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<p>1</p><p>3º MÓDULO – O VINCULO ENTRE CUIDADOR E CRIANÇAS EM SITUAÇÃO</p><p>DE ACOLHIMENTO</p><p>Todos nós, somos o que somos hoje, devido às ações e investimentos</p><p>emocionais de pelo menos um alguém que passou pela nossa vida.</p><p>Somos resultados de um desejo, de um olhar, de um cuidado daqueles que se</p><p>dispuseram a colaborar pelo nosso surgimento e desenvolvimento. Assim, somos</p><p>também, resultados das relações que mantemos desde o início de nossa vida. Cada</p><p>pessoa que passou por nós, nos moldou de uma forma diferente, contribuindo com</p><p>nosso sentimento de ‘ser’, e ‘quem ser’. E assim continua acontecendo no decorrer de</p><p>toda a nossa vida.</p><p>Foto: reprodução</p><p>Na infância, desde o nascimento, é onde ocorre o período que mais importa</p><p>toda essa troca de interação social e onde mais se faz significante a existência de</p><p>pessoas capazes de se doarem em prol da constituição de um indivíduo. Há</p><p>pesquisadores que afirmam que desde a nossa concepção, ainda enquanto estamos na</p><p>barriga de nossa mãe, sofremos influência do psiquismo do outro. Fato é que,</p><p>enquanto somos crianças, tudo ao nosso redor nos forma, mas fundamentalmente as</p><p>ações de nossos genitores, ou das pessoas que exercem sobre nós o papel de pai e</p><p>mãe.</p><p>Estudiosos da psicologia e teóricos da psicanálise, se desdobraram em</p><p>investigar como se dá a constituição do sujeito, a partir da função materna e paterna</p><p>2</p><p>sobre uma criança. A partir de tais estudos e pesquisas, concluiu-se que o estágio de</p><p>desenvolvimento e o processo de estruturação do psiquismo da primeira infância, que</p><p>corresponde o tempo desde o nascimento até a idade de 6 anos, são de suma</p><p>importância, uma vez que abrangem transformações biológicas e psicossociais</p><p>fundamentais.</p><p>Esse período crucial corresponde à formação das estruturas e funções mentais,</p><p>onde para isso, o indivíduo que está se constituindo depende de seus cuidadores para</p><p>efetuar “as operações necessárias para que se configurem e inscrevam as matrizes que</p><p>permitem organizar seu pensamento e, em decorrência dele (consciente ou</p><p>inconsciente), seus comportamentos” (JERUSALINSKY Apud BERNARDINO; VAZ, 2015,</p><p>p. 194).</p><p>O bebê quando nasce, não sabe o que acontece com seu corpo, não sabe</p><p>identificar o que é frio, calor, fome, dor, etc. Nisso, a mãe ou a pessoa que exerce a</p><p>função materna, age de forma a favorecer toda essa descoberta, bem como a</p><p>discriminação de sentimentos e emoções. Ou seja, a criança depende totalmente da</p><p>disponibilidade de um adulto verdadeiramente preocupado com seus cuidados.</p><p>Para Winnicott, a mãe (ou a pessoa que desenvolve esse encargo) tem papel</p><p>fundamental nesse processo de desenvolvimento da criança, por ser ela a responsável</p><p>de satisfazer as necessidades de seu bebê. A dedicação materna, tanto no ponto de</p><p>vista físico ou psicológico, será determinante para um desenvolvimento e crescimento</p><p>saudável da criança. As consequências desse cuidado refletirão na constituição da</p><p>personalidade desse ser, a qual se tornará evidente nas futuras relações da criança</p><p>com o seu meio de convívio social. Importante salientar que a função paterna também</p><p>tem sua importância nesse processo, mas não se tem o propósito de focar nela aqui.</p><p>Contudo, a partir do exposto até aqui e trazendo para a realidade de crianças</p><p>em situação de acolhimento institucional, que são afastadas temporariamente do</p><p>ambiente e convívio familiar, como fica a questão da construção e desenvolvimento</p><p>emocional das mesmas diante dessa ausência da figura materna?</p><p>Nas unidades de acolhimento institucional existem profissionais que atuam no</p><p>cuidado diário à cada uma das crianças e adolescentes acolhidos.</p><p>Estes são denominados de educadores/cuidadores sociais, que exercem as</p><p>atividades de:</p><p>- cuidados básicos com alimentação, higiene e proteção;</p><p>- organização do ambiente, como do espaço físico e atividades adequadas;</p><p>3</p><p>- auxílio à criança e ao adolescente para lidar com sua história de vida;</p><p>- fortalecimento da autoestima e construção da identidade;</p><p>- organização de fotografias e registros individuais de cada criança;</p><p>- acompanhamento nos serviços de saúde, escola e outros serviços requeridos</p><p>no cotidiano;</p><p>- e apoio na preparação da criança ou adolescente para o desligamento.</p><p>Esta proximidade e vinculação entre cuidador e criança, possibilita o</p><p>desenvolvimento maturacional sadio desta última. É uma relação que traz segurança e</p><p>apoio, imprescindível pra vida de qualquer pessoa, quem dirá para uma criança que</p><p>está se desenvolvendo e ainda enfrenta situações de risco e/ou violência.</p><p>Foto: reprodução</p><p>Conforme apontam Silva e Germano (2015, p. 38), a instituição de acolhimento</p><p>surge como uma possibilidade de suporte tanto material quanto afetivo, mas para isso</p><p>é importante que os cuidadores que venham a se responsabilizar pela atenção a essas</p><p>crianças estejam disponíveis para gerar nesse ambiente um local de fortalecimento e</p><p>construção de vínculos saudáveis na vida dos que necessitam serem acolhidos.</p><p>Desta forma, pode-se vislumbrar o quão importante é a presença desse</p><p>cuidador substituto, com sua disponibilidade de se relacionar com amor, cuidado,</p><p>afeto, regras e limites, etc. Vai além de apenas trocar uma roupa de cama, cuidar para</p><p>que o banho seja bem tomado, garantir que tenham todas as refeições do dia e</p><p>4</p><p>ensinar a amarrar o cadarço de um tênis, por exemplo. Ser cuidador (a) social necessita</p><p>ter a ciência que sua disposição emocional e afetiva garantirá que o acolhido não sofra</p><p>uma lacuna em seu desenvolvimento socioemocional e tenha prejuízos futuros por</p><p>isso.</p><p>A presença materna ou mãe substituta, provida de uma identificação com a</p><p>criança, funciona como uma base segura, suprindo as necessidades apresentadas pela</p><p>criança, facilitando a elaboração de estados emocionais, refletindo em todas suas</p><p>relações presentes e futuras.</p><p>Percebe-se que com tudo o que foi descrito até aqui, o (a) cuidador (a) ao agir</p><p>de forma a promover um ambiente suficiente bom (ou seja, um ambiente capaz de</p><p>atender adequadamente as necessidades da criança) colabora para o bem estar</p><p>biopsicossocial da criança, o que garante não só um lugar de segurança e acolhimento,</p><p>mas se constrói uma “relação de afeto que pode se perpetuar por um longo período</p><p>ou até pela vida inteira. O que contribui para um desenvolvimento psíquico sadio e</p><p>uma relação pautada em confiança”. (WINNICOTT Apud SILVA; GERMANO, 2015, p.44).</p><p>Assim, se tem a compreensão do quão importante e especial é o trabalho do (a)</p><p>cuidador(a) social nas unidades de acolhimento institucional, e também nos propõe a</p><p>refletir qual é o sentimento desse profissional em realizar tal valiosa função. Afinal, é</p><p>preciso que se disponha de forma integral e praticamente 24 horas por dia, uma vez</p><p>que residem na instituição de acolhimento juntamente com as crianças.</p><p>À vista disso, a seguir serão apresentados recortes de falas de algumas das</p><p>cuidadoras sociais da ACRIDAS, sobre como se sentem exercendo este encargo e como</p><p>veem a relação das crianças para com elas. As identidades das mesmas serão</p><p>preservadas:</p><p>(...) Apesar da grandiosidade e da gratificação de ser uma mãe substituta, uma</p><p>cuidadora social, não há como negar a complexidade envolvida e as inúmeras</p><p>dificuldades envolvidas. “Estar numa posição de quem representa uma figura materna e</p><p>responder a tais expectativas não é algo fácil de submeter-se, pois, no contexto</p><p>institucional, existem questões que alteram o significado dessa relação.” (SILVA,</p><p>GERMANO, 2015, p. 50)</p><p>Estar num lugar de praticamente ser responsável por suprir as lacunas</p><p>emocionais da vida das crianças, além de todas as outras atividades cotidianas</p><p>intrínsecas no trabalho de cuidadora e figura substituta, é algo que traz uma</p><p>autoexigência muito grande, o que pode repercutir em conflitos emocionais devido à</p><p>sobrecarga produzida diariamente, e que pode vir a influenciar negativamente nas</p><p>responsabilidades desta profissional.</p><p>5</p><p>Portanto, é indispensável que as cuidadoras sociais tenham ciência da</p><p>responsabilidade de seu trabalho, além de buscar</p><p>um autoconhecimento diante dos</p><p>sentimentos e/ou angústias que vivenciam e carregam.</p><p>Por isso, a instituição de acolhimento envolvida nesse contexto deve se</p><p>permitir olhar para esse cuidador de uma forma especial, colocando-o como sujeito no</p><p>processo de cuidados, dando o suporte para a escuta de seus anseios, de medos e</p><p>dúvidas que possam surgir em decorrência de sua atividade prática. (SILVA;</p><p>GERMANO, 2015, p. 51)</p><p>Partindo disso, na ACRIDAS, todas as cuidadoras sociais têm suporte cotidiano</p><p>por parte da equipe técnica (que é composta por psicólogos, assistentes sociais e</p><p>pedagoga) por meio de escutas, orientações e capacitações técnicas. Também são</p><p>oferecidos através de instituições parceiras, atendimento psicoterapêutico a cada uma</p><p>delas, buscando favorecer o bem estar da saúde mental.</p><p>Acredita-se que quanto mais amparadas estiverem, e quanto mais pessoas</p><p>puderem facilitar o papel árduo de uma cuidadora social, melhor se dará o trabalho</p><p>desta, que consequentemente e principalmente, acarretará num desenvolvimento</p><p>emocional sadio e seguro de cada criança acolhida.</p><p>Fonte: CATANEO, Keyla. Vinculação entre cuidador e crianças em Situação de Acolhimento Institucional.</p><p>ACRIDAS - Associação Cristã de Assistência Social. Curitiba : 2021. Disponível em:</p><p><https://www.acridas.org.br/vinculacao-entre-cuidador-e-criancas-em-situacao-de-acolhimento-</p><p>institucional/>. Acesso em 03 Fev. 2022.</p><p>A VALORIZAÇÃO DOS CUIDADORES</p><p>A postura dos educadores/cuidadores e das famílias acolhedoras e a qualidade</p><p>da interação estabelecida com a criança e do adolescente representam importantes</p><p>referenciais para seu desenvolvimento. Para tanto, o PPP deve prever estratégias para</p><p>sua seleção, capacitação e acompanhamento/supervisão.</p><p>Em função de sua importância, o educador/cuidador e a família acolhedora</p><p>devem ter clareza quanto a seu papel: vincular-se afetivamente às</p><p>crianças/adolescentes atendidos e contribuir para a construção de um ambiente</p><p>6</p><p>familiar, evitando, porém, “se apossar” da criança ou do adolescente e competir ou</p><p>desvalorizar a família de origem ou substituta.</p><p>O serviço de acolhimento, não deve ter a pretensão de ocupar o lugar da</p><p>família da criança ou adolescente, mas contribuir para o fortalecimento dos vínculos</p><p>familiares, favorecendo o processo de reintegração familiar ou o encaminhamento</p><p>para família substituta, quando for o caso.</p><p>Foto: reprodução</p><p>Para exercer sua função o educador/cuidador ou a família acolhedora deve ter</p><p>capacitação adequada para desempenhar seu papel com autonomia e ser reconhecido</p><p>como figura de autoridade para a criança e o adolescente e, como tal, não ser</p><p>desautorizado pelos outros profissionais do serviço (técnicos, coordenadores),</p><p>sobretudo na presença da criança e do adolescente.</p><p>Além disso, devem contar com apoio e orientação permanente por parte da</p><p>equipe técnica do serviço, bem como de espaço para trocas, nos quais possam</p><p>compartilhar entre si experiências e angústias decorrentes da atuação, buscando a</p><p>construção coletiva de estratégias para o enfrentamento de desafios.</p><p>Visando o constante aprimoramento do cuidado prestado, devem ser</p><p>realizados, periodicamente, estudos de caso com a participação da equipe técnica e</p><p>educadores/cuidadores, nos quais se possa refletir sobre o trabalho desenvolvido com</p><p>cada criança/adolescente e as dificuldades encontradas. Esses estudos devem</p><p>7</p><p>propiciar também planejamento de intervenções que tenham como objetivo a</p><p>melhoria do atendimento no serviço e da relação entre educador/cuidador e</p><p>criança/adolescente, bem como a potencialização de aspectos favorecedores de seu</p><p>processo de desenvolvimento, autoestima e autonomia. Tais aspectos devem ser</p><p>igualmente contemplados no acompanhamento às famílias acolhedoras.</p><p>É importante que a equipe técnica do serviço de acolhimento auxilie os</p><p>educadores/ cuidadores ou as famílias acolhedoras na oferta de um cuidado</p><p>individualizado para cada criança e adolescente, baseado na avaliação de suas</p><p>condições emocionais, história de vida, impacto da violência ou do afastamento do</p><p>convívio familiar, situação familiar, vinculações significativas e interações</p><p>estabelecidas. Estes profissionais devem apoiar os educadores/cuidadores ou as</p><p>famílias acolhedoras no exercício de seu papel, contribuindo para uma construção</p><p>conjunta de estratégias que colaborem para o desenvolvimento de um ambiente</p><p>estruturante para a criança e o adolescente.</p><p>Finalmente, o educador/cuidador ou a família acolhedora devem participar e</p><p>ter sua opinião ouvida pela equipe técnica do serviço na tomada de decisões sobre a</p><p>vida da criança e do adolescente, como, por exemplo, nas ocasiões em que se mostrar</p><p>necessária a elaboração de relatório para a Autoridade Judiciária com recomendação</p><p>de reintegração familiar ou adoção. Nesses casos, deve ser priorizada a participação da</p><p>família acolhedora ou daquele educador/cuidador com o qual a criança/adolescente</p><p>mantenha vinculação afetiva mais significativa e que conheça seus desejos e</p><p>interesses.</p><p>Fonte: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. CONANDA - Conselho Nacional</p><p>dos Direitos da Criança e do Adolescente. CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social. Orientações</p><p>Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. 2º Ed. Brasília : 2009.</p><p>SELEÇÃO, CAPACITAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DOS PROFISSIONAIS</p><p>SELEÇÃO</p><p>Um processo de seleção criterioso dos profissionais que atuarão nos Serviços</p><p>de Acolhimento é essencial para a garantia de contratação de pessoal qualificado e</p><p>com perfil adequado ao desenvolvimento de suas funções, possibilitando a oferta de</p><p>8</p><p>um serviço de qualidade aos usuários. Para tanto, deve-se prever, minimamente, os</p><p>seguintes passos:</p><p>• Ampla divulgação, com informações claras sobre o Serviço Abrigo, o perfil dos</p><p>usuários, as atribuições e exigências do cargo a ser ocupado, salário e carga horária,</p><p>dentre outros.</p><p>• Processo seletivo, com atenção à exigência da formação mínima para cada</p><p>função e experiência profissional.</p><p>• Avaliação de documentação. Documentação mínima a ser exigida:</p><p>documentos pessoais, certidão negativa de antecedentes criminais, atestado de saúde</p><p>física e mental.</p><p>• Avaliação psicológica e social: estudo da vida pregressa, entrevista individual</p><p>e dinâmica de grupo.</p><p>• Características pessoais desejáveis: motivação para a função; aptidão para o</p><p>cuidado com crianças e adolescentes; capacidade de lidar com frustração e separação;</p><p>habilidade para trabalhar em grupo; disponibilidade afetiva; empatia; capacidade de</p><p>mediação de conflitos; criatividade; flexibilidade; tolerância; proatividade; capacidade</p><p>de escuta; estabilidade emocional, dentre outras.</p><p>• No caso de cuidadores/educadores residentes, para atendimento em casas-</p><p>lares, também deverá ser verificado disponibilidade para residir, grau de</p><p>independência pessoal e familiar que permita dedicação afetiva e profissional e</p><p>capacidade para administrar a rotina doméstica.</p><p>Nesta etapa, objetiva-se colher dados mais aprofundados sobre a motivação da</p><p>busca pelo emprego, aspectos subjetivos e documentos pessoais. O entrevistador deve</p><p>ter atenção para como o candidato lida com perdas, luto, frustração, vínculo,</p><p>imprevisto, seus projetos de vida e futuro, história familiar e como percebe a função</p><p>pretendida. A fase de entrevista possibilita que sejam avaliados critérios específicos</p><p>para o exercício do cargo de cuidador/educador. É neste momento, de abordagem</p><p>subjetiva que se podem avaliar os critérios específicos do cargo.</p><p>As dinâmicas de grupo são um instrumento útil para se perceber características</p><p>do candidato importantes no exercício da função pretendida. É um momento de</p><p>interação e por isso deve-se dirigir as dinâmicas para se observar capacidade de</p><p>liderança, autoridade, cooperação, resolução de problemas, mediação de conflitos,</p><p>criatividade, flexibilidade, tolerância, habilidades com crianças/adolescentes,</p><p>disponibilidade e escuta para com este público.</p><p>9</p><p>Nesta etapa já se evidenciam candidatos</p><p>que não demonstram perfil para a</p><p>função de educador. Interessante que os próprios candidatos possam falar da</p><p>dinâmica e da experiência e, tenha retorno do facilitador sobre sua participação.</p><p>Muitas vezes o próprio candidato se depara com dificuldades em determinados</p><p>aspectos enfatizados na dinâmica que são fundamentais para o cargo e percebe sua</p><p>inadequação naquele momento.</p><p>CAPACITAÇÃO</p><p>Investir na capacitação e acompanhamento dos cuidadores/educadores, assim</p><p>como de toda a equipe, é indispensável para se alcançar qualidade no atendimento,</p><p>visto se tratar de uma tarefa complexa, que exige, além de “espírito de solidariedade”,</p><p>“afeto” e “boa vontade”, uma equipe bem preparada. Para tanto, é indispensável que</p><p>seja prevista capacitação inicial de qualidade, e formação continuada dos profissionais,</p><p>especialmente aqueles que têm contato direto com as crianças e adolescentes e suas</p><p>famílias.</p><p>A seguir, serão apresentados temas e metodologias para a capacitação dos</p><p>cuidadores/educadores, os quais devem ser adaptados às necessidades e demandas</p><p>específicas de cada serviço:</p><p>CAPACITAÇÃO INTRODUTÓRIA</p><p>Apresentação do projeto político pedagógico da instituição; integração à</p><p>equipe; acompanhamento como observador dos diferentes momentos da rotina</p><p>institucional e posterior discussão sobre as observações. O nível de experiência do (a)</p><p>cuidador(a)/educadora(a) norteará o repasse e o conteúdo das informações neste</p><p>momento de adaptação à rotina da instituição.</p><p>Temas relevantes a serem trabalhados em uma capacitação inicial:</p><p>• Legislação pertinente (SUAS, PNCFC, ECA), com intuito de que o (a)</p><p>cuidador(a)/educadora(a) compreenda as medidas protetivas, competências e</p><p>articulação entre as instâncias envolvidas</p><p>• Etapas do desenvolvimento da criança e do adolescente (características,</p><p>desafios, comportamentos típicos, fortalecimento da autonomia, desenvolvimento da</p><p>sexualidade, brincadeiras e jogos adequados para cada faixa etária, exploração do</p><p>ambiente, mediação de conflitos, colocação de limites, etc.).</p><p>10</p><p>• Comportamentos frequentemente observados entre crianças/adolescentes</p><p>separados da família de origem, que sofreram abandono, violência, etc.</p><p>• Práticas educativas; como ajudar a criança/adolescente a conhecer e a lidar</p><p>com sentimentos, fortalecer a autoestima e contribuir para a construção da</p><p>identidade;</p><p>• Novas configurações familiares e realidade das famílias em situação de</p><p>vulnerabilidade social.</p><p>Foto: reprodução</p><p>CAPACITAÇÃO PRÁTICA</p><p>Antes de assumir suas funções, o/a cuidador/educador deverá passar por um</p><p>período mínimo de 80 horas acompanhando, como auxiliar, os diferentes momentos</p><p>da rotina institucional, sempre sob supervisão de um(a) cuidador/educador experiente</p><p>e da equipe técnica.</p><p>No caso de cuidador/educador residente, este período deverá ser de, no</p><p>mínimo, 30 dias de acompanhamento, como auxiliar, dos diferentes momentos da</p><p>rotina da casa-lar, sempre sob supervisão de um(a) cuidador/educador residente</p><p>experiente e da equipe técnica.</p><p>11</p><p>FORMAÇÃO CONTINUADA</p><p>Se pretendemos garantir qualidade ao projeto pedagógico dos abrigos, os</p><p>horários para que os educadores possam participar de cursos, reuniões de formação,</p><p>seminários e leituras devem ter lugar no planejamento da organização e das escalas de</p><p>trabalho.</p><p>Depois da contratação, para adaptação à rotina institucional é fundamental o</p><p>acompanhamento sistemático do profissional, incrementado com capacitações</p><p>continuadas. A rotina de uma instituição de acolhimento não é fácil. São várias</p><p>crianças, por menor que seja o grupo, com diferentes perfis, necessidades e urgências.</p><p>As situações do cotidiano exigem resolutividade, rapidez, mobilidade que, com o</p><p>passar do tempo, podem gerar um automatismo de respostas do profissional. Ou seja,</p><p>há grande probabilidade de se cair na rotina, agir sem pensar muito no atendimento</p><p>que está sendo realizado.</p><p>Outra realidade destas instituições é que os casos lá acolhidos são, na sua</p><p>grande maioria, graves o que acaba afetando de alguma forma emocionalmente os</p><p>profissionais. Por toda esta realidade, algumas atividades de acompanhamento são tão</p><p>importantes no sentido de melhorar o desempenho do profissional, a qualidade do</p><p>atendimento institucional e o bem-estar das crianças e dos adolescentes acolhidos.</p><p>São elas:</p><p>• Reuniões de equipe periódicas (discussão de casos, fechamento de casos,</p><p>construção de consensos, revisão / melhoria da metodologia).</p><p>• Formação continuada sobre temas recorrentes do cotidiano, assim como</p><p>sobre temas já trabalhados na fase de preparação, orientada pelas necessidades</p><p>institucionais (promovida pela própria instituição e/ou cursos externos).</p><p>• Estudos de caso.</p><p>• Supervisão institucional com profissional externo.</p><p>• Encontros diários de 15-20 minutos entre os profissionais dos diferentes</p><p>turnos para troca de informações.</p><p>• Grupo de escuta mútua.</p><p>• Espaço de escuta individual.</p><p>• Avaliação, orientação e apoio periódicos pela equipe técnica.</p><p>12</p><p>Fonte: CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. CNAS – Conselho</p><p>Nacional de Assistência Social. Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento para Crianças e</p><p>Adolescentes. Brasília : 2008.</p>