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1. Contextualização teórica. Funções dos Tribunais Regionais do 
Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho: do controle à 
interpretação, da cassação ao precedente.1 
Embora haja exceções – as ações de competência originária, por exemplo 
–, a jurisdição prestada pelo Tribunal Superior do Trabalho advém, 
precipuamente, do exame de recursos. Recorrer, como a etimologia da palavra 
já revela, diz respeito a “fazer correr novamente”, sujeitar ao refazimento do 
curso já percorrido. Nesse sentido, recorrer de uma decisão judicial significa 
suscitar que o processo corra novamente para que, ao final desse recurso, uma 
nova decisão seja prolatada. 
Um recurso pode desempenhar três funções distintas: revisão, cassação 
ou interpretação. 
O objeto natural do recurso, no sentido etimológico acima referido, é a 
revisão do caso, nos limites propostos pelo recorrente. Recorrer é pedir ao 
Estado que, uma vez mais, faça seu pleito submeter-se ao procedimento 
necessário à prestação da tutela jurisdicional pretendida. Prende-se, portanto, 
com a revisão do caso.2 E uma tal revisão, vista em termos totais (revisar tudo), 
conecta-se com o duplo grau de jurisdição. 
O duplo grau de jurisdição sustenta-se em duas características 
antropológicas:3 a irresignabilidade e a falibilidade humanas. Quanto à primeira, 
é natural que o sujeito que venha a ser contrariado não se conforme com a 
contrariedade. Permitir que ele se insurja contra aquilo que o contrariou é, 
portanto, dar vazão a uma necessidade universal. Quanto à segunda, a sentença 
objeto de um recurso é sempre prolatada por um humano – naturalmente falível. 
 
1 Texto-base para Nota Técnica do CI TRT4, elaborado por Gustavo Martins Baini (Assessor da 
Secretaria-Geral da Presidência). 
2 FELICIANO, Guilherme Guimarães. A função revisora dos tribunais na perspectiva histórica e 
jusfundamental: o direito de recorrer. Origens e limites externos. Revista da Faculdade de Direito 
da Universidade de São Paulo, v. 111, p. 101-121, jan./dez. 2016. 
3 LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1965, pp.1-4 e 127-129, apud GRECO, Leonardo. Princípios de uma teoria geral dos 
recursos. Revista Eletrônica de Direito Processual (UERJ), v. 5, jan.-jun. 2010, p. 7. 
Ante a natural possibilidade de o juiz errar, é imperioso viabilizar uma segunda 
análise.4 
Assim, a jurisdição prestada pelos Tribunais Regionais do Trabalho revela 
o exercício do duplo grau de jurisdição, proporcionando a revisão (no sentido 
visar novamente) o julgamento proferido pelo órgão ad quem, sendo autorizado 
a acessar o caso em toda a sua inteireza, examinando novamente os pedidos 
das partes por meio do recurso, e não propriamente a sentença que antes dele 
os examinou.5 Nestes casos, o tribunal desempenha função revisora: pedidos, 
causas de pedir, pressupostos processuais, defesas e exceções indiretas, 
provas, fatos, direito material alegado, direito não alegado, tudo pode ser 
livremente apreciado pelo tribunal. Quando um tribunal atua na função revisora, 
a devolutividade do recurso é ampla.6 Ou, o que é dizer o mesmo, o âmbito de 
cognoscibilidade do objeto recursal é extenso.7 
Diferentemente da revisão é o julgamento de cassação. 
Na cassação, o objeto do recurso é antes a sentença do que propriamente 
o pedido. Sua finalidade é outra: em vez de revisar todo o caso, atentando aos 
traços antropológicos da irresignabilidade do sucumbente e da falibilidade do 
juiz, a cassação tenciona assegurar que o direito objetivo esteja bem aplicado. 
Em vez da tutela do direito subjetivo das partes, que é o objeto de atenção do 
tribunal de revisão, a corte de cassação visa à tutela do direito objetivo,8 uma 
 
4 Não que um tribunal revisor não possa errar. Como é evidente, pode. Porém, há que se 
reconhecer que a possibilidade de revisão reduz as chances do erro, assim como, de outro lado, 
é preciso estabilizar a solução dada à controvérsia, sendo impossível admitir-se que, ante a 
falibilidade dos julgadores em grau recursal, recorra-se ad infinitum. 
5 Para uma perspectiva invertida a essa, observando a necessidade de tomar a sentença em 
primeira consideração para examinar o recurso, cf. CLAUS, Ben-Hur Silveira; LORENZETTI, Ari 
Pedro; FIOREZE, Ricardo; ARAÚJO, Francisco Rossal de; COSTA, Ricardo Martins; AMARAL, 
Márcio Lima do. A função revisora dos tribunais: a questão do método no julgamento dos 
recursos de natureza ordinária. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo 
Horizonte, n. 84, jul/dez de 2011 
6 Sobre a ampla devolutividade dos recursos de natureza ordinária – os quais, no Brasil, 
oferecem-se aos tribunais que desempenham a função revisora –, cf. BAINI, Gustavo M.; 
ARAÚJO, Francisco Rossal de. Requisitos formais do art. 896, § 1º-A, da CLT: Fundamentação 
vinculada e devolutividade restrita como chaves para admissibilidade do recurso de revista. 
Revista LTr, v. 12, dez. 2021, p. 1.413. 
7 Isso é o que determina o art. 1.013 do CPC e a Súmula n. 393 do TST (e, indiretamente, o 
item III da Súmula n. 422 do TST). 
8 MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e Precedente: dois discursos a partir da decisão judicial. 
Revista de Processo, v. 206, p. 61-78, 2012. 
espécie de salvaguarda do direito contra decisões judiciais antijurídicas, por 
assim dizer. 
Na verdade, é exatamente com esse propósito – proteger a lei contra os 
juízes – que a Cour de Cassation da França Revolucionária nasceu.9 A cassação 
teria lugar quando a decisão judicial contivesse uma “contravention expresse au 
texte de la loi”.10 Ora, o remédio de uma sentença que contraria a lei não seria a 
revisão do caso, mas a anulação da decisão “contraventora”.11 
A função cassacional não resulta das necessidades derivadas do duplo 
grau de jurisdição, mas das necessidades derivadas do controle político das 
decisões judiciais. A experiência com o Conseil des Parties do ancien régime, 
órgão vinculado à nobreza e, por assim dizer, ao Poder Executivo, composto por 
juízes ocupados de assegurar os interesses do monarca, levou os 
revolucionários burgueses, com os ideais do État légal, a estabelecer um 
equivalente para a solidificação do seu novo paradigma de juridicidade – não 
mais o monarca, mas a lei.12 Assim, a Cour de Cassation não era um órgão 
vinculado aos – amigos do rei e, portanto, indignos de confiança – juízes, mas 
ao novo Poder Legislativo, pois “el legislador tiene todos los atributos y todos los 
fueros del mando, el juez es un mecanismo de obediencia”.13 Quando o juiz 
“desobedecesse”, sendo necessária a cassação da decisão ilegal, ninguém 
melhor do que o próprio legislador a fazê-lo. 
Superadas, no paradigma do atual Estado Constitucional, as 
adversidades entre o poder político do monarca e o da lei, a Corte de Cassação 
 
9 Embora se atribua, tradicionalmente, o modelo de corte de cassação à França Revolucionária, 
há quem vislumbre antecedentes ingleses a esse modelo. Cf. NIEVA-FENOLL, Jordi. A origem 
inglesa da cassação francesa. Revista de Processo, v. 311, ano 46, pp. 335-351, São Paulo: Ed. 
RT, janeiro de 2021. 
10 Art. 3º do Decreto novembro-dezembro de 1790. 
11 “Anular uma decisão não é julgar; assim, a cassação não forma parte do poder judicial, mas 
emana do poder legislativo” (Sessão de 24 de maio de 1790 da Rev. Francesa – EMILE 
CHENON, Origines, conditions et effets de la cassation, París, 1882, p. 67, apud VALLS, 
Francisco de A. Condomines. El recurso de casación en materia civil. Barcelona: Bosch, 1978.p. 
22) 
12 ALVIM, Teresa Arruda. Questão de fato e questão de direito nos recursos para tribunais 
superiores. Revista de Processo, v. 332, ano 47, pp. 329-360, São Paulo: Ed. RT, outubro de 
2022, pp. 331-332. 
13 VALLS, Francisco de A. Condomines. El recurso de casación en materia civil. Barcelona: 
Bosch, 1978, p. 22. 
ainda possui a função de controle.14 No entanto, não mais das decisões que 
representem uma “contraventionexpresse au texte de la loi”, mas das que à lei 
confiram “fausse intérpretation” ou uma “fausse application de la loi”.15 Ou seja, 
embora já não se considere que os juízes precisam ser controlados por causa 
da sua fidelidade a algum poder político contrário à lei, ainda se reconhece a 
necessidade de controle da dispersão do significado do direito interpretado pelos 
juízes.16 
Em uma interessante perspectiva da teoria dos precedentes, o processo 
possui duas finalidades: uma subjetiva e particular, outra objetiva e geral.17 O fim 
clássico do processo judicial é assegurar o direito subjetivo das partes que 
invocam o Judiciário. Esta é a sua feição subjetiva: a tutela dos interesses 
particulares das partes. Porém, a transformação do perfil da Corte de Cassação 
que se está tentando demonstrar, sugere que o processo pode acumular uma 
função objetiva: controlar as diferentes interpretações possíveis do direito 
objetivo (nomofilaquia e uniformização) e formar e estabilizar precedentes. Esta 
seria sua feição objetiva: a tutela do interesse geral de toda a sociedade em que 
o Direito seja íntegro, estável, coerente. 
Portanto, a Corte de Cassação, que nasce com uma vocação 
nomofilática, de defender o direito objetivo, passa a desempenhar uma função 
uniformizadora, de reduzir as variações dos significados possíveis do direito 
objetivo.18 
 
14 PROTO PISANI, Andrea. Il ricorso per cassazione in Italia. Revista de Processo, Ed. RT, vol. 
241/2015. p. 361-367. 
15 MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto Corte de Precedentes - recompreensão do 
sistema processual da Corte Suprema. 3. ed. São Paulo: RT, 2017, pp. 44-5, 64-5. 
16 GUASTINI, Riccardo. Interpretare e argomentare. Milano: Giuffrè, 2011. MITIDIERO, Daniel. 
Precedentes – da persuasão à vinculação. 5. ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2023, parte 
I. 
17 MITIDIERO, Daniel. Cortes Superiores e Cortes Supremas – do controle à interpretação, da 
jurisprudência ao precedente. São Paulo: RT, 2014, pp. 27 e ss. MITIDIERO, Daniel. A tutela dos 
direitos como fim no processo civil no Estado Constitucional. R. Trib. Reg. Fed. 4ª Reg. Porto 
Alegre, ano 26, n. 87, 13-214, 2015, pp. 131 e ss. MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e 
Precedente: dois discursos a partir da decisão judicial. Revista de Processo, v. 206, p. 61-78, 
2012. 
18 Teresa Arruda Alvim, com base em Calamandrei (La cassazione civile) é quem bem observa 
que as funções nomofilática e uniformizadora desempenhadas pelas Cortes de vértice, hoje 
cumulativamente, surgiram sucessivamente no tempo, demonstrando, ainda, a travessia do 
Reno do modelo cassacional, desembocando em uma Alemanha culturalmente diversa da 
França Revolucionária e contribuindo para esse desenvolvimento. Cf. ALVIM, Questão de fato e 
No perfil original, a cassação pressupõe que a interpretação do juiz tem 
um caráter meramente cognitivo, como se interpretar fosse um ato de descoberta 
de um significado preexistente (na lei) e, ao pronunciar a sentença, o juiz apenas 
fosse a boca pela qual a lei resolveria a demanda – na célebre formulação de 
Montesquieu. O desvirtuamento desse significado representaria uma 
“contravention expresse au texte de la loi”. 
Já no perfil posterior, a cassação assume a interpretação judicial não 
como uma extração bruta e impessoal do significado objetivamente embutido na 
lei, mas como uma construção lógico-valorativa, na qual o intérprete faz escolhas 
e constrói, argumentativamente, o resultado semântico do signo interpretado. Ao 
proferir a sentença, o juiz atua como um mediador entre a lei e o caso concreto. 
Neste caso, o risco não é, propriamente, de que os juízes “desobedeçam” à lei, 
mas de que, interpretando-a, alcancem normas jurídicas distintas, com prejuízo 
à segurança jurídica, à isonomia e, em última instância, à própria legalidade. A 
cassação, nesse sentido, visa “el preservar de la pureza de la norma, declarando 
su verdadero sentido.”19 
Em ambos os perfis, o papel da Corte de Cassação é de controle da 
interpretação judicial. Entretanto, a transformação do perfil da Corte de 
Cassação – da nomofilaquia à uniformização – vem demonstrando que o 
controle da interpretação judicial é, ele mesmo, mediado pela interpretação – 
interpretação da própria Corte de Cassação acerca do significado do direito.20 
Ou seja, reconhecendo-se que o Direito tem uma natural propensão à 
dispersão, seja pela equivocidade dos textos pelo qual é vazado, seja pela 
vagueza das normas que tais textos representam,21 o controle uniformizador 
passa a ser visto como, ele próprio, uma interpretação do Direito. Admitindo-se 
 
questão de direito…, pp. 330-334: “Ao que parece, a preocupação principal que deu origem à 
cassação francesa, i. e., o temor de que os juízes fizessem as vezes do legislador, na Alemanha 
tomou forma de encontrar uma solução para a desuniformidade da jurisprudência.” (p. 334). 
19 VALLS, El recurso de cassación, p. 26 e 31. 
20 No desempenho de funções judiciais específicas. Para maiores aprofundamentos, cf., sobre 
todos: TARUFFO, Michele. Il vertice ambiguo – saggi sulla cassazione civile. Bologna: Il Mulino, 
1991. Ver, também, BAPTISTA DA SILVA, Ovídio. A função dos tribunais superiores (1999). 
Sentença e coisa julgada (1979). 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. CALAMANDREI, Piero. 
La cassazione civile: disegno generale dell’istituto. Torino: Fratelli Bocca Editori, 1920. 
21 Sobre o caráter duplamente indeterminado do direito, dada a equivocidade do texto e a 
vagueza da norma, cf. GUASTINI, Riccardo. Interpretare e argomentare, pp. 39-62. 
que a lei não carrega a inteireza dos significados (normas jurídicas) que dela se 
podem desenvolver, as Cortes Supremas – já agora sem a função cassacional 
no seu nome – assumem uma nova função, a saber, a de fornecer interpretações 
do Direito que servirão como paradigma de uniformização. Não mais com um 
perfil de controle, como um jardineiro que poda as ervas daninhas, mas de 
desenvolvimento do significado do direito, como um que planta flores. 
Assim, na transição do perfil das Cortes de vértice de Cassação para o de 
Precedentes, as Cortes Supremas passam a ser consideradas não mais como 
tribunais de controle, mas de interpretação;22 não se resumindo a anular as 
decisões “ilegais” e reenviar ao tribunal julgador (ou mesmo substituir-se a ele),23 
mas fornecendo significados normativos à lei; não mais atuando 
retrospectivamente e caso a caso, mas prospectivamente, desenvolvendo o 
significado do direito e aumentando a densidade semântica dos textos legais, 
fornecendo inputs que guiem a interpretação dos juízes e tribunais revisores de 
maneira a reconstruir, a partir da lei, o sistema jurídico. As Cortes Supremas 
passam, portanto, a exercer o papel de produzir precedentes, com toda a carga 
teórica que esse modelo carrega. 
Uma nova compreensão da teoria da interpretação do Direito encaminha 
uma nova função da decisão da Corte Suprema. Não mais cassar, mas atribuir 
autoritativamente sentido à lei. Em lugar de, apenas, conservar o direito 
legislado, passar, a partir dele, ao desenvolvimento do sistema jurídico – 
adscrever significado aos textos normativos interpretados à luz dos casos 
concretos. Em suma, em vez de anular uma decisão que forneça uma 
interpretação desuniformizada, promover a interpretação uniformizadora da lei 
por meio de precedentes. 
A função da Corte de Cassação, nesse perfil transformado, é o meio 
através do qual o Judiciário contribui para reduzir a vagueza da norma e 
 
22 Como bem demonstra o subtítulo da obra de MITIDIERO, Daniel. Cortes superiores e cortes 
supremas: do controle à interpretação, da jurisprudência ao precedente. 3. Ed. São Paulo: RT, 
2017. 
23 GERALDES, António Santos Abrantes. Cassação ou substituição? Livre escolha ou 
determinismo legislativo? In: SOUSA, Miguel Teixeira de; COSTA E SILVA, Paula; PINTO, Rui 
(coord.). As recentes reformas na acção executiva e nos recursos. Coimbra:Wolters Kluwer e 
Coimbra, 2010. 
plurivocidade do texto. Nos contornos do caso concreto, o Judiciário interpreta o 
texto normativo e o aplica, afirmando-o concretamente e definindo o seu 
significado. Esse movimento densifica o direito objetivo, tornando-o mais 
cognoscível, previsível. 
É inevitável que as instâncias ordinárias, por serem múltiplas, produzam 
decisões variadas, pois é praticamente impossível impedir a dispersão a respeito 
do significado da interpretação do Direito, duplamente indeterminado que é. Por 
outro lado, a instância extraordinária, por ser composta por um único Tribunal, 
tem a possibilidade de conferir unidade à interpretação do Direito. 
Com efeito, por encontrar-se no seu ápice, o Tribunal Superior do 
Trabalho constitui a Corte de Precedentes por excelência do sistema judiciário 
trabalhista, já que tem à sua disposição a prerrogativa de examinar controvérsias 
oriundas de todo o país e a seu respeito estabelecer o Direito. Essa posição 
panorâmica no sistema judiciário nacional é estratégica para a promoção da 
Unidade do Direito, favorecendo a segurança jurídica e o tratamento isonômico 
dos jurisdicionados em âmbito nacional.24 Assim, ao julgar um recurso, o TST, 
como Corte de Precedentes, deve ter interesse primário na interpretação do 
Direito (o foco é “a tese” jurídica assentada no acórdão recorrido) e apenas 
secundário no caso concreto.25 
Essa é a justificativa teórica para a incidência de um dos principais óbices 
ao seguimento do recurso de revista. A Súmula n. 126 do TST (editada há mais 
de 30 anos) impede a admissibilidade do recurso de revista interposto “para 
reexame de fatos e provas”.26 Ora, o motivo pelo qual o TST não reexamina fatos 
 
24 Ressaltando a ineficácia nomofilática do recurso avulso e denunciando a inércia do TST quanto 
à instauração de incidentes de recursos de revista repetitivos, cf. PRITSCH, César Zucatti. 
Manual de prática dos precedentes no processo civil e do trabalho – uma visão interna das 
Cortes. 2. ed. Leme: Mizuno, 2023, p. 371 e ss. 
25 BAINI, Gustavo M.; ARAÚJO, Francisco Rossal de. Requisitos formais do art. 896, § 1º-A, da 
CLT: Fundamentação vinculada e devolutividade restrita como chaves para admissibilidade do 
recurso de revista. Revista LTr, v. 12, dez. 2021, p. 1.417. 
26 Aqui não será abordada a espinhosa discussão acerca da imbricação das questões de fato e 
de direito. As defesas das concepções unitária e dualista não cessam. Sobre todos, conferir 
CASTANHEIRA NEVES, Antônio. A distinção entre a questão-de-facto e a questão-de-direito e 
a competência do Supremo Tribunal de Justiça como Tribunal de “Revista”. In: Digesta – escritos 
acerca do Direito, do pensamento jurídico, da sua metodologia e outros. V. 1º. Coimbra: Coimbra, 
1995, pp. 483 e ss. Em uma visão renovada, vale a pena conferir ALVIM, Questão de fato e 
questão de direito… Cabe destacar, apenas, que as Súmulas n. 7 do STJ e 279 do STF, 
congêneres à Súmula n. 126 do TST, referem apenas “provas”, e não “fatos”. Parece ser mais 
e provas é que a sua função não é rejulgar o caso, mas verificar se a 
interpretação do direito objetivo realizada pelo Tribunal Regional se sustenta. 
O recurso de revista, portanto, serve para submeter ao TST apenas a 
quaestio juris, os “efeitos jurídicos” dos fatos assentados no acórdão recorrido. 
O TST apenas mediatamente julga o caso. O interesse imediato do TST é a tese 
jurídica assentada no acórdão recorrido, isto é, a interpretação do julgador a quo 
sobre o direito objetivo aplicado.27 O TST não é uma Corte Revisora e nem de 
Cassação, mas uma autêntica Corte de Precedentes.28 
A transição da redação originária da Súmula n. 221 do TST, de 1985, para 
o seu cancelamento em 2012, confirma a transformação do perfil cassacional 
para o interpretativo do TST. Antes do seu cancelamento, o item II da Súmula 
assentava que “Interpretação razoável de preceito de lei, ainda que não seja a 
melhor, não dá ensejo à admissibilidade ou ao conhecimento de recurso de 
revista com base na alínea "c" do art. 896 da CLT. A violação há de estar ligada 
à literalidade do preceito.” Ou seja, o TST admitia que houvessem várias 
interpretações do mesmo dispositivo de lei, desde que fossem “razoáveis”. 
Contudo, essa tolerância causava o risco de prestação jurisdicional 
regionalizada, com diferenças na distribuição do direito entre os diversos Estado 
da federação – ou mesmo dentro do mesmo estado – dando lugar a que a 
relação capital-trabalho, no Brasil, não tivesse um ordenamento jurídico, mas 
vários. Isso ressalta a importância de uma interpretação unificada do Direito, já 
que, “em nosso país de dimensões continentais, é necessária uma última 
interpretação do direito material e processual do trabalho diante das flagrantes 
 
adequado dizer que o TST não reexamina provas que levaram à conclusão sobre fatos, do que 
dizer que o TST não reexamina fatos e provas. Por exemplo, dizer que “o adicional de 
insalubridade não é devido pelo manuseio de álcalis cáusticos dissolvidos em produtos de 
limpeza” é diferente de dizer que “não havia manuseio com álcalis cáusticos na relação de 
trabalho”. Embora ambas as afirmativas digam respeito a fatos, a primeira pode ser revista pelo 
TST. A segunda, não. 
27 MIESSA, Élisson. CARDOSO, Jair Aparecido. Recurso de revista repetitivo. In: In: PRITSCH, 
César; JUNQUEIRA, Fernanda; HIGA, Flávio; MARANHÃO, Ney (coord). Precedentes no 
processo do trabalho - teoria geral e aspectos controvertidos. São Paulo: RT, 2020, p. 627. 
28 Como já no título afirmou na (já célebre) obra, resultado de profícua pesquisa de mestrado 
recentemente defendida perante a UFRGS, PRITSCH, Cesar Zucatti. O TST enquanto Corte de 
Precedentes. Paradigmas de Cortes Supremas e o Tribunal Superior do Trabalho. Leme: Mizuno, 
2023. Um paralelo com essa afirmativa e seus desdobramentos pode ser observado na também 
célebre e pioneira obra de MARINONI, Luiz Guilherme. O STJ enquanto corte de precedentes – 
recompreensão do sistema processual da corte suprema. 4. Ed., São Paulo: RT, 2019. 
diversidades culturais e socioeconômicas existentes entre os Estados 
brasileiros.”29 
Dado o caráter normativo da interpretação jurídica30 da Corte de 
Precedentes, o papel do TST, portanto, não é o de funcionar como uma terceira 
instância para apreciação do caso, nem como uma instância de mero controle 
das interpretações variadas, mas é formar, confirmar e reformar precedentes.31 
 
 
29 SCHIAVI, Mauro. Ideias para uniformização da jurisprudência do TST e aprimoramento da 
transcendência. In: PRITSCH, César; JUNQUEIRA, Fernanda; HIGA, Flávio; MARANHÃO, Ney 
(coord). Precedentes no processo do trabalho - teoria geral e aspectos controvertidos. São Paulo: 
RT, 2020, p. 645. No mesmo sentido, MALLET, Estêvão. Do recurso de revista no processo do 
trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p. 201. 
30 “Desde o momento em que se percebeu que o texto não se confunde com a norma e que a 
norma não é o objeto, mas o resultado da interpretação, chegou-se à conclusão de que ou a 
interpretação dada ao direito pelo Supremo Tribunal e pelo Superior Tribunal de Justiça era 
encarada como algo dotado de normatividade ou, então, o princípio da igualdade se esfumaça 
em uma abstração irritante em um sistema indiferente à imensa maioria de casos concretos 
idênticos ou semelhantes cotidianamente julgados de maneira diferente.” SCHIAVI, Mauro. 
Ideias para uniformização da jurisprudência do TST e aprimoramento da transcendência. In: 
PRITSCH, César; JUNQUEIRA, Fernanda; HIGA, Flávio; MARANHÃO, Ney (coord). 
Precedentes no processo do trabalho - teoria geral e aspectos controvertidos. São Paulo: RT, 
2020, p. 653. 
31 BAINI, Gustavo M.; ARAÚJO, Francisco Rossal de. Requisitos formais do art. 896, § 1º-A, da 
CLT: Fundamentação vinculada e devolutividade restrita como chaves para admissibilidade do 
recurso de revista. Revista LTr, v. 12, dez. 2021, p. 1.418.

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