus podia proporcionar um sistema que purificasse o povo pecador e seu lugar de culto, de modo que tivesse condições de aparecer diante do Santo e servi-Lo. Esses sacrifícios tornavam justa a pessoa que, pela fé, aceitasse os benefícios expiatórios dos sacrifícios. Deus também proveu um sistema de ofertas para as pessoas expressarem o devido entendimento dos benefícios de sua graça e manifestarem gratidão por eles. O povo santo também tinha de aprender sobre as linhas rígidas que separam o santo do profano84 e ser continuamente lembrado delas por meio da visão de exemplos dessas diferenças na vida diária. Algo era santo ou não, conforme o Deus soberano o declarasse, de acordo com os critérios inescrutáveis85 dele mesmo e a santidade inerente86 a Ele. Em sua soberania, Deus fez uma lista de animais impuros, separando-os dos puros. Ele considerou impuras certas doenças, certos fungos e outros fenômenos. Aqueles que entrassem em contato com o impuro tornavam-se também impuros. Mesmo as secreções do corpo eram impuras, e o surgimento delas era suficiente para rotular de impuro o indivíduo assim afetado. A aparente natureza arbitrária das categorias de pureza e im- pureza deixa claro que a santidade é, em essência, uma questão de discernimento divino. Javé fez essas distinções com propósitos educativos. Israel como povo separado de todos os outros povos precisava aprender, por meio de exemplos cotidianos e comuns, que Deus lan- ça um julgamento soberano sobre todas as coisas. O povo precisava aprender que Ele reserva apenas para si o julgamento que determina se uma pessoa, objeto ou condição conforma-secom sua definição de 84 Contrário ao respeito devido a coisas sagradas. 85 Não escrutável; insondável, impenetrável. 86 Que está por natureza inseparavelmente ligado a alguma coisa ou pessoa. Êxodo - Levítico 3 134 • Capítulo 3 santidade. Só assim Israel compreenderia o significado da santidade de si mesmo e como essa santidade era essencial para que pudesse realizar os propósitos para os quais fora eleito e redimido. Se Israel fora chamado para ser santo, era ainda mais necessário que os sacerdotes, que em certo sentido eram os “mediadores dos mediadores”, fossem santos diante de Deus. A nação com seus indivíduos tinham acesso ao Senhor, mas de modo limitado. O acesso perfeito só era atingido por meio de sa- cerdotes. Evidentemente, os sacerdotes precisavam atingir padrões incomuns de santidade. Assim, Levítico também trata da questão da consagração e instrução dos sacerdotes. Por fim, Deus ordenou não só princípios de acesso pelos quais seu povo-servo achega-se a Ele, mas também designou períodos e lugares especiais. Assim, Levítico, como Êxodo, instrui a comunidade da aliança a encontrar Deus como uma comunidade, no tabernáculo, o santuário central a que envolve com sua glória, como sinal visível de sua habitação no meio dela. Não era permitido aproximar-se de Deus ao acaso ou por ca- pricho. Nenhum rei mantém audiência à vontade do súdito. Antes, o rei estabelece períodos regulares de reunião com seu povo, quando recebe o tributo deles e trata de seus interesses. Do mesmo modo, o Senhor revelou um calendário de rituais, um programa de acordo com o qual a comunidade como tal podia (e devia) aparecer diante Dele para louvá-Lo e buscar sua face. Os sábados, as luas novas e dias de festa foram, portanto, separados para o encontro regular da nação-serva com seu Deus soberano. Tempos e lugares não eram irrelevantes87, conforme es- clarece Levítico. Num contexto de aliança, eles atestavam o governo do Senhor entre seu povo e a necessidade de se achegarem onde e quando Ele lhes havia decretado. 87 De pouca ou nenhuma importância; irrisório. Êxodo - Levítico 3 135 A Necessidade de Sacrifício (Lv 1-7) A primeira divisão principal de Levítico (cap. 1-7) trata da na- tureza, do propósito e do ritual do sacrifício. A declaração concisa88 que conclui essa divisão (Lv 7.37-38) situa todo o sistema sacrificial no contexto da aliança de Deus com Israel no monte Sinai. Deus libertou Israel da escravidão egípcia, para que fosse livre para cultuar. Levítico 1-7 instruía Israel sobre como cultuar devida- mente. Deus deseja comunhão com seu povo. A rebelião dos israelitas, porém, transformou a relação contínua num problema para um Deus santo. Levítico 1-7 apresenta aqueles sacrifícios que possibilitavam uma comunhão renovada entre Deus e o seu povo (Veja “Propósito e teologia”). Como expressão de tributo e devoção ao Senhor, o sacrifício precisava ser oferecido com coração sincero, mas também de acordo com prescrições claramente distintas e bem compreendidas. Diferentes tipos de ofertas prestavam-se a uma variedade de propósitos. Assim, era necessário um manual elaborado de procedimentos para mostrar ao povo de Deus como se achegar de modo adequado ao Senhor Deus. Os holocaustos (Lv 1.1-17). O holocausto podia consistir em gado (Lv 1.3) ou gado miú- do (Lv 1.10), ou mesmo uma ave (Lv 1.14). “Oferta queimada” (hb. Olah) dá a entender que a vítima era totalmente consumida sobre o altar; ou seja, tudo era dado para o Senhor e nada restava, fosse para o ofertante, fosse para o sacerdote (Lv 1.4). Ao colocar a mão na cabeça do animal, o ofertante estava reco- nhecendo a função substitutiva da vítima, onde esta, de fato, pagava o preço do pecado do ofertante. Seja boi, cordeiro ou pombo; o sacrifício do animal tornava- se “aroma agradável” (Lv 1.9,13,17) diante de Deus, um meio de completar uma relação harmoniosa entre uma pessoa e Ele. 88 Sucinto, resumido. Breve, lacônico. Preciso, exato. Êxodo - Levítico 3 136 • Capítulo 3 Ofertas de manjares (Lv 2.1-16). A oferta de manjares parece ter sempre seguido o holocausto (Nm 28.1-8), consistindo em farinha e azeite (Lv 2.1-2). Embora também oferecesse um “aroma agradável” (Lv 2.2,9,12), não era totalmente consumida pelo fogo, mas partilhada com os sacerdotes (Lv 2.3). Assim, seu propósito não era tanto obter expiação. Mas como dão a entender, seu nome (minhah, ou seja, dádiva, tributo) e o uso do sal (Lv 2.13), atestava a relação de aliança esta- belecida pela expiação. Ou seja, a oferta de manjares era um tributo de colheita pago ao Senhor soberano. Ofertas pacíficas (Lv 3.1-17). A oferta pacífica podia ser de gado (Lv 3.1), cordeiro (Lv 3.7) ou cabra (Lv 3.12). O propósito não era, como na oferta de manjares, efetuarem expiação, mas, celebrar a aliança. Ela produzia um aroma agradável (Lv 3.5,16), atestando o prazer de Deus no ofertante. Tanto assim, a oferta pacífica era de fato considerada uma refeição comum em que o Senhor, o ofertante e os sacerdotes “sentavam-se” para comer suas respectivas partes (Lv 3.5-11,16; veja também Levítico 7.15-18,28-34). Ofertas pelo pecado (Lv 4.1-5.13). A paz ou comunhão entre um ser humano e Deus não podia ser alcançada enquanto o pecado formasse uma barreira entre eles, assim era preciso encontrar meios para sanar89 o problema. O pecado podia ser involuntário ou consciente. Os rituais de Levítico proporcionavam expiação só por pecados involuntários (Lv 4.2,13 22,27). A pessoa que pecasse por opção (“pecar atrevidamen- te”; ARA; hebraico “pecar com a mão elevada”) seria eliminada para sempre do povo de Deus (Nm 15.30; cf. 19.13). 89 Tornar são; curar, sarar. Êxodo - Levítico 3 137 A remoção de pecados não intencionais exigia sacrifícios es- pecíficos (Lv 4.1-5.13). Entre eles estavam o gado e o cordeiro (aqui, uma fêmea, Lv 4.32), mas também o bode, a cabra, a rola, a pomba ou mesmo a farinha. A natureza da oferta dependia da condição do ofertante. Assim, o pecado do sacerdote exigia um novilho (Lv 4.1-12), cujo sangue era espargido no lugar santo do tabernáculo (Lv 4.6-7). A purificação da congregação como um todo também exigia um novilho, cujo sangue era aplicado pelo sacerdote da maneira acima descrita (Lv 4.13-21). O pecado inadvertido de um príncipe era expiado pelo sacrifício de um bode, sendo o sangue aplicado no grande altar (Lv 4.22-26). Uma pessoa comum apresentava uma cabra ou cordeira, ou mesmo, sendo pobre, duas rolas ou apenas um punhado de farinha (Lv 4.27-5.13). Se tudo isso fosse feito segundo o ritual e o intento correto, o pecado seria perdoado (Lv 4.26,31,35; 5.6,10,13). A oferta pela transgressão (Lv 5.14-6.7). A expiação de pecados por ignorância (Lv 4.1-35) ou pecados por omissão (Lv 5.1-13) devia ser seguida pela devida compensação à pessoa prejudicada (Lv 5.14-19). A oferta pela transgressão era sempre um carneiro sem defeito (Lv 5.15). Se o ofertante houvesse retido algo do santuário, talvez uma oferta prometida, era preciso acrescentar uma pena de 20% à oferta (Lv 5.16). Se o pecado causasse a perda ou destruição de propriedade alheia, a parte culpada precisava oferecer um cordeiro perfeito e, de novo, fazer restituição de 120% (Lv 6.1-7). Esperava-se reparação; pois, embora o perdão venha pela graça, o pecado sempre produz conseqüências danosas, especialmente em forma de perda para outros seres humanos. Sacerdotes e ofertas (Lv 6.8-7.38). Levítico 6.8–7.36 é um breve “manual para sacerdotes” para instruir esses líderes do culto acerca dos rituais adequados para sa- crifícios e ofertas. A ordem de seu conteúdo conforma-se em grande Êxodo - Levítico 3 138 • Capítulo 3 parte com a dos sacrifícios já delineada. A lei do holocausto (Lv 6.8-13) exigia que o fogo do altar fosse mantido aceso dia e noite. O fogo contínuo simbolizava a necessidade contínua de sacrifícios para expiar os pecados do povo. A lei das ofertas de grãos (Lv 6.14-23) e das ofertas pelope- cado (Lv 6.24-30) repete a instrução anterior (caps. 2 e 4), mas da perspectiva dos sacerdotes. As atribuições sacerdotais na oferta pelo pecado (Lv 7.1-10) e ofertas pacíficas (Lv 7.11-36) especificam de modo bem detalhado a porção do sacrifício que caberia aos sacerdotes. Levítico 7.37-38 resume todo o sistema de sacrifícios e o situa no contexto da aliança mosaica no monte Sinai. (Veja a introdução). Êxodo - Levítico 3 139 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. A parte final de Levítico (cap. 17-26) é uma coleção vaga de ma- terial legal conhecida como a) ☐ “Código de honestidade” b) ☐ “Código de moralidade” c) ☐ “Código de santidade” d) ☐ “Código de lealdade” 2. O povo de Deus tinha de aprender a relação entre a santidade como posição e a santidade como condição. Como condição, santidade a) ☐ Passa a englobar pureza moral e retidão b) ☐ É a qualidade ou estado de santo c) ☐ É aquele que tem bom coração, bondoso em extremo d) ☐ Significa separação de uma pessoa, objeto ou instituição para uso de um deus 3. A primeira divisão principal de Levítico (cap. 1-7) trata da natu- reza, do propósito e do a) ☐ Ritual da oferta b) ☐ Ritual do sacrifício c) ☐ Ritual do sumo sacerdote d) ☐ Ritual da Páscoa 4. A oferta pacífica podia ser de gado, cordeiro ou cabra. Portanto seu propósito era a) ☐ Remover os pecados não intencionais b) ☐ Pagar tributo de colheita ao Senhor c) ☐ Efetuar expiação por pecados involuntários d) ☐ Celebrar a aliança Êxodo - Levítico 3 140 • Capítulo 3 5. A lei do holocausto (Lv 6.8-13) exigia que o fogo do altar fosse mantido aceso a) ☐ Dia e noite b) ☐ Durante a noite inteira, até ao raiar do sol c) ☐ Somente durante o dia d) ☐ De manhã e à tarde Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) O propósito geral do livro de Levítico era comunicar a maravilhosa santidade do Deus de Israel e delinear os meios pelos quais o povo poderia ter acesso a Ele 7.( ) O pecado podia ser involuntário ou conscien- te. Os rituais de Levítico proporcionavam expia- ção por pecados involuntários e voluntários 8. ( ) A pessoa que pecasse por opção (“pecar atrevidamen- te”; ARA; hebraico “pecar com a mão elevada”) teria que levar ao sacerdote uma oferta pela transgressão Anotações 141 Anotações Anotações Anotações142 Êxodo - Levítico 3 143 A Necessidade de Mediadores Sacerdotais (Lv 8-10) A função de Moisés como mediador em favor de Israel rebelde (Êx 32.30-32; 33.12-17; 34.8-9) destaca a necessidade de mediadores constituídos por Deus para continuar seu ministério de intercessão ao longo da história de Israel. Êxodo 28-29 especifica que esses me- diadores serão os sacerdotes. A segunda parte principal de Levítico, caps 8-10, descreve o estabelecimento do sacerdócio em resposta a essa necessidade. A consagração de sacerdotes (Lv 8.1-36). Moisés convocou toda a congregação para que se reunisse diante do tabernáculo onde testemunharia a consagração de Arão e seus filhos ao sacerdócio (Lv 8.1-5). A ornamentação deles pelas vestes e outros acessórios lhes fornecia identidade e falava simbolicamente do significado e da função de seu ofício (Lv 9.6-9; veja Êx 28). Eles foram então ungidos (Lv 8.10-13). E em favor deles Moisés ofereceu um sacrifício pelo pecado (Lv 8.14-17), uma oferta queimada (Lv 8.18-21), e uma oferta de consagração que simboliza a dedicação de Arão e seus filhos ao ministério sacerdotal (Lv 8.22-30). Então, como em todos os sacrifícios pacíficos, eles comeram o carneiro da consa- gração durante um período de sete dias de purificação (Lv 8.31-36). A função dos sacerdotes (Lv 9.1-24) Depois de devidamente separados, Arão e seus filhos podiam oferecer sacrifícios, e assim fizeram assunto que ocupa Levítico 9. O propósito desses primeiros sacrifícios era colocar em vigor a unidade entre Deus e seu povo (Lv 9.1-7). A grande variedade de ofertas, pelo povo e pelos sacerdotes, atesta a importância desse dia específico. O dia devia marcar a manifestação do Senhor entre eles (Lv 9.4,24), Êxodo - Levítico 3 144 • Capítulo 3 manifestação que exigia deles total dedicação e pureza (Lv 9.8-24). O fracasso dos sacerdotes (Lv 10.1-20). O ritual da função e dos sacrifícios sacerdotais deve ser executado exatamente de acordo com a prescrição divina, e isso se destaca em Levítico 10. Uma falha nessa questão implicava severíssimo julgamento. Dois dos filhos de Arão, Nadabe e Abiú, ofereceram “fogo estranho” diante do Senhor no altar do incenso (Lv 10.1). O “fogo estranho” talvez fosse o fogo como o usado num culto estrangeiro. O que fica claro é que a violação da exigência divina de ser glorificado (Lv 10.3) provocou sua rápida vingança. Arão e seus dois filhos sobreviventes tiveram de permanecer no tabernáculo para completar as ofertas descritas no capítulo 9. O fato de eles deixarem de comer aquelas partes dos animais que lhes cabiam desagradou a Moisés (Lv 10.16). Ao ouvir a explicação de Arão – de que temia ofender ainda mais ao Senhor (Lv 10.19) –, Moisés compreendeu e ficou satisfeito. Puro e o Impuro – A Separação (Lv 11-15) Deus chamou Israel para ser um povo separado para o serviço (Êx 19.5-6). Israel era, porém, constantemente tentado a se conformar aos padrões de sua vizinhança no Egito e em Canaã (Lv 18.3). As leis de pureza e impureza testemunham a “separação” de Israel e lembram ao povo de Deus que não pode haver condescen- dência90 em seus padrões. O Senhor havia diretamente encarregado Arão a fazer distin- ção entre o santo e o profano91 (Lv 10.10). Levítico 11-15 fornece exemplos. 90 Que condescende, transige; transigente. 91 Contrário ao respeito devido a coisas sagradas. Êxodo - Levítico 3 145 Animais puros e impuros (Lv 11.1-47). O primeiro desses exemplos era na área da vida animal, pois nem todos eram adequados ao consumo humano. Ainda que prin- cípios de higiene possam estar indiretamente implicados92, a lição principal a se aprender era que, por Deus ser santo, seu povo devia ser também santo (Lv 11.44,47). A santidade ou separação do povo devia ser ilustrada por há- bitos alimentares distintos. A impureza após o parto (Lv 12.1-8). O segundo exemplo da distinção entre pureza e impureza ritual é visto na impureza associada ao parto (cap. 12). O confronto com a legislação semelhante no capítulo 15 esclarece que a impureza brota das secreções do corpo associadas ao nascimento, não ao ato ou ao fato do nascimento em si. Não se esclarece por que as secreções ou emissões são impuras. Muitos estudiosos entendem que a perda de fluidos do corpo, especialmente de sangue, pode significar o início da própria morte, e até a impureza máxima. A impureza da enfermidade (Lv 13.1-14.57). Levítico 13-14 trata-se da manifestação de “doenças infec- ciosas de pele” e “fungos” no corpo, nas vestes ou mesmo na causa dos afligidos, considerando-os sinais de impureza (Lv 13.8,11,15). De todas as enfermidades da Bíblia, nenhuma é considerada mais séria ou repugnante que a chamada lepra (freqüentemente cha- mada assim ainda que de modo impreciso). Os muitos sintomas e prescrições para cura registrados em Levítico 13.1-46 indicam uma variedade de diferentes afecções93. A purificação deles após a cura requeria a oferta de sacrifícios específicos (Lv 14.1-32). Do mesmo modo, as vestes contaminadas por tais doenças também precisavam ser lavadas ou queimadas (Lv 92 Envolvido, comprometido. 93 Conjunto de fenômenos mórbidos que dependem da mesma lesão. Êxodo - Levítico 3 146 • Capítulo 3 13.47-59). As casas contaminadas pela doença manifestavam-na por meio de fungos, condição que precisava ser sanada por reparos nas partes afetadas da casa ou mesmo derrubando-a (Lv 14.33-53). As emissões impuras (Lv 15.1-33). O último tipo de impureza em Levítico consiste em: emissões anormais dos homens provocados por enfermidades (Lv 15.1-15), na emissão de sêmen (Lv 15.16-17) e no fluxo menstrual (Lv 15.19-24) e outros tipos de emissões femininas de sangue (Lv 15.25-30). Tudo isso não era inerentemente impuro, mas simbolizava a impureza, sendo, portanto, necessária à purificação pelo devido ritual e sacri- fício, para que a santidade do povo de Deus pudesse ser asseverada e mantida (Lv 15.31-33). Dia da Expiação – Uma Necessidade (Lv 16) O maior ato de purificação – que envolvia toda a nação – era realizado no Dia da Expiação. Nesse dia, o sumo sacerdote primei- ro oferecia o sacrifício por si mesmo (Lv 16.1-14). Então, matava um bode como oferta pelo pecado de todo o povo (Lv 16.15-19) e expulsava outro (o expiatório) do acampamento como símbolo da remoção do pecado da comunidade (Lv 16.20-22). Após um holocausto (Lv 16.24), o acampamento era purifi- cado do sangue e dos restos do animal por cerimônias de banhos e queima fora do acampamento (Lv 16.27-28). O autor de Hebreus desenvolveu imagens do Dia da Expia- ção para destacar a superioridade do sacerdócio de Cristo (Hb 8.6; 9.7,11-26). Hebreus 13.11-12 empregam a figura do novilho e do bode queimados fora do acampamento como ilustração dos sofrimentos de Cristo fora dos muros da cidade de Jerusalém. De acordo com uma interpretação de 2Coríntios 5.21, Pau- lo faz alusão ao ritual do Dia da Expiação ao falar de Cristo como oferta pelo pecado. Êxodo - Levítico 3 147 Vida Santificada - Uma Necessidade (Lv 17-25) A divisão mais longa de Levítico (cap. 17-25) é às vezes chamada de “código de santidade” porque contém uma lista detalhada de regras variadas a respeito da obtenção e manutenção da santidade em Israel. As divisões anteriores de Levítico preocupavam-se principalmente com a santidade como “posição”. Nos capítulos 17-25 (especialmente no cap. 19), a atenção volta-se para a santidade como condição moral. Essa miscelânea94 de leis pode ser classificada em dez categorias principais. Sacrifício e sangue (Lv 17.1-16). Uma vez que o sangue equivalia à própria vida e era o meio ordenado por Deus para realizar a expiação (Lv 17.11), nenhum animal podia ser morto fora do tabernáculo (Lv 17.1-7). No antigo Oriente Próximo, não se matava simplesmente pela carne. Para Israel, abater carne fora dos recintos era derramar sangue para território alheio e, talvez, deuses alheios. Os cristãos de Corinto enfrentaram problema semelhantecom respeito à carne abatida num ambiente pagão (1Co 8; 10.14-33). Como metáfora da vida, o sangue era sacrossanto e não podia ser ingerido (Lv 17.10-13). Isso diz respeito não só a animais ofereci- dos em sacrifício, mas também a caças selvagens e a outros animais comestíveis (Lv 17.14-16). As relações sexuais (Lv 18.1-30). Padrões estritos de santidade também precisavam ser obser- vados na área das relações sexuais. Ao contrário das práticas do mundo pagão (Lv 18.1-5,24-30), o povo do Senhor precisava casar-se dentro da própria sociedade, mas não de modo incestuoso. Assim, o homem não podia casar-se com a mãe (Lv 18.7), madrasta (Lv 18.8), irmã ou meia-irmã (Lv 18.9,11), neta (Lv 18.10), tia de sangue (Lv 18.12-13), esposa do tio 94 Mistura de variadas compilações literárias. Êxodo - Levítico 3 148 • Capítulo 3 (Lv 18.14), nora (Lv 18.15), cunhada (Lv 18.16) ou enteada ou neta do enteado (Lv 18.17). Assim também, o adultério (Lv 18.20), o sa- crifício de crianças (Lv 18.21), a homossexualidade (Lv 18.22) e a bestialidade95 (Lv 18.23) eram rigorosamente proibidos. Os relacionamentos interpessoais (Lv 19.1-37). A santidade de Deus (Lv 19.1-2) significava que os israelitas pre- cisavam manifestar santidade em seus relacionamentos interpessoais. As freqüentes repetições dos Dez Mandamentos (adoração ao único Deus, honra aos pais, guarda do sábado, Lv 19.3; as proibições do roubo, da mentira e do falso testemunho Lv 19.11-12) servem como lembretes de que o estilo de vida de santidade era condição da aliança de Deus com Israel. Várias vezes o povo de Deus foi lembrado de que o compor- tamento moral não é opcional para os que chamam Javé de Senhor (Lv 19.3-4,10,12,14,16,18,25,28,30-32,34,36-37). A conduta requerida pelo povo de Deus sobrepujava96 questões rituais, incluindo provisão ao pobre (Lv 19.9-10); cuidado para com os desvalidos97 (Lv 19.13-14); prática da justiça (Lv 19.15-16); amor ao próximo (Lv 19.17-18); respeito aos idosos (Lv 19.32); cuidado para com os estrangeiros (Lv 19.33-34) e justiça no comércio e nos negócios (Lv 19.35-36). A memória dos atos poderosos de Deus para livrar Israel da escravidão egípcia devia motivar o povo de Deus a viver com com- paixão e justiça (Lv 19.34-35). O reconhecimento da santidade de Deus e a memória do que Deus fez para nos livrar – não da escravidão egípcia, mas do pecado, por intermédio da morte de Cristo – continua a motivar os cristãos a uma vida santa. Assim, não surpreende que os escritores do Novo Testamento muitas vezes façam ressoar o ensino ético de Levítico 19 (por exemplo, Mt 22.39; Rm 13.9; Gl 5.14; Tg 2.8). 95 Prática de atos libidinosos com animais; bestialismo. 96 Passar por cima de; tornar-se superior a; vencer, dominar. 97 Desprotegido, desamparado. Desgraçado, miserável: Êxodo - Levítico 3 149 As ofensas capitais (Lv 20.1-27). As leis a respeito das ofensas capitais devem ser compreen- didas como contraponto ao paganismo. Os crimes capitais tendem a suprimir as diferenças entre o povo santo de Deus e o mundo em geral. Assim, o culto a Moloque, o deus dos amonitas, era punido com morte (Lv 20.2-5). Assim também as práticas religiosas pagãs (Lv 20.6), a maldição lançada contra os pais (Lv 20.9) e o incesto e outros desvios sexuais (Lv 20.10-21). De novo, Israel era um povo separado, cujo estilo de vida devia refletir essa separação para o serviço de um Deus santo (Lv 20.22-26). O culto e a santidade (Lv 21.1-22.33). Obviamente, a santidade devia permear98 a vida religiosa de Israel, de modo que instruções detalhadas regulavam o sacerdócio (Lv 21) e o consumo de ofertas sacrificiais (Lv 22). Os sacerdotes comuns (Lv 21.1-9) e o sumo sacerdote (Lv 21,10- 15) tinham de seguir orientações rígidas em relação a ritos de luto e casamento. Precisavam submeter-se a critérios rígidos de perfeição física para estarem aptos ao serviço (Lv 21.16-24). Essa exigência dá a entender que a santidade interior deve ter expressão externa, física. Os sacerdotes tinham de estar cerimonialmente puros antes de tomar parte dos sacrifícios (Lv 22.1-9). Então, eles e a família podiam desfrutar junta a refeição, tomando a porção a que tinham direito (Lv 22.10-16). Todo animal oferecido em sacrifício tinha de ser espécime99 perfeito, pois, oferecer a Javé algo que não é de melhor seria profa- nação ao seu santo nome (Lv 22.32; cf. Ml 1.6-8). Os dias santificados (Lv 23.1-44). Para o antigo israelita, o viver santo implicava a devida obser- vância dos dias santificados (Lv 23). Esses eram: o sábado (Lv 23.1-3); a Páscoa e os Pães Asmos (Lv 23.4-8); as Primícias (Lv 23.9-14) e a 98 Penetrar, atravessar, traspassar, trespassar. 99 Modelo, amostra, exemplo, tipo. Êxodo - Levítico 3 150 • Capítulo 3 Festa das Semanas (ou Pentecostes, Lv 23.15-22). As festas de outono eram também observadas, consistindo na Festa das Trombetas ou Ano-Novo (Lv 23.23-25), o Dia da Ex- piação ou Yom Kippur (Lv 23.26-32) e a Festa dos Tabernáculos ou das Cabanas (Lv 23.33-36), lembrança da experiência israelita no deserto (Lv 23.39-43). Consagração e profanação (Lv 24.1-23). Deus forneceu o devido protocolo na administração dos as- suntos do tabernáculo (Lv 24.1-9). Mas, exigiu que a violação da santidade divina fosse punida, fato que fica claro na narrativa acerca do blasfemo (Lv 24.10-16). Esse incidente criou jurisprudência para casos relacionados que, direta ou indiretamente, violavam o caráter de Deus e as exi- gências feitas a um povo que alegava fidelidade a ele (Lv 24.17-23). O Ano Sabático e o Ano do Jubileu (Lv 25.1-55). Observar adequadamente o Ano Sabático e o Jubileu devia dar testemunho da condição de Israel como povo santo (Lv 25.1- 55). A terra precisava ter descanso; assim, a cada sete anos, separa- va-se um ano em que nada se plantava (Lv 25.1-7). Então, após sete desses ciclos, o qüinquagésimo ano também era separado para o rejuvenescimento da terra, devolução das terras penhoradas e atos semelhantes (Lv 25.8-22). A redenção das propriedades devia lembrar ao povo que a terra era de Javé, sendo na realidade cedida ao povo (Lv 25.23-38). Assim também, os que haviam sido obrigados à escravidão eram libertados no Ano do Jubileu. Era muito impróprio que Israel, povo libertado por Javé da escravidão, tolerasse a escravidão em seus limites. Um povo santo tinha de ser um povo livre (Lv 25.39-55). Êxodo - Levítico 3 151 A Bênção e a Maldição (Lv 26) A natureza do livro, uma aliança em sua essência, é extre- mamente clara na declaração concisa em Levítico 27.34, que situa todo o livro no contexto da aliança do Sinai. As listas de bênçãos e maldições compreendidas no cap. 26 reforçam essa ideia de Levítico como texto de aliança. Tais listas são bem conhecidas em outros textos do Oriente Próximo, pelos quais incutem nos receptores da aliança a seriedade do compromisso assumido. A obediência resultava em grande bênção, mas a desobediência acarretava julgamento. Assim, uma exortação geral (Lv 26.1-2) intro- duz bênçãos (Lv 26.3-13) e maldições (Lv 26.14-45) que se seguem à obediência e à desobediência aos termos da aliança. A aflição das maldições, porém, é aliviada por uma declaração de graça. O Senhor afirmou que seu povo pecaria e sofreria exílio, mas mesmo assim o arrependimento seria possível. Então, Deus, em conformidade com suas antigas promessas contidas na aliança, restauraria o povo para si e para a terra (Lv 26.40-45). As Ofertas de Dedicação (Lv 27) Levítico encerra com regras a respeito das ofertas de dedi- cação (cap.27). Localizadas aqui, essas leis talvez indiquem meios apropriados de responder às opções de estilo de vida postuladas100 pelas bênçãos e maldições. Elas formam uma conclusão adequada para Levítico, pois a dedicação de uma pessoa e suas posses ao serviço de Deus está no centro da santidade. Essas leis consistem de votos pessoais de serviço ao Senhor (Lv 27.2-8), ofertas votivas101 de animais puros e impuros (Lv27.9-13) e dedicação de casas (Lv 27.14-15) ou terras (Lv 27.16-25). Todos eles podiam ser redimidos ou resgatados para uso “se- cular” após pagamento do devido preço de redenção ao sacerdote. 100 Requerer, documentando a alegação. 101 Relativo a voto. Ofertado em cumprimento de voto ou promessa. Êxodo - Levítico 3 152 • Capítulo 3 Os primogênitos e os dízimos não podiam ser dedicados ao Senhor porque já eram de sua propriedade (Lv 27.26-27,30-33). Tudo o que fosse dedicado de modo irrevogável a Deus não podia ser vendido ou resgatado para uso particular, mas devia ser destruído como oferta a Deus (Lv 27.28-29). Anotações Êxodo - Levítico 3 153 Mensagem para Hoje Como aplicar? O livro de Levítico, sem dúvida, é um dos mais negligenciados do Antigo Testamento, exatamente porque os cristãos de hoje não conseguem ver sua importância para a vida atual. Quando, porém, se percebe que seus principais temas ou ideais – a santidade de Deus, sua aliança com seu povo e as conseqüentes exigências de um viver santo – são eternos e irrevogáveis, torna-se imediatamente clara a pertinência102 do livro. Deus escolheu Israel para ser seu povo e servo, e representan- te de si mesmo e de seus propósitos salvadores sobre a terra. Esse mesmo Deus redime hoje, em Jesus Cristo, um povo para servir em função equivalente. Os sacrifícios, rituais, cerimônias e dias santificados podem ter perdido sua condição legal para a Igreja, mas os princípios de santidade por eles incorporados e demonstrados são princípios que devam caracterizar o povo do Senhor de todas as gerações, caso queira servir a Ele de maneira efetiva como sal e luz. 102 Importante, relevante, válido. Êxodo - Levítico 3 154 • Capítulo 3 O Valor Ético Qual é a principal lição de Levítico? Os rituais de Levítico encontram seu cumprimento no sacrifício de Cristo, não sendo, assim, regras vigentes103 no culto cristão. Con- trastando com isso, um apreço pela santidade de Deus e a memória do que Deus fez para nosso livramento – não da escravidão egípcia, mas do pecado, por intermédio da morte de Cristo – continua a motivar os cristãos a um viver santo. Não surpreende, portanto, que os autores do Novo Testamento reflitam muitas vezes os ensinamentos éticos de textos como Levítico 19 (Mt 22.39; Rm 13.9; Gl 5.14; Tg 2.8). A legislação detalhada e complexa de Levítico está perfei- tamente assentada nos princípios da aliança resumidos nos Dez Mandamentos. Essas leis encontram seu significado maior no reco- nhecimento de que o Deus que libertou Israel da escravidão egípcia (e nos libertou) é inteiramente santo. É possível encontrar a verdadeira esperança e felicidade ape- nas quando se atende corretamente a esse Deus por intermédio de uma vida santa e dedicada ao serviço. Várias e várias vezes, Levítico alega que isso precisa ser feito por que Deus é Javé, ou seja, o com- portamento humano é bem-sucedido à medida que reconhece o direito do Redentor sobre nossa vida e se empenha para espelhar a santidade de Deus. Não se pode encontrar motivação mais elevada para uma inte- gridade pessoal e comunitária do que a encontrada no tema principal de Levítico: “Eu sou o SENHOR, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus; portanto, vós sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.45). 103 Que vige ou vigora; vigorante. Êxodo - Levítico 3 155 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. Moisés convocou toda a congregação para que se reunisse diante do tabernáculo onde testemunharia a consagração de a) ☐ Arão e seus filhos ao sacerdócio b) ☐ Finéias ao sacerdócio c) ☐ Gerson ao sacerdócio d) ☐ Arão, Gerson, Nadabe, Abiú e Itamar 10. Dois dos filhos de Arão que ofereceram “fogo estranho” diante do Senhor no altar do incenso a) ☐ Eleazar e Itamar b) ☐ Finéias e Gerson c) ☐ Coate e Merari d) ☐ Nadabe e Abiú 11. O Senhor havia diretamente encarregado Arão a fazer distinçãoentre o santo e o profano, portanto, assinale o exemplo que não con- diz com as leis de impureza de Levítico 11-15 a) ☐ Animais puros e impuros b) ☐ A impureza após o parto c) ☐ A impureza das palavras d) ☐ A impureza da enfermidade 12. A lembrança da experiência israelita no deserto comemora-se a) ☐ Na Páscoa e na Festa dos Pães Asmos b) ☐ Na Festa dos Tabernáculos ou das Cabanas c) ☐ Na Festa das Trombetas ou Ano-Novo d) ☐ Na Festa das Semanas Êxodo - Levítico 3 156 • Capítulo 3 13. Quanto às ofertas da dedicação, é incerto dizer que a) ☐ Essas leis consistem de votos pessoais de serviço ao Senhor b) ☐ São ofertas votivas de animais puros e impuros c) ☐ São ofertas de dedicação de casas ou terras d) ☐ São ofertas de dedicação de primogênitos e dos dízimos Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) O maior ato de purificação – que envolvia toda a nação – era realizado no Dia da Expiação 15.( ) A legislação detalhada e complexa de Levíti- co está perfeitamente assentada nos princípios da aliança resumidos no Sermão da Montanha 16.( ) O livro de Levítico, sem dúvida, é um dos mais ne- gligenciados do Antigo Testamento atualmente Anotações 157 Anotações Anotações Anotações158 159 Números Deuteronômio 4º Capítulo Números - Deuteronômio 160 • Capítulo 4 Êxodo - Levítico 161 Números O nome hebraico desse livro (bemi- dbar) significa “no deserto”, sendo assim, o modo mais adequado de descrever seu conteúdo é: um tratado imediatamente ambientado nos desertos do Sinai, Negue- be e Transjordânia. O título que usamos, “Números”, traduz Arithmoi, título usado pela antiga tradução grega, a Septuaginta. O termo reflete obviamente o censo das tribos de Israel no início do livro e as outras listas e contagens. O último versículo de Números re- sume o todo ao dizer: “São estes os man- damentos e os juízos que ordenou o SE- NHOR, por intermédio de Moisés, aos filhos de Israel nas campinas de Moabe, junto ao Jordão, na altura de Jericó” (Nm 36.13). Moisés havia liderado os israelitas desde o monte Sinai até à entrada da terra prometida. O versículo final dá a entender que Números instrui Israel a respeito dos pré -requisitos para obter posse da terra pro- metida e desfrutá-la. O ícone abaixo indica: Neste capítulo veremos; • Números • Propósito e Teologia • A Rejeição da Promessa Divina de Terra • Deuteronômio • O Ambiente da Aliança • Povo de Deus – Um Povo Peculiar 4 Capítulo Atenção e Foco 4 Números - Deuteronômio 162 • Capítulo 4 Por que ler esse livro? O livro de Números é mais que um mero diário de viagem que narra a jornada de Israel desde o monte Sinai até às planícies de Moabe. As narrativas e leis contidas ali apresentam as condições para que Israel pudesse ter posse da terra prometida e a desfrutasse. Essas condições incluíam um desejo tenaz104 de possuir a terra prometida por Deus, respeito aos líderes por Ele estabelecidos e preocupação em manter a santidade da comunidade da aliança e da terra prometida. Alertas freqüentes quanto ao perigo da rebelião105 e a certeza do julgamento divino contra o pecado também instigavam106 Israel a prosseguir rumo ao alvo: a posse da terra prometida. Números documentam que quando os israelitas eram fiéis às condições da aliança, a viagem e a vida corriam bem para eles. Quando eram desobedientes, porém, pagavam o preço com derrotas, atrasos e mortes no deserto. O livro, portanto, ensina às gerações posteriores que a confor- midade com a aliança traz bênção, mas a rejeição da aliança acarreta tragédia e sofrimento. O livro fala da organização efetiva das tribos para formar uma comunidade religiosa e política distinta para a conquista e ocupação de Canaã. Isso explica o interesse extraordinário na contagem das tri- bos, em sua organização para viajar e acampar e na centralização do tabernáculo e do sacerdócio como o centro da vida de Israel como povo da aliança. Isso também explica a introdução de nova legislação, especialmente de natureza cultural ou cerimonial. Os mandamentos e estatutos adequados para o futuro estabe- lecimento em Canaã nem sempre seriam importantes para o povo num estágio nômade107, transitório da vida. Números prenuncia a posse da terra prometida e assim fornece instruções especiais para tal período e condição. 104 Pertinaz, aferrado, obstinado. 105 Oposição, resistência. Teimosia, obstinação, birra. 106 Incitar, induzir, mover, estimular, açular, acirrar. 107 Diz-se das tribos ou povos errantes, sem habitação fixa que se deslocam constantemente em busca de alimentos, pastagens, etc. 4 Números - Deuteronômio 163 Como foi escrito? Grande parte de Números descreve um período aproximado de quarenta anos da história de Israel quase em forma de “diário”. Ao que parece, Moisés manteve um livro em que anotava eventos significativos que pudessem constituir, e constituíram, suas memórias pessoais (cf. Nm 33.2). Números, portanto, é história, e narrativa, de características individuais. Além do material narrativo, contém: • Listas de censos108 (Nm 1.5-46; 3.14-39; 4.34-49; 26.5-51); • Um manual de organização para acampamento e marcha (Nm 2.1-31); • Regras para as ordens sacerdotais e levíticas (Nm 3.40-4.33; 8.5- 26; 18.1-32); • Também contém leis de sacrifícios e rituais (Nm 5.1-7.89; 9.1- 10.10; 15.1-41; 19.1-22; 28.1-36.16); • Instruções acerca da conquista e divisão da terra (Nm 32.33-42; 34.1-35.34); • Leis regulamentando heranças (Nm 36.1-12); • Poesias: um trecho do “livro das guerras de Javé” (Nm 21.14- 15), o “cântico do poço” (Nm 21.17-18), o “cântico de Hesbom” (Nm 21.27-30); • E os vários oráculos proféticos de Balaão (Nm 23.7-10,18-24; 24.3-9,15-24). Essa rica diversidade de formas é uma das principais carac- terísticas da historiografia bíblica. A história dos propósitos reden- tores de Deus para Israel e todo o mundo é contada numa narrativa pontuada e iluminada por mandamentos, exortações, ilustrações, provérbios e cânticos. Números, portanto, não é mera história, é instrução para um viver santo. Ainda que sejam diversos os estilos literários, porém, o alvo da posse da terra prometida por Deus é um fator unificador constante. 108 Conjunto dos dados estatísticos dos habitantes de uma cidade, província, estado, nação, etc., com todas as suas características; censo demográfico, recenseamento. 4 Números - Deuteronômio 164 • Capítulo 4 A organização de Israel para a conquista da terra pro- metida (Nm 1.1-10.10); A rejeição da promessa divina de terra (Nm 10.11-14.45); A peregrinação fora da terra prometida: a jornada nas planícies de Moabe (Nm 15.1-22.1); A luta contra os obstáculos à terra prometida por Deus (Nm 22.2-25.18); Uma nova preparação para a conquista (Nm 26.1-36.13); Propósito e Teologia O que se deve buscar em Números? O seu material diversificado aponta para um alvo comum – a posse da terra prometida por Deus aos patriarcas. Números começam com um censo que revela que Deus havia abençoado Israel com a força necessária para a conquista da terra prometida (Nm 1.1-2.34). A organização para o culto (Nm 3.1-4.49), as instruções para manutenção da pureza do povo de Deus (Nm 5.1-6.27) e a construção do tabernáculo (Nm 7.1-8.26) possibilitavam a habitação de Deus com esse povo (Nm 9.15) – condição necessária para a obtenção da terra. Ainda que Deus tivesse capacitado seu povo para a conquista (Nm 10.11-36), o coração dos israelitas muitas vezes ansiava pelo Egito (Nm 11.1-35; 14.2-4; 20.2-5; 21.4-5). Rejeitaram Moisés, o líder destacado por Deus para conduzi-los a terra prometida (Nm 12.1-15). Por fim, Israel rejeitou a dádiva divina da terra (Nm 12.16- 14.45). Tendo desprezado a dádiva de Deus, Israel estava condenado a vagar109 no deserto (Nm 15.1-22.1). 109 Andar sem destino; errar, vagabundear, vaguear. 4 Números - Deuteronômio 165 Várias vezes, Israel rebelou-se contra os líderes escolhidos por Deus, sofrendo julgamento (Nm 16.1-50). Mesmo Moisés não conseguiu confiar no poder da Palavra de Deus (Nm 20.1-29), sendo excluído da terra da promessa. Deus, porém, é fiel às suas promes- sas. Ele venceu os obstáculos à posse da terra por parte de Israel – a ameaça externa das maldições de Balaão (Nm 22.2-24.25) e ameaça interna da idolatria e imortalidade de Israel (Nm 25.1-18). Após a morte da geração rebelde, Deus voltou a abençoar Is- rael com a força capaz de conquistar a terra (Nm 26) e premiou as filhas de Zelofeade, que, ao contrário da geração anterior, desejavam sinceramente sua parte na terra (Nm 27.1-11; 35.50-36.13). A providência de Deus em colocar Josué como sucessor de Moisés preparou as condições para o sucesso na conquista da terra. Mesmo os textos legais de Números prenunciavam a vida na terra prometida. Esses textos regulamentavam seu culto (Nm 15) e man- tinham sua pureza (Nm 19 e 35). O livro de Êxodo conta como os israelitas colocaram-se sob a soberania de Deus – com todas as responsabilidades e todos os privilégios envolvidos – aceitando os termos da aliança sinaítica. Eles se tornaram uma nação santa (sua condição) e um reino de sacerdotes (sua função). Númerosfalam dos sucessos e fracassos de Israel no modo de viver a aliança enquanto rumavam para a terra da promessa. O deserto tornou-se campo de provas, uma arena em que Israel teve oportunidade de manifestar seu compromisso com o Deus que havia chamado e comissionado. Historicamente, foi a primeira oportunidade que tiveram para passar a área receptiva da aliança para a esfera executiva da aliança. A incapacidade de Israel ou, pelo menos, sua recusa em de- sempenhar sua função como mediador obediente, manifestou-se várias vezes, a saber: • O povo rebelou-se em Taberá e em Quibrote-Hataavá (Nm 11.3,34). • Desafiou a autoridade de Moisés como representante da aliança (Nm 12). • Rejeitou o relato dos espias que incentivaram a conquista da terra de Canaã (Nm 14.1-10). • Rejeitou a função sacerdotal de Arão (Nm 16). 4 Números - Deuteronômio 166 • Capítulo 4 • Cometeu idolatria e imoralidade de Baal-Peor (Nm 25). Cada caso de rebeldia era recebido com desgosto divino e punição. Mas, a constância do Senhor, sua fidelidade ao que pro- metera na aliança, permaneceu inalterada. Aliás, a antiga promessa abraâmica de que os que abençoassem Israel seriam abençoados e os que amaldiçoassem Israel seriam amaldiçoados permaneceu in- tata110 (Nm 24.9). Ainda mais notável, já que vinha dos lábios do vidente111 pa- gão, Balaão, foi a grande revelação messiânica de que “uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro112” (Nm 24.17), palavra que confirmava a função de Israel como a fonte de bênção redentora e reinante para o mundo todo (cf. Gn 49.10). Israel Organização e a Conquista (Nm 1.1-10.10) A aliança com Israel fora concluída no Sinai e suas estipulações sociais, políticas e religiosas haviam sido delineadas (Êx 20-40). Então, o Senhor ordenou que seu povo deixasse o monte santo e tomasse o rumo da terra da promessa. A organização das tribos para a guerra (Nm 1.1-2-34). O censo dos homens em idade militar (Nm 1.3) revelou uma força de ataque de 603.550 (seiscentos e três mil e quinhentos e cin- qüenta) homens (Nm 1.46), excluindo os levitas. Deus cumprira sua promessa a Abraão, dando-lhe descendência numerosa. Com esse exército, Israel estava bem preparado para tomar a terra prometida. Para facilitar a movimentação e o acampamento de tamanha tropa, tornaram-se necessárias instruções explícitas com respeito à organização por tribos, clãs e famílias. 110 Não tocado. Ileso, incólume. Puro, impoluto, intocado. 111 Diz-se de pessoa dotada, segundo a crença de muitos, da faculdade de visão sobrenatural de cenas futuras ou de cenas que estão ocorrendo em lugares onde ela não está presente. 112 Bastão de apoio usado outrora pelos reis e generais. Insígnia real ou de comando. 4 Números - Deuteronômio 167 O acampamento dos israelitas foi organizado com a morada de Deus, o tabernáculo, no seu centro (Nm 2.17). Os levitas e os sacerdotes acampavam mais próximos do tabernáculo, com os sacerdotes guardando a entrada no lado leste (Nm 3.38). As “tribos leigas” acampavam um pouco mais longe, com Judá ocupando a posição de liderança, também ao leste (Nm 2.9). Tal organização dá ênfase à manutenção da pureza do tabernáculo. Os levitas eram responsáveis pelo transporte e pela manutenção do tabernáculo, de modo que permaneceram fora do censo militar (Nm 1.47-54). A organização dos levitas para o culto (Nm 3.1-4.49). Os levitas haviam sido separados para o serviço especial de Javé como substitutos dos primogênitos de Israel (Nm 3.12-13; cf. 4.34-49). Moisés organizou-os de acordo com os três filhos de Levi – Gerson, Coate e Merari (Nm 3.14-20). • Os gersonitas eram responsáveis pelas cortinas, o reposteiro113 e o revestimento do tabernáculo (Nm 3.21-26; 4.21-28); • Os coatitas, pelos seus móveis (Nm 3.27-32; 4.1-20); • E os meraritas, por sua estrutura de sustentação (Nm 3.33-37; 4.29-33). A preservação da pureza do povo de Deus (Nm 5.1-6.27). A santidade do tabernáculo – aspecto esclarecido pela regu- lamentação detalhada de seu manuseio (Nm 3-4) – deu origem à consideração de várias ordenanças ligadas à santidade e à separação (Nm 5.1-6.27). Assim, Moisés tratou de impureza cerimonial (Nm 5.1-4), de pecado e restituição (Nm 5.5-10) e de testes a serem aplica- dos à mulher acusada de adultério pelo marido (Nm 5.11-31). Uma vez que o nazireado114 era um exemplo clássico de alguém separado para o serviço divino, Moisés estabeleceu orientações a respeito do voto de nazireado (Nm 6.1-21). 113 Cortina ou peça de estofo pendente das portas interiores da casa. 114 Consagrado. 4 Números - Deuteronômio 168 • Capítulo 4 A bênção ensinada por Moisés a Arão e aos sacerdotes capta a própria essência do que significa para Israel ser o povo de Javé – uma fonte de bênção que torna conhecida a presença graciosa de Deus (Nm 6.24-27). A provisão de uma morada para Deus no acampamento (Nm 7.1-8.26; 9.15). Os respectivos líderes das doze tribos levaram as próprias ofertas de tributo ao Senhor no tabernáculo, reconhecendo com isso sua soberania sobre toda a esfera política e religiosa (Nm 7.1-88). Dia a dia as tribos chegavam uma após as outras, levando utensílios de prata e ouro e grande número de animais para sacrifício. Ainda mais importante que essas ofertas generosas, porém, era a entrega que Israel fazia de si mesmo para o Senhor. O povo havia separado e dedicado os levitas para Javé como tesouro de propriedade especial (Nm 8.5-19). Isso já fora ordenado (Nm 3.5-10), mas agora ocorria de fato (Nm 8.20-26). A celebração da Páscoa e a saída do acampamento (Nm 9.1-10.10). De modo oportuno, a saída de Israel, deixando o Sinai, rumo a Canaã, seguiu-se à celebração da Páscoa, a mesma festa que precedeu o êxodo do Egito (Nm 9.1-14). Assim, como o primeiro êxodo foi marcado pela manifestação da glória de Deus, que guiou Israel por fogo e nuvem, também a jornada pelo deserto seguiu sua liderança (Nm 9.15-23). A locomoção e a parada de Israel eram determinadas por Javé, conforme representadas nos símbolos de sua presença gloriosa. O sinal para locomoção e para outras ocasiões em que o Se- nhor liderasse seu povo seria o tocar de trombetas de prata, uma testemunha audível de sua presença entre eles (Nm 10.1-10). 4 Números - Deuteronômio 169 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. O nome hebraico do livro de Números (bemidbar) significa a) ☐ “Censo” b) ☐ “No ermo” c) ☐ “Contagens” d) ☐ “No deserto” 2. Quanto ao livro de Números, é correto afirmar que a) ☐ Prenuncia a posse da terra prometida e assim fornece instru- ções especiais para tal período e condição b) ☐ O seu material diversificado aponta para um alvo comum – a posse da terra prometida por Deus a Moisés c) ☐ Possui um material estritamente narrativo, porém não contém regras para as ordens sacerdotais e levíticas d) ☐ Fala da organização efetiva das tribos para formar uma comu- nidade belicosa e guerreira para a conquista de Canaã 3. Grande parte de Números descreve um período aproximado de a) ☐ 20 anos da história de Israel quase em forma de “narração” b) ☐ 40 anos da história de Israel quase em forma de “diário” c) ☐ 80 anos da história de Israel quase em forma de “narração” d) ☐ 50 anos da história de Israel quase em forma de “diário” 4. O censo dos homens em idade militar excluiu os a) ☐ Levitas b) ☐ Benjamitas c) ☐ Rubenitas d) ☐ Gaditas 4 Números - Deuteronômio 170 • Capítulo 4 5. Sabendo que o trabalho dos levitas no tabernáculo fora divididos entre os gersonitas, os meraritas e os coatitas, portanto, os meraritas a) ☐ Eram responsáveis pelas cortinas e pelo reposteiro b) ☐ Eram responsáveis pela estrutura de sustentação c) ☐ Eram responsáveis pelo revestimento d) ☐ Eram responsáveis pelos móveis Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) Números, portanto, é história, e narrativa, de ca- racterísticas individuais. Além do material narrati- vo, contém: instruções acerca da conquistae divisão da terra; poesias e leis regulamentando heranças 7.( ) O livro de Êxodo fala dos sucessos e fracassos de Israel no modo de viver a aliança enquanto ru- mavam para a terra da promessa. Números con- ta como os israelitas colocaram-se sob a soberania de Deus aceitando os termos da aliança sinaítica 8.( ) O sinal para locomoção e para outras ocasi- ões em que o Senhor liderasse seu povo se- ria o tocar de tamborins e harpas, uma teste- munha audível de sua presença entre eles Anotações 171 Anotações Anotações Anotações172 4 Números - Deuteronômio 173 A Rejeição da Promessa Divina de Terra (Nm 10.11-14.45) Pouco mais de um ano após o êxodo (Nm 10.11), da saída, e após três meses no Sinai (Êx 19.1), Israel seguiu para a terra da promessa, mobilizado para a conquista. Seguindo o movimento da nuvem de glória, o acampamento saiu da maneira previamente ordenada. À frente de todo o acampamento seguia a arca de Deus, o símbolo de sua presença orientadora e protetora (Nm 10.33-36). Saudades do Egito (Nm 11.1-35). Mal a jornada havia começado, o povo começou a reclamar e a murmurar. A conseqüência foi julgamento por fogo, uma visitação de Deus só estancada115 pela intercessão urgente de Moisés (Nm 11.1-3). A principal reclamação parece ter sido por insatisfação com o maná, fornecido de maneira miraculosa por Deus (Êx 16.13-20), e anseio pelas iguarias116 do Egito (Nm 11.4-9). A agitação foi tão intensa que Moisés parecia sucumbir sob o peso da liderança. As- sim, a bondade do Senhor providenciou-lhe setenta líderes cheios do Espírito para ajudá-lo nessas questões (Nm 11.10-30). A isso, Deus fez seguir-se uma provisão de codornizes em vôo rasante, que o povo consumiu com tamanha voracidade, que o Senhor lhe infligiu julgamento mais uma vez (Nm 11.31-35). A rejeição do profeta de Deus (Nm 12.1-15). A seleção de setenta anciãos de Israel para assistir Moisés en- fureceu seus irmãos, Miriã e Arão. Eles viram nisso uma diminuição no prestígio e na liderança que possuíam. 115 Saciar, satisfazer, matar. 116 Comida fina, delicada e/ou apetitosa. 4 Números - Deuteronômio 174 • Capítulo 4 Miriã, uma profetisa, havia desempenhado papel importante no êxodo (cf. Êx 15.20-21); enquanto Arão obviamente era o grande sumo sacerdote. Sob o pretexto de criticar Moisés por ter-se casado fora do povo da aliança (Nm 12.1), registraram seus verdadeiros sentimentos desafiando a autoridade profética dele (Nm 12.2). A conseqüência foi um castigo severo de Javé e seu lembrete de que Moisés, o mediador da aliança, era único entre todos os servos de Deus. Deus falou a Moisés abertamente, não em visões e sonhos (Nm 12.5-8). O sinal dessa relação especial estava na própria capacidade de Moisés restaurar a irmã enferma à pureza ritual (Nm 12.9-15). A rejeição da dádiva divina de terra (Nm 13.1-14.15). Em alguma parte do norte do Neguebe, perto de Canaã, o Senhor ordenou que Moisés enviasse espias que pudessem conferir os pontos fortes e os pontos fracos de seus habitantes e prescrever uma ação tática para a conquista (Nm 12.16-13.2). Os doze homens que foram enviados, inclusive Josué e Calebe, percorreram toda a extensão de Canaã (Nm 13.17-25) e voltaram com relatos diversos. A terra era rica e fértil, diziam, mas a maioria argumentava que não podia ser tomada por causa da força superior de seus ci- dadãos (Nm 13.26-29). Apesar das afirmações de Calebe a respeito da presença e do poder do Senhor, o povo deu ouvidos ao relato da maioria e recusou-se a prosseguir (Nm 13.30-14.3). O povo rejeitou a dádiva divina da terra prometida. Uma vez mais, estava em jogo a liderança de Moisés. Na realidade, o povo exi- giu que ele renunciasse em favor de alguém que o liderasse na volta ao Egito (Nm 14.4-10). Sua resposta contundente117 ao povo – e ao Senhor que o testou ameaçando destruí-lo – é notável. Se Israel não conseguisse entrar em Canaã, disse, o mundo inteiro entenderia que Javé não merece confiança (Nm 14.11-19). Ele precisava perdoar o povo por causa do seu próprio nome, se não pelo povo. Movido por essa intercessão, o Senhor aplacou-se118, mas anunciou a Moisés e ao povo que não viveriam para ver a terra da 117 Incisivo, decisivo. Extremamente agressivo. 118 Tornar plácido; tranqüilizar, serenar, apaziguar. 4 Números - Deuteronômio 175 promessa. Em lugar disso, morreriam no deserto, deixando para os filhos desfrutar a promessa de Deus (Nm 14.26-35). Só Josué e Ca- lebe, que haviam confiado em Deus quanto à vitória e à conquista, veriam pessoalmente a terra onde havia leite e mel (Nm 14.36-38). Tendo recusado a oportunidade de entrar em Canaã com o Se- nhor, o povo então resolveu, perversamente, fazê-lo sem Ele. Deixando a arca no acampamento, avançou para o norte, sendo enfrentado e derrotado pelos amalequitas e cananeus da região montanhosa do sul (Nm 14.39-45). Assim, o povo começou seus quarenta anos de jornada sem objetivo no deserto. A Jornada nas Planícies de Moabe (Nm 15.1-22.1) Com ironia admirável, o Senhor, que acabara de sentenciar o povo de Israel à morte no deserto, delineou de imediato os princípios do sacrifício e do serviço a serem seguidos pelos seus descendentes na terra de Canaã (Nm 15.1-41). Esses princípios concordam em geral com os procedimentos de Levítico 1-7, embora haja algumas emendas adequadas a uma vida estabelecida, não nômade. Dá-se atenção especial às ofertas pelo pecado, pois este sempre seria um problema, mesmo na terra prometida. Como que para ilustrar esse fato, a breve narrativa sobre um transgressor do sábado aparece após a instrução a respeito do pecado voluntário (Nm 15.32-36). Sua morte por apedrejamento salienta a seriedade de tal pecado e deu origem à nova ênfase na necessidade de Israel lembrar quem ele era como povo e o que o Senhor exigia dele (Nm 15.37-41). A rejeição do sacerdote de Deus (Nm 16.1-50). Uma segunda ilustração do problema contínuo do pecado se- gue-se na história da rebelião de Corá contra a autoridade sacerdotal de Arão (Nm 16.1-17.13). Corá era levita, mas não sacerdote. Ele se ressentiu por ser excluído e contestou a alegação de que era de Arão e de seus filhos o direito exclusivo de serem mediadores diante de Deus. Moisés, portanto, ordenou que Corá e seus seguidores chegas- 4 Números - Deuteronômio 176 • Capítulo 4 sem ao santuário, onde eles e Arão ofereceriam incenso diante do Senhor. Aquele cuja oferta fosse aceita seria legitimado (Nm 16.4-17). Quando chegou o momento da verdade, o Senhor apareceu em sua glória, ameaçando destruir não só a Corá e a seus colabora- dores, mas toda a congregação. Só a intercessão de Moisés e Arão evitou isso (Nm 16.20-24). Corá, com seus amigos e família, foi tragado numa grande fenda na terra (Nm 16.25-35). Assim, foi encerrada a rebelião de sacerdotes rivais. O julgamento divino não acabou com a murmuração do povo. De novo, o Senhor o ameaçou com aniquilação. Só a mediação fiel de Moisés livrou-o mais uma vez, ainda que milhares tenham morrido numa praga (Nm 16.41-50). A legitimação do sacerdote de Deus (Nm 17.1-13). A congregação contestou de novo a escolha divina dos líde- res. Quando o bordão de Arão (o símbolo da tribo de Levi) brotou e floresceu, ficou claro que a linhagem sacerdotal estava nele e em sua família (Nm 17.1-13). Sacerdotes, levitas e pureza (Nm 18.1-19.22). Terminada essa crise, era de novo necessário detalhar os deveres e privilégios dos sacerdotes e levitas (Nm 18.1-32). Levando natu- ralmente a uma discussão de outras questões cultuais, em especial a purificação (Nm 19.1-22). O que exigia coisas como a morte de uma bezerra vermelha como oferta pelo pecado, sendo aplicável à impu- reza causada pelo contato com um cadáver (Nm 19.11-13) e à tenda contaminada pela morte de alguém em seu interior (Nm 19.14-19). A falta de confiança na Palavra de Deus (Nm 20.1-13). A narrativa da jornada continua com o relato da chegada de Israel a Cades-Barnéia, o centro dos trinta e oito anos de peregrina- ção de Israel pelo deserto. 4 Números - Deuteronômio 177 Cades foi o local onde Miriã morreu, (Arão veio a desfalecer num monte próximo dali, chamado Hor) (Nm 20.1,28), destacando as sérias conseqüências da rebelião da primeira geração no deserto. Ali o povo voltou a se rebelar contra Moisés por falta de água (Nm 20.1-9). Moisés, o homem “mui manso”, irou-se e bateu na rocha, em vez de falar, conforme o Senhor lhe havia instruído. Números descre- ve depois o pecado de Moisés como falta de respeitopela santidade de Deus (Nm 27.14). Contudo, seu ato temerário119 resultou numa bênção para Israel – água abundante – mas, uma maldição para ele próprio – censura e exclusão da terra prometida (Nm 20.10-13). De acordo com Salmos 106.32, o profeta do deserto sofreu pelo pecado dos israelitas: “... e, por causa deles, sucedeu mal a Moisés”. Jornada a Moabe (Nm 20.14-22.1). Fiel, porém, ao compromisso, Moisés fez planos para continuar a jornada até Canaã. Primeiro buscou permissão do rei de Edom para atravessar a terra pela estrada real – permissão negada (Nm 20.14-21). Então, envolveu os cananeus de Arade num conflito que terminou em sólida vitória israelita (Nm 21.1-3). Israel motivado prosseguiu. Ainda que persistisse em rebelar-se de tempos em tempos (Nm 21.4-9), por fim chegou a Moabe (Nm 21.10-20). Sua chegada causou grande preocupação aos inimigos de Israel. Seom, rei dos amorreus, tentou deter o avanço do povo de Deus, mas não conseguiu (Nm 21.21-32). Ogue, rei de Basã, tam- bém sofreu derrota nas mãos de Israel. Vale frisar que, acredita-se em ser, Ogue um homem de mui grande estatura, pois, a Bíblia nos relata que seu leito, de ferro, possuía nove côvados (quatro metros aproximadamente) de comprimento por quatro (cerca de um metro e oitenta) de largura (Dt 3.11). Assim, Moisés e seus seguidores finalmente chegaram às pla- nícies de Moabe, logo a leste da terra que o Senhor lhes havia pro- metido (Nm 21.33-22.1). 119 Arriscado, imprudente, perigoso. 4 Números - Deuteronômio 178 • Capítulo 4 A Terra Prometida e os Obstáculos (Nm 22.2-25.18) A derrota dos amorreus e basanitas indicou que o caminho estava aberto para Israel conquistar a terra prometida. Antes de entrar na terra, porém, Israel enfrentaria obstáculos rumo à terra prometida por Deus. • O primeiro obstáculo foi externo – a ameaça da maldição de Balaão (Nm 22.2-24.25); • O segundo obstáculo foi interno – a ameaça da influência dos padrões de conduta sexual dos moabitas (Nm 25.1-18). A ameaça externa (Nm 22.2-24.25). Balaque, rei de Moabe, conclui que sua nação seria a próxi- ma a cair diante de Israel. Assim, contratou os serviços de Balaão, famoso vidente da Mesopotâmia. O Senhor alertou-o de que não devia colaborar com Balaque, pois era inútil tentar amaldiçoar um povo abençoado por Deus (Nm 22.2-20). Balaão prosseguiu para Moabe, esperando satisfazer o pedido de Balaque, mas havia aprendido que poderia dizer só o que o Deus de Israel permitisse (Nm 22.21-55). Em Moabe, Balaão começou uma série de maldições que eram convertidas pelo Senhor em magníficas bênçãos para seu povo (Nm 22.36-24.25). Predisse a hoste inume- rável de Israel, então à fidelidade do Senhor para com seu povo, sua prosperidade e sucesso e o surgimento de um governante israelita que subjugaria os vizinhos de Israel. Assim, o plano diabólico de Balaque – amaldiçoar Israel – resultou exatamente no oposto: um derramar magnífico da bênção de Deus sobre seu povo e, por meio dele, sobre todo o mundo. A ameaça interna (Nm 25.1-18). Mas o que Balaão não conseguiu fazer, os próprios impulsos vis de Israel conseguiram. Enquanto estavam nas planícies de Moabe, depararam com o culto licencioso120 de Baal em Peor e logo foram atraídos por seus fascínios (Nm 25.1-5). 120 Sensual, libidinoso; libertino. 4 Números - Deuteronômio 179 Só o zelo de Finéias, filho do sumo sacerdote Eleazar e neto de Arão, evitou uma apostasia completa (Nm 25.6-13). Com a lança na mão, ele matou os cabeças do tumulto. Assim, obteve expiação (Nm 25.13), mas não antes que milhares de compatriotas israelitas tivessem perecido numa praga enviada por Deus. Preparação para a Conquista (Nm 26.1-36.13) Tendo então aberto o caminho para a travessia do Jordão e para a conquista de Canaã, o Senhor deu instruções a esse respeito. Ordenou um novo censo de tribos (Nm 26.1-65) e delineou alguns princípios de herança para famílias que não tivessem filhos homens (Nm 27.1-11). O desejo sincero de participar da terra dada por Deus, manifestado pelas filhas de Zelofeade, contrasta nitidamente com o desdém121 com que a geração anterior tratou a dádiva. Um sucessor para Moisés (Nm 27.1-23). Deus revelou a sua vontade quanto a um sucessor para Moi- sés. Seria alguém que se tornaria o mediador da aliança na terra de Canaã, onde Moisés não pôde entrar. O sucessor era Josué, o servo fiel do Senhor, a quem foi con- ferido a dignidade de Moisés (Nm 27.12-23). Instruções para o culto na terra prometida (Nm 28.1-30.16). As condições da vida estabelecida na terra exigiam ajustes na vida e na prática religiosa. Assim, o Senhor revelou novas regras para os sacrifícios e dias santificados (Nm 28.1-29.40) e reiterou, com algum refinamento, leis do voto: como tomá-lo e como encerrá-lo (Nm 30.1-16). 121 ou efeito de desdenhar; desprezo com orgulho. Altivez, arrogância. 4 Números - Deuteronômio 180 • Capítulo 4 A manutenção da pureza de Israel (Nm 31.1-54). Havia também a questão pendente dos midianitas. Eles ha- viam levado os israelitas à degradante devassidão de Baal-Peor (Nm 25.16-18) e, assim, tinham de sofrer o terrível julgamento divino. Doze mil homens de Israel foram convocados para a tarefa. Tendo matado a Balaão e a todos os reis e homens de Midiã, eles voltaram ao acampamento em triunfo (Nm 31.1-12). Uma vez que a rebelião em Baal-Peor envolvia imoralidade sexual, Moisés exigiu que as midianitas não virgens também fossem mortas (Nm 31.13-54). Um novo retorno (Nm 32.1-42). Canaã, propriamente dita era a terra prometida aos patriarcas. Ainda assim, algumas tribos israelitas, como, Rúben, Gade e meia tribo de Manassés, pediram a Moisés que lhes fossem permitidos terem herança na Transjordânia, exatamente onde estavam (Nm 32.1-19). Essas tribos, como a geração anterior, pareciam dispostas a rejeitar a terra que Deus havia prometido conceder-lhes. Moisés, relutante, atendeu ao pedido delas, sob a condição de que ajudassem seus companheiros a conquistar Canaã e fossem para sempre fiéis ao Senhor (Nm 32.20-42). Lembrança e prenúncio da conquista (Nm 33.1-36.13). A recitação do itinerário de Israel desde o Egito (Nm 33.1-49) serve como lembrete do cuidado de Deus através dos anos no deserto. As instruções finais de Moisés acerca da conquista (Nm 33.50-56) e a distribuição de territórios entre as tribos, prenunciam o cumprimento da promessa divina da terra, conforme registrado no livro de Josué. Instruções a respeito das cidades dos levitas e das cidades de refúgio (Nm 35.1-8) deviam guardar a terra prometida da poluição causada pelo derramamento de sangue inocente (Nm 35.9-34). A narrativa final em Números destaca o desejo das filhas de Zelofeade de ter parte na herança da terra. Deus premiou o anseio delas por sua promessa provendo leis de herança para famílias que não possuírem herdeiros do sexo masculino (Nm 36.1-12). Estava então tudo pronto para a declaração final da aliança incorporada no livro de Deuteronômio e para a conquista de Canaã relatada no livro de Josué. 4 Números - Deuteronômio 181 Mensagem para Hoje Como aplicar? Deus deseja o melhor para os antigos israelitas – dar-lhes uma bela terra como lar. Assim também, Ele deseja o melhor para as pessoas contemporâneas. Porém, as mesmas têm livre escolha – ou aceitam ou desprezam as promessas divinas. Os israelitas que deixaram o Egito rejeitaram a dádiva divina e morreram no deserto. Assim também, aqueles que hoje rejeitam a oferta generosa da salvação em Cristo correm seu risco. A história da peregrinação de Israel, partindo do Sinai, o lugar de seu compromisso inicial com Deus, até as planícies de Moabe, onde Israel manifestou-se disposto a concretizar todas as promessas de Deus, lança luz sobre a experiência cristã. É evidente que Israel, como os fiéis de hoje, experimentou tempos de fracasso abismal. As freqüentes murmurações de Israel contra Moisés (e contra Deus) ilustram como o povo não se satisfazia e não sesatisfaz com o que devia ser nosso máximo prazer – experimentar o cuidado e a direção de Deus em nossa vida. Israel, com saudades dos bons tem- pos no Egito ilustra que os prazeres do pecado continuam atraentes mesmo aos que foram redimidos por Deus. Portanto, a rebelião contra Deus traz conseqüências medonhas. O julgamento, porém, não é a palavra final de Deus: aqueles que se apegam tenazmente às promessas dEle são recompensados. 4 Números - Deuteronômio 182 • Capítulo 4 O Valor Ético Qual é a principal lição de Números? A resposta de Israel à liderança de Moisés e Arão e às exi- gências da aliança em geral ditou o grau de sucesso ou fracasso que caracterizou sua jornada pelo deserto. O princípio é cristalino: sempre que havia obediência irrestrita, havia sucesso ilimitado. Sempre que havia rebelião obstinada122, vinha o fracasso. A exigência de compromisso com Deus não é hoje menos real e necessária. A forte mensagem ética que ressoa em alto e bom som em Nú- meros é que Deus possui um plano que leva à bênção. Mas o plano é construído em torno de princípios e práticas de comportamento que não podem ser abrandados ou negociados. Deus deseja abençoar os seus, mas essa benção é firmada na submissão ao seu governo. O sucesso na vida depende não só de fazer a vontade dEle, mas de fazê-la da maneira por Ele prescrita. 122 Manter-se na teima ou erro; porfiar, relutar. 4 Números - Deuteronômio 183 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. Dois dos doze homens enviados como espias que foram os únicos a confiar em Deus quanto à vitória e à conquista a) ☐ Oséias (Josué) e Calebe b) ☐ Josué e Gadiel c) ☐ Geuel e Josué d) ☐ Gadiel e Calebe 10. Moisés, o homem “mui manso”, irou-se e bateu na rocha, em vez de falar, conforme o Senhor lhe havia instruído. Contudo, seu ato temerário resultou em a) ☐ Uma maldição para Israel, falta de água; mas, uma benção para ele próprio, entrada na terra prometida b) ☐ Uma maldição para Israel, falta de água; e, uma maldição para ele próprio, censura e exclusão da terra prometida c) ☐ Uma bênção para Israel, água abundante; mas, uma maldição para ele próprio, censura e exclusão da terra prometida d) ☐ Uma bênção para Israel, água abundante; e, uma bênção para ele próprio, entrada na terra prometida 11. _______ rei de Moabe, conclui que sua nação seria a próxima a cair diante de Israel. Assim, contratou os serviços de ______, famoso vidente da Mesopotâmia a) ☐ Balaque, Balaão b) ☐ Anaque, Balaque c) ☐ Balaão, Moloque d) ☐ Baal, Anaque 4 Números - Deuteronômio 184 • Capítulo 4 12. O servo fiel do Senhor, a quem foi conferido a dignidade de Moisés, o qual foi sucessor do mesmo a) ☐ Calebe b) ☐ Reuel c) ☐ Jetro d) ☐ Josué 13. Deviam guardar a terra prometida da poluição causada pelo derramamento de sangue inocente a) ☐ Instruções a respeito das cidades dos sacerdotes e das cidades de descanso b) ☐ Instruções a respeito das cidades dos patriarcas e das cidades de restauração c) ☐ Instruções a respeito das cidades dos levitas e das cidades de refúgio d) ☐ Instruções a respeito das cidades dos profetas e das cidades de fuga Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) Mal a jornada em busca da terra de Canaã ha- via começado, porém, o povo começou a recla- mar e a murmurar. A principal reclamação pare- ce ter sido por insatisfação com as codornizes 15.( ) Antes de entrar na terra, porém, Israel enfrentaria obstáculos rumo à terra prometida por Deus. O pri- meiro obstáculo foi externo - a ameaça da influên- cia dos padrões de conduta sexual dos moabitas 16.( ) Algumas tribos israelitas, como, Rúben, Gade e meia tribo de Manassés, pediram a Moisés que lhes fos- sem permitidos terem herança na Transjordânia Anotações 185 AnotaçõesAnotações Anotações 186 4 Números - Deuteronômio 187 Deuteronômio O nome Deuteronômio (do grego traduzido por segunda lei) surgiu da tradução dada pela Septuaginta à frase hebraica que significa “um traslado desta lei” (Dt 17.18). Deuteronômio não é uma segunda lei, mas uma ampliação da primeira, dada no Sinai. Este nome foi obtido da LXX (Septuaginta) através de uma tradução inacurada de Deuteronômio 17.18, o qual corretamente traduzido daria, “Esta é a cópia (ou repetição) da lei”. O nome hebraico do livro ‘Ellen haddevarim, “Estas são as palavras” ou simplesmente Devarim, “Palavras”. A tradição judaica intitula o livro de Misneh Torah, que significa repetição ou “cópia da lei” (Dt 17.18). Em décadas recentes, os estudiosos têm chamado atenção para os paralelos notáveis entre o livro de Deuteronômio e os tratados hititas (1400-1200 a.C.) e assírios (850-650 a.C.). Ainda que muitos analistas estejam convictos de que Deuteronômio foi influenciado pela tradição dos tratados ou texto de aliança. É uma declaração de aliança incluída no discurso de despedida de Moisés a Israel (Dt 1.1-3; 34.1-8). Israel havia completado quase quarenta anos de peregrina- ção pelo deserto e estava para entrar na terra de Canaã e ocupá-la. A antiga geração rebelde havia morrido e a nova geração tinha de ouvir a aliança que Deus fizera com seus pais no Sinai e atender a ela. Moisés repetiu a história da fidelidade de Deus e exortou a nova geração a ser obediente aos mandatos da aliança. Ele repetiu os termos da aliança, mas com emendas e restrições adequadas à nova situação de conquista e estabelecimento que estava por vir. Além disso, Moisés deu condições para as gerações futuras renovarem seu compromisso com o Deus da aliança. Assim, Deuteronômio é um sermão de “despedida” centraliza- do na aliança, discurso que toma sua forma fundamental seguindo o padrão dos documentos de aliança da Idade Posterior do Bronze. 4 Números - Deuteronômio 188 • Capítulo 4 Por que ler esse livro? O tema geral de Deuteronômio são os relacionamentos da aliança. O que significa para Israel ser povo de Deus no contexto da conquista e do estabelecimento na terra? Que privilégios e res- ponsabilidades implicariam essa condição de povo escolhido para aquela geração de Israel e para gerações futuras do povo de Deus? Na revelação inicial da aliança (Êx 19.4-6), o Senhor decla- rou que Ele havia libertado seu povo do Egito “sobre asas de águia” e depois o tornara seu povo em propriedade especial, um “reino de sacerdotes e nação santa”. A vocação dele era ser um povo de servos que mediaria a graça salvadora de Deus a todasas nações da terra. Deuteronômio continua esse tema destacando a eleição divina de Israel (Dt 7.6-11; 10.12-15). Essa função de povo escolhido devia ser vivenciada dentro de linhas claramente definidas. Os preceitos da aliança regiam cada aspecto da vida política, social e religiosa do povo de Deus. Como foi escrito? Há amplo consenso de que Deuteronômio é moldado segundo fórmulas bem conhecidas de tratados do antigo Oriente Próximo (especialmente dos hititas e/ou assírios). Ainda que a tradição dos antigos tratados forneça a estrutura geral e o esboço do livro, Deute- ronômio acrescenta exortações, poesia e outras abordagens adequadas a seu caráter mais amplo como um sermão de despedida de Moisés. O estudo de tratados entre soberano e vassalo firmados pelo grande rei dos hititas com governantes vencidos ou dependentes revela certos componentes comuns que Deuteronômio incorpora na mesma ordem geral. De acordo com Peter Craigie (The Book of Deuteronomy, 24,67-68), é possível apresentar os seguintes elemen- tos-padrão dos textos de aliança hititas e sua localização correspon- dente em Deuteronômio. • O Preâmbulo (Dt 1.1-5) - fornece o ambiente em que o texto é apresentado ao vassalo pelo grande Rei; • O Prólogo Histórico (Dt 1.6-4.49) - esboça o relacionamento passado entre as partes contratantes; 4 Números - Deuteronômio 189 • Os Preceitos Gerais (Dt 5.1-11.32) - são os princípios básicos do relacionamento. Eles revelam os propósitos do grande Rei e alertam o vassalo quanto às linhas mestras pelos quais executa- rem esses propósitos; • Os Preceitos Específicos (Dt 12.1-26.15) - detalham as estipula- ções gerais por meio de casos particulares. Em situações especí- ficas o vassalo nem sempre seria capaz de deduzir a aplicação do princípio geral, sem orientação complementar. Assim, o grande Rei não só precisava apresentar expectativas gerais, como prover circunstâncias peculiares e singulares. • As Bênçãos e Maldições (Dt 27.1-28.68) - esboçam as conseqüên- cias da fidelidade e da desobediência à aliança. A obediência fiel aos termos da aliança, ou seja, às estipulações estabelecidas em Deuteronômio, garantiria que o vassalo seria devidamente re- compensado, por outro lado, a desobediência traria retribuição rápida e certa das mãos do grande Rei. • As Testemunhas do Tratado (Dt 30.19; 31.19; 32.1-43) testificam seu valor e o compromisso firmado pelas partes contratantes. Mesmo o grande Rei reconhece a necessidade de manter a pro- messa solenemente feita. Os elementos dos antigos tratados do Oriente Próximo podem ser vistos não só na estrutura mais ampla de Deuteronômio, mas também na organização das unidades menores do livro. Por exemplo, Deuteronômio 5 contém: • Uma apresentação do grande Rei – “Eu sou o SENHOR, teu Deus” (Dt 5.6); • Um prólogo histórico – “que te tirei do Egito, da casa da servi- dão” (Dt 5.6); • Preceitos da aliança (Dt 5.7-21); • Bênçãos e maldições – “que visito a iniqüidade dos pais nos filhos [...] daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus man- damentos” (Dt 5.9-10); • O registro da aliança (Dt 5.22). 4 Números - Deuteronômio 190 • Capítulo 4 • O ambiente da aliança (Dt 1.1-5) • Lições da história do povo de Deus (Dt 1.6-4.40) • Princípios básicos da aliança (Dt 4.44-6.25) • Princípios suplementares da aliança (Dt 7.1-11.32) • Recursos e ameaças para o culto ao único Deus (Dt 12.1-16.17) • A peculiaridade do povo de Deus (Dt 16.18-26.19) • As maldições e bênçãos da aliança (Dt 27.1-28.69) • A renovação do compromisso com a aliança (Dt 29.1-30.20) • O futuro da aliança (Dt 31.1-29) • O cântico de Moisés sobre a fidelidade de Deus e sobre a infidelidade de Israel (Dt 31.30-32.43) • A conclusão do ministério de Moisés (Dt 32.44-34.12) Propósito e Teologia O que se deve buscar em Deuteronômio? O livro de Deuteronômio primeiro declara novamente a alian- ça entre Javé e Israel para a geração reunida nas planícies de Moabe antes da conquista de Canaã sob Josué. A maior parte da geração que havia ouvido e aceitado a aliança no Sinai, trinta e oito anos antes, estava morta (Dt 2.14; cf. Nm 14.34). Seus filhos precisavam agora ouvir a aliança por si, confirmando lealdade a ela (Dt 4.1-2). As instruções para confirmação futura da aliança dão a entender que cada geração do povo de Deus tinha de se apropriar da história dos atos salvadores de Deus (Dt 26.5-9) e se comprometer de novo com a aliança (Dt 26.16-19; cf. 5.3-4). 4 Números - Deuteronômio 191 Em segundo lugar, a mescla de exortações e prescrições da aliança em Deuteronômio dá a entender que o livro devia registrar as palavras de admoestação, encorajamento e alerta de Moisés para a posteridade. Aqueles que estavam para entrar na terra da promes- sa tinham de aprender do passado, dizia ele, para poderem cumprir os propósitos para os quais o Senhor os havia criado (Dt 8.11-20). A teologia de Deuteronômio não pode ser separada de seu tema e forma. Como um documento influenciado pela forma dos textos de aliança, ele se torna o veículo pelo qual o Deus soberano expressa seus propósitos salvadores e redentores para sua nação serva, seu reino de sacerdotes a quem elegeu e libertou da escravidão em resposta a antigas promessas patriarcas. O fato de que o Deus que livrou Israel da escravidão egípcia é o único Deus verdadeiro é central na apresentação que Deuteronômio faz da aliança. Porque só há um Deus, Ele exige lealdade total de seu povo (Dt 6.5; 10.12-13) e deve ser cultuado no único lugar por Ele escolhido (Dt 12.5,11; 14.23). O Ambiente da Aliança (Dt 1.1-5) O início de Deuteronômio encontra Moisés discursando à assembleia de Israel em Moabe, logo a leste do rio Jordão. Quarenta anos haviam transcorrido desde o êxodo, a longa jornada desde o Sinai fora completada, os inimigos na Transjordânia haviam sido derrotados e tudo estava pronto para a conquista de Canaã. Assim, Moisés pronunciou um discurso de despedida com instruções acerca da aliança e exortações pastorais. Lições da História do Povo de Deus (Dt 1.6-4.40) Os tratados hititas incluíam um resumo das relações passadas en- tre o grande rei e seu vassalo. Moisés igualmente recitou os pontos altos no relacionamento de Deus com seu povo desde a outorga da aliança no Sinai quase quarenta anos antes (Dt 1.6-3.29). Depois desse resumo dos fracassos e sucessos de Israel na rota para a terra prometida, Moisés exortou o povo de Deus a guardar os mandamentos, a evitar a idolatria e a se maravilhar com os atos salvadores de Deus (Dt 4.1-40). 4 Números - Deuteronômio 192 • Capítulo 4 Fracassos e sucessos na rota para a terra prometida (Dt 1.6-3.29). O Senhor havia mandado que Israel deixasse o Sinai e se- guisse rumo à terra prometida (Dt 1.6-8). O caminho fora árduo, sobrecarregando Moisés quase ao seu limite (Dt 1.9-18). Mas por fim Israel chegou a Cades-Barnéia, na fronteira da terra prometida (Dt 1.19-25). Ali o povo rebelou-se, recusando-se a entrar na terra (Dt 1.26-33). O Senhor então o condenou vagar pelo deserto até que todos morressem (Dt 1.34-40). Após tentativas inúteis de invadir Canaã sem o auxílio de Deus (1.41-46), as tribos seguiram para o norte, desviando-se de Edom (2.1-8a), chegando por fim a Moabe (Dt 2.8b-25). Dali pediu permissão para atravessar o território amorreu, mas foram repelidos com desprezo veemente123 por Seom, rei dos amorreus, e Ogue, rei de Basã. Deus entregou esses dois nas mãos de Israel (Dt 2.26-37; 3.1-11), permitindo assim que Israel tomasse posse de toda a região da Transjordânia (Dt 3.12-17). Ali Moisés havia requisitado que lhe fosse permitido liderar seu povo até Canaã. O Senhor, porém, negou-lhe o pedido porque em Meribá Moisés não havia confiado em Deus e não respeitou sua santidade (Dt 3.18-29; cf. Nm 20.12). Guardar os mandamentos de Deus; evitar a idolatria; maravilhar-se com os atos salvadores de Deus (Dt 4.1-40). Depois desseesboço histórico, Moisés lembrou a seu povo seus privilégios especiais como benefício da graça de Javé expressa na aliança (Dt 4.1-8). Moisés instou o povo a lembrar-se do que Deus fizera no passado, fazendo-se conhecido a Ele (Dt 4.9-14). O Deus invisível que age na história não pode ser representado em pedra ou madeira inanimada nem em sua criação (Dt 4.15-24). A idolatria levaria ao castigo de destruição e exílio (Dt 4.25- 31). O motivo para Israel servir e cultuar exclusivamente a Javé está na intervenção singular de Javé em favor de Israel, livrando-o da escravidão e firmando com ele uma aliança (Dt 4.32-40). 123 Enérgico, forte, vigoroso. 4 Números - Deuteronômio 193 A instituição das cidades de refúgio (Dt 4.41-43). Num breve interlúdio narrativo, Moisés separa três cidades da Transjordânia como lugares de refúgio no caso de homicídio (Dt 4.41-43; cf. 19.2-13). Tais cidades tinham o propósito de livrar a terra prometida da mancha provocada pelo sangue inocente. Princípios Básicos da Aliança (Dt 4.44-6.25) Uma breve introdução coloca a aliança no contexto do êxodo do Egito (Dt 4.45) e da conquista bem sucedida do território do outro lado do Jordão (Dt 4.46-49). O coração da aliança: os Dez Mandamentos (Dt 5.1-21). Depois de exortar a geração presente de israelitas a se identificar com seus pais no Sinai (Dt 5.1-5), Moisés relacionou os Dez Manda- mentos, o verdadeiro coração da aliança do Sinai (Dt 5.6-21). Os Dez Mandamentos têm a mesma forma básica dos antigos tratados do Oriente Próximo. O grande Rei é identificado (“Eu sou o SENHOR, teu Deus”), e delineia-se a história de seu relacionamento com seu povo-servo – “que te tirei do Egito, da casa da servidão” (Dt 5.6). O primeiro mandamento – “não terás outros deuses diante de mim” (Dt 5.7) é o princípio básico da aliança. Os mandamentos seguintes detalham as implicações da devoção exclusiva de Israel a Deus, quanto às suas relações com Deus (Dt 5.8-15) e com outras pessoas (Dt 5.16-21). A forma desses mandamentos é praticamen- te idêntica à de Êxodo 20.2-17. Aqui, porém, a guarda do sábado comemora o livramento salvador do Egito (Dt 5.15) e não tanto a criação (Êx 20.11). A função de Moisés como mediador da aliança (Dt 5.22-33). O retrospecto seguinte da revelação no Sinai destaca a fun- ção de Moisés como mediador da aliança e um Israel temeroso (Dt 5.22-33). Moisés desafiou a nova geração à obediência, “Cuidareis em fazerdes como vos mandou o SENHOR, vosso Deus” (Dt 5.32- 4 Números - Deuteronômio 194 • Capítulo 4 33), como condição para uma vida próspera na terra da promessa. O princípio primordial e básico: amor a Deus - completo e exclusivo (Dt 6.1-25). A natureza fundamental da relação entre Javé e Israel consiste no conhecimento de que Deus é um (Dt 6.4-5) e de que seu povo, para gozar os benefícios de suas promessas aos patriarcas, deve prestar-lhe fidelidade sincera e obediência inabalável (Dt 6.1-25). Princípios Suplementares da Aliança (Dt 7.1-11.32) A exigência básica de amor a Deus - completo e exclusivo (Dt 6.5; 10.12) - desdobra-se de várias maneiras em Deuteronômio 7.1-11.32. A destruição total dos cananeus (Dt 7.1-26). Os israelitas tinham o dever de servir a um só Deus na terra da promessa, portanto, precisavam destruir por completo os habitantes nativos de Canaã que serviam a outros deuses. Eles também preci- savam recusar qualquer aliança que os prendesse a eles (Dt 7.1-26). Javé como a fonte de bênção em Canaã (Dt 8.1-9.6). Israel devia reconhecer que Javé – não os deuses da fertilidade de Canaã – é a fonte de todas as bênçãos na terra (Dt 8.1-20). Israel também devia reconhecer que a bênção é um produto da graça de Deus, não da justiça deles mesmos (Dt 9.1-6). A função de Moisés como mediador da aliança e intercessor (Dt 9.7-10.11). A função de Moisés como mediador da aliança e intercessor para o Israel desobediente é de novo destacada. Os incidentes do bezerro de ouro (Dt 9.7-21), as murmurações no deserto (Dt 9.22) e 4 Números - Deuteronômio 195 a rejeição da dádiva divina da terra (Dt 9.22-24) ilustram a rebeldia persistente de Israel. O apelo de Moisés às promessas patriarcais e à honra de Deus (Dt 9.25-29) resultou numa renovação da aliança (Dt 10.1-11). Amor a Javé e amor aos necessitados (Dt 10.12-22). A unidade e a exclusividade de Javé exigem que Ele seja ama- do por seu povo com um amor que seja sinônimo de fidelidade à aliança. Mas o amor a Deus não pode estar divorciado do amor aos outros, especialmente aos necessitados. Assim, o centro e o âmago da relação não é o legalismo, mas o amor (Dt 10.12-22). A obediência como prova do amor a Deus (Dt 11.1-32). O amor deve ser manifesto e, em termos de aliança, isso significa obediência. Israel já sentira as conseqüências da desobediência (Dt 11.1-7), agora precisava compreender de novo que as recompensas da bondade de Deus (Dt 11.8-12) só lhe pertenceriam se o amasse e guardasse seus mandamentos (Dt 11.13-25), e mais tarde, quando entrassem na terra, teriam oportunidade de empenhar sua lealdade ao Senhor (Dt 11.26-32). 4 Números - Deuteronômio 196 • Capítulo 4 4 Números - Deuteronômio 197 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 1. O nome Deuteronômio surgiu da tradução dada pela a) ☐ Taniah b) ☐ Septuaginta c) ☐ Vulgata d) ☐ Torá 2. Quanto aos elementos-padrão (de acordo com Peter Craigie) dos textos de aliança hititas e sua localização correspondente em Deu- teronômio, é incorreto dizer que a) ☐ O Preâmbulo (Dt 1.1-5) - fornece o ambiente em que o texto é apresentado ao vassalo pelo grande Rei b) ☐ O Prólogo Histórico (Dt 1.6-4.49) - esboça o relacionamento passado entre as partes contratantes c) ☐ Os Preceitos Gerais (Dt 5.1-11.32) - detalham as estipulações gerais por meio de casos particulares d) ☐ As Bênçãos e Maldições (Dt 27.1-28.68) - esboçam as conse- qüências da fidelidade e da desobediência à aliança 3. O início de Deuteronômio encontra Moisés discursando à a) ☐ Assembleia de Israel em Moabe b) ☐ Assembleia de sacerdotes em Cades c) ☐ Assembleia de levitas em Edom d) ☐ Assembleia de príncipes das tribos em Basã 4. As cidades refúgios tinham o propósito de livrar a) ☐ A terra prometida da mancha provocada pelo sangue culpado b) ☐ A cidade santa da mancha provocada pelo sangue inocente c) ☐ O tabernáculo da mancha provocada pelo sangue culpado d) ☐ A terra prometida da mancha provocada pelo sangue inocente 4 Números - Deuteronômio 198 • Capítulo 4 5. O coração da aliança entre Deus e o povo de Israel é a) ☐ A Páscoa b) ☐ O Tabernáculo c) ☐ A Arca d) ☐ Os Dez mandamentos Marque “C” para certo e “E” para errado 6.( ) O Senhor declarou que Ele havia liberta- do seu povo do Egito “sobre asas de águia” e de- pois o tornara seu povo em propriedade espe- cial, um “reino de sacerdotes e nação santa” 7. ( ) O primeiro mandamento – “não terás outros deuses diante de mim” (Dt 5.7) é o princípio básico da aliança 8. ( ) O apelo de Moisés às promessas patriarcais e à hon- ra de Deus resultou em uma divisão da aliança Anotações 199 AnotaçõesAnotações Anotações 200 4 Números - Deuteronômio 201 Culto ao Único Deus – Recursos e Ameaças (Dt 12.1-16.17) Tendo exposto os princípios amplos da relação e da responsa- bilidade da aliança (Dt 5.1-11.32), Moisés voltou-se para exemplos mais específicos de sua aplicação. O santuário central (Dt 12.1-28). Os cananeus nativos cultuavam muitos deuses em numerosos santuários locais. Como recurso para o culto ao único Deus verda- deiro, devia haver apenas um santuário onde se realizaria o culto da comunidade de Israel (Dt 12.1-4). Ele não ficaria ao capricho do povo, mas no lugar em que Javé fizesse habitar seu nome (Dt 12.11). Antes da construção do templo de Jerusalém, esse santuário central era o lugar em que ficavam o tabernáculo e a arca da aliança. Deuses pagãos e falsos profetas (Dt 12.29-13.19). Israel devia cultuar não só um lugar escolhido por Deus, mas também da maneira escolhida por Ele. O povo de Deus estava proi- bido de adotar as práticas cultuais dos nativos cananeus (Dt 12.31). Quando o sangue do animal era derramado, fosse para sacrifício, fosse para consumo humano da carne, o sangue não podia ser inge- rido porque simbolizava a própria vida, sendo, portanto, sagrado (Dt 12.15-28). O povo de Deus não devia consumir sangue como faziam os nativos cananeus. O povo de Deus era ainda proibido de adotar outras práticas cultuais cananéias, tais como o sacrifício humano e a prostituição cultual (Dt 12.29-31). A religião cananéia dependia de adivinhos e encantadores como canais de revelação e poder. Uma vez que tais práticas implicavam lidar com deuses que não Javé, aquilo era obviamente proibido para o povo de Israel. 4 Números - Deuteronômio 202 • Capítulo 4 Qualquer profeta que amaldiçoasse o povo de Deus, fazendo-o afastar-se de Deus, mesmo que viesse de dentro de Israel, devia ser morto (Dt 13.1-18). Preocupação com animais puros e impuros (Dt 14.1-21). Outra diferença entre Israel e as nações incrédulas à sua volta estava na consciência que o povo tinha em relação aos animais e ao uso que fazia deles. Israel devia demonstrar sua vocação e caráter como povo santo conformando-se às definições divinas de pureza e impureza, comendo apenas animais não proibidos (Dt 14.1-21). Ofertas de gratidão (Dt 14.22-29). Outra expressão de reverência diante do Deus soberano de Israel era a oferta generosa do povo em tributo a Ele, em forma de dízimos de toda sua renda (Dt 14.22-29). Ele podia ser em produto ou, se o santuário central ficasse muito longe, em espécie. A cada três anos, esses dízimos eram usados para atender às necessidades dos levitas, servosde Deus especialmente escolhidos, e às necessidades dos pobres (Dt 14.28,29). Preocupação com os pobres e oprimidos (Dt 15.1-18). Israel também reconhecia Deus como seu único Senhor me- diante sua preocupação peculiar com os pobres e oprimidos. Todo sétimo ano era considerado ano de livramento em que os israelitas pobres eram libertados de todos os encargos financeiros que hou- vessem recaído sobre eles como conseqüência de dívidas contraídas junto aos seus compatriotas (Dt 15.1-18). Ofertas e festas do santuário central (Dt 15.19-16.17). Deuteronômio 15.19-16.7, como 12.1-18, dá ênfase ao culto de Israel ao único Deus vivo no santuário central. Porque o Senhor havia poupado da décima praga o primogênito de cada casa de Is- rael (Êx 13.11-16), os fiéis israelitas deviam oferecer anualmente 4 Números - Deuteronômio 203 os primogênitos de seu gado e rebanho para expressar devoção (Dt 15.19-23). Isso era feito como parte da celebração da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos que se seguia imediatamente (Dt 16.1-8). Outras ocasiões para a comunidade de fé oferecer tributo ao grande Rei eram a Festa das Semanas (ou Pentecostes), sete semanas após a Páscoa (Dt 16.9-12) e a Festa dos Tabernáculos no sétimo mês do ano (Dt 16.13-17). Povo de Deus – Um Povo Peculiar (Dt 16.18-26.19) Oficiais do reino que amam a justiça e são fiéis à Palavra de Deus (Dt 16.18-18.22). A prática das exigências da aliança por parte da comunida- de requeria oficiais políticos e religiosos que, sob Deus, pudessem garantir estabilidade e obediência. O primeiro grupo consistia em “juízes e oficiais” (Dt 16.18-17.13). A tarefa deles era a administração imparcial da justiça (Dt 16.18-20) sem recorrer a meios pagãos (Dt 16.21-17.1). No interesse da justiça, Deuteronômio 17.2-7 fornece diretrizes para admissão de provas. Questões muito difíceis para resolução local deviam ser decididas por uma corte superior de sacerdotes e juízes no santuário central, com a devida punição do crime (Dt 17.8-13). A nação acabaria por desenvolver um governo monárquico (Dt 17.14-20). O rei devia ser israelita nato, escolhido pelo próprio Senhor (Dt 17.14-15). Ele devia adotar um estilo de vida humilde e dependente, ao contrário do que faziam os reis da vizinhança. Isso evitaria o acúmulo de cavalos como sinal de poderio militar e multi- plicação de esposas como sinal de alianças internacionais intricadas124 (Dt 17.16-17). Por fim, ele devia confiar no Senhor e procurar viver pelos princípios apresentados no próprio livro da aliança, o livro de Deuteronômio (Dt 17.18-20). Entre os oficiais religiosos de Israel estavam os sacerdotes e levitas. A responsabilidade deles como líderes em Canaã também re- 124 Obscuro, confuso. Enredado, emaranhado. 4 Números - Deuteronômio 204 • Capítulo 4 cebe breve atenção em Deuteronômio 18.1-8. Uma vez que o Senhor era a herança deles, não possuíam terra nem propriedades, devendo viver das ofertas e dádivas do povo de Deus. Os profetas também eram importantes para moldar o curso de vida de Israel como povo de Deus (Dt 18.9-22). Todos os povos, inclusive os cananeus, tinham seus profetas. Esses praticantes de feitiçaria e encantamentos eram, porém, tão maus na presença de Deus, que eles mesmos deviam ser repudiados por completo, junto com suas técnicas demoníacas (Dt 18.9-14). Em lugar deles, Deus levantaria uma ordem de profetas na tradição de Moisés, porta-vozes que falariam a verdadeira Palavra do Senhor (Dt 18.15-19). Isso, portanto, é uma referência coletiva aos profetas que vi- riam. Como tal, teve seu cumprimento completo em Jesus (veja Jo 1.21,25,45; 5.46; 6.14; 7.40; At 3.22-26; 7.37). Qualquer um desse grupo de profetas que traísse sua elevada e santa vocação, profe- tizando falsamente, devia ser morto. O teste fundamental de sua integridade seria o cumprimento ou não cumprimento de suas pre- dições (Dt 18.20-22). A lei civil peculiar do povo de Deus (Dt 19.1-21). Embora, por definição, Israel fosse uma comunidade religio- sa, ainda assim uma comunidade composta de indivíduos, cidadãos que deviam viver juntos em paz e ordem. Havia, em outras palavras, uma dimensão social e civil na vida como o povo da aliança. Isso ditava a necessidade de uma legislação civil que fornecesse regras de comportamento num ambiente social (Dt 19.1-22.4). A primeira delas tratava da questão do homicídio (Dt 19.1- 13). O sexto mandamento já havia tratado desse princípio (Dt 5.17), mas nem todo homicídio era assassinato. Os homicídios deviam ser tratados caso a caso. Se o homicídio fosse puramente acidental (Dt 19.4-6), aquele que o perpetrasse125 podia fugir para uma cidade de refúgio designada até que o caso fosse julgado (Dt 19.1-3,7-10; cf. Nm 35.9-34). Se, porém, o ato fosse intencional ou premeditação dolosa, o homicida devia ser capturado e morto pelo vingador da parte afligida (Dt 19.11-13). 125 Cometer, praticar (ato condenável). 4 Números - Deuteronômio 205 O segundo estatuto civil dizia respeito à remoção dos marcos de limites (19.14). A terra no âmago126 do legado da aliança, assim, fraudar127 o próximo movendo os limites de sua propriedade era infringir a dádiva de Deus para ele. No centro da lei eqüitativa128 estava à inocência do acusado, antes de se provar sua culpa. Ninguém seria condenado pelo depoi- mento de só uma testemunha; era preciso haver pelo menos duas para que se comprovasse o crime (Dt 19.15-19). Falsas testemunhas sofreriam as conseqüências do perjúrio129 equivalente às que o acu- sado teria recebido, caso fosse considerado culpado e punido (Dt 19.20-21), mostrando que era preciso cuidar para que houvesse justiça. A condução da guerra santa (Dt 20.1-21.14). Como nação prestes a envolver as nações cananéias em guerras de conquista, Israel recebeu diretrizes para esse empreendimento. O povo devia confiar que Deus estava com eles e que obteriam vitória (Dt 20.1-4). Isso permitia muitos tipos de dispensa do serviço militar. O simples contingente130 das tropas não determinaria o re- sultado, mas só fidelidade aos mandamentos do Senhor (Dt 20.5-9). Em guerras contra nações distantes, primeiro deviam-se pro- por as condições para paz. Caso fossem aceitas, a população seria poupada, mas reduzida ao serviço de Israel e seu Deus (Dt 20.10-15). Se, porém, as cidades fossem consagradas ao Senhor como parte da herança de Israel em Canaã, devia ser aniquilada para que seu povo não levasse Israel à apostasia (Dt 20.16-18). De tempos em tempos ocorreriam homicídios sem testemu- nhas. A noção de solidariedade do corpo era tal em Israel, que os cidadãos do povoado mais próximo do cadáver eram considerados responsáveis. Eles deviam oferecer um novilho como expiação por toda comunidade para absolvê-la assim da culpa (Dt 21.1-9). Como conseqüência da guerra, haveria um fluxo freqüente de prisioneiros submetidos ao controle de Israel. As mulheres, em tais 126 A parte fundamental; o principal, a essência. 127 Enganar, iludir. 128 Que tem, ou em que há eqüidade; reto, justo. 129 Ato ou efeito de perjurar. Juramento falso. 130 Porção de homens que cada circunscrição territorial tem de dar para o serviço militar. 4 Números - Deuteronômio 206 • Capítulo 4 casos, podiam tornar-se esposas deles após um período de adaptação. Se a adaptação se mostrasse insatisfatória, elas deviam ser libertadas (Dt 21.10-14). Outras leis civis peculiares do povo de Deus (Dt 21.15-22.4). Embora em parte alguma o Senhor sancione casamentos múl- tiplos, Ele forneceu diretrizes para resolver melhor uma situação difícil. A esposa preferida não devia ter vantagem sobre a esposa menos amada na concessão de direitos de herança aos respectivos filhos (Dt 21.15-17). Filhos rebeldes a quem os pais não conseguis- sem controlar podiam ser processados por eles e até executados pelas autoridades civis (Dt 21.18-21). Em qualquer caso capital, porém, o cadáver não podia ficar exposto após o pôr-do-sol, devendoser sepultado no mesmo dia (Dt 21.22-23; cf. Jo 19.31). O exemplo final de lei civil estava ligado à propriedade perdida (Dt 22.1-4). Qualquer israelita que encontrasse algo que pertencesse a um compatriota precisava ou devolvê-lo a ele ou esperar que ele viesse reclamá-lo. Se fosse um animal caído pela estrada, a fraterni- dade exigia que fosse levantado e devolvido. A pureza peculiar do povo de Deus (Dt 22.5-23.18). Como a aliança mosaica testifica várias vezes, Israel era povo santo e devia viver de modo santo diante do mundo. A exemplo de Levítico (cf. Lv 17-25), Deuteronômio também possui seu “código de santidade”, seu conjunto de diretrizes pelas quais Israel devia obter e manter sua pureza (Dt 22.5-23.18). Ainda que o motivo da inclusão de algumas dessas leis possa escapar ao leitor moderno, sem dúvida, na época e circunstâncias de Israel contribuíram para que compreendessem o que significava ser um povo peculiar do Senhor, único entre os povos da terra. O uso de roupas do sexo oposto era condenado porque se tratava de uma mistura antinatural de vestes (Dt 22.5). 4 Números - Deuteronômio 207 Regras a respeito da proteção de filhotes de pássaros (Dt 22.6- 7), da construção de parapeitos131 no telhado (Dt 22.8), do plantio de sementes misturadas (Dt 22.9-11) e do uso de vestes com borlas132 (Dt 22.12) falam de maneira positiva ou negativa da função de Israel como povo distinto dos pagãos ao seu redor. A pureza ou impureza com freqüência se expressa em relações sexuais. Assim, o homem que se casasse com uma mulher que, em sua opinião, parecesse não ser virgem, podia exigir que ela provas- se sua pureza. Se ela conseguisse, ele seria condenado; mas se não conseguisse, ela seria apedrejada à morte (Dt 22.13-21). Adúlteros, tanto homens como mulheres, deviam morrer (Dt 22.22), bem como moças desposadas que tivessem mantido relações sexuais consen- tidas (Dt 22.23-24). Um agressor que estuprasse uma mulher desposada devia pagar com a vida (Dt 22.25-27). Quem estuprasse uma jovem não desposada tinha de casar-se com ela, pagar ao pai dela um dote133 generoso e não podia divorciar-se dela (Dt 22.28-29). Por fim, nin- guém podia envolver-se com a esposa do pai (ou seja, a madrasta) em relações sexuais (Dt 22.30). A santidade do povo de Deus também se revelava na rejeição, em sua assembleia, daqueles que tivessem sido castrados (Dt 23.1), dos bastardos134 (Dt 23.2) e dos descendentes de amorreus e moa- bitas (Dt 23.3-6); estes últimos, porque se haviam recusado a serem hospitaleiros a Israel no deserto. Os edomitas, povo aparentado de Israel, e os egípcios, hos- pedeiros de Israel em tempos de fome, podiam por vezes entrar nos privilégios da aliança (Dt 23.7-8). Os prostitutos cultuais, tanto homens como mulheres, eram expressamente proibidos em Israel. O ganho ímpio deles não servia como oferta ao Senhor (23.17-18). Mas um escravo fugitivo era bem-vindo, e na realidade não devia ser forçado a voltar para seu senhor (Dt 23.15-16). Por fim, a purificação dizia respeito a questões da higiene corporal, especificamente no contexto da guerra santa (Dt 23.9-14). Os soldados contaminados por secreções corporais deviam purifi- 131 Muro, parede, etc., que se eleva à altura do peito ou pouco menos. 132 Obra de passamanaria formada por um suporte em forma de campânula, do qual pendem inúmeros fios; bolota. 133 Conjunto de bens que leva a pessoa que se casa. 134 Diz-se de filho que nasceu fora do matrimônio. 4 Números - Deuteronômio 208 • Capítulo 4 car-se. Eles também deviam enterrar os próprios excrementos. O motivo era que o Senhor andava no meio do acampamento. A im- pureza física era uma afronta a um Deus santo e também indicava a impureza espiritual. As relações interpessoais do povo de Deus (Dt 23.19-25.19). A atenção dada às leis de pureza originou uma associação com preceitos que governavam relações interpessoais em geral (Dt 23.19-25.19). Trata-se de áreas de vida social que, embora não cul- tuais por natureza, têm implicações morais e éticas importantes para a vida e fé caracterizadas pela aliança. Questões como empréstimos para compatriotas e estrangeiros (Dt 23.19-20), votos ao Senhor (Dt 23.21-33) e o direito de recorrer às uvas e grãos de um vizinho quando de passagem por sua terra (Dt 23.24-25) ilustram o princípio de que comportamento correto com Deus e com os outros estão no mesmo nível. De modo semelhante, a aliança trata de problemas como divór- cio (Dt 24.1-4) e recém-casados (Dt 24.5); penhoras135 (Dt 24.6,10-13); rapto (Dt 24.7); doenças de pele contagiosas (Dt 24.8-9); o cuidado caridoso para com os pobres, fracos e desempregados (Dt 24.14-15; 17-22); e o princípio de responsabilidade pelo próprio pecado e de risco de punição (Dt 24.16). A justiça exigia que o culpado sofresse punição adequada (Dt 25.1-3), que um irmão de um israelita faleci- do sem filhos gerasse descendentes em nome dele, casando-se com sua viúva (Dt 25.5-10), que a mulher não desonrasse sexualmente um homem (Dt 25.11-12) e que os pesos e medidas estivessem de acordo com o padrão (Dt 25.13-16). A justiça estendia-se até ao mundo animal, pois o boi podia comer do grão que estivesse debulhando para seu próprio proprie- tário (Dt 25.4; cf. 1Co 9.9). No outro extremo, a justiça de Deus exigia que os inimigos de seu povo escolhido experimentassem julgamento nas mãos deles. Assim, Amaleque, que havia atacado os israelitas mais velhos e inde- fesos na jornada pelo deserto (cf. Êx 17.8-16), seria um dia apagado da terra (Dt 25.17-19). 135 Dar em garantia ou penhor; empenhar. 4 Números - Deuteronômio 209 A reafirmação da aliança em culto (Dt 26.1-15). A divisão específica de estipulações de Deuteronômio termina com as leis da celebração e confirmação da aliança (Dt 26.1-15). Quando Israel, por fim, entrasse na terra de Canaã, deveria reconhecer a provisão fiel do Senhor. O povo devia fazê-lo oferecendo- lhe suas primícias, recitando ao mesmo tempo a história de sua relação beneficente com ele, dentro da aliança, desde os dias dos antigos pais até o presente (Dt 26.1-11). Essa cerimônia parece ter sido parte da celebração da Festa das Semanas (Pentecostes ou Colheita; cf. Êx 23.16; Lv 23.15-21). Depois de oferecerem a primeira colheita de grãos para o Senhor, os lavradores israelitas deviam entregar aos levitas e outros cidadãos dependentes o dízimo da produção (Dt 26.12-15). Desse modo, o tributo a Deus e o sustento dos necessitados juntavam-se num ato glorioso de culto. Exortação e interlúdio narrativo (Dt 26.16-19). Tendo delineado o extenso conjunto de estipulações, Moisés ordenou que o povo obedecesse a ele, não só de modo superficial, mas de todo o coração e alma (Dt 26.16). A própria essência da aliança era a promessa que o povo havia feito de ser o povo de Deus. A vontade de Deus era que Israel continuasse a ser seu povo espe- cial, uma comunhão santa chamada para ser expressão de louvor e honra do Senhor. Bênçãos e Maldições da Aliança (Dt 27.1-28.69) Um elemento de muitos tratados antigos era a descrição das recompensas pelo cumprimento fiel de suas condições e das puni- ções adequadas à desobediência a eles. As maldições e bênçãos de Deuteronômio 27-28 mostram a influência dessa forma de tratado. 4 Números - Deuteronômio 210 • Capítulo 4 A assembleia em Siquém (Dt 27.1-10). A cerimônia de bênção e maldição, quando Canaã fosse ocu- pada, devia ser realizada nas proximidades de Siquém, local de an- tigos encontros patriarcas com Deus (Dt 27.4; cf. Gn 12.6; 35.4; Dt 11.26-29). Ali Israel devia erigir grandes monumentos caiados136 que contivessem o texto da aliança e um altar de pedras sobre o qual fosse possível sacrificar ofertas adequadas para renovação da aliança (Dt 27.1-8). As maldições que seguem a desobediência a estipulações específicas (Dt 27.11-26). Como povo de Deus (Dt 27.9-10), Israel se postaria metade no monte Ebal e metade no monte Gerizim para confirmar seucompromisso com a aliança (Dt 27.11-14). Como um grande coro responsivo, representantes tribais colocar-se-iam sobre o monte Ge- rizim para gritar “amém” ao anúncio de bênçãos, enquanto outros, sobre o monte Ebal, fariam o mesmo quando fossem anunciadas as maldições. A primeira lista de maldições (Dt 27.15-26) trata de violações representativas da aliança, sem especificações da forma que as mal- dições poderiam tornar. As bênçãos que seguem a obediência a estipulações gerais (Dt 28.1-14). A parte de bênçãos (Dt 28.1-14) promete prosperidade no campo físico e material e reafirma a intenção divina de fazer de Israel um povo exaltado e santo. 136 Revestido de cal. 4 Números - Deuteronômio 211 As maldições que seguem a desobediência a estipulações gerais (Dt 28.15-68). A segunda lista de maldições ameaça com perda de prosperidade (Dt 28.15-19), doença e pestilência (Dt 28.20-24), derrota e deportação com todas as suas implicações (Dt 28.25-35) e uma inversão de papéis entre Israel e as nações (Dt 28.36-46). Em vez de ser exaltado entre elas, Israel tornar-se-ia servo delas. Tudo isso resultaria numa aflição indizível137 e desespero (Dt 28.47-57). De fato, a violação da aliança desfaria o êxodo e lançaria a nação de volta às garras da servidão (Dt 28.58-68). A Renovação da Aliança (Dt 29.1-30.20) Lembrança dos atos salvadores de Deus (Dt 29.1-9). Moisés repassou os cuidados de Deus com Israel no êxodo e no deserto (Dt 29.2-9). Ele exortou o povo a prometer lealdade à aliança como à nova geração escolhida pelo Senhor para representá-lo sobre a terra (Dt 29.10-21). O compromisso devia ser pessoal e genuíno. Caso contrário viria um tempo de julgamento em que as nações questionariam se de fato Israel era o povo do Senhor (Dt 29.22-29). Previsão de rebeldia por parte de Israel, julgamento de Deus e graça no arrependimento (Dt 29.10-30.10). Moisés previu não só a rebeldia de Israel e o julgamento divi- no (Dt 29.10-29), como também a graça de Deus para com o arre- pendido. Deus visitaria seu povo no dia de sua calamidade e exílio e o faria refletir mais uma vez sobre os privilégios da aliança. Deus, então, exerceria sua graça e o restauraria à plena parceria na aliança com suas bênçãos (Dt 30.1-10). 137 Que não se pode dizer; inefável: Extraordinário, raro, incomum: 4 Números - Deuteronômio 212 • Capítulo 4 A opção entre seguir a Deus e viver ou rebelar-se e morrer (Dt 30.11-20). A promessa de Israel ser fiel às condições da aliança poderia trazer recompensa imediata e duradoura (Dt 30.11-16). Mas a de- sobediência só produziria julgamento (Dt 30.17-20). O Futuro da Aliança (Dt 31.1-29) Deus como o verdadeiro líder de seu povo (Dt 31.1-8). Embora a cerimônia de renovação da aliança não seja narrada, é claro que a geração seguinte de Israel assumiu novo compromisso com a aliança (isso fica implícito em Dt 29.10-13). Moisés reafirmou a função de Deus como o verdadeiro líder de seu povo (Dt 31.1-8). A Palavra de Deus a ser registrada e lida (Dt 31.9-13) A provisão divina para o futuro da aliança incluía um líder (Josué) que sucederia Moisés como mediador da aliança (Dt 31.1- 8), bem como uma lei, o texto da aliança colocado sob a guarda dos sacerdotes (Dt 31.9-13). A provisão de Deus para o futuro: um líder, um cântico, um livro da lei (Dt 31.14-29). Deus providenciou Josué como sucessor de Moisés (Dt 31.14,23). A provisão de Deus para o futuro da aliança também incluía um cântico, cujo propósito era lembrar à nação os votos da aliança que haviam feito (Dt 31.15-23; cf. 31.30-32.43). Por fim, Deus forneceu um registro da lei, de modo que as gerações futuras pudessem conhecer a sua vontade (Dt 31.24-27). O Senhor, fiel à antiga forma de tratado, invocou o céu e a terra como testemunhas das promessas que Israel havia feito por juramento (Dt 31.28-29). 4 Números - Deuteronômio 213 O Cântico de Moisés (Dt 31.30-32.43) Esse hino maravilhoso renova a aliança (Dt 32.1) exalta o Deus de Israel por sua grandeza de justiça (Dt 32.2-4) apesar da perver- sidade138 de seu povo (32.5-6a). Deus os havia criado (Dt 32.6b), redimidos (Dt 32.7-9) e preservados (Dt 32.10-14). O povo, por sua vez, havia-se rebelado e seguido outros deuses (Dt 32.15-18). Tal procedimento provocara o julgamento de Deus no passado e faria o mesmo no futuro (Dt 32.19-38). No fim, porém, Deus se lembraria de sua aliança e levaria seu povo à salvação (Dt 32.39-43). Ministério de Moisés – O Fim (Dt 32.44-34.12) Interlúdio narrativo: o anúncio de sua morte (Dt 32.44-52). Tendo entoado seu cântico, Moisés instou o povo a subscrever suas exigências como instrumento da aliança (Dt 32.44-47). Depois, em resposta à ordem do Senhor, Moisés subiu ao monte Nebo para esperar o dia da sua morte (Dt 32.48-52). O fato de um líder gran- dioso como Moisés não ser poupado do julgamento quando falhou em sua confiança em Deus e no respeito para com sua santidade ser- viu como um duro alerta para que Israel evitasse erros com os dele. O último ato de Moisés: a bênção sobre Israel (Dt 33.1-29). Antes de deixá-los, Moisés ofereceu aos companheiros israeli- tas um testamento semelhante àquele com que Jacó abençoara seus filhos (cf. Gn 49.2-27). Depois de louvar o Deus do livramento e da aliança (Dt 33.2-5), ele mencionou as tribos por nome, atribuindo a cada uma delas uma bênção profética (Dt 33.6-25). Ele conclui com louvor ao Deus de Israel (Dt 33.26-28) e com uma promessa de que seus escolhidos por fim triunfariam sobre todos os seus inimigos (Dt 33.29). 138 Qualidade de perverso; fereza. Índole ferina ou ruim. 4 Números - Deuteronômio 214 • Capítulo 4 Epílogo narrativo: a morte de Moisés (Dt 34.1-12). Tendo subido ao monte Nebo (ou Pisga), Moisés viu toda a terra da promessa, terra prometida aos patriarcas, mas negada a ele por causa de seu pecado (Dt 34.1-4; cf. 32.51). Ele então morreu e foi sepultado pelo Senhor num túmulo desconhecido e não demarcado (Dt 34.5-6). Com grande lamento, o povo de Israel chorou sua morte. Ainda que Josué possuísse o espírito e a autoridade de Moisés, nem ele, nem homem algum seriam comparáveis a esse gigante sobre a terra, sendo conhecido “face a face” por Deus (Dt 34.10) e o grande porta-voz de Deus. 4 Números - Deuteronômio 215 Mensagem para Hoje Como aplicar? Deuteronômio foi dirigido especificamente para uma geração mais jovem de Israel prestes a entrar na terra prometida. Entretan- to, transmite princípios e verdades teológicas eternas e adequadas à Igreja e ao mundo de hoje. Aquela nova geração de israelitas serve como um modelo de povo de Deus em todas as eras. Nós, a exem- plo deles, somos um povo com um passado em que Deus agiu para nossa salvação e revelou sua vontade para nossa vida. Mas não basta possuir orgulhosamente uma herança de fé. Nós, como eles, somos um povo com um presente. Precisamos também nos dedicar pesso- almente a Deus hoje. Por fim, nós, a exemplo deles somos um povo com futuro que depende de nossa fidelidade contínua a Deus. A aliança de Deutero- nômio prenuncia aquela nova aliança – não escrita em pedra, mas no coração dos homens (Jr 31.33-34) – que por fim se cumpre em Cristo (Mt 26.28; Mc 14.24; Lc 22.20). O Deus de Israel redimiu o povo da servidão e do caos e escolheu identificar-se com eles numa aliança eterna. Em seu filho Jesus Cristo e por meio dEle, oferece pela graça o mesmo para todos os povos, em todos os lugares. 4 Números - Deuteronômio 216 • Capítulo 4 O Valor Ético Qual é a principal lição de Deuteronômio? O freqüente apelo de Deuteronômio ao amor de Deus (Dt 6.5; 10.12; 11.1,13,22; 19.9; 30.6,16,20) mostra que o alvo da lei do Antigo Testamento não era o legalismo, mas o serviço inspirado no amor. Aliás, quando foi questionado sobre a maior das leis do Antigo Tes- tamento, Jesus citou Deuteronômio 6.4-5. O amor de Israel – como o do cristão (1Jo 4.19) – está firmado numa experiência anterior ao amor remidor divino. O amor deIsrael por Deus – de novo como do cristão (1Jo 3.18; 4.20-21) – só é amor verdadeiro à medida que se estende aos outros (Dt 10.19). Os Dez Mandamentos sublinham que Deus exige não só respeito do povo (Dt 5.6-15), mas respeito para com outros povos (Dt 6.16-21). Embora os Dez Mandamentos possuam uma qualidade não condicionada pelo tempo, são verda- deiramente pertinentes somente aos que têm um compromisso com o Deus que está por trás deles. 4 Números - Deuteronômio 217 Questionário Assinale com “X” a alternativa correta 9. Antes da construção do templo de Jerusalém, esse santuário cen- tral era o lugar em que a) ☐ Ficavam o tabernáculo e a arca da aliança b) ☐ Ficava somente a arca da aliança c) ☐ Ficava somente o tabernáculo d) ☐ Ficavam somente as tábuas da Lei 10. É errado afirmar que a) ☐ Israel devia cultuar não só um lugar escolhido por Deus, mas também da maneira escolhida por Ele b) ☐ O povo de Deus estava proibido de adotar as práticas cultuais dos nativos cananeus c) ☐ O povo de Deus não devia consumir sangue como faziam os nativos cananeus, somente se fosse de modo sacrificial d) ☐ O povo de Deus era proibido em adotar outras práticas cultuais cananéias, tal como o sacrifício humano 11. Entre os oficiais religiosos de Israel estavam a) ☐ Os juízes, sacerdotes e profetas b) ☐ Os profetas somente c) ☐ Os juízes e oficiais d) ☐ Os sacerdotes e levitas 12. Quanto ao homicídio, é incerto dizer que a) ☐ Se o ato fosse intencional o homicida devia ser capturado e morto pelo vingador da parte afligida b) ☐ Se fosse premeditação dolosa, aquele que o cometia podia fugir para uma cidade de refúgio designada até que o caso fosse julgado 4 Números - Deuteronômio 218 • Capítulo 4 c) ☐ Nem todo homicídio era assassinato d) ☐ Deviam ser tratados caso a caso 13. Local onde Moisés viu toda a terra da promessa, negada a ele por causa de seu pecado, e morreu a) ☐ Monte Hor b) ☐ Monte Nebo (ou Pisga) c) ☐ Monte Seir d) ☐ Monte Ararate Marque “C” para certo e “E” para errado 14.( ) Qualquer profeta que amaldiçoasse o povo de Deus, fazendo-o afastar-se de Deus, mesmo que viesse de dentro de Israel, devia ser morto 15.( ) Os Dez Mandamentos sublinham que Deus exige não só respeito do povo, mas respeito para com outros povos 16.( ) Deuteronômio foi dirigido especificamen- te para uma geração um pouco velha de Is- rael prestes a entrar na terra prometida Anotações 219 Anotações Anotações Anotações