Prévia do material em texto
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA Unidade 2 Evolucionismo e Escolas Antropológicas CEO DAVID LIRA STEPHEN BARROS DIRETORA EDITORIAL ALESSANDRA FERREIRA GERENTE EDITORIAL LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS PROJETO GRÁFICO TIAGO DA ROCHA AUTORIA SILVIA CRISTINA DA SILVA 4 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A U TO RI A Silvia Cristina da Silva Olá. Sou CEO na empresa Modular Criativo - produtora de conteúdos didáticos; Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Centro Universitário de Ensino Octávio Bastos, UNIFEOB; Mestre Interdisciplinar em Educação, Ambiente e Sociedade das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE, atuando na linha de pesquisa em Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. Participação discente em Seminários e Palestras no Mestrado Acadêmico em Análise do Discurso na Universidade Federal de Buenos Aires; Especialista em Docência no Ensino Superior e em Direito e Educação (FCE). Atua como Consultora Jurídica e Fiscal e Investigadora de Antecedentes para o exterior (México e Argentina), Docente, Tutora e Conteudista para cursos de graduação e pós-graduação, Elaboradora de Questões para Concursos Públicos, Redatora, Tradutora e Intérprete da Língua Espanhola e Portuguesa, Degravadora e Transcritora de áudios e textos. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! 5SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 ÍC O N ES 6 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 SU M Á RI O Evolucionismo antropológico ................................................ 11 Origens e Princípios do Evolucionismo Antropológico ............................... 11 O Surgimento do Evolucionismo Antropológico ........................... 12 Princípios Fundamentais do Evolucionismo Antropológico ........ 14 Evolucionismo antropológico e a análise de fenômenos sociais contemporâneos ................................................................................................15 Evolucionismo antropológico: uma ferramenta para entender o contemporâneo ...................................................................................16 Limitações e críticas na aplicação do evolucionismo antropológico .......................................................................................17 Contribuições do evolucionismo antropológico para a análise sociocultural contemporânea ...........................................................18 Evolucionismo antropológico no contexto da cultura contemporânea .. 19 Globalização e evolucionismo antropológico ................................ 20 Tecnologia digital e evolucionismo antropológico ........................ 21 Diversidade cultural e evolucionismo antropológico .................. 22 Críticas e limitações do evolucionismo antropológico na cultura contemporânea ..................................................................................23 Antropologia Inglesa e Estadunidense ................................. 27 Raízes históricas da antropologia inglesa e estadunidense ..................... 27 Evolução da Antropologia na Inglaterra .......................................... 29 Evolução da Antropologia nos Estados Unidos ............................. 30 Comparação entre a Antropologia Inglesa e a Estadunidense .. 31 Contribuições notáveis da Antropologia inglesa e Estadunidense para o campo Antropológico ........................................................................................32 Pioneiros da Antropologia Estadunidense .................................... 33 Pioneiros da Antropologia inglesa .................................................. 34 Impacto global e relevância atual .................................................... 35 Aplicação da Antropologia inglesa e Estadunidense na análise de fenômenos sociais e culturais .........................................................................36 Aplicação da Antropologia Inglesa ................................................... 37 Aplicação da Antropologia Estadunidense ..................................... 38 7SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Escolas Antropológicas ........................................................... 42 Notas Introdutórias ..........................................................................................42 Escola de Manchester e Edmund Leach: conflito e mudança estrutural 43 O enfoque da Escola de Manchester .............................................. 44 Edmund Leach e seus estudos .........................................................45 Comparação entre escola de Manchester e Edmund Leach ...... 46 Impacto e influência atual .................................................................47 Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa: enfoques teóricos 48 Desenvolvimento do materialismo cultural ................................... 49 Desenvolvimento da Antropologia Interpretativa ......................... 50 Comparação entre Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa .......................................................................................51 Influência e relevância atual do Materialismo Cultural e da Antropologia Interpretativa ..............................................................52 Marxismo, Antropologia Histórica, Pós-Modernismo e Antropologia do Colonialismo: Perspectivas de Análise ........................................................... 53 Marxismo na Antropologia ...............................................................54 Antropologia Histórica .......................................................................55 Pós-Modernismo na Antropologia ................................................... 56 Comparação entre as quatro perspectivas ................................... 57 Impacto e influência atual .................................................................58 Etnologia Indígena, estudos Ético-Raciais no Brasil ............ 62 Notas Introdutórias ...........................................................................................62 Política Indigenista no Brasil: Legislação e Desafios ................................... 64 Legislação Indigenista no Brasil .......................................................64 Desafios das Políticas Indígenas .....................................................65 Reflexões e Perspectivas futuras .....................................................67 Etnologia Indígena no Brasil: Estudo e Abordagens ................................... 68 Métodos de Estudo em Etnologia Indígena ................................... 70 Abordagens Teóricas em Etnologia Indígena ............................... 71 Estudos Étnico-Raciais no Brasil: Identidade, Racismo e Desigualdade .. 73 8 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A PR ES EN TA ÇÃ O Bem-vindo à Unidade 2 de Sociologia e Antropologia! Neste material, vamos mergulhar nos principais conceitos, teorias e abordagens da sociologia e da antropologia, explorando a riqueza e a diversidade das sociedades humanas e suas culturas. No primeiro capítulo, "Evolucionismo Antropológico", vamos nos aprofundar em teorias e ideias que buscaram compreender a evolução das sociedades humanas ao longo do tempo. Vamos explorar as diferentes perspectivas evolucionistas e refletir sobre seus impactos no campo da antropologia. Em seguida, no capítulo "Antropologia Inglesa e Estadunidense", vamos explorar as contribuições notáveis dessas duas escolas antropológicas para o desenvolvimento do campo. Vamos conhecer os principais teóricos, suas abordagens e como suas pesquisas influenciaram a compreensão da cultura e da sociedade. No terceiro capítulo, "Escolas Antropológicas", vamos explorar uma variedade de abordagens teóricasde entender e estudar a cultura humana. Ambas tiveram impactos significativos no campo da antropologia e continuam a ser relevantes para a pesquisa antropológica contemporânea. Influência e relevância atual do Materialismo Cultural e da Antropologia Interpretativa O materialismo cultural e a antropologia interpretativa continuam sendo influentes na pesquisa antropológica contemporânea e mantêm relevância em diversas áreas do conhecimento. O materialismo cultural, com raízes na teoria marxista, inspirou novas abordagens para o estudo da cultura, enfatizando a importância das condições materiais de vida no moldar das sociedades humanas. Esse enfoque tem sido aplicado em estudos de ecologia cultural, antropologia econômica e política, fornecendo uma perspectiva robusta para compreender as transformações culturais na era globalizada (HARRIS, 1979). Por outro lado, a antropologia interpretativa se destaca na compreensão das sutilezas dos significados culturais e na interpretação de práticas e rituais humanos. Essa abordagem tem impactado, profundamente, estudos de antropologia da religião, de gênero e de antropologia urbana, contextos em que a interpretação de símbolos e significados é crucial (GEERTZ, 2000). 53SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Em uma era de globalização acelerada e de interconexão, tanto o materialismo cultural quanto a antropologia interpretativa oferece ferramentas valiosas para entender a complexidade e a diversidade da cultura humana. Com seus focos respectivos na estrutura material e nos significados simbólicos, essas escolas antropológicas continuam a moldar o campo da antropologia e o entendimento contemporâneo da cultura e da sociedade. Marxismo, Antropologia Histórica, Pós-Modernismo e Antropologia do Colonialismo: Perspectivas de Análise Certamente, a abordagem marxista, a antropologia histórica, o pós-modernismo e a antropologia do colonialismo desempenham um papel significativo na análise de fenômenos socioculturais. As lentes marxistas na antropologia nos permitem compreender as interações sociais em termos das estruturas econômicas que as moldam. Seguindo a visão de Karl Marx sobre a luta de classes e a exploração econômica, essa perspectiva interpreta fenômenos socioculturais como resultantes das contradições inerentes ao sistema capitalista (BOTTOMORE, 1988). A antropologia histórica, por outro lado, proporciona uma visão de longo prazo dos fenômenos socioculturais. Essa abordagem combina os métodos da história e da antropologia para explorar as mudanças socioculturais ao longo do tempo e para entender as sociedades contemporâneas no contexto de sua história (KNAUFT, 1991). 54 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 O pós-modernismo na antropologia questiona os pressupostos tradicionais da disciplina, desafiando a objetividade e a possibilidade de conhecimento universal. Essa perspectiva incentiva a reflexividade e a atenção à diversidade cultural, à subjetividade e ao poder no processo de produção do conhecimento (CLIFFORD; MARCUS, 1986). Finalmente, a antropologia do colonialismo examina o impacto duradouro do colonialismo nas sociedades humanas. Essa perspectiva ajuda a entender como o colonialismo moldou e continua a moldar as identidades, as culturas e as estruturas políticas e econômicas das sociedades ao redor do mundo (ASAD, 1973). Vamos, então, aprofundarmo-nos, um pouco mais, em cada uma dessas abordagens em seções subsequentes. Marxismo na Antropologia O marxismo na antropologia proporciona uma visão fundamental da estrutura social e das relações de poder. Inspirada pela obra de Karl Marx, essa escola de pensamento concentra-se na análise das relações de produção e no papel do conflito de classes na formação das sociedades (BOTTOMORE, 1988). Ao contrário de abordagens que veem a cultura como um sistema harmonioso, o marxismo na antropologia enfatiza o conflito e a desigualdade como forças motrizes das mudanças sociais. Argumenta que as relações econômicas, especialmente as de propriedade, determinam a estrutura da sociedade e da cultura (GODELIER, 1977). Essa abordagem tem sido particularmente útil para estudar a formação do capitalismo, a natureza do imperialismo 55SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 e a persistência da pobreza. Também permitiu aos antropólogos questionar as noções comuns de "progresso" e "desenvolvimento" e prestar atenção à exploração e à marginalização inerentes a esses processos (WOLF, 1982). Hoje, a antropologia marxista continua a ser uma ferramenta importante para entender a globalização, a desigualdade e as lutas por justiça social. Antropologia Histórica A antropologia histórica surge como uma maneira de integrar a história e a antropologia, combinando métodos e perspectivas de ambas as disciplinas para uma compreensão mais rica e matizada das sociedades humanas (KNAPP, 1992). Esse campo tem o objetivo de revelar o contexto histórico das culturas e sociedades estudadas, não as vendo como entidades estáticas, mas, sim, como em constante evolução e moldadas por eventos históricos específicos (PATTON, 2002). Para os antropólogos históricos, a mudança cultural não é um processo gradual e homogêneo, mas é moldada por conflitos, contradições e rupturas (KNAPP, 1992). SAIBA MAIS Um exemplo-chave de antropologia histórica é a obra Europe and the people without History (1982), de Eric Wolf, em que se demonstra como as sociedades consideradas "primitivas" ou "tradicionais" são, na verdade, influenciadas, profundamente, por forças globais como o capitalismo e o colonialismo. Hoje, a antropologia histórica continua a influenciar a maneira como entendemos a mudança cultural e a complexidade das sociedades humanas, destacando o papel da história e 56 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 do contexto histórico na formação da cultura e da sociedade (INGOLD, 2007). Pós-Modernismo na Antropologia O pós-modernismo na antropologia surgiu na década de 1980, como uma resposta crítica ao modernismo e como uma tentativa de questionar e de reconfigurar o papel e os métodos da disciplina (CLIFFORD, 1988). Essa abordagem teórica tem como foco a desconstrução, a relativização e a contestação das verdades absolutas e dos discursos dominantes. A antropologia pós-moderna questiona as narrativas meta-históricas, argumentando que não existem verdadeiros "fatos" universais, mas apenas interpretações variadas e contextuais da realidade (GEERTZ, 1988). Da mesma forma, essa corrente teórica contesta a ideia da existência de uma "cultura" homogênea e coerente dentro de um grupo social, enfatizando a diversidade, a mudança constante e o conflito interno. Um dos principais representantes da antropologia pós-moderna é Clifford Geertz, cuja obra tem sido influente na redefinição do conceito de cultura e na promoção de uma abordagem interpretativa da antropologia (GEERTZ, 1973). Hoje, apesar das controvérsias, o pós-modernismo tem uma influência importante na antropologia, provocando reflexões sobre a objetividade, a ética e a política do trabalho antropológico e incentivando a inclusão de múltiplas perspectivas e vozes nos estudos antropológicos (MARCUS, 1998). 57SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Comparação entre as quatro perspectivas Comparar o marxismo, a antropologia histórica, o pós- modernismo e a antropologia do colonialismo é perceber como cada um desses paradigmas oferece uma maneira única e valiosa de entender a cultura e a sociedade. A abordagem marxista, com sua ênfase nos modos de produção e nas relações de classe, proporciona uma poderosa lente para examinar a desigualdade e a exploração (GODELIER, 1977). O marxismo permite uma análise das sociedades em termos de luta de classes, modos de produção e forças materiais, permitindo uma abordagem crítica do capitalismo e da economia global. A antropologia histórica, por sua vez, destaca a importância da historicidadee da mudança temporal na compreensão das sociedades humanas (BLOCH, 1998). Busca compreender a cultura e a sociedade dentro de uma perspectiva de longa duração, enfatizando as continuidades e as mudanças ao longo do tempo. O pós-modernismo questiona as metanarrativas e desafia a ideia de uma única verdade universal (CLIFFORD, 1988). Oferece uma abordagem que é sensível às múltiplas vozes, perspectivas e realidades dentro de qualquer cultura ou sociedade. Finalmente, a antropologia do colonialismo nos ajuda a compreender as relações de poder que moldam o mundo moderno (ASAD, 1991). Destaca como as práticas e ao discursos coloniais continuam a influenciar a maneira como as sociedades e as culturas são entendidas e representadas. 58 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Ao olharmos para essas quatro abordagens juntas, vemos como cada uma oferece uma maneira diferente mas complementar de compreender a complexidade das sociedades humanas. Impacto e influência atual A análise do impacto e da influência atual das diferentes abordagens antropológicas é fundamental para compreender a relevância contínua desses paradigmas no campo da antropologia e além. Ao examinarmos como essas perspectivas têm moldado o pensamento contemporâneo e suas contribuições para a compreensão dos fenômenos sociais e culturais, podemos apreciar sua relevância contínua e seu impacto duradouro. Uma abordagem que tem demonstrado um impacto significativo é o materialismo cultural, que enfatiza a importância dos fatores materiais na formação e na transformação das sociedades (HARRIS, 1979). O materialismo cultural continua a influenciar a forma como os antropólogos estudam a economia, a estrutura social e as relações de poder. Outra perspectiva relevante é a antropologia interpretativa, que se concentra na interpretação simbólica e na compreensão dos significados culturais (GEERTZ, 1973). Essa abordagem tem sido fundamental para a compreensão das práticas culturais e da construção social da realidade. O marxismo também continua a ter um impacto considerável na análise de questões sociais e econômicas, oferecendo uma perspectiva crítica das estruturas de poder e desigualdade (WOLF, 1982). O marxismo fornece ferramentas conceituais e teóricas para analisar as relações de classe, o capitalismo e as dinâmicas de exploração. 59SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Por fim, a antropologia do colonialismo tem sido cada vez mais relevante na análise das relações de poder, do pós-colonialismo e da interculturalidade (BRETT, 1999). Essa abordagem questiona as estruturas coloniais e investiga os efeitos duradouros do colonialismo nas sociedades contemporâneas. Ao considerarmos o impacto e a influência dessas perspectivas teóricas, fica claro que continuam a moldar o pensamento antropológico e a compreensão dos fenômenos sociais e culturais em nosso mundo atual. Ao longo deste subtítulo, exploramos algumas das principais escolas antropológicas e suas perspectivas teóricas, incluindo a escola de Manchester, o trabalho de Edmund Leach, o materialismo cultural, a antropologia interpretativa, o marxismo, a antropologia histórica, o pós-modernismo e a antropologia do colonialismo. Cada uma dessas abordagens trouxe contribuições significativas para o campo da antropologia, fornecendo ferramentas teóricas e conceituais para a compreensão dos fenômenos sociais e culturais. • A escola de Manchester e os estudos de Edmund Leach destacaram a importância do conflito e da mudança estrutural na análise antropológica. • O materialismo cultural enfatizou a relação entre os fatores materiais e as formas sociais, enquanto a antropologia interpretativa concentrou-se na interpretação simbólica e nos significados culturais. • O marxismo ofereceu uma perspectiva crítica das estruturas de poder e desigualdade, enquanto a antropologia histórica analisou as dinâmicas temporais das culturas e sociedades. • O pós-modernismo desafiou noções objetivas da verdade e explorou a construção social da realidade, enquanto a antropologia do colonialismo questionou as estruturas coloniais e seus efeitos duradouros. 60 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A relevância dessas escolas antropológicas reside na sua capacidade de fornecer diferentes perspectivas para a análise dos fenômenos sociais e culturais. Cada abordagem oferece um conjunto único de ferramentas teóricas e metodológicas que enriquecem nosso entendimento da diversidade cultural, das relações de poder, das transformações sociais e das formas simbólicas de significado. IMPORTANTE Ao reconhecer a importância das escolas antropológicas, os estudiosos e profissionais da área têm a oportunidade de se engajar em análises mais abrangentes e críticas que considerem diferentes perspectivas teóricas e ampliem nossa compreensão do mundo social e cultural em que vivemos. Em suma, as escolas antropológicas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da antropologia como disciplina e na contribuição para a compreensão dos fenômenos sociais e culturais, fornecendo uma gama diversificada de abordagens teóricas e metodológicas que exponenciam nosso conhecimento e nossas perspectivas sobre a complexidade da vida humana. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as escolas antropológicas são abordagens teóricas e metodológicas que contribuíram para o desenvolvimento da disciplina e para a análise dos fenômenos sociais e culturais. Exploramos a escola de Manchester e os estudos de Edmund Leach, que enfatizaram o conflito e a mudança estrutural como elementos centrais da análise antropológica. 61SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Discutimos o materialismo cultural e a antropologia interpretativa, que trouxeram diferentes perspectivas para entender as relações entre fatores materiais e simbólicos na cultura e na sociedade. Aprofundamos nosso conhecimento sobre o marxismo, a antropologia histórica, o pós-modernismo e a antropologia do colonialismo, que ofereceram perspectivas críticas e análises profundas das estruturas de poder, das dinâmicas temporais, das construções sociais da realidade e das relações coloniais. Ao compreender essas escolas antropológicas, você adquiriu uma visão mais ampla das diferentes abordagens teóricas disponíveis para a análise dos fenômenos sociais e culturais. Reconhecendo a relevância e o impacto dessas perspectivas, você está preparado para realizar análises mais críticas e abrangentes, considerando diferentes enfoques teóricos e ampliando sua compreensão do mundo social e cultural. Lembre-se, sempre, que as escolas antropológicas não são mutuamente excludentes, mas, sim, complementares. Cada uma traz uma contribuição valiosa para a disciplina, oferecendo ferramentas teóricas e metodológicas que ampliam nosso conhecimento da complexidade da vida humana. Agora que você dominou as principais escolas antropológicas, está pronto para explorar, ainda mais, os estudos etnográficos, a etnologia indígena e os estudos étnico-raciais no Brasil, temas que serão abordados no próximo capítulo. Continue sua jornada de aprendizado e aprofundamento, pois ainda há muito mais a descobrir e a compreender. Avante! 62 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Etnologia Indígena, estudos Ético-Raciais no Brasil OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como aplicar os conhecimentos de etnologia, política indigenista e estudos étnico- raciais na análise de fenômenos sociais e culturais no Brasil. Essa competência é fundamental para o exercício das áreas de sociologia e antropologia, pois permite uma compreensão mais ampla e contextualizada da realidade brasileira. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá.Avante! Notas Introdutórias A política indigenista no Brasil desempenha um papel fundamental na proteção de direitos e interesses das populações indígenas, assegurando sua existência digna e preservando sua cultura, sua identidade e seus territórios. No entanto, para compreender e atuar nesse contexto, é essencial conhecer a legislação indigenista e estar ciente dos desafios enfrentados no país. Figura 2.4 - Indígenas Fonte: Freepik. 63SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A legislação indigenista brasileira tem, como marcos importantes, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto do Índio e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Essas normativas garantem direitos fundamentais às populações indígenas, como a demarcação e a proteção de suas terras; o respeito à sua cultura e à sua identidade; e o direito à consulta e à participação nas decisões que afetam suas vidas. Segundo Carneiro da Cunha (2009), a Constituição Federal de 1988 representou um marco histórico para os povos indígenas ao reconhecer seus direitos territoriais e culturais, buscando superar séculos de discriminação e violações. No entanto, a efetivação desses direitos enfrenta diversos desafios no contexto brasileiro. Os desafios da política indigenista no Brasil são diversos e complexos. Conflitos fundiários, invasões de terras indígenas, pressões econômicas, desmatamento, discriminação e violações de direitos humanos são alguns dos obstáculos enfrentados pelas populações indígenas (MELO, 2017). A falta de implementação efetiva da legislação, a morosidade nos processos de demarcação de terras e a ausência de políticas públicas adequadas também contribuem para a perpetuação das dificuldades enfrentadas pelos indígenas. REFLITA Nesse sentido, é fundamental refletir sobre a importância de uma política indigenista sensível e respeitosa, capaz de garantir os direitos indígenas e promover a equidade social. Para isso, é necessário promover o diálogo intercultural; fortalecer a participação indígena na tomada de decisões que afetam suas vidas; e buscar a conscientização e o respeito pela diversidade cultural e étnica do Brasil (CARNEIRO DA CUNHA, 2009). 64 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Em resumo, compreender a política indigenista no Brasil, sua legislação e os desafios enfrentados é essencial para uma atuação profissional responsável e comprometida com a garantia dos direitos indígenas. Política Indigenista no Brasil: Legislação e Desafios A política indigenista no Brasil desempenha um papel fundamental na garantia dos direitos e na proteção das populações indígenas, reconhecendo sua história, sua cultura e seu território. Ao longo dos anos, diversas leis e marcos jurídicos foram estabelecidos para assegurar os direitos indígenas e promover a sua autonomia. No entanto, apesar desses avanços legais, a política indigenista enfrenta inúmeros desafios que impactam a efetivação desses direitos e colocam em risco a integridade física, cultural e territorial das comunidades indígenas. Ao término deste capítulo, será possível compreender a importância da política indigenista no Brasil, analisando a legislação que a respalda e os desafios enfrentados na sua implementação. Isso será fundamental para o exercício profissional consciente e responsável, no sentido de promover a defesa dos direitos indígenas e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Legislação Indigenista no Brasil A legislação indigenista no Brasil é um pilar fundamental para garantir os direitos e a proteção das populações indígenas. Ao longo dos anos, diversas leis foram criadas, visando a 65SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 reconhecer e a assegurar os direitos territoriais, culturais, sociais e políticos das comunidades indígenas. Uma das leis mais importantes nesse contexto é o Estatuto do Índio, instituído pela Lei n.º 6.001/1973. Esse marco legal estabelece direitos e deveres dos indígenas, bem como as responsabilidades do Estado na proteção e na promoção desses direitos. O Estatuto do Índio busca garantir a autonomia dos povos indígenas; a preservação de suas culturas e tradições; e o respeito aos seus territórios. Além do Estatuto do Índio, outras legislações também são relevantes para a proteção dos direitos indígenas no Brasil, como a Constituição Federal de 1988, que reconhece a diversidade cultural do país e os direitos originários dos povos indígenas sobre suas terras, e a Convenção n.º 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que estabelece diretrizes para a consulta e a participação dos povos indígenas em decisões que afetem seus direitos. No entanto, é importante ressaltar que, apesar da existência dessas leis, sua efetivação, muitas vezes, enfrenta desafios e obstáculos. A implementação da legislação indigenista ainda é um processo complexo e demanda esforços contínuos para garantir o respeito aos direitos indígenas e a superação de conflitos e violações. Desafios das Políticas Indígenas As políticas indígenas no Brasil enfrentam diversos desafios que dificultam a efetivação dos direitos e a proteção das comunidades indígenas. Esses desafios estão relacionados a questões históricas, socioeconômicas, políticas e culturais que impactam, diretamente, a vida e os territórios dos povos indígenas. 66 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Um dos principais desafios enfrentados pelas políticas indígenas no Brasil é a questão da demarcação e da proteção das terras indígenas. Muitas comunidades lutam pela regularização e a garantia de seus territórios ancestrais, que são, constantemente, ameaçados pela pressão de interesses econômicos, como a exploração de recursos naturais e a expansão agrícola. Essa disputa territorial gera conflitos, violência e violações dos direitos indígenas. Além disso, a falta de políticas públicas efetivas e de investimentos adequados em saúde, educação, saneamento básico e infraestrutura nas comunidades indígenas é outro desafio significativo. A ausência de serviços básicos de qualidade compromete o bem-estar das populações indígenas e perpetua desigualdades sociais e econômicas. Outro desafio importante é o combate ao preconceito e à discriminação enfrentados pelos povos indígenas. Estereótipos, estigmatização e racismo ainda persistem na sociedade brasileira, o que dificulta a valorização das culturas indígenas e o respeito aos seus direitos. A luta pela afirmação identitária e pelo reconhecimento da diversidade cultural dos povos indígenas é fundamental para superar esses desafios. Nesse contexto, é necessário fortalecer e ampliar as políticas indigenistas, promovendo a participação efetiva dos povos indígenas na tomada de decisões que afetam suas vidas e seus territórios. Além disso, a garantia de recursos financeiros adequados e a implementação de programas de capacitação e de ações de conscientização são fundamentais para superar os desafios enfrentados pelas políticas indígenas no Brasil. 67SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Reflexões e Perspectivas futuras As reflexões e as perspectivas futuras em relação às políticas indígenas no Brasil são fundamentais para orientar ações e transformações necessárias na busca por uma sociedade mais justa e inclusiva. Nesse sentido, é importante considerar alguns pontos-chave que podem contribuir para a melhoria das condições de vida e a garantia dos direitos dos povos indígenas. Uma reflexão importante diz respeito à necessidade de reconhecer e respeitar a diversidade cultural dos povos indígenas. Isso envolve valorizar práticas tradicionais, conhecimentos ancestrais e formas de organização social. Como afirma o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, "Os povos indígenas são, em seu conjunto, uma espécie de cartografia da diversidade humana" (CASTRO, 2015, p. 13). A valorização dessa diversidade é essencial para a construção de uma sociedade maisde se aprofundar em questões cruciais para compreender a diversidade cultural, a importância da proteção dos direitos dos povos indígenas e a necessidade de combater o racismo e as desigualdades étnico- raciais em nosso país. Ao compreender esses temas, você está preparado para contribuir para uma sociedade mais justa, inclusiva e respeitosa com todas as suas diferentes expressões culturais e étnicas. Portanto, parabéns por ter absorvido esses conhecimentos! Agora, você está mais preparado para enfrentar os desafios e atuar, de forma consciente e responsável, na promoção da diversidade e no combate a qualquer forma de preconceito e discriminação étnica ou cultural. 78 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 ABU-LUGHOD, L. Writing against culture. In: ABU-LUGHOD, L. Recapturing Anthropology: working in the present. Santa Fé, NM: School of American Research Press, 1991. APPADURAI, A. Disjuncture and difference in the global cultural economy. São Paulo: Edusp, 1990. ASAD, T. Anthropology & the Colonial Encounter. Londres: Ithaca Press, 1973. ASAD, T. After colonialism: imperial histories and postcolonial displacements. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1991. BAKER, L. D. From savage to negro: Anthropology and the construction of race, 1896-1954. California: University of California Press, 1998. BENEDICT, R. Padrões de Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1934. BRETT, R. L. The colonial present: Afghanistan, Palestine, Iraq. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 1999. BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. BOROFSKY, R. Why a public Anthropology? Social Anthropology, v. 13, n. 2, p. 135-144, 2005. BOAS, F. The social organization and the secret societies of the Kwakiutl Indians. [S. l.]: U.S. National Museum. 1897. BOAS, F. The mind of primitive man. [S. l.]: Macmillan, 1911. BOAS, F. Race, language, and culture. Chicago: University of Chicago Press, 1940. RE FE RÊ N CI A S 79SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 BOAS, F. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BLOCH, M. How we think they think: anthropological approaches to cognition, memory, and literacy. Boulder, CO: Westview Press, 1998. BOELLSTORFF, T. Coming of age in second life: an anthropologist explores the virtually human. Princeton: Princeton University Press, 2008. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL. Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Estatuto do Índio. Brasília, DF: Presidência da República, 1973. CASTELLS, M. A sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2009. CASTRO, E. V. de. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2015. CUNHA, M. C. da. Políticas indigenistas no Brasil: algumas reflexões. In: CUNHA, M. C. da. Políticas indigenistas no Brasil: ensaios. São Paulo: Edusp, 2019. p. 13-34. CLIFFORD, J.; MARCUS, G. E. Writing culture: the poetics and politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986. CLIFFORD, J. The predicament of culture: twentieth-century Ethnography, Literature, and Art. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1988. DARWIN, C. A origem das espécies. São Paulo: Martin Claret, 2004. 80 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 DA MATTA, R. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. DYSON, L. E.; HENDRIKS, M.; GRANT, S. Information technology and indigenous people. Hershey, PA: Information Science Publishing, 2007. DOUGLAS, M. Pureza e perigo. Rio de Janeiro: Perspectiva, 1966. EPSTEIN, A. L. The Manchester School in South-Central Africa. Annual Review of Anthropology, v. 13, p. 157-185, 1984. FOUCAULT, M. The archaeology of knowledge. Londres: Tavistock, 1972. GEERTZ, C. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2000. GONÇALVES, L. T. M. Estudos étnico-raciais no Brasil: reflexões sobre a produção acadêmica. JORNADA DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE, 2016, Campinas. Anais [...] Campinas: Unicamp, 2016. GEERTZ, C. The interpretation of cultures: selected essays. Nova York: Basic Books, 1973. GEERTZ, C. Works and lives: the anthropologist as author. Stanford, CA: Stanford University Press, 1988. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 81SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 GODELIER, M. Perspectives in Marxist Anthropology. Cambridge: Cambridge University Press, 1977. GLUCKMAN, M. Custom and conflict in Africa. Oxford: Blackwell, 1955. GLUCKMAN, M. Política, direito e ritual em sociedade tribal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1974. HASENBALG, C. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 2017. HARRIS, M. Cultural Materialism: the struggle for a science of culture. Nova York: Random House, 1979. HORST, H. A.; MILLER, D. Digital Anthropology. Londres: Berg, 2012. INGOLD, T. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge, 2000. INGOLD, T. A brief history and theory of anthropology. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. KNAPP, A. B. Arqueologia e antropologia histórica: perspectivas sobre a história. São Paulo: Edusp, 1992. KNAUFT, B. M. Genealogies for the present in Cultural Anthropology. Nova York: Routledge, 1991. KROEBER, A. L. Anthropology: culture patterns & processes. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Company, 1948. 82 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 KUPER, A. Anthropology and anthropologists: the modern British school. 3. ed. Londres: Routledge, 1996. KUPER, A. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: Edusc, 1999. KUKLICK, H. Novas histórias da antropologia. In: KUKLICK, H. História da antropologia. São Paulo: Unesp, 2008. LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2017. LEACH, E. Political systems of Highland Burma: a study of Kachin social structure. Londres: Bell, 1954. LEACH, E. Rethinking Anthropology. Londres: Athlone Press, 1961. LEACH, E. R. Sistemas políticos da Alta Birmânia: um estudo da estrutura político-social kachin. São Paulo: Edusp, 1996. L'ESTOILE, B. Antropologia britânica e antropologia americana: o estruturalismo funcionalista e o culturalismo. Mana, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 173-192, 2008. LÉVI-STRAUSS, C. Tristes Trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1955. LEVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976. MARCUS, G. E. Ethnography through thick and thin. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1998. 83SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 MALINOWSKI, B. Argonauts of the Western Pacific: an account of native enterprise and adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1922. MALINOWSKI, B. Argonauts of the Western Pacific: an account of native enterprise and adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. Londres: Routledge, 1978. MEAD, M. Coming of Age in Samoa. Nova York: William Morrow, 1928. MORGAN, L. H. A sociedade antiga. São Paulo: Abril Cultural, 1877. NAKATA, M. The cultural interface. The Australian Journal of Indigenous Education, 2007. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Convenção n.º 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes. Genebra: OIT, 1989. ORTNER, S. B. Theory in Anthropology since the sixties. Comparative Studies in Society and History, 1984. PATTON, M. Q. Qualitative research & evaluation methods. 3. ed. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 2002. PIETERSE, J. N. Globalização e cultura. São Paulo: Vozes, 2004. RADCLIFFE-BROWN, A. R. Structure and function in primitive society: essays and addresses. Londres: Cohen & West Ltd, 1952. 84 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 SAHLINS, M. The use and abuse of Biology: an anthropological critique of Sociobiology. Ann Arbor:University of Michigan Press, 1976. SAHLINS, M. Culture in practice: selected essays. Nova York: Zone Books, 2003. SANTILLI, J. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. SILVA, P. B. G. e. Estudos étnicos e raciais no Brasil: reflexões sobre produção acadêmica e políticas públicas. ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO, 2019, Recife. Anais [...]. Recife: UFPE, 2019. STOCKING, G. W. Race, culture, and evolution: essays in the history of anthropology. The Free Press, 1968. STOCKING, G. W. Race, culture, and evolution: essays in the history of anthropology. Chicago: University of Chicago Press, 1982. STOCKING, G. W. Race, culture, and evolution: essays in the history of anthropology. Chicago: University of Chicago Press, 1987. STOCKING, G. W. The ethnographer's magic and other essays in the History of Anthropology. [S. l.]: University of Wisconsin Press, 1992. TURKLE, S. Alone together: why we expect more from technology and less from each other. Nova York: Basic Books, 2011. 85SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 TYLOR, E. B. Primitive culture: researches into the development of mythology, philosophy, religion, art, and custom. Londres: John Murray, 1871. VIEIRA FILHO, J. R. B. Política indigenista no Brasil: notas sobre seu desenvolvimento histórico. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 223-264, 2009. WOLF, E. Europe and the people without history. Berkeley: University of California Press, 1982. Evolucionismo antropológico Origens e Princípios do Evolucionismo Antropológico O Surgimento do Evolucionismo Antropológico Princípios Fundamentais do Evolucionismo Antropológico Evolucionismo antropológico e a análise de fenômenos sociais contemporâneos Evolucionismo antropológico: uma ferramenta para entender o contemporâneo Limitações e críticas na aplicação do evolucionismo antropológico Contribuições do evolucionismo antropológico para a análise sociocultural contemporânea Evolucionismo antropológico no contexto da cultura contemporânea Globalização e evolucionismo antropológico Tecnologia digital e evolucionismo antropológico Diversidade cultural e evolucionismo antropológico Críticas e limitações do evolucionismo antropológico na cultura contemporânea Antropologia Inglesa e Estadunidense Raízes históricas da antropologia inglesa e estadunidense Evolução da Antropologia na Inglaterra Evolução da Antropologia nos Estados Unidos Comparação entre a Antropologia Inglesa e a Estadunidense Contribuições notáveis da Antropologia inglesa e Estadunidense para o campo Antropológico Pioneiros da Antropologia Estadunidense Pioneiros da Antropologia inglesa Impacto global e relevância atual Aplicação da Antropologia inglesa e Estadunidense na análise de fenômenos sociais e culturais Aplicação da Antropologia Inglesa Aplicação da Antropologia Estadunidense Escolas Antropológicas Notas Introdutórias Escola de Manchester e Edmund Leach: conflito e mudança estrutural O enfoque da Escola de Manchester Edmund Leach e seus estudos Comparação entre escola de Manchester e Edmund Leach Impacto e influência atual Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa: enfoques teóricos Desenvolvimento do materialismo cultural Desenvolvimento da Antropologia Interpretativa Comparação entre Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa Influência e relevância atual do Materialismo Cultural e da Antropologia Interpretativa Marxismo, Antropologia Histórica, Pós-Modernismo e Antropologia do Colonialismo: Perspectivas de Análise Marxismo na Antropologia Antropologia Histórica Pós-Modernismo na Antropologia Comparação entre as quatro perspectivas Impacto e influência atual Etnologia Indígena, estudos Ético-Raciais no Brasil Notas Introdutórias Política Indigenista no Brasil: Legislação e Desafios Legislação Indigenista no Brasil Desafios das Políticas Indígenas Reflexões e Perspectivas futuras Etnologia Indígena no Brasil: Estudo e Abordagens Métodos de Estudo em Etnologia Indígena Abordagens Teóricas em Etnologia Indígena Estudos Étnico-Raciais no Brasil: Identidade, Racismo e Desigualdadee escolas de pensamento que surgiram no campo da antropologia. Vamos analisar suas perspectivas sobre a cultura, o poder, a mudança social e outras dimensões da vida humana, compreendendo as contribuições e as críticas de cada escola. Por fim, no capítulo "Etnologia Indígena: Estudos Ético- Raciais no Brasil", vamos adentrar as questões relacionadas à diversidade étnica, cultural e racial no Brasil. Vamos explorar a política indigenista, a etnologia indígena e os estudos étnico- raciais, compreendendo a importância de preservar a identidade e os direitos dos povos indígenas, bem como a necessidade de combater o racismo e as desigualdades étnico-raciais em nossa sociedade. 9SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Ao longo deste material, convidamos você a refletir sobre as complexidades e as peculiaridades das sociedades humanas, a compreender as dinâmicas culturais e sociais que nos moldam e a buscar uma visão mais ampla e inclusiva do mundo em que vivemos. Estamos empolgados por compartilhar esses conheci- mentos com você, na esperança de que possa aplicá-los em sua vida profissional e pessoal, promovendo a tolerância, o respeito e a igualdade em nossa sociedade. Vamos embarcar nessa jornada juntos, explorando as fundamentações da sociologia e da antropologia e ampliando nossa compreensão da complexidade e da diversidade da expe- riência humana. Avante! 10 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 O BJ ET IV O S Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos. 1. Aplicar a abordagem crítica e contextualizada do evolucionismo na análise de fenômenos sociais e culturais contemporâneos. 2. Discernir as contribuições inglesa e estadunidense para o campo da antropologia e sua aplicação na análise de fenômenos sociais e culturais. 3. Identificar e avaliar, criticamente, as diferentes abordagens teóricas utilizadas para estudar o conflito e a mudança estrutural, abordando escola de Manchester, Edmund Leach, materialismo cultural, antropologia interpretativa, antropologia marxista, antropologia histórica, pós-modernismo e antropologia do colonialismo. 4. Aplicar os conhecimentos da etnologia, da política indigenista e dos estudos étnico-raciais na análise de fenômenos sociais e culturais no Brasil. 11SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Evolucionismo antropológico OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funciona a abordagem crítica e contextualizada do evolucionismo na análise de fenômenos sociais e culturais contemporâneos. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, seja como sociólogo, antropólogo, educador ou qualquer outra profissão que envolva a compreensão profunda das dinâmicas humanas e das sociedades. As pessoas que tentaram analisar as complexas interações sociais e culturais sem a devida instrução sobre o evolucionismo antropológico tiveram problemas ao ignorar o contexto histórico e a evolução das sociedades, o que pode levar a interpretações simplistas e equivocadas. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Origens e Princípios do Evolucionismo Antropológico Para começar a entender o evolucionismo antropológico, é importante lembrar que surgiu em um contexto de grandes descobertas e mudanças científicas do século XIX. Uma das teorias científicas mais influentes dessa época foi a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin. Ao sugerir que todas as espécies de seres vivos, incluindo os seres humanos, evoluíram ao longo do tempo por meio da seleção natural, Darwin provocou uma verdadeira revolução em nossa maneira de ver o mundo (DARWIN, 2004). Inspirados por essas ideias, antropólogos como Lewis Henry Morgan e Edward Burnett Tylor começaram a aplicar 12 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 a teoria da evolução para explicar a diversidade e a mudança das culturas humanas. Morgan e Tylor argumentavam que as sociedades humanas passavam por estágios de evolução bem definidos - da selvageria à barbárie e, por fim, à civilização - e que esse processo era universal (MORGAN, 1877; TYLOR, 1871). No entanto, o evolucionismo antropológico também tem sido de críticas significativas. Muitos estudiosos argumentaram que ele é eurocêntrico, por implicar que as sociedades ocidentais são mais "evoluídas" ou "avançadas" do que outras. Além disso, o evolucionismo antropológico tem sido criticado por sua tendência determinista, por sugerir que todas as sociedades seguem o mesmo caminho evolutivo (LÉVI-STRAUSS, 1955). Para entender e aplicar, criticamente, o evolucionismo antropológico na análise de fenômenos sociais e culturais contemporâneos, é essencial estar ciente desses princípios e críticas. O Surgimento do Evolucionismo Antropológico A teoria da evolução proposta por Charles Darwin em 1859, como está destacado em A origem das espécies, trouxe uma nova perspectiva para o estudo das ciências biológicas. Os princípios de seleção natural, adaptação e evolução gradual de espécies provocaram uma mudança paradigmática na maneira como entendemos o desenvolvimento dos seres vivos (DARWIN, 2004). 13SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Figura 2.1 – Teoria da evolução Fonte: Freepik. Essa revolução não permaneceu confinada às ciências biológicas. Antropólogos do século XIX, inspirados pela teoria de Darwin, começaram a aplicar o conceito de evolução ao estudo das culturas e sociedades humanas. Argumentaram que, assim como as espécies biológicas, as sociedades humanas também evoluíram ao longo do tempo, passando por estágios bem definidos de desenvolvimento (STOCKING, 1987). Nesse contexto, surgiu o evolucionismo antropológico, como uma tentativa de criar uma "ciência da cultura" baseada nos princípios da evolução. Essa nova abordagem foi usada para explicar a diversidade das culturas humanas e a mudança cultural ao longo do tempo, postulando que todas as sociedades humanas seguem um caminho evolutivo semelhante, desde formas "primitivas" até formas "civilizadas" (HARRIS, 1979). 14 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Princípios Fundamentais do Evolucionismo Antropológico Os princípios fundamentais do evolucionismo antropológico são enraizados na ideia de que as sociedades humanas evoluem ao longo do tempo, passando por estágios bem definidos de desenvolvimento. De acordo com Tylor (1871) e Morgan (1877), os estágios incluem a selvageria, a barbárie e a civilização, respectivamente. Edward Burnett Tylor, um dos primeiros antropólogos a usar a abordagem evolucionista, definiu a cultura como "aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e qualquer outra capacidade ou hábito adquirido pelo homem como membro da sociedade" (TYLOR, 1871, p. 1). Para Tylor, a evolução cultural passava por estágios de desenvolvimento, da simplicidade à complexidade, do primitivo ao moderno. Lewis Henry Morgan, outro pioneiro da antropologia evolucionista, também acreditava que as sociedades humanas evoluíram a partir de estágios inferiores a superiores de civilização. Classificou esses estágios em três categorias: selvageria, barbárie e civilização, cada um caracterizado por diferentes tipos de tecnologia e organização social (MORGAN, 1877). A concepção de evolução social como uma progressão linear e universal de estágios foi uma característica central do evolucionismo antropológico. Embora essa perspectiva tenha sido revolucionária na época, também foi objeto de críticas significativas, como discutiremos posteriormente. 15SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Evolucionismo antropológico e a análise de fenômenos sociais contemporâneos Mesmo com suas limitações e críticas, a perspectiva evolucionista em antropologia oferece uma ferramenta valiosa para entender e analisar fenômenos sociais e culturais contemporâneos.Compreender que as sociedades e as culturas não são estáticas, mas, sim, que evoluem e se transformam ao longo do tempo permite uma análise dinâmica da realidade social (INGOLD, 2007). Tomemos, por exemplo, o desenvolvimento e a difusão de tecnologias digitais. Poderíamos usar um enfoque evolucionista para analisar como essas tecnologias têm transformado sociedades e culturas, passando por estágios de adaptação e mudança. Assim, entenderíamos melhor o impacto dessas tecnologias em nossa vida cotidiana e em nossas estruturas sociais (CASTELLS, 2009). No entanto, é fundamental aplicar a perspectiva evolucionista de forma crítica e contextualizada, evitando simplificações e visões deterministas da evolução social. Em vez disso, devemos reconhecer a complexidade e a diversidade de trajetórias evolutivas possíveis, assim como as múltiplas influências e os fatores que podem afetar a direção da evolução social (KUPER, 1999). 16 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Evolucionismo antropológico: uma ferramenta para entender o contemporâneo O evolucionismo antropológico nos fornece uma ferramenta poderosa para compreender o mundo contemporâneo. Ensina-nos a ver a cultura e a sociedade como processos em constante mudança e evolução, em vez de entidades fixas e imutáveis (INGOLD, 2007). Por exemplo, podemos aplicar uma perspectiva evolucionista para entender a globalização. A globalização, vista como um fenômeno cultural, pode ser entendida como um processo de evolução e adaptação em que diferentes culturas interagem e se influenciam mutuamente, levando a novas formas de expressão cultural (APPADURAI, 1990). Nesse sentido, a globalização pode ser vista como um processo de “seleção cultural” em que certas práticas culturais são adotadas, adaptadas ou rejeitadas em diferentes contextos. Retomando o exemplo do avanço das tecnologias digitais e sua incorporação na vida cotidiana à luz do evolucionismo antropológico, podemos ver como a adoção e a adaptação a essas tecnologias representam um novo “estágio” na evolução cultural, com impactos significativos em todas as áreas da vida, desde o trabalho e a comunicação até as formas de lazer e entretenimento (CASTELLS, 2009). Portanto, o evolucionismo antropológico nos permite entender esses fenômenos como parte de um processo de evolução cultural contínuo, fornecendo uma perspectiva dinâmica e adaptativa da realidade social. 17SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Limitações e críticas na aplicação do evolucionismo antropológico Embora o evolucionismo antropológico forneça um importante lente analítica para o entendimento dos fenômenos sociais contemporâneos, sua aplicação também enfrenta várias limitações e críticas. A primeira e mais proeminente crítica é a de que a visão evolucionista de que as culturas passam por estágios progressivos e lineares de desenvolvimento é simplista e redutiva (KUPER, 1999). Na realidade, a evolução cultural é um processo complexo e multifacetado que pode ocorrer de maneiras muito diferentes em distintos contextos. É um equívoco pensar que todas as culturas evoluem ao longo de um único caminho pré- determinado, do "primitivo" ao "civilizado". Além disso, a ideia de que algumas culturas são "mais avançadas" ou "mais evoluídas" do que outras pode, facilmente, levar a julgamentos de valor e a visões etnocêntricas. Esta é uma crítica frequente ao evolucionismo antropológico: pode ser usado para justificar o domínio e a opressão de culturas consideradas "menos evoluídas" (STOCKING, 1987). Por fim, o evolucionismo antropológico pode cair na armadilha do determinismo tecnológico ou econômico, assumindo que mudanças na tecnologia ou na economia são a força motriz única e inevitável por trás da evolução cultural. No entanto, na realidade, a evolução cultural é influenciada por uma ampla variedade de fatores, incluindo aspectos sociais, políticos e ideológicos (WOLF, 1982). Portanto, ao aplicar a abordagem evolucionista à análise de fenômenos sociais contemporâneos, é crucial fazê- 18 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 lo de maneira crítica e contextualizada, levando em conta a complexidade e a diversidade da evolução cultural. Contribuições do evolucionismo antropológico para a análise sociocultural contemporânea Apesar das críticas mencionadas anteriormente, é inegável que o evolucionismo antropológico continua a oferecer insights valiosos para a compreensão da realidade social contemporânea. Essa abordagem nos permite entender culturas e sociedades como entidades em constante transformação, sujeitas a processos de mudança e adaptação (INGOLD, 2007). A visão evolucionista, quando aplicada de maneira crítica e contextualizada, pode nos ajudar a entender a dinâmica complexa de interação cultural, resistência e mudança. Isso é relevante, especialmente, em um mundo globalizado, cujas culturas estão em constantes processos de contato e interação (APPADURAI, 1990). Além disso, o evolucionismo antropológico pode nos fornecer uma perspectiva útil sobre a maneira como as tecnologias digitais estão remodelando nossas sociedades e culturas. Permite-nos ver essas mudanças não como rupturas abruptas, mas como parte de um contínuo processo evolutivo de adaptação e inovação (CASTELLS, 2009). Finalmente, a perspectiva evolucionista pode nos ajudar a reconhecer a diversidade e a pluralidade de trajetórias culturais. Ao desafiar a ideia de que existe um único caminho "natural" para o desenvolvimento cultural, o evolucionismo antropológico pode contribuir para uma compreensão mais rica e matizada da diversidade cultural global (KUPER, 1999). 19SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Em suma, embora o evolucionismo antropológico deva ser aplicado com cautela, ainda oferece uma ferramenta valiosa para a análise e a compreensão dos fenômenos socioculturais contemporâneos. Evolucionismo antropológico no contexto da cultura contemporânea A era contemporânea, marcada por globalização, avanços tecnológicos e interações culturais complexas, traz desafios únicos para a compreensão dos fenômenos culturais e sociais. Nesse contexto, a abordagem do evolucionismo antropológico continua sendo um instrumento crucial, apesar das críticas que lhe são dirigidas (KUPER, 1999). Figura 2.2 – Avanços evolucionistas Fonte: freepik 20 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 O evolucionismo antropológico, em sua visão de sociedades e culturas como entidades em constante transformação, fornece uma lente de análise valiosa para os desafios da atualidade. Ele oferece uma perspectiva útil para entender as mudanças rápidas e muitas vezes turbulentas que a globalização e a tecnologia trazem para nossas culturas (CASTELLS, 2009). Além disso, essa abordagem nos ajuda a ver a diversidade de trajetórias culturais, resistindo à ideia simplista de um único caminho "natural" para o desenvolvimento cultural. Isso é especialmente importante em um mundo onde a interação e a fusão cultural são cada vez mais a norma, e não a exceção (APPADURAI, 1990). Globalização e evolucionismo antropológico A globalização tem provocado mudanças profundas nas formas como as culturas interagem e se influenciam mutuamente. Essa realidade complexa e interconectada pode ser melhor compreendida por meio da lente do evolucionismo antropológico (APPADURAI, 1990). Figura 2.3 – Globalização Fonte: Freepik. 21SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A globalização, em sua essência, é um processo de interação e integração entre pessoas, empresas e governos de diferentes nações. Isso tem conduzido a um aumento sem precedentes na troca de ideias e culturas, resultando em uma mistura cultural sem precedentes. O evolucionismo antropológico nos ajuda a entender esse fenômeno, vendo a cultura não como algo estático e isolado, mas como algo dinâmico e interconectado, em constante transformação (INGOLD, 2007). IMPORTANTE Além disso, a visão evolucionistanos permite entender como as culturas podem adaptar-se e mudar em resposta a essas novas interações. As culturas não são passivas na face da globalização; resistem, adaptam-se e evoluem de formas únicas e, às vezes, surpreendentes. Esse é um ponto chave do evolucionismo antropológico extremamente relevante no mundo globalizado de hoje (LEVITT, 2001). Por fim, a perspectiva evolucionista também nos ajuda a questionar e a resistir a uma visão simplista de homogeneização cultural global. Apesar da influência inegável do Ocidente, as culturas locais continuam a resistir e a criar suas próprias formas híbridas e adaptadas de cultura (PIETERSE, 2004). Tecnologia digital e evolucionismo antropológico Na era digital contemporânea, a tecnologia desempenha um papel crucial na modelagem da cultura e das interações sociais. De redes sociais a plataformas de streaming, a tecnologia está redefinindo a maneira como nos comunicamos, trabalhamos, divertimo-nos e nos engajamos com o mundo ao nosso redor (CASTELLS, 2009). 22 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A perspectiva do evolucionismo antropológico é extremamente útil para entender essas mudanças. Lembra-nos que, assim como ocorre com as influências da globalização, as culturas não são passivas no rosto da tecnologia digital. Em vez disso, adaptam-se, apropriam-se e, às vezes, resistem às novas tecnologias de formas distintas e significativas (HORST; MILLER, 2012). Por exemplo, em várias partes do mundo, as pessoas usam a tecnologia digital para manter e revitalizar as práticas culturais indígenas, fazendo-as, assim, resistir à erosão cultural e promovendo a diversidade (DYSON; HENDRIKS; GRANT, 2007). Ao mesmo tempo, a tecnologia digital está criando formas de cultura e expressão, um exemplo vibrante da natureza mutável da cultura que o evolucionismo antropológico nos ajuda a entender (TURKLE, 2011). Além disso, a perspectiva evolucionista também pode nos ajudar a entender como as novas tecnologias estão moldando estruturas sociais e relações de poder, um ponto crucial para qualquer análise sociocultural (BOELLSTORFF, 2008). Diversidade cultural e evolucionismo antropológico Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, a questão da diversidade cultural é de suma importância. A perspectiva evolucionista da antropologia oferece uma lente importante para entender a complexidade e a dinâmica da diversidade cultural no mundo contemporâneo (KUPER, 1999). De acordo com a perspectiva evolucionista, as culturas não são entidades isoladas e fixas, mas, sim, sistemas dinâmicos e adaptáveis que estão, constantemente, mudando e evoluindo 23SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 em resposta ao ambiente. Esse princípio é crucial para entender a diversidade cultural na era contemporânea. A interação e a fusão cultural, em vez de levar a uma homogeneização cultural, podem, na verdade, levar a novas formas de diversidade cultural. As culturas se adaptam e mudam, mas também resistem e mantêm elementos distintos (INGOLD, 2007). Além disso, a perspectiva evolucionista nos ajuda a resistir a visões simplistas de hierarquia cultural. Em vez de ver as culturas como "avançadas" ou "atrasadas", o evolucionismo antropológico vê todas as culturas como respostas adaptativas igualmente válidas a seus ambientes específicos. Isso é crucial para resistir ao etnocentrismo e promover o respeito à diversidade cultural (GEERTZ, 1973). Por último, a perspectiva evolucionista também nos ajuda a entender como a diversidade cultural pode ser uma fonte de resiliência e inovação. Culturas diferentes trazem diferentes formas de saber, que podem ser vitais para enfrentar os desafios do século XXI (NAKATA, 2007). Críticas e limitações do evolucionismo antropológico na cultura contemporânea Apesar das contribuições valiosas do evolucionismo antropológico para a compreensão da cultura contemporânea, é importante reconhecer que essa abordagem também tem limitações e tem sido objeto de diversas críticas (HARRIS, 1979). Uma das principais críticas ao evolucionismo antropológico é a de que pode cair na armadilha do determinismo cultural, isto é, pode dar a impressão de que a cultura determina, completamente, as ações e os pensamentos dos indivíduos, 24 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 subestimando a agência individual e a capacidade dos indivíduos de resistir, contestar e reinterpretar a cultura (ORTNER, 1984). Além disso, o evolucionismo antropológico tem sido criticado por sua tendência a tratar a cultura como um sistema homogêneo e integrado. No entanto, as culturas contemporâneas são, muitas vezes, marcadas por divisões e conflitos internos, como divisões de classe, gênero, etnia e religião, que podem não ser capturados, adequadamente, pela abordagem evolucionista (ABU-LUGHOD, 1991). Finalmente, alguns críticos apontaram que a abordagem evolucionista pode levar a uma visão simplista da mudança cultural. Em vez de uma progressão linear ou cíclica, a mudança cultural pode ser complexa, descontínua e marcada por contradições e tensões (SAHLINS, 1976). Reconhecer essas críticas e limitações é uma parte importante de qualquer análise crítica e contextualizada da cultura contemporânea. Isso nos permite refinar e desenvolver nossa compreensão, evitando simplificações e generalizações excessivas (INGOLD, 2000). Em resumo, o evolucionismo antropológico tem sido uma ferramenta poderosa para entender a diversidade cultural e a mudança cultural. Oferece uma perspectiva única sobre a dinâmica e a complexidade das culturas, permitindo-nos entender como se adaptam, resistem e mudam ao longo do tempo. Apesar das críticas e limitações, a abordagem evolucionista continua sendo uma contribuição valiosa para a antropologia e para as ciências sociais mais amplamente (HARRIS, 1979). Além disso, o evolucionismo antropológico é de extrema relevância na análise de fenômenos sociais e culturais contemporâneos. Ajuda-nos a entender questões como a 25SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 globalização, a tecnologia digital e a diversidade cultural. Também nos ajuda a resistir ao etnocentrismo, promovendo o respeito pela diversidade e pelas diferentes formas de saber (INGOLD, 2000). No entanto, para evitar generalizações e simplificações excessivas, é essencial combinar a perspectiva evolucionista com uma análise crítica e contextualizada. Assim, seremos capazes de capturar a complexidade e a ambiguidade da cultura contemporânea, bem como as contradições e as tensões que marcam a mudança cultural (ABU-LUGHOD, 1991). Portanto, a chave para uma compreensão efetiva do evolucionismo antropológico é entender seus princípios fundamentais, apreciar suas contribuições, reconhecer suas limitações e aplicá-lo, de maneira crítica e contextualizada, na análise dos fenômenos culturais contemporâneos. A antropologia evolutiva, portanto, oferece ferramentas valiosas para quem busca compreender e navegar na complexa paisagem cultural de nosso mundo contemporâneo. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o evolucionismo antropológico, com suas origens e princípios, é uma abordagem fundamental para entender a dinâmica da cultura e da sociedade. Foi um movimento pioneiro no desenvolvimento da antropologia como disciplina acadêmica, baseando-se na crença de que as culturas progridem de maneiras comparáveis à evolução biológica. 26 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A abordagem do evolucionismo antropológico é uma ferramenta útil para a análise de fenômenos sociais e culturais contemporâneos. Oferece uma visão de como as sociedades evoluem e se adaptam e de como os indivíduos interagem com essas mudanças. No entanto, a aplicação dessa abordagem requer cautela econsciência de suas limitações e críticas. O evolucionismo antropológico no contexto da cultura contemporânea nos ajuda a entender questões complexas como globalização, diversidade cultural e tecnologia digital. Porém, para evitar uma visão simplista da mudança cultural, é essencial combinar a perspectiva evolucionista com uma análise crítica e contextualizada. Assim, você deve ter aprendido que a chave para uma compreensão efetiva do evolucionismo antropológico é entender seus princípios fundamentais, apreciar suas contribuições, reconhecer suas limitações e aplicá-lo, de maneira crítica e contextualizada, na análise dos fenômenos culturais contemporâneos. 27SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Antropologia Inglesa e Estadunidense OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funcionam as vertentes inglesa e estadunidense da antropologia, bem como suas respectivas contribuições para o estudo e a análise de fenômenos sociais e culturais. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão, especialmente se você estiver trabalhando em áreas que exigem uma compreensão profunda da dinâmica cultural e social, como relações internacionais, políticas públicas, ONG e, certamente, contextos acadêmicos. As pessoas que tentaram aplicar conceitos e métodos antropológicos sem a devida compreensão de suas raízes históricas e de suas diferenças regionais tiveram problemas ao interpretar, corretamente, seus resultados e ao comunicá- los de maneira apropriada para diferentes públicos. Saber discernir as contribuições inglesas e estadunidenses para a antropologia pode ajudá-lo a evitar tais dificuldades, além de enriquecer sua análise e expandir seu horizonte teórico. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Raízes históricas da antropologia inglesa e estadunidense A antropologia, como campo de estudo dedicado à compreensão do ser humano em todas as suas dimensões – cultural, social, biológica e histórica – é produto de desenvolvimentos intelectuais e sociais específicos que ocorreram na Europa durante o Iluminismo e a era do colonialismo, contexto 28 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 caracterizado por uma busca intensa de novos conhecimentos sobre o mundo. Assim, as diversidades cultural e social humanas começaram a ser objetos de estudo sistemáticos (L'ESTOILE, 2008). Embora a antropologia tenha se estabelecido em diversos países, as tradições britânica e americana têm se destacado particularmente e se diferenciado uma da outra ao longo do tempo. Na Inglaterra, a antropologia surgiu no século XIX, enraizada na sociologia, com figuras importantes como E. B. Tylor e James Frazer conduzindo estudos comparativos de sociedades e culturas em todo o mundo (KUKLICK, 2008). A antropologia britânica, posteriormente, dividiu-se em antropologia social, com foco no estudo das estruturas sociais; e em antropologia cultural, com foco em crenças, valores e práticas de diferentes culturas. Nos Estados Unidos, a antropologia desenvolveu-se em um caminho ligeiramente diferente, com figuras como Franz Boas e seus estudantes (entre os quais, Margaret Mead e Ruth Benedict), enfocando a especificidade cultural e o relativismo cultural (STOCKING, 1982). A antropologia cultural americana enfatizou a importância do trabalho de campo e a descrição etnográfica e, eventualmente, dividiu-se em várias subdisciplinas, incluindo antropologia física, arqueologia, linguística antropológica e antropologia sociocultural. Portanto, é essencial entender as raízes históricas das antropologias britânica e estadunidense para discernir suas respectivas contribuições e suas abordagens diferenciadas à análise de fenômenos sociais e culturais. 29SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Evolução da Antropologia na Inglaterra A antropologia britânica tem uma longa história de desenvolvimento e uma contribuição significativa para a antropologia como um todo. O início da antropologia na Inglaterra foi marcado por grandes figuras, como Edward Burnett Tylor e James Frazer, que conduziram estudos comparativos de sociedades e culturas ao redor do mundo no século XIX (KUKLICK, 2008). Ambos são conhecidos como fundadores da antropologia britânica, e suas ideias ainda influenciam a maneira como entendemos as culturas hoje. Edward B. Tylor, em particular, é creditado pela formalização da antropologia como uma disciplina acadêmica na Inglaterra. Definiu a cultura como um "complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e qualquer outra capacidade e hábito adquirido pelo homem como membro da sociedade" (TYLOR, 1871, p. 1). Essa definição tem sido fundamental para estudos subsequentes de cultura na antropologia. No século XX, uma figura proeminente foi Bronislaw Malinowski, cujo trabalho nas Ilhas Trobriand, na Melanésia definiu a prática da pesquisa etnográfica moderna. Malinowski enfatizou a importância do trabalho de campo prolongado e a necessidade de entender a perspectiva do "nativo". Argumentou que, para compreender, verdadeiramente, uma cultura, os antropólogos precisam viver em seu âmbito, aprendendo a língua e participando da vida cotidiana (MALINOWSKI, 1922). Na década de 1960, a antropologia social britânica ganhou destaque com o trabalho de Edmund Leach, Mary Douglas e outros que exploraram o simbolismo e a classificação social em suas pesquisas. Concentraram-se em desvendar as 30 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 estruturas ocultas que governam o comportamento social, como os sistemas de parentesco e as hierarquias sociais (LEACH, 1961; DOUGLAS, 1966). A antropologia britânica tem sido, portanto, caracterizada por um foco em questões sociais e culturais, com ênfase no estudo detalhado de sociedades específicas e na comparação entre diferentes culturas. Evolução da Antropologia nos Estados Unidos A antropologia nos Estados Unidos tem uma rica história, caracterizada pela diversidade de abordagens e uma orientação distintamente interdisciplinar. Inicialmente, a antropologia estadunidense tinha um foco considerável em antropologia física, linguística e arqueologia, juntamente com a antropologia cultural (BAKER, 1998). Franz Boas, muitas vezes considerado o "pai da antropologia moderna", foi uma figura fundamental na formação da antropologia nos Estados Unidos. Boas rejeitou a abordagem evolucionista predominante em seu tempo, insistindo na importância do trabalho de campo detalhado e da compreensão das culturas em seus próprios termos; e na relevância do contexto histórico (BOAS, 1940). Seguindo Boas, uma geração de antropólogos notáveis, incluindo Margaret Mead, Ruth Benedict e Alfred Kroeber, expandiu a compreensão das complexidades culturais humanas. Suas pesquisas ajudaram a estabelecer a antropologia cultural como uma disciplina acadêmica dominante nos Estados Unidos (BENEDICT, 1934; MEAD, 1928; KROEBER, 1948). 31SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Nas década de 1960 e de 1970, o antropólogo Clifford Geertz impulsionou uma "virada interpretativa" na antropologia, promovendo uma abordagem mais simbólica e interpretativa do estudo da cultura. Geertz via a cultura como um sistema de significados compartilhados que poderiam ser "lidos", tal como textos (GEERTZ, 1973). Mais recentemente, a antropologia nos Estados Unidos tem se diversificado ainda mais, incorporando abordagens pós- modernas, feministas e pós-coloniais. A disciplina também tem se mostrado cada vez mais preocupada com questões de poder, identidade e representação (ABU-LUGHOD, 1991; ORTNER, 1984). Comparação entre a Antropologia Inglesa e a Estadunidense Embora haja semelhanças fundamentais entre a antropologia inglesa e a estadunidense, existem diferenças significativas que podem ser rastreadas até as origens históricas, os contextos culturais e as tradições acadêmicas de cada uma. A antropologia britânica, desde as raízesna era vitoriana, foi influenciada, fortemente, pelo funcionalismo, uma abordagem que vê a cultura e a sociedade como sistemas integrados cujas partes atuam em conjunto para manter o todo (RADCLIFFE-BROWN, 1952). A abordagem britânica também tem sido caracterizada pelo seu foco nas estruturas sociais e nas instituições, muitas vezes por meio do estudo detalhado de pequenas sociedades ou comunidades. Em contraste, a antropologia estadunidense, na tradição de Franz Boas, tem sido mais preocupada com a diversidade cultural e a relatividade cultural. A antropologia cultural nos Estados Unidos tem enfatizado uma abordagem mais holística 32 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 e interdisciplinar, incluindo antropologia física, arqueologia e linguística, bem como sociocultural (BOAS, 1940). IMPORTANTE No entanto, tanto a antropologia britânica quanto a estadunidense tem se preocupado com o estudo detalhado da cultura e da sociedade por meio do trabalho de campo, um método de pesquisa que envolve a imersão do pesquisador na vida cotidiana das pessoas que está estudando. Apesar dessas diferenças, ao longo do tempo, houve um fluxo considerável de ideias entre as duas tradições, com muitos antropólogos britânicos influenciando seus colegas estadunidenses, e vice-versa. A disciplina continua a ser marcada por uma rica diversidade de abordagens e perspectivas. Contribuições notáveis da Antropologia inglesa e Estadunidense para o campo Antropológico A antropologia, como ciência que se dedica ao estudo da humanidade em sua totalidade, tem sido influenciada, fortemente, por correntes teóricas e metodológicas provenientes de diferentes partes do mundo. Entre essas, destaca-se o papel central desempenhado pelas escolas antropológicas britânica e americana, que, com suas respectivas características e contribuições, moldaram o campo antropológico de maneiras significativas. 33SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 IMPORTANTE A antropologia inglesa, conhecida, principalmente, pelo funcionalismo e pelo estrutural-funcionalismo, trouxe um novo olhar sobre as sociedades humanas. Bronislaw Malinowski e E. E. Evans-Pritchard são alguns dos antropólogos mais influentes que emergiram dessa tradição, sendo reconhecidos pela riqueza de suas descrições etnográficas e pela atenção cuidadosa às estruturas sociais (KUPER, 1996). Por outro lado, a antropologia estadunidense, com sua ênfase no particularismo histórico e no difusionismo, proporcionou uma perspectiva crítica sobre a cultura e a sociedade. Franz Boas, Margaret Mead e Clifford Geertz são alguns dos mais notáveis antropólogos estadunidenses, cujos trabalhos são considerados fundamentais para o desenvolvimento da disciplina (BOROFSKY, 2005). Neste subtítulo, vamos explorar as principais contribui- ções das antropologias inglesa e estadunidense para o campo antropológico, buscando entender como essas escolas molda- ram o modo como entendemos e estudamos a humanidade. Pioneiros da Antropologia Estadunidense Na antropologia estadunidense, é possível identificar uma série de acadêmicos pioneiros que contribuíram para o desenvolvimento e a expansão do campo antropológico. Entre os mais destacados, há Franz Boas, Margaret Mead, Clifford Geertz e Ruth Benedict. Franz Boas, frequentemente chamado de "pai da antropologia moderna americana", é notável por seu trabalho 34 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 pioneiro em antropologia física, linguística e cultural. Além disso, é creditado por estabelecer a antropologia como uma disciplina acadêmica distinta nos Estados Unidos (BOAS, 1940). Margaret Mead, uma estudante de Boas, é conhecida por seu trabalho em Samoa e Papua-Nova Guiné. Em sua pesquisa, examinou a influência da cultura na educação e no desenvolvimento dos indivíduos, desafiando preconceitos de gênero e sexualidade de sua época (MEAD, 1928). Clifford Geertz, um antropólogo do século XX, é famoso por seu trabalho em simbolismo e interpretação cultural. Defendia uma "descrição densa" na etnografia, com o objetivo de interpretar ações e símbolos culturais dentro do seu contexto específico (GEERTZ, 1973). Ruth Benedict, outra estudante de Boas, é conhecida por seu trabalho em padrões de cultura, explorando como as culturas funcionam como um todo e se adaptam às circunstâncias (BENEDICT, 1934). Esses acadêmicos não apenas estabeleceram as fundações da antropologia estadunidense, mas também contribuíram para o entendimento contemporâneo da diversidade cultural e humana. Pioneiros da Antropologia inglesa A antropologia inglesa, conhecida pela minuciosa des- crição etnográfica e pela teoria funcionalista, deve muito de seu desenvolvimento a alguns acadêmicos pioneiros que moldaram a disciplina. Entre esses pioneiros, destacam-se nomes como Ed- ward Burnett Tylor, James George Frazer, Bronislaw Malinowski e Alfred Radcliffe-Brown. 35SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Edward Burnett Tylor, considerado um dos fundadores da antropologia inglesa, propôs uma visão evolucionista da cultura de acordo com a qual todas as sociedades passariam por estágios similares de desenvolvimento (TYLOR, 1871). James George Frazer, por sua vez, ficou conhecido por seus estudos sobre mitologia e religião, particularmente pelo seu livro O ramo de ouro, em que examina padrões comuns em mitos, rituais e sistemas de crenças ao redor do mundo (FRAZER, 1890). No século XX, Bronislaw Malinowski se tornou conhecido como “o pai do funcionalismo e da etnografia moderna”. Seu trabalho nas Ilhas Trobriand foi revolucionário ao mostrar que o antropólogo deveria viver entre as pessoas que estuda, aprender sua língua e entender suas práticas a partir de seu próprio ponto de vista (MALINOWSKI, 1922). Alfred Radcliffe-Brown, seguindo a tradição funcionalista, introduziu o conceito de estrutural-funcionalismo, argumentando que as sociedades podem ser entendidas como organismos cujas partes têm funções específicas no todo (RADCLIFFE-BROWN, 1952). A contribuição desses pioneiros para a antropologia inglesa é inegável e continua a moldar a forma como a disciplina é entendida e praticada hoje. Impacto global e relevância atual O impacto global e a relevância atual da antropologia, particularmente as contribuições inglesa e estadunidense, destacam-se no cenário de discussões do diversificado campo das ciências sociais. As teorias e os métodos desenvolvidos por essas escolas de pensamento proporcionaram novas maneiras de compreender e abordar as complexidades das culturas humanas; não apenas localmente, mas em um contexto global. 36 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Boas (2004) defendia a ideia de que as culturas devem ser entendidas em seus próprios termos, uma visão que continua sendo uma base sólida para a antropologia contemporânea. Essa abordagem holística e relativista permitiu que a disciplina estivesse na vanguarda de questões globais prementes, como o entendimento das diferenças culturais, a crise dos refugiados, a proteção dos direitos indígenas e a compreensão dos impactos do colonialismo. Geertz (2008), por sua vez, enfatizou o papel central do simbolismo e do significado em sua abordagem interpretativa da cultura, destacando que a compreensão de qualquer sociedade exige a descriptografia de seu próprio sistema de significados. Essa abordagem se mostrou útil, particularmente, na era da globalização, quando os fluxos transnacionais de pessoas, ideias e tecnologias continuam a remodelar culturas e sociedades ao redor do mundo. Apesar de suas origens históricas, as contribuições das antropologias inglesa e estadunidense permanecem não apenas relevantes, mas essenciais para a análise de fenômenos sociais e culturais contemporâneos. Aplicação da Antropologia inglesa e Estadunidense na análise de fenômenos sociais e culturais As antropologias inglesa e estadunidense têm se firmado como pilares fundamentais para a compreensãoe a análise dos fenômenos sociais e culturais contemporâneos. Tendo inícios distindos, mas se conectando em certos aspectos, essas duas escolas antropológicas fornecem ferramentas de interpretação diferentes e, ao mesmo tempo, complementares para o estudo de grupos humanos (L'ESTOILE, 2008). 37SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 A antropologia inglesa, guiada, inicialmente, pelos princípios do estrutural-funcionalismo, de autores como Radcliffe- Brown e Bronislaw Malinowski, forneceu uma abordagem orientada para o entendimento das estruturas sociais e do papel de tradições e rituais nessas estruturas (KUPER, 1996). Por outro lado, a antropologia estadunidense, influenciada, fortemente, por Franz Boas e sua ênfase no trabalho de campo e no relativismo cultural, direcionou o foco para a experiência individual e a diversidade cultural (STOCKING, 1992). Ambas as escolas tiveram um papel crucial na formação do campo antropológico e continuam a informar pesquisas e análises contemporâneas. Ao longo deste subtítulo, discutiremos, em detalhes, a aplicação dessas abordagens no estudo de fenômenos sociais e culturais. A importância dessas perspectivas reside na maneira como nos permitem capturar a complexidade da experiência humana em contextos sociais e culturais diversos. Aplicação da Antropologia Inglesa A antropologia inglesa, historicamente caracterizada pelo estrutural-funcionalismo, é conhecida por sua abordagem sistemática ao estudo da sociedade e da cultura. Essa abordagem teve um papel crucial na análise de fenômenos sociais e culturais, em especial no que se refere às estruturas sociais e à manutenção da ordem social (KUPER, 1996). EXEMPLO Um exemplo significativo da aplicação da antropologia inglesa pode ser visto no trabalho de Bronislaw Malinowski, que é considerado, amplamente, um dos fundadores da antropologia social britânica. Malinowski enfatizou a necessidade de um trabalho de campo prolongado para 38 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 entender os sistemas de significados nativos. Sua obra Os argonautas do Pacífico Ocidental (1922) é um clássico do estudo etnográfico que examina o sistema de trocas entre as ilhas Trobriand (MALINOWSKI, 1922). Outro grande nome da antropologia inglesa é Radcliffe- Brown, que defendia a visão de que cada sociedade é um sistema estruturado cujas partes mantêm certo equilíbrio umas com as outras, um conceito que chamou de "estrutura social" (RADCLIFFE-BROWN, 1952). Por exemplo, ele analisou as relações de parentesco dos povos aborígenes australianos para entender a organização social desses grupos (RADCLIFFE-BROWN, 1930). Assim, a antropologia inglesa tem sido fundamental para a compreensão dos aspectos estruturais e funcionais das sociedades, oferecendo ferramentas valiosas para a análise de fenômenos sociais e culturais. Aplicação da Antropologia Estadunidense A antropologia estadunidense, com suas origens na obra de Franz Boas e de seus seguidores, teve um impacto significativo no estudo de fenômenos sociais e culturais. Enquanto a antropologia britânica era mais concentrada na estrutura e na função, a escola estadunidense se caracterizava pelo particularismo histórico e pela ênfase na cultura como principal fenômeno antropológico (STOCKING, 1968). Franz Boas, considerado "o pai da antropologia americana", rejeitou a abordagem evolucionista em favor de uma compreensão mais localizada e histórica das culturas. Argumentou que cada cultura deve ser entendida em seus próprios termos, sem a aplicação de um modelo evolutivo que 39SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 classifique as culturas em "primitivas" e em "civilizadas" (BOAS, 1911). Seu trabalho com os povos indígenas do Noroeste do Pacífico, como os Kwakiutl, é um exemplo clássico de sua abordagem (BOAS, 1897). Uma das principais contribuições da escola estadunidense foi a noção de "culturalismo", que sugere que a cultura é uma lente através da qual os indivíduos veem e interpretam o mundo ao seu redor. Essa abordagem foi aprimorada por Ruth Benedict, uma aluna de Boas, em seu estudo Padrões de cultura (BENEDICT, 1934). Assim, a antropologia estadunidense, com sua ênfase na cultura e na especificidade histórica, forneceu ferramentas críticas para a análise de fenômenos sociais e culturais, permitindo uma compreensão mais rica e matizada da diversidade humana. As abordagens das antropologias britânica e estadunidense têm desempenhado um papel significativo na evolução da antropologia como campo de estudo, cada uma contribuindo com perspectivas e metodologias distintas que enriquecem nosso entendimento dos fenômenos sociais e culturais. A antropologia britânica, com seu foco na estrutura social, e a antropologia estadunidense, com sua ênfase na diversidade cultural, interagem e se complementam, criando uma visão panorâmica rica e multidimensional da humanidade. Essas abordagens não apenas moldaram o campo da antropologia, mas também influenciaram, significativamente, a forma como abordamos e tentamos resolver problemas sociais e culturais. Ambas as escolas de pensamento contribuíram para a aplicação da antropologia em contextos globais, desde programas de desenvolvimento e ajuda humanitária até a implementação de políticas culturais sensíveis. 40 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Portanto, ao refletir sobre a relevância das antropologias inglesa e estadunidense, não podemos subestimar seu valor intrínseco e sua influência no mundo. Suas contribuições à nossa compreensão da diversidade cultural e dos fenômenos sociais são inestimáveis e continuam a fornecer ferramentas e perspectivas únicas para navegar em nossa sociedade global, cada vez mais complexa. Por isso, o estudo e a compreensão dessas escolas antropológicas são essenciais para qualquer pessoa que busque uma compreensão mais profunda da condição humana e de nosso mundo multicultural. RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a antropologia, como campo de estudo, é influenciada, ricamente, por diferentes escolas de pensamento, cada uma com suas próprias perspectivas e metodologias. No contexto das antropologias inglesa e estadunidense, vimos como essas escolas contribuíram para a formação do campo da antropologia, com a antropologia inglesa focada, principalmente, na estrutura social, e a antropologia estadunidense focada, majoritariamente, na diversidade cultural. Em nossa jornada pelas raízes históricas, você conheceu os principais pioneiros e suas contribuições notáveis para o campo antropológico. Cada um deixou um legado de pensamento, abordagens e metodologias que enriqueceu nossa compreensão da diversidade e da complexidade humanas. Por fim, exploramos as formas pelas quais essas abordagens da antropologia são aplicadas na análise de fenômenos sociais e culturais. 41SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Vimos como as perspectivas e as técnicas desenvolvidas por antropólogos ingleses e estadunidenses são empregadas para navegar e entender nossa sociedade globalmente diversa e complexa. Esperamos que, ao terminar este capítulo, você tenha desenvolvido um discernimento aguçado das contribuições inglesa e estadunidense para o campo da antropologia, bem como de sua aplicação na análise de fenômenos sociais e culturais. Cada escola de pensamento oferece uma lente única através da qual podemos entender e apreciar a rica tapeçaria da experiência humana. E então, motivado para desenvolver ainda mais essa competência? Vamos lá. Avante! 42 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Escolas Antropológicas OBJETIVO Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funcionam as diferentes escolas antropológicas e suas aplicações no estudo dos fenômenos sociais e culturais.Esse conhecimento será fundamental para o exercício de sua profissão, permitindo que você tenha uma visão mais completa e multidimensional da cultura e da sociedade. As pessoas que tentaram analisar fenômenos sociais e culturais sem a devida compreensão das diversas perspectivas proporcionadas pelas escolas antropológicas, muitas vezes, tiveram problemas ao interpretar e contextualizar, corretamente, suas observações e seus dados. Entender essas escolas não apenas fortalecerá sua capacidade analítica, mas também aumentará sua apreciação da diversidade e da complexidade do comportamento humano. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Notas Introdutórias Ao longo da história da antropologia, diversas escolas de pensamento e teorias surgiram e influenciaram a maneira como estudamos e entendemos as sociedades humanas. Neste capítulo, exploraremos algumas das principais escolas antropológicas, desde as teorias do conflito e da mudança estrutural da escola de Manchester e de Edmund Leach até as perspectivas de análise do marxismo, a antropologia histórica, o pós-modernismo e a antropologia do colonialismo (PEIRANO, 2006). Na antropologia, como em muitas outras disciplinas, diferentes teorias representam diferentes maneiras de entender o mundo. Cada uma dessas escolas de pensamento oferece uma 43SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 lente única através da qual podemos analisar a complexidade das sociedades humanas, o que nos permite compreender melhor os fenômenos sociais e culturais (LAPASSADE, 1977). Esperamos que, ao fim deste capítulo, você possa identificar e avaliar, criticamente, essas diferentes abordagens teóricas e, assim, estar mais bem preparado para o estudo e a compreensão da diversidade humana. Então, motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Escola de Manchester e Edmund Leach: conflito e mudança estrutural A escola de Manchester e a obra de Edmund Leach representam importantes contribuições para a antropologia, principalmente no que se refere à análise do conflito e da mudança estrutural. A escola de Manchester, também conhecida como a Escola da Situacionalidade, teve origem na Universidade de Manchester, na Inglaterra, na década de 1950. É conhecida, especialmente, por seu foco no estudo de situações de conflito nas sociedades africanas do pós-guerra (EPSTEIN, 1958). Com uma abordagem eminentemente situacional e dinâmica, seus membros acreditavam que o conflito social era não apenas inevitável, mas também um motor crucial para a mudança estrutural. Em contraponto, Edmund Leach, antropólogo britânico, também dedicou uma parte significativa de seu trabalho ao estudo de conflitos e mudanças estruturais. É conhecido por suas pesquisas inovadoras em sociedades da do Sudeste Asiático, como Burma e Sri Lanka. Leach propôs que a estrutura 44 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 social não é um sistema estável e contínuo, mas um processo em constantes fluxo e transformação, impulsionado por tensões e conflitos internos (LEACH, 1954). A comparação entre a escola de Manchester e Edmund Leach revela uma semelhança crucial: ambos percebem o conflito como um componente intrínseco das sociedades humanas e um motor para a mudança. No entanto, também existem diferenças significativas em suas abordagens, particularmente em relação à ênfase de Leach na variabilidade e na flexibilidade das categorias sociais e dos sistemas de parentesco. Essas abordagens continuam influentes na antropologia contemporânea, especialmente na análise de conflitos sociais e de mudanças estruturais. É importante para qualquer estudante de antropologia entender essas perspectivas e avaliá-las criticamente. O enfoque da Escola de Manchester A escola de Manchester, criada em torno da Universidade de Manchester, no Reino Unido, durante a década de 1950, teve um enfoque particular na observação de comunidades urbanas nas Áfricas Central e do Sul, durante o período de descolonização. Em vez de ver o conflito como patológico ou disfuncional, essa escola o considerava uma parte inevitável e funcional da vida social (GLUCKMAN, 1955). Os antropólogos dessa escola, liderados por Max Gluckman, adotaram um enfoque que chamavam de "análise de situação", que buscava entender o comportamento social em termos de tensões e contradições existentes dentro de determinada situação social. Esse enfoque prestava especial atenção às situações de conflito, que eram vistas como 45SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 momentos reveladores das normas e das estruturas subjacentes da sociedade (GLUCKMAN, 1955). A contribuição da escola de Manchester para a antropologia reside em seu enfoque na "situacionalidade" do comportamento social e na ênfase que coloca no conflito como um fenômeno inerente à vida social. Essa perspectiva oferece ferramentas úteis para a análise de conflitos em diversas sociedades, incluindo as sociedades contemporâneas. Edmund Leach e seus estudos Edmund Leach foi um antropólogo britânico influente que contribuiu para a nossa compreensão da mudança estrutural em sociedades por meio de suas investigações sobre a sociedade Kachin, de Mianmar (antiga Birmânia). NOTA Leach é bem conhecido por seu trabalho Sistemas políticos da Alta Birmânia (1954), que desafia as perspectivas antropológicas tradicionais das sociedades não ocidentais, particularmente a visão de que essas sociedades são estruturas estáticas e imutáveis. Ao contrário, Leach argumentou que a sociedade Kachin passava por constantes ciclos de mudança, oscilando entre dois sistemas políticos: um sistema igualitário e um sistema hierárquico (LEACH, 1954). Leach propôs o conceito de "oscilação estrutural", sugerindo que a mudança não é um desvio do equilíbrio social, mas uma parte essencial da organização social. Seu trabalho foi um marco no desenvolvimento da antropologia como um campo comprometido com a compreensão das complexidades do processo social e da mudança (DOUGLAS, 1980). 46 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Edmund Leach foi um dos primeiros antropólogos a integrar, de maneira significativa, a análise estrutural e o estudo do processo social, fornecendo uma maneira valiosa de entender as mudanças sociais e culturais nas sociedades ao longo do tempo. Comparação entre escola de Manchester e Edmund Leach A escola de Manchester e Edmund Leach se distinguem no campo da antropologia por suas contribuições significativas para a compreensão dos conflitos e das mudanças estruturais nas sociedades. NOTA A escola de Manchester, sob a liderança de Max Gluckman, caracterizou-se por uma atenção especial aos processos de conflito e de resolução nas sociedades complexas do sul da África. Ao mesmo tempo, Gluckman e seus colegas buscavam compreender como as estruturas sociais se mantinham e mudavam ao longo do tempo (GLUCKMAN, 1955). Por outro lado, Edmund Leach, estudando a sociedade Kachin, em Mianmar, abordou a mudança estrutural de uma perspectiva diferente. Argumentou que a sociedade Kachin oscilava entre dois sistemas políticos distintos: um sistema hierárquico e um sistema igualitário. Para Leach, a mudança estrutural era um aspecto inerente da organização social, e não um desvio da norma (LEACH, 1954). Apesar de suas abordagens distintas, a escola de Manchester e Edmund Leach partilharam o interesse de entender a mudança e o conflito dentro das sociedades. Ambos rejeitaram a ideia de que as sociedades são estáticas e imutáveis; em vez 47SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 disso, sustentaram que o conflito e a mudança são aspectos cruciais da vida social. Impacto e influência atual As abordagens teóricas desenvolvidas pela escola de Manchester e por Edmund Leach têm impactos e influências duradouros no campo da antropologia. Embora cada escola apresente suas peculiaridades, ambas trouxeram contribuições significativas para o entendimentodas dinâmicas sociais e da mudança estrutural. A escola de Manchester introduziu um novo foco no conflito social e nas complexidades das sociedades africanas. Essa abordagem influenciou gerações de antropólogos, ampliando o escopo da antropologia para além das sociedades simples e destacando a importância dos contextos político e histórico no estudo das sociedades (GLUCKMAN, 1955). Por sua vez, Edmund Leach foi pioneiro em destacar a fluidez das categorias sociais e a natureza cíclica da mudança estrutural. Sua obra desafiou conceitos tradicionais de estrutura social e forneceu um novo quadro para o estudo da mudança social. Os conceitos e os métodos de Leach continuam sendo uma referência essencial na antropologia atual, influenciando pesquisas em diversas áreas, desde os estudos de gênero até os antropologia política (LEACH, 1954). Atualmente, as ideias da escola de Manchester e de Edmund Leach ainda são relevantes e continuam a influenciar a antropologia e outras ciências sociais. Seus trabalhos não só nos ajudam a compreender a complexidade da vida social, mas também nos lembram a importância de considerar as dinâmicas de conflito e de mudança em nossas análises. 48 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa: enfoques teóricos Ao embarcarmos em uma exploração das abordagens teóricas na antropologia, duas escolas significativas que demandam nossa atenção são o materialismo cultural e a antropologia interpretativa. Ambas fornecem estruturas analíticas poderosas porém distintas para entender as culturas humanas (HARRIS, 1979; GEERTZ, 1973). O materialismo cultural, popularizado por Marvin Harris, situa-se dentro de uma tradição marxista, embora apresente suas peculiaridades. Procura entender os fenômenos culturais à luz das condições materiais e ecológicas que moldam a vida das pessoas (HARRIS, 1979). A cultura, aqui, não é vista como um mero reflexo da economia, mas como um sistema complexo que evolui para atender às necessidades materiais de uma sociedade. Por outro lado, a antropologia interpretativa, tal como articulada por Clifford Geertz, representa uma ruptura com os enfoques mais determinísticos. Para Geertz, a cultura não pode ser reduzida apenas a suas bases materiais. Em vez disso, argumenta que devemos interpretar a cultura como um "sistema de significados" que os membros de uma sociedade usam para dar sentido ao mundo (GEERTZ, 1973). Ambas as abordagens representam tentativas valiosas de entender a complexidade da cultura humana. No entanto, diferem, significativamente, em metodologias e premissas básicas. Nosso trabalho, agora, será explorar esses elementos em detalhes. 49SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 Desenvolvimento do materialismo cultural A trajetória do materialismo cultural na antropologia é bastante intrigante, pois se desenvolveu como uma reação a outras escolas de pensamento. Originada como uma crítica ao estrutural-funcionalismo e ao particularismo histórico, essa abordagem se posiciona, firmemente, em favor da convicção de que a vida material de uma sociedade, as condições ecológicas e as condições econômicas formam a base para a superestrutura cultural (HARRIS, 1979). O materialismo cultural foi desenvolvido e popularizado por Marvin Harris na década de 1960. Sua teoria era uma tentativa de fornecer um método científico para o estudo da cultura, que acreditava ser negligenciado pela antropologia da época. Segundo Harris, a chave para entender a cultura reside na maneira como as sociedades se organizam para produzir e reproduzir sua existência material. Para ele, os fenômenos culturais eram mais bem explicados em termos de sua função na manutenção da vida material de uma sociedade (HARRIS, 1979). Apesar de suas raízes no marxismo, o materialismo cultural de Harris difere ao colocar menos ênfase na luta de classes como motor da mudança cultural e ao se concentrar mais na adaptação ecológica. Harris também se afastou do marxismo ao negar que a superestrutura da sociedade (ou seja, suas instituições políticas e ideológicas) tem qualquer autonomia significativa ou poder causal em relação à infraestrutura material (HARRIS, 1979). Apesar de suas críticas, a teoria do materialismo cultural contribuiu, significativamente, para a antropologia, oferecendo 50 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 uma forma de pensar a cultura que enfatiza sua ligação com a economia e o meio ambiente. Desenvolvimento da Antropologia Interpretativa A antropologia interpretativa surgiu como uma reação à antropologia estruturalista e funcionalista, que dominou a primeira metade do século XX. Ganhou destaque na década de 1960, sendo liderada, principalmente, pelo antropólogo Clifford Geertz, cujo trabalho tem sido fundamental para o desenvolvimento dessa abordagem (GEERTZ, 1973). A antropologia interpretativa, também conhecida como simbólica ou hermenêutica, difere do materialismo cultural e de outras abordagens em sua ênfase na interpretação. Para Geertz, a cultura é composta por significados, símbolos e ideias que as pessoas constroem e negociam em sua vida diária. O papel do antropólogo, portanto, é interpretar esses símbolos e seus significados, uma tarefa que Geertz comparou à leitura de um texto (GEERTZ, 1973). Geertz rejeitou a ideia de que a cultura poderia ser reduzida a leis universais e a princípios gerais. Em vez disso, argumentou que cada cultura é única e deve ser entendida em seus próprios termos. Também rejeitou a separação rígida entre a infraestrutura material e a superestrutura cultural, típica do materialismo cultural. Para Geertz, a cultura não é determinada por condições materiais, mas é uma força ativa que molda a maneira como as pessoas vivem suas vidas (GEERTZ, 1973). O trabalho de Geertz tem sido influente, mas também é criticado. Alguns criticam sua falta de consideração por questões de poder e conflito, enquanto outros argumentam que sua 51SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 abordagem é subjetiva em excesso e, por isso, não científica. No entanto, a antropologia interpretativa tem sido fundamental para levar a antropologia a considerar, seriamente, o papel de símbolos e significados na vida humana. Comparação entre Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa O materialismo cultural e a antropologia interpretativa representam dois enfoques teóricos distintos que surgiram no campo da antropologia no século XX. Apesar de serem diferentes, compartilham o objetivo de compreender as complexidades da cultura humana e a maneira como as pessoas vivem suas vidas. O materialismo cultural, conforme proposto por Marvin Harris, busca compreender a cultura humana examinando as condições materiais de vida das pessoas e como moldam crenças, valores e práticas culturais. De acordo com essa abordagem, a infraestrutura econômica e tecnológica de uma sociedade desempenha um papel fundamental na determinação de sua estrutura e de sua superestrutura cultural (HARRIS, 1979). Por outro lado, a antropologia interpretativa, liderada, principalmente, por Clifford Geertz, coloca ênfase na interpretação de símbolos e significados que compõem a cultura. Para Geertz, a cultura não é determinada por condições materiais, mas é uma força ativa que molda a maneira como as pessoas vivem suas vidas. Vê a cultura como um sistema de símbolos e significados, e o papel do antropólogo, como o de interpretar esses significados (GEERTZ, 1973). Embora ambos os enfoques reconheçam a importância da cultura na vida humana, diferem na maneira como veem a relação entre a cultura e a vida material. O materialismo cultural 52 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 tende a ver a cultura como determinada por condições materiais, enquanto a antropologia interpretativa vê a cultura como ativa na formação da vida social. Em última análise, essas duas abordagens refletem diferentes maneirasde se aprofundar em questões cruciais para compreender a diversidade cultural, a importância da proteção dos direitos dos povos indígenas e a necessidade de combater o racismo e as desigualdades étnico- raciais em nosso país. Ao compreender esses temas, você está preparado para contribuir para uma sociedade mais justa, inclusiva e respeitosa com todas as suas diferentes expressões culturais e étnicas. Portanto, parabéns por ter absorvido esses conhecimentos! Agora, você está mais preparado para enfrentar os desafios e atuar, de forma consciente e responsável, na promoção da diversidade e no combate a qualquer forma de preconceito e discriminação étnica ou cultural. 78 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 ABU-LUGHOD, L. Writing against culture. In: ABU-LUGHOD, L. Recapturing Anthropology: working in the present. Santa Fé, NM: School of American Research Press, 1991. APPADURAI, A. Disjuncture and difference in the global cultural economy. São Paulo: Edusp, 1990. ASAD, T. Anthropology & the Colonial Encounter. Londres: Ithaca Press, 1973. ASAD, T. After colonialism: imperial histories and postcolonial displacements. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1991. BAKER, L. D. From savage to negro: Anthropology and the construction of race, 1896-1954. California: University of California Press, 1998. BENEDICT, R. Padrões de Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1934. BRETT, R. L. The colonial present: Afghanistan, Palestine, Iraq. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 1999. BOTTOMORE, T. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. BOROFSKY, R. Why a public Anthropology? Social Anthropology, v. 13, n. 2, p. 135-144, 2005. BOAS, F. The social organization and the secret societies of the Kwakiutl Indians. [S. l.]: U.S. National Museum. 1897. BOAS, F. The mind of primitive man. [S. l.]: Macmillan, 1911. BOAS, F. Race, language, and culture. Chicago: University of Chicago Press, 1940. RE FE RÊ N CI A S 79SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 BOAS, F. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BLOCH, M. How we think they think: anthropological approaches to cognition, memory, and literacy. Boulder, CO: Westview Press, 1998. BOELLSTORFF, T. Coming of age in second life: an anthropologist explores the virtually human. Princeton: Princeton University Press, 2008. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL. Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Estatuto do Índio. Brasília, DF: Presidência da República, 1973. CASTELLS, M. A sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2009. CASTRO, E. V. de. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2015. CUNHA, M. C. da. Políticas indigenistas no Brasil: algumas reflexões. In: CUNHA, M. C. da. Políticas indigenistas no Brasil: ensaios. São Paulo: Edusp, 2019. p. 13-34. CLIFFORD, J.; MARCUS, G. E. Writing culture: the poetics and politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986. CLIFFORD, J. The predicament of culture: twentieth-century Ethnography, Literature, and Art. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1988. DARWIN, C. A origem das espécies. São Paulo: Martin Claret, 2004. 80 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 DA MATTA, R. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. DYSON, L. E.; HENDRIKS, M.; GRANT, S. Information technology and indigenous people. Hershey, PA: Information Science Publishing, 2007. DOUGLAS, M. Pureza e perigo. Rio de Janeiro: Perspectiva, 1966. EPSTEIN, A. L. The Manchester School in South-Central Africa. Annual Review of Anthropology, v. 13, p. 157-185, 1984. FOUCAULT, M. The archaeology of knowledge. Londres: Tavistock, 1972. GEERTZ, C. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2000. GONÇALVES, L. T. M. Estudos étnico-raciais no Brasil: reflexões sobre a produção acadêmica. JORNADA DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE, 2016, Campinas. Anais [...] Campinas: Unicamp, 2016. GEERTZ, C. The interpretation of cultures: selected essays. Nova York: Basic Books, 1973. GEERTZ, C. Works and lives: the anthropologist as author. Stanford, CA: Stanford University Press, 1988. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 81SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 GODELIER, M. Perspectives in Marxist Anthropology. Cambridge: Cambridge University Press, 1977. GLUCKMAN, M. Custom and conflict in Africa. Oxford: Blackwell, 1955. GLUCKMAN, M. Política, direito e ritual em sociedade tribal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1974. HASENBALG, C. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 2017. HARRIS, M. Cultural Materialism: the struggle for a science of culture. Nova York: Random House, 1979. HORST, H. A.; MILLER, D. Digital Anthropology. Londres: Berg, 2012. INGOLD, T. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge, 2000. INGOLD, T. A brief history and theory of anthropology. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. KNAPP, A. B. Arqueologia e antropologia histórica: perspectivas sobre a história. São Paulo: Edusp, 1992. KNAUFT, B. M. Genealogies for the present in Cultural Anthropology. Nova York: Routledge, 1991. KROEBER, A. L. Anthropology: culture patterns & processes. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Company, 1948. 82 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 KUPER, A. Anthropology and anthropologists: the modern British school. 3. ed. Londres: Routledge, 1996. KUPER, A. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: Edusc, 1999. KUKLICK, H. Novas histórias da antropologia. In: KUKLICK, H. História da antropologia. São Paulo: Unesp, 2008. LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2017. LEACH, E. Political systems of Highland Burma: a study of Kachin social structure. Londres: Bell, 1954. LEACH, E. Rethinking Anthropology. Londres: Athlone Press, 1961. LEACH, E. R. Sistemas políticos da Alta Birmânia: um estudo da estrutura político-social kachin. São Paulo: Edusp, 1996. L'ESTOILE, B. Antropologia britânica e antropologia americana: o estruturalismo funcionalista e o culturalismo. Mana, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 173-192, 2008. LÉVI-STRAUSS, C. Tristes Trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1955. LEVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976. MARCUS, G. E. Ethnography through thick and thin. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1998. 83SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 MALINOWSKI, B. Argonauts of the Western Pacific: an account of native enterprise and adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1922. MALINOWSKI, B. Argonauts of the Western Pacific: an account of native enterprise and adventure in the Archipelagoes of Melanesian New Guinea. Londres: Routledge, 1978. MEAD, M. Coming of Age in Samoa. Nova York: William Morrow, 1928. MORGAN, L. H. A sociedade antiga. São Paulo: Abril Cultural, 1877. NAKATA, M. The cultural interface. The Australian Journal of Indigenous Education, 2007. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Convenção n.º 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes. Genebra: OIT, 1989. ORTNER, S. B. Theory in Anthropology since the sixties. Comparative Studies in Society and History, 1984. PATTON, M. Q. Qualitative research & evaluation methods. 3. ed. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 2002. PIETERSE, J. N. Globalização e cultura. São Paulo: Vozes, 2004. RADCLIFFE-BROWN, A. R. Structure and function in primitive society: essays and addresses. Londres: Cohen & West Ltd, 1952. 84 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 SAHLINS, M. The use and abuse of Biology: an anthropological critique of Sociobiology. Ann Arbor:University of Michigan Press, 1976. SAHLINS, M. Culture in practice: selected essays. Nova York: Zone Books, 2003. SANTILLI, J. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. SILVA, P. B. G. e. Estudos étnicos e raciais no Brasil: reflexões sobre produção acadêmica e políticas públicas. ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO, 2019, Recife. Anais [...]. Recife: UFPE, 2019. STOCKING, G. W. Race, culture, and evolution: essays in the history of anthropology. The Free Press, 1968. STOCKING, G. W. Race, culture, and evolution: essays in the history of anthropology. Chicago: University of Chicago Press, 1982. STOCKING, G. W. Race, culture, and evolution: essays in the history of anthropology. Chicago: University of Chicago Press, 1987. STOCKING, G. W. The ethnographer's magic and other essays in the History of Anthropology. [S. l.]: University of Wisconsin Press, 1992. TURKLE, S. Alone together: why we expect more from technology and less from each other. Nova York: Basic Books, 2011. 85SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA U ni da de 2 TYLOR, E. B. Primitive culture: researches into the development of mythology, philosophy, religion, art, and custom. Londres: John Murray, 1871. VIEIRA FILHO, J. R. B. Política indigenista no Brasil: notas sobre seu desenvolvimento histórico. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 223-264, 2009. WOLF, E. Europe and the people without history. Berkeley: University of California Press, 1982. Evolucionismo antropológico Origens e Princípios do Evolucionismo Antropológico O Surgimento do Evolucionismo Antropológico Princípios Fundamentais do Evolucionismo Antropológico Evolucionismo antropológico e a análise de fenômenos sociais contemporâneos Evolucionismo antropológico: uma ferramenta para entender o contemporâneo Limitações e críticas na aplicação do evolucionismo antropológico Contribuições do evolucionismo antropológico para a análise sociocultural contemporânea Evolucionismo antropológico no contexto da cultura contemporânea Globalização e evolucionismo antropológico Tecnologia digital e evolucionismo antropológico Diversidade cultural e evolucionismo antropológico Críticas e limitações do evolucionismo antropológico na cultura contemporânea Antropologia Inglesa e Estadunidense Raízes históricas da antropologia inglesa e estadunidense Evolução da Antropologia na Inglaterra Evolução da Antropologia nos Estados Unidos Comparação entre a Antropologia Inglesa e a Estadunidense Contribuições notáveis da Antropologia inglesa e Estadunidense para o campo Antropológico Pioneiros da Antropologia Estadunidense Pioneiros da Antropologia inglesa Impacto global e relevância atual Aplicação da Antropologia inglesa e Estadunidense na análise de fenômenos sociais e culturais Aplicação da Antropologia Inglesa Aplicação da Antropologia Estadunidense Escolas Antropológicas Notas Introdutórias Escola de Manchester e Edmund Leach: conflito e mudança estrutural O enfoque da Escola de Manchester Edmund Leach e seus estudos Comparação entre escola de Manchester e Edmund Leach Impacto e influência atual Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa: enfoques teóricos Desenvolvimento do materialismo cultural Desenvolvimento da Antropologia Interpretativa Comparação entre Materialismo Cultural e Antropologia Interpretativa Influência e relevância atual do Materialismo Cultural e da Antropologia Interpretativa Marxismo, Antropologia Histórica, Pós-Modernismo e Antropologia do Colonialismo: Perspectivas de Análise Marxismo na Antropologia Antropologia Histórica Pós-Modernismo na Antropologia Comparação entre as quatro perspectivas Impacto e influência atual Etnologia Indígena, estudos Ético-Raciais no Brasil Notas Introdutórias Política Indigenista no Brasil: Legislação e Desafios Legislação Indigenista no Brasil Desafios das Políticas Indígenas Reflexões e Perspectivas futuras Etnologia Indígena no Brasil: Estudo e Abordagens Métodos de Estudo em Etnologia Indígena Abordagens Teóricas em Etnologia Indígena Estudos Étnico-Raciais no Brasil: Identidade, Racismo e Desigualdade