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TUTORIA 5 – LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO Objetivos 1- Definir LES, correlacionando com sua epidemiologia e fatores de risco. 2- Esquematizar a fisiopatologia da LES (mecanismos imunológicos e genéticos), justificando o quadro clínico 3- Explicar o diagnóstico do LES, correlacionando com seus exames complementares e diagnóstico diferencial. 4- Traçar o plano terapêutico do LES, diferenciando o farmacológico do não farmacológico. explicar os desafios do manejo do LES, discutindo suas complicações e comorbidades associadas 5- Descrever a importância do acompanhamento multidisciplinar, enfatizando uma abordagem centrada no paciente e estabelecendo um fluxo na rede de cuidado 1- Definir LES, correlacionando com sua epidemiologia e fatores de risco. DEFINIÇÃO Autoimune inflamatória crônica multissistêmica · Trata-se de uma doença inflamatória crônica autoimune de etiologia pouco conhecida decorrente de desequilíbrio do sistema imunológico e produção de autoanticorpos · Esses anticorpos são dirigidos contra várias proteínas celulares, com consequente formação de imunocomplexos que, ao se depositarem em vasos de pequeno calibre, resulta em: · Vasculite · Lesão tecidual · Disfunção de órgãos/sistemas · Doença pleomórfica, ie, possui uma variedade de apresentações, tendo em vista que qualquer órgão/sistema pode ser afetado. (“LES pode tudo”) · LES evolui clinicamente com períodos de exacerbação da atividade inflamatória intercalados com períodos de remissão parcial ou completa da doença · Curso clínico variável, podendo variar desde formas leves até quadros gravíssimos, que podem levar a óbito. EPIDEMIOLOGIA Epidemiologia clássica: mulher jovem + quadro multissistêmico · Predomina em mulheres em idade fértil, geralmente com início dos sintomas entre os 20 e 40 anos · Na faixa etária de 20 a 40 anos existe um nítido predomínio no sexo feminino 10:1 · Doença universal: encontrada em todas as etnias e nas mais diferentes áreas geográficas, MAS parece ser mais prevalente em afrodescendentes · Pessoas de todos os sexos, idades e grupos étnicos estão suscetíveis FATORES DE RISCO · Genética · Fatores ambientais · Exposição a infecções (VEB, CMV, micobactérias e tripanossoma) · Medicamentos (procainamida e hidralazina) · tabagismo · Anormalidades imunológicas · Fatores hormonais · Exposição inadequada a luz solar 2- Esquematizar a fisiopatologia da LES (mecanismos imunológicos e genéticos), justificando o quadro clínico FISIOPATOLOGIA QUADRO CLÍNICO · Acometimento típico da LES · Sintomas gerais: fadiga e febre · Acometimento da pele · Acometimento articular · Acometimento de serosas · Acometimento de rim (nefrite), hematológico e SNC. · Características gerais da doença · Curso clínico cíclico: LES apresenta um curso clínico cíclico, ie, alterna períodos de remissão com períodos de exacerbação da atividade da doença. · Repetição do padrão de atividade: no inicio acometeu articulação, pele hematológico, renal. Em uma proxima atividade, há uma grande probabilidade de acometer os sistemas nessa merda ordem. (logo, é possível prever o que ira acontecer) · Sintomas gerais · Febre · Fadiga · Adinamia · Mialgia · Artralgia · Linfadenomegalia · Perda de peso · Musculoesquelético · São comuns, ocorrem em 62% dos pacientes como manifestações iniciais · Manifestações: · artrite: migratória, simétrica e não deformante, moderadamente dolorosa, rigidez matinal menor que 1 h, sendo mais comum em mãos, joelhos e punhos. · Atropatia de Jaccoud: pode ocorrer em alguns casos. Caracterizada pela presença de um desvio ulnar dos dedos e deformidades redutíveis do tipo pescoço de cisne decorrente do acometimento inflamatório de tendões e ligamento. (são redutíveis, ie, no momento do exame físico é possível reduzir essas deformidades, uma vez que elas podem ocorrer por instabilidade articular secundária a frouxidão da capsula articular, tendões e ligamento). Obs.: atentar para as diferenças com a AR. AR · aditiva · deformante · rigidez matinal >1h · crônica LES · migratória · não deformante · rigidez matinal <1h · Osteonecrose asséptica: ocorre em 15% dos pacientes e deve-se ao infarto ósseo. Quando presente, gera for no quadril de forte intensidade · Miopatia: fraqueza muscular, elevação de CPK e inflamação na biopsia muscular. Terapias antimaláricas e glicocorticoides podem causar fraqueza muscular, esses efeitos adversos devem ser diferenciados da doença inflamatória ativa. · Sobreposição com artrite reumatoide: nesse caso o paciente vai apresentar 2 diagnósticos ao mesmo tempo e podemos encontrar sinovite importante e erosões ósseas. · Manifestações cutâneas · Bastante comum, acontece em 80% dos casos, sendo que em 20% é a manifestação inicial · Dermatite lúpica (lesões): pode ser classificada como aguda, subaguda ou crônica, e existem muitos tipos diferentes de lesões nesse grupo: 1. LE cutâneo agudo: · Lesão: eritema malar em asa de borboleta, sendo altamente fotossensível · Fotossensibilidade e rash malar (asa de borboleta): Fotossensibilidade ocorre em até 70% dos pacientes e é precipitada por raios UV, podendo acontecer até mesmo após exposição a lâmpada fluorescente. Rash malar: aparece como eritema na região e no dorso do nariz, também sendo propiciado pelo sol, poupando o sulco nasolabial (ao contrario da dermatomiosite, que não poupa essa região) · Lesões bolhosas (raras) 2. LE cutâneo subagudo · lesão: placas eritematosas descamativas em áreas expostas e com intensa fotossensibilidade · Ocorre em 20% dos pacientes, sendo mais grave que o agudo · Tendo a deixar cicatrizes, porém tem curta duração e não ter caráter destrutivo · Fotossensível · Pode ser precipitado por alimentos, medicações, tabaco e infecções · Associado ao anticorpo anti-Ro (90% dos casos) · 2 formas de lesão são descritas i) psoriasiforme: lesões confluem em placas, por vezes grandes ii) anular: eritema mais importante na borda periférica da lesão 3. LE cutâneo crônica · a forma mais comum é o discoide, em que ocorrem lesões infiltrativas, eritematosas, bem definidas e por vezes até escamosas · locais mais comuns: couro cabeludo, sobrancelhas, pálpebras, região do mento e malar, pavilhão auricular, tórax e braços. · Não confundir com a forma aguda: a cutânea crônica não afeta a região malar (não forma asa de borboleta). Na lesão crônica, não ocorre apenas eritema leve, mas sim uma lesão destrutiva, que deixa cicatrizes e causa alopecia irreversível · Manifestações renais · até 74% dos pacientes com LES apresentarão alguma manifestação clínica e/ou laboratorial devido ao acometimento renal durante o curso da doença, podendo se manifestar como síndrome nefrítica ou nefrótica · nefrite lúpica apresenta mais proteinúria, maiores níveis de creatinina e, por fim, pior prognóstico. · Na maioria dos pacientes a nefrite é assintomática, logo deve ser solicitado exame de urina, sempre que houver suspeita de LES · Manifestações do SNC · as manifestações mais comuns são: · disfunção cognitiva (20-80%) : depressão, delirium · cefaleia: tensional ou enxaqueca · distúrbios psiquiátricos · manifestações menos comuns · déficit cognitivo leve · TDM · Estado confusional agudo · Psicose · Obstruções vasculares, incluindo AVE e IAM · A prevalência desses quadros vem aumentando · Mais comum em pacientes com LES e anticorpo antifosfolipídeo · Manifestações pulmonares · A manifestação pulmonar mais comum é a pleurite com ou sem derrame pleural (exsudato) · Síndrome do pulmão encolhido, que decorre a disfunção diafragma · Hemorragia alveolar · Hipertensão pulmonar · Manifestações cardíacas · A pericardite é a manifestação cardíaca mais comum: dor precordial e artrito pericárdico · Em geral, pacientes com LES tem risco 2,7x maior de desenvolver insuficiência cardíaca em comparação com a população em geral · Manifestações hematológicas · A manifestação mais frequente é anemia normo normo, que reflete uma anemia por doença crônica. · Leucopenia e linfopenia são encontradas com alta frequência · Plaquetopenia:pode ser a primeira manifestação da doença e pode preceder em anos outras manifestações clínicas da LES. (clicamente, observa-se petéquias, equimoses, principalmente em MMII) · Manifestações gastrointestinais · Raro · Manifestações oculares · Síndrome de Sicca e conjuntivite inespecífica são comuns no LES, mas raramente ameaçam a visão. 3- Explicar o diagnóstico do LES, correlacionando com seus exames complementares e diagnóstico diferencial. · O diagnóstico baseia-se na combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais · Atualmente são usados dois sistemas de classificação · Critérios de 2012 da SLICC · Classificação de 2019 de EULAR/ACR, na qual as manifestações clínica são ponderadas Os critérios SLICC são mais fáceis para avaliação do paciente individual, mas a classificação EULAR é mais atual. Critérios da SLICC · Os critérios SLICC incluem 11 itens clínicos e 6 itens imunológicos, sendo necessário 4 dos 17 itens, com: · Pelo menos 1 critério clínico · Pelo menos 1 critério imunológico Classificação EULAR/ARC · A Classificação EULAR requer, pelo menos · Um critério clínico E · Pontuação ≥10 EXAMES LABORATORIAIS GERAIS · Não há exame geral específico para LES, porem podemos utilizá-los para registrar o acometimento de órgãos e sistemas que a doença pode envolver (acometimentos orgânicos) · Hemograma · Anemia · Leucopenia · Linfopenia · Trombocitopenia por atividade da doença · Efeitos adversos a drogas · Provas de hemólise · Função renal · Eletrólitos · Gasometria venosa · Exame de sedimentos urinários: hematúria, proteinúria e leucocitúria. · Biopsia renal · Enzimas musculares: miosite · Enzimas hepáticas: hepatite por toxicidade a drogas · RM · Líquor Esses exames devem ser realizados de acordo com a suspeita clínica dos envolvimentos orgânicos, no entanto, as manifestações hematológicas e renais deem ser ativamente pesquisadas e monitorizadas independentemente da presença de sintomas, devido à sua alta frequência e morbidade EXAMES LABORATORIAIS ESPECÍFICOS · FAN – fator antinuclear · Não é um anticorpo propriamente dito, é um teste de triagem para detectar anticorpos específicos de alguma doença · Possui alto valor preditivo negativo para lúpus (ie, se der negativo, é improvável que a pessoa tenha lúpus), mas 1% dos casos de LES tem FAN negativo e outras doenças podem positivas o FAN · 99% tem FAN positivo · Padrão da imunofluorescência: · Padrão nucleolar: sugestivo de esclerose sistêmica · Padrão nuclear pontilhado fino: pessoas saudáveis · Anti-DNA · É um anticorpos mais sensível e mais específico para LES · guarda relação com a nefrite lúpica · positivo em 70-80% dos pacientes com LES · especificidade de 95-99% · Anti-Sm · É o anticorpo mais específico da doença · Ocorre em 10-40% dos pacientes que tem LES e apresenta especificidade de 99% · anti-NRP · Em altos títulos, sugere fortemente diagnóstico de doença mista do tecido conjuntivo · Nos LES está presente em 10-30% dos casos image1.png image2.png image3.png image4.png image5.png