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LITERATURA: CULTURA, HISTÓRIA E ARTE – SEMANA 1 A literatura é compreendida como fato simultaneamente estético e histórico; associar com os conceitos de sincronia (consideração dos aspectos formais e recursos literários envolvidos) e diacronia (consideração do dinamismo em um eixo temporal que situa a produção literária). LITERATURA: Perspectiva histórica: transformações no tempo; (ou diacrônica) Perspectiva estética: arte da palavra; (ou sincrônica) O Romantismo idealiza o passado, tanto nacional quanto individual. O nacionalismo e a ênfase na subjetividade (nos sentimentos e na perspectiva do indivíduo) também são traços da literatura romântica, unidos na saudade da pátria que é expressa no poema. Os românticos pretenderam alterar o imaginário relativo ao indígena, a fim de construir um mito nacional para a pátria recém independente. Quadras e redondilhas constituem uma forma associada à literatura popular, oral, tradicional, quando comparadas aos metros e formas clássicas (o decassílabo, as oitavas e o soneto). O verso de sete sílabas, ou redondilha maior, é intensamente melódico e, aliado à acentuação, confere ritmo quase musical ao poema. A “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, pode ser vista como um poema fundador de uma temática na poesia brasileira por abordar as saudades da pátria, o que será retomado de formas diferentes por poetas posteriores. Ariano Suassuna chama a atenção para a originalidade da cultura brasileira, que se deu devido à fusão de influências negras, indígenas e ibéricas. O século XVIII representa uma fase de amadurecimento no processo de adaptação da cultura e da literatura, nele se observa temas novos e novas maneiras de tratar velhos temas, preferência de formas de composição de verso, expressão mais adequada da realidade física e social, nascida no interior da colonização. Na segunda metade deste século, a poesia manifesta tendencias didáticas e de crítica social. Depois de 1840, o indianismo se tornou uma paixão nacionalista. XVI – Humanismo, influência italiana XVII – Barroco, influência espanhola XVIII – Neo-classicismo, influência francesa O poema Canção do exílio, do maranhense Gonçalves Dias (1823-1864), representa uma fase marcante do Romantismo, pois floresce na busca pelo nacionalismo e pela independência política, ocorridos em 1822. É um poema primordial e abre o volume Primeiros cantos (1846), que constitui a obra de estreia de Gonçalves Dias. Leia com atenção o fragmento do poema a seguir. I. A saudade da terra natal fica evidente nos versos “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá [...]”. PORQUE II. A “Canção do exílio” é um poema símbolo reclamando à pátria a expulsão e o exílio do poeta no período da ditadura (FALSA) Ao considerar a literatura como uma manifestação cultural que apresenta confluência de elementos de modo dialético, é preciso contemplar diferentes aspectos para a compreensão do "fazer literário”. A cultura é formada por diferentes aspectos que correspondem a interações decorrentes das relações temporais nas quais a literatura é desenvolvida. Ademais, a cultura considera tanto aspectos individuais quanto sociais para sua constituição. I. ( V ) A influência e a imposição fizeram parte da formação da cultura e da literatura. II. ( V ) O local e o estrangeiro estão associados à constituição da Literatura Brasileira. III. ( V ) O oral e o escrito fazem parte do fazer cultural e do fazer literário. IV. ( F ) O culto e o erudito não fazem parte dos conceitos de cultura e de literatura. A construção do conceito de cultura é um amplo processo que considera, segundo Alfredo Bosi em Dialética da Colonização, “o colo” como ocupação de uma terra; “o culto”, do latim, cultus; a terra; a memória; os antepassados, os ritos, as rezas e os cantos. Desse modo, a cultura (culturus) considera o que será cultivado, em termos futuros, enquanto projeto de um grupo ou comunidade. I. A literatura é uma manifestação cultural que, em uma perspectiva histórica, sofre transformações ao longo do tempo (diacrônica). III. O Brasil sofreu a aculturação e a incorporação de elementos africanos, indígenas e europeus, o que resultou em uma reinvenção. IV. A literatura pode ser vista de uma perspectiva estética, considerando-a a “arte com palavras”, de modo sincrônico. O Romantismo brasileiro buscou uma identidade cultural própria, a partir da valorização do indígena. Nesse sentido, o poema intitulado “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias, é um marco da visão indianista da literatura protagonizado pelos índios tupis e timbiras. Dividido em dez cantos e composto por 484 versos, o poema foi publicado em 1851, no livro “Últimos cantos”. O poema apresenta linguagem exaltada, com ritmo e dimensão sonora, intencionando realizar uma representação heroica dos indígenas. SEMANA 2 - LITERATURA BRASILEIRA: IDENTIDADE CULTURAL E ANTROPOFAGIA CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA MÁRIO DE ANDRADE (expoente do modernismo) (Macunaíma,1928 - “O herói sem nenhum caráter”) Macunaíma emprega termos vernáculos, isto é, próximos de sua origem latina, numa imitação malfeita do estilo quinhentista presente na carta de Caminha. Sátira, Paródia, Crítica, Humor, Revisão da História do Brasil, Antropofagia “Na sua estrutura satírica, a Carta é também uma ‘crônica de descobrimento’. Nessa inversão paródica da descoberta do Brasil, o herói chega a são Paulo por acaso (mas não ingenuamente) em busca da muiraquitã. Numa situação inversa àquela dos portugueses, o herói chega ao mundo da máquina, da civilização”. (Maria Augusta Fonseca). A máxima “Tupy or not Tupy, that is the question” é uma síntese das ideias presentes no Manifesto Antropófago por reunir, numa mesma formulação repleta de sentido, a cultura europeia, representada por Shakespeare, e o elemento tupi, nativo, supostamente “selvagem” ou “primitivo”. A questão adquire assim, um caráter cultural, e não existencial como no contexto shakespeariano, a partir de uma “devoração” promovida pela cultura brasileira. Alfredo Bosi estabelece uma relação de causa e consequência entre a capital paulista e o surgimento do Modernismo, ao afirmar que era preciso que uma cidade modernizada e cosmopolita viesse a ser o berço de uma literatura nova. Na obra “Céu, inferno”, Alfredo Bosi menciona: “Nas melhores obras desses autores já se desfez aquela mistura ideológica e datada de mitologia e tecnicismo que o Movimento de 22 começou a propor e algumas vanguardas de 60 vieram a repetir, até a virarem um esquema e norma. Mas a vida cotidiana dos vários grupos que, no seu embate, constituem a sociedade brasileira de hoje, continua encontrando modos de escrever atentos à perplexidade e à opressão que a todos envolve. Saber descobrir o sentido ora especular, ora resistente dessa literatura moderna sem modernismo é uma das tarefas prioritárias da crítica brasileira”. I. ( V ) Os autores Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar e Augusto Boal conservaram as características ostensivas de 22 relativas a críticas, à autoanálise e à linguagem trabalhada. II. ( V ) Embora o Modernismo enquanto nome de um período literário tenha chegado ao fim, muitos escritores continuam escrevendo de modo “moderno”, ou seja, influenciados pelas ideias de 22. III. ( F ) Grandes autores, como Guimarães Rosa, Osmar Lins, João Cabral de Melo Neto, Dias Gomes e Ariano Suassuna, não conservaram as características de 22 e deixaram de resistir à pressão conjugada da massificação e do autoritarismo interno. Dentre os objetivos do Modernismo, está o reconhecimento da identidade do povo brasileiro, considerando os indígenas como parte da cultura nacional. Considerando o cenário histórico que culminou na produção dessas obras marcantes, compare o trecho de uma das cartas de Padre José de Anchieta, em que ele descreve os maus tratos dos colonizadores portuguesespara com os nativos, com um poema de Oswald intitulado “Erro de português”. Texto 1 Fragmento da Carta de Padre José de Anchieta (1554-94): Texto 2 ANDRADE, O. Obras completas. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p. 15. Ambos os textos criticam o processo de aculturação dos indígenas e o modo como foram tratados durante a colonização. A clássica “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, foi um poema lido e relido diversas vezes por poetas de diferentes períodos literários, os quais construíram novos sentidos. O poeta mineiro Murilo Mendes, atuante na Segunda Geração do Modernismo, por exemplo, também escreveu a sua canção do exílio, confira a seguir um fragmento. Abordar o tópico do exílio sob o ponto de vista de uma cultura exilada ou alienada de si mesma, sem identidade e mercantilizada. Leia um trecho do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, de Oswald de Andrade. “O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional. Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época [...] O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica. A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna”. A crítica ao academicismo e a busca por uma identidade literária nacional. Dentre as obras que marcaram a época do Modernismo, está o livro intitulado “Macunaíma” (1928), de Mário de Andrade, cujo personagem principal caracteriza-se por ser um anti-herói. A obra apresenta um misto da cultura popular e culta. Leia, a seguir, um trecho da “Carta pras Icamiabas”, Capítulo IX do livro. I. ( V ) Mário de Andrade realiza uma releitura bem-humorada e crítica da carta de Pero Vaz de Caminha, apresentando uma situação inversa: Macunaíma, o herói indígena, descreve para as índias Icamiabas o que encontra na “civilização” (São Paulo). II. ( V ) O modo satírico e o exacerbado rebuscamento linguístico com os quais foi escrita a “Carta pras Icamiabas” apresenta uma paródia da carta de Caminha. III. ( F ) Não é possível considerar a “Carta pras Icamiabas” como uma paródia porque os elementos culturais e os personagens são outros, ou seja, trata-se do índio escrevendo para as índias e não pressupõe uma descoberta. SEMANA 3 - CULTURA POPULAR, CULTURA ERUDITA Erudito: Gregório de Matos (poesia lírica-religiosa/poesia satírica) UM PROJETO MODERNISTA: “língua certa do povo” As ideias propostas pela Antropofagia de Oswald de Andrade tiveram seus desdobramentos, por exemplo, na música, com a Bossa Nova e a Tropicália. A canção “Tropicália”, de Caetano Veloso, nos levará ao primeiro poeta de que se tem notícia em nossas letras, o também baiano Gregório de Matos. Veremos como seus versos apresentam as tradições popular e erudita da literatura, mas de forma nitidamente separadas. Já no poema “Evocação do Recife”, do modernista Manuel Bandeira, verifica-se um projeto de incorporação da cultura popular pelo poeta erudito, como forma de se chegar a uma identidade cultural verdadeiramente brasileira. Popular: João Cabral De Melo Neto Relações entre trabalho braçal e literatura. Falaremos do poeta João Cabral de Melo Neto, de formação erudita, que sempre se dedicou à cultura popular e às questões relativas ao trabalho e ao trabalhador, como se pode ver em sua obra mais conhecida, Morte e vida severina. A partir de uma ilustração de Angelo Agostini, desenhista do século XIX que representou aspectos da política e da escravidão, trataremos da divisão que sempre se procurou estabelecer entre força de trabalho e cultura letrada, para verificar como esse tema é apresentado por João Cabral no poema “Descoberta da literatura”. O texto “O decifrador de brasilidades”, de Idelette Muzart Fonseca dos Santos, apresenta algumas ideias do escritor Ariano Suassuna, criador do Movimento Armorial, relacionadas à valorização da cultura popular. De acordo com o texto, a postura do escritor em relação à cultura erudita seria de incorporação. Fez parte do projeto modernista a busca por uma "língua certa para o povo”, considerando a confluência do popular com o erudito. Um dos mais representativos poemas modernistas é “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira. Leia a seguir um fragmento desse poema. Evocação do Recife I. Na medida em que se utiliza de um vocabulário coloquial no poema, Manuel Bandeira critica a fala popular presente em Recife. II. O poema enaltece a cidade de Recife antes do turismo ou das influências estrangeiras, por isso menciona “Recife da minha infância”. III. A linguagem popular não deve ser considerada como cultura, por isso as ruas deveriam se chamar “Dr. Fulano de Tal”. IV. A língua certa para o povo é a língua popular, espontânea, por isso o eu-lírico menciona “o de amendoim que se chamava midubim”. Manuel Bandeira, professor, tradutor e crítico literário, fez parte da Semana de Arte Moderna de 1922 com o poema “Os sapos”. Ele foi um representante da Geração de 30 e fez parte da Academia Brasileira de Letras. Analise, a seguir, um fragmento do poema “Evocação do Recife”. I. A invocação da infância é uma temática presente nas obras de Manuel Bandeira, bem como a mistura entre o eu-lírico e o poeta. II. As memórias são percebidas por meio da menção aos lugares da sua infância. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I Considerado um dos grandes nomes da literatura nacional, Ariano Suassuna idealizou o Movimento Armorial, o qual contemplava linguagens populares como a literatura, a dança, as artes plásticas, os folhetos com xilogravuras, o cinema, o teatro etc. Segundo Idelette Muzart Fonseca dos Santos, “Ariano Suassuna escolhe seu rumo poético e nunca abandonará sua rota: a busca da poética popular manifesta-se já nos primeiros poemas publicados”. A ideia era criar uma arte erudita a partir de elementos das raízes populares. A obra considerada a mais representativa de João Cabral de Melo Neto é chamada “Morte e vida severina”, também conhecido como “Auto de Natal pernambucano” (1956). Ela narra a trajetória de Severino, retirante, do sertão ao litoral. O autor dedicou-se à cultura popular e à temática do trabalho e ao trabalhador. João Cabral de Melo Neto é um dos expoentes da poesia Modernista da Geração de 45 (3ª Geração). I. O autor denuncia os problemas sociais do sertão nordestino, por meio dos retirantes que abandonam suas terras por causa da seca em busca de melhores condições. II. A fome e a morte estão tão presentes na vida dos “Severinos” que o poema menciona que as profissões possíveis são ligadas à morte. III. O poema “Morte e vida severina” desenvolve temas relacionados aos aspectos sociais, morais e políticos do sertão nordestino e enaltece o amor à pátria. IV. Ao mencionar uma “vida severina”, o poeta denuncia o sofrimento do povo nordestino, ou seja, é uma “vida miserável”. SEMANA 4 - MULHERES NA LITERATURA BRASILEIRA: TRANSFORMAÇÕES A representação da figura feminina passou por transformações na Literatura Brasileira ao longo do tempo. A mulher assume uma postura passiva nos poemas românticos e um comportamento determinado e ativo em textos realistas, mas como a imagem mais difundida corresponde à de objeto de contemplação ou juízo feito por autores homens. Muitas mulheres escreveram no século XIX, mas a maioria teve suas obras pouco divulgadas para a posteridade. Em linhas gerais, o Romantismo privilegiou a representação da mulher como um ser frágil e etéreo, normalmente a jovem donzela, que muitas vezes é flagrada dormindo, como na poesia de Álvares de Azevedo, sendo ressaltada sua castidade e passividade. Em textos realistas, ela passa a ser descrita como um ser mais atuante, flagrado em suas dimensões concretas, o que não significa que passe a ser demonizada. Mulheres escritoras no século XIX Maria Firmina dosReis (1822-1917), Emília Freitas (1855-1908), Nísia Floresta (1810-1885), Narcisa Amália (1852- 1924), Francisca Júlia (1871-1920), Julia Lopes de Almeida (1862-1934) As mulheres tiveram ativa participação na produção literária do século XIX. Artigos, poemas, contos, crônicas e romances de Nísia Floresta, Maria Firmina dos Reis, Emília Freitas, entre outras, foram publicados sobretudo em periódicos. No entanto, isso não significa que seus textos tenham sido reunidos em volumes, editados, reeditados, comentados. Muitos desses escritos permanecem, portanto, desconhecidos de um público maior. Não é verdadeiro, portanto, que a participação feminina na produção literária só se dá em meados do século XX, nem que anteriormente elas tinham a mesma atuação em relação aos homens. Em termos atuais, a discussão sobre a autoria literária feminina é intensa, e sua participação no campo literário é maior. Entre os motivos que fazem de Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, uma obra relevante e atraente, Tom Farias destaca o modo como a obra alia um retrato realista da vida na favela do Canindé à visão particular da autora, que imprime poesia, lirismo à sua narração. Assim, o interesse da obra vai além de seus cruzamentos com análises sociológicas, ou com questões mais circunstanciais, como os números expressivos das vendas do livro. Embora Carolina tenha conhecido a fama e obtido algum retorno financeiro, a literatura não foi capaz de fazê-la mudar de vida de modo substancial. Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus, em suas obras abordam a despeito das diferenças de gênero literário, de estilo e das problemáticas que instauram, como manifestações de um mesmo tempo, escritas por mulheres e expressivas de uma tópica da falta, que se representa como vazio ou como fome. Considerando a literatura e a autoria femininas, observe a seguir fragmentos de dois importantes poemas da Literatura brasileira. O poema de Adélia Prado é um diálogo intertextual com o poema de Drummond, a releitura feita pela poetisa destaca a mulher como “um ser desdobrável, flexível”. A autoria feminina ampliou-se, em termos de produção e divulgação, no século XX. Veremos, a partir da análise de trechos de duas obras, casos de escritoras que fizeram da literatura sua maneira de se expressar e de se comunicar com o mundo: Carolina Maria de Jesus e Clarice Lispector. I. Quanto à temática, o texto 2, de Clarice Lispector, soa como uma continuação do Texto 1. PORQUE II. São duas autoras femininas fundantes na Literatura brasileira. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. Ao longo do século XX, muitos nomes femininos surgiram, como Ruth Guimarães, Patrícia Galvão, Gilka Machado, Henriqueta Lisboa, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Adélia Prado, Edla Van Steen, Hilda Hilst, Ana Cristina César, Lygia Fagundes Telles e Conceição Evaristo. É preciso reconhecer a produção literária e o talento feminino como intenso e relevante para o cenário cultural e literário brasileiro. 1. Rachel de Queiroz > III. Dentre suas obras mais conhecidas, estão o romance “O quinze” (no qual retrata a luta contra a seca e a miséria nordestina) e o "Memorial de Maria Moura" (foi transformado em produção cinematográfica). Nascida em Fortaleza, no Ceará, foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras e a primeira a receber o Prêmio Camões. 2. Cecília Meireles > II. Foi escritora, jornalista, pintora e professora; apresenta uma obra de caráter intimista, fez parte da Poesia de 30 no Modernismo. Um de seus famosos poemas é “Retrato”, no qual escreveu “que não tinha mais o mesmo rosto, calmo”. 3. Adélia Prado > I. Poetisa, professora por mais de vinte anos e romancista mineira; seu livro chamado "Bagagem" foi recebido com admiração pela crítica, pelo estilo e pela originalidade. Escreveu também releituras de grandes poetas, como Carlos Drummond de Andrade, no poema “Com licença poética”, em que menciona que nasceu um anjo esbelto. Considerando a presença das mulheres na literatura nacional, é preciso saber que elas tiveram participação ativa em periódicos, jornais, revistas e apresentaram ideias abolicionistas, republicanas e feministas. O que ocorreu foi um apagamento posterior desses escritos. Mas os nomes a seguir mostram que as mulheres escreveram sim, e muito, no decorrer do século XIX: Maria Firmina dos Reis (1822-1917), primeira romancista do Brasil, publicou “Úrsula”, obra traduzida séculos depois para diversas línguas; Emília Freitas (1855-1908), uma cearense que escreveu o primeiro romance fantástico do realismo brasileiro; e Nísia Floresta (1810- 1885), poeta e primeira jornalista brasileira. A mulher passou de objeto de contemplação do olhar masculino a uma figura capaz de ver de forma atenta e escrever sobre o que vê A presença da mulher na literatura passou do Romantismo, em que era idealizada, ao Realismo, em que ela observava a sociedade e ao Modernismo, no qual passou a atuar de maneira mais ativa. Observe, a seguir, o “Soneto”, de Álvares de Azevedo, e o trecho da obra "Dom Casmurro”, de Machado de I. O retrato da mulher é apresentado de modo passivo no soneto e de modo atuante no romance, em que Capitu é atenta e observadora. POIS II. A figura das mulheres está presente tanto no Romantismo quanto no Realismo. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. A obra de Carolina Maria de Jesus é oriunda de sua própria história de vida, transformada em literatura. Tendo escrito o gênero “diário” durante anos. A partir da leitura de sua obra, é possível perceber tanto a vida pessoal de Carolina quanto sua visão de mundo diante da realidade brasileira nas favelas de São Paulo. O repórter Audálio Dantas realizou uma reportagem sobre a obra de Carolina, encontrada por ele ao acaso. Atualmente, sua produção conta com traduções em dezesseis idiomas, para quarenta países, de modo que se tornou uma referência dentre as vozes de autoria feminina do século XX. A produção literária de autoria feminina no século XX tem como representante Carolina Maria de Jesus, mesmo que sua obra tenha sido reconhecida anos depois de ser escrita. A biografia de Carolina Maria de Jesus, “do papel que Carolina catava, tirava cadernos, livros e papéis, e nos cadernos escrevia” tornou-se best-seller e foi traduzida para cerca de dezesseis idiomas, em quarenta e seis países; ela é a mulher negra mais publicada no mundo. A história é comovente e, ao mesmo tempo, apresenta muita fabulação, com uma narrativa que fala um pouco da antropologia, da sociologia, com toques de política. O biógrafo questionou por que não se contava essa história da Carolina? Chegou-se a pensar que não foi ela quem escreveu, mas sim fosse uma obra de publicidade. Atualmente, há uma perspectiva de resgate. De 1977 até 2000, ela não foi falada nem editada, mas hoje são escritos artigos, teses e muitas produções sobre sua obra. Carolina representa um lugar de fala específico, antecessor à época, Carolina falava por ela mesma. A palavra escrita é uma forma de escapar da realidade, a partir da manifestação da subjetividade daquele que escreve. Ao escrever sobre o que nos cerca, reconhecemos e avaliamos para poder realizar denúncias de cunho social e compreender o modo como o meio nos abala. É isso que faz a escritora Carolina Maria de Jesus ao enxergar as injustiças e as problemáticas sociais do cenário da favela de São Paulo, na qual vivia; ela posicionou-se e saiu do anonimato. I. A escritora Carolina Maria de Jesus comprova o poder da palavra escrita de autoria feminina e a necessidade de valorização dos escritores que estão à margem da sociedade. POIS II. O gênero diário permitiu o escape do sofrimento cotidiano e a possibilidade de realizar denúncias sociais além de reflexões existenciais. As asserções I e II são proposições verdadeiras,mas a II não é uma justificativa correta da I. De acordo com Marise Hansen, no artigo intitulado “Pão, fama e outras fomes: uma leitura de Carolina Maria de Jesus e Clarice Lispector”, ambas as escritoras refletem sobre o fazer literário e sobre perspectivas femininas de mulheres que fazem parte da sociedade. I. ( V ) O diário de Carolina apresenta parte de sua rotina, em tom autobiográfico, e manifesta seu apreço por escrever mesmo diante das dificuldades cotidianas. II. ( V ) O trecho do conto de Clarice apresenta a mulher como dona de casa, submissa ao marido e limitada ao cotidiano doméstico. III. ( F ) Ambos os trechos apresentam a figura feminina como central da narrativa e atuantes no processo de modificação da realidade. SEMANA 5 - LITERATURA: DO PARTICULAR AO UNIVERSAL O que é pessoal, particular ou subjetivo, adquire um sentido universal por meio do tratamento poético da linguagem. Analisa-se a passagem do subjetivo a um plano mais objetivo, associado a valores ou experiências gerais e a questões sociais. Falar da infância equivale a falar de si, de uma experiência particular e única. Trata-se de um tema essencialmente subjetivo e lírico, portanto. No entanto, ele se universaliza e participa de um plano mais objetivo na medida em que os sentimentos, os afetos, as curiosidades e as descobertas são reconhecíveis pelos leitores, independentemente de eles terem vivido os mesmos acontecimentos. O reconhecimento não se dá, portanto, necessária e exclusivamente por uma identificação social, ou pela idealização da infância como um tempo de felicidade, nem por um suposto alcance filosófico do texto. O que justifica ser a infância um tema universal é seu vínculo com a subjetividade, com algum aspecto essencial comum à humanidade, e não o fato de ser uma tópica abordada por autores de épocas e lugares distintos. Os românticos foram idealistas e saudosistas ao falar do passado. Já no Realismo e no Modernismo, pode-se até verificar uma visão lírica e positiva quanto à infância, mas há também as concepções críticas e pessimistas. No capítulo “O menino mais velho”, de Vidas secas, o primogênito de Fabiano quer saber o significado da palavra “inferno”. Ele não entende a explicação da mãe, e ainda apanha dela por insistir na pergunta. Sugere-se que as personagens estão fadadas a perpetuarem um ciclo de pobreza e ignorância, ideia que, inclusive, pode ser relacionada ao imaginário de “inferno” como local de sofrimento eterno. A miséria, no entanto, é vista no livro como decorrente de um sistema social opressor, razão pela qual não se pode associar o sofrimento a um sentido simbólico de “punição”, “ateísmo” ou “pecado”, conceitos religiosos. Já no conto “A menina de lá”, o advérbio indica a crença num plano transcendental, existente além da matéria, para aonde a alma da menina rumaria após sua morte precoce, não podendo por isso ser relacionado a “riqueza” ou “virtude”. O texto Palestra sobre lírica e sociedade, de Theodor Adorno, demonstra que o lirismo, ao tratar de experiências particulares, não se limita a elas, mas busca o que há de universal. Essa universalidade, partilhada socialmente, tem força humanizadora. O trecho transcrito do texto Palestra sobre lírica e sociedade, de Theodor Adorno, afirma que o “espírito lírico”, isto é, a essência da poesia que trata de um “eu”, é capaz de se constituir como forma de resistência à coisificação do mundo. Em outros termos, a afirmação da subjetividade, da importância do indivíduo, coloca-se num polo oposto ao do mundo que torna tudo mercadoria, atribui a tudo um preço. Assim, o “espírito lírico” se associa à humanização, em oposição a um mundo que desumaniza, coisifica o ser humano, considerando-o objeto comercializável. Nas outras alternativas: os demais pares de opostos não traduzem a ideia central do trecho transcrito. Ao refletirmos do particular ao universal na literatura, é preciso perceber que várias são as perspectivas possíveis para se abordar o tema “infância”. Frente a isso, considere os textos a seguir. Texto 1 Meus oito anos ABREU, C. de. Primaveras. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 20. Texto 2 BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. p. 32. I. (V) No texto 1, o tema “infância” é abordado de maneira idealista e nostálgica, conforme se percebe já nos primeiros versos. II. (V) No texto 2, a “infância” é abordada de maneira realista, utilizando uma linguagem coloquial para narrar as memórias. III. (F) Nos dois textos a infância é apresentada de maneira ressentida, com rancor acerca daquilo que o eu-lírico vivenciou. IV. (F) Nos dois textos a infância é apresentada de maneira realista, pois se tratam de memórias dos autores dos poemas. O filme chamado “Vidas Secas” (Nelson Pereira dos Santos, 1963), com base na obra homônima de Graciliano Ramos, tornou-se um clássico do cinema. Gravado em preto e branco, apresenta um tipo particular de tristeza, a tristeza nordestina causada pela seca. Um filme de poucas palavras e muitas cenas marcantes que consegue representar a obra literária com primazia. I. O texto 1 apresenta a paisagem nordestina a partir do percurso feito pela família de Fabiano para fugir da seca. II. O texto 1 reflete a esperança dos sertanejos porque a caminhada vai levá-los à uma condição melhor. III. Os dois textos apresentam considerações sobre o filme e a obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. IV. O texto 2 mostra que o tempo para os sertanejos e vaqueiros é vivido de modo mais extenso porque a seca é longa, assim como a fome, o cansaço… Tudo demora para passar. O livro intitulado “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, é considerado sua produção mais emblemática, a qual retrata a história miserável de uma família de retirantes pelo sertão nordestino, fugindo da seca. I. O menino mais velho estava se sentindo desolado, desamparado. Abraçava e beijava a cachorrinha Baleia. PORQUE II. Era o único consolo que ele tinha, já que os pais não lhe davam atenção, tampouco explicavam o significado da palavra que queria aprender. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. “Felicidade Clandestina” é um dos contos mais conhecidos e admirados de Clarice Lispector. Leia os fragmentos a seguir. LISPECTOR, C. Laço de família. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. p. 20. Os sentimentos da menina diante do livro e da leitura eram de um apreço tão profundo e verdadeiro que ela o comparou com um amante. O texto 1 é um trecho do capítulo “O menino mais velho”, da obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. O texto 2 é um trecho do conto “A menina de lá”, presente na obra “Primeiras Estórias”, de Guimarães Rosa. Ambos abordam a questão da infância na literatura. Observe como isso ocorre. I. Os pais de Nhinhinha não brigam com a menina por não falar direito ou por falar coisas sem sentido, enquanto os pais do “menino mais velho” são indiferentes ou violentos diante das perguntas dele. II. O texto 2 apresenta a infância como algo mágico, rodeada de aspectos oníricos e fabulosos, e a personagem Nhinhinha é respeitada pela família em suas singularidades. III. Os dois textos apresentam perspectivas semelhantes sobre a infância como um período maravilhoso na vida de cada pessoa, que deve ser relembrado e valorizado em termos de aprendizados. IV. O texto 1 apresenta a infância de maneira áspera. O menino mais velho, que não sabia falar direito, recebeu um cocorote por perguntar o significado da palavra “inferno”, que ouvira dos adultos. Observe, no trecho do conto a seguir, o processo de construção textual e o fazer literário de João Guimarães Rosa. Capítulo “A menina de lá” ROSA, J. G. A menina de lá. In: ROSA, J. G. Primeiras estórias. 46. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. I. A personagem Nhinhinha parece não se adaptar ao meio no qual vive, embora apresente opinião sobre o quea cerca, por exemplo, quando chama o pai de “Menino pidão... Menino pidão...”. II. O modo áspero com que Nhinhinha falava, sem se preocupar em ser entendida, era para não precisar obedecer aos pais, pois gostava de fazer apenas as suas vontades, logo, incomodava a todos. III. O mundo que a menina constrói para si mesma era outro, com nuances voltadas ao fantástico-maravilhoso, o que pode ser percebido pelo trecho “Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma”. IV. As palavras “imperturbada”, “sorrida” e “suasibilíssima” fazem parte do processo de criação estética de Guimarães Rosa, considerado um “inventor de palavras”. De acordo com Theodor Adorno, a lírica não significa a voz individualizada, mas um tipo de anseio coletivo que busca significado na relação do sujeito com a objetividade social. ADORNO, T. W. Palestras sobre lírica e sociedade. In: ADORNO, T. W. Notas de Literatura I. 34. ed. São Paulo: Duas cidades, 2003. I. A lírica é uma expressão da subjetividade que pressupõe uma tensão entre a individualidade e a sociedade. PORQUE II. A expressão da subjetividade do “eu” carece de certa concretude que só é possível por meio da linguagem. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. SEMANA 6 - MACHADO DE ASSIS A literatura machadiana tem um alcance universal por criar personagens e situações em que se podem reconhecer traços da alma humana. Ele trata do egoísmo, dos interesses pessoais, da vaidade, da inveja, da hipocrisia. 1. Um dos problemas da obra de Machado de Assis é o da identidade, é o problema da divisão do ser ou do desdobramento da personalidade. Sob a forma externa, é o problema dos limites da razão e da loucura. 2. Outro problema é o da relação entre o fato real e o fato imaginário, analisa-se principalmente o ciúme. 3. Também há a validade dos atos e de sua relação com o intuito que os sustém. “Que sentido tem o ato?” “Será a vida mais do que uma cadeia de opções?”. 4. Tema da perfeição, a aspiração ao ato completo, à obra total. 5. Qual a diferença entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e o errado? (sentimento profundo de relatividade total dos atos, das impossibilidades de conceituar adequadamente. 6. Transformação do homem em objeto do homem, que é uma das maldições ligadas à falta de liberdade verdadeira, econômica e espiritual. Machado de Assis abordou questões universais sem deixar de fornecer um retrato crítico da sociedade brasileira e opera a dialética local-universal na literatura machadiana. Machado de Assis é “moderno e ousado para a nossa época” é justificada por Alcides Villaça pelo modo como o autor trata de temas e valores universais e atemporais, que se aplicam à humanidade em geral e, portanto, permanecem atuais e têm significado para leitores de diferentes gerações. Na entrevista da TV Brasil com o professor e pesquisador Alcides Villaça sobre a atualidade de Machado de Assis, são destacados aspectos que demonstram a universalidade de Machado de Assis. Ele menciona que o escritor trata não apenas dos defeitos, mas, também, das qualidades das pessoas. A obra machadiana analisa os personagens tanto internamente quanto nas suas relações sociais. Ele permanece atual nos dias de hoje graças às suas reflexões aprofundadas. Machado relativiza os comportamentos das pessoas. Em vez de julgar, busca compreender e explicar a maneira que as leva a ser o que são. I. (V) Por meio da identificação com os personagens e enredos como matéria-prima nacional, Machado de Assis alcançou o universal. II. (V) O escritor problematizou questões filosóficas atemporais, como a compreensão da alma humana. III. (F) A prosa brasileira de Machado de Assis trata dos defeitos das pessoas e julga seus comportamentos sociais. IV. (V) Machado de Assis mapeia os comportamentos das pessoas por meio dos seus personagens, gerando identificação com alegrias ou sofrimentos. A importância e a presença de Machado de Assis nos cenários cultural e literário brasileiros é sinalizada por vários críticos e estudiosos de sua obra. De acordo com o texto “Esquema de Machado de Assis”, presente na obra “Vários Escritos”, de Antonio Candido, analise o trecho a seguir. I. Tipógrafo, repórter, funcionário público… Sua carreira foi plácida e ele foi reconhecido desde cedo. Aos 50 anos já era considerado o maior escritor do país. II. Machado de Assis faz parte dos escritores com biografias desafortunadas. Por ser mulato, sofreu muito preconceito ao tentar participar do cenário literário da época. III. Machado parecia estar à frente da sua época, pois, entre 1880 e 1900, muitos de seus contos já tratavam de assuntos que pertenceriam à ficção do século XX. IV. As obras de Machado de Assis são marcadas por uma penetrante linguagem de qualidade, refinada, e caracterizada pela ironia, pelo humor e por reflexões filosóficas. Machado de Assis não foi apenas um grande escritor. Não apenas escreveu de maneira única, mas, também, foi um “analista da alma humana”. A literatura machadiana tem um alcance universal por criar personagens e situações em que se pode reconhecer traços da alma humana ou do comportamento humano, como o egoísmo, a maldade, os ciúmes, os interesses pessoais, a vaidade, a inveja, a hipocrisia, dentre outros. Identifique corretamente qual aspecto da personalidade humana é exposto por Machado de Assis no conto. A inveja, pois Nicolau estragava tudo que era dos outros. SEMANA 7 - TERRA: POSSE, CULTIVO E CULTURA A frase célebre de Os sertões (Euclides da Cunha, 2001, p. 207 e 208) “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, insere-se num contexto de análise determinista e evolucionista, dominante no pensamento cientificista de intelectuais do fim do século XIX e início do XX, visto que a obra foi publicada em 1902. Já a geração dos romancistas nordestinos das décadas de 1930 e 40 apresentarão o sertanejo e sua relação com a terra e com o sistema socioeconômico a partir de uma visão diferente. A Literatura implica moção (movimento, conscientização) e comoção (sensibilização) para questões sociais; há a problemática da terra e sua recorrência na Literatura Brasileira e temas incômodos, como a pobreza e a morte, com beleza e sensibilidade. Tratar da terra, sobretudo em um país de grande extensão territorial (e não só litorânea) engloba uma série de possibilidades de problematizar questões sociais e culturais, em análises que “olham para dentro”, isto é, procuram explorar um Brasil rico, complexo, muitas vezes pobre materialmente, mas rico culturalmente, afastado dos grandes centros urbanos. Os versos transcritos de Morte e vida severina: A ideia de que o lavrador, só depois de morto, terá uma terra própria para “viver” constitui uma ironia e um paradoxo. É uma forma de se fazer uma crítica à injustiça cometida contra quem passa a vida toda trabalhando a terra sem nunca conseguir obter algo próprio. O lavrador chega ao fim da vida tão miserável como sempre fora. Euclides da Cunha é dos primeiros autores a abordar criticamente o regime de posse da terra e servidão. Percebe-se as visões “de fora” e “de dentro” quando o assunto é o vaqueiro, o sertanejo e a questão da dignidade humana associada à fixação no solo. O desejo de Sinha Vitória, de possuir uma cama de couro (ela e a família dormiam em uma cama de varas) relaciona-se à vontade de dormir com um mínimo de conforto, o que constituiria um aspecto de uma vida digna. É também traço de dignidade e de humanidade poder fazer planos para o futuro, ter alguma estabilidade. As personagens de Vidas secas são privadas disso, pois têm de estar sempre preparadas para mudar-se, para retirar, isto é, fugir da seca. Por isso, não poderiam investir num bem durável e impossível de ser transportado, como a cama de couro. Fabiano e família jamais se insurgem, sua postura é de resignação, submissão. No poema “É o cemitério”,de João Cabral de Melo Neto: A antítese resumidora do poema se dá entre rebuscamento e miséria, pois contrapõe-se o estilo arquitetônico do Cemitério de Floresta do Navio, rebuscado, exageradamente ornamentado, simbolizado pelas imagens evocadas por Constantinopla, arte barroca, gótica e operística, à vida no sertão, caracterizada pela seca, pobreza e privação. A atuação, isto é, o efeito do texto literário é obtido pelo modo como o conteúdo é disposto; em outros termos, a forma, a construção ou estrutura do texto é que garantem a eficácia da mensagem. Em uma interessante “Live” realizada entre Itamar Vieira e Sílvio de Almeida, intitulada “O que TERRA tem a ver com RAÇA”, é possível perceber, a partir da reflexão do autor da obra “Torto Arado”, a importância da terra para todas as pessoas. Observe, no trecho a seguir, como a personagem, Belonísia, evoca uma memória coletiva ao recontar como sua gente chegara àquelas terras e convivera, desde então, com o medo. I. Passaram a chamar os escravos de “trabalhadores” e “moradores” porque já não se podia mais ter escravos. II. A relação entre raça e terra está presente no trecho que menciona o medo de quem foi arrancado do seu chão. III. O medo descrito no trecho está relacionado ao fato de não gostarem da família de Belonísia, pois tinham medo do trabalho. IV. A obra “Torto Arado” é um retrato dos castigos impostos pelos donos de terra aos trabalhadores. O escritor Graciliano Ramos é um dos melhores ficcionistas da segunda fase do Modernismo. Suas obras mais marcantes são “Vidas Secas”, “São Bernardo” e “Memórias do Cárcere”. Em “Vidas Secas”, o autor narra a trajetória de uma família de retirantes nordestinos que foge da seca em busca da sobrevivência. I. (V) “Vidas Secas” é uma obra que narra a história da família de Fabiano, caracterizando o regionalismo nordestino. II. (V) A reflexão sobre “ser gente”, feita por sinhá Vitória, está relacionada a ter uma cama de couro. III. (F) O nordestino não é considerado gente porque vive no interior, passa fome e sede e não tem terra. IV. (F) A mulher de Fabiano vivia com despropósitos e desejava ter tudo que não tinha, o que a caracterizava como ambiciosa. O romance intitulado “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, foi vencedor prêmio Leya 2018 e se destaca no cenário da literatura contemporânea com uma narrativa atual, que apresenta críticas relacionadas ao trabalho, à escravidão, além de aspectos que buscam modificar o pensamento social sobre a presença das mulheres e a valorização da família. Dentre os personagens principais do romance, estão duas irmãs, Bibiana e Belonísia, moradoras de uma fazenda na Chapada Diamantina, na Bahia. Elas fazem parte de uma família que trabalha em uma fazenda chamada “Água Viva”, como agricultoras. I. Mesmo depois de muitos anos da abolição da escravatura, existe uma relação entre raça e terra. II. Os donos das terras não buscavam apenas receber o dinheiro do plantio da roça, mas, também, davam casa e comida aos trabalhadores. III. A escravidão de antes está fantasiada de liberdade, pois o trabalho na terra continua abusivo. IV. Nascer na terra não dá direito a ela. As relações de poder entre os fazendeiros e os trabalhadores se assemelham à escravidão. A literatura é uma linguagem que trata dos mais variados assuntos, escrever sobre a morte é um exemplo disso. Na obra “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, a presença dos coveiros, das covas e da própria morte é tratada como parte natural da vida, necessária para se analisar. Nesse poema, os coveiros conversam sobre a fugacidade da vida e as desigualdades dos espaços nos cemitérios, pois ricos e pobres não podem ser enterrados no mesmo lado. Considerando o trágico período da pandemia de COVID-19, os cemitérios passaram de “espaço outro” para “espaço mesmo” em função da quantidade de óbitos. Assim, o efeito da pandemia retomou a imagem das covas abertas, da quantidade de mortos sepultados, muitas vezes sem a presença dos familiares. I. O poeta João Cabral de Melo Neto se vale da ideia de morte, enterro e cova para caracterizar o sofrimento e a desigualdade, característicos da vida dos retirantes. PORQUE II. Considerando a heterotopia foucaultiana como um “espaço outro”, o período da pandemia de COVID transformou o cemitério em um “espaço mesmo”. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.