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Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Artrite Idiopática Juvenil 🚨 Síndrome Articular Crônica que surge em 16+ anos → artrite persistente, durante seis ou mais semanas, descartadas outras doenças. Epidemiologia ● Doença reumática mais comum na infância e uma das doenças crônicas principais ● Incidência de 0,8-22,6 casos/100 mil crianças-ano ● Prevalência entre 7-401 casos/100 mil crianças ● Nas formas oligo e poliarticular, observa-se um predomínio do sexo feminino (3:1 e 5:1, respectivamente), mas na forma de início sistêmico não há preferência por sexo ● Pico de maior incidência por volta de 2-4 anos de vida para a forma oligoarticular. Na poliarticular, há dois picos etários: 2-4 anos e 10-14 anos Fisiopatologia ● Etiopatogenia exata desconhecida ● Provável influência genética→ alelos HLA ○ HLA-DR8 (oligoarticular), HLA-DR4 (poliarticular) e HLA-B27 (artrite associada à entesite) ● Influência ambiental desencadeante → infecção viral, bacteriana… ○ Parvovírus B19, Epstein-Barr, rubéola, Borrelia burgdorferi e Mycoplasma pneumoniae ● Mutações no TNF-alfa, fator inibidor de macrófagos (MIF), IL-6 e IL-1 alfa→ maior suscetibilidade 🤔 Exacerbação da resposta de linfócitos T → hipersecreção de citocinas de padrão Th1 (TNF-alfa, IL-1, IL-6)→ ativação de imunidade humoral e celular → linfócitos T hiperativados infiltram as articulações → sinovite crônica → hiperemia, edema e proliferação vilosa progressiva → pode culminar na formação de pannus e artrite destrutiva (erosão da cartilagem e osso subjacente). ❗ Linfócitos B também são recrutados → formação de imunocomplexos e consumo do complemento. Classificação Classificação Descrição Idade de Início e predomínio Sistêmica Artrite com ou precedida por febre diária com pelo menos duas semanas de duração, cotidiana por pelo menos 3 dias e acompanhada por pelo menos um dos seguintes: rash, linfoadenomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia ou serosite Exclusões: a, b, c, d Qualquer período da infância Não tem diferença entre sexos Oligoartrite Persistente Artrite de ≤ 4 articulações persistentemente após os seis primeiros meses de doença Exclusões: a, b, c, d, e 1-3 anos Predomínio em meninas 1 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Oligoartrite Estendida Artrite de ≤ 4 articulações nos primeiros seis meses de doença e após esse período ≥ 5 articulações Exclusões: a, b, c, d, e 1-3 anos Predomínio em meninas Poliartrite FR - Artrite de ≥ 5 articulações nos primeiros seis meses de doença com pesquisa negativa do fator reumatoide Exclusões: a, b, c, d, e 1-3 anos ou infância tardia/ adolescência Predomínio em meninas Poliartrite FR + Artrite de ≥ 5 articulações nos primeiros seis meses de doença com pesquisa positiva do fator reumatoide pelo menos duas vezes, com intervalo de três meses Exclusões: a, b, c, d, e 9-11 anos Predomínio em meninas Poliartrite relacionada a entesite Artrite e entesite ou artrite ou entesite com qualquer dois dos seguintes: ● Dolorimento da articulação sacroilíaca e/ou dor lombar inflamatória ● Pesquisa de HLA-B27 positiva ● Doença associada ao HLA-B27 em parente de primeiro ou segundo grau ● Uveíte anterior sintomática ● Sexo masculino ≥7 anos ● Exclusões: a, d, e 10-13 anos Predomínio em meninos Artrite psiriásica Artrite e psoríase ou artrite e pelo menos 2 dos abaixo: ● Psoríase diagnosticada em parente de primeiro grau ● Dactilite ● Alterações ungueais: pitting ou onicólise ● Exclusões: b, c, d, e 9-11 anos 2-4 anos Não tem diferença entre sexos Indiferenciada se preenche mais de 2 ou não preenche critérios! Exclusões: a. Psoríase ou história de psoríase em parente de primeiro grau. b. Artrite em menino HLA-B27 positivo iniciada após o 6º aniversário. c. Espondite anquilosante, artrite relacionada a entesite, sacroiliíte com doença inflamatória intestinal, síndrome de Reiter, ou uveíte aguda ou história de uma dessas desordens em parentes de primeiro grau. d. Presença de fator reumatoide IgM em pelo menos duas ocasiões em intervalo de 3 meses. e. Presença de AIJ sistêmica. Quadro clínico Idade < 16 anos + artrite em uma ou mais articulações + duração ≥ 6 semanas + Exclusão de outras formas específicas de artrite crônica juvenil. Oligoarticular → + comum → 1-4 articulações acometidas nos primeiros 6 meses da doença ● Mais chance de uveíte anterior→ meninas ○ Pode resultar em cegueira ○ Mais chance se AIJ iniciar antes dos 6 anos ○ Realizar exame oftalmológico com lâmpada de fenda ● < 6 anos ● FAN + ● Afeta mais joelhos e tornozelos ● Se após seis meses mais de quatro articulações forem acometidas, o quadro passa a se chamar "oligoartrite estendida", o que indica pior prognóstico. Caso contrário, teremos uma "oligoartrite persistente", cujo prognóstico em geral é bom (a maioria entra em remissão espontânea ou em resposta ao tratamento) ● 12-29% das crianças com AIJ. ● Tipicamente apresenta-se por artrite assimétrica, em membros inferiores, com frequente comprometimento de joelhos e tornozelos. ● Em 30-50% das vezes apenas uma articulação é afetada. ● Essas crianças não se apresentam sistemicamente doentes e, à exceção da uveíte anterior crônica, oligossintomática, associada ao FAN positivo, as manifestações extra-articulares são bastante incomuns. ● O diagnóstico é, muitas vezes, de exclusão. ● DD → traumas, infecções, tumores, outras doenças reumáticas. ● Há apenas leves ou moderados aumentos nas provas de atividade inflamatória. ● Habitualmente não há anemia e/ou alteração nas contagens leucocitárias ou das plaquetas. ● A pesquisa do FR é habitualmente negativa, ao contrário da pesquisa de FAN, positiva entre 65-85% dessas crianças, as quais apresentam alto risco de iridociclite. ● Prognóstico tem melhorado bastante nos últimos anos → contraturas articulares e às diferenças de comprimento entre os membros, secundariamente aos novos tratamentos instituídos. As sequelas das uveítes também são complicações neste grupo. Poliarticular→ 4+ articulações FR + ● Pesquisa positiva do FR com intervalo de três meses, nos primeiros seis meses de doença. ● 2-10% das crianças com AIJ. 2 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ● Semelhança fenotípica, sorológica e imunogenética com a artrite reumatoide do adulto. ● Articulações mais acometidas são punhos, metacarpofalangianas (MCFs), interfalangianas proximais (IFPs), interfalangianas distais (IFDs) e metatarsofalangianas (MTFs), seguindo-se joelhos, cotovelos, tornozelos e quadris. ● DD → outras doenças reumáticas, infecções, malignidades, doenças metabólicas e genéticas, doenças inflamatórias intestinais, sarcoidose, mucopolissacaridoses, hemoglobinopatias. ● Moderada elevação das provas de atividade inflamatória→VHS e PCR. ● Leucocitose, plaquetose e anemia de doença crônica podem estar presentes. ● O anticorpo antipeptídeo citrulinado (anti-CCP) é positivo em 57-90% destas crianças e não apresenta concordância total com a presença do FR. ● O fator antinuclear (FAN) pode estar presente em cerca de 80% dos pacientes. ● Entre as crianças com AIJ, estas apresentam a menor taxa de remissão e, historicamente, a maior frequência de limitação funcional. FR - ● 11-28% das crianças com AIJ ● Poliartrite de início insidioso, aditivo, acometendo as pequenas articulações das mãos e pés, joelhos, punhos, tornozelos e cotovelos com rigidez matinal ou após períodos de repouso. ○ ATMs são frequentemente acometidas. ○ O comprometimento dos quadris, ombros e coluna cervical é tardio. ● Manifestações sistêmicas são infrequentes, mas pode haver queixa de fadiga e déficit de crescimento. ● Uveíte crônica assintomática é a manifestação extra-articular mais comum → 15% dos pacientes → mais jovens e com FAN +. ● Há moderada elevação das provas de atividade inflamatória, leucocitose, plaquetose e anemia de doença crônica. ● A pesquisa do fator reumatoide é, por definição, negativa; no entanto, o anti-CCPpode estar positivo em até 17% destas crianças e a pesquisa do FAN positiva em até 50% delas. ● DD → outras doenças reumáticas, infecções, malignidades, doenças inflamatórias intestinais, sarcoidose, hemoglobinopatias e mucopolissacaridoses, entre outras. ● É uma doença crônica de duração prolongada, com tendência a recidiva na vida adulta, associada a altas taxas de morbidade e limitação funcional. ● Também pode haver artrite na coluna cervical, com risco de subluxação atlantoaxial e todas as suas consequências (ex.: tetraplegia). ● Podem aparecer nódulos reumatóides Sistêmica (doença de Still) → artrite + febre + rash + adeno/hepatoesplenomegalia ● 2-17% dos casos ● Fadiga, anemia, emagrecimento, dolorimento corporal difuso, especialmente no início do quadro. ● Febre→ vespertina, intermitente, com um ou dois picos diários, associada à acentuada queda do estado geral, revertida com a normalização da temperatura + acompanhada de rash cutâneo macular ou maculopapular de cor rosa claro, evanescente e raramente pruriginoso, precipitado por banho quente ou estresse psicossocial, localizado usualmente em tronco, extremidades proximais dos membros superiores e inferiores ● Artrite pode estar ausente nas primeiras semanas ou meses da doença. ● Manifestações extra-articulares → hepatomegalia, esplenomegalia, linfadenopatia generalizada, pericardite, dor abdominal e dor pleurítica com ou sem derrame pleural. ● Elevação das provas de atividade inflamatória → velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C-reativa (PCR), ferritina, fibrinogênio, além de hipergamaglobulinemia policlonal. ● Leucocitose com neutrofilia, plaquetose e anemia de doença crônica são observadas. ● O fator antinuclear (FAN) e o fator reumatoide (FR) são usualmente negativos. ● DD → infecções, malignidades e outras doenças reumáticas, como lúpus eritematoso sistêmico e vasculites primárias. ● As manifestações agudas podem durar de semanas a anos, e eventualmente recorrem a exacerbações. ● Cerca de 40% dos pacientes recuperam-se totalmente – curso monocíclico. ● Uma pequena parcela apresenta episódios recorrentes de atividade inflamatória, entremeados por períodos de remissão (curso policíclico). ● Aproximadamente 50% das crianças evoluem com doença poliarticular. ● Critérios de exclusão 3 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Psoríase ou história de psoríase no paciente ou em parente de primeiro grau ○ Artrite em paciente HLA B27 do sexo masculino, iniciada após o 6º aniversário, artrite relacionada com a entesite, sacroileíte associada à doença inflamatória intestinal, artrites reativas, uveíte anterior aguda no paciente ou história de uma dessas condições em parente de primeiro grau ○ Positividade na pesquisa do fator reumatoide em, pelo menos, duas ocasiões, em um intervalo de 3 meses ❗ A artrite crônica de grandes articulações, como o joelho, inicialmente pode acelerar o crescimento linear do osso → assimetria no tamanho dos membros ● Efeito vasodilatador das citocinas pró-inflamatórias liberadas nas proximidades da placa de crescimento → aumento do aporte sanguíneo local.. ● A persistência do processo inflamatório estimula o fechamento prematuro da placa de crescimento ● Após alguns anos, o osso fica menor do que o normal para a faixa etária!!! ○ Diferenças de tamanho > 1 cm desequilibram a marcha do paciente e já podem sobrecarregar a articulação do quadril, levando à osteoartrose acelerada. ○ Outra complicação é o surgimento de cifoescoliose adquirida, o que é típico dos casos com assimetrias muito acentuadas Artrite relacionada à entesite (ARE) ● 3-11% dos pacientes com AIJ ● Presença de inflamação das ênteses, especialmente na inserção do tendão de Aquiles, fáscia plantar e região tarsal, além de artrite predominante em membros inferiores, com comprometimento precoce do quadril. ● Progride, em alguns casos, para o comprometimento das articulações sacroilíacas e articulações da coluna vertebral. ● Manifestações extra-articulares → + frequente é a uveíte anterior aguda, bastante sintomática. ● Na fase inicial o principal diagnóstico diferencial é com a AIJo. As artrites associadas à doença inflamatória intestinal, traumas que simulam entesite e osteocondromatoses também devem ser lembrados. ● Alterações laboratoriais discretas → anemia leve de doença crônica, sem alteração dos leucócitos, plaquetose ou elevação das provas de atividade inflamatória, como a VHS e a PCR, elevação das imunoglobulinas séricas. Caracteristicamente, as pesquisas do FR e do FAN são negativas. O HLA-B27 está presente em 90% das crianças com AIJ associada à entesite. ● Na fase precoce da doença a taxa de remissão é alta, mas naquelas crianças em que a doença persiste, seu curso tende a ser mais grave, evoluindo na fase adulta para o diagnóstico de espondilite anquilosante. Artrite psoriásica juvenil (APsJ) ● Artrite e psoríase ou artrite e pelo menos dois dos seguintes: psoríase diagnosticada em parente de primeiro grau, dactilite ou alterações ungueais (pitting ou onicólise) ● 2-11% dos pacientes com AIJ. ● Apresenta dois picos de distribuição bifásicos→: entre os 2-4 anos e entre 9-11 anos. O primeiro, que tem evolução semelhante à da AIJ oligoarticular, tem maior incidência em meninas, e o segundo se assemelha em evolução às ARE. ● Relacionada à positividade do HLA-B27. ● Comprometimento articular varia de acometimento simétrico das pequenas articulações→ simula a artrite reumatoide soropositiva, ao acometimento assimétrico de grandes articulações. ○ Articulações interfalangianas distais e a presença de dactilite sugerem o diagnóstico. ● Entesites e acometimento do esqueleto axial são identificados nas crianças em que a doença se iniciou tardiamente. ● Além das manifestações cutâneas, que podem ser atípicas e tardias e ungueais → sinais de doença sistêmica → anorexia, anemia e redução da velocidade de crescimento. ● As provas de atividade inflamatória (VHS e PCR) são, na maioria das vezes, normais. ● O FAN está positivo em baixos títulos em 60% dos pacientes mais jovens e em 30% dos mais velhos. 4 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ● Uveíte crônica, indistinguível da que ocorre nas outras formas de AIJ, especialmente naquelas crianças cursando com FAN positivo, ocorre em 10-15% dos pacientes com APsJ. Uveíte aguda, semelhante à identificada nas crianças com ARE, é identificada nos pacientes em que a doença se iniciou mais tardiamente. Artrite indiferenciada ● Inclui aquelas crianças que não preenchem critérios para uma categoria ou preenchem critérios para mais de uma categoria. Exames complementares Exame oftalmológico: Hemograma ● Anemia de doença crônica → normo-normo ou hipo-micro em casos graves e prolongados ● Leucocitose ● Trombocitose Aumento de marcadores inflamatórios ● PCR e VHS→ na oligo leve podem estar normais ● AIJ de início sistêmico → parâmetros inflamatórios em geral estão MUITO alterados FAN + em 40-85% dos casos de AIJ oligo ou poliarticular, mas raramente é positivo na doença de início sistêmico. O fator reumatoide pode ser detectado em 5-10% das AIJ poliarticulares, e eventualmente o anti-CCP (antipeptídeos citrulinados cíclicos) também está presente. ● Ambos costumam ser negativos na AIJ de início sistêmico. Alterações radiográficas iguais a AR ● Redução do espaço articular, secundária a destruição articular decorrente da sinovite, erosões ósseas marginais podem ser identificadas. ● Anquilose óssea → importante nas articulações do carpo e do tarso. ● Especial ênfase deve ser dada ao acometimento da coluna cervical, com alterações que predominam nos segmentos cervicais superiores. ● Alterações nos centros de crescimento e maturação óssea com consequente alteração da modelação óssea podem ser observadas. USG ● Detecção de sinovite subclínica, identificação de dano articular precoce, monitoramento de resposta ao tratamento e para guiar injeções intra-articulares.RM ● Detecção precoce da sinovite, do dano cartilaginoso e das lesões ósseas nos pacientes com AIJ, muito mais sensível que a radiologia convencional e que a ultrassonografia. ● Interpretação da imagem deve ser cuidadosa, uma vez que alterações fisiopatológicas do crescimento podem mimetizar edema ósseo, efusões e até erosões. Diagnóstico diferencial ● LES ● Febre reumática ● Dermatomiosite juvenil ● Esclerose sistêmica ● Vasculites sistêmicas ● Sarcoidose ● Hepatite autoimune ● Infecções virais ● Artrite reativa ● Doença de Lyme ● Artrite tuberculosa ou fúngica ● Epifisiólise femoral ● Doença de Legg-Calvé-Perthes ● Leucemia linfoide aguda ● Neuroblastoma Diagnóstico Depende da identificação de um padrão de acometimento articular, bem como da presença ou não de certas manifestações clínico laboratoriais exclusivas!!!! Primeiro tem que descartar outras condições que também provocam artrite em crianças, mas que possuem critérios de classificação próprios!!!!!!!! 5 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Tratamento 😷 Visa à remissão total de todas as manifestações da doença, prevenção de sequelas e melhora da qualidade de vida. Para alcançar esses objetivos são necessárias consultas frequentes e regulares para avaliar o grau de atividade da doença por meio de instrumentos apropriados e decidir junto a família e ao paciente os ajustes necessários. Oligo ● AINE como 1º escolha ● Glicocorticoide intra-articular → repetição da injeção pode ser feita com intervalo mínimo de 4 meses e nunca deve ultrapassar 3 infiltrações no ano. ● Objetivo→ alívio de sintomas e indução da remissão Poli ● AINE p/ alívio sintomático→ não usar em monoterapia nem por tempo prolongado ○ Se ñ adiantar pode tentar corticoide em baixas doses, mas evitar pq dá muito efeito colateral ● DARMD ○ Escolha → metotrexato → inicia quando diagnóstico for confirmado ■ Se grande limitação funcional, os glicocorticosteróides em baixas doses e por tempo limitado podem ser considerados no início do tratamento → enquanto se aguarda a resposta ao MMCD. ■ Intolerância ou ausência de resposta ao MTX→ eflunomida. ○ Se refratário → usa biológicos → antagonistas do TNF-alfa, anti-interleucina Artrite relacionada a entesite ● AINH e GC-IA. ● Nos casos de falha terapêutica em que haja artrite periférica, a sulfasalazina e MTX podem ser indicados. ● A presença de sacroiliíte ou entesite não responsiva pode ser indicativa da necessidade de inibidor de TNF-α. ● Sulfassalazina é indicada nos casos de artrite relacionada com a entesite e na doença inflamatória intestinal, na dose de 40 a 60 mg/kg/dia (máximo de 2 g), em duas tomadas diárias Artrite psoriásica ● Deve ser tratada do mesmo modo como se apresenta: oligoartrite, poliartrite ou com entesite e sacroiliíte. Artrite sistêmica ● Manifestações sistêmicas → pulsos intravenosos de metilprednisolona, seguida do uso de prednisona oral. ○ Se ao final de sete dias a febre estiver controlada e a proteína C-reativa reduzida em 50%, poderá ser iniciada a redução da dose do corticoide. 6 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA 7 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Caso não haja resposta satisfatória, um novo pulso endovenoso deve ser programado na semana seguinte. ○ Se após 2 semanas a febre persistir ou se continuar necessitando de glicocorticoide, um MMCDb deve ser iniciado → tocilizumabe que atua em manifestações sistêmicas e articulares. ● Glicocorticoide intra-articular e AINE também podem ser considerados como terapia adjuvante. ● Casos complicados com síndrome de ativação macrofágica → pulsos de metilprednisolona + ciclosporina por via EV ou oral. ● Sem manifestações sistêmicas ativas, mas persistem com poliartrite → anti-IL-6 pode ser iniciado e, em caso de falha, substituição de biológicos. 8 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Complicações Síndrome de ativação macrofágica ● 5-40% dos pacientes → complicação hematológica→ fagocitose de células sanguíneas, podendo atacar células progenitoras → massiva secreção de citocinas proinflamatórias → progressiva falência de diversos órgãos e sistemas e mortalidade de cerca de 8%. ● Febre alta persistente, hepatoesplenomegalia, linfadenomegalia generalizada, disfunção do sistema nervoso central e manifestações hemorrágicas. ● Manifestações laboratoriais → pancitopenia, elevação da ferritina sérica, das enzimas hepáticas, da lactato desidrogenase, dos triglicerídeos, do D dímero e do alfarreceptor solúvel da interleucina 2 (IL2), também conhecido como CD 25 solúvel, redução do fibrinogênio e queda da VHS. ● Imagem histopatológica → acúmulo de macrófagos bem diferenciados exibindo atividade hemofagocítica na medula óssea. ● Diagnóstico precoce e o rápido início do tratamento são mandatórios para uma evolução satisfatória. ● Ferritina > 684 ng/mℓ e qualquer dos seguintes sintomas: ○ Plaquetas ≤ 180 × 103/ℓ ○ Triglicerídeos > 156 UI/ℓ ○ Fibrinogênio ≤ 360 mg/dℓ ○ Aspartato aminotransferase ≥ 48 UI/ℓ. 9 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Uveíte ● Insidiosa, não granulomatosa e bilateral em 70 a 80% dos casos ● Característica da oligoartrite (persistente ou estendida) em sua maior parte, e, em menor proporção, das crianças com APsJ ou com poliartrite FR negativo. ● Em seu início, é inteiramente assintomática em cerca de 50% dos acometidos. ● Pode apresentar dor e hiperemia oculares, cefaléia, fotofobia e queda da acuidade visual. ● Comum nas meninas com AIJ oligoarticular menores de 6 anos de idade com a pesquisa do FAN positiva. ● Diagnóstico → exame de biomicroscopia com lâmpada de fenda → identifica se há células inflamatórias na câmara anterior dos olhos. ● As complicações são frequentes, aumentam com o maior tempo de doença ativa e incluem sinéquias posteriores, catarata, ceratopatia em faixa e glaucoma, com consequente cegueira. ● Uveíte aguda ○ Mais comum em meninos ○ Maioria das vezes unilateral e bastante sintomática, associada a hiperemia, dor e fotofobia, o que facilita o diagnóstico. ○ Está fortemente associada à artrite relacionada com a entesite e à presença do HLA-B27. ○ As sequelas de médio e longo prazo são incomuns, uma vez que o tratamento se inicia precocemente em virtude dos sintomas. Lúpus Pacientes podem manifestar muitos sintomas e sinais, apresentados de forma aguda ou insidiosa. Diagnóstico Critérios de Classificação do Lúpus Eritematoso Sistêmico - ACR 1. Eritema malar. 2. Eritema discóide. 3. Fotossensibilidade. 4. Úlcera de mucosa oral ou nasal. 5. Artrite não erosiva. 6. Serosites (pleurite e/ou pericardite). 10 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA 7. Alterações renais (proteinúria superior a 500 mg/dia e/ou cilindrúria). 8. Alterações neurológicas (convulsão e/ou psicose na ausência de distúrbios metabólicos, hipertensão arterial ou infecções). 9. Alterações hematológicas: anemia hemolítica com reticulocitose e/ou leucopenia (menos que 4.000/mm3) e/ou linfopenia (menos que 1.500/mm3) e/ou plaquetopenia (menos que 100.000/mm3) em duas ou mais ocasiões. 10. Alterações imunológicas: anticorpos antifosfolipídios (anticardiolipina IgM ou IgG e/ou anticoagulante lúpico e/ou reações sorológicas falsamente positivas para sífilis) e/ou anticorpo anti-DNA e/ou anticorpo anti-Sm. 11. Fator antinúcleo (FAN) positivo. 🔍 Para o diagnóstico do LESJ, são necessárias, ao menos, quatro manifestações de forma concomitante ou evolutiva. → Pacientes demoram, em média, 4 meses para preencher os critérios. SLICC → quatro ou mais dos 17 critérios, simultânea ou evolutivamente, durante qualquer intervalo de tempo. → pelo menos um critério clínico e um imunológico: 🩺 Critérios clínicos: ● Lúpus cutâneo agudo → eritema malar, lúpus bolhoso, necrólise epidérmica tóxica, eritema maculopapular, fotossensibilidade (na ausência de dermatomiosite), lúpus cutâneo subagudo (lesões psoriasiformes não enduradas ou lesões anulares policíclicas que resolvem sem deixar cicatriz, apesar de ocasionalmenteocorrer despigmentação pós-inflamatória ou telangiectasias) ● Lúpus cutâneo crônico → lúpus discoide clássico localizado (acima do pescoço) e generalizado (acima e abaixo do pescoço), lúpus hipertrófico (verrucoso), paniculite lúpica (lúpus profundo), lúpus mucoso, lúpus túmido, lúpus pérnio, lúpus discoide/superposição com líquen plano ● Úlceras orais → localizadas no palato, boca, língua ou narinas na ausência de outras causas, como vasculite, doença de Behçet, infecções (como herpes), doença inflamatória intestinal, artrite reativa e alimentos ácidos ● Alopecia → afilamento difuso ou fragilidade capilar com cabelos quebradiços visíveis na ausência de outras causas, como alopecia areata, fármacos, deficiência de ferro e alopecia androgênica ● Artrite → envolve duas ou mais articulações (edema ou derrame articular) ou artralgia em duas ou mais articulações e rigidez matinal de 30 min ou mais ● Serosite → dor pleurítica por mais de 1 dia ou derrame pleural ou atrito pleural, dor pericárdica típica (dor em posição deitada que melhora ao se sentar com o tronco para a frente) por mais de 1 dia ou efusão pericárdica ou atrito pericárdico ou eletrocardiograma com sinais de pericardite na ausência de outras causas, como infecções, uremia ou pericardite de Dressler ● Problema renal→ elevação da relação entre proteína e creatinina urinárias ou proteinúria de 24 h com mais de 500 mg de proteína em 24 h ou presença de cilindros hemáticos ● Problema neuropsiquiátrico → convulsão, psicose, mielite, mononeurite múltipla (na ausência de outras causas, como vasculite primária), neuropatia periférica ou de nervos cranianos (na ausência de outras causas, como vasculite primária, infecção e diabetes melito), estado confusional agudo (na ausência de outras causas, como toxicometabólicas, uremia e drogas) ● Anemia hemolítica ● Leucopenia < 4.000/mm3 ou linfopenia < 1.000/mm³ ○ Na ausência de outras causas conhecidas, como síndrome de Felty, drogas ou hipertensão ○ Linfopenia: na ausência de outras causas conhecidas, como glicocorticosteroides, drogas e infecções ● Trombocitopenia < 100.000/mm³ ○ Na ausência de outras causas conhecidas, como drogas, hipertensão portal e púrpura trombocitopênica trombótica 🔬 Critérios imunológicos: ● Fator antinuclear (FAN) acima dos valores de referência ● Anticorpo anti-DNA dupla-hélice acima dos valores de referência, exceto se utilizada a técnica de ensaio imunoenzimático (ELISA), quando o resultado deve estar acima de duas vezes o valor de referência ● Anticorpo anti-Sm ● Anticorpo antifosfolipídio → qualquer um dos seguintes:: ○ Anticoagulante lúpico ○ VDRL falso-positivo ○ Anticardiolipina em médios ou altos títulos (IgA, IgG ou IgM ○ Antibeta-2 glicoproteína I (IgA, IgG ou IgM) ● Redução dos valores do complemento: 11 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ C3 baixo ○ C4 baixo ○ CH50 baixo ● Teste de Coombs direto positivo: ○ Na ausência de anemia hemolítica. ⚠ Paciente poder ser classificado como LESJ se apresentar nefrite isolada com um dos autoanticorpos: FAN ou anticorpo anti-DNA de dupla-hélice positivo. EPIDEMIOLOGIA ● Gênero feminino, idade e etnia constituem fortes influências quando da avaliação da incidência entre crianças no período pré e pós-puberal. ● No sexo masculino, entre crianças de 1 a 9 anos, a frequência de LESJ é de 1 para cada 100 mil, e na idade de 10 a 19 anos, 1,61 para cada 100 mil. ● No sexo feminino, em indivíduos de pele branca, o aumento na puberdade vai de 1,27 a 4,40 por 100 mil; nas afro-americanas, de 3,72 a 19,86 por 100 mil e nas asiáticas, de 6,16 a 31,14 por 100 mil; e nas hispânicas, de 4,62 a 13 por 100 mil.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em aproximadamente 15% dos pacientes, o LES se inicia antes dos 18 anos de idade, caracterizando o LESJ. ● Crianças <5 anos → doença é muito rara e a idade de início pode contribuir para uma diferenciação tanto no curso da doença quanto na apresentação clínica, no envolvimento de órgãos e na positividade de autoanticorpos. ● LES de início na infância apresenta maior gravidade quando comparado ao de início na vida adulta, e a menor idade de início correlaciona-se com o pior prognóstico. ● Acometimento de múltiplos órgãos e sistemas, podendo se manifestar de modo extremamente variável em cada caso. ● Pode se apresentar de maneira insidiosa, com o surgimento gradual dos sintomas durante vários meses, mas, na infância, costuma ter forma mais aguda, com o comprometimento de vários órgãos simultaneamente e gravidade variável, em questão de poucas semanas. Sintomas constitucionais ● Febre, perda de peso, astenia e anorexia. 12 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Febre pode assumir diferentes padrões de frequência e intensidade, estando relacionada com os períodos de ativação da doença. P ○ Perda de peso (até 40% dos casos) está associada à atividade da doença. Comprometimento reticuloendotelial ● Adenomegalia localizada ou generalizada e hepatoesplenomegalia → manifestações inespecíficas de uma doença inflamatória sistêmica. ● Elevação de enzimas hepáticas → raramente se observa comprometimento autoimune do fígado. ○ A associação de LESJ com hepatite autoimune tipo 1, caracterizada por elevação das enzimas hepáticas, hipergamaglobulinemia, presença de FAN e anticorpo antimúsculo liso e biopsia hepática compatível, ocorre em menos de 2% dos pacientes. ○ A asplenia funcional tem sido descrita em crianças com lúpus no decorrer do curso da doença, aumentando o risco de infecções por agentes capsulados. Manifestações gastrintestinais ● Frequentemente relacionados com o tratamento medicamentoso e as infecções oportunistas. ● Dor abdominal → gastrite autoimune, vasculite mesentérica, infarto esplênico e peritonite. ● Pancreatite aguda representa um acometimento raro, mas muito grave em pacientes com LESJ → associada à intensa atividade da doença e à síndrome de ativação macrofágica. Comprometimento mucocutâneo ● Vasculites, púrpura palpável, urticária, eritema polimorfo, eritema palmoplantar, pequenos infartos digitais, úlceras, livedo reticular, fenômeno de Raynaud, nódulos subcutâneos, paniculite lúpica, lesões bolhosas. ● Quadros cutâneos podem ser desencadeados ou exacerbados pela exposição solar → maior distribuição das lesões cutâneas em áreas expostas, como face, pescoço e membros superiores. ● Lesões subagudas e crônicas são raras na infância!!!!!!! ● Lúpus discoide inicia como uma placa ou pápula eritematodescamativa aderida e que evoluiu para lesão hipo ou hipercrômica cicatricial. ● Alopecia observada com frequência, geralmente consistindo em uma perda difusa e podendo se concentrar na região frontal. ○ Relacionada com a atividade de doença! ○ Reversível em períodos de remissão. ○ Quando de lesões discoides no couro cabeludo, as lesões são irreversíveis. ● Mucosas com lesões de bordas eritematosas, centro claro e habitualmente indolores que afetam lábios, palato duro, palato mole, gengiva e septo nasal. Comprometimento musculoesquelético ● Muito comum no lúpus juvenil ● Artrite e artralgia representam as manifestações mais frequentes e podem afetar grandes e pequenas articulações, habitualmente de modo simétrico, com caráter agudo e recorrente e que, em geral, melhoram sem deformidades. ● Pode-se observar osteonecrose avascular (40%) na epífise de ossos longos, especialmente nas regiões de joelhos e quadris, secundária à vasculite, ao uso crônico de corticosteroides ou, ainda, à existência de anticorpos antifosfolipídios. → Dolorosa e incapacitante. ● Musculatura → mialgia e fraqueza muscular → pode estar relacionada com a atividade do lúpus ou com o uso de corticosteroides. Comprometimento hematológico ● Todas as séries hematológicas podem estar comprometidas!!!!!1 ● Anemia, com níveis de hemoglobina menores que 10 g/dℓ → pode se relacionar com a baixa produção ou a destruição periférica causada pela presença de autoanticorpos → anemiahemolítica autoimune → pode preceder em anos os demais sintomas da doença. ● Leucopenia abaixo de 4.000 leucócitos/mm³ → linfopenia (níveis menores que 1.500 linfócitos/mm³), predispondo a processos infecciosos. ● Trombocitopenia autoimune → plaquetas abaixo de 100.000/mm³ → tbm pode ser a primeira manifestação da doença. Comprometimento cardíaco ● Manifestações frequentemente subclínicas → detectadas no eco ou estudos em necropsias. ● Todos os folhetos cardíacos podem ser acometidos → pericárdio mais afetado ● Válvulas cardíacas → espessamento de folhetos, lesões verrucosas não infecciosas ou perfurações, caracterizando a endocardite de Liebman-Sacks. 13 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Valvulopatia de Liebman-Sacks está fortemente associada à presença de anticorpos antifosfolipídios! Comprometimento pulmonar ● Oligossintomático. ● Pleurite com ou sem derrame pleural pode se manifestar com dor torácica→ + comum! ● Pneumonite intersticial pode ser observada na radiografia de tórax como infiltrados parenquimatosos. ● Hipertensão pulmonar, fenômenos tromboembólicos e disfunção diafragmática. Comprometimento renal ● Nefrite → surge em até 70% dos casos de LESJ → manifesta-se em geral nos primeiros 2 anos de doença. ○ Hematúria, leucocitúria, proteinúria, cilindrúria, edema, hipertensão ou alteração da função renal, podendo evoluir para insuficiência renal aguda ou crônica. ● Sugere-se sempre realizar biopsia renal nos pacientes com evidência de comprometimento renal, pois torna possível classificar as alterações histológicas e avaliar o índice de atividade e cronicidade das lesões ● Apresentação clínica da nefrite varia → alterações urinárias leves, síndrome nefrítica ou nefrótica e insuficiência renal dialítica.→Após o tratamento, pode entrar em remissão ou apresentar recidiva a qualquer momento. Envolvimento neuropsiquiátrico ● Pode compreender a primeira manifestação da doença, mas aparece com maior frequência durante a evolução. ● Alterações mais frequentes → cefaleia, distúrbios do humor (especialmente a depressão), convulsão, alterações cognitivas, estado confusional agudo, psicose e acidente vascular encefálico. ● Mielite transversa é rara, e a coreia, quando representa a primeira manifestação do lúpus, deve ser diferenciada daquela que surge na febre reumática. Comprometimento ocular ● Perda visual pode resultar de retinopatia com microangiopatia, doença vasoclusiva da retina, neurite óptica, uveíte, esclerite, catarata e glaucoma, variando de transitória, perda visual leve até cegueira irreversível. ● Pode-se observar ceratoconjuntivite seca e vasculite retiniana. ● Outras manifestações mais raras incluem coroidite, episclerite, esclerite, ceratite, conjuntivite, neurite óptica e oftalmoplegia. Manifestações endócrinas ● Tireoidite e diabetes autoimune. ● Podem ocorrer irregularidades menstruais decorrentes da atividade da doença, do uso de altas doses de corticosteroides e da ciclofosfamida. Síndrome de ativação macrofágica ● Igual da AIJ Síndrome antifosfolipídio ● Define-se pela existência de pelo menos um evento trombótico em vasos de qualquer calibre em qualquer sítio do organismo ou perdas fetais recorrentes, em associação a anticorpos antifosfolipídios (anticardiolipina IgG ou IgM, anticoagulante lúpico ou antibeta-2 glicoproteína 1 IgG ou IgM) positivos em duas ou mais ocasiões com ao menos 12 semanas de intervalo. ● Em aproximadamente metade dos pacientes que desenvolvem SAF na infância, a doença está associada a outra condição autoimune (SAF secundária). → Pctes com SAF secundária desenvolvem a doença em uma idade mais avançada (em média 12,8 anos) e, com maior frequência, eventos trombóticos venosos associados a manifestações hematológicas e cutâneas. MANIFESTAÇÕES LABORATORIAIS Fator antinúcleo ● Considera-se que praticamente todos os pacientes lúpicos apresentem fator antinúcleo (FAN) positivo. ● Os padrões mais frequentemente associados ao LES são o nuclear homogêneo e os pontilhados fino e grosso. ● O único padrão específico de LES é o padrão nuclear pontilhado pleomórfico sugestivo de anticorpos anti-PCNA. Anticorpo anti-DNA de dupla-hélice ● Metade dos pacientes com LESJ é positiva para esse anticorpo ● Considerado um marcador de LES → especificidade é de cerca de 96%. 14 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ● Importância prognóstica → associação com o comprometimento renal desses pacientes, útil para o seguimento → ocorrência associada à atividade da doença Anticorpo anti-Sm ● Também considerado um marcador do diagnóstico do LES ● Sua positividade é observada em apenas 30% dos casos. ● À imunofluorescência, na pesquisa do FAN, o padrão é nuclear pontilhado grosso. Anticorpos antifosfolipídios ● Positividade dos anticorpos antifosfolipídios (aPL) varia durante a evolução dos pacientes com LES → maior quanto maiores o tempo de seguimento e a frequência de sua pesquisa. ● Anticorpos anticardiolipina → mais comumente encontrados ● Fenômenos trombóticos são mais frequentes naqueles pacientes positivos para o anticorpo anticoagulante lúpico. Anticorpos antiproteína P ribossômico ● Altamente específicos do LES, porém com baixa sensibilidade. ● Existência associada ao comprometimento neuropsiquiátrico, especialmente psicose e depressão. Anticorpos antinucleossomo ● Anticorpos relacionados com a etiopatogenia da doença. ● Acredita-se que sejam os primeiros a se formarem no desenvolvimento do lúpus, até mesmo anos antes do estabelecimento do seu diagnóstico. ● Apresentam sensibilidade e especificidade, semelhantes àquelas observadas para o anticorpo anti-DNA. Complemento sérico ● Níveis séricos diminuídos de C3 e C4 estão relacionados com comprometimento renal, recidiva e atividade do LESJ, podendo, ainda, auxiliar na diferenciação da glomerulonefrite lúpica de outras doenças renais. ● Deficiência de C1q é um fator genético relacionado com LESJ de início precoce. → doença mais grave, com predomínio de comprometimento renal e cutâneo. Proteinúria ● Marcador para o envolvimento renal Biomarcadores urinários ● Urinary neutrophil gelatinase associated lipocalin, monocyte chemoattractant protein 1 e transforming growth factor-beta, têm sido estudados em pacientes com LESJ. ● Marcadores da detecção da nefrite lúpica usados como preditores de recidiva, resposta ao tratamento e prognóstico. Vitamina D ● Deficiência de vitamina D associada à atividade da doença com maiores valores de SLEDAI e menores valores de C4, bem como à diminuição da densidade mineral óssea Diagnósticos diferenciais ● Outras doenças autoimunes sistêmicas → artrite idiopática juvenil, dermatomiosite juvenil e púrpura de Henoch-Schönlein/vasculite por IgA ● Infecções agudas e crônicas (vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, toxoplasma, tuberculose e fungos) ● Neoplasias (leucemia, linfoma e neuroblastoma) ● Glomerulonefrites de outras causas ● Doenças metabólicas e doenças autoinflamatórias. TRATAMENTO Corticosteróides (prednisona ou prednisolona) na dose de 1 a 2 mg/kg/dia ou pulsoterapia com metilprednisolona (30 mg/kg/dose) por 3 a 5 dias consecutivos → tratamento inicial preconizado para o paciente com LESJ. ○ Doses devem ser progressivamente reduzidas até sua suspensão completa, minimizando seus eventos adversos. Hidroxicloroquina → utilizada para todos os pacientes (independentemente do órgão ou do sistema acometido) na dose de 3 a 5 mg/kg/dia → redução precoce da corticoterapia + diminuição das recidivas → reduz a mortalidade, dislipidemia e anticorpos antifosfolipídios. Ciclofosfamida ● Glomerulonefrites classes III e IV→ intravenosa como medicação para indução. 15 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ National Institute of Health (NIH)→ 6 meses consecutivos com doses entre 500 mg e 1 g/m2, mensalmente. ● Para manutenção da remissão, as opções incluem azatioprina (1 a 3 mg/kg/dia) ou micofenolato mofetila (50 a 60 mg/kg/dia).● Nos casos refratários, rituximabe compreende uma alternativa, embora o alto custo muitas vezes impossibilite seu uso. ● Novas terapias biológicas, como belimumabe, também são promissoras. Para o LESJ com envolvimento neuropsiquiátrico, o tratamento inclui terapia sintomática e imunossupressores. ● Terapia sintomática → psicotrópicos (antidepressivos e antipsicóticos ● Cclofosfamida mostrou se tratar de uma boa opção terapêutica, com controle das manifestações neuropsiquiátricas graves ou refratárias. ● Nos casos resistentes, ou que apresentam recorrência o omo medicação de manutenção, a azatioprina e o micofenolato mofetila representam alternativas. Comprometimento articular ● Corticosteroides em baixas doses ou anti-inflamatório não hormonal (preferencialmente naproxeno → ibuprofeno pode estar associado à meningite asséptica. ● ⚠ Em casos de nefrite, deve-se evitar os anti-inflamatórios não hormonais. ● O metotrexato é indicado nos casos refratários ou com evolução para artrite crônica. Manifestações pulmonares graves → altas doses de corticosteroides e ciclofosfamida. Para os que fazem uso de corticosteroides por longos períodos, indicam-se cálcio e vitamina D na prevenção da perda de massa óssea. Pode-se avaliar a resposta terapêutica por meio de cinco variáveis: 1. Escala visual analógica (0 a 10 cm) realizada pelo médico sobre atividade global da doença do paciente. 2. Escala visual analógica (0 a 10 cm) realizada pelo pai ou responsável sobre bem-estar global do paciente. 3. Comprometimento-renal (proteinúria 24 h). 4. Instrumentos de atividade da doença, como European Consensus Lupus Activity Measurement (ECLAM), SLEDAI ou Systemic Lupus Activity Measure (SLAM). 5. Avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde (QVRS). EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO ☠ As causas mais importantes de mortalidade são doença renal, graves recidivas da doença e infecção. 📏 Redução do Z escore de altura, elevação do Z escore de massa corpórea e atraso da puberdade foram observados nos 16 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA pacientes com LESJ, especialmente naqueles de gênero masculino, menor idade de início da doença e dose cumulativa de corticosteroide acima de 400 mg/kg. ● Outros fatores que contribuem para diminuição da densidade mineral óssea nesses pacientes são a maior atividade da doença → altas doses de corticosteroides por tempo prolongado 👶 A reserva ovariana e a espermatogênese dos pacientes com LESJ também são prejudicadas após o tratamento com ciclofosfamida. Dor de Crescimento 😖 Episódios recorrentes e autolimitados de dor nos membros em crianças em idade pré-escolar e escolar precoce, geralmente afetando as extremidades inferiores. Essas dores ocorrem no final do dia e são frequentemente noturnas, despertando a criança do sono. ● Benignas, não estão associadas a incapacidades funcionais e se resolvem ou diminuem em gravidade e frequência na segunda década de vida. ● A etiologia ainda é desconhecida, mas essas dores provavelmente têm múltiplas causas e representam condições heterogêneas com um padrão clínico comum para o qual o manejo pode diferir. Epidemiologia ● Prevalência varia de 1,24 a 57% → causa mais comum de dor musculoesquelética episódica em crianças. A ● Pouco mais comuns entre as meninas do que entre os meninos ● A idade mais comum é entre 3 e 12 anos. ● Prevalência diminui em crianças com mais de 10 anos de idade ● Período de gestação curto, baixo índice de Apgar, baixo comprimento ou peso ao nascer e menor circunferência da cabeça foram positivamente correlacionados com o desenvolvimento de dores de crescimento na infância. Houve também correlação positiva com maior grau de geno valgo. ● Muitas crianças que são observadas devido a dores nas pernas também podem apresentar alterações anatômicas, como postura pronada do pé Etiologia Não existem consensos, mas propõem-se que os seguintes fatores atuem: ● Associação genética ● Fatores mecânicos ○ Hipermobilidade ○ Diminuição da força de dorsiflexão do tornozelo e genu valgo ○ Uso excessivo/diminuição da força óssea → aumento do nível de atividades físicas aumentou a dor ● Deficiência de Vit. D → osteoblastos continuam a depositar uma matriz de colágeno emborrachado nas superfícies endosteal e periosteal do esqueleto, causando uma pressão externa nas fibras sensoriais de dor periosteal e conseqüentes dores de crescimento ● Síndrome de dor não inflamatória ● Fator psicológico→ irritabilidade, nervosismo, medo do escuro, pesadelos, enurese noturna, tiques e reação exagerada à dor. ● Podem ser uma síndrome de amplificação da dor não inflamatória generalizada da primeira infância. ● Clínica Dor intermitente bilateral nas pernas que ocorre principalmente no final do dia ou à noite, mas desaparece pela manhã, com ausência de envolvimento articular, vermelhidão, sensibilidade, inchaço e claudicação. ● Mais comum em MMII ● Dor não articular ● Muitas vezes, os pais/cuidadores podem prever a ocorrência de um episódio doloroso em dias de aumento da atividade física, agitação excessiva ou fadiga da criança ou após uma noite de sono ruim. ● Aliviada por massagem, calor ou AINEs ● Limiar de dor do paciente é menor Outros sintomas e achados → dor abdominal recorrente e/ou dores de cabeça. Algumas crianças podem apresentar hipermobilidade, geno valgo, pé plano flexível, postura pronada do pé ou, inversamente, tendões tensos Avaliação História ● Características da dor ○ Com que idade começaram os episódios dolorosos? 17 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Com que frequência esses episódios ocorrem? ○ Onde está a dor? É bilateral ou unilateral? Na articulação, músculo ou osso? Localizada ou difusa? ○ Qual é a sensação da dor (para crianças mais velhas; por exemplo, cãibras, dor, desconforto)? ○ Em que momentos do dia a dor ocorre? ○ Acorda a criança à noite? Se sim, quanto tempo depois que adormece? ○ Sente vontade de mexer a perna? ■ Associação com sd das pernas inquietas ○ Há dor ou rigidez pela manhã? ○ A criança manca? ○ O que desencadeia a dor (por exemplo, aumento da atividade, cansaço, falta de sono, estresse, excitação como aniversários ou férias)? Os episódios dolorosos podem ser previstos antes de sua ocorrência? O uso de um diário pelos pais/responsáveis pode ajudar a responder a essa pergunta. ○ Existe alguma atividade específica que causa dor? ○ A dor ou cansaço muscular ocorre durante ou imediatamente após o exercício? O repouso melhora a dor? Existe história de rabdomiólise (sugere uma miopatia metabólica)? ○ Quanto tempo dura a dor? ○ Quão severa é a dor? A criança chora ou grita? A dor piora com o tempo? ○ O que melhora a dor (por exemplo, massagem, compressas mornas, medicamentos, movimento das pernas)? ○ Afeta a atividade e/ou função da criança (por exemplo, correr, pular, praticar esportes, brincar), caminhar, dormir ou frequentar a escola? ○ Os episódios de dor ocorrem em torno de eventos que a criança deseja evitar (por exemplo, dias de aula, com menos episódios nos finais de semana)? ● Outros sintomas ou exposições : ○ Existem outros sintomas (por exemplo, febre, inchaço, eritema, fadiga, mal-estar, perda de peso, erupções cutâneas, vermelhidão/dor nos olhos)? ○ A criança tem dores de cabeça recorrentes ou dor abdominal? ○ Há fraqueza muscular? ○ Existe história de doença recente (por exemplo, infecção viral, infecção estreptocócica do grupo A)? ○ Existe uma história recente de viagem (por exemplo, para uma região endêmica da doença de Lyme)? ● Histórico familiar : ○ Origem/etnia da família, anemia falciforme, doença metabólica ou óssea, distúrbios reumatológicos ○ Existe uma história familiar de dores de crescimento ou outros tipos de dor (por exemplo, fibromialgia, enxaqueca, síndrome do intestino irritável ou dor inexplicável nas extremidades)? ○ Existe um histórico familiar de hipermobilidade? ● Outras perguntas : ○ Como foi o desenvolvimentoda criança (especificamente marcos motores grossos)? ○ Há ingestão adequada de cálcio e vitamina D? A dieta da criança é restrita (por exemplo, falta de frutas e verduras)? ○ A criança tem dificuldades emocionais ou comportamentais ou ansiedades? 18 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Existem estressores específicos em casa ou na escola (tanto para a criança quanto para os pais/cuidadores)? Exame físico ● Normal → com exceção de achados estruturais menores, como hiper ou hipomobilidade e postura pronada do pé. ● Marcha, hipermobilidade, anormalidades mecânicas, força muscular, articulações, palpação de pontos dolorosos Complementar ● Hemograma completo ● Velocidade de hemossedimentação e/ou proteína C-reativa ● Testes laboratoriais complementares (por exemplo, para distúrbios reumatológicos, infecciosos, metabólicos e hematológicos) e exames de imagem, incluindo a escolha da modalidade apropriada, são individualizados e baseados na apresentação clínica e nos achados físicos. ● Radiografias são úteis para investigar neoplasias, infecções, fraturas e várias causas de dores mecânicas. ● RM pode mostrar uma lesão não detectada na radiografia simples como a doença de Legg-Perthes-Calvé, a fase inicial da osteomielite e neoplasias. ● Cintilografia óssea ou ressonância magnética de corpo total podem ser necessárias em casos de doença óssea difusa como a osteomielite crônica multifocal e metástases de câncer. Diagnóstico diferencial ● Categorias não sistêmicas de artrite idiopática juvenil ● Febre familiar do Mediterrâneo ● Osteomielite crônica não bacteriana ● Distúrbios metabólicos ○ Raquitismo ○ Escorbuto ○ Doenças de armazenamento de glicogênio ● Fibromialgia ● Síndrome da hipermobilidade ● Trauma (particularmente fraturas por estresse ou uso excessivo) ● Tumores ósseos, leucemia e neuroblastoma ● Infecção ● Doença de Fabry ● Condições ortopédicas ○ Osteocondrite dissecante e osteocondrose (apofisite calcânea, doença de Sever, avulsão da tuberosidade tibial, doença de Osgood-Schlatter) 19 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ Osteonecrose (por exemplo, doença de Legg-Calvé-Perthes) ● Síndrome das pernas inquietas ⚠ Várias entidades devem ser excluídas, como lesões, tumores e infecções, que podem mimetizar as características das dores do crescimento Tratamento Não farmacológico ● Massagem ● Compressa quente Tratamento preventivo → crianças que acordam durante a noite devido à dor → administração preventiva de analgésicos antes de dormir ● Quando os pais/cuidadores podem prever o desenvolvimento de episódios, como após um dia de atividade extenuante, agitação, fadiga, estresse ou sono ruim na noite anterior. ● Quando ocorrem grupos de episódios dolorosos noturnos ou quase noturnos. 20
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