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<p>FSC - FACULDADE SANTA CASA</p><p>Viviane Oliveira Bacelar dos Santos</p><p>4° semestre</p><p>Curso: Fisioterapia</p><p>INTERCECCIONALIDADE</p><p>RACISMO ESTRUTURAL</p><p>GÊNERO</p><p>CLASSE SOCIAL</p><p>Salvador-BA</p><p>2024</p><p>INTERSECCIONALIDADE</p><p>O termo “interseccionalidade” foi cunhado em 1989 pela jurista</p><p>estadunidense Kimberlé Crenshaw, como crítica do feminismo negro à</p><p>tendência a se abordar “raça e gênero como categorias mutuamente exclusivas</p><p>de experiência e análise” (Crenshaw 1989, 139, tradução minha). Herdeira das</p><p>intelectuais negras que a precederam e da teoria racial crítica, ao formular o</p><p>conceito, a autora nomeou compromissos teóricos e políticos que já existiam, e</p><p>que, ainda que de modo difuso, integravam, sobretudo, o pensamento e a</p><p>práxis de mulheres não brancas (Nash 2008; Collins e Bilge 2016; Viveros</p><p>Vigoya 2016).</p><p>Uma vez formulado, o termo foi incorporado rapidamente pelo</p><p>feminismo negro estadunidense, de onde se disseminou. Atualmente, a</p><p>“interseccionalidade” é utilizada para referir-se não apenas a desigualdades e</p><p>opressões, mas também à construção de identidades coletivas, laços de</p><p>solidariedade entre grupos e aos ativismos políticos mobilizados em oposição a</p><p>processos de subordinação (Biroli e Miguel 2015). Empregada também na</p><p>produção bibliográfica europeia e latino-americana (Viveros Vigoya 2015), a</p><p>interseccionalidade hoje faz-se presente em diferentes disciplinas (filosofia,</p><p>ciências sociais, economia, direito), perspectivas teóricas (fenomenologia,</p><p>estruturalismo, pós-estruturalismo, liberalismo, psicanálise,</p><p>desconstrucionismo), preocupações políticas (feminismo, antirracismo,</p><p>multiculturalismo, estudos queer e estudos sobre deficiência) e níveis de</p><p>análise (micro e macro) (Davis 2008; Carbim e Edenheim 2013; Viveros Vigoya</p><p>2015) – não sem que se tenham diluídos seus intentos políticos originais</p><p>(Viveros Vigoya 2015; Collins 2019). Em seus múltiplos usos, já foi definida</p><p>como “sensibilidade analítica” (Cho, Crenshaw e McCall 2013, 795),</p><p>“paradigma, conceito, abordagem, dispositivo heurístico e teoria” (Collins e</p><p>Bilge 2016, 31), transformando-se em um termo “guarda-chuva” (Collins 2019,</p><p>692) ou “ponto nodal” (Cho, Crenshaw e McCall 2013, 788).</p><p>A popularidade do termo e sua incorporação substantiva e dinâmica</p><p>pela produção acadêmica feminista justifica-se por algumas de suas</p><p>características centrais: o conceito interpela a visão binária sobre gênero e</p><p>raça; dá visibilidade e incorpora sujeitos excluídos pelas análises feministas e</p><p>antirracistas tradicionais (Nash 2008); captura a complexidade da vida social</p><p>(Collins e Bilge 2016); e reúne ideias de diferentes lugares, tempos e</p><p>perspectivas (Collins 2019). Além disso, sua “abertura” e “ambiguidade” (Davis</p><p>2008, 67) garantem a flexibilidade que a consagrou como estratégia para se</p><p>lidar com o problema das identidades e desigualdades múltiplas, colocado às</p><p>perspectivas críticas e políticas identitárias as mais distintas. É nesse sentido</p><p>que Collins enxerga a interseccionalidade como uma “ferramenta heurística”</p><p>(Collins e Bilge 2016, 4) – ou seja, como uma construção artificial ou conceito</p><p>geral que auxilia na investigação de fenômenos sociais – aplicável a situações</p><p>e problemas os mais variados.</p><p>As críticas à interseccionalidade são diversas, e referem-se, por</p><p>exemplo, à imagem geométrica que o termo evoca (Kergoat 2010); à</p><p>dificuldade de se definir quais são as assimetrias a se levar em consideração</p><p>em uma determinada análise (Biroli e Miguel 2015); à ambiguidade e ausência</p><p>de uma metodologia bem definida (Nash 2008); à inexistência de uma teoria</p><p>sobre poder ou sujeito (Carbin e Edenheim 2013).</p><p>Apesar dos questionamentos, o conceito já foi assimilado como parte</p><p>essencial do pensamento feminista. Com efeito, a interseccionalidade</p><p>transformou o modo como se discute gênero e possibilitou a incorporação de</p><p>sujeitos até então invisibilizados ao feminismo. Por sua importância, o termo</p><p>chegou a ser apontado como a principal contribuição do campo dos Women's</p><p>Studies (McCall 2005).</p><p>RACISMO ESTRUTURAL</p><p>Esta concepção do racismo, que abrange e engloba as demais, define</p><p>que se trada de um fenômeno social tão sempre presente e tão relevante,</p><p>mas ainda assim negligenciado e naturalizado pela sociedade, porque ele</p><p>está intrinsecamente aglutinado nas esferas das próprias relações sociais,</p><p>desde o surgimento do mundo moderno e do colonialismo.</p><p>Com efeito, a sociedade brasileira tem “um modo de socialização que</p><p>tem o racismo como um de seus componentes orgânicos.” (ALMEIDA, 2020, p.</p><p>47). É por isso que há indivíduos que praticam atos racistas (concepção de</p><p>racismo individual) e é também por esse motivo que existem instituições que</p><p>reproduzem condutas racistas. Conforme aponta Silvio Almeida (2020, p. 47):</p><p>(...) As instituições reproduzem as condições para o</p><p>estabelecimento e a manutenção da ordem social. Desse modo, se é</p><p>possível falar de um racismo institucional, significa que a imposição</p><p>de regras e padrões racistas por parte da instituição é de</p><p>alguma maneira vinculada à ordem social que ela visa resguardar.</p><p>Assim como a instituição tem sua atuação condicionada a uma</p><p>estrutura social previamente existente, (...) o racismo que essa</p><p>instituição venha a expressar é também parte dessa mesma</p><p>estrutura.</p><p>Almeida (2020, p. 57) também descreve como o racismo está presente</p><p>em quatro áreas que compõem o “cerne da manifestação estrutural do</p><p>racismo”, a saber, o direito, a ideologia, a política e a economia, explicando que</p><p>se trata de uma relação dialética entre essas áreas. O autor faz ainda uma</p><p>análise da construção histórica e política do racismo. Segundo ele, o</p><p>racismo é político “porque como processo sistêmico de discriminação que</p><p>influencia a organização da sociedade, depende do poder político” (ALMEIDA,</p><p>2020 p.52-53), uma vez que a dominação de grupos inteiros não é viável sem</p><p>dele se utilizar. É também histórico porque está intimamente ligado à dinâmica</p><p>e às peculiaridades da formação social (ALMEIDA, 2020, p. 55). Em suma, o</p><p>racismo:</p><p>É uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do</p><p>modo “normal” com que se constituem as relações políticas,</p><p>econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia</p><p>social e nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural</p><p>(ALMEIDA, 2020, p. 50).</p><p>Para combater os efeitos do racismo estrutural, além da ação ativa de</p><p>instituições punindo práticas discriminatórias, é preciso também de ação ativa</p><p>da população em denunciar todas as práticas racistas, veladas ou explícitas,</p><p>em qualquer contexto de relação social (ALMEIDA, 2020, p. 52).</p><p>Um exemplo muito comum que expressa a estruturação do racismo é</p><p>o de piadas relacionadas com a aparência de uma pessoa. Tal</p><p>comportamento carrega em si uma carga negativa de que algum traço pessoal,</p><p>como a cor da pele no caso de negros, é motivo de ridicularização e</p><p>inferiorização quando comparado ao padrão europeu estabelecido (CRUZ,</p><p>2009, p. 127).</p><p>Essas práticas, vistas por muitos como inofensivas, perpetuam a</p><p>naturalidade da diferenciação e, inconscientemente, fortalecem a noção de</p><p>superioridade eurocêntrica, mesmo que os indivíduos que as pratiquem não</p><p>intentem ser racistas, dado que “o racismo é parte da estrutura social e, por</p><p>isso, não necessita de intenção para se manifestar” (ALMEIDA, 2020, p. 52).</p><p>Embora o racismo seja orgânico na sociedade brasileira, isso não significa que</p><p>ele seja intransponível ou indestrutível.</p><p>É necessário que as próprias instituições sociais ajam</p><p>persistentemente visando combater as desigualdades, de raça e outras</p><p>quaisquer, mas também modificando a mentalidade já encravada na mente das</p><p>pessoas de que as diferenças fenotípicas justificam</p><p>as disparidades, sejam as</p><p>sociais ou as de tratamento.</p><p>Na guerra contra o racismo estrutural, não basta combater a violência</p><p>individual (ou discriminação) praticada contra as pessoas, ou pressionar</p><p>instituições a reverem suas posturas.</p><p>É imperioso defender, reiterada e permanentemente, políticas que</p><p>garantam igualdade, lutando para modificar as estruturas legal, ideológica,</p><p>política e econômica instituídas na e pela sociedade ao longo dos séculos,</p><p>de modo que a naturalização desse fenômeno, tão prejudicial à vida de milhões</p><p>de brasileiros, possa um dia se tornar passado.</p><p>GÊNERO</p><p>De uns anos para cá, começou-se a escutar algumas pessoas, tanto no</p><p>movimento de mulheres quanto na Academia, dizendo: "Isto é uma questão de</p><p>Gênero!" "O Gênero dentro do trabalho..." "O Gênero e a Política..." "A</p><p>construção de Género... "Mas, afinal que Gênero é esse? Será algo divino da</p><p>Lógica e significando "classe cuja extensão se divide em outras classes, as</p><p>quais, em relação à primeira, são chamadas espécies?" Ferreira (1986, p.844).</p><p>Se formos nos guiar por esse sentido, teríamos as espécies homem e mulher</p><p>da chamada classe Humana. Ainda, segundo o linguista Ferreira, o termo</p><p>Gênero também poderia ser "qualquer agrupamento de indivíduos, objetos,</p><p>idéias, que tenham caracteres comuns" (p.844). Teríamos assim indivíduos dos</p><p>dois sexos, de novo o homem e a mulher agrupados, agregados através de</p><p>características comuns, ou seja, o feminino para a mulher e o masculino para o</p><p>homem. Prosseguindo com a nossa língua portuguesa, esses caracteres</p><p>comuns seriam convencionalmente estabelecidos. Este convencionalmente</p><p>pode ir desde maneiras, estilos, significando os Gêneros artísticos ou se referir</p><p>aos estilos de arte: o Gênero Literário e Gênero Dramático. Pode-se buscar o</p><p>significado do termo ainda na Biologia ou no campo da Gramática propriamente</p><p>dita.</p><p>Chegamos assim à definição de Ferreira (1986) do termo do ponto de</p><p>vista gramatical no seu sentido estrito. Encontramos, então, a seguinte</p><p>definição: "categoria que indica, por meio de desinências, uma divisão dos</p><p>nomes baseada em critérios tais como sexo e associações psicológicas"</p><p>(p.844). Neste sentido, o autor aponta o Gênero masculino, o feminino e o</p><p>neutro. A partir disso, passamos a nos perguntar, mas afinal que Gênero é</p><p>esse, que além de propiciar interpretações das mais diversas, dependendo da</p><p>ótica de quem busca seu significado, ainda pode ser agregado ao significado</p><p>de costumes/idéias?</p><p>Se caminharmos por este último sentido (costumes e idéias), vamos</p><p>chegar ao significado do chamado Gênero de Vida, expressão que designa o</p><p>"conjunto de atividades habituais, provenientes da tradição, mercê dos quais o</p><p>homem assegura a sua existência, adaptando a natureza em seu proveito"</p><p>(p.844-845).</p><p>A definição de Gênero torna-se, assim, complicada, pois além de</p><p>apresentar vários significados, agrega no seu bojo os sentidos mais amplos</p><p>ligados a "caracteres convencionalmente estabelecidos", bem como a</p><p>"atividades habituais decorrentes da tradição" (p.844). Por outro lado, a espécie</p><p>Humana se comunica e estabelece linguagens, sejam faladas, escritas ou</p><p>gestuais, constituindo-se em representações sociais que, segundo Lane, são</p><p>esperadas pelo grupo: "esta análise nos permite apontar uma função da</p><p>linguagem que é a mediação ideológica inerente nos significados das palavras,</p><p>produzidas por uma classe dominante que detém o poder de pensar e</p><p>'conhecer' a realidade, explicando-a através de 'verdades' inquestionáveis e</p><p>atribuindo valores absolutos ..." (1984, p.34).</p><p>Voltando então para a linguística, vemos que os significados são</p><p>representações de culturas dominantes. Se as características, que denominam</p><p>o termo Gênero, têm que ser "comuns convencionalmente estabelecidas"</p><p>(Ferreira, 1986, p.844), elas vão passar pelos padrões estabelecidos. Só assim</p><p>entende-se, prosseguindo na busca do significado e adentrando ainda mais na</p><p>gramática na busca do sentido de masculino e feminino, o que seriam os dois</p><p>sexos em que a sociedade normalmente divide os seres humanos. Não</p><p>esqueçamos que existe o Gênero neutro... Mas, examinando o que determina o</p><p>dicionário, encontramos o significado de Masculino: "diz-se das palavras ou</p><p>nomes que pela terminação e concordância designam seres masculinos ou</p><p>como tal considerados" (Ferreira, 1986, p. 1099). Já para o Feminino, nos</p><p>revela a bondosa gramática "diz-se do gênero de palavras ou nomes que, pela</p><p>terminação e concordância designam os seres femininos ou como tal</p><p>considerados (p.768). O que fazemos então com o Neutro do Gênero que, para</p><p>Ferreira, "diz-se do gênero de palavras ou nomes, que em certas línguas,</p><p>designamos serem concebidos como não animados, em oposição aos</p><p>animados, masculinos e femininos"? (p.1191). Como explicar, então, ainda que</p><p>a denominação de feminino também designe, no sentido figurativo, efeminado,</p><p>aclamado e mulherengo?</p><p>Se prosseguirmos pelos caminhos da língua brasileira, buscando o</p><p>sentido do termo, vamos muito mais além, pois através destas considerações</p><p>já se percebe o quanto que a língua reflete a construção cultural do povo que a</p><p>nomeia, a partir da dominância de características comuns, representações</p><p>sociais que nos atravessam a nós, indivíduos, às instituições sociais, como</p><p>escola, igreja, direito etc, às normas e valores sociais instituídos socialmente e</p><p>expressos em códigos de comportamento sociais. "Mas a instância psíquica</p><p>que mais depende das circunstâncias histórico-sociais é o superego, este</p><p>grande assimilador das normas e valores vigentes, este regulador do</p><p>comportamento (através do ego, que se comunica com ele) de acordo com o</p><p>que cada cultura considera reprovável ou desejável. Assim, embora uma</p><p>grande parte do que move as pessoas -a matéria instintiva que constitui as</p><p>paixões, seja inerente ao que venho chamando condição humana, a forma que</p><p>as paixões adquirem, a maneira como se expressam, a valorização positiva ou</p><p>negativa de cada uma delas, tudo isso está permeado por esta modalidade de</p><p>expressão de consumo e de visão do mundo de cada cultura que costumamos</p><p>chamar Ideologia" (Kehl, 1992, p.485).</p><p>Os sentidos dicotomizados da língua, expressando valorações, fazem</p><p>com que o mesmo termo Mulher acabe sendo apreendido também ou</p><p>como Santa e reprodutora ou como Prostituta. Se olharmos de novo o</p><p>dicionário e tentarmos encontrar o significado de mulher, nos depararemos com</p><p>a seguinte afirmação: "O ser humano do sexo feminino capaz de conceber e</p><p>parir outros seres humanos e que se distingüe do homem por essas</p><p>características" (Fereira, 1986, p.ll68). Encontramos ainda as designações</p><p>"Mulher à toa", "Mulher de comédia", "Mulher de rótula", "Mulher de rua",</p><p>"Mulher da vida", "Mulher de amor", "Mulher de má nota", "Mulher de ponta de</p><p>rua", "Mulher de fado", "Mulher de fandango", "Mulher de mundo", "Mulher do</p><p>pala aberto", "Mulher errada", "Mulher fatal", "Mulher perdida" e "Mulher vadia".</p><p>De todas as dominações de mulheres que o lingüista assinala, somente duas</p><p>não têm o significado assinalado como Meretriz! (grifo meu): "Mulher de César"</p><p>e "Mulher de piolho" (p.1168).</p><p>Já para o significado do Homem, o dicionário aponta "qualquer</p><p>indivíduo pertencente à espécie animal que, apresenta o maior grau de</p><p>complexidade na escala evolutiva, o ser humano" dotado "das chamadas</p><p>qualidades viris, como coragem, força, vigor sexual etc, Macho - Homem que é</p><p>homem não leva desaforo para casa" (Ferreira, 1986, p.903). Entre os sentidos,</p><p>tipos de denominação de homem, não existe nenhuma designação que tenha</p><p>sentido pejorativo ou signifique o gigolô. Pelo contrário, todos os sentidos do</p><p>termo seguem no rumo da definição geral, de "alguém que apresenta um maior</p><p>grau de complexidade na escala evolutiva" (Ferreira, 1986, p.903). Então, aqui,</p><p>percebemos que temos mais do que uma dualidade de sentidos:</p><p>nós temos, na</p><p>verdade, um diferencial de pesos/poderes para os termos Mulher e Homem. A</p><p>Mulher, no sentido da construção da língua, do significado social do termo que</p><p>a deveria nomear, só existe como Meretriz ou Reprodutora, não tendo função</p><p>social fora dessas denominações. Vemos, então, que não é de graça que um</p><p>estudioso como Lacan diz "a Mulher não existe". Quando ele se refere a esse</p><p>enunciado, diz que feminilidade se coloca na categoria do inominável,</p><p>revelando a impotência do saber para nomear o feminino como tal (Almeida,</p><p>1992, p.15).</p><p>CLASSE SOCIAL</p><p>Na década de 1970, diante dos processos econômicos que levaram ao</p><p>rápido crescimento da desigualdade de renda e a novas formas de exclusão</p><p>social, cientistas sociais buscaram formular modelos de operacionalização para</p><p>o conceito de classes sociais que pudessem ser usados em pesquisas</p><p>empíricas destinadas a documentar apropriadamente esses fenômenos.</p><p>A operacionalização do conceito de classe social ganhou destaque na</p><p>américa latina e levou diversos pesquisadores a desenvolver modelos de</p><p>operacionalização para sua utilização em pesquisas empíricas no campo da</p><p>saúde. entretanto, dificuldades conceituais e metodológicas diminuíram o</p><p>interesse pelo tema nos anos 1990.</p><p>A própria dinâmica social encarregou-se de recolocar a importância da</p><p>análise de classes sociais. Os processos de globalização, associados ao</p><p>aumento das situações de risco, em decorrência da erosão dos estados de</p><p>bem-estar e restrições impostas às políticas sociais de garantia de emprego,</p><p>renda mínima, previdência social, sistemas universais de saúde e outras,</p><p>acabaram por reintroduzir a preocupação com as desigualdades sociais. Na</p><p>última década, o interesse pelo estudo dos determinantes sociais e pela</p><p>formulação de políticas públicas que reduzissem efetivamente as</p><p>desigualdades sociais em saúde motivou a retomada da discussão do uso do</p><p>conceito de classe social como um dos elementos-chave do processo de</p><p>reprodução social.</p><p>Apesar da melhoria geral na situação de saúde, nos países de alta e</p><p>média renda, e do aumento dos gastos públicos e privados com saúde, as</p><p>desigualdades sociais não parecem estar diminuindo.</p><p>Classe social é uma categoria chave para o estudo da determinação</p><p>social do processo saúde-doença. Os riscos tendem a se acumular de maneira</p><p>desproporcional segundo as classes e suas posições na estrutura social.</p><p>Quanto melhor a posição das classes na estrutura social, maior a probabilidade</p><p>de que seus membros possam desfrutar de uma vida mais longa e mais</p><p>saudável. Grupos socialmente em desvantagem na estrutura social enfrentam</p><p>carga desproporcional de lesões, doenças e morte em comparação aos grupos</p><p>melhor situados.</p><p>Inegavelmente a posição de classe determina muitos aspectos da vida</p><p>material dos indivíduos, definindo não apenas o acesso e a posse de recursos</p><p>materiais, mas também as atividades da vida cotidiana e a vulnerabilidade em</p><p>face de inúmeros determinantes de saúde e doença, além de influenciar a</p><p>percepção dos problemas de saúde e a busca de soluções.</p><p>REFERÊNCIA</p><p>PAIVA, Antonio Teixeira de Barros. Desigualdade, cidadania e racismo:</p><p>um campo de disputas políticas. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 49, n.</p><p>173, p. 262-279, 2019. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/civitas/a/h7rvGvv5gNPpkm7MjMG6D5c/. Acesso em: 3</p><p>set. 2024.</p><p>SILVA, Ana Cláudia. Judicialização da política no Brasil: perspectivas</p><p>críticas e desafios contemporâneos. Revista Virtuajus, Belo Horizonte, v. 3, n. 2,</p><p>p. 56-78, 2020. Disponível em:</p><p>https://periodicos.pucminas.br/index.php/virtuajus/article/view/30935/20909.</p><p>Acesso em: 3 set. 2024.</p><p>SOUZA, José Carlos; SILVA, Maria Aparecida. Psicologia e política:</p><p>diálogos possíveis e necessários. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, v.</p><p>41, n. 2, e217213, 2021. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/pcp/a/np6zGkghWLVbmLtdj3McywJ/. Acesso em: 3 set.</p><p>2024.</p><p>GONÇALVES, Paulo Roberto. A relação entre políticas públicas de</p><p>saúde e o sistema de justiça. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 55, n. 1,</p><p>e119237, 2021. Disponível em:</p><p>https://www.scielo.br/j/rsp/a/7VmBQBcpYV7Py9dQ48gZk5b/?format=pdf.</p><p>Acesso em: 3 set. 2024.</p><p>https://www.scielo.br/j/civitas/a/h7rvGvv5gNPpkm7MjMG6D5c/</p><p>https://periodicos.pucminas.br/index.php/virtuajus/article/view/30935/20909</p><p>https://www.scielo.br/j/pcp/a/np6zGkghWLVbmLtdj3McywJ/</p><p>https://www.scielo.br/j/rsp/a/7VmBQBcpYV7Py9dQ48gZk5b/?format=pdf</p>

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