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Lúpus Eritematoso Sistêmico Definição e Epidemiologia Definição ● O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, autoimune, de etiologia pouco conhecida, decorrente de um desequilíbrio do sistema imunológico e produção de autoanticorpos. ¹ ● Estes são dirigidos contra várias proteínas celulares com consequente formação de imunocomplexos que, ao se depositarem em vasos de pequeno calibre, resultam em vasculite e disfunção do local acometido. ¹ ● A doença é pleomórfica, uma vez que o envolvimento de órgãos e tecidos ocorre nas mais diversas combinações, e também em graus variados de gravidade. O LES evolui clinicamente com períodos de exacerbação de atividade inflamatória, intercalados com remissão parcial ou completa. ¹ ● A duração dessas fases da doença é também variável, sendo que alguns pacientes podem manter um padrão de atividade crônica. ¹ Epidemiologia ● A doença é muito mais prevalente em mulheres na idade reprodutiva, sendo que os primeiros sinais e sintomas iniciam-se entre a segunda e terceira décadas de vida.² ● A doença também ocorre em crianças e adultos mais idosos, mantendo o predomínio do sexo feminino, porém em uma proporção de 3:1.² ● Predomínio no sexo feminino: quase 10 pacientes mulheres para cada homem afetado pela doença.² ● Incidência: varia entre 0,3-31,5 casos por 100.000 indivíduos por ano e tem aumentado nos últimos 40 anos, provavelmente devido ao reconhecimento de casos mais leves. No Brasil: estima-se uma incidência aproximada de 4,8 a 8,7 casos por 100.000 habitantes/ano.¹ ● Prevalência ajustada: cerca de 50-100 por 100.000 adultos. ² ● Trata-se de uma doença universal, mas parece ser mais prevalente em afrodescendentes.¹ ● A prevalência do LES é maior na zona urbana, atingindo 10-400/100.000 na população norte-americana. ² Medicina 7º semestre ● A gravidade da doença pode variar de acordo com a origem étnica e geralmente é pior em pacientes de ascendência africana e latino-americanos. ² ● Custos estimados em pelo menos US$ 3.000-12.000 nos EUA e € 2.500-5.000 na Europa para pacientes com a doença grave. ² ● Radiação ultravioleta, tabagismo e drogas são fatores ambientais bem estabelecidos ligados à patogênese do LES. ² ● Pelo menos 118 drogas foram associadas ao lúpus induzido, particularmente procainamida e hidralazina, enquanto agentes antifator de necrose tumoral (infliximab, adalimumab, etanercept) foram associados à produção de anticorpos anti-DNA. ² ● Entre todos os autoanticorpos relacionados ao lúpus, anticorpos antifosfolipídeos (aPL) e anti-DNA têm sido associados ao tabagismo.² ● A concordância do LES em gêmeos monozigóticos foi estimada em cerca de 25%.² ● A herdabilidade geneticamente determinada foi calculada em 43,9%.² Patogenia ● O LES é caracterizado por vários defeitos no sistema imune por perda da autotolerância que resultam em um processo que começa na quebra da homeostasia celular e culmina com a produção anormal de autoanticorpos, cujo aparecimento precede em anos os primeiros sintomas da doença.² ● Entre os distúrbios da regulação imune, destacam-se: ○ Aumento da expressão de IFNα, especialmente durante os períodos de atividade inflamatória;² ○ Redução do número e função das células T citotóxicas e supressoras em paralelo ao aumento do número e atividade dos linfócitos T CD4+ (helper) e ativação policlonal de células B autorreativas; ² ○ Múltiplas anormalidades na sinalização linfocitária, incluindo hiper-reatividade, decorrente dos defeitos determinados genética ou epigeneticamente; ² ○ Defeitos da tolerância dos linfócitos B, relacionados aos defeitos na apoptose e deficiência de complemento; ² ○ Aumento da expressão de BLyS/BAFF, gerando redução da apoptose das células produtoras de autoanticorpos e aumento da ativação dos toll-like receptors (TLR) e dos níveis de INFα; ² ○ Defeitos na sinalização entre as células T e B, com consequente redução da expressão de IL-2 e do número de células T regulatórias; ○ Redução do clearance dos imunocomplexos circulantes e do material apoptótico pelos macrófagos; ² 2 Medicina 7º semestre ○ Aumento do microquimerismo fetal e dos níveis de micropartículas contendo material nucleico e que podem funcionar como estímulos para a autoimunidade; ² ○ Aumento da sinalização dos TLR7 e TLR9 nas células B, dendríticas e plasmáticas; ² ○ Aumento do processo conhecido como NETose, que é uma forma de apoptose específica dos neutrófilos e que libera uma espécie de “rede” composta por DNA ligado a proteínas e que é capaz de estimular a produção de IFNα e anti-DNA, por meio da ação do TLR9.² Quadro Clínico Principais características clínicas e envolvimento de órgãos 3 Medicina 7º semestre ● Sintomas constitucionais — estão presentes na maioria dos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) em algum momento durante o curso da doença.³ ○ Fadiga – A fadiga é a queixa mais comum, ocorrendo em 80 a 100 por cento dos pacientes, e às vezes pode ser incapacitante.³ ○ Febre – A febre pode ser uma manifestação da doença ativa e é vista em mais de 50 por cento dos pacientes com LES. Infecções graves são uma das principais causas de morbidade entre os pacientes e devem ser consideradas em todos os pacientes imunocomprometidos com LES com febre.³ ○ Mialgia – A mialgia também é comum entre os pacientes com LES, enquanto a fraqueza muscular grave ou miosite é relativamente incomum. ³ ○ Alteração de peso – As alterações de peso são frequentes em pacientes com LES e podem estar relacionadas à doença ou ao seu tratamento. A perda de peso geralmente ocorre antes do diagnóstico de LES (decorre de diminuição do apetite, efeitos colaterais de medicamentos - particularmente diuréticos e ocasionalmente hidroxicloroquina, e doença gastrointestinal - refluxo gastroesofágico, dor abdominal, úlcera péptica ou pancreatite). O ganho de peso no LES pode ser devido à retenção de sal e água associada à hipoalbuminemia.³ ● Artrite e artralgias ○ Artrite e artralgias ocorrem em mais de 90% dos pacientes com LES e são frequentemente uma das primeiras manifestações.³ ○ A artrite, com inflamação demonstrável, ocorre em 65 a 70 por cento dos pacientes e tende a ser migratória, poliarticular e simétrica. ³ ○ Ocasionalmente os pacientes com LES desenvolvem uma artrite erosiva deformante, que é semelhante à da artrite reumatóide (AR). ³ ● Envolvimento mucocutâneo 4 https://www.uptodate.com/contents/hydroxychloroquine-drug-information?topicRef=4668&source=see_link Medicina 7º semestre ○ As lesões de pele do LES podem ser classificadas como específicas e não específicas, em função da presença ou não de dermatite de interface na biópsia de pele (infiltrado inflamatório distribuído ao longo da junção dermoepidérmica). As lesões específicas ainda podem ser subdivididas em agudas, subagudas e crônicas.4 ○ Específicas de LES e agudas ■ A lesão mais característica é a erupção malar, ou em “asa de borboleta”, que se apresenta de forma aguda como uma erupção sobre as bochechas e o nariz, elevada, por vezes dolorosa ou pruriginosa, frequentemente precipitada pela exposição solar. Pode persistir por horas a dias e é habitualmente recorrente.4 ■ A fotossensibilidade é definida pelo surgimento de uma erupção cutânea eritematosa logo após exposição aos raios solares (geralmente UV-B) ou luz artificial fluorescente. As lesões predominam nas áreas expostas ao Sol (“V” cervical, face e extremidades) e estão associadas à presença do anticorpo anti-Ro. Lembre-se que a luz solar, além da erupção por fotossensibilidade, ainda pode deflagrar exacerbações sistêmicas da doença em 70% dos casos.4 ○ Específicas de LES e subagudas ■ Cursa com lesões cutâneas eritematodescamativas difusas, não ulcerativas, predominando em membros superiores e parte superior do tronco. A face geralmente é poupada. 4 ■ As lesões não deixam sequelas, mas são de caráter recidivante, comumente precipitadas pela exposição solar, acompanhadas por sintomas musculares e anormalidades sorológicas, sendo a mais comum a presençado anti-Ro (SSA).4 ■ O lúpus subagudo pode se apresentar como erupção papuloescamosa (lenticular) que simula psoríase, ou lesões eritematoanulares, policíclicas, que simulam o eritema anular centrífugo.4 ■ Existe uma forma de erupção lúpica que se desenvolve nas mãos, tida por muitos como bastante sugestiva dessa condição. Há envolvimento do dorso das falanges de forma a poupar os nós articulares das interfalangianas, numa espécie de “espelho” do sinal de Gottron da polimiosite.4 ○ Específica de LES e crônicas ■ A principal lesão cutânea crônica do LES é o lúpus discoide. 5 Medicina 7º semestre ■ Predomina na face, pescoço, couro cabeludo e pavilhão auricular, sendo caracterizado inicialmente por placas eritematosas, infiltradas e hiperpigmentadas, que evoluem lentamente com uma cicatriz despigmentada e atrófica, principalmente no centro da lesão. 4 ■ Telangectasias, rolhas (ou plugs) foliculares e hiperceratose podem ser encontradas. O lúpus discoide costuma deixar sequelas cicatriciais, incluindo alopécia irreversível.4 ■ A paniculite de Kaposi é uma forma rara de lúpus cutâneo crônico, caracterizada pela presença de nódulos firmes e dolorosos no tecido subcutâneo, às vezes evoluindo com atrofia. 4 ○ Não específica de LES ■ Alopécia não discoide: é muito comum no LES, reversível com o controle da atividade de doença. É causada por aumento nas taxas de apoptose celular nos folículos pilosos.4 ■ Vasculite cutânea: lesões purpúricas/petequiais ou lesões urticariformes. Nos casos mais graves, podem surgir úlceras cutâneas e até necrose digital. A vasculopatia pode estar associada aos anticorpos antifosfolipídios, com formação de trombos. 4 ■ Livedo reticular e telangiectasias4 ■ Fenômeno de Raynaud: é um distúrbio causado pelo vasoespasmo episódico das pequenas artérias digitais, manifestando-se com a sequência palidez-cianose-rubor nos dígitos. Ocorre em até 30% dos pacientes com LES, entretanto, trata-se de achado típico de outra colagenose: a esclerose sistêmica.4 ■ Lúpus bolhoso: As úlceras mucosas ocorrem no palato, lábios, septo nasal, vagina etc., lembrando úlceras aftosas em seu aspecto. São diferenciadas das úlceras herpéticas pelo fato destas últimas serem geralmente muito dolorosas! As úlceras orais do LES tipicamente não doem.4 6 Medicina 7º semestre ● Envolvimento cardíaco e manifestações vasculares ○ A doença cardíaca em pacientes com LES é comum e pode envolver pericárdio, miocárdio, válvulas, sistema de condução e artérias coronárias. 3 ○ A pericardite, com ou sem derrame, é a manifestação cardíaca mais comum do LES, ocorrendo em aproximadamente 25% dos pacientes em algum momento do curso da doença.3 ○ A endocardite verrucosa (Libman-Sacks) geralmente é clinicamente silenciosa, mas pode produzir insuficiência valvar e servir como fonte de êmbolos. ○ A miocardite é incomum, mas pode ser grave. Pacientes com LES também têm um risco aumentado de doença arterial coronariana.3 7 Medicina 7º semestre ○ O lúpus neonatal, que pode ocorrer em bebês de mulheres com LES expressando anti-Ro/SSA e anti-La/SSB, pode causar bloqueio cardíaco de vários graus que pode ser observado in utero e/ou que pode se apresentar como bloqueio cardíaco congênito.3 ○ Fenômeno de Raynaud – O fenômeno de Raynaud no LES é um processo vasoespástico induzido pelo frio que ocorre em até 50% dos pacientes com LES. O fenômeno de Raynaud é caracterizado por palidez acral intermitente seguida de cianose e eritrodermia.3 ○ Vasculite: ■ Prevalência de 11 a 36%.3 ■ O espectro clínico da vasculite no LES é amplo devido ao potencial de envolvimento inflamatório de vasos de todos os tamanhos.3 ■ O envolvimento de pequenos vasos é o mais comum, muitas vezes manifestando-se como lesões cutâneas; A vasculite cutânea de pequenos vasos pode se manifestar como púrpura palpável, petéquias, lesões papulonodulares, livedo reticular, paniculite, hemorragias em estilhaços e ulcerações superficiais.3 ■ Outros tipos específicos de envolvimento vasculítico no LES incluem vasculite mesentérica, vasculite hepática, vasculite pancreática, vasculite coronariana, vasculite pulmonar e vasculite retiniana, bem como vasculite do sistema nervoso periférico ou central. Alguns casos de aortite, semelhantes ao observado na arterite de Takayasu, foram relatados.3 ○ Doença tromboembólica – A doença tromboembólica pode complicar o LES, particularmente no contexto de anticorpos antifosfolípides. A doença tromboembólica pode afetar tanto a circulação venosa quanto a arterial. Os antimaláricos podem ser protetores para o desenvolvimento de doença tromboembólica no LES.3 ● Envolvimento renal: 8 Medicina 7º semestre ○ O envolvimento renal é clinicamente aparente em aproximadamente 50% dos pacientes com LES e é uma causa significativa de morbidade e mortalidade. Várias formas de glomerulonefrite podem ocorrer, e a biópsia renal é útil para definir o tipo e a extensão do envolvimento renal. A apresentação clínica da nefrite lúpica é altamente variável, desde hematúria e/ou proteinúria assintomática até síndrome nefrótica e glomerulonefrite rapidamente progressiva com perda da função renal. 3 ○ O comprometimento renal constitui um dos 11 critérios classicamente utilizados para o diagnóstico de LES, sendo evidenciado pelo achado de (1) proteinúria superior a 500 mg/24h ou ≥ 3 + no EAS e/ou (2) identificação de cilindros celulares no sedimento urinário, cada um destes com uma incidência em torno de 50%.4 ○ Os glomérulos são os principais alvos renais do lúpus. A deposição dos imunocomplexos DNA/anti-DNA é a base fisiopatológica da nefrite lúpica! A ativação do complemento é outro achado, sendo encontrados depósitos de C3, C4 e C1q.4 ○ Classificação histopatológica da glomerulopatia lúpica (Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) e a Sociedade de Patologia Renal (RPS)) - tabela acima.4 ● Envolvimento gastrointestinal — Os sintomas gastrointestinais são comuns em pacientes com LES, ocorrendo em até 40% dos pacientes. A maioria dos sintomas gastrointestinais são causados por reações adversas a medicamentos e infecções virais ou bacterianas . Incluem esofagite, pseudo-obstrução intestinal, enteropatia perdedora de proteínas, hepatite lúpica, pancreatite aguda, vasculite ou isquemia mesentérica e peritonite.3 ● Envolvimento pulmonar — As manifestações pulmonares do LES incluem pleurite (com ou sem derrame), pneumonite, doença pulmonar intersticial, hipertensão pulmonar, síndrome do pulmão encolhido e hemorragia 9 https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-systemic-lupus-erythematosus-in-adults/abstract/19 Medicina 7º semestre alveolar. O risco de envolvimento tromboembólico é maior naqueles com anticorpos antifosfolípides ou com anticoagulante lúpico.³ ● Envolvimento neurológico e neuropsiquiátrico – Inclui acidente vascular cerebral, convulsões, disfunção cognitiva, delírio, psicose e/ou neuropatias periféricas. Outros problemas menos comuns são distúrbios do movimento, neuropatias cranianas, mielite e meningite. ³ ● Anormalidades hematológicas: ○ Todas as três linhagens de células sanguíneas podem ser afetadas.³ ○ A anemia de doença crônica é o tipo mais comum de anemia entre pacientes com LES. ³ ○ A leucopenia é comum em pacientes com LES, ocorrendo em aproximadamente 50% dos pacientes - geralmente se correlaciona com doença clinicamente ativa. A neutropenia também pode resultar de toxicidade devido a medicamentos imunossupressores. ³ ○ A trombocitopenia leve também é uma anormalidade hematológica comum. ³ ○ A anemia hemolítica autoimune também é relativamente rara, mas pode ser grave, exigindo tratamento imediato. ³ ○ A linfonodomegalia geralmente ocorre em associação com o LES ativo e geralmente envolve as regiões cervical, axilar e inguinal.³ ○ A esplenomegalia também pode ser observada em pacientes com LES, particularmente com doença ativa. ³ ● Envolvimento oftalmológico: ○ Qualquer estrutura do olho pode estar envolvida no LES, sendo a ceratoconjuntivite seca a manifestaçãomais comum como resultado da síndrome de Sjögren secundária. ³ ○ A próxima condição patológica mais comum envolvendo o olho em pacientes com lúpus é a vasculopatia retiniana na forma de manchas algodonosas. ³ ○ Outras manifestações oftalmológicas menos comuns do LES incluem neuropatia óptica, coroidopatia, episclerite, esclerite e uveíte anterior (irite, iridociclite). ³ ○ Tecidos orbitários como a glândula lacrimal (geralmente resultando em secura), músculos extraoculares e outros tecidos orbitais também podem estar envolvidos no LES, levando a dor, proptose, edema palpebral e diplopia.³ ● Imunodeficiências: 10 Medicina 7º semestre ○ O angioedema hereditário é uma doença genética rara causada principalmente por um defeito no inibidor de C1. Pode estar associada ao LES.³ ○ Pacientes com outras formas de deficiência de complemento como C2, C4 e deficiência de C1q também têm formas de LES. ³ ● Síndrome antifosfolípide – Anticorpos antifosfolípides são detectados em 40 por cento dos pacientes com LES. No entanto, o desenvolvimento da síndrome antifosfolípide é muito menos comum. ³ ● Fibromialgia – Pacientes com LES apresentam maior prevalência de fibromialgia do que a população geral.³ ● Osteoporose e Osteonecrose – O risco estimado de osteonecrose, que pode apresentar dor articular intensa em pacientes com LES, varia amplamente, variando de 3 a 40 por cento. Acredita-se que o risco aumentado esteja relacionado à doença subjacente, bem como ao uso concomitante de glicocorticóides. ³ ● Infecção: ○ Complicações infecciosas graves, especialmente da pele, sistemas respiratório e urinário, desenvolvem-se em até 50 por cento dos pacientes com LES. A grande maioria das infecções (aproximadamente 80%) é devido a bactérias patogênicas. ³ ○ Infecções oportunistas podem estar relacionadas ao uso de terapia imunossupressora e são causa comum de morte. ³ ○ Os fatores de risco para infecção incluem doença ativa do LES, dano da doença a longo prazo, neutropenia, linfopenia, hipocomplementemia, envolvimento renal, manifestações neuropsiquiátricas e uso de glicocorticóides e outras drogas imunossupressoras. ³ ● Outras doenças autoimunes – Há um aumento da prevalência de doenças da tireoide entre os pacientes com LES, geralmente na forma de tireoidite de Hashimoto, e também de Miastenia Gravis. Existe uma alta prevalência de doenças autoimunes entre familiares de pacientes com LES.³ Avaliação do paciente e Diagnóstico História e exame físico³ 11 Medicina 7º semestre Realizamos uma história médica completa, com atenção especial aos seguintes sintomas e sinais: ● Sintomas constitucionais, como febre, fadiga, linfadenopatia ou perda de peso ● Lesões fotossensíveis da pele, como erupção cutânea malar ● Úlceras orais ou nasais indolores ● Perda de cabelo irregular ou frontal/periférica ● Fenômeno de Raynaud ● Dor nas articulações ou inchaço, que pode ser migratório ou simétrico ● Dispneia ou dor torácica pleurítica sugestiva de serosite ● Dor torácica sugestiva de pericardite ● Edema de membros inferiores ● Sintomas neurológicos, como convulsões ou psicose ● Abortos recorrentes ● Exposição a medicamentos associados ao lúpus induzido por drogas Exame Físico³ ● Lesões cutâneas consistentes com erupção cutânea malar ou lesões discóides ● Alopecia irregular cicatricial ou não cicatricial ● Úlceras orais ou nasofaríngeas, perfuração do septo nasal ● Artrite poliarticular, que muitas vezes é simétrica ● Subluxação nas articulações metacarpofalângicas e deformidades reumatóides em pescoço de cisne nas mãos ● Sons respiratórios diminuídos ou anormais que podem indicar derrame pleural, pneumonite ou doença pulmonar intersticial ● Edema de membros inferiores e hipertensão Testes laboratoriais ● Hemograma completo e diferencial: podem revelar leucopenia, anemia leve e/ou trombocitopenia³ ● Creatinina sérica: pode ser sugestiva de disfunção renal³ ● Urinálise: pode revelar hematúria, piúria, proteinúria e/ou cilindros celulares³ ● Eletroforese de proteínas séricas: pode demonstrar hipergamaglobulinemia sugestiva de processo inflamatório sistêmico³ ● FAN (idealmente por teste de imunofluorescência indireta)³ ● Anti-DNA de fita dupla (anti-dsDNA)³ ● Anticorpos antifosfolípides (anticoagulante lúpico [LA], imunoglobulina [Ig] G e IgM anticardiolipina [aCL] anticorpos e IgG e IgM anti-beta2-glicoproteína [GP] 1)³ ● Níveis de complemento C3 e C4 ou CH50³ 12 Medicina 7º semestre ● Taxa de hemossedimentação (VHS) e/ou níveis de proteína C reativa (PCR)³ ● Relação proteína/creatinina na urina³ Autoanticorpos ● O teste de FAN é positivo em praticamente todos os pacientes com LES em algummomento do curso de sua doença.4 ● Se o FAN for positivo, deve-se testar outros anticorpos específicos, como anti-dsDNA, anti-Smith (anti-Sm), Ro/SSA, La/SSB e ribonucleoproteína U1 (RNP). ● O FAN, medido por imunofluorescência, por ser muito sensível para LES (mais de 98% dos pacientes tem FAN +), pode ser usado como teste de triagem, considerando-se significativo um título > 1:80. Entretanto, ele não tem especificidade.4 ● A interpretação do padrão da imunofluorescência acrescenta especificidade ao exame, sugerindo o tipo de autoanticorpo presente.4 ● Anti-DNA: Estes anticorpos se ligam ao próprio DNA nuclear e podem ser de dois tipos: anti-DNA dupla-hélice e anti-DNA hélice única. O anti-DNA dupla-hélice é bastante específico para LES (E= 95%) e possui importante relação com a atividade da doença e com a nefrite lúpica. Altos títulos correlacionam-se com a forma grave da nefrite lúpica (classe IV), sendo o acompanhamento de 13 Medicina 7º semestre seus níveis importante para avaliar reposta terapêutica. O anti-DNA hélice única é inespecífico, e pode estar presente em diversas doenças autoimunes ou infecções crônicas.4 ● Anti-RNP: A presença de altos títulos deste anticorpo está associada à Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC) e às síndromes de overlap com a esclerodermia e a polimiosite. Está presente em 40% dos casos de LES.4 ● Anti-Ro (SS-A) e Anti-La (SS-B): Esses autoanticorpos geralmente aparecem em conjunto. O anti-Ro (SS-A) está presente em 30% dos casos de LES, enquanto o anti-La (SS-B) encontra-se em apenas 10%. Ambos estão associados à síndrome seca (Sjögren), frequentemente relacionada ao LES. O anti-Ro (SS-A) também se relaciona ao lúpus cutâneo subagudo, à fotossensibilidade, à vasculite cutânea e à doença pulmonar intersticial. As gestantes lúpicas anti-Ro positivas têm chance aumentada de parirem filhos com bloqueio cardíaco congênito ou lúpus neonatal, ao transmitirem esses anticorpos para o feto através da placenta. 4 ● Anti-Histonas: Existem os tipos H1, H2, H3 e H4. Estes anticorpos estão bastante relacionados ao lúpus induzido por drogas (procainamida e quinidina – anti-H2; hidralazina e clorpromazina – anti-H1, H3, H4), presentes em 95-100% desses pacientes. No LES idiopático, sua prevalência é de 70%.4 ● Anti-P: Estão presentes em 20% dos casos de LES e correlacionam-se com psicose lúpica e depressão. 4 ● Anticorpos Antimembrana: Os principais exemplos são os anticorpos anti-hemácia, da classe IgG, presentes em 60% dos pacientes com LES, os anticorpos antilinfócito (prevalência de 70%), os anticorpos antiplaqueta (prevalência de 30%) e os anticorpos antineuronais (prevalência de 60%).4 ● Antifosfolipídio: O grupo de anticorpos antifosfolipídios é composto por três elementos: (1) anticoagulante lúpico; (2) anticardiolipina; (3) Anti-β2 Glicoproteína. A presença desses anticorpos é o marco laboratorial da síndrome antifosfolipídio.4 Outros exames ● Estudos sorológicos para infecção – Em pacientes com história breve (por exemplo, menos de seis semanas) de artralgias ou artrites predominantes, realizamos testes sorológicos para parvovírus humano B19. Também realizamos testes sorológicos para vírus da hepatite B e vírus da hepatite C em pacientes com achados clínicos multissistêmicos. Em áreas endêmicas para a doença de Lyme, também podemos enviar estudos sorológicos para Borrelia. O teste para infecção pelo vírus Epstein-Barr também pode ser indicado no ambiente clínico apropriado.³ 14 Medicina 7º semestre ● Creatina quinase – Uma creatina quinase elevada (CK) pode refletir miosite, o que é relativamente incomum em pacientes com LES. A miosite também pode sugerir um diagnóstico alternativo, como DMTC, polimiosite ou dermatomiosite³ ● Coleta de urina de 24 horas – Se a relação proteína-creatinina da urina pontual estiver acima de 0,05 g/mmol, então uma coleta de urina de 24 horas deve ser realizada, pois a coleta de urina pontual pode não refletir a quantidade real de proteinúria.³ ● Testes adicionais em pacientes selecionados — A biópsia de um órgão envolvido (por exemplo, pele ou rim) é necessária em alguns casos.³ ● Eletrocardiografia na avaliação da dor torácica que pode ser decorrente de pericardite ou de isquemia miocárdica.³ ● Capacidade de difusão do monóxido de carbono para avaliar suspeita de hemorragia pulmonar e estimar a gravidade da doença pulmonar intersticial.³ ● Radiografias simples (por exemplo, de articulações edemaciadas; ao contrário das articulações afetadas na AR, as erosões são observadas com pouca frequência no LES).³ ● Ultrassonografia musculoesquelética (por exemplo, de articulações dolorosas para detectar sinovite e tenossinovite nas mãos e punhos).³ ● Ultrassonografia renal (por exemplo, para avaliar o tamanho do rim e descartar obstrução do trato urinário quando há evidência de insuficiência renal).³ ● Radiografia de tórax (por exemplo, para suspeita de derrame pleural, doença pulmonar intersticial, cardiomegalia).³ ● Ecocardiografia (por exemplo, para suspeita de envolvimento pericárdico, para avaliar uma fonte de êmbolos ou estimativa não invasiva da pressão da artéria pulmonar; e para avaliação de lesões valvares suspeitas, como verrugas).³ ● Tomografia computadorizada (TC; por exemplo, para dor abdominal, suspeita de pancreatite, doença pulmonar intersticial).³ ● Ressonância magnética (RM; por exemplo, para déficits neurológicos focais ou disfunção cognitiva).³ Diagnóstico 15 Medicina 7º semestre ● O diagnóstico de LES baseia-se na combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais, desde que outras doenças sejam excluídas. ² ● Vários critérios de classificação foram desenvolvidos para o lúpus eritematoso sistêmico (LES) como forma de categorizar os pacientes.² Critérios ACR de 1997 ● Os critérios de classificação que foram desenvolvidos pela American Rheumatism Association para a classificação do LES foram estabelecidos por análises de cluster.² ● O paciente é classificado com LES usando os critérios do ACR se quatro ou mais das manifestações estiverem presentes, em série ou simultaneamente, durante qualquer intervalo de observações. Quando testados contra outras doenças reumáticas, esses critérios têm sensibilidade e especificidade de aproximadamente 96%.² ● Portadores de apenas 3 dos 11 critérios são taxados como “LES provável”. ● Muito criticados, pelo fato de não permitirem uma confirmação padronizada da doença em certas situações onde a mesma é evidente.² Critérios SLICC de 2012 16 Medicina 7º semestre ● A classificação como tendo LES pelos critérios SLICC requer que um paciente satisfaça pelo menos 4 dos 17 critérios, incluindo pelo menos 1 dos 11 critérios clínicos e um dos seis critérios imunológicos, ou que o paciente tenha nefrite comprovada por biópsia compatível com LES na presença de anticorpos ANA ou anti-DNA de fita dupla (anti-dsDNA).² ● Apesar da sensibilidade melhorada em comparação com os critérios ACR, os critérios SLICC podem atrasar o diagnóstico de LES em um número significativo de pacientes, e alguns pacientes podem não ser classificados. ² Critérios EULAR/ACR de 2019 ● A classificação para LES requer a presença de anticorpos antinucleares (ANA) positivos como critério de entrada. ² ● Os critérios aditivos consistem em sete categorias clínicas (ou seja, constitucionais, hematológicas, neuropsiquiátricas, mucocutâneas, serosas, musculoesqueléticas) e três imunológicas (ou seja, anticorpos antifosfolipídeos, proteínas do complemento, anticorpos específicos para LES), cada uma com pesos de 2 a 10. ² 17 Medicina 7º semestre ● Os pacientes são classificados como portadores de LES com pontuação igual ou superior a 10 pontos. ² Diagnósticos Diferenciais ● Artrite reumatóide: ○ Uma importante característica distintiva é que as deformidades articulares no LES são frequentemente redutíveis e raramente erosivas em radiografias simples.³ ○ Anormalidades sorológicas, como a presença de peptídeos citrulinados anticíclicos (CCP), são mais favoráveis ao diagnóstico de AR.³ ● Doença mista do tecido conjuntivo: 18 Medicina 7º semestre ○ A doença mista do tecido conjuntivo (DMTC) é caracterizada por características sobrepostas de LES, esclerose sistêmica (ES) e polimiosite (PM) e pela presença de altos títulos de anticorpos contra a ribonucleoproteína U1 (RNP).³ ● Doença indiferenciada do tecido conjuntivo: ○ Os pacientes com doença indiferenciada do tecido conjuntivo (DTC) apresentam sinais e sintomas sugestivos de doença autoimune sistêmica, mas não satisfazem os critérios de classificação para uma doença definida do tecido conjuntivo, como LES ou DMTC. Esses pacientes podem apresentar sintomas como artrite e artralgias, fenômeno de Raynaud e achados sorológicos difíceis de distinguir das fases iniciais do LES. ³ ● Esclerose sistêmica ○ A coexistência de fenômeno de Raynaud e refluxo gastroesofágico é tipicamente observada na ES;³ ○ Esclerodactilia, telangiectasia, calcinose e hipertensão maligna com insuficiência renal aguda são mais consistentes com ES do que com LES. ³ ○ Anticorpos anti-DNA de fita dupla (anti-dsDNA) e anticorpos anti-Smith (anti-Sm) que são mais específicos para LES, não são comumente observado em ES.³ ○ Pacientes com ES comumente expressam anticorpos para um antígeno chamado Scl-70 (topoisomerase I) ou anticorpos para proteínas centrômeros.³ ● Síndrome de Sjögren ○ Pacientes com síndrome de Sjögren devem ter sinais objetivos de ceratoconjuntivite seca e xerostomia e achados característicos na biópsia de glândula salivar que não são típicos de LES. ³ ○ Pacientes com síndrome de Sjögren comumente expressam anticorpos para os antígenos Ro e La. ³ ● Vasculite – Geralmente são FAN-negativos. Em vez disso, esses pacientes frequentemente apresentam anticorpos para antígenos citoplasmáticos de neutrófilos.³ ● Síndrome de Behçet – As aftas orais na síndrome de Behçet são tipicamente dolorosas, e os pacientes com síndrome de Behçet são mais comumente do sexo masculino e FAN-negativos. Além disso, o envolvimento vascular de 19 Medicina 7º semestre qualquer tamanho (pequeno, médio, grande) é mais comumente uma característica da síndrome de Behçet do que do LES. ³ ● Dermatomiosite e polimiosite – Pacientes com dermatomiosite (DM) e PM geralmente demonstram fraqueza muscular proximal mais evidente. Pacientes com DM podem apresentar achados cutâneos característicos, incluindo pápulas de Gottron, erupção heliotrópica e poiquilodermia fotodistribuída (incluindo o xale e os sinais em V). Pacientes com DM ou PM também podem expressar anticorpos específicos para miosite, como o anti-Jo-1.³ ● Doença de Still do adulto – Pacientes com AOSD geralmente apresentam leucocitose em vez da leucopenia observada no LES, e são tipicamente negativos para FAN. Concentrações de ferritina sérica marcadamente elevadas também são observadas com mais frequência na AOSD. ³ ● Doença de Kikuchi: é uma forma benigna e geralmente autolimitada de linfadenite necrosante histiocítica. As características clínicas na apresentação incluem linfadenopatia, febre, mialgias, artralgias e, menos comumente, hepatoesplenomegalia. O curso clínico geralmente é favorável, com remissão espontânea ocorrendo frequentemente em quatro meses. O diagnóstico da doença de Kikuchi é baseado em uma biópsia de linfonodo, que revela um infiltrado celular histiocitário. ³ ● Doença do soro – OsFAN são tipicamente negativos e o curso tende a ser autolimitado. ³ ● Fibromialgia – Características do LES, como erupção cutânea fotossensível, artrite e envolvimento de múltiplos órgãos, estão ausentes. A fibromialgia ocorre mais comumente em pacientes com doenças reumáticas sistêmicas do que na população geral. ³ ● Infecções – Várias infecções virais podem produzir sinais e sintomas presentes no LES, incluindo citomegalovírus e vírus Epstein-Barr, parvovírus, HIV, vírus da hepatite B e vírus da hepatite C. No entanto, os ensaios sorológicos podem ser diagnósticos para muitos desses vírus. Algumas infecções bacterianas, como Salmonella ou tuberculose, também devem ser consideradas, se apropriado.³ ● Esclerose múltipla – Neurite óptica unilateral e síndrome piramidal, com lesões detectadas pela RM sugerindo disseminação no espaço e no tempo, são características da EM. ³ 20 Medicina 7º semestre ● Malignidades – Expansão monoclonal de células B e T (conforme avaliado por imunofenotipagem), monocitose ou macrocitose podem distinguir leucemias e síndromes mielodisplásicas do LES. Os pacientes com linfoma também costumam apresentar achados adicionais, como esplenomegalia, linfadenopatia ou níveis elevados de lactato desidrogenase. ³ ● Púrpura trombocitopênica trombótica – Pacientes com PTT também apresentam anemia hemolítica microangiopática, insuficiência renal aguda, manifestações neurológicas flutuantes e/ou níveis baixos de ADAMSTS13. ³ Tratamento ● Requer definição da extensão e gravidade da doença.² ● Exige a participação de uma equipe multidisciplinar de diversas especialidades médicas, psicólogos, fisioterapeutas e farmacêuticos, além de uma estrutura de apoio hospitalar e de investigação complementar.² ● Identificação de fatores associados à reativação, como exposição à irradiação UV, infecções superpostas, distúrbios emocionais que deverão ser evitados.² ● Estimular adesão terapêutica e realizar educação do paciente e de seus familiares sobre a provável evolução natural da doença e potencial gravidade dos acometimentos, além da presença de comorbidades e danos associados ao LES e/ou seu tratamento.² ● Medidas não farmacológicas: ○ A dieta deve ser idealmente saudável e ajustada individualmente.² ○ Recomenda-se atividade física regular por conta de seus benefícios imunológicos e melhora da qualidade de vida (redução da fadiga e risco cardiovascular, e proteção da massa óssea).² ○ Repouso relativo.4 ○ O paciente precisa se proteger da luz ultravioleta, recomendando-se o uso constante de protetor solar.4 ○ Monitorização e controle da PA, glicemia e perfil lipídico, além de dieta saudável e abandono do tabagismo, pois o LES aumenta o risco cardiovascular.4 ● Medidas farmacológicas: ○ Importante estratificação clínica prévia: 21 Medicina 7º semestre ■ A forma “leve” incluiria sintomas constitucionais, articulares, lesões mucocutâneas e pleurite sem acometimentos sistêmicos que determinem risco à vida. ² ■ O LES moderado englobaria casos de gravidade “intermediária” como miosite, pericardite e trombocitopenia.² ■ A doença grave incluiria situações de risco à vida ou que determinem lesões permanentes de órgãos, tais como manifestações neurológicas, psiquiátricas, anemia hemolítica, nefrite proliferativa, miocardite, pneumonite, vasculite necrosante, pancreatite e outras.² ○ Antimaláricos ■ Pedra angular no tratamento de todos os pacientes com LES, preferencialmente a hidroxicloroquina, que deve ser prescrita desde o diagnóstico independentemente da gravidade da doença.4 ■ Melhora clínica consistente, níveis mais baixos de atividade, reativações menos frequentes, redução das doses de corticosteroides, melhor resposta no tratamento da nefrite nos estudos com MMF, menor frequência de manifestações neurológicas e de danos permanentes, além de menor mortalidade. 4 ■ A baixa adesão a esse medicamento pode ocorrer por receio de maculopatia, complicação muito rara e improvável para indivíduos com função renal normal e período de uso inferior a 5 anos.4 ○ Corticosteroides (CE) ■ Essenciais em condições agudas, apesar de seu uso ser o principal determinante de dano orgânico permanente a longo prazo. 4 ■ O aparecimento de catarata, osteoporose, osteonecrose e aterosclerose acelerada causadas pelo seu uso leva a reflexão a um emprego mais criterioso e menos intenso desses agentes.4 ■ Existe a recomendação de que a pulsoterapia com esteroides para as condições com risco à vida seja feita com metilprednisolona 500 mg IV durante 3 dias.4 ■ O alvo deve ser sempre a suspensão completa deste agente, condição bastante infrequente principalmente para os casos mais graves.4 ○ Citotóxicos ■ Drogas como ciclofosfamida, micofenolato e azatioprina são empregadas em associação aos glicocorticoides no tratamento 22 Medicina 7º semestre das manifestações mais graves da doença, citando as glomerulonefrites proliferativas como principais exemplos. 4 ■ Excetuando-se a ciclofosfamida, também podem ser usadas na terapia de manutenção, de modo a permitir uma redução na dose de corticoide (drogas “poupadoras de corticoide”).4 ■ Para as manifestações leves e/ou moderadas, além da hidroxicloroquina, está indicada a prednisona (doses entre 0,125 a 0,5 mg/kg/dia, com redução subsequente após duas a três semanas para a menor dose possível), em associação com metotrexato, leflunomida e azatioprina (AZA) se necessário.2 ■ Para os casos refratários, outros agentes imunossupressores e/ou imunomoduladores podem ser indicados, como o uso de micofenolato de mofetila (MMF) ou sódico (MS), a ciclofosfamida (CFM), dapsona e a talidomida, esta última restrita às lesões cutâneas refratárias por conta dos efeitos adversos como teratogenicidade e neuropatia axonal periférica.2 ● Nefrite lúpica ○ Para os pacientes que não tiverem obtido resposta completa ou parcial em 6 meses da indução com algum esquema de CFM ou MMF, deve-se considerar a troca de um pelo outro ou substituição por um inibidor da calcineurina ou ainda pelo rituximabe.2 23 Medicina 7º semestre ○ Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) e/ou bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA) são recomendados como antiproteinúricos para todos os pacientes (exceto contraindicação). 2 ○ Deve-se estimular uma dieta com restrição de sal, mas rica em cálcio. Suplementação de vitamina D deve ser considerada para a manutenção de níveis adequados.2 ● Manifestações neuropsiquiátricas: ○ A administração IV mensal da CFM em esquema de doses elevadas (NIH) foi superior ao uso isolado de CE.2 ● Lúpus cutâneo ○ Lesões de pele bem localizadas devem ser tratadas inicialmente com costicosteroides tópicos, inicialmente de baixa potência (ex.: hidrocortisona), podendo-se aumentar a potência em caso de insucesso (ex.: betametasona = média potência).4 ○ A injeção de corticoide de depósito (ex.: triancinolona) também é uma opção quando existe apenas uma ou poucas lesões.4 ○ Uma opção à corticoterapia tópica é o uso do creme de tracrolimus.4 ○ Nos casos refratários, ou quando a lesão cutânea é extensa, deve-se associar terapia sistêmica, de preferência com antimaláricos!4 ○ A droga de escolha é a hidroxicloroquina, na dose de 400 mg/dia. A cloroquina, na dose de 250 mg/ dia, é a segunda opção.4 ● Lúpus articular e muscular: ○ As artralgias, artrites e mialgias respondem muito bem aos AINEs convencionais.4 ○ Nos casos refratários, pode-se lançar mão da prednisona em doses baixas/ intermediárias (de ≤ 7,5 mg/dia até 30 mg/dia) ou iniciar os antimaláricos (hidroxicloroquina, cloroquina), para reduzir a dose do AINE e poupar corticoides.4 ○ Nos casos de artrite intensa e refratária, pode-se lançar mão do metrotexate, geralmente com boa resposta.4 ● Serosite lúpica ○ A pleurite, a pericardite e os derrames serosos devem ser tratados com AINES ou corticosteroides orais em doses anti-inflamatórias (até 0,5 mg/kg/dia de prednisona). 4 Casos importantes 1. LES na gestação 24 Medicina 7º semestre ● Gestações anti-Ro positivas cursamcom maior chance de lúpus neonatal e o temível bloqueio cardíaco congênito (letalidade ~ 20%).4 ● Durante a gravidez, o tratamento dos sinais e sintomas do LES deve ser feito principalmente com AINEs, corticosteroides e hidroxicloroquina. A ciclofosfamida, o metotrexate e o warfarin (antes da 14ª semana, principalmente) são contraindicados pelo risco de teratogênese.4 ● A azatioprina e o micofenolato podem ser usados com cautela em casos selecionados. 4 ● O sofrimento fetal relacionado à SAAF deve ser tratado com heparina + AAS.4 2. Contracepção ● A presença de SAAF e/ou nefrite lúpica grave contraindica ACOs combinados.4 ● Em tais casos, são preferíveis os anticoncepcionais de barreira (preservativos).4 ● O DIU deve ser evitado, pelo maior risco de hemorragia e infecção.4 ● Os contraceptivos à base de progestágenos podem ser usados sem restrições nas pacientes com LES.4 3. Lúpus fármaco-induzido ● Em indivíduos geneticamente predispostos, a exposição a certas drogas pode ocasionar reações de natureza “autoimune” que produzem manifestações clínicas parecidas com as do lúpus eritematoso sistêmico.4 ● Os três principais medicamentos envolvidos (aqueles com maior risco) são: procainamida, hidralazina e d-penicilamina. 4 ● A droga com maior risco de todas é a procainamida (20% dos pacientes desenvolvem lúpus farmacoinduzido após algumas semanas de uso), porém, a mais frequentemente associada na prática é a HIDRALAZINA, pelo fato de ser muito mais prescrita que a primeira.4 ● Outras drogas comprovadamente associadas são: minociclina, diltiazem, isoniazida, clorpromazina, metildopa, quinidina, alfa-interferon e drogas anti-TNF alfa.4 ● A doença tende a ser MAIS BRANDA do que a forma idiopática, em geral não acometendo os rins nem o sistema nervoso central. 4 ● Lesõs cutâneas “discoides” e complicações hematológicas graves também não são esperadas na forma fármaco induzida. 4 ● Apresenta FAN positivo em altos títulos (padrão homogêneo) e os anticorpos anti-histonas (grandes marcadores da síndrome) ocorrem em mais de 95% dos casos!4 ● O diagnóstico deve ser suspeitado no paciente que faz uso de uma das drogas listadas (geralmente por > 1 mês), e que evolui com um quadro variável combinando mal-estar geral, fadiga, mialgia, artralgia, febre, rash e/ou serosite.4 25 Medicina 7º semestre ● O tratamento é a simples suspensão da droga, podendo ser necessário um breve curso de AINE ou antimalárico, eventualmente corticoide em dose baixa (estes últimos nos doentes com serosite refratária).4 Prognóstico ● Pacientes com LES possuem risco 2,98 vezes maior de óbito quando comparados à população controle. ² ● O risco de morte por doença cardiovascular foi 2,7 vezes maior, por infecção, 4,9 vezes maior e por insuficiência renal, 7,9 vezes maior que o da população geral de mesma faixa etária e sexo. ² ● Manter atualizada a carteira vacinal é extremamente importante a fim de reduzir o risco de infecções. Os antimaláricos parecem aumentar as taxas de soroconversão e soroproteção das vacinas dos pacientes mesmo quando em uso de terapêuticas imunossupressoras.² Referências Bibliográficas [1] FANOURIAKIS, Antonis et al. Update οn the diagnosis and management of systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis, [s. l.], v. 80, p. 14-25, 2021. [2] NETO, Eduardo Ferreira Borba et al. Lúpus eritematoso sistêmico. In: SHINJO, Samuel Katsuyuk et al. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2021. cap. 31, p. 216-231. [3] WALLACE, Daniel J; GLADMAN, Dafna D. Systemic lupus erythematosus. In: PISETSKY, David S. UpToDate. [S. l.], 2022. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-sys temic-lupus-erythematosus-in-adults. Acesso em: 2 nov. 2022. [4] Medcurso Reumatologia, 2019 - vol.2, cap. 1. 26