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Conteúdo do livro Os direitos de nacionalidade são parte constante dos direitos fundamentais expostos na Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, fazem parte dos direitos que garantem aos indivíduos a oportunidade de adquirirem a nacionalidade brasileira ou o respeito aos direitos individuais como estrangeiros. Na obra Direito constitucional I, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, leia o capítulo Dos direitos de nacionalidade, em que você irá conhecer mais sobre os direitos de nacionalidade, a forma como se apresentam na Constituição Federal de 1988, seus conceitos e as espécies de nacionalidade e quase nacionalidade, bem como a diferença entre brasileiros natos e naturalizados. Estudará, ainda, o fato de que os direitos de nacionalidade sofreram mudanças com a vigência da Lei da Migração. Por fim, neste capítulo você verá dois casos do Supremo Tribunal Federal que envolvem os direitos de nacionalidade. Um deles concerne à decisão do Supremo Tribunal Federal quando uma brasileira nata recorreu em razão de pedido de extradição requerido por outro país em virtude de ato ilícito. O outro diz respeito à situação de um estrangeiro cujos pais são brasileiros que, ao atingir a maioridade, requereu a nacionalidade brasileira. Boa leitura. Revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna Bacharel em Direito Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional e em Direito Público Mestre em Direito Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 D597 Direito constitucional I [recurso eletrônico] / Miriany Cristini Stadler Ilanes... et al.; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-445-8 1. Direito constitucional. I. Ilanes, Miriany Cristini Stadler. CDU 342 BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 2 11/06/2018 15:36:44 Dos direitos de nacionalidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar direito de nacionalidade e quase nacionalidade. Analisar as espécies de nacionalidade e as diferenças de tratamento entre brasileiros natos e naturalizados. Apresentar casos das cortes superiores envolvendo o exercício dos direitos da nacionalidade. Introdução A nacionalidade pode ser conceituada como o “[...] vínculo jurídico-político entre o Estado e o indivíduo que faz deste um componente do povo” (NOVELINO , 2017, p. 657). Neste capítulo, você vai estudar o conceito e as espécies de direitos de nacionalidade e quase nacionalidade, e como eles se apresentam na Constituição Federal de 1988, bem como a diferença entre brasileiros natos e naturalizados. Verá, também, que os direitos de nacionalidade sofreram mudanças com a entrada em vigor da Lei da Migração. Por fim, verá dois casos do Supremo Tribunal Federal (STF) que envolvem os direitos de nacionalidade. Da nacionalidade e quase nacionalidade A palavra nacionalidade está ligada à ideia de povo, que demonstra a submis- são a um mesmo poder político sem que, obrigatoriamente, os componentes constituam uma nação. A ideia de nação, por sua vez, volta-se à questão de um grupo de pessoas unido por laços como raça, língua, cultura, tradição, etc. BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 169 11/06/2018 15:36:58 Vejamos mais atentamente a diferenciação entre os termos: No direito constitucional brasileiro vigente, os termos nacionalidade e ci- dadania, ou nacional e cidadão, tem sentido distinto. Nacional é o brasileiro nato ou naturalizado, ou seja, aquele que se vincula, por nascimento ou na- turalização, ao território brasileiro. Cidadão qualifica o nacional no gozo dos direitos políticos e participantes da vida do Estado. Surgem, assim, três situações distintas: a do nacional (ou da nacionalidade), que pode ser nato ou naturalizado; a do cidadão (ou da cidadania) e a do estrangeiro, as quais envolvem, também, condições jurídicas distintas (SILVA, 2014, p. 319). No que tange ao poder legislativo no assunto da nacionalidade, Mendes e Branco (2014, p. 697) ponderam: A prerrogativa de adotar legislação sobre nacionalidade pertence ao direito interno. Todavia, a importância desse tema e a preocupação de que se evite a existência de apátridas, isto é, pessoas sem vínculo nenhum com o Estado, são expressas em diversos instrumentos internacionais. A declaração Uni- versal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) consagra que o Estado não pode arbitrariamente privar o indivíduo de sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Tal preocupação com os apátridas também está afirmada na Convenção Americana de São José da Costa Rica. A Constituição de 1988 trata do conceito de quase nacionalidade no seu art. 12, § 1º: “Aos portugueses com residência permanente no país, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição” (BRASIL, 1988, documento on-line). Tal situação emerge do princípio da reciprocidade entre Brasil e Portugal, também conhecida pela cláusula de reciprocidade, firmada no Tratado da Amizade em 22 de abril de 2001, promulgado pelo Decreto nº. 3.927, de 19 de setembro de 2001. Esse Decreto estabelece a cooperação e consulta entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa. Cabe também a ressalva de que os portugueses não deixam de ser ci- dadãos portugueses, ou seja, ainda são estrangeiros, mas podem exercer direitos que seriam somente conferidos aos brasileiros. Por certo, não podem Dos direitos de nacionalidade170 BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 170 11/06/2018 15:36:58 exercer aqueles direitos que são privativos de brasileiros natos, conforme se depreende do art. 12, § 3º, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, documento on-line): São privativos de brasileiro nato os cargos: I — de Presidente e Vice-Presidente da República; II — de Presidente da Câmara dos Deputados; III — de Pre- sidente do Senado Federal; IV — de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V — da carreira diplomática; VI — de oficial das Forças Armadas. VII — de Ministro de Estado da Defesa. O ministro Celso de Mello manifestou-se, quando de um julgamento de um habeas corpus dentro de um processo de extradição, da seguinte forma: A norma inscrita no art. 12, § 1º, da Constituição da República — que con- templa, em seu texto, hipótese excepcional de quase nacionalidade — não opera de modo imediato, seja quanto ao seu conteúdo eficacial, seja no que se refere a todas as consequências jurídicas que dela derivam, pois, para incidir, além de supor o pronunciamento aquiescente do Estado brasileiro, fundado em sua própria soberania, depende, ainda, de requerimento do súdito português interessado, a quem se impõe, para tal efeito, a obrigação de preencher os requisitos estipulados pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre brasileiros e portugueses (BRASIL, 2004, documento on-line). Da conceituação e da análise dos direitos de nacionalidade e quase nacio- nalidade, cabe trazer ao estudo quais são as espécies de nacionalidade, bem como quais são as diferenças de tratamento entre os brasileiros natos e os brasileiros naturalizados. Espécies de nacionalidade Para a análise das espécies de nacionalidade, é necessário entendermos que, no ordenamento jurídico brasileiro, há dois tipos: a nacionalidade originária, também chamada de primária ou atribuída, e a nacionalidade secundária, também chamada de adquirida, derivada ou de eleição. No tocante à nacionalidade originária, está expressa no art. 12 da Cons- tituição Federal (BRASIL, 1988, documento on-line): São brasileiros: I — natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos 171Dos direitos de nacionalidade BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 171 11/06/2018 15:36:58 no estrangeiro,de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estran- geiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. Assim, são utilizados dois critérios para a atribuição da nacionalidade originária no Brasil: o jus soli (direito de solo), ou seja, o local do nascimento do indivíduo, e o jus sanguinis (direito de sangue); ou seja, leva em conside- ração a filiação do indivíduo. Nesse sentido, de uma forma mais direta, tem direito à nacionalidade originária brasileira quem nasce no Brasil e quem é filho de brasileiro. O art. 12 da Constituição Federal, I, expressa: a (o jus soli); b ( jus sanguinis + critério funcional); c 1ª parte: ( jus sanguinis + registro); c 2ª parte: ( jus sanguinis + opção após 18 anos residindo no Brasil). Esse último caso, que se refere à segunda parte da alínea c do art. 12, I, é a chamada de nacionalidade potestativa, pois parte da opção do indivíduo que, após completar a maioridade, vindo residir no Brasil, opta pela nacionalidade brasileira. Com relação à nacionalidade secundária, o Brasil adotou, na Constituição Federal de 1988, art. 12, a chamada naturalização expressa, uma vez que: [...] a Constituição prevê o processo de naturalização, que dependerá tanto da manifestação de vontade do interessado como da aquiescência estatal, que, por meio de ato de soberania, de forma discricionária, poderá ou não atender à solicitação do estrangeiro ou apátrida (LENZA, 2015, p. 1853). A naturalização expressa pode ser ordinária ou extraordinária. O artigo assim dispõe (BRASIL, 1988, documento on-line): [...] naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Sobre a naturalização ordinária, devemos atentar ao fato de que houve inovações com a Lei nº. 13.445, de 24 de maio de 2017, a chamada Lei de Dos direitos de nacionalidade172 BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 172 11/06/2018 15:36:58 Migração. Assim, temos que seguir a Constituição Federal no art. 12, II, a; porém, a Lei de Migração assim estabelece, no art. 65 (BRASIL, 2017, documento on-line): Art. 65 Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições: I — ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II — ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos; III — comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e IV — não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei. Tal prazo pode ser reduzido se forem preenchidos os requisitos do art. 66 da mesma Lei (BRASIL, 2017, documento on-line): O prazo de residência fixado no inciso II do caput do art. 65 será reduzido para, no mínimo, 1 (um) ano, se o naturalizando preencher quaisquer das se- guintes condições: I — (VETADO); II — ter filho brasileiro; III — ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no momento de concessão da naturalização; IV — (VETADO); V — haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; ou VI — recomendar- -se por sua capacidade profissional, científica ou artística. Parágrafo único. O preenchimento das condições previstas nos incisos V e VI do caput será avaliado na forma disposta em regulamento. Dentro da Lei de Migração, há outros tipos de naturalização, como extra- ordinária (art. 67), exatamente igual ao art.12, II, b; especial (arts. 68 e 69) e provisória (art. 70). Referente à naturalização especial, os arts. 68 e 69 dispõem (BRASIL, 2017, documento on-line): Art. 68 A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes situações: I — seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou II — seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos. Art. 69 São requisitos para a concessão da naturalização especial: I — ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II — comunicar-se em língua por- tuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e III — não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei. 173Dos direitos de nacionalidade BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 173 11/06/2018 15:36:58 No tocante à naturalização provisória, o art. 70 da Lei nº. 13.445/2017 prevê (BRASIL, 2017, documento on-line): A naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de com- pletar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal. Parágrafo único. A naturalização prevista no caput será convertida em definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após atingir a maioridade. Tais requerimentos de naturalização são encaminhados ao órgão compe- tente do Poder Executivo (art. 71) e os seus efeitos são considerados após a publicação no Diário Oficial (art. 73). A naturalização expressa extraordinária está disposta no art.12, II, b, da Constituição: “os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem con- denação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira” (BRASIL, 1988, documento on-line). A Constituição Federal de 1988, no que tange à diferença entre brasileiros natos e naturalizados, fundamenta-se no princípio da igualdade (isonomia). O art. 12, § 2º, afirma: “A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição” (BRASIL, 1988, documento on-line). Os casos previstos na Constituição estão expressos nos arts. 5º, LI; 12, § 3º; 12, § 4, I; 89, VII, e 222. A primeira exceção citada, caso do art. 5º, LI, é referente à extradição, uma vez que o brasileiro nato nunca poderá ser extraditado e, em contrapartida, o brasileiro naturalizado poderá em dois casos: crime comum, cometido antes da naturalização, e tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. A segunda exceção é o art. 12, § 3º, e refere-se aos cargos privativos de brasileiros natos: presidente e vice-presidente da República, presidente da Câmara dos Deputados, presidente do Senado, ministro do STF, carreira di- plomática, oficial das forças armadas e ministro da defesa. A terceira exceção é no mesmo art. 12, § 4º, I, uma vez que tal artigo trata do naturalizado que perde a nacionalidade em razão de atividade nociva ao interesse nacional. O art. 89, VII, trata da quarta exceção, pois apresenta o Conselho da República, que é um órgão superior de consulta do presidente da República. Deste Conselho, a Constituição Federal dispõe que farão parte seis cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 anos de idade. Dos direitos de nacionalidade174 BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 174 11/06/2018 15:36:59 Por fim, a quinta e última exceção encontra-se no art. 222: A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no país (BRASIL, 1988, documento on-line). Do contexto, podemos depreender as espécies de nacionalidade, bem como da quase nacionalidade, e a diferença que há entrebrasileiros natos e naturalizados, expressas na Constituição Federal de 1988. Cabe apresentar, agora, casos dos tribunais superiores no que se refere ao exercício dos direitos de nacionalidade. No Brasil, havia a chamada naturalização tácita. Tal tipo de naturalização tinha o ob- jetivo de povoar o território, pois o número de nacionais era menor que o desejado. Assim, os estrangeiros que eram residentes no País e, dentro de determinado período, não se declarassem com o desejo de permanecer com a nacionalidade de origem automaticamente adquiriam a nacionalidade do país no qual residiam. A Constituição de 1824 assim se manifestava em relação a portugueses (BRASIL, 1824, documento on-line): Art. 6º São cidadãos brazileiros: [...] IV — todos os nascidos em Portugal, e suas Possessões, que sendo já residentes no Brazil na época, em que se proclamou a Independencia nas Provincias, onde habitavam, adheriram á esta expressa, ou tacita- mente pela continuação da sua residência. [sic] Casos do STF e o exercício dos direitos da nacionalidade No que se refere à matéria nas cortes superiores, vamos destacar a decisão junto ao STF. Veremos aqui dois casos: o caso de uma brasileira nata nacionalizada norte-americana que, após cometer ilícito, recorreu em razão de pedido de extradição para os Estados Unidos, e o caso de um estrangeiro, cujos pais são brasileiros, que, ao atingir a maioridade, requereu a nacionalidade brasileira. 175Dos direitos de nacionalidade BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 175 11/06/2018 15:36:59 No primeiro caso, destacamos a questão envolvendo uma brasileira nata que perdeu a nacionalidade. Assim decidiu o STF: CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. BRASILEIRA NATURALIZADA AMERICANA. ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO NO EXTERIOR. FUGA PARA O BRASIL. PERDA DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR. HIPÓTESE CONSTITUCIONALMENTE PREVISTA. NÃO OCORRÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. DENEGAÇÃO DA ORDEM (BRASIL, 2016, documento on-line). A questão pode parecer estranha em um primeiro momento, por se tratar de uma brasileira nata que perdeu a nacionalidade e, por consequência, foi extraditada para o país no qual cometeu ilícito. Do voto do ministro relator do caso, Luís Roberto Barroso, destacamos: A Constituição Federal, ao cuidar da perda da nacionalidade brasileira, es- tabelece duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da naturalização, em virtude da prática de ato nocivo ao interesse nacional, o que, por óbvio, só alcança brasileiros naturalizados (art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição de outra nacionalidade, o que alcança, indistintamente, brasileiros natos e naturali- zados. Nesta última hipótese — a de aquisição de outra nacionalidade —, não será perdida a nacionalidade brasileira em duas situações que constituem exceção à regra: (i) tratar-se não de aquisição de outra nacionalidade, mas do mero reconhecimento de outra nacionalidade originária, considerada a natureza declaratória deste reconhecimento (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b) (BRASIL, 2016, documento on-line). Por maioria de votos, os ministros do STF decidiram pela perda da nacio- nalidade de uma brasileira nata, em razão da aquisição de outra nacionalidade, sendo que não estava contemplada nenhuma das hipóteses de exceção do art. 12, § 4º, II. Outra decisão do STF: SÃO BRASILEIROS NATOS OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO, DE PAI BRASILEIRO OU DE MÃE BRASILEIRA, DESDE QUE VENHAM A RESIDIR NO BRASIL E OPTEM, EM QUALQUER TEMPO, PELA NACIONALIDADE BRASILEIRA. A OPÇÃO PODE SER FEITA A QUAL- QUER TEMPO, DESDE QUE VENHA O FILHO DE PAI BRASILEIRO OU DE MÃE BRASILEIRA, NASCIDO NO ESTRANGEIRO, A RESIDIR NO BRASIL. ESSA OPÇÃO SOMENTE PODE SER MANIFESTADA DEPOIS Dos direitos de nacionalidade176 BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 176 11/06/2018 15:36:59 DE ALCANÇADA A MAIORIDADE. É QUE A OPÇÃO, POR DECORRER DA VONTADE, TEM CARÁTER PERSONALÍSSIMO. EXIGE-SE, ENTÃO, QUE O OPTANTE TENHA CAPACIDADE PLENA PARA MANIFESTAR A SUA VONTADE, CAPACIDADE QUE SE ADQUIRE COM A MAIORI- DADE. VINDO O NASCIDO NO ESTRANGEIRO, DE PAI BRASILEIRO OU DE MÃE BRASILEIRA, A RESIDIR NO BRASIL, AINDA MENOR, PASSA A SER CONSIDERADO BRASILEIRO NATO, SUJEITA ESSA NACIONALIDADE A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DO INTERES- SADO, MEDIANTE A OPÇÃO, DEPOIS DE ATINGIDA A MAIORIDADE. ATINGIDA A MAIORIDADE, ENQUANTO NÃO MANIFESTADA A OPÇÃO, ESTA PASSA A CONSTITUIR-SE EM CONDIÇÃO SUSPENSIVA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA (BRASIL, 2005, documento on-line). Nessa decisão, resta demonstrado o caso em que há manifestação pela nacionalidade brasileira; ou seja, é o caso da nacionalidade potestativa em que o indivíduo, de posse da capacidade civil plena, em razão da sua maioridade, opta, por livre vontade, pela nacionalidade brasileira. Assim, no que compete aos direitos de nacionalidade, o STF decide em consonância com o que estabelece o texto constitucional. No primeiro caso, por mais que se trate de uma brasileira nata, o STF respeita o direito de escolha pela nacionalidade de outra nação. E o mesmo respeito à escolha está expresso no segundo caso, em que o indivíduo, ao atingir a maioridade, escolhe a nacionalidade brasileira. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm>. Acesso em: 23 maio 2018. BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil (de 25 de março de 1824). Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em: 23 maio 2018. BRASIL. Lei n°. 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 maio 2017. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm>. Acesso em: 23 maio 2018. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Extradição nº. 890-1 República Portuguesa, Rel. Ministro Celso de Mello. Julgado em: 5 ago. 2004. Disponível em: <http://redir.stf.jus. br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=325024>. Acesso em: 23 maio 2018. 177Dos direitos de nacionalidade BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 177 11/06/2018 15:36:59 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança nº. 33.864 DF, Rel. Ministro Roberto Barroso. Julgado em: 19 abr. 2016. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/ paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=11685796>. Acesso em: 23 maio 2018. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº. 418.096, Rel. Ministro Carlos Velloso. Julgado em: 22 mar. 2005. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/ constituicao/artigobd.asp?item=%20188>. Acesso em: 23 maio 2018. LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2014. NOVELINO, M. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2014. Dos direitos de nacionalidade178 BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 178 11/06/2018 15:36:59 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.