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Aula 1 PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO A psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão. Portanto, etimologicamente, psicologia significa 'estudo da alma'" (Bock; Furtado; Teixeira, 1999, p. 32-33). O campo psicológico constitui uma ciência com o objetivo de explicar como o ser humano pode conhecer e interpretar a si mesmo, assim como interpretar e conhecer o mundo em que vive, incluindo a interação entre indivíduos, a relação com a natureza, objetos e os sistemas sociais, econômicos e políticos aos quais estão inseridos. Seu objeto de estudo está centralizado nos seres vivos que estabelecem trocas simbólicas com o meio ambiente. A história da Psicologia abrange cerca de dois milênios, com raízes filosóficas e fisiológicas. As raízes remontam aos grandes filósofos da Grécia antiga, como Sócrates, Platão e Aristóteles, que levantaram questões fundamentais sobre a vida mental, como a natureza da consciência, se as pessoas são inerentemente racionais ou irracionais e a existência do livre-arbítrio (Hoeksema et al ., 2012, p. 5). Na filosofia, diversas concepções sobre o conhecimento buscam explicações apoiando-se em outras ciências, como a Psicologia. Schultz e Schultz (2014) afirmam que o interesse pela psicologia remonta aos primeiros pensadores, resultando em obras filosóficas motivadas pelo fascínio pelo nosso próprio comportamento e especulações sobre a natureza e conduta humanas (Schultz; Schultz, 2014, p. 15). A filosofia busca o conhecimento racional das coisas e dos seres humanos, com raízes nos filósofos gregos, especialmente Platão (400 a.C.), continuando o debate sobre esse conceito com René Descartes (século XVII), John Locke (século XVII), David Hume (século XVIII) e Immanuel Kant (século XVIII). A Psicologia também tem suas raízes nos conhecimentos fisiológicos, Hipócrates, o "pai da medicina", contemporâneo de Sócrates, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da Psicologia ao estudar as funções do organismo vivo, especialmente as relações entre o cérebro e os órgãos. Suas observações fundamentais lançaram as bases para a perspectiva biológica na Psicologia (Hoeksema et al ., 2012, p. 5). Observe a figura a seguir: Platão e Descartes concebiam a inteligência racional como inata, sendo para Descartes a "assinatura do Criador na criatura". Essa visão fundamenta o racionalismo de Descartes, que preconizava que a 1 verdade só poderia ser conhecida através do uso da razão. Em contrapartida, Locke e Hume argumentam que nascemos com a mente como uma "tábula rasa", defendendo que a experiência molda nossas mentes, imprimindo nelas um conjunto de conhecimentos (Chauí, 1995, p. 71). Descartes (1596-1650) adotava uma perspectiva inatista, o conhecimento já nasce com o sujeito e irá amadurecer com o tempo. Ele propunha uma abordagem dualista, distinguindo a mente (mundo mental) do corpo (mundo material ou físico). Essa visão implicava que essas entidades têm naturezas distintas, embora interajam entre si (Schultz; Schultz, 2014). No cenário britânico, John Locke (1632-1704), alinhado ao empirismo, defende que a mente se desenvolve progressivamente pela acumulação de experiências sensoriais. Ele acreditava que, ao nascermos, a mente é uma página em branco enriquecida por experiências sensoriais, fundamentando assim a ideia de que todo conhecimento tem origem em experiências empíricas (empirismo) (Schultz; Schultz, 2014, p. 44). David Hume (1711-1776), também defensor do empirismo, concebia a mente como um fluxo de ideias e introduziu as leis de associação, destacando a semelhança ou similaridade e a continuidade no tempo e espaço. Ele afirmava que quanto mais semelhantes e próximas no tempo e espaço, mais prontamente duas ideias se associam (Schultz; Schultz, 2014, p. 49). Resumidamente, Hume enfatizava a associação de ideias como a base fundamental para o entendimento humano. Posteriormente, os pressupostos filosóficos de Kant (1724-1804) revolucionaram essas concepções. A abordagem epistemológica de Kant foi um divisor de águas. Ele compreende o conhecimento como algo derivado da razão, não sendo inato nem adquirido por meio da experiência. A razão, preexistente à experiência, é uma estrutura vazia, igual e universal para todos. As experiências fornecem os conteúdos, e a razão confere a esses conteúdos sua forma. Esse debate ainda persiste nos dias atuais. Hoeksema et al . (2012) classifica esse debate como natureza/criação, ou seja, se as capacidades humanas são inatas ou adquiridas. A visão da natureza sustenta que o ser humano possui um estoque inato de conhecimento e compreensão da realidade. Por outro lado, a visão de criação argumenta que o conhecimento é adquirido por meio de experiências e interações com o meio. No século XIX, a ciência torna-se crucial para explicar diversos fatores, como os sociais, físicos, naturais e comportamentais. Isso se deve à insuficiência das explicações exclusivamente religiosas e abstratas. A transformação econômica e social, impulsionada pela consolidação do capitalismo, também implica o avanço da ciência. Nesse contexto, a Psicologia emerge como uma disciplina científica, desvinculando-se progressivamente dos conhecimentos filosóficos. A psicologia moderna, originada na Alemanha no final do século XIX, teve um marco importante com a fundação do "Laboratório de Psicologia Experimental", em Leipzig, por Wilhelm Wundt, em 1879. Ele é considerado o fundador da psicologia experimental, focando em processos mentais conscientes por meio de observação sistemática e introspecção. Wundt estabeleceu objetivos para a psicologia experimental, incluindo a análise dos processos conscientes, a determinação de seus elementos básicos, o estudo de sua síntese e organização e a descoberta das leis de conexão que governavam sua orientação. Wundt e outros estudiosos, como Weber, Fechner, Edward B. Titchener e William James, estabeleceram novos padrões para a psicologia. Eles buscaram definir o objeto de pesquisa, 2 delimitar o campo de estudo em relação a outras áreas, formular métodos de estudo e desenvolver teorias consistentes (Bock; Furtado; Teixeira, 2008, p. 41). Apesar de ter surgido na Alemanha, os estudos da psicologia científica crescem nos Estados Unidos, onde surgiram as primeiras abordagens, existentes até os dias atuais. São elas: o Estruturalismo (Edward Titchener), o Funcionalismo (William James) e o Associacionismo (Edward Thorndike). Vamos conhecê-las: ● Estruturalismo: formulado por Titchener (psicólogo treinado por Wundt), possui como ramo de pesquisa a análise das estruturas mentais. O problema da Psicologia era a análise dos fenômenos mentais que Titchener dividiu em três classes: sensações, imagens e sentimentos (Carpigiani, 2010, p. 64). ● Funcionalismo: em 1890, Willian James definiu a Psicologia como “a ciência da vida mental, abrangendo tanto seus fenômenos como as suas condições”. O Funcionalismo teve como propósito compreender o comportamento e suas inter-relações, como também compreender a consciência(Carpigiani, 2010, p. 64). ● Associacionismo: traz como principal representante Edward Thorndike. Essa corrente psicológica traz como concepção a aprendizagem que acontece por meio de um processo de associação de ideias, em que o indivíduo deve partir das mais simples de um determinado tema, indo até as mais complexas. Aula 2 UMA BREVE RETROSPECTIVA SOBRE A PSICANÁLISE Você já deve ter ouvido a frase “Freud explica”, mas o que será que Freud explica? Vamos conhecer? Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que mudou, radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Freud elegeu as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem como temas da investigação científica. A investigação sistemática desses temas levou Freud à criação da psicanálise. Segundo Bock (2018, p. 37), “o termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional”. Seus pressupostos partem da descoberta do inconsciente. Em 1900, no livro A interpretação dos sonhos, Freud apresentou a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento psíquicos. Essa teoria refere-se à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente. 3 Inconsciente Pré-consciente Consciente Conjunto de conhecimentos não presentes no campo atual da consciência. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Esses conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e terem sido reprimidos. Refere-se ao sistema em que permanecem os conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência naquele momento, mas no momento seguinte pode estar. É o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e do mundo interior. Quadro 1 | Estrutura e o funcionamento psíquicos. Fonte: elaborada pela autora. Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos sistemas da personalidade. Essas instâncias representam as forças psíquicas que moldam o comportamento humano e influenciam a personalidade. ● Id (Isso): ○ O Id é a parte mais primitiva e instintiva da mente. ○ Opera de acordo com o princípio do prazer, buscando gratificação imediata de desejos e necessidades básicas, sem considerar as consequências sociais ou morais. ○ Age de forma impulsiva e irracional, representando os instintos mais fundamentais, como fome, sede e impulsos sexuais. ● Ego (Eu): ○ O Ego é responsável pela mediação entre as demandas do Id e as restrições da realidade externa. ○ Opera de acordo com o princípio da realidade, buscando satisfazer os desejos do Id de maneira socialmente aceitável e realista. ○ Desenvolve estratégias, toma decisões e equilibra as demandas conflitantes do Id e do Superego. ● Superego (Supereu): ○ O Superego representa as normas morais e sociais internalizadas, funcionando como a voz da consciência. 4 ○ Desenvolve-se a partir das influências parentais e sociais, incorporando padrões éticos e valores transmitidos culturalmente. ○ Age como um juiz interno, recompensando comportamentos moralmente aceitáveis e punindo comportamentos considerados inadequados. Essas três instâncias interagem dinamicamente na mente, influenciando o comportamento e a personalidade de uma pessoa. O equilíbrio entre o Id, o Ego e o Superego é essencial para a saúde psicológica, e os conflitos entre essas partes podem resultar em ansiedade, comportamentos compulsivos ou mecanismos de defesa psicológica. A compreensão dessas estruturas proporciona uma base valiosa para a análise psicanalítica e a compreensão das motivações subjacentes ao comportamento humano. A descoberta da sexualidade infantil Freud em suas investigações na prática clínica sobre as causas e o funcionamento das neuroses, descobriu que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos se referia a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático. Segundo Bock (2018), confirmava-se que as ocorrências desse período da vida deixam marcas profundas na estruturação da pessoa. As descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica, nesse sentido, “o indivíduo, nos primeiros anos de vida, encontra o prazer no próprio corpo” (Bock, 2018, p. 41), e há um desenvolvimento progressivo que levou Freud a postular as fases do desenvolvimento sexual em: ● Fase Oral (0-1 ano): ○ Durante o primeiro ano de vida, a boca é a principal zona erógena. ○ A principal fonte de prazer é a amamentação ou a alimentação, e o bebê aprende a obter satisfação através da boca. ● Fase Anal (1-3 anos): ○ A ênfase muda para a região anal, e o controle dos esfíncteres torna-se uma fonte de conflito e prazer. ○ A criança começa a explorar o controle sobre suas funções corporais, desenvolvendo um senso de autonomia. ● Fase Fálica (3-6 anos): ○ O foco da zona erógena muda para os genitais. ○ Nesta fase, ocorre o Complexo de Édipo, onde as crianças desenvolvem atração pelo progenitor do sexo oposto e rivalidade com o progenitor do mesmo sexo. ● Período de Latência (6 anos até a puberdade): ○ A energia sexual é reprimida e direcionada para atividades sociais e educacionais. ○ Não há um foco significativo na sexualidade durante esse período. ● Fase Genital (puberdade em diante): ○ Início da maturidade sexual. ○ A energia sexual é redirecionada para relacionamentos românticos e atividades sexuais maduras. 5 O Complexo de Édipo refere-se a um estágio do desenvolvimento psicossexual que ocorre por volta dos 3 aos 6 anos de idade. Durante essa fase, segundo Freud, as crianças experimentam sentimentos ambíguos e conflitantes em relação aos pais, mais especificamente desenvolvendo atração inconsciente pelo progenitor do sexo oposto (Complexo de Édipo positivo) e rivalidade com o progenitor do mesmo sexo. Para Freud, esse conflito é considerado crucial no desenvolvimento da personalidade, influenciando a formação de normas morais, identidade de gênero e relacionamentos futuros. O processo de resolução do Complexo de Édipo envolve a internalização das regras sociais e a aceitação da autoridade dos pais, formando a base para o desenvolvimento do Superego, a instância psíquica responsável pela moralidade e consciência. O Complexo de Édipo é central na teoria freudiana, embora tenha sido criticado e reinterpretado ao longo do tempo. Como apresentado anteriormente, p ara contextualizar alguns elementos da psicanálise que você aprendeu nesta aula, vamos considerar uma situação comum na infância: a vontade de uma criança de pegar um brinquedo que pertence a um colega enquanto estão brincando juntos. Id: Imagine uma criança que se chama Ana, cujo Id está predominando nesse momento. Ela está totalmente focada no desejo imediato de ter o brinquedo que o colega está usando. O Id de Ana está impulsionando-a a satisfazer seu desejo sem se preocupar com as consequências ou com os sentimentos do colega. Superego: Por outro lado, o Superego de Anaentra em cena. Internalizando as normas sociais e morais que aprendeu, o Superego adverte Ana sobre o comportamento inadequado de pegar o brinquedo sem permissão. Ele destaca que isso não é justo e que ela deve respeitar os sentimentos do colega. Ego: O Ego de Ana tenta mediar esse conflito. Ele reconhece o desejo do Id de ter o brinquedo, mas também está ciente das regras sociais internalizadas pelo Superego. O Ego procura uma solução equilibrada, como pedir educadamente ao colega para compartilhar o brinquedo ou esperar sua vez. Nessa situação, há um conflito entre as forças internas de Ana. O Id busca a gratificação imediata, o Superego impõe as normas morais aprendidas e o Ego tenta equilibrar essas forças para encontrar uma solução aceitável socialmente. Esse exemplo ilustra como, desde cedo, as crianças começam a enfrentar conflitos psicológicos internos, moldando o desenvolvimento de suas personalidades e habilidades sociais. 6 Aula 3 PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA ESCOLAR Estudante, a escola desempenha um papel fundamental na educação formal e, ao longo da história, enfrentou diversos desafios que demandam uma abordagem cuidadosa, reflexiva e crítica por parte dos profissionais da educação. É essencial estabelecer um diálogo e uma articulação contínuos, especialmente com diversas áreas do conhecimento, incluindo a Psicologia. Conforme destacado por Nogaro e Eidt (2015, p. 156), "a educação em si não existe: ela se materializa no contexto e nas relações vividas na sociedade e é concretizada por sujeitos humanos". Isso ressalta a importância de compreender que a educação não é uma entidade isolada, mas sim algo que se manifesta nas interações e dinâmicas sociais. Portanto, é crucial que os profissionais da educação estejam atentos às nuances do contexto em que estão inseridos, promovendo um ensino que esteja alinhado com as necessidades e realidades dos sujeitos envolvidos. O diálogo constante e a colaboração com diversas disciplinas, como a Psicologia, enriquecem essa abordagem, proporcionando uma compreensão mais holística e eficaz do processo educacional. Na história da educação brasileira, desde a colônia, o ensino visava formar um padrão de homem moldável e civilizado. Infelizmente, nos dias atuais, muitas vezes nos deparamos com o currículo, a organização dos espaços e dos tempos no cotidiano escolar sendo considerados sob uma perspectiva de controle, em vez de aprendizagens. O encontro da Psicologia com a educação formal ocorre dentro dessa ideologia de controle, enraizada em uma tradição positivista. Em outras palavras, os conhecimentos da Psicologia chegam à instituição escolar por meio de diagnósticos, instrumentos e laudos excludentes e de controle, psicologizando e patologizando as queixas escolares (Oliveira-Menegotto; Fontoura, 2015). Como apontam Barbosa e Souza (2012), a Psicologia Educacional no Brasil impregnou-se dos princípios do movimento higienista, no início até meados do século XX, tendo como propósito diferenciar os sujeitos mentalmente saudáveis daqueles que não o eram, legitimando o psicólogo, por possuir condições de manejar instrumentos científicos restritos ao seu campo, a diferenciar os sujeitos aptos dos não aptos. Tal perspectiva da Psicologia era eminentemente clínica e de caráter individual, e servia aos propósitos de ajustamento e de classificação, não levando em consideração a crítica e a compreensão social (Silva, Pedro, Silva, Rezende, & Barbosa, 2013; Wanderer, & Pedroza, 2010). O social, por sua vez, era somente levado em consideração, na medida em que a preocupação girava em torno de normalizar e adaptar o sujeito para o convívio em sociedade (Angelucci, Kalmus, Paparelli, & Patto, 2004; Barbosa, 2012; Tuleski, & cols., 2005). (Oliveira-Menegotto; Fontoura, 2015, p. 379) O campo da Psicologia Educacional se consolidou através de um olhar sobre a criança que não aprende. "As primeiras aproximações entre a Psicologia e a escola pautaram-se numa 7 visão associacionista e mecanicista, a partir de ideias deterministas e dicotômicas acerca da aprendizagem e do desenvolvimento humano" (Oliveira-Menegotto; Fontoura, 2015, p. 380). Conforme Oliveira-Menegotto e Fontoura (2015, p. 380), a história da Psicologia Educacional e Escolar brasileira é dividida em períodos históricos, que são: 1. Colonização, saberes psicológicos e Educação (1500-1906). 2. A Psicologia em outros campos de conhecimento (1906-1930). 3. Desenvolvimentismo – a Escola Nova e os psicologistas na Educação (1930-1962). 4. A Psicologia Educacional e a Psicologia do Escolar (1962-1981). 5. O período da crítica (1981-1990). 6. A Psicologia Educacional e Escolar e a reconstrução (1990-2000). 7. A virada do século: novos rumos? (2000 – até os dias atuais). Como em todas as ciências, existem movimentos de resistência, e foi a partir dessas ideias contrárias que a Psicologia e a escola, aos poucos, superaram a lógica determinista, dicotômica e segregacionista do processo de aprendizagem e desenvolvimento humano. Uma nova percepção sobre o aluno emergiu na década de 1970, graças a profissionais da Educação e da Psicologia, que passaram a considerar fatores de natureza histórica, social, cultural, política e econômica nos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano. A Psicologia, como ciência, começou a contribuir com a educação a partir de outro paradigma, enxergando o aluno em sua totalidade, e o erro não é mais interpretado pelo viés patológico, mas sim como um processo inerente ao aprendizado (Valle, 2003). Portanto, as contribuições do campo da Psicologia da Educação no contexto educacional iniciaram um processo de inclusão, considerando a totalidade do indivíduo e reconhecendo o contexto educacional de forma social, cultural, econômica e política. Embora não possamos afirmar que as linhas e pensamentos higienistas, excludentes e segregativos foram totalmente extintos na Psicologia e Educação, podemos afirmar que a produção científica nas duas áreas tem evoluído cada vez mais no sentido de considerar a pluralidade, a totalidade e a interdisciplinaridade, contemplando todos os protagonistas do contexto escolar. A busca e o grande desafio do campo da Psicologia Educacional e Escolar não devem ser o motivo pelo qual o aluno não aprende, mas sim entender como ocorre o processo que leva a esse resultado. Desde o início deste texto, referimo-nos à Psicologia Educacional e Escolar, mas qual é a diferença? As diferenciações entre Psicologia Educacional e Psicologia Escolar surgem devido ao objeto de interesse, às finalidades e aos métodos de investigação e/ou intervenção (Barbosa; Souza, 2012). É necessário considerar a diversidade de concepções, abordagens e sistemas teóricos que constituem as várias produções de conhecimento. Dessa forma, a definição adotada nesta disciplina tem como embasamento teórico a definição de Antunes (2007). A Psicologia Educacional é uma subárea de conhecimento da Psicologia, com vocação para a produção de saberes relativos ao fenômeno psicológico constituinte do processo educativo. A Psicologia Escolar define-se pelo âmbito profissional e refere-se a um campo de ação 8 determinado, ou seja, a escola e as relações que aí se estabelecem; fundamenta sua atuação nos conhecimentos produzidos pela Psicologia da Educação, por outras subáreas da psicologia e por outras áreas de conhecimento (Barbosa; Souza, 2012). Essa definição não deve ser vista apenas como a Psicologia Educacional atuando no nível teórico e a Psicologia Escolar em nível prático. São recortes e olhares diferenciados, dependentes, que se complementam e derivam da mesma área, com o objetivo de contribuir para a educação. Para sintetizar as contribuiçõesmais importantes dessas subáreas da Psicologia para a educação, é fundamental definir o ponto de vista que estamos adotando. Nesse sentido, vamos abordar a questão a partir da perspectiva de uma educação dialógica, crítica, reflexiva e da democratização do saber. Nessa perspectiva, a Psicologia Educacional e Escolar contribui para o contexto educacional por meio de pesquisas, participação, observação e intervenção, sendo crucial o enfoque colaborativo e interdisciplinar. De acordo com Antunes (2007) e Oliveira-Menegotto; Fontoura (2015), suas contribuições incluem: ● Facilitação do acesso e criação de condições para a permanência de todos os educandos na escola. ● Transformação da escola com foco em condições efetivas de escolarização. ● Tradução do princípio de educação inclusiva, incorporando não apenas a educação de alunos com deficiência, mas também todos aqueles que, por diversos motivos, são excluídos da escola e de seus benefícios. ● Consideração da educação como constituída por múltiplos determinantes, incluindo fatores de ordem psicológica. ● Compreensão do processo de ensino e aprendizagem e sua articulação com o desenvolvimento, fundamentada na concreticidade humana (determinações sócio-históricas), compreendida a partir das categorias totalidade, contradição, mediação e superação. ● Compreensão dos fatores presentes no processo educativo através de mediações teóricas "fortes", garantindo uma relação indissolúvel entre teoria e prática pedagógica cotidiana. ● Compreensão do educando a partir da perspectiva de classe e em suas condições concretas de vida, uma condição necessária para construir uma prática pedagógica verdadeiramente inclusiva e transformadora. ● No reconhecimento do educador/professor como sujeito do processo educativo, o que se traduz na necessidade de mudanças profundas nas políticas de formação inicial e continuada desse protagonista fundamental da educação. ● No domínio do referencial teórico da psicologia necessário à educação, mediatizado por conhecimentos próprios do campo educativo e de áreas de conhecimento correlatas. ● Na criação de espaços de fala e escuta dos fenômenos escolares, envolvendo os atores que fazem parte desse cenário. ● Na relevância da intersubjetividade, do vivido, da experiência. ● Na escuta do não dito, com o objetivo de compreender a instituição em sua complexidade, pois a complexidade não é intrínseca ao fenômeno, mas ao olhar que é colocado sobre ele. 9 ● Em criar um espaço para escutar as demandas da escola, desenvolvendo formas de reflexão dentro e sobre a escola, considerando todos os envolvidos. ● Sem deixar de considerar o contexto político, econômico, social, cultural e histórico em que os indivíduos estão inseridos. Atualmente, o grande desafio da educação e da Psicologia é compreender o indivíduo, seu desenvolvimento e suas aprendizagens em um contexto de transformações rápidas, com grandes avanços tecnológicos e valores diferenciados. O educador minimamente atento percebe o vazio na cultura contemporânea hipermoderna e as perturbadas manifestações juvenis de indisciplina e rebeldia, o individualismo exacerbado (narcisismo), a crise de identidade, a banalização do corpo e dos valores, a indolência, as desagregações e as violências de toda ordem. "A velocidade das mudanças na Psicologia e Educação e os novos meios de comunicação, turbinados pelas novas tecnologias, contribuem para a intensificação e agravamento desses problemas" (Casali, 2015, p. 30 apud Nogaro; Eidt, 2015, p. 158). Em uma sociedade denominada por Zygmunt Bauman de sociedade líquida, caracterizada pelo sociólogo como uma sociedade onde os paradigmas são voláteis, os modelos não duráveis e a liquidez substituem aquilo que é sólido, qual é o compromisso da escola? A escola deve ter como compromisso promover o esclarecimento, a reflexão crítica e consciente, além de proporcionar novas perspectivas. É necessário que a escola construa espaços e dê voz aos indivíduos para discutir e dialogar sobre a vida que desejam viver, abordando questões e polêmicas contemporâneas de todas as naturezas – econômicas, políticas, sociais, culturais e históricas – sem rótulos e preconceitos. Como apresentado no início da aula, i magine a seguinte situação, um professor universitário propôs à sua turma dividir-se em dois grupos. Ambos devem aprofundar seus estudos sobre a Psicologia da Educação e Educação Escolar. Entretanto, a parte específica consiste em um grupo imerso na Psicologia da Educação e o outro imerso na Psicologia Escolar. Eles devem utilizar a rede de aprendizagens, colaborar, interagir e compartilhar as aprendizagens. Existem diferenças quando se fala em Psicologia Escolar e Psicologia Educacional/da Educação? Qual é o histórico das proximidades entre a ciência da Psicologia e a ciência da Educação? Como podemos considerar as contribuições da Psicologia para o contexto educacional na atualidade? É importante iniciar a construção sistematizada dessa aprendizagem entendendo a escola como espaço legítimo da educação formal ao longo da história. Em seguida, deve-se contextualizar historicamente o encontro da Psicologia com a Educação formal. Como os conhecimentos da Psicologia chegam até a Instituição Escolar? Quais são os períodos históricos da História da Psicologia Educacional e Escolar brasileira? Torna-se fundamental também compreender as diferenciações entre Psicologia Educacional e Psicologia Escolar, considerando o objeto de interesse, as finalidades e os métodos de investigação e/ou intervenção. 10 Aula 4 PRÁTICAS EDUCATIVAS COMO CONTEXTOS DE DESENVOLVIMENTO Até agora, nos dedicamos a entender a Psicologia da Educação e da Aprendizagem como uma disciplina nuclear da teoria educacional para que você pudesse delimitar com clareza o seu objeto de estudo e, consequentemente, como ela se constitui como uma disciplina-ponte entre a Psicologia e a Educação. Agora, nosso objetivo de aprendizagem é entender, do ponto de vista da psicologia da educação, como as práticas educativas familiares, sociais e escolares impactam o desenvolvimento da criança. Para chegarmos a esse objetivo, vamos conhecer uma situação-problema? A disciplina Seminário, que compõe a estrutura do curso de Licenciatura, propõe aos alunos o desafio de compreender a contribuição e influência da família, da escola e das relações sociais na formação do cidadão. Para dialogarmos sobre essa situação-problema, podemos partir dos seguintes questionamentos: qual é a natureza social e a função socializadora da educação? Quais são as práticas educativas e os âmbitos da educação? Quais são as práticas educativas na família (sistema e funções)? Qual é a importância das relações sociais no desenvolvimento do indivíduo? Imagine-se como aluno da disciplina mencionada e realize a leitura pensando nessas questões, vamos começar? Segundo Savater (2005, p. 33), o aprendizado vai além da mera interação direta com as coisas. Parte do conhecimento provém dessa experiência, no entanto, o que define o ser humano não é apenas o ato de aprender, mas, mais significativamente, a capacidade de aprender com outros seres humanos, de ser ensinado por eles. O autor argumenta que nosso verdadeiro educador não é o mundo material, os eventos naturais ou a chamada "cultura" com seus rituais e suas técnicas, mas sim a conexão intersubjetiva com outras consciências (Savater, 2005, p. 34). O desenvolvimento pessoal, então, surge da interação entre a bagagem biológica e cultural, mediada pelos sujeitos do contexto social. A bagagem biológica, representada pelo código genético, é notavelmente flexível e exerce pouco controle sobre o comportamento futuro do indivíduo (Salvador et al ., 1999, p. 142). Por outro lado, a bagagem cultural refere-se às experiências proporcionadas pelo gruposocial. Portanto, a compreensão do desenvolvimento humano deve abranger um sistema global e integrado, considerando as inter-relações entre o biológico, o social, o fisiológico e o cultural. Ao estudar essas interações, a educação ganha condições mais sólidas para compreender o processo educacional dos indivíduos. O conceito de "desenvolvimento" está intrinsecamente ligado aos aspectos culturais e sociais, tornando crucial a consideração dos vínculos entre aprendizagem, cultura e 11 desenvolvimento. A educação, conforme Salvador et al . (1999, p. 143), é a "chave que explica essas relações". Reflita: [...] o fato de ensinar a nossos semelhantes e de aprender com nossos semelhantes é mais importante para o estabelecimento de nossa humanidade do que qualquer um dos conhecimentos concretos que assim perpetuam ou se transmitem. (Savater, 2005, p. 35) É evidente a função socializadora da educação, que nos permite conservar, compartilhar e aprofundar na nossa cultura, fazendo-nos partícipes do conjunto de valores, de normas, de estratégias e conhecimentos próprios do grupo social que nos acolhe; é evidente também a sua natureza social (Salvador et al ., 1999, p. 143). Nesse sentido, [...] A realidade dos nossos semelhantes implica que todos nós protagonizamos a mesma história: eles contam para nós, contam-nos coisas e, com sua escuta, tornam significativa a história que nós também vamos contando. Ninguém é sujeito na solidão e no isolamento, sempre se é sujeito entre outros sujeitos: o sentido da vida humana não é um monólogo, mas provém do intercâmbio de sentidos, da polifonia oral. Antes de mais nada a educação é a revelação dos outros, da condição humana como um concerto de cumplicidade inevitáveis. (Savater, 2005, p. 38) O primeiro ambiente educativo no processo de formação humana é o contexto familiar. Além disso, o ambiente escolar é meticulosamente planejado para influenciar intencionalmente o desenvolvimento do indivíduo. Na esfera familiar, a educação se desenrola por meio de situações cotidianas e habituais. Já no ambiente escolar, a formação humana acontece por meio de situações educativas formais e intencionais, mediadas por um currículo escolar. O que queremos destacar aqui é que a educação, em sentido amplo, não se limita ao processo de escolarização. Ela vai além à medida que alcança suas finalidades de socialização e individualização progressiva. No campo educacional, reconhecemos a educação como um fenômeno social complexo, ocorrendo em três universos distintos. A educação se desdobra em três instâncias, com distinções e delimitações mantidas por linhas tênues que as distinguem e entrelaçam: são as instâncias informal, formal e não formal. ● A educação formal é um processo sistemático de escolarização, inserido em um sistema educativo e um currículo escolar específico para esse fim. O processo educativo é intensamente organizado, planejado e sistemático, visando atingir objetivos específicos. ● A educação informal, segundo Trilla (1993, p. 22), consiste em "processos educativos produzidos de maneira indiferenciada e subordinada a outros objetivos e processos sociais, nos quais a função educativa não é dominante, não possuindo uma especificidade. São processos em que a educação se produz de maneira difusa". ● A educação não formal é aquela em que os processos educativos ocorrem de maneira indiferenciada e subordinada a objetivos sociais. Conforme afirma Trilla 12 (1993, p. 23), "[...] são processos em que a educação se produz de uma maneira difusa". Modelo ecológico (bioecológico) O modelo ecológico do desenvolvimento humano proposto por Bronfenbrenner (1979) nos indica os contextos (ambientes) nos quais a criança se desenvolve: microssistema, mesossistema ou exossistema. ● Microssistema: refere-se ao conjunto de atividades, papeis e relações interpessoais experimentados pelo sujeito em seu contexto ou espaço, incluindo relações familiares e institucionais. ● Mesossistema: representa as interações entre dois ou mais contextos nos quais o sujeito participa ativamente. ● Exossistema: engloba contextos nos quais o sujeito não está diretamente envolvido. ● Macrossistema: envolve o conjunto de valores culturais de um grupo social. Bronfenbrenner (1979) nos oferece insights valiosos sobre os contextos de desenvolvimento, enfatizando que tanto a família quanto a escola precisa proporcionar à criança a incorporação gradual de padrões de atividade complexos e envolvê-la em atividades em que participa com o auxílio de outros, mas de maneira independente. Dessa maneira, podemos entender que o processo educativo assume diversas formas e se desenrola em variados contextos. As práticas educativas nesses ambientes desempenham um papel crucial no desenvolvimento pessoal do sujeito, pois a aprendizagem ocorre à medida que ele se apropria de forma pessoal da realidade e reestrutura seu conhecimento, reconhecendo que esse processo é não apenas cognitivo, mas também social. No ambiente escolar, os alunos adquirem aprendizagens por meio da educação formal, que é intencional e estruturada para desenvolver competências relacionadas ao conhecimento e à aplicação, bem como aos aspectos de ser e conviver. A educação não formal acontece fora desse ambiente, envolvendo meios culturais e de comunicação, enquanto a aprendizagem não formal está muitas vezes associada a um ambiente mais agradável, caracterizado por liberdade, desejo e entretenimento. A educação informal, por sua vez, ocorre espontaneamente no dia a dia, por meio de relações, vivências e experiências. Ao considerarmos o tripé da educação formal, não formal e informal, a Psicologia, não apenas no campo educacional, contribui significativamente para a compreensão das relações intra e interpessoais, subjetividades, desejos, necessidades individuais, relações familiares, escolares, grupais e sociais, além da construção de identidade. A Psicologia como ciência proporciona uma compreensão mais profunda do processo de aprendizagem em diferentes contextos sociais, considerando aspectos fisiológicos, cognitivos e psicossociais dos indivíduos. 13 Exemplificando, podemos observar como a linguagem dirigida às crianças e o aprendizado de habilidades específicas para se adaptarem a diferentes situações têm impacto na formação, especialmente quando a família considera a criança como um interlocutor ativo, envolvendo-a em tarefas compartilhadas, fazendo toda a diferença nesse processo. O desafio dos alunos da disciplina de Seminário é compreender a contribuição e influência da família, da escola e das relações sociais na formação do cidadão, levando em consideração os seguintes questionamentos: qual é a natureza social e a função socializadora da educação? Quais são as práticas educativas e âmbitos da educação? Quais são as práticas educativas na família (sistema e funções)? Qual é a importância das relações sociais no desenvolvimento do indivíduo? Respondendo às questões iniciais, a educação, em sentido amplo, não se reduz ao processo de escolarização; ela vai além, à medida que suas finalidades (socialização e individualização progressiva) são alcançadas. No campo educacional, reconhecemos que a educação é um fenômeno social complexo que ocorre em três universos tripartidos: educação formal, educação não formal e educação informal. Quais são os contextos desses universos educacionais? Por fim, qual é a reflexão sobre o desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos, levando em consideração a família, a escola e as relações sociais? Os grupos devem socializar suas aprendizagens de forma interativa! Quem sabe utilizar no momento da socialização algumas dinâmicas, brincadeiras, jogos, entre outros. Éimportante pensar nas formas mais significativas para a socialização das aprendizagens adquiridas. Como primeira mediadora entre o homem e a cultura, a família constitui a unidade dinâmica das relações de cunho afetivo, social e cognitivo que estão imersas nas condições materiais, históricas e culturais de um dado grupo social. Ela é a matriz da aprendizagem humana, com significados e práticas culturais próprias que geram modelos de relação interpessoal e de construção individual e coletiva. Os acontecimentos e as experiências familiares propiciam a formação de repertórios comportamentais, de ações e resoluções de problemas com significados universais (cuidados com a infância) e particulares (percepção da escola para uma determinada família). Essas vivências integram a experiência coletiva e individual que organiza, interfere e a torna uma unidade dinâmica, estruturando as formas de subjetivação e interação social. E é por meio das interações familiares que se concretizam as transformações nas sociedades que, por sua vez, influenciarão as relações familiares futuras, caracterizando-se por um processo de influências bidirecionais, entre os membros familiares e os diferentes ambientes que compõem os sistemas sociais, dentre eles a escola, constituem fator preponderante para o desenvolvimento da pessoa (Dessen; Polonia, 2007, p. 22). Possíveis respostas: A educação possui uma natureza intrinsecamente social, pois é através dela que os indivíduos adquirem conhecimentos, valores, normas e habilidades necessárias para participar efetivamente da sociedade. Além de transmitir conhecimento acadêmico, a 14 educação desempenha um papel crucial na socialização dos indivíduos. Isso significa que ela ajuda os indivíduos a aprenderem como se comportar dentro de normas culturais e sociais, como interagir com os outros, como desenvolver habilidades de comunicação e como se engajar em processos colaborativos. As práticas educativas referem-se aos métodos e estratégias utilizados para facilitar o aprendizado e o desenvolvimento dos indivíduos. Elas ocorrem em diversos âmbitos: 1. Educação Formal: É o tipo de educação que ocorre em instituições educacionais estruturadas, como escolas, universidades e centros de formação profissional. 2. Educação Informal: Refere-se ao aprendizado que ocorre fora do ambiente escolar, muitas vezes de maneira não estruturada, através de experiências cotidianas, interações sociais e mídias. 3. Educação Não Formal: Está organizada e sistemática, mas ocorre fora do sistema educacional convencional. Exemplos incluem cursos de treinamento profissional, workshops e programas de educação comunitária. A família desempenha um papel fundamental na educação inicial e contínua dos indivíduos. Suas práticas educativas são informais e ocorrem através de: Modelagem de Comportamento, transmissão de valores e normas, suporte emocional e social. As relações sociais desempenham um papel vital no desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental dos indivíduos. Encerramento da Unidade PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO Para desenvolver a competência desta Unidade, que é conhecer e identificar princípios centrais no que se refere à Psicologia, especificamente Psicologia da Educação e Psicologia Escolar, você deve, primeiramente, familiarizar-se com os conceitos que delimitam a psicologia enquanto ciência. Para tanto, realizamos uma viagem pela história da psicologia, buscando situar diferentes perspectivas sobre a aprendizagem e o desenvolvimento. Vimos que o campo psicológico constitui uma ciência com o objetivo de explicar como o ser humano pode conhecer e interpretar a si mesmo, assim como interpretar e conhecer o mundo em que vive, incluindo a interação entre indivíduos, a relação com a natureza, objetos e os sistemas sociais, econômicos e políticos aos quais estão inseridos. Seu objeto de estudo está centralizado nos seres vivos que estabelecem trocas simbólicas com o meio ambiente. Dentre os conteúdos abordados, exploramos um pouco da história da psicanálise e seus conceitos que, ainda hoje, são amplamente discutidos e possuem grande relevância quando pensamos na história da psicologia. Entretanto, visando alcançar a competência proposta, você percebeu que existem diferenças notáveis ao abordar a Psicologia Escolar e a Psicologia Educacional. 15 Na trajetória da Psicologia Educacional, inicialmente voltada para a criança com dificuldades de aprendizado, as abordagens eram associacionistas e mecanicistas, com visões deterministas e dicotômicas (Oliveira-Menegotto; Fontoura, 2015, p. 380). Na década de 1970, profissionais de Educação e Psicologia trouxeram uma visão mais ampla, considerando fatores históricos, sociais e culturais no processo de aprendizagem. A Psicologia, como ciência, passou a enxergar o aluno integralmente, percebendo o erro não como patológico, mas como parte do aprendizado (Valle, 2003). Reflita Nesse contexto, você considera que a escola, em seu compromisso, deve fomentar esclarecimento, reflexão crítica e oferecer novas perspectivas para a psicologia da educação? Como a Psicologia da Educação, enquanto área de conhecimento, pode subsidiar o trabalho dos professores? O desafio da diversidade na escola Ana, uma professora do ensino fundamental, enfrenta o desafio de lidar com uma turma diversificada, composta por alunos de diferentes origens culturais, sociais e níveis de habilidade. A escola, alinhada com o compromisso de fomentar esclarecimento, reflexão crítica e oferecer novas perspectivas para a psicologia da educação, busca integrar práticas que considerem a complexidade dessa diversidade. Ana decide explorar os princípios da Psicologia Educacional para melhor compreender as necessidades individuais de seus alunos. Ela utiliza abordagens que vão além das visões tradicionais, reconhecendo fatores históricos, sociais e culturais que influenciam o processo de aprendizagem. Ao aplicar esses conceitos, Ana cria estratégias personalizadas para atender às diversas necessidades da turma. Ela utiliza métodos que consideram a troca simbólica dos alunos com o meio ambiente, promovendo uma aprendizagem mais significativa. Além disso, Ana organiza debates abertos sobre questões contemporâneas, incentivando a reflexão crítica entre os alunos. Ela busca criar um ambiente inclusivo, em que as diferenças não são apenas toleradas, mas valorizadas. A psicologia da educação, nesse cenário, subsidia o trabalho de Ana, permitindo uma abordagem mais holística e eficaz para a diversidade em sala de aula. Assim, o compromisso da escola em proporcionar esclarecimento e novas perspectivas se reflete na prática de Ana, demonstrando como a integração da psicologia da educação pode 16 enriquecer o ambiente escolar e promover o desenvolvimento integral dos alunos. Reflita Diante desse contexto, quais medidas você acha que a escola implementa para que Ana possa trabalhar como descrito? Resolução do estudo de caso Diante dos desafios apresentados por Ana, a escola reconhece a importância de abraçar a diversidade e promover um ambiente inclusivo. Em resposta ao compromisso de fomentar esclarecimento, reflexão crítica e novas perspectivas para a psicologia da educação, algumas medidas são implementadas: ● Formação continuada: a escola investe em programas de formação continuada para os professores, focados na compreensão da diversidade e nas práticas pedagógicas inclusivas. Essa formação busca fortalecer a capacidade dos educadores em aplicar conceitos da Psicologia Educacional de maneira prática.● Recursos pedagógicos diversificados: a escola disponibiliza recursos pedagógicos variados, adaptados para atender às diferentes necessidades dos alunos. Isso inclui materiais que consideram a diversidade cultural, social e de habilidades, promovendo uma aprendizagem mais significativa. ● Espaços de diálogo e reflexão: são criados espaços regulares de diálogo entre alunos, professores e pais para discutir questões relacionadas à diversidade. Esses espaços visam estimular a reflexão crítica e promover o respeito às diferenças, alinhados com os princípios da Psicologia Educacional. ● Suporte psicológico: a escola implementa serviços de suporte psicológico, oferecendo acompanhamento a alunos que possam enfrentar desafios emocionais devido à diversidade. Isso envolve a colaboração estreita com profissionais da Psicologia Educacional para garantir um suporte integral. Ao adotar essas medidas, a escola busca não apenas enfrentar os desafios presentes, mas também criar um ambiente educacional mais enriquecedor, inclusivo e alinhado com os avanços da psicologia da educação. A resolução destaca a importância de uma abordagem integrada, que reconhece e valoriza a diversidade como um ativo essencial para o processo educacional. Exploramos a teoria elaborada por Freud sobre o estudo do aparelho psíquico, desvendando as intrincadas camadas da mente que moldam nossa experiência e influenciam nosso comportamento. Ao longo desse percurso, vimos como as ideias freudianas abriram novas perspectivas para a compreensão dos processos mentais e da dinâmica psicológica. Ao mergulharmos nessas reflexões, compreendemos não apenas as contribuições de Freud à psicanálise, mas também os alicerces sobre os quais se erguem as modernas teorias psicológicas. 17 Freud apresentou a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento psíquicos. Essa teoria refere-se à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente. 18 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM Aula 1 O BEHAVIORISMO Quando um comportamento do outro é considerado inadequado, é possível modificá-lo? Como? Muitas pessoas já fizeram esse questionamento e, hoje, vamos conhecer o behaviorismo ou comportamentalismo, destacando principalmente as contribuições de Skinner para a compreensão do comportamento e dos processos de aprendizagem considerados relevantes para a educação. Os behavioristas, na busca por compreender o comportamento ( behavior , em inglês) observável ou manifesto, enfatizam as relações entre esse e o ambiente, ou seja, enfocam em seus estudos o papel e a influência dos estímulos ambientais na determinação de nossas ações (Piletti, 2012). A opção teórica e metodológica do behaviorismo, de apenas estudar (observar e descrever) o comportamento observável como forma de ajustá-lo ao meio, pode ser entendida em razão de que nos anos 1950, os Estado Unidos (palco central do behaviorismo) vivenciavam um crescente processo de urbanização, com o avanço industrial e a expansão do sistema escolar. Processo que contribuiu para que a psicologia tivesse um papel ativo em conformidade com a exigência de adequação dos indivíduos às escolas, às fábricas, colaborando nos exames, na classificação, na seleção e no controle sobre o indivíduo, necessários nesses novos espaços. Na busca de métodos objetivos embasados na experimentação, Edward Lee Thorndike (1874-1949) ficou conhecido por sua “Lei do efeito”, a qual preconizava que o indivíduo responde à punição ou à recompensa. Veja bem, há uma ênfase nas sensações agradáveis e desagradáveis, como importantes fixadoras das respostas dadas pelos indivíduos. O efeito do prazer é o que fixa a resposta. (Piletti, 2013, p.14) John Broadus Watson (1878-1958), o primeiro a usar o termo behaviorismo em 1913, declarava que o grande foco da psicologia, enquanto ciência objetiva, deveria ser o comportamento concreto do ser humano, visando à sua previsão e ao seu controle. Assim, segundo Piletti (2013), essa ciência do comportamento, fundada por Watson, veio a ser chamada de análise comportamental. Condicionamento clássico Também chamado de condicionamento respondente, o condicionamento clássico é um conceito importante na psicologia que foi desenvolvido pelo psicólogo russo Ivan Pavlov (1849-1936). Vamos entender isso de uma maneira didática! 19 Imagine um cachorro que começa a salivar quando vê comida. Isso é uma resposta natural, certo? Agora, se toda vez que o cachorro é alimentado, toca uma campainha, e isso acontece repetidamente, o cachorro começa a associar a campainha à comida. Eventualmente, o simples som da campainha faz com que o cachorro salive, mesmo sem a presença da comida. Aqui, a comida é um estímulo natural que provoca uma resposta natural de salivar. A campainha, inicialmente neutra, torna-se um estímulo condicionado porque, ao longo do tempo, ela passa a provocar a mesma resposta que a comida, agora chamada de resposta condicionada. Essa foi uma experiência realizada por Pavlov. Portanto, no condicionamento clássico, há uma associação entre um estímulo que naturalmente evoca uma resposta e outro estímulo inicialmente neutro. Essa associação leva a uma mudança no comportamento, em que o estímulo neutro passa a evocar a resposta originalmente associada ao estímulo natural. Em resumo, o condicionamento clássico é um processo de aprendizado por associação, em que um estímulo inicialmente neutro se torna capaz de provocar uma resposta, devido à sua associação repetida com um estímulo que naturalmente provoca essa resposta. Condicionamento operante Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) acrescentou o seu conceito-chave de condicionamento operante ao condicionamento clássico de Pavlov. Skinner foi um dos psicólogos mais conhecidos dos Estados Unidos, realizou experimentos com ratos em laboratório colocando-os em caixas-gaiolas, sua teoria resulta na crença de que os comportamentos podem ser moldados. Nesse sentido, é necessário considerar as contingências, ou seja, como ocorre a relação desse indivíduo com o meio, as contingências permitem entender o comportamento do sujeito. Vamos descomplicar o condicionamento operante! Imagine um rato em uma caixa. Agora, sempre que o rato pressiona uma alavanca, recebe um pedaço de queijo. Nesse cenário, o ato de pressionar a alavanca é o comportamento, e o queijo é a recompensa. A palavra-chave aqui é "operante", pois o comportamento do rato opera sobre o ambiente para receber uma consequência. Se o rato percebe que pressionar a alavanca resulta em uma recompensa agradável (o queijo), é mais provável que ele repita esse comportamento no futuro. Mas e se o rato pressionar a alavanca e nada acontecer? Ou se algo desagradável acontecer? Nesses casos, o rato pode ser menos propenso a pressionar a alavanca novamente. Isso é o básico da punição e extinção no condicionamento operante. Os reforçadores considerados básicos (primários) são os relacionados à sobrevivência, como água, comida, roupa quando se está com frio. Por outro lado, há diversos eventos ambientais que não são baseados na sobrevivência biológica e que, no entanto, funcionam 20 como reforçadores, são estímulos que foram associados a um reforçador primário e que são denominados reforçadores condicionados, como o dinheiro, a atenção, o elogio. (Piletti, 2013, p. 19) Em resumo, no condicionamento operante, os comportamentos são moldados pelas consequências que os seguem. Recompensas aumentam a probabilidade de repetição do comportamento, enquanto punições ou a ausência de recompensas podem reduzir essa probabilidade. ● Reforçador positivo (recompensa) = aumento da resposta. ○ Retirada = redução da resposta. ● Reforçador negativo = aumento da resposta, podendo direcionar à fuga, esquiva ou alívio. ○ Punição (castigo, penalidade)= redução da resposta. Portanto, pense no condicionamento operante como um processo de aprendizado onde as ações que levam a resultados positivos são fortalecidas, enquanto as que levam a resultados negativos podem se enfraquecer. Lembre-se que os reforçadores e punidores são diversificados, diferem de cultura para cultura e, ao longo da vida, a pessoa pode mudar em relação a eles – o que era reforçador pode deixar de sê-lo. Eventos consequentes 1. Reforçamento: ● Reforçamento é um processo no qual um estímulo aumenta a probabilidade de ocorrência de um comportamento. ● Pode ser positivo, quando um estímulo é adicionado para aumentar a frequência do comportamento, ou negativo, quando um estímulo é removido para o mesmo fim. 2. Esquiva: ● Esquiva é um comportamento que ocorre para prevenir a apresentação de um estímulo aversivo. ● O indivíduo se envolve em uma ação para evitar a ocorrência de consequências desagradáveis. 3. Fuga: ● Fuga é um comportamento que ocorre para cessar um estímulo aversivo já presente. ● O indivíduo se envolve em uma ação para escapar de consequências desagradáveis que já estão ocorrendo. 21 4. Extinção: ● Extinção é o processo de enfraquecimento de um comportamento previamente reforçado. ● Isso ocorre quando o reforçador é removido, resultando na diminuição da frequência do comportamento ao longo do tempo. 5. Punição: ● Punição é um processo no qual a apresentação de um estímulo aversivo diminui a probabilidade de ocorrência de um comportamento. ● Os behavioristas propuseram a substituição definitiva de práticas punitivas por procedimentos de construção de comportamentos desejáveis. Esses conceitos são fundamentais para entender como os comportamentos são modificados por meio do condicionamento operante, conforme proposto pela teoria behaviorista de Skinner. Vamos Exercitar? Você percebeu que na teoria behaviorista, proposta por Skinner, os princípios do condicionamento operante são fundamentais para compreender como os comportamentos podem ser moldados e modificados. Para tanto, é essencial compreender como os conceitos de reforçamento, punição, extinção, esquiva e fuga funcionam na modificação comportamental. Para moldar comportamentos desejados, o reforçamento positivo é uma ferramenta eficaz. Ao oferecer um estímulo agradável após a ocorrência de um comportamento desejado, aumentamos a probabilidade de que esse comportamento se repita. Por exemplo, elogiar um aluno sempre que ele participa ativamente em sala de aula pode aumentar sua motivação para contribuir mais frequentemente. Além disso, o reforçamento negativo também pode ser utilizado para moldar comportamentos desejados. Ao remover um estímulo aversivo após a ocorrência de um comportamento desejado, incentivamos a repetição desse comportamento. Por exemplo, permitir que um aluno termine uma tarefa mais cedo após demonstrar um bom comportamento em sala de aula pode aumentar sua motivação para continuar agindo de forma positiva. Por outro lado, para extinguir padrões de comportamento indesejados, a extinção pode ser uma estratégia. Ao deixar de reforçar um comportamento indesejado, seja através da remoção de reforçadores positivos ou negativos, pode-se enfraquecer gradualmente a ocorrência desse comportamento. Por exemplo, se uma criança chora para chamar a atenção dos pais, ignorar esse comportamento pode eventualmente levar à sua extinção. No entanto, é importante mencionar que a punição também pode ser utilizada para suprimir comportamentos indesejados. Ao apresentar um estímulo aversivo após a ocorrência de um 22 comportamento indesejado, diminuímos a probabilidade de que esse comportamento se repita no futuro. No entanto, é crucial utilizar a punição com cautela, pois pode levar a efeitos colaterais indesejados, como o desenvolvimento de ansiedade ou agressividade. O comportamento que ocorre para escapar de um estímulo aversivo que já está presente é chamado de fuga. Exemplo: Cão saltando para fora do sofá para evitar um som desagradável. Na esquiva é caracterizada como o comportamento que ocorre para prevenir a exposição a um estímulo aversivo antecipado. Exemplo: Estudante seguindo um cronograma de estudo e usando técnicas de relaxamento para evitar ansiedade extrema antes das provas. De modo geral, os princípios do condicionamento operante oferecem um conjunto de ferramentas poderosas para moldar comportamentos desejados e extinguir padrões indesejados. Ao entender como esses princípios funcionam e aplicá-los de maneira estratégica, podemos promover mudanças positivas no comportamento humano. Aula 2 O BEHAVIORISMO E A EDUCAÇÃO Skinner propôs pensar a filosofia da ciência do comportamento – do Behaviorismo, sob o nome Behaviorismo Radical. A posição assumida por Skinner é a de um sujeito que questiona “o porquê” do comportamento, muito mais do que um sujeito que busca conhecer o “como”, assentado pela ciência. Assim, ele alvitrou, como horizonte compreensivo do comportamento, um modelo de seleção pelas consequências. Aqui, muito mais do que compreender aquilo que é anterior ao comportamento, o estímulo no qual se dedicaram a estudar Pavlov e Watson, estava o desejo em desvendar a relação entre consequência e comportamento e o quanto essa relação produz subsídios capazes de compreender a manutenção de comportamentos e/ou a extinção comportamental. (Neves; Kruguer; Frison, 2019, p. 496) Os elementos fundamentais desse processo são: 1. Estímulo: inicia-se com a apresentação de um estímulo, um evento ou uma situação que desencadeia uma resposta comportamental. 2. Resposta: a resposta é a reação do organismo ao estímulo, sendo observável e passível de mensuração. 3. Reforço: Skinner enfatiza a relevância do reforço na formação de comportamentos. Reforço pode ser positivo, envolvendo a introdução de algo agradável, ou negativo, caracterizado pela remoção de algo aversivo. O reforço positivo aumenta a probabilidade de repetição da resposta, enquanto o reforço negativo fortalece a resposta pela retirada de um estímulo aversivo. 4. Punição: a punição positiva implica a introdução de algo aversivo, enquanto a punição negativa consiste na remoção de algo positivo. 23 5. Condicionamento operante: a aprendizagem ocorre por meio do condicionamento operante, no qual as consequências do comportamento exercem influência direta na probabilidade de sua recorrência futura. 6. Programação de reforço: Skinner introduziu a concepção de programação de reforço, uma abordagem sistemática que envolve a administração cuidadosa e planejada de reforço para modelar comportamentos desejados. Perceba que a compreensão e aplicação desses princípios pelos educadores são importantes para a criação de ambientes propícios à formação e modificação de comportamentos, aprimorando, assim, o processo de aprendizagem. Máquinas de ensinar As "máquinas de ensinar" criadas por Skinner referem-se a dispositivos mecânicos ou sistemas projetados para facilitar o ensino e a aprendizagem, aplicando os princípios do condicionamento operante. Skinner desenvolveu essas máquinas como uma extensão prática de sua teoria behaviorista. Duas máquinas notáveis são o "ensino programado" e o "projeto de máquina de ensinar". Skinner propôs o "ensino programado", um método sistemático que dividia o conteúdo em pequenas unidades de aprendizagem. Os alunos avançavam passo a passo, recebendo feedback imediato e reforços positivos ao completar cada unidade. Essa abordagem visava individualizar a aprendizagem, permitindo que os alunos progredirem em seu próprio ritmo. Ele também trabalhou no design de uma máquina de ensinar mecânica. Essa máquina consistia em uma caixa com alavancas, botões e luzes. O aluno interage com a máquina, recebendo estímulos e fornecendo respostas.Dependendo da resposta dada, a máquina fornece reforço positivo ou encaminha o aluno para a próxima etapa do conteúdo. Um dos modelos descritos na literatura consiste em um aparato de tamanho aproximado ao de uma máquina de escrever, que possui uma abertura superior por onde o aluno visualiza a tarefa a ser resolvida. Em uma abertura, à direita da máquina, o aluno escreve a resposta da atividade. Após ter respondido a atividade, é necessário acionar uma alavanca que imprime a resposta do aluno junto a sua respectiva questão e, em seguida, o aluno deve girar um botão. Se a resposta estiver correta, o botão gira com facilidade, e uma nova questão surge para ser resolvida, se o botão não girar, significa que a resposta está incorreta, e que o aluno precisa fazer uma nova tentativa até solucionar a questão. (Neves; Kruguer; Frison, 2019, p. 496) Segundo as autoras, as atividades que o aluno resolve são cuidadosamente programadas de modo que a resolução de cada questão depende da resposta da questão anterior, proporcionando, assim, que o aluno faça um progresso contínuo, partindo de atividades simples até atingir um nível desejado de complexidade. Vamos entender melhor o funcionamento? 24 ● Estímulo e resposta: as máquinas de ensinar seguiam a lógica do estímulo e resposta, onde o aluno recebia estímulos (perguntas ou problemas) e respondia de acordo. ● Reforço: o reforço positivo era aplicado quando o aluno fornecia a resposta correta, incentivando a repetição do comportamento desejado. Esse reforço podia ser imediato e personalizado. ● Autodirecionamento: a ideia era que, ao avançar em pequenos passos, os alunos podiam autodirigir seu aprendizado, promovendo a autonomia e a eficiência no processo educacional. ● Utilização: inicialmente, as máquinas de ensinar foram concebidas para serem utilizadas em ambientes educacionais formais, como escolas e universidades. Além do ensino acadêmico, algumas máquinas foram usadas em contextos de treinamento profissional para desenvolver habilidades específicas. Embora as máquinas de ensinar tenham enfrentado críticas e não tenham se popularizado como inicialmente previsto, contribuíram para o desenvolvimento de estratégias educacionais mais personalizadas e tecnologicamente avançadas nos anos subsequentes. A punição em sala de aula B.F. Skinner, embora tenha contribuído significativamente para a compreensão do comportamento humano e o desenvolvimento da teoria behaviorista, apresentou críticas consideráveis ao uso da punição em sala de aula. Suas preocupações foram principalmente direcionadas aos efeitos negativos e limitações associadas ao emprego da punição como estratégia educacional. Skinner argumentava que a punição muitas vezes resultava em efeitos temporários no comportamento. Embora a punição possa suprimir o comportamento indesejado a curto prazo, ela não oferece uma solução duradoura e não promove a aprendizagem significativa. Ele observou que a punição muitas vezes leva os indivíduos a aprenderem a evitar a punição, em vez de compreenderem por que determinado comportamento é indesejado. Isso poderia resultar em uma falta de compreensão real das consequências do comportamento. Nesse sentido, destacou a possibilidade de efeitos colaterais indesejados da punição, como ressentimento, medo e hostilidade. Essas reações emocionais podem prejudicar o relacionamento entre o educador e o aluno, comprometendo o ambiente educacional. Mas o que fazer em situações de indisciplina, por exemplo? Skinner enfatizava a importância de explorar alternativas à punição, como o reforço positivo. Argumentava que reforçar comportamentos desejados seria mais eficaz na promoção de uma mudança comportamental sustentável. Chegamos ao final de mais uma aula, espero que você tenha percebido que as críticas de Skinner à punição em sala de aula destacam a necessidade de abordagens mais positivas e instrutivas para promover a aprendizagem e a modificação de comportamentos. Essas críticas continuam a influenciar as práticas educacionais contemporâneas, incentivando 25 métodos mais centrados no reforço positivo e na compreensão dos alunos. Vamos Exercitar? Atualmente, uma analogia contemporânea às máquinas de ensinar de Skinner seria a utilização de plataformas e aplicativos de aprendizagem adaptativa. Essas ferramentas incorporam princípios semelhantes, visando personalizar o processo de ensino de acordo com as necessidades individuais dos alunos. Um exemplo notável é a "Khan Academy". A Khan Academy é uma plataforma on-line que oferece aulas e exercícios em uma variedade de disciplinas. Ela adota uma abordagem de ensino programado, dividindo os conceitos em unidades menores. Os alunos avançam no material à medida que demonstram compreensão, recebendo feedback imediato e reforços positivos. A plataforma adapta o conteúdo com base nas respostas dos alunos, personalizando a experiência de aprendizagem. Funcionamento: ● Estímulo e resposta: os alunos interagem com a plataforma, respondendo a perguntas e completando exercícios, que funcionam como estímulos. ● Reforço positivo: respostas corretas são seguidas por feedback positivo, e os alunos são encorajados a progredir para níveis mais avançados. ● Autodirecionamento: a plataforma permite que os alunos avancem no material de forma independente, revisando conceitos conforme necessário. Essas plataformas representam uma evolução das ideias de Skinner, incorporando avanços tecnológicos para oferecer uma abordagem mais flexível e personalizada ao ensino. Elas continuam a moldar a educação contemporânea, destacando a importância da adaptação do ensino às necessidades individuais dos alunos. Saiba Mais Que tal continuar aprendendo sobre o tema? No artigo indicado a seguir, a obra de Skinner é utilizada como parâmetro para analisar o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (Brasil, 2007). Com base na leitura e análise dos textos de Skinner e do Compromisso, quinze temas foram identificados, dentre eles: avaliação do aluno, ritmo de ensino, permanência do aluno na escola, evasão, formação de profissionais do ensino e avaliação do professor. Constataram-se compatibilidades entre as propostas de Skinner e o Compromisso, o que, por um lado, aponta para a possibilidade de que a nova prática educacional gerada pelo Compromisso produza a melhoria do ensino; e, por outro lado, sugere uma possível contribuição da análise do comportamento para a proposição e avaliação de políticas públicas. 26 Assim, este trabalho aponta um caminho para se concretizar a aproximação de analistas do comportamento aos programas governamentais, sugerindo como propostas produzidas pela análise do comportamento poderiam ser aplicadas para atingir os objetivos de tais programas. Aula 3 LEV VIGOTSKI: APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Lev Vigotski, renomado psicólogo e educador do século XX, desempenhou um papel fundamental no entendimento do desenvolvimento humano. Sua abordagem, conhecida como teoria histórico-cultural, trouxe contribuições significativas para a psicologia cognitiva e educacional. Ao mergulharmos nos conceitos de Vigotski, exploraremos o processo de humanização do homem: os instrumentos e signos, as funções psicológicas superiores e as complexas ações reflexas e intencionais. A teoria de Vigotski propõe concepções diferentes de desenvolvimento e aprendizagem de outras matrizes epistemológicas, como as de Jean Piaget, Henri Wallon ou Freud, por exemplo. Nas práticas pedagógicas no Brasil, Jean Piaget é uma importante referência. Para Piaget, o sujeito se desenvolve e, por isso, aprende. Já para Vigotski, os sujeitos aprendem e, por isso, se desenvolvem. Temos como exemplo algumas divergências nas relações entre desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky. Ambos são consideradosteóricos interacionistas, mas o primeiro compreende que é necessário o desenvolvimento de determinados aspectos cognitivos para que, com a interação, a criança venha a aprender características condizentes com seu estágio de desenvolvimento, focando na gênese do conhecimento (daí a terminologia Epistemologia Genética). Para ele, determinados aspectos devem ser trabalhados em determinadas faixas etárias (apesar de tal característica não se dar de forma engessada). Vygotsky, por sua vez, compreende que a aprendizagem "puxa" o desenvolvimento (para ele, aprender é se desenvolver), ou seja, com a interação, a pessoa irá desenvolver diferentes aspectos. Assim, este autor busca um trabalho focando em aspectos que o aprendente ainda não realiza sozinho, mas que com auxílio consegue aprender (o que caracteriza o que se denomina de aprendizagem prospectiva). (Melo, 2020, p. 354) Lev Vigotski, nascido em 1896, foi um pioneiro na psicologia cultural e histórica. Sua obra, embora interrompida prematuramente por sua morte em 1934, influenciou gerações subsequentes. Seu foco na interação social e cultural como impulsionadores do desenvolvimento individual destaca-se como um marco na psicologia. Siga em frente... A teoria histórico-cultural postula que o desenvolvimento humano é moldado pelo contexto sociocultural. Essa abordagem destaca a importância das interações sociais, linguagem e cultura na construção do conhecimento. A aprendizagem é vista como um processo social, em que a mediação é essencial para o desenvolvimento cognitivo. 27 A humanização é analisada através dos "instrumentos e signos". Instrumentos são ferramentas físicas ou conceituais que ampliam nossas capacidades, enquanto os signos, como a linguagem, representam significados compartilhados. Esses elementos são cruciais para a formação da identidade e da cultura. As funções psicológicas superiores referem-se a processos mentais avançados, como pensamento abstrato e resolução de problemas. Vigotski destaca a importância da zona proximal (iminente) de desenvolvimento, onde a orientação e apoio social impulsionam a aquisição dessas funções. As funções psicológicas superiores, conceito central na teoria de Vigotski, referem-se a processos cognitivos complexos que se desenvolvem ao longo da vida e são influenciados por fatores socioculturais. Aqui estão alguns exemplos de funções psicológicas superiores: 1. Linguagem ● Descrição: a capacidade de usar a linguagem para expressar pensamentos complexos, comunicar ideias abstratas e formar conceitos. ● Importância: essencial para o pensamento reflexivo e a comunicação avançada, a linguagem é uma função psicológica superior que se desenvolve com a interação social. 2. Pensamento abstrato ● Descrição: a habilidade de pensar em conceitos e ideias que não estão diretamente ligados a objetos ou situações concretas. ● Importância: o pensamento abstrato permite a resolução de problemas complexos, tomada de decisões e planejamento a longo prazo. 3. Memória de trabalho ● Descrição: a capacidade de reter temporariamente e manipular informações necessárias para realizar tarefas cognitivas. ● Importância: crucial para a aprendizagem, a memória de trabalho facilita a compreensão de informações e a resolução de problemas em tempo real. 4. Resolução de problemas ● Descrição: a habilidade de enfrentar desafios complexos, identificar soluções e aplicar estratégias para superar obstáculos. ● Importância: fundamentais em diversas áreas da vida, as funções psicológicas superiores de resolução de problemas contribuem para o desenvolvimento de habilidades práticas. 5. Atenção seletiva ● Descrição: a capacidade de concentrar-se em estímulos específicos, ignorando distrações e focando em informações relevantes. 28 ● Importância: importante para o processamento eficiente de informações, a atenção seletiva é essencial em contextos em que a concentração é necessária. 6. Imaginação e criatividade ● Descrição: a capacidade de conceber novas ideias, soluções inovadoras e expressar-se de maneira criativa. ● Importância: fundamentais para a inovação e expressão artística, a imaginação e criatividade são funções psicológicas superiores que enriquecem a experiência humana. Esses exemplos ilustram como as funções psicológicas superiores desempenham seu papel no funcionamento cognitivo e no comportamento humano, sendo moldadas e aprimoradas por meio de interações sociais e experiências culturais. Diferenciamos as ações reflexas e intencionais, fundamentais para compreender o comportamento humano. As reflexões são respostas automáticas, enquanto as intencionais são guiadas por objetivos conscientes. A análise dessas ações fornece insights valiosos sobre a interação entre impulsos automáticos e escolhas deliberadas. Em suma, a compreensão profunda de Vigotski e da teoria histórico-cultural é importante para profissionais em diversas áreas. Esses conceitos não são apenas acadêmicos, mas possuem implicações práticas. Ao correlacionarmos teoria e prática, enxergamos aplicações que determinam a ação pedagógica dos professores. Em sala de aula, por exemplo, entender o papel dos signos no desenvolvimento da linguagem pode orientar práticas pedagógicas mais eficazes. Ao vincular os conceitos abstratos à realidade profissional, promovemos uma compreensão holística que impacta positivamente nossa atuação. Vigotski, com sua visão inovadora, nos convida a transcender a teoria, aplicando-a de maneira consciente e transformadora. Vamos Exercitar? Vamos explorar um exemplo prático da utilização de instrumentos e signos no contexto da educação, destacando como esses elementos são cruciais na mediação do processo de aprendizagem. Exemplo: sala de aula interativa ● Instrumento: tecnologia educacional. ● Descrição: em uma sala de aula moderna, tablets ou computadores podem ser considerados instrumentos. Eles oferecem acesso a recursos digitais, como aplicativos educacionais, simuladores e vídeos interativos. ● Signo: ícones e símbolos visuais ● Descrição: ícones e símbolos visuais na interface dos dispositivos representam conceitos, ações ou direções. Por exemplo, um ícone de lupa pode significar busca, enquanto um símbolo de alto-falante indica áudio. 29 Como funciona: ● Instrumento em ação: os alunos utilizam tablets como instrumentos para acessar um aplicativo de aprendizagem interativa. ● Signos visuais: ícones na tela representam atividades específicas, como exercícios interativos, quizzes ou leituras adicionais. ● Mediação pelo professor: o professor atua como mediador, fornecendo orientações, esclarecendo dúvidas e incentivando a participação ativa dos alunos. Importância: ● Engajamento: a utilização desses instrumentos digitais e signos visuais aumenta o engajamento dos alunos, tornando o processo de aprendizagem mais dinâmico e atraente. ● Mediação social: o professor desempenha um papel fundamental na mediação, utilizando esses instrumentos e signos para conectar conceitos abstratos ao conhecimento prévio dos alunos. ● Adaptação cultural: a escolha de instrumentos e signos pode ser adaptada à cultura e ao contexto dos alunos, facilitando a compreensão e a aplicação prática dos conceitos. Nesse exemplo, os tablets (instrumentos) e os ícones/símbolos visuais (signos) não apenas proporcionam acesso a informações, mas também servem como mediadores que facilitam a compreensão e a assimilação do conhecimento. Essa abordagem reflete a interação dinâmica entre instrumentos e signos na promoção da aprendizagem, alinhando-se aos princípios da teoria histórico-cultural de Vigotski. As aprendizagens que acontecem na zona de desenvolvimento proximal alavancam o desenvolvimento do indivíduo, criando uma nova zona, que promovenovas necessidades de aprendizagem, etc. Por esse motivo, pode-se dizer que desenvolvimento e aprendizagem são processos indissociáveis na abordagem sócio-histórica. A aprendizagem vai ocorrer exatamente na zona de desenvolvimento proximal, com aquilo que o indivíduo ainda não é capaz de aprender sozinho. Nesse sentido, o papel do professor, de acordo com Vigotski, é mediar a relação entre o estudante e o mundo, favorecendo a aprendizagem. Aula 4 TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL E EDUCAÇÃO Iniciaremos esta seção falando sobre Vigotski. Lev Semenovitch Vigotski (1896-1934) foi um psicólogo bielorrusso que, apesar da sua morte precoce, deixou um grande legado para a Psicologia e a Educação. O trabalho de Vigotski e de sua psicologia sócio-histórica são 30 muito importantes para a Educação porque atribuem um papel fundamental às relações sociais para o desenvolvimento cognitivo dos indivíduos. A corrente pedagógica que se originou após sua proposta é denominada socioconstrutivismo ou sociointeracionismo, em oposição ao construtivismo de Piaget, que atribuía importância muito maior às questões internas de construção do conhecimento do que ao meio em que o indivíduo se insere (Oliveira, 1993). Vigotski (1996) rejeitava as propostas teóricas que concentravam esforços somente nas capacidades inatas ou na constituição do indivíduo como produto do meio exterior. Para a psicologia histórico-cultural, a formação do indivíduo depende de uma relação dialética entre o sujeito e a sociedade em que ele se insere. Uma relação dialética ocorre quando o indivíduo modifica o ambiente e o ambiente modifica o indivíduo. Além disso, o trabalho de Vigotski dá ênfase ao processo histórico-social e ao papel da linguagem no desenvolvimento dos indivíduos (Vigotski, 1996). Para Vigotski, todas as características individuais são construídas a partir da relação do indivíduo com o meio. Essas relações se dão pela mediação de instrumentos técnicos (por exemplo, ferramentas de trabalho) ou simbólicos (como a linguagem). De acordo com o autor, os instrumentos e os símbolos são construídos pela espécie humana para mediar a relação entre os homens e a realidade. A linguagem, especialmente, faz parte de um sistema simbólico fundamental para as relações humanas e foi elaborada pelos indivíduos ao longo de sua história como sociedade. A linguagem funciona como um instrumento capaz de transformar nossa aprendizagem, pois, quando um indivíduo aprende a linguagem específica do seu meio sociocultural, ele é capaz de alavancar seu próprio desenvolvimento. Nesse sentido, a mediação das relações humanas por meio de símbolos, especialmente da linguagem, constitui um conceito central na psicologia sócio-histórica (Vigotski, 1998). Para Vygotsky, é na interação entre as pessoas que, em primeiro lugar, se constrói o conhecimento que depois será intrapessoal, ou seja, será partilhado pelo grupo junto ao qual tal conhecimento foi conquistado ou construído (Martins, [s. d.]). Na abordagem vigotskiana, a relação entre o desenvolvimento natural da criança e a aprendizagem está intrinsecamente ligada à vivência social da espécie humana. O desenvolvimento precisa ser impulsionado pelo meio e pelos processos de socialização. Sendo assim, as estruturas e os processos biológicos naturais do indivíduo são insuficientes para promover a aprendizagem se esse indivíduo não estiver inserido em um ambiente social e cultural permeado de práticas que facilitem seu aprendizado (Oliveira, 1993). A criança não é capaz de se desenvolver somente por conta do passar do tempo, pois Vigotski considera que ela não possui os instrumentos técnicos e simbólicos necessários para isso. Esses instrumentos são adquiridos pelo meio social e cultural. Uma forma mais fácil de compreender como se dá o processo de desenvolvimento e aprendizagem na psicologia sócio-histórica é através do conceito de zona de desenvolvimento proximal ou iminente, você pode encontrar as duas nomenclaturas na literatura. Vigotski (1996) considera que qualquer indivíduo possui um nível de desenvolvimento real, ou seja, a capacidade de realizar determinada tarefa de modo independente, sem auxílio de terceiros. 31 A zona de desenvolvimento proximal (iminente) diz respeito à capacidade do indivíduo de realizar uma tarefa ou resolver um problema com a ajuda de outra pessoa mais experiente. Para entender o papel da mediação e da zona de desenvolvimento proximal na aprendizagem, veja o exemplo a seguir: Uma criança em processo de alfabetização já consegue identificar fonemas e formar sílabas (nível de desenvolvimento real), mas ainda tem dificuldade para ler palavras inteiras (nível de desenvolvimento potencial). A zona de desenvolvimento proximal diz respeito à distância entre o que a criança já sabe fazer e o que ela precisa aprender para evoluir na aprendizagem. Com o auxílio do professor (mediação), que lê as palavras com a entonação e pronúncias corretas, a criança passa a ler palavras inteiras sem dificuldade e alavancar seu desenvolvimento. Quanto ao papel do professor-mediador na aprendizagem dos alunos: É fundamental destacarmos que importante no processo interativo não é a figura do professor ou do aluno, mas é o campo interativo criado. A interação está entre as pessoas e é neste espaço hipotético que acontecem as transformações e se estabelece o que consideramos fundamental neste processo: as ações partilhadas, onde a construção do conhecimento se dá de forma conjunta. O importante é perceber que tanto o papel do professor como o do aluno são olhados não como momentos de ações isoladas, mas como momentos convergentes entre si, e que todo o desencadear de discussões e de trocas colabora para que se alcancem os objetivos traçados nos planejamentos de cada série ou curso (Martins, [s. d.]). Para a psicologia sócio-histórica, o professor desempenha um papel ativo e determinante, visto que cabe a ele facilitar um processo que não pode ser construído apenas pelo próprio aluno, priorizando a interação social e a mediação. Para Vigotski (1998), a educação e os procedimentos de ensino precisam se antecipar ao que o aluno não sabe e não é capaz de aprender por conta própria. Cabe ao professor saber identificar o nível de desenvolvimento real e iminente e adequar seu processo de ensino ao percurso de cada aluno. Siga em Frente... Periodização do desenvolvimento Elkonin, psicólogo soviético, discípulo de Vigotski, desenvolveu a ideia de periodização em relação ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores, especialmente em crianças. Essa periodização de Elkonin é centrada nas mudanças qualitativas nas atividades mentais e reflete a evolução das formas de comportamento cognitivo. A periodização de Elkonin inclui as seguintes fases: 32 A primeira infância, aproximadamente de 0 a 3 anos de idade, subdivide-se em primeiro ano de vida e primeira infância. No primeiro ano de vida, de 0 a 1 ano, a atividade principal é a comunicação emocional direta, ou seja, a criança necessita da atenção e cuidados do adulto. Na primeira infância, de 1 a 3 anos, a atividade principal é a atividade objetal manipulatória, onde a criança toma consciência da função social do objeto (Pasqualini, 2016). A infância, que vai aproximadamente de 3 a 10 anos de idade, é subdividida em idade pré-escolar e idade escolar. Na idade pré-escolar, de 3 a 6 anos, a criança tem como atividade principal o jogo de papeis, isto é, por meio dos jogos e brincadeiras a criança constroi suas relações sociais. Na idade escolar, de 6 a 10 anos, a atividade principal é o estudo, marcado pela apropriação do conhecimento teórico (Pasqualini, 2016). Na adolescência, destacamos o período da adolescência inicial, de 10 a 14 anos, em que a atividade principal é a comunicação íntima pessoal, e a adolescência, de 14 a 17 anos,tendo como a tividade principal o profissional ou estudo (Pasqualini, 2016). Figura 1 | Periodização do desenvolvimento psíquico. Fonte: Pasqualini e Eidt (2016, p. 107). 33 Figura 1 | Periodização do desenvolvimento psíquico. Fonte: Pasqualini e Eidt (2016, p. 107). Essas fases na periodização de Elkonin representam um caminho progressivo no desenvolvimento cognitivo da criança, destacando a inter-relação entre atividade prática, linguagem e operações mentais. Essa abordagem é fundamental para compreender como as funções psicológicas superiores se desenvolvem ao longo do tempo e como a aprendizagem é mediada por meio de atividades específicas. Vamos Exercitar? Após os estudos que você realizou, analise a seguinte situação-problema: Em uma escola que adota a abordagem da teoria histórico-cultural de Vigotski, um grupo de alunos do primeiro ano enfrenta dificuldades em uma atividade de leitura. A professora percebe que a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é essencial para apoiar o progresso dos alunos, mas ela se depara com desafios na implementação efetiva da mediação. Os alunos apresentam diferentes níveis de competência na leitura e a professora precisa equilibrar as necessidades individuais de cada aluno dentro da sala de aula heterogênea. Alguns alunos estão prontos para avançar para o material mais desafiador, enquanto outros precisam de mais apoio para alcançar o próximo nível. 34 Além disso, a diversidade cultural na sala de aula influencia as experiências prévias dos alunos com a leitura, tornando a adaptação curricular uma tarefa complexa. A professora percebe que alguns alunos podem ter sido expostos a diferentes práticas de leitura em casa, enquanto outros podem enfrentar barreiras culturais específicas que afetam seu engajamento. A situação é agravada pela limitação de recursos e tempo, com a professora tendo que equilibrar as demandas de ensinar o currículo padrão com a necessidade de proporcionar uma educação sensível à ZDP de cada aluno. Perguntas para reflexão: 1. Como a professora pode identificar e avaliar adequadamente a Zona de Desenvolvimento Proximal de cada aluno na área de leitura? 2. Quais estratégias a professora pode empregar para mediar a aprendizagem de forma eficaz, considerando a diversidade de níveis de competência e experiências culturais dos alunos? 3. Como a escola pode oferecer suporte adicional, como recursos educacionais e formação para professores, para facilitar a implementação bem-sucedida da teoria histórico-cultural na prática diária? 4. Como os colegas de classe podem ser envolvidos de maneira colaborativa para criar um ambiente de aprendizado que promova a mediação entre pares, aproveitando a influência social na Zona de Desenvolvimento Proximal? 5. Como a escola pode promover uma abordagem inclusiva que reconheça e valorize as diversas experiências culturais dos alunos, facilitando a adaptação curricular para atender às necessidades específicas de cada criança? Possíveis respostas: 1. Como a professora pode identificar e avaliar adequadamente a Zona de Desenvolvimento Proximal de cada aluno na área de leitura? A professora pode identificar e avaliar a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) de cada aluno através de uma combinação de observações diretas, avaliações diagnósticas e interações dinâmicas. Observando como os alunos lidam com tarefas de leitura com e sem ajuda, a professora pode identificar o ponto onde a assistência é necessária. Realizar avaliações informais, como conversas sobre leituras, exercícios de leitura guiada e discussões em grupo, pode ajudar a revelar as áreas onde os alunos estão prontos para avançar. Ferramentas como checklists de competências e registros de progresso também podem fornecer insights sobre a ZDP individual. Além disso, a professora pode utilizar feedbacks contínuos e ajustados, bem como atividades em que os alunos expliquem o que compreenderam, para avaliar seu nível de desenvolvimento atual e potencial. 2. Quais estratégias a professora pode empregar para mediar a aprendizagem de forma eficaz, considerando a diversidade de níveis de competência e experiências culturais dos alunos? 35 Para mediar a aprendizagem de forma eficaz, a professora pode empregar diversas estratégias: - Grupos de Trabalho: Dividir a turma em pequenos grupos com níveis de competência variados para facilitar a mediação entre pares, onde alunos mais avançados podem ajudar os que estão com dificuldades. - Instrução Diferenciada: Adaptar as atividades de leitura para atender às necessidades individuais, oferecendo textos de diferentes níveis de dificuldade e tipos de suporte. - Cultura e Contexto: Incorporar materiais de leitura que reflitam as diversas experiências culturais dos alunos, promovendo um ambiente inclusivo e relevante. - Ferramentas de Suporte: Utilizar ferramentas como gráficos de apoio, imagens e vídeos que podem auxiliar na compreensão de leitura. - Feedback Contínuo: Fornecer feedback contínuo e específico para ajudar os alunos a progredirem e ajustarem suas estratégias de leitura. - Leitura Compartilhada: Implementar sessões de leitura compartilhada onde a professora modela estratégias de leitura e pensa em voz alta para demonstrar processos de pensamento. 3. Como a escola pode oferecer suporte adicional, como recursos educacionais e formação para professores, para facilitar a implementação bem-sucedida da teoria histórico-cultural na prática diária? A escola pode oferecer suporte adicional através das seguintes medidas: - Formação Contínua: Prover formações regulares para os professores sobre a teoria histórico-cultural, focando em estratégias práticas para aplicar a ZDP e mediação. - Recursos Didáticos: Disponibilizar uma ampla gama de materiais didáticos e recursos tecnológicos que atendam a diferentes níveis de competência e experiências culturais. - Apoio Especializado: Ter especialistas em desenvolvimento infantil e educação inclusiva para apoiar os professores na adaptação curricular e no desenvolvimento de estratégias individualizadas. -Tempo de Planejamento: Garantir que os professores tenham tempo suficiente para planejamento colaborativo e reflexão sobre as práticas de ensino. - Comunidade de Prática: Estabelecer comunidades de prática entre os professores para troca de experiências e estratégias eficazes. 4. Como os colegas de classe podem ser envolvidos de maneira colaborativa para criar um ambiente de aprendizado que promova a mediação entre pares, aproveitando a influência social na Zona de Desenvolvimento Proximal? 36 Os colegas de classe podem ser envolvidos de forma colaborativa através de: - Tutoria entre Pares: Implementar programas de tutoria entre pares onde alunos mais avançados ajudam aqueles com dificuldades, promovendo um aprendizado colaborativo. - Projetos em Grupo: Designar projetos em grupo que incentivem a colaboração e a troca de conhecimentos entre alunos de diferentes níveis. - Discussões e Debates: Facilitar discussões em grupo onde todos os alunos são incentivados a compartilhar suas opiniões e insights sobre os textos lidos. - Jogos Educativos: Utilizar jogos educativos que incentivem a cooperação e o compartilhamento de estratégias de leitura. - Feedback Construtivo: Encorajar os alunos a darem feedback construtivo uns aos outros, promovendo um ambiente de apoio mútuo. 5. Como a escola pode promoveruma abordagem inclusiva que reconheça e valorize as diversas experiências culturais dos alunos, facilitando a adaptação curricular para atender às necessidades específicas de cada criança? A escola pode promover uma abordagem inclusiva através de: - Currículo Diversificado: Desenvolver um currículo que inclua materiais e atividades que reflitam a diversidade cultural dos alunos. - Formação Cultural: Oferecer formação para os professores sobre sensibilidade cultural e estratégias inclusivas de ensino. - Eventos Culturais: Organizar eventos e atividades que celebrem a diversidade cultural, promovendo o respeito e a valorização das diferentes origens dos alunos. - Parceria com Famílias: Envolver as famílias no processo educativo, encorajando-as a compartilhar suas culturas e tradições na escola. - Recursos de Apoio: Disponibilizar recursos como livros e materiais em diferentes idiomas e representativos de várias culturas. - Adaptação de Métodos: Adaptar métodos de ensino para incorporar práticas culturais diversas, garantindo que todos os alunos se sintam representados e respeitados. Ao implementar essas estratégias, a professora e a escola podem criar um ambiente de aprendizado que não só apoia o desenvolvimento individual dos alunos, mas também é célebre e valoriza suas experiências culturais diversas, promovendo uma educação inclusiva e equitativa. 37 38