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<p>AULAS DE CRIAÇÃO DE BASE</p><p>DIREITO CIVIL</p><p>Professora Luciana Mota</p><p>(</p><p>Elaborado</p><p>por</p><p>Larissa</p><p>de</p><p>Figueiredo</p><p>|</p><p>Advogada.</p><p>Especialista</p><p>em</p><p>Direito</p><p>de Família e Sucessões. Coautora das obras “Julgados interpretados de</p><p>Direito</p><p>Civil”</p><p>e “Julgados</p><p>comentados</p><p>de direito</p><p>do</p><p>consumidor”.</p><p>)</p><p>AULA 1: PESSOA NATURAL</p><p>A parte geral do direito civil estuda os elementos de todas as relações jurídicas: sujeito (pessoas naturais e jurídicas), objeto (bens) e um vínculo jurídico (fatos jurídicos) que liga o sujeito e o objeto. Conceito de pessoa: quem tem personalidade.</p><p>1. PERSONALIDADE</p><p>A) A PERSONALIDADE PODE SER VISTA SOB DOIS ASPECTOS:</p><p>· Sentido subjetiva (viés patrimonial) - aptidão genérica para ser titular de direitos e obrigações da vida civil (art. 1° do CC - “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”). Viés patrimonial pois relacionado, por exemplo, ao direito de assinar um contrato.</p><p>· Sentido Objetiva (viés existencial) – diz respeito aquele conjunto de atributos que é próprio da pessoa humana, chamado de direitos da personalidade (como de imagem, privacidade, honra, nome, ao próprio corpo). Logo, somente a pessoa humana tem personalidade em sentido objetivo (pessoa jurídica não tem personalidade em sentido objetivo, apenas no sentido subjetivo).</p><p>· Obs.: pessoa jurídica possui proteção aos direitos da personalidade no que couber apenas.</p><p>Obs.: não é possível pessoa jurídica de direito público, pleitear contra particular, indenização por dano moral relacionado à violação da honra ou da imagem. Assim, o ente público não pode pedir indenização por dano moral com base em ofensa à imagem.</p><p>B) INÍCIO DA PERSONALIDADE (ART. 2º - A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.):</p><p>Início da personalidade do ser humano: nascimento com vida (ou pela docimasia hidrostática de galeno).</p><p>O registro civil da pessoa física possui natureza jurídica meramente declaratória, ao passo que, para as pessoas jurídicas, o registro tem efeito constitutivo.</p><p>Nascituro é um sujeito de direitos, mas a doutrina discute se já possui personalidade civil, sendo titular de direitos e obrigações.</p><p>Teorias da doutrina para explicar:</p><p>· Teoria natalista (se aplica à personalidade subjetiva) – “a personalidade somente é adquirida com o nascimento com vida, o nascituro teria apenas expectativas de direitos e esses direitos estão condicionados ao nascimento com vida”. Elimina qualquer chance do nascituro possuir personalidade civil, não podendo ainda ser titular de direitos e obrigações.</p><p>· Teoria concepcionista (se aplica à personalidade objetiva) – essa teoria tem sido adotada pelos doutrinadores mais modernos, e entende que “a personalidade jurídica é adquirida no momento da concepção”, já que se o feto pode ser sujeito de direitos então possui personalidade.</p><p>· Teoria condicionalista ou da personalidade condicional – defendem que o nascituro já é sujeito de direitos, porém a sua personalidade fica condicionada ao nascimento com vida, caso ele nasça com vida será considerada desde a concepção para todos os fins de direito. É como se a personalidade retroagisse ao momento da concepção.</p><p>STJ tem alguns precedentes defendendo a legitimidade ativa do nascituro para defender os seus direitos da personalidade e também os próprios direitos de natureza patrimonial, em nome próprio inclusive, representado por representante legal. Assim, foi adotado concepcionista, em que admitido que o nascituro pode até mesmo assinar contrato.</p><p>Obs.: CC adotou teoria natalista, mas doutrina e jurisprudência se afiliaram a doutrina concepionista.</p><p>JURISPRUDÊNCIA:</p><p>DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO.</p><p>FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.</p><p>I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum.</p><p>II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum (causador do dano foi condenado, mesmo que o ato ilícito tenha ocorrido quando ainda era nacituro, o qual possui direitos pela morte do pai em acidente)</p><p>III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional. (REsp 399.028/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 26/02/2002, DJ 15/04/2002, p. 232)</p><p>A professora cita alguns outros exemplos em aula referentes ao assunto, caso DPVAT Recurso especial 1415727- SC, julgado em 2014. Gestante sofreu acidente e feto morreu, ocorrendo um aborto, em que foi determinado que ocorreu uma morte, assim a gestante tem direito ao DPVAT.</p><p>· Situação do nascituro no ordenamento jurídico brasileiro:</p><p>Atualmente é pacifico que o nascituro possui direitos da personalidade, e também aos direitos de natureza patrimonial desde que nasça com vida.</p><p>· Personalidade subjetiva: proteção de interesses futuros e eventuais</p><p>· Personalidade objetiva: possui direitos da personalidade</p><p>Exemplos: donatário (art. 542 CC), nascituro entra na ordem de vocação hereditária (art. 1798 CC), reconhecimento de paternidade (art. 26, § único, ECA), alimentos gravídicos (Lei 11.804/08), pleitear danos morais por morte de pai (STJ).</p><p>Obs.: contratos de doação, o nascituro pode ser donatário se ele nascer com vida. Mas se nascer sem vida (natimorto), a doação não produzirá efeitos, voltando ao patrimônio do doador.</p><p>Mesma regra para vocação hereditária, em que nascituro apenas recebe seu quinhão da herança se nascer com vida (no caso de natimorto, volta ao montante e será dividido entre os outros herdeiros).</p><p>Reconhecimento de paternidade: o próprio nascituro pode ser sujeito ativo na ação de investigação de paternidade. Quanto ao natimorto, se ajuizou ação mesmo assim terá a proteção direitos da personalidade no sentido objetivo, já que foi nascituro em algum momento (mas não possui proteção no sentido subjetivo).</p><p>OBS:</p><p>· Proteção jurídica dos embriões - é aquele formado em laboratório que não foi implantado no útero, a proteção que a lei confere ao nascituro existe a partir de quando esse feto esta implantado no útero materno, se não for implantado não recebe a proteção dos direitos da personalidade. A lei de biossegurança – Lei n° 11.105/05 – artigo 5º teve sua constitucionalidade reconhecida pelo STF, ADI 3510, sobre uso de células-tronco embrionárias.</p><p>Art.5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: (...) – após o descurso de três anos e o embrião não foi utilizado, podendo ser objeto de estudo.</p><p>Embrião não é tratado como nascituro, mas é entendido como bem jurídico protegido de alguma forma, ainda que não seja uma proteção da pessoa, já que não pode ser tratado como qualquer outro bem. Assim, embrião não possui personalidade jurídica, mas ainda assim recebe uma proteção.</p><p>- Natimorto: é aquele que nasce sem vida, não adquire personalidade jurídica subjetiva, terá a proteção dos direitos da personalidade, pois foi concebido.</p><p>Enunciado I, I Jornada CJF: “a proteção que o Código defere ao nascituro alcança também o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura”.</p><p>2. CAPACIDADE</p><p>A) De direito ou gozo (art. 1º do CC - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.): comum a toda pessoa. Confunde-se com o conceito de personalidade, em que dá aptidão para a pessoa ser</p><p>titular de direitos e deveres na ordem civil. Porém não são todas as pessoas que podem exercer, em nome próprio, os atos da vida civil.</p><p>B) De fato ou exercício (arts. 3º a 5º da CC): exercício próprio dos atos da vida civil.</p><p>Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.</p><p>I - (Revogado) ; II - (Revogado) ; III - (Revogado) .</p><p>Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:</p><p>I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;</p><p>III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;</p><p>IV - os pródigos.</p><p>Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.</p><p>Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.</p><p>Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:</p><p>I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou</p><p>(</p><p>ASSINATURAS</p><p>|</p><p>DEFENSORIAS</p><p>|</p><p>MAGISTRATURA</p><p>E</p><p>MP</p><p>)</p><p>por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;</p><p>II - pelo casamento;</p><p>III - pelo exercício de emprego público efetivo;</p><p>IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;</p><p>V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.</p><p>image1.png</p>