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Crise Convulsivas Introdução É um sintoma (não é diagnóstico) Estatísticas 8% da população apresenta um crise convulsiva na vida 2% a 5% da população tem epilepsia No Brasil estima-se 90.00 casos por ano Definição “Perturbação involuntária paroxística da função cerebral que se manifesta pela perda da consciência, atividade motora anormal, anormalidades do comportamento, anormalidade sensitivas ou disfunção autônoma” (Tratado de Pediatria Nelson) A epilepsia é “definida como uma desordem cerebral crônica, de várias etiologias, caracterizada por crises epilépticas recorrentes não provocadas (crises que aparecem sem um desencadeante óbvio) consequentes a descargas neuronais excessivas e síncronas” (Dr. Jair Luiz de Moraes) Crises (etiologia) Sintomáticas: quando existe uma causa conhecida ou fortemente inferida Criptogênicas: quando não existe uma causa conhecida ou presumível Idiopáticas: quando a causa é genética, familiar Avaliação É de grande importância identificar na história clínica Tipo de crise Idade de início As circunstâncias do aparecimento das crises (fatores precipitantes) Horário e duração das crises Nível de consciência Características Os sintomas prodrômicos ou iniciais AURA ou crise parcial Os sintomas pós ictais: Sonolência cefaleia Caracterização semiológica dos eventos epilépticos Hipertonia Presença de cianose Relaxamento de esfíncteres Tipos Focal: rotação da cabeça e dos olhos para um lado, movimentos unilaterais ou sensitivos Generalizada: movimentos de todos os membros (bilateral) Tônicas: hipertonia ou rigidez Clônicas: Contração e relaxamento musculares de maneira ritma Atônicas: flacidez Mioclônicas: contrações de um músculo (choque elétrico) Classificação Crises Parciais: Crise Parcial Simples (aurea) Crise Parcial Complexa Epilepsia Parcial Benigna Crises Generalizadas: Crise de Ausência Crise Mioclônicas Crise Clônicas Crise Tônicas Crise Tônico-clônica Crise Atônicas Status Epilepticus Crise convulsiva Febril Convulsões Parciais Convulsão Parcial Simples Sem comprometimento da consciência Movimentos tônicos ou clônicos assincrônicos Tendem a envolver a face (ex.: caretas, movimentos oculares), pescoço, membros Alguns queixam de áurea (desconforto torácico ou cefaleia) Duração curta (20 segundos) Confundidos às vezes com tiques Convulsões Parcial Convulsões Parcial Complexa Comprometimento da consciência Pode ter áureas (desconforto epigástrico, medo) Pode se apresentar com: um olhar vago Interrupção súbita da atividade Automatismo: estalo dos lábios, mastigação, movimentos mastigatórios Muitas vezes não é percebida pelo progenitor Pode durar 1 a 2 minutos (mais que a simples ou da de ausência) Às vezes há a progressão para crise convulsiva generalizada tônico-clônica Convulsões Parciais Epilepsia Parcial Benigna (crises convulsivas Sutis) Comum na infância Bom prognóstico Sinais motores e sensitivos na face Contrações e parestesia da língua Contraturas musculares unilaterais faciais e em membros ipsi laterais Consciência pode ou não estar comprometida Convulsões Generalizadas Crise de Ausência típica (pequeno mal) Interrupção súbita da atividade motora ou fala Face inexpressiva Tremulação das pálpebras Incomum antes de 5 anos Duração até 30 segundos Sem comprometimento pós-ictal Pode ter uma hiperventilação Convulsões Generalizadas Crise de ausência atípica Em geral acometem crianças com comprometimento neurológico Resistentes à medicação Alteração breve da consciência com mínimas contrações musculares generalizadas Menor comprometimento da consciência associado com confusão mental Convulsões Generalizadas Tônico-clônico generalizada (grande mal) Extremamente comuns Pode ter uma origem focal Perda da consciência subitamente Viram-se os olhos Toda a musculatura corporal se contrai Cianose e apneia Contrações clônicas ritmas e alternadas Relaxamento de esfíncteres Período pós-ictal: sonolência, cefaleia, confusão Pode ser decorrente de vários fatores Convulsões Generalizadas Mioclônicas Contrações musculares breves, geralmente simétricos Perda do tônus corporal Pode deixar cair objetos da mão Pode não haver perda da consciência Relata como surtos ou choques elétricos Clônicas Várias contrações em todo o corpo Duração de poucos segundos ou minutos Convulsões Generalizadas Tônicas Contrações musculares mantidas do corpo ou membros Poucos segundos Atônicas Raras Perda súbita do tônus da musculatura postural Cai no chão Sem sintomas pós-ictal Convulsões Generalizadas Síndrome de West (Espasmo do lactente) Inicia entre 3 a 9 meses Atraso no DNPM Contrações simétricas breves do pescoço, tronco e membros Contração dos flexores em série ou em salvas Contração dos extensores (menos comum) Misto: flexão em algumas salvas e extensores em outras As criptogênicas tem alguma história prévia: Encefalopatia hipóxico-isquêmica Erro Inato do metabolismo Síndrome neurocutâneas Infecções do SNC Traumas Convulsão febril Ocorre na infância Ausência de causa neurológica Exceto nas crianças epilépticas Sempre associado à febre Faixa etária 3 meses a 5 anos 6 meses a 6 anos Convulsão febril Simples Única crise tônico-clônico generalizada por até 5 minutos Complexa Crise focal por mais de 15 minutos com período pós-ictal Recorre em 24 horas Estimativa de incidência de 4% Distúrbio neurológico mais comum na infância Convulsão febril Estudos sugerem fatores Cérebro imaturo Relação com prematuridade Uso de corticoides no período neonatal Baixo limiar convulsivo suscetibilidade a infecções Genéticos 24% história familiar de convulsão febril 4% história de epilepsia Diagnóstico Clínico Anamnese História de epilepsia, intoxicação, história familiar Exame Físico Sinais meníngeos, fontanela Fator desencadeante: variações bruscas de temperatura Exames Punção lombar Menores de 12 meses (recomendação) Se houver suspeita de meningite Exames laboratoriais Para investigação infecciosa EEG Não recomendado Imagem Não há necessidade Somente se suspeita de doença neurológica Prognóstico Benigno 70% terá apenas uma crise 20% terá mais uma Convulsão Febril 10% terá várias Convulsões Febris 2% a 7% evoluirá com epilepsia * Fatores preditivos (questionáveis) Menores de 18 meses História familiar de Convulsão Febril Duração da febre menor que uma hora antes da 1ª crise convulsiva Temperatura baixa na sala de emergência Tratamento Fora da crise (profilaxia) Questionável Indicado naquelas com valor preditivo Fenobarbital Especialmente antes de 2 anos Ácido Valpróico Maiores de 2 anos Benzodiazepínicos Especialmente para profilaxia recorrente (vigência de febre) Diazepam Clonazepam Mal epiléptico (Status epilepticus) “Convulsão contínua com duração maior que 30 minutos ou a recorrência de convulsões sucessivas entre as quais não há recuperação da consciência” (Tratado de Pediatria Nelson) Podem ser classificadas como generalizada ou parcial (simples ou complexas com generalização secundária) O estado de Mal epilético é uma emergência médica Mal epiléptico (Status epilepticus) Está indicado o tratamento precoce da crise a partir de 5 minutos de duração, ou a partir da ocorrência de duas ou mais crises sem recuperação da consciência. Essa condição pode causar mortalidade em 10-15% dos casos Tratamento deve ser imediato. As mesmas causas de crises convulsivas autolimitadas podem causar o estado de mal epiléptico. Etiologia Convulsões febris prolongada Mais comum em menores de 3 anos Estado de mal epilético idiopático Ausência de lesão ou insulto SNC Geralmente são aqueles com interrupção abrupta de anticonvulsionantes Estado de mal epilético sintomático Associada a um distúrbio neurológico crônico ou metabólico A privação do sono e infecção tendem a tornar os pacientes epilépticos mais susceptíveis ao estado de mal epiléptico Etiologia Pode ser manifestação inicial de encefalite Complicação de meningite Lactentes com má formação congênita do cérebro Erros inatos do metabolismo podem se manifestar em RN Anormalidades eletrolíticas Síndromede Reye Intoxicações por chumbo Tumores cerebrais Fisiopatologia Desconhecida a relação entre duração do mal epilético e prognóstico Há evidências que ocasiona lesão neuronal, menor em crianças A lesão neuronal pode vir da demanda metabólica aumentada em neurônios em descarga contínua Alterações anatomopatológicas comuns: Congestão venosa Pequenas hemorragias petequeais Edema Alterações celulares isquêmicas Perda celular Aumento de astrócitos reativos Fisiopatologia Há aumento relevante do fluxo sanguíneo Aumento da taxa metabólica durante o Mal Epilético Convulsões prolongadas associam com: hipoglicemia acidose lática Hipertensão intracraniana Níveis circulantes de prolactina, glucagon, cortisol, epinefrina, insulina Concentrações aumentadas neuronais de ácido araquidônico, prostaglandinas, cálcio podem acarretar em morte celular Tratamento Objetivo do tratamento visa manter as funções vitais e controlar as convulsões Avaliação do sistema respiratório e circulatório Transferida para UTI Garantir Via Oral (desobstrução) Ofertar O2, se insucesso, VPP e intubação e VM Obter acesso venoso rapidamente Glicemia capilar: Se hipoglicemia, ofertar SG 10% 5 ml/Kg Tratamento Estabilização (até 5 minutos): GLICEMIA CAPILAR acesso venoso; coleta de exames; assegurar via aérea; fornecer oxigênio; Glicose Hipertônica 50% 2 mL/Kg; Tratamento Solicitar: Hemograma Eletrólitos Glicemia Creatinina Níveis de anticonvulsivantes Amostra de urina para toxicologia Gasometria arterial Líquor rotina, bacterioscopia e cultura Monitorização contínua EEG Tratamento Exame físico neurológico: Evidência de traumatismo (papiledema, fontanela abaulada, sinais de hipertensão intracraniana) Meningites ou sepse Hemorragias retinianas (hematoma subdural) Respiração de Kussmaul Desidratação (sugestão de acidose metabólica) Respiração irregular (sugestão de disfunção de tronco encefálico) Odor peculiar, atraso no DNPM, pigmentação anormal dos cabelos (a favor de erro inato do metabolismo) Dilatação ou constrição das pupilas (sugestivo de toxinas) Tratamento Exames neurorradiológicos TC RNM Drogas: Sempre em uso IV (uso IM não é confiável) Cuidado com a dosagem (muito baixa não fará efeito) Forma como o anticonvulsionante é administrado Fenitoína com Soro Glicosado forma um precipitado Algumas drogas sofrem efeito com a luz e interagem com o plástico Necessário equipamento de ressuscitação Tratamento Benzodiazepínicos Em bolus, direto na veia lentamente Ação rápida e meia vida curta Eficaz nas crises tônico-clônicas Diazepam e Lorazepam podem ser feitos por via retal Midazolam pode ser feito por via intra nasal Lorazepam pode ser administrado por via sublingual (casa) Tratamento Fenitoína: Administrada se a crise cessou após benzodiazepínico Diluir com SF 0,9% para evitar dor, flebite e irritação Não infundir com SGI 5% (precipitação) Dose de ataque 15 a 20 mg/kg e manutenção de 5 a 8 mg/kg Deve ser monitorado a dose sérica de fenitoína Tratamento Fenobarbital Pode ser administrado por EV ou IM Dose de ataque 10 a 15 mg/kg (20 mg/kg no RN) Manutenção de 3 a 5 mg/kg Tratamento Anestesia geral Coadjuvante se a terapia convencional Provavelmente atua revertendo a anoxia cerebral, permitindo ação dos anticonvulsivantes Monitorização por Eletroencefalograma Midazolam (50 mg/10mL): Dose de ataque: 0,2 mg/kg IV em infusão lenta Manutenção: 1-10 mcg/kg/min; Propofol (200 mg/20mL): Dose de ataque: 1-2 mg/kg IV em infusão lenta; Manutenção: 1-15 mg/kg/h; Pentobarbital (30 mg/mL): Dose de ataque: 10-15 mg/kg IV em 1 hora; Manutenção: 0,5-1,0 mg/kg/h. Tratamento Valproato de sódio Como não existe apresentação endovenosa: administrada por via retal Pode ser considerado no tratamento refratários ao anticonvulsionantes convencionais O uso de anticonvulsionantes após o Mal epiléptico é controverso. Deve-se manter um droga anticonvulsionante com distúrbio neurológico Prognóstico A taxa de mortalidade geral é cerca de 5% Maior no grupo de sintomáticos Sequelas como hemiplegia, síndromes extrapiramidais, retardo mental e epilepsia são mais comuns em menores de 1 ano image1.png