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<p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>1 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Os Referenciais Nacionais para a Formação de Professores</p><p>Formação de Professores para a Educação Básica</p><p>A formação de professores para as séries iniciais do ensino fundamental, tem suscitado amplos deba-</p><p>tes que são do interesse tanto das instituições formadoras, quanto dos sistemas municipal e estadual</p><p>de ensino, pois, a qualidade desta formação constitui um dos fatores que interfere diretamente na</p><p>qualidade do ensino, oferecido nas escolas da rede pública e privada de ensino.</p><p>Em 1977 o Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro passou a pertencer a Fundação de</p><p>Apoio a Escola Técnica e, em 1998 é criado o Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de</p><p>Janeiro e seu Curso Normal Superior. Assim, a partir de 1998, tenho vivenciado a experiência da cria-</p><p>ção do Curso Normal Superior do Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro –</p><p>ISERJ, desde quando tenho participado da elaboração e implementação do projeto pedagógico do</p><p>curso. Outras atividades me propiciaram experiências na elaboração de projetos pedagógicos para</p><p>organização e criação de Institutos Superiores, Cursos Normais Superiores, bem como a revisão e</p><p>elaboração de projetos de diferentes licenciaturas para Instituições de Ensino Superior privadas. Tudo</p><p>isso associado ao estudo e análise dos preceitos legais conduziram-me a concepção de uma pro-</p><p>posta de organização curricular que pudesse subsidiar a instituições no sentido de elaborarem seus</p><p>projetos.</p><p>Vale ressaltar que se trata apenas de uma proposta, uma sugestão e que a mesma não se esgota em</p><p>si, pois dependerá, principalmente, da realidade de cada instituição. Além disso, essa é apenas uma</p><p>das formas possíveis de se conceber um projeto pedagógico institucional de cursos formadores, face</p><p>a inúmeras outras vertentes, caracterizando assim, o preceito legal da flexibilidade.</p><p>A Formação De Professores Para A Educação Básica E A Construção Do Projeto Político-Pe-</p><p>dagógico Institucional</p><p>O mundo contemporâneo tem trazido enormes questionamentos quanto ao papel dos profissionais de</p><p>educação, exigindo, por isso, sua redefinição. A revisão do papel desses profissionais tem buscado</p><p>contribuições nas novas concepções sobre a educação, nas teorias mais atuais de desenvolvimento</p><p>e aprendizagem. O impacto da tecnologia da informação e das comunicações sobre os processos de</p><p>ensino e de aprendizagem também tem contribuído para esse repensar. A necessidade de novas me-</p><p>todologias, técnicas e materiais de apoio são, do mesmo modo, um desafio.</p><p>Os cursos de formação não têm conseguido atender às exigências apresentadas, quanto a prepara-</p><p>ção desses profissionais. As novas demandas tornam imprescindível a revisão dos paradigmas de</p><p>formação dos profissionais para educação básica, tendo como pressupostos alguns indicadores:</p><p> estimular e promover ações que fortaleçam processos de mudança no interior das instituições for-</p><p>madoras;</p><p> Promover o desenvolvimento e aprimoramento da capacidade acadêmica e profissional dos docen-</p><p>tes formadores;</p><p> Reformular os currículos dos cursos formadores, visando sua atualização e aperfeiçoamento;</p><p> Conceber cursos formadores articulados com as demandas da realidade escolar na sociedade con-</p><p>temporânea;</p><p> Conceber cursos formadores articulados com a nova concepção e organização pedagógica e curri-</p><p>cular da educação básica brasileira, preparando os profissionais que atuarão nesse nível de ensino</p><p>para serem os agentes das mudanças em curso;</p><p> Promover a melhoria da infra-estrutura institucional, especialmente quanto a recursos bibliográficos</p><p>e tecnológicos.</p><p>A Lei 9394/96 traçou diretrizes inovadoras para a organização e a gestão dos sistemas da educação</p><p>básica. Na perspectiva de superar a justaposição de etapas fragmentadas, que tem caracterizado a</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>2 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>organização da educação escolar até seu advento, a LDBEN aponta para uma concepção de educa-</p><p>ção fundada no princípio de continuidade entre educação infantil, ensino fundamental e ensino médio,</p><p>caracterizando a educação básica, a ser universalizada.</p><p>Outras mudanças, promovidas pela LDBEN, precisam ser destacadas:</p><p> Introdução de novo paradigma curricular para a educação básica, baseado em competências a se-</p><p>rem construídas pelos alunos, de tal modo que os conteúdos não têm sustentação em si mesmos,</p><p>mas constituem meios para desenvolver capacidades;</p><p> Introdução de princípios de organização e gestão de sistemas escolares baseados na flexibilidade,</p><p>descentralização e autonomia da escola, associados à avaliação de resultados;</p><p> Introdução do preceito da diversidade curricular para atender às características e peculiaridades re-</p><p>gionais.</p><p>Novas tarefas se impõem à escola, como instituição que desenvolve uma prática educativa, planejada</p><p>e sistemática, por período extenso e contínuo. Assim, com relação à educação infantil, cabe à escola</p><p>a importante tarefa de favorecer a construção da identidade e da autonomia da criança e desenvolver</p><p>o seu conhecimento do mundo. Do mesmo modo, para os alunos dos ensinos fundamental e médio, a</p><p>escola deverá estimular a valorização do conhecimento, dos bens culturais, do trabalho, a autonomia</p><p>intelectual, a investigação, o questionamento e a pesquisa. É necessário, também, que o aluno exer-</p><p>cite o pensamento crítico e reflexivo, aprenda a comprometer-se, a assumir responsabilidades, a utili-</p><p>zar diferentes recursos tecnológicos e comunicar-se usando várias linguagens.</p><p>Face ao novo papel atribuído à escola, impõe-se a revisão da formação, buscando fortalecer ou pro-</p><p>mover processos de mudança nas instituições formadoras. Nesse sentido as mudanças deverão ser</p><p>profundas, encampando aspectos essenciais da formação inicial de profissionais para atuação na</p><p>educação básica, tais como:</p><p> a mudança nas formas de organização institucional;</p><p> a seleção e organização de conteúdos que atendam às necessidades da atuação dos profissionais;</p><p> nova concepção dos processos formativos que deverão estar fundados no desenvolvimento das</p><p>competências do profissional;</p><p> a articulação entre as instituições formadoras de profissionais da educação e os sistemas de ensino</p><p>gestores da educação básica, para garantir preparação profissional.</p><p>No sentido de promover as mudanças profundas, e necessárias, na formação de profissionais para o</p><p>magistério da educação básica, a Lei 9394/96 cria a figura do Instituto Superior de Educação como</p><p>espaço privilegiado para esta formação. Dentro desse Instituto, inclui o Curso Normal Superior, desti-</p><p>nado à preparação, em nível superior, dos professores para as séries iniciais do ensino fundamental</p><p>e educação infantil e abriga as licenciaturas, para eliminar o esquema 3+1 adotado anteriormente.</p><p>O presente artigo contém alguns indicativos para subsidiar instituições de ensino superior na elabora-</p><p>ção de projetos pedagógicos para a formação inicial dos profissionais para atuação na educação bá-</p><p>sica em consonância com:</p><p> os princípios prescritos na Lei 9394/96;</p><p> as normas instituídas pelo Parecer CNE/CP 115/1999 e pela Resolução CNE/CP nº.01/1999, que</p><p>dispõe sobre a organização dos institutos superiores de educação;</p><p> as normas instituídas pelo Parecer CNE/CP n.º 9/2001 e sua Resolução CNE/CP nº 1/2002, que</p><p>dispõe sobre as Diretrizes Curriculares para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica</p><p>em Cursos Superiores;</p><p> as normas instituídas pelo Parecer nº28/2001 e sua Resolução CNE/CP nº 2/2002, que dispõe so-</p><p>bre a duração e carga horária dos cursos formadores;</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>3 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p> o documento norteador para as comissões de verificação com vistas à autorização e reconheci-</p><p>mento de curso normal superior;</p><p> os preceitos constantes dos Referenciais Curriculares para a educação básica;</p><p> os preceitos dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação básica.</p><p>Suporte Legal</p><p>Princípios Metodológicos Norteadores</p><p> Utilizar modos diferentes e flexíveis de organização do tempo, do espaço, e de agrupamento dos</p><p>alunos para favorecer e enriquecer seu processo de desenvolvimento e aprendizagem;</p><p> Manejar diferentes estratégias de comunicação dos conteúdos, sabendo eleger as mais adequadas,</p><p>considerando a diversidade dos alunos, os objetivos das atividades propostas e as características dos</p><p>próprios conteúdos;</p><p> Identificar, analisar e produzir materiais e recursos para utilização didática, diversificando as possí-</p><p>veis atividades e potencializando seu uso em diferentes situações;</p><p> Gerir a classe, a organização do trabalho, estabelecendo uma relação de autoridade e confiança</p><p>com os alunos;</p><p> Intervir nas situações educativas com sensibilidade, acolhimento e afirmação responsável de sua</p><p>autoridade;</p><p> Utilizar estratégias diversificadas de avaliação da aprendizagem e, a partir de seus resultados, for-</p><p>mular propostas de intervenção pedagógica, considerando o desenvolvimento de diferentes capacida-</p><p>des dos alunos.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>20 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Competências Referentes Ao Conhecimento De Processos De Investigação Que Possibilitem O</p><p>Aperfeiçoamento Da Prática Pedagógica.</p><p> Analisar situações e relações interpessoais que ocorrem na escola, com o distanciamento profissio-</p><p>nal necessário a sua compreensão;</p><p> Sistematizar e socializar a reflexão sobre a prática docente, investigando o contexto educativo e</p><p>analisando a própria prática profissional;</p><p> Utilizar-se dos conhecimentos para manter-se atualizado em relação aos conteúdos de ensino e ao</p><p>conhecimento pedagógico;</p><p> Utilizar resultados de pesquisa para o aprimoramento de sua prática profissional.</p><p>Competências Referentes Ao Gerenciamento Do Próprio Desenvolvimento M Profissional</p><p> Utilizar diferentes fontes e veículos de informação, adotando uma atitude de disponibilidade e flexibi-</p><p>lidade para mudanças, gosto pela leitura e empenho no uso da escrita como instrumento de desen-</p><p>volvimento profissional;</p><p> Elaborar e desenvolver projetos pessoais de estudo e trabalho, empenhando-se em compartilhar a</p><p>prática e produzir coletivamente;</p><p> Utilizar o conhecimento sobre a organização, gestão e finaciamento dos sistemas de ensino, sobre</p><p>a legislação e as políticas públicas referentes à educação para uma inserção profissional crítica.</p><p>Conclusão</p><p>As mudanças trazidas pela lei 9394/96 para a educação básica tornaram necessária a reformulação</p><p>dos cursos formadores de professores para a educação básica.</p><p>A mesma lei, para atender às novas exigências postas para a educação básica, criou a figura do Insti-</p><p>tuto Superior de Educação e o CNS e as Licenciaturas em seu interior, como o locus privilegiado para</p><p>a formação de professores, buscou extingüir as rupturas existentes entre os diversos níveis da educa-</p><p>ção básica.</p><p>Procurou também, eliminar a distância entre a formação feita no ensino superior e aquilo que efetiva-</p><p>mente acontece no cotidiano das escolas de educação básica.</p><p>Os preceitos legais indicam claramente que a integração teoria-prática, a interdisciplinaridade e o en-</p><p>sino por competências são princípios fundamentais para a organização curricular dos cursos forma-</p><p>dores.</p><p>Assim, a literatura existente sobre interdisciplinaridade, bem como, as experiências que tem sido de-</p><p>senvolvida neste sentido, tem demonstrado que, a implantação de um projeto curricular, fundado</p><p>numa concepção interdisciplinar, poderá caracterizar-se de diversas formas. Não há um modelo ou</p><p>fórmula pré-estabelecida para uma proposta interdisciplina nem para a organização do Projeto Peda-</p><p>gógico dos cursos formadores.</p><p>O Mec E A Reorganização Curricular</p><p>A Educação Básica no Brasil é composta por três etapas: educação infantil (que atende hoje cerca de</p><p>5 milhões de crianças de 0 a 6 anos, em creches ou pré-escolas, geralmente mantidas pelo poder</p><p>municipal); ensino fundamental (que atende cerca de 36 milhões de alunos de 7 a 14 anos, tem cará-</p><p>ter obrigatório, é público, gratuito e oferecido de forma compartilhada pelos poderes municipal e esta-</p><p>dual) e ensino médio (que atende cerca de 7 milhões de jovens de 15 a 17 anos e é oferecido basica-</p><p>mente pelo poder estadual).</p><p>No Brasil, existe um contingente ainda expressivo, embora decrescente, de jovens e adultos com</p><p>pouca ou nenhuma escolaridade, o que faz da Educação de Jovens e Adultos um programa especial</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>21 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>que visa dar oportunidades educacionais apropriadas aos brasileiros que não tiveram acesso ao en-</p><p>sino fundamental na idade própria, cujo atendimento representa, aproximadamente, 3 milhões de alu-</p><p>nos.</p><p>No que se refere às comunidades indígenas, a Constituição garante-lhes o direito de utilizar suas lín-</p><p>guas maternas e processos próprios de aprendizagem, o que se justifica pela existência de cerca de</p><p>1.600 escolas indígenas, que hoje possuem cerca de 80 mil alunos índios.</p><p>Apesar do grandioso número de alunos mais de 50 milhões o grande desafio da educação brasi-</p><p>leira, que está sendo enfrentado hoje, não é mais a oferta de vagas, mas sim a necessidade de cons-</p><p>truir escolas onde se aprenda mais e melhor.</p><p>Relativamente à questão curricular e à qualidade da educação, pode-se dizer que currículos compre-</p><p>endem a expressão dos conhecimentos e valores que uma sociedade considera que devem fazer</p><p>parte do percurso educativo de suas crianças e jovens.</p><p>Eles são traduzidos nos objetivos que se deseja atingir, nos conteúdos considerados os mais adequa-</p><p>dos para promovê-los, nas metodologias adotadas e nas formas de avaliar o trabalho desenvolvido.</p><p>A definição de quais são esses conhecimentos e valores vem sendo modificada nos últimos anos, de-</p><p>vido às demandas criadas pelas transformações na organização da produção e do trabalho e pela</p><p>conjuntura de redemocratização do país.</p><p>Portanto, a meta de melhoria da qualidade da educação impôs o enfrentamento da questão curricular</p><p>como aquilo que deve nortear as ações das escolas, dando vida e significado ao seu projeto educa-</p><p>tivo.</p><p>É importante considerar também que, no quadro de diversidade da realidade brasileira, existem gran-</p><p>des discrepâncias em relação à possibilidade de se ter acesso aos centros de produção de conheci-</p><p>mento, tanto das áreas curriculares quanto da área pedagógica. Isto é refletido na formação de pro-</p><p>fessores e nos currículos das escolas, o que não favorece a existência de uma eqüidade na quali-</p><p>dade da oferta de ensino das cerca de 250.000 escolas públicas brasileiras dispersas nas cinco regi-</p><p>ões do país.</p><p>Até 1995, não havia no país uma referência nacional para nortear os currículos propostos pelas 27</p><p>secretarias de educação estaduais e 5.600 municipais que compõem o Estado federativo brasileiro.</p><p>Após um longo processo de debate nacional, foi aprovada, em dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes</p><p>e Bases da Educação Nacional lei máxima da educação brasileira , que, dentre suas propostas,</p><p>determina como competência da União estabelecer, em colaboração com estados e municípios, dire-</p><p>trizes para nortear os currículos, de modo a assegurar uma formação básica comum em todo o país.</p><p>Era preciso, portanto construir referências nacionais para impulsionar mudanças na formação dos</p><p>alunos, no sentido de enfrentar antigos problemas da educação brasileira e os novos desafios coloca-</p><p>dos pela conjuntura mundial e pelas novas características da sociedade como a urbanização cres-</p><p>cente. Por outro lado, essas referências precisavam indicar pontos comuns do processo educativo em</p><p>todas as regiões e, ao mesmo tempo, respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas existen-</p><p>tes.</p><p>Dessa forma, no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, uma das prioridades</p><p>do Ministério da Educação foi a elaboração de referências curriculares para a educação básica, um</p><p>processo inédito na história da educação brasileira, sistematizando idéias que já vinham sendo utiliza-</p><p>das nas reformulações curriculares de estados e municípios.</p><p>Os procedimentos seguidos na elaboração dos documentos representam a manifestação do espírito</p><p>democrático e participativo que deve caracterizar a educação de base no país. Equipes de educado-</p><p>res (professores com larga e boa experiência nas salas de aula, professores universitários e pesqui-</p><p>sadores) elaboraram os documentos preliminares.</p><p>Estas equipes realizaram um estudo dos currículos de outros países (como Inglaterra, França, Espa-</p><p>nha, Estados Unidos), analisaram as propostas dos estados e de alguns dos municípios brasileiros,</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>22 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>considerando os indicadores da educação no Brasil (como taxas de evasão e repetência, desempe-</p><p>nho dos alunos nas avaliações sistêmicas) e estudaram os marcos teóricos contemporâneos sobre</p><p>currículo, ensino, aprendizagem e avaliação.</p><p>Os documentos preliminares foram enviados para apreciação e receberam críticas e sugestões de</p><p>professores universitários e de sala de aula, pesquisadores e de técnicos que atuam nas equipes pe-</p><p>dagógicas das secretarias de educação, tendo como idéia-força a perspectiva da formação para a ci-</p><p>dadania, pois a criança não é só a cidadã do futuro, ela já é cidadã.</p><p>Essas idéias inovam ao instituir o que se pode chamar de "escola-cidadã", expressão de uma política</p><p>educacional fortemente marcada pelo empenho de criar novos laços entre ensino e sociedade.</p><p>A finalidade das referências curriculares consiste na radical transformação dos objetivos, dos conteú-</p><p>dos e da didática na educação infantil, no ensino fundamental e na educação de jovens e adultos.</p><p>Os conteúdos estudados passam a ser os meios com os quais o estudante desenvolve capacidades</p><p>intelectuais, afetivas, motoras, tendo em vista as demandas do mundo em que vive. A formação se</p><p>sobrepõe à informação pura e simples, modificando o antigo conceito de que educação é somente</p><p>transmissão de conhecimentos.</p><p>A concepção pedagógica subjacente, na nova proposta curricular, aponta no sentido de que:</p><p>- a escola existe, antes de tudo, para os alunos aprenderem o que não podem aprender sem ela;</p><p>- o professor organiza a aprendizagem, avalia os resultados, incentiva a cooperação, estimula a auto-</p><p>nomia e o senso de responsabilidade dos estudantes;</p><p>- nada substitui a atuação do próprio aluno no processo de aprendizagem;</p><p>- o ponto de partida é sempre o conhecimento prévio do aluno;</p><p>- a avaliação é um instrumento de melhoria do ensino e não uma arma contra o aluno;</p><p>- a aprendizagem bem-sucedida promove a auto-estima do aluno; o fracasso ameaça o aprender e é</p><p>o primeiro passo para o desinteresse.</p><p>A nova proposta apresentada pelo Ministério da Educação aos educadores brasileiros é composta</p><p>dos documentos Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação Fundamental, Referencial Curri-</p><p>cular Nacional para a Educação Infantil e para Educação Indígena e a Proposta Curricular para Edu-</p><p>cação de Jovens e Adultos.</p><p>Dentro das propostas já referidas, cada qual com sua especificidade, os Parâmetros Curriculares Na-</p><p>cionais para o Ensino Fundamental incluem, além das áreas curriculares clássicas (Língua Portu-</p><p>guesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Arte, Educação Física e Línguas Estran-</p><p>geiras), o tratamento de questões da sociedade brasileira, como aquelas ligadas a Ética, Meio Ambi-</p><p>ente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde, Trabalho e Consumo, ou outros temas que se</p><p>mostrem relevantes.</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>23 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Considerando as particularidades da faixa etária compreendida entre 0 e 6 anos, a proposta educa-</p><p>tiva dos referenciais de educação infantil enfatiza a construção da identidade, autonomia da criança e</p><p>o seu conhecimento de mundo.</p><p>Com relação à educação de jovens e adultos, o foco das áreas de Língua Portuguesa, Matemática e</p><p>dos Estudos da Sociedade e da Natureza está na preocupação com a adequação do trabalho educa-</p><p>tivo às condições de vida e trabalho dos alunos.</p><p>Os referenciais para a educação indígena, além das áreas de conhecimento, incluem temas escolhi-</p><p>dos por um amplo grupo de professores índios, como, por exemplo, auto-sustentação, ética indígena,</p><p>pluralidade cultural, direitos, lutas e movimentos, terra e preservação da biodiversidade e educação</p><p>preventiva para a saúde.</p><p>Mais de um 1,4 milhão de exemplares dos Parâmetros e Referenciais Curriculares foram entregues a</p><p>todos os professores das escolas públicas do Brasil, bem como às instituições de formação de pro-</p><p>fessores.</p><p>Além disso, encontros e seminários promovidos pelo MEC, secretarias de educação e universidades</p><p>reuniram grandes grupos de professores e especialistas nos estados e municípios brasileiros com a</p><p>finalidade de conhecer e debater esses documentos, contando ainda com inúmeros programas das</p><p>televisões educativas TV Escola e TV Executiva do MEC, TVs Educativas de diferentes estados ,</p><p>que também têm ajudado na divulgação e ampliação dos debates.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>24 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Se entre 1995 e 1998 a prioridade do Ministério da Educação foi a elaboração das diretrizes curricula-</p><p>res, no período subseqüente, de 1999 a 2002, a prioridade é a formação de professores, o que signi-</p><p>fica repensar os cursos de formação inicial responsabilidade das universidades e investir em</p><p>ações de formação para melhorar a prática dos professores já em exercício na sala de aula.</p><p>Para impulsionar essa discussão na comunidade educativa do país, o Ministério da Educação elabo-</p><p>rou diretrizes para a formação de professores, seguindo os mesmos procedimentos dos documentos</p><p>anteriores, já citados. Os referenciais mostram a necessidade de mudanças na formação dos profes-</p><p>sores, proporcionando o desenvolvimento de competências profissionais para atender às novas con-</p><p>cepções da educação escolar e do papel de professor.</p><p>Esses referenciais também redefinem os âmbitos do conhecimento profissional (conhecimentos sobre</p><p>crianças, adolescentes, jovens e adultos, conhecimentos sobre a dimensão cultural, social e política</p><p>da educação, conhecimentos pedagógicos, conhecimento experiencial contextualizado na atuação</p><p>pedagógica, cultura geral e profissional) e a metodologia necessária para desenvolvê-los, além de</p><p>trazerem orientações para que as escolas de formação organizem seus currículos e para que as se-</p><p>cretarias de educação desenvolvam seus trabalhos de formação continuada.</p><p>A grande diferença entre a formação tradicional e o que se propõe nos novos referenciais é que, ao</p><p>invés de ser organizada como um elenco de disciplinas, a formação de professores passe a ser defi-</p><p>nida a partir do trabalho do professor, isto é, das questões que enfrenta efetivamente na sua atuação</p><p>profissional.</p><p>A partir de 1999, o MEC vem desenvolvendo em parceria com as secretarias de educação o pro-</p><p>grama "PCN em Ação". Esse programa tem como objetivo o desenvolvimento de programas de for-</p><p>mação continuada no interior das escolas, incentivando o estudo em grupo dos Parâmetros e Refe-</p><p>renciais curriculares, a troca de experiência, o trabalho em equipe; e a articulação entre a teoria e a</p><p>prática pedagógica. A idéia central do programa é a de que a formação profissional deve estar relaci-</p><p>onada ao trabalho desenvolvido na sala de aula.</p><p>O programa já está implantado em 24 estados e 960 secretarias municipais de educação, envolvendo</p><p>cerca de 6.000 professores-formadores e com a meta de atingir 130.000 professores do ensino fun-</p><p>damental, da educação infantil e da educação de jovens e adultos.</p><p>A formação inicial de professores é de responsabilidade das universidades e teve mudanças impor-</p><p>tantes a partir da Lei de Diretrizes e Bases:</p><p>uma delas é a de que a formação de professores para</p><p>atuarem na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental deve ser feita em cursos de</p><p>nível superior (antes era realizada em cursos de nível médio); a outra é a criação dos Institutos Supe-</p><p>riores de Educação, que deverão ser centros formadores, disseminadores, sistematizadores e produ-</p><p>tores do conhecimento referente ao processo de ensino, de aprendizagem e de educação escolar,</p><p>com o objetivo de promover a formação geral dos futuros professores de educação básica, favorecer</p><p>o conhecimento e o domínio dos conteúdos específicos ensinados nas diversas etapas da educação</p><p>básica e das metodologias e tecnologias a eles associados, bem como desenvolver habilidades para</p><p>a condução dos demais aspectos inerentes ao trabalho coletivo da escola.</p><p>Apesar de ainda existirem alguns professores que estão lecionando sem a devida formação exi-</p><p>gida os chamados professores leigos a meta é titular esse grupo de professores por meio de for-</p><p>mação em exercício que está sendo realizada num programa especialmente elaborado o Proforma-</p><p>ção , que combina parte presencial e parte a distância, com o uso de materiais impressos e de ví-</p><p>deos, e que se desenvolve, prioritariamente, nas regiões mais pobres do país.</p><p>O Ministério da Educação, por meio dessa reorganização curricular, visa a qualidade do ensino nas</p><p>escolas públicas brasileiras, assegurando que a educação no país possa atuar de forma decisiva no</p><p>processo de construção e de exercício da cidadania, sem, contudo, deixar de cumprir um compro-</p><p>misso da Nação na valorização e formação do magistério, uma vez que os docentes constituem o</p><p>centro de todo o processo educacional.</p><p>Qual O Papel Dos Professores E Como Estimular A Participação Dos Estudantes?</p><p>A escola é sem dúvida construída por sua comunidade – e, assim como o gestor ou a equipe diretiva</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>25 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>da unidade tem seu papel na organização do projeto escolar, é preciso que toda comunidade esteja</p><p>envolvida na implementação e construção do projeto.</p><p>Assim, professores e estudantes são fundamentais na articulação do projeto da escola e devem parti-</p><p>cipar ativamente da sua construção. Na educação integral, todos são corresponsáveis e trabalham</p><p>juntos na construção de uma educação de qualidade. Nessa perspectiva, mais de 50 especialistas*</p><p>(organizações e indivíduos) em Educação Integral indicam as seguintes recomendações às escolas:</p><p>Papel De Professores</p><p>Em uma escola de educação integral, a equipe de professores identifica as expectativas e necessida-</p><p>des de desenvolvimento integral dos seus estudantes e propõe ou articula oportunidades educativas</p><p>capazes de atendê-las.</p><p>Assim, cabe ao professor:</p><p>Coerência: atuar em sintonia com o Projeto Político Pedagógico da escola, compreendendo seu papel</p><p>e cumprindo suas metas.</p><p>Integralidade: compreender o estudante de forma integral, buscando identificar suas necessidades de</p><p>desenvolvimento no nível intelectual, físico, emocional, social, cultural.</p><p>Reconhecimento: conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola e</p><p>estes estudantes estão inseridos.</p><p>Empatia: acolher as diferenças, reconhecendo que cada estudante é único, aprende de uma forma</p><p>diferente e vive em um contexto próprio.</p><p>Sonhos: conhecer os interesses, anseios e/ou o projeto de vida dos seus alunos e apoiá-los a alcan-</p><p>çar seus objetivos.</p><p>Tempo Integral: considerar o estudante durante todo o tempo em que está na escola e não apenas na</p><p>sua sala de aula.</p><p>Cumplicidade: conhecer as famílias de seus alunos, dialogar com elas e criar vínculos para fortalecer</p><p>o seu desenvolvimento integral.</p><p>Trilhas: construir roteiros educativos que integrem disciplinas tradicionais com atividades complemen-</p><p>tares, saberes acadêmicos e populares.</p><p>Colaboração: trabalhar de forma colaborativa com outros professores da escola, criando comunida-</p><p>des de aprendizagem para compartilhar desafios e propor estratégias articuladas que respondam às</p><p>demandas do desenvolvimento integral.</p><p>Relacionamento: estabelecer uma relação mais igualitária e dialógica com seus alunos, reconhe-</p><p>cendo seus saberes e legitimando a sua capacidade de contribuição com seu próprio processo de de-</p><p>senvolvimento.</p><p>Mediação: ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento, provocando o aluno a apren-</p><p>der a partir de seus próprios questionamentos.</p><p>Pesquisa: convidar o estudante a perceber a realidade como objeto de estudo.</p><p>Protagonismo: promover o protagonismo do aluno como autor e proponente do seu próprio processo</p><p>pedagógico.</p><p>Participação: colaborar com a equipe gestora no sentido de apontar necessidades de infraestrutura,</p><p>propor projetos e ações inovadoras e se envolver com atividades do programa que extrapolem a sua</p><p>sala de aula.</p><p>Acompanhamento: avaliar continuamente os processos de ensino-aprendizagem, em conjunto com</p><p>seus estudantes, estimulando que reconheçam o que precisam fazer para alcançar seus objetivos in-</p><p>dividuais e coletivos.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>26 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Aprendizagem: admitir que pode errar e aprender enquanto ensina, inclusive com seus alunos.</p><p>Veja as propostas e depoimentos na íntegra</p><p>O Professor é um articulador fundamental na escola: ele deve apoiar a relação entre famílias, alunos</p><p>e gestores.</p><p>O professor deve acolher as diferenças e as considerar no processo de ensino-aprendizagem, reco-</p><p>nhecendo que cada estudante aprende de uma forma diferente, tem um contexto próprio e precisa</p><p>ser reconhecido como indivíduo.</p><p>Ele deve aprender a conhecer a realidade do aluno, da sua família e da comunidade em que a escola</p><p>e estes estudantes estão inseridos.</p><p>O professor deve trazer a comunidade para a sala de aula, buscando aproximar os conhecimentos</p><p>comunitários dos conhecimentos acadêmicos.</p><p>Ele deve ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento e não apenas aquele que detém</p><p>a informação. Ele deve atuar como um pesquisador, que provoca o aluno a ser também curioso e</p><p>descobrir a partir de seus próprios questionamentos. Deve convidar o estudante a ver a realidade</p><p>como seu objeto de estudo. Ele é um mediador que deve negociar os conhecimentos que todos têm e</p><p>apoiar os estudantes a juntos sintetizarem o conhecimento compartilhado.</p><p>O professor deve olhar para o aluno de forma integral, buscando identificar suas diferentes dimen-</p><p>sões formativas e como sua atuação – nessa função educadora -, responde ou dialoga com elas.</p><p>O professor deve compreender quem são as famílias de seus estudantes e estabelecer diálogo com</p><p>as mesmas, estreitando relações e criando vínculos que fortaleçam o processo educativo dos estu-</p><p>dantes.</p><p>Ele também deve levar em consideração todo o tempo em que o aluno está na escola, e não só na</p><p>sua sala de aula. Ele deve atuar de acordo com o Projeto Político Pedagógico da escola e pensar</p><p>no currículo de forma diferenciada, integrando o conhecimento acadêmico aos saberes da comuni-</p><p>dade e dos próprios estudantes.</p><p>Professor também deve ter o papel de aluno: deve aprender ao passo que ensina. Professor e alunos</p><p>devem compartilhar os princípios éticos e a proposta do PPP da escola que vão nortear essa pers-</p><p>pectiva de ensino-aprendizagem como um processo dialógico.</p><p>Para entender a formação integral dos alunos, ele deve desenvolver estratégias de trabalho colabora-</p><p>tivo com outros professores da escola, criando espécie de comunidade de aprendizagem colaborativa</p><p>entre professores. Juntos, eles devem compartilhar seus anseios e propor estratégias de trabalho que</p><p>respondam às demandas que identificaram.</p><p>O professor deve elaborar estratégias de trabalho para dar protagonismo para a aula, para que o es-</p><p>tudante possa participar ativamente como autor e proponente do seu próprio percurso pedagógico.</p><p>Ele tem que pensar o projeto do seu aluno e apoiá-lo a alcançar esses sonhos. Junto aos estudantes,</p><p>ele deve ser um avaliador contínuo de todo esse processo, estimulando</p><p>que o estudante reconheça</p><p>individualmente e com seus pares o que precisa fazer para alcançar seus objetivos individuais e obje-</p><p>tivos coletivos – da turma, da escola e da própria sociedade.</p><p>Apoio Aos Professores</p><p>Ele precisa de uma equipe pedagógica para ajudar a formar seu currículo em diálogo com o projeto</p><p>pedagógico da escola. Por isso, é fundamental que o gestor organize em horas de planejamento o</p><p>apoio necessário ao docente.</p><p>Dessa forma, a gestão deve construir espaços para apresentar o papel desse professor na dinâmica</p><p>da Educação Integral, discutindo com a equipe docente como o projeto ou programa foi elaborado na</p><p>secretaria e como ele pode ser implementado na escola.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>27 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>O gestor precisa convidar e trazer para troca de experiências e convivência professores que já partici-</p><p>pam de programas de Educação Integral. Convidá-los a apoiar a equipe docente da escola é uma es-</p><p>tratégia importante para apoiar a equipe.</p><p>A escola deve ter um professor que atue como articulador e educador comunitário, estabelecendo as</p><p>pontes entre oficineiros, parceiros e oportunidades educativas do territóriocom o corpo docente e es-</p><p>cola.</p><p>O gestor, equipe gestora ou esse professor/ educador comunitário deve reconhecer as lideranças co-</p><p>munitárias e construir junto à escola cardápios de oportunidades educativas no território que apoiem</p><p>os professores: o plano de aula pode ser complementado ou construído a partir da oferta do território.</p><p>Para garantir o envolvimento desse professor, ele precisa ter tempo na escola. Assim, é fundamental</p><p>que a gestão pública invista na dedicação exclusiva de professores na escola e que estes tenham ga-</p><p>rantidas horas de planejamento remuneradas. O plano de carreira do docente deve valorizar seu vín-</p><p>culo com a escola.</p><p>A equipe gestora deve estimular que seu corpo docente acesse novas propostas de práticas pedagó-</p><p>gicas e que conheça novas formas de ensinar. Da mesma forma, o professor deve ter apoio para en-</p><p>tender o que significam as avaliações externas (como o IDEB, Saeb) e como eles, professores, po-</p><p>dem aprimorar suas práticas a partir dos indicadores.</p><p>O professor precisa receber opinião constante de seus gestores e coordenadores pedagógicos. A va-</p><p>lorização de seu papel na escola passa diretamente pelo seu acompanhamento – ele não deve estar</p><p>sozinho em sua função.</p><p>Gestão Pública</p><p>A gestão pública, ao adotar um programa de educação Integral, deve garantir aos docentes a forma-</p><p>ção continuada em serviço. A formação deve ser sobre Educação Integral e temas correlatos e acon-</p><p>tecer como parte da carga horária do profissional.</p><p>Por fim, o professor deve ter acesso à direção para discutir a necessidade de espaços e estrutura,</p><p>para desenvolver atividades que não aconteçam apenas em sala de aula. Ele precisa se sentir autô-</p><p>nomo para propor projetos e ações inovadoras que respondam às suas necessidades didáticas e de</p><p>aprendizagem dos seus estudantes.</p><p>Participação Dos Estudantes</p><p>Fundamentalmente, a escola deve garantir a presença de grêmios estudantis efetivos. Para tanto, é</p><p>preciso que o gestor e corpo docente invistam em formação dos estudantes para a composição, regu-</p><p>lamento e ação política dos estudantes.</p><p>A escola deve investir na criação e efetivação de instâncias políticas de decisão. Uma estratégia é a</p><p>realização de assembleias que deliberem sobre temas e necessidades concretas da escola: como re-</p><p>gras de convívio, currículo, PPP, uso de uniformes, etc.</p><p>“Descobri que é muito importante mostrar aos demais que o que eu quero para mim é o que eu quero</p><p>para o outro.” Raab Carolina Barros, estudante da EE Alexandre Von Humbolt.</p><p>A escola deve oferecer espaços e o direito para os estudantes conviverem livremente na escola. É</p><p>preciso que haja um espaço e tempo dedicado ao ócio e ao convívio.</p><p>Os professores devem convidar os estudantes a disporem e pensarem sobre o próprio currículo. Os</p><p>estudantes devem ser estimulados a responder sobre o que desejam aprender.</p><p>A escola precisa investir em espaços para troca intergeracional e não mediados: ou de estudantes</p><p>com estudantes, ou de estudantes com outros segmentos da escola, ou de estudantes com estudan-</p><p>tes de outras escolas.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>28 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>As ações escolares devem ser estabelecidas – para além do PPP -, na construção de um plano pluri-</p><p>anual participativo, em que os estudantes tenham voz e possam expor suas expectativas em relação</p><p>à escola e a sua aprendizagem.</p><p>Cultura Colaborativa: Relação Professor-Estudante</p><p>A escola deve estabelecer em seu Projeto Político Pedagógico a relação entre professores e alunos</p><p>como uma relação mais igualitária, dialógica, em que o professor não se coloca como aquele que de-</p><p>tém todo o conhecimento, mas aquele que orienta percursos de pesquisa e de descoberta do conhe-</p><p>cimento.</p><p>O professor deve assumir sua responsabilidade, mas reconhecer os saberes dos alunos. Essa rela-</p><p>ção deve se estabelecer a partir da legitimidade desses papeis, construídos em diálogo entre os en-</p><p>volvidos. A relação deve ser não hierárquica e de respeito.</p><p>O professor deve garantir ao estudante seu direito de opinar sobre o currículo e sobre a gestão da es-</p><p>cola. Assim, a escola deve estimular que o aluno e o professor compartilhem sonhos e desejos.</p><p>Escola Como Mundo Real</p><p>É fundamental que todos – família, professores, estudantes e direção -, mudem a concepção de que</p><p>professores e estudantes são sempre ideais. É preciso “admitir” o mundo real, e compreender o pro-</p><p>fessor e o estudante como sujeitos que vivem nesse mundo com seus conflitos e dificuldades.</p><p>Professor que não pode ter preconceito: deve reconhecer e admitir todas as culturas, estimulando</p><p>que os estudantes também convivam e se relacionem com a diferença.</p><p>O professor deve perceber que quando o aluno é autor e ator do processo de ensino-aprendizagem,</p><p>ele se sente pertencente à escola.</p><p>O professor também é um ser humano e pode errar. Para tanto, é preciso transparência nessa rela-</p><p>ção. Ele deve poder admitir que aprende com seus alunos.</p><p>Philippe Perrenoud E As Novas Competências Do Ensino</p><p>Na quinta reportagem da série Pensadores da Tecnologia e da Educação, conheça as ideias do so-</p><p>ciólogo suíço Philippe Perrenoud. Ele defende o desenvolvimento de novas competências para o pro-</p><p>fessor do século 21, que valorizem a diversidade dos alunos</p><p>Uma sala de aula hoje e há cem anos não é muito diferente. Apesar das novidades em equipamentos</p><p>e dos avanços na gestão dos espaços escolares, uma ‘classe’ ainda é, na maioria das vezes, carac-</p><p>terizada pela homogeneização. Cadeiras iguais, devidamente organizadas, com alunos uniformizados</p><p>e sentados, muitas vezes em ordem alfabética, como se aprendessem todos ao mesmo tempo e da</p><p>mesma forma.</p><p>Nas últimas décadas, no entanto, pesquisadores da área da educação estão desmistificando este tipo</p><p>de prática. Cada vez mais, termos como “diversidade” e “heterogeneidade” povoam os planejamentos</p><p>escolares e os projetos político-pedagógicos das instituições de ensino. Ideias e conceitos como o da</p><p>pedagogia diferenciada e as novas competências para ensinar, desenvolvidos pelo sociólogo suíço</p><p>Philippe Perrenoud, tomam as salas de aula e os espaços de formação. A aprendizagem escolar</p><p>acontece de diferentes formas para diferentes pessoas e não há como pensar na sala de aula con-</p><p>temporânea sem pensar naquilo que é diverso.</p><p>Na série de reportagens Pensadores da Tecnologia e da Educação foi comum perceber este senso</p><p>de diversidade nas teorias dos pesquisadores estudados. O espanhol César Coll e o americano Ho-</p><p>ward Gardner, por exemplo, defendem que é preciso olhar para os alunos de maneira especial. Pierre</p><p>Lévy nos mostra a amplitude do conceito de cibercultura, e a brasileira Martha Gabriel coloca em jogo</p><p>a ideia de cibridismo e a extensão do nosso cérebro para os meios digitais.</p><p>Desta vez, apresentamos um pouco mais do pensamento de Perrenoud, professor da Faculdade</p><p>de</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>29 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Genebra. O sociólogo suíço é autor do li-</p><p>vro Dez Novas Competências para Ensinar e discute o que deve ser transformado na formação dos</p><p>educadores para que a sala de aula tradicional possa, enfim, mudar.</p><p>“Nós passamos anos formando professores com base no pressuposto de que o aluno aprende de de-</p><p>terminada forma”, afirma Karina Pagnez, Professora Doutora em Psicologia da Educação da Universi-</p><p>dade de São Paulo. “Mas a própria formação foi mostrando que o aluno seria um sujeito epistêmico.</p><p>Perrenoud joga na nossa cabeça uma centelha ao dizer ‘gente, vamos parar para pensar nas possibi-</p><p>lidades e desconstruir a ideia de professor detentor de saber’”, explica.</p><p>Para o suíço, o professor precisa dedicar mais energia e atenção aos alunos com mais dificuldades</p><p>de aprendizagem. Assim se faz uma pedagogia diferenciada, que ajuda a desenvolver métodos para</p><p>que a aprendizagem aconteça para todos os alunos. “Cinquenta alunos de uma mesma turma não</p><p>aprendem da mesma forma. Isso depende de condições sociais, biológicas e psicológicas. Eu não</p><p>diria que é possível você detectar todas as diferenças, mas a partir da formação e do estudo é possí-</p><p>vel entender novas formas e utilizar diferentes recursos para ensinar”, defende Karina.</p><p>Para que essa transformação realmente aconteça e as habilidades dos alunos comecem a ser enxer-</p><p>gadas separadamente, Perrenoud indica que o educador deve ser detentor de uma série de compe-</p><p>tências trabalhadas desde o início da sua formação. “Nós precisamos de uma formação de professo-</p><p>res que discuta o processo de ensino e aprendizagem profundamente, uma formação de um indivíduo</p><p>que seja capaz de pensar, construir e desconstruir práticas a partir da teoria que aprendeu”, indica</p><p>Karina, da USP.</p><p>Confira As 10 Novas Competências Para Ensinar</p><p> Organizar e dirigir situações de aprendizagem – Planejar projetos didáticos, envolver os alunos nes-</p><p>sas atividades e saber lidar com erros e obstáculos.</p><p> Administrar a progressão das aprendizagens – Conhecer o nível e as possibilidades de desenvolvi-</p><p>mento dos alunos, além de acompanhar sua evolução e estabelecer objetivos claros de aprendiza-</p><p>gem.</p><p> Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação – Trabalhar com a heterogeneidade, ofere-</p><p>cer acompanhamento adequado a alunos com grande dificuldade de aprendizagem e desenvolver o</p><p>trabalho em equipe.</p><p> Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho – Instigar o desejo da aprendizagem</p><p>nos alunos, integrá-los nas decisões sobre as aulas e oferecer a eles atividades opcionais.</p><p> Trabalhar em equipe – Elaborar projetos em equipe com a turma e com outros professores, trocar</p><p>experiências e colaborar com outras atividades promovidas pela escola.</p><p> Participar da administração da escola – Elaborar e disseminar projetos ligados à instituição, além de</p><p>incentivar os alunos a também participarem dessas atividades.</p><p> Informar e envolver os pais – Conversar, promover reuniões frequentes e envolver as famílias na</p><p>construção do saber.</p><p> Utilizar as novas tecnologias – Conhecer as potencialidades didáticas de diferentes recursos tecno-</p><p>lógicos.</p><p> Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão – Lutar contra preconceitos e discriminações,</p><p>prevenir a violência e desenvolver o senso de responsabilidade.</p><p> Administrar sua própria formação continuada – Estabelecer um programa pessoal de formação con-</p><p>tinuada e participar de grupos de debate com colegas de profissão.</p><p>O Coletivo Pela Aprendizagem</p><p>Para Philippe Perrenoud, o processo de absorção das novas competências para colocá-las em prá-</p><p>tica no dia-a-dia escolar envolve não apenas a formação acadêmica do professor, como também uma</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>30 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>aproximação com o meio, que vai além dos muros da escola. Os pais e a comunidade escolar devem</p><p>estar inseridos no processo de ensino e aprendizagem, tanto como um apoio para o aluno, quanto</p><p>como indivíduos ativos no ensino.</p><p>Mas mais importante do que envolver a comunidade, o educador deve, antes de tudo, colocar o aluno</p><p>no centro do processo de aprendizagem. “Perrenoud diz que se o professor não integrar o aluno e</p><p>mostrar claramente como aquilo é importante para ele, é impossível que se consiga ensinar”, acentua</p><p>Karina. Nesta nova visão educacional, o aluno passa a estar entre o professor e o conhecimento,</p><p>sendo fundamental para que o processo funcione e seja aprimorado com o passar do tempo.</p><p>E não é apenas a interação entre o aluno e o professor que começa a mudar neste cenário, mas prin-</p><p>cipalmente a interação entre os próprios estudantes. A professora Karina afirma que o trabalho em</p><p>grupo é algo a ser trabalho dentro das escolas, com os alunos ensinando uns aos outros. Além disso,</p><p>também é primordial que os professores conversem mais entre si, trocando ideias e experiências,</p><p>para que os projetos escolares enriqueçam. “Por que não ajudar o outro? Você sai da perspectiva de</p><p>competição e passa para a da colaboração, começa a desenvolver habilidades de relacionamento”,</p><p>explica a educadora.</p><p>Novas Ferramentas Para Uma Nova Sala De Aula</p><p>O uso das novas tecnologias potencializa a ideia de pedagogia diferenciada, já que recursos como os</p><p>ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e as plataformas de ensino adaptativo, por exemplo, confi-</p><p>guram-se como meios indiscutíveis para atender aos alunos de maneira adequada.</p><p>“A tecnologia nos mostra um ambiente diferenciado, extremamente atrativo e que possibilita descons-</p><p>truir o espaço de sala de aula física e criar um ambiente virtual”, explica Karina Pagnez. Para a edu-</p><p>cadora, contudo, é preciso cuidado na hora de utilizar essas ferramentas: “O professor precisa de boa</p><p>formação para entender que a tecnologia não é fim, é meio”, defende.</p><p>As competências de ensino indicadas por Perrenoud apresentam o perfil do bom professor do século</p><p>21. O suíço propõe uma discussão que vai além do debate sobre utilizar ou não as tecnologias, mas</p><p>aprofunda-se ao propor uma transformação geral da sala de aula, voltada principalmente às relações</p><p>estabelecidas na comunidade escolar. A ideia de que a aprendizagem depende de um conhecimento</p><p>detalhado sobre cada aluno está cada vez mais em evidência. Entretanto, esta grande mudança está</p><p>diretamente relacionada à melhoria na formação dos professores, que também deve começar a ser</p><p>vista sob uma nova perspectiva para que a escola seja, de fato, rica por sua heterogeneidade.</p><p>O Ofício De Professor</p><p>Há muitas exigências para o profissional da educação e o professor Philippe Perrenoud, da Universi-</p><p>dade de Genebra, resolveu reunir dez grandes famílias de competências em um livro para orientar e</p><p>refletir a ação do docente num contexto de constantes transformações. “Enfatizarei o que está mu-</p><p>dando e, portanto, as competências que representam mais um horizonte do que um conhecimento</p><p>consolidado”, diz o autor na introdução do livro, que pode interferir na formação contínua de quem se</p><p>dedica à educação.</p><p>Dez novas competências para ensinar, lançado pela Artmed Editora, aborda, em cada capítulo, as</p><p>seguintes faculdades, reconhecidas como prioritárias na formação de professores do ensino funda-</p><p>mental: organizar e dirigir situações de aprendizagem; administrar a progressão das aprendizagens;</p><p>conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam; envolver os alunos em suas</p><p>aprendizagens e em seu trabalho; trabalhar em equipe; participar da administração da escola; infor-</p><p>mar e envolver os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profis-</p><p>são; e administrar a própria formação contínua.</p><p>Para “organizar e dirigir situações de aprendizagem”, o livro propõe competências mais específicas,</p><p>como conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução em ob-</p><p>jetivos de aprendizagem. “A competência requerida hoje em dia é o domínio</p><p>dos conteúdos com sufi-</p><p>ciente fluência e distância para construí-los em situações abertas e tarefas complexas, aproveitando</p><p>ocasiões, partindo dos interesses dos alunos, explorando os acontecimentos, em suma, favorecendo</p><p>a apropriação ativa e a transferência dos saberes, sem passar necessariamente por sua exposição</p><p>metódica, na ordem prescrita por um sumário”, argumenta Perrenoud.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>31 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>A competência “organizar e dirigir situações de aprendizagem” exige ainda, segundo o livro, trabalhar</p><p>a partir das representações dos alunos, pois isso pode ajudá-los na aproximação do conhecimento</p><p>científico a ser ensinado. Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem seria outra</p><p>competência mais específica, já que considera o erro uma ferramenta para ensinar, “um revelador</p><p>dos mecanismos de pensamento do aprendiz”. O professor também deve saber construir e planejar</p><p>dispositivos e seqüências didáticas, além de envolver os alunos em atividades de pesquisa, em proje-</p><p>tos de conhecimento.</p><p>A segunda competência, “administrar a progressão das aprendizagens”, compreende cinco outras ca-</p><p>pacidades. A primeira diz que o professor deve conceber e administrar situações-problema ajustadas</p><p>ao nível e às possibilidades dos alunos. A outra capacidade diz que o docente deve adquirir uma vi-</p><p>são longitudinal dos objetivos do ensino, além de estabelecer laços com as teorias subjacentes às ati-</p><p>vidades de aprendizagem. O professor também deve saber observar e avaliar os alunos em situações</p><p>de aprendizagem, de acordo com uma bordagem formativa, e fazer balanços periódicos de compe-</p><p>tências e tomar decisões de progressão.</p><p>Para “conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação”, a terceira competência, o professor</p><p>deve, segundo o autor, administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma, abrir e ampliar a ges-</p><p>tão da classe para um espaço mais amplo, fornecer apoio integrado, trabalhar com os alunos porta-</p><p>dores de grandes dificuldades e desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples</p><p>de ensino mútuo.</p><p>A quarta competência, “envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho”, explica o Perre-</p><p>noud, deve suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o saber, o sentido do trabalho es-</p><p>colar e desenvolver na criança a capacidade de auto-avaliação, além de instituir e fazer funcionar um</p><p>conselho de alunos e negociar com eles diversos tipos de regras e de contratos. O docente ainda</p><p>pode oferecer atividades opcionais de formação e favorecer a definição de um projeto pessoal do</p><p>aluno.</p><p>O “trabalho em equipe” pede para o professor elaborar um projeto de equipe, com representações co-</p><p>muns, dirigir um grupo de trabalho, com habilidade para conduzir reuniões. Além disso, é importante</p><p>saber formar e renovar uma equipe pedagógica, enfrentando e analisando em conjunto situações</p><p>complexas, práticas e problemas profissionais. Administrar crises ou conflitos interpessoais também</p><p>são habilidades esperadas, segundo o livro.</p><p>A participação da administração da escola é fundamental nos domínios das competências. É neces-</p><p>sário, nesse sentido, elaborar e negociar um projeto da instituição, administrar os recursos da escola,</p><p>saber coordenar e dirigir uma escola com todos os seus parceiros, além de organizar e fazer evoluir,</p><p>no âmbito da escola, a participação dos alunos.</p><p>O professor, segundo Philippe Perrenoud, deve saber informar e envolver os pais, dirigindo reuniões</p><p>de informação e de debate. Quando necessário, deve ainda ter a capacidade de fazer entrevistas.</p><p>Tudo com o objetivo de envolver os pais na construção dos saberes.</p><p>A oitava competência, diz o livro, é a de “utilizar novas tecnologias”. Inclui saber utilizar editores de</p><p>textos, explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos objetivos do ensino e co-</p><p>municar-se à distância por meio da Internet e de outras tecnologias. As ferramentas multimídia tam-</p><p>bém devem ser consideradas para o ensino.</p><p>“Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão” é a nona competência apresentada por Perre-</p><p>noud. Para ele, o professor deve prevenir a violência na escola e fora dela, lutar contra os preconcei-</p><p>tos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais, e participar da criação de regras de vida comum</p><p>referentes à disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta. Nessa competência ainda</p><p>inclui a capacidade de analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação em aula, além de</p><p>desenvolver o senso de responsabilidade, solidariedade e o sentimento de justiça.</p><p>Por último, a competência de “administrar sua própria formação contínua” propõe que o docente</p><p>saiba explicitar as próprias práticas, estabelecendo seu próprio balanço de competências e seu pro-</p><p>grama pessoal de formação contínua. Deve-se ainda negociar um projeto de formação comum com</p><p>os colegas da escola ou da rede. Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do</p><p>sistema educativo e acolher a formação dos colegas e participar dela são outras competências espe-</p><p>cíficas esperadas de um profissional da educação.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>32 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Na conclusão do livro, para o leitor que sentiu uma certa arbitrariedade com relação às formulações</p><p>das competências em dez famílias, Perrenoud diz que participou ativamente da redação do livro, mas</p><p>sentiu um certo grau de imposição. “Isso não tem nada de estranho: todo texto elaborado em um qua-</p><p>dro institucional, sobretudo se negociado entre numerosos agentes, revela um compromisso entre ló-</p><p>gicas diferentes, e, às vezes, interesses opostos. Ele perde em coerência o que ganha em represen-</p><p>tatividade”, justifica o autor.</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>_________________________________________________________________________________</p><p>Dos Cursos De Formação De Profissionais Para A Edu-</p><p>cação Básica.</p><p>A legislação instaura novas bases para o oferecimento de uma educação básica unificada e ao</p><p>mesmo tempo diversa, em função do nível escolar ao qual o professor se dedicará. Nesse sentido,</p><p>será fundamental que se criem mecanismos para superar rupturas seculares dentro de cada etapa e</p><p>entre elas. Isso conduziu, na perspectiva da lei, a necessidade de, também, superar as rupturas exis-</p><p>tentes na formação dos professores.</p><p>O dispositivo legal que define as incumbências dos professores não faz referência à etapa específica</p><p>da escolaridade básica, buscando traçar um perfil profissional, independente do tipo de docência na</p><p>qual o professor vai atuar: multidisciplinar ou especializada.</p><p>Em seu art.13, a lei 9394/96 afirma que,</p><p>Os docentes incumbir-se-ão de:</p><p>1. participar da proposta pedagógica do estabeloecimento de ensino;</p><p>2. elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de en-</p><p>sino;</p><p>3. zelar pela aprendizagem dos alunos;</p><p>4. estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;</p><p>5. ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos</p><p>dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;</p><p>5. colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.</p><p>Conforme o Parecer CNE/CP 9/2001,</p><p>As inovações, que a LDBEN introduz nesse artigo, constituem indicativos legais importantes para os</p><p>cursos de formação de professores:</p><p>a) posicionando o professor como aquele a quem incumbe zelar pela aprendizagem do aluno - inclu-</p><p>sive daqueles com ritmos diferentes de aprendizagem tomando como referência, na definição de suas</p><p>responsabilidades profissionais, o direito de aprender do aluno, o que reforça a responsabilidade do</p><p>professor com o sucesso na aprendizagem do aluno;</p><p>b) associando o exercício da autonomia do professor, na execução de um trabalho próprio, ao traba-</p><p>lho coletivo de elaboração da proposta pedagógica da escola;</p><p>c) ampliando a responsabilidade do professor para além da sala de aula, colaborando na articulação</p><p>entre escola e a comunidade. (p.12)</p><p>A Lei 9394/96 trata da formação dos profissionais da educação em capítulo específico que indica,</p><p>logo em seu início, os fundamentos metodológicos que presidirão a formação:</p><p>Art 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes ní-</p><p>veis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando terá</p><p>como fundamentos:</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>4 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;</p><p>II- aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras ativida-</p><p>des.</p><p>Desta forma, a Lei, no caput do art. 61, indica claramente o princípio fundamental de que a formação</p><p>dos profissionais da educação, portanto, de professores e pedagogos, deve atender aos objetivos da</p><p>educação básica.</p><p>Tal princípio define, do ponto de vista legal, que os objetivos e conteúdos de qualquer curso de for-</p><p>mação de profissionais para educação devem tomar como referência os artigos 22, 27, 29, 32, 35 e</p><p>36 da LDBEN, bem como os Pareceres e Resoluções do Conselho Nacional de Educação respectiva-</p><p>mente de n.º 04/98, 15/98, 22/98 e 02/98, 03/98, 01/99.</p><p>Os artigos citados indicam os objetivos da educação básica, nos quais fica explicitado que as apren-</p><p>dizagens devem ser significativas, remetendo continuamente o conhecimento à realidade prática do</p><p>aluno e às suas expectativas e necessidades.</p><p>Desse modo, tomando os objetivos da educação básica como referência para os cursos de formação</p><p>inicial e continuada dos profissionais que atuarão nesse nível de ensino, a LDBEN indica, ainda, a ne-</p><p>cessidade de conceber os currículos desses cursos incluindo dois outros princípios metodológicos,</p><p>também apontados pelo art.61 da Lei 9394/96: a integração teoria-prática e o aproveitamento da ex-</p><p>periência anterior.</p><p>Assim, a Lei reconhece a importância de estabelecer processos isomorfos para formação desses pro-</p><p>fissionais, já que para construir junto com os educandos experiências significativas e ensiná-los a re-</p><p>lacionar teoria e prática, será preciso que sua formação seja concebida a partir de situações equiva-</p><p>lentes de ensino e de aprendizagem.</p><p>Tipos E Modalidades De Cursos De Formação Inicial De Profissionais Para A Educação Básica</p><p>E Sua Localização Institucional.</p><p>A LDBEN trata nos três artigos seguintes dos tipos e modalidades de cursos para formação inicial de</p><p>professores e de pedagogos:</p><p>Art..62 - A formação de docentes para atuar na educação far-se-á em nível superior, em curso de li-</p><p>cenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida,</p><p>como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil, e nas quatro primeiras</p><p>séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.</p><p>Art.63 - Os institutos superiores de educação manterão:</p><p>I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, des-</p><p>tinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino funda-</p><p>mental;</p><p>II- programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que quei-</p><p>ram se dedicar à educação básica;</p><p>III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.</p><p>Os artigos 62 e 63 apontam para o ensino superior como nível desejável para a formação do profes-</p><p>sor da criança pequena (educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental) e abrem como alter-</p><p>nativa a organização dessa formação em cursos normais de nível superior, localizados no interior do</p><p>Instituto Superior de Educação.</p><p>O Parecer CNE/CP 133/2001 determina, também que as instituições não universitárias deverão criar</p><p>o Instituto Superior de Educação, com projeto pedagógico próprio, para abrigar em seu interior o</p><p>Curso Normal Superior, para formar professores para os anos iniciais do ensino fundamental e edu-</p><p>cação infantil e as demais licenciaturas, que formam professores para atuação em áreas específicas</p><p>para os anos finais do ensino fundamental e médio</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>5 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Subsídios Para Elaboração De Uma Proposta Institucional Para Formação De Profissionais</p><p>Para Educação Básica</p><p>Qualquer projeto de formação que esteja comprometido com as mudanças necessárias deverá estar</p><p>fundamentado em uma concepção emancipatória de educação que traz em seu cerne a humaniza-</p><p>ção. Emancipar significa preparar os indivíduos para participar da transformação da própria civiliza-</p><p>ção, buscando o desenvolvimento de toda a humanidade.</p><p>Conforme Freire (1989b) o mundo é uma realidade objetiva para o homem que é possível de ser co-</p><p>nhecida. Sendo o homem um ser de relações, ele está no mundo e com o mundo, resultado de sua</p><p>abertura à realidade. A pluralidade de relações que o homem estabelece com o mundo reflete a am-</p><p>pla variedade dos desafios que ele enfrenta. Ao estabelecer relações com o mundo o homem deve</p><p>ser crítico e reflexivo, precisa ser um ser situado e datado, livre da acomodação ou ajustamento, sin-</p><p>tomas da sua desumanização. Para superar o simples ajustamento ou acomodação, aprendendo te-</p><p>mas e tarefas de sua época, há a necessidade de desenvolver uma permanente atitude crítica como</p><p>a única forma que conduzirá o homem a realização de sua integração. (pp. 39-45)</p><p>As sociedades atuais que sofrem as conseqüências advindas do avanço científico e tecnológico estão</p><p>a exigir, pela rapidez e flexibilidade que as caracterizam, uma formação e o desenvolvimento de uma</p><p>atitude e comportamento também flexível, crítico e comprometido.</p><p>A postura crítica, que desejamos do futuro profissional, será alcançada por uma formação baseada</p><p>no diálogo e na atividade prática,</p><p>voltada para a responsabilidade social e política, caracterizada pela</p><p>profundidade na interpretação dos problemas sociais, políticos, econômicos e, consequentemente,</p><p>educacionais.</p><p>Nesse sentido criticidade significa a apropriação crescente pelo homem de sua posição no contexto.</p><p>Ele há de resultar de trabalho pedagógico crítico, apoiado em condições históricas propícias (Freire:</p><p>1989b p. 61). Defendemos um permanente esforço de reflexão, não apenas como atividade pura-</p><p>mente intelectual, mas sobretudo a reflexão, que conduz à prática. A ação só será autêntica práxis se</p><p>o saber de que dela resulta for objeto da reflexão crítica.</p><p>Além da atitude crítica o futuro profissional deverá ter comportamento comprometido que se caracte-</p><p>riza pela capacidade de opção. Desenvolver a capacidade de escolher e criar novos caminhos, novas</p><p>formas, novas concepções em educação. Significa formar pessoas capazes de romper com a massifi-</p><p>cação que molda e distorce o poder de captar a realidade concreta.</p><p>O futuro profissional deverá exercer sua prática centrada no diálogo, na reflexão, na comunicação,</p><p>buscando a libertação dos homens. Será necessário compreender que sua ação é política e, por isso,</p><p>uma ação cultural para a liberdade. A ação do profissional da educação básica deverá ser uma ação</p><p>libertadora, que por meio da reflexão e da consciência crítica transforme dependência em indepen-</p><p>dência.</p><p>A liberdade requer que o indivíduo seja ativo e responsável e para tanto não há outro caminho senão</p><p>o de uma prática pedagógica humanizadora, em que o método deixa de ser instrumento manipulador</p><p>dos educandos. O método passa a ser a própria consciência crítica.</p><p>Assim, devemos formar profissionais que incorporem a concepção de que "educador e educandos ...,</p><p>co-intencionados à realidade, se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não só</p><p>de desvelá-lo e, assim, criticamente conhecê-la mas também de recriar esse conhecimento.</p><p>Ao alcançarem, na reflexão e na ação em comum, esse saber da realidade, descobrem como seus</p><p>refazedores permanentes.</p><p>Desse modo, a presença dos oprimidos na busca de sua libertação, mais que pseudoparticipação é o</p><p>que deve ser: engajamento" (Freire: 1988ª, pp. 55-56)</p><p>As Instituições de Ensino Superior deverão buscar organizar projetos pedagógicos que ofereçam uma</p><p>formação de base humanista, que garanta ao aluno em formação, uma visão totalizadora e crítica da</p><p>realidade sócio-cultural brasileira e de sua influência nas questões educacionais, sem perder de vista,</p><p>porém, as transformações ocorridas no mundo contemporâneo face ao rápido avanço tecnológico e</p><p>das comunicações.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>6 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Por isso devemos considerar, também, o fato de que hoje vivemos em uma sociedade da informação,</p><p>de novas tecnologias e novos meios de comunicação, e da globalização dos mercados. Todas estas</p><p>mudanças têm provocado forte impacto social, político, econômico e cultural. Hoje não é possível</p><p>compreender qualquer uma destas instâncias isoladamente; elas são interdependentes e estão forte-</p><p>mente interrelacionadas umas com as outras.</p><p>Conforme Libâneo (2000)</p><p>"As transformações sociais, políticas, econômicas e culturais do mundo contemporâneo afetam os</p><p>sistemas educacionais e os de ensino. A globalização dos mercados, revolução na informática e nas</p><p>comunicações transformação dos meios de produção e dos processos de trabalho e a alteração no</p><p>campo dos valores e atitudes são alguns ingredientes da contemporaneidade que obrigam as nações</p><p>a constituir um sistema mundializado de economia" (p. 187).</p><p>As mudanças ocorridas na base produtiva, como a generalização da microeletrônica e da comunica-</p><p>ção, apontam para uma nova racionalização dos processos e um novo paradigma de desenvolvi-</p><p>mento. Hoje as sociedades modernas precisam responder a algumas exigências como promover o</p><p>desenvolvimento da nação no contexto mundial da globalização e garantir a competitividade econô-</p><p>mica no mercado mundial.</p><p>A partir desses dois indicativos, as instituições devem buscar elaborar uma concepção educacional</p><p>que concilie o projeto de emancipação humana com o novo paradigma imposto pelos avanços tecno-</p><p>lógicos e os novos padrões econômicos de produção e competitividade.</p><p>Esse novo paradigma requer novo papel da educação e tem colocado aos educadores alguns desa-</p><p>fios:</p><p> as oportunidades de desenvolvimento no contexto mundial de globalização dependem da qualidade</p><p>educativa da população;</p><p> a educação básica de qualidade é o diferencial central do desenvolvimento dos povos e das nações;</p><p> a formação da competência humana, bem como a preparação de sujeitos competitivos são necessi-</p><p>dades para inserção no mercado moderno e para o exercício da cidadania solidária, consciente, crí-</p><p>tica e criativa;</p><p> o conhecimento exerce relevância total, tanto em relação ao mercado quanto à cultura;</p><p> o conhecimento é o eixo central da transformação produtiva com eqüidade;</p><p> a economia competitiva alimenta-se da energia do conhecimento moderno;</p><p> a capacidade de iniciativa e inovação rápida são essenciais para a competitividade;</p><p> a reorganização do trabalho e a necessidade de requalificação profissional dos indivíduos;</p><p> um trabalhador que não sabe pensar já não é útil à produtividade moderna.</p><p>O quadro atual trouxe como conseqüências para a educação a necessidade de maior qualificação do</p><p>trabalhador e a revalorização da escola por parte do empresariado nacional. Esse panorama indica</p><p>que a educação escolar precisa de uma revisão para assumir um novo papel como agente de mudan-</p><p>ças, produtora de conhecimento, capaz de formar sujeitos competentes para intervir e atuar na socie-</p><p>dade de forma crítica e criativa.</p><p>Assim, novas tarefas se impõem à educação básica:</p><p> formar sujeitos que saibam criar, criticar, inovar e que tenham flexibilidade e iniciativa;</p><p> formar sujeitos com bom domínio da linguagem oral e escrita;</p><p> garantir a apropriação do conhecimento culturalmente acumulado;</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>7 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p> estimular a agilidade de raciocínio e a capacidade de abstração;</p><p> garantir a aquisição dos conhecimentos científicos básicos e a apropriação das novas linguagens da</p><p>informática;</p><p> formar cidadãos competentes, éticos, solidários que acolham as diferenças e diversidades de cada</p><p>cultura.</p><p>Assim, o profissional de educação em formação deverá estar apto a trabalhar as novas exigências da</p><p>cidadania no mundo contemporâneo, bem como promover novas atitudes e comportamentos que fa-</p><p>voreçam a revalorização das relações sociais, baseadas em princípios éticos. O exercício cotidiano</p><p>de suas ações profissionais constituir-se-á em processo dinâmico de apropriação e produção de co-</p><p>nhecimento, a partir de atitude crítica-reflexiva face a realidade. Além disso esse profissional deverá</p><p>compreender a importância de seu papel frente à realidade social, política e, sobretudo, econômica</p><p>no que se refere às modificações ocorridas no mercado de trabalho em função do desenvolvimento</p><p>técnico-científico.</p><p>Vale destacar que ao falarmos da formação do educador, para atuar na educação básica, estamos</p><p>adotando a concepção de que o educador é o profissional que exerce ações pedagógicas nas diver-</p><p>sas instâncias no interior da instituição escolar e extra-escolar. Nesse sentido, a ação pedagógica</p><p>deve ser entendida como um fazer complexo em que se articulam diferentes áreas de conhecimento,</p><p>o que exige do educador uma sólida base teórica articulada à prática pedagógica num processo dialé-</p><p>tico de apropriação e produção de conhecimento.</p><p>Alguns Indicativos Para Pensar A Concepção Curricular Da Instituição</p><p>A atual globalização da sociedade, exige que as instituições escolares criem um espaço ecológico</p><p>que ofereça possibilidades para o envolvimento em atividades e experiências de ensino e aprendiza-</p><p>gem de qualidade e interesse para todos os membros da comunidade escolar.</p><p>Os cursos de formação de profissionais para</p><p>a educação básica devem possuir uma utilidade social,</p><p>servindo para atender às necessidades dos alunos de compreender a sociedade em que vivem.</p><p>Nesse sentido, a proposta curricular desses cursos só terá validade se puder servir aos propósitos</p><p>que são exigidos da educação institucionalizada em uma sociedade democrática.</p><p>Os currículos dos cursos deverão favorecer o desenvolvimento de diversas aptidões, tanto técnicas</p><p>quanto sociais. Assim, é preciso profissionais pesquisadores de sua própria ação, que saibam utilizar</p><p>novas linguagens e tecnologias e que saibam trabalhar em equipe. Que sejam, enfim, tecnicamente</p><p>competentes. Por outro lado, será preciso, também, promover o desenvolvimento da autonomia, do</p><p>pensamento crítico-reflexivo, da prática democrática e da atitude de solidariedade para atender à di-</p><p>mensão social da formação. Conforme Santomé (1998)</p><p>"Formar pessoas reflexivas e críticas implica, logicamente, em comprometer os estudantes com tare-</p><p>fas que os obriguem a levar à prática capacidades superiores à mera lembrança e memorização.</p><p>Uma prática educacional com esta filosofia pressupõe que as aprendizagens significativas ocorrem</p><p>quando tentamos dar sentido a novas informações ou novos conceitos criando vínculos com os atuais</p><p>conjuntos de teorias, conceitos, conhecimentos factuais e experiências prévias". (p.253 )</p><p>Assim, os cursos de formação de profissionais para educação básica das instituições de ensino supe-</p><p>rior precisarão ser concebidos a partir de alguns princípios norteadores, que fundamentem os currícu-</p><p>los dos cursos formadores, tanto para o CNS, como para as Licenciaturas. Assim, os cursos formado-</p><p>res deverão:</p><p> estimular o desenvolvimento do compromisso profissional com uma sociedade democrática, justa e</p><p>solidária;</p><p> criar condições para desenvolver as capacidades e atitudes de interação, comunicação, coopera-</p><p>ção, autonomia e responsabilidade;</p><p> incluir uma dimensão comum a todos os profissionais de educação básica. Portanto, há competên-</p><p>cias profissionais que todos eles precisam desenvolver;</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>8 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p> desenvolver a atitude investigativa do profissional em formação, a partir da colocação da pesquisa</p><p>como elemento essencial na formação profissional;</p><p> estimular a construção de competências como eixo nuclear da formação da identidade profissional e</p><p>da dimensão pedagógica do trabalho;</p><p> promover o desenvolvimento do compromisso com os valores estéticos, políticos e éticos da socie-</p><p>dade moderna;</p><p> desenvolver a capacidade, do futuro profissional, de compreender o atual papel social da escola</p><p>frente às novas exigências postas pela contemporaneidade;</p><p> promover a resolução de situações - problema contextualizadas, que necessitam abordagens inter-</p><p>disciplinares;</p><p> desenvolver a postura interdisciplinar;</p><p> articular a teoria-prática ao longo de todo curso de formação, isto é, a prática pedagógica permeará</p><p>todo o curso, de modo a promover o conhecimento experiencial do profissional em formação;</p><p> contemplar em seus currículos atividades diversificadas, bem como tempos e espaços diferencia-</p><p>dos, como oficinas, seminários, grupos de trabalho supervisionado, grupos de estudo, tutoriais e</p><p>eventos;</p><p> promover a autonomia por meio da organização de atividades pelo aluno em formação, tais como:</p><p>constituição de grupos de estudo, seminários sobre temas educacionais e profissionais, exposições e</p><p>debates;</p><p> estimular a capacidade de gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional.</p><p>Para alcançar tais requisitos o aluno em formação deverá explorar questões, temas e problemas,</p><p>além de vivenciar experiências em situações diversificadas além dos limites convencionais das maté-</p><p>rias e áreas de conhecimento tradicionais.</p><p>Os conteúdos culturais que comporão os currículos dos cursos de formação de profissionais da edu-</p><p>cação básica deverão estar contextualizados, próximos ao mundo experiencial, de tal modo que as</p><p>disciplinas sejam trabalhadas de forma integrada, propiciando assim a construção e compreensão de</p><p>nexos que permitam sua estruturação com base na realidade. Desse modo, buscar-se-á a integração</p><p>dos campos de conhecimento com a experiência, propiciando uma compreensão mais reflexiva e crí-</p><p>tica da realidade, ressaltando,</p><p>"não só dimensões centradas em conteúdos culturais, mas também o domínio dos processos neces-</p><p>sários para conseguir alcançar conhecimentos concretos e, ao mesmo tempo, a compreensão de</p><p>como se elabora, produz e transforma o conhecimento, bem como as dimensões éticas inerentes a</p><p>essa tarefa". (Santomé:1998 ,p. 27)</p><p>O futuro profissional estará sendo preparado para "aprender a aprender" sendo agente construtor de</p><p>sua formação. A ênfase está no processo de construção do seu conhecimento e não no produto final.</p><p>Construção de um conhecimento que se inicia durante o período de sua formação e se estende ao</p><p>longo de seu exercício como profissional. Trata-se do preceito da educação continuada, conforme</p><p>preconiza a Lei 9394/96. Estaremos formando profissionais capazes de compreender, julgar e intervir</p><p>na realidade educacional brasileira de forma justa, responsável, solidária e democrática.</p><p>Integração Do Currículo - Interdisciplinaridade</p><p>A concepção interdisciplinar tem tomado vulto face às características da sociedade atual, cada vez</p><p>mais desenvolvida e com importantes problemas sociais, políticos, econômicos, científicos a serem</p><p>resolvidos que dependem, para sua compreensão e solução, de análises complexas nas quais neces-</p><p>sariamente devem ser contemplados aspectos advindos de diversas áreas de conhecimento como:</p><p>da antropologia, sociologia, política, geografia, psicologia, tecnologia, biologia, entre outras.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>9 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Santomé (1998) afirma que "a interdependência é uma das palavras mais indispensáveis nos novos</p><p>modelos de vida e sociedade" (p.83).</p><p>O modelo de sociedade global que temos hoje nos conduz a uma tomada de consciência em relação</p><p>ao conhecimento produzido para sabermos como ele pode ser aplicado ou vermos o que deve ser</p><p>construído com urgência para resolver os problemas resultantes desta globalização. Para realizar tal</p><p>tarefa precisamos da interdisciplinaridade. É Santomé (1998) quem dá um exemplo: "enquanto as ci-</p><p>ências físicas e naturais contribuem para que nos interroguemos sobre como, onde e quais são as</p><p>possibilidades das intervenções, as ciências sociais ajudam principalmente a perguntarmos sobre os</p><p>porquês, as finalidades de cada intervenção, a serviço de quem, etc". (p.86).</p><p>Esse contexto conduz à necessidade das instituições formadoras, conscientes das questões emer-</p><p>gentes de seu tempo, buscarem desenvolver no futuro profissional a postura interdisciplinar. Isto sig-</p><p>nifica renunciar à sensação de auto-suficiência adquirida por estudos específicos de uma única área</p><p>e implica em desenvolver a capacidade de abrir-se ao diálogo e para o trabalho em equipe, com o</p><p>empenho de promover outras especialidades e disciplinas diferentes das suas.</p><p>A implementação de uma proposta interdisciplinar exige mudanças nas estruturas institucionais, re-</p><p>quer novas relações entre os especialistas baseadas na cooperação e não hierarquização e, também,</p><p>uma nova forma de conceber o currículo que deve caracterizar-se pela flexibilidade, pela interpenetra-</p><p>ção dos conhecimentos de várias áreas, pela associação das disciplinas.</p><p>A concepção epistemológica adotada pelas instituições para organizar os conhecimentos que com-</p><p>põem o currículo deverá fundamentar-se na proposta de trabalho interdisciplinar. Nessa proposta ob-</p><p>jetivar-se-á um nível de associação entre disciplinas, de tal modo que a cooperação entre várias disci-</p><p>plinas deverá provocar intercâmbios reais, caracterizados por verdadeira reciprocidade, que conduzi-</p><p>rão, consequentemente, a enriquecimentos mútuos.</p><p>A interdisciplinaridade requer uma vontade e compromisso de elaboração do conhecimento em um</p><p>contexto de estudo de âmbito coletivo,</p><p>no qual as disciplinas em contato permanente de troca depen-</p><p>derão cada vez mais umas das outras. Trata-se de estabelecer a interação entre as disciplinas, resul-</p><p>tando daí a intercomunicação e enriquecimento recíproco o que conduzirá a um equilíbrio de forças</p><p>nas relações estabelecidas.</p><p>O argumento de Santomé (1998) fortalece a opção pela interdisciplinaridade ao afirmar que:</p><p>"O ensino baseado na interdisciplinaridade tem um grande poder estruturador, pois os conceitos, con-</p><p>textos teóricos, procedimentos, etc, enfrentados pelos alunos encontram-se organizados em torno de</p><p>unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias discipli-</p><p>nas. Além disso, depois fica mais fácil realizar transferências das aprendizagens assim adquiridas</p><p>para outros contextos disciplinares mais tradicionais" (p.73)</p><p>Entretanto, não se trata de abandonar totalmente a forma de organização do conhecimento por disci-</p><p>plinas, mas o que se propõe é um modo de organização que ultrapasse os estritos limites disciplina-</p><p>res, com o objetivo de oferecer uma formação mais ampla caracterizada pela flexibilidade, criativi-</p><p>dade, criticidade, capacidade de construir e produzir conhecimento. Pretendemos que desta forma o</p><p>futuro profissional passa vir a desenvolver propostas de trabalho interdisciplinar na educação básica.</p><p>Sugerimos que as Instituições proponham a integração do currículo dos cursos a partir da organiza-</p><p>ção em áreas. O currículo pode ser organizado a partir do agrupamento de disciplinas que desempe-</p><p>nham finalidade específica no desenvolvimento de certas competências no conjunto curricular para a</p><p>formação do educador. Trata-se da integração mediante o agrupamento de disciplinas por áreas do</p><p>conhecimento. Sugerimos, com base no Parecer CNE/CP nº9/2001, que as disciplinas sejam agrupa-</p><p>das em 4 (quatro) áreas: conhecimentos básicos, conhecimentos da educação, conhecimentos espe-</p><p>cíficos e metodológicos e prática pedagógica.</p><p>Para promover a articulação entre as áreas, estaremos enunciando competências necessárias à for-</p><p>mação da identidade dos profissionais da educação básica. As disciplinas agrupadas em cada área</p><p>serão responsáveis pelo desenvolvimento de competências específicas.</p><p>Propomos, também, eliminar o distanciamento existente entre a realidade e as instituições escolares.</p><p>Isto nos conduz necessariamente a buscar como alternativa uma organização curricular que aborde</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>10 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>as questões sociais mais vitais e urgentes para a sociedade, bem como garantir que os problemas</p><p>cotidianos sejam contemplados. Assim, perpassando esta matriz curricular, sugerimos que se traba-</p><p>lhe com princípios educativos e temas transversais formando uma teia curricular.</p><p>A organização curricular adotada na instituição contemplará atividades diversificadas, instituindo tem-</p><p>pos e espaços curriculares diferenciados, tais como:</p><p> oficinas</p><p> seminários</p><p> grupos de trabalho supervisionado</p><p> grupos de estudo</p><p> tutorias</p><p> eventos</p><p>Para viabilizar tais situações a instituição poderá firmar, convênios e parcerias com outras institui-</p><p>ções. Promover seminários, pelo menos um a cada ano letivo, estimular a participação dos alunos em</p><p>eventos, seminários, oficinas, grupos de estudo, grupos de trabalho, congressos, exposições entre</p><p>outras. Todas estas atividades estarão compondo a prática pedagógica do aluno em formação.</p><p>O estágio será o espaço privilegiado para promover a pesquisa de problemas concretos que afetam</p><p>as instituições de ensino, envolvendo os conhecimentos das diversas áreas com suas disciplinas,</p><p>para dar fundamento teórico.</p><p>Seria desejável que as Instituições garantissem, também, espaço para reuniões interdisciplinares na</p><p>carga horária do professor formador, em dia e horário comum a todos os docentes do curso.</p><p>As Áreas</p><p>Tomando por base uma das propostas de integração curricular apresentada por Santomé (1998)</p><p>apresentamos a organização curricular, dos cursos de formação de profissionais para a educação bá-</p><p>sica, estruturada a partir do agrupamento de disciplinas que desempenham uma determinada finali-</p><p>dade no conjunto curricular para a formação do educador. Estas áreas serão compostas por um con-</p><p>junto de disciplinas, a fim de constituir um todo orgânico responsável pelo desenvolvimento de dife-</p><p>rentes e diversas competências necessárias à construção da identidade profissional.</p><p>No desenvolvimento do currículo, na prática cotidiana da instituição formadora, as quatro áreas esta-</p><p>rão entrelaçando-se, contemplando-se e reforçando-se mutuamente para viabilizar o trabalho de</p><p>construção e reconstrução do conhecimento e dos conceitos, habilidades, atitudes, valores, hábitos</p><p>que devem caracterizar uma sociedade democrática e solidária.</p><p>Para uma compreensão integrada da realidade entendemos que não seria possível separar todo o</p><p>conhecimento em disciplinas isoladas que não se comuniquem entre si, que não tenham um elo inte-</p><p>grador que permita a construção de um conhecimento autenticamente significativo. Cada uma das</p><p>áreas de conhecimento proposta será responsável por uma dimensão da formação, o que, constitui o</p><p>elo integrador das disciplinas: - a área de conhecimentos básicos pela complementação e ampliação</p><p>dos conhecimentos trazidos da educação básica; - a área de conhecimentos da educação pela refle-</p><p>xão crítica sobre educação, escola e sociedade; - a área de conhecimentos específicos e metodológi-</p><p>cos para aquisição dos conhecimentos específicos das diversas áreas de conhecimento a serem so-</p><p>cializados na educação básica, associados ao conhecimento didático-pedagógica e - a área de prá-</p><p>tica pedagógica pela integração teórico-prática do currículo.</p><p>Os Princípios Educativos</p><p>As áreas que agrupam as disciplinas que compõem o currículo dos cursos ministrados na instituição</p><p>poderão ser trabalhadas a partir de três princípios conceitos fundamentais que conferem unidade ao</p><p>conhecimento. Trata-se de um conjunto de elementos que identificam um determinado corpo de co-</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>11 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>nhecimentos. Foram selecionadas as categorias linguagem, cultura e trabalho que aqui são entendi-</p><p>das como "conceitos básicos que pretendem refletir os aspectos gerais e essenciais do real, suas co-</p><p>nexões e relações". (Cury: 1987, p.21)</p><p>A opção por estas categorias surgiu a partir da análise da multiplicidade dos fenômenos sociais, polí-</p><p>ticos, econômicos e sua função é propiciar a interpretação e compreensão da realidade social con-</p><p>creta. Possuem, também, a característica de serem dinâmicas como o real, pois devem acompanhar</p><p>o movimento que caracteriza esse real.</p><p>Vale ressaltar que a escolha destas categorias pautou-se em algumas convicções. Assim, a partir dos</p><p>estudos de Canen (2000c) defendemos, como a autora, a idéia de que a pluralidade cultural deve ser</p><p>trabalhada como categoria e não apenas como um tema transversal, já que há o receio de que a "im-</p><p>pregnação" de tal proposta no trabalho feito nas diferentes disciplinas possa ser tênue a ponto de se</p><p>tornar invisível.</p><p>"A relevância em se promover a conscientização acerca da educação multicultural como necessária à</p><p>promoção de cidadãos críticos e participativos, em sociedades cada vez mais multiculturais, deveria,</p><p>dessa forma, ser enfatizada no interior de todas as áreas, bem como no trabalho relativo às represen-</p><p>tações sociais de docentes (Alves-Mazzotti, 1994), sob pena de reduzir-se a um "imperativo moral"</p><p>consensualmente aceito no currículo formal, porém, não efetivamente implementado nas práticas cur-</p><p>riculares vivenciadas". (Canen: 2000c, p. 141)</p><p>Da mesma forma entendemos que a linguagem deve constituir uma categoria, já que reconhecemos</p><p>que as múltiplas linguagens de que dispomos são princípios que educam, devendo portanto integrar-</p><p>se à concepção curricular dos cursos de formação.</p><p>O futuro profissional deverá, também, compreender a importância do trabalho, organizando sua prá-</p><p>tica pedagógica</p><p>de tal forma que os educandos tenham suas experiências de vida reconhecidas e</p><p>que se reconheçam na prática escolar. O trabalho deverá ser princípio educativo tanto em sua forma-</p><p>ção como em sua futura prática pedagógica com os educandos.</p><p>Todos esses princípios educativos estarão contribuindo para a construção da identidade do profissio-</p><p>nal de educação.</p><p>Linguagens</p><p>A pluralidade de formas de expressão e de linguagens que caracterizam a sociedade atual tornam</p><p>necessário que a escola articule sua ação pedagógica à nova realidade tecnológica e cultural que se</p><p>apresenta a partir do desenvolvimento dos meios de comunicação e de processamento da informa-</p><p>ção.</p><p>Sabemos que a escola ainda é o espaço privilegiado para a promoção da democratização do acesso</p><p>aos meios de comunicação e às linguagens que constróem o pensamento, o sujeito e o cidadão.</p><p>Cabe a essa escola, inserida numa sociedade tecnológica, formar cidadãos autônomos e conscientes</p><p>que sejam capazes de assumir posições críticas frente à massa de informações a que são expostos</p><p>permanentemente.</p><p>Novas formas de adquirir informações e construir conhecimentos, conceitos e valores surgiram a par-</p><p>tir das diversas mídias e linguagens contemporâneas. A realidade tecnológica e cultural atual tem tra-</p><p>zido a exigência de uma visão mais crítica e ampliada dos recursos tecnológicos disponíveis, organi-</p><p>zando de modo inovador o tempo e o espaço em que vivemos. Nesse contexto, outras relações se</p><p>estabelecerão entre o sujeito em formação (futuro profissional) e a construção de sua identidade,</p><p>sendo significativo o papel das linguagens na constituição dessas relações.</p><p>Será necessário que a concepção curricular para a formação desses profissionais esteja em conso-</p><p>nância à nova realidade tecnológica e cultural criada pelo desenvolvimento dos meios de comunica-</p><p>ção e de processamento da informação. Garantir o acesso à mídia, ao vídeo, ao computador, às re-</p><p>des e a apropriação de suas linguagens e estéticas é condição indispensável para habilitar o profissi-</p><p>onal em formação ao diálogo com sua realidade. A conquista de seu espaço social, afetivo, político e</p><p>profissional implica na aquisição de habilitação técnica e lingüística que lhe permita transitar no meio</p><p>informacional no qual todos estamos inseridos.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>12 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Cultura</p><p>Cultura está sendo aqui entendida como a forma pela qual as pessoas produzem símbolos, vivem e</p><p>aprendem em seu grupo social e como se relacionam com os outros grupos sociais. É através da cul-</p><p>tura que o indivíduo constrói o sentido do tempo, do espaço, da ética, da estética e principalmente,</p><p>sua própria identidade.</p><p>Os grupos sociais vivem a cultura de diferentes formas: linguagens, costumes, crenças, elementos</p><p>místicos e míticos, formas de pensar, de sentir, de perceber o mundo. Cada grupo tem códigos pró-</p><p>prios, bem distintos dos demais.</p><p>"Tanto na prática social (atos, modos de proceder, costumes, hábitos, tradições etc.), como nas re-</p><p>presentações simbólicas, as diferenças entre os diversos grupos humanos são visíveis, quer vivam</p><p>em países ou estados diversos; no meio urbano ou no meio rural; no interior das matas ou nas al-</p><p>deias litorâneas de pescadores; quer pertençam a faixas etárias ou gêneros diferentes. É impossível</p><p>querer negar as particularidades dos grupos humanos" (Multieducação: 1996,p.125).</p><p>Esse princípio educativo tem por objetivo viabilizar a formação de profissionais que estejam atentos à</p><p>diversidade cultural em suas práticas pedagógicas, isto é, que saibam lidar com os múltiplos univer-</p><p>sos que se encontram na escola. Entretanto, não basta apenas a aceitação cultural, é preciso uma</p><p>articulação entre esta aceitação e a "conscientização acerca das raízes das relações desiguais entre</p><p>elementos de padrões culturais diferentes dos dominantes, e com as formas pelas quais a exclusão</p><p>de tais elementos do sistema educacional é reproduzida ou ainda com as formas pelas quais se re-</p><p>siste a elas em práticas pedagógicas" (Canen:1997ª, p.93).</p><p>O profissional em formação deverá estar consciente de que há práticas culturais diferentes e que na</p><p>verdade não existem pessoas cultas ou incultas, "com" ou "sem" cultura, compreendendo que não há</p><p>superioridade de qualquer padrão cultural sobre outro. O mundo em que vivemos é pluri e intercultu-</p><p>ral e, por isso, é preciso respeitar, conviver e valorizar a multiplicidade e diversidade buscando novas</p><p>formas de trabalho.</p><p>O acolhimento da pluralidade cultural pelo futuro profissional é uma atitude desejável, mas para que</p><p>ele exerça sua futura ação docente, valorizando a diversidade, é necessário que ele também tenha</p><p>sido formado tendo esse princípio educativo como base do currículo formador.</p><p>Assim, serão desenvolvidas ao longo do curso competências pedagógicas baseadas num processo</p><p>de conscientização cultural que desafie preconceitos e estereótipos do profissional em formação, for-</p><p>necendo elementos para "a reflexão sobre formas alternativas de práticas pedagógicas que incorpo-</p><p>rem a pluralidade cultural em conteúdos e metodologias utilizados". (Canen:1997ª,p.94)</p><p>A formação do profissional estará, pois, fundamentada em valores de tolerância, respeito e aprecia-</p><p>ção da diversidade cultural. Nossa concepção curricular parte da perspectiva intercultural crítica que</p><p>busca a valorização da pluralidade cultural e a superação de estereótipos, preconceitos e hierarquiza-</p><p>ção cultural nas práticas pedagógicas do profissional em formação (Canen:2000c,p.136).</p><p>Trabalho</p><p>O significado do trabalho na vida dos indivíduos merece uma reflexão, visto que ele ocupa grande</p><p>parte do tempo na vida das pessoas e caracteriza a própria existência humana no planeta.</p><p>Sabemos que um longo caminho foi percorrido da cultura artesanal ao mundo tecnológico atual. As-</p><p>sim, temos profissões e ocupações mais antigas, outras que surgiram recentemente e, outras ainda,</p><p>que vêm surgindo e vão desaparecendo em função da dinâmica da vida econômica, cultural e social.</p><p>Novas relações de trabalho foram introduzidas a partir de novas formas de viver, de novos valores</p><p>culturais produzidos pelo avanço tecnológico. Sabemos que, ainda hoje no Brasil, convivemos com os</p><p>conflitos e contradições, desse mundo em mudança, que permeiam os regimes de trabalho, no</p><p>campo e na cidade.</p><p>Um outro aspecto a ser objeto de reflexão, quanto ao mundo do trabalho, refere-se à valorização</p><p>maior ou menor de algumas profissões exercidas por determinados setores da sociedade. Ainda con-</p><p>vivemos com a concepção de que algumas profissões são de "primeira linha" e outras são atividades</p><p>subalternas.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>13 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Finalmente, devemos pensar nos mitos que envolvem certas profissões, e nesse sentido destacamos</p><p>a de professor. Ao longo dos anos o papel do professor tem sido freqüentemente identificado, pelos</p><p>próprios e pela sociedade, com a missão de sacerdotes. Isso tem contribuído para confundir a sua</p><p>posição na sociedade, dificultando o reconhecimento de seus direitos enquanto profissionais. Associ-</p><p>ado a isso houve a difusão, no âmbito escolar e familiar, de que a professora virou tia, o que tem con-</p><p>duzido a uma diluição de seu papel profissional, caracterizando uma relação de parentesco que é</p><p>falsa.</p><p>Devemos estar atentos, ainda ao romantismo que envolve algumas profissões, bem como o fato de</p><p>que em alguns casos a profissão nem mesmo é considerada um trabalho.</p><p>Face a estas reflexões uma questão se impõe: o que a escola deverá eleger como significativo para o</p><p>mundo dos avanços tecnológicos, das imagens, da rapidez das comunicações, das novas e diversas</p><p>possibilidades de trabalho?</p><p>Sabemos que o conhecimento constituído durante a vida escolar deverá transformar-se em algo sig-</p><p>nificativo para a realidade das crianças e jovens que estarão ingressando, no futuro, no mercado de</p><p>trabalho.</p><p>Todos os aspectos abordados indicam claramente a necessidade imperativa de se trabalhar no currí-</p><p>culo competências</p><p>relativas ao princípio educativo que é o trabalho. Assim as competências e habili-</p><p>dades a serem desenvolvidas nas quatro áreas, que abrigam e integram um grupo de disciplinas,</p><p>tanto são instrumentos para compreensão das relações sociais, quanto constituem formas de introdu-</p><p>ção para o trabalho.</p><p>Os conhecimentos a serem trabalhados nos cursos formadores deverão estabelecer nexo entre insti-</p><p>tuição formadora e vida cidadã. É importante que o futuro profissional seja capaz de articular signifi-</p><p>cativamente educação e trabalho.</p><p>As Competências: Formação Da Identidade Profissional</p><p>No mundo moderno, face à complexidade que caracteriza as sociedades, a identidade passou a ser</p><p>móvel, múltipla, pessoal, auto-reflexiva e sujeita a mudanças. Mesmo tendo alguns traços fixos, a</p><p>identidade hoje revela a combinação de vários papéis. Aspectos como gênero, etnia, grupo social,</p><p>grupo profissional interferem na construção da identidade.</p><p>O conceito de identidade deve ser definido na prática, no cotidiano e será construído à medida em</p><p>que o profissional em formação tem a possibilidade de se ver como um indivíduo que participa de um</p><p>grupo com características próprias.</p><p>A identidade não é algo acabado, ela é um processo, em que os alunos em formação chegam à insti-</p><p>tuição formadora trazendo os sentidos particulares que atribuem a si mesmos como pessoas e pas-</p><p>sam a viver a experiência de compreender o significado social e multicultural da educação e da insti-</p><p>tuição escolar.</p><p>As diferentes relações que serão estabelecidas ao longo do processo de formação do educador con-</p><p>tribuirão para a formação de sua identidade. Relações interpessoais e relações do indivíduo em for-</p><p>mação com o conhecimento.</p><p>O processo de construção da identidade profissional se inicia durante a sua formação, mas é perma-</p><p>nente e contínuo, porque se realiza e efetiva ao longo da vida profissional, no exercício diário de sua</p><p>prática pedagógica. Como afirma Canen (1999b) "trata-se de visualizar a identidade como uma cate-</p><p>goria complexa; não unitária, multifacetada, fluída, construída e reconstruída nas relações sociais, em</p><p>articulação com momentos e espaços históricos, geográficos e interpessoais". (pp. 92-93)</p><p>A mesma autora indica a importância que tem assumido a questão da própria construção das identi-</p><p>dades na preparação de profissionais de educação para atuação em sociedades que não são homo-</p><p>gêneas e monoculturais.</p><p>Nesse sentido, se pretendemos a formação de profissionais comprometidos com a educação para a</p><p>humanização, devemos, como nos diz Canen (1999b), prepará-los para lidar com a noção de "dife-</p><p>rença cultural" e não de diversidade cultural".</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>14 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>A diversidade cultural reconhece apenas os conteúdos e costumes culturais pré-dados; a diferença</p><p>cultural concentra-se no problema de domínio que é exercido em nome de uma supremacia cultural.</p><p>Canen (1999b) afirma que superar dicotomias, como, negro-branco, homem-mulher, eu-outro, signi-</p><p>fica reconhecer a diferença como conceito relativo, sendo capaz de compreender que diferença e si-</p><p>milaridade são construções do discurso dominante. (pp.93-94).</p><p>Assim, entendemos que o desenvolvimento de competências é fundamental para a construção da</p><p>identidade profissional. Por isto é fundamental inventariar as competências capazes de construir uma</p><p>nova identidade e uma nova relação com a instituição e com o programa (Perrenoud: 2000b, p. 176)</p><p>A abordagem por competências pressupõe mudança na relação com a cultura geral, implica em ação</p><p>pedagógica diferenciada e modificação na formação de professores. É preciso em última análise que</p><p>as formas de ensinar e fazer aprender sejam radicalmente alteradas.</p><p>"Formar seus alunos por meio de verdadeiras competências durante toda a escolaridade básica im-</p><p>plica na transformação da relação dos profissionais de educação com o saber, de sua forma de atuar</p><p>e finalmente, de sua identidade e de suas próprias competências profissionais." (Perrenoud: 1999ª, p.</p><p>53)</p><p>No caso das instituições de ensino estamos entendendo competência como a "capacidade de mobili-</p><p>zar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação". (Perrenoud: 2000b p.15). As</p><p>competências, a serem construídas, serão consideradas como aquisições, aprendizados construídos,</p><p>e não apenas como potencialidades dos seres humanos, já que elas só se transformarão em compe-</p><p>tências efetivas por meio de aprendizados que não ocorrem espontaneamente e, nem tampouco, se</p><p>realizam da mesma maneira em cada indivíduo. O homem é geneticamente capaz para muitas com-</p><p>petências, entretanto, cada um deve "aprender" para desenvolvê-las (Perrenoud: 1999ª, p.20)</p><p>Outro aspecto a ser explicitado é que o ensino por competências não significa abrir mão de conheci-</p><p>mento; isto é competências e conhecimento não são coisas antagônicas. A articulação entre conheci-</p><p>mentos e competências sempre acontecerá porque os conhecimentos são indispensáveis para a</p><p>construção de uma competência.</p><p>Perrenoud (1999ª) afirma que "construir uma competência significa aprender a identificar e a encon-</p><p>trar os conhecimentos pertinentes" (p.22). Os conhecimentos precisam ser mobilizados para a cons-</p><p>trução de competências e isto não ocorre de maneira automática. Para torná-los operatórios, o ensino</p><p>deverá propor múltiplas situações (atividades) nas quais funcionarão como recursos, ferramentas que</p><p>possibilitarão a implementação de verdadeiros esquemas de mobilização.</p><p>Ainda Perrenoud (1999ª) cita Tardif, que baseado nas idéias de Pierre Gillet, "propõe que a compe-</p><p>tência seja o mestre de obra no planejamento e na organização da formação" ou afirma que "a com-</p><p>petência deve constituir-se em um dos princípios organizadores da formação" (p.15).</p><p>Dessa forma, o que se propõe às instituições ao elaborarem seus projetos de formação é a constru-</p><p>ção de competências a partir dos objetivos das diversas disciplinas, de modo a conferir ao futuro pro-</p><p>fessor uma nova identidade profissional.</p><p>Vale esclarecer que ao propormos o ensino por competências como eixo nuclear da formação, não</p><p>estamos abandonando os objetivos gerais e específicos das disciplinas. Perrenoud (2000b) afirma</p><p>que " os saberes e o savoir-faire de alto nível são construídos em situações múltiplas, complexas,</p><p>cada uma delas dizendo respeito a vários objetivos, por vezes em várias disciplinas" (p.27)</p><p>Devemos, assim, entender que os objetivos de aprendizagem e as situações e atividades necessárias</p><p>à sua consecução não constituem uma atividade linear, que permita alcançar cada objetivo separada-</p><p>mente. É preciso saber trabalhar "o essencial sob múltiplas aparências, em contexto variados" (Perre-</p><p>noud: 2000b, p.27). Para desenvolver suas competências o futuro profissional deverá trabalhar mais,</p><p>correr novos riscos, cooperar, projetar-se e questionar-se.</p><p>Assim, durante o processo de formação dos profissionais, os conhecimentos deverão ser trabalhados</p><p>de modo a desenvolver competências específicas à construção permanente da identidade desses</p><p>profissionais.</p><p>A Transversalidade</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>15 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Santomé (1998) aponta que a forma mais clássica de organização do currículo é, ainda, o modelo li-</p><p>near disciplinar, em que um conjunto de disciplinas é justaposto de modo bastante arbitrário, provo-</p><p>cando a fragmentação do conhecimento. Surge o que o autor denomina de "conhecimento acadê-</p><p>mico" em que a realidade cotidiana está fundada em informações e saberes desprovidos de qualquer</p><p>ideologia e são trabalhados de forma descontextualizada. Isto tem conduzido os alunos a perceberem</p><p>esse conhecimento, com a única finalidade de superar barreiras, para obter a aprovação para uma</p><p>etapa superior. (pp. 103-104)</p><p>A instituição formadora que desconsidera a inadequação de um currículo organizado e desenvolvido</p><p>mediante a justaposição de disciplinas, corre o risco de produzir um modelo de "educação bancária"</p><p>conforme diz Paulo Freire (1988ª: p.63), modelo</p><p>em que o mais importante é a acumulação de um so-</p><p>matório de conhecimento.</p><p>Nesse caso o conhecimento passa a ser apenas objeto a ser possuído e perde sua primordial função</p><p>libertadora. O mesmo autor destaca que o "conhecimento acadêmico é ministrado de forma paralela,</p><p>sem se encontrar nunca com o conhecimento social, que utilizamos para analisar e movimentar-nos</p><p>nas situações cotidianas e para resolver os problemas nos quais nos envolvemos" (p.105).</p><p>Desse modo perguntas ou questões que tenham urgência social, freqüentemente conflituosas, têm</p><p>ficado à margem das diferentes e diversas disciplinas. Temáticas relativas à educação sexual, mer-</p><p>cado de trabalho, ética, ecologia, racismo, discriminação entre outros não são realmente abordados</p><p>por serem ao mesmo tempo temas que perpassam todas as disciplinas, mas que não são conteúdo</p><p>específico das mesmas.</p><p>Um projeto de formação integrador favorecerá o conhecimento dos problemas mais graves da atuali-</p><p>dade, o que é fundamental para que também o futuro profissional, seja capaz de atuar no espaço es-</p><p>colar formando e informando, de modo a que o trabalho com os conteúdos das diversas áreas do co-</p><p>nhecimento favoreça a inserção dos indivíduos no dia-a-dia das questões sociais marcantes e em um</p><p>universo cultural maior.</p><p>Deverá propiciar aos indivíduos o desenvolvimento de habilidades e competências, favorecendo, as-</p><p>sim, a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, bem como possibilitando aos</p><p>mesmos usufruir as manifestações culturais nacionais e universais (PCN, Vol. I: p.45).</p><p>Santomé (1998) cita as quatro formas indicadas por Richard Pring, para promover a integração do</p><p>currículo. Dentre as apresentadas optamos pela "integração em torno de uma questão da vida prática</p><p>e diária" (p.207) que se caracteriza, basicamente, pela compreensão e julgamento de problemas coti-</p><p>dianos a partir de conhecimentos, habilidades, procedimentos que não se encontram especificados</p><p>no âmbito de cada disciplina curricular, já que muitas ou mesmo várias se ocupam desses temas.</p><p>Trata-se aqui da integração a partir dos temas transversais em que "as questões sociais e morais im-</p><p>plicadas... não constituem uma matéria específica do currículo tradicional" (p.207).</p><p>Do ponto de vista conceitual, a proposta de transversalidade mantém relação com a concepção de</p><p>interdisciplinaridade, embora sejam conceitos diferentes. Tanta transversalidade quanto interdiscipli-</p><p>naridade fazem a crítica à concepção de conhecimento fragmentado; apontam a complexidade do</p><p>real e a importância de se considerar as contradições que permeiam a teia de relações desta reali-</p><p>dade concreta.</p><p>Entendem, ambas, que o ato de conhecer não poderá ser isento e distanciado e, portanto, não há</p><p>neutralidade possível. Entretanto, uma difere da outra, pois a interdisciplinaridade refere-se a uma</p><p>abordagem epistemológica e a transversalidade trata da instância didática.</p><p>Assim, enquanto a interdisciplinaridade questiona a segmentação dos conhecimentos que não levam</p><p>em conta a inter-relação entre eles, a transversalidade trata de buscar estabelecer, na prática educa-</p><p>tiva, uma relação entre a aprendizagem dos conhecimentos teoricamente sistematizados e as ques-</p><p>tões urgentes da vida real. Isto significa aprender sobre a realidade e aprender na realidade e da rea-</p><p>lidade.</p><p>De fato, a transversalidade será uma das formas para promover a interdisciplinaridade, garantindo um</p><p>currículo formador integrado.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>16 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>No exercício da prática pedagógica dos cursos formadores, interdisciplinaridade e transversalidade</p><p>alimentam-se mutuamente, pois, uma proposta curricular que trabalhe com a transversalidade só será</p><p>possível tomando-se a perspectiva interdisciplinar.</p><p>Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, "as questões relativas à globalização, as transfor-</p><p>mações científicas e tecnológicas e a necessária discussão ético-valorativa da sociedade apresentam</p><p>para a escola a imensa tarefa de instrumentalizar os jovens para participar da cultura, das relações</p><p>sociais e políticas.</p><p>A escola, ao posicionar-se dessa maneira, abre a oportunidade para que os alunos aprendam sobre</p><p>temas normalmente excluídos e atua propositalmente na formação de valores e atitudes do sujeito</p><p>em relação ao outro, à política, à economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio ambiente, à tecnolo-</p><p>gia, etc." (vol.1, p.47).</p><p>Assim, se desejarmos que, os profissionais que atuarão na educação básica sejam capazes de de-</p><p>senvolver uma ação pedagógica, seja como docentes ou como pedagogos, voltada para uma educa-</p><p>ção de qualidade, que busca formar cidadãos capazes de interferir criticamente na realidade para</p><p>transformá-la, devemos também proporcionar uma formação fundada nos mesmos princípios concei-</p><p>tuais.</p><p>Isso significa que a concepção curricular dos cursos formadores deverá contemplar os temas trans-</p><p>versais como forma de integração do próprio currículo do curso, bem como uma ação metodológica</p><p>destinada a construir competências que garantam uma ação pedagógica futura que, também, con-</p><p>temple tais questões.</p><p>Desse modo, a necessidade de eliminar o distanciamento existente entre a realidade e a instituição</p><p>formadora nos conduz a buscar como alternativa uma organização curricular que aborde as questões</p><p>sociais mais urgentes para a sociedade, bem como contemplar os problemas cotidianos. Por isso, su-</p><p>gerimos que as Instituições optem por integrar o currículo por meio da transversalidade, de modo a</p><p>que os temas sociais mais urgentes, de larga e ampla abrangência e, que favoreçam a compreensão</p><p>da realidade e a participação social, integrem as áreas convencionais de forma a estarem presentes</p><p>em todas elas, relacionando-as às questões da atualidade.</p><p>Assim, perpassando esta matriz curricular, trabalharemos com a transversalidade, formando uma teia</p><p>curricular.</p><p>Sugestão De Organização Do Currículo Pleno Dos Cursos.</p><p>O currículo pleno dos cursos de formação poderá ser organizado por áreas que agrupam disciplinas,</p><p>compondo cada qual, um campo de conhecimentos responsável pelas diversas instâncias, necessá-</p><p>rias à formação dos profissionais para a educação básica. Propomos a organização de 4 (quatro)</p><p>áreas (O Parecer CNE/CP Nº 9/2001 serviu de base para a proposta dessas áreas):</p><p>a) Área de conhecimentos básicos</p><p>Destinada à complementação / consolidação e ampliação / aprofundamento dos conhecimentos e</p><p>competências previstos ao término da escolaridade básica.</p><p>b) Área de conhecimentos da educação</p><p>Trata da introdução ao estudo da ciência da educação, busca a reflexão crítica sobre educação, es-</p><p>cola e sociedade, bem como analisa a escola como espaço de trabalho educativo.</p><p>c) Área de conhecimentos específicos e metodológicos</p><p>Destinada a trabalhar os conhecimentos específicos necessários ao exercício da atividade docente</p><p>na educação básica, ou seja, trata-se de estudar os conhecimentos que serão socializados na educa-</p><p>ção básica. Serão tratados os conhecimentos relativos aos fenômenos educativos que fornecem as</p><p>bases teórico-práticas e metodológicas de atuação profissional. Os estudos dos conteúdos da educa-</p><p>ção básica que os professores irão ensinar, deverão estar associados a perspectiva de sua didática e</p><p>a seus fundamentos</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>17 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>d) Área de prática pedagógica</p><p>Espaço destinado à promoção da integração teoria-prática do currículo, aproximando o aluno da reali-</p><p>dade social e pedagógica do trabalho educativo. A prática como componente curricular deverá se efe-</p><p>tivar ao longo de todo o curso e em todas as áreas, a fim de produzir a relação teoria-prática no âm-</p><p>bito do ensino (Parecer CNE/CP 28/2001-p.9)</p><p>Os currículos do Curso Normal Superior e dos cursos de Licenciatura poderão estar organizados com</p><p>oferecimento de ênfases em:</p><p> educação de jovens e adultos;</p><p> educação especial.</p><p>Desse modo o projeto das Instituições estará atendendo a alguns princípios legais tais como:</p><p> ao princípio da flexibilidade, já que a organização curricular pode permitir que a aluno transite de um</p><p>curso para outro, dependendo de como for organizado;</p><p> ao princípio da educação continuada, já que o aluno poderá sempre, aproveitando estudos anterio-</p><p>res, continuar se aperfeiçoando;</p><p> a necessidade de mudança do perfil do educador passa pela mudança em sua formação, que deve</p><p>estar baseada em pressupostos curriculares únicos para todo o profissional que vai atuar na educa-</p><p>ção básica e específica dependendo do nível de ensino em que atuará (educação infantil, ensino fun-</p><p>damental, ensino médio).</p><p>Fundamento Legal Para A Estrutura E Organização Curricular</p><p>Conforme a resolução CNE/CP 2/2002 a carga horária dos cursos de formação de professores de</p><p>educação básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena deverá integralizar</p><p>no mínimo 2.800 horas organizadas da seguinte forma:</p><p>I. 400 (quatrocentas) horas de prática pedagógica interdisciplinar como componente curricular, distri-</p><p>buídas ao longo do curso;</p><p>II. 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade</p><p>do curso;</p><p>III. 200 (duzentas) horas para outras atividades acadêmico-científico-culturais.</p><p>IV. 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultu-</p><p>ral.</p><p>As Áreas E Suas Respectivas Competências.</p><p>Área De Conhecimentos Básicos:</p><p>Conforme o PARECER CNE/CP 9/2001:</p><p>"O desenvolvimento das competências profissionais do professor pressupõe que os estudantes dos</p><p>cursos de formação docente tenham construído os conhecimentos e desenvolvido as competências</p><p>previstas para a conclusão da escolaridade básica."</p><p>Ninguém promove a aprendizagem dos conteúdos que não domina, nem a constituição de significa-</p><p>dos que não possui ou a autonomia que não teve a oportunidade de construir. É, portanto, imprescin-</p><p>dível que o professor em preparação para trabalhar na educação básica demonstre que desenvolveu</p><p>ou tenha a oportunidade de desenvolver de modo sólido e pleno, as competências previstas para os</p><p>egressos da educação básica, tais como estabelecidas na LDBEN e nas diretrizes/parâmetros/refe-</p><p>renciais curriculares nacionais da educação básica. Isto é condição mínima indispensável para quali-</p><p>ficá-lo como capaz de lecionar na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio.</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>18 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p>Sendo assim, a formação de professores terá que garantir que os aspirantes à docência dominem</p><p>efetivamente esses conhecimentos. Sempre que necessário, devem ser oferecidas unidades curricu-</p><p>lares de complementação e consolidação dos conhecimentos lingüísticos, matemáticos, das ciências</p><p>naturais e das humanidades." (p.36)</p><p>Assim, as competências que compõem essa área devem ser constituídas a partir daquelas que ca-</p><p>racterizam a educação básica e por isso, será preciso usarmos as Diretrizes Curriculares Nacionais</p><p>do Ensino Fundamental e do Ensino Médio como balizadores da seleção de competências que ainda</p><p>devem ser trabalhadas no início da formação do professor.</p><p>Área De Conhecimentos Da Educação</p><p>Competências Referentes Ao Compromentimento Com Os Valores Inspiradores Da Sociedade</p><p>Democrática</p><p> Pautar-se por princípios da ética democrática: dignidade humana, justiça, respeito mútuo, participa-</p><p>ção, responsabilidade, diálogo e solidariedade, para atuação como profissionais e cidadãos;</p><p> Orientar suas escolhas e decisões metodológicas e didáticas por valores democráticos e por pres-</p><p>supostos epistemológicos coerentes.</p><p> Reconhecer e respeitar a diversidade manifestada por seus alunos, em seus aspectos sociais, cultu-</p><p>rais e físicos, detectando e combatendo todas as formas de discriminação</p><p> Zelar pela dignidade profissional e pela qualidade do trabalho escolar sob sua responsabilidade.</p><p>8.2.2. Competências referentes à compreensão do papel social da escola</p><p> Compreender o processo de sociabilidade e de ensino e aprendizagem na escola e nas suas rela-</p><p>ções com o contexto no qual se inserem as instituições de ensino e atuar sobre ele;</p><p> Utilizar conhecimentos sobre a realidade econômica, cultural, política e social para compreender o</p><p>contexto e as relações em que está inserida a prática educativa;</p><p> Participar coletiva e cooperativamente da elaboração, gestão, desenvolvimento e avaliação do pro-</p><p>jeto educativo e curricular da escola, atuando em diferentes contextos da prática profissional, além da</p><p>sala de aula;</p><p> Promover uma prática educativa que leve em conta as características dos alunos e de seu meio so-</p><p>cial, seus temas e necessidades do mundo contemporâneo e os princípios, prioridades e objetivos do</p><p>projeto educativo e curricular;</p><p> Estabelecer relações de parceria e colaboração com pais dos alunos, de modo a promover sua par-</p><p>ticipação na comunidade escolar e a comunicação entre eles e a escola.</p><p>Área De Conhecimentos Específicos E Metodológicos:</p><p>Competências Referentes Ao Domínio Dos Conteúdos A Serem Socializados, De Seus Signifi-</p><p>cados Em Diferentes Contextos E De Sua Articulação Interdisciplinar</p><p> Conhecer e dominar os conteúdos básicos relacionados às àreas e disciplinas de conhecimento que</p><p>serão objeto de atividade docente, adequando-as às atividades escolares próprias das diferentes eta-</p><p>pas e modalidades da educação básica.</p><p> Ser capaz de relacionar os conteúdos básicos referentes às àreas/disciplinas de conhecimento com:</p><p>(a) fatos, tendências, fenômenos ou movimentos da atualidade; (b) os fatos significativos da vida pes-</p><p>soal, social e profissional dos alunos;</p><p> Compartilhar saberes com docentes de diferentes áreas/disciplinas de conhecimento e articular em</p><p>seu trabalho as contribuições dessas áreas;</p><p>FORMAÇÃO DE PROFESSORES</p><p>19 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR</p><p> Ser proficiente no uso da Língua Portuguesa e de conhecimentos matemáticos nas tarefas, ativida-</p><p>des e situações sociais que foram relevantes para o seu exercício profissional;</p><p> Fazer uso dos recursos da tecnologia da informação e da comunicação de forma a aumentar as</p><p>possibilidades de aprendizagem dos alunos.</p><p>Competências Referentes Ao Domínio Do Conhecimento Pedagógico</p><p> Criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações didáticas eficazes para a aprendizagem e para o</p><p>desenvolvimento dos alunos, utilizando o conhecimento das áreas ou disciplinas a serem ensinadas,</p><p>das temáticas sociais transversais ao currículo escolar, bem como as especificidades didáticas envol-</p><p>vidas;</p><p> Utilizar modos diferentes e flexíveis de organização do tempo, do espaço e de agrupamento dos</p><p>alunos, para favorecer e enriquecer seu processo de desenvolvimento de aprendizagem;</p><p> Manejar diferentes estratégias de comunicação dos conteúdos, sabendo eleger as mais adequadas,</p><p>considerando a diversidade dos alunos, os objetivos das atividades propostas e as características dos</p><p>próprios conteúdos;</p><p> Identificar, analisar e produzir materiais e recursos para utilização didática, diversificando as possí-</p><p>veis atividades e potencializando seu uso em diferentes situações;</p><p> Gerir classe, a organização do trabalho, estabelecendo uma relação de auto-confiança com os alu-</p><p>nos;</p><p> Intervir nas situações educativas com sensibilidade, acolhimento e afirmação responsável de sua</p><p>autoridade;</p><p> Utilizar estratégias diversificadas de avaliação da aprendizagem e, a partir de seus resultados, for-</p><p>mular propostas de intervenção pedagógica, considerando o desenvolvimento de diferentes capacida-</p><p>des dos alunos.</p><p>Área De Prática Pedagógica</p><p>Competências Referentes Ao Domínio Do Conhecimento Pedagógico</p><p> Criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações didáticas eficazes para a aprendizagem e para o</p><p>desenvolvimento dos alunos, utilizando o conhecimento das áreas ou disciplinas a serem ensinadas,</p><p>das temáticas sociais transversais ao currículo escolar, dos contextos sociais considerados relevantes</p><p>para a aprendizagem escolar, bem como as especificidades didáticas envolvidas</p>