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<p>2</p><p>UNOPAR – UNIVERSIDADE DO NORTE DO PARANÁ</p><p>BACHARELADO EM CRIMINOLOGIA</p><p>fatores do crime:</p><p>A importância de sua compreensão</p><p>JULIANA EMANUELE STACH MENDES</p><p>ITUMBIARA-GOIÁS</p><p>2023</p><p>JULIANA EMANUELE stach mendes</p><p>Fatores do Crime:</p><p>A importância de sua compreensão</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Criminologia.</p><p>Orientadora: Prof. Angélica Papote de Oliveira</p><p>ITUMBIARA-GOIÁS</p><p>2023</p><p>Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ser essencial em minha vida, autor de meu destino e meu guia, assim como também a minha família que sempre estiveram ao meu lado me apoiando e dando forças para seguir está caminhada.</p><p>SUMÁRIO</p><p>RESUMO....................................................................................................................05</p><p>ABSTRACT................................................................................................................05</p><p>INTRODUÇÃO ..........................................................................................................06</p><p>1. OBJETIVOS ...........................................................................................................07</p><p>1.1 GERAL..................................................................................................................07</p><p>1.2 ESPECÍFICOS .....................................................................................................07</p><p>2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................07</p><p>2.1 FIGURAS..............................................................................................................13</p><p>3. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO ...............14</p><p>4. PSICOLOGIA CRIMINAL........................................................................................16</p><p>5. TEORIA DO ETIQUITAMENTO CRIMINAL............................................................17</p><p>5.1. ACERTOS DA TEORIA DO ETIQUETAMENTO CRIMINAL...............................20</p><p>Fatores do Crime:</p><p>A importância de sua compreensão</p><p>RESUMO</p><p>O objeto de discussão do presente trabalho, buscou apontar e juntamente com exemplos, demonstrar desde o contexto histórico até os dias atuais, o problema que a sociedade vem enfrentando, desde a formação do indivíduo até ao que levou ele a cometer uma conduta criminosa, a influência da mídia no contexto de criminalização refletindo em uma sociedade preconceituosa e intolerante atualmente. Também foi explanado como a precariedade do código penal brasileiro que traz consigo uma história de desigualdade social, e por fim prejulgamento do indivíduo antes mesmo do judiciário tomar sua posição de condenação ou absolvição dele.</p><p>FACTORS OF CRIME</p><p>The importance of understanding them</p><p>ABSTRACT</p><p>The object of discussion of this work sought to point out and, together with examples, demonstrate, from the historical context to the present day, the problem that society has been facing, from the formation of the individual to what led him to commit criminal conduct, the influence of the media in the context of criminalization reflecting a prejudiced and intolerant society today. It was also explained as the precariousness of the Brazilian penal code, which brings with it a history of social inequality, and ultimately prejudgment of the individual even before the judiciary takes its position of condemning or acquitting him.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Neste trabalho abordaremos diversos subtemas, dos quais todos nos levarão ao objetivo de compreender os fatores em geral que levam uma pessoa a cometer um crime, o sistema punitivo ao qual ele será levado, e a ressocialização do indivíduo no reingresso a sociedade.</p><p>Abordarei ainda conceitos e definições dos temas como crime, o estudo do criminoso, a vítima, os controles sociais e suas influências, políticas criminais como processo de prevenção ao crime e ao criminoso, teremos a visão do autor Paulo Nader do livro Introdução do Estudo ao Direito (39ª ed. 2007) que tem como conceito que Direito é um "conjunto de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para realização de segurança, segundo critérios de justiça".</p><p>Relatarei também sobre o Direito Penal suas normas e ordenamentos, seu poder punitivo e repressivo ao contraventor, e não menos importante a ressocialização, seus caminhos e obstáculos no processo de reintegração do indivíduo que já cumpriu a sua punição, após uma falha da política criminal em prevenir um ato criminal.</p><p>PROBLEMA</p><p>Os fatores do crime são a principal influência na formação do criminoso, ou da conduta criminosa?</p><p>OBJETIVOS</p><p>O objetivo desta pesquisa é compreender os fatores do crime, quem é o criminoso, e identificar os fatos que o levaram para esta condição.</p><p>1.1 GERAL</p><p>Diversos fatores sociais que contribuem para a escolha de um indivíduo a praticar um crime, desde ordem moral, psicológica, emocional, econômica, social, cultural, até mesmo a atuação do próprio Estado na repressão a essas práticas.</p><p>1.2 ESPECÍFICOS</p><p>Vamos analisar mais a fundo o Crime, o criminoso, a vítima, a influência do controle social como os sistemas religioso, ético, jurídico e costumeiros, as políticas criminais que estão sendo aplicadas.</p><p>FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA</p><p>Para compreendermos melhor a descrição desta tese primeiro devemos saber e entender melhor sobre Criminologia.</p><p>A Criminologia é uma ciência social empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo. O termo “ciência empírica” remete a empirismo, que é a formação do conhecimento a partir da observação de fatos e de relações sociais.</p><p>Tem por objetivo estudar os indivíduos infratores e estabelecer qual os melhores caminhos para sua ressocialização.</p><p>Podemos afirmar que neste estudo encontramos três caminhos que formam um conjunto como um todo e será descrito nos parágrafos subsequentes.</p><p>O primeiro deles a prevenção, na qual a Política Criminal tem o seu papel definido.</p><p>A expressão Política Criminal era empregada para designar apenas o conjunto de práticas punitivas, usadas no controle de situações conflitivas, vinculando-se a expressão exclusivamente ao campo do Direito Penal. Feuerbach (apud Delmas Marty, 1992, p. 24) conceituava a política criminal como “[...] o conjunto de procedimentos repressivos por meio dos quais o Estado reage contra o crime [...]”, limitando-a a uma forma de reflexão sobre o direito penal.</p><p>Nos últimos tempos, a perspectiva ampliou-se consideravelmente incluindo como objeto da política criminal não somente os problemas de repressão ao crime, mas todo o conjunto de procedimentos/estratégias dos quais o corpo social organiza as respostas ao fenômeno criminal, hoje há necessidade de incluir na política criminal os problemas de prevenção e o sistema de repressão.</p><p>Para Delmas Marty (1992, p. 24), a política criminal representa “o conjunto de procedimentos através dos quais o corpo social organiza as respostas ao fenômeno criminal”, devendo esta ser conceituada como uma ciência que analise o fenômeno criminal sob diversos ângulos.</p><p>Fica definido como objeto da Política Criminal a questão de como se deve proceder contra as pessoas que infringem as regras básicas de convivência social, danificando ou colocando em perigo os indivíduos ou uma sociedade.</p><p>A política criminal, enquanto campo de conhecimento, se ocupa em compreender e avaliar as estratégias utilizadas para o controle de situações sociais conflitivas</p><p>e/ou violentas, propondo, novas estratégias para o enfrentamento de tais situações, sendo assim definida como preventiva.</p><p>Gomes, Pablos de Molina e Bianchini (2007) destacam a existência de três movimentos político-criminais na atualidade, podendo estas ser agrupadas da seguinte forma, movimentos punitivos ou repressivos, movimentos abolicionistas e movimentos minimalistas.</p><p>Sobre o movimento punitivo/repressivo, acredita que o Direito Penal é como instrumento de pacificação social. Segundo elas, a paz social só poderia ser alcançada por meio da intensificação das proibições penais e das punições. Os movimentos abolicionistas, ao contrário, não acreditam no Direito Penal, pois ele seria mais pernicioso que o próprio crime e produziria males maiores do que os que pretende evitar.</p><p>O movimento minimalista, apesar de desconfiarem da eficácia do Direito Penal para resolver conflitos, procuram justificar a sua existência a partir de uma perspectiva de intervenção mínima.</p><p>O segundo caminho desenvolvido neste estudo é definido com Punição, também conhecido como Direito Penal que de acordo com Paulo Queiroz (2001),</p><p>o “conjunto de normas jurídicas que, materializando o poder punitivo do Estado, define as infrações penais com a indicação das sanções correspondentes, fixando, simultaneamente, os princípios e garantias fundamentais do cidadão perante o exercício desse poder, ao tempo em que cria os pressupostos de punibilidade e delimita o nível de participação da vítima no conflito”</p><p>De acordo com Gomes, Pablos de Molina e Bianchini (2007), o Direito Penal tradicional nasceu com o objetivo de proteger os direitos fundamentais da pessoa contra o poder punitivo do Estado, ou melhor, contra a violência, o despotismo e a arbitrariedade que caracterizavam o Direito Anterior.</p><p>Tratava-se de um Direito Penal constituído a partir da ideia do contrato social, que concebia o indivíduo como detentor de direitos naturais inalienáveis e via o Estado como guardião de tais direitos.</p><p>A este conjunto normativo (o Direito Penal) foi atribuída, originariamente, a tarefa de contenção do poder punitivo do Estado, buscando-se, a partir dele, eliminar o arbítrio e resguardar os direitos de liberdade individuais e a dignidade humana.</p><p>Referindo-se a este modelo de Direito Penal Hassemer e Munoz Conde (apud Gomes; Pablos de Molina; Bianchini, 2007, p. 329) observam que ele foi fruto de [...] “um tempo em que não se confiava no Estado nem na sua autolimitação no uso da força punitiva.”</p><p>Na verdade, o Estado era visto como fonte potencial de violência. Justamente por isso procurou-se ser preciso no que podia e o que não podia fazer. Dentro desta perspectiva clássica (ou liberal), a excessiva ou abusiva intromissão do Estado na esfera das liberdades individuais é vista com maus olhos, propugnando-se pela utilização do Direito Penal como “ultima” ou “extrema” ratio, ou seja, somente em relação a condutas que venham a afetar ou atingir bens jurídicos fundamentais e que representem ofensas intoleráveis ao contrato social.</p><p>Em consequência, a intervenção punitiva do Estado deve ser mínima e pautada por um conjunto de garantias penais e processuais que assegurem aos acusados proteção ante o arbítrio ou o excesso punitivo.</p><p>Já na atualidade o Direito Penal passa por um processo de transformações, adequando-se aos contornos de uma era da globalização, e assume características muito peculiares que o diferencia substancialmente do Direito penal tradicional.</p><p>Nesta era consolida-se um novo Direito Penal, caracterizado, pela violação de princípios clássicos, como a intervenção mínima, a legalidade, a lesividade, a proporcionalidade, entre outros. Este novo Direito Penal é fruto de tendências político criminais punitivas e repressivas que se mostram muito fortes no atual contexto e que têm se apresentado.</p><p>Batista (2003), em um texto intitulado “Mídia e Sistema Penal no Capitalismo Tardio” observa que, no Brasil, a mídia operou uma espécie de privatização do poder punitivo, pois seu discurso sobre a criminalidade, apesar de cego, por ser construído sem qualquer referência às bases estruturais e econômicas que estão na base da violência e da criminalidade, e afeta profundamente não somente as práticas legislativas, mas especialmente as ações dos órgãos do sistema penal.</p><p>O credo criminológico da mídia constituiu-se como um discurso que impregnou o jornalismo, das menores notas de obituários, abrangendo inclusive publicações que se pretendem progressistas. Este discurso aspira a uma hegemonia, na direção da legitimação do dogma penal como instrumento básico de compreensão dos conflitos sociais.</p><p>O que se pretendia de fato era uma espécie de privatização parcial do poder punitivo. O Brasil, especialmente a partir da década de 90 do século passado, foi profundamente influenciado por tais tendências, que apregoam o recrudescimento do Direito Penal.</p><p>Paradoxalmente, depois da promulgação da Constituição Brasileira de 1988, que trouxe em seu texto um conjunto de garantias penais e processuais limitadoras da intervenção penal, o que se vê no país é o apelo incessante à adoção de uma política criminal repressiva.</p><p>Como objeto de estudo para compreender a importância dos fatores do crime, termos o crime, o criminoso, a vítima que por muito tempo deixou de ser objeto de estudo e está retornando novamente e por fim e não menos importante o controle social que está subdividido em sistemas, como, sistema religioso, ético, jurídico.</p><p>O crime tem sua definição clara e muito conhecida, que é uma ação cometida por uma pessoa ou um grupo de pessoas, na qual viola a lei penal e tem consequências punitivas, já o criminoso e definido como o indivíduo que cometeu essa violação, entretanto a vítima por sua vez é qualquer pessoa natural que tenha sofrido danos físicos, emocionais, materiais causados diretamente pela prática de um crime, ato infracional, calamidade pública, desastres naturais ou grave violação de direitos humanos.</p><p>Já sobre o controle social o Direito como um fato ou fenômeno não existindo, pois, senão na sociedade e, da mesma forma, não podendo ser concebido fora dela, onde está a sociedade ali está também o Direito razão pela qual constitui-se ima sociedade fazendo assim à exigência indeclinável de uma convivência harmônica, posto que nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade Tal constatação igualmente encontra apoio em DURKHEIM (1960, p. 17), para quem “ a sociedade, sem o Direito, sucumbiria”, sendo este a grande coluna que a sustenta, relação (entre sociedade e Direito) que, segundo as lições de NADER (2017, p. 12 e 18),” revela-se sob um duplo sentido de adaptação.”</p><p>Entende-se, que ao mesmo tempo em que o Ordenamento Jurídico é elaborado como processo de adaptação social e, para isto, deve ajustar-se às condições do meio, por outro lado o Direito estabelecido cria a necessidade de o povo adaptar o seu comportamento aos novos padrões de convivência.</p><p>Já a religião como sistema de controle social, conforme GIDDENS (2005, p. 427), as religiões envolvem um conjunto de símbolos, que invocam sentimentos de reverência ou de temor, estando ligadas a rituais ou cerimoniais dos quais participa uma comunidade de fiéis.</p><p>Assim, a religião, através da fé, define o caminho a ser percorrido pelos crentes, estabelecendo, para atingir tal finalidade, uma escala de valores a serem cultivados e, em razão deles, dispõe sobre a conduta humana, atuando, pois, como um autêntico instrumento de controle individual.</p><p>A Religião tem sido um dos mais instrumentos no governo social do homem e dos agrupamentos humanos. Se esse grande fator de controle enfraquece, apresenta-se o perigo do retrocesso do homem às formas primitivas e antissociais da conduta, de regresso</p><p>e queda da civilização, de retorno ao paganismo social e moral. O que a razão faz pelas ideias, a religião faz pelos sentimentos. (NADER, 2017, p. 34).</p><p>O terceiro dos três descrito no início deste trabalho é a ressocialização, após o indivíduo ter passado desapercebido pela política criminal, ter sido reprimido pelo órgão “punidor” resta ainda um caminho árduo e complicado que é a ressocialização.</p><p>De acordo com a pesquisa realizada pelo Internacional Center for Criminal Studies (ICCS), a média de encarceramento no mundo é de 144 detentos a cada 100 mil habitantes. No Brasil, essa média sobe para 300.</p><p>Para entender o processo de ressocialização no Brasil, é essencial ter uma visão, mesmo que panorâmica, do sistema carcerário brasileiro, saber sobre suas precariedades e dificuldades.</p><p>O processo de ressocialização visa reeducar pessoas privadas da liberdade para se adequarem às condições e leis da sociedade. Nesse sentido, o detento terá condições de reduzir sua pena e sair do presídio com habilidades que irão lhe trazer alguma renda.</p><p>No entanto, a ideia só saiu do papel para poucos apenas 18% da população carcerária pratica alguma atividade laboral.</p><p>O maior desafio da implementação da ressocialização é a reformulação do sistema carcerário, que irá influenciar diretamente nessa reforma.</p><p>Apesar das problemáticas, alguns passos já foram dados. Um exemplo disso é a criação da Associação de Proteção ao Condenado (PAC), que propõe um modelo humanizado sem deixar de lado a finalidade punitiva das prisões.</p><p>Figura 1 Foto:Ipog/Blog</p><p>A maioria das medidas de ressocialização hoje recaem nas iniciativas filantrópicas. São projetos, por exemplo, que fornecem aos ex-detentos oportunidades de qualificação profissional e inserção em cooperativas de trabalho.</p><p>As medidas de ressocialização ajudam a reduzir a reincidência, mas é preciso que elas estejam contextualizadas em um cenário mais amplo de acesso aos direitos sociais básicos, como a saúde, a educação, a assistência social e o trabalho.</p><p>Outra dificuldade encontrada nesse caminho é o próprio preconceito que a sociedade exerce em relação aos regressos.</p><p>Uma vez estigmatizado, esses indivíduos, que já cumpriram sua pena, encontram muitas dificuldades para acessar novas oportunidades de emprego e participar ativamente da vida comunitária.</p><p>A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO</p><p>Sabe-se que, a mídia é vista como um método de controle social, onde se repercute cada uma das fases do processo criminal, e contribui consideravelmente com a seletividade ocorrida no sistema penal. Neste sentido Alessandro Baratta explica:</p><p>Na perspectiva da criminologia crítica a criminalidade não é mais uma qualidade ontológica de determinados comportamentos e de determinados indivíduos, mas se revela, principalmente, como um status atribuído a determinados indivíduos, mediante uma dupla seleção: em primeiro lugar, a seleção dos bens protegidos penalmente, e dos comportamentos ofensivos destes bens, descritos nos tipos penais; em segundo lugar, a seleção dos indivíduos estigmatizados entre todos os indivíduos que realizam infrações a normas penalmente sancionadas. A criminalidade é “um bem negativo” distribuído desigualmente conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema socioeconômico e conforme a desigualdade social entre os indivíduos (BARATTA, 2002, p.169).</p><p>Portando, pode-se considerar o direito penal como um sistema composto por funções dinâmicas, sendo possível elencar três mecanismos diferentes:</p><p>a) o mecanismo responsável por produzir as leis (criminalização primária);</p><p>b) o mecanismo responsável por aplicar as leis e o devido processo penal (criminalização secundária);</p><p>c) o mecanismo responsável pela execução das penas ou medidas de segurança.</p><p>Assim, cada um dos mecanismos mencionados torna possível a identificação da forma com que ocorre a influência gerada pela mídia. Pois, de certo modo, a mídia apresenta a imagem estereotipada tanto do crime, quanto do criminoso, o que contribui diretamente para as ideias punitivistas. Em concordância Mayara Rossales Machado destaca:</p><p>Primeiramente, quando falamos da criminalização primária, podemos afirmar que ela ocorre no momento da escolha pelo legislador acerca de quais bens jurídicos serão protegidos, ou seja, ela se dá no momento da edição das leis. Nessa oportunidade, ocorre a primeira seleção, para o fim de determinar quais serão as condutas tipificadas e a quantidade da pena. O que acontece é que essa escolha que deve ser feita pelo legislador tendo como base a premissa de direito penal fragmentário, de proteção apenas dos bens considerados mais relevantes, geralmente não é uma escolha objetiva. Aqui é possível identificar intensa influência midiática, atuando como verdadeira legisladora. Infelizmente, no Brasil temos muitos caoses emblemáticos que comprovam essa nefasta influência (MACHADO, 2017, online).</p><p>Um exemplo do poder de influência que a mídia possui na sociedade é o trágico sequestro de Abílio Diniz, que ocorreu em 1989, fazendo com que o Brasil promulgasse uma das leis mais importantes da história do país. A Lei de Crimes Hediondos – Lei Federal nº 8.072/90, foi criada diante da situação de risco enfrentado pelo país, e devido à grande repercussão do sequestro do empresário. Sobre o assunto, Zaffaroni e Pierangeli, aduzem:</p><p>Menos de 2 anos após a Constituição Federal de 1988, o legislador ordinário, pressionado por uma arquitetada atuação dos meios de comunicação social, formulava a lei 8072/90. Um sentimento de pânico e de insegurança – muito mais produto de comunicação do que realidade – tinha tomado conta do meio social e acarretava como consequência imediatas a dramatização da violência e sua politização (ZAFFARONI E PIERANGELI, 2011, p. 522).</p><p>Há diversos outros casos em que a mídia influenciou consideravelmente no desfecho do crime, como por exemplo os casos de Daniela Perez e Carolina Dieckman. Em relação a criminalização secundária, nota-se que a aplicação da lei é responsabilidade das agencias formais, pois se trata de subsunção, pois apenas prever a penalização da conduta como crime não garante sua observância. Assim, os agentes da criminalização secundária (juízes, policiais e ministério público) são os 24 responsáveis por realizar a investigação do delito, e quando for o caso realizar a acusação e sentenciamento após o devido processo legal.</p><p>Outro exemplo da influência que a mídia possui no julgamento dos acusados é o recente caso do mensalão, onde se relativizou diversas regras procedimentais pois a população exigia celeridade. Acredita-se que, se não houvesse tamanha repercussão, o resultado seria outro, principalmente quanto a dosimetria da pena. Assim, é nítida a influência que a mídia possui, tanto na criminalização primária, para realizar a edição das normas legislativas e a escolha de bens jurídicos a serem tutelados, quanto na secundária, que está relacionada ao papel da polícia, do MP e dos juízes.</p><p>PSICOLOGIA CRIMINAL</p><p>A Psicologia Criminal contribui para a elaboração de perfis criminais, através da observação de características dos delitos, assim como prováveis comportamentos dos criminosos vistos na cena do crime por testemunhas ou segundo relatos das vítimas. É através do conhecimento sobre padrões de comportamento, que esses são avaliados e interpretados para que se possa traçar um perfil com prováveis características do criminoso.</p><p>No Brasil, a profissão de Psicólogo foi regulamentada somente em 1962, pela lei 4.119. Segundo histórico feito pelo Conselho Federal de Psicologia, a entrada do psicólogo no sistema prisional se deu logo após a regulamentação da profissão no ano de 1962 e se consolidou em cada estado da federação gradualmente ao longo dos anos. Surgindo</p><p>como ciência independente no final do século XIX, focando, atualmente na compreensão do sujeito e quando é atrelada ao direito aborda a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulos, nesse sentido aborda Popolo:</p><p>O estudo da perspectiva psicológica de comportamentos complexos e significativos na forma atual ou potencial para ou legal, para efeitos da sua descrição, análise, compreensão, crítica e eventual ação sobre eles, dependendo do legal. (POPOLO, 1996, p. 21).</p><p>Tratando-se da investigação em matéria criminal, o Estado estabeleceu os órgãos e entidades que atuam em tal atividade, distribuindo as atribuições de cada qual dentro dessa estrutura e as hipóteses de atuação, para construir todo o sistema de investigação criminal oficial do Estado, o inquérito policial é muito importante durante a investigação. Difundidos são os conceitos da doutrina no sentido de que seria o inquérito policial mero procedimento administrativo de caráter preparatório, destinado a fornecer ao titular da ação penal subsídios para deflagração do processo.</p><p>Desse modo, uma vez cometido o crime ou infração penal, ferindo o ordenamento jurídico, cabe ao Estado, apurar o fato ocorrido de forma minuciosa, esclarecendo-o todas as suas circunstâncias e desvendando seus desdobramentos. Nesse sentido, dispõe Shecaira:</p><p>A política criminal, por seu turno, incumbe-se de transformar a experiência criminológica em opções e estratégicas concretas assumíveis pelo legislador e pelos poderes públicos... É uma disciplina que não tem método próprio e que está disseminada pelos diversos poderes da União. (SHECAIRA, 2008, p. 43-46).</p><p>Sendo assim, é possível afirmar que a investigação criminal é de suma importância para desvendar o crime e a mente do criminoso, quando a criminologia entra em questão o sentido da investigação aflora, pois, estudar a mente do criminoso e a mente da vítima, no caso a vitimologia, auxiliam para o maior entendimento do assunto</p><p>A TEORIA DO ETIQUETAMENTO CRIMINAL</p><p>A teoria do etiquetamento criminal (labeling approach), conhecida também como teoria da rotulação ou ainda teoria da reação social, é considerada a mais expressiva corrente da chamada criminologia nova.</p><p>A teoria do etiquetamento criminal muda o foco de pesquisa do crime ou do criminoso e passa a analisar o problema da estigmatização, deslocando o problema criminológico do plano da ação para o plano da reação. Dessa forma esta teoria erige as audiências sociais em variáveis críticas do estudo da deviance. Se fundamenta em duas concepções: a primeira concepção é que a existência do crime depende da natureza do ato (violação da norma) e da reação social contra o ato (rotulação). O crime “não é uma qualidade do ato, mas um ato qualificado como criminoso por agências de controle social”; Segundo, o crime não produz o controle social, mas frequentemente o controle social produz o crime.</p><p>O comportamento desviante é o comportamento rotulado como crime. Dessa forma um homem poderá se tornar desviante porque uma infração inicial foi rotulada como desviante, de forma que os índices de crime (desvio) são afetados pela atuação do controle social. Essa nova percepção do labeling, fez com que as tradicionais questões sobre o crime: por que alguém pratica um crime? Quais as causas da criminalidade? Mudassem para: por que alguém é rotulado como criminoso ou desviante? Por que alguns são rotulados como desviantes e outros não? Quem rotula quem?.</p><p>Além do novo problema criminológico e do original modelo explicativo, a teoria do etiquetamento usa uma linguagem, em grande parte, característica da dramaturgia. Os conceitos mais comuns presentes nas representações da teoria do etiquetamento criminal são: identidade (self), autoimagem, outros significantes, audiência social, profecia que a si mesma se cumpre, moral cruzaders, conceitos adscritivos e delinquência potencial. Destaque há para os conceitos como: estereótipo, interpretação retrospectiva, negociação, delinquência secundária, cerimônias degradantes, instituições totais e role-engulfment, conforme indicam Dias e Andrade (1984).</p><p>Os “estereótipos” seriam as representações parcialmente inconscientes e contraditórias entre si, que serviriam de orientação às pessoas em seu cotidiano. Walter Lippman, chama-os de pictures in our minds. Já a “interpretação retrospectiva” constitui-se num processo no qual uma pessoa, identificada como delinquente passa a ser vista a uma luz completamente nova.</p><p>Segundo Garfinkel apud Dias e Andrade (1984), a pessoa se torna aos olhos de seus condenadores, literalmente diferente e nova. Não muda, reconstitui-se. A “negociação” caracteriza-se, quando num processo de adscrição (processo de valoração da conduta a que se reporta, ou seja, negativo ou positivo) de qualquer estigma, de forma explícita ou implícita, é uma questão de poder, e que por isso há uma certa negociação, e que a plea bargaining é a manifestação mais explícita, do ponto de vista institucional. A “delinquência secundária” foi um conceito introduzido por Lemert apud Dias e Andrade (1984), em sua obra Social Pathology (1951), sendo considerado um dos tópicos principais de toda a criminologia labeling. A deviance secundária surge como uma “resposta de defesa, ataque, adaptação aos problemas manifestos ou latentes criados pela reação social a deviance primária”, segundo Dias e Andrade (1984). A delinquência secundária refere-se a uma classe especial de respostas socialmente definidas a problemas criados pela reação social ao desvio. São problemas sociais provocados pela estigmatização, punição, segregação e controle social, atos que, de forma geral, diferenciam o ambiente simbólico e interacional a que uma pessoa reage, comprometendo seriamente sua socialização. Tais atos acabam que se convertendo em eventos centrais na existência de quem os experimenta, alterando a sua estrutura psíquica. Dias e Andrade (1984, p. 350) afirmam: “As ações que têm como referência estes papéis e atitudes para consigo constituem a deviance secundária.</p><p>O desviante secundário é uma pessoa cuja vida e identidade se organiza em torno dos fatos da deviance”. Em 1956 Garfinkel apud Dias e Andrade (1984) introduziu o conceito das “cerimônias degradantes”, que são processos ritualizados em que um indivíduo é condenado e despojado da sua identidade e recebe outra (degradada). O julgamento criminal é a mais expressiva destas cerimônias, mas não é a única. Goffman apud Dias e Andrade (1984), autor do livro Asylums (1956), definiu “instituições totais” como lugares de residências e trabalho onde um grande número de indivíduo em igual situação, isolados da sociedade por um período apreciável de tempo, compartilham na sua reclusão um rotina diária, administrada formalmente. Role-engulfment significa que o papel do delinquente passou a assumir o primado na carreira do desviante, de forma que toda a sua experiência, designadamente a interação e a autoimagem, tendem a polarizar-se em torno deste papel.</p><p>A teoria do etiquetamento criminal caracteriza-se pelo relativismo jurídico e moral, graças à acentuação do pluralismo cultural e pela manifesta simpatia para com as minorias mais desclassificadas. William Thomas, um dos patriarcas da sociologia americana, propôs um teorema, que ficou conhecido por “teorema de Thomas”, que veio a se tornar base para o desenvolvimento da ciência sociológica: “If men define situations as real, they are real in their consequences”. Robert Merton, utilizando as potencialidades do “teorema de Thomas”, percebeu que as profecias ou predições sociais uma vez definidas podem tornar-se parte da situação real, vindo a afetar as consequências posteriores desta. Esta definição ficou conhecida como “profecia que a si amesmo se cumpre .</p><p>1.1. ACERTOS DA TEORIA DO ETIQUETAMENTO CRIMINAL</p><p>Um dos grandes acertos do labeling, foi que os delinquentes deixaram de ser vistos como uma categoria separada das pessoas, dos demais cidadãos.</p><p>O fato de serem considerados como um delinquente não dependerá somente das condições de vida e da situação social, mas também das instâncias formais de controle (polícia, ministério público e tribunais) Hassemer e 11 Conde (2012) .Zaffaroni (2002) afirma que na criminalização primária, o que é importante é convertido em bem jurídico ao atribuir-se a tutela penal frente a determinados tipos de ataques tipificados na lei penal como delito, recebendo assim a sanção pelo dito ataque e o grau de intensidade da sanção. São questões sobre o qual o legislador não decide com total autonomia, mas o faz condicionado por instâncias econômicas, sociais, ideológicas ou políticas, ou seja, o processo legislativo sofre pressão de grupos, acordos, pactos e concessões mútuas entre os grupos políticos na hora de decidir quais comportamento deve ser tipificados na lei como crimes. É o famoso lobby. Também do ponto de vista da criminalização secundária6 a polícia, o ministério público e os tribunais atuam em cima de marcos discricionários de decisão, aonde algumas vezes conduzem a impunidade e outras vezes decidem criminalizar a conduta.</p><p>Portanto, nem na criminalização primária nem na criminalização secundária a fronteira entre os delinquentes e os não delinquentes é algo estático, dado objetivamente. Mas pelo contrário, essa fronteira é oscilante, sendo a criminalização um processo, um fato interativo onde há a influência e a cooperação de muitos fatores que de alguma forma criam a delinquência, pelo que os processos de criminalização primária e secundária devem ser objetos de investigação pela criminologia.</p><p>Outro contributo na compreensão global do problema criminal está em que a teoria do foi responsável por ter provocado uma das revoluções mais profundas no pensamento político-criminal. A descoberta do desfasamento quantitativo e qualitativo entre a delinquência potencial (ou secreta) e a delinquência real permitiu à teoria do etiquetamento criminal contestar os fundamentos epistemológicos da criminologia tradicional, de forma que trouxe o alargamento considerável do criminologicamente relevante estendendo o campo criminológico até às instâncias de controle.</p><p>Também foi a primeira tentativa sistemática do que designamos sociologia da sociedade punitiva introduzindo novas técnicas de investigação e de uma nova linguagem, bem como a descoberta de novas variáveis criminógenas, conforme Hassemer e Conde (2012).</p><p>Agora olhamos para trás e passados mais de 40 anos do surgimento da teoria do etiquetamento criminal, tem-se que está veio trazer um novo ponto de vista, um novo foco, uma nova perspectiva ao fenômeno criminal. Seja de qual natureza forem as causas do crime (patológica, social, psicossocial, interacionista e etc), a conclusão a que se chega é que as teorias criminológicas trazem em seu tempo o reflexo do conhecimento da época, influenciado, como num pano de fundo, pelas experiências que a sociedade está passando no período em que foram desenvolvidas. Ao questionar o até então inquestionável (moral entrepeneurs), a teoria estudada mostrou como as instâncias de controle oficial encarregadas de lidar com o fenômeno criminal podem, em certas circunstâncias, “inflacionar” o crime em vez de reduzi-lo. Tal fenômeno seria decorrente desse processo de seleção de delinquentes, influenciados por fatores sociais, culturais, econômicos e psicológicos. De modo global ela foi positiva nos avanços que trouxe, especialmente ao realçar a cifras negras como produto da reação seletiva ao crime. Assim, a sua contribuição teórico-prática contribuiu e ainda contribui para a evolução da ciência criminal.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e crítica do direito penal. 3 ed. Rio de 27 Janeiro: Revan, 2002</p><p>BATISTA, Nilo. Mídia e sistema penal no capitalismo tardio. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, jan/mar 2003</p><p>DELMAS MARTY, Mireille. Modelos e movimentos de Política Criminal. Rio de Janeiro: Revan, 1992.</p><p>DIAS, Jorge de Figueiredo e ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia – O Homem Delinquente e a Sociedade Criminógena. Coimbra: Ed. Coimbra, 1984.</p><p>DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1960.</p><p>GIDDENS, Anthony. Sociologia, 4ª ed., Porto Alegre, Artmed, 2005.</p><p>GOMES, Luiz Flávio (Coord); PABLOS DE MOLINA, Antönio Garcia; BIANCHINI, Alice. Direito Penal – Introdução e princípios fundamentais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.</p><p>HASSEMER, Winfried; CONDE, Francisco Muñoz. Introducción a la Criminología y a la Política Criminal. Valência: Ed. Tirant lo Blanc, 2012.</p><p>MACHADO, Mayara Rossales. A influência midiática nos processos de criminalização e sua contribuição para a seletividade do sistema penal. S.l., 2014. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/ainfluencia-midiatica-nos-processos-de-criminalizacao-e-sua-contribuicao-para-aseletividade-do-sistema-penal/. Acesso em: 29 mar. 202</p><p>MEDEIROS, Railane. Ressocialização.blog.ipog.edu.br, 2016.</p><p>NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 39ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2017.</p><p>POPOLO, Juan H. del. Psicologia judicial. Mendonza: Ediciones Juridicas Cuyo, 1996. Pg 21.</p><p>QUEIROZ, Paulo. Direito Penal – introdução crítica. São Paulo: Saraiva, 2001.</p><p>SHECAIRA, Sergio Salomão – Criminologia 2. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2008 Pg 43-46.</p><p>SOUZA, Rafaella e SILVEIRA, Andréa. Mito da ressocialização: programas destinados a egressos do sistema prisional. ER Social, Brasília, v. 17, n. 36, p. 163-188, jan.-jun./2015</p><p>ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, volume 1: Parte Geral. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.</p><p>image1.png</p>