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<p>SUMÁRIO</p><p>INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3</p><p>1 PARENTESCO ................................................................................................... 4</p><p>1.1 Classificação ..................................................................................................... 4</p><p>1.2 Quanto a natureza ............................................................................................ 4</p><p>1.3 Quanto à linhas ................................................................................................. 6</p><p>2 A PERSISTÊNCIA DO PARENTESCO POR AFINIDADE, APÓS A</p><p>DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO OU UNIÃO ESTÁVEL. ......................................... 8</p><p>3 RESTRIÇÕES LEGAIS ...................................................................................... 9</p><p>4 FILIAÇÃO ......................................................................................................... 10</p><p>4.1 Considerações Gerais e Históricas ................................................................. 10</p><p>4.2 Conceito .......................................................................................................... 11</p><p>4.3 Reconhecimento Voluntário ............................................................................ 17</p><p>4.4 Reconhecimento Judicial ................................................................................ 19</p><p>4.5 Obrigatoriedade do exame de DNA e a presunção de paternidade ............... 20</p><p>5 ALIMENTOS ..................................................................................................... 22</p><p>5.1 Da obrigação alimentar ................................................................................... 23</p><p>5.2 Princípios e características dos alimentos ...................................................... 25</p><p>6 CLASSIFICAÇÕES .......................................................................................... 30</p><p>6.1 Fontes normativas .......................................................................................... 30</p><p>6.2 Quanto à natureza .......................................................................................... 31</p><p>6.3 Quanto à forma de pagamento ....................................................................... 32</p><p>6.4 Quanto à finalidade ......................................................................................... 33</p><p>7 ALIMENTOS GRAVÍDICOS ............................................................................. 35</p><p>8 A PRISÃO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS.................................................... 36</p><p>9 ALIMENTOS NA GUARDA COMPARTILHADA ............................................. 37</p><p>10 REVISÃO, EXONERAÇÃO E EXTINÇÃO DOS ALIMENTOS ........................ 37</p><p>11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 40</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Prezado aluno,</p><p>O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante</p><p>ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -</p><p>um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma</p><p>pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é</p><p>que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a</p><p>resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as</p><p>perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão</p><p>respondidas em tempo hábil.</p><p>Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da</p><p>nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à</p><p>execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da</p><p>semana e a hora que lhe convier para isso.</p><p>A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser</p><p>seguida e prazos definidos para as atividades.</p><p>Bons estudos!</p><p>4</p><p>1 PARENTESCO</p><p>Em termos de conceito, podemos dizer que o parentesco consiste no vínculo</p><p>que se cria através da relação entre pessoas que possuem a mesma origem.</p><p>Devemos sempre pensar em termos diferentes quando relacionar o conceito</p><p>de família, com o conceito de parentesco. Pois os cônjuges ou os companheiros, por</p><p>exemplo, embora constituam uma família, não são parentes entre si. (STOLZE;</p><p>PAMPLONA, 2020)</p><p>No mesmo sentido, Paulo Lobo entende que para o direito, o parentesco não</p><p>se confunde com família, ainda que seja nela que radique suas principais</p><p>interferências, pois delimita a aquisição, o exercício e o impedimento de direitos</p><p>variados, inclusive no campo do direito público.</p><p>1.1 Classificação</p><p>1.2 Quanto a natureza</p><p>Em relação à natureza, a relação de parentesco poderá ser:</p><p>a) natural, aquela decorrente de vínculo sanguíneo. Este parentesco pode</p><p>acontecer em linha reta, ou na linha colateral. De acordo com o artigo 1.591 do Código</p><p>Civil, os parentes em linha reta são os ascendentes e os descendentes.</p><p>Nos ensinamentos de Soltze e Pamplona, ao citar Clóvis Beviláqua, dizem que:</p><p>“[...] o parentesco criado pela natureza é sempre a cognação ou</p><p>consanguinidade, porque é a união produzida pelo mesmo sangue. O</p><p>vínculo do parentesco estabelece-se por linhas. Linha é a série de</p><p>pessoas provindas por filiação de um antepassado. É a irradiação das</p><p>relações consanguíneas. ” (BEVILÁQUA, 1995, apud (STOLZE;</p><p>PAMPLONA, 2020)</p><p>5</p><p>Contudo, mesmo que de forma tradicional o parentesco natural esteja ligado ao</p><p>vínculo sanguíneo, esta relação parental em linha reta pode acontecer de outra forma,</p><p>como por exemplo nos casos de filiação adotiva.</p><p>Esta relação se dá baseado no princípio da efetividade, e por mais que não seja</p><p>o natural, tem o tratamento deste.</p><p>b) civil, cuja origem se deu por vínculo jurídico. Aquele que decorre de uma</p><p>outra origem, que não tem natureza sanguínea ou por afinidade. Esta relação é</p><p>prevista no art. 1.593 do Código Civil. De forma geral, sua origem vem da adoção.</p><p>Contudo, a doutrina e a jurisprudência afirmam a existência de outras duas formas</p><p>desta modalidade. A primeira decorre da técnica de reprodução heteróloga, ou seja,</p><p>aquela efetivada com material genético de terceiro. Já a segunda decorre da parental</p><p>idade socioafetiva e no vínculo social de afeto. (TARTUCE, 2021)</p><p>Podemos dizer que o parentesco civil é decorrente da socioafetividade, da</p><p>mesma forma que acontece o vínculo da filiação adotiva, no reconhecimento da</p><p>paternidade, e em outras várias situações.</p><p>Acerca deste assunto, Pietro Perlingeri diz que:</p><p>“[...] o sangue e os afetos são razões autônomas de justificação para o</p><p>momento constitutivo da família, mas o perfil consensual e a affectio</p><p>constante e espontânea exercem cada vez mais o papel de</p><p>denominador comum de qualquer núcleo familiar. O merecimento de</p><p>tutela da família não diz respeito exclusivamente às relações de</p><p>sangue, mas, sobretudo, àquelas afetivas que se traduzem em uma</p><p>comunhão espiritual e de vida” (BEVILÁQUA, 1955, apud STOLZE,</p><p>GAGLIANO 2020)</p><p>Para simplificar, o parentesco civil pode ser compreendido como uma</p><p>modalidade baseada na exclusão, ou seja, as que não se caracterizarem por vínculo</p><p>sanguíneo e afinidade.</p><p>c) por afinidade, que consiste naquela decorrente da relação entre os</p><p>conjugues e os parentes do conjugue. Através desta relação, a base familiar do</p><p>cônjuge é agregada ao de seu companheiro.</p><p>6</p><p>Importante lembrar, que a atual legislação civil brasileira, equiparou a união</p><p>estável ao casamento, passando então a ser dotada também do parentesco para</p><p>afinidade. Portanto, a relação parental pressupõe um vínculo matrimonial ou de união</p><p>estável.</p><p>1.3 Quanto à linhas</p><p>Esta classificação por linha é comum e tradicional no Direito brasileiro. Ela é</p><p>decorrente de uma história de linhagens.</p><p>Desta forma, um núcleo familiar básico é tomado como referencial, o que se</p><p>denomina de tronco comum, a partir do</p><p>qual vão se ligando os demais parentes,</p><p>através de linhas ascendentes ou descendentes. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>A linhagem familiar, para melhor ser compreendida, foi ainda dividida em duas</p><p>modalidades, o parentesco por linha reta e o parentesco por linha colateral.</p><p>O parentesco em linha reta está elencado expressamente através do artigo</p><p>1.591 do CC/02, e diz que "são parentes em linha reta as pessoas que estão umas</p><p>para com as outras na relação de ascendentes e descendentes”. (BRASIL, 2002)</p><p>Desta forma, as linhas são ainda subdivididas em graus que sobem, sendo</p><p>estes os ascendentes: pai, avó, etc. E os graus que descem, sendo estes os</p><p>descendentes: filhos, netos e bisnetos. Estes, não importa de descem ou sobem, são</p><p>considerados os parentes em linha reta.</p><p>“O parentesco em linha reta é infinito, nos limites que a natureza impõe</p><p>a sobrevivência dos seres humanos. A linha reta é a que procede</p><p>sucessivamente de cada filho para os genitores e deste para os</p><p>progenitores e de cada pessoa para os seus filhos, netos, bisnetos etc.</p><p>Assim, promanam da pessoa uma linha reta ascendente e uma linha</p><p>reta descendente." (LÔBO, 2009, apud STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>Por uma questão de equiparação constitucional, a doutrina acredita ser</p><p>possível que este entendimento seja também aplicado ao parentesco civil, e ao por</p><p>afinidade.</p><p>7</p><p>O quadro abaixo nos permite uma visão clara de como funciona a contagem.</p><p>Em linha reta, constam os parentes até o terceiro grau. E nas linhas colaterais, são</p><p>admitidos até o quarto grau.</p><p>8</p><p>Os parentes em linha colateral, são aquelas que tem origem do mesmo tronco,</p><p>sem que descendam uma das outras.</p><p>Já o parentesco civil, uma vez que a pessoa acaba por ser inserida no âmbito</p><p>familiar como se dela mesmo descendesse, entra no mesmo entendimento. Exemplo:</p><p>o meu irmão é parente colateral de segundo grau, não importando se foi adotado ou</p><p>não.</p><p>2 A PERSISTÊNCIA DO PARENTESCO POR AFINIDADE, APÓS A</p><p>DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO OU UNIÃO ESTÁVEL.</p><p>Um tema bastante comentado dentro do assunto de parentesco, diz respeito</p><p>aos efeitos que o parente por afinidade adquire após o término de um casamento ou</p><p>união estável, uma vez que por afinidade, o parentesco continua mesmo após a</p><p>dissolução da relação afetiva.</p><p>Este é o entendimento sobre a regra do artigo 1.595, § 2º do CC/02: " Na linha</p><p>reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável”</p><p>(BRASIL, 2002)</p><p>Este dispositivo pode ser fundamentado por uma simples questão moral, pois</p><p>de fato, existe um grande repúdio social sobre a hipótese de uma nova relação afetiva</p><p>entre parentes de linha reta, como sogro e nora, padrasto e enteada, sogro e genro,</p><p>entre outros. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>“Art. 14. Cada cônjuge ou convivente é aliado aos parentes do outro</p><p>pelo vínculo da afinidade.</p><p>§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos</p><p>descendentes e aos irmãos do cônjuge ou convivente.</p><p>§ 2º A afinidade se extingue com a dissolução do casamento ou da</p><p>união estável, exceto para fins de impedimento à formação de entidade</p><p>familiar”. (BRASIL, 2007)</p><p>9</p><p>Percebemos então, que foi mantido neste projeto, a ideia de impossibilidade da</p><p>formação de uma nova entidade familiar composta por relações de parentes após a</p><p>dissolução do casamento ou união estável.</p><p>3 RESTRIÇÕES LEGAIS</p><p>Da mesma forma que o surgimento de uma relação de parentesco traz alegria</p><p>e bem-estar social em se construir uma relação mútua, o ordenamento jurídico</p><p>brasileiro impõe algumas restrições que visam evitar o favorecimento de um dos lados</p><p>da relação. Como exemplo, temos o exposto no artigo 42, § 1º do ECA, que trata sobre</p><p>o impedimento de o ascendente adotar o descendente. (BRASIL, 1990)</p><p>No mesmo entendimento, a Consolidação das Leis do Trabalho em seus artigos</p><p>801, c, e 829, e ainda p Código de Processo Civil de 2015 através de seus artigos</p><p>144, III e IV, e 457, também estabelecem restrições cada um em acordo com sua</p><p>matéria, mas todos por conta do grau de parentesco.</p><p>Ainda no Código Civil, existe uma limitação sobre o negócio jurídico de compra</p><p>e venda, estabelecendo que ele seja anulável caso aconteça entre ascendentes e</p><p>desentendes.</p><p>Parte da doutrina, entende que não haveria que se falar de qualquer</p><p>tratamento diferenciado entre as modalidades de parentesco pela natureza.</p><p>Desta forma, mesmo reconhecendo que o parentesco por afinidade não gera</p><p>as mesmas obrigações que o parentesco natural ou o parentesco civil, entende-se</p><p>que as restrições válidas para essas duas últimas modalidades também deveriam ser</p><p>aplicáveis à primeira. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>10</p><p>4 FILIAÇÃO</p><p>4.1 Considerações Gerais e Históricas</p><p>Levando em conta os registros históricos legislativos sobre investigação e</p><p>reconhecimento da paternidade, iremos perceber que elas sempre foram baseadas</p><p>em uma moral sexual e excludente. Antes, era permitido a ação de investigação de</p><p>paternidade somente perante a dissolução da sociedade conjugal. (PEREIRA, 2021)</p><p>Na hipótese de homem casado, não havia possibilidade de reconhecer outro</p><p>filho concebido fora do casamento. Tal filho ficava então à margem da sociedade, pois</p><p>o mesmo "não tinha pai", portanto não tinha seu lugar perante as relações sociais.</p><p>O maior problema tanto jurídico quanto social, estava no fato de que a lei</p><p>protegia somente a família legítima, ou seja, aquela constituída através do casamento.</p><p>O primeiro ato rumo ao reconhecimento dos filhos surgiu com o Decreto-Lei 3.200 no</p><p>ano de 1941, estabelecendo a não menção sobre as formas de filiação nas certidões</p><p>de registro civil.</p><p>Mais tarde, em outubro de 1949, a Lei nº 883 trouxe permissão para que os</p><p>filhos criados fora do casamento pudessem ser reconhecidos após o divórcio. Nesta</p><p>mesma lei, era permitido ainda a investigação da paternidade, desde que para fins de</p><p>alimentos e em segredo de justiça, ou seja, o pai tinha que arcar com os alimentos,</p><p>mas não havia necessidade ou qualquer obrigação para registar o filho. (BRASIL,</p><p>1949)</p><p>Passados vários anos, as alterações foram surgindo de acordo com a</p><p>necessidade, e em 1992, com o advento da Lei 8.560, houve a regularização sobre a</p><p>investigação de paternidade para os filhos havidos fora do casamento. Em 2009,</p><p>surgiu mais um avanço no Direito Civil Brasileiro, com a instituição da Lei 12.004,</p><p>surgiu o princípio da paternidade responsável, que dispôs sobre a presunção de</p><p>paternidade caso o réu negasse se submeter ao exame de DNA.</p><p>11</p><p>Por fim, em decorrência de muitos anos de luta e movimentos, foi criado o</p><p>princípio do melhor interesse da criança, que pode ser observado através do artigo</p><p>227, § 6º da Constituição Federal de 1988, sendo: “Os filhos, havidos ou não da</p><p>relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,</p><p>proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. ” (BRASIL, 1988)</p><p>4.2 Conceito</p><p>A filiação é compreendida como a relação jurídica que existe entre ascendentes</p><p>e descendentes de primeiro grau, tal seja, a entre pais e filhos. Esta relação tem como</p><p>base o princípio da igualdade entre os filhos que é prevista tanto pela Constituição</p><p>federal como o Código Civil.</p><p>A filiação designa a relação de parentesco na linha reta e em primeiro</p><p>grau, do filho em relação aos pais. Sob a ótica do pai, dá-se o nome de</p><p>paternidade; sob a ótica da mãe, maternidade. O CCB 1916</p><p>classificava os filhos de maneira discriminatória, diferenciando-os em</p><p>legítimos, ilegítimos que por usa vez se dividiam em naturais e</p><p>espúrios. Os espúrios eram os incestuosos ou adulterinos. (PEREIRA,</p><p>2021</p><p>O CC/02 apresenta em seu artigo 1.597 as antigas presunções de paternidade</p><p>que originam do casamento, e as presunções que decorrem das técnicas de</p><p>reprodução assistida. Pelo casamento, presumem-se concebidos:</p><p>I – Os filhos nascidos 180 dias,</p><p>pelo menos, depois de estabelecida a</p><p>convivência conjugal. Esta presunção é relativamente sobre o início do casamento,</p><p>sendo uma presunção relativa que possibilita prova em contrário concebida</p><p>normalmente através do exame de DNA. Por meio desta prova, pelo qual é possível</p><p>se obter quase certeza do vínculo parental, fez com que as antigas crenças e</p><p>presunções sobre a paternidade se desatualizassem.</p><p>II – Os filhos nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade</p><p>conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento. Não</p><p>12</p><p>existindo mais a separação judicial, o termo agora pode ser substituído por divórcio,</p><p>uma vez que este não possuí prazo.</p><p>Para complementar o entendimento, podemos observar o artigo 1.598 do</p><p>CC/02, que, salvo prova em contrário, quando a mulher contrai nova relação íntima, e</p><p>depois surge o nascimento de uma criança, existem duas possibilidades de aplicação</p><p>das regras. Pela primeira, se a criança nascer entre os 300 primeiros dias do</p><p>falecimento do marido, presume-se que o filho é do primeiro marido. Na segunda</p><p>hipótese, se já tiverem se passado 180 dias desde o início do segundo</p><p>relacionamento, presume-se que o filho seja do segundo marido.</p><p>Já há alguns anos, a Resolução de 1.957 de dezembro de 2010, que pertence</p><p>ao Conselho Federal de medicina, já trazia a possibilidade da técnica assistida, em</p><p>casos de falecimento, mas somente com a autorização do falecido.</p><p>Depois de algumas mudanças e alterações, ficou prevalecendo a Resolução</p><p>2.168 de 2017, que tratou sobre este assunto da seguinte forma: “é permitida a</p><p>reprodução assistida post mortem desde que haja autorização prévia específica do (a)</p><p>falecido (a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo com a</p><p>legislação vigente”. (BRASIL, 2017)</p><p>Umas das principais inovações acerca das normas ético-médicas, aconteceu</p><p>com o abrandamento da limitação para a reprodução assistida nos casos de mulheres</p><p>com idade superior a 50 anos. Este assunto perdurou de forma intensa nos últimos</p><p>anos. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>IV – Os filhos havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões</p><p>excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga. Os embriões tratados</p><p>neste disposto, são aqueles que tem origem da manipulação genética, mas que não</p><p>houve introdução no ventre materno, ou seja, estavam conservados em clínicas de</p><p>reprodução assistida. Nestes casos, a fecundação acontece fora do corpo da mulher,</p><p>através de proveta, são os chamados "in vitro".</p><p>V – Os filhos havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha</p><p>prévia autorização do marido. Este inciso trata-se da técnica de reprodução assistida</p><p>13</p><p>que acontece através de material genético de terceiro, ou seja, com o sêmen doado</p><p>por outro homem. (BRASIL, 2002)</p><p>Algumas questões vêm sendo alvo de muitas discussões, principalmente no</p><p>que tange ao âmbito do biodireito. Algumas delas surgiram exatamente pelo conteúdo</p><p>do artigo 1.597 do CC/02.</p><p>Em acordo com a doutrina majoritária, as presunções estabelecidas nos incisos</p><p>III, IV e V devem ser também aplicadas sobre a união estável. No mesmo</p><p>entendimento, a VI Jornada de Direito Civil aprovou o enunciado de nº 570, sendo:</p><p>“[...] o reconhecimento de filho havido em união estável fruto de técnica</p><p>de reprodução assistida heteróloga ‘a patre’ consentida</p><p>expressamente pelo companheiro representa a formalização do</p><p>vínculo jurídico de paternidade-filiação, cuja constituição se deu no</p><p>momento do início da gravidez da companheira”</p><p>Ainda o Supremo Tribunal da Justiça, também já se manifestou a respeito,</p><p>alegando que “a presunção de concepção dos filhos na constância do casamento</p><p>prevista no art. 1.597, II, do CC se estende à união estável."</p><p>DIREITO CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL. PRESUNÇÃO DE CONCEPÇÃO</p><p>DE FILHOS. A presunção de concepção dos filhos na constância do</p><p>casamento prevista no artigo 1.597, II, do Código Civil se estende à</p><p>união estável. Para a identificação da união estável como entidade</p><p>familiar, exige-se a convivência pública, contínua e duradoura</p><p>estabelecida com o objetivo de constituição de família com atenção aos</p><p>deveres de lealdade, respeito, assistência, de guarda, sustento e</p><p>educação dos filhos em comum. O artigo 1.597, II, do Código Civil</p><p>dispõe que os filhos nascidos nos trezentos dias subsequentes à</p><p>dissolução da sociedade conjugal presumem-se concebidos na</p><p>constância do casamento. Assim, admitida pelo ordenamento jurídico</p><p>pátrio (artigo 1.723 do Código Civil), inclusive pela Constituição Federal</p><p>(artigo 226, parágrafo 3º), a união estável e reconhecendo-se nela a</p><p>existência de entidade familiar, aplicam-se as disposições contidas no</p><p>artigo 1.597, II, do Código Civil ao regime de união estável.</p><p>Precedentes citados do STF: ADPF 132-RJ, DJe 14/10/2011; do STJ:</p><p>(REsp 1.263.015-RN, DJe 26/6/2012, e REsp 646.259-RS, DJe</p><p>24/8/2010. REsp 1.194.059-SP, Relator Ministro Massami Uyeda,</p><p>julgado em 6/11/2012.)</p><p>14</p><p>Apenas para enfatizar, para que haja a identificação da união estável como</p><p>entidade familiar, é necessário comprovar uma convivência pública, contínua e</p><p>duradoura, e que ainda visem a constituição familiar, observados os princípios que a</p><p>norteiam.</p><p>Quanto à técnica de reprodução assistida heteróloga, cabe dizer que não é</p><p>possível a revogação da autorização por parte do marido ou companheiro após o</p><p>emprego da técnica.</p><p>Sobre este assunto, a doutrina argumenta-se baseada em quatro fatores,</p><p>sendo eles:</p><p>1) A aplicação do princípio da igualdade entre os filhos, que são normalmente</p><p>atingidos quando acontece a técnica de reprodução assistida;</p><p>2) A aplicação do princípio do melhor interesse da criança;</p><p>3) Uma vez acontecendo a técnica, a presunção fica sendo de forma absoluta,</p><p>em observância ao Enunciado de nº 258 do Conselho da Justiça Federal, sendo: “não</p><p>cabe a ação prevista no art. 1.601 do Código Civil se a filiação tiver origem em</p><p>procriação assistida heteróloga, autorizada pelo marido nos termos do inc. V do art.</p><p>1.597, cuja paternidade configura presunção absoluta” (TARTUCE, 2021)</p><p>4) A aplicação da máxima que acaba por vedar a conduta contraditória,</p><p>resguardando assim a boa-fé objetiva para a proteção do filho.</p><p>Ainda sobre esta técnica, existe um entendimento sobre ser impossível a</p><p>quebra de sigilo do sujeito que faz a doação do material genético, até mesmo em</p><p>casos de desamparo do filho. Tal premissa foi disposta no Enunciado de nº 111 do</p><p>CJF/ STF, na I Jornada de Direito Civil, e dizendo basicamente que tanto a adoção</p><p>quanto a reprodução assistida heteróloga caracterizam a condição de filho à criança.</p><p>A diferença entre estas duas modalidades, está no fato de que, na adoção, acontecerá</p><p>um desligamento dos vínculos entre a criança adotada e seus familiares de sangue,</p><p>já na reprodução assistida, não existe nenhum vínculo de parentesco entre a criança</p><p>e o sujeito que doou o material genético para fecundação. (BRASIL, 2002)</p><p>15</p><p>Além dos assuntos tratados acima, outros temas polêmicos têm gerado estudo</p><p>e análise da matéria disposta no artigo 1.599 do CC que trata de a prova de impotência</p><p>do marido afastar a presunção da paternidade.</p><p>Em seguimento, temos um dos artigos que mais sofre críticas doutrinárias, se</p><p>trata do 1.601, onde diz que “cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos</p><p>filhos nascidos de sua mulher, sendo tal ação imprescritível. Parágrafo único.</p><p>Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na ação”.</p><p>(BRASIL, 2002)</p><p>Esta norma é criticada com tamanha intensidade, porque, ao consagrar a</p><p>imprescritibilidade da ação negatória de paternidade pelo marido, despreza a</p><p>parentalidade socioafetiva, fundada na posse de estado de filhos. (TARTUCE, 2021)</p><p>No mesmo sentido, o Supremo Tribunal de Justiça, alegou em sede de Recurso</p><p>Especial, que:</p><p>“Reconhecimento de filiação. Ação declaratória de nulidade.</p><p>Inexistência de relação sanguínea entre as partes. Irrelevância diante</p><p>do vínculo socioafetivo. Merece reforma o acórdão que, ao julgar</p><p>embargos de declaração, impõe multa com amparo no art. 538, par.</p><p>único, CPC se o recurso não apresenta caráter modificativo e se foi</p><p>interposto com expressa finalidade de prequestionar. Inteligência da</p><p>Súmula 98, STJ.</p><p>O reconhecimento de paternidade é válido se reflete a existência</p><p>duradoura do vínculo socioafetivo entre pais e filhos. A ausência de</p><p>vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da</p><p>declaração de vontade consubstanciada no ato do reconhecimento. A</p><p>relação socioafetiva é fato que não pode ser, e não é, desconhecido</p><p>pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro</p><p>civil.</p><p>O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para o</p><p>reconhecimento da filiação naquelas circunstâncias em que há</p><p>dissenso familiar, onde a relação socioafetiva desapareceu ou nunca</p><p>existiu. Não se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de</p><p>sustento a alguém que, não sendo o pai biológico, também não deseja</p><p>ser pai socioafetivo. O contrário sensu, se o afeto persiste de forma</p><p>que pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e</p><p>amparo, é acertado desconsiderar o vínculo meramente sanguíneo,</p><p>para reconhecer a existência de filiação jurídica. Recurso conhecido e</p><p>provido” (STJ, REsp 878.941/DF, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi,</p><p>j. 21.08.2007, DJ 17.09.2007 p. 267).</p><p>16</p><p>Esclarecendo o conteúdo, em um caso que o marido faz reconhecimento do</p><p>filho de sua esposa, sendo como seu filho, este vínculo não poderá ser desfeito. O</p><p>que pode acontecer, é uma possível determinação negatória ou de nulidade sobre o</p><p>registro, visando uma declaração de que o autor não é o pai biológico da criança.</p><p>Em relação à possibilidade do vínculo simultâneo, o Ministro Luiz Fux salientou</p><p>que a "pluriparentalidade", no Direito comparado, pode ser conceituada como "dupla</p><p>paternidade", e deve ser admitida visando o melhor interesse da criança, e também o</p><p>direito que tem o genitor à declaração da paternidade. (FUX, 2016, apud TARTUCE,</p><p>2021)</p><p>Contudo, no fim de 2015, O STJ entendeu ser impossível a multiparentalidade,</p><p>a não ser que se manifeste vontade expressa de todos os envolvidos. Por outro lado,</p><p>a referida Corte entende ser possível o duplo registro na certidão de nascimento da</p><p>criança, nos casos em que a adoção decorrer de relação homoafetiva.</p><p>Ademais, um pai socioafetivo, pode manifestar seu intensão de proteção,</p><p>dispondo, a qualquer momento, do seu patrimônio, através de testamento ou doação,</p><p>não sendo necessariamente sua figuração também na certidão de nascimento.</p><p>Contudo, em 2016 este entendimento ficou superado por uma decisão do STF</p><p>no Recurso Especial 898.060/ SC. A corte deixou claro, ser possível sim o</p><p>reconhecimento de duplo vínculo, mesmo não sendo a vontade de todas as partes</p><p>envolvidas. Tal decisão, de fato, deve vir a influenciar outras decisões a respeito do</p><p>tema.</p><p>“[...] o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário n.º</p><p>898.060, com repercussão geral reconhecida, admitiu a coexistência</p><p>entre as paternidades biológica e a socioafetiva, afastando qualquer</p><p>interpretação apta a ensejar a hierarquização dos vínculos. A</p><p>existência de vínculo com o pai registral não é obstáculo ao exercício</p><p>do direito de busca da origem genética ou de reconhecimento de</p><p>paternidade biológica. Os direitos à ancestralidade, à origem genética</p><p>e ao afeto são, portanto, compatíveis. O reconhecimento do estado de</p><p>filiação configura direito personalíssimo, indisponível e imprescritível,</p><p>que pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma restrição, contra os</p><p>pais ou seus herdeiros” (STJ, REsp 1.618.230/RS, 3.ª Turma, Rel. Min.</p><p>Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 28.03.2017, DJe 10.05.2017).</p><p>17</p><p>Vistos sobre alguns assuntos diferenciados acerca dos artigos mencionados,</p><p>passamos agora as modalidades de reconhecimento da filiação, que ser tanto</p><p>voluntário, quanto mediante provocação judicial.</p><p>4.3 Reconhecimento Voluntário</p><p>O assunto sobre reconhecimento de filhos era antes tratado pela Lei 8.560 de</p><p>1992, intitulada como Lei da Investigação da Paternidade. Atualmente, o tema</p><p>encontra previsão dos artigos 1.607 a 1.617 do Código Civil.</p><p>No primeiro artigo dos citados acima, já temos a previsão que o filho havido</p><p>fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, de forma conjunta ou separada,</p><p>não existindo mais a condição de "filho ilegítimo", como constava nas legislações mais</p><p>antigas.</p><p>O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento será irrevogável, e</p><p>será feito:</p><p>a) através do seu registro, no ato do nascimento;</p><p>b) por escritura pública ou escrito particular, sendo estes devidamente</p><p>arquivados no cartório;</p><p>c) através do testamento, ainda que incidentalmente manifestado;</p><p>d) por expressa manifestação do juiz, ainda que o reconhecimento não haja</p><p>sido o objeto único e principal do ato que o contém. (BRASIL, 2002)</p><p>Não se deve esquecer, que o reconhecimento dos filhos poderá acontecer tanto</p><p>a partir do nascimento, quanto depois da sua morte, se reconhecido deixar</p><p>descendentes.</p><p>O nascituro também pode ser reconhecido. O sujeito, feliz da vida com a</p><p>gravidez da namorada, vai ao Tabelionato, e, mesmo antes do nascimento da criança,</p><p>faz o seu reconhecimento, por escritura pública, por exemplo. Tal ato é perfeitamente</p><p>possível. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>18</p><p>Quando o reconhecimento for feito por um absolutamente incapaz, torna-se</p><p>necessário a instauração de procedimento de jurisdição voluntária, observada a Lei</p><p>de Registros Públicos, juntamente com a presença do Ministério Público.</p><p>Em outro caso, sendo o menor relativamente incapaz, é dispensada a</p><p>assistência no ato de reconhecimento, uma vez que não está a celebrar ato negocial,</p><p>mas, tão somente, reconhecendo um fato (poder-se-ia até mesmo falar na prática de</p><p>um ato jurídico em sentido estrito de conteúdo não negocial). (STOLZE; PAMPLONA,</p><p>2020)</p><p>Seguindo a atual legislação, reiteramos ainda que os filhos maiores só poderão</p><p>ser reconhecidos mediante seu próprio consentimento. Já os filhos menores, poderão</p><p>impugnar o reconhecimento.</p><p>Ainda no que tange o reconhecimento dos filhos fora do casamento, o artigo</p><p>1.611 do CC/02 dispõe que estes filhos, mesmo que reconhecidos por um dos</p><p>cônjuges, não poderá morar no lar deste, sem o consentimento do outro conjugue.</p><p>Esta norma foi instituída baseada dentro dos princípios de razoabilidade.</p><p>De fato, pode ocorrer que, tendo um dos cônjuges reconhecido a existência de</p><p>um filho havido fora do casamento, tal circunstância abale a relação conjugal, a</p><p>depender da natureza dos corações envolvidos. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>Sobre lados opostos, Tartuce diz que este comando privilegia o casamento em</p><p>detrimento do filho, trazendo resquício da odiosa discriminação do filho havido fora do</p><p>casamento. (TARTUCE, 2021)</p><p>Visando o bem-estar e a educação do menor, as normas explicitam</p><p>preocupação sobre a existência de uma figura paterna ou materna, que forneça uma</p><p>educação com qualidade, o inserindo de forma plena à convivência social.</p><p>Neste mesmo entendimento, é disposto no artigo 1.612 do CC/02, sendo: O</p><p>filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu,</p><p>e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender</p><p>aos interesses do menor”. (BRASIL, 2002)</p><p>19</p><p>4.4 Reconhecimento Judicial</p><p>O reconhecimento judicial, significa aquele forçado ou coativo, que acontece</p><p>por meio de uma ação investigatória de paternidade ou de maternidade. Estas ações</p><p>investigatórias são as mais comuns utilizadas atualmente.</p><p>Os casos de reconhecimento materno são menos comuns, mas ainda assim</p><p>acontecem, como por exemplo em um caso que houve a troca de bebes no hospital.</p><p>De acordo com o artigo 27 da Lei 8.069 de 1990, o Estatuto da</p><p>Criança e do</p><p>Adolescente, o reconhecimento de paternidade trata-se de um direito personalíssimo,</p><p>indisponível e imprescritível, podendo ainda ser exercitado contra os pais ou seus</p><p>herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. (BRASIL, 1990)</p><p>Como legitimados ativos para propor esta ação, pode ser o filho, ou o Ministério</p><p>Público, atuando como legitimado extraordinário.</p><p>A questão da legitimidade do Ministério Público, já foi alvo de muitas</p><p>discussões. Parte da doutrina era adepta a ideia de que este órgão não poderia intervir</p><p>em um processo que tem esfera particular. Porém, a majoritária não concorda com</p><p>este argumento, e salienta que a busca pelo reconhecimento paterno, é de interesse</p><p>social, uma vez que se trata da estrutura de um menor.</p><p>No polo passivo, temos os pais, ou, nos casos em que estes já tiverem</p><p>falecidos, os herdeiros deles. Neste entendimento, o STJ julgou ainda procedente que</p><p>os netos podem investigar de forma direta, a relação com seu avô. Vejamos:</p><p>“CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO RESCISÓRIA. CARÊNCIA</p><p>AFASTADA. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE</p><p>RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO AVOENGA E PETIÇÃO DE</p><p>HERANÇA. POSSIBILIDADE JURÍDICA. CC DE 1916, ART. 363.</p><p>I. Preliminar de carência da ação afastada (por maioria).</p><p>II. Legítima a pretensão dos netos em obter, mediante ação</p><p>declaratória, o reconhecimento de relação avoenga e petição de</p><p>herança, se já então falecido seu pai, que em vida não vindicara a</p><p>investigação sobre a sua origem paterna.</p><p>20</p><p>III. Inexistência, por conseguinte, de literal ofensa ao art. 363 do Código</p><p>Civil anterior (por maioria).</p><p>IV. Ação rescisória improcedente” (STJ, AR. 336/RS, Rel. Min. Aldir</p><p>Passarinho Junior, julgado em 24-8-2005, DJ 24-4-2006, p. 343, 2ª</p><p>Seção). “RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. RELAÇÃO AVOENGA.</p><p>RECONHECIMENTO JUDICIAL. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO</p><p>PEDIDO. É juridicamente possível o pedido dos netos formulado</p><p>contra o avô, ou dos herdeiros deste, visando reconhecimento judicial</p><p>da relação avoenga. Nenhuma interpretação pode levar o texto legal</p><p>ao absurdo” (STJ, REsp 604.154/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de</p><p>Barros, julgado em 16-6-2005, DJ 1º-7-2005, p. 518, 3ª Turma)</p><p>A forma mais comum de defesa que o réu (pai) costuma usar, é o argumento</p><p>de que a genitora, à época da concepção do filho, teve relação sexual com outro</p><p>homem. Este argumento deve ser usado com extremo cuidado, uma vez que se dita</p><p>caracterizada por má-fé, pode haver a responsabilização do réu com dano moral.</p><p>De forma geral, as ações de reconhecimento de paternidade devem seguir o</p><p>rito ordinário, qual seja, o procedimento comum previsto no artigo 318 do Código de</p><p>Processo Civil. Contudo, o mesmo Código admite a possibilidade da aplicação do</p><p>procedimento especial no que tange às ações contenciosas de família.</p><p>Como já dito anteriormente, não existe prazo para entrar com esta ação, uma</p><p>vez que ela é de natureza declaratória, interfere no estado da pessoa, e envolve ainda</p><p>a dignidade humana.</p><p>Em relação ao foro competente para julgar a ação investigatória, será o foro de</p><p>domicilio do réu. Se acaso esta ação estiver cumulada com alimentos, a Súmula 1 do</p><p>Supremo Tribunal da Justiça diz que “o foro de domicílio ou residência do alimentando</p><p>é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com</p><p>a de alimentos” (BRASIL, 1990).</p><p>4.5 Obrigatoriedade do exame de DNA e a presunção de paternidade</p><p>Atualmente, o exame de DNA é a prova mais eficaz para o reconhecimento da</p><p>paternidade. Ele fornece resultado com uma certeza quase absoluta, e acabou</p><p>substituindo a prova testemunhal que perdurou durante muitos anos antes.</p><p>21</p><p>Essa prova revelava-se como vexatória, por ser violadora da intimidade e da</p><p>dignidade humana da mãe. (TARTUCE, 2021)</p><p>Quanto a obrigatoriedade em se fazer o exame de DNA, conduzindo</p><p>coercitivamente o suposto pai, o STF já declarou ser um ato impossível. Por maioria</p><p>dos votos, a corte entendeu que o direito à intimidade biológica deve predominar sobre</p><p>a verdade biológica.</p><p>“Investigação de paternidade. Exame DNA. Condução do réu ‘debaixo</p><p>de vara’. Discrepa, a mais não poder, de garantias constitucionais</p><p>implícitas e explícitas – preservação da dignidade humana, da</p><p>intimidade, da intangibilidade do corpo humano, do império da lei e da</p><p>inexecução específica e direta de obrigação de fazer – provimento</p><p>judicial que, em ação civil de investigação de paternidade, implique</p><p>determinação no sentido de o réu ser conduzido ao laboratório,</p><p>‘debaixo de vara’, para coleta do material indispensável à feitura do</p><p>exame DNA. A recusa resolve-se no plano jurídico-instrumental,</p><p>consideradas a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, no que</p><p>voltadas ao deslinde das questões ligadas à prova dos fatos” (STF, HC</p><p>71.373/RS, Rel. Min. Francisco Rezek, Rel. Acórdão Min. Marco</p><p>Aurélio, j. 10.11.1994, Tribunal Pleno, DJ 22.11.1996, p. 45.686)</p><p>Contudo, a corte entende também, que a ação negativa, ou seja, não fazer o</p><p>exame, gera presunção relativa de paternidade. De fato, esta decisão acabou</p><p>influenciando nas jurisprudências futuras.</p><p>Contudo, a corte entende também, que a ação negativa, ou seja, não fazer o</p><p>exame, gera presunção relativa de paternidade. De fato, esta decisão acabou</p><p>influenciando nas legislações e jurisprudências futuras. Como exemplo podemos citar</p><p>dois artigos do Código Civil, sendo: "Aquele que se nega a submeter-se a exame</p><p>médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa", e, "a recusa à perícia</p><p>médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame."</p><p>(BRASIL, 2002)</p><p>Em termos de jurisprudência, temos a súmula 301 do STJ, que dispõe: “Em</p><p>ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz</p><p>presunção juris tantum de paternidade”. (BRASIL, 2004)</p><p>22</p><p>5 ALIMENTOS</p><p>Os alimentos estão vinculados à tutela da pessoa e a satisfação de uma</p><p>necessidade que é fundamental, tal seja, saciar a fome. Em 2010, o artigo 6º da</p><p>Constituição de 1988 sofreu alteração por meio da Emenda Constitucional de nº 64,</p><p>no qual foi introduzido os alimentos como um direito social, reforçando ainda mais a</p><p>importância que tem este instituto no meio social.</p><p>Nos ensinamentos de Orlando Gomes e Maria Helena Diniz, os alimentos</p><p>podem ser conceituados como as prestações devidas para a satisfação das</p><p>necessidades pessoais daquele que não pode provê-las pelo trabalho próprio.</p><p>(GOMES, 1978; DINIZ, 2010, apud TARTUCE, 2021)</p><p>Nos dias atuais, as fontes mais comuns que se revestem da obrigação para</p><p>com os alimentos, são:</p><p>Fonte: TARTUCE, 2021</p><p>23</p><p>O tema sobre alimentos obteve uma renovação e trouxe novas normas no</p><p>Código Civil de 2002. De certa forma, afastou o injustificado fundamento sobre a culpa,</p><p>para o seu devido recebimento.</p><p>A junção de assistência e solidariedade fortaleceu-se, principalmente, nos</p><p>casos decorrentes do casamento e união estável, pois foi estabelecido que o cônjuge</p><p>pode fazer jus a alimentos “naturais” ou “necessários”, ainda que fosse culpado pelo</p><p>fim do casamento. (PEREIRA, 2021)</p><p>A Emenda Constitucional de nº 66/2010, eliminou os prazos que antes se faziam</p><p>necessários para o fim do casamento, o que acarretou também na eliminação da</p><p>prévia separação judicial ao divórcio. Desta forma, ficou extinta a discussão sobre a</p><p>culpa nestas questões, e os alimentos ficaram voltados somente a pertinência que lhe</p><p>é necessária, qual seja, a necessidade de quem recebe, e a possibilidade de quem o</p><p>paga.</p><p>5.1 Da obrigação alimentar</p><p>O alimento advém do dever de sustentar os filhos menores. Independente de</p><p>qual seja sua origem, o valor deve ser determinado sempre observando a real</p><p>necessidade com a possibilidade, respectivamente sobre quem vai receber e quem</p><p>vai doar. O quantum deve ainda ser compatível com o padrão de vida e a condição</p><p>social de ambas as partes.</p><p>De acordo com o artigo 1.695,</p><p>“são devidos os alimentos quando quem os</p><p>pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria</p><p>mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do</p><p>necessário ao seu sustento”. (BRASIL, 2002)</p><p>É importante fazer uma distinção entre "obrigação alimentar" e "dever de</p><p>sustento" para que possamos compreender com clareza este tópico.</p><p>24</p><p>Por um lado, temos o dever do sustento, cujo obrigação é do poder familiar, ou</p><p>seja, é o dever que os pais, ou outro responsável tem, dentro do âmbito familiar, suprir</p><p>o sustento do filho menor até que ele complete a maioridade.</p><p>Já a obrigação familiar, não é o dever somente dos pais, mas também dos</p><p>parentes distintos, como por exemplo os filhos maiores, os ascendentes ou descentes,</p><p>entre outros. Esta obrigação não é presumida, e depende do binômio necessidade e</p><p>possibilidade citado anteriormente. Portanto, a obrigação e o sustento distinguem se</p><p>quanto à estrutura e função. O dever de sustento decorre do poder familiar e a</p><p>obrigação alimentar do parentesco. (PEREIRA, 2021)</p><p>Há que se dizer, que parte da doutrina mais moderna defende uma ideia além dos</p><p>pressupostos citados acima, acreditando que na verdade, a fixação dos alimentos</p><p>deve ser respaldada por um trinômio, que nada mais é que uma medida entre</p><p>razoabilidade ou proporcionalidade. Isto quer dizer, que não bastaria somente a</p><p>aplicação da necessidade do menor, junto da possibilidade de pagamento do devedor,</p><p>e sim, uma junção equilibrada destas duas medidas.</p><p>Ademais, a fixação de alimentos não é um “bilhete premiado de loteria” para o</p><p>alimentando (credor), nem uma “punição” para o alimentante (devedor), mas, sim,</p><p>uma justa composição entre a necessidade de quem pede e o recurso de quem paga.</p><p>(STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>“Ainda que a Constituição Federal (art. 7º, inc. IV) vede a vinculação</p><p>do salário mínimo para qualquer fim, e o Código Civil determine a</p><p>atualização das prestações alimentícias segundo índice oficial (art.</p><p>1.710), não se revela inconstitucional a indexação das prestações</p><p>alimentícias pelo salário mínimo. Há longa data o Supremo Tribunal</p><p>Federal, de forma pacífica, permite a sua utilização como base de</p><p>cálculo de pensões alimentícias (RE 170203 — Ministro Relator Ilmar</p><p>Galvão, julgado em 30-11-1993). Esta posição mantém-se até os dias</p><p>de hoje (RE 274.897 — Ministra Relatora Ellen Gracie — julgado em</p><p>20-9-2005). A legitimidade de tal indexação está cristalizada na Súmula</p><p>490: ‘A pensão correspondente à indenização oriunda de</p><p>responsabilidade civil deve ser calculada com base no salário mínimo</p><p>vigente ao tempo da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores’.</p><p>Ademais, a utilização do salário mínimo como base de cálculo dos</p><p>alimentos foi recentemente confirmada pelo legislador, por meio da Lei</p><p>n. 11.232/05, que, incluindo no Código de Processo Civil o art. 475-Q,</p><p>§ 4º, determinou a aplicação do salário mínimo para fixação dos</p><p>alimentos oriundos de indenização por ato ilícito”. (DIAS, 2006)</p><p>25</p><p>5.2 Princípios e características dos alimentos</p><p>Os alimentos são regidos por vários princípios e características diversas, que</p><p>ao longo do tempo tem ganhado novas interpretações.</p><p> Direito personalíssimo</p><p>Direito de receber alimentos, trata-se de um direito personalíssimo, ou seja, sua</p><p>titularidade não é passível de ser transferida a outra pessoa. Isto, porque ele deve</p><p>atender exatamente a necessidade para o qual se destina, que no caso, é assegurar</p><p>a existência do menor que não pode se manter sozinho.</p><p>Mesmo quando não mais persistir a necessidade do pagamento dos alimentos,</p><p>ainda assim não poderá ser transferido, uma vez que a fixação dos mesmos vem da</p><p>relação de parentesco, e em acordo com as peculiaridades de casa caso.</p><p> Irrenunciabilidade dos alimentos</p><p>Este princípio tem previsão no CC/02, onde sancionou sobre a impossibilidade</p><p>de renúncia de alimentos.</p><p>Apesar de o Código Civil de 1916 vedar a renúncia aos alimentos, o</p><p>entendimento da jurisprudência durante a vigência daquele código era de que esse</p><p>dispositivo não tinha validade quanto aos cônjuges. Portanto, não é possível a</p><p>renúncia entre pais e filhos menores, mas o é entre cônjuges e companheiros.</p><p>(PEREIRA, 2021)</p><p>No mesmo entendimento, temos o Enunciado de nº 263 do Conselho da Justiça</p><p>Federal, referente a III Jornada de Direito Civil, onde diz que “o artigo 1.707 do Código</p><p>Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião</p><p>do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da ‘união estável’. (BRASIL, 2005).</p><p>26</p><p>Este tema é discutido já a algum tempo no Direito Civil Brasileiro, e tem sido</p><p>observado dentre várias formas diferentes. O STJ concluiu que:</p><p>“Processual civil. Embargos Declaratórios. Recebimento como agravo</p><p>regimental. Renúncia. Alimentos decorrentes do casamento. Validade.</p><p>Partilha. Possibilidade de procrastinação na entrega de bens.</p><p>Participação na renda obtida. Requerimento pela via própria. 1.</p><p>Admitem-se como agravo regimental embargos de declaração opostos</p><p>a decisão monocrática proferida pelo relator do feito no Tribunal, em</p><p>nome dos princípios da economia processual e da fungibilidade. 2. A</p><p>renúncia aos alimentos decorrentes do matrimônio é válida e eficaz,</p><p>não sendo permitido que o ex-cônjuge volte a pleitear o encargo, uma</p><p>vez que a prestação alimentícia se assenta na obrigação de mútua</p><p>assistência, encerrada com a separação ou o divórcio. 3.</p><p>A fixação de prestação alimentícia não serve para coibir eventual</p><p>possibilidade de procrastinação da entrega de bens, devendo a parte</p><p>pleitear, pelos meios adequados, a participação na renda auferida com</p><p>a exploração de seu patrimônio. 4. Embargos de declaração recebidos</p><p>como agravo regimental, a que se nega provimento” (STJ, EDcl no</p><p>REsp 832.902/RS, 4.ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j.</p><p>06.10.2009, DJe 19.10.2009).</p><p>“Direito civil e processual civil. Família. Recurso especial. Separação</p><p>judicial. Acordo homologado. Cláusula de renúncia a alimentos.</p><p>Posterior ajuizamento de ação de alimentos por ex-cônjuge. Carência</p><p>de ação. Ilegitimidade ativa. A cláusula de renúncia a alimentos,</p><p>constante em acordo de separação devidamente homologado, é válida</p><p>e eficaz, não permitindo ao ex-cônjuge que renunciou, a pretensão de</p><p>ser pensionado ou voltar a pleitear o encargo. Deve ser reconhecida a</p><p>carência da ação, por ilegitimidade ativa do ex-cônjuge para postular</p><p>em juízo o que anteriormente renunciara expressamente” (STJ, REsp</p><p>701.902/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15.09.2005, DJ</p><p>03.10.2005, p. 249).</p><p>Por outro lado, Tartuce afirma que os alimentos são sempre irrenunciáveis, uma</p><p>vez que o artigo 1.707 está em total sintonia com o art. 11 do CC pelo qual os direitos</p><p>da personalidade são, em regra, irrenunciáveis. (TARTUCE, 2021)</p><p> Intransmissibilidade dos alimentos</p><p>Antes, o Código Civil de 1916, dispunha em seu artigo 402, que o encargo</p><p>alimentar era intransmissível. Mais tarde a Lei n. 6.515/77 determinava que a</p><p>obrigação alimentar entre cônjuges poderia ser transmitida aos herdeiros do devedor.</p><p>27</p><p>Contudo, a jurisprudência compreendia que somente a dívida do pagamento dos</p><p>alimentos poderia ser transmitida.</p><p>A atual legislação, com base em seu artigo 1.700, dispõe que “a obrigação de</p><p>prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do artigo 1.694. ”</p><p>(BRASIL, 2002)</p><p>Desta forma, ficou preservado o caráter personalíssimo do instituto, vez que este</p><p>dispositivo determina que apenas o dever de cumprir a obrigação de prestar alimentos</p><p>se transmite aos herdeiros do devedor, não sendo transferido o direito a alimentos e</p><p>a obrigação em si, que é pessoal. (PEREIRA, 2021)</p><p>Podemos dizer, que a transmissão dos alimentos, também tem origem</p><p>constitucional, através dos princípios da dignidade humana e da solidariedade familiar.</p><p>Neste viés, os alimentos</p><p>ganham força de direito fundamental, uma vez que visam</p><p>proporcionar uma vida digna aos filhos necessitados.</p><p> Incedibilidade, impenhorabilidade e incompensabilidade dos alimentos</p><p>Uma vez que os alimentos decorrem de caráter personalíssimo, eles não podem</p><p>ser cedidos, penhorados ou compensados. Esta limitação, se deve ao fato de que</p><p>cada caso necessita de uma avaliação individual, devido as suas peculiaridades.</p><p>Os alimentos são para garantir a subsistência do alimentário, razão pela qual</p><p>inadmissível que credores privem o necessitado do valor que assegura sua própria</p><p>sobrevivência. (PEREIRA, 2021)</p><p>Em todo caso, existe a exceção, que se trata da penhora dos bens com o valor da</p><p>pensão, ou ainda parte deles, sempre em preservação aos alimentos naturais.</p><p>É possível ainda, que seja penhorado os valores de prestações que já venceram</p><p>e não foram pagas, ficando caracterizados como crédito comum, uma vez que, por</p><p>conta do tempo que se passou, perdeu seu caráter de sobrevivência.</p><p>28</p><p>Por fim, ainda temos o Estatuto do Idoso, que em seu artigo 13 determina que as</p><p>transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de</p><p>Justiça ou Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título</p><p>executivo extrajudicial nos termos da lei processual civil. (BRASIL, 2003)</p><p> Irrepetibilidade dos alimentos</p><p>Através deste princípio, temos a regra de que os alimentos não são passíveis de</p><p>devolução. Ou seja, uma vez pagos, e posteriormente ser descoberto que os valores</p><p>não eram devidos, não há que se falar em restituição.</p><p>Importante lembrar, que a irrepetibilidade dos alimentos acontece por algumas</p><p>exceções, como por exemplo para evitar o enriquecimento ilícito. Lembrando ainda,</p><p>que, que para haver enriquecimento ilícito do alimentário não é preciso que haja</p><p>necessariamente o empobrecimento do devedor. (PEREIRA, 2021)</p><p>Ultimamente tem sido comum alguns credores abusarem sobre o conhecimento</p><p>deste princípio. Primeiro ingressam com o processo judicial pleiteando a Revisão ou</p><p>exoneração dos alimentos, e posteriormente, recebem a garantia de recebimento</p><p>sobre o valor que foi fixado anteriormente por maior tempo.</p><p>Soa sobremaneira injusto não restituir alimentos claramente indevidos</p><p>neste estágio de independência do credor, em notória infração ao</p><p>princípio do “não enriquecimento sem causa”.</p><p>O enriquecimento ilícito gera obrigação de restituir o acréscimo</p><p>patrimonial indevido no acervo de alguém à custa do sacrifício de</p><p>outrem.</p><p>Decorre o dever de restituir àquele que recebeu o que não lhe era</p><p>devido, ou se existente a dívida, esta se tornou extinta (...) penso que</p><p>no encalço da verdadeira solução processual capaz de impedir lesões</p><p>pecuniárias do devedor ou do credor alimentar em ação exoneratória</p><p>de alimentos, enquanto o decisor apura onde reside o direito, está na</p><p>proposição de uma ação de exoneração cumulada com pedido</p><p>expresso de restituição das pensões pagas a contar da citação, com</p><p>fulcro no enriquecimento sem causa. (ROLF, 1999, apud, PEREIRA,</p><p>2021)</p><p>29</p><p>Já nas palavras de Maria Berenice, o entendimento é de que a restituição é devida</p><p>somente quando há comprovada má-fé ou postura maliciosa do autor, quando a</p><p>irrepetibilidade seria relativizada. (DIAS, 2016)</p><p>Podemos dizer, que só haverá restituição dos alimentos, se eles tiverem sido</p><p>pagos por quem não tinha a obrigação de pagá-los. Todavia, é importante provar que</p><p>tal pagamento era devido por terceiro, que lhe fará então a restituição do valor.</p><p> Alternatividade da prestação alimentar ou pensão de forma mista e os</p><p>indexadores</p><p>De acordo com o artigo 1.701, é possível que o pagamento da pensão ocorra</p><p>diretamente com o credor. Como por exemplo fornecendo sustento e dando</p><p>hospedagem, sem que isto cause prejuízo sobre o dever de fornecer meios que visem</p><p>a educação do menor. (BRASIL, 2002)</p><p>A pensão mista não é comum de ser determinada em juízos de família, pois existe</p><p>um entendimento que esse ato causaria uma certa dificuldade de fiscalizar a</p><p>execução.</p><p>Mesmo que este entendimento aconteça por boa fé, este argumento não se</p><p>mostra compatível com o que acontece na prática, pois, de fato, a pensão alimentar</p><p>de forma mista se mostra benéfica para ambas as partes.</p><p>O que acontece na prática, é que a maioria dos processos que envolvem divórcio</p><p>e separação, as partes têm preferência em executar a obrigação de alimentos de</p><p>forma mista.</p><p>Um ponto importante a ser lembrado, é que a pensão alimentícia deve sempre ter</p><p>uma base econômica que sirva de parâmetro para fixação de valores, evitando que</p><p>assim, que não perca seu valor com o passar do tempo. No Brasil, o parâmetro comum</p><p>é o salário-mínimo.</p><p>30</p><p>Acerca deste assunto, devemos lembrar que a Constituição de 1988, em seu</p><p>artigo 7º, IV, veda a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim. Porém,</p><p>jurisprudências tanto do STJ quanto do STF, tem contrariado este dispositivo.</p><p>Parte da doutrina entende ser possível a indexação da pensão alimentícia ao</p><p>salário-mínimo, inclusive quando fixados alimentos in natura ou de forma mista, pois</p><p>nestes casos poderá haver a estipulação de um valor correspondente a estes em</p><p>dinheiro para efeito de execução. (PEREIRA, 2021)</p><p>6 CLASSIFICAÇÕES</p><p>6.1 Fontes normativas</p><p>No que tange as fontes normativas, os alimentos podem ser:</p><p>a) Alimentos legais que derivam do próprio Direito de Família: são aqueles</p><p>alimentos que vieram das relações existentes entre parentes ou, através do</p><p>casamento ou união estável. Vale lembrar que apenas esta modalidade autoriza a</p><p>prisão civil.</p><p>b) convencionais ou voluntários, com origem da autonomia privada: os</p><p>alimentos convencionais são aqueles que decorrem da autonomia da vontade, ou</p><p>seja, o indivíduo assume uma obrigação de prestar alimentos, mesmo não sendo sua</p><p>a obrigação.</p><p>c) as legais que têm origem obrigacional: são aqueles alimentos indenizatórios</p><p>que decorreram de uma responsabilidade civil do devedor. De forma geral, são</p><p>proferidos em sentença.</p><p>“... são aqueles devidos em virtude da prática de um ato ilícito como,</p><p>por exemplo, o homicídio, hipótese em que as pessoas que do morto</p><p>dependiam podem pleiteá-los. Estão previstos no art. 948, II, do CC,</p><p>tendo fundamento a responsabilidade civil e lucros cessantes,</p><p>conforme exposto no volume 2 da presente Coleção (TARTUCE,</p><p>31</p><p>Flávio. Direito civil..., 2010). Também não cabe prisão civil pela falta de</p><p>pagamento desses alimentos (STJ, HC 92.100/DF, Rel. Min. Ari</p><p>Pargendler, 3ª Turma, julgado em 13-11-2007, DJ 1º-2-2008, p. 1; STJ,</p><p>Responsabilidade 93.948/SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, 3ª Turma,</p><p>julgado em 2- 4-1998, DJ 1º-6-1998, p. 79) ”</p><p>Os alimentos indenizatórios nem sempre serão de uma relação entre</p><p>responsável e filho. Existem aqueles provenientes de ato ilícito, como por exemplo</p><p>pode acontecer em alguns casos de homicídio, em que há a prestação de alimentos</p><p>às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida</p><p>da vítima. (BRASIL, 2002)</p><p>6.2 Quanto à natureza</p><p>Em relação à natureza ou sua abrangência, os alimentos podem ser</p><p>classificados como:</p><p>a) Civis ou côngruos: são aqueles alimentos que não estão limitados à</p><p>subsistência, uma vez que abrangem também os gastos necessários para a</p><p>manutenção da condição.</p><p>Esta modalidade visa à manutenção do status quo ante, ou seja, a condição</p><p>anterior da pessoa, tendo um conteúdo mais amplo. Em regra, os alimentos são</p><p>devidos dessa forma, incidindo sempre a razoabilidade. (STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>b) Alimentos naturais: estes, são somente aqueles que visam à sobrevivência</p><p>da pessoa, ou seja, apenas o indispensável. Nesta categoria, fazem parte a</p><p>alimentação, moradia, e saúde, sempre observado o princípio da razoabilidade.</p><p>De maneira eventual, também se pode incluir a educação de menores. Esse</p><p>conceito ganhou importância com o Código Civil de 2002,</p><p>pois o culpado pelo fim da</p><p>união somente poderá pleitear esses alimentos do inocente. (TARTUCE, 2021)</p><p>32</p><p>Quanto ao tempo:</p><p>a) pretéritos ou vencidos: são aqueles alimentos requeridos aos meses</p><p>anteriores ao próprio ajuizamento da ação de alimentos. Todavia, estes não têm sido</p><p>admitidos no sistema brasileiro. A doutrina majoritária argumenta que, se o autor da</p><p>causa conseguiu sobreviver até o momento da referida ação, não existe motivos para</p><p>postular pagamentos referentes a fatos passados. Ademais, o princípio que rege os</p><p>alimentos se trata do princípio da atualidade.</p><p>Contudo, não podemos esquecer os alimentos já fixados por sentença ou</p><p>acordo entre as partes, podem ser cobrados no prazo prescricional de dois anos,</p><p>contados do seu vencimento. (BRASIL, 2002)</p><p>b) Alimentos presentes ou atuais: são aqueles devidos a partir do ajuizamento</p><p>da ação.</p><p>c) Alimentos futuros: aqueles que serão possíveis a partir da sentença proferida</p><p>em juízo.</p><p>6.3 Quanto à forma de pagamento</p><p>a) Próprios: são aqueles pagos para suprir às necessidades básicas do sujeito.</p><p>O pagamento estar em acordo com a sua condição social.</p><p>Nos termos da premissa 7, publicada na Edição 65 da ferramenta</p><p>Jurisprudência em Teses do STJ: “é possível a modificação da forma da prestação</p><p>alimentar, desde que demonstrada a razão pela qual a modalidade anterior não mais</p><p>atende à finalidade da obrigação, ainda que não haja alteração na condição financeira</p><p>das partes nem pretensão de modificação do valor da pensão”. (TARTUCE, 2021)</p><p>b) impróprios: apesar da nomenclatura, esta modalidade consiste em</p><p>pagamentos de natureza pecuniária, que é a mais comum quando se trata de</p><p>prestação de alimentos.</p><p>33</p><p>Como já dito anteriormente, normalmente, os valores são fixados tem como</p><p>base o salário mínimo, todavia, este critério não é obrigatório.</p><p>De acordo com o artigo 1.710 do CC/02, os alimentos devem estar sempre</p><p>atualizados de acordo com os índices oficiais. No entendimento do Superior Tribunal</p><p>de Justiça, esse índice é o INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor:</p><p>“[...] por ser a correção monetária mera recomposição do valor real da</p><p>pensão alimentícia, é de rigor que conste, expressamente, da decisão</p><p>concessiva de alimentos – sejam provisórios ou definitivos –, o índice</p><p>de atualização monetária, conforme determina o art. 1.710 do Código</p><p>Civil. Diante do lapso temporal transcorrido, deveria ter havido</p><p>incidência da correção monetária sobre o valor dos alimentos</p><p>provisórios, independentemente da iminência da prolação de sentença,</p><p>na qual seria novamente analisado o binômio necessidade-</p><p>possibilidade para determinação do valor definitivo da pensão. Na</p><p>hipótese, para a correção monetária, faz-se mais adequada a utilização</p><p>do INPC, em consonância com a jurisprudência do STJ, no sentido da</p><p>utilização do referido índice para correção monetária dos débitos</p><p>judiciais” (STJ, REsp 1.258.824/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy</p><p>Andrighi, j. 24.04.2014, DJe 30.05.2014).</p><p>6.4 Quanto à finalidade</p><p>a) alimentos definitivos: são aqueles fixados de forma definitiva, através de</p><p>acordo de vontades ou de sentença judicial. Lembrando que a Lei 11.441/2007 criou</p><p>a possibilidade de que esses alimentos sejam registrados por meio de escritura</p><p>pública, quando necessários em decorrência de separação ou de divórcio</p><p>extrajudicial.</p><p>Mesmo sendo definitivos, eles podem ser revisados caso haja alteração no que</p><p>tange aos pressupostos do binômio aplicado, podendo assim, sofrer diminuição ou</p><p>aumento do valor fixado.</p><p>Neste entendimento, a Súmula 621 do STJ, criada em 2018, diz que: “os efeitos</p><p>da sentença que reduz, majoram ou exoneram o alimentante do pagamento retroagem</p><p>à data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade”. (BRASIL, 2018)</p><p>34</p><p>b) alimentos provisórios: são aqueles fixados antes da sentença final na ação</p><p>de alimentos, em caráter liminar, seguindo o rito especial previsto na Lei 5.478/1968</p><p>(Lei de Alimentos). Para que seja aplicada a liminar, é necessário a comprovação do</p><p>parentesco da relação.</p><p>Portanto, a classificação se resume da seguinte forma:</p><p>Fonte: STOLZE; PAMPLONA, 2020</p><p>Por fim, temos os alimentos transitórios: esta modalidade tem sido bastante</p><p>reconhecida nas jurisprudências do Supremo Tribunal de Justiça. São os alimentos</p><p>proferidos em benefício do ex-cônjuge ou companheiro, por um determinado tempo.</p><p>“A obrigação de prestar alimentos transitórios – a tempo certo – é</p><p>cabível, em regra, quando o alimentando é pessoa com idade,</p><p>condições e formação profissional compatíveis com uma provável</p><p>inserção no mercado de trabalho, necessitando dos alimentos apenas</p><p>até que atinja sua autonomia financeira, momento em que se</p><p>emancipará da tutela do alimentante – outrora provedor do lar –, que</p><p>será então liberado da obrigação, a qual se extinguirá</p><p>automaticamente” (STJ, REsp 1.025.769/MG, 3.ª Turma, Rel. Min.</p><p>Nancy Andrighi, j. 24.08.2010, DJe 01.09.2010, ver Informativo n. 444).</p><p>35</p><p>7 ALIMENTOS GRAVÍDICOS</p><p>Esta modalidade de alimentos, foi inserida pela Lei 11.804 de 2008, e se</p><p>configura como sendo o direito de receber alimentos a mulher grávida. Este direito,</p><p>abrange ainda os valores que sejam suficientes para suprir outras inúmeras despesas</p><p>durante o período de gravidez, como assistência médica, gastos com o parto, entre</p><p>outros.</p><p>Essa verba alimentar refere-se à parte das despesas que deverá ser custeada</p><p>pelo futuro pai registral, considerando a contribuição que também deverá ser dada</p><p>pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos. (PEREIRA, 2021)</p><p>Se for comprovado a existência de indícios da paternidade, o juiz irá fixar o</p><p>pagamento dos alimentos até o período de nascimento da criança. Posterior ao</p><p>nascimento, os alimentos gravídicos passam então a ter caráter de pensão alimentícia</p><p>para o menor, até que uma das partes manifeste interesse na sua revisão.</p><p>Importante lembrar, que O IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família,</p><p>criou veto que determina a responsabilidade objetiva da mãe, em danos morais e</p><p>materiais, caso posteriormente haja um resultado negativo do exame de paternidade.</p><p>Se não houver divergência sobre o vínculo sanguíneo, o caso será solucionado</p><p>de maneira simples. Todavia, a ação de alimentos é sempre urgente, sob pena de</p><p>perecimento do direito com o nascimento, quando os alimentos, obviamente, não mais</p><p>se destinarão à gestante, mas sim ao filho recém-nascido. (PEREIRA, 2021)</p><p>Em relação ao valor a ser fixado, os alimentos gravídicos seguem o mesmo</p><p>procedimento da pensão alimentícia comum, ou seja, em observância ao binômio da</p><p>necessidade e possibilidade.</p><p>36</p><p>8 A PRISÃO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS</p><p>Em casos de descumprimento voluntário sobre a obrigação que tenha o réu de</p><p>pagar os alimentos devidos, acarreta a prisão civil do devedor. Salienta-se, que se</p><p>trata da possibilidade da única prisão civil em todo o sistema jurídico social.</p><p>A prisão civil nestes casos, mostra-se de grande importância em face das</p><p>necessidades dos interessados, uma vez que, na maioria dos casos, grande parte dos</p><p>devedores, só veem a cumprir com sua obrigação, quando ameaçados pela ordem de</p><p>prisão.</p><p>“A imposição da medida coercitiva pressupõe que o devedor, citado,</p><p>deixe escoar o prazo de três dias sem pagar, nem provar que já o fez,</p><p>ou que está impossibilitado de fazê-lo (art. 733, caput). Omisso o</p><p>executado em efetuar o pagamento, ou em oferecer escusa que pareça</p><p>justa ao órgão judicial, este, sem necessidade de requerimento do</p><p>credor, decretará a prisão do devedor, por tempo não inferior a um nem</p><p>superior a três meses (art. 733, § 1º, derrogado aqui o art. 19, caput, in</p><p>fine, da Lei n. 5.478). Como não se trata de punição, mas de</p><p>providência destinada a atuar no âmbito do executado, a fim de que</p><p>realize a prestação, é natural que, se ele pagar o que deve, determine</p><p>o juiz a suspensão da prisão</p><p>(art. 733, § 3º), quer já tenha começado a</p><p>ser cumprida, quer no caso contrário” (MOREIRA, 1997, apud</p><p>(STOLZE; PAMPLONA, 2020)</p><p>Seguindo o entendimento, o STJ editou a Súmula 309, determinando que “O</p><p>débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três</p><p>prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do</p><p>processo”. (BRASIL, 2006)</p><p>Por fim, vale ainda lembrar, que em acordo com os artigos 528, §1º, e 782, §3º</p><p>do Código de Processo Civil, é permitido a inscrição do nome do devedor em cadastro</p><p>restritivo.</p><p>37</p><p>9 ALIMENTOS NA GUARDA COMPARTILHADA</p><p>Quando acontece o divórcio do casal, a obrigação de sustento de alimentos</p><p>aos filhos é das duas partes, em acordo com o ganho de cada um. De maneira geral,</p><p>esta regra se aplica a todo tipo de pensão alimentícia, inclusive nas situações de</p><p>guarda.</p><p>Todavia, em alguns casos esta regra pode ser modificada, a depender de como</p><p>está sujeita a guarda compartilhada. Na guarda unilateral, ou mesmo na tradicional</p><p>guarda compartilhada em que a criança tem apenas uma residência, o cálculo para o</p><p>binômio necessidade x possibilidade é o de sempre. (PEREIRA, 2021)</p><p>Já a alguns anos, a implementação da guarda compartilhada tem ganhado</p><p>espaço nos sistemas de divórcio, ficando a guarda dos filhos divididas em tempos</p><p>iguais, e em duas casas. Desta forma, as despesas fixas do filho tais como educação</p><p>e saúde, devem ser divididas entre os pais à medida da possibilidade de cada um.</p><p>10 REVISÃO, EXONERAÇÃO E EXTINÇÃO DOS ALIMENTOS</p><p>Não existe uma limitação temporal regulamentada em lei para obrigação</p><p>alimentar. Enquanto houver justificativa, a obrigação deve ser mantida.</p><p>De acordo com o artigo 15 da lei 5.478/1968, a decisão judicial sobre alimentos</p><p>não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista, em face da modificação</p><p>da situação financeira dos interessados. (BRASIL, 1968)</p><p>O artigo 1.701 do CC/2002 nos diz que a pessoa obrigada a suprir alimentos</p><p>poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do</p><p>dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor. (BRASIL, 2002)</p><p>Quando o legislador usou a referência "quando menor", pode causar certa</p><p>confusão sobre o entendimento temporal, porém, não deve ser compreendida como</p><p>38</p><p>um prazo máximo de exigibilidade da obrigação alimentar, mas, sim, como uma</p><p>reafirmação do dever de prestar educação aos menores.</p><p>Normalmente, o interessado em pedir a redução do valor, é o alimentante. Para</p><p>que seja possível a decisão favorável, ele deverá comprovar por meio de documentos</p><p>comprobatórios, que não é mais possível arcar com o valor que se vem pagando.</p><p>Já o pedido de revisão para aumento do valor, geralmente é pleiteado pelo</p><p>alimentado, que também deve comprovar a existência de algumas hipóteses, como</p><p>por exemplo:</p><p>a) Aumento do salário;</p><p>b) Evidência de riqueza do alimentante;</p><p>c) Aumento do patrimônio por motivo de herança;</p><p>d) Criação de empresas.</p><p>Tanto a revisão quanto a exoneração, estão presentes no artigo 1.699, sendo:</p><p>“Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os</p><p>supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as</p><p>circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo”. (BRASIL, 2002)</p><p>A exoneração, consiste no ato de reconhecimento da cessação da obrigação</p><p>de alimentos, desta forma, quando aplicada, é porque o credor não necessita mais,</p><p>ou porque o devedor não possuí mais condições.</p><p>Contudo, não devemos confundir a exoneração, com a extinção da obrigação</p><p>de pagar alimentos. A extinção encontra previsão no CC/02 da seguinte forma:</p><p>“Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do</p><p>credor, cessa o dever de prestar alimentos.</p><p>Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a</p><p>alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor”.</p><p>(BRASIL, 2002)</p><p>A criação deste dispositivo, se deve ao fato de que se o indivíduo, credor de</p><p>alimentos, resolve formar novo núcleo familiar, parte-se do pressuposto de que irá</p><p>assumir as suas obrigações de forma autônoma. (STOLZE; PAMPLONA, 2020).</p><p>39</p><p>São hipóteses de extinção da obrigação:</p><p>a) a morte do credor, uma vez que a obrigação é personalíssima;</p><p>b) modificação substancial no binômio ou trinômio alimentar, ou o fim de um</p><p>dos seus requisitos;</p><p>c) quando o menor adquirir maioridade. Todavia a extinção não acontece de</p><p>maneira automática, e ademais, a súmula 358 do STJ diz que “o cancelamento de</p><p>pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,</p><p>mediante contraditório, ainda que nos próprios autos”.</p><p>d) Extinção do casamento ou da união estável. Em todo caso, o artigo. 1.709</p><p>do CC/02 permite que a sentença de divórcio fixe alimentos.</p><p>e) Comportamento indigno do credor em relação ao devedor. O parágrafo</p><p>único, do artigo 1.708, do CC/02 dispõe que “com relação ao credor cessa, também,</p><p>o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor”. Em casos</p><p>de crimes contra a vida ou contra a honra praticados pelo credor contra o devedor, é</p><p>justificada a extinção dos alimentos por indignidade.</p><p>40</p><p>11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil comentado. 10. ed. Rio de Janeiro: Francisco</p><p>Alves, 1955.</p><p>BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:</p><p><http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: set.</p><p>2021.</p><p>BRASIL, Lei de nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em</p><p><http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em set.</p><p>2021.</p><p>BRASIL, Supremo Tribunal da Justiça. Súmulas. Disponível em:</p><p><https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/Sml/article/view/64/4037></p><p>Acesso em: set. 2021.</p><p>DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: Editora Revista</p><p>dos Tribunais, 2016.</p><p>DIAS, Maria Berenice. Obrigação alimentar e o descabimento de sua atualização</p><p>pelo IGP-M. Disponível em:</p><p><http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI33179,71043Obrigacao+alimentar+e+o+</p><p>descabimento+de+sua+atualizacao+pelo+IGPM>. Acesso em: set. 2021.</p><p>DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.</p><p>GOMES, Orlando. Direito de família. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978.</p><p>41</p><p>LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Famílias. São Paulo: Saraiva, 2009.</p><p>MADALENO, Rolf. Direito de família: aspectos polêmicos. 2. ed., Porto Alegre:</p><p>Livraria do Advogado,1999.</p><p>MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro. 19. ed., Rio de</p><p>Janeiro: Forense, 1997.</p><p>PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias. Rio de Janeiro: Forense, 2021.</p><p>STOLZE, Pablo; Pamplona Filho, Rodolfo. Manual de direito civil. São Paulo:</p><p>Saraiva Educação, 2020.</p><p>TARTUCE, Flávio Manual de Direito Civil: volume único. Rio de Janeiro, Forense;</p><p>METODO, 2021</p><p>TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil — Direito de Família. São</p><p>Paulo: Método, 2010,</p>