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<p>HISTÓRIA DA CULTURA</p><p>INDÍGENA BRASILEIRA</p><p>Empresa: Modular Criativo</p><p>Professora: Tânia Maria</p><p>Sanches Minsky</p><p>Faculdade Campos Elíseos</p><p>(FCE) São Paulo – 2022</p><p>SUMÁRIO</p><p>HISTÓRIA DA CULTURA INDÍGENA BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4</p><p>O Brasil Antes da Colônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4</p><p>A Cultura Indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8</p><p>As Conquistas e as Lutas dos Povos Indígenas Brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14</p><p>BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20</p><p>3</p><p>4</p><p>H I S TÓ R I A DA C U LT U R A I N D Í G E N A B R A S I L E I R A</p><p>O Brasil Antes da Colônia</p><p>Neste tópico, estudaremos a cultura indígena brasileira e, poderemos perceber</p><p>que em muito a história desses povos brasileiros se parece com as histórias dos</p><p>povos africanos.</p><p>O Brasil, assim como a África, teve seu período colonial europeu, e da mesma</p><p>forma nossos indígenas sofreram com os preconceitos dos colonizadores que</p><p>tinham também a mesma visão etnocêntrica que tiveram com os africanos. Ou</p><p>seja, consideravam o modo de vida indígena inferior, pois não apresentavam os</p><p>elementos que os europeus tinham como símbolos de civilização e progresso.</p><p>Pero Vaz de Caminha assim descreveu o Brasil em sua famosa carta ao rei de</p><p>Portugal: num paraíso despovoado, onde tudo se colhia, doces bárbaros viviam em</p><p>paz e europeus eram inéditos.</p><p>Durante muito tempo, tivemos informações escassas e tendenciosas sobre</p><p>nosso território antes de 1500. Sabe-se hoje que esta terra era povoada por milhares</p><p>de indígenas espalhados por inúmeras aldeias,</p><p>Sobre isso, o etnólogo Curt Nimuendaju assinalou, no seu mapa etno-histórico,</p><p>a existência de cerca de 1.400 povos indígenas no território que correspondia</p><p>ao Brasil do descobrimento. Já Julian Steward, em Handbook of South American</p><p>Indians, calculou em 1.500.000 o total de índios que habitavam o Brasil, por sua</p><p>vez, William Denevan projetou a existência de quase 5.000.000 índios na Ama-</p><p>zônia, sendo reduzida posteriormente essa projeção para cerca de 3.600.000.</p><p>(BONISSONI et al., 2021, p. 2)</p><p>Esses povos desenvolviam uma agricultura intensiva, um comércio organizado</p><p>e também guerras permanentes onde o canibalismo era frequente. Um artigo</p><p>da Revista Superinteressante, assinado por Emiliano Urbim, traça um instigante</p><p>panorama sobre esse Brasil e seus legítimos habitantes, antes do “descobrimento”.</p><p>Conforme o autor descreve, “cientistas já encontraram ruínas de mega-aldeias</p><p>na Amazônia. E muitos acreditam que a floresta seja uma obra humana.” (URBIN,</p><p>2022, online).</p><p>Antes da armada Portuguesa, espanhóis já haviam aportado por aqui, algumas</p><p>histórias, mesmo sem a possibilidade de confirmação tem muita coerência. Conta-</p><p>se que em 1541, uma expedição espanhola saiu do Equador em busca da Terra</p><p>da Canela. Dessa forma, rumaram para o Leste e encontraram a nascente de um</p><p>rio gigante, essa nascente tinha aldeias imensas nas duas margens do rio com</p><p>uma população de milhares de indígenas. Desses habitantes, nem todos eram</p><p>pacíficos, em dado momento os exploradores teriam sido atacados por índias</p><p>ferozes, atemorizados, fugiram e foram parar na foz desse rio que deságua no</p><p>oceano Atlântico.</p><p>O nome dado ao rio seria pela associação desses espanhóis ao nome grego</p><p>com o qual caracterizaram as guerreiras: Amazonas. Essa história foi considerada</p><p>absurda e acabou sendo contada como uma lenda.</p><p>5</p><p>Lenda ou não, a visão das margens do rio habitadas com uma superpopulação,</p><p>muito mais do que se tem hoje, é cada vez mais verossímil. Durante muito tempo, se</p><p>acreditou que era impossível viver na selva equatorial. Além disso, as descobertas</p><p>feitas em Marajó por Anna Roosevelt, uma antropóloga americana colocou em</p><p>xeque essa suposição. Dessa forma, foram descobertas nas pesquisas da cientista,</p><p>evidências de um povo que além da arte de executar belos artefatos cerâmicos,</p><p>construiu barrancos antienchentes e em cima deles edificaram aldeias onde viviam</p><p>milhares de indígenas.</p><p>Urbin (2022) continua falando sobre outra descoberta importante, a de outro</p><p>americano, Michael Heckenberger, que identificou ruínas de um assentamento</p><p>permanente no Xingu, chamado Kuhikugu:</p><p>“Os europeus nunca encontraram Kuhikugu e centros semelhantes porque es-</p><p>tavam procurando pela coisa errada. Queriam achar cidades perdidas – e essas</p><p>eram estruturas multicêntricas, com redes de assentamentos, o que eu gos-</p><p>to de chamar de cidades-jardim”, diz Heckenberger. Estruturas semelhantes a</p><p>Kuhikugu foram encontradas por Eduardo Neves perto de Manaus e por Denise</p><p>Schaan e Denise Gomes na selva da Bolívia. A população de uma cidade-jardim</p><p>poderia chegar a 50 mil pessoas – o equivalente às cidades-estado da Grécia.</p><p>(URBIN, 2022, online)</p><p>São pesquisas importantes, que nos levam a refletir sobre um Brasil de milhares</p><p>de anos atrás, com habitantes, que assim como outros povos, desenvolveram</p><p>técnicas e tecnologias avançadas que foram desconsideradas e até extintas em</p><p>virtude de uma colonização eurocêntrica.</p><p>A cidade-jardim perdida</p><p>O sítio arqueológico de Kuhikugu, no alto Xingu, dá pistas sobre como pode</p><p>ter sido a ocupação da Amazônia logo antes do descobrimento. Esse era um</p><p>agrupamento cercado por um muro de galhos e um fosso profundo e largo,</p><p>demonstrando a preocupação em resistir a ameaças externas. Desse centro,</p><p>partiam estradas com vários metros de largura que o conectam a outros centros</p><p>– e imagens de satélite sugeriam que todo o caminho entre as mega-aldeias era</p><p>permeado de hortas e pomares para sustentar uma população de milhares. A</p><p>pesquisa ainda está em andamento, mas esses dados preliminares sugerem que</p><p>a densidade populacional da Amazônia já foi muito maior. (SUPERINTERESSANTE,</p><p>2022, online)</p><p>Acesse e saiba mais: <https://educezimbra.wordpress.com/2022/02/05/</p><p>kuhikugu-civilizacao-amazonica/comment-page-1/></p><p>As pesquisas mostram ainda que grande parte da Amazônia pode ser obra</p><p>do homem. A distribuição de frutas, um solo específico, a terra preta, podem</p><p>sugerir a ação do homem. Heckenberger declara que: “Muitas áreas do Xingu são</p><p>100% antropogênicas, gigantescos pomares. E povos do local ainda dominam</p><p>sofisticados sistemas de uso do solo. Dessa maneira, meu objetivo é que esses</p><p>sistemas possam ser usados para o desenvolvimento sustentável – incluindo os</p><p>indígenas.” (URBIN,2022, online).</p><p>6</p><p>São muitos os mistérios que são revelados pelos arqueólogos, como por</p><p>exemplo, as formações geométricas com dimensões de quadras esportivas -</p><p>os geoglifos -, encontrados no Acre e Bolívia e que foram descobertos quando</p><p>avistados de cima após episódios de desmatamento.</p><p>Surge então a pergunta? O que aconteceu com essas civilizações? O que as</p><p>dizimou? Não foram guerras, disputas ou fenômenos naturais, foram as epidemias</p><p>trazidas pelos brancos, essas mataram mais do que qualquer arma.</p><p>Ainda no artigo que fala sobre o Brasil antes dos colonizadores, Urbim (2022)</p><p>apresenta pesquisas que revelam que nossos ancestrais tinham sistemas de</p><p>comércio muito bem estruturados, onde se efetuavam trocas entre os povos do</p><p>litoral e do sertão e mais, haviam caminhos que levavam os produtos até o Peru,</p><p>onde eram trocados com o Império Inca.</p><p>E o que comercializavam? Vejamos a estrutura básica desse comércio</p><p>levantada por antropólogos franceses: Os indígenas litorâneos tinham sal que</p><p>extraíam do mar e conchas ornamentais, também plantavam a mandioca, cujo</p><p>excedente também era trocado. Os habitantes do sertão tinham milho, feijão e um</p><p>artigo ornamental luxuoso: penas de aves como</p><p>tucano e ema.</p><p>Além disso, todos esses produtos eram objetos de troca com os incas, que</p><p>possuíam objetos de cobre, bronze, prata e ouro. Dessa forma, toda essa atividade</p><p>durante muito tempo não era comprovada e muitos as tinham como lendas, até</p><p>serem encontrados artefatos pré-colombianos em pesquisas arqueológicas pelo</p><p>país, como um machado feito com cobre dos Andes que foi achado em Cananéia-</p><p>SP.</p><p>Segundo Urbim (2022), havia uma malha viária bem estruturada, onde o</p><p>principal ramal era o Peabiru – em tupi: caminho de grama –. Essa via transpunha</p><p>o que são hoje os estados de São Paulo e Paraná, adentrava o Paraguai e subia a</p><p>Cordilheira dos Andes. Conforme o autor descreve, “era como se fosse uma rota da</p><p>seda atravessando a América do Sul, unindo economias e culturas diferentes – uma</p><p>ação entre nações.” (URBIN, 2022, online).</p><p>Diante disso, sobre costumes e tradições dos povos indígenas ancestrais,</p><p>sabemos que suas vidas eram repletas de conflitos e guerras mesmo. Essas</p><p>disputas aconteciam por diversos motivos: Por território, por rios, por esporte, por</p><p>vinganças e, também por motivos religiosos.</p><p>Os ancestrais dos tupis vieram da região onde está Rondônia e sua instalação</p><p>no litoral é fruto de uma invasão a outras aldeias, os tupis queimaram as antigas</p><p>aldeias, mataram guerreiros e escravizam mulheres e crianças, isso aconteceu lá pelo</p><p>ano 1000, dessa maneira os tupis dominavam o litoral. Dessa forma, conseguiram se</p><p>manter nessa região porque tinham conhecimentos mais avançados em agricultura</p><p>– a coivara – baseada em queimadas periódicas.</p><p>Os tupis tinham a crença no mito da Terra sem Mal, que seria um lugar muito</p><p>fértil, sem tragédias ou doenças, com muita abundância, esse lugar, segundo os</p><p>espíritos ficava ao Leste. Desse modo, essa crença explica o êxodo desses povos</p><p>que durou séculos, sempre em direção ao Atlântico.</p><p>7</p><p>Assim, quando a armada de Cabral, aportou na Terra de Santa Cruz,</p><p>encontraram os povos tupis e guaranis que estavam ainda muito imbuídos na</p><p>conquista do litoral. Sendo assim, é claro que as disputas eram vencidas pelos grupos</p><p>mais organizados, numerosos, coesos, com instrumentos mais desenvolvidos e</p><p>preparados para combates.</p><p>Eram flechas, algumas com veneno, outras vezes incendiárias. As invasões</p><p>tinham rituais como, bater os pés no chão com força para causar medo, soprar</p><p>instrumentos feitos com ossos de inimigos. Desse modo, ao fazerem o cerco,</p><p>jogavam pimenta-da-terra em uma fogueira que gerava uma nuvem tóxica que</p><p>afetava os invadidos. Depois vinha o corpo a corpo, onde lutavam com tacapes</p><p>para quebrar os crânios. Incendiavam a aldeia e os prisioneiros eram literalmente</p><p>“comidos” pelos vencedores num ritual antropófago.</p><p>Antropófagos ou Canibais?</p><p>A diferença é sutil, mas faz sentido: canibal é quem come carne humana por</p><p>necessidade; antropófago é quem faz por gosto mesmo. Os índios buscavam</p><p>se apossar da valentia dos rivais. Em um longo ritual o prisioneiro era humilhado</p><p>e exaltado, até o dia em que era servido em partes para o grupo todo-havia</p><p>divisões específicas para homens, mulheres, jovens e velhos. Ser devorado era</p><p>uma prova de ser um guerreiro valente.</p><p>Este era o Brasil antes de Cabral, um território habitado por seus donos,</p><p>que eram numerosos em toda a extensão, que tinham costumes, crenças e</p><p>organizações sociais próprias. Povos complexos que não foram compreendidos</p><p>pelos colonizadores, impregnados de preconceitos e ideais diferentes daqueles</p><p>habitantes.</p><p>No século 16, espalhou-se em Portugal a ideia de que a língua dos índios bra-</p><p>sileiros carecia de três letras: F, L e R – logo, não tinham como ter nem Fé, nem</p><p>Lei, nem Rei.</p><p>A teoria era meio surda – – os índios tinham os três sons – e totalmente míope:</p><p>as instituições só existem se nomeadas em português? Mas resume bem o que</p><p>os portugueses pensavam dos índios: almas a serem catequizadas, doutrinadas</p><p>e governadas. (URBIN,2022, online)</p><p>A História brasileira é forjada pela colonização e pela resistência, como vimos,</p><p>os povos africanos vieram para cá forçados e escravizados, nossos indígenas foram</p><p>dizimados, arrancados de suas terras e desrespeitados em suas mais profundas</p><p>tradições, tanto negros quanto indígenas sofreram colapsos em suas identidades,</p><p>entretanto, hoje estudamos seus legados, embora muita coisa tenha se perdido,</p><p>eles resistiram e preservaram o que foi possível.</p><p>8</p><p>A Cultura Indígena</p><p>Mesmo pertencendo a grupos diferentes, os povos indígenas brasileiros,</p><p>tinham elementos comuns que caracterizavam a cultura indígena na sua totalidade.</p><p>Diante disso, religião, costumes, hábitos e comportamentos similares conferiram a</p><p>esses povos uma identidade. A forma de divisão do trabalho nas aldeias, o modo</p><p>de subsistência com base na caça, na pesca, na agricultura e na coleta, todos</p><p>eram semelhantes, com algumas variações em função das regiões. Dessa forma, a</p><p>comunhão e valorização dos ensinamentos dados pela natureza, é fator essencial</p><p>na cultura indígena. Sabemos que a forma de viver nas tribos, antes da colonização,</p><p>era composta pela caça, a coleta e a agricultura, esse era o modo de subsistência</p><p>dos povos brasileiros.</p><p>• A tradição oral, as histórias contadas, a literatura indígena</p><p>Os pesquisadores das línguas, definem a escrita como um segmento do</p><p>comportamento comunicativo humano, usada para a transmissão de informações,</p><p>isto é, a escrita é um mecanismo de interação, onde por intermédio das mãos.</p><p>Se pensarmos a luz desse conceito, podemos entender a escrita não apenas</p><p>como traços alfabéticos que registram ideias e valores ou eventos. Dessa forma,</p><p>podemos dizer que a escrita sempre esteve presente nas culturas indígenas (e em</p><p>outras culturas consideradas ágrafas, como a africana), podemos admitir como</p><p>escrita os grafismos feitos em cerâmica, tecidos, artefatos de madeira, tatuagens</p><p>e cestarias.</p><p>Por outro lado, a escrita propriamente alfabética, registrando no papel a fala e</p><p>o som, foi introduzida no Brasil pela colonização europeia, e desde o século XVI</p><p>está presente de formas variadas nas comunidades indígenas; porém, foi apenas</p><p>nas duas últimas décadas que surgiu o que pode ser chamado de fenômeno da</p><p>escrita indígena no sentido do aparecimento de um conjunto de textos alfabéti-</p><p>cos escritos por autores indígenas. (SOUZA, 2006, online).</p><p>Quando falamos de cultura oral, devemos pensar as narrativas como</p><p>verdadeiras performances, onde o “contador” imprime variações na impostação da</p><p>voz, na entonação, usa pausas, repetições, sons que imitam animais, fenômenos</p><p>naturais. Sendo assim, todas essas manifestações são características da língua</p><p>falada, portanto, é preciso estar atento a isso, pois escrever é diferente de</p><p>transcrever.</p><p>Transcrever significa passar para a escrita o máximo possível das características</p><p>orais (por exemplo, as mencionadas no parágrafo acima) de um processo oral</p><p>de contar, enquanto escrever significa apenas registrar no papel informações</p><p>consideradas relevantes. (SOUZA, 2006, online).</p><p>Ao entendermos essas diferenças, podemos perceber que aqueles que por</p><p>muito tempo “escreveram” as histórias e lendas indígenas o fizeram sob as suas</p><p>percepções e talvez não à luz do entendimento do próprio povo indígena. Desse</p><p>modo, esses autores escreveram essas histórias e não as transcreveram, podem</p><p>ter deixado de lado características importantes daquelas histórias pois apenas</p><p>registraram no papel o que ouviram.</p><p>9</p><p>Eis a importância da preservação da cultura oral, nela as narrativas ao serem</p><p>apresentadas de maneira performática, assumem o valor de uma propriedade cultural</p><p>coletiva, elas pertencem a uma comunidade, são herdadas de antepassados, são</p><p>memórias aprendidas e passadas de geração para geração. Dessa forma, aquele</p><p>que conta, não é um transmissor, mas sim um guardião de memórias. Ele é um elo</p><p>em uma corrente infinita de contadores. Em cada contação, não é apenas a história</p><p>que é repetida, mas também toda a tradição oral daquela comunidade.</p><p>Não se trata de desvalorizar as histórias ouvidas e escritas</p><p>por escritores</p><p>brancos, pois, de alguma maneira a cultura indígena vai sendo registrada, se trata</p><p>sim, de não deixar a cultura da tradição oral se perder.</p><p>Existem diversos relatos do entendimento entre os indígenas da importância</p><p>da escrita, mas é bem recente a percepção de que ela pode ser um instrumento</p><p>poderoso para resgatar suas culturas e identidades tão ameaçadas pelas sociedades</p><p>em que vivem.</p><p>Surgiu então, um movimento onde os próprios indígenas se constituíram</p><p>pesquisadores, estudiosos de suas culturas e tradições e, dessa forma, vão</p><p>consolidando registros escritos sobre seus povos.</p><p>As escolas indígenas são um exemplo dessas iniciativas, nelas, crianças são</p><p>alfabetizadas e educadas segundo as tradições daquela comunidade, mesmo</p><p>que estejam se preparando para atuar em uma sociedade “branca” com costumes</p><p>ocidentais europeus.</p><p>Hoje, temos diversos escritores indígenas, que escrevem sobre o povo</p><p>indígena, transcrevem suas tradições buscando perpetuá-las, divulgá-las e assim</p><p>afirmar a existência de tantas comunidades indígenas.</p><p>A literatura produzida por indígenas ainda precisa crescer, mas o gênero infanto-</p><p>juvenil acaba servindo como ferramenta de resistência e de conscientização do</p><p>povo brasileiro, já que, na ausência da oralidade, as figuras mitológicas tendem</p><p>a sumir”, diz Ytanajé Coelho Cardoso, professor e escritor da etnia Munduruku.</p><p>(FADDUL, 2021, online).</p><p>Esse é um dos motivos pelos quais os indígenas defendem que deve haver</p><p>uma literatura desses povos que precisa ser lida e escrita pelos seus herdeiros,</p><p>pois trabalhar essas histórias é também uma forma de resiliência.</p><p>Além de revelarem saberes e modos de vida dos povos originários, textos</p><p>escritos pelos próprios indígenas são um meio de resistência e uma forma de</p><p>refletir sobre a pluralidade cultural brasileira.</p><p>Leia mais e conheça algumas obras escritas por autores indígenas.</p><p>Acesse: <https://novaescola.org.br/conteudo/20288/colunas-literarias-21-</p><p>literatura-indigena-10-livros-para-usar-em-sala-de-aula-com-os-alunos>.</p><p>10</p><p>• Religião e crenças</p><p>A religião, que cultuava mitos sobre seres espirituais, variava entre as tribos,</p><p>porém todos acreditavam em entidades espirituais que estavam presentes no</p><p>mundo material.</p><p>Havia, ainda, a crença de que espíritos pudessem encarnar animais e pessoas,</p><p>homens ou mulheres, que estabelecia contato com um mundo dos espíritos – Pajés</p><p>–. A palavra tem origem tupi-guarani e é utilizada para nomear a figura do curandeiro,</p><p>conselheiro ou guia espiritual de um grupo indígena.</p><p>O pajé é considerado uma das figuras mais importantes dentro das tribos in-</p><p>dígenas brasileiras. De acordo com as tradições típicas desses povos, o pajé é</p><p>predominantemente um ancião dotado de poderes sobrenaturais, com a capa-</p><p>cidade de prever o futuro, expulsar espíritos malignos e doenças das tribos.</p><p>Conhecido como “médico da tribo”, o pajé usa técnicas de massagens, banhos</p><p>e até mesmo algumas práticas cirúrgicas para curar os seus pacientes. Além</p><p>disso, é um profundo conhecedor dos “medicamentos naturais”, a base de ervas</p><p>medicinais, raízes, sementes, substâncias animais e minerais que auxiliam, de</p><p>acordo com a cultura indígena, a cura das mais diversas doenças, sejam elas</p><p>físicas ou espirituais. (SIGNIFICADOS, 2022, online).</p><p>Os rituais onde o Pajé atua, são chamados de pajelança, ocorre em festas</p><p>repletas de músicas e danças, na pajelança podem acontecer curas, pedidos,</p><p>comemorações. Nesse ritual, o Pajé inala uma grande quantidade de fumaça que o</p><p>leva a um transe narcótico, isso o permite conectar-se com os espíritos. Na figura</p><p>13, um Pajé da tribo Pataxó.</p><p>Figura 13: O Pajé.</p><p>Fonte: Niveo, 2008</p><p>11</p><p>Comum a todos os povos era a figura do ser supremo, Tupã, um ser sobrenatural</p><p>que tinha poderes de controlar a natureza. Em contraposição, existia a figura de</p><p>Abaçaí, que para alguns grupos, era um espírito do mal.</p><p>Os Indígenas Tupinambás acreditavam no mito da criação do mundo,</p><p>acreditavam em um ser que criou o céu e a terra, mas que também a destruiu. Sendo</p><p>assim, Monan criou os céus e a terra e, também os animais, ele viveu em harmonia</p><p>com os homens, enquanto eram bons e justos. Porém, um dia os homens deixaram</p><p>de ser assim e, Monan enfurecido mandou um dilúvio para a terra. Assim, começa</p><p>a história desse mito. Outro mito é o de Maire-Monan que ensinou a agricultura aos</p><p>homens para que pudessem ter comida em abundância.</p><p>• Ritos</p><p>A diversidade está presente também nos ritos, eles são marcas relevantes</p><p>nas comunidades indígenas.</p><p>Existem os ritos de passagem, que definem as mudanças da fase infantil para</p><p>a fase adulta, esses ritos são diferentes nas sociedades indígenas, os Xavantes,</p><p>por exemplo, separam os meninos da convivência social por um tempo, para que</p><p>eles se preparem para a furação das orelhas, ritual que confirma a passagem para a</p><p>idade adulta. Além disso, há ainda o rito dos Karajá, onde as mulheres confeccionam</p><p>bonecas que representam a família e os eventos que nela acontecem, nascimento,</p><p>casamento, morte etc. Outro rito se dá com os meninos Craós, que aos 12 anos têm</p><p>seus corpos pintados de preto (jenipapo), os cabelos cortados e são confinados</p><p>por sete dias em um espaço ritual.</p><p>• Arte e artesanato</p><p>Os povos indígenas usam diversos adornos em seus corpos, utilizam muitos</p><p>materiais retirados da natureza, como tinta de urucum e jenipapo, colares de</p><p>sementes e outras peças naturais e ainda botoques e enfeites feitos com plumas</p><p>e penas de aves (arte plumária). Desse modo, todos esses elementos tem uma</p><p>simbologia especial, que podem significar muitas coisas para os grupos, como</p><p>identificar a aldeia, a posição social, o sexo e a idade.</p><p>Figura 14: Pataxó.</p><p>Fonte: Howat, 2015.</p><p>12</p><p>Outra forma de expressão e cultura indígena é o artesanato, tanto para</p><p>ornamentos, quanto para utensílios, dentre eles, cestos de palha, cuias, lanças,</p><p>arcos e flechas.</p><p>Figura 15: Artesanato indígena</p><p>Fonte: Teles, 2010.</p><p>Outras manifestações artísticas dos povos indígenas são a música e a dança,</p><p>ambas tinham e têm um papel ritualístico religioso. Sendo assim, quase sempre</p><p>as danças são realizadas nas festas e nos rituais religiosos, com o propósito de</p><p>agradecer ou fazer pedidos aos deuses.</p><p>Nesse contexto, são realizadas na maioria das vezes em grupo, também</p><p>podem ser individuais. Além disso, frequentemente essas danças são executadas</p><p>em duplas pois os passos exigem essa formação ao menos em alguns momentos.</p><p>Outra característica é que em sua maioria precisam ser executadas com os corpos</p><p>pintados e com vestes específicas, já que todos esses elementos têm simbologias</p><p>específicas.</p><p>Algumas danças xamânicas entoadas por alguns grupos da Amazônia usam</p><p>máscaras, esses rituais são conduzidos por Xamãs que como os Pajés contactam</p><p>o sagrado.</p><p>Veja no quadro abaixo, algumas das principais e mais conhecidas danças dos</p><p>indígenas brasileiros.</p><p>Quadro 4: Danças indígenas.</p><p>Fonte: Brasil escola, 2022.</p><p>13</p><p>• Alimentação</p><p>As populações indígenas alimentavam-se basicamente de frutas, legumes,</p><p>verduras, caules, raízes, carnes de caça e peixes. Sendo assim, consumiam frutos</p><p>da sua região como o caju no Nordeste, o açaí no Norte e outros, também os povos</p><p>do norte consumiam o guaraná como fonte de energia para as atividades do dia a</p><p>dia e nas batalhas.</p><p>O principal carboidrato consumido era a mandioca, posteriormente, eles</p><p>aprenderam a processar a mandioca, fazendo farinha, tucupi e tapioca.</p><p>Nos dias atuais, embora mantenham hábitos saudáveis e sustentáveis, os</p><p>indígenas que permanecem em suas terras, tiveram que se adaptar a novos hábitos</p><p>alimentares, a ação do homem com o desmatamento, a poluição, a exploração do</p><p>solo, tornou insuficiente a coleta, a caça e a pesca.</p><p>Os indígenas durante o período da colonização se viram forçados a ingressar</p><p>num modo de vida urbano e rural, isso alterou significativamente a vida indígena,</p><p>nas aldeias e fora delas.</p><p>• Língua</p><p>Outro elemento que distingue os povos indígenas é a língua, sabe-se que</p><p>atualmente existem mais</p><p>de 160 dialetos e línguas entre os povos indígenas</p><p>brasileiros, quando da chegada dos portugueses eram cerca de 1000 línguas. O</p><p>processo de colonização, a dizimação de muitos povos reduziu extremamente esse</p><p>importante elemento da cultura brasileira.</p><p>O povo Tupinambá, habitava grande parte da costa atlântica, isso fez com</p><p>que os missionários portugueses incorporaram a língua para poderem realizar seus</p><p>trabalhos de “catequização”, por sua vez os colonos também incorporaram a língua</p><p>ao seu dia a dia. Assim, durante o período das missões ela foi reconhecida como</p><p>Língua Geral ou Nheengatu. Por isso, temos tantas palavras de origem tupi no</p><p>nosso vocabulário.</p><p>Assim como o tupi influenciou o português brasileiro, todos os contatos</p><p>realizados com outros povos mantêm as línguas em constante transformação.</p><p>Dessa forma, as línguas possuem origens comuns, mas também trocam influências,</p><p>podem fazer parte de divisões mais amplas que são os troncos linguísticos. No</p><p>Brasil, são muitos os indígenas que falam ou entendem várias línguas, sabe-se,</p><p>inclusive que em algumas aldeias, se fala mais de uma língua ou dialeto, a esse</p><p>fenômeno nomeamos multilinguismos.</p><p>Em meio a essa diversidade, apenas 25 povos têm mais de cinco mil falantes</p><p>de línguas indígenas são elas: apurinã, ashaninka, baniwa, baré , chiquitano,</p><p>guajajara, guarani( ñandeva, Kaiowá, Mbya), Galibi do Oiapoque, Ingarikó, Huni</p><p>Kuin, Kubeo, Kulina, Kaingang, Mebêngôkre, Macuxi, Munduruku, Sateré Mawé,</p><p>Taurepang, Terena, Ticuna, Timbira, Tukano, Wapichana, Xavante, Yanomami, e</p><p>Ye’kwana. (POVOS INDÍGENAS, 2022, online)</p><p>14</p><p>• Organização social</p><p>As sociedades indígenas, tanto as ancestrais quanto as dos dias de hoje,</p><p>possuem características bastante importantes, elas valorizam a natureza e o</p><p>respeito aos anciãos, a vida sustentável é uma constante nessas organizações</p><p>sociais, ou seja, retirar da natureza apenas o que é necessário para a subsistência.</p><p>Os mais velhos são considerados sábios e possuem autoridade na tribo.</p><p>Sabe-se que os povos que usavam a língua tupi, tinham uma divisão de</p><p>trabalho com base no gênero e na idade. Assim, idosos e crianças não trabalhavam,</p><p>poderiam ajudar a espantar pássaros e outros animais das plantações. As meninas</p><p>adolescentes eram responsáveis por cuidar das crianças menores; homens adultos</p><p>confeccionaram instrumentos de caça, pesca e guerra, também construíam canoas,</p><p>lutavam nos conflitos com as outras tribos e preparavam a terra para o plantio; as</p><p>mulheres adultas cuidavam da produção agrícola e coleta, fabricavam utensílios</p><p>domésticos, preparavam os alimentos e cuidavam das crianças.</p><p>Entre os povos indígenas não existem divisões de classes sociais como na</p><p>sociedade branca ocidental, todos compartilham os mesmos direitos e recebem</p><p>tratamento igual. A terra é propriedade de todos e quando um membro da tribo</p><p>caça, divide com os demais integrantes do grupo. Os equipamentos de trabalho</p><p>sim, são de propriedade individual como machado, arcos e flechas etc.). Dessa</p><p>forma, a coletividade é uma característica preponderante entre eles. O pajé é o</p><p>sacerdote, conhece os rituais e recebe as mensagens e invoca os deuses, é também</p><p>o curandeiro, pois domina o uso de ervas e outras técnicas de cura. O cacique é</p><p>um importante figura na sociedade indígena é ele é um chefe e é quem organiza e</p><p>orienta toda a comunidade.</p><p>Quanto a Educação, ela acontece na prática, os meninos “curumins”,</p><p>acompanham e observam o pai e os anciões, já as meninas, aprendem com as</p><p>mães e as avós, vale salientar que o aprendizado se dá pelo fazer.</p><p>As Conquistas e as Lutas dos Povos Indígenas Brasileiros</p><p>Quando se fala em cultura indígena, em contribuições para a formação</p><p>da sociedade, em características dos povos, em evolução e colonização, não</p><p>podemos em hipótese alguma deixar passar a oportunidade de entender e analisar</p><p>os aspectos legais que garantem ao povo indígena condições de sobrevivência e</p><p>manutenção de sua cultura.</p><p>Ao longo desses mais de 500 anos de colonização, os proprietários dessa</p><p>terra chamada Brasil, foram usurpados, explorados e dizimados, assim como no</p><p>continente africano, os colonizadores deixaram um rastro de desrespeito e violação</p><p>de direitos. É certo, não seríamos o país que somos hoje, sem os colonizadores,</p><p>é certo também que a história já foi escrita, e que não se pode voltar no tempo,</p><p>mas também é certo que podemos reparar muitos dos erros cometidos por</p><p>nossos antepassados, esse é um movimento que cada vez mais se consolida na</p><p>humanidade, reconhecer os erros e buscar caminhos de reparação com vista as</p><p>uma sociedade mais humana e justa.</p><p>15</p><p>Veremos a seguir algumas importantes discussões a respeito dos direitos dos</p><p>povos indígenas e o que a institucionalidade tem feito em prol desses povos.</p><p>• Direitos constitucionais dos índios</p><p>Os direitos constitucionais dos índios estão expressos num capítulo específico</p><p>da Constituição Federal de 1988 - título VIII, “Da Ordem Social”, capítulo VIII, “Dos</p><p>Índios” -, além de outros dispositivos dispersos ao longo de seu texto e de um</p><p>artigo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.</p><p>Figura 16: Direitos constitucionais.</p><p>Fonte: Brasil, 1988.</p><p>16</p><p>Fonte: Brasil, 1988.</p><p>São direitos que têm pelo menos duas inovações conceituais de suma</p><p>importância, se comparados com as constituições anteriores. Primeiro: é abandonada</p><p>a perspectiva assimilacionista, que via os indígenas como uma categoria social</p><p>transitória, que seria extinta. Segundo: os direitos dos índios sobre suas terras são</p><p>definidos como originários, ou seja, existem anteriormente até mesmo a criação do</p><p>próprio Estado. É o reconhecimento constitucional de que os indígenas foram os</p><p>primeiros habitantes do Brasil.</p><p>O texto constitucional assegura aos indígenas:</p><p>• Direito à diferença</p><p>Os preceitos constitucionais estabelecidos na Carta Magna de 88, asseguram</p><p>aos povos indígenas o respeito à organização social, costumes, línguas, crenças e</p><p>tradições. O caput do artigo 231 é o que estabelece isso.</p><p>Note-se que o direito à diferença não implica menos direito nem privilégios. Daí</p><p>porque a Carta de 88 tenha assegurado aos povos indígenas a utilização das</p><p>suas línguas e processos próprios de aprendizagem no ensino básico (artigo 210,</p><p>§ 2º), inaugurando, assim, um novo tempo para as ações relativas à educação</p><p>escolar indígena.</p><p>Além disso, a Constituição permitiu que os índios, suas comunidades e organiza-</p><p>ções, como qualquer pessoa física ou jurídica no Brasil, tenham legitimidade para</p><p>ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses. (POVOS INDÍGENAS,</p><p>2022, online)</p><p>17</p><p>• Direito à terra</p><p>Garantia dos direitos dos povos indígenas sobre as terras que ocupam por</p><p>tradição reconhecendo sua natureza originária. Quer dizer que o direito a essa</p><p>propriedade é anterior mesmo à formação do próprio Estado, sem necessidade de</p><p>reconhecimento oficial.</p><p>• Outros dispositivos</p><p>Espalhados pelo texto constitucional, outros artigos referem-se aos índios:</p><p>	 A	 responsabilidade	 de	 defender	 judicialmente	 os	 direitos	 indígenas</p><p>inclui-se dentre as atribuições do Ministério Público Federal (art. 129, V)</p><p>	 Legislar	 sobre	 populações	 indígenas	 é	 assunto	 de	 competência</p><p>exclusiva da União (art. 22. XIV)</p><p>	 processar	 e	 julgar	 a	 disputa	 sobre	direitos	 indígenas	 é	 competência</p><p>dos juízes federais (art. 109. XI)</p><p>	 O	 Estado	 deve	 proteger	 as	 manifestações	 das	 culturas	 populares,</p><p>inclusive indígenas (art. 215, § 1)</p><p>	 respeito	a	utilização	de	suas	línguas	maternas	e	processos	próprios	de</p><p>aprendizagem (art. 210, § 2)</p><p>• Declaração da ONU sobre direitos dos povos indígenas</p><p>Após 22 anos de reivindicações e ativismo, no dia 13 de setembro de 2007,</p><p>em Nova Iorque, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)</p><p>aprovou a Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas.</p><p>O texto muito atual e alinhado às perspectivas do século XXI, reflete as lutas e</p><p>reivindicações dos povos indígenas do mundo inteiro. Na declaração,</p><p>encontramos</p><p>princípios fundamentais que estabelecem padrões mínimos para criação de</p><p>mecanismos nacionais e internacionais de defesa dos povos indígenas.</p><p>Principais pontos da declaração</p><p>	 Autodeterminação: os povos indígenas têm o direito de determinar</p><p>livremente seu status político e perseguem livremente seu desenvolvimento</p><p>econômico, social e cultural, incluindo sistemas próprios de educação, saúde,</p><p>financiamento e resolução de conflitos, entre outros. Este foi um dos principais</p><p>pontos de discórdia entre os países; os contrários a ele alegavam que isso poderia</p><p>levar à fundação de “nações” indígenas dentro de um território nacional.</p><p>	 Direito ao consentimento livre, prévio e informado: da mesma forma</p><p>que a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Declaração</p><p>da ONU garante o direito de povos indígenas serem adequadamente consultados</p><p>antes da adoção de medidas legislativas ou administrativas de qualquer natureza,</p><p>incluindo obras de infraestrutura, mineração ou uso de recursos hídricos.</p><p>	 Direito à reparação pelo furto de suas propriedades: a declaração</p><p>exige dos Estados nacionais que reparem os povos indígenas com relação a</p><p>qualquer propriedade cultural, intelectual, religiosa ou espiritual subtraída sem</p><p>consentimento prévio informado ou em violação a suas normas tradicionais. Isso</p><p>pode incluir a restituição ou repatriação de objetos cerimoniais sagrados.</p><p>18</p><p>	 Direito a manter suas culturas: esse direito inclui entre outros o direito</p><p>de manter seus nomes tradicionais para lugares e pessoas e de entender e fazer-se</p><p>entender em procedimentos políticos, administrativos ou judiciais inclusive através</p><p>de tradução.</p><p>	 Direito à comunicação: os povos indígenas têm direito de manter seus</p><p>próprios meios de comunicação em suas línguas, bem como ter acesso a todos</p><p>os meios de comunicação não-indígenas, garantindo que a programação da mídia</p><p>pública incorpore e reflita a diversidade cultural dos povos indígenas.</p><p>• O mundo moderno e as violências contra os povos indígenas</p><p>Impossível falar sobre direitos, cultura, tradições dos povos indígenas e</p><p>não abordar a questão mais nevrálgica deste século no Brasil. A violência que é</p><p>constantemente praticada contra esses cidadãos.</p><p>Resende e Nascimento (2018), fazem uma reflexão e ao mesmo tempo uma</p><p>denúncia, a respeito dos impactos que o Sistema Mundo Moderno/Colonial causam</p><p>sobre a vida dos povos indígenas brasileiros, retomando as bandeiras de luta e de</p><p>resistências destes povos analisam as práticas de dominação e violência que são</p><p>consolidadas por meio da supremacia cultural do ocidente no marco global das</p><p>relações de poder.</p><p>As autoras apresentam diversos argumentos teóricos que provam que</p><p>mesmo com o fim do período colonial e os dispositivos legais criados em leis como</p><p>a Constituição Federal, “a questão dos direitos dos povos indígenas ainda segue</p><p>uma trajetória de acumulação de violências historicamente determinantes da</p><p>vulnerabilidade desses povos.” (RESENDE, NASCIMENTO, 2018, p.2).</p><p>Assim, a violência praticada contra esses povos revela distintas maneiras que</p><p>se perpetuam durante o processo de expansão do mundo capitalista e os processos</p><p>históricos advindos de um marco global que mantém as relações de poder apenas</p><p>reafirmam a condição sistemática de negação de sua identidade e direitos.</p><p>Nos últimos anos, documentos e testemunhos se acumularam revelando um pano-</p><p>rama sombrio e persistente das situações de violência contra os povos indígenas</p><p>do Brasil. As violações mais notórias são aquelas que atentam contra os direitos</p><p>civis, políticos e culturais, impactando a própria existência identitária destes povos.</p><p>Mas, sem dúvida, as mais persistentes são as violações ao direito de propriedade</p><p>comunitária e à autodeterminação. (RESENDE, NASCIMENTO, 2018, p.2).</p><p>O país vive uma crise política, institucional, financeira e ideológica, estamos</p><p>em um dos períodos mais complexos da história do Brasil. Diante desse contexto,</p><p>os povos indígenas brasileiros se deparam com inúmeras ameaças aos direitos</p><p>constitucionais.</p><p>De acordo com o relatório da Violência contra os Povos Indígenas do Brasil,</p><p>realizado pelo Conselho Indigenista de Missionários e o Relatório de Direitos</p><p>Humanos, houve um agravamento das violações dos direitos humanos que são</p><p>cometidas contra os indígenas. Os dois documentos relatam perseguições,</p><p>ameaças e execuções de lideranças indígenas e indigenistas que militam por causa</p><p>desses povos. Dessa forma, a insegurança tanto da vida, quanto da manutenção</p><p>da propriedade aumentou, os riscos ambientais em virtude de várias formas de</p><p>exploração ilegal também aumentaram.</p><p>19</p><p>Em duas décadas do século XXI, com tantos ataques e violação de direitos,</p><p>sem o apoio estatal e até com a retirada de medidas de proteção, assistimos a uma</p><p>lógica econômica neo-liberal agressiva que precisa ser decomposta.</p><p>O apelo é para que mais pessoas se engajem em fóruns de discussão,</p><p>elaboração de políticas públicas, fiscalização dos abusos e que se criem mecanismos</p><p>para refletir e discutir a atualidade, sem mascarar os acontecimentos, é preciso</p><p>romper com a persistência das políticas que anulam direitos e identidades, mas todas</p><p>essas constatações também nos levam a outra certeza, continuamos vivendo em</p><p>um mundo moderno/colonial que extermina os povos indígenas implacavelmente.</p><p>O protagonismo do povo indígena</p><p>Simultaneamente ao processo de auto-organização política dos povos indígenas</p><p>no Brasil, diversas outras ações foram por eles desencadeadas, assumindo</p><p>cada vez mais novos espaços, além daqueles tradicionais: atuando na política</p><p>partidária, desempenhando o papel de professores, agentes de saúde, escritores,</p><p>documentaristas, pesquisadores, entre outros, sempre divulgando suas lutas</p><p>e, principalmente, suas ricas culturas e modos de vida diferenciados. (POVOS</p><p>INDÍGENAS BRASIL, 2022).</p><p>Essas são com toda certeza, ações afirmativas tomadas pelos próprios indígenas,</p><p>entretanto deve ser um compromisso de todos cidadãos brasileiros!</p><p>Leia o artigo de RESENDE, NASCIMENTO,2018: Lógicas do Sistema Mundo</p><p>Moderno Colonial e violências contra os Povos Indígenas no Brasil.</p><p>Acesse: <https://periodicos.unb.br/index.php/interethnica/article/</p><p>view/12243/10755>.</p><p>20</p><p>B I B L I O G R A F I A</p><p>BEZERRA, Juliana. Cultura Africana. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/cul-</p><p>tura-africana/>. Acesso em: 22/09/2022.</p><p>BONISSONI, Natammy Luana et al. A História dos povos indígenas brasileiros. Disponível</p><p>em: <https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/6820/1/M%C3%B3dulo%201%20-%20</p><p>A%20Hist%C3%B3ria%20dos%20povos%20ind%C3%ADgenas%20brasileiros.pdf>. Acesso</p><p>em: 25/09/2022.</p><p>BORGES, Gessica. Cultura Africana. 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