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<p>Políticas Sociais</p><p>Baseticas Sociais no Brasil</p><p>Formação social brasileira</p><p>OBJETIVO:</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de compreender</p><p>a formação social brasileira em seu contexto histórico-social.</p><p>E então? Motivado para desenvolver esta competência?</p><p>Então vamos lá. Avante!</p><p>A formação social brasileira em seu</p><p>contexto histórico-social</p><p>A formação social brasileira é marcada por contrastes entre conflito</p><p>e convivência, no qual o Brasil é formado por traços singulares que</p><p>permanecem no dia a dia de vários brasileiros.</p><p>De acordo com Ribeiro (2014), o Brasil e os brasileiros surgiram da</p><p>concentração, do encontro e miscigenação do invasor português com</p><p>índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros</p><p>aliciados como escravos.</p><p>A sociedade e a cultura brasileira são condescendentes como</p><p>variantes da compreensão lusitana da tradição civilizatória europeia</p><p>ocidental, caracterizadas por coloridos deixados dos índios americanos</p><p>e dos negros africanos. Portanto, o Brasil surge como uma reconstrução</p><p>variável, redefinida por características próprias, mas ligado geneticamente</p><p>à matriz portuguesa, cujas potencialidades de ser e crescer só aqui se</p><p>realizariam plenamente.</p><p>NOTA:</p><p>Com a vinda dos portugueses para as terras brasileiras</p><p>e o seu encontro com os índios, começa a se formar a</p><p>miscigenação do povo brasileiro.</p><p>Ferreira (2021) afirma que o Brasil é um país constituído pela</p><p>miscigenação de vários povos. Essa afirmação é um dos aspectos mais</p><p>Políticas Sociais 13</p><p>marcantes da sociedade brasileira. A população nativa, formada por</p><p>indígenas que habitavam as terras que mais tarde foram chamadas de</p><p>Brasil, foi acrescentada pelo branco europeu e, ao mesmo tempo, pelo</p><p>negro africano. Com o tempo, povos de outras regiões do planeta foram</p><p>chegando e a característica inicial expandiu-se, mas conservando o</p><p>mesmo padrão de miscigenação. Todos tiveram e têm sua importância</p><p>na formação da sociedade e identidade brasileira, isto é, nenhum desses</p><p>grupos deve ser visto como menos ou mais importante.</p><p>Os grupos indígenas (Figura 1) descobertos no litoral pelos</p><p>portugueses eram, em sua maioria, tribos de tronco tupi que, tendo se</p><p>acomodado séculos antes, ainda estavam desalojando antigos habitantes</p><p>provenientes de outras matrizes culturais. Muitos outros povos indígenas</p><p>apresentaram sua participação na concepção do povo brasileiro, alguns</p><p>deles como escravos preferenciais como os Paresi e outros imprestáveis</p><p>para escravos como os Bororo, Xavante, Tapuia, entre outros, explana</p><p>Ribeiro (2014).</p><p>Figura 1: Grupos indígenas</p><p>Fonte: Freepik</p><p>No Brasil, o invasor europeu não vivenciou uma circunstância de</p><p>completo e inquestionável domínio. Evidentemente que na dimensão</p><p>14 Políticas Sociais</p><p>econômica e política, o processo de colonização fez sentir as determina-</p><p>ções e a força político-ideológica, sobrepondo-se aos aspectos étnicos,</p><p>sociais e culturais. As condições geográficas e as exigências da política</p><p>colonizadora, não proporcionaram condições de domínio integral dos</p><p>portugueses sobre os nativos. Desde as suas origens, a sociedade brasi-</p><p>leira, tornou-se híbrida, com harmonioso amalgamento no que se refere</p><p>às relações de raça. Prevaleceu um ambiente de reciprocidade cultural,</p><p>explicita Silva (2014). A política colonialista procurou empregar os valores</p><p>e as experiências dos povos atrasados pelos portugueses. A sociedade</p><p>aqui organizada era cristã na superestrutura. Utilizou-se a mulher indíge-</p><p>na, após ser batizada, para ser tomada como esposa e mãe de família.</p><p>Também do ponto de vista cultural, a economia e a vida doméstica, ma-</p><p>nifestada nas experiências, tradições e utensílios foram incorporados na</p><p>nova sociedade em processo de formação, relata o autor.</p><p>IMPORTANTE:</p><p>As filhas caboclas tornaram-se esposas legítimas dos</p><p>portugueses, dando a luz à primeira geração de mestiços</p><p>do Brasil. Constituindo assim, o primeiro momento das</p><p>variadas misturas que tivemos.</p><p>Silva (2014) afirma ainda, que a preferência pela mulher indígena</p><p>atendia as necessidades sociais mais do que os interesses sexuais, visto</p><p>que existia uma escassez de mulheres brancas. Já as índias tinham a</p><p>ambição de terem filhos pertencentes à raça superior, uma vez que</p><p>se concebia que apenas o parentesco de ordem paterna era válido. A</p><p>mulher mais que a base física da família brasileira, serviu para ampliar a</p><p>energia dos povoadores europeus. Ela deve ser considerada com valioso</p><p>elemento de cultura, principalmente no plano material do processo de</p><p>formação, enriquecendo a vida no Brasil.</p><p>A colonização portuguesa foi caracterizada por violentas formas</p><p>de conquista e dominação. Além disso, foi introduzida a catequese como</p><p>meio de facilitação e divulgação dos modos etnocêntricos de pensar, de</p><p>sentir e de comportar-se, que deveriam substituir os usos e costumes</p><p>nativos, esclarece Neves (2019).</p><p>Políticas Sociais 15</p><p>Frente à invasão europeia, os índios (Figura 2) defenderam até o</p><p>limite imaginável seu modo de ser e de viver. Principalmente depois de</p><p>perderem as ilusões dos primeiros contatos pacíficos, quando entenderam</p><p>que a submissão ao invasor correspondia à sua desumanização como</p><p>bestas de carga. As vitórias europeias se deveram sobretudo à condição</p><p>evolutiva mais alta das primeiras comunidades neobrasileiras que lhes</p><p>possibilitava reunir-se em uma única identidade política servida por uma</p><p>cultura letrada e ativada por uma religião missionária, que influenciou</p><p>poderosamente as comunidades indígenas, expõe Ribeiro (2014).</p><p>Figura 2: Os índios e o modo de ser</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>NOTA:</p><p>Os jesuítas se aproximaram dos índios com interesses</p><p>não apenas religiosos ou morais como era alegado, mas</p><p>também para tê-los à disposição e conseguir alimentos, ou</p><p>seja, explorar sua força de trabalho.</p><p>Ribeiro (2014) lembra que em poucas décadas desapareceram as</p><p>povoações indígenas com as quais as caravelas do descobrimento se</p><p>depararam por toda a costa brasileira e o primeiros cronistas admiravam</p><p>maravilhados. Em seu lugar, se instalaram três novos tipos de povoações:</p><p>16 Políticas Sociais</p><p>• O primeiro e principal, constituído pelo agrupamento de escravos</p><p>africanos de engenhos e portos;</p><p>• Outro, espalhado pelos vilarejos e sítios da costa ou pelos campos</p><p>de criação de gado, estabelecido especialmente por mamelucos</p><p>e brancos pobres;</p><p>• O terceiro esteve formado pelos índios inseridos na empresa</p><p>colonial como escravos de outros núcleos ou reunidos nas aldeias,</p><p>algumas das quais mantiveram sua autonomia, enquanto outras</p><p>eram conduzidas por missionários.</p><p>Os indígenas representaram a principal força de trabalho durante</p><p>quase um século e depois da sua substituição por escravos africanos,</p><p>para se explorarem as vantagens do tráfico atlântico, ainda se encontrava,</p><p>índios escravizados, assalariados e camponeses nos engenhos, nas</p><p>fazendas e nos serviços domésticos, enfim, em todas as atividades</p><p>econômicas, menciona Neves (2019).</p><p>IMPORTANTE:</p><p>A escravidão indígena preponderou ao longo de todo o</p><p>primeiro século. Apenas no século XVII a escravidão negra</p><p>veio a prevalecer, cita Ribeiro (2014).</p><p>Vale lembrar também que aconteceu um processo que misturou</p><p>diversas culturas africanas (Figura 3). Assim, pessoas originárias de</p><p>diversas partes da África, com culturas distintas, produziram uma espécie</p><p>de síntese cultural do Brasil. Iorubás, haussas, baribas, minas, merinas</p><p>e muitos outros grupos foram arrancados da África e deslocados para</p><p>o outro lado do Atlântico. Tendo como pano de fundo a escravização,</p><p>milhares de africanos foram misturados e acabaram tendo que conviver</p><p>juntos, produzindo laços de socialização. Dessa forma, num processo</p><p>bastante complexo e dilatado no tempo, eles constituíram um dos pilares</p><p>da nossa formação social, descreve Ferreira (2021).</p><p>Políticas Sociais 17</p><p>Figura 3: Culturas Africanas</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>O escravo era tratado e encarado como mercadoria. A utilização</p><p>de milhares de africanos que foram importados e trazidos para o Brasil,</p><p>não atendeu apenas às demandas ou necessidades de mão de obra.</p><p>O comércio de escravos já existia antes deste fato, de forma que esta</p><p>prática foi frequente, incentivada e expandida com a abertura de novos e</p><p>extensos mercados compradores (SANTOS, 2014).</p><p>Os senhores de engenho também exploravam sexualmente suas</p><p>escravas, como se fossem donos delas e dessa exploração nasciam</p><p>filhos da mistura de escravas negras e seus senhores. Mesmo não sendo</p><p>reconhecidos como filhos desses senhores, tornou-se mais um momento</p><p>das diversas misturas entre povos.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso</p><p>à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo:</p><p>“Formação social brasileira: interface com as relações</p><p>sociais” (CORATO), acessível pelo link: https://bit.ly/3tlwVBk.</p><p>Acesso em: 21 fev 2021.</p><p>https://bit.ly/3tlwVBk</p><p>18 Políticas Sociais</p><p>A formação social brasileira deve ao negro parte importante de seu</p><p>caráter em vários aspectos. Em questões culturais, a presença de tradições</p><p>originárias da África, mesmo que mescladas com culturas ameríndias e</p><p>europeias, é por demais evidente. Nossa música, nossa culinária, nosso</p><p>jeito de ser, jamais seriam o mesmo sem o elemento africano, esclarece</p><p>Ferreira (2021).</p><p>Santos (2014) explica que todo brasileiro (Figura 4) traz na alma a</p><p>influência ou marca do negro e do índio. Estas características específicas</p><p>estão presentes na música, na mímica excessiva, no modo de andar,</p><p>expressar-se e falar, no canto e na vida estética e no progresso econômico</p><p>do Brasil etc. Os negros proporcionaram uma contribuição significativa</p><p>para a formação econômica e social do Brasil superior aos silvícolas e</p><p>até mesmo aos portugueses no plano material e moral, no domínio das</p><p>culturas dos vegetais, na domesticação dos animais, na estruturação da</p><p>família e tribos, em conhecimentos astronômicos, na criação da linguagem</p><p>e das lendas.</p><p>Figura 4: Brasileiro</p><p>Fonte: Freepik</p><p>Políticas Sociais 19</p><p>A concentração de tantas e tão diversificadas matrizes formadoras</p><p>poderia ter implicado numa sociedade multiétnica, despedaçada</p><p>pela oposição de componentes diferenciados e imiscíveis. Aconteceu</p><p>justamente o contrário, uma vez que, apesar de sobreviverem na</p><p>fisionomia somática e no espírito dos brasileiros, os signos de sua</p><p>mesclada ancestralidade não se diferenciaram em antagônicas minorias</p><p>raciais, culturais ou regionais, associadas às lealdades étnicas próprias e</p><p>disputantes de autonomia frente à nação, menciona Ribeiro (2014).</p><p>As únicas exceções são algumas micro etnias tribais que resistiram</p><p>como ilhas, cercadas pela população brasileira. Ou que, vivendo para</p><p>além das fronteiras da civilização, guardam sua identidade étnica. São tão</p><p>pequenas, no entanto, que qualquer que seja seu destino, já não podem</p><p>atingir a macro etnia em que estão contidas, complementa o autor.</p><p>Com o passar dos anos, diversos outros povos vieram habitar o Brasil,</p><p>como os japoneses, alemães, italianos, poloneses, entre outros. Fazendo</p><p>daqui sua morada e construindo suas famílias nos mais diferentes lugares,</p><p>ampliando não apenas nossa cultura, mas também a própria mistura dos</p><p>povos que aqui vivem.</p><p>Embora diferenciador em suas matrizes raciais e culturais e em suas</p><p>funções ecológico-regionais, assim como nos perfis de descendentes</p><p>de velhos povoadores ou de imigrantes contemporâneos, os brasileiros</p><p>sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, que fazem</p><p>parte de uma mesma etnia. Vale dizer, uma identidade nacional variada</p><p>de quantas exista, que fala a mesma língua, só separada por sotaques</p><p>regionais, menos apontada que os dialetos de Portugal. Participando de</p><p>um corpo de tradições simples mais significativo para todos que cada</p><p>uma das variantes subculturais que distinguem os habitantes de uma</p><p>região, os membros de uma classe ou descendentes de uma das matrizes</p><p>formativas, informa Ribeiro (2014).</p><p>20 Políticas Sociais</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter</p><p>compreendido que o Brasil é formado pela miscigenação</p><p>de vários povos, tendo início através da colonização dos</p><p>portugueses que chegaram nessas terras e encontraram</p><p>os índios. Muitas índias passaram a ser esposas desses</p><p>colonizadores, concebendo filhos, surgindo daí o primeiro</p><p>momento da mistura de povos. Entendeu que os índios</p><p>passaram muito tempo servindo os portugueses como</p><p>se fossem escravos, mas que com o tempo, começaram</p><p>a chegar negros vindo da África com o intuito de serem</p><p>utilizados como escravos. Essas negras não serviam</p><p>apenas para os serviços domésticos, mas também para</p><p>que seus senhores as explorassem sexualmente, muitas</p><p>vezes dando à luz a crianças que seriam outro momento</p><p>de diversidade entre povos. Essa mistura de povos trouxe</p><p>consigo suas músicas, forma de andar e expressar-se que</p><p>acabou contribuindo para a formação social brasileira. Por</p><p>fim, viu que também que com o tempo vieram povos de</p><p>outros lugares e que aqui passaram a habitar, como os</p><p>japoneses, italianos, poloneses etc.</p><p>Políticas Sociais 21</p><p>Estado e direitos sociais no Brasil</p><p>OBJETIVO:</p><p>Neste capítulo iremos associar as funções do Estado aos</p><p>direitos sociais no Brasil.</p><p>Funções do Estado e os direitos sociais no Brasil</p><p>Segundo Meirelles et.al. (2013), o conceito de Estado difere de</p><p>acordo com o enfoque, que pode ser sociológico, no qual é considerado</p><p>uma corporação territorial que possui poder originário; político, formado</p><p>por uma comunidade de homens estabelecidas sobre um território com</p><p>poder superior de ação, mando e coerção; e ainda, constitucional que é a</p><p>pessoa jurídica territorial soberana.</p><p>Os autores ainda afirmam que ao mesmo tempo que ele cria o</p><p>direito, ele tem o dever de sujeitar-se a ele, no qual entra o conceito de</p><p>Estado de Direito, que é organizado de forma jurídica e obediente às suas</p><p>próprias leis.</p><p>Assim, as leis são utilizadas para conter o poder do Estado, bem</p><p>como impor freios e direcionar suas ações, fazendo com que as pessoas</p><p>que atuam em nome do Estado tenham suas condutas pautadas segundo</p><p>as regras previstas nas constituições e leis, e não mais na simples vontade</p><p>dos governantes.</p><p>IMPORTANTE:</p><p>IMPORTANTE também frisarmos que o Estado possui</p><p>três Poderes com funções precípuas, que são o Legislativo,</p><p>responsável pela elaboração das leis, o Executivo que deve</p><p>executar essas leis e o Judiciário que deve aplicar a lei para</p><p>resolver conflitos concretos entre litigantes.</p><p>22 Políticas Sociais</p><p>Conforme Gotti (2012), a previsão normativa do direitos sociais,</p><p>bem como dos demais direitos fundamentais é bastante privilegiada pela</p><p>Constituição de 1988 que, pela primeira vez na história das constituições</p><p>brasileiras, expande-os à condição de direitos fundamentais vinculando-</p><p>os à sistemática e principiologia próprias dessa categoria de direitos.</p><p>Primeiramente, para compreender melhor os direitos sociais na</p><p>Constituição Federal, vamos compreender sua importância enquanto</p><p>direitos fundamentais.</p><p>NOTA:</p><p>Os direitos sociais estão estabelecidos na Constituição</p><p>Federal em seu Título I que trata dos Direitos e Garantias</p><p>Fundamentais, mais precisamente no Capítulo II.</p><p>Esses Direitos Fundamentais são tradicionalmente subdivido em</p><p>gerações, que podem, de acordo com Cabral et.al. (2018), ser divididos</p><p>em três:</p><p>• A primeira geração se refere aos direitos à vida,</p><p>à liberdade, à</p><p>propriedade, entre outros. E buscam restringir a atuação do Estado</p><p>sobre o indivíduo, ou seja, evita que ele interfira de forma abusiva</p><p>na vida privada das pessoas. Sendo conhecida como o não fazer</p><p>do Estado, por não poder intervir na vida privada;</p><p>• Os de segunda geração envolvem os direitos econômicos, sociais</p><p>e culturais. Buscam uma atuação positiva do Estado, ou seja,</p><p>exigência de obrigações de fazer algo em benefício das pessoas;</p><p>• Já os de terceira geração abrangem os direitos transindividuais e</p><p>supraindividuais.</p><p>Alguns autores ainda citam a quarta e até mesmo quinta geração.</p><p>Mas para nós, o que interessa mesmo é a segunda geração que citamos.</p><p>Você percebeu que ela exige atitudes do Estado?</p><p>Na segunda geração estão incluídos os direitos sociais e exigem a</p><p>atuação do Estado com o objetivo de possibilitar melhores condições de</p><p>Políticas Sociais 23</p><p>vida e, consequentemente, efetuar a justiça social através da obrigação</p><p>de prestações positivas em favor dos indivíduos.</p><p>O Art. 6º da Constituição Federal determina quais são esses direitos</p><p>sociais (Figura 5):</p><p>São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,</p><p>a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a</p><p>proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na</p><p>forma desta Constituição. (BRASIL, 1988)</p><p>Figura 5: Direitos Sociais</p><p>Fonte: Elaborado pela autora (2021).</p><p>Gotti (2012) lembra que são adicionados junto aos direitos</p><p>consagrados na constituição de 1988, os direitos derivados dos tratados</p><p>internacionais ratificados pelo Brasil em matéria de direitos sociais,</p><p>especialmente:</p><p>• O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais</p><p>(ONU);</p><p>• A Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José</p><p>da Costa Rica – OEA);</p><p>24 Políticas Sociais</p><p>• Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos</p><p>em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo</p><p>de San Salvador – OEA)</p><p>NOTA:</p><p>Esse é apenas um rol exemplificativo, isto é, podem existir</p><p>mais direitos sociais espalhados no texto constitucional que</p><p>devem ser seguidos.</p><p>Como você pode ver, fazem parte dos direitos sociais os aspectos</p><p>básicos para a sobrevivência e para que um indivíduo possa ter uma vida</p><p>digna. Assim, trata-se de ações para melhorar a qualidade de vida dos</p><p>mais necessitados.</p><p>Contudo, não basta apenas sua previsão no texto, eles devem ser</p><p>efetivados, sendo necessário para isso, interesse e uma firme atuação</p><p>estatal através de políticas públicas orientadas para a concretização</p><p>desses direitos.</p><p>Os direitos vêm sofrendo um grande problema no campo da sua</p><p>realização, pois dependem da atuação positiva do Estado para sua</p><p>concretização, tanto por medidas legislativas quanto administrativas,</p><p>através de políticas públicas. A omissão estatal acaba fazendo com que</p><p>esses direitos sejam levados ao judiciário como uma forma de garantia de</p><p>acesso, explicita Rosario et al. (2018).</p><p>Assim, mesmo diante de dispositivos constitucionais, alguns</p><p>necessitam de leis para serem executados e por isso dependem do</p><p>legislador para criar as leis para serem cumpridas, bem como ações</p><p>administrativas que tenham o olhar humano em busca de ações para uma</p><p>vivência digna.</p><p>Silva (2012) afirma que para que exista uma efetivação dos Direitos</p><p>Sociais, é indispensável a demanda de recursos públicos enquanto</p><p>direitos prestacionais por parte do Estado, estando sempre dependentes</p><p>de disponibilização desses recursos, que são o mínimo possível. Faz-se</p><p>necessário mudar a concepção obsoleta que leva o Estado a consumir</p><p>Políticas Sociais 25</p><p>milhões em obras arrecadadoras de votos e quase nada em saúde,</p><p>educação e os demais direitos sociais.</p><p>A teoria da reserva do possível (Figura 6) determina que o Estado</p><p>deve concretizar os direitos sociais apenas na medida do financeiramente</p><p>possível. Entretanto, o Poder Público não pode apenas dizer que não</p><p>possui os recursos necessários para sua efetivação. É necessário que</p><p>seja demonstrado de forma objetiva a inexistência desses recursos ou a</p><p>previsão orçamentaria para a despesa. Assim, em casos excepcionais, o</p><p>Poder Judiciário pode intervir e determinar sua implementação, evitando</p><p>a omissão do Estado.</p><p>Figura 6: Reserva do possível</p><p>EXEMPLO</p><p>Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).</p><p>Um dos direitos sociais se refere à saúde, então, o Poder Judiciário</p><p>pode intervir e ordenar que o Estado conceda tratamento de câncer a um</p><p>indivíduo.</p><p>Dessa forma, ainda que a efetividade dos direitos sociais dependa</p><p>da avaliação do Poder Público em suas escolhas, diante da insuficiência</p><p>de recursos, ele não pode se aliviar do seu dever constitucional de prestar</p><p>e garantir os direitos mínimos à população para o alcance de uma vida</p><p>com dignidade. Na falta de qualquer deles, cabe ao judiciário, mediante</p><p>provocação, dirimir qualquer problema sobre o assunto e isso tem</p><p>acontecido com frequência, esclarece Carlos Neto (2017).</p><p>Diante disso, passa a existir a ideia do mínimo existencial (Figura</p><p>7) associado à dignidade da pessoa humana e deve ser guardado pelos</p><p>direitos sociais prestacionais de forma que sejam oferecidas condições</p><p>mínimas à população. Esse padrão mínimo social para sobrevivência,</p><p>26 Políticas Sociais</p><p>deverá compreender um atendimento básico e eficiente de saúde, o</p><p>acesso a uma alimentação básica e vestimentas, a educação de primeiro</p><p>grau a garantia de uma moradia, complementa o autor.</p><p>Figura 7: Mínimo Existencial</p><p>Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).</p><p>Desse modo, as limitações quanto a recursos orçamentários e</p><p>previsão orçamentária só serão condições aceitáveis quando não se tratar</p><p>de prestações vinculadas ao mínimo existencial.</p><p>Face a comandos constitucionais que indicam a implementação</p><p>de direitos sociais como fim a ser alcançado, ou daqueles que os tratam</p><p>como direitos subjetivos, é dever do administrador público tomar as</p><p>providências necessárias para programar o orçamento anual, prevendo</p><p>as receitas que deverão ser direcionadas em prol da concretização de</p><p>justiça social, relata Coelho Neto (2013).</p><p>Rosário et al. (2018) explica que diante das violações de direito e</p><p>a realidade de pessoas que vivem em situações de vulnerabilidade</p><p>social, o acesso à justiça constitui, muitas vezes, o próprio acesso aos</p><p>direitos constitucionalmente gratuitos. Atualmente, não se buscam mais</p><p>a titularidade de direitos, mas sim a sua efetividade, seja por meio de</p><p>políticas públicas, medidas legais ou judiciais.</p><p>Desse modo, as pessoas que precisam de algum direito social</p><p>que não é oferecido, precisam acionar o judiciário para consegui-los. E</p><p>Políticas Sociais 27</p><p>isso é um problemas grave, visto que a Constituição Federal traz a ideia</p><p>de um Estado de não abandono, no sentido de não ser indiferente às</p><p>necessidades sociais, o que se depreende por meio dos próprios objetivos</p><p>estabelecidos na Constituição.</p><p>A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu art. 22</p><p>reconhece os direitos sociais como de dever a ser cumprido:</p><p>Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito</p><p>à segurança social e à realização, pelo esforço nacional</p><p>e de acordo com a organização e recursos de cada</p><p>Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais</p><p>indispensáveis à sua dignidade e ao desenvolvimento de</p><p>sua personalidade. (ONU, 1948)</p><p>Os direitos sociais devem fazer parte fiel das políticas públicas, das</p><p>agendas de governo, das iniciativas incorruptíveis, sérias e valiosas, que</p><p>buscam reduzir o desequilíbrio social em nosso país e no mundo, entende</p><p>Gotti (2012).</p><p>As políticas públicas, para Coelho Neto (2013, p. 119) “são o conjunto</p><p>de medidas políticas, jurídicas, administrativas e orçamentárias voltadas</p><p>para implementação de direitos fundamentais”.</p><p>Portanto, os</p><p>direitos fundamentais, aí incluídos os sociais, devem</p><p>fazer parte do plano orçamentário e das medidas a serem realizadas pelo</p><p>Estado. Não é um simples querer fazer, mas sim, um dever de fazer.</p><p>O endereçamento ao Estado do dever de concretizar os direitos</p><p>sociais, que visam, principalmente, a consecução da igualdade material</p><p>através da disponibilização de condições fáticas para tanto, presume</p><p>seu compromisso com o atingimento de resultados no mundo real e, por</p><p>conseguinte, a prestação de contas à sociedade das metas realizadas ou</p><p>a justificativa da não realização, explana Gotti (2012).</p><p>O objeto do direito social é uma contraprestação sob a</p><p>forma de prestação de um serviço, que pode ser realizado</p><p>diretamente pelo Estado, como no caso do ensino</p><p>público fundamental, relacionado ao direito à educação,</p><p>ou pode ser prestado de maneira indireta, como no caso</p><p>da seguridade social, que é realizado por uma entidade</p><p>28 Políticas Sociais</p><p>autárquica federal, criada especificamente para administrar</p><p>com autonomia a seguridade social. (TAVEIRA, 2010, p. 5)</p><p>A preocupação do alcance de resultados, mais do que em outra</p><p>categoria de direitos fundamentais, é uma característica específica dos</p><p>direitos sociais prestacionais e é um elemento norteador do Estado</p><p>Democrático e Social de Direito, como é o caso do estado descrito pela</p><p>Constituição Federal, lembra Gotti (2012)</p><p>Analisar a efetividade das ações relacionadas com os direitos sociais</p><p>auxilia na adoção de novas atitudes como também no grau de atingimento,</p><p>ou seja, se o nível de serviço oferecido é compatível com a quantidade de</p><p>pessoas necessitadas e se está funcionando adequadamente.</p><p>De fato, por ter a missão de permitir melhores condições de vida</p><p>às pessoas em situação de vulnerabilidade e de efetuar a igualização de</p><p>situações desiguais, e por ser, principalmente, implementado por meio de</p><p>políticas públicas empreendidas pelo Estado, a verificação do resultado</p><p>é fundamental para a precisa identificação do grau de utilização pelos</p><p>cidadãos e, consequentemente, para sua garantia, demonstra Gotti (2012).</p><p>Políticas Sociais 29</p><p>RESUMINDO:</p><p>Neste capítulo você deve ter entendido que o Estado</p><p>tem o dever de sujeitar-se ao direito e de criá-lo, sendo</p><p>uma forma de controle das suas próprias ações e que a</p><p>Constituição Federal de 1988 expressa os direitos sociais</p><p>na condição de direitos fundamentais. Viu que os direitos</p><p>sociais fazem parte da segunda geração que busca uma</p><p>atuação positiva do Estado e que são direitos à educação,</p><p>saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer,</p><p>segurança, previdência social, proteção à maternidade</p><p>e à infância e assistência aos desamparados e ainda, os</p><p>derivados dos tratados internacionais ratificados pelo</p><p>Brasil. Compreendeu também que para sua concretização</p><p>é necessária a demanda de recursos públicos, mas que</p><p>sua simples negação não é justificativa, devendo ser</p><p>demonstrado de forma objetiva, assim como deve haver</p><p>o mínimo existencial que se refere a um padrão mínimo</p><p>social de sobrevivência. Por fim, viu que deve existir a</p><p>preocupação com o alcance dos resultados para que exista</p><p>a precisa identificação do grau de utilização pelos cidadãos</p><p>e para sua garantia.</p><p>30 Políticas Sociais</p><p>Movimentos sociais</p><p>OBJETIVO:</p><p>Neste capítulo iremos analisar e entender os movimentos</p><p>sociais mais representativos no Brasil, identificando seus</p><p>principais aspectos, motivações e históricos.</p><p>Movimentos sociais mais representativos</p><p>no Brasil</p><p>Há muitos anos, vemos pessoas se unindo em busca da defesa de</p><p>uma causa que consideram como justa ou correta, ou até mesmo lutando</p><p>por direitos.</p><p>Sendo esta, uma garantia instituída pela própria Constituição</p><p>Federal em seu artigo 5º, XVI, no qual estabelece que:</p><p>[...] todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em</p><p>locais abertos ao público, independentemente de autori-</p><p>zação, desde que não frustrem outra reunião anteriormen-</p><p>te convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido</p><p>prévio aviso à autoridade competente. (BRASIL, 1988)</p><p>Essas ações em grupos são chamadas de vários nomes como</p><p>manifestações, passeatas, marchas, e elas, muitas vezes, colaboram para</p><p>a introdução de mudanças significativas nas sociedades.</p><p>Existe uma tendência em nossa sociedade de criminalizar em</p><p>termos éticos ou políticos, os grupos que se unem em defesa de seus</p><p>interesses. Contudo, é preciso levar em consideração que os movimentos</p><p>sociais buscam interceder na elaboração das políticas públicas</p><p>econômicas, sociais, entre outras, algo que o indivíduo de forma isolada</p><p>não conseguiria, esclarece Lemes (2018).</p><p>Mas o que vêm a ser os movimentos sociais?</p><p>Ferreira (2001, p. 146) define os movimentos sociais como “ações de</p><p>grupos sociais organizados que buscam determinados fins estabelecidos</p><p>coletivamente e tem como objetivo mudar ou manter as relações sociais”.</p><p>Políticas Sociais 31</p><p>Os movimentos sociais (Figura 8) podem ser em busca da</p><p>emancipação, que são aqueles que exercem uma maior influência na</p><p>sociedade, como por exemplo o Movimento dos Trabalhadores Rurais</p><p>Sem-Terra e os movimentos que buscam a manutenção da ordem</p><p>existente, informa Lemes (2018).</p><p>Figura 8: Movimentos Sociais</p><p>Fonte: Freepik</p><p>De acordo com Lemes (2018), os movimentos sociais contemporâ-</p><p>neos podem ser divididos em:</p><p>• Movimentos de interesses específicos de um grupo social – como</p><p>o de mulheres, negros etc.;</p><p>• Movimentos de interesses difusos – ecologia, pacifismo.</p><p>NOTA:</p><p>Nesses novos tipos existe a luta por causas subjetivas,</p><p>buscando a emancipação pessoal e não social, por isso</p><p>existe um certo distanciamento do Estado, partidos e</p><p>sindicatos, complementa Lemes (2018).</p><p>A existência dos movimentos sociais é permanente na história</p><p>política do país. Porém, ela é coberta por ciclos, com fluxos ascendentes</p><p>32 Políticas Sociais</p><p>e voltas (algumas estratégias de resistência ou rearticulação face à nova</p><p>conjuntura e às novas forças sociopolíticas em ação). O importante a</p><p>ressaltar é esse campo de forças sociopolítico e o reconhecimento</p><p>de que suas ações estimulam mudanças sociais das mais variadas. O</p><p>repertório de lutas construído por eles demarca interesses, identidades,</p><p>subjetividade e projetos de grupos sociais, explana Gohn (2013).</p><p>Diversos movimentos sociais marcaram a história do Brasil, como</p><p>por exemplo o direito ao voto e as diretas já. Contudo, muitos ainda</p><p>surgem e crescem de acordo com os acontecimentos sociais e políticos.</p><p>Vejamos um pouco dos principais movimentos sociais no Brasil.</p><p>Movimento dos Sem Terra (MST)</p><p>O movimento dos trabalhadores rurais sem terras (MST) surgiu a</p><p>partir de questões pela luta da reforma agrária, por mudanças sociais e</p><p>articulações de lutas por terras. São realizadas marchas e acampamentos</p><p>em terras que estão em situações improdutivas ou que não cumprem sua</p><p>função social, em busca da sua desapropriação.</p><p>Nasceu da articulação das lutas pela terra, que foram</p><p>retomadas a partir do final da década de 70, especialmente</p><p>na região Centro-Sul do país e, aos poucos, expandiu-se</p><p>pelo Brasil inteiro. O MST teve sua gestação no período de</p><p>1979 a 1984, e foi criado formalmente no Primeiro Encontro</p><p>Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que se realizou de</p><p>21 a 24 de janeiro de 1984, em Cascavel, no Estado do</p><p>Paraná. (CALDART, 2001, p. 1)</p><p>Para Charão (2013), é possível dizer que o MST não é somente</p><p>um Movimento Social que tem uma bandeira de lutas, mas é também</p><p>uma força capaz de produzir os bens materiais indispensáveis à vida,</p><p>sem aceitar a exclusão social como uma história dada, mas como uma</p><p>possibilidade de ser construída e reelaborada pelo Movimento.</p><p>É formado por famílias que mesmo depois de terem conquistado</p><p>o direito à terra através de lutas, permanecem organizadas em busca de</p><p>mais benfeitorias como saneamento,</p><p>energia elétrica, entre outros. Assim,</p><p>as famílias assentadas se organizam de forma participativa e democrática</p><p>para discutir suas necessidades e tomar decisões, explica o Movimento</p><p>dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.</p><p>Políticas Sociais 33</p><p>Mesmo aqueles que conseguiram a terra continuam no movimento</p><p>em busca de direitos básicos de sobrevivência.</p><p>Atualmente, o MST (Figura 9) se organiza em âmbitos coletivos</p><p>responsáveis por resolver projetos do movimento como: produção,</p><p>cooperação, meio ambiente, formação, gênero, saúde, educação, cultura,</p><p>comunicação, direitos humanos e juventude. Além das coordenações</p><p>estaduais e direções nacionais, entre outras campos organizativos</p><p>descentralizados, explicita Charão (2013).</p><p>Figura 9: MST</p><p>Fonte: http://bit.ly/3ljnTBT</p><p>Hoje, inclui-se dentro do Movimento dos Trabalhadores Sem Terras</p><p>(MST) o Movimento Sem Terra das Mulheres do Campo e o Movimento</p><p>das Mulheres Camponesas (MMC), além de outros movimentos, como</p><p>a Marcha das Margaridas, onde todas as mulheres são camponesas</p><p>e trabalhadoras do campo e possuem uma pluralidade de agendas e</p><p>pautas pelas quais lutam ativamente, informa Antunes (2016).</p><p>Esses movimentos entendem que a participação das mulheres</p><p>nessas pautas é fundamental, pois elas muitas vezes são as responsáveis</p><p>pelo cuidado da terra, pela sustentabilidade e pela vida rural de forma</p><p>geral, além de incluir outras pluralidades como: a vida das mulheres</p><p>no campo, a questão do gênero no campo, do sexismo, da misoginia,</p><p>contra as desigualdades e discriminações, a favor da democratização da</p><p>http://bit.ly/3ljnTBT</p><p>34 Políticas Sociais</p><p>comunicação e da mídia, da denúncia do modus operandi do agronegócio</p><p>brasileiro, da violência contra a mulher e principalmente, no campo da</p><p>sustentabilidade, da ecologia, entre diversos outros temas, complementa</p><p>a autora.</p><p>Movimento estudantil</p><p>Viana et al. (2020) afirma que o movimento estudantil é um dos</p><p>principais movimentos sociais e é reconhecido por sua combatividade e,</p><p>em muitos momentos, por sua radicalidade.</p><p>De acordo com a União Nacional dos Estudantes (UNE), esse</p><p>movimento teve início em 1901 com a criação da Federação dos</p><p>Estudantes Brasileiros e teve uma forte atuação na Revolução de 1930</p><p>com a Juventude Comunista e a Juventude Integralista, bem como</p><p>em vários outros momentos significativos da história do Brasil como na</p><p>Segunda Guerra Mundial, na Ditadura Militar, na Diretas Já, entre outros.</p><p>O movimento estudantil forma um grupo social por sua condição</p><p>de estudante, sendo um grupo situacional (o que o diferencia dos grupos</p><p>culturais, unidos por uma causa, ou dos grupos corporais, unidos por</p><p>semelhanças físicas). A situação social dos estudantes é causadora</p><p>de várias formas de insatisfação, principalmente com as instituições</p><p>educacionais que geram todo um processo de violência disciplinar e</p><p>cultural, além das carências educacionais e institucionais que alcançam</p><p>os estudantes, informa Vieira et al. (2020).</p><p>IMPORTANTE:</p><p>Uma reivindicação ligada aos interesses específicos do</p><p>movimento estudantil e, ao mesmo tempo, aos interesses</p><p>gerais da sociedade se refere à luta pelo passe livre ou</p><p>meia passagem.</p><p>Esse movimento possui algumas particularidades, pois é vinculado</p><p>às instituições educacionais e suas organizações. As manifestações</p><p>reconhecidas por elas são oficiais (CAs, DCEs, UNE, entre outros),</p><p>complementa Vieira et al. (2020).</p><p>Movimento LGBTQIA+</p><p>Políticas Sociais 35</p><p>O movimento LGBTQIA+ (Figura 10) no Brasil teve início com o</p><p>movimento homossexual ainda no período da ditadura militar no qual</p><p>lutava contra a violência. Pouco tempo depois, sofreu com a epidemia</p><p>de AIDS/HIV e acabou dedicando-se a buscar respostas e soluções para</p><p>esse mal.</p><p>Figura 10: Movimento LGBTQI+</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>No decorrer dos anos, a sigla do movimento foi sendo modificada</p><p>podendo variar até mesmo dentro do próprio movimento, mas sendo</p><p>considerada a mais completa como LGBTQIA+ que compreende lésbicas,</p><p>gays, bissexuais, travestis, transgêneros, querr (drag queens), intersexo,</p><p>assexual, e outros grupos e variações de sexualidade e gênero. Busca</p><p>incessantemente a defesa da aceitação na sociedade, acabando com a</p><p>violência, discriminação, e qualquer outro tipo de mal originários do meio</p><p>social que os rodeie.</p><p>Uma atuação marcante desse movimento é a Parada de orgulho</p><p>LGBT que acontece em vários lugares do Brasil com o intuito de</p><p>36 Políticas Sociais</p><p>conscientizar as pessoas sobre seu movimento e suas lutas. Esse</p><p>movimento teve diversas conquistas durante todos esses anos.</p><p>[...]foi criado, em 2004, o Brasil Sem Homofobia: Programa</p><p>de Combate à Violência e à Discriminação Contra GLBT</p><p>e de Promoção da Cidadania Homossexual (BSH), cuja</p><p>centralidade consistiu no combate à homofobia, à violência</p><p>física, verbal e simbólica e na defesa das identidades</p><p>de gênero e da cidadania homossexual. A criação do</p><p>BSH foi pautada pelo movimento social, iniciando-se</p><p>então o processo de construção do programa. Para tal,</p><p>resgataram-se demandas históricas do movimento LGBT,</p><p>além de parcerias com ONGs e universidades no processo</p><p>de elaboração de justificativas, estruturação e formatação</p><p>do documento em questão. Sob a responsabilidade da</p><p>SDH, contou com o apoio do Ministério da Saúde e do</p><p>Programa Nacional de AIDS, principal lócus de articulação</p><p>do movimento LGBT com a referida secretaria. (VIANA,</p><p>2015, p. 1)</p><p>Outra grande conquista foi quanto ao casamento civil de pessoas</p><p>do mesmo sexo, a utilização do nome social e a possibilidade de alteração</p><p>no registro civil para os transexuais e travestis.</p><p>Movimento feminista</p><p>No decorrer da história, as mulheres eram privadas de muitos direitos</p><p>ou até mesmo necessitavam de autorização dos maridos para realizar</p><p>atividades, como trabalhar. Não podiam votar, frequentar determinados</p><p>estabelecimentos (até mesmo escolas e universidades), eram privadas de</p><p>falar e participar de acontecimentos relacionados com política ou outras</p><p>questões que eram tidas como direitos apenas dos homens.</p><p>A história do feminismo reporta ao século XIX, com destaque para</p><p>a influência exercida por mulheres escritoras como Nísia Floresta que se</p><p>esforçou na defesa da educação igualitária entre homens e mulheres,</p><p>e Luciana de Abreu que se tornou a primeira mulher a entrar em uma</p><p>sociedade literária, demonstra Priore e Pinsky (2013).</p><p>Com o passar dos anos, muitos desses direitos foram conquistados,</p><p>como poder frequentar a escola a partir de 1927, o direito ao voto com a</p><p>Constituição de 1932, trabalhar sem precisar de autorização do marido a</p><p>Políticas Sociais 37</p><p>partir da Consolidação das Leis Trabalhistas em 1943, assim como diversos</p><p>outros direitos nessa própria lei.</p><p>No Brasil, os Movimentos Feministas não tiveram a expressão</p><p>histórica de movimentos de outras partes do mundo, porém estiveram</p><p>ativos politicamente, através de reivindicações de direitos da mulher. Ao</p><p>longo dos anos foram criados o Partido Republicano Feminino, a Liga para</p><p>Emancipação da Mulher, que depois passou a ser a Federação Brasileira</p><p>para Programas Femininos, relata Bello (2012).</p><p>IMPORTANTE:</p><p>Muitas mudanças aconteceram depois de movimentos</p><p>marcantes como a greve das costureiras em 1907, que</p><p>lutavam por condições de trabalho dignas.</p><p>Antunes (2016) explica que os movimentos feministas criaram</p><p>organizações não-governamentais (ONGs) em substituição aos antigos</p><p>movimentos que possuem suas ações voltadas, junto ao Estado, às</p><p>políticas protetoras para as mulheres, trazendo avanços como a criação</p><p>das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, a criação da Lei</p><p>Maria da Penha, mas também engessou, e muito, o movimento coletivo</p><p>que perdeu sua criatividade, sua liberdade e sua autonomia.</p><p>Bello</p><p>(2012) afirma que nos dias atuais, o movimento feminista</p><p>passa por um processo de esfriamento na opinião pública. As divisões</p><p>internas, no plano de ideias, têm colaborado para o esvaziamento destes</p><p>movimentos. Trata-se, assim, de um momento histórico para o repensar</p><p>das relações homens-mulheres, uma vez que é necessário que alguma</p><p>organização assuma a liderança das discussões fundamentais que se</p><p>interpõem neste relacionamento. Devemos notar que os Movimentos</p><p>Feministas tradicionais se fizeram importantes porque, por meio de</p><p>38 Políticas Sociais</p><p>suas reivindicações, colocaram a questão da mulher em discussão</p><p>na sociedade. Por conseguinte, trouxeram a questão da mulher como</p><p>denúncia da opressão, colocando também em discussão a questão da</p><p>própria opressão.</p><p>Movimento negro</p><p>Segundo Gomes (2017), o movimento negro alcançou um lugar</p><p>de existência afirmativa no Brasil. Ao originar o debate sobre o racismo</p><p>para a cena pública e questionar as políticas públicas e seu compromisso</p><p>com a superação das desigualdades raciais, esse movimento social</p><p>transforma e politiza a raça, dando-lhe um tratamento emancipatório e</p><p>não inferiorizante.</p><p>O Movimento Negro (Figura 11), para Gomes (2017) é entendido</p><p>como as mais variadas maneiras de organização e articulação das negras</p><p>e dos negros politicamente estabelecidos na luta contra o racismo e que</p><p>se destinam à superação desse cruel fenômeno na sociedade. Participam</p><p>dessa definição os grupos políticos, acadêmicos, culturais, religiosos e</p><p>artísticos com o objetivo claro de superação do racismo e da discriminação</p><p>racial, de valorização e afirmação da história e da cultura negra no Brasil, e</p><p>de anulação das barreiras racistas atribuídas aos negros na ocupação dos</p><p>diferentes espaços e lugares na sociedade.</p><p>Políticas Sociais 39</p><p>Figura 11: Movimento Negro</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>Esse movimento surgiu no Brasil ainda na época da escravidão em</p><p>busca da defesa das injustiças e violências realizadas contra eles e teve</p><p>muitos nomes fortes como o de Zumbi dos Palmares.</p><p>Atualmente, o movimento está bastante diversificado e orientado</p><p>para diferentes situações: alguns são protegidos, outros são quilombístas</p><p>no sentido de regressar às origens e tradições africanas; outros mais</p><p>liberais movimentam-se no sentido de conseguir maior mobilidade na</p><p>sociedade, aproveitando as aberturas para uma integração mais plena,</p><p>lembra Cardoso (2010).</p><p>Um fato recente que mobilizou os movimentos negros de diversos</p><p>países foi intitulado de “Vidas Negras Importam”, no qual se buscou a</p><p>conscientização e a luta contra a violência com os negros que ainda é</p><p>muito crescente em vários lugares do mundo.</p><p>40 Políticas Sociais</p><p>RESUMINDO:</p><p>Você deve ter compreendido que os movimentos sociais</p><p>são formados por grupos sociais organizados que possuem</p><p>um propósito em comum e aprendeu as principais</p><p>características dos movimentos mais significativos no Brasil.</p><p>Viu que o Movimento Sem Terra (MST) tem como objetivo</p><p>a reforma agrária, mudanças sociais e articulações de lutas</p><p>por terras, assim como depois de tê-las conquistado, ainda</p><p>luta por direitos básicos e inclui ainda a participação de</p><p>mulheres em outros movimentos ligados ao MST. Entendeu</p><p>que o movimento estudantil luta contra a insatisfação junto</p><p>às instituições educacionais e às carências nesses espaços,</p><p>bem como é vinculado às instituições educacionais. Viu</p><p>que o movimento LGBTQIA+ tem como finalidade buscar a</p><p>aceitação na sociedade e o fim da violência e discriminação</p><p>com sua classe. Conheceu ainda, o movimento feminista</p><p>que alcançou diversos direitos como votar, estudar e</p><p>trabalhar. Por fim, compreendeu o movimento negro em</p><p>prol do combate à discriminação e violência contra pessoas</p><p>de cor negra.</p><p>Políticas Sociais 41</p><p>Financiamento público e políticas sociais</p><p>OBJETIVO:</p><p>Neste capítulo iremos identificar a aplicação do financia-</p><p>mento público às políticas sociais brasileiras. Vamos juntos?</p><p>Aplicação do financiamento público às</p><p>políticas sociais brasileiras</p><p>Política social, para Gionavella et al. (2012), consiste em um termo</p><p>utilizado de forma restrita para se referir a todas as políticas que os</p><p>governos desenvolvem orientadas para o bem-estar e a proteção social.</p><p>Compreende o desenvolvimento de estratégias coletivas com o intuito de</p><p>diminuir a vulnerabilidade das pessoas aos riscos sociais.</p><p>As Políticas Sociais instituídas no Brasil abrangem dife-</p><p>rentes áreas e segmentos como a: transferência de renda,</p><p>saúde, previdência/assistência social, habitação/urba-</p><p>nismo, saneamento básico, trabalho e renda, educação,</p><p>desenvolvimento rural, bem como políticas sociais foca-</p><p>lizadas conforme idade, gênero, etnia, grupos identitários,</p><p>considerando o contexto brasileiro e internacional. (SEN-</p><p>NE, 2017, p. 3)</p><p>O Estado exerce um papel essencial tanto na administração como</p><p>no financiamento do sistema, que destina recursos importantes do</p><p>orçamento público (Figura 12) para a manutenção das políticas sociais. Os</p><p>recursos do sistema são repartidos na medida em que as despesas são</p><p>cobertas como recursos arrecadados periodicamente, explana Gionavella</p><p>et.al (2012).</p><p>42 Políticas Sociais</p><p>Figura 12: Orçamento Público para Políticas Sociais</p><p>Fonte: Freepik</p><p>Esses recursos são necessários para a busca de políticas sociais</p><p>que possibilitem uma melhor equidade e o desenvolvimento econômico,</p><p>destinado ao combate à miséria, redução das desigualdades e das</p><p>vulnerabilidades, trazendo dignidade e transformando os indivíduos em</p><p>cidadãos possuidores de direitos.</p><p>Cada uma das políticas sociais está orientada para a proteção</p><p>contra riscos específicos e, dessa forma, possuem aspectos singulares de</p><p>elaboração, organização e implementação, bem como diferem em termos</p><p>de técnicas, estratégias, instrumentos e objetivos específicos pretendidos.</p><p>Esses aspectos da dinâmica de cada uma das áreas da política social são</p><p>complexos e de extrema importância no desenvolvimento de sistemas de</p><p>proteção social, visto que são nesses aspectos que os sistemas adquirem</p><p>forma concreta e atuam diretamente sobre a realidade social, entende</p><p>Gionavella et.al (2012).</p><p>Para que exista um planejamento e implementação dessas ações</p><p>é necessário capital e esse, na maioria das vezes, vem do Poder Público</p><p>através de financiamentos.</p><p>De acordo com Salvador (2012), um ponto importante nesse</p><p>financiamento é o fundo público que compreende a capacidade de</p><p>concentração de recursos que o Estado possui para interferir na economia,</p><p>que pode ser através de empresas públicas, da utilização das suas políticas</p><p>Políticas Sociais 43</p><p>monetárias e fiscais, como também pelo orçamento público. Sendo uma</p><p>das principais maneiras de efetivação desse fundo, através da retirada de</p><p>recursos da sociedade por meio de impostos, contribuições e taxas.</p><p>IMPORTANTE:</p><p>A Constituição Federal de 1988 estabelece os quantitativos</p><p>do orçamento que devem ser destinados a cada uma</p><p>das políticas sociais. Leis específicas trazem mais</p><p>determinações, sendo estes os meios normativos que</p><p>devem ser seguidos.</p><p>Vejamos algumas delas.</p><p>A seguridade social tem como fonte de financiamento (Figura 13),</p><p>segundo a Constituição Federal de 1988, a sociedade de forma direta</p><p>através das contribuições sociais e de forma indireta, pelo pagamento</p><p>de tributos. Portanto, são utilizados recursos derivados do orçamento da</p><p>União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de contribuições</p><p>sociais oriundas de receitas, faturamentos, lucros, folha de salários de</p><p>empregadores ou empresas; do trabalhador; da receita de prognósticos</p><p>(loterias, sorteio etc.); importador de bens e serviços e outras receitas</p><p>previstas em legislação específica.</p><p>Figura 13: Financiamento da seguridade social</p><p>Fonte: Elaborado pelas</p><p>autoras (2021).</p><p>Gionavella et al. (2012) explica que esses valores são utilizados para</p><p>garantir os direitos referentes à saúde, previdência e assistência social,</p><p>tendo como alguns dos benefícios e serviços:</p><p>• Os de caráter contributivo e individualizado, como os de regime</p><p>geral de aposentadorias e o seguro-desemprego;</p><p>44 Políticas Sociais</p><p>• Os benefícios regidos pela lógica da cidadania, como o acesso</p><p>universal à saúde e o salário cidadão que consiste em um salário-</p><p>mínimo para a população de mais de 65 anos ou portadora de</p><p>deficiência que não tenha como se manter.</p><p>A saúde ainda conta com recursos mínimos oriundos, anualmente,</p><p>da União: o equivalente a não menos que 15% da receita corrente líquida</p><p>do exercício financeiro dos Estados e Distrito Federal, arrecadação de</p><p>impostos e recursos estabelecidos no texto constitucional e no caso</p><p>dos municípios, a arrecadação de impostos, conforme determina a</p><p>Constituição Federal de 1988.</p><p>No âmbito da educação (Figura 14), devem ser ofertadas educação</p><p>básica, ensino médio, educação infantil a partir de 5 anos, sendo estes</p><p>disponibilizados de forma obrigatória e gratuita, gerando responsabilidade</p><p>da autoridade competente em caso de não efetivação. Para isso, serão</p><p>empregados por ano não menos que 18% para a União e 25% para os</p><p>Estados, Distrito Federal e Municípios, das receitas decorrentes de</p><p>impostos, incluída a originária de transferências, na manutenção e</p><p>desenvolvimento de ensino, conforme determina a Constituição Federal</p><p>de 1988.</p><p>Figura 14: Financiamento da Educação.</p><p>Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).</p><p>Araújo (2016) cita que dentro da família de políticas sociais</p><p>relacionadas com a política educacional encontra-se o CAQi. Trata-se</p><p>de um mecanismo desenvolvido pela Campanha Nacional pelo Direito à</p><p>Educação que assegura que:</p><p>• Todos os equipamentos educacionais e escolas públicas</p><p>brasileiras disponham de professores que recebam, ao menos,</p><p>o Piso Nacional Salarial do Magistério, tenham uma política de</p><p>Políticas Sociais 45</p><p>carreira atrativa, formação continuada e possibilidade de ensinar</p><p>em turmas com número apropriado de alunos;</p><p>• Todas as unidades escolares e de educação infantil devem possuir</p><p>bibliotecas, laboratórios de ciências, laboratórios de informática,</p><p>quadra poliesportiva coberta, entre outros insumos infra estruturais.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Aprofunde-se nesse tema lendo o artigo “Impacto financeiro</p><p>da implantação do CAQi no Brasil” (Araújo). Disponível em:</p><p>https://bit.ly/3qOnwAC.</p><p>Com relação à habitação, a Lei 11.124/05 determinou a criação do</p><p>Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social (FNHIS) que tem como</p><p>objetivo proporcionar o acesso da população de menor renda à terra</p><p>urbanizada e à habitação digna e sustentável e possibilitar o acesso à</p><p>habitação através de políticas e programas de investimento (Figura 15)</p><p>e subsídios.</p><p>Figura 15: Programas de habitação</p><p>Fonte: Freepik</p><p>Através desse fundo, os recursos são centralizados e gerenciados</p><p>para programas no campo da habitação para pessoas de menor renda e</p><p>é constituído por:</p><p>https://bit.ly/3qOnwAC</p><p>46 Políticas Sociais</p><p>I – recursos do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento So-</p><p>cial – FAS, de que trata a Lei nº 6.168, de 9 de dezembro</p><p>de 1974;</p><p>II – outros fundos ou programas que vierem a ser incorpo-</p><p>rados ao FNHIS;</p><p>III – dotações do Orçamento Geral da União, classificadas</p><p>na função de habitação;</p><p>IV – recursos provenientes de empréstimos externos e in-</p><p>ternos para programas de habitação;</p><p>V – contribuições e doações de pessoas físicas ou jurídi-</p><p>cas, entidades e organismos de cooperação nacionais ou</p><p>internacionais;</p><p>VI – receitas operacionais e patrimoniais de operações</p><p>realizadas com recursos do FNHIS; e</p><p>VII – outros recursos que lhe vierem a ser destinados.</p><p>VII - receitas decorrentes da alienação dos imóveis da</p><p>União que lhe vierem a ser destinadas; e</p><p>VIII - outros recursos que lhe vierem a ser destinados.</p><p>(BRASIL, 2005)</p><p>Esses recursos poderão ser empregados em ações que estão</p><p>associadas aos programas de habitação e interesse social, nas três esferas</p><p>do governo (municipais, estaduais e federais).</p><p>EXEMPLO</p><p>Um programa muito conhecido no Brasil e que beneficiou muitas</p><p>famílias foi o Minha Casa Minha Vida, através de financiamentos da casa</p><p>própria para pessoas de baixa renda, disponibilizando ainda, subsídios de</p><p>acordo com a localização, renda familiar e valor do imóvel.</p><p>A Constituição Federal de 1988 ainda estabelece que o seguro-</p><p>desemprego e o abono salarial deverão ser financiados pelo Programa</p><p>de Integração Social e pelo Programa de Formação do Patrimônio do</p><p>Servidor Público, que deverá ainda financiar em até no mínimo 28%, os</p><p>programas de desenvolvimento econômico (Figura 16) através do Banco</p><p>Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).</p><p>Políticas Sociais 47</p><p>Figura 16: Programas de Desenvolvimento Econômico</p><p>Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).</p><p>Muitas dessas despesas determinadas para os direitos sociais</p><p>no orçamento público, como seguridade social, seguro-desemprego</p><p>e educação, são compulsórias e acabam gerando uma reação de</p><p>descontentamento o qual é visto como um engessamento do orçamento</p><p>público, explicita Salvador (2012).</p><p>A vinculação de despesas é relevante para assegurar os direitos</p><p>diante do Estado. Contudo, nem sempre essa vinculação irá garantir que</p><p>essas despesas serão utilizadas para assegurar a justiça social e para</p><p>elevar os benefícios e serviços de maneira universal, com a finalidade de</p><p>erradicar as desigualdades sociais, complementa o autor.</p><p>É necessário que sejam criadas pelo Estado políticas e programas</p><p>sociais que sejam capazes de proporcionar a inclusão produtiva e social e</p><p>a distribuição de renda, com a implantação de ações que acabem com a</p><p>pobreza e distribuam e redistribuam a renda.</p><p>Monteiro et. al. (2019) expõe que para que as políticas sociais</p><p>desempenhem seu papel na concretização da proposta social</p><p>desenvolvimentista é imprescindível que as formas de financiamento</p><p>sejam revistas, visto que acabam por colaborar para a ampliação das</p><p>desigualdades, sendo necessário um tratamento inovador para a questão</p><p>social que tenha eficiência e eficácia por meio da criação da consolidação</p><p>de leis sociais.</p><p>48 Políticas Sociais</p><p>Por isso, é necessário que além de fiscalizar se os orçamentos</p><p>estão sendo destinados como o ordenamento jurídico determina, deve-</p><p>se também buscar a devida utilização na efetivação dos direitos sociais.</p><p>RESUMINDO:</p><p>Abordamos, neste estudo, que as políticas sociais</p><p>compreendem diversas áreas e segmentos que podem</p><p>ser a transferência de renda, saúde, seguridade social,</p><p>habitação, saneamento básico, trabalho, educação,</p><p>desenvolvimento rural, entre outros. Falamos ainda que,</p><p>para que essas ações sejam desenvolvidas, elas precisam</p><p>de capital, ou seja, que exista uma fonte de financiamento</p><p>que majoritariamente vem do Estado através da destinação</p><p>de recursos importantes do orçamento público. Pontuamos</p><p>que o financiamento da seguridade social provém, de</p><p>forma direta, das contribuições sociais, e de forma indireta,</p><p>pelo pagamento de tributos que são utilizados para a</p><p>saúde, previdência e assistência social, mas que a saúde</p><p>ainda recebe outros recursos tanto da União, quanto dos</p><p>Estados, Municípios e Distrito Federal. Abordamos também</p><p>que a educação recebe recursos da União em não menos</p><p>que 18% e 25% dos Estados, Municípios e Distrito Federal.</p><p>Na sequência, discorremos que a habitação possui um</p><p>fundo chamado de Fundo Nacional de Habitação no qual</p><p>são gerenciados os recursos para programas no campo</p><p>da habitação para pessoas de menor renda. Ainda, que o</p><p>Programa de Integração Social e o Programa de Formação</p><p>do Patrimônio de Integração Social são utilizados para</p><p>financiar o seguro-desemprego</p><p>e o abono salarial e ainda</p><p>os programas de desenvolvimento social.</p><p>Por fim, pudemos concluir que esses financiamento só</p><p>conseguirão assegurar que a justiça social seja efetivada, se</p><p>forem alocados de forma que os mais necessitados sejam</p><p>beneficiados através de ações que os atendam de fato.</p><p>Políticas Sociais 49</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ANTUNES, B.R. Feminismo: uma busca pela igualdade de gênero.</p><p>RJ: Edição do autor, 2016.</p><p>ARAUJO, L. O CAQi e o novo papel da União o financiamento da</p><p>Educação Básica. Jundiaí: Paco Editorial, 2016.</p><p>ARAUJO L. Impacto financeiro da implantação do CAQi no Brasil.</p><p>Educ. Soc., Campinas, v.40, e0181802, 2019. 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