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<p>Direito Processual Penal</p><p>Prof. Galvão Rabelo</p><p>__________________________________</p><p>PROCEDIMENTO COMUM</p><p>TEMA 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS</p><p>- Fases do procedimento penal:</p><p>· Fase postulatória: acusação + reação defensiva</p><p>· Fase instrutória: produção das provas</p><p>· Fase decisória: alegações finais + sentença</p><p>· Fase recursal: princípio do duplo grau de jurisdição (CADH)</p><p>TEMA 2. DEFINIÇÃO DO PROCEDIMENTO ADEQUADO</p><p>- O procedimento penal pode ser (art. 394, caput, CPP):</p><p>· Comum</p><p>· Especial</p><p>A) Procedimento comum (art. 394, § 1º, CPP): é o procedimento padrão previsto no CPP, aplicável a todos os crimes para os quais não haja procedimento especial (art. 394, § 2º, CPP).</p><p>· Ordinário (art. 394 a 405 do CPP): crime com pena máxima ≥ 4 anos.</p><p>· Sumário (art. 531 a 538 do CPP): crime com pena máxima > 2 e < 4 anos.</p><p>· Sumaríssimo (Lei 9.099/95): crime com pena máxima ≤ 2 anos + contravenções penais (art. 61 da Lei 9.099/95 => infração de menor potencial ofensivo).</p><p>OBS 1: o procedimento comum ordinário é o procedimento padrão, aplicando-se subsidiariamente aos demais procedimentos comuns e aos procedimentos especiais (art. 394, § 5º):</p><p>§ 5º Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.</p><p>OBS 2: na determinação da pena máxima cominada para fins de fixação do procedimento penal adequado, devem ser considerados:</p><p>· Concurso de crimes (arts 69 a 71, CP)</p><p>· Qualificadoras e privilégios</p><p>· Causas de aumento (> quantum) e de diminuição (< quantum)</p><p>ATENÇÃO => crimes sem procedimento especial com critérios diversos dos previstos no art. 394, § 1º, CPP:</p><p>· Infração de menor potencial ofensivo em contexto de violência doméstica e familiar contra mulher não seguirá o procedimento sumaríssimo (art. 41 da Lei 11.340/2006) seguirá o procedimento comum ordinário ou sumário (a depender da pena cominada);</p><p>· Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima ≤ 4 anos seguirá o procedimento sumaríssimo (art. 94 da Lei 10.741/2003), mas sem aplicação dos benefícios despenalizados aos infratores (STF, Pleno, ADI 3.096, Cármen Lúcia, j. 16.06.2010, DJe 02.09.2010);</p><p>· Crimes falimentares seguirão o procedimento comum sumário, ainda que a pena máxima do crime seja ≥ 4 anos (art. 185 da Lei 11.101/2005);</p><p>· Crimes previstos na Lei 12.850/2013 e as infrações penais conexas seguirão o procedimento comum ordinário, independentemente da pena máxima cominada (art. 22 da Lei 12.850/2013), aplicável, quando couber, os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95.</p><p>B) Procedimentos especiais: previsto no CPP ou em leis especiais para adequar o procedimento às peculiaridades da infração penal.</p><p>· Tribunal do Júri (art. 406 a 497 do CPP)</p><p>· Crimes contra a honra (art. 519 a 523 do CPP)</p><p>· Crimes funcionais (art. 513 a 518 do CPP)</p><p>· Drogas (Lei 11.343/2006)</p><p>· Competência originária de tribunais (Lei 8.038/90)</p><p>OBS: Aplicação dos arts. 395 a 397 em todos os procedimentos penais de primeiro grau (art. 394, § 4º, CPP)</p><p>§ 4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.</p><p>· Art. 395 (rejeição liminar da inicial)</p><p>· Art. 396 (recebimento da inicial e citação)</p><p>· Art. 396-A (resposta à acusação)</p><p>· Art. 397 (Absolvição sumária)</p><p>C) Conexão e continência de infrações com procedimentos distintos</p><p>- A determinação dependerá inicialmente de saber qual é o juízo prevalente (art. 78 do CPP):</p><p>· Tribunal do Júri: os crimes conexos ao crime doloso contra a vida serão julgados no Tribunal Júri segundo o procedimento especial do Tribunal do Júri.</p><p>- O problema, contudo, ocorre quando juiz singular precisa julgar crimes conexos ou continentes com procedimentos distintos. Exemplo: furto e tráfico de drogas.</p><p>· Deve-se utilizar o procedimento mais amplo, o que mais prestigia o direito de defesa: nesse caso, prevalece o procedimento comum ordinário em detrimento do procedimento especial da Lei de Drogas (STJ, 5ª T, HC 204.658/SP, Jorge Mussi, j. 20.10.2011, DJe 09.11.2011; STJ, 6ª T, HC 118.045/RJ, Og Fernandes, j. 24.08.2009, DJe 28.09.2009).</p><p>D) Prioridade de tramitação dos processos que versam sobre crimes hediondos (art. 394-A do CPP)</p><p>TEMA 3. ESQUEMA GERAL DO PROCEDIMENTO ORDINÁRIO/SUMÁRIO</p><p>Denúncia ou</p><p>Queixa</p><p>Recebimento</p><p>(art. 396)</p><p>Citação</p><p>Rejeição liminar (art. 395)</p><p>Resposta à Acusação</p><p>Designação da AIJ</p><p>AIJ</p><p>Absolvição Sumária</p><p>(art. 397)</p><p>Audiência de Instrução e Julgamento</p><p>Fase de Instrução</p><p>(art. 400)</p><p>Fase de requerimento de diligências</p><p>(art. 402)</p><p>Fase dos debates</p><p>(art. 403)</p><p>Fase decisória</p><p>(Sentença)</p><p>(art. 403)</p><p>TEMA 4. PETIÇÃO INICIAL (art. 41 do CPP)</p><p>- Denúncia ou Queixa-Crime</p><p>Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.</p><p>· Rol de testemunhas:</p><p>(i) ordinário: 8 testemunhas (art. 401, CPP);</p><p>(ii) sumário: 5 testemunhas (art. 532, CPP)</p><p>TEMA 5. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE</p><p>- Juízo de admissibilidade:</p><p>· Rejeição liminar da inicial (art. 395, CPP); ou</p><p>· Recebimento da inicial; (art. 396, CPP).</p><p>- Momento do juízo de admissibilidade da inicial:</p><p>· Art. 396: o juízo de admissibilidade ocorre nessa fase, tendo a lei empregado o termo “recebida” no art. 499 de forma atécnica (Renato Brasileiro; STJ, 5ª T, HC 138.089/SC, Felix Fischer, j. 02.03.2010).</p><p>· Art. 399: intenção da Comissão de Reforma.</p><p>* Relevância prática da discussão:</p><p>· Marco interruptivo da prescrição;</p><p>· Delimitação da competência do juiz das garantias e do juiz do processo (art. 3º-C, CPP),</p><p>5.1 REJEIÇÃO DA INICIAL</p><p>- As hipóteses de rejeição previstas no art. 395 do CPP conduzem à extinção do processo sem análise do mérito e a decisão que rejeita a inicial faz coisa julgada formal, permitindo a repropositura da ação uma vez saneado o vício.</p><p>- Hipóteses de rejeição da inicial (art. 395 do CPP):</p><p>a) Inépcia da inicial: impossibilidade de identificação do acusado ou insuficiente descrição do fato delituoso (STJ, 6ª T, HC 305.194/PB, Rogério Schietti Cruz, j. 11.11.2014, DJe 01.12.2014 => caso de insuficiente descrição do homicídio culposo no trânsito).</p><p>OBS: Segundo os tribunais superiores, a inépcia da inicial só pode ser alegada até a sentença – prazo preclusivo (STF, 1ª T, RHC 98.091/PB, Cármen Lúcia, j. 16.03.2010, DJe 15.04.2010; STF, 1ª T, RHC 99.787/RJ, Dias Toffoli, j. 14.09.2010, DJe 19.11.2010; STJ, 6ª T, HC 122.296/MG, Og Fernandes, j. 16.10.2012).</p><p>b) Falta de pressupostos processuais: Os pressupostos processuais dividem-se em:</p><p>· Pressupostos de existência:</p><p>(i) Demanda (veiculada por denúncia ou queixa). Sistema acusatório.</p><p>(ii) Órgão investido de jurisdição</p><p>(iii) Capacidade de ser parte</p><p>· Pressupostos de validade (rol exemplificativo):</p><p>(i) Ausência de fatos impeditivos (litispendência e coisa julgada)</p><p>(ii) Juiz competente e imparcial</p><p>(iii) Capacidade para estar em juízo (legitimidade ad processum) e capacidade postulatória</p><p>(iv) Citação válida</p><p>c) Falta de condições da ação</p><p>· Condições genéricas:</p><p>(i) Legitimidade ad causam (ativa ou passiva)</p><p>(ii) Interesse de agir</p><p>· Condições específicas:</p><p>(i) Representação do ofendido</p><p>(ii) Requisição do Ministro da Justiça</p><p>d) Ausência de justa causa: lastro probatório mínimo para a instauração do processo penal.</p><p>Em precedente isolado da 1ª Turma do STF (STF, 1ª T, HC 129.678/SP, Alexandre de Moraes, j. 13.06.2017), consignou-se que para fins do art. 395, III, CPP, a “justa causa” é composta por 3 componente:</p><p>· Tipicidade: adequação de uma conduta fática a um tipo penal;</p><p>· Punibilidade: ausências de causas extintivas da punibilidade;</p><p>· Viabilidade: fundados indícios de autoria.</p><p>- Recurso cabível da decisão que rejeita a inicial: art. 581, I, CPP (rejeitar = não receber)</p><p>· Respeito ao contraditório e ampla defesa: Súmula 707 do</p><p>criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.</p><p>- Diferenças entre procedimento comum ordinário e sumário:</p><p>Procedimento comum ordinário</p><p>Procedimento comum sumário</p><p>Prazo de 60 dias para AIJ (art. 400)</p><p>Prazo de 30 dias para AIJ (art. 531)</p><p>Máximo de 8 testemunhas (art. 401)</p><p>Máximo de 5 testemunhas (art. 532)</p><p>Previsão da fase de requerimento de diligências (art. 402).</p><p>Ausência de previsão da fase de requerimento de diligências.</p><p>Previsão legal da substituição das alegações orais por memoriais (art. 403, § 3º e art. 404).</p><p>O CPP só prevê as alegações orais (art. 534). Não há previsão legal de substituição das alegações orais por memoriais.</p><p>image1.png</p><p>image2.svg</p><p>STF</p><p>Súmula 707/STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.</p><p>· Interrupção da prescrição: Súmula 709 do STF</p><p>Súmula 709/STF: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.</p><p>· Regra especial nos Juizados Especiais Criminais: art. 82 da Lei 9.099/95</p><p>Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.</p><p>§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.</p><p>§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.</p><p>- É admissível a rejeição parcial da inicial (diminuição objetiva da demanda)</p><p>5.2. RECEBIMENTO DA INICIAL</p><p>- Definição por exclusão: não sendo o caso de rejeição (art. 395 do CPP), o juiz irá receber a inicial.</p><p>- Inexistência de preclusão consumativa: o fato de o juiz já haver recebido a inicial, não o impede de reconsiderar a decisão anterior, após a apresentação da defesa, quando constatar a presença de uma das hipóteses do art. 395 (novo juízo de admissibilidade). O art. 395 tratam de matérias de ordem pública não sujeitas a preclusão (STJ, 6ª T, REsp 1.318.180/DF, Sebastião Reis Júnior, j. 16.05.2013, DJe 29.05.2013).</p><p>- Fundamentação da decisão de recebimento da inicial:</p><p>· A doutrina sustenta a necessidade de fundamentação, ainda que sucinta, sobre o conteúdo da decisão de recebimento – art. 395 do CPP (art. 93, IX, CF/88)</p><p>· A jurisprudência, contudo, é no sentido de que não há necessidade de fundamentação da decisão que recebe a inicial, ao argumento de que se evitar eventual excesso de fundamentação – prejulgamento (STF, 2ª T, HC 95.354/SC, Gilmar Mendes, j. 14.06.2010, DJe 26.08.2010; STF, 2ª T, HC 93.056/SP, Celso de Mello, j. 16.12.2008, DJe 14.05.2009), salvo nos procedimentos em que defesa preliminar – defesa que ocorre entre o oferecimento da inicial e o juízo de admissibilidade (STF, 2ª T, HC 84.919/SP, Cezar Peluso, j. 02.02.2010, DJe 25.03.2010; STJ, 6ª T, HC 76.319/SC, Nilson Naves, j. 11.12.2008; DJe 23.03.2009)</p><p>- Efeitos ou consequências do recebimento da denúncia:</p><p>· Marca o início do processo (o denunciado se torna acusado ou réu). Mas o processo só terá completada sua formação com a citação do acusado (art. 363, CPP)</p><p>· Interrupção da prescrição (art. 117, I, CP), salvo se o recebimento se deu por juízo absolutamente incompetente (STF, Pleno, Inq. 1544 QO/PI, Celso de Mello, DJ 14.12.2001; STJ, CE, Apn 295/RR, Jorge Mussi, j. 17.12.2014, DJe 12.02.2015)</p><p>· Fixação da prevenção (art. 83, CPP)</p><p>· Induz litispendência: o recebimento da segunda inicial que versa sobre a mesma ação caracteriza litispendência.</p><p>- Recurso contra a decisão que recebe a denúncia ou queixa: não há recurso cabível.</p><p>· Excepcionalmente é possível o Habeas Corpus para trancar o processo penal, diante de evidente constrangimento ilegal que ameaça a liberdade de locomoção (Súmula 693 do STF):</p><p>(i) manifesta atipicidade forma ou material da conduta;</p><p>(ii) presença de causa extintiva da punibilidade;</p><p>(iii) ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação;</p><p>(iv) ausência de justa causa</p><p>TEMA 6. ATOS DE COMUNICAÇÃO PROCESSUAL</p><p>- São formas de comunicação de atos processuais:</p><p>· Citação: ato solene pelo qual se cientifica o réu da acusação;</p><p>· Intimação: comunicação de ato já realizado no passado;</p><p>· Notificação: comunicação da necessidade de praticar ato futuro (comunicação da determinação judicial que impõe o cumprimento de determinação diligência).[footnoteRef:1] [1: “Na prática, não há qualquer relevância na distinção entre intimação e notificação. Na verdade, pelo que se percebe na própria redação do CPP e da legislação especial, é comum a utilização equivocada de tais expressões” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1386).]</p><p>6.1 INTIMAÇÃO E NOTIFICAÇÃO</p><p>- Formas de intimação/notificação das partes (art. 370, caput, CPP):</p><p>Art. 370. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o disposto no Capítulo anterior.</p><p>· Intimação por publicação (art. 370, § 1º, CPP):</p><p>(i) Advogado constituído</p><p>(ii) Advogado do querelante</p><p>(iii) Assistente de acusação</p><p>OBS: nas publicações realizadas em fins de semana ou feriados, a intimação considera-se realizado no primeiro dia útil subsequente (STJ, 5ª T, HC 85.686/BA, Napoleão Nunes Maia Filho, j. 04.12.2007, DJ 17.12.2007). Cf. ainda Súmula 310 do STF.</p><p>· Intimação pessoal em audiência (art. 372 do CPP)</p><p>· Intimação pessoal pela entrega dos autos com vista (art. 370, § 4º): a intimação será feita pela entrega dos autos no setor administrativo com carga dos autos pelo servidor:</p><p>(i) MP (art. 41, IV, Lei 8.625/93)</p><p>(ii) DP (art. 44, I, LC 80/94). OBS: mesmo havendo intimação pessoal em audiência, o prazo recursal da DP só se inicia com a entrega dos autos à DP (STJ, 3ª Seção, HC 296.759/RS, Rogério Schietti Cruz, j. 23.08.2017, DJe 21.09.2017). A inobservância da regra da intimação pessoal é hipótese de nulidade relativa (STF, 2ª T, HC 133.476, Teori Zavascki, j. 14.06.2016)</p><p>(iii) Defensor dativo (art. 340, § 4º, CPP). O dativo pode abrir mão da prerrogativa da intimação pessoal (STJ, 5ª T, HC 311.676/SP, Jorge Mussi, j. 16.04.2015, DJe 29.04.2015)</p><p>· A vítima do crime deverá ser intimada/notificado dos atos processuais (art. 201, §§ 2º e 3º do CPP e art. 21 da Lei 11.340/2006)</p><p>6.2 CITAÇÃO (art. 351 a 369 do CPP)</p><p>- A citação é uma das formas de comunicação dos atos processuais, destinadas a assegurar o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, CF/88; art. 8º, 2, “b”, CADH).</p><p>Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.</p><p>- Citação: é o ato de chamamento do réu a juízo para participar do processo. “A citação é um dos mais importantes atos de comunicação processual, porquanto dá ciência ao acusado do recebimento de uma denúncia ou queixa em face de sua pessoa, chamando-o para se defender”.[footnoteRef:2] [2: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1365.]</p><p>· A citação tem como efeito estabelecer a angularidade processual – formação do actum trium personarum (art. 363, caput, CPP)</p><p>Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado.</p><p>- Ausência de citação é hipótese de nulidade absoluta – que poderá ser declarada a qualquer tempo (art. 564, III, “e”, CPP). Contudo, se o acusado comparece em juízo, a falta ou vício do ato estará sanado (art. 570, CPP)</p><p>* “Circundação”: ato pelo qual se julga nula/sem efeito a citação.</p><p>* “Citação circunduta”: citação anulada.</p><p>Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.</p><p>- Espécies de citação no processo penal:</p><p>· Citação real ou pessoal (por mandado, carta precatória, carta de ordem ou carta rogatória)</p><p>· Citação ficta ou presumida:</p><p>(i) Citação por edital</p><p>(ii) Citação por hora certa</p><p>OBS: no processo penal eletrônico, não se admite citação eletrônica (art. 6º da Lei 11.419/2006)</p><p>6.2.1 Citação Pessoal</p><p>- É regra no processo a citação pessoal por mandado (art. 351, CPP). Mandado é “uma ordem escrita, assinada</p><p>pelo juiz competente, a ser cumprida por Oficial de Justiça”,[footnoteRef:3] cujos requisitos estão estabelecidos nos arts. 352 (requisitos intrínsecos) e 357 (requisito extrínsecos) do CPP. [3: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1369.]</p><p>Art. 351. A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado.</p><p>- Réu citado pessoalmente que não participa do processo => consequência (art. 367, CPP)</p><p>Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.</p><p>- Regras específicas de citação pessoal:</p><p>A) Citação por carta precatória (art. 353, CPP): para pessoa situada em local não abrangido pela competência do juiz processante.</p><p>Art. 353. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será citado mediante precatória.</p><p>Juízo deprecante => Carta Precatória => Juízo deprecado => Mandado de citação (“cumpra-se”) => Oficial de Justiça => Réu</p><p>OBS: Carta precatória itinerante (art. 355, § 1º, CPP)</p><p>§ 1º Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.</p><p>B) Citação do militar (art. 358, CPP): o militar da ativa será citado por intermédio do chefe do serviço militar. Significa que “o juízo processante deve expedir um ofício ao Comandante da Organização Militar em que se encontra lotado o acusado”.[footnoteRef:4] [4: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1370.]</p><p>Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo serviço.</p><p>OBS: “Prevalece a orientação de que, nessa hipótese, não há necessidade de expedição de um mandado em conjunto com o ofício, bastando que este contenha todos os elementos essenciais ao mandado (CPP, art. art. 352) para que não haja prejuízo à defesa. Recebido o ofício, o Comandante Militar dará ciência ao militar do inteiro teor do ofício, ao mesmo tempo em que comunica o juízo sobre o cumprimento da requisição”.[footnoteRef:5] [5: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1370-1371.]</p><p>C) Citação do funcionário público (art. 359, CPP): com a reforma de 2008, tornou-se regra de notificação: o juízo processante determinará não só a notificação do acusado para o ato, como a expedição de ofício ao chefe do órgão em que o acusado estiver lotado para ciência. O objetivo da norma é a preservação da continuidade do serviço público.</p><p>Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como acusado, será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.</p><p>D) Citação do preso (art. 360, CPP): o preso será citado pessoalmente por mandado a ser cumprido por Oficial de Justiça.</p><p>Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.</p><p>OBS: o preso será requisitado para comparência a Audiência de instrução e julgamento (art. 399, § 1º, CPP), o que ocorre por meio de expedição de ofício ao diretor do estabelecimento penal.</p><p>- Acusado preso em outra unidade da federação: possibilidade de citação por edital (Súmula 351/STF)</p><p>Súmula 351/STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.</p><p>· Fundamento da súmula: se o réu se encontra preso no mesmo estado-membro, o juiz tem obrigação de saber de seu paradeiro. Todavia, não há essa obrigação se o acusado estiver preso em outra unidade da federação.</p><p>Crítica: esse entendimento parece não se justificar, especialmente após a criação do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões – BNMP 2.0 (art. 289-A, CPP; Resolução 251/2018 do CNJ).</p><p>E) Citação de acusado fora do país (art. 368, CPP): pessoa situada fora do país será citada por carta rogatória.</p><p>Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido,[footnoteRef:6] será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento. [6: Estando em lugar não sabido a citação deverá ser feita por edital.]</p><p>· Juiz penal => Ministério da Justiça => MRE => via diplomática => país rogado</p><p>· O prazo prescricional ficará suspenso até o cumprimento da carta rogatória</p><p>(i) Termo inicial: a partir do “cite-se por carta rogatória”</p><p>(ii) Termo final: efetivo cumprimento da carta (Súmula 710 do STF).</p><p>· Também serão feitas mediante carta rogatória a citação de pessoa em legações estrangeiras (Embaixadas e Consulados), nos termos do art. 369, CPP (não havendo previsão nesse dispositivo acerca da suspensão do prazo prescricional).</p><p>F) Citação por Carta de Ordem: trata-se da delegação da realização de ato processual de órgão jurisdicional superior para órgão jurisdicional inferior com competência no local onde o ato deve ser praticado.</p><p>6.2.2 Citação por edital</p><p>- Modalidade de citação ficta (art. 361, CPP e art. 363, § 1º)</p><p>Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias.</p><p>Art. 363. [...]</p><p>§ 1º Não sendo encontrado o acusado, será procedida a citação por edital.</p><p>- Divulgação/publicação do edital: art. 365, parágrafo único, CPP</p><p>Art. 365. [...]</p><p>Parágrafo único. O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será publicado pela imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão, da qual conste a página do jornal com a data da publicação.</p><p>“O edital deve ser publicado em jornal de grande circulação, na imprensa oficial ou afixado no átrio do fórum, com o prazo de 15 (quinze) dias, admitindo-se a possibilidade de que o acusado, ou pessoa ele ligada, faça sua leitura, tomando ciência da existência do processo penal”.[footnoteRef:7] [7: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1374-1375.</p><p>]</p><p>- Conteúdo do edital de citação: art. 365 do CPP</p><p>Art. 365. O edital de citação indicará:</p><p>I – o nome do juiz que a determinar;</p><p>II – o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se constarem do processo;</p><p>III – o fim para que é feita a citação;</p><p>IV – o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;</p><p>V – o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou da sua afixação.</p><p>· Não há necessidade de transcrever no edital a integralidade da inicial: Súmula 366 do STF</p><p>Súmula 366/STF: “não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia”</p><p>- JECRIM: não se admite a citação por edital nos Juizados Especiais Criminais (art. 66, parágrafo único, Lei 9.099/95). Enviados à Justiça Comum os autos, cessa a competência do JECRIM para julgar o caso (a competência do JECRIM não se restabelece se o acusado for encontrado).</p><p>- Hipóteses de citação por edital:</p><p>· Quando o acusado não for encontrado (art. 361 do CPP e art. 363, § 1º, CPP): o acusado só poderá ser assim considerado, sob pena de violação à ampla defesa, após esgotados todos os meios disponíveis para a sua localização, isto é, após todas as diligências empreendidas pelo MP e pelo Judiciário para sua localização restarem infrutíferas. Logo, é nula a citação por edital determinada antes do esgotamento das diligências disponíveis para a localização do acusado (STJ, 5ª T, HC 213.600/SP, Laurita Vaz, j. 04.10.2012)</p><p>· Réu em lugar inacessível (por motivo de força maior): essa hipótese estava prevista no art. 363, inciso I, CPP e foi expressamente revogada pela Lei 11.719/2008. Alguns autores, entretanto, defendem que é possível citar por edital uma pessoa que se encontra</p><p>em lugar inacessível, aplicando por analogia o art. 256, II e § 2º, CPC.[footnoteRef:8] [8: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1375.]</p><p>- Prazo de dilação do edital: “é o tempo que deve permear entre a publicação do edital e a data em que se considera efetivado o ato processual. Em outras palavras, considerar-se-á aperfeiçoada a citação por edital não com a simples publicação do edital, mas sim com o decurso do prazo de dilação nele consignado”.[footnoteRef:9] [9: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1377.]</p><p>· Prazo de dilação: 15 dias (art. 361 do CPP)</p><p>OBS: o art. 364 que estabelecia prazo diferenciados foi tacitamente revogado pela Lei 11.719/2008 (os incisos I e II do art. 363 a que ele se referiu foi expressamente revogado).</p><p>- Consequências da citação por edital: art. 366 do CPP</p><p>Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.</p><p>· Pressupostos: acusado citado por edital que não oferecer resposta à acusação no prazo legal (e não constituir advogado nos autos).</p><p>· Suspensão do processo: após a alteração promovida no art. 366 do CPP pela Lei 9.271/1996, o processo não mais seguirá à revelia do réu. O objetivo da alteração foi assegurar efetivamente o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, CF/88; art. 8º, 2, “b”, “c” e “d”, CADH).</p><p>· Suspensão do prazo prescricional: o problema da suspensão ilimitada do prazo prescricional. Haveria aqui uma hipótese de imprescritibilidade legal disfarçada em violação à Constituição (art. 5º, XLII e XLIV)?</p><p>(i) Súmula 415 do STJ: o prazo poderá ficar suspenso pelo prazo de prescrição em abstrato do crime em questão, nos termos do art. 109 do CP (na prática o prazo da PPP abstrata do crime seria dobrado: prazo da suspensão = prazo de prescrição).</p><p>Súmula 415/STJ: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”.</p><p>(ii) A suspensão da prescrição por prazo indeterminado não constitui nova hipótese de imprescritibilidade, apenas condiciona a retomada do curso da prescrição a evento futuro e incerto (há precedente antigo do STF nesse sentido: STF, 1ª T, RE 460.971/RS, Sepúlveda Pertence, j. 13.02.2007, DJ 30.03.2007; o RE 600.851/DF, Ricardo Lewandowski, ainda não julgado, teve Repercussão Geral reconhecida).</p><p>· Decretação da prisão preventiva: a decretação da prisão preventiva no caso da suspensão do processo do art. 366 do CPP não é automática. Está sujeita ao preenchimento dos requisitos e pressupostos da preventiva. “A revelia do acusado citado por edital não gera, por si só, a presunção de que o acusado pretenda se furtar à aplicação da lei penal, não justificando, isoladamente, a decretação da prisão preventiva”.[footnoteRef:10] [10: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1382.]</p><p>· Produção antecipada de provas consideradas urgentes em juízo: trata-se da produção de provas em contraditório judicial. A questão é: a produção antecipada de provas é automaticamente determinada com a suspensão do processo?</p><p>(i) Entendimento majoritário (STJ e STF): a determinação da produção antecipada de provas depende de fundamentação concreta da urgência e da necessidade da medida, com base no art. 225 do CPP (Súmula 455 do STJ; há precedentes também do STF: STF, 1ª T, HC 96.325/SP, Cármen Lúcia, DJe 20.08.2009; STF, 2ª T, HC 130.038/DF, Dias Toffoli, j. 03.11.2015). Mas a determinação da produção antecipada de provas sem a devida fundamentação é causa de nulidade relativa.</p><p>Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.</p><p>Súmula 455/STJ: “a decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”</p><p>(ii) há autores que sustentam que a prova testemunhal no caso de suspensão do processo será sempre urgente.[footnoteRef:11] Admitindo a produção antecipada de prova testemunhal logo após a suspensão do processo, com base na possibilidade de perecimento da memória das testemunhas há precedente do STF – sem prejuízo da possibilidade de nova oitiva da testemunha posteriormente (STF, 2ª T, HC 110.280/MG, Gilmar Mendes, j. 07.08.2012). [11: “Tendo em conta que o art. 366 do CPP não fixa o lapso temporal durante o qual o processo e a prescrição deverão permanecer suspensos, nos parece que toda e qualquer prova testemunhal deve ser considerada de natureza urgente, [...]. Ante o efeito deletério que a passagem do tempo exerce sobre a memória das testemunhas, a produção antecipada da prova testemunhal deve ser determinada pelo juiz por ocasião da aplicação do art. 366 do CPP” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1380).]</p><p>OBS: a jurisprudência parece oscilar mais no caso de testemunho de policiais.[footnoteRef:12] No sentido que seria possível a produção antecipada de provas nesse caso, sem prejuízo da possibilidade de nova oitiva da testemunha posteriormente (STJ, 3ª Seção, RHC 64.086/DF, Rogério Schietti Cruz, j. 28.11.2016). [12: “O atuar constante no combate à criminalidade acaba expondo o agente da segurança pública a inúmeras situações conflituosas com o ordenamento jurídico, sendo certo que as peculiaridades de cada uma acabam se perdendo em sua memória, seja pela frequência com que ocorrem, ou pela própria similitude dos fatos [...]” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1381).]</p><p>- Comparecimento do acusado: comparecendo o acusado em juízo ou constituindo advogado nos autos, será restituído à defesa o prazo para a resposta à acusação e o processo prosseguirá (art. 363, § 4º, CPP; art. 396, parágrafo único, CPP)</p><p>Art. 363. [...]</p><p>§ 4º Comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer tempo, o processo observará o disposto nos arts. 394 e seguintes deste Código.</p><p>Art. 396. [...]</p><p>Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.</p><p>6.2.3 Citação com hora certa</p><p>- A Lei n. 11.719/2008 alterou a redação do art. 362, CPP para introduzir a citação com hora certa no processo penal brasileira.</p><p>Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.</p><p>- Hipótese autorizadora: o acusado se oculta deliberadamente para não ser citado.</p><p>- Procedimento da citação com hora certa: art. 252 a 254 do CPC/2015</p><p>Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.</p><p>Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação a que se refere o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência.</p><p>Art. 253. No dia e na hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à residência do citando a fim de realizar a diligência.</p><p>§ 1º Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões</p><p>da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias.</p><p>§ 2º A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado.</p><p>§ 3º Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.</p><p>§ 4º O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de que será nomeado curador especial se houver revelia.</p><p>Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de 10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência.</p><p>- Os pressupostos para a citação com hora certa:</p><p>· Procurar o réu por 2 vezes;</p><p>· Suspeita de ocultação.</p><p>- Presentes os pressupostos, o Oficial de Justiça irá intimar familiar, vizinho ou funcionário da portaria de que voltará no próximo dia útil, em determinado horário, para realizar a citação.</p><p>· Ausente o acusado, o Oficial dará por realizada a citação (procurando se informar das razões da ausência). É nessa data que se considera efetivada a citação (Súmula 710 do STF).</p><p>· Envio de carta pelo Escrivão ao réu.</p><p>- Consequência da citação com hora certa (art. 362, parágrafo único, CPP): ao réu citado com hora certa que não apresentar resposta à acusação no prazo de 10 dias, será nomeador defensor para que seja dado seguimento ao processo.</p><p>Art. 362. [...]</p><p>Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo.</p><p>6.2.4 Revelia</p><p>- Uma vez citado, o acusado estará integrado ao processo e vinculado a ele.</p><p>- O processo seguirá sem a presença do acusado (revelia), quando:</p><p>· Citado pessoalmente deixar de apresentar resposta à acusação (art. 367)</p><p>· Citado por hora certa deixar de apresentar resposta à acusação (art. 362, parágrafo único)</p><p>· Mudar de endereço sem comunicar o novo endereço ao juízo (art. 367)</p><p>· Deixar de comparecer a ato processual sem motivo justificado: (i) ausência injustificada do acusado solto em sessão do tribunal do júri (art. 457, caput)</p><p>PROBLEMA: nos procedimentos especiais em que existe defesa preliminar, havendo sido o acusado notificado pessoalmente para apresentar defesa e tendo ele efetivamente constituído defensor para apresentá-la, caso depois não seja encontrado para citação (realizando-se citação por edital), poderá o processo seguir à sua revelia?</p><p>· Renato Brasileiro sustenta que nesse caso o processo poderá seguir à revelia do acusado.[footnoteRef:13] [13: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1421.]</p><p>- No processo penal, a presunção de inocência impede a produção dos efeitos da revelia nos termos do processo civil. Não há confissão ficta ou presumida no processo penal e mesmo a confissão real precisa ser cotejada com outros meios de prova na formação do convencimento do julgador (art. 197 do CPP).</p><p>· O único efeito da revelia, portanto, será a desnecessidade de intimação do acusado revel para a prática de atos processuais.</p><p>OBS: mas mesmo o acusado revel precisará ser intimado pessoalmente da sentença (art. 392), em virtude da legitimidade recursal.</p><p>- Comparecendo o acusado a qualquer tempo, cessam os efeitos da revelia.</p><p>TEMA 7. DEFESA DA ACUSADO E OITIVA DA ACUSAÇÃO</p><p>- É forma de defesa escrita que constitui a primeira oportunidade de manifestação defensiva do réu nos autos do processo (ampla defesa).</p><p>Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.</p><p>OBS: resposta à acusação ≠ defesa preliminar</p><p>· Resposta à acusação: ocorre após o recebimento da inicial acusatória;</p><p>· Defesa preliminar: é realizada antes do juízo de admissibilidade da acusação.[footnoteRef:14] [14: “A defesa ou resposta preliminar é uma oportunidade que o acusado tem de ser ouvido antes de o juiz receber a peça acusatória, objetivando impedir a instauração de um processo temerário” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1410).]</p><p>7.1 RESPOSTA À ACUSAÇÃO</p><p>- A resposta à acusação é uma forma de defesa escrita do acusado prevista no art. 396-A do CPP, que ocorre após o recebimento da acusação (denúncia/queixa) e citação do acusado.</p><p>· Trata-se de peça obrigatória e privativa de advogado (art. 396-A, § 2º, CPP).</p><p>- Prazo: 10 dias.</p><p>· Súmula 710 do STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem”.</p><p>· Contagem do prazo: contagem no CPC/2015 ≠ contagem no CPP (art. 798 do CPP).</p><p>- Conteúdo da resposta à acusação (escopo da defesa):</p><p>· Teses preliminares (art. 396-A, CPP);</p><p>· Teses absolutórias sumárias (art. 397, CPP)</p><p>· Apresentação e especificação de provas: juntada de documentos e apresentação do rol de testemunhas (ordinário: art. 401, CPP; sumário: art. 532, CPP)</p><p>OBS 1: há precedentes do STJ no sentido de ser acolhido pedido da DP, em sede de resposta à acusação, para apresentar posteriormente o rol de testemunha (sem preclusão temporal), por ainda não ter tido oportunidade de entrar em realizar entrevista prévia com o acusado (STJ, 6ª T, REsp 1.443.533/RS, Maria Thereza de Assis Moura, j. 23.06.2015, DJe 03.08.2015).</p><p>OBS 2: as exceções (incompetência relativa, ilegitimidade de parte, litispendência, coisa julgada ou suspeição) devem ser oferecidas em peça autônoma (art. 396-A, § 1º, CPP; art. 95, CPP).</p><p>7.2 DEFESA PRELIMINAR</p><p>- Defesa situada entre o oferecimento e o recebimento da inicial e tem por objetivo fornecer argumentos para a rejeição da inicial (art. 395, CPP).</p><p>Oferecimento da inicial => Defesa Preliminar => Recebimento/Rejeição da inicial</p><p>- Procedimentos com defesa preliminar:</p><p>· Lei de Drogas: 10 dias (art. 55, caput, Lei 11.343/2006)</p><p>· Processo originário dos tribunais: 15 dias (art. 4º da Lei 8.038/90)</p><p>· Juizado Especial Criminal: oral (art. 81 da Lei 9.099/95)</p><p>· Crimes funcionais (somente os crimes dos arts 312 a 326 do CP): 15 dias (art. 514 do CPP).[footnoteRef:15] A defesa preliminar, nesse caso, é uma prerrogativa outorgada em razão da função e, portanto, [15: Segundo o parágrafo único do art. 514 do CPP, “se não for conhecida a residência do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar”. Como bem observa Renato Brasileiro, “tal preceito é incompatível com a Constituição Federal. Isso porque um dos desdobramentos da ampla defesa consiste no direito que o acusado tem de escolher seu próprio advogado, haja vista a relação de confiança que necessariamente se estabelece entre o acusado e quem o defende. Portanto, o simples fato de o acusado morar em comarca diversa daquela na qual tramita o processo não justifica, de per si, a restrição ao seu direito de escolher advogado de sua confiança para oferecer a referida peça defensiva. A nomeação de defensor dativa somente será possível se, após a notificação do acusado por carta precatória, quedar-se este inerte” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1413).]</p><p>(i) não se aplica ao particular corréu (STJ, 5ª T, HC 79.220/DF, Laurita Vaz, DJ 13.08.2007);</p><p>(ii) não é exigida quando o denunciado não exerce mais função pública (STJ, 6ª T, RHC 7.944/GO, Vicente Leal, j. 29.10.1998, DJ 14.12.1998).</p><p>(iii) Além disso, não é necessária a defesa preliminar quando a denúncia estiver instruída por IP (Súmula 330, STJ). O STF, contudo, possui julgados contrários à súmula ainda que em obter dictum (STF, Pleno, HC 85.779/RJ, Carmen Lúcia, j. 28.02.2007, DJe 28.06.2007;</p><p>STF, 1ª T, HC 95.969/SP, Ricardo Lewandowski, j. 12.05.2009, DJe 10.06.2009)</p><p>OBS: inobservância do procedimento (ausência de notificação para apresentação de defesa preliminar): nulidade relativa (jurisprudência do STJ),[footnoteRef:16] sendo que a superveniência de sentença condenatória afasta a possibilidade alegação da ausência de defesa preliminar – a ação não só é viável como procedente (jurisprudência do STF). [16: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1413-1414.]</p><p>OBS 2: em que pese o art. 394, § 4º, do CPP, nos procedimentos especiais em que existe a defesa preliminar não haverá, depois, a necessidade de resposta à acusação. Isso foi reconhecimento dos tribunais superiores em relação ao procedimento de competência originária dos tribunais previsto na Lei 8.038/90 (STJ, CE, AgRg na APN 697/RJ, Teori Zavascki, j. 03.10.2012; STF, 1ª T, Inq. 4.506/DF, Roberto Barroso, j. 17.04.2018).</p><p>7.3 OITIVA DA ACUSAÇÃO</p><p>- Embora não haja previsão legal expressa, se a defesa, em sua resposta à acusação arguir preliminares ou trouxer provas (documentos) novas (isto é, provas até então desconhecidas da acusação), o juiz, antes de decidir, deverá ouvir a acusação por deferência ao princípio do contraditório (STF, 1ª T, HC 105.739/RJ, Marco Aurélio, j. 07.02.2012, DJe 27.02.2012).</p><p>· Costuma-se recorrer subsidiariamente ao art. 409 do CPP (Tribunal do Júri).</p><p>TEMA 8. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA (art. 397, CPP)</p><p>- Na sequência os autos serão conclusos ao juiz para análise de eventual absolvição sumária.</p><p>- Natureza jurídica: julgamento antecipado da lide pro reo. Assim sendo, embora se trate de decisão proferida no início do processo, exige-se juízo de certeza e faz coisa julgada formal e material.</p><p>- A possibilidade de julgamento antecipado pro reo, que já estava prevista no art. 6º, caput, da Lei 8.038/90 e no art. 516 do CPP, foi ampliada para todos os procedimentos penais de primeiro grau, nos termos do art. 394, § 4º, CPP, estejam ou não previstos no CPP.</p><p>- Caminhos possíveis: nessa fase procedimental, o juiz pode adotar uma das seguintes posturas:</p><p>· Extinguir o feito sem análise de mérito (acatando preliminar suscitada pela defesa);</p><p>· Absolver sumariamente o acusado (art. 397, CPP); ou</p><p>· Dar seguimento ao processo, com designação de AIJ (art. 399, CPP).</p><p>OBS: Descartada a possibilidade de absolvição sumária, o juiz irá processar, antes da AIJ, a proposta de suspensão condicional do processo elaborada pelo MP por ocasião da denúncia (art. 89 da Lei 9.099/95). Assim, “se o juiz entender que não se afigura possível a absolvição sumária, deve determinar a notificação do acusado para comparecer em juízo com o único objetivo de dizer, na presença de seu defensor, se aceita ou não a proposta oferecida pelo órgão ministerial. Esta audiência a ser designada pelo magistrado para fins de aceitação ou rejeição da proposta de suspensão condicional do processo não é audiência una de instrução e julgamento a que se refere o art. 400 do CPP. Afinal, é absolutamente irracional intimar vítima, testemunhas e eventualmente peritos a comparecer a uma audiência, causando-lhes evidente incômodo e prejuízo financeiro, se já se sabe de antemão que seu deslocamento à sede do juízo será inútil por conta de uma possível aceitação da proposta”.[footnoteRef:17] Apenas se rejeitada a proposta de suspensão condicional do processo pelo acusado é que o juiz designará a AIJ. [17: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1428.]</p><p>OBS: havendo a defesa formulado pedido de absolvição sumária na resposta à acusação, o juiz precisará fundamentar, ainda de que forma sucinta (para não caracterizar prejulgamento da demanda), a decisão que rejeita a tese da absolvição sumária (STJ, 6ª T, RHC 46.127/MG, Maria Theresa de Assis Moura, j. 12.02.2015, DJe 25.02.2015).</p><p>· OBS: a decisão que rejeita a absolvição sumária é irrecorrível (excepcionalmente, a ação poderá ser trancada via HC).</p><p>- Hipóteses de Absolvição Sumária (art. 397, CPP):</p><p>· Atipicidade manifesta (inciso III): atipicidade formal ou material (princípio da insignificância).</p><p>· Excludente cabal da ilicitude (inciso I): as justificantes podem estar na Parte Geral (art. 23 do CP) ou na Parte Especial do CP (arts. 128, 142, 146, § 3º, 150, § 3º etc.). Pode ser também uma excludente supralegal.</p><p>· Excludente cabal da culpabilidade, exceto art. 26 do CP (inciso II): menoridade, embriaguez completa involuntária, erro de proibição inevitável, coação moral irresistível, obediência hierárquica e excludentes supralegais baseadas em inexigibilidade de conduta diversa.</p><p>· Extinção da punibilidade (inciso IV): por equívoco técnico, o legislador inseriu como hipótese de absolvição sumária as causas de extinção da punibilidade, descritas exemplificativamente no art. 107 do CP.</p><p>* No caso bastaria aplicar o art. 61 do CPP.</p><p>OBS: o art. 397, II, CPP deixa claro que o sistema processual penal não admite a absolvição sumária imprópria (absolvição fundada em doença mental).</p><p>- Art. 397 do CPP (procedimentos em geral) ≠ Art. 415 do CPP (tribunal do júri)</p><p>- Recurso cabível da decisão que absolve sumariamente o acusado:</p><p>· Sentença absolutória (art. 397, I, II e III) => Apelação (art. 593, I, CPP)</p><p>· Sentença declaratória da extinção da punibilidade (art. 397, IV) => RESE (art. 581, VIII, CPP).</p><p>ATENÇÃO: na apelação interposta contra a absolvição sumária, se o tribunal der provimento ao recurso, deverá devolver os autos para a continuidade do processo no primeiro grau, sob pena de supressão de instância (STJ, 6ª T, HC 260.188/AC, Nefi Cordeiro, j. 08.03.2016, DJe 15.03.2016).</p><p>- Não sendo o caso de absolvição sumária, o juiz deverá designar Audiência de Instrução e Julgamento.</p><p>TEMA 9. FASE INSTRUTÓRIA</p><p>- Embora existam muitas provas produzidas antes da AIJ, é na AIJ que se produzirá toda a prova oral do processo.</p><p>9.1 DESPACHO DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA</p><p>- Prazo máximo (art. 400, caput, CPP): a audiência deverá ser realizada no prazo máximo de 60 dias a contar da data do despacho do juiz que a designa. Aqui a lei não estabelece prazos diferenciados para acusado preso e solto. Mas o prazo é observado sobretudo nos processos com réu preso para que não se caracterize excesso de prazo na formação da culpa.</p><p>- Designada a Audiência de Instrução e Julgamento, o juiz irá e determinar a intimação para que a ela compareçam:</p><p>· das partes: do acusado, de seu defensor, do autor da ação penal e, se for o caso, do assistente do MP. A intimação deverá ser feita com prazo de 5 dias de antecedência da data da AIJ, nos termos do art. 935 do CPC, aplicável por analogia (STJ, 5ª T, HC 109.967/RJ, Laurita Vaz, j. 02.02.2010, DJe 01.03.2010 – o julgado se refere ao prazo de 48 horas estabelecido pelo CPC/73).</p><p>· Do ofendido (art. 201, § 2º, CPP).</p><p>OBS: se o acusado estiver preso, o juiz deverá expedir ordem ao diretor do estabelecimento penal, determinando que o preso seja apresentado em juízo no horário da audiência (art. 399, § 1º, CPP)</p><p>- O problema do recebimento da inicial na fase do art. 399 do CPP em virtude do art. 3º-C do CPP</p><p>Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa,[footnoteRef:18] o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. [18: Renato Brasileiro entende que o dispositivo deveria ter sido assim redigido: “quando não ocorrer a rejeição da peça acusatória e desde que o acusado não seja absolvido sumariamente, deverá o juiz designar dia e hora para a audiência” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1428).]</p><p>Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código.</p><p>9.2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO</p><p>Audiência de Instrução e Julgamento</p><p>Fase de Instrução</p><p>(art. 400)</p><p>Fase de requerimento de diligências</p><p>(art. 402)</p><p>Fase dos debates</p><p>(art. 403)</p><p>Fase decisória</p><p>(Sentença)</p><p>(art. 403)</p><p>A) Prova Oral (art. 400)</p><p>- A reforma processual de 2008, em prestígio ao princípio da oralidade, determinou a concentração de todos os atos de instrução processual em uma única audiência (art. 400, § 1º, CPP).</p><p>· Para assegurar a concentração dos atos de instrução, o CPP franqueia ao magistrado indeferimento das provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (art. 400, § 1º, CPP; art. 184; art. 212; art. 222-A) Mas trata-se de um poder que deve ser exercido com extrema cautela, considerando que o direito à prova é uma garantia fundamental do processo.[footnoteRef:19] [19: Sobre o tema consultar STF, 2ª T, HC 155.363/RJ, Dias Toffoli, j. 08.05.2018. O STF validou o indeferimento do pedido de oitiva de todas os sobreviventes do incêndio da boate Kiss em Santa Maria-RS (STF, 1ª T, HC 131.158/RS, Edson Fachin, j. 26.04.2016).]</p><p>· A parte que tiver pedido de prova indeferido deverá requerer que a decisão conste da ata da audiência.</p><p>- A Audiência é destinada à colheita da prova oral (art. 400, CPP).</p><p>Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.</p><p>§ 1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.</p><p>§ 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.</p><p>- Comumente, a ordem da instrução oral será a seguinte:</p><p>· Oitiva da vítima</p><p>· Testemunhas de acusação</p><p>· Testemunhas de defesa</p><p>· Interrogatório</p><p>- Para a produção da prova oral, o CPP adotou:</p><p>· Sistema da inquirição direta: para oitiva da vítima e das testemunhas (art. 212, CPP)</p><p>· Sistema presidencialista: persiste vigorando para o interrogatório (art. 188, CPP). As perguntas são formuladas primeiramente pelo juiz; depois, há as perguntas das partes (feitas por intermédio do juiz).</p><p>- Natureza do interrogatório: natureza híbrida (meio de prova + meio de defesa, prevalecendo a natureza de meio de defesa)</p><p>· Interrogatório por videoconferência: art. 185, § 2º, CPP (por óbvio, a participação do acusado por videoconferência se estenderá a toda audiência).</p><p>B) Requerimento de diligências (arts. 402 e 404)</p><p>- O CPP faculta às partes requerer o prolongamento da instrução, fazendo pedido de realização de diligência cuja necessidade tenha se originado de tópico surgido na própria audiência (art. 402 do CPP). Se a necessidade da diligência já existia desde o início do processo, a parte deveria ter requerido sua realização em momento anterior oportuno.</p><p>Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.</p><p>Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.</p><p>Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença.</p><p>· Segundo o art. 404, caput, do CPP, o juiz poderá determinar de ofício a realização de diligência. Esse dispositivo precisará ser lido à luz do art. 3º-A do CPP (atualmente suspenso liminarmente pelo STF).</p><p>- O requerimento de realização de diligência pela parte deverá ser feito oralmente em Audiência.</p><p>· Se não houver requerimento ou se o requerimento for indeferido pelo juiz, a Audiência prosseguirá para os debates orais.</p><p>· Se o requerimento for deferido, a Audiência será suspensa para a realização da diligência. Após sua conclusão, as partes terão o prazo de 5 dias para apresentação de memoriais (art. 404, parágrafo único, CPP).</p><p>OBS 1: caso o interrogatório tenha sido realizado por carta precatória, apensada a carta aos autos, o juiz abrirá vista às partes pelo prazo de 5 dias para que se manifestem sobre a necessidade de realização de diligências.</p><p>OBS 2: se for o caso de mutatio libelli, o MP aditará a denúncia, nos termos do art. 384 do CPP.</p><p>C) Fase dos debates (art. 403, CPP)</p><p>- Encerrada a produção da prova, as partes iniciarão os debates finais. As alegações constituem ato postulatório no qual as partes fazem considerações de fato (provas) e de direito e pedidos que deverão ser examinados e decididos pelo julgador na sentença.</p><p>Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.</p><p>§ 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.</p><p>§ 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.</p><p>§ 3º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.</p><p>- Alegações finais orais: foi a regra adotada no art. 403 (reforma processual de 2008). As alegações finais serão feitas, em regra, pelo prazo de 20 min, prorrogáveis por mais 10 min.</p><p>· O problema do ditado das alegações ao escrivão e das “alegações por pen drive”.[footnoteRef:20] [20: A expressão é de Renato Brasileiro (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1434).]</p><p>· O assistente de acusação falará por 10 min. após a acusação, sendo esse tempo acrescido à defesa (art. 403, § 2º, CPP).</p><p>· O tempo será individual para cada acusado, não importando o número de defensores (art. 403, § 1º, CPP). Extensão do prazo para a acusação: “o art. 403, § 1º, do CPP, também silencia acerca da eventual prorrogação do prazo da parte acusadora na hipótese de haver mais de um acusado. Ora, da mesma forma que esse prazo deve ser individual para a defesa, igual prazo também deve ser concedido à acusação, sob pena de indevida violação ao contraditório em sua garantia da paridade de armas”. A não concessão do mesmo prazo “traria evidente prejuízo ao acusador, que não teria condições de explorar o quadro probatório à luz da conduta individualizada de cada um dos acusados”.[footnoteRef:21] [21: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1436.]</p><p>- Alegações escritas (= memoriais): o CPP admite a substituição das alegações finais orais por memoriais escritos no prazo (impróprio) de 5 dias (art. 403, § 3º, CPP), nas seguintes hipóteses:</p><p>· Complexidade da causa (art. 403, § 3º, CPP)</p><p>· Número de acusados (art. 403, § 3º, CPP)</p><p>· Requerimento de diligências acolhido (art. 404, CPP)</p><p>· Interrogatório por carta precatória (hipótese jurisprudencial) => abertura de prazo para diligência e para memoriais.</p><p>- Conteúdo das alegações finais:</p><p>· Nulidades (absoluta[footnoteRef:22] e relativa) [22: Questão da nulidade de algibeira (ou de bolso).]</p><p>· Mérito (procedência/improcedência da ação)</p><p>· Dosimetria (pedido defensivo subsidiário)</p><p>- Corréus delatores e delatados: havendo no processo réus delatores e não delatores, a garantia constitucional da ampla defesa exige que a alegação dos corréus delatores seja apresentada necessariamente antes que a alegação dos corréus delatados – prerrogativa da defesa de falar por último (STF, 2ª T, HC 157.627 AgR/PR, Ricardo Lewandowski, j. 27.08.2019).</p><p>· O entendimento</p><p>do STF foi incorporado no art. 4º, § 10-A da Lei 12.850/2013 pelo Pacote Anticrime.</p><p>Art. 4º [...].</p><p>§ 10-A Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a oportunidade de manifestar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou.</p><p>- Ausência de alegações finais: prevalece o entendimento de que sua apresentação é obrigatória, sob pena de nulidade absoluta.</p><p>· A intervenção do MP é obrigatória na ação pena pública, regida pelo princípio da indisponibilidade (art. 42 do CPP)</p><p>· A ausência de alegações finais pelo querelante na ação penal privada importará em perempção (art. 60, III, CPP)</p><p>· Ausência de alegações finais da defesa caracteriza nulidade absoluta diante da violação manifesta da garantia da ampla defesa – em razão da indispensabilidade da defesa técnica (STF, 2ª T, HC 92.680/SP, Cezar Peluso, j. 11.03.2008, DJe 24.04.2008; STJ, 6ª T, HC 120.231/RJ, Maria Thereza de Assis Moura, j. 16.04.2009, DJe 04.05.2009).</p><p>OBS: apresentação intempestiva dos memoriais constitui mera irregularidade.</p><p>TEMA 10. FASE DECISÓRIA (SENTENÇA)</p><p>- A par da possibilidade de julgamento antecipado do processo consubstanciado na absolvição sumária (art. 397, CPP), o mérito do processo será decidido por sentença pelo juiz após alegações finais.</p><p>- A sentença poderá ser lavrada:</p><p>· oralmente em audiência (art. 403, caput, CPP)</p><p>· em gabinete no prazo (impróprio) de 10 dias (art. 403, § 3º, CPP).</p><p>OBS: nesse último caso, sobreleva o princípio da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, CPP)</p><p>- Registro da AIJ: art. 405 do CPP</p><p>Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela ocorridos.</p><p>§ 1º Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações.</p><p>§ 2º No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição.</p><p>OBS 1: o STJ entende que, ressalvada a necessidade devidamente comprovada, a conversão do julgamento da apelação em diligência para que a primeira instância realize a degravação do registro audiovisual afronta o art. 405, § 2º, do CPP e o princípio da duração razoável do processo (STJ, RMS 36.625/MT, Rogério Schietti Cruz, j. 30.06.2016, DJe 01.08.2016; STJ, 5ª T, HC 172.840/SP, Gilson Dipp, j. 19.10.2010, DJe 03.11.2010).</p><p>OBS 2: o art. 405, § 2º, CPP autoriza também a gravação dos debates orais e da sentença. Assim, a ausência de degravação completa da sentença nos autos não importa prejuízo às partes (STJ, 3ª Seção, HC 462.253, Nefi Cordeiro, j. 28.11.2018, DJe 04.02.2019).</p><p>10.1. ESTRUTURA E REQUISITOS DA SENTENÇA</p><p>- O art. 381 do CPP estabelece os requisitos de uma sentença penal.</p><p>Art. 381. A sentença conterá:</p><p>I – os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las;</p><p>II – a exposição sucinta da acusação e da defesa;</p><p>III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão;</p><p>IV – a indicação dos artigos de lei aplicados;</p><p>V – o dispositivo;</p><p>VI – a data e a assinatura do juiz.</p><p>- Estruturalmente, a sentença possuirá</p><p>· Requisitos intrínsecos: relatório, fundamentação e dispositivo.</p><p>· Requisitos extrínsecos: autenticação.</p><p>A) Relatório</p><p>- Consiste em um resumo do processo, que abrange os incisos I e II do art. 381.</p><p>- Conteúdo do relatório: o relatório da sentença deverá conter</p><p>· Nomes das partes (art. 381, I, art. 41 e art. 259 do CPP);</p><p>OBS: deve-se fazer referência ao nome da vítima, especialmente para os fins do art. 387, IV, CPP.</p><p>· Resumo das teses da acusação e da defensiva;</p><p>· Indicação dos principais atos praticados no processo.</p><p>- Finalidade do relatório: assegurar que o juiz tomou conhecimento do processo.</p><p>- Ausência de relatório: prevalece o entendimento de que se trata de nulidade absoluta (art. 564, IV, CPP).[footnoteRef:23] Mas não haverá nulidade, se todas as teses defensivas forem apreciadas na fundamentação da sentença (STJ, 5ª T, HC 69.967/RJ, Felix Ficher, j. 13.03.2007, DJ 14.05.2007). [23: Contra, entendendo trata-se de caso de nulidade relativa: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1611.]</p><p>· OBS: a sentença penal no âmbito do JECRIM dispensa o relatório (art. 81, § 3º, Lei 9.099/95)</p><p>B) Fundamentação</p><p>- O juiz deverá indicar na sentença os fundamentos de fato e de direito de sua decisão, bem como os dispositivos legais que a amparam (art. 381, III e IV, CPP).</p><p>- A fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF/88) é considerada uma garantia de segundo grau (garantia de garantias). É por meio dela que se verifica a observâncias das demais garantias no bojo da atividade intelectual do juiz. Em outras palavras, a fundamentação permite o controle da atividade jurisdicional.</p><p>- Apreciação das provas: Diante do sistema da persuasão racional (art. 155 do CPP), embora o juiz tenha liberdade para valorar as provas (já que elas têm, legal e abstratamente, o mesmo valor), incumbe ao magistrado indicar, na fundamentação da sentença, no modo como apreciou/valorou cada uma das provas.</p><p>· “A obrigação de fundamentar permite às partes não somente aferir que a convicção foi realmente extraída do material probatório constante dos autos, como também analisar os motivos legais que levaram o magistrado a firmar sua conclusão”.[footnoteRef:24] [24: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1612.]</p><p>- Apreciação das teses jurídicas (defensivas): o julgador deve apreciar todas as teses defensivas, ainda que de maneira sucinta e de forma indireta. Segundo o STJ, não é necessária fazer menção expressa a cada uma das teses defensivas, desde que seja possível extrair da decisão que o julgador as rejeitou integralmente.</p><p>- Ausência de fundamentação: nulidade absoluta da sentença (art. 93, IX, CF/88 e art. 564, V, CPP – alteração da Lei 13.964).</p><p>· A anulação de sentença penal condenatório pelo tribunal afasta o marco interruptivo da prescrição (art. art. 117, IV, CP).</p><p>- Exceção à garantia da fundamentação: decisão dos jurados do Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, CF/88 – sigilo das votações).</p><p>- Fundamentação per relationem: ocorre quando o julgador adota como fundamento de sua decisão as alegações contidas em outro documento. Em se tratando de sentença condenatória ou absolutória é inadmissível a fundamentação per relationem, por ofensa ao art. 93, IX, CF/88.[footnoteRef:25] [25: Nesse sentido, LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1614-1615. O autor deixa claro que se entendimento quanto à impossibilidade de fundamentação per relationem se restringe à sentença penal, já que no tocante às decisões interlocutórias não haveria problema, em sua visão, na adoção desse tipo de fundamentação. ]</p><p>· O STJ anulou acórdão de TJ que julgando recurso de apelação se limitou a transcrever os argumentos da sentença impugnada (STJ, 6ª T, HC 91.894/RS, Maria Thereza de Assis Moura, j. 03.11.2009, DJe 23.11.2009).</p><p>C) Dispositivo</p><p>- “Trata-se da conclusão decisória da sentença, representando o comando da decisão no sentido de condenar ou absolver o acusado. É a parte da sentença responsável pela geração dos efeitos da decisão, transformando o mundo dos fatos. O dispositivo é a conclusão do juiz que decorre da fundamentação. No dispositivo, deve o juiz indicar os artigos de lei aplicados (CPP, art. 381, VI e V)”.[footnoteRef:26] [26: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 1615]</p><p>· A sentença absolutória, o juiz deve indicar um dos fundamentos do art. 386 do CPP</p><p>· Na sentença condenatória, o juiz deve indicar a capitulação legal do fato</p><p>- Ausência de dispositivo: hipótese de inexistência jurídica</p><p>da decisão (decisão que não decide).</p><p>- Dosimetria: seria uma quarta parte da estrutura da sentença penal condenatória?</p><p>D) Autenticação</p><p>- Art. 381, VI, c/c art. 388 do CPP.</p><p>- A sentença proferida oralmente em audiência, registrada por meio audiovisual (art. 405 do CPP), deverá passar por integral degravação e ser assinada pelo magistrado, sob pena de nulidade absoluta por ofensa ao contraditório e a ampla defesa (STJ, 6ª T, HC 470.034/SC, Laurita Vaz, j. 09.10.2018, DJe 19.11.2018).</p><p>10.2 SENTENÇA ABSOLUTÓRIA</p><p>- Classificação da sentença absolutória:</p><p>· Sentença absolutória própria vs. Sentença absolutória imprópria (art. 386, parágrafo único, III, CPP)</p><p>· Sentença absolutória sumária (arts. 397 e 415 do CPP)</p><p>· Sentença absolutória sumária imprópria: impossível no procedimento comum ordinário e possível no Júri quando se tratar da única tese defensiva.</p><p>- Fundamentos da sentença absolutória (art. 386 do CPP):</p><p>A) Juízos assertivos (juízo de certeza): incisos I, III, IV, VI, 1ª parte</p><p>· Inciso I: prova de ausência de materialidade.</p><p>· Inciso III: atipicidade da conduta.</p><p>· Inciso IV: prova de negativa de autoria.</p><p>· Inciso VI, 1ª parte: prova de excludente da ilicitude ou da culpabilidade.</p><p>B) Juízos de dúvida (in dubio pro reo): incisos II, V, VI, 2ª parte e VII. Decisões baseadas no in dubio pro reo (presunção de inocência => regra probatória)</p><p>· Inciso II: dúvida quanto à existência do fato.</p><p>· Inciso V: dúvida quanto à autoria.</p><p>· Inciso VI, 2ª parte: dúvida quanto à existência de excludente da ilicitude ou da culpabilidade.</p><p>· Inciso VII: não existir prova suficiente para a condenação.</p><p>- Principais efeitos da sentença absolutória:</p><p>· Se estiver preso, será colocado imediatamente em liberdade (art. 386, parágrafo único, I, c/c art. 596 do CPP).</p><p>· Se o acusado prestou fiança, o valor da fiança será integralmente restituído (art. 337 do CPP)</p><p>· Impossibilidade de novo processo pelo mesmo fato, em virtude do princípio processual do ne bis in idem (art. 8, item 4, CADH).</p><p>· Levantamento das medidas de constrição patrimonial (art. 131, III e art. 141 do CPP).</p><p>10.3 SENTENÇA CONDENATÓRIA</p><p>- Sentença na qual o juiz reconhece, mediante juízo de certeza, a ocorrência da conduta típica, ilícita e culpável narrada na inicial e condena o acusado nas penas legalmente previstas para o crime.</p><p>- Estrutura da sentença condenatória:</p><p>· Relatório</p><p>· Fundamentação referente à procedência do pedido</p><p>· Dispositivo condenatório parcial (sobre a procedência do pedido)</p><p>· Aplicação da pena (retoma-se a fundamentação no tocante à pena)</p><p>· Dispositivo final (procedência do pedido + pena aplicada)</p><p>- Prisão preventiva e sentença condenatória: art. 387, § 1º, CPP.</p><p>· Se o réu respondeu ao processo preso preventivamente, na sentença o juiz deverá reavaliar a necessidade da prisão, indicando se os motivos que o levaram a decretar a prisão preventiva ainda persistem.</p><p>OBS: mas é desproporcional manter a pessoa presa provisoriamente em regime mais severo do que aquele fixado na sentença. Se o juiz fixou o regime inicial semiaberto, o preso preventivamente terá direito à imediata aplicação das regras do regime semiaberto (STJ, 5ª T, HC 218.098/SP, Laurita Vaz, j. 08.05.2012, DJe 21.05.2012).</p><p>· Se o réu respondeu ao processo em liberdade, o juiz poderá decretar a prisão preventiva ou a imposição de outras medidas cautelares desde que haja necessidade – periculum libertatis (fatos surgidos durante a instrução ou depois).</p><p>OBS: nesse último caso, após a alteração do art. 311 do CPP (Lei 13.964/2019), deverá haver pedido de decretação da prisão preventiva para que o juiz possa decretá-la.</p><p>- Efeitos penais da sentença penal condenatória transitada em julgado:</p><p>· Iniciar o cumprimento da pena;</p><p>· Inclusão do nome do réu no rol dos culpados (livro do cartório do juízo)</p><p>· Induz reincidência (arts. 63 e 64 do CP)</p><p>· Soma das penas à outras penas já em execução com possível regressão de regime (art. 118, II, LEP).</p><p>· A depender do tipo de infração penal e da pena aplicada pode acarretar a revogação do livramento condicional (art. 84 do CP) e o sursis (art. 81, I, e § 1º, CP)</p><p>- Efeitos extrapenais da sentença penal condenatória transitada em julgada:</p><p>A) Efeitos obrigatórios e genéricos (art. 91 do CP)</p><p>B) Efeitos extrapenais específicos (art. 92 do CP): dependem de declaração expressa e fundamentada do juiz na sentença penal condenatória (art. 92, parágrafo único, CP)</p><p>OBS: fixação do regime inicial com base na pena residual (art. 387, § 2º, CPP)</p><p>10.4 SENTENÇA DECLARATÓRIA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE</p><p>- A extinção da punibilidade poderá ser declarada por sentença (de ofício) em qualquer fase do processo (art. 61 do CPP).</p><p>- Recurso: art. 581, VIII e IX, CPP</p><p>10.5 PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA</p><p>- O princípio da congruência é uma decorrência do princípio da inércia jurisdicional e exige que a decisão judicial fique adstrita à demanda narrada na inicial acusatória.</p><p>A) Emendatio libelli (art. 383, CPP)</p><p>- Conceito: na emendatio libelli não há alteração dos fatos narrados na denúncia/queixa, mas uma alteração da classificação jurídica dos fatos que é feita pelo juiz na sentença ou na pronúncia.</p><p>· Art. 383 do CPP: sentença</p><p>· Art. 418 do CPP: pronúncia</p><p>- Entende-se, portanto, que a emendatio libelli não viola o princípio da congruência.</p><p>· Princípio iuria novit curia (narra mihi factum dabo tibi ius)</p><p>- Causas da emendatio libelli:</p><p>· Defeito de capitulação</p><p>· Interpretação diferente</p><p>· Supressão de elementar e/ou circunstância</p><p>- Crítica ao procedimento da emendatio libelli (garantia do contraditório).</p><p>B) Mutatio libelli (art. 384, CPP)</p><p>- Conceito: ocorre mutatio libelli quando, no curso da instrução processual, surge prova capaz de alterar os fatos narrados na inicial acusatória. Nesse caso, deverá ocorrer o aditamento da inicial.</p><p>- Há mutatio libelli quando surgem provas de</p><p>· Elementares de crime diverso do imputado na denúncia/queixa</p><p>· Circunstâncias novas do crime narrado na denúncia/queixa</p><p>- Procedimento: a instrução e o direito de manifestação precisam ser reabertos após o aditamento:</p><p>· Aditamento: diante a alteração do quadro fático, o MP deverá espontaneamente aditar a inicial por escrito (no prazo de 5 dias) ou oralmente na audiência de instrução e julgamento (art. 384, caput, CPP). Se o MP não fizer o aditamento, o juiz deverá encaminhar os autos para o órgão superior do MP (art. 384, § 1º, CPP). O acusador poderá arrolar até 3 testemunhas (art. 384, § 4º, CPP).</p><p>· Defesa: no prazo de 5 dias (art. 384, § 2º, CPP). A defesa terá o prazo de 5 dias para se manifestar sobre o aditamento feito pelo MP. A defesa poderá buscar a rejeição do aditamento (art. 395 do CPP) ou pleitear a absolvição sumária (art. 397 do CPP). A defesa poderá arrolar até 3 testemunhas (art. 384, § 4º, CPP).</p><p>· Juízo de admissibilidade: o juiz poderá receber ou rejeitar o aditamento da denúncia/queixa, com base no art. 395 do CPP (art. 384, § 2º, CPP). Se o juiz rejeitar o aditamento o processo continuará como base na denúncia originalmente proposta (art. 384, § 5º, CPP).</p><p>· Instrução: audiência em continuação – testemunhas e novo interrogatório (art. 384, § 2º, CPP).</p><p>· Debates e julgamento: consoante a previsão legal, os debates e julgamento ocorrerão oralmente em audiência (art. 384, § 2º, CPP).</p><p>OBS: não é possível o aditamento da denúncia em 2ª instância, por implicar supressão de instância.</p><p>TEMA 11. PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO</p><p>- Previsão legal: arts. 531 a 538 do CPP.</p><p>· Art. 394, § 5º, CPP</p><p>Art. 394. [...].</p><p>§ 5º Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.</p><p>- O procedimento sumário é adequado nos seguintes casos:</p><p>A) Processo de crimes com pena máxima inferior a 4 anos e pena mínima superior a 2 anos de prisão.</p><p>B) Processo de infrações de menor potencial ofensivo que forem enviadas pelo JECRIM à Vara Criminal (art. 538 do CPP), com base no art. 66, parágrafo único, da Lei 9.099.95 e no art. 77, § 2º, da Lei 9.099/95.</p><p>Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado especial</p>