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SPAS E QUALIDADE DE VIDA Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Profª Yolanda Flores e Silva CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. SI586s Silva, Yolanda Flores e Spas e qualidade de vida. / Yolanda Flores e Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 114 p.; il. ISBN 978-85-7141-283-5 1.Saúde. – Brasil. 2.Qualidade de Vida. – Brasil. II. Centro Univer- sitário Leonardo Da Vinci. CDD 610 Impresso por: Yolanda Flores e Silva Yolanda Flores e Silva é docente e pesquisadora com formação nas áreas da Saúde e Antropologia, possui mestrado em Antropologia e doutorado em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina, realizou seu Estágio Sênior Pós- Doutoral em 2013, na Universidade do Algarve (Faculdade de Economia/Programa de Doutorado em Turismo). Atua com pesquisas em comunidades tradicionais do Brasil e Portugal com temáticas acerca das populações e seus modos de vida, tradições, patrimônios, itinerários terapêuticos, alimentação orgânica, agroturismo, turismo de base comunitária, gastronomia étnica-cultural, segurança alimentar e sustentabilidade na escala humana, entre outras temáticas correlatas. Trabalha com pesquisas financiadas por instituições de renome, como o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – onde atua como Bolsista Produtividade 2 desde 2017. Essas pesquisas têm como meta final a autonomia e a inclusão social das pessoas almejando saúde, bem-estar e qualidade de vida onde quer que elas estejam. Caso queira conhecer um pouco melhor da trajetória da docente, acesse o currículo lattes dela: <http://lattes.cnpq.br/5344296091176496> e acompanhe o percurso de caráter interdisciplinar que faz desde que se formou em Enfermagem em 1986. Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................07 CAPÍTULO 1 Tipologias de Spas e Objetivos .................................................09 CAPÍTULO 2 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável .....................................................................25 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal ...................................................................................53 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável ..........................................................................83 APRESENTAÇÃO Esta disciplina, embora necessária para quem atua com a saúde e o bem- estar, não é comum em cursos de graduação, especialização e/ou em cursos técnicos convencionais. Por que isto acontece? Atuando nesta área, é possível afirmar que o cuidado enquanto uma ‘arte’ por vezes é relegada a segundo plano, embora seja a base e a essência da prevenção e da promoção da saúde. Falar de prevenção é assumir que se faz necessário ter o apoio de profissionais da saúde, terapias medicamentosas, como as vacinas, e de exames diagnósticos voltados ao cuidado corporal, de modo a se evitar as doenças. Já, tratar de promoção da saúde é entender que algumas escolhas realizadas no cotidiano produzem efeitos benéficos ao corpo e à mente, que ao longo da vida são fortes influenciadores na contenção de problemas de saúde e até doenças de distintas naturezas. Ao se escolher o melhor e o mais saudável modo de vida, considerando questões econômicas, ambientais, sociais e culturais, se está assumindo o ‘Cuidado de Si’, atitude já colocada como positiva por filósofos como Sócrates. Considerando esse contexto, o material aqui apresentado tem por objetivo ajudá-lo a compreender como cada pessoa pode ser auxiliada por um profissional de estética no sentido de apreender conhecimentos sobre diferentes itinerários terapêuticos voltados a cuidados corporais fundamentados em uma abordagem holística e transdisciplinar. No Capítulo 1, sobre Tipologias de Spa’s e Objetivos, você será apresentado a conceitos importantes relacionados ao que é um Spa, cuidado corporal e os conceitos mais importantes sobre vida saudável, bem-estar pessoal e qualidade de vida. Entender como atuar em Spa’s com ações e/ou atividades importantes para diminuição do estresse e a promoção da saúde é a intenção deste capítulo (Bem-Estar/Qualidade de Vida). No Capítulo 2, sobre Práticas Terapêuticas Orientais de Promoção da Saúde e Estética Saudável, apresentamos algumas correntes terapêuticas orientais utilizadas no Ocidente no combate ao estresse cotidiano, promoção da saúde e estética saudável. Nossa ideia é que você possa analisar as escolhas mais saudáveis e adequadas para realização de técnicas junto a pessoas que poderá atender profissionalmente (Massagens/Yoga/Meditação). No Capítulo 3, sobre Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal, queremos que apreenda conhecimentos e práticas terapêuticas cujas bases de aplicação são sensoriais (sentidos) e corporais (física). Nesse sentido, muito do aprendizado dessas práticas perpassa conhecimentos direcionados às ervas, plantas aromáticas e cores (Aromaterapia/Cromoterapia). No Capítulo 4, sobre Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável, o aprendizado ministrado visa colocá-lo diante de informações sobre a importância da alimentação para promoção da saúde, principalmente quando esta tem natureza orgânica/biológica com a finalidade de ofertar uma vida mais saudável e equilibrada (Alimentação Saudável). CAPÍTULO 1 Tipologias de Spas e Objetivos A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer os espaços de cuidados terapêuticos e estéticos denominados SPAs. � Compreender os conceitos de qualidade de vida e bem-estar no cotidiano familiar, profissional e social. 10 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 11 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 1 Contextualização Estamos iniciando uma caminhada juntos, chegando ao universo dos cuidados voltados ao bem-estar e a qualidade de vida, com novos olhares e perspectivas, algo diferenciado do que se fazia na época dos nossos pais e avós. E porque está diferenciado? O que mudou? Será que esta é uma necessidade apenas do mundo contemporâneo? As conquistas associadas a uma vida com um acesso mais fácil aos serviços de saúde do que na época dos pais ou avós é uma realidade. Mesmo que as pessoas reclamem do que temos hoje, a história nos informa que houve sim uma mudança benéfica de acesso à prestação de assistência e tratamento as pessoas no meio urbano e rural a partir da metade do século XX. Como bem afirma Nossa e Caldeira (2014), seja na gestão ou nas estratégias preventivas e de promoção da saúde, desde os anos de 1980 por exemplo, temos na Europa e em vários lugares do mundo, suporte e novas políticas de saúde pública mais orientadas para nossos estilos de vida e a prevenção de riscos de distintas naturezas. Pessoas, grupos e comunidades, quando informados e com acesso a recursos e/ou estabelecimentos com uma série de estratégias e práticas capazes de melhorar as condições de vida, conseguem responder de forma positiva aos agravos possíveis no processo saúde-doença (SERAPIONI; MATOS, 2013). Nesse sentido, queremos que você veja que não é apenas o setor oficial de saúde que podeatuar na promoção da saúde, devemos pensar que nos cuidados individuais ou coletivos, necessitamos partilhar responsabilidades a diversos níveis, num contexto interdisciplinar, de modo que se favoreça o desenvolvimento de espaços para o cuidado considerando diferentes escolhas de práticas terapêuticas, profissionais e ambientes. Nessa perspectiva, temos com certeza uma mudança nos paradigmas vigentes na saúde, uma vez que saímos da ideia cartesiana e biomédica, para uma ideia holística, mais integral e com possibilidades de atuação com distintos modelos de cuidado a saúde realizados por profissionais das áreas da saúde e de outras áreas também, devidamente preparados para tal. Os spas, enquanto estabelecimentos voltados a um cuidado fora do sistema biomédico, mas, ao mesmo tempo com profissionais que podem ser deste sistema e de outros, passa a incorporar, de forma progressiva a substituição de uma atitude reativa aos episódios de agravos a saúde por atitudes proativas voltadas a condição de bem- estar e uma vida de qualidade e saudável das pessoas que buscam seus serviços. 12 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 2 Os Spas: Tipologias, Cuidados e Objetivos Este capítulo vai tratar de alguns conceitos básicos relacionados ao que se entende como qualidade de vida e bem-estar, assim como o papel dos spas no processo de atendimento voltado às necessidades de um cliente estressado ou com cansaço crônico. Os spas são estabelecimentos que podem se vincular a uma clínica de estética direcionada a um público residente no lugar em que se estabelece ou ser um subproduto do Turismo de Saúde e se vincular a hotéis, clubes e/ou outros espaços idealizados para públicos internos ou externos à região em que está localizado (SILVA, 2016; ROSA; SILVA, 2011; BRASIL, 2010). Em Portugal e alguns países europeus, os spas são estabelecimentos que estão vinculados ao Turismo de Saúde, cujas atividades podem estar em dois segmentos deste modelo de turismo: o turismo médico e o turismo de bem- estar, em ambos subprodutos, o spa é um estabelecimento sem vinculação com programas de saúde públicos ou privados de caráter médico-hospitalar (SILVA; BARRETO; FERREIRA, 2015). Spa é uma expressão cujo significado é ‘serviço personalizado de atendimento’, refere-se ao termo em latim Salut per Aqua, ou seja, saúde advinda da água e outras terapias corporais (SANTOS; CORREA; CARVALHO, 2016). O termalismo, ou a ida a localidades com águas termais, era uma prática entre romanos e gregos. Os romanos iam às águas termais e nelas, em ambientes masculinos, além dos banhos quentes e frios, era comum o uso de saunas, receber massagens, fazer exercícios e ao mesmo tempo tomar decisões relacionadas à vida pública e negócios. Estas práticas realizadas após conquistas de territórios ou grandes discussões políticas eram comuns entre os homens da aristocracia, alguns militares que estavam à frente de batalhas e sacerdotes (MEDEIROS; CAVACO, 2006). Como estes espaços de cuidados corporais chegaram aos dias de hoje? Da mesma forma que na antiguidade, as pessoas sentem necessidade de buscar momentos para o cuidado de si ou autocuidado. Mesmo envolvidas com suas rotinas estafantes de trabalho, percebem os impactos de dias sem exercícios, alimentação desequilibrada e noites insones. Ramos (2005, p. 5) afirma ser um ‘mantra’ da vida moderna e uma reflexão sobre a nossa saúde a necessidade de trabalharmos não a prevenção das doenças, mas a promoção da saúde “através de hábitos sadios, com exercícios, regimes alimentares, sentimentos positivos, evitando o estresse, a competição etc.”. 13 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 Delinear e planejar momentos para o cuidado de si, numa perspectiva ‘holística’, como afirma Ramos (2005), leva-nos a um equilíbrio em nossa rotina no aspecto social, profissional e/ou familiar. Esta perspectiva denominada de holística ou holismo é parte do que se denomina de novo paradigma contemporâneo, um modo de viver e ver a vida de forma integral. O que na prática isso significa? Significa aprender como se cuidar, se olhar numa perspectiva que está além do próprio corpo, se ver como parte do planeta, como parte de um todo maior que pode ser responsável pela saúde e/ou pela doença se não houver equilíbrio na vida de cada um de nós (ISELE, 2011). Nesse sentido, os spas e outros empreendimentos se organizaram como espaço terapêutico e de lazer, considerando como um de seus objetivos ofertar o que no passado era parte do que romanos e gregos tinham como um lugar de reencontro com o seu eu e espaço para retomar o equilíbrio perdido em guerras e discussões políticas (ZONTA; NOVAES, 2006). Hall (2011) categoriza os tipos de spas como: Spas Clube (+ fitness), Spas Cruzeiro (também fitness), Spas Médico (de caráter + curativo), Spas Termal (normalmente em cidades com fontes termais – pode estar vinculado a um clube, hotel, pousada) e Spas/Resort Hotel (direcionado aos hóspedes). Embora no passado a busca por espaços como spas se voltasse mais especificamente à cura de doenças respiratórias, no século XX, outras associações foram feitas. A mais conhecida envolve o emagrecimento, ou ainda a oferta de massagens em ambiente perfumado com aromatizantes como complemento a distintos tratamentos estéticos (CAMPOS, 2005). Neste milênio, ampliou-se mais ainda a oferta de cuidados realizados nos spas e apenas naqueles destinados a tratamentos é que se realizam procedimentos específicos de ‘cura’, nos demais, os procedimentos visam ao bem- estar com cuidados que podem ser de natureza estética ou relaxantes. A questão que nos ocorre agora é: o Spa é um espaço para tratamento ou para cuidado? Embora existam espaços dirigidos por médicos e outros profissionais da saúde voltados ao tratamento e também ao cuidado (Spas Médicos), na maioria das vezes os demais tipos de spas se voltam ao cuidado especializado e não ao cuidado médico. Agora, vamos ver qual a diferença entre tratamento e cuidado? Quando pensamos em tratamento, logo associamos à ideia de doença. E se é doença, precisamos de um profissional preparado para nos indicar medicamentos, exames clínicos, talvez uma cirurgia ou algo que deve ser acompanhado em uma unidade básica de saúde, uma clínica ou hospital, todos voltados a uma assistência 14 SPAS E QUALIDADE DE VIDA médica, de enfermagem e/ou odontológica com preparação específica, por exemplo: especialista em acupuntura, cirurgia plástica, cosmetologia e estética, entre outras possibilidades. Boff (2005, p. 29) reflete no cuidado como: Em latim, donde se derivam as línguas latinas e o português, Cuidado significa Cura. Cura é um dos sinônimos eruditos de cuidado, utilizado na tradução do famoso ‘Ser e Tempo’, de Martin Heidegger. Em seu sentido mais antigo, cura se escrevia em latim coera e se usava em um contexto de relações humanas de amor e de amizade. Cura queria expressar a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pelo objeto ou pela pessoa amada. Importante: o cuidado pode ser profissional ou leigo. Quando o cuidado é profissional e voltado para práticas terapêuticas, o profissional deve ser da área da saúde e/ou ter formação específica no que deseja trabalhar com certificação ou diploma reconhecido junto aos órgãos educacionais do país, de técnico, tecnólogo, bacharel ou especialista no domínio em que pretende atuar. No caso das práticas terapêuticas complementares e/ou alternativas, o profissional interessado em ofertar serviços e/ou produtos voltados às mesmas deve também, conforme a especificidade e complexidade da prática, receber uma formação específica também reconhecida pelo Conselho profissional em que está registrado. Essa é uma das exigências para atuar em órgãos públicos e que se deseja que também possa ser efetivada em entidades, empreendimentos e outras instituições e órgãos privados (BRASIL, 2010). Atividade de Estudos: 1) Vamos vero que vocês guardaram de informações dos conteúdos apresentados. Com base no conteúdo, responda: Como poderíamos chamar as ações e atividades que alguém pode receber em um spa? Seria tratamento ou cuidado? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 15 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 ____________________________________________________ ___________________________________________________ . Ao falarmos na possibilidade de alguém ser assistido para relaxar, descansar e diminuir as tensões de seu cotidiano, do que exatamente estamos falando, de um cuidado ou de um tratamento? Quais profissionais podem atuar neste sentido? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ . 2) Se o ‘CUIDADO’ não é tratamento e pode ser realizado por profissionais não vinculados à área da saúde, embora preparados para cuidar de pessoas, ele poderia ser realizado em um spa, um estabelecimento que não é uma unidade básica de saúde? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ . De acordo com Waldow e Borges (2011, p. 416), o termo cuidado e o termo humanização vêm sendo tratados e/ou conduzidos juntos. Para as autoras, a dificuldade em ver os dois termos de forma separada se deve ao fato de que “ambas as categorias englobam valores e enaltecem a dignidade humana”. Inclusive são usadas como termos sinônimos e se referem a uma série de ações realizadas com responsabilidade, compromisso e, como afirma Boff (2004), com amor e compaixão! 16 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Amor e Compaixão, como você relacionaria estas categorias com os cuidados a serem realizados em um spa? O que compaixão tem a ver com uma massagem, uso de cores, luzes relaxantes, músicas, chás calmantes, cremes veganos, entre outros serviços e produtos que podem ser ofertados em um spa? E o que seria exatamente ter amor e compaixão por alguém? Se o spa está relacionado a um serviço considerado especial e voltado a um grupo com poder econômico de mediano a alto, como amor e compaixão se encaixam nesse universo? Conforme Boff (2005; 2004), amor e compaixão pelo ‘outro’ não deve ter um direcionamento que envolva sexo, idade, riqueza, pobreza, origens culturais ou outro qualitativo durante um cuidado terapêutico. O sentido de amor e compaixão leva em consideração a responsabilidade dos profissionais com o seu cliente, dando o melhor de si, atuando de acordo com a sua competência, ofertando um bom serviço em troca da confiança de alguém que entrega seu corpo para uma massagem, uma seção de aromaterapia ou uma instrução de yoga e/ou meditação. FIGURA 1 – AMOR E COMPAIXÃO X CONFIANÇA E COMPETÊNCIA FONTE: Duarte (2015, s.p.) Em consonância a tudo que disponibilizamos neste capítulo, convém evidenciar que o spa é um espaço de saúde, ainda que não seja uma unidade de tratamento médico, e pensa-se que em futuro próximo este tipo de estabelecimento possa ser disponibilizado para pessoas de qualquer classe 17 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 social. Seja em um estabelecimento sofisticado ou em um lugar mais simples, se ali existem profissionais qualificados com objetivos de ofertar a possibilidade de alguém ser cuidado no sentido de relaxar e cuidar de si, ali temos um spa voltado ao cuidado humano. E este cuidado está provido de amor e compaixão porque envolve a responsabilidade por todas as pessoas que buscam cuidados corporais visando melhorar sua condição física e emocional, diferente de outros momentos da história dos spas. Neste milênio, pensamos nos spas como espaços profissionais em que pessoas devidamente habilitadas irão ofertar o melhor de suas competências para pessoas que buscam bem-estar e qualidade de vida. 3 Bem-Estar e Qualidade de Vida Na sequência deste capítulo, e sabendo que um spa pode ofertar uma série de cuidados com técnicas variadas de natureza física, mas com objetivos que envolvem não apenas o corpo material das pessoas, mas também os seus sentidos (visão, olfato, odor, escuta e tato), as emoções, as percepções e as muitas subjetividades do viver humano, vamos apresentá-lo ao que consideramos qualidade de vida (QV) e bem-estar (BE). Não existe dúvida de que é relevante falar de QV. É interessante verificar, nestes primeiros 18 anos do século XXI, que as Ciências da Saúde tomaram para si o conceito do termo qualidade de vida e raros são os trabalhos da área que não tratam desta questão. Nas Ciências Sociais não é diferente, mas a ótica e o tratamento dado buscam as distintas formas de olhar o que chamamos de qualidade de vida. O que será qualidade de vida para o agricultor? O empresário? O professor? Do ponto de vista cultural, a forma como percebemos o mundo, a construção de nossos valores e costumes, na maioria das vezes, assumem aspectos diferentes conforme o território de onde viemos, nossas comunidades de origens, ideias e socialização. Quando falamos em qualidade de vida, estamos falando de atitudes adotadas em nosso estilo de vida, ou seja, são hábitos e ações que representam o conjunto de ações conscientes que adotamos, considerando todo nosso arsenal cultural pessoal, familiar e comunitário. Se o estilo de vida que assumimos no cotidiano do trabalho e vida familiar nos permite alcançar bem-estar e qualidade de vida, significa, no mínimo, que temos energia equilibrada, alegria e disposição para as demandas de trabalho e de vida familiar. Cultura pode ser definida como um conjunto de elementos que medeiam e qualificam qualquer atividade física ou mental, que não seja determinada pela biologia, e que seja compartilhada por diferentes membros de um grupo social. Trata-se de elementos sobre os quais os atores sociais constroem significados para as ações e interações sociais concretas e temporais, assim como sustentam as formas sociais vigentes, as instituições e seus modelos operativos. A cultura inclui valores, símbolos, normas e práticas (LANGDON; WIIK, 2010, p. 3). 18 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Importante: Cultura não vem com a genética. Cultura é algo que aprendemos, compartilhamos e padronizamos enquanto uma criação humana que se espalha por vários grupos. Aqueles que adotam certos costumes e modos de pensar podem, a médio e longo prazo, mudar, transformar e mediar modos diferentes de viver certas experiências, e isto é importante porque torna a cultura dinâmica, o que para muitas pessoas demonstra a diversidade e capacidade humana de adequar- se às circunstâncias boas e ruins do cotidiano (LARAIA, 2008). Os itens elencados sobre CULTURA dizem muito da nossa vida e do que subjetivamente consideramos como importante para nos sentirmos bem, segundo aprendizados e/ou informações que adquirimos ao longo de nossa história cultural. Estudos clássicos que associam cultura com qualidade de vida (QV), como os de Day e Jankey (1996), descrevem quatro abordagens gerais para situarmos QV, que podem se relacionar com os arranjos produtivos de natureza econômica, com as nossas emoções e sentimentos, e neste caso se caracterizam como psicológicas, ou ainda, relacionam-se ao processo saúde edoença em um contexto biomédico, e por fim, podem ser aceitas em uma perspectiva geral ou holística ao considerar a QV de uma forma multidimensional, com componentes que diferem de pessoa a pessoa, conforme seus valores e costumes, ou seja, conforme sua cultura. Para Minayo, Hartz e Buss (2000), para entendermos o que é QV se faz necessário considerarmos três referências: o momento histórico da sociedade em que estamos inseridos, com seus valores culturais e as estratificações sociais reconhecidas por essa sociedade em um espaço temporal e territorial. Isto significa, segundo Pereira, Teixeira e Santos (2012), que o conceito de QV não é uma unanimidade para as pessoas individualmente, para as comunidades e para as áreas que a estudam. Os autores sustentam que existem componentes e subcomponentes que são essenciais para que alguém se sinta com QV e que estes se relacionam muito com as referências citadas por Minayo, Hartz e Buss (2000). O que isto na prática ocasiona? A dificuldade em se ter um conceito definitivo. 19 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 VAo considerarmos as várias disciplinas das distintas áreas do conhecimento que estudam o conceito de QV, chegamos à conclusão do quanto é difícil realmente termos um conceito único que seja visto como o ‘melhor’ ou o mais ‘adequado’ de ser utilizado como uma referência nas pesquisas realizadas. Seguindo esta premissa, o que vamos aconselhar a vocês é que vejam, nos distintos elementos que trazem satisfação às pessoas, o que mais se encaixa como um atributo de QV. Percebam que a QV tem diferentes significados para as pessoas e, portanto, não tem como ser dimensionado com um único conceito. Os elementos que podem atribuir a ideia de QV a uma pessoa podem mudar, dependendo da cultura ou ambiente. O que denominamos de Vida Saudável em uma cultura pode não ser possível em função do clima (muito frio/muito quente), dos patrimônios alimentares e seus modos de cultivo (com agrotóxicos) e preparo (excesso de frituras), dos tabus e possibilidades de deslocamento (em países com proibições religiosas rígidas, as mulheres raramente saem de casa), entre outros elementos. Ainda que a globalização imponha uma série de trocas entre culturas distintas, alguns costumes e valores podem levar a conceitos e definições diferenciadas. Na Figura 2 temos um rol de elementos desejados pelas pessoas em vários lugares do mundo. O que eles significam, como as pessoas fazem para alcançá-los? As respostas têm a ver com a cultura das pessoas, não há unanimidade quanto aos significados e formas de se obter esses ‘desejos cotidianos’ (LARAIA, 2008). FIGURA 2 – DESEJOS COTIDIANOS Estilo de Vida Saudável Produtividade Energia Felicidade Equilíbrio Desenvolvimento Pessoal Saúde Bem-estar FONTE: Pena (2015, s.p.) Analisando a Figura 2, como você deve ter percebido, a palavra Bem-estar consta como um dos elementos que integram o que podemos considerar um atributo ou elemento para se ter QV. Ou será ao contrário? 20 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Com algumas palavras da Figura 3 você poderia tentar elaborar uma ideia sobre bem-estar? A proposta é que você apresente o seu pensamento sem usar as mesmas palavras, elaborando algo novo. Vamos lá? FIGURA 3 – NUVEM DO BEM-ESTAR FONTE: Hennemann (2012, s.p.) Bem-estar Exemplo: bons relacionamentos, motivação e capacidade de resiliência aos problemas. Atividade de Estudos: 1) Vamos lá? Coloque a sua ideia de bem-estar usando algumas das palavras da nossa nuvem (Figura 3) e acrescentando outras. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ . 21 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 Ficha de Leitura Título da Obra: Saber cuidar: ética do humano Referência (norma ABNT): BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2004. Informações sobre a obra: O cuidado é apresentado segundo conceitos filosóficos inerentes a todo ser humano, necessário à sobrevivência saudável e bem-estar individual e coletivo (p. 12). O cuidado pode ser explicado nas perspectivas do ‘cuidar responsável’ e da ‘negligência do cuidar’ (p. 46). O cuidado mais explícito em toda obra não é de natureza profissional, mas pode ser aperfeiçoado quando uma pessoa abraça uma profissão voltada ao cuidado em situações de doença, na infância, na velhice, nas calamidades e necessidades humanas (p. 60). Comentários sobre a obra: Importante como base para o estudo conceitual de cuidado leigo e cuidado profissional na perspectiva ética, responsável e solidária. Ideias surgidas com a leitura: Organizar um ensaio sobre o cuidado a partir de outras perspectivas e não apenas a filosófica. Identificar artigos na área da saúde sobre o cuidado. 4 Algumas Considerações E então, o que achou dos exercícios que realizamos ao longo do capítulo? Mais uma vez aproveitamos para dizer: não se preocupe com a sua resposta, ela é a sua resposta e não precisa ser classificada como errada ou certa. O que você precisa é refletir sobre seu conhecimento e atitude. As respostas que um cliente atendido por você pode ter podem ser outras, porque cada um de nós tem uma referência cultural de vida. Leituras, participação em rodas de conversa e debates relacionados às temáticas e conceitos tratados neste capítulo podem ser importantes e aconselhamos que sejam realizados. A especialização serve como base para novos estudos e buscas de aperfeiçoamento, mas as leituras e discussões que fizer é que o deixarão mais preparado. 22 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Deixamos como exercício final a sugestão para que elabore um arquivo de novas referências com artigos, livros, teses e dissertações sobre spas. Leia cada referência identificada como importante e elabore uma ficha de leitura de cada texto, como a que colocamos na página anterior, esta é uma forma de iniciar o seu arquivo de estudo voltado para o trabalho final do curso. Referências BOFF, L. O cuidado essencial: princípio de um novo ethos. Inclusão Social, Brasília, v. 1, n. 1, p. 28-35, out./mar., 2005. –––––– . Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2004. BRASIL. Turismo de saúde: orientações básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. CAMPOS, J. R. V. Introdução ao universo da hospitalidade. Campinas: Papirus, 2005. DAY, H.; JANKEY, S. G. Lessons from the literature: toward a holistic model of quality of life. In: RENWICK, R.; BROWN, I.; NAGLER, M. (Eds.). Quality of life in health promotion and rehabilitation: conceptual approaches, issues and applications. Thousand Oaks: Sage, 1996. DUARTE, E. Luxo e qualidade de vida. Business & Magazine, v. 1, n. 1, p. 28, 2015. Disponível em: <http://terapiadoluxo.com.br/luxo-e-qualidade-de-vida/>. Acesso em: 18 jul. 2018. HALL, C. M. Health and medical tourism: a kill or cure for global public health? Tourism Review, v. 66, n. ½, p. 4-15, 2011. Disponível em: <https://www. researchgate.net/publication/235318899_Health_and_medical_tourism_Kill_or_ cure_for_global_public_health>. Acesso em: 18 jul. 2018. HENNEMANN, A. L. Palavras são gatilhos. 2012. Top Blog de Ana Lúcia Hennemann. Disponível em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot. com/2012/11/palavras-sao-gatilhos.html>. Acesso em: 18 jul. 2018. ISELE, C. T. Possibilidades de criação de uma sensibilidade para o cuidar e respeitar a corporeidade. Dissertação. (Mestrado em Educação). Faculdade de Ciências Humanas. Universidade do Oeste Catarinense. Joaçaba, 2011. 23 Tipologias de Spas e Objetivos Capítulo 1 LANGDON, E. J.; WIIK, F. B. Antropologia, saúde e doença: uma introdução ao conceito de culturaaplicado às ciências da saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 18, n.3, p: 173 – 181, mai. /jun. 2010. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/rlae/v18n3/pt_23>. Acesso em: 18 jul. 2018 LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 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CAPÍTULO 2 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer as principais correntes e práticas terapêuticas orientais utilizadas no Ocidente no combate ao estresse cotidiano, promoção da saúde e estética saudável. � Analisar as diferentes possibilidades de uso das práticas orientais como parte de ações terapêuticas e de conforto voltadas ao controle do estresse, promoção da saúde e estética saudável. 26 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 27 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 1 Contextualização Neste capítulo, descrevemos a partir de alguns autores citados ao longo de cada tópico como as práticas terapêuticas, denominadas no Brasil de práticas integrativas complementares, são a cada ano incorporadas a ações de cuidado em serviços de saúde e também em empreendimentos como os Spas, que são voltados ao descanso, lazer, estética e férias, entre outras possibilidades. A concepção que adotamos de promoção da saúde perpassa o que refletimos sobre o processo saúde-doença, ou seja, vai além da área da saúde e chega a um componente que chamamos de social e político, por que na prática substitui a ideia de um trabalho apenas preventivo de natureza biomédica. Quando atuamos com as práticas terapêuticas originárias de uma outra cultura, como a oriental, assumimos uma visão mais ampliada de saúde, que está além do olhar psicofísico, porque entende que as influências do meio em que a pessoa vive com todas as suas dicotomias e problemas são também responsáveis pelas doenças e agravos da saúde. Neste material que chega até você mostramos que mesmo para um órgão como o Ministério da Saúde não é fácil, diante de tantas correntes profissionais, assumir que a promoção da saúde passa por uma série de conteúdos não convencionais em meio a outros conteúdos que ressaltam uma tecnologia mais ‘pesada’, voltada para estudos epidemiológicos, equipamentos de ponta e exames minuciosos que podemos realizar auxiliados pela informática. Seguimos, neste sentido, a filosofia de Buss (2003), quando afirma que o conhecimento popular, a simplicidade de algumas práticas e a participação das pessoas são fundamentais na promoção da saúde, enquanto que a Carta de Ottawa expressa muito claramente que a qualidade de vida, o bem-estar e o viver saudável têm relação direta com os serviços de saúde, e conosco, também no que se refere ao autocuidado. Ter o controle deste processo inclui buscar serviços e produtos que ampliem nossa capacidade de ser saudável e viver feliz no sistema público e também no privado, onde incluímos os Spas. Boa leitura e aprendizado a todos! 2 Promoção da Saúde e Práticas Integrativas e Complementares Um dos problemas que encontramos no Ocidente, entre alguns profissionais da saúde, é a aceitação de que existem outros modelos curativos para tratamento e cuidado de pessoas. No Brasil, a polêmica e os debates sobre os usos de práticas de cuidado oriundas de outros modelos de prestação de assistência à saúde através de tratamentos e cuidados fora do modelo biomédico tradicional sempre foram uma constante. A aceitação oficial da possibilidade de uso dessas alternativas ocorreu 28 SPAS E QUALIDADE DE VIDA em 2006, quando o Ministério da Saúde, através da Portaria 971, de 3 de maio, aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), que depois passou a ser denominada de PICs (BRASIL, 2006). Na primeira fase dessa política se previa a utilização de alguns tratamentos e cuidados da Medicina Tradicional Chinesa, como a acupuntura. Importante lembrar que esta modalidade de tratamento foi iniciada no Brasil por fisioterapeutas e, anos depois, por médicos e enfermeiros que se qualificavam através de especializações (pós-graduação lato sensu). Com a acupuntura também se previu a permissão de tratamentos homeopáticos, fitoterapia (plantas e ervas medicinais) e termalismo. Em 2017, com as portarias 145, de 11 de janeiro, e 849, em março de 2017, são incorporadas as práticas de Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga (MEDEIROS, 2017; BRASIL, 2017). Para saber um pouco mais sobre estasportarias e obter mais informações sobre as PICs, acesse o caderno explicativo com apresentação das práticas integrativas em documento de 2013 do Ministério da Saúde, disponibilizado no site: <http://www. agroecologia.gov.br/sites/default/files/publicacoes/politica_nacional_ praticas_integrativas_complementares.pdf>. FIGURA 1 – CADERNO PNPIC/PICS FONTE: Brasil (2017) 29 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 O grande desafio no sistema de saúde público ou no setor privado sempre foi a implementação dessas práticas com aceitação das instituições, pessoas e profissionais. Também tem sido um desafio a qualificação adequada dos profissionais que atuam em unidades de saúde e nos estabelecimentos voltados mais para a promoção da saúde e não direcionados somente a tratamentos médicos (SIEGEL, 2010). Este formato de cuidado, que denominamos de promoção da saúde, pode ser realizado por você em um Spa. O que você entende por promoção da saúde? É prevenir doenças? É evitar doenças? E o que exatamente fazer a promoção da saúde tem a ver com esta disciplina que tem como foco o cuidado corporal em Spas? Antes de tudo, vamos relembrar um conceito clássico da OMS sobre promoção, que foi alvo de discussão na 1ª Conferência Internacional de Promoção da Saúde que ocorreu em 1986 no Canadá. Em um documento chamado de ‘Carta de Otawa’ se apresentou o conceito oficial de promoção da saúde: Promoção de saúde é o processo de capacitação das pessoas para aumentar seu controle sobre e melhorar a sua saúde. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, um indivíduo ou grupo deve ser capaz de identificar e realizar aspirações, satisfazer necessidades e transformar ou lidar com os ambientes. Saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida cotidiana, não o objetivo da vida. Trata-se de um conceito positivo enfatizando recursos sociais e pessoais, assim como capacidades físicas. Portanto, promoção de saúde não é apenas responsabilidade de um setor e vai além dos estilos de vida saudáveis para o bem-estar (WHO, 1986, p. 1). Na frase grifada podemos observar a diferença básica entre prevenção e promoção. Na prevenção tomamos medidas relacionadas diretamente a situações patológicas ou o que consideramos ‘doença’. Na promoção não precisamos ter uma doença específica para o cuidado de si e/ou o autocuidado. Aprendemos sobre nossos corpos, nossas necessidades, e utilizando nossas competências e habilidades podemos ter um plano de cuidados pessoais realizados sem ajuda de terceiros (por exemplo: caminhadas na natureza, fazer ioga, alimentar-se com produtos orgânicos, dormir e/ou descansar de forma rotineira etc.), ou vamos a uma academia, SPA, clínica, ou qualquer outro estabelecimento em busca de um cuidado específico estimulado e orientado por um cuidador profissional. Isto significa não precisar dos serviços de saúde ou de uma clínica ou ainda de um espaço onde possamos buscar cuidados e terapêuticas que nos auxiliem neste processo? Não, significa que assumimos o controle de nossas vidas e, quando preciso e conforme a demanda, procuramos serviços ou produtos que possam auxiliar em todo o processo. Processo de capacitação das pessoas para aumentar seu controle sobre e melhorar a sua saúde. 30 SPAS E QUALIDADE DE VIDA O conhecimento é importante no sentido de fazer com que percebamos a necessidade de apoio e auxílio para o cuidado de si ou o autocuidado. Como bem afirmam Fleury-Teixeira et al. (2011), ter consciência e conhecimento sobre nós não tira do Estado a responsabilidade de nos ofertar serviços de saúde, nem tira do setor privado a possibilidade de vender serviços e produtos que possam integrar uma agenda comum de promoção da saúde, com a oferta de terapias complementares com o compromisso de ofertar bem-estar e qualidade de vida às populações em suas distintas gerações. Na história do processo de saúde-doença humana, os conceitos assumem os valores históricos da época em que são discutidos. Isto na prática significa que: Em primeiro lugar, é importante ressaltar que as diferentes concepções de promoção da saúde não são formulações recentes, mas são construções cuja evolução histórica mostra momentos de aproximação e distanciamento com outros modelos do campo da saúde, como o modelo preventivo. Efetivamente, promoção da saúde não se apresenta como um conceito inédito, nem como uma estratégia desconhecida, mas tem estado presente em diversos estudos, ao longo do último século. Embora o termo seja o mesmo, seu significado tem mudado, conforme a estrutura conceitual e as estratégias operativas a que se liga, expressando uma verdadeira evolução do conceito (VERDI; CAPONI, 2011, p. 83). Seguindo a lógica de Verdi e Caponi (2011), numa perspectiva bioética, a promoção da saúde traz como ênfase a melhoria e o desenvolvimento de políticas públicas saudáveis, ambientes favoráveis à saúde e o fortalecimento de ações comunitárias com redes de apoio que possam nos fortalecer e ensinar-nos algumas habilidades e cuidados importantes para a promoção pessoal de nossa saúde. Este modelo de pensamento na contemporaneidade está ligado ao que chamamos de Wellness. O Wellness é considerado um processo no qual as pessoas optam por cuidados que as levem a um estilo de vida saudável no seu dia a dia, com harmonia e equilíbrio para o corpo, a mente e o espírito através de exercícios, alimentação saudável, relaxamento, meditação, massagens, banhos e todo um conjunto de práticas terapêuticas realizadas conforme gosto e/ou necessidade ou ainda a indicação de um profissional (VILELA, 2011). Bem, e onde entram as terapêuticas orientais e outras oriundas de conhecimentos também ocidentais nesse universo de Spas e espaços especiais, em sua maioria privados, voltados ao cuidado pessoal? O que tudo isto nos traz enquanto possibilidade de cuidado? Questões como estas sempre são importantes, porque tudo que faz parte de nosso cotidiano de vida tem uma história, um começo, uma origem! E daqui em diante vamos apresentar práticas que podemos realizar em Spas ou em nossos lares. Antes de darmos continuidade aos conteúdos, vamos fazer um pequeno exercício? 31 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 Atividade de Estudos: Leia o texto abaixo e responda às questões que se seguem: “Os pré-requisitos e perspectivas para a saúde não podem ser assegurados de forma isolada pelo setor da saúde. Mais importante ainda, a promoção da saúde exige uma ação coordenada de todos os envolvidos: governos, organismos de saúde e outros setores sociais e econômicos, organizações não governamentais e grupos de voluntários, autoridades locais, indústria e mídia. Pessoas em todas as esferas da vida estão envolvidas como indivíduos, como famílias e como comunidades. Grupos profissionais e sociais, bem como a saúde têm grande responsabilidade para mediar interesses divergentes na sociedade para alcançar saúde” (WHO, 1986, p. 3). 1) Sabendo que um Spa não é um centro ou unidade de saúde pública governamental, assinale a alternativa que demonstra que este tipo de estabelecimento, direcionado ao cuidado corporal, é um espaço de promoção da saúde se: a) ( ) Contar com profissionais médicos, enfermeiros e outros com formação universitária na área da saúde preocupados em assegurar os melhores cuidados corporais a pessoas que querem alcançar bem-estar e qualidade de vida. b) ( ) Contar somente com profissionais qualificados da área de Estética preocupados em assegurar os melhores cuidados corporais a pessoas que querem alcançar bem-estar e qualidade de vida. c) ( ) Contar com uma equipe interdisciplinar de profissionais qualificados preocupados em assegurar os melhores cuidados corporais a pessoas que querem alcançar bem- estar e qualidade de vida. d) ( ) Contar com uma equipe de pessoas leigas comautoformação em práticas de saúde complementares ou alternativas preocupadas em assegurar os melhores cuidados corporais a pessoas que querem alcançar bem-estar e qualidade de vida. 32 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 2) Ainda que os defensores da promoção da saúde defendam a ideia de que cabe a nós assumirmos o autocuidado enquanto uma responsabilidade pessoal, a Carta de Otawa deixa claro que: a) ( ) O custo do cuidado sempre será caro e um dever de cada cidadão. b) ( ) O custo do cuidado é uma responsabilidade de todos: cidadãos, ONGs, órgãos de saúde privados e públicos. c) ( ) O custo do cuidado exige sacrifícios porque nem todas as pessoas estão envolvidas e têm obrigação com esta questão. d) ( ) O custo do cuidado é obrigação exclusiva do poder público, com seus setores de saúde. 3 Técnicas Orientais: Origens e Correntes e Uso em Spas e Outros Estabelecimentos As técnicas terapêuticas orientais chegaram ao Brasil talvez em seu período colonial, se pensarmos que os portugueses já viajavam ao Japão e outros países asiáticos comercializando especiarias, tecidos, alimentos secos, sementes e alguns conhecimentos acerca dos tratamentos e cuidados terapêuticos destes povos. Os jesuítas portugueses eram os que mais se interessavam em conhecer os costumes e valores dos povos contatados pelos navegadores. Eles também faziam o papel de médicos e terapeutas dos viajantes, por isto também tinham grande interesse pelos conhecimentos relativos ao uso de ervas, alimentos, preparo de remédios, entre outros elementos importantes voltados à prevenção, tratamentos e até reabilitação. A obra de Marco Polo e o interesse dos portugueses de comercializar e levar o cristianismo ao mundo oriental fizeram com que essas práticas chegassem à Europa, com algumas delas sendo adaptadas para o uso em nossa realidade ocidental (LEÃO, 2009; FROIO, 2006). Os primeiros registros da entrada das técnicas orientais em nosso país ocorreram pelos anos de 1960, durante o movimento internacional de contracultura. Neste movimento, a discussão sobre os modos de vida das pessoas e a necessidade de incorporar costumes mais saudáveis relativos à alimentação, 33 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 aos exercícios e até a forma de agradecermos a vida através de outros credos religiosos facilitaram a adesão a diversos cuidados denominados de alternativos (QUEIROZ, 2006). Tradições como o Taoísmo, o Zen-Budismo, a medicina Ayurveda, e o que denominamos hoje de Terapias Complementares e Integrativas na área da saúde, inicialmente eram considerados tratamentos de pessoas que estavam à parte do sistema público de saúde e até mesmo do sistema privado. As pessoas que buscavam esses cuidados terapêuticos eram vistas como hippies, e esses cuidados eram considerados quase uma afronta ao sistema biomédico vigente. A legitimação, seja no setor privado ou no público, foi sendo realizada no século XX após o período de governo militar no país. Embora ainda existam muitos debates sobre a legitimidade e segurança das terapias orientais, já temos aceitação e oficialidade dos usos desses recursos em spas e/ou outros estabelecimentos ligados aos setores da saúde, por exemplo (CINTRA; PEREIRA, 2012). Muitas são as técnicas orientais terapêuticas utilizadas em variados estabelecimentos, mas são os spas, as clínicas voltadas à Cosmetologia e à Estética, aqueles que se especializam em tratamentos específicos corporais (para pré e pós-operatórios de cirurgias plásticas, por exemplo), os que mais valorizam técnicas como as voltadas a: • Massagens Relaxantes (Reflexologia Podal, Shiatsu, Ayurveda, Com Pedras Quentes, Com Uso de Bambu, Tailandesa etc.). • Hidroterapia (Banhos Quentes/Mornos e Frios, Com Essências Florais e Óleos Essenciais). • Aromaterapia (Em Incensos, Velas, Águas, Óleos, Pomadas, Cremes e Cosméticos em Geral). • Argiloterapia/Geoterapia. • Meditação (Budista, Zen-Budista, Xintoísta). • Yoga (Hatha Yoga). • Acupuntura (Com Agulhas, Com Sementes, Com Toques – Do-In). • Cromoterapia (Com Lâmpadas, Velas). • Reiki. • Iridologia. • Moxibustão. • Entre outras. Muitos outros cuidados poderiam ser citados, cada um deles destinado essencialmente à promoção da saúde, ao cuidado terapêutico voltado a uma condição corporal saudável, em um momento em que as pessoas precisam descansar, relaxar, desligar-se do seu cotidiano de estresse. É fundamental que se observe que, para orientarmos a realização de todos esses cuidados e/ 34 SPAS E QUALIDADE DE VIDA ou terapêuticas, se faz necessário um aprendizado teórico-prático profundo, ou seja, não serão apenas as leituras de bons livros ou a observação de quem faz as técnicas que possibilitarão um aprendizado qualificado para a realização das mesmas. Você e qualquer pessoa que deseja trabalhar com essas terapêuticas deve praticar e adquirir a habilidade necessária à sua realização com segurança. Elencamos algumas destas terapêuticas para apresentação nesta apostila, aconselhamos, porém, que leiam as referências que apresentamos no final deste capítulo como leituras de aprofundamento. De acordo com Cassar (2001), as informações básicas sobre massagem são: • Em uma massagem, alguns conhecimentos são muito importantes. Saber sobre anatomia do corpo e entender sua fisiologia e as condições normais e anormais que uma pessoa pode desenvolver ao longo da vida, considerando estilo de vida, ciclo etário e histórico familiar de saúde-doença, é essencial. As escolhas quanto ao tipo de massagem a ser realizada têm por base esses conhecimentos, além das técnicas manuais de aplicação das massagens. • As técnicas mais importantes de massagem envolvem: deslizamento, percussão, fricção e vibração. Podem ser realizadas com as mãos limpas ou umedecidas com óleos e/ou cremes. Destinadas somente ao relaxamento ou a um cuidado estético, ou ainda voltadas a sintomas físicos específicos, como dores, entre outras possibilidades. No caso de massagens destinadas a cuidados estéticos, também existem aparelhos que podem ser associados ao trabalho realizado com as mãos. O uso de velas e/ ou pedras quentes [o calor deve ser adequado ao tecido da pele e não provocar queimaduras] tem sido bastante frequente em pessoas com musculaturas enrijecidas e dificuldades para relaxar. • Também é importante que antes da massagem o profissional que irá aplicá-la conheça um pouco acerca do seu cliente. A anamnese com dados pessoais de identificação, sintomas que levaram a buscar a massagem, bem como um histórico de condições e estilo de vida, uso de medicamentos, tratamentos que realiza 35 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 para alguma doença diagnosticada e detalhes como profissão, exercícios e dieta alimentar diária, é importante para a decisão quanto ao tipo de massagem que se vai realizar. Lembrete! Não cabe ao massagista fazer diagnósticos sobre doenças, entretanto, é importante saber que algumas doenças e problemas específicos de saúde podem não ser indicativos do uso da massagem como cuidado corporal, seja para relaxar ou para ações de natureza estética. O quadro a seguir traz alguns princípios éticos importantes. Lembre-se: você vai realizar cuidados corporais em uma pessoa com pouca roupa em um ambiente privado. Além de primar pela qualidade de seus serviços, deve ter decoro e respeito por quem procura seus serviços. QUADRO 1 – PRINCÍPIOS ÉTICOS PRINCÍPIOS ÉTICOS SEGUIDOS NA MASSAGEM • Respeito: qualificação e habilidade para realização da técnica, decoro ao tocar e se relacionar com o corpo e as emoções de quem recebe a massagem. • Autodeterminação: aceitar as decisões do cliente, mas oferecer toda e qualquer infor- mação pertinente à técnica realizada e seus efeitos. • Veracidade: direito do cliente a respostas objetivas e científicas sobre o cuidado real- izado e seus efeitos.• Beneficência: o tratamento se destina às necessidades do cliente e deve ser realizado em tempo adequado ao problema para que se alcance os resultados adequados à queixa principal. • Confidencialidade: respeito à privacidade de informações sobre o cliente. • Justiça: custos justos aos cuidados realizados. • Proporcionalidade: indicar o tipo de massagem e tempo de realização proporcional à necessidade do cliente. FONTE: Adaptado de Bassi (s.d.) 36 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Atividade de Estudos: 1) Leia o texto abaixo sobre a técnica apresentada anteriormente e depois assinale com verdadeiro (V) ou falso (F) os itens a seguir. A palavra massagem também vem do grego Masso, que significa “amassar”. Hipócrates (480 a.C.) usou o termo Anatripsis, que significa “friccionar pressionando o tecido”, e este foi traduzido, posteriormente, para a palavra latina Frictio, que significa “fricção” ou “esfregação”. Este termo prevaleceu por um longo tempo e ainda era usado nos Estados Unidos até 1870. A expressão para massagem na Índia era Shampoing; na China a massagem era conhecida como CongFou, no Japão, como Ambouk. A história da massagem em geral é registrada cronologicamente, mas, em vez de seguirmos esse rumo, é interessante considerar algumas de suas aplicações históricas como um recurso terapêutico (CASSAR, 2001, p. 22). a) ( ) O relaxamento é uma das mais conhecidas e importantes razões para a aplicação da massagem, porque induz ao sono e combate a fadiga. b) ( ) Unindo a massagem com exercícios físicos e uso de óleos à base de ervas e plantas aromáticas pode-se obter melhoras na circulação sanguínea com retorno venoso capaz de nutrir melhor os tecidos corporais. c) ( ) A melhora no fluxo sanguíneo com movimentos apropriados e massagem na região abdominal pode estimular a eliminação de fezes e gases. d) ( ) Como um complemento ao tratamento cirúrgico, a massagem pode ser empregada para aliviar a dor, reduzir edemas, auxiliar a circulação e promover a nutrição dos tecidos. e) ( ) A massagem somente deve ser realizada após uma anamnese com todas as informações relevantes sobre o paciente no sentido de ajudar a revelar qualquer condição crucial que possa ser uma contraindicação. 37 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 Importante: uma massagem não é uma seção de tortura. A massagem não pode e não deve ser sentida no corpo após dois ou três dias de sua realização a ponto de dificultar as atividades físicas e o cotidiano de seu cliente. Por exemplo: a reflexologia podal pode ser dolorida na hora em que está sendo realizada, mas, se ao sair o cliente tiver dificuldades de andar, isto pode significar o uso de toques inadequados ou ainda a necessidade de uma avaliação médica quanto a outros problemas nos pés e pernas. A massagem associada a banhos quentes ou com água em temperatura mais alta do que a do ambiente onde está a pessoa a ser massageada ou levada a um banho de conforto, faz parte da história humana. Segundo Gracio (2016), Heródoto (485 a.C. e 425 a.C.), geógrafo e historiador grego, divulgava no mundo antigo as virtudes das águas, receitando tratamentos associando banhos e massagens por até três semanas para limpeza dos humores corporais. Vale mencionar que Hipócrates, considerado o médico mais notável do mundo antigo e o pai da medicina moderna, considerava o banho como primordial para a prevenção de doenças e algo mais do que uma simples medida de higiene. Para ele, a doença era um distúrbio provocado pela falta de equilíbrio de nossos ‘humores corporais’ e seu principal tratamento consistia na combinação de banhos quentes e frios, com o objetivo de ajudar a natureza a restabelecer o seu normal equilíbrio. A massagem, como colocada anteriormente, pode ser associada ao calor para auxiliar e potencializar seus efeitos terapêuticos. Furlan et al. (2015) recomendam a aplicação do calor local em casos de tensões musculares e crises de dores musculoesqueléticas. Os efeitos terapêuticos são a vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo, oxigenação dos tecidos com eliminação dos resíduos metabólicos. Este contexto de mudanças fisiológicas favorece a diminuição da dor, levando à analgesia – diminuição da rigidez nas articulações e redução das tensões musculares. Esta prática terapêutica, também denominada de termoterapia, tem a condução de calor transmitida ao corpo por meio de pedras vulcânicas, lavas basálticas ou pedras roladas do rio. Na atualidade, as massagens com pedras quentes são realizadas com pedras de várias origens e composição, contudo, “os tamanhos e formatos dessas pedras são escolhidos de acordo com a sua aplicação durante a massagem. Podem ser arredondadas, ovais, chatas, finas ou com outras espessuras e formatos” (POSSER, 2011, p. 23). Este tipo de prática não é recomendado com pessoas que tenham: 38 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Patologia inflamatória ou traumática aguda, hemorragias ou alterações da coagulação, vasculopatia aterosclerótica, áreas isquêmicas, patologia cardiovascular descompensada, patologia neoplásica ou infecciosa, lesões dermatológicas, alterações da sensibilidade térmica, doentes sedados ou obnubilados, cartilagens de crescimento, útero grávido e cicatrizes ou feridas abertas (OLIVEIRA; ULLIANO; CARVALHO, 2017). Em substituição às pedras, alguns terapeutas utilizam velas quentes no processo de massagens. Esta prática requer muito cuidado. A cera da vela deve estar em temperatura confortável para o massagista e o cliente, uma vez que a fricção na pele não deve provocar queimaduras e sim amassamento para redução da dor e, ao mesmo tempo, hidratação local. Pode ser associada também a essências florais e/ou óleos essenciais, conforme a demanda e necessidade do cliente. Sobre o uso de óleos essenciais, teremos no Capítulo 3 maiores informações no tópico sobre Aromaterapia. 4 Yoga O Yoga foi apresentado ao Ocidente no século XIX. Com uma associação de exercícios físicos alinhados a distintas posturas e correntes filosóficas, muitas pessoas vêm adotando o Yoga como parte de uma série de cuidados voltadas ao corpo e à mente. Mesmo na Índia, esta prática com muitos seguidores prossegue ao longo dos séculos com várias transformações e adequações ao cotidiano das pessoas. Feuerstein (2013), um investigador do Yoga no Ocidente, afirma que muitas das modificações ocorridas nesta prática se devem à sua introdução nas Américas. A palavra Yoga tem origem sânscrita e possui vários significados. É escrita no masculino e, segundo Eliade (2009), suas práticas estão associadas não apenas ao corpo material, mas também ao corpo espiritual e, portanto, é também uma prática meditativa. Do ponto de vista etimológico, o Yoga, numa tradução livre, “refere-se à ação de “ligar”, “unir” ou “juntar” algo que está separado” (SANCHES, 2014, p. 12). 39 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 FIGURA 2 – PRÁTICAS DE YOGA 1 FONTE: <https://www.canetenroussillon.fr/wp-content/uploads/ Fotolia-32701927-S-620x350.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. Conforme o público atendido, o Yoga pode ser uma prática de autoconhecimento vinculado à espiritualidade e/ou para o bem-estar físico e emocional, principalmente em tempos de estresse relacionado ao trabalho, estudos e viver social do século XXI. Segundo Sanches (2014), o Yoga na Índia tradicionalmente foi uma prática voltada ao público masculino, somente por volta do ano de 1938 foi aceita a primeira praticante feminina, a estudante russa Indra Devi. As tradições de yoga mais conhecidas e difundidas por escolas de Yoga no Brasil, desde a década de 1960, são a Hatha-Yoga com algumas derivações ou subtipos, Ashtanga, Iyengar y Vinyasa; Kundalini, Yoga Integral também conhecida como Swasthya Yoga, e o Power Yoga. No Brasil, o Yoga e outras práticas, como a meditação, são reconhecidos como PráticasIntegrativas/Complementares de Saúde – PICs. Associado à meditação e alimentação (vegetariana, principalmente), auxilia na promoção da saúde e bem-estar saudável (SIEGEL; BARROS, 2013; 2007; BRASIL, 2006). Como colocado no Capítulo 1, o turismo de saúde, com muitos spas alocados em grandes redes hoteleiras, pode ser categorizado ou classificado como “turismo médico” ou “turismo de saúde e bem-estar”. O relatório da Global Spa Summit faz a seguinte distinção para os dois segmentos do turismo de saúde: O turismo médico envolve indivíduos que viajam para determinado local de modo a receberem tratamento para uma doença, para um problema físico ou mental ou para se submeterem a um procedimento cosmético; o turismo de saúde e bem-estar envolve indivíduos que viajam para determinado local de modo a participarem proativamente em atividades que mantenham ou melhorem preventivamente a saúde pessoal e o bem-estar (JOHNSTON et al., 2011, p. 20). 40 SPAS E QUALIDADE DE VIDA O Yoga fica alocado no turismo de saúde e bem-estar, mas não necessariamente realizado apenas para turistas. Hoje as academias voltadas para o Yoga são uma realidade, mas é no Spa que muitos (mesmo os moradores locais que os buscam) afirmam associar a prática a outras atividades lúdicas, tais como caminhadas na natureza a pé ou de bicicleta, banhos termais quentes naturais ou minerais, workshops e experiências gastronômicas, entre outras possibilidades (ESTEVES, 2017). Para muitas pessoas, o Yoga é a escolha, porque leva à autonomia, saúde, porque acalma e traz autoconhecimento. FIGURA 3 – NUVEM DE PICS CENTRADA NO YOGA FONTE: <https://saudenacomunidade.files.wordpress.com/2015/05/ ea_yoga-autonomia.png?w=545&h=249>. Acesso em: 15 ago. 2018. No Brasil, temos muitos exemplos de espaços voltados para o Yoga que hoje são considerados spas importantes com oferta desta prática associada à hospedagem para descanso, férias ou realização de cursos de Yoga de natureza formativa ou informativa. Em todos os estados brasileiros existem locais destinados à prática, de academias a espaços para cursos com pousadas, é possível não apenas exercitar-se, mas também tornar-se um profissional da prática. Esses espaços atendem diferentes públicos e seus proprietários possuem formação em Yoga e muitos dos cursos realizados são ministrados por eles para públicos que buscam relaxar, trabalhar ou fazer formação. A característica desses espaços mais voltados a cursos é que os mesmos ficam em meio à natureza, com diversas trilhas na mata e/ou nas praias. Oferecem serviços de pousada para os participantes de cursos e eventos que podem durar um final de semana ou até um mês. São locais propícios para a prática de Yoga e a realização de cursos, com refeitórios que na maioria das vezes ofertam comida vegetariana associando o Yoga a outros cuidados corporais. Contudo, as práticas e as formações se voltam mais para o próprio Yoga, com as técnicas de Asanas, 41 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 Pranayamas, Chakras, Meditação, Mudras, dentre outras, voltadas a pessoas apenas interessadas ou como cursos profissionalizantes na área (QUADROS; SILVA; PAGNONCELLI, 2009). Qualquer que seja o curso, os ministrantes fazem questão de apresentar o Yoga clássico com suas oito práticas psicofísicas, que chegaram ao Ocidente como ‘Ashtanga Yoga’. Essas oito práticas estão descritas no Yoga Sutra de Patañjali, o compilador do Yoga no século I ou II a.C., através de uma linguagem bastante simbólica que descreve a filosofia e as técnicas que fazem parte da vivência dos praticantes. Essas práticas, também denominadas de ‘membros’, se compõem, segundo Deveza (2013, p. 208), de: • Refreamento: com cinco ações – não violência, falar a verdade, não roubar, abstinência sexual e contenção de energia, e por fim, não cobiçar o que é dos outros. • Observâncias: com cinco conselhos – pureza (cuidados corporais, mentais, boa alimentação e conduta social), contentamento (felicidade não condicionada a fatores externos), ascetismo (jejum, não consumismo), autoestudo (autodomínio das práticas do Yoga e os estudos relacionados ao espírito), entrega (não orgulho dos aprendizados). • Posturas psicofísicas: estas são as Asanas, práticas que promovem alongamentos de grupos musculares, relaxamento físico com a associação de visualizações e movimentos respiratórios específicos que alteram estados de consciência. • Controle da respiração (Pranayama): tem como componentes a inspiração e a expiração com ênfase na capacidade de reter a respiração, principal objetivo dessa prática. • Bloqueio dos cinco sentidos e das ações físicas (Pratyahara): atenção total ao próprio eu e experiências psíquicas que isolam a mente da pessoa de qualquer contato com o meio externo. • Concentração (Dharana): pensamento voltado para um único foco de atenção, bloqueando qualquer pensamento intrusivo. • Meditação (Dhyana): concentração definitiva em único pensamento (Ekagrata). • Estado de integração (Samadhi): anulação das experiências do corpo, dos cinco sentidos, de todo e qualquer pensamento da mente, das noções de individualidade e das memórias do Ego que levam o iogue ao isolamento completo. Muitas pessoas que praticam o Yoga no Ocidente normalmente fazem apenas as Asanas ou posturas psicofísicas. O Yoga adaptado ao modo de pensar e viver dos ocidentais é visto como uma prática terapêu- tica e não como uma prática de natureza espiritual. A Yogaterapia, como é denominada, realiza procedimentos visando à cura de doenças através de técnicas de purificação respiratórias, estomacais, intestinais, musculares e visuais (SOUTO, 2002). 42 SPAS E QUALIDADE DE VIDA FIGURA 4 – PRÁTICAS DE YOGA 2 FONTE: <http://blogdescalada.com/wp-content/uploads/2013/11/ asanas_yoga-1024x852.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. É importante lembrar que este Yoga Clássico era uma prática masculina realizada na Índia com propósitos voltados ao domínio do corpo e como uma forma de disciplinar o físico e o espírito. A vinda da prática para o Ocidente ocorreu durante os anos da contracultura, com a vinda de mestres e gurus budistas, entre outras denominações religiosas orientais. O budismo e o janaísmo, sistemas heréticos [não acreditam no Deus judaico-cristão], é que ajudaram a difundir a prática no Ocidente. Como esses movimentos ‘religiosos’ heréticos adotam uma alimentação vegetariana (ovo-lacto, lacto ou vegana – sem nenhum produto animal) é comum associar a prática a uma alimentação com mais vegetais, grãos, azeites especiais, entre outras possibilidades (SAIZAR, 2008). 43 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 FIGURA 5 – ALIMENTAÇÃO VEGANA X ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA FONTE: <http://empauta.ufpel.edu.br/wp-content/uploads/2015/05/ IMAGEM-DOIS.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. A associação natureza, espaço relaxante, prática de Yoga (e de meditação também) mais a alimentação vegetariana faz dos espaços de Yoga modelos de busca do equilíbrio. Lembrando que muitos desses espaços comerciais são tão especializados e preocupados com a qualificação das pessoas que fazem formação também voltada à prática alimentar vegetariana. Por exemplo, hoje no mercado existem muitos cursos, como os de Alimentação Ayurvédica, que estão entre os mais procurados, em função dos trabalhos do médico indiano Chopra, hoje radicado nos Estados Unidos, famoso em função dos mais de 40 livros que tem escritos. Ministrantes que estudaram com Chopra, como María Zorrilla, médica formada em Ayurveda na Universidade Maimônides de Buenos Aires e na University de Haridwar (Índia), atraem público inclusive ligado à Nutrição e Gastronomia. No caso específico desta especialista em Yoga e alimentação, ela dirige o centro médico ayurvédico na Argentina, oferecendo tratamentos médicos individuais associados a cursos de culinária e formação emmassagens Ayurvédicas. Esta também é uma característica dos empreendedores de Yoga, mostrar uma alta qualificação para resguardar a marca que os acompanha e os serviços ofertados (QUADROS; SILVA; PAGNONCELLI, 2009). Nos cursos ministrados ou nas práticas em que se relaciona o bem-estar à alimentação, a tolerância à ingestão de produtos animais é restrita e diferencia os grupos de vegetarianos, como apresentado na figura a seguir. 44 SPAS E QUALIDADE DE VIDA FIGURA 6 – DIFERENÇAS ENTRE GRUPOS DE VEGETARIANOS DIFERENÇAS ENTRE OS GRUPOS DE VEGETARIANOS OVOLACTOVEGETARIANOS LACTOVEGETARIANOS VEGETARIANOS ESTRITOS VEGANOS NÃO CONSOMEM CARNE NEM PEIXE, FRANGO, CRUSTÁCEOS ETC. NÃO CONSOMEM OVOS NEM PRODUTOS COM OVOS E DERIVADOS NÃO CONSOMEM LATICÍNIOS LEITE, QUEIJOS, IOGURTES ETC. NÃO CONSOMEM NADA DE ORIGEM ANIMAL NA ALIMENTAÇÃO NÃO CONSOMEM NADA DE ORIGEM ANIMAL ALIMENTAÇÃO, VESTUÁRIO, BELEZA, ENTRETENIMENTO, ETC. FONTE: <https://www.vista-se.com.br/wp-content/uploads/2012/10/ diferencas-vegetarianos1.gif>. Acesso em: 15 ago. 2018. Por que associar Yoga com alimentação? Segundo Aivanhov (2013), a alimentação menos tóxica junto com o yoga auxilia no processo de limpeza e desintoxicação corporal e espiritual. As carnes, de uma forma geral, segundo o autor, elevam as energias que promovem a doença, porque atuam como desintegradores de matéria saudável. Esta questão analisaremos no Capítulo 4. Na seção a seguir, falaremos sobre meditação, um dos ‘membros’ ou práticas do Yoga que também está associada a outras filosofias de cuidado orientais. Porém, antes de continuarmos a caminhada, vamos a um exercício. Vamos lá? Atividade de Estudos: 1) Com base nos conteúdos apresentados sobre o Yoga, assinale as alternativas corretas: a) ( ) O Yoga é uma prática física moderna nascida no Ocidente após a Segunda Guerra Mundial. Seu objetivo é preparar o corpo para grandes demandas de trabalho que exijam caminhadas. 45 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 b) ( ) O Yoga tem uma história milenar e Patañjali, como seu compilador no século I ou II a.C., escreveu sobre os oito membros ou práticas importantes para se chegar ao Samadhi. c) ( ) O Yoga clássico, com suas oito práticas psicofísicas, chegou ao Ocidente com a denominação de ‘Ashtanga Yoga’. d) ( ) O Yoga clássico se modernizou e tornou-se uma prática masculina desenvolvida para atletas de olimpíadas. e) ( ) O Yoga é uma prática que pode ser realizada com fins psicofísicos e/ou espirituais. Em ambas as situações a pessoa pode se beneficiar física e mentalmente. f) ( ) O Yoga é uma prática terapêutica que também é conhecida como Yogaterapia. g) ( ) O Yoga é uma prática que pode atuar como tratamento e/ou cuidado quando temos problemas respiratórios, intestinais, musculares, entre outros. 5 Meditação A meditação tem uma história milenar de contemplação oriunda de religiões do Oriente (sufismo, hinduísmo, budismo, taoísmo, zen-budismo) e antigas correntes judaico-cristãs com foco na misticidade. Existem distintos usos para a meditação, inclusive a que se destina hoje a tratamentos relacionados com problemas cardíacos, psiquiátricos e psicológicos, além do cansaço físico e mental (MORAES, 2015). A entrada da meditação no Ocidente ocorreu, segundo Prudente (2014), na década de 1950, com jovens artistas e intelectuais. De acordo com o autor, é a partir de fins dos anos de 1960, no advento da contracultura, com a vinda de muitos ‘mestres espirituais e sacerdotes’ de diversas linhagens indianas, tibetanas, zen-budistas e taoístas que migraram da Ásia em função da expansão do comunismo chinês, que a meditação se torna popular. Academicamente, a meditação inicialmente foi estudada por filósofos, psicólogos e teólogos. Contudo, é no campo da saúde que ocorreu a laicização da meditação, ou seja, esta sai do campo da espiritualidade e chega ao campo considerado mais concreto dos tratamentos e cuidados, com uso de diferentes técnicas em “hospitais, clínicas de psicoterapia, spas, escolas e empresas, ou praticadas mais independentemente por indivíduos não compromissados com nenhuma religião ou tradição espiritual” (PRUDENTE, 2014, p. 7). Estudos realizados por Peron et al. (2004) a partir de 2000 na USP, em São Paulo, 46 SPAS E QUALIDADE DE VIDA demonstraram que a meditação é importante no controle da taquicardia, hipertensão, tensão pré-menstrual, sintomas da menopausa, insônia, fadiga e distúrbios psicológicos. Portella (2014) mostra como a meditação atua melhorando a vida de mulheres na menopausa que passam a ter insônia e outros sintomas, como ansiedade, em função das transformações hormonais nesta etapa da vida. Veja a importância da meditação! É fantástico sabermos que podemos, a partir de técnicas suaves (também denominadas de tecnologias leves), melhorar o bem-estar de uma pessoa, tornando-a mais equilibrada quanto a atitudes consigo própria. Segundo Cardoso, Souza e Camano (2009), a meditação é um estado autoinduzido obtido a partir de técnicas específicas voltadas a um ‘objeto’ foco para evitar a dispersão dos pensamentos. A realização sistemática leva a pessoa a descontrair e chegar a um relaxamento psicofísico e muscular. Lembram das práticas do Yoga que mostramos anteriormente? Existem vários tipos de meditação, mas, uma das mais difundidas, que se volta à diminuição do estresse, é denominada de mindfulness. Sem uma tradução específica em nosso idioma, tem como representação básica para facilitar a compreensão as seguintes ações: atenção plena, consciência plena e estar atento. Para Demarzo (2011, p. 11): Trata-se de uma forma de intervenção estruturada, voltada para pessoas e para pacientes acometidos com condições clínicas associadas a níveis prejudiciais de estresse. Enraizado nas práticas budistas tibetanas, o MBSR é estruturado como um programa que comporta atividades presenciais (junto a um instrutor) e à distância, combinando técnicas simples de meditação. As técnicas do mindfulness são muito semelhantes a outras empregadas em meditação com outras denominações. Com instrutores inicialmente e depois sozinhos, a pessoa que realiza a prática meditativa deve, em um primeiro momento, sentado de forma confortável, centrar-se em sua respiração, depois desta fase pode iniciar o relaxamento ou escaneamento corporal criando consciência de cada parte de seu corpo, após esta etapa passa a fazer a caminhada meditativa em um jardim ou espaço silencioso em que possa soltar os pensamentos. Por último, a partir de uma seleção prévia com o instrutor, selecionar posições leves do yoga que auxiliem no processo de consciência plena e relaxamento. A duração média desses momentos pode variar entre 45 minutos a duas horas, conforme o nível de introspecção, tempo e local em que a pessoa se encontra (CAMPAYO, 2008). 47 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 Importante: A prática de meditação não é isenta de riscos. Existem restrições para a prática de meditação em portadores de esquizofrenia e epilepsia, por exemplo, e algum desconforto pode ocorrer entre pessoas com mobilidade reduzida e sedentarismo. Atividade de Estudos: Vamos nos exercitar um pouco? 1) Sobre as origens e definições da meditação, marque a alternativa correta: a) ( ) A meditação tem raízes no budismo e em diversas outras tradições culturais, religiosas e filosóficas orientais e se destina a fazer o praticante centrar-se em um foco e a partir deste momento isolar-se do que está externo à sua consciência. b) ( ) A meditação é uma prática corporal baseada na vivência dos momentos do passado e do presente, tem por objetivo o controle do tempo de cada pessoa. c) ( ) A meditação é uma prática mente-corpo baseada na vivência do momento presente, com controle e julgamentos dos nossos erros diários e da falta de focona vida cotidiana. d) ( ) A meditação tem raízes religiosas orientais e por isto não é recomendada a pessoas cristãs. 2) O Yoga tem uma forte ligação com a meditação e outras terapêuticas estudadas neste capítulo. No Brasil, estas práticas hoje fazem parte de políticas públicas oficiais que podem ser adotadas na assistência e promoção da saúde. Sobre esta questão, responda com verdadeiro (V) ou falso (F) as questões a seguir: a) ( ) As portarias 145, de 11 de janeiro, e 849, de março de 2017, oficializaram a adoção das práticas da Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga em unidades de saúde pública do Brasil. 48 SPAS E QUALIDADE DE VIDA b) ( ) As Práticas Integrativas Complementares podem ser realizadas por pessoas leigas e/ou profissionais especializados. c) ( ) A Massagem do tipo Shantala é a única aceita como PIC desde a primeira portaria, em 2012. d) ( ) O Yoga é importante no processo de meditação e em quase todas as tradições é recomendado como uma prática ou técnica complementar à mesma. 3) O turismo de saúde pode ser categorizado ou classificado como “turismo médico” ou “turismo de saúde e bem-estar”. Considerando esta afirmação e os conteúdos deste capítulo, assinale as alternativas corretas: a) ( ) O Yoga clássico e a meditação são práticas orientais milenares que podem ser feitas com propósitos físicos e/ou espirituais. b) ( ) A massagem pode ser aplicada a qualquer pessoa, não há necessidade de termos preocupações éticas de qualquer natureza. c) ( ) A alimentação vegetariana é a mais saudável, mesmo quando se usam tantos agrotóxicos como no Brasil no cultivo de frutas, verduras e cereais. d) ( ) Yoga e meditação só trazem benefícios às pessoas e não existem contraindicações às suas práticas. e) ( ) Yoga, meditação e massagens são práticas que diminuem o estresse e auxiliam no bem-estar e na promoção da saúde das pessoas. 6 Algumas Considerações Muitos exemplos de estabelecimentos com práticas orientais podem ser visitados na net. Não deixe de procurar espaços que possam ajudá-lo com mais conhecimentos sobre tudo o que colocamos neste capítulo. Em spas, por exemplo, procure depois saber quais as práticas mais comuns e se eles associam massagens, yoga e meditação como parte de suas práticas de bem-estar e vida saudável. Faça uma visita aos mesmos e busque informações sobre a forma de funcionamento, equipe e qualificações, veja as diferenças e a tipologia do Spa (é voltada ao turismo médico ou bem-estar?). Não deixe de consultar também nossas referências, elas poderão ajudar a solucionar as dúvidas ou trazer novas informações! 49 práticas terapêuticas de Promoção da Saúde e Estética Saudável Capítulo 2 Referências AIVANHOV, O. M. O yoga da alimentação. 14. ed. São Paulo: Prosveta, 2013. BASSI, J. A arte da massagem. [s.d.]. Disponível em <http://comsaudevi. dominiotemporario.com/doc/Apostila_massagem.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 849, de 27 de março de 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. 2017. Disponível em: <http://www.lex.com.br/legis_27357131_ PORTARIA_N_849>. Acesso em: 15 ago. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS - PNPIC - 2006. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BUSS, P. M. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. (ORG.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. CAMPAYO, J. G. La práctica del “estar atento” (mindfulness) en medicina. Impacto en pacientes y profesionales. Atenc Prim, v. 40, n. 7, p. 363-366, 2008. CARDOSO R.; SOUZA, E.; CAMANO, L. Meditação em saúde: definição, operacionalização e técnica. In: ROSSI, A. M.; QUICK, J. C.; PERREWÉ, P. L. 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CAPÍTULO 3 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar os benefícios de algumas práticas terapêuticas de conforto sensorial e corporal, cuidado e tratamento holístico – natural para a saúde e a estética corporal. � Examinar técnicas terapêuticas de conforto sensorial e corporal e seus benefícios para situações voltadas à promoção da saúde e estética saudável. 54 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 55 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 1 Contextualização Técnicas corporais como a Aromaterapia e a Cromoterapia, ou outras já citadas neste manual, são destinadas basicamente ao conforto sensorial e corporal, com finalidade relaxante, mas também voltadas à estética. O uso, por exemplo, de óleos essenciais vem sendo praticado na estética em função da ação antimicrobiana, anti-inflamatória, adstringente e também cicatrizante nas peles em tratamento (NEUWIRTH; CHAVES; BETTEGA, 2008). O lado terapêutico dos tratamentos estéticos também será bastante enfatizado neste capítulo. A função da estética vai muito além dos aspectos estéticos corporais. Os óleos, sozinhos ou associados com a Cromoterapia, por exemplo, ao levar as pessoas a um relaxamento mental, também auxiliam no equilíbrio das funções corporais, em que podemos incluir o melhoramento de uma pele cansada em função da poluição ambiental, do uso inapropriado de determinados produtos estéticos, ou ainda, se o cliente é fumante, se recebeu sol excessivo no rosto, se vive momentos de estresse no trabalho e na família etc. Todos os problemas citados podem levar ao envelhecimento precoce da pele, as indicações sugeridas neste capítulo são importantes cuidados que podem ser realizados em spas ou espaços estéticos (PAGANINI, 2013). Todas as práticas de cuidados aqui apresentadas, neste e em outros capítulos, podem ser coadjuvantes ou complementares de vários outros cuidados de caráter tradicional ou de outros modelos terapêuticos considerados alternativos. O que procuramos enfatizar é que esses cuidados devem ser aplicados por um profissional qualificado que esteja preparado e tenha conhecimentos dos efeitos colaterais e do não uso desses cuidados em situações específicas, tais como alguns tipos de câncer, problemas respiratórios severos, problemas dermatológicos que exigem tratamentos biomédicos, entre outros (ANDREI; PERES; COMUNE, 2005). Esperamos que essas informações possam fazê-lo entender a importância da preparação para qualquer atividade que envolva o cuidado a outro ser humano. Este curso é uma das muitas possibilidades de aquisição de conhecimentos teóricos voltados a um melhor exercício de cuidados práticos estéticos, numa perspectiva mais técnico-científica. Boa leitura, bom estudo! 56 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 2 Algumas Concepções Relacionadas ao Tema do Capítulo E aqui estamos novamente a continuar nossas trocas acerca das terapêuticas que podemos utilizar em spas como fontes de cuidados que podem nos levar a um patamar de bem-estar e viver saudável. E para entender como essas terapêuticas sensoriais e corporais atuam em nossos corpos, vamos precisar explicar antes acerca dos sistemas sensoriais e corporais que ‘gerenciam’ a comunicação e a informação entre nós e o meio ambiente. A informação sensorial é que nos põe em contato com as sensações provenientes do ambiente externo. À medida que envelhecemos ou adquirimos algum problema de saúde, perdemos a possibilidade de, através das sensações, mantermos o equilíbrio necessário para evitarmos acidentes, como as quedas, por exemplo. E isto ocorre porque “os sistemas sensoriais (visual, somatossensitivo e vestibular) são responsáveis pelo início do processo de construção do equilíbrio corporal humano” (RICCI; GAZZOLA; COIMBRA, 2009, p. 94). Se adoecemos ou não cuidamos de nossos corpos para um envelhecimento equilibrado, enfraquecemos os sistemas sensoriais. Importante: este sistema tão delicado é responsável por nossa postura e equilíbrio motor. Segundo Freitas Junior e Barela (2006, p. 96), “este controle ativo dos músculos é realizado com base nos estímulos sensoriais captados continuamente durante a manutenção da postura ereta [...] pelos sistemas vestibular, somatossensorial e visual”. Ora, isto significa que, além dos riscos de queda, à medida queenvelhecemos e não há uma manutenção contínua do nosso sistema sensorial, podemos perder a sensibilidade corpórea, e com esta perda, por exemplo, podemos facilmente nos cortar ou nos queimar sem sentirmos imediatamente. 57 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 O sistema relacionado com o que vemos, escutamos, cheiramos e sentimos, e outras tantas sensações, é que faz com que tenhamos uma contínua interação com o mundo que nos rodeia. As informações que chegam a nós do exterior são sempre encaminhadas ao nosso cérebro através do olfato, paladar, visão, audição e a sensibilidade corporal, que na sua superfície nos faz perceber o toque (tátil), a dor e/ou calor, ou podemos ter sensações mais profundas, tais como a capacidade de reagir a estímulos e sensações físicas e vibratórias. No meio intrauterino já utilizamos nossos sentidos, a visão é o único sentido que se desenvolve após o nascimento. Conforme nossas necessidades, podemos desenvolver mais um sentido do que outro (CALDAS, 2008), ou podemos nascer com uma desordem sensorial. Pessoas com autismo ou síndrome de Down podem ter vários comprometimentos sensoriais e, por isto, desenvolvem em algumas situações os sintomas apresentados na figura a seguir. FIGURA 1 – COMPROMETIMENTOS SENSORIAIS Posso ser ultrassensível a sons como liquidificador e buzinas de carro Escondo meus olhos de luzes fortes ou fixo meus olhos nelas Não gosto de cortar, lavar ou pentear os cabelos Eu posso ser muito seletivo com comida e resistir a texturas e cheiros Tenho dificuldades com atividades de coordenação motora fina (cortar, escrever etc) Posso buscar o toque de outras pessoas ou evitar que me toquem Posso tocar as pessoas muito leve ou muito bruscamente Eu posso gostar de cheirar pessoas, comida ou objetos. Ou querer fugir destes aromas. Eu não tolero alguns tecidos e nem etiquetas em minha roupa Tenho dificuldades com atividades de coordenação motora grossa (escalar, subir escadas, andar de bicicleta) Posso ser meio desajeitado e esbarrar e pisar nas coisas Eu posso querer andar na ponta dos pés Eu posso querer andar descalço ou usar sempre o mesmo calçado Tenho dificuldades para me vestir sozinho Gosto de mastigar materiais com texturas diferentes FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-3INjqrP12OU/Vs85LGhN4lI/ AAAAAAAAWRE/95tQKx1_BKU/s400/palestra_GHEC_Educacao_ Especial_e_Homeschooling.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. 58 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Os pilares sensoriais, ou cinco sentidos dos seres humanos, também podem ficar comprometidos em função de acidentes, problemas genéticos, estresse e o pouco uso de nossos órgãos do sentido. Por exemplo: tocar, sentir a textura de objetos, da própria pele, sentir os aromas do ambiente (quando não poluído), proteger os olhos do excesso de luminosidade, mas ao mesmo tempo aprender a ver e andar sem óculos escuro em ambientes protegidos etc. Como lidar com essas possibilidades? Como ampliar a capacidade fantástica de ver o mundo com todas as suas cores, sentir o cheiro do mato, dos alimentos crus e cozidos, o aroma das ervas, o canto dos pássaros e as sensações corpóreas de um toque amoroso? (SILVA, 2016). Os cuidados físicos e emocionais podem ser a porta de entrada para a manutenção (a mais íntegra possível) dos nossos pilares sensoriais, ou seja, precisamos continuamente incentivar as pessoas a se manterem alertas com relação às suas sensações. Quando cansados demais, por exemplo, perdemos muito da sensibilidade e conexões conosco mesmos. FIGURA 2 – CINCO SENTIDOS FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/55/02/55020257db91a- sentidos-do-corpo-humano-large.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. Freitas (2011) afirma que nosso organismo tem inúmeras conexões e múltiplas redes de informações dispersas por todo o nosso corpo, levando e trazendo sensações para as regiões periféricas (pele, músculos, articulações e vísceras) e centrais (mielencefálicas, metencefálicas, mesencefálicas, diencefálicas e telencefálicas). Estas redes são as representantes de nosso sistema sensorial, que quando estimuladas ativam nossas sensações por todo o corpo. 59 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 Do ponto de vista estético, a pele, nesta grande rede, é a nossa ‘base-mãe’ para os principais cuidados terapêuticos de natureza física e sensorial. Segundo Montagu (1988 apud MÜLLER; RAMOS, 2004), a pele possui uma variedade de células muito resistentes que protegem os tecidos do corpo, tendo várias funções, tais como ser a base dos receptores sensoriais enquanto fonte de informações, mediadora de sensações, fonte imunológica, camada protetora contra os efeitos da radiação e lesões mecânicas, materiais tóxicos, organismos estranhos, regulação da pressão e fluxo sanguíneo, regeneração, produção de queratina, secreção de substâncias nocivas, lubrificação, isolamento térmico, entre outras tantas possibilidades. Quanto mais ativamos as redes de informações sensoriais, mais estimulamos nossas células e nosso sistema sensorial. Esses estímulos são possíveis porque nossos corpos interagem constantemente com o meio em que estamos inseridos por meio de nossos órgãos do sentido (visão, vias cutâneas, auditivas, olfativas e gustativas). As interações são conduzidas por neurônios ao cérebro, em que após sua decodificação geram respostas ou reações em nosso corpo. Toda esta explicação nasce da possibilidade de estarmos sem disfunções. Quando temos alguma doença crônica ou mesmo em função do envelhecimento (ainda que saudável), podemos ter disfunções severas que podem diminuir e/ou encerrar as funções desse sistema (SCHUMM et al., 2009; CALDAS, 2008). O que podemos fazer para evitar perdas nesse sistema? Através da estimulação? É possível fazê-la externamente? Alguns dos cuidados terapêuticos que recebemos em spas nos auxiliam nesse processo de estimulação e nos beneficiam e de certa forma rejuvenescem nossos corpos e regulam o complexo sistema sensorial – base de nossas organizações perceptivas corporais. Podemos não mudar todo um quadro degenerativo, mas podemos diminuir ou desacelerar o processo através de tratamentos e de cuidados como os apresentados neste capítulo (FREITAS, 2011). Antes de apresentarmos alguns dos cuidados terapêuticos sensoriais, vamos fazer nosso primeiro exercício? Veja o enunciado e assinale as questões corretas. 60 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Atividades de Estudos: 1) Os estímulos sensoriais são importantes na vida de todos os seres humanos, são eles que nos trazem equilíbrio em vários setores da vida. Se eles estão saudáveis, conseguimos viver com tranquilidade, uma vez que podem nos salvar a vida. Considerando esta apresentação, responda assinalando as afirmações corretas: a) ( ) O envelhecimento e algumas doenças afetam profundamente nossos estímulos sensoriais e equilíbrio, por isto é comum as pessoas idosas caírem quando têm problemas de visão. b) ( ) As informações do mundo exterior somente chegam a nós quando nossos estímulos sensoriais estão saudáveis. c) ( ) Algumas doenças, como o autismo, alteram o processamento sensorial e por causa disto as pessoas podem ficar alteradas diante de luzes fortes, toques na pele e sons muito altos. d) ( ) O sentido que nós humanos colocamos para funcionar após o nascimento é o do sabor, logo que começamos a ser amamentados. e) ( ) O estresse pode comprometer a recepção sensitiva ligada ao equilíbrio motor, as lembranças passadas e presentes e a capacidade de relaxar. f) ( ) Os pilares sensitivos são três, sem eles não conseguimos nos comunicar com o mundo exterior. E então? Você percebeu como é importante cuidarmos de nosso corpo e de nossa mente de modo a mantê-los equilibrados e ativos, capazes de nos fazer viver uma vida saudável e de qualidade? O paradigma holístico nos mostra como é fundamental que vejamos nosso corpo comouma parte do universo e que, ao ser olhado de forma integral, apresenta-se em sua forma física, mental, espiritual e sociocultural. Somos mais do que matéria, somos sensibilidade e sentimentos, somos história e memória, somos seres inteiros (BOFF, 2008). Seres que agem e interagem com a natureza e/ou produtos que ela nos oferta, como a Aromaterapia, a primeira prática terapêutica que apresentaremos a você neste capítulo. 61 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 3 Aromaterapia A Aromaterapia é uma das práticas terapêuticas complementares oficializadas pelo Ministério da Saúde através da Portaria nº 971, que incentiva e regulamenta a adoção dessas técnicas nas unidades de atendimento do SUS de todo o país (BRASIL, 2006). Esta prática: Utiliza-se de óleos essenciais, compostos orgânicos de origem vegetal, formados por moléculas químicas de alta complexidade, que apresentam várias funções químicas, como álcoois, aldeídos, ésteres, fenóis e hidrocarbonetos, havendo sempre a prevalência de uma ou duas delas e, assim, caracterizarão seus aromas. São extraídos das plantas aromáticas pelo processo de destilação ou prensagem de partes desses vegetais, como flores, folhas, sementes, frutos ou raízes e diluídos em diversas concentrações, que dependem da intenção do uso (GNATTA et al., 2011, p. 258). Enquanto uma prática terapêutica, a aromaterapia como a conhecemos hoje nasceu em 1910 com René-Maurice Gattefossé. Pode ser realizada com óleos aplicados diretamente na pele associados ao toque de uma massagem, ou ainda através do olfato com objetivos de prevenção, promoção da saúde, cura e diminuição de sintomas da ansiedade, cansaço, insônia e estresse (DOMINGO; BRAGA, 2013; HOROWITZ, 2011). Como você imagina que a Aromaterapia atua realmente? Antes de tudo, temos que pensar na matéria-prima da Aromaterapia, que são as plantas aromáticas e medicinais que estão no planeta em florestas, que em função do desenvolvimento sem planejamento e sustentabilidade, podem desaparecer. Sim, temos que pensar nas florestas, nas águas dos rios e nos guardiães dessas maravilhas que são os grupos nativos que vivem nestes lugares: indígenas, extrativistas, agricultores familiares, povos ribeirinhos, entre outros. Estes grupos são importantes porque ainda precisamos deles para ‘cuidarem’ de nosso arsenal vegetal, uma vez que: Das 250 mil espécies de plantas superiores existentes na Terra, mais de 80 mil apresentam características medicinais e, destas, até agora, apenas uma pequena percentagem foi investigada do ponto de vista fotoquímico e, menos ainda, quanto à sua atividade biológica e farmacológica. Embora a medicina tradicional esteja difundida por todo o mundo, sendo parte integrante da cultura de cada povo, infelizmente muito do conhecimento antigo e muitas plantas importantes começam a perder-se num grau preocupante. As florestas tropicais têm sido destruídas a uma velocidade de 50 hectares por minuto e, quem sabe, quantas potenciais drogas farmacêuticas têm sido perdidas desta forma (JOY et al., 2001, s.p.). 62 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Se já havia riscos no período em que Joy et al. escreveram o trecho citado acima, em 2018, no século XXI, temos mais problemas e muitos agravos que dificultam a preservação das florestas e a realização de cultivos protegidos que possam servir de base para a elaboração de remédios, medicamentos e óleos de qualidade. Para obtermos uma matéria-prima adequada, convém que se faça o cultivo de plantas medicinais em sistemas protegidos (ambiente fechado), em hortas biológicas (ou orgânicas) ou ainda nas próprias florestas (sistema de cultivo agroflorestal). Qualquer que seja a escolha, é importante que os responsáveis fiquem atentos ao clima e tipos de solo (CUNHA; ROQUE; GASPAR, 2013). A Aromaterapia faz uso de óleos essenciais e carreadores. Os óleos essenciais são extraídos de uma ampla variedade de plantas e ervas consideradas aromáticas e/ou medicinais. Os óleos carreadores são óleos mais gordurosos, provenientes de amêndoas e sementes. Os lugares em que a matéria-prima desses óleos tem melhor qualidade são nos espaços que denominamos de Agroflorestas. Todas as plantas têm dois metabolismos, um primário e outro secundário. O primário é o que mantém a planta viva e ajuda no seu desenvolvimento e crescimento através da fotossíntese. O secundário dá origem a compostos específicos que ajudam na integração da planta com o meio em que se encontra e é responsável também pela proteção da planta. Este segundo metabolismo é importante para nós que apreciamos óleos essenciais, porque as substâncias que tornam possível a formação desses óleos são as responsáveis pelo afastamento de insetos indesejáveis, ou podem ser atraentes para insetos e animais que são polinizadores e ajudam a espalhar as sementes que irão gerar novas plantas no ambiente (GONÇALVES; GUAZZELLI, 2014). Como a Aromaterapia utiliza principalmente óleos essenciais para efetivar os cuidados corporais e emocionais, é importante conhecer um pouco mais sobre eles. Os óleos essenciais são misturas vegetais muito complexas. Existem em pequena quantidade e normalmente são voláteis, ou seja, evaporam muito rapidamente. Outro detalhe que chama a atenção para este tipo de óleo são os aromas provenientes das plantas que se concentram nele. A sua extração pode ser realizada de diferentes partes das plantas e, dependendo da espécie, podemos extrair óleos de suas flores, folhas, raízes, frutos, grãos, madeira ou cascas. O rendimento e a composição dependem de vários fatores: solo, quantidade de água, altitude, clima, presença ou ausência de radiação solar. Documentos como o Dossiê Abrasco demonstram como o solo e a água ficam comprometidos com resíduos de agrotóxicos ou outros produtos prejudiciais aos seres humanos (CARNEIRO et al., 2015). A consequência é a diminuição ou a impossibilidade de produção dos efeitos benéficos das moléculas ativas dos óleos na promoção do bem-estar, diminuição do cansaço e esgotamentos emocionais (GONÇALVES; GUAZZELLI, 2014; POWER, 2009). 63 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 Ao atendermos à premissa de que os óleos utilizados na Aromaterapia serão de qualidade, teremos então produtos inócuos que poderão ser utilizados de distintas formas com os clientes que forem a um spa. Nas figuras a seguir apresentamos algumas práticas comuns que podem ser aplicadas por profissionais que tenham feito estudos com embasamento teórico sobre a Aromaterapia, seus usos, benefícios e contraindicações. Os comentários relacionados às figuras foram descritos considerando os referenciais de Curtis, Thomas e Johnson (2017); Bucker, Cunha e Machado (2013); e Paganini (2013), que descrevem ou apontam os benefícios citados da difusão, inalação, massagens, banho de imersão e o uso de cremes e cosméticos. • Difusão através da combinação de óleos essenciais no ar. Os óleos atuam como ‘limpadores’ ou purificadores ambientais e podem ser propulsores do relaxamento de uma pessoa cansada (óleo de lavanda) ou impulsionar a pessoa a realizar alguma tarefa, ficar mais ágil e dinâmico (óleo de alecrim), entre outras possibilidades. FIGURA 3 – DIFUSOR ELÉTRICO FONTE: <https://www.fisaude.pt/imagemagic.php?img=images/Difusor-Aromaterapia- Ultrasonico.jpg&w=303&h=303&page=prod_info>. Acesso em: 15 ago. 2018. • Inalação diretamente dos óleos pelas narinas: importante para quem tem problemas respiratórios ou para pessoas com enxaquecas. Uma avaliação médica antes de procurar um aromaterapeuta se faz necessário se a pessoa é asmática ou sofre de outros processos alérgicos. 64 SPAS E QUALIDADE DE VIDA FIGURA 4 – INALAÇÃO FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-n0bcPj3jFfg/T-8Fyz_EYJI/ AAAAAAAABUk/5d3hyZdpw4s/s200/inalacao_caseira.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. • Massagens utilizando óleos são bastante comuns e existemmassagens para situações específicas, em que o terapeuta deve ter uma formação na técnica e nos óleos que irá utilizar. Massagem Shiatsu (Japonesa), Rítmica (Antroposofia de origem alemã) ou Ayurvédica (Indiana), ou qualquer que seja a denominação da massagem, deve ser realizada por pessoas qualificadas que saibam as indicações para a mesma. Embora o relaxamento e o descanso sejam benefícios inclusos em todas elas, algumas têm outras finalidades, com efeitos nas articulações, na musculatura ou outras partes de nosso corpo. FIGURA 5 – MASSAGEM FONTE: <https://toquevitalterapia.files.wordpress.com/2012/08/aromatherapy- massage.jpg?w=683&h=270>. Acesso em: 15 ago. 2018. • Banho de imersão infundido com óleos, normalmente realizado em banheiras com sais aromáticos, ervas medicinais in natura e óleos essenciais, são comuns em distintos tipos de spas ou em hotéis com termas. Práticas como essas são recomendadas para pessoas com estresse e cansaço crônico. 65 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 FIGURA 6 – BANHOS AROMÁTICOS FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-eUD6H4wgPwQ/UFiuJRCVz-I/AAAAAAAAAO8/ mRfmYJ6OzQw/s200/banho.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. • Cremes e cosméticos com óleos à base de plantas e/ou ervas são bastante comuns em tratamentos no couro cabeludo, rosto e o corpo de uma forma geral. Nos tratamentos estéticos, são utilizados na limpeza, tonificação, hidratação e purificação da pele. FIGURA 7 – BELEZA E ÓLEOS ESSENCIAIS FONTE: <https://images.e-konomista.pt/repo/765_360_cosmeticos- naturais_1515684764.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. Que outros usos podemos dar à Aromaterapia? Em distintas situações, a Aromaterapia pode auxiliar nos tratamentos ou complementar cuidados relacionados a problemas como o estresse crônico e/ou ansiedade, depressão, insônia ou sono sem descanso e agitado, cansaço, dor muscular e articulações, infecções respiratórias, distúrbio digestivo, tensão pré-menstrual, menopausa, problemas na pele provocados por picadas, erupções cutâneas, hematomas, celulite ou acne, flutuações na glicemia e câncer (CURTIS; THOMAS; JOHNSON, 2017; PAGANINI, 2013). 66 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Os benefícios da Aromaterapia podem ser observados nos problemas apontados acima, e isso ocorre porque é uma prática que faz uso de produtos cuja matéria-prima são as ervas e plantas medicinais. Os produtos oriundos da farmacopeia vegetal e seus respectivos extratos auxiliam ou proporcionam cuidados essenciais através da utilização por via externa e interna, conforme a necessidade e a não contraindicação do seu uso. No mundo, o consumo de óleos essenciais aumentou em diversos setores ligados à alimentação, perfumaria e cosméticos, higiene, limpeza e à indústria farmacêutica. A comercialização de produtos aromáticos é bastante diversificada e dentre eles estão os óleos essenciais, presentes em pomadas, extratos e infusões, tinturas, bálsamos e outros produtos usados para a difusão de aromas nos ambientes. É importante destacar que os óleos essenciais são os mais conhecidos para os que se utilizam da Aromaterapia, mas temos óleos vegetais e minerais com outras funções, utilizados na ativação de nosso sistema sensorial (CUNHA et al., 2010). Entretanto, “para além do uso terapêutico, os óleos essenciais são utilizados também no processamento e preservação de alimentos” (DIAS, 2013, p. 9). Vale recordar novamente o que eles são e como são definidos: Os óleos essenciais são definidos como substâncias complexas voláteis, lipofílicas, geralmente odoríferas e líquidas, oriundas do metabolismo secundário de vegetais. Essas substâncias residem em pequenas bolsas (tricomas) nas plantas, e são rompidas naturalmente por elas, liberando uma nuvem aromática ao seu redor, ou podem ser rompidas intencionalmente durante o processo de extração do óleo (MORETTO; BUENO; MORAIS, 2015, p. 16). Os critérios de qualidade dos óleos essenciais envolvem vários elementos, tais como a sua procedência territorial e local de cultivo da planta que o originou e os métodos de extração, estocagem e conservação. É importante que se esclareça que de acordo com a técnica de aplicação e uso, um óleo proveniente da mesma planta e/ou erva pode variar as suas funções e benefícios, algo que não ocorre nos óleos sintéticos (AMARAL; BARROS, 2004). As categorias e/ou divisões quanto aos benefícios são três: os tonificadores que alteram o humor, os estimulantes que regulam nosso corpo de uma forma geral e os calmantes que relaxam e diminuem nosso ritmo corporal e mental (COELHO, 2009; SELLAR, 2002). Os óleos essenciais à base de lavanda, melaleuca, eucalipto e citronela são bastante conhecidos do público brasileiro. Contudo, em 2009, entre os 18 óleos mais comercializados em nosso país e no mundo, figuravam o óleo à base de laranja [Citrus sinensis] e a menta japonesa [Mentha arvensis L. f. piperascens]. Outros óleos são citados, mas estes figuram como os mais fáceis de produzir em função da quantidade com que as plantas que os originam são cultivadas no mundo (BIZZO; HOVELL; REZENDE, 2009). 67 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 Recomendo como leitura de aprofundamento os livros da Fundação Calouste Gulbenckian de autoria de Cunha e colaboradores, que estão citados e apresentados em nossas referências. Os mesmos precisam ser adquiridos via site da fundação, não estão ofertados para reprodução gratuita, mas são importantes para entendermos as nuances acerca dos múltiplos usos das plantas medicinais e aromáticas. A recomendação de leituras é fundamental, porque o fato de estarmos lidando com produtos cuja matéria-prima são plantas não isenta de risco os seus usos. Também recomendamos a leitura da dissertação de Tatiana Paganini, cujos resultados apontam que: A Aromaterapia via uso dos óleos essenciais pode auxiliar nos sintomas relacionados ao es- tresse, contribuindo para o equilíbrio corpóreo como um coadjuvante nos tratamentos biomédi- cos. Esses estudos demonstram também que para uma pessoa alcançar bem-estar, muitos el- ementos estão envolvidos, e para gerar equilíbrio corporal (físico, mental e espiritual) e qualidade de vida, muitos fatores são importantes e fun- damentais. As práticas terapêuticas com uso da aromaterapia, embora com limitações, permitem que o profissional e/ou terapeuta tenha uma visão mais totalitária da pessoa no processo saúde-doença. No caso das pessoas estressa- das num estado de maior vulnerabilidade para contrair doenças, a indicação da Aromaterapia pode ajudá-las a diminuir o processo de ansie- dade e outros problemas desencadeados pelo estresse. Sobre esta questão, quase todos os autores são unânimes no sentido de dizer que o cuidado preventivo traz resultados importantes e impedem que a situação se agrave. Entretanto, recomendam que a Aromaterapia seja, quando necessário, associada a cuidados da biomedici- na tradicional (PAGANINI, 2013, p. 6). Na área da saúde, a Aromaterapia vem sendo amplamente utilizada como complemento a tratamentos estressantes ligados ao câncer, às depressões e ansiedade. Embora os profissionais ligados à Naturologia sejam bastante respeitados neste novo milênio, historicamente, a Medicina e a Enfermagem já trabalhavam com os óleos essenciais, matéria-prima da Aromaterapia. No cuidado de enfermagem, por exemplo, Marguerite Maury é vista como um ícone da Aromaterapia moderna. Nascida na Áustria, já formada em Enfermagem, foi 68 SPAS E QUALIDADE DE VIDA para a França e, com seu marido, o médico Maurice Maury, estudaram juntos os efeitos do uso dos óleos essenciais. Marguerite é reconhecida como referência na Aromaterapia pelo fato de ter integrado os princípios holísticos da Enfermagem à elaboração de prescrições terapêuticas individuais de Óleos Essenciais (OE) para massagem e por desenvolver a ideia de que um blend (mistura) único de OE poderiaser desenvolvido para cada pessoa. Com seus estudos, Marguerite Maury tentou demonstrar a atuação dos OE sobre o sistema nervoso, sobretudo no sistema límbico, e ministrou cursos e palestras por toda a Europa sobre o mecanismo de ação dos OE. Abriu a primeira clínica aromaterápica em Londres e, posteriormente, outras unidades na França e Suíça. Pelo fato de Marguerite ter desenvolvido estudos sobre a ação dos OE no organismo, ela se tornou mais conhecida por sua atuação como bioquímica do que como enfermeira (GNATTA et al., 2016, s.p.). E então, o que acharam desses conteúdos? Vamos agora fazer um exercício sobre os temas tratados até o momento? Lembre-se: esperamos coerência nas respostas, que devem ser fundamentadas no que abordamos neste tópico e nas referências de apoio no final do capítulo. A ideia é associar o seu pensamento ao que se pesquisa sobre a Aromaterapia e seus usos. Atividade de Estudos: 1) “Baseada nos princípios holísticos, a aromaterapia moderna data de 1910, com René-Maurice Gattefossé. Trata-se de um processo terapêutico baseado no toque, na comunicação e na interação terapeuta-paciente” (DOMINGO; BRAGA, 2013, p. 74). Sobre a aromaterapia, coloque verdadeiro (V) ou falso (F) nas afirmações a seguir: a) ( ) A aromaterapia é definida como uma terapia que faz o uso intencional de óleos essenciais a fim de promover ou melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. b) ( ) A aromaterapia tem base biológica e faz uso de substâncias encontradas na natureza, como os óleos essenciais e os óleos carreadores. c) ( ) A aromaterapia utiliza óleos essenciais que produzem estímulos nos neurotransmissores (encefalinas e endorfinas) e geram efeito analgésico e a sensação de bem-estar e relaxamento. 69 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 d) ( ) A aromaterapia só pode ser realizada por profissionais médicos e enfermeiros em ambiente hospitalar. e) ( ) A aromaterapia é uma técnica da biomedicina convencional com ampla aceitação de todos os profissionais da saúde que atuam em estabelecimentos de saúde privados e públicos. f) ( ) A aromaterapia é uma prática holística milenar que, através dos óleos essenciais, pode aliviar dores, fortalecer nossa imunidade, proporcionar relaxamento e equilíbrio. 2) Os óleos essenciais são bastante conhecidos em função da Aromaterapia e a comercialização e popularização dos usos dos óleos em massagens estéticas e terapêuticas. Levando em consideração este contexto, assinale as corretas nas afirmações a seguir: a) ( ) Os óleos essenciais são extraídos de plantas e ervas medicinais e aromáticas. As flores, folhas, cascas, rizomas e frutos são matérias-primas para sua produção. b) ( ) Os óleos essenciais possuem grande aplicação na perfumaria, cosmética, alimentos e como coadjuvantes em medicamentos. c) ( ) Os óleos essenciais mais comercializados no mercado mundial, em 2009, foram os elaborados a partir da matéria- prima da laranja [Citrus sinensis] e da menta japonesa [Mentha arvensis L. f. piperascens]. d) ( ) Os óleos essenciais não possuem contraindicação ao seu uso em quaisquer situações ou agravo de saúde. e) ( ) Os óleos essenciais podem ser extraídos de qualquer planta e não existe situação de risco ao seu uso em função do solo e modo de cultivo. f) ( ) Os óleos essenciais possuem três benefícios reconhecidos cientificamente: tonificação, estimulação e calmante. g) ( ) Os óleos essenciais naturais se diferenciam dos óleos sintéticos porque podem ter, conforme a aplicação, vários benefícios para problemas diferentes. Para fecharmos esta seção, deixamos algumas informações importantes, levantadas por Curtis, Thomas e Johnson (2017, p. 20-21), sobre os óleos essenciais que podem ser fundamentais para atestarmos a qualidade deles, vejamos: 70 SPAS E QUALIDADE DE VIDA • Prefira os naturais e não os sintéticos, que, embora mais baratos, não apresentam os benefícios terapêuticos dos óleos essenciais e contêm misturas com outros ingredientes, tais como solventes, agentes espessantes, óleos vegetais fixos e minerais. • Veja a empresa que oferta o óleo essencial, algumas atestam sua credibilidade através da participação em associações científicas, utilização de termos científicos para designar o tipo de planta ou erva utilizada, o quimiotipo (substância de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, no caso do Brasil) e a política de sustentabilidade (evitam o uso de plantas ou ervas com riscos de extinção). • Observe se trabalham com a política de comércio justo nas comunidades em que colhem as plantas e/ou ervas. • É essencial que as plantas e ervas não tenham resíduos tóxicos provenientes de pesticidas e fertilizantes químicos, como os agrotóxicos diversos que hoje são amplamente utilizados no Brasil. Infelizmente, estudos científicos realizados pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva que resultaram no DOSSIÊ ABRASCO, em 2015, confirmaram dados da Organização Mundial da Saúde sobre o uso no Brasil de produtos tóxicos proibidos no mundo, mas que são usados em quase todas as monoculturas do agronegócio brasileiro. • O preço do óleo essencial sempre é mais caro em função da enorme quantidade de matéria vegetal necessária para produção de uma pequena quantidade de óleo. Bem, se a Aromaterapia lhe chamou a atenção e você deseja se aprofundar, busque novas informações a respeito. Na internet é possível ter contato com associações, organizações científicas e estabelecimentos comerciais onde pessoas interessadas se encontram para discutir e/ ou demonstrar como atuar nesta prática terapêutica. Não esqueça: a Aromaterapia tem distintas formas de aplicação e muitas vezes a sua prática pode ser associada a outras, tais como a Musicoterapia, a Arteterapia, a Massagem, a Meditação e a Cromoterapia. 4 Cromoterapia: Cores e Luzes como Prática Terapêutica Como estamos sempre lembrando a você, a busca pelo equilíbrio, bem-estar e saúde sempre foi o ideal dos seres humanos desde épocas antigas. Os banhos termais, o uso de ervas e óleos para diminuir ou eliminar sintomas indesejáveis, ou mesmo para se tornar mais belo, são parte dos desejos das pessoas em 71 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 distintos contextos culturais. A utilização das cores como um dos elementos de nosso arsenal de práticas terapêuticas voltadas para a promoção da saúde é parte da história humana. O que denominamos de Cromoterapia é uma prática ou cuidado terapêutico que utiliza as cores para atuar contra vários problemas de caráter orgânico e emocional. Tem por base sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta, com cada cor atuando especificamente na área de nosso corpo que precisa ser cuidada (SCHULKA; SOUZA, 2017). Atividade de Estudos: 1) E então, em algum momento você pensou nas cores como um elemento importante no cuidado às pessoas no sentido de lhes melhorar a saúde e o bem-estar? Pense a respeito um pouco e aproveite para refletir sobre as cores que fazem parte da sua vida. Que cores lhe atraem mais? Que cores lhe deixam cansado e agitado? Que cores chamam sua atenção e você as quer sempre em sua casa, nos objetos que lhe rodeiam? Parece que é muito cedo para iniciar com um exercício? Nem tanto... vejamos... cada indivíduo tem as preferências, e você? a) Minhas cores preferidas são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Minhas cores preferidas para roupas são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ c) Minhas cores preferidas para objetos pessoais são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 72 SPAS E QUALIDADE DE VIDA d) As cores de que não gosto são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ e) As cores que me cansam são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ f) As cores que me relaxam são: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Como colocado anteriormente, esta não é uma prática qualquer, assim como não é algo novo ou um modismo do século XXI. Entre os chineses, egípcios e indianos já se usava as cores para tratamentos e cuidados. Entre os filósofos gregos já havia pesquisa para saber os efeitos das cores sobre o corpo humano e suas mazelas. Contudo, foi no século XX que, na Índia, o cientista Ghadiali explicou cientificamente como as cores atuavam em nossos corpos. É dele a primeira publicação sobre Cromoterapia, no ano de 1933, e sobre a simbologia e os significados possíveis para o uso das cores, como exemplificado na figura a seguir (SILVA, 2012). 73 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 FIGURA 8 – AS CORES: SIMBOLOGIA E SIGNIFICADOS Azul tranquilidade, serenidade e harmonia Azul tranquilidade, serenidade e harmonia Verde esperança, liberdade, saúde e vitalidade Amarelo luz, calor, descontração, otimismo e alegria Roxo espiritualidade, magia e mistério Rosa romantismo, ternura, ingenuidade Vermelho paixão, energia e excitação Laranja alegria, vitalidade, serenidade e harmonia Marrom seriedade e integridade Cinza neutrabilidade e estabilidade Branco paz, pureza e limpeza Preto respeito, morte, isolamento, medo, solidão FONTE: <http://www.big1news.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Cromoterapia- %E2%80%93-Benef%C3%ADcios-e-Significado.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2018. Veja as cores apresentadas na figura, a partir dos significados retratados, você conseguiria traçar um roteiro de cuidados a uma pessoa que fosse ao SPA onde você atua como esteticista e terapeuta? Como colocado antes, ao se trabalhar com a Cromoterapia ou qualquer das práticas que já apresentamos a vocês, é sempre bom, após uma avaliação do cliente, selecionar as práticas mais indicadas ao problema. As cores possuem aspectos e efeitos diferentes e cada cor pode ter uma infinidade de aplicações. A escala cromática atua em diversas condições, modificando o campo magnético e atuando em tratamentos específicos de saúde ou, como ocorre nos tratamentos estéticos, uma luz colorida pode ser aplicada como emoliente e cicatrizante ou para permitir a absorção do produto e facilitar a extração de impurezas. Para cada procedimento utiliza-se a cor apropriada para obter melhor resultado. Podemos utilizar várias fontes de luzes: luz solar, luzes emitidas por lâmpadas coloridas comuns, lâmpadas brancas e filtros coloridos, água solarizada e roupas nas cores necessárias ao tratamento específico, na alimentação e ambiente, pelas cores nas paredes, pela decoração ou uso de objetos nas cores mais recomendadas a cada caso (BUCKER; CUNHA; MACHADO, 2013; CAPELLI, 2007). 74 SPAS E QUALIDADE DE VIDA A seguir, apresentamos um relato e o plano de cuidados, tendo por base um SPA fictício no litoral com cuidados estéticos e relaxantes. Detalhe: o plano de cuidado apresentado vai demonstrar como usar a Cromoterapia associada a outras práticas terapêuticas. “Sou Diana, microempresária, atuo como gestora de uma pousada em uma praia bastante movimentada. Acordo sempre cedo e vou tomar um café preto com um ou dois biscoitos e em seguida vou para minha sala de trabalho ver a agenda da semana. Nunca consigo deitar antes das 23h e muitas vezes, mesmo deitada, não consigo dormir antes da meia-noite. Acordo seguidamente à noite, seja porque estou preocupada ou em função de algum barulho na rua. Atualmente, desenvolvi dores de cabeça quase diariamente, minha vista está cansada e tenho palpitações no peito se resolvo caminhar. Tonturas, cansaço constante e dores corporais fazem parte também de minha rotina. O que posso fazer para ficar bem e trabalhar com tranquilidade e de forma saudável?” • Nosso Plano de Cuidados: Um roteiro básico de atendimento se inicia com uma anamnese prévia pela internet (E-mail, Messenger, Telefone, Whatsapp), com perguntas gerais sobre idade, sexo, problemas de saúde, uso ou não de medicamentos, rotina alimentar e de exercícios, rotina profissional e/ou escolar e/ou familiar, férias, lazer, redes e laços de amizade. Estes itens dão uma panorâmica do dia a dia da pessoa e suas necessidades. Se a pessoa em particular deseja criar uma rotina de cuidados em nosso SPA urbano que tem, entre outros ambientes, um pequeno parque de caminhadas, pode-se propor uma tarde ou uma manhã semanal com: alguns exercícios leves de yoga com objetivos de levar a um relaxamento corporal inicial dos músculos do corpo. Este momento deve ter a duração de 20 minutos no máximo [no primeiro mês] e deve ser uma atividade realizada preferencialmente após refeições leves à base de frutas e sucos em pequena quantidade. Após esta etapa, sugere-se uma caminhada meditativa de 30 minutos no parque do SPA. Usando roupas leves, caminhando lentamente, parando em alguns momentos para escutar os sons locais, mas sempre centrado em si e 75 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 nas sensações corporais estimuladas pelo ambiente. A luz solar será parte desta prática com sua luminosidade em tons amarelos. O momento seguinte pode ser com um banho de ducha morna com ervas ou banho em banheira com óleos essenciais relaxantes, como a cidreira, a lavanda ou essências de flores de laranjeiras em um tempo que não ultrapasse 20 minutos. Luzes em tons azuis em cima da banheira ou no teto do espaço com duchas são as indicações. Terminado o banho, existem opções variadas, mas todas de caráter tranquilizador, voltadas para o descanso. Uma massagem relaxante, seja de corpo integral ou em lugares como rosto, mãos e pés (reflexologia) pode ser realizada com uso de óleos essenciais com essência cítrica ou de lavanda/alfazema. Esta massagem pode ser realizada [conforme a abordagem e tipo] de 40–60 minutos. Luzes em tom azul, roxo e cinza são indicadas e podem ser modificadas durante a massagem. Nunca colocar as luzes de forma direta nos olhos da pessoa que está sendo atendida, e sempre branda, bem suave! Esse plano, conforme os custos e o tempo do cliente, pode ser realizado semanalmente, quinzenalmente ou apenas uma vez por mês. O importante é que a pessoa do nosso relato possa ter, em algum momento, um tempo para si com profissionais que entendam seu problema e saibam o que indicar, considerando segurança e atendimento de qualidade. Sobre cada item do plano, vejamos agora suas funções, com base nos materiais elaborados por Lyra, Nakai e Marques (2010); Caldas (2008); e Coelho (2009): • Anamnese: conhecer o cliente e suas de- mandas, bem como os cuidados que poderá receber a partir de seu históricode problemas, angústias, doenças, medicamentos que usa, seu cotidiano pessoal e profissional. • Yoga: para ter contato com o corpo e através das sensações, perceber os pontos que pre- cisam ser trabalhados para diminuir o can- saço, melhorar o sono e iniciar esse cliente em uma rotina de exercícios corporais suaves de autoconhecimento. • Caminhada meditativa: esta escolha é dire- cionada na etapa inicial de um programa de cuidados, tendo como objetivo o aprendizado 76 SPAS E QUALIDADE DE VIDA do calar-se, do sentir, do ouvir os barulhos da natureza e do próprio corpo. O propósito é in- duzir o descanso através de caminhadas que fortaleçam o corpo gradativamente. Também é um momento [se realizado em meio à nature- za] de contato com o verde das plantas [esper- ança e saúde], o azul do firmamento [tranqui- lidade e serenidade] e os raios amarelados do Sol [otimismo, alegria, energia]. • Banho de imersão [banheira] com óleos ou o banho de ducha com ervas tem o propósito da limpeza, da recepção de produtos equil- ibrantes e desintoxicantes, sempre muito bons para quem está com cansaço crônico. O uso de luzes azuis ou brancas serve de orien- tação para o corpo, de modo que este possa preparar-se para o descanso que vem com a etapa seguinte, que é a da massagem. • Massagem corporal completa ou apenas de partes do corpo pode ser realizada com ou sem óleos essenciais. Nossa sugestão, a partir do histórico deste relato de experiência, é que se faça uso de óleos essenciais relaxantes e luzes suaves nos tons de azul, roxo e cinza, que são apropriados a pessoa que precise ficar equilibrada, serena, relaxada e pronta para uma rotina mais saudável, feliz e com bem-estar. Importante: um espaço bonito, limpo e decorado é atraente e proporciona bem-estar visual e espacial. 77 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 FIGURA 9 – ESPAÇOS DE CUIDADO FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/32/49/8f/32498f61fffd3067e41c3b359895f988. gif>. Acesso em: 16 ago. 2018. Atividades de Estudos: E então, o que você achou do exemplo? Tente pensar um pouco sobre cada cuidado que apresentamos até o momento. Desenvolva o exercício a seguir para fixação dos conteúdos oferecidos neste e outros capítulos (Gabarito no final do capítulo). a) Sobre massagens [capítulo 2]: faça uma busca sobre alguns tipos de massagens e liste-os aqui: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Pesquise entre familiares e amigos quais os óleos essenciais mais conhecidos deles. Veja quais os problemas mais comuns que levam as pessoas a buscarem os óleos essenciais. Veja os benefícios da utilização desses óleos. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 78 SPAS E QUALIDADE DE VIDA c) Banhos de imersão com uso de óleos essenciais e luzes suaves são recomendados a todas as pessoas? Por que um banho de imersão não deve ultrapassar 20 minutos? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5 Algumas Considerações No final do século XX, profissionais que atuavam na saúde, com foco na prevenção e tratamento com uso de tecnologias ‘duras’, ou seja, com equipamentos modernos associados a medicamentos de tarja preta [comprados exclusivamente com prescrição médica], tiveram que se render ao retorno de práticas complementares conhecidas desde os primórdios da história humana ocidental ou trazidas para cá no auge dos movimentos sociais e questionamentos dos velhos paradigmas. Essas práticas, agora bastante usadas, chegam até nós quando percebemos que falhamos com o planeta no que se refere à sua sustentabilidade e preservação, e quando também concluímos que falhamos conosco mesmos e com nossos corpos, mentes e espírito. Retomar práticas que se utilizam de aromas, de toques, cores, luzes e um cuidado cuja base se centra em um paradigma holístico, é também uma forma de lutar contra velhos modelos que aumentam os prejuízos humanos, materiais, sociais e ambientais. Nesse sentido, as pessoas começam a perceber que a inovação tecnológica, quando utilizada sem critérios, não é a fonte privilegiada da revolução científica e cultural. As práticas terapêuticas que focamos neste capítulo, que podem também ser denominadas de tecnologias suaves ou doces, de certa forma é a nossa resposta às ideias e sonhos sobre um mundo mais livre, igualitário, criativo e saudável para todos nós que fazemos parte deste planeta chamado Terra. 79 Práticas Terapêuticas de Conforto Sensorial e Corporal Capítulo 3 Referências AMARAL, F.; BARROS, M. B. Aromaterapia. São Paulo: Caras S.A., 2004. ANDREI, P.; PERES, A.; COMUNE, D. Aromaterapia e suas aplicações. CADERNOS, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 57- 68, out./dez. 2005. BIZZO, H. R.; HOVELL, A. M. C.; REZENDE, C. M. Óleos essenciais no Brasil: aspectos gerais, desenvolvimento e perspectivas. Quim. Nova, v. 32, n. 3, p: 588-594, 2009. BOFF, L. Saber cuidar: ética do ser humano-compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 19. ed., 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 971, de 3 de maio de 2006. 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CAPÍTULO 4 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer a importância da alimentação para a promoção da saúde, bem-estar e qualidade de vida. � Apreender informações sobre as práticas terapêuticas alimentares mais importantes para o cuidado físico e psicossensorial. � Constatar como o ciclo de cultivo dos alimentos pode influenciar no processo de adoecimento das pessoas e do planeta. � Valorizar os patrimônios alimentares locais de base agroecológica e os benefícios que os mesmos trazem às pessoas e à biodiversidade do planeta. 84 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 85 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 1 Contextualização Este capítulo vai apresentar a alimentação como uma prática terapêutica voltada à promoção da saúde. Nosso objetivo, considerando tudo o que foi apresentado até o momento, remonta a práticas terapêuticas não ocidentais, é mostrar inicialmente os modos de cultivos saudáveis, comuns em países como o Butão, que prima por um modelo de cultivo sustentável e agroecológico em 100% da sua produção. Para tratar do modelo agrícola deste pequeno país asiático, teremos que falar um pouco sobre o conceito de ‘decrescimento’, cujo objetivo é “mudar os hábitos de uma sociedade consumista que cobiça o crescimento com a simples justificativa de crescimento infinito para o consumo infinito” (PAPIN-LEAL, 2017, p. 19). Teremos, portanto, um tópico para discutir esse e outros conceitos e como, a partir das ideias trazidas de alguns países orientais, desde a década de 1960, estamos de forma gradativa assumindo, em alguns lugares do planeta, que a promoção da saúde passa não apenas pelo cuidado corporal considerando exercícios e práticas terapêuticas psicofísicas e sensoriais, mas, também, pelas escolhas alimentares. E estas escolhas devem ser realizadas apostando na sustentabilidade do planeta com toda a sua biodiversidade e, claro, a saúde de todos os envolvidos com a alimentação. A cadeia produtiva é ampla e o cuidado com a nossa saúde se inicia com a saúde dos que plantam, comercializam, preparam o alimento e o consomem (COSTA et al., 2016). Esperamos, com os conteúdos aqui apresentados, despertá-lo para uma nova consciência acerca da importância dos alimentos e de como estes nos afetam de forma positiva e/ou negativa. Quando não nos alertamos para os riscos que podemos enfrentar, quando adotamos modelos alimentares que do ponto de vista ético matam o planeta e os humanos que nele habitam, estamos entrando em um caminho que diminui as possibilidades de bem-estar e qualidade de vida. Os Spas e outros estabelecimentos voltados ao cuidado com práticas terapêuticas oriundas do continente asiático,principalmente, entendem que a alimentação adequada a cada situação, gostos e hábitos de cada pessoa, deve fazer parte do ‘pacote’ de serviços e produtos ofertados a quem os procura. 2 A Alimentação e seu Ciclo de Produção e Consumo Um alimento saudável gera alimentação também saudável. No mundo, considerando nossa história de vida no planeta, os seres humanos passaram, conforme o território ocupado, por vários ciclos alimentares. Em alguns lugares 86 SPAS E QUALIDADE DE VIDA FIGURA 1 – ALIMENTAÇÃO ‘VEGETARIANA’ os carnívoros e onívoros eram mais abundantes e em outros lugares os vegetarianos. Os carnívoros, como o próprio nome acentua, têm na carne de animais diversos a sua principal, e as vezes única, fonte de alimentos. É uma alimentação extremamente proteica, que exige da pessoa que adota este modelo alimentar uma vida sem sedentarismo, que favoreça a digestão das fibras animais transformando-as em energia. Os grupos humanos onívoros, por sua vez, em função da adoção de uma ampla gama de alimentos como fonte alimentar, ao longo da trajetória humana na Terra, conseguiram sobreviver melhor aos problemas relacionados à falta de algum alimento no local onde estivessem, ou seja, se faltava carne, eles substituíam por vegetais. Em alguns lugares do mundo, alguns desses grupos iniciaram, inclusive, as primeiras hortas e muitos deles deixaram de ser nômades e começaram os primeiros espaços de fixação humana. O vegetariano, como o próprio nome sugere, se alimenta principalmente de vegetais em todas as suas formas: frutas, flores, sementes, grãos e folhosos. Embora ao longo da história humana eles tenham adotado adaptações nesse modelo alimentar, como é possível perceber na figura a seguir, neste milênio, algumas pessoas estão retomando a sua gênese sem muitas associações com proteína animal (MAZOYER; ROUDART, 2010). FONTE: Sacramento (2015, p. 3) 87 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 No Ocidente, as práticas alimentares sempre foram mais onívoras e carnívoras, com pouca ou nenhuma adesão a uma alimentação cuja base mais importante fosse os vegetais. Isso porque nos países do Ocidente sempre houve maior incentivo aos grandes latifúndios voltados para a pecuária e as monoculturas (arroz, soja, milho, café etc.), sem uma preocupação com a diversidade alimentar, a sustentabilidade da terra e da água, os trabalhadores do campo e o consumidor. A pobreza associada a um capitalismo sem ética e preocupações com o futuro trouxe ao mundo várias carências, guerras e a consequente migração não planejada de muitos povos (SANTOS, 2002). Mesmo entre pessoas com poder econômico estável, a falta de uma educação alimentar que descreva os benefícios de uma alimentação com base na sustentabilidade planetária leva-as a uma alimentação com sérias deficiências relativas à segurança alimentar de natureza nutricional, por exemplo. Quando os seres humanos fazem este caminho, tornam-se os agressores do planeta e de seus semelhantes e ao mesmo tempo são vítimas, porque suas ações os deixam mais doentes e vulneráveis (VEYRET, 2007). O que podemos fazer? Na figura a seguir vemos o modelo atual agrícola, e a partir de nosso cotidiano e experiências, sabemos que esse modelo esgota e maltrata a terra e as pessoas. A fome e a miséria permanecem fortes e o cuidado pessoal de uma boa parte das pessoas não existe, porque elas não têm tempo e nem como pagar por um serviço de qualidade que as ajude no processo de autocuidado. Mais uma vez perguntamos: o que podemos fazer? 88 SPAS E QUALIDADE DE VIDA FIGURA 2 – MODELO AGRÍCOLA MUNDIAL MODELO DE PRODUÇÃO INSUSTENTÁVEL Monocultura para exportação, uso intensivo de máquinas, fertilizantes e agrotóxicos Trabalho precarizado Domínio de sementes e recursos genéticos Pactuam com esse modelo: Mídia, pesquisa e extensão Exaustão da terra Dificuldades econômicas Êxodo Rural FONTE: UNESCO (2005 apud SILVA, 2018, p. 4) Para pensarmos em mudar algo, Gadotti (2008) sugere uma grande mobilização em todos os continentes de modo que possamos, a partir da Carta de Direitos Humanos, Carta da Terra e o Tratado da Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e a Responsabilidade Global, empreender esforços educacionais que demonstrem que a saúde e a qualidade de vida dos povos passam por vários elementos, mas é com iniciativas sustentáveis (inclusive alimentares) que podemos salvar os povos da Terra. De 2008 a 2016, vários fóruns de discussão nos remetem a uma grande mobilização humana no sentido de melhorar a vida das pessoas, seja no Oriente ou no Ocidente (SILVA, 2018): • 2008: QUESTÕES AMBIENTAIS GLOBAIS E SOLUÇÕES ATUAIS • 2010: AQUECIMENTO GLOBAL, SOCIEDADE E BIODIVERSIDADE • 2012: CIDADES, NATUREZA E BEM-ESTAR/QUALIDADE DE VIDA, MOBILIDADE E SEGURANÇA NAS CIDADES • 2014: SAÚDE AMBIENTAL E SOBERANIA ALIMENTAR/ AGRICULTURA FAMILIAR E SEGURANÇA ALIMENTAR 89 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 • 2015: PAISAGENS, SOLOS, BIODIVERSIDADE E OS DESAFIOS PARA O BEM VIVER • 2016: NATUREZA, SOCIOBIODIVERSIDADE E SUSTENTABILIDADE. Esses eventos nasceram da necessidade de aprendermos mais sobre o planeta que hoje nos abriga. Nesse sentido, Brandão (2008) trata que a educação para a sustentabilidade passa pela redução do consumismo, pelo conhecimento das nossas riquezas e limitações, pelo diálogo entre os povos e a construção de uma ética que nos faça perceber que somos parte do planeta e que a Terra é o único lar possível neste momento. A Terra é nosso mundo e nossa casa. E esta casa, além de ser nossa morada, é também o lugar onde cultivamos nossos alimentos, os elementos capazes de nos fazer sobreviver com energia e capacidade de criação cotidianamente. Quais alimentos podem nos ser mais favoráveis? E como cultivá-los de modo saudável, seja para quem planta e/ou para quem consome? Aqui, poderia citar várias abordagens alimentares, e todas, de uma forma ou de outra, conforme a cultura alimentar ou a demanda, podem ser boas para distintos grupos. Entretanto, sabemos que em função das transformações ocupacionais e modo de viver das pessoas, hoje, muitas das doenças e problemas generalizados de saúde têm uma relação direta com o alimento que chega à nossa mesa. A educação pode ser a ‘chave’ para a reflexão e a discussão dos problemas que se fazem sentir no mundo, e a nossa alimentação está inclusa nessas demandas planetárias. Nos países da Europa, nas Américas, Oceania e Ásia existem propostas de uma educação sustentável para as crianças, no lar e nas escolas. Uma educação transdisciplinar, ou seja, uma educação para a sustentabilidade distribuída em todas as disciplinas escolares. Como reafirma Gadotti (2008, p. 92-93): A educação é fundamental para alcançar a sustentabilidade, para criar um futuro mais sustentável. Todas as disciplinas e todos os docentes podem contribuir para a educação para a sustentabilidade: as matemáticas podem trabalhar com os dados referentes à contaminação ambiental e ao crescimento da pobreza e da desigualdade social; as disciplinas linguísticas podem analisar o papel dos meios de comunicação e dos anúncios publicitários na formação de hábitos de consumo; a história e as ciências sociais podem discutir o etnocentrismo, o racismo e a desigualdade de gêneros. O que a Unesco poderia fazer, além de promover a difusão, a aprendizagem e a mudança cultural por meio da EDS, seria ainda fortalecer os mecanismos de avaliação e de monitoramento, fazendo balanços anuais, divulgando as boas experiências etc. A sociedade civil é uma forte aliada desse compromisso. 90 SPAS E QUALIDADE DE VIDA E então, vocês se sentem compromissados com a missão e aliança pela sustentabilidade mundial? Conseguem também perceber a ligação entre esta temática e a promoção da saúde? Agora, vamos nos exercitar com uma atividadeque reforce alguns dos novos conhecimentos que trouxemos para você? Ao final, não se esqueça de ver se suas respostas estão corretas. Atividades de Estudos: 1) Os seres humanos, nos distintos territórios do planeta, criaram e assumiram mais de um modelo alimentar para sua sobrevivência. Sobre esta questão, marque com verdadeiro (V) ou falso (F) os itens a seguir: a) ( ) O modelo alimentar de base onívora se caracteriza pela ingestão de carne unicamente. É a base alimentar dos povos árabes. b) ( ) O modelo alimentar de base vegetal foi ao longo dos tempos a única possibilidade de sobrevivência dos povos europeus. c) ( ) O modelo alimentar de base carnívora associa legumes, hortaliças, grãos e carnes vermelhas à sua dieta. d) ( ) O modelo alimentar de cada povo tem a ver com o território ocupado e o que existe de oferta animal e vegetal. e) ( ) O modelo alimentar mais sustentável é aquele que preserva as paisagens, o solo, água, plantas, animais e pessoas. 2) A alimentação vegetariana, bastante defendida pelos orientais cujas crenças religiosas evitam a morte de outros animais para consumo, no Ocidente sofreu várias adaptações, como sugere a Figura 1 (Alimentação Vegetariana). Considerando a figura e o que foi discutido até agora, assinale os itens corretos: a) ( ) O vegetarianismo verdadeiro, também denominado de estrito (também pode ser chamado de vegano), utiliza para a alimentação somente produtos vegetais. b) ( ) O vegetarianismo verdadeiro, conforme as circunstâncias e lugar, admite que se use mel e ovos na alimentação. c) ( ) O vegetarianismo verdadeiro não admite em nenhuma circunstância o uso de produtos animais. d) ( ) O vegetarianismo pode admitir uma alimentação com vegetais, ovos e mel (ovovegetarianismo); com mel (vegetarianismo semiestrito); com mel e lacticínios (lactovegetarianismo) e peixe e lacticínios (pescatarianos). 91 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 e) ( ) O vegetarianismo enfraquece as pessoas e por isto é uma alimentação considerada ruim e prejudicial a todas as pessoas. f) ( ) O vegetarianismo é bastante comum entre pessoas que seguem o budismo e outras religiões orientais. 3) A alimentação tem uma relação direta com a sustentabilidade do planeta e a educação dos povos. Sobre esta afirmação, responda com verdadeiro (V) ou falso (F): a) ( ) O planeta Terra continua seu crescimento populacional e, infelizmente, em muitos países, o capitalismo na sua versão unicamente econômica, sem avaliar outros parâmetros de crescimento e desenvolvimento, tem levado os povos à fome, a guerras e destruição ambiental. b) ( ) O planeta Terra, com a Revolução Verde e a alta tecnologia, resolveu todos os problemas alimentares do mundo. Estamos hoje vivendo momentos de grande abundância e poucos povos passam fome. c) ( ) O planeta Terra precisa urgentemente que medidas sejam tomadas com relação à educação para a sustentabilidade, uma vez que continuamos a cultivar em grandes extensões de terra no modelo de monoculturas. d) ( ) O planeta Terra, através de órgãos ligados às Nações Unidas, vem realizando várias conferências para discutir o futuro da Terra, considerada o lar e a moradia de todos nós. e) ( ) O planeta Terra pode ser salvo se nos educarmos para tal. Precisamos conhecer mais sobre a nossa biodiversidade para saber como usá-la sem prejuízo para a Terra e nós mesmos. 3 O Cultivo Sustentável Como um grande ‘mantra’, estaremos durante todo este capítulo consolidando as palavras de Rodrigues, Zanetti e Laranjeira (2013, p. 2): “a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e a promoção da alimentação saudável são essenciais para a saúde e qualidade de vida”. Para as autoras, promover a alimentação saudável significa promover a alimentação sustentável. Na prática, é utilizar de forma moderada os produtos industrializados e valorizar os patrimônios alimentares regionais com suas memórias e receitas tradicionais. Significa ter consciência acerca da cadeia produtiva, observando aspectos da gestão ambiental, uso e 92 SPAS E QUALIDADE DE VIDA qualidade da água, uso de agrotóxicos na produção de alimentos e o destino dos resíduos tóxicos. Santos (2005) afirma que não basta pensar no alimento segundo seu valor nutricional, temos que pensar de forma sustentável e responsável e analisar o ciclo da alimentação humana desde a plantação até a sua transformação e consumo. Esta afirmação foi dita muitos anos antes da divulgação do Dossiê ABRASCO, por pesquisadores da Fiocruz e de outras universidades que nos mandam refletir sobre essas questões a partir das pesquisas realizadas sobre o uso de agrotóxicos perigosos nas plantações brasileiras. CARNEIRO, F. F. et al. (Orgs.). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. Esta obra recomendamos com ênfase, porque ela aponta os problemas de saúde da população brasileira – consumidores e agricultores – provenientes do uso de agrotóxicos nos cultivos e de outros aditivos nos alimentos de porcos, gado e galinhas, ou seja, sendo vegetariano, onívoro ou carnívoro, corremos sérios riscos de saúde se consumirmos alimentos com agrotóxicos, outros aditivos químicos ou do tipo transgênicos, sem estudos suficientes quanto às reações que provocam em nossos corpos (CARNEIRO et al., 2015; PESSANHA; WILKINSON, 2005). O debate sobre riscos alimentares e o direito humano a uma alimentação saudável e de qualidade é de longa data, não é uma novidade, uma vez que o uso de produtos tóxicos para supostamente proteger os cultivos alimentares no Brasil e no mundo se intensificou com a Revolução Verde. Esta ‘revolução’ tinha vários atores sociais envolvidos (governo, indústria, bancos, agrônomos, entre outros) e o discurso predominante era da necessidade de se fazer grandes produções de alimentos para salvar o mundo da fome com a introdução de maquinário agrícola na produção extensiva e latifundiária e a produção com uso de insumos químicos (pesticidas, repelentes e aditivos), patrocinados pelas indústrias farmacêuticas e químicas. Estas foram “construções históricas, frutos de decisões tomadas pelas elites econômica e política de nosso país, seduzidas por promessas de lucro farto e cúmplices de interesses internacionais” (CASEMIRO; VALLA; GUIMARÃES, 2010, p. 2086). 93 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 Para fazer frente a este movimento, vários grupos se organizaram para mostrar que um alimento saudável é mais importante do que grandes toneladas de alimentos ‘doentes’. Nos eventos organizados pela ONU com a sociedade civil de diversos países, foi elaborada a Carta do Direito Humano a uma Alimentação Adequada (DHAA) e esta tinha e tem como premissa que o Estado e a sociedade promovam, de acordo com Casemiro, Valla e Guimarães (2010, p. 2086): • Acesso físico e econômico a uma alimentação saudável e diversificada de forma sustentável. • Condições que propiciem um cuidado adequado na escolha, preparação e ministração do alimento. • Condições de vida que promovam a saúde. • Atenção integral à saúde. Como ter atendidos esses itens diante da maciça vulnerabilidade de nossas populações? Esse é o grande desafio. É difícil e injusto que, mesmo quando temos acesso ao alimento, não possamos confiar na sua procedência quanto às condições de cultivo, conservação e preparo. O que fazer é a grande questão que nos impacta! Nesse sentido, Azevedo e Peliconi (2011) apostam na Agroecologia. Um movimento sociopolítico de fortalecimento do agricultor em busca de sua identidade e raízes culturais e, principalmente, de sua autonomia, poder de decisão e participação ativa no processo produtivo, favorecendo o local como foco de ação. A Agroecologia, mais do que tratar do manejo ecologicamente responsável dos recursos, constitui-seem um campo do conhecimento científico que pretende estudar a atividade agrária, partindo de um enfoque holístico e de uma abordagem sistêmica. Tal ideário se ajusta às questões sociais que permeiam a realidade rural brasileira; enquanto a Agricultura Orgânica é considerada um sistema produtivo que trabalha com diferentes segmentos sociais, a Agroecologia tem a agricultura familiar como foco de seu campo de estudos e clama para ser compreendida não apenas como um sistema produtivo, mas como uma nova ciência em construção. Entretanto, quando se aborda especificamente o padrão produtivo assumido pela Agroecologia, reporta-se ao termo “Agricultura Ecológica” e os alimentos produzidos nesse padrão são chamados de “alimentos ecológicos”. FONTE: AZEVEDO, E.; PELICONI, M. C. F. Promoção da Saúde, Sustentabilidade e Agroecologia: uma discussão intersetorial. Saúde Soc. São Paulo, v. 20, n. 3, p. 720, 2011. 94 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Em meio a toda essa discussão, sabemos que existem diversos sistemas produtivos sem uso de agrotóxicos oficializados pelo Ministério da Agricultura (BRASIL, 2007), estes sistemas são reconhecidos pela maioria das pessoas apenas como Agricultura Orgânica. Contudo, o que chamam de agricultura orgânica ou com as denominações de agricultura biológica, agricultura biodinâmica, agricultura natural e/ou permacultura são ciclos de produção que se tornam propostas agroecológicas quando organizados, visando à aprendizagem de saberes e fazeres populares e científicos, participação ativa das pessoas que plantam e consomem os alimentos, busca pela sustentabilidade dos recursos naturais, diminuição da pobreza, melhoria das condições de saúde, bem-estar e qualidade de vida das pessoas e do planeta – isto é trabalhar e fazer Agroecologia. FIGURA 3 – AGROECOLOGIA agricultura orgânica e biológica agricultura biodinâmica agricultura natural permacultura FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-mi5RI9t1GXQ/T5lWNvoOhcI/ AAAAAAAAXUQ/q1Td6cHfY9I/s400/AGROECOLOGIA.gif>. Acesso em: 31 ago. 2018. Para Caporal, Costabeber e Paulus (2005), a Agroecologia é uma ciência integradora que foi constituída como um modelo de organização do ciclo produtivo rural a partir dos conhecimentos e experiências dos povos tradicionais brasileiros (agricultores, povos indígenas, povos da floresta, pescadores artesanais, comunidades quilombolas, e outros atores sociais) que conhecem e aplicam sua força de trabalho no meio rural. Este enfoque é voltado para o saber e fazer local e é fundamental para que se possa realizar qualquer atividade agroecológica. Respeitar e utilizar o conhecimento desses grupos constitui as bases estratégicas das iniciativas de desenvolvimento de agroecossistemas cujos objetivos sejam a sustentabilidade ambiental e humana. Na prática, estamos tratando de um modelo de ciclo produtivo voltado para a saúde do ambiente e das pessoas, colocando-as no mesmo patamar de importância, uma vez que uma não vive sem a outra. Quando temos uma pousada, um Spa ou um espaço de lazer e descanso em meio natural e/ou rural, do ponto 95 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 de vista da justiça social e dos direitos humanos, esperamos que as pessoas e o ambiente que estamos visitando sejam respeitados e não destruídos com a nossa presença. O interessante é pensarmos que a Agroecologia nos auxilia colocando à nossa disposição alimentos saudáveis, espaços naturais para caminhadas, apreciação da natureza e a obtenção de serviços e produtos com preços justos, sem que se precise escravizar ou prejudicar pessoas que estão no ambiente onde vamos descansar. Como bem afirma Carlo Petrini, idealizador do Slow Food – um movimento nascido na Itália cujas bases são a busca e a divulgação de alimentos tradicionais –, a boa comida não tem venenos, está perto de você porque envolve os saberes tradicionais e à medida que a memória local a reconhece como uma boa comida, passa a ser vendida com preço justo. FIGURA 4 – PRINCÍPIOS DO SLOW FOOD FONTE: Adaptado de <http://vanguardiasustentable.com/wp-content/ uploads/2014/09/slow-food.010.jpg>. Acesso em: 31 ago. 2018. Recomendamos para leitura os livros de Petrini, uma vez que graças ao trabalho que ele realiza, hoje temos grupos em todo o país mostrando os benefícios dos alimentos tradicionais e dos alimentos que são produzidos pela agroecologia. PETRINI, C. Comida e liberdade. Slow food: histórias de gastronomia para a libertação. São Paulo: SENAC, 2017. 96 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Agroecologia e Slow Food, o que exatamente estas propostas de reconhecer no alimento o caminho para uma vida saudável têm a ver com nossa temática? Ambos disseminados principalmente no mundo ocidental, através de trabalhos científicos (vejam as referências no final do capítulo!), eventos e mídias sociais, nos põem frente a frente com a realidade das doenças e agravos à saúde produzidos por agrotóxicos. Importante: nos dois movimentos se trabalha a ideia do desenvolvimento agrícola acontecendo de forma justa, ética e limpa. Nenhum dos movimentos é uma técnica agrícola ou criou uma técnica para se fazer uma agricultura sem veneno. No entanto, através de debates que promovem a discussão sobre a qualidade de vida humana e do planeta com foco na alimentação, discutem as técnicas agrícolas, por exemplo, que tornam alimentos como a soja, o feijão e o arroz alimentos inadequados e tóxicos ao consumo humano. Também apresentam e discutem o papel dos insumos agrícolas nos agravos à saúde do trabalhador rural e os problemas a médio e longo prazo que teremos no meio ambiente (CARNEIRO et al., 2015; AZEVEDO, 2012; BENBROOK et al., 2008). Ainda que os herbicidas e agrotóxicos possam eliminar insetos que afetam a agricultura, estes mesmos produtos contaminam a planta cultivada, a terra e a água. Se estes produtos ampliam as possibilidades de obtenção de grandes safras, do que adianta ter tanto alimento se este irá nos fazer mal? Algumas das dietas orientais adotadas como requisito da alimentação saudável, que citaremos no próximo tópico, por exemplo, utilizam vegetais e grãos in natura, e embora esses alimentos sejam fontes ricas de nutrientes, se estão contaminados, como fica o organismo de quem se alimenta desses produtos? Nesses casos, fica óbvia a nossa adoção por produtos orgânicos, visto serem uma garantia de obtermos alimentos mais limpos e adequados ao nosso organismo e, portanto, capazes de nos levar a uma vida com mais qualidade (AZEVEDO, 2004). 97 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 FIGURA 5 – UMA QUESTÃO... UMA INDAGAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://psecarioca.files.wordpress. com/2016/03/20160328110716.jpg>. Acesso em: 31 ago. 2018. Atividades de Estudos: 1) A partir do comentário a seguir, assinale as alternativas corretas: Segundo o que foi descrito até o momento, uma alimentação saudável envolve uma série de elementos bem mais qualitativos do que quantitativos. a) ( ) Uma boa base alimentar envolve alimentos que estejam livres de insetos e doenças comuns nas plantações de hortaliças e legumes. Para evitar pragas, é importante o uso maciço de insumos químicos, como herbicidas e pesticidas. b) ( ) Uma boa base alimentar envolve alimentos pesquisados em laboratórios, que sejam plantados em grandes extensões de terra de modo a diminuir a fome no mundo. c) ( ) Uma boa base alimentar envolve alimentos que sejam parte de um ciclo de cultivos intensivos de uma única espécie (monocultura) e com proteção à base de insumos químicos. d) ( ) Uma boa base alimentar envolve conhecimentos de saberes e fazeres científicos e populares das populações tradicionais que vivem em territórios onde a cultura local ainda se faz presente nas memórias ligadas ao cultivo e à culinária. e) ( ) Uma boa base alimentar envolve a sustentabilidadedos territórios cultivados, das pessoas envolvidas com o cultivo e também das populações consumidoras destes alimentos. 98 SPAS E QUALIDADE DE VIDA 2) Sobre a afirmação a seguir, coloque verdadeiro (V) ou falso (F). A segurança alimentar e nutricional é um direito humano e alimentar porque: a) ( ) Todas as pessoas têm o direito a uma alimentação saudável, acessível, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente. b) ( ) Todas as pessoas devem ter uma alimentação totalmente baseada em práticas alimentares promotoras da saúde sem que isto comprometa pessoas e meio ambiente. c) ( ) Todas as pessoas devem ter o direito à alimentação, que é parte dos direitos fundamentais da humanidade, que foram definidos por um pacto mundial, do qual o Brasil é signatário. d) ( ) Todas as pessoas que atuam em grandes empresas e com grandes responsabilidades têm o direito a uma alimentação de qualidade, uma vez que pagam altos impostos e garantem empregos a várias outras pessoas. e) ( ) Todas as pessoas têm o direito a uma alimentação padronizada e de acordo com as suas funções, poder aquisitivo e conhecimentos. 3) No Brasil, a Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, regulamentada por meio do Decreto 4.074, de 4 de janeiro de 2002, no seu artigo 2º, inciso I, define agrotóxicos como produtos e componentes de processos físicos, químicos e biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas, ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos (FIOCRUZ, 2001). Dito isto, analise a seguinte asserção-razão: Se um agrotóxico é utilizado em todo o ciclo de produção e este é capaz de penetrar nas sementes, na terra e na água alterando a composição química e biológica dos seres vivos considerados nocivos ao cultivo dos alimentos, isto significa que ele também pode penetrar nos corpos dos seres humanos com prejuízos à saúde individual e coletiva. 99 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 PORQUE Os comprometimentos à saúde, com o contato continuado aos agrotóxicos, podem variar intensamente, dependendo das características de cada pessoa: estado nutricional, idade e sexo. Existem agravos de saúde intensos e crônicos que podem levar ao suicídio, mal de Parkinson e diversos tipos de câncer. Em função dessa realidade, os estudos realizados pelo Dossiê ABRASCO apontam como solução para esses problemas a adoção de uma agricultura limpa, sem uso de agrotóxicos. Assinale a alternativa que apresenta a resposta correta: a) ( ) As duas afirmações são verdadeiras e estabelecem relação entre si. b) ( ) As duas afirmações são verdadeiras, porém não estabelecem relação entre si. c) ( ) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda afirmação é falsa. d) ( ) A primeira afirmação é falsa, e a segunda afirmação é verdadeira. 4 Alguns Modelos Alimentares Do ponto de vista cultural, a formação de hábitos alimentares que sejam saudáveis não é uma tarefa simples. As concepções acerca do que seja um bom alimento muitas vezes entram em choque com os valores culturais globalizados relacionados às indústrias de alimentos industrializados, as muitas publicidades em torno de alimentos que estão na ‘moda’ ou aqueles preparados em larga escala para consumo rápido, do tipo Fast food. Quando uma pessoa busca um Spa para diminuir seu estresse ou iniciar um programa de cuidados físicos e psicossensoriais mais saudáveis, a alimentação normalmente é parte das práticas a serem indicadas como elemento importante para auxiliar em todo o processo de revitalização e promoção da saúde. Parte do que pode ser indicado como uma dieta equilibrada e saudável pode ser de caráter permanente ou não. E isto vai depender da aceitação, da disponibilidade, dos conhecimentos e informações que esta pessoa pode receber e das condições possíveis para obtenção dos produtos a serem utilizados como matéria-prima da dieta. 100 SPAS E QUALIDADE DE VIDA A alimentação, segundo Fox e Ward (2008), faz parte de um momento de socialização em todos os povos do mundo. No horário das refeições promovemos tradições, usos e costumes que nos identificam culturalmente. Soma-se a isso o prazer sensorial marcadamente apresentado através do visual dos pratos, dos elementos que fazem parte, com um colorido que nos traz lembranças e memórias. Esse ritual pode ser deliberadamente mais simples ou mais pomposo, mas é essencialmente marcado por escolhas. E que escolhas são as mais saudáveis? Qual a melhor escolha? Ser um adepto do vegetarianismo estrito? Alimentar-se seguindo preceitos da macrobiótica? Adotar a dieta onívora? Qual a mais saudável? Falaremos de duas, apenas, não porque as consideramos as mais corretas, mas porque elas foram as primeiras utilizadas como prática alimentar terapêutica em clínicas e Spas voltados à desintoxicação de pessoas com agravos de saúde. • Alimentação Macrobiótica Este sistema dietético de natureza terapêutica e filosófica, cuja denominação/ palavra ‘macrobiótica’ tem origem grega: macro = grande, e biótica está relacionada a bios = vida, já era utilizado por pensadores gregos, como Hipócrates, tendo por significado ‘longa vida’. Varatojo (2004) afirma que a divulgação desse sistema ocorreu no Japão no final do século XIX pelo médico do exército japonês Sagen Ishizuka, que fundou a primeira organização macrobiótica voltada para discussão de problemas sociais e de saúde relacionados à má alimentação. A continuidade deste trabalho fora do Japão ocorreu nos anos de 1930 na França e Bélgica através de George Ohsawa, que orientava uma dieta alimentar muito restritiva. No Brasil, com Tomio e Bernadete Kikuchi, em 1955, a macrobiótica e outras práticas de natureza filosófica foram disseminadas em solo sul-americano, contudo, foi Michio Kushi, nos Estados Unidos, que desenvolveu um modelo alimentar mais adequado aos hábitos alimentares ocidentais (AZEVEDO, 2012). Esse sistema, quando apresentado à Europa por George Ohsawa, já trazia como um dos seus princípios que o ser humano tem livre escolha, que não existem alimentos proibidos, mas, cada pessoa, conforme o território (localização geográfica) e clima, deve selecionar os produtos alimentares de acordo com as 101 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 duas forças motrizes do universo, que segundo a cosmologia oriental é o yin e o yang. A Figura 6 traz uma ideia acerca desta dieta e de alguns alimentos que podem servir de alimento em maior ou menor quantidade segundo a adaptação realizada nos Estados Unidos por Kushi (2001). No Quadro 1 são apresentados grupos de alimentos segundo o modelo divulgado na Europa por Ohsawa (1985). FIGURA 6 – PIRÂMIDE ALIMENTAR MACROBIÓTICA DE MICHIO KUSHI FONTE: Kushi (2001, p. 1) QUADRO 1 – DIETA MACROBIÓTICA DE GEORGE OHSAWA DIETA MACROBIÓTICA YIN INTERMEDIÁRIOS YIN EQUILIBRADOS OU NEUTROS INTERMEDIÁRIOS YANG YANG Consumo restrito Consumo moderado Consumo livre Consumo moderado Consumo restrito Álcool Frutas frescase secas Cereais integrais Carnes brancas Carnes vermelhas Açúcar branco Algas Sementes Frutos do mar Ovos Mel Cogumelos Legumes Queijos frescos Queijos curados Café Iogurtes Leite e natas Sal refinado Chá preto Legumes defolhas verdes Óleos Leguminosas Vinagre www.dicasdemulher.com.br FONTE: Disponível em: <https://www.dicasdemulher.com.br/wp-content/ uploads/2015/04/alimentos-dieta-macrobiotica-2.jpg>. Acesso em: 31 ago. 2018. 102 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Como é possível perceber, o consumo de carnes não está proibido nessas adaptações, embora seja recomendado com limitações. Opeixe, colocado em uma posição intermediária entre o consumo mensal e o semanal na pirâmide alimentar de Kushi, hoje talvez fosse até retirado da dieta face aos problemas de radiação existentes nos mares do planeta na atualidade e particularmente no Japão, onde a dieta nasceu (SANTOS; SOUZA, 2013). Para Amon e Menasche (2008), a comida pode contar histórias, e a questão que neste momento colocamos é: qual a história contada por uma comida que segue parâmetros orientais com base nas forças do yin e do yang? Nos spas e/ou outros estabelecimentos, quando uma pessoa busca cuidados com a inclusão da alimentação macrobiótica, a ingestão dos produtos à base de cereais, sementes e legumes atua como elemento desintoxicante. Todavia, existe a necessidade de uma adaptação da dieta a cada país do Ocidente. O Brasil, por exemplo, não tem as mesmas tradições do Japão com relação ao consumo do arroz e da soja. Para nós, o milho, o feijão e o arroz branco é que são parte da nossa memória patrimonial brasileira. Saber usá-los para sermos mais saudáveis é o segredo da macrobiótica brasileira, segundo Tomio Kikuchi (AZEVEDO, 2012). Esta é uma dieta saudável e também sustentável? Se avaliarmos que uma dieta sustentável deve ter elevado poder nutricional aliado ao respeito à biodiversidade, ecossistemas e pessoas, então, com certeza, se os grãos e demais matérias- primas desta dieta forem produzidas com este olhar e perspectiva, então SIM! É isto mesmo. Se observarmos, essa é uma dieta que ainda tem como padrão o uso de produtos orientais [temperos, tipos de arroz, algas] e que tem preços elevados porque uma boa parte vem de São Paulo, território que recebeu o maior contingente de migrantes japoneses no mundo ou do Japão. Se assim for, essa dieta, embora possa ser preparada de forma especial em um spa, pode ficar inviável no cotidiano das pessoas. Ainda assim, pratos com arroz integral e shoyo de boa qualidade (de soja não transgênica) temperado apenas com sal marinho acompanhado de saladas de folhosos escuros e claros com picles de pepinos, algas, palmitos, passas de uva, sementes de girassol, são boas pedidas e podem ser acompanhados de peixe de boa qualidade, que no Brasil pode ser a sardinha, o pargo, o olhete, a pescadinha branca ou amarela, anchovas, entre outros pescados da fauna marinha brasileira. Pensando em termos de alimentação saudável, deve-se evitar o salmão, por exemplo, que em muitos lugares do mundo vem de criadouros (tanques/viveiros), onde o peixe é alimentado com ração cujas bases químicas podem ser prejudiciais ao organismo humano. Como nossos mares estão bastante contaminados, uma dieta saudável, preferencialmente, não deve conter peixes e frutos do mar que não estejam próximos a uma costa sem muitas habitações com seus esgotos e detritos. Quando comprar peixes de criadouros, verificar se a ração utilizada é preparada com produtos biológico-orgânicos (FAO, 2010). 103 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 • Alimentação Vegetariana e Crudivorismo Como chegamos à alimentação vegetariana? Você, em algum momento, pensou em adotar esta prática alimentar? Bem, se somos todos onívoros, a incorporação de alguma dieta ou prato diferente do que comemos normalmente ocorre em função das memórias identitárias que todos construímos ao longo de nossa história pessoal e familiar. Segundo Canesqui e Garcia (2005), o ato de nos alimentarmos será sempre uma ação que nos levará aos valores culturais identitários conhecidos por nós. Mesmo quando alguém precisa retomar o equilíbrio de seu corpo através da alimentação, se esta foge ao padrão cultural reconhecido pelo sabor, odores e receitas oriundas de uma memória cultural, pode ocorrer de a pessoa não reconhecer como ‘comida’ o que terá que consumir. Não reconhecer como ‘comida’ pode significar vê-la como ‘remédio’ ou um auxiliar deste. Lembram das famosas canjinhas da mamãe? Ou outra comida que era ofertada a vocês quando estavam com algum problema de saúde? No caso da alimentação vegetariana, no Ocidente, mais especificamente, durante muito tempo foi considerada uma comida sem sabor, feia no seu visual e que deixava as pessoas fracas (FOX; WARD, 2008). Pensando nisso, por que as pessoas estão adotando uma alimentação vegetariana, seja ocasionalmente, como produto desintoxicante ou de forma permanente no dia a dia? Lewgoy e Sordi (2012) descrevem como as escolhas e debates sobre a alimentação tornaram-se um espaço de reflexão importante neste milênio, em função dos riscos que todos temos de termos graves problemas de saúde em função dos estilos de vida que adotamos. O sedentarismo e a falta de conexão sadia com o mundo urbano industrializado têm sido uma das razões pelas quais as pessoas buscam spas ou serviços de saúde especializados (nas situações mais graves) para resolver ou diminuir as reações adversas à saúde que podem ser agravadas com as doenças de caráter nutricional, tais como a obesidade mórbida, a bulimia, a anorexia, entre outros males. Profissionais tentam se especializar não apenas em dietas especiais, como o vegetarianismo, mas nas suas distintas modalidades, como também divulgam novos sistemas alternativos alimentares, como o crudivorismo, por exemplo, mostrando como estas novas opções podem auxiliar no emagrecimento saudável ou na recuperação de determinados elementos importantes para quem vai fazer uma cirurgia ou se recupera de alguma doença aguda, ou precisa ficar forte para o enfrentamento de doenças crônicas. A opção pela alimentação vegetariana não nasceu no Oriente, especificamente, embora o movimento de contracultura ocidental tenha trazido para nós por volta dos anos de 1960 os discursos e a prática vegetariana na 104 SPAS E QUALIDADE DE VIDA perspectiva filosófica budista, hinduísta, zen-budista, xintoísta, entre outras crenças filosóficas e religiosas. Entretanto, este discurso no Ocidente e mais especificamente na Europa se inicia com Pitágoras de Samos no século VI a.C., quando ele fundou uma comunidade de matemáticos místicos que não se alimentavam de animais por considerarem que estes tinham o mesmo direito à vida que os humanos. Como Pitágoras e outros filósofos neoplatonistas acreditavam na migração das almas, e por isso não comiam carne, na Idade Média muitos de seus seguidores recuaram nessas crenças porque eram consideradas heresias (PLUTARCO, 2012). Em nosso mundo contemporâneo, a adoção de uma dieta vegetariana tem sido determinada por motivos religiosos, por questões de saúde e por questões filosóficas voltadas à reflexão acerca do sofrimento dos animais. Contudo, a base de adoção mais evidente deste padrão alimentar vem sendo construída como uma oposição ao consumo de carne associada às vantagens de consumir produtos de origem vegetal, quando estes são cultivados segundo sistemas agroecológicos voltados à sustentabilidade humana, animal e ambiental. Alguns movimentos cristãos, e não apenas os movimentos religiosos orientais, também começaram a refutar a alimentação com carnes. Um desses movimentos está ligado à Igreja Adventista do Sétimo Dia, com John Harvey Kellogg, seu divulgador mais forte e inventor dos populares cereais Kellogg e de várias receitas voltadas para a alimentação sem carnes (JORGE, 2010). No século XXI, independentemente das questões morais e religiosas, a opção pela alimentação vegetariana é associada cada vez mais à proteção ambiental e biodiversidade, ao bem-estar animal e pelas questões de saúde. Embora sofra com as ‘adaptações’ que fazem, na sua essência é um padrão de consumo alimentar que utiliza, predominantemente, produtos de origem vegetal na composição de seus pratos, e embora exclua sempre a carne e o pescado, inclui ovos ou laticínios, principalmente quando as pessoas estão na transição entre a dieta onívora e a vegetariana (SOCIEDADE BRASILEIRA VEGETARIANA, 2012).Essa dieta aceita que os alimentos sejam cozidos, enquanto que o Crudivorismo, que trabalha essencialmente com vegetais, não aceita nada animal como parte da dieta, e devem ser comidos totalmente crus. O crudivorismo, embora seja um tipo de vegetarianismo, na prática é visto como um sistema diferente dada esta especificação, assim como a macrobiótica já citada neste capítulo. Ambos os sistemas têm sido utilizados porque auxiliam no processo de cuidados e tratamentos relacionados a doenças oncológicas, cardiovasculares (hipertensão), endócrinas (obesidade mórbida, diabetes, hipo e hipertireoidismo, entre outras), emocionais/ mentais (insônias, depressão). Essas formas alimentares são apontadas como parte do tratamento que, conforme o cliente, pode ocorrer com a inclusão do 105 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 vegetarianismo do tipo crudivorismo ou o frutivorismo etc. (ROLA, 2016; CALADO, 2012). A longevidade e a diminuição da ansiedade em função do estresse também são razões que as pessoas apontam para a escolha por este tipo de alimentação (BRASIL, 2014; SOCIEDADE BRASILEIRA VEGETARIANA, 2012; FAO, 2010; INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2007). Mesmo com várias vantagens do sistema alimentar com base nos produtos vegetais, a adoção de uma dieta vegetariana não implica ter mais saúde. A maioria das pessoas precisa ainda de muitas leituras acerca de suas escolhas alimentares, principalmente se levarmos em consideração a questão dos agrotóxicos presentes nos vegetais, as combinações erradas que podem levar à desnutrição, problemas de obesidade ou ainda agravos à saúde mais sérios. Uma dieta vegetariana mal planejada, com déficit de nutrientes ou excesso de sal ou gordura, pode ser tão prejudicial à saúde quanto comer carnes em excesso (TEIXEIRA et al., 2014; FAO, 2010), ou ainda porque: A industrialização e o desenvolvimento de práticas agrícolas intensivas têm desenvolvido a possibilidade do aparecimento de resíduos perigosos na carne, como antibióticos, anti- helmínticos, hormônios, substâncias parecidas com hormônios, pesticidas, tranquilizantes e metais tóxicos. Alguns componentes da alimentação animal ou contaminantes do pasto, como também agentes terapêuticos ou de promoção de crescimento, podem permanecer nos tecidos após o abate, constituindo perigo para o consumidor (NACMCF, 1993 apud BORGES; FREITAS, 2002, p. 7). Para Regitano e Leal (2010), a produtividade e a competitividade no setor de produção de carnes estão asseguradas com a utilização de medicamentos para fins terapêuticos e de profilaxia. Os antibióticos correspondem a uma das classes mais prescritas e: Muitos dos antibióticos administrados não são plenamente metabolizados no organismo animal, sendo excretados na urina e nas fezes, tanto na forma do composto original ou já parcialmente metabolizados (HALLING-SØRENSEN et al., 1998; SARMAH et al., 2006; KEMPER, 2008). A utilização de excretos animais e do lodo de esgoto para fins de adubação consiste numa das principais vias de disseminação desses compostos no ambiente (CHRISTIAN et al., 2003). Uma vez no ambiente, os resíduos de antibióticos podem acumular- se no solo, sofrer lixiviação ou, ainda, ser transportados, via escoamento superficial, para os corpos hídricos (DÍAZ-CRUZ et al., 2003). Além disso, alguns desses resíduos no solo podem ser absorvidos e se acumular nos tecidos vegetais, resultando em risco à saúde humana quando da colheita e consumo de alimentos de origem vegetal (REGITANO; LEAL, 2010, p. 602). 106 SPAS E QUALIDADE DE VIDA É importante que sempre conheçamos a forma como o alimento é produzido e elaborado. Ainda que um alimento possa ser benéfico, as condições como estes (animais e vegetais) são preparados para nosso consumo podem fazer toda a diferença para a saúde humana e ambiental. Mesmo que o Ministério da Saúde controle e regulamente os produtos que trazem riscos à saúde humana, a exposição direta aos resíduos de antibióticos em alimentos de origem animal ainda não é totalmente conhecida (PALERMO-NETO, 2007). Retomando a temática acerca da dieta vegetariana, vejam os alimentos que a compõem. Conforme os valores e costumes culturais, a pessoa interessada nesta forma de construir sua dieta vai adequá-la aos produtos de sua região. Também é fundamental que fique claro que, assim como os alimentos de origem animal, esta dieta somente é válida para a saúde quando não há a presença de insumos tóxicos ao organismo humano que possam levar a doenças e/ou problemas de saúde crônicos. QUADRO 2 – ALIMENTOS HABITUALMENTE PRESENTES NUMA DIETA VEGETARIANA De forma a ser completa e equilibrada, a alimentação vegetariana poderá incluir os se- guintes grupos de alimentos: Fruta Hortícolas Laticínios ou alternativas vegetais** – leite* bebida vegetal, iogurte*, queijo* (ou as suas alternativas vegetais), leite fermentado* Leguminosas e derivados, algas – leguminosas (feijão, grão, ervilhas, lentilhas, favas), derivados (tofu, missô), algas Cereais e tubérculos** – arroz, trigo, centeio, milho, quinoa, aveia e produtos derivados (pão, tortas, bolachas, massas, flocos de cereais), de preferência, integrais e batata Frutos gordos e sementes – amendoim, frutos gordos (noz, amêndoa, caju), creme de frutos gordos (“manteiga” de amendoim e de amêndoa), sementes (chia, linhaça, papou- la, sésamo) Gorduras - azeite e óleos vegetais, creme vegetal e manteiga* Ovo* / ** – ovo, clara, gema de ovo, produtos com ovos, e ovos de outras espécies de aves que não as galinhas *Não incluído numa dieta vegana ** Não incluído numa dieta crudívora. FONTE: Gomes Silva et al. (2015, p. 18) 107 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 Como é possível perceber, ainda que a prática alimentar vegetariana pareça simples (talvez mais do que a crudívora), nossos costumes e hábitos culturais alimentares tornam esta possibilidade de mudança um grande desafio quando se fala em mudar de carne para só vegetais ou fazer todo o alimento à base de produtos crus. Quando a pessoa busca um spa ou outro espaço voltado ao cuidado é possível, no tempo em que ali se encontra, aceitar e até mesmo tentar em sua residência manter o aprendizado e as informações importantes com relação à alimentação adotada como base de suas refeições diárias, mas, na prática, sabemos que o abandono é mais comum. Figueira, Lopes e Modena (2016) mostram como não é fácil esta questão. Em pesquisa realizada em seis polos de Minas Gerais sobre as barreiras para consumo de frutas e verduras [as autoras nem especularam sobre a possibilidade de os informantes tornarem-se vegetarianos], elas viram que existem barreiras e fatores promotores e muitos deles estão relacionados a estilos de vida e tomada de decisão. As principais barreiras identificadas foram: comércio inadequado, baixo poder aquisitivo, preço, carência de iniciativas públicas, falta de tempo, preguiça, fruta ser considerada apenas uma alternativa alimentar e não realizar o jantar. Os fatores promotores mais citados foram: saúde, prevenção/ controle de doenças, gostar, hortaliça ser considerada como parte da refeição, criação e origem familiar, melhoria da situação financeira, comércio próximo e estratégias de compra (FIGUEIRA; LOPES; MODENA, 2016, p. 85). A questão que nos vem à mente neste momento é: podemos, no atendimento em spas, diminuir as barreiras culturais e aumentar os fatores promotores que aumentassem a aderência a uma alimentação vegetariana ou crudívora em prol da saúde de quem busca este serviço, da sustentabilidade ambiental e animal? O que você pensa sobre isto? Para estudos sobre esta questão, leia: GRAÇA, A. et al. Programa Nacional Para Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa: Direção-Geral da Saúde, 2017. Disponível em: <https://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/activeapp/wp-content/files_ mf/1507564169PNPAS_DGS2017.pdf>.Acesso em: 16 ago. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 108 SPAS E QUALIDADE DE VIDA IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Rio de Janeiro: IBGE; 2014. 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Diante dessa afirmativa, assinale a alternativa correta: a) ( ) A alimentação macrobiótica inclui como alimento principal de seu sistema alimentar as frutas frescas e estas estão na lista de prioridades da OMS. b) ( ) A alimentação macrobiótica inclui como alimentos principais aqueles derivados de leite e ovos e estes estão na lista de prioridades da OMS. c) ( ) A alimentação macrobiótica inclui como alimentos principais os grãos cozidos em baixas temperaturas e por isto é bastante recomendada pela OMS. d) ( ) A alimentação macrobiótica, bastante adaptada no mundo ocidental, em função do pouco consumo de frutas e hortaliças frescas, não é recomendada pela OMS. 109 Práticas Terapêuticas Alimentares na Promoção da Vida Saudável Capítulo 4 2) Uma das principais motivações para o consumo de alimentos mais saudáveis, como cereais, frutas, legumes e hortaliças, é a promoção da saúde com consequente diminuição dos agravos. Nesse sentido, o vegetarianismo é uma opção interessante e bastante promissora. Sobre o vegetarianismo, responda com verdadeiro (V) ou falso (F) as afirmações a seguir: a) ( ) O vegetarianismo estrito é uma opção alimentar que não permite o consumo de qualquer produto animal. b) ( ) O vegetarianismo estrito tem por base o preparo de alimentos totalmente crus, todos do tipo vegetais e leguminosas. c) ( ) O vegetarianismo estrito busca nos alimentos à base de ovos e leite uma compensação nutricional da falta de carne vermelha. d) ( ) O vegetarianismo estrito não tem riscos e pode ser adotado por qualquer pessoa, seja qual for a sua condição de saúde. e) ( ) O vegetarianismo estrito é a mesma coisa que crudivorismo, não há diferenças entre esses sistemas alimentares. f) ( ) O vegetarianismo estrito é facilmente adotado por qualquer pessoa, em função das similaridades com o sistema onívoro. 5 Algumas Considerações E eis que concluímos o capítulo que encerra esta disciplina. Não esgotamos as informações possíveis sobre a temática que apresentamos ao longo deste material e a ideia não era esta, realmente. Como vocês puderam perceber, tivemos, ao longo de todos os tópicos, alguns exercícios que serviram de apoio no processo de recordação dos conteúdos apresentados. As referências, em sua maioria, foram retiradas de base de dados científicos, como o SCIELO, Google Acadêmico, Bireme, Latindex, IBICT e Rede Sibiun de Bibliotecas Universitárias. Contudo, também fizemos uso em menor montante de livros clássicos (com mais de 20 anos de publicação, porém reimpressos em função de sua importância), blogs informativos (principalmente por causa do banco de imagens) e livros e relatórios impressos que fazem parte de minha biblioteca pessoal. Sabemos que os spas são estabelecimentos que às vezes não têm profissionais preparados, segundo o que preconizam os textos sobre promoção da saúde. As informações aqui colocadas e outras que podem vir com novas leituras, farão de vocês pessoas mais preparadas para sugerir, recomendar e aplicar práticas terapêuticas de excelência no local onde atuarem! 110 SPAS E QUALIDADE DE VIDA Referências AMON, D.; MENASCHE, R. Comida como narrativa da memória social. Sociedade e Cultura, v. 11, n. 1, p: 13-21, Jan./Jun. 2008. AZEVEDO, E. Alimentos orgânicos: ampliando os conceitos de saúde humana, ambiental e social. São Paulo: SENAC, 2012. ––––––. As relações entre qualidade de vida e agricultura familiar orgânica: da articulação de conceitos a um estudo exploratório. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis: 2004. BENATTI, M. Dieta macrobiótica de George Ohsawa. 2013. Disponível em: <https://www.dicasdemulher.com.br/dieta-macrobiotica/>. Acesso em: 16 jul. 2018. BENBROOK, C. M. et al. Evidence confirms the nutritional superiority of plant-based organic food. Arizona: University of Arizona (Organic Center), 2008. 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