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1 PRESCRIÇÃODO EXECÍCIO FÍSICO PARA PACIENTES COM CÂNCER 2 SUMÁRIO SISTEMA MUSCULAR .................................................................................... 4 CÂNCER ......................................................................................................... 9 EFEITOS DO CÂNCER E SEU TRATAMENTO ........................................... 11 FADIGA NO PACIENTE COM CÂNCER ....................................................... 15 FRAQUEZA MUSCULAR .............................................................................. 16 EXERCÍCIO FÍSICO E REENTRENAMENTO ............................................... 18 PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO .................................................................... 23 TREINO DE MUSCULAÇÃO ......................................................................... 25 TREINO FUNCIONAL ................................................................................... 26 ESPORTE ..................................................................................................... 27 REENTRENAMENTO CARDIOVASCULAR ................................................. 27 REFERENCIAS ............................................................................................. 29 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publicações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de qualidade. 4 SISTEMA MUSCULAR Formado por cerca de 600 músculos, o sistema muscular é o único sistema do corpo humano que tem a capacidade de transformar energia química em energia mecânica. Juntos, nossos músculos podem somar de 40 a 50% de nosso peso. Essas estruturas são capazes de se contrair e de se relaxar, gerando movimentos que nos permitem andar, correr, saltar, nadar, escrever, impulsionar o alimento ao longo do tubo digestório, promover a circulação do sangue no organismo, urinar, defecar, piscar os olhos, rir, respirar. Então, de uma forma bem elementar, os músculos são as estruturas básicas do Sistema Muscular. Como uma de suas principais propriedades, temos a contração, ou o encurtamento e alongamento das fibras musculares, e é justamente essa característica que torna possíveis os movimentos. Os músculos também são responsáveis, entre outras coisas, por estabilizar as posições do nosso corpo e produzir calor, por exemplo. Esses órgãos são formados por um conjunto de células especializadas que são chamadas de Fibras Musculares (Você verá uma descrição detalhada das Fibras Musculares no final deste post). Funções dos Músculos • Produção dos movimentos corporais: movimentos globais do corpo, como andar e correr. • Estabilização das posições corporais: a contração dos músculos esqueléticos estabiliza as articulações e participam da manutenção das posições corporais, como a de ficar em pé ou sentar. • Regulação do volume dos órgãos: a contração sustentada das faixas anelares dos músculos lisos (esfíncteres) pode impedir a saída do conteúdo de um órgão oco. 5 • Movimento de substâncias dentro do corpo: as contrações dos músculos lisos das paredes vasos sanguíneos regulam a intensidade do fluxo. Esse tipo de músculo também pode mover alimentos, urina e gametas do sistema reprodutivo. Os músculos esqueléticos promovem o fluxo de linfa e o retorno do sangue para o coração. • Produção de calor: Quando o tecido muscular se contrai ele produz calor e grande parte desse calor liberado pelo músculo é usado na manutenção da temperatura corporal. Tipos de Músculos Pode parecer que não, mas os músculos são divididos em três grupos: liso, estriado cardíaco e estriado esquelético. A diferença entre eles exige um estudo em microscópio, mas não é difícil compreender pela classificação. Os músculos lisos não possuem estrias (sim, é como aquelas estrias da pele), e não conseguimos controlá- lo, ou seja, todo seu controle é feito de forma involuntária. Em sua maioria, constituem as paredes dos órgãos musculares como por exemplo o esôfago, estômago e outros órgãos que formam nosso sistema digestivo. Os outros dois tipos de músculos, tanto o cardíaco quanto o esquelético são estriados. O que isso quer dizer? Bom, de forma simplificada, isso significa que a aparência deles lembram estrias. Essas estrias nada mais são que o limite de uma estrutura chamada sarcômero. Dentro da mesma fibra muscular possuímos vários sarcômeros. Para tomar nota: o sarcômero é a unidade contrátil da musculatura, ou seja, eles são responsáveis pelo encolhimento (contração) dos músculos. Pois bem, tanto o músculo cardíaco quanto o esquelético são estriados, porém há algumas diferenças entre eles, por exemplo, quanto ao controle da contração da musculatura. No músculo cardíaco o controle é involuntário. Nós não precisamos pensar no batimento cardíaco para que ele trabalhe. Se compararmos os dois tipos de fibras estriadas, veremos que possuem formas diferentes. O músculo estriado esquelético já tem controle voluntário, ou seja, cada movimento, é pensado, 6 organizado e depois enviado para que os músculos responsáveis executem os momentos de execução. Componentes do Músculo Os músculos são constituídos de duas partes: o ventre muscular e os tendões. O ventre muscular é a parte carnosa da musculatura e, é responsável pela contração muscular, que, como já vimos, é o que produz os movimentos e movem os pesos que carregamos. Sendo assim, podemos afirmar que este é o agente ativo do movimento humano. Já os tendões são formados por tecido conjuntivo rico em fibras colágenas. Para lembrar: o tecido conjuntivo (alguns autores chamam, inclusive de tecido conectivo, justamente por sua função) é caracterizado por apresentar células distanciadas entre si, em maior ou menor grau, responsáveis por unir, ligar, nutrir, proteger e sustentar os outros tecidos. Muito importante: os tendões não possuem unidade de contração muscular, sendo assim, são elementos passivos do movimento, pois transmitem a tensão gerada no músculo durante a contração muscular para as estruturas onde estão fixados, como o joelho, por exemplo. Quando esse músculo cruza uma articulação, e a contração é forte o bastante para movimentar as alavancas corporais formadas pelos ossos e suas articulações, presenciamos o movimento, como aquele de “fazer o muque”, que, tecnicamente, é a flexão do cotovelo quando o bíceps braquial entra em ação. Classificação funcional dos músculos • Agonista: são os músculos principais que ativam um movimento específico do corpo, eles se contraem ativamente para produzir um movimento desejado, normalmente apresenta uma contração concêntrica. Ex: realizar uma flexão de cotovelo, o agonistaé o bíceps braquial. 7 • Antagonista: é aquele que se opõe à ação do agonista, regulando a potência, a força e a rapidez do movimento pretendido, e normalmente, apresenta uma contração excêntrica. Quando o agonista se contrai, o antagonista relaxa progressivamente produzindo um movimento suave. Ex: no exemplo anterior, o antagonista é o tríceps braquial. • Sinergista: é o músculo que indiretamente ajuda em um movimento, atua eliminando ou minimizando movimentos indesejáveis, ajudando assim a tornar os movimentos precisos e objetivos. Ex: no mesmo exemplo, os flexores e extensores do punho contraem-se mantendo estáveis as articulações do punho e cotovelo. • Fixadores: estabilizam a origem do agonista de modo que ele possa agir mais eficientemente. Estabilizam a parte proximal do membro quando se move a parte distal. Envoltórios do músculo esquelético – fáscias musculares Cada fibra muscular isolada, cada fascículo e cada músculo no seu conjunto, estão revestidos por tecido conjuntivo (fáscia muscular – esqueleto conectival). A fáscia é formada pelo tecido conjuntivo e o próprio músculo inteiro está envolvido por uma capa de tecido conjuntivo, chamado Epimísio. Algumas projeções de colágeno penetram desde o Epimísio até ao interior do músculo, formando uma membrana que rodeia todos e cada um dos fascículos, essa membrana é o Perimísio. Por sua vez, existe um retículo extremamente delicado que reveste cada fibra muscular, o Endomísio. Esses envoltórios servem para reunir as unidades contráteis, os grupos de unidades, para integrar a sua ação e permitir, ainda, um certo grau de liberdade de movimentos entre elas. Deste modo, ainda que as fibras se encontrem extremamente compactadas, cada uma é relativamente independente das restantes e cada fascículo pode movimentar-se independentemente dos vizinhos. As fáscias são consideradas elementos passivos da contração muscular transmitindo a tensão gerada pela atividade muscular. Têm como principal função 8 fricção (entre músculos, fascículos e fibras musculares) permitindo, assim, que os músculos deslizem uns sobre os outros, e como essas as membranas envolvem e isolam um do outro, dificulta, por exemplo, a proliferação infecções. Irrigação muscular A cor avermelhada da musculatura é resultado da grande concentração de sangue dentro das fibras musculares que estão ali para nutrir e para retirar todos os substratos energéticos durante o exercício. Os vasos sanguíneos que irrigam o músculo esquelético correm pelas membranas de tecido conjuntivo e se ramificam para formar uma abundante rede capilar em torno de cada uma das fibras musculares. Os capilares são suficientemente tortuosos para se adaptarem às alterações de comprimento das fibras, estirando-se durante o alongamento muscular e tornando-se tortuosos durante a contração. Fibras Musculares O diâmetro dessas fibras pode variar entre 10 e 100μm (ou até mais). Durante a nossa fase de crescimento, podemos perceber um aumento gradual do diâmetro nas fibras musculares. No entanto, esse aumento pode ainda ser estimulado por solicitação muscular intensa, fenômeno designado por hipertrofia de uso. O contrário também pode acontecer, as fibras podem diminuir e se tornarem músculos imobilizados, o que, cientificamente, a gente chama de atrofia por desuso. A maior parte do interior da fibra muscular está ocupada por miofibrilas de 1 a 2μm de diâmetro. Cada fibra pode conter, desde várias centenas, até muitos milhares de miofibrilas. Por sua vez, cada miofibrila apresenta cerca de 1500 filamentos de miosina e 3000 de actina, dispostos lado a lado. Em cortes longitudinais pode ser observada a estriação transversal tão característica das miofibrilas. Esta estriação é devida à presença dos sarcômeros que contém os filamentos de actina e de miosina, que são as duas principais proteínas responsáveis pela contração do músculo. 9 Fisiologia muscular O músculo esquelético constitui, aproximadamente, 45% do peso corporal e é o maior sistema orgânico do ser humano, sendo um importante tecido na homeostasia bioenergética (em outras palavras, na preservação das funções vitais do organismo), tanto em repouso como em exercício. Representa o principal local de transformação e de armazenamento de energia, sendo o destino final dos sistemas de suporte primários envolvidos no exercício, como o cardiovascular e o pulmonar. CÂNCER O câncer é definido como um crescimento descontrolado e anormal de células no organismo (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2005). O câncer é um grupo de doenças caracterizadas coletivamente pelo crescimento descontrolado e a disseminação desenfreada de células anormais que formam aglomerados celulares de dimensões acima do normal que se tornam tumores. Existe mais de 100 tipos diferentes de cânceres, a maioria dos quais ocorrem em adultos (Mcardle, Katch, Katch, 2013; American Câncer Society, 2014). O tratamento desta doença envolve a aplicação de quimioterapia isolada ou em combinação com a radioterapia e/ou cirurgia. Em decorrência do tratamento a maioria dos pacientes apresenta uma série de sintomas e efeitos colaterais secundários, como, por exemplo, náuseas, vômitos, dores, insônia, perda de apetite e fadiga (ADAMSEM et al., 2009). A doença pode ocorrer em qualquer tecido do corpo. Segundo McArdle, Katch, Katch, (2013) e Câncer Health Center (2014), os cânceres ou tumores malignos são classificados em grandes categorias, de acordo com os tecidos atingidos: os carcinomas, os sarcomas, as leucemias, os linfomas e os tumores do sistema nervoso central. Os carcinomas são tumores malignos que se originam nas células epiteliais ou glandulares com forte tendência a invadir tecidos vizinhos (Mcardle, Katch, Katch, 10 2013; Câncer Health Center, 2014). São os mais comuns entre todos os tipos, compreendendo o câncer de mama, de pulmão, de bexiga, de próstata, de pele, de estômago, de ovário e de pâncreas, entre outros (Instituto Nacional do Câncer, 2014; American Câncer Society, 2014, Câncer Health Center, 2014). Os sarcomas, conhecidos como tumores malignos dos tecidos moles, podem se originar em ossos, cartilagens, gordura, músculo, vasos sanguíneos ou tecidos moles. Ocorrem mais frequentemente em crianças e adolescentes (Mcardle, Katch, Katch, 2013; Câncer Health Center, 2014). Os mais comuns são: sarcoma de Kaposi, que atinge o tecido que reveste os vasos linfáticos; sarcoma de Ewing, que atinge o osso; osteosarcoma, o mais comum câncer primário de osso; e o liposarcoma, que afeta os tecidos profundos das extremidades do retroperitônio, que corresponde ao espaço anatômico atrás da cavidade abdominal (Instituto Nacional do Câncer, 2014; American Câncer Society, 2014, Câncer Health Center, 2014). As leucemias são caracterizadas pelo acúmulo de células jovens (blásticas) anormais na medula óssea. Aos poucos, estas células substituem as células normais do sangue, prejudicando a produção de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas (Mcardle, Katch, Katch, 2013; Câncer Health Center, 2014). As mais comuns são: leucemia linfoide aguda ou linfoblástica, leucemia mieloide crônica e leucemia linfocítica crônica (Instituto Nacional Do Câncer, 2014; American Câncer Society, 2014, Câncer Health Center, 2014). Os linfomas são tumores malignos do sistema linfático, podendo atingir todas as glândulas linfáticas, apenas um linfonodo ou se espalhar por todo o corpo (Mcardle, Katch, Katch, 2013; Câncer Health Center, 2014). Os linfomas mais comuns são o linfoma de Hodgkin e o linfoma não-Hodgkin (Instituto Nacional Do Câncer, 2014). Os tumores do sistema nervoso central acometem o cérebro e geralmente se originam nas células gliais, que dão suporte aos neurônios (Mcardle, Katch, Katch,2013). 11 Os mais comuns são os meningiomas, desencadeados por meningites; meduloblastomas, que afetam o cerebelo; os astrocitomas, que se desenvolvem nos astrócitos; e o gliobastoma multiforme, tipo mais comum de câncer no cérebro (Instituto Nacional Do Câncer, 2014; American Cancer Society, 2014; Cancer Health Center, 2014). EFEITOS DO CÂNCER E SEU TRATAMENTO Os tratamentos mais comuns desta doença envolve a aplicação de quimioterapia, de radioterapia e/ou cirurgia, isoladamente ou associados entre si (Mcardle, Katch, Katch, 2013; Instituto Nacional Do Câncer, 2014). O tratamento do câncer irá depender de diversos fatores, como tamanho do tumor, idade do paciente, localização do tumor, tipo das células cancerosas, etc. Em muitos casos, os médicos combinam mais de um tipo de tratamento para combater o câncer (Mcardle, Katch, Katch, 2013). Se o tumor for localizado, a cirurgia pode ser uma opção de tratamento, que geralmente é utilizada para o câncer de mama, câncer de cólon, câncer de boca, entre outros tipos (Mcardle, Katch, Katch, 2013). A quimioterapia utiliza medicamentos que irão combater o tumor. Na maioria das vezes, estes são aplicados na veia, mas em outros casos podem ser dados via oral ou intramuscular. Em decorrência do tratamento a maioria dos pacientes apresenta uma série de sintomas e efeitos colaterais secundários, como, por exemplo, náuseas, vômitos, dores, insônia, perda de apetite e fadiga (Adamem colaboradores, 2009). A radioterapia é um tipo de tratamento no qual radiações são utilizadas para destruir as células cancerosas ou impedir que elas se multipliquem. Nesse tipo de tratamento o paciente não sente nada (Instituto Nacional do Câncer, 2014). 12 Os tratamento, resultam em severos efeitos colaterais nos diversos sistemas corporais causando prejuízos físicos, psicossociais e econômicos que reduzem drasticamente a qualidade de vida e funcionalidade dos indivíduos. O diagnóstico de CA é muito impactante, reduz a expectativa de vida e aumenta o índice de depressão em cerca de 25% dos pacientes, estando também a depressão relacionada com o uso de corticosteroides utilizados no tratamento. Durante o curso da doença e do tratamento, os pacientes vivenciam diversos efeitos colaterais, que incluem: astenia, ataxia, anemia, ansiedade, náusea, vômito, diarreia, sarcopenia, osteopenia, alteração de humor, neutropenia, alteração na composição e percepção corporal, trombopenia, diminuição de flexibilidade, distúrbios do sono, redução da autoestima, depressão, redução da função cardiopulmonar e vascular, dor e fadiga, podendo estes efeitos persistirem por meses e até anos após o término do tratamento. Dentre todos os efeitos colaterais, a fadiga é sem dúvida o mais comum e evidente, afetando mais de 75% dos pacientes logo no primeiro ciclo de quimioterapia. Ela é definida como um estado subjetivo de opressão e exaustão prolongada que diminui a capacidade física e mental de se realizar trabalho e que não é aliviada pelo repouso. Até a alguns anos atrás, a fadiga era vista pelos pacientes e médicos como uma consequência natural da doença e de seu tratamento e não como algo controlável. A fadiga pode ter fatores etiológicos centrais, como: diminuição do nível de gonadotrofina, aumento do número de linfócitos T circulantes, aumento dos receptores antagonistas de interleucina, aumento do receptor tipo II do fator de necrose tumoral solúvel, aumento do nível de neopterina e periféricos: balanço energético negativo, doença e seus tratamentos, infecções sistêmicas, hipotireoidismo, desnutrição, anormalidades metabólicas, desordens de sono, fatores psicológicos. Além das hipóteses: da anemia, do ATP, vagal aferente e da interação do eixo hipotálamo - hipófise/citocinas e 5HT (desregulação de serotonina). Além de sua influência nos sistemas orgânicos, a fadiga influencia negativamente o curso do tratamento por afetar a capacidade de compreensão e 13 retenção de informações pelo paciente e por ser um sintoma limitador para algumas terapias como com interferon e interleucina. Devido ao descondicionamento cardiorrespiratório e muscular causados pelo CA e pelo seu tratamento, ocorre um aumento da taxa metabólica, aumento do consumo energético, substancial aumento da FC e concentração de lactato em atividades de baixa intensidade, direcionando os pacientes a evitarem a realização de esforços, o que produz perdas adicionais de condicionamento levando a um ciclo de autoperpetuação da fadiga. Fato este bastante prejudicial, pois esse descondicionamento cardiorrespiratório resultante da inatividade é um preditor chave para uma maior mortalidade em pacientes oncológicos. No entanto, a fadiga advinda dos fatores causais (tratamento, doença, destreinamento, hábitos sedentários) pode ser atenuada com a utilização de exercícios físicos quebrando o ciclo de autoperpetuação. Algumas drogas são utilizadas no combate à fadiga, como acetato de megestrol, modafinil, eritropoetina entre outros; porém, essas drogas são ineficazes contra a perda muscular e da capacidade cardiorrespiratória. Segundo a National Comprehensive Cancer Network (NCCN), o exercício físico é uma das intervenções não farmacológicas mais eficaz no tratamento da fadiga, prevenindo, minimizando ou diminuindo-a, além de promover adaptações benéficas ao estresse do CA e os efeitos do seu tratamento, durante e após as terapias. Esta doença é considerada multifatorial, já que não possui um único fator causador. Além disso, a inatividade física é considerada um fator de risco para o desenvolvimento do câncer (FRIEDENREICH; ORENSTEIN, 2002; HAYES ET al., 2009). Por este motivo a comunidade científica tem discutido a aplicação do exercício físico como estratégia não farmacológica para prevenção da doença e reabilitação de indivíduos durante e após o tratamento. 14 Este interesse se deve ao fato de o exercício físico minimizar os processos degenerativos associados ao câncer, promover alterações comportamentais ligadas ao estilo de vida, reduzir os riscos de recorrência da doença e melhorar fatores psicossociais (VALENTI ET al., 2008). Ademais, a melhora da capacidade funcional a médio e longo prazo - incluindo aumento da força, resistência à fadiga, flexibilidade e capacidade aeróbia - e melhora do sistema imune, são outros benefícios proporcionados por um programa de exercícios físicos (KISNER; COLBY, 1992). Fairey et al. (2005), em seu estudo randomizado e controlado, demonstraram aumento na atividade de células matadoras naturais (NK), que possuem função antiviral e antineuplásica, após treinamento realizado três vezes por semana em bicicleta ergométrica. Adicionalmente, estudos têm demonstrado uma redução de 24 a 67% no risco de mortalidade por câncer de mama em mulheres fisicamente ativas após diagnóstico de câncer (IRWIN et al., 2009). Uma recente revisão sistemática conduzida por Cheema et al. (2007) demostrou que a realização do treinamento de força combinado com treinamento aeróbio duas a três vezes por semana é seguro e benéfico para mulheres com câncer de mama, resultando em melhoras funcionais, psicológicas e clínicas. Recentemente, o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), em uma comunicação especial sobre os guias para a prescrição de exercícios em sujeitos sobreviventes do câncer, salientou que o exercício físico é seguro durante e após os vários tipos de tratamento de câncer, inclusive tratamentos intensivos como o transplante de medula óssea (SCHMITZ et al., 2010). A partir do exposto acima, ficam claros os benefícios do exercício físico na prevenção e também durante o tratamento do câncer, embora este assunto seja fortemente debatido e ainda necessite de maiores esclarecimentos, principalmente com relação às modalidades deexercícios e variáveis do treinamento. O efeito preventivo que o exercício físico desenvolve primária e secundariamente no desenvolvimento de vários tipos câncer (CA), já é bem 15 documentado. Atualmente, existem inúmeros estudos que têm examinado o exercício físico na prevenção de CA; porém, pouco ainda é conhecido sobre a utilização do exercício físico durante o tratamento. Apesar de o exercício físico não reduzir diretamente o risco de recorrência de CA ou retardar o crescimento do tumor, ele é o componente chave para controlar fatores desencadeantes como obesidade, sobrepeso, alterações hormonais, imunológicas, inatividade física entre outras. O CA e seu tratamento provocam alterações profundas nos aspectos psíquicos e físicos dos portadores, apesar de os tratamentos para o CA serem cada vez mais eficazes e modernos, essas alterações, ainda sim, comprometem a qualidade de vida e a capacidade de enfrentamento ao tratamento dos indivíduos. Essas alterações variam de acordo com a severidade do tratamento e, às vezes, colocam o indivíduo em condição de extrema passividade e desesperança. Mediante este contexto, o exercício físico configura como uma modalidade terapêutica interessante por melhorar capacidades físicas e capacidades correlacionadas fundamentais para auxiliar o enfrentamento desde o diagnostico até a recuperação. FADIGA NO PACIENTE COM CÂNCER A fadiga relacionada ao câncer é uma sensação subjetiva de cansaço persistente associada ao tratamento da doença, que não é proporcional à atividade recente e que interfere no funcionamento normal do corpo. Essa fadiga é multifatorial, sendo assim, temos que levar em consideração qual o grau de evolução da doença, qual órgão ou região do corpo o câncer está se desenvolvendo, o estado emocional do paciente, dores, efeitos colaterais dos tratamentos medicamentosos, entre outros. É normal vermos uma diminuição repentina na quantidade de atividade física praticadas pelos doentes, pois esses fatores citados acima os desencorajam a praticar exercícios, o que é muito ruim para eles, já que observamos um ciclo vicioso entre esses fatores e a inatividade ou sedentarismo. Por exemplo, quanto mais o paciente sente dor, menos ele se mexe, o que é compreensivo, mas tendo 16 conhecimento funcional e fisiopatológico, sabe-se que em determinados casos, quando o paciente volta a fazer exercícios, temos uma diminuição das dores, o que reflete diretamente no humor, na mobilidade, autoestima, e etc., ou seja, trás um benefício enorme ao tratamento e ajuda a manter uma boa qualidade de vida durante a evolução do tratamento da doença. FRAQUEZA MUSCULAR Em pessoas saudáveis, podemos observar uma perda a partir de uma semana de imobilização e até 20% de diminuição do volume da musculatura. Juntamente com essa perda de massa muscular, uma consequente diminuição da força. Em indivíduos comuns, o esquema abaixo nos mostra como mantemos em equilíbrio e manutenção da nossa musculatura. A síntese proteica é responsável pela manutenção das funções de nossas células e pelo aumento do volume da musculatura que é resultado do anabolismo. A taxa de proteólise (quebra de proteína) mantem-se em equilíbrio com a taxa de anabolismo. 17 Em pacientes com câncer, podemos observar uma diminuição de até 80% da massa muscular, causada por diversos fatores. Fatores que interferem na perda de massa muscular: • Idade dos pacientes – quanto mais idoso, maior é a perda muscular causada pela sarcopenia, ligada ao envelhecimento; 18 • Infecções e processos inflamatórios sistêmicos – quanto maior o processo inflamatório, maior será a perda de massa muscular; • norexia – síndrome da anorexia-caquexia ( C é uma complica ão frequente no paciente portador de uma neoplasia maligna em estado avançado. Caracteriza-se por um intenso consumo dos tecidos muscular e adiposo, com consequente perda involuntária de peso, além de anemia, astenia, balanço nitrogenado negativo, devido alterações fisiológicas, metabólicas e imunológicas; • Tratamento medicamentoso – corticóide e quimioterapia são extremamente deletérios à musculatura; • Fraqueza muscular – produto de todos os outros fatores que causam perda muscular e que em muitos casos é agravada pela inatividade do paciente. EXERCÍCIO FÍSICO E REENTRENAMENTO O exercício pode, e deve estar presente na prevenção e no tratamento do câncer. Não resta dúvidas sobre as possibilidades de ajudar na prevenção, não há muito que ponder, pois a literatura científica vem falando sobre isso há um bom tempo. Courneya et al. publicaram e 2001 um estudo que apresenta a utilização do exercício físico durante toda a evolução da doença que podemos ver na figura abaixo: 19 Mas e aí, o que acontece durante o tratamento? A implantação de um programa de exercícios físicos pode ser feita em quaisquer das três fases após o diagnóstico de Câncer, porém, em cada fase, os objetivos e a consequente modulação dos mesmos serão distintas. Dividido em três momentos: Pré- tratamento, Durante o tratamento, Pós-tratamento. Primeiro, onde o indivíduo já está doente, mas ainda não iniciou o tratamento médico que vamos chamar de prétratamento e, o segundo, quando ele está de fato participando de diversas terapias para combater o avanço da doença e a busca da cura que chamaremos de tratamento. O terceiro é direcionado a pacientes que já passaram as outras duas fases. Pré-tratamento Compreende o período entre o diagnóstico da doença e o início do tratamento. Os objetivos serão voltados para melhora do estado funcional gerais, prevenção e atenuação do declínio funcional durante o tratamento, auxiliar o indivíduo a enfrentar emocional e psicologicamente a doença enquanto espera o tratamento. Para os indivíduos já praticantes de alguma atividade física, deve-se priorizar a manutenção da atividade e, para os nãos praticantes, o engajamento progressivo em um programa. Nesta fase o exercício físico é aplicado para: 20 Manutenção da força e massa muscular; Manutenção/otimização da função cardiorrespiratória; Manutenção da ADM; Otimizar função imunológica. Durante esse período, podemos utilizar o treinamento para ajudar o paciente a se preparar para a terapia. Normalmente ele acontece num estágio menos avançado da doença, como, por exemplo, a partir do momento que descobre a patologia, mas o paciente ainda não desenvolveu todos os sintomas. Temos que pensar em alguns pontos: • Aumentar a capacidade física (força / endurance) – ao melhorar essas qualidades físicas os indivíduos conseguem guardar sua forma física por mais tempo e, principalmente, sua autonomia; • Preparação ao tratamento – o tratamento do câncer pode conter muitos fatores causadores de efeitos colaterais, como, por exemplo, a perda de musculatura causada pelos remédios. Se conseguirmos fazer com que o paciente inicie o tratamento numa melhor forma física, essa perda será mais lenta, consequentemente, conseguimos guardar mais autonomia e mais força; • Testes físicos – os testes físicos nos dão valores de comparação para saber com o paciente está evoluindo e principalmente durante o tratamento; • Impacto psicológico – o exercício pode ajudar na manutenção em níveis mais baixos de estresse e de depressão, minimizando o impacto da doença. Tratamento Nesta fase o foco desta fase será voltado para pacientes que se encontram durante o tratamento, seja ele de qualquer natureza (cirúrgico, quimio, radio, hormônio, imunoterapia e transplante). Visando atenuar os efeitos colaterais e a toxidade dos tratamentos, manutenção das funções físicas e composição corporal, 21 manutenção/melhora da capacidade funcional e força muscular, estado de humor e qualidadede vida, facilitar a conclusão do tratamento, e potencializar a eficácia dos tratamentos. Nesta fase o exercício físico busca diminuir ou neutralizar: • Dor; • Fadiga/anemia; • Fraqueza muscular; • Déficit de ADM; • Equilíbrio e coordenação; • Linfedema/edema/inchaço; • Neuropatias periféricas; • Osteopenia/osteoporose; • Miopatia induzida por esteroides. Até aqui conseguimos ver uma gama de coisas que acontecem com o indivíduo durante a evolução da doença e, pensando em tudo isso, pode-se trabalhar o exercício físico para promover os seguintes pontos: • Lutar contra os efeitos secundários do tratamento – um exemplo que temos falado bastante nesse post é a busca na manutenção da massa muscular dos pacientes e fica claro que sem o exercício criamos um círculo vicioso entre sintomas e o sedentarismo; vale lembrar que o exercício físico tem um papel fundamental na manutenção do sistema imunológico, sendo assim, se bem trabalhado, o exercício pode ajudar por exemplo no surgimento de doenças secundárias como a gripe, devido a baixa sofrida pelo organismo no sistema de proteção do corpo; • Manter o melhor nível de atividade possível – é muito importante manter os níveis de exercícios num nível ótimo e respeitando cada fase do tratamento; • Melhora da qualidade de vida (independência) – o exercício ajuda a manter a autonomia do doente. Quando eu falo de autonomia, me refiro não somente à parte motora, como, por exemplo, tomar banho, trocar a 22 roupa e outros mas também em aspectos cognitivos que podem aparecer durante o tratamento. Todos esses fatores são resultados das adaptações diretas e indiretas causadas pelo exercício. Pós-tratamento: Nesta fase a abordagem neste será direcionada para os sobreviventes, ou seja, indivíduos que já terminaram o tratamento, sendo o exercício essencial no processo de recuperação e otimização do estado de saúde geral e qualidade de vida onde o exercício será aplicado para: • Melhora da composição corporal; • Melhora da resistência e força muscular; • Melhora da aptidão cardiorrespiratória; • Melhora da flexibilidade; • Melhora da função física. Embora haja muitas razões para ser fisicamente ativo durante o tratamento do câncer, o programa deve ser baseado no que é seguro, eficaz e agradável para cada paciente. O programa deve levar em conta os programas anteriores de exercícios que o paciente já costumava seguir antes da doença e também seus novos limites. Portanto, o programa de exercícios deve ser adaptado aos seus interesses e necessidades. O que levar em consideração: • Tipo e estadiamento da doença. • Tipo de tratamento. • Condicionamento físico. Só é recomendo o inicio da prática de exercícios físicos após liberação do médico oncologista, certificando-se de que o profissional que irá elaborar na rotina de exercícios do paciente conhecendo seu diagnóstico e suas limitações. 23 PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO A escolha metodológica e a tipificação dos exercícios a serem utilizados para esses indivíduos é complexa devido à extrema heterogeneidade da doença e pela resposta não linear ao exercício. Em virtude das particularidades e da complexidade, uma abordagem multidimensional que inclui exercício resistido, aeróbio, relaxamento, consciência corporal, massagem e flexibilidade seria mais abrangente, pois proporcionaria uma abordagem holística. Embora não se saiba ainda quais abordagens sejam mais eficazes em relação às outras, a maciça maioria dos trabalhos utilizam exercícios aeróbios de intensidade moderada como método terapêutico. Todos os trabalhos realizados, cada qual com amostras, projetos, intervenções, períodos e métodos avaliativos diferentes, reportaram resultados estatisticamente significativos ou na melhora de aspectos físicos ou na redução de efeitos colaterais. Portanto, a eleição do método e a modulação a serem utilizados devem ser minuciosamente escolhidos, baseados nas necessidades diárias do paciente. De acordo com o American College of Sport Medicine (ACSM), o exercício pode ser prescrito através de diferentes estratégias, desde a detecção, tratamento e cura do paciente. Entre eles podemos dar destaques às seguintes possibilidades: • Eletroestimulação – quando o paciente não apresenta a possibilidade de executar movimentos, podemos utilizar a eletroestimulação para provocar o trabalho muscular, estimulando o aumento da síntese proteica e desacelerando o processo de perda de massa muscular, bem como auxiliar na recuperação da massa perdida durante o tratamento; • Treinamento contra resistência – a musculação tem papel fundamental durante o tratamento, não só para manter e recuperar a massa muscular 24 e, consequentemente, a força, mas auxilia na manutenção da imunidade do paciente e em alguns casos a diminuição das dores; • Exercícios funcionais – devemos prescrever os exercícios analisando diretamente a vida cotidiana dos pacientes para garantir um melhor nível de autonomia; • Esporte – podemos utilizar esportes de baixo impacto que garantam não somente adaptações benéficas ao organismo, mas também cumpram o papel social de trazer o paciente para ter contato com a sociedade; • Reentrenamento cardiovascular – durante o tratamento há uma perda da capacidade não só cardíaca, mas também pulmonar, e os exercícios ajudam diretamente na melhora de ambos os dois sistemas. Recentes estudos e revisões sugerem que a intervenção com exercício físico para pacientes e sobreviventes têm mostrado resultados favoráveis em todos os quatro domínios relacionados à qualidade de vida (físico (fisiológico), psicológicos, social e espiritual). Os benefícios relatados incluem: redução da fadiga, melhora na qualidade de vida, bem-estar psicológico, imagem corporal, melhora na função física (capacidade de oxigenação, aptidão cardiovascular e respiratória, força, flexibilidade e estado de saúde geral), medidas antropométricas (peso, massa gorda e índice cintura-quadril), biomarcadores relacionados à saúde (pressão arterial, frequência cardíaca, concentração de hemoglobina, níveis circulantes de hormônios e parâmetros imunológicos. Além desses parâmetros, outros muito importantes são a diminuição do tempo de hospitalização e a redução da quantidade de analgésicos utilizados devido ao aumento do limiar doloroso e liberação de endorfinas. É importante ressaltar que, apesar de todos os benefícios, pouquíssimos pacientes se exercitam após o diagnóstico de Câncer e, dos que se exercitam, grande parte o faz de forma ineficiente e inadequada 25 Para uma prescrição adequada de exercícios é necessário que o programa seja regido por alguns princípios básicos, que estruturam qualquer tipo de treinamento, tanto para indivíduos saudáveis quanto para enfermos. Para as pessoas diagnosticadas com CA não é diferente; porém, além dos princípios tradicionais de treinamento (individualidade biológica, adaptação, especificidade, reversibilidade e sobrecarga), um princípio adicional e muito importante deve ser incorporado. Esse princípio, denominado princípio da modificação, é necessário devido à resposta do paciente aos agentes quimioterápicos e a outros recursos terapêuticos utilizados que alteram sua condição fisiológica momentaneamente. Outros parâmetros a serem considerados na prescrição são: tipo e estágio da doença, tratamento médico utilizado, intensidade e duração do tratamento, histórico pregresso e atual de exercício físico e condições de comorbidade. É necessário também que os fisiologistas envolvidos na prescrição de exercícios para este grupo de pessoas tenha conhecimento aprofundado sobre a fisiopatologia do CA em questão e os tipos de tratamentos que estão sendo empregados. Além de abordar aspectos fisiológicos, é fundamental que os exercíciossejam agradáveis e interativos para que haja o desenvolvimento de novas habilidades e vínculos de confiança com o paciente. . TREINO DE MUSCULAÇÃO Antes de iniciar o treino é preciso avaliar o nível de força do paciente, pois todo o controle de carga é feito em cima do valor achada no teste de 1RM, e esse valor deve ser ajustado sempre que necessário para garantir as adaptações necessárias. 26 O ACSM indica o seguinte modelo para prescrição de exercícios contra resistência para pacientes com câncer: • Iniciar com 3 séries à 12RM durante 2 semanas; • Após – 3 séries à 10RM durante 2 semanas; • Após – 3 séries à 8RM durante 3 semanas; • Após – 3 séries à 6RM durante 6 semanas; • Os treinos devem ser repetidos 3 vezes por semana; • 3 exercícios de membros superiores e inferiores TREINO FUNCIONAL O trabalho focado na funcionalidade do indivíduo deve levar em consideração a autonomia na vida cotidiana, ou seja, todos os exercícios devem se aproximar ao máximo dos gestões motores que o indivíduo executa durante o dia, como, por exemplo, levantar e sentar numa cadeira ou na cama. • Marcha / escada – devemos fazer o paciente andar e, se possível, subir e descer escadas, porém quando isso não é possível, podemos desmembrar esses gestos motores e trabalhar separadamente cada fase do movimento até conseguir juntar tudo e garantir a execução do exercício por completo; • Transferências – o simples gesto de trocar de posição numa cama ou em alguns casos sair de uma cadeira de rodas para uma cama deve ser trabalhado para melhorar as qualidades motoras e a força do paciente, possibilitando com que ele consiga fazer da melhor forma possível sem correr risco de queda, por exemplo, não estando dependente de uma ajuda externa. Todo o treinamento funcional pode ser executado através de exercícios, mas não se esqueça, todas as adaptações são específicas, ou seja, para a carga, o gesto, a velocidade e o angulo de execução do exercício, sendo assim, faça uma análise 27 bem completa do que o paciente realmente está precisando e seja criativo em buscar formas para garantir essas adaptações. ESPORTE O esporte é uma ótima possibilidade de trabalharmos com os pacientes de forma eficaz e lúdica. Se houver possibilidade, dê preferência a esportes praticados em grupo. A dinâmica de grupo é muito importante para sociabilização do paciente, otimizando os resultados do combate ao estresse e à depressão, auxiliando também no aumento da confiança em si mesmo e nas pessoas que estão ao redor durante o período do tratamento. REENTRENAMENTO CARDIOVASCULAR Para o controle do exercício aeróbio é muito interessante que o paciente passe por um teste de VO2max; dessa forma obtém-se todos os valores necessários para os cálculos das intensidades durante as fases do treinamento. Mas caso não haja a possibilidade, podemos utilizar aquela velha formula conhecida por todos nós para estimar a frequência cardíaca máxima (FCmax = (220 – idade) – 10%). O ACSM indica o seguinte modelo para prescrição do treino aeróbio para pacientes com câncer: • Iniciar com frequência de repouso (Fcrep) + 50% à 60% de 1 à 3 semanas; • Evoluir para Fcrep + 70% à 80%; • 3 à 5 vezes por semana; • A duração do treino é em função do paciente, ou seja, é determinado por ele e de acordo com a condição diária; • Podemos trabalhar de forma contínua ou em interval training; O controle da intensidade deve ser feito através da escala de Borg (6- 7). 28 Contra indicações • Estado físico muito alterado; • Impossibilidade total de movimentar-se; • Infecções / febre; • Anemia; • Trombose; • Caquexia severa (35% pré-treinamento); • Distúrbios de função cardíaca; • Descompensações / deficiência respiratórias. O exercício físico atua beneficamente no que diz respeito à fadiga oncológica e sistema imune. É possível verificar e analisar o quão significativo é o uso desta ferramenta de forma adequada, tendo em vista a intensidade e capacitação dos profissionais envolvidos. Saber e destacar o potencial desta atividade física dentro da área da saúde é importante para todos, pois além de trazer menores efeitos colaterais (se praticado da maneira correta), o exercício físico melhora a qualidade de vida dos pacientes envolvidos e muitos conseguem completar e progredir o ciclo quimioterápico. 29 REFERENCIAS ADAMSEN, L. et al. Feasibility, physical capacity and health benefits of a multidimensional exercise program for cancer patients undergoing chemotherapy. Support Care Cancer, Heidelberg, v.11, no.11, p. 61-68, 2003. ADAMSEN, L. et al. Effect of a multimodal high intensity exercise intervention in cancer patients undergoing chemotherapy: Randomized controlled Trial. British Medical Journal, London, v.13, no.339, p. b3410, 2009. AHMED, R. et al. 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