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Viva a vida é uma festa e o luto na psicologia O filme *Viva – A Vida é uma Festa* (Coco), da Disney-Pixar, oferece uma representação rica e culturalmente específica da morte e do luto, temas centrais na psicologia. Situado no contexto do *Día de los Muertos* (Dia dos Mortos), uma celebração tradicional mexicana, o filme aborda como os vivos lidam com a perda, a memória e o legado dos entes queridos, temas intimamente ligados à psicologia do luto. ### O Luto e a Continuidade dos Vínculos Uma das ideias centrais de *Viva – A Vida é uma Festa* é a continuidade do vínculo entre os vivos e os mortos. Na psicologia contemporânea, o modelo de "vínculos contínuos" sugere que, em vez de "superar" a morte de alguém, as pessoas muitas vezes mantêm um relacionamento simbólico com o falecido, por meio da memória, dos rituais e de outros atos simbólicos. No filme, esse vínculo é representado pela crença de que os mortos continuam a "viver" no reino espiritual enquanto forem lembrados pelos vivos. A ênfase na importância de recordar os falecidos e honrá-los reflete a maneira como os enlutados podem manter uma conexão emocional com aqueles que perderam. ### As Fases do Luto O filme também ilustra de maneira simbólica as fases do luto, conforme descritas por Elisabeth Kübler-Ross em seu famoso modelo de cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. A família de Miguel vive em uma espécie de negação coletiva do passado, causada pela dor da perda e pelo ressentimento em relação à figura do bisavô, Héctor. A história de vida de Héctor revela a barganha e a depressão que ele enfrenta ao perceber que está desaparecendo do mundo espiritual por não ser lembrado por ninguém. O arco da narrativa culmina na aceitação e reconciliação familiar, em que os personagens finalmente compreendem e fazem as pazes com o passado, permitindo que a memória de Héctor continue viva. ### A Morte como Parte da Vida No contexto da psicologia, *Viva – A Vida é uma Festa* oferece uma visão saudável e integrada da morte, algo frequentemente destacado como crucial para o luto saudável. O *Día de los Muertos* retratado no filme não é apenas uma ocasião para lamentar a perda, mas para celebrar a vida dos falecidos, reconhecendo que a morte é uma parte natural e contínua do ciclo da vida. A psicologia enfatiza que aceitar a morte como uma parte da existência pode ajudar as pessoas a processarem o luto de maneira mais saudável, em vez de evitá-lo ou negá-lo. ### Luto e Cultura Outro aspecto importante que o filme aborda é como o luto é moldado por fatores culturais. O *Día de los Muertos* celebra a conexão entre os vivos e os mortos por meio de altares, oferendas e música, que mantêm viva a memória dos falecidos. Essa visão culturalmente específica do luto contrasta com abordagens mais individualizadas e privadas que predominam em outras culturas, demonstrando a importância de entender o luto no contexto das práticas e crenças culturais de cada sociedade. ### Conclusão *Viva – A Vida é uma Festa* oferece uma perspectiva única sobre o luto, que é tanto profundamente emocional quanto culturalmente significativa. Ao explorar a continuidade dos vínculos entre os vivos e os mortos, o filme ilustra uma abordagem saudável ao luto, em que a memória e a celebração da vida dos falecidos ajudam os personagens a encontrar paz e aceitação. Na psicologia, essa visão de luto sugere que, em vez de esquecer os mortos, é possível integrá- los à vida de maneira significativa e positiva, ajudando a aliviar a dor da perda e a promover a cura emocional.