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<p>FUNDAMENTOS DE</p><p>FARMACOTÉCNICA</p><p>Identificação interna do documento</p><p>U N I D A D E 1</p><p>História e introdução</p><p>à farmacotécnica</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Reconhecer a história e a evolução da farmacotécnica.</p><p> Identificar conceitos farmacotécnicos.</p><p> Descrever os diferentes componentes de uma formulação</p><p>farmacotécnica.</p><p>Introdução</p><p>O medicamento é composto pelo fármaco, que é responsável pela ação</p><p>farmacológica, e também pelos excipientes, responsáveis por dar forma ao</p><p>produto e facilitar sua administração, sua absorção e sua ação farmacológica.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar o histórico e a evolução da farmaco-</p><p>técnica. Você também vai identificar os conceitos farmacotécnicos e os</p><p>diversos componentes de uma formulação farmacêutica.</p><p>História e evolução da farmacotécnica</p><p>Você sabia que os fármacos surgiram antes de Cristo? Conforme Allen Jr.,</p><p>Popovich e Ansel (2013), o uso dos fármacos provavelmente data de antes dos</p><p>primeiros registros históricos. Na época do homem primitivo, a experiência foi</p><p>dando lugar ao aprendizado de que algumas terapias eram mais efetivas do que</p><p>outras. Assim, percebeu-se que algumas substâncias poderiam ser utilizadas</p><p>para fi ns benignos, os remédios, e outras tinham fi ns maléfi cos, os venenos. É</p><p>nesse contexto que surge o termo grego pharmakon, traduzido como fármaco,</p><p>que deu origem à palavra farmácia. Na época do domínio clerical, os sábios e</p><p>Identificação interna do documento</p><p>líderes religiosos das tribos, que possuíam conhecimentos curativos das plantas,</p><p>eram chamados para atender doentes e feridos. Eles mesmos preparavam os</p><p>medicamentos, o que deu origem à arte do boticário — hoje, farmacêutico.</p><p>Provêm da Babilônia, de 2600 a.C., os primeiros registros, na forma cunei-</p><p>forme, em argila, de informações sobre preparações e utilizações de vegetais e</p><p>produtos animais no tratamento de doenças, associadas à superstição, à magia e</p><p>à invocação de deuses. Há diversas placas, papiros e outros documentos datados</p><p>de 3000 a.C. que foram traduzidos com o passar dos séculos. As interpretações</p><p>não são unânimes, porém, há poucas dúvidas de que, por volta de 1550 a.C.,</p><p>os egípcios já usavam drogas e formas de dosagem empregadas ainda hoje.</p><p>O papiro de Ebers, talvez o mais famoso papiro, data de 3000 a.C., pos-</p><p>sui mais de 800 fórmulas ou prescrições e menciona mais de 700 fármacos</p><p>diferentes. A maioria dos fármacos são de origem botânica, porém há os que</p><p>são de origem mineral e animal, e até mesmo os que empregam excrementos</p><p>de animais. Os veículos empregados na época eram cerveja, vinho, leite e</p><p>mel. Além disso, as fórmulas eram compostas de duas dúzias ou mais de</p><p>fármacos diferentes. Os egípcios utilizavam almofarizes (gral), moinhos</p><p>manuais, peneiras e balanças para a produção de supositórios, gargarejos,</p><p>pílulas, inalações, pastilhas, loções, pomadas, emplastros e enemas, conforme</p><p>Allen Jr., Popovich e Ansel (2013).</p><p>Veja as definições de emplastro e enema, conforme Brasil (2011).</p><p> Emplastro ou emplasto: forma farmacêutica semissólida para aplicação externa.</p><p>Consiste em uma base adesiva contendo um ou mais fármacos distribuídos em</p><p>uma camada uniforme em um suporte apropriado, feito de material sintético ou</p><p>natural. É destinado a manter o fármaco em contato com a pele, atuando como</p><p>protetor ou como agente queratolítico (dissolve ou destrói a camada córnea da pele).</p><p> Enema: solução, emulsão ou suspensão para uso retal.</p><p>Hipócrates (460–377 a.C.), um médico grego, introduziu a farmácia e</p><p>a medicina científica. Dentre os diversos trabalhos realizados, descreveu</p><p>centenas de fármacos; a partir daí, o termo pharmakon passou a significar</p><p>medicamentos purificadores, destinados apenas para o bem, o que contrariou</p><p>a antiga conotação de que o fármaco poderia ser utilizado para o bem e para</p><p>o mal. Hoje, Hipócrates é considerado o “pai da medicina”.</p><p>História e introdução à farmacotécnica2</p><p>Identificação interna do documento</p><p>A botânica passou a ser uma ciência aplicada à farmácia, devido aos tra-</p><p>balhos do médico e botânico grego Dioscórides, no século I d.C. Dioscórides</p><p>escreveu sobre o ópio, o esporão do centeio e o meimendro, que são utilizados</p><p>na medicina até hoje. A sua área de estudo é conhecida atualmente como</p><p>farmacognosia (pharmakon — fármaco; gnosis — conhecimento).</p><p>Já Claudius Galeno era um farmacêutico e médico grego, com cidadania</p><p>romana, que viveu na época de 130 a 200 d.C. Dentre os diversos estudos e</p><p>registros sobre a medicina, descreveu numerosos fármacos de origem natural</p><p>e fórmulas de medicamentos de origem vegetal. Devido à grande produção de</p><p>preparações farmacêuticas, essa área passou a ser denominada de farmácia</p><p>galênica. Uma de suas mais famosas fórmulas é a chamada cold cream, cuja</p><p>composição é semelhante a algumas utilizadas hoje.</p><p>A diversidade e a complexidade dos fármacos fez com que especialistas</p><p>tivessem que se dedicar integralmente a isso. Sendo assim, a farmácia foi</p><p>separada oficialmente da medicina em 1240 d.C., em um decreto do imperador</p><p>alemão Frederick II. O médico e químico suíço Aureolus Philippus Theophras-</p><p>tus Bombastus von Hohenheim (1493–1591), conhecido como Paracelsus,</p><p>acreditava que era possível preparar um medicamento específico para cada</p><p>doença. Com isso, introduziu diversas substâncias químicas na terapia de</p><p>pacientes, conforme Allen Jr., Popovich e Ansel (2013).</p><p>A partir de 1700, foram desenvolvidos diversos compostos, como ácido</p><p>lático, ácido cítrico, ácido oxálico, glicerina, quinina, cafeína, dentre outros.</p><p>Além disso, muitos farmacêuticos começaram a produzir medicamentos de</p><p>qualidade em pequena escala, que foi aumentando para atender às necessi-</p><p>dades de suas comunidades. Com o intuito de padronizar os fármacos e as</p><p>formulações, para garantir a qualidade das preparações farmacêuticas, foram</p><p>criadas as farmacopeias. Esse termo vem do grego pharmakon e de poiein,</p><p>que significa fazer. Sendo assim, essa combinação objetiva fazer ou preparar</p><p>um medicamento, com substâncias com propriedades bem estabelecidas,</p><p>com eficácia em seu maior grau, segundo Allen Jr., Popovich e Ansel (2013).</p><p>No Brasil, o primeiro boticário, Diogo de Castro, foi trazido de Portugal</p><p>por Tomé de Souza; nas expedições, trazia uma botica portátil com diversos</p><p>medicamentos. Os jesuítas que vieram para o Brasil em seguida, além de</p><p>catequisar, trouxeram pessoas responsáveis por cuidar dos doentes e preparar</p><p>medicamentos. Em 1640, as boticas passaram a ser autorizadas no Brasil,</p><p>porém eram conduzidas por boticários que, muitas vezes, eram analfabetos e</p><p>só tinham um pequeno conhecimento sobre medicamentos. Em 1832, sendo</p><p>oferecido o curso de farmácia nas universidades do Rio de Janeiro e da Bahia,</p><p>3História e introdução à farmacotécnica</p><p>Identificação interna do documento</p><p>ficou estabelecido que apenas com o título em uma dessas universidades o</p><p>boticário poderia ter uma botica e curar as pessoas.</p><p>No século XX, as boticas se tornaram os principais locais da prática sanitá-</p><p>ria. Nesse mesmo século, surge a primeira edição da Farmacopeia Brasileira,</p><p>em que há a descrição de drogas vegetais e animais, além de produtos químicos</p><p>e de preparações oficinais, por Rodolpho Albino Dias da Silva. Essa edição</p><p>da farmacopeia foi oficializada pelo governo federal por meio do Decreto</p><p>nº. 17.509, de 4 de novembro de 1926, e seu emprego tornou-se obrigatório a</p><p>partir de 15 de agosto de 1929.</p><p>Devido à Segunda Guerra Mundial e às suas consequentes mudanças, a</p><p>primeira edição da farmacopeia já não mais cumpria o seu papel. As boticas</p><p>foram substituídas, gradativamente, por farmácias, que não mais realizam a</p><p>arte da manipulação magistral. É o início do declínio desse serviço prestado</p><p>pelo profissional de farmácia à população. Começam as surgir as indústrias</p><p>multinacionais; assim, a atividade magistral praticamente desaparece entre as</p><p>décadas de 1930 e 1960. Paralelamente, tem início o acesso a medicamentos</p><p>modernos,</p><p>que exigem controle de qualidade diferenciado devido à produção em</p><p>grande escala e à quantidade de fármacos sintetizados e originários de diversas</p><p>fontes. Em 1959 é aprovada a segunda edição da Farmacopeia Brasileira,</p><p>mais voltada para os insumos e as especialidades farmacêuticas, buscando</p><p>padrões nacionais de qualidade dos bens de saúde a serem disponibilizados</p><p>à sociedade. As formulações oficinais foram transferidas para o Formulário</p><p>Nacional, que foi publicado posteriormente, em 2005 (BRASIL, 2010).</p><p>A partir dos anos 1970, surgiram no país inúmeros estabelecimentos far-</p><p>macêuticos voltados à manipulação, com o intuito de preparar medicamentos</p><p>de dosagens específicas, determinados pelo prescritor e específicos para o</p><p>paciente — eram as chamadas farmácias magistrais (BRASIL, 2012).</p><p>Conceitos farmacotécnicos</p><p>Raramente o fármaco é administrado sozinho. Ou seja, ele normalmente faz</p><p>parte de uma formulação, em que está combinado com adjuvantes farmacêuti-</p><p>cos. Estes não possuem ação farmacológica, mas possuem funções específi cas</p><p>dentro do medicamento, resultando em formas farmacêuticas variadas. As</p><p>diversas preparações farmacêuticas são provenientes da combinação entre</p><p>fármaco e excipientes farmacêuticos. Isso exige um estudo da formulação, da</p><p>produção, da estabilidade e, consequentemente, da efetividade do medicamento;</p><p>esse conjunto de ações é denominado farmacotécnica. É necessário considerar</p><p>História e introdução à farmacotécnica4</p><p>Identificação interna do documento</p><p>as características físicas, químicas, físico-químicas e biológicas do fármaco</p><p>e dos demais componentes da formulação, além da anatomia fi siológica do</p><p>local da administração e absorção. Os componentes da formulação devem</p><p>ser estáveis entre si, assim como compatíveis com a via de administração,</p><p>conforme lecionam Allen Jr., Popovich e Ansel (2013).</p><p>Vejamos alguns conceitos farmacotécnicos importantes a seguir.</p><p>Fármaco: substância química estruturalmente defi nida, utilizada para o forne-</p><p>cimento de elementos essenciais ao organismo, na prevenção e no tratamento</p><p>de doenças, infecções ou situações de desconforto e na correção de funções</p><p>orgânicas desajustadas. Exemplo: fl uconazol.</p><p>Medicamento: produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com</p><p>fi nalidade profi lática, curativa, paliativa ou para fi ns de diagnóstico. Exemplo:</p><p>fl uconazol 150 mg, em cápsula.</p><p>Remédio: é qualquer meio utilizado com a fi nalidade de prevenir ou curar doenças.</p><p>Desde um medicamento até uma massagem ou uma fi sioterapia. Abrange fés e</p><p>crenças, como a bênção de um pastor ou o trabalho de uma benzedeira. Prepara-</p><p>ções caseiras também são consideradas remédios, mas não medicamentos, como</p><p>um chá ou uma compressa. São ações que fazem o indivíduo se sentir melhor.</p><p>Preparação: procedimento farmacotécnico para obtenção do produto manipu-</p><p>lado, compreendendo a avaliação farmacêutica da prescrição, a manipulação,</p><p>o fracionamento de substâncias ou produtos industrializados, o envase, a</p><p>rotulagem e a conservação das preparações.</p><p>Preparação magistral: é aquela preparada na farmácia, a partir de uma</p><p>prescrição de profi ssional habilitado, destinada a um paciente individualizado,</p><p>e que estabeleça em detalhes sua composição, sua forma farmacêutica, sua</p><p>posologia e seu modo de usar.</p><p>Preparação ofi cinal (farmacopeico): é aquela preparada na farmácia, cuja</p><p>fórmula está descrita no Formulário Nacional ou em formulários internacionais</p><p>reconhecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).</p><p>Manipulação: conjunto de operações farmacotécnicas, com a fi nalidade de</p><p>elaborar preparações magistrais e ofi cinais e fracionar especialidades farma-</p><p>cêuticas para uso humano.</p><p>5História e introdução à farmacotécnica</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Fórmula farmacêutica: é a composição do medicamento, considerando os</p><p>fármacos e os excipientes farmacêuticos empregados na produção do produto</p><p>farmacêutico.</p><p>Veja esse exemplo de uma fórmula farmacêutica, uma loção de calamina, retirada do</p><p>Formulário nacional da farmacopeia brasileira, 6ª edição (2019).</p><p>Componentes Quantidade</p><p>Calamina 8 g</p><p>Óxido de zinco 8 g</p><p>Glicerol 2 mL</p><p>Magma de bentonite 15 mL</p><p>Solução conservante de parabenos 1 mL</p><p>Água purificada qsp 100 mL</p><p>No formulário, você vai encontrar também as orientações de preparo, embalagem,</p><p>modo de conservação, advertência e posologia.</p><p>Especialidade farmacêutica: produto oriundo da indústria farmacêutica com</p><p>registro na Anvisa e disponível no mercado.</p><p>Base galênica: preparação composta por uma ou mais matérias-primas, com</p><p>fórmula defi nida no Formulário nacional da farmacopeia brasileira, destinada</p><p>a ser utilizada como veículo/excipiente de preparações farmacêuticas. Essas</p><p>bases são líquidas ou semissólidas, destinadas à incorporação de fármacos.</p><p>Insumo: matéria-prima e materiais de embalagem empregados na manipulação</p><p>e acondicionamento de preparações magistrais e ofi cinais.</p><p>Excipiente farmacêutico ou adjuvante: é uma substância farmacologicamente</p><p>inativa que é combinada ao fármaco para originar uma forma farmacêutica. O</p><p>História e introdução à farmacotécnica6</p><p>Identificação interna do documento</p><p>excipiente pode estar na formulação, com o intuito de solubilizar, suspender,</p><p>espessar, diluir, emulsifi car, estabilizar, conservar, colorir e/ou dar sabor (fl avo-</p><p>rizar), de forma a obter um medicamento estável, efi caz e de fácil administração.</p><p>Forma farmacêutica: é o estado fi nal de apresentação que a preparação</p><p>farmacêutica possui, após uma ou mais operações farmacêuticas executadas,</p><p>com ou sem a adição de excipientes apropriados, a fi m de facilitar a sua utili-</p><p>zação e obter o efeito terapêutico desejado, com características apropriadas a</p><p>uma determinada via de administração (RDC nº. 67/2007) (BRASIL, 2007).</p><p>Pode ser líquida, sólida, semissólida ou gasosa. Para que o medicamento seja</p><p>corretamente absorvido pelo corpo, é necessário verifi car sua porta de entrada,</p><p>que pode ser por via oral, retal, vaginal, uretral, intravenosa, nasal, dérmica,</p><p>oftálmica ou otológica; para tanto, deve-se escolher a melhor forma farma-</p><p>cêutica. As diversas formas farmacêuticas também existem para: facilitar a</p><p>administração ou ingestão do medicamento; oferecer precisão na dose; proteger</p><p>a substância ativa contra as barreiras do corpo (por exemplo, o suco gástrico</p><p>do estômago); ajudar o fármaco a chegar ao seu local de ação. Além disso, a</p><p>idade do paciente também é um fator de escolha da forma farmacêutica. Para</p><p>crianças e idosos, devem ser utilizados medicamentos líquidos; já no caso</p><p>de adultos, deve-se utilizar formas sólidas, como cápsulas e comprimidos.</p><p> Sólidos: pó (uso tópico e oral), grânulo (uso tópico e oral), cápsula (uso</p><p>oral e vaginal quando necessário), comprimido (uso oral), pílula (uso</p><p>oral), pastilha (uso oral), supositório (uso retal), óvulo (uso vaginal),</p><p>vela (uso pela uretra).</p><p> Líquidos: solução (uso tópico e oral), xarope (uso oral), elixir (uso</p><p>oral), suspensão (uso oral e tópico), emulsão (uso oral e tópico), tintura</p><p>(uso oral e incorporado a outras formas de veiculação), linimento (uso</p><p>tópico), colódio (uso tópico).</p><p> Semissólidos: gel (Uso tópico, vaginal e oral), creme (emulsões de uso</p><p>tópico), pomada (uso tópico), loção (uso tópico), pasta (uso tópico),</p><p>cataplasma (uso tópico), emplastro (uso tópico).</p><p> Outras formas farmacêuticas: aerossol (uso tópico e inalatório), spray(uso</p><p>tópico e inalatório), adesivo transdérmico (uso tópico).</p><p>As embalagens podem ser classifi cadas em primárias, que são aquelas que</p><p>entram em contato direto com o medicamento; secundária, que é aquela que</p><p>protege a embalagem primária e terciária que protege a embalagem secundária.</p><p>A terciária também é conhecida como embalagem de transporte.</p><p>7História e introdução à farmacotécnica</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Número de lote: designação impressa em cada unidade do recipiente, consti-</p><p>tuído de combinações de letras, números ou símbolos, que permite identifi car o</p><p>lote e, em caso</p><p>de necessidade, localizar e revisar todas as operações praticadas</p><p>durante todas as etapas de manipulação.</p><p>Prazo de validade: período de tempo durante o qual o produto se mantém</p><p>dentro dos limites especifi cados de pureza, qualidade e identidade, na emba-</p><p>lagem adotada e estocado nas condições recomendadas no rótulo.</p><p>DCB: signifi ca Denominação Comum Brasileira. É a denominação do fármaco</p><p>ou princípio farmacologicamente ativo aprovada pelo órgão federal responsá-</p><p>vel pela vigilância sanitária (Anvisa). Porém, atualmente, devido ao registro</p><p>eletrônico dos medicamentos, inclui-se também a denominação de insumos</p><p>inativos, soros hiperimunes e vacinas, radiofármacos, plantas medicinais,</p><p>substâncias homeopáticas e biológicas.</p><p>Você encontra a lista completa e atualizada dos insumos que possuem DCB no site</p><p>da Anvisa, disponível no link abaixo.</p><p>https://www.gov.br/anvisa/ptbr/assuntos/farmacopeia/dcb</p><p>DCI: signifi ca Denominação Comum Internacional do fármaco, recomendada</p><p>pela Organização Mundial da Saúde. Identifi ca a substância por um nome</p><p>genérico, de uso público e de reconhecimento global. Cada denominação se</p><p>apresenta em diversos idiomas, como latim, espanhol, francês, inglês e russo.</p><p>A fi nalidade da DCI é identifi car cada fármaco no âmbito mundial. A DCI</p><p>não tem caráter ofi cial, a menos que a autoridade sanitária de um determinado</p><p>país a aceite.</p><p>Procedimento operacional padrão (POP): descrição pormenorizada de</p><p>técnicas e operações a serem utilizadas na farmácia, visando a proteger e</p><p>garantir a preservação da qualidade das preparações manipuladas e a segurança</p><p>dos manipuladores.</p><p>História e introdução à farmacotécnica8</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Os medicamentos são classificados em: alopático, fitoterápico e homeo-</p><p>pático. Vejamos a diferença entre eles.</p><p>Medicamento alopático: medicamento que produz no organismo do doente</p><p>reação contrária aos sintomas que ele apresenta, a fi m de diminuí-los ou</p><p>neutralizá-los. Por exemplo, se o paciente tem febre, o médico receita um</p><p>medicamento que faz baixar a temperatura. Se tem dor, receita um analgésico.</p><p>Medicamento fi toterápico: medicamento obtido empregando-se exclusiva-</p><p>mente matéria-prima ativa vegetal. É caracterizado pelo conhecimento da</p><p>efi cácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância</p><p>de sua qualidade. Sua efi cácia e segurança são validadas por meio de levanta-</p><p>mentos etnofarmacológicos, de utilização, documentações tecnocientífi cas ou</p><p>evidências clínicas. Não se considera medicamento fi toterápico aquele que, na</p><p>sua composição, inclui substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem</p><p>as associações destas com extratos vegetais.</p><p>Medicamento homeopático: toda preparação farmacêutica preparada segundo</p><p>os compêndios homeopáticos reconhecidos internacionalmente, obtida pelo</p><p>método de diluições seguidas de sucussões (dinamizações) e/ou triturações</p><p>sucessivas, para ser usada segundo a lei dos semelhantes, de forma preventiva</p><p>e/ou terapêutica.</p><p>Vias de administração: compreendem a forma como o medicamento entrará em</p><p>contato com o organismo para exercer sua atividade farmacológica. De acordo</p><p>com algumas condições, como o objetivo a ser alcançado, as propriedades do</p><p>medicamento ou as condições clínicas do paciente, haverá a indicação para</p><p>uma via de administração específi ca. Podem ser classifi cadas em dois grandes</p><p>grupos: via enteral e via parenteral. Enteral vem do grego enteron (intestino), que</p><p>compreende as vias oral, sublingual e retal. Parenteral vem de para (ao lado) e</p><p>enteron. Ou seja, uma via que não é a enteral, compreendendo as vias intravenosa,</p><p>intramuscular, subcutânea, respiratória, tópica, auricular, nasal, ocular e capilar.</p><p>Medicamento de uso externo: são aqueles aplicáveis na superfície do corpo</p><p>ou nas mucosas facilmente acessíveis ao exterior.</p><p>Medicamento de uso interno: são aqueles que se destinam à administração</p><p>no interior do organismo, por via bucal e pelas cavidades naturais (vagina,</p><p>nariz, ânus, ouvido, olhos).</p><p>9História e introdução à farmacotécnica</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Posologia: é a quantidade total de um medicamento, estimada de acordo com</p><p>a idade e o peso do paciente, que deve ser administrada de uma vez ou em</p><p>doses parciais para produzir o efeito terapêutico esperado.</p><p>Dose usual: é a quantidade de fármaco sufi ciente (mínima) para produzir o</p><p>efeito terapêutico para o qual o fármaco é indicado.</p><p>Componentes de uma formulação</p><p>farmacotécnica</p><p>Na formulação, além do fármaco, há outras matérias-primas com a função de</p><p>dissolver, criar uma suspensão ou uma emulsão, ou facilitar a administração,</p><p>além de dar volume e forma. São os veículos ou excipientes. Veículo é o</p><p>nome dado à parte líquida da fórmula, em que serão dissolvidos o fármaco e</p><p>os outros componentes da formulação; já o excipiente é, geralmente, sólido</p><p>e responsável por dar volume e forma ao medicamento. Mas, fi que atento,</p><p>pois há excipientes que não têm apenas a função de dar volume e forma ao</p><p>medicamento.</p><p>Nas soluções, por exemplo, podem ser adicionados conservantes para</p><p>evitar o crescimento microbiano; estabilizantes, para evitar a decomposição</p><p>do fármaco; e corantes e flavorizantes, para mascarar um sabor desagradável</p><p>ou uma coloração indesejável. Deve-se escolher bases farmacêuticas que</p><p>confiram características (físicas, químicas, físico-químicas e microbiológicas)</p><p>adequadas aos supositórios, óvulos, velas, cremes, pomadas e pastas. O mesmo</p><p>deve ocorrer com os comprimidos, por exemplo, que precisam diluentes para</p><p>dar volume; aglutinantes para garantir a formação do comprimido (aderência);</p><p>antiaderentes, deslizantes e lubrificantes, para facilitar o fluxo e evitar a ade-</p><p>são no equipamento. Devem também apresentar agentes desintegrantes, para</p><p>garantir a desestruturação dos comprimidos em partículas menores depois</p><p>da administração, para que o fármaco fique disponível, além de substâncias</p><p>para o revestimento, que vão garantir a estabilidade do fármaco ou o controle</p><p>da sua liberação, conforme Allen Jr., Popovich e Ansel (2013).</p><p>As classes de adjuvantes não param aqui. Veja no Quadro 1 alguns exemplos</p><p>de adjuvantes usados em formas sólidas, especialmente nos comprimidos e</p><p>nas cápsulas, que representam mais de 80% das formulações farmacêuticas.</p><p>História e introdução à farmacotécnica10</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Tipo de</p><p>adjuvante</p><p>Definição Exemplos</p><p>Aglutinante para</p><p>comprimidos</p><p>É a substância usada para</p><p>promover a adesão das</p><p>partículas do pó nos granulados</p><p>destinados à compressão.</p><p> Ácido algínico</p><p> Carboximetilcelulose</p><p>sódica</p><p> Etilcelulose</p><p> Gelatina</p><p> Povidona</p><p>Antiaderente para</p><p>comprimidos</p><p>Evita a aderência dos</p><p>componentes da formulação</p><p>dos comprimidos aos punções</p><p>e na matriz, durante a produção.</p><p> Estearato de</p><p>magnésio</p><p>Desintegrante</p><p>para</p><p>comprimidos</p><p>É usado em formas</p><p>sólidas para promover sua</p><p>desintegração em partículas</p><p>menores, mais facilmente</p><p>dispersíveis ou dissolúveis.</p><p> Ácido algínico</p><p> Alginato de sódio</p><p> Glicolato de amido</p><p> Amido</p><p>Deslizante para</p><p>comprimidos</p><p>É empregado em formulações</p><p>de comprimidos, cápsulas,</p><p>pós e granulados para</p><p>melhorar as propriedades de</p><p>fluxo da mistura dos pós.</p><p> Sílica coloidal</p><p> Amido de milho</p><p> Talco</p><p>Diluente de</p><p>cápsulas e</p><p>comprimidos</p><p>É um material de enchimento</p><p>inerte usado para produzir</p><p>volume, propriedades de fluxo</p><p>e características de compressão</p><p>desejáveis em cápsulas,</p><p>comprimidos, pós e granulados.</p><p> Fosfato de cálcio</p><p>dibásico</p><p> Caulim</p><p> Lactose</p><p> Manitol</p><p> Celulose</p><p>microcristalina</p><p>Edulcorante É usado para conferir sabor</p><p>doce a uma preparação.</p><p> Aspartame</p><p> Dextrose</p><p> Manitol</p><p> Sacarose</p><p>Excipiente para</p><p>compressão</p><p>direta para</p><p>comprimidos</p><p>É usado nas formulações para</p><p>comprimidos para garantir</p><p>a compressão direta.</p><p> Fosfato de cálcio</p><p>dibásico</p><p>Quadro 1. Alguns adjuvantes para formas sólidas, definição e exemplos</p><p>(Continua)</p><p>11História e introdução à farmacotécnica</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Fonte: Adaptado</p><p>de Allen Jr., Popovich e Ansel (2013).</p><p>Tipo de</p><p>adjuvante</p><p>Definição Exemplos</p><p>Lubrificante para</p><p>comprimidos</p><p>É utilizado em comprimidos</p><p>para diminuir a fricção</p><p>durante a compressão.</p><p> Estearato de cálcio</p><p> Estearato de</p><p>magnésio</p><p>Opacificante para</p><p>comprimidos</p><p>É empregado para produzir</p><p>revestimento opaco em</p><p>cápsulas e comprimidos. Pode</p><p>ser utilizado isoladamente</p><p>ou com corante.</p><p> Dióxido de titânio</p><p>Revestimento</p><p>entérico</p><p>É usado para revestir</p><p>comprimidos e protegê-los</p><p>contra a decomposição pelo</p><p>oxigênio atmosférico ou</p><p>pela umidade, fornecer um</p><p>perfil de liberação desejável,</p><p>mascarar o sabor, odor</p><p>ou finalidade estética.</p><p>Podem ser de açúcar,</p><p>peliculares ou entéricos.</p><p>Os revestimentos de açúcar</p><p>utilizam água como solvente e</p><p>formam uma espessa cobertura</p><p>ao redor do comprimido</p><p>(rompimento no estômago).</p><p>Os revestimentos em filme</p><p>formam uma película</p><p>fina (rompimento no</p><p>estômago ou intestino).</p><p>Os revestimentos entéricos</p><p>passam intactos no estômago</p><p>(rompimento no intestino).</p><p>Os revestimentos insolúveis</p><p>em água retardam a</p><p>liberação do fármaco no</p><p>trato gastrointestinal.”</p><p> Acetoftalato de</p><p>celulose</p><p> Goma laca (35%</p><p>em álcool, esmalte</p><p>farmacêutico)</p><p>Revestimento</p><p>pelicular (filme)</p><p>Ver “Revestimento entérico”. Hidroxietilcelulose</p><p> Hidroxipropilcelulose</p><p>Quadro 1. Alguns adjuvantes para formas sólidas, definição e exemplos</p><p>(Continuação)</p><p>História e introdução à farmacotécnica12</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Historicamente a sociedade faz uso de diversos recursos terapêuticos com</p><p>o intuito de buscar a cura e melhoria nas condições de vida. Os medicamentos,</p><p>com o passar dos anos, se tornaram mais avançados, dinâmicos, com me-</p><p>lhores controles com relação à sua composição química de forma a garantir</p><p>estabilidade, aceitabilidade e segurança. Nesse contexto, os conhecimentos</p><p>farmacotécnicos permitem melhor entendimento e funcionalidade às mais</p><p>diversas formas farmacêuticas.</p><p>ALLEN JR. L. V., POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas de liberação</p><p>de fármacos. 9. ed, Porto Alegre: Artmed, 2013.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia</p><p>brasileira. 5. ed. Brasília, DF: Anvisa, 2010.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário</p><p>nacional da farmacopeia brasileira. 2. ed. Brasília, DF: Anvisa, 2012.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC</p><p>nº 67, de 08 de outubro de 2007. Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Prepa-</p><p>rações Magistrais e Oficinais para uso Humano em farmácias. Disponível em: <http://</p><p>bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2007/res0067_08_10_2007.html>. Acesso</p><p>em: 15 jan. 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Vocabulário con-</p><p>trolado de formas farmacêuticas, vias de administração e embalagens de medicamentos.</p><p>Brasília, DF: Anvisa, 2011.</p><p>DCB – denominações comuns brasileiras. [2019]. Disponível em: <http://portal.anvisa.</p><p>gov.br/denominacao-comum-brasileira>. Acesso em: 15 jan. 2019.</p><p>Leitura recomendada</p><p>THOMPSON, J. E.; DAVIDOW, L. W. A prática farmacêutica na manipulação de medica-</p><p>mentos. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. cap. 37.</p><p>13História e introdução à farmacotécnica</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Identificação interna do documento</p><p>Nome do arquivo:</p><p>C01_Historia_e_introducao_a_farmacotecnica_202307162157197416</p><p>008.pdf</p><p>Data de vinculação à solicitação: 16/07/2023 21:57</p><p>Aplicativo: 676323</p>