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<p>Pó</p><p>s-</p><p>gr</p><p>ad</p><p>ua</p><p>çã</p><p>o</p><p>em</p><p>E</p><p>du</p><p>ca</p><p>çã</p><p>o</p><p>PROJETOS DE LEITURA E ESCRITA</p><p>Jaqueline Koehler</p><p>Diretores</p><p>Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho</p><p>Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar</p><p>Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo</p><p>Editora</p><p>Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz</p><p>Projeto Gráfico Evelyn Caroline dos Santos Betim</p><p>Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim</p><p>Capa Vitor Bernardo Backes Lopes</p><p>Direitos desta edição reservados à Fael.</p><p>É proibida reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.</p><p>Jaqueline Koehler</p><p>RESUMO</p><p>O ensino de língua portuguesa deve levar em conta o papel e a importância da leitura e da escrita na escola, o</p><p>que nem sempre ocorre. Saber trabalhar essas questões com os alunos é uma necessidade da atualidade. Por um</p><p>lado, é sabido que o domínio da língua-padrão e a prática de leitura são diferenciadores sociais. Por outro, há a</p><p>necessidade de incutir nos alunos o gosto e o hábito dessas duas práticas. No contexto escolar, o uso da língua</p><p>portuguesa é pragmático, com aulas, mas com pouca contextualização. A literatura analisada normalmente pelas</p><p>teorias é mal compreendida.</p><p>Palavras-chave: Projetos. Ensino. Língua. Leitura. Escrita.</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>No meio do caminho tinha uma pedra,</p><p>Tinha uma pedra no meio do caminho [...]</p><p>Carlos Drummond de Andrade</p><p>Discutir o papel e a importância da leitura e da escrita na escola tem sido uma das questões fundamentais</p><p>na reflexão e elaboração do ensino de língua portuguesa. A maioria dos professores concorda com a importância</p><p>dessas práticas na vida escolar dos alunos, mas nem sempre sabe justificar, exatamente, essa importância. Mais</p><p>ainda: muitas vezes não sabem como trabalhar com essas questões diante de alunos que cada vez mais querem</p><p>ler e escrever menos.</p><p>A epígrafe deste trabalho ilustra a condição imprescindível, como também difícil de lidar com essa questão;</p><p>pois se por um lado é sabido que o domínio da língua-padrão e a prática de leitura é um diferenciador social, por</p><p>outro há a necessidade de incutir nos alunos o gosto e o hábito dessas duas práticas. Mais que isso: não se pode</p><p>ignorar que são práticas transformadoras tanto no âmbito escolar, como também no social.</p><p>No contexto escolar, o uso da língua portuguesa é pragmático, porém permanece exclusivamente no uso das aulas</p><p>dessa disciplina e o aluno, normalmente, não percebe sua aplicação e relevância nas outras, bem como no seu coti-</p><p>diano. Já a literatura não possui uma caracterização prática, o que leva a ser vista como algo (muitas vezes) irrelevante.</p><p>2 DILEMAS QUE ENVOLVEM A ESCRITA NA ESCOLA</p><p>Primeiramente, quando se fala no ensino de língua portuguesa, há uma grande discussão a respeito de</p><p>qual vertente do idioma ensinar, bem como trabalhar e incorporar o conhecimento que o aluno já tem. Muitas</p><p>crianças encaram o ensino de português como se estivessem aprendendo uma nova língua, distante da realidade</p><p>de falante que já é.</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 4</p><p>A escola, os métodos e, muitas vezes, a preparação</p><p>do professor ignoram a realidade linguística do aluno,</p><p>e criticam seu modo de falar e se expressar, sempre uti-</p><p>lizando o conceito do “certo” e do “errado”. O aluno</p><p>se constrange, perde o interesse e se sente fracassado.</p><p>O professor estimula o preconceito linguístico e corta</p><p>as possibilidades de interação e diversidade de falares.</p><p>A língua é um instrumento vivo do falante. Mas</p><p>ele precisa ter consciência disso. Exemplos desmoti-</p><p>vadores são as atividades descontextualizadas, que</p><p>não são atraentes, e não fazem sentido para o aluno.</p><p>Quando um professor ensina regras demais, logo apa-</p><p>rece a pergunta: “Para que isto serve?”. O professor</p><p>sempre argumenta que é necessário conhecer as regras</p><p>que regem a língua para entendê-la, mas o aluno se</p><p>distancia cada vez mais, pois não utiliza a língua como</p><p>nos exemplos.</p><p>Diante desse quadro, pode-se perceber que, pri-</p><p>meiramente, o primordial para a prática da escrita é</p><p>que o aluno perceba as motivações envolvidas nesse</p><p>processo. Precisa, necessariamente, fazer sentido escre-</p><p>ver. Para isto, inserir produções que façam parte do</p><p>cotidiano e que possam ser utilizadas em situações reais</p><p>é fundamental para a inserção da prática da escrita na</p><p>vida escolar.</p><p>Produções de texto como “Minhas férias”, “O</p><p>homem é um ilha”, ou outra proposta descontextuali-</p><p>zada, não farão sentido para o aluno se dedicar e reali-</p><p>zar um bom texto, afinal qual o sentido desses temas?</p><p>Alcir Pécora, em Problemas de redação (1992), dis-</p><p>corre a respeito da má qualidade de produções textuais</p><p>derivadas de péssimas propostas de produção de texto.</p><p>A culpa é, antes de tudo, do professor que indica ao</p><p>aluno um tema fora da sua realidade e interesse.</p><p>Sírio Possenti (2004) afirma: “Não se aprende</p><p>por exercícios, mas por práticas significativas”.. Essa</p><p>frase mostra o quão importante é escolher atividades</p><p>que dialoguem com o conhecimento de mundo, com</p><p>a realidade do aluno, criando um verdadeiro diálogo</p><p>entre o que é proposto como atividade e como será</p><p>desempenhado. Não que o professor deva permanecer</p><p>todo o tempo procurando modos de agradar ao aluno,</p><p>mas deve estar atento para o que chama mais atenção.</p><p>Primeiramente, há que se fazer a seguinte pergunta:</p><p>para que escrever?</p><p>Escrever é um ato ao mesmo tempo individual e</p><p>social, pessoal e coletivo, pois não estamos prepara-</p><p>dos para produzir um texto e guardá-lo na gaveta. O</p><p>indivíduo escreve para dialogar com o mundo à sua</p><p>volta e, para isso, precisa estar motivado e perceber</p><p>a importância do ato de se comunicar, entender que</p><p>toda prática de escrita se destina a um interlocutor que</p><p>vai dialogar com quem escreveu o texto.</p><p>Para conseguir que o aluno perceba a importân-</p><p>cia do ato da escrita, é fundamental que entenda qual</p><p>a sua finalidade, e a escrita precisa estar contextuali-</p><p>zada. Reconhecer os motivos que levam a escrever um</p><p>determinado texto, como é sua estrutura, quais são suas</p><p>características são itens imprescindíveis para uma boa</p><p>produção. A escolha de gêneros que possam estar inseri-</p><p>dos na realidade do aluno ou que se tornem significati-</p><p>vas no cotidiano da escola é que pode fazer a diferença.</p><p>Um exemplo: algumas escolas têm o hábito de</p><p>fazer seus alunos se corresponderem com alunos da</p><p>mesma faixa etária, de outra escola. É uma prática que</p><p>motiva o estudante, pois ele sabe que haverá um inter-</p><p>locutor (que possui características parecidas, pois é da</p><p>mesma idade, muitas vezes possui os mesmos gostos</p><p>etc.). Essa prática é tão conhecida, que chega a pare-</p><p>cer velha e ultrapassada, mas, ao contrário, é extrema-</p><p>mente relevante, pois há uma real motivação do aluno</p><p>à escrita.</p><p>Para a inserção da prática da escrita no cotidiano,</p><p>deve-se reconhecer as necessidades e o próprio coti-</p><p>diano do aluno. Os Parâmetros Curriculares Nacio-</p><p>nais mostram a necessidade do ensino de língua</p><p>portuguesa estar inserido em uma prática que leve à</p><p>cidadania. Para isso, precisa-se iniciar o trabalho de</p><p>escrita com a oralidade, que é o conhecimento que o</p><p>aluno já possui. Assim, tem-se também o espaço para</p><p>a discussão e o entendimento do que é a linguagem</p><p>oral e a escrita, afinal quando o aluno ingressa na vida</p><p>escolar, já possui o conhecimento da oralidade, que</p><p>não pode ser ignorado.</p><p>Produzir linguagem é, sobretudo, produzir dis-</p><p>cursos a respeito da realidade, por isso, não importa se</p><p>há a intenção de que o aluno produza um bilhete, uma</p><p>lista de compras para o supermercado, conte o jogo de</p><p>futebol do final de semana ou reproduza a previsão do</p><p>tempo, toda prática de escrita deve estar embasada em</p><p>dois pilares: realidade e gênero textual.</p><p>Quando se fala em gênero textual há que se ver</p><p>sua funcionalidade e importância no processo de desen-</p><p>volvimento da escrita. Conhecer os gêneros, ou seja, os</p><p>moldes que cada tipo de texto possui, ajuda o estudante</p><p>a cristalizar o conhecimento de mundo que possui, com</p><p>a prática em sala de aula. Por exemplo: quanto mais o</p><p>Projetos</p><p>da Lapa - FAEL 22</p><p>SIMÕES, V. L. B. Histórias infantis e a aquisição da escrita. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, p.</p><p>22-28, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n1/9799.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação & sociedade, Campi-</p><p>nas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf>.</p><p>Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>VIEIRA, A. Formação de leitores de literatura na escola brasileira: caminhadas e labirintos. Cadernos de pes-</p><p>quisa, São Paulo, v. 38, n. 134, p. 441-458, maio/ago. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/</p><p>v38n134/a0938134.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>ZANCHETTA JR., J. Desafios para a abordagem da imprensa na escola. Educação & sociedade, Campi nas,</p><p>v. 26, n. 93, p. 1497-1510, set./dez. 2005. Dispo nível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v26n93/27290.pdf>.</p><p>Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>VÍDEOS</p><p>Os vídeos selecionados retratam de forma audiovisual os conceitos abordados nesta disciplina.</p><p>1. Dona Cristina perdeu a memória</p><p>Antônio, um menino de 8 anos, descobre que sua vizinha Cristina, de 80, conta histórias sempre diferentes</p><p>sobre a sua vida, os nomes de seus parentes e os santos do dia. E Dona Cristina acredita que Antônio pode aju-</p><p>dá-la a recuperar a memória perdida.</p><p>DONA Cristina perdeu a memória. Direção de Ana Luiza Azevedo. Rio Grande do Sul: Casa de Cinema de</p><p>Porto Alegre, 2002. 1 curta-metragem (13 min), sonoro, color., 35 mm.</p><p>2. Ilha das flores</p><p>Documentário de Jorge Furtado, construído através de uma cadeia lógica de raciocínio. O que ressalta nessa</p><p>obra é o poder atribuído às palavras e à possibilidade de argumentação que se consegue pelo conhecimento da</p><p>linguagem, que se torna um dos pontos fundamentais do documentário.</p><p>ILHA das flores. Direção de Jorge Furtado. Rio Grande do Sul: Casa de Cinema de Porto Alegre, 1989. 1 docu-</p><p>mentário (13 min), sonoro, color., 35 mm.</p><p>3. Cartas da mãe</p><p>Henfil, por meio de cartas que escreveu para a mãe, consegue retratar os últimos 30 anos de Brasil. Belíssimo</p><p>documentário a respeito da relação do autor com a mãe e seu país, como com a leitura.</p><p>CARTAS da mãe. Direção de Fernando Kinas e Marina Willer. São Paulo, Máquina Produções, 2003. 1 docu-</p><p>mentário (28 min), sonoro, P&B e color., 35 mm.</p><p>4. A velha a fiar</p><p>Filme baseado em canção popular, o que mostra a importância da literatura na vida de quem a vive.</p><p>A VELHA a fiar. Direção de Humberto Mauro. Rio de Janeiro: Ince, 1960. 1 videoclipe (6 min) sonoro, P&B,</p><p>35 mm.</p><p>5. Clandestina felicidade</p><p>Curta adapta o conto de Clarice Lispector “Felicidade clandestina” em que uma menina tem a maior felicidade</p><p>ao conseguir um livro para ler.</p><p>CLANDESTINA felicidade. Direção de Beto Normal e Marcelo Gomes. Pernambuco: Alcir Lacerda, 1998. 1</p><p>curta-metragem (15 min) sonoro, P&B, 35 mm.</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>23Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>6. Caçadores de Saci</p><p>A chácara da pacata família de Onofre vem sendo assombrada por Saci: a pipoca não arrebenta, o ovo não choca,</p><p>o leite sempre azeda, o feijão vive queimando na panela, entre outros estranhos acontecimentos.</p><p>CAÇADORES de Saci. Direção de Sofia Frederico. Bahia: Jaguatirica Cinema e Fotografia, 2005. 1 curta-me-</p><p>tragem (13 min) sonoro, color, vídeo.</p><p>7. Bahia Amada Amado</p><p>Um filme cuja narrativa foi construída a partir de imagens captadas na Bahia e que faz uma leitura poética da</p><p>obra de Jorge Amado.</p><p>BAHIA amada Amado. Direção de Marcello Tassara e Maureen Bisilliat. Brasil: Jan Koudela, 1999. 1 documen-</p><p>tário (13 min), sonoro, color., 35 mm.</p><p>8. Leituras cariocas</p><p>Pequeno inventário audiovisual de diferentes modos de ler, presentes no dia a dia do metrô carioca, em que</p><p>os universos subjetivos dos passageiros se misturam ao cenário urbano do metrô. Uma abordagem intimista e</p><p>pouco invasiva que contou com a participação dos passageiros.</p><p>LEITURAS cariocas. Direção de Consuelo Lins. Brasil: Carolina Durão, 2009. 1 documentário (13 min),</p><p>sonoro, mini-dv.</p><p>9. Minhocas</p><p>Quando a criança está pronta para perguntar, os adultos podem não estar preparados para responder. O dilema</p><p>do questionamento, enfrentado por pais e filhos, é o assunto dessa família de minhocas, na qual o Júnior está</p><p>crescendo e ainda não conseguiu do pai, da mãe e do avô nenhuma resposta convincente para uma questão que</p><p>não pára de intrigá-lo: por que é proibido cavar para cima?</p><p>MINHOCAS. Direção de Paolo Conti. São Paulo: Joana Lúcia Bocchini, 2006. 1 animação (15 min), sonoro, color.</p><p>10. O lobisomem e o coronel</p><p>Um violeiro cego dedilha um repente e conta uma história passada na fazenda de um rico coronel da região.</p><p>O LOBISOMEN e o coronel. Direção de Elvis K. Figueiredo e Ítalo Cajueiro. Distrito Federal: Exemplus</p><p>Comunicação e Marketing, 2002. 1 animação (10 min), sonoro, color., 35 mm.</p><p>de Leitura e Escrita</p><p>5Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>aluno conhece e reconhece os gêneros textuais, mais</p><p>relação com os seus próprios conhecimentos estabelece</p><p>e cria autonomia nas suas produções.</p><p>O indivíduo escreve para</p><p>dialogar com o mundo à sua</p><p>volta e, para isso, precisa</p><p>estar motivado e perceber</p><p>a importância do ato de se</p><p>comunicar.</p><p>O reconhecimento do gênero é fundamental, pois</p><p>se configura como uma forma estável do texto, que se</p><p>torna uma referência para o estudante, que com o pas-</p><p>sar do tempo terá autonomia para produzir, e estará</p><p>habituado aos gêneros existentes.</p><p>É esse reconhecimento que também faz com que</p><p>o aluno perceba com certa rapidez quando se trata de</p><p>textos de ficção e de textos de informação, por exem-</p><p>plo. A estrutura, a linguagem, a maneira como abor-</p><p>da-se o tema levam a essa autonomia.</p><p>Não se pode ignorar que, na utilização da lingua-</p><p>gem, produzem-se discursos, e é mais fácil produzi-los</p><p>se o aluno entende essa dinâmica e o que está implícito</p><p>nela. Assim, o texto possui uma finalidade social e não</p><p>se torna somente um grupo de palavras que foi colo-</p><p>cado junto aleatoriamente.</p><p>Um exemplo comum na escola é a produção de</p><p>uma notícia de jornal. É um gênero conhecido e reco-</p><p>nhecido com certa facilidade pelo aluno. Mas, como</p><p>fazer que uma produção simples como essa faça sen-</p><p>tido? É preciso escolher um tema que faça parte do</p><p>cotidiano do aluno, que tenha significado. Não se</p><p>pode propor uma atividade alienada do mundo, pois</p><p>tanto o professor quanto o aluno estão inseridos em</p><p>uma prática social.</p><p>Para isso, exige-se que o professor escolha um</p><p>tema recorrente na realidade da comunidade da qual</p><p>o aluno faz parte e que seja significativa. Somente a</p><p>partir disso é que se pede a produção escrita.</p><p>Vamos a um exemplo: o professor, depois de mos-</p><p>trar todas as características comuns a um texto jornalís-</p><p>tico, pede duas produções, com as seguintes temáticas:</p><p>2 a cobrança de juros nas compras a prazo.</p><p>2 como as crianças veem os candidatos nos</p><p>programas políticos.</p><p>Ambas as produções exigiriam muito de uma</p><p>criança, porém a primeira sugestão de tema está muito</p><p>fora da realidade de uma criança. É um tema que exige</p><p>conhecimentos que, muitas vezes, nem um adulto</p><p>possui e está esclarecido a esse respeito.</p><p>Por outro lado, quando se pensa no segundo</p><p>tema, que é também mais adulto, percebe-se que mui-</p><p>tas crianças acompanham o horário eleitoral, e mesmo</p><p>com sua visão idiossincrática, possuem alguma ideia a</p><p>respeito do que veem e escutam na televisão.</p><p>Se o professor pedir uma pesquisa a respeito do</p><p>segundo tema, o estudante tem condições de desco-</p><p>brir, de pesquisar e de manifestar-se, pois faz parte de</p><p>uma realidade, de um conhecimento de mundo dele.</p><p>Já o primeiro tema está mais distanciado e sua</p><p>compreensão é mais difícil e complexa, o que dei-</p><p>xaria o aluno desmotivado ao não conseguir reali-</p><p>zar o trabalho.Com esse exemplo, percebe-se uma</p><p>das maiores importâncias do trabalho com a escrita:</p><p>capacitar o aluno para estar inserido em todas as prá-</p><p>ticas discursivas.</p><p>Comenta-se muito que o papel de corrigir os</p><p>erros de língua portuguesa não pode ficar restrito ao</p><p>professor dessa disciplina, mas que todos devem con-</p><p>tribuir para o aperfeiçoamento da escrita dos alunos.</p><p>Por outro lado, é responsabilidade do professor de</p><p>língua portuguesa dar subsídios para que o estudante</p><p>compreenda os textos das outras disciplinas.</p><p>Cada área do conhecimento possui textos com</p><p>características específicas. História, geografia, mate-</p><p>mática, ciências, etc. possuem textos de gêneros dife-</p><p>rentes, pois sua intenção e motivação são diferentes,</p><p>por isso, é papel do professor de língua portuguesa</p><p>familiarizar e introduzir o aluno na prática desses</p><p>gêneros textuais, que levarão a uma melhor compre-</p><p>ensão e sentido, do que se forem tratados somente nas</p><p>matérias isoladamente.</p><p>Ensinar língua portuguesa é também ensinar a ser</p><p>um leitor e escritor competente na sua língua materna.</p><p>Assim, percebe-se o quanto a prática da escrita é</p><p>um ato social e interpessoal que deve possuir sentido,</p><p>significado e interação entre quem escreve e quem lê.</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 6</p><p>3 PRÁTICAS DE ESCRITA NA ESCOLA:</p><p>UM MUNDO DE POSSIBILIDADES</p><p>Primeiramente, refletir sobre a prática da escrita</p><p>na escola deve passar pela seguinte pergunta: para</p><p>que escrever?</p><p>Ao descobrir a resposta, que o aluno daria, e não</p><p>a que o professor gostaria, se chega ao ponto. Todo</p><p>professor adoraria ter como aluno um futuro grande</p><p>escritor, que entrará para a história da literatura bra-</p><p>sileira. Mas não é isso que a escola deve ensinar, não</p><p>como foco principal.</p><p>Se a escrita só faz sentido quando se vê sentido</p><p>no que se escreve, a escolha do que deve ser ensinado</p><p>deve passar por um filtro do que faz parte do universo</p><p>do aluno. Para isso, algumas perguntas são necessárias.</p><p>Veja a seguir algumas delas:</p><p>2 Meu aluno conhece histórias? De que tipo?</p><p>Ele gosta das que conhece?</p><p>2 Qual a relação do aluno com a realidade à</p><p>sua volta?</p><p>2 Qual a relação com a escola?</p><p>2 Qual a relação com os conteúdos que</p><p>aprende?</p><p>2 Qual o grau de informação que possui</p><p>fora da escola?</p><p>2 Que tipo de lazer possui?</p><p>2 Vê televisão?</p><p>2 Usa computador? Como? Quando?</p><p>2 Qual seu nível de linguagem (nível de colo-</p><p>quialidade ou de formalidade)?</p><p>2 Quais os temas que mais tem interesse?</p><p>2 Possui o hábito da leitura?</p><p>Essas são as perguntas fundamentais que o pro-</p><p>fessor precisa fazer para elaborar atividades e intera-</p><p>gir com seus alunos. Por exemplo, se estiver diante de</p><p>uma turma que goste de ouvir histórias, propor que</p><p>os alunos criem suas próprias ficções pode ser uma</p><p>boa atividade. Por outro lado, se a turma estiver mais</p><p>madura, propor a leitura de textos de divulgação cien-</p><p>tífica ou informativos, com características para a idade</p><p>em questão, terá melhor resultado.</p><p>Um tema clássico para crianças, entre os 10 e 11</p><p>anos de idade, é a escrita do Diário, o qual, pode-se</p><p>seguir dois caminhos: um deles é ler textos clássicos,</p><p>como, por exemplo, o Diário de Anne Frank e discu-</p><p>tir questões históricas como o nazismo e, de algum</p><p>modo, não chamar a atenção dos alunos, pois uma ati-</p><p>vidade que poderia ser mais divertida, apresenta tantos</p><p>questionamentos, que se parece com qualquer outro</p><p>conteúdo a ser decorado.</p><p>Mas, pode-se também dialogar com um uni-</p><p>verso e temas mais recorrentes na atualidade: propor</p><p>a leitura, por exemplo, de o Diário de uma princesa,</p><p>que é um texto que virou filme e possui uma aborda-</p><p>gem da transição da infância para a adolescência mais</p><p>moderna, do ponto de vista feminino.</p><p>Como essa indicação de leitura é voltada, priori-</p><p>tariamente, para o público feminino, pode-se utilizar</p><p>o livro Diário de um banana para os meninos, pois se</p><p>trata de um livro que é também do gênero diário, mas</p><p>escrito por um menino, ou seja, com temas específicos</p><p>para a faixa etária e sexo dos alunos.</p><p>Outra possibilidade de abordagem é estudar e</p><p>criar blogs em que sejam relatados fatos do cotidiano,</p><p>inserindo, assim uma nova modalidade de texto, que</p><p>não é mais o impresso, mas o virtual, que não pode</p><p>ser ignorado pelas crianças e jovens da atualidade, que</p><p>possuem um diálogo e intimidade com o uso da tec-</p><p>nologia muito avançados.</p><p>Como exemplo, seguem dois trechos dos diários</p><p>citados, para conhecimento1:</p><p>Se a escrita só faz sentido</p><p>quando se vê sentido no que</p><p>se escreve, a escolha do que</p><p>deve ser ensinado deve passar</p><p>por um filtro do que faz parte</p><p>do universo do aluno.</p><p>1 Ambos os diários apresentam uma temática atual e com referências modernas,</p><p>que chamam a atenção dos alunos. A qualidade literária de tais textos pode não ser</p><p>a melhor, mas eles servem como motivadores para que os alunos iniciem o gosto</p><p>pela leitura.</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>7Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>O DIÁRIO DA PRINCESA – A PRINCESA À ESPERA DIÁRIO DE UM BANANA</p><p>Quinta-feira, 1º de janeiro, meia-noite, quarto real genoviano.</p><p>Minhas resoluções de ano-novo</p><p>Por princesa</p><p>Amelia Mignonette Grimaldi Thermopolis Renaldo</p><p>Idade 14 anos e 8 meses</p><p>Quarta-feira</p><p>Hoje a gente teve educação física, então, a primeira coisa que eu fiz foi dar uma</p><p>escapada até a quadra de basquete para ver se o queijo ainda estava lá. E lá estava ele.</p><p>Vou parar de roer as unhas, incluindo as falsas.</p><p>Vou parar de mentir. Grandmère sabe quando estou mentindo mesmo, graças às</p><p>minhas narinas traidoras, que inflam toda vez que eu conto uma mentira, então</p><p>não há nenhuma razão para tentar não ser totalmente verdadeira.</p><p>Jamais vou me desviar do roteiro preparado enquanto faço comunicados pela</p><p>televisão ao povo genoviano.</p><p>Vou parar de dizer merde por acaso na frente das damas de companhia.</p><p>Vou parar de pedir a François, meu guarda-costas genoviano, para me ensinar</p><p>palavrões em francês.</p><p>Vou me desculpar com a Associação Genoviana de Plantadores de Oliveiras por</p><p>causa daquele negócio dos caroços.</p><p>Vou me desculpar com o Chef Real por passar escondido para o cachorro de</p><p>Grandmère aquele pedaço de foie gras (apesar de eu ter dito várias vezes à cozinha</p><p>palaciana que não como fígado).</p><p>Vou parar de dar lições de moral à Imprensa Real Genoviana sobre os males do</p><p>fumo. Se todos eles querem desenvolver câncer de pulmão, é problema deles.</p><p>Vou alcançar a autorrealização.</p><p>Vou parar de pensar tanto em Michael Moscovitz.</p><p>Ah, espera aí. Tudo bem pensar em Michael Moscovitz, porque ele agora é meu</p><p>namorado!!!!!!!!</p><p>MT + MM = amor verdadeiro para sempre</p><p>Sexta-feira, 2 de janeiro, duas da tarde, Parlamento Real Genoviano.</p><p>Sabe, eu achava que estava de férias. Sério. Quer dizer, essas são as minhas férias</p><p>de inverno. Eu tinha que estar me divertindo, me recarregando mentalmente para</p><p>o semestre que está chegando e que não vai ser fácil, já que vou estar entrando em</p><p>Álgebra II, sem mencionar a aula de saúde e segurança. Todo mundo na escola</p><p>ficou tipo assim, “Oh, você é tão sortuda, vai passar o Natal num castelo sendo</p><p>servida o tempo todo”.</p><p>Bem, em primeiro lugar não tem nada de tão maravilhoso no fato de viver em</p><p>um castelo. Porque sabe o que mais? Castelos são totalmente velhos. E, pois é,</p><p>esse aqui não foi construído em 4 d.C., ou quando quer que seja que minha</p><p>ancestral Princesa Rosagunde tinha se tornado a administradora de Genovia. Ele</p><p>na verdade foi construído em, tipo assim, 1600, e me deixe contar a você o que</p><p>eles não tinham em 1600:</p><p>TV a cabo</p><p>Conexão digital</p><p>Banheiros</p><p>O que não quer dizer que não há uma antena via satélite agora, mas alô, essa é a</p><p>casa de meu pai; os únicos canais que ele tem programados são tipo CNN, CNN</p><p>Notícias Financeiras e o canal de golfe. Eu queria saber onde está a MTV2? Onde</p><p>está o canal Lifetime Movie para Mulheres?</p><p>Não que isso importe muito, porque estou passando todo o meu tempo sendo</p><p>apressada pelos outros. Não é como se eu sempre tivesse um momento livre para</p><p>pegar um controle remoto e falar “Hum, hum, será que tem um filme de Tracey</p><p>Gold passando?”</p><p>Ah, sim, e os banheiros? Deixe-me contar a você que nos anos 1600 eles simples-</p><p>mente não sabiam muita coisa sobre esgotos. Então agora, quatrocentos anos mais</p><p>tarde, se você resolver colocar um monte de papel higiênico no vaso e tentar dar a</p><p>descarga, você cria um mini tsunami dentro de casa.</p><p>Então é isso. Esta é minha vida em Genovia.</p><p>Todos os outros garotos e garotas que conheço estão passando as férias de inverno</p><p>esquiando em Aspen, ou se bronzeando em Miami.</p><p>Mas eu? O que eu estou fazendo em minhas férias de inverno?</p><p>Bem, aqui estão os pontos principais da nova agenda que Grandmère me deu de</p><p>presente de Natal (que garota não adoraria receber uma agenda no Natal?) sobre</p><p>o que eu fiz até agora.</p><p>CABOT, M. O diário da princesa – a princesa à espera. Rio de Janeiro: Record,</p><p>2003. p. 11-14.</p><p>Esse pedaço de queijo está lá desde a última primavera. Acho que deve ter caído</p><p>do sanduíche de alguém, ou coisa do tipo. Depois de uns dias, o queijo começou</p><p>a ficar todo mofado e nojento. Ninguém jogava mais na quadra onde o queijo</p><p>estava, mesmo sendo a única que tinha rede na cesta de basquete.</p><p>Aí, um dia, esse garoto chamado Darreh Walsh encostou o dedo no queijo, e</p><p>assim começou a coisa conhecida como o toque do queijo. funciona assim: se você</p><p>pega o toque do queijo, fica com ele até passar para outra pessoa.</p><p>O único jeito de se proteger do toque do queijo é cruzando os dedos.</p><p>Mas não é fácil lembrar de cruzar os dedos toda hora do dia. Eu acabei prendendo</p><p>os meus com fita adesiva para que eles ficassem sempre cruzados. Tirei D em</p><p>Caligrafia, mas valeu muito a pena.</p><p>Teve esse garoto chamado Abe Hall que pegou o toque do queijo em abril e nin-</p><p>guém mais chegou perto dele até o final do ano letivo. Esse verão, o Abe se mudou</p><p>para a Califórnia e levou o toque de queijo junto com ele.</p><p>Só espero que ninguém comece o toque do queijo de novo, porque eu não preciso</p><p>mais desse tipo de estresse na minha vida.</p><p>Quinta-feira</p><p>Estou tendo um problema sério em me acostumar ao fato de que o verão acabou</p><p>e eu tenho que me levantar todo dia de manhã para ir à escola.</p><p>Meu verão não começou muito bem, na verdade, graças ao meu irmão mais velho,</p><p>Rodrick.</p><p>Uns dias depois do começo das férias de verão, Rodrick me acordou no meio da</p><p>noite. Ele me disse que eu tinha dormido o verão inteiro, mas que, por sorte,</p><p>tinha acordado bem a tempo para o primeiro dia de aula.</p><p>Você pode imaginar que eu fui burro de cair nessa, mas o Rodrick estava vestindo</p><p>as roupas de escola dele e adiantou o meu despertador para parecer que era de</p><p>manhã. Além disso, ele fechou as cortinas para eu não ver que ainda estava escuro</p><p>lá fora.</p><p>Depois que o Rodrick me acordou, eu me vesti e desci para tomar um café da</p><p>manhã, como faço toda manhã que tem aula.</p><p>Mas eu devo ter feito muito barulho porque, quando vi, o papai tinha descido e</p><p>estava gritando comigo por comer Sucrilhos às 3h da manhã.</p><p>Levou um minuto para eu me dar conta do que diabos estava acontecendo.</p><p>Depois disso, eu contei pro papai que o Rodrick tinha pegado uma peça em mim</p><p>e que era ele quem devia estar levando bronca.</p><p>Meu pai desceu para o quarto do Rodrick e eu fui junto. Não via a hora de vê-lo</p><p>levar o que merecia.</p><p>Mas Rodrick tinha disfarçado bem as coisas. E acho que até hoje o papai pensa</p><p>que eu tenho um parafuso solto ou coisa do tipo.</p><p>KINNEY, J. Diário de um banana. Cotia, SP: Vergara & Riba Editoras, 2008.</p><p>Quando são alinhados os interesses universais das</p><p>crianças, como a escrita de um diário, em que as pos-</p><p>sibilidades de expor os sentimentos, dúvidas, aflições</p><p>e alegrias dos adolescentes são colocadas em primeiro</p><p>plano e alinhadas com uma visão mais contemporâ-</p><p>nea, com o uso da internet, dá-se um pouco de estí-</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 8</p><p>mulo e sentido para a realização da atividade e, mais</p><p>que isso, pode-se estar incutindo no aluno a prática</p><p>cotidiana da escrita.</p><p>Existem publicações que são específicas para</p><p>crianças. Revistas, cadernos em jornais e sites que</p><p>apresentam uma gama de textos e temas com lingua-</p><p>gem para esse público específico, devem ser aprovei-</p><p>tados em atividades dirigidas. Normalmente, essas</p><p>publicações contam com a participação de crianças</p><p>e adolescentes que expõem seus pontos de vista a res-</p><p>peito de alguns temas, ou dão indicações de filmes,</p><p>livros que interessam à sua própria faixa etária. Dessa</p><p>forma, esses textos também podem ser motivadores</p><p>para que os alunos queiram ler e escrever a respeito</p><p>dos temas apresentados.</p><p>4 LEITURAS LITERÁRIAS E LEITURAS</p><p>DE MUNDO: PERSPECTIVAS</p><p>Quando se fala em ensino de literatura, logo se</p><p>pensa nas disciplinas do ensino médio, em que estudar</p><p>literatura faz parte do currículo, com conteúdos obri-</p><p>gatórios. Mas o que deve ser feito quando esse assunto</p><p>está relacionado com as séries iniciais? Os próprios</p><p>Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) admitem</p><p>que há uma falha geral a respeito da capacidade de lei-</p><p>tura dos alunos, que se inicia no ensino fundamental</p><p>e, muitas vezes, persiste, prejudicando-os, para toda</p><p>sua vida estudantil.</p><p>Os PCNs defendem que o uso de textos contri-</p><p>bua para a cidadania e socialização do aluno:</p><p>A importância e o valor dos usos da</p><p>linguagem são determinados his-</p><p>toricamente segundo as demandas</p><p>sociais de cada momento. Atual-</p><p>mente exigem-se níveis de leitura</p><p>e de escrita diferentes e muito</p><p>superiores aos que satisfizeram as</p><p>demandas sociais até bem pouco</p><p>tempo atrás — e tudo indica que</p><p>essa exigência tende a ser cres-</p><p>cente. Para a escola, como espaço</p><p>institucional de acesso ao conheci-</p><p>mento, a necessidade de atender a</p><p>essa demanda, implica uma revisão</p><p>substantiva das práticas de ensino</p><p>que tratam a língua como algo sem</p><p>vida e os textos como conjunto de</p><p>regras a serem aprendidas, bem</p><p>como a constituição de práticas</p><p>que possibilitem ao aluno aprender</p><p>linguagem a partir da diversidade</p><p>de textos que circulam socialmente.</p><p>A proposta dos PCNs é clara na preocupação</p><p>de formar indivíduos capazes de ler e sua imbrica-</p><p>ção social, pois quando se aprende a ler, não se pode</p><p>somente identificar os códigos linguísticos, mas com-</p><p>preender a essência do que trata cada texto. Se o aluno</p><p>possui postura crítica, questionadora, que dialoga com</p><p>o que lê, consequentemente apresentará a mesma pos-</p><p>tura diante de situações cotidianas e que peçam uma</p><p>postura crítica. Dessa forma, a leitura se amplia e se</p><p>torna, além de decodificação, em leitura de mundo.</p><p>Para analisar essa questão, não se pode ignorar</p><p>como a leitura foi trabalhada na escola durante muito</p><p>tempo. Novamente os PCNs de língua portuguesa</p><p>reflete a esse respeito:</p><p>Essa abordagem aditiva levou a</p><p>escola a trabalhar com “textos” que</p><p>só servem para ensinar a ler. “Tex-</p><p>tos” que não existem fora da escola</p><p>e, como os escritos das cartilhas,</p><p>em geral, nem sequer podem ser</p><p>considerados textos, pois não pas-</p><p>sam de simples agregados de frases</p><p>(BRASIL, p. 29).</p><p>O texto é claro em relação à falha da escola. Nor-</p><p>malmente, o professor utiliza-se de material didático</p><p>que é elaborado de acordo com conteúdos gramaticais</p><p>e de estrutura da língua no nível de escolaridade do</p><p>aluno, porém não agrega conhecimento e não possui</p><p>relação com a realidade do mesmo. Dessa forma, a lei-</p><p>tura não pode ser atrativa, e muito menos, fazer sen-</p><p>tido para quem a lê. Mais do que isso, é uma postura</p><p>de subestimação em relação ao educando.</p><p>Textos com poucas orações em uma página,</p><p>pouca ou quase nenhuma capacidade de fruição e</p><p>materiais pobres em conteúdos contribuem para que</p><p>essa realidade continue, e os alunos não tenham von-</p><p>tade de se dedicar à leitura. Não há, nesse contexto,</p><p>uma identificação, uma motivação e um sentido para</p><p>que a leitura seja concretizada. Percebe-se, assim, que</p><p>não é culpa do aluno não ter interesse em leitura, mas,</p><p>sobretudo, da maneira como essa prática é conduzida.</p><p>Os PCNs reforçam a ideia de que a leitura deva</p><p>ser uma prática cotidiana. Somente cria-se o hábito</p><p>da leitura, exercitando-a, incorporando-a ao coti-</p><p>diano escolar, não como uma tarefa árdua, mas como</p><p>necessária e muitas vezes lúdica. Há um impasse nesse</p><p>ponto: a dúvida entre escolher textos utilitários ou</p><p>literários se torna uma angústia. Sabe-se que a melhor</p><p>maneira de aprender é quando se associa um dado</p><p>novo à realidade que já se conhece. Por isso, é necessá-</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>9Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>rio que sejam lidos textos que rodeiam as crianças no</p><p>seu dia a dia e que dialoguem com o conhecimento de</p><p>mundo que já possuem.</p><p>Outdoors, propagandas, notícias, capas de revis-</p><p>tas, receitas e bulas de remédio fazem parte da vida</p><p>de qualquer um. Mas não há a necessidade de se ler</p><p>somente textos com base na realidade empírica, mais</p><p>imediata. Livros literários, que possibilitem a fruição</p><p>de leitura também devem e podem ser incorporados à</p><p>prática diária. Dessa forma, não se formam somente</p><p>leitores de informações ou de textos fundamentais</p><p>para a sobrevivência cotidiana, mas dá-se a experiência</p><p>de dialogar com visões diferentes do mundo.</p><p>Os Parâmetros Curriculares também são cate-</p><p>góricos em afirmar que não são formados bons leito-</p><p>res somente com atividades em sala de aula, a leitura</p><p>deve estar incorporada à prática diária de estudo do</p><p>aluno. É isto que pode contribuir para formar leitores</p><p>competentes que, consequentemente, serão escritores</p><p>competentes. Mas para isto é necessário que o aluno</p><p>aprenda a ler. Não que existam fórmulas prontas que</p><p>possam ser empregadas e que sempre resultarão positi-</p><p>vamente, mas existem estratégias (como a seleção tex-</p><p>tual, as atividades que a envolvem, o diálogo que pos-</p><p>suem com a realidade escolar e do aluno) que podem</p><p>facilitar e contribuir para esse processo.</p><p>Ler não é somente decodificar os signos, é inte-</p><p>ração com o que o autor diz. Para que essa relação se</p><p>estabeleça de modo pleno, apresentar diversos tipos</p><p>de texto deve ser a prática e a palavra de ordem para</p><p>todo professor. Não adianta ter um aluno extrema-</p><p>mente competente na leitura de um determinado</p><p>tipo de texto (o literário, por exemplo), se quando se</p><p>depara com uma maneira diferente de expressão não</p><p>há entendimento. O bom leitor é aquele que pode ler</p><p>qualquer texto, em qualquer situação e entendê-lo.</p><p>A criança quando se inicia nessa prática precisa,</p><p>necessariamente, entender por qual processo está pas-</p><p>sando e interagir com ele.</p><p>5 A ATIVIDADE DA LEITURA</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Quando se pensa em práticas de leitura surge,</p><p>inevitavelmente, uma questão: como e quando fazer?</p><p>Logo que a criança inicia seu processo de apren-</p><p>dizagem deve ser inserida no universo da leitura. Toda</p><p>prática em sala de aula deve contemplar:</p><p>As ações que as crianças realizam</p><p>em sala de aula para aprender são,</p><p>em parte, orientadas pela visão de</p><p>aprendizagem que norteia os plane-</p><p>jamentos de ensino elaborados pelos</p><p>profissionais na escola. Ou seja, os</p><p>pressupostos em torno do conceito</p><p>de aprendizagem que orientam o</p><p>projeto de ensino que assumimos</p><p>em nossa prática docente acabam</p><p>por configurar as estratégias didá-</p><p>ticas usadas para mobilizar e pro-</p><p>mover os processos de aprendiza-</p><p>gem das crianças. Por isso é muito</p><p>importante que tenhamos clareza</p><p>e possamos discutir nossas ideias e</p><p>crenças sobre o processo de apren-</p><p>dizagem ao elaborarmos e oficiali-</p><p>zarmos nossos projetos pedagógicos</p><p>(MONTEIRO, 2010).</p><p>Percebe-se a importância e a relevância do plane-</p><p>jamento de toda e qualquer atividade, principalmente</p><p>as relacionadas à leitura. Projetos que disponibilizam</p><p>livros para os alunos, que envolvem ambientes confor-</p><p>táveis para a prática da leitura são indispensáveis, mas</p><p>se não houver um bom planejamento, não há sentido.</p><p>Muitas vezes conhecemos o livro, o filme a respeito</p><p>da obra e uma história em quadrinhos da mesma, a</p><p>junção dos três é claramente um convite para uma ati-</p><p>vidade interessante e rica, porém se não for estudada e</p><p>articulada de modo a fazer sentido, não criará o inte-</p><p>resse no aluno.</p><p>Marisa Lajolo, por outro lado, em seu livro Do</p><p>mundo da leitura para a leitura do mundo nos faz refletir</p><p>a respeito dessa prática pedagógica: “O que fazer com</p><p>ou do texto literário em sala de aula funda-se, ou devia</p><p>fundar-se em uma concepção de literatura muitas vezes</p><p>deixada de lado em discussões pedagógicas.” (LAJOLO,</p><p>2010, p. 11). A autora também critica o papel das edi-</p><p>toras enquanto propagadoras de livros que, muitas</p><p>vezes, os professores são obrigados a escolher, ficando à</p><p>mercê da qualidade e de interesses comerciais. Mais que</p><p>isso: todos esses materiais já vêm acompanhados de um</p><p>roteiro, previamente pensado e que não abre margem</p><p>para discussão e reflexão do professor.</p><p>A autora ainda questiona algumas estratégias:</p><p>palavras cruzadas, jogral, dramatização, etc., e afirma:</p><p>“Ou o texto dá um sentido ao mundo, ou ele não tem</p><p>sentido nenhum. E o mesmo se pode dizer das nossas</p><p>aulas.” (LAJOLO, 2010, p. 15). Assim, fica evidente</p><p>que a prática, interesse e engajamento do professor</p><p>diante de classes específicas é que deve elaborar e esco-</p><p>lher quais práticas deverão ser realizadas. O aluno pre-</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 10</p><p>cisa descobrir</p><p>o(s) sentido(s) do texto e dialogar com</p><p>ele, sem que, necessariamente, precise realizar tarefas</p><p>que não possuem fundamento para si.</p><p>Lajolo, por isso, ressalta a importância de conhecer-</p><p>-se a qual aluno se destina os textos que são escolhidos:</p><p>Tanto a criança à qual se destina</p><p>a literatura infantil é uma cons-</p><p>trução, quanto o jovem ao qual se</p><p>destina a literatura juvenil é outra</p><p>construção, ambas sociais. E, na</p><p>condição de satélites de constru-</p><p>ções sociais, tanto o infantil de uma</p><p>quanto o juvenil de outra são con-</p><p>ceitos instáveis: o que é literatura</p><p>infantil, em determinado contexto,</p><p>pode ser juvenil em outro e vice-</p><p>-versa (LAJOLO, 2010, p. 24).</p><p>É claro o quanto as definições do que é infantil</p><p>ou infantojuvenil são construções sociais, dependerão</p><p>da educação, condições econômicas, região, formação</p><p>dos pais, entre outras inúmeras condições que envol-</p><p>vem a criança e sua formação. Por isso, não existem</p><p>fórmulas prontas e universais de exercícios e leituras,</p><p>cada profissional precisa identificar as carências, inte-</p><p>resses e gostos dos alunos, para a escolha da leitura a</p><p>ser indicada.</p><p>Existem temas que são recorrentes em determi-</p><p>nadas idades, ou temas que envolvem socialização que</p><p>quase todos os professores veem como necessário tra-</p><p>balhar com os alunos, como: adolescência, educação</p><p>sexual, preconceito, buylling, separação dos pais, edu-</p><p>cação ambiental, sentimentos, comportamentos, entre</p><p>outros, que podem contribuir para a formação plena</p><p>do aluno.</p><p>Esses temas, quando tratados em bons textos,</p><p>podem contribuir para discussões e reflexões que</p><p>envolvam, naturalmente, os alunos. Além disso, terão</p><p>aderência imediata, pois fazem parte de dados da rea-</p><p>lidade de quem lê.</p><p>Outra forma importante de trabalho com leitura,</p><p>principalmente nas séries iniciais, são os textos que</p><p>pertencem ao universo do cotidiano. Saber ler notícias</p><p>de jornal, a previsão do tempo, a tabela do campeo-</p><p>nato de futebol, o nome do ônibus, uma receita de</p><p>bolo, um manual de instrução ou o folheto do disk</p><p>pizza possuem uma importância crucial na vida de</p><p>qualquer indivíduo, pois configuram a liberdade de</p><p>interação com a realidade.</p><p>Adaptar cada texto à idade, ao tema e à realidade</p><p>da escola é o papel do professor. Um leitor compe-</p><p>tente é aquele que consegue ir da nota do jornal ao</p><p>romance clássico sem encontrar grandes dificuldades.</p><p>É aquele aluno que sabe encontrar, de maneira autô-</p><p>noma, as informações de que precisa. E o professor</p><p>deve estar preparado para mostrar toda essa variedade</p><p>textual que existe, e não esquecer, da internet, que já</p><p>é parte da realidade da maioria dos alunos e, por isso,</p><p>não pode ser ignorada, mas incorporada para que o</p><p>aluno também aprenda a pesquisar e ler com cautela e</p><p>segurança as informações encontradas na rede.</p><p>6 COMO ESCOLHER BONS TEXTOS</p><p>Primeiramente, qualquer professor, para ensinar</p><p>e divulgar a leitura precisa gostar de ler, precisa ter o</p><p>hábito da leitura. Quem não gosta de ler não pode ser</p><p>um bom propagador de leitura. Ler ajuda a construir</p><p>significados para questionamentos essenciais na vida</p><p>de qualquer pessoa, ajuda a refletir sobre a vida e cons-</p><p>truir significados para ela.</p><p>O professor que lê enriquece seu repertório de</p><p>histórias, conhecimento de mundo, de outras reali-</p><p>dades e o diálogo entre as obras e escritores. Não se</p><p>pode querer que o aluno faça da leitura uma atividade</p><p>cotidiana, se o professor não a faz. Isso, não só por que</p><p>o aluno vai saber que o seu mestre não lê, mas prin-</p><p>cipalmente por que quem não possui esse hábito não</p><p>refina e diversifica seu repertório de ideias e histórias,</p><p>não mostra seu gosto e empolgação e, por que não, o</p><p>amor com essa prática.</p><p>Se o professor não possui competência como lei-</p><p>tor, não pode exigi-la dos alunos,: o bom e atento</p><p>aluno percebe isso. Outra questão: não se pode ver</p><p>na leitura um ato de sofrimento, mas de prazer e de</p><p>compensação por cada momento que se passa diante</p><p>de um livro. Por isso, selecionar textos com quali-</p><p>dade é fundamental para se obter sucesso no trabalho</p><p>com a leitura.</p><p>Para começar a escolha de livros para a prática</p><p>pedagógica, Lajolo esclarece:</p><p>Um bom catálogo vai muito além</p><p>de divulgar os títulos que elenca:</p><p>além de envolver, maquiar e mar-</p><p>car o produto que anuncia, o catá-</p><p>logo acaba construindo uma das</p><p>imagens pela qual seu produto fica</p><p>conhecido. Ou seja, no caso dos</p><p>livros, as informações que o catá-</p><p>logo fornece a respeito das obras</p><p>que nele constam transformam-</p><p>-se, quando o usuário do catálogo</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>11Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>transforma-se em leitor do livro,</p><p>nas categorias que prioritaria-</p><p>mente o leitor procurará e (com</p><p>grande chance) encontrará no livro</p><p>(LAJOLO, 2010, p. 29).</p><p>O catálogo contribui, de saída, para a escolha do que</p><p>indicar aos alunos, primeiro por que traz os títulos distri-</p><p>buídos para cada faixa etária, ou por temas. No entanto,</p><p>nem todo livro categorizado irá satisfazer as necessidades</p><p>do perfil de aluno que cada professor possui.</p><p>É imprescindível que alguns aspectos sejam</p><p>considerados:</p><p>2 Adequação vocabular: cada idade, nível de</p><p>alfabetização e contexto social fazem com</p><p>que a escolha de textos que estejam de acordo</p><p>com as possibilidades intelectuais do aluno</p><p>devam ser levadas em conta. É preciso estar</p><p>atento para o uso de expressões coloquiais</p><p>ou gírias, se for o caso desses aspectos lin-</p><p>guísticos estarem em pauta, caso contrário</p><p>são textos que podem causar problemas, pois</p><p>qualquer leitura tende a ser exemplar. Mui-</p><p>tas vezes, um livro que se utilize de constru-</p><p>ções específicas da língua pode ser escolhido</p><p>para que as mesmas possam ser revistas, ree-</p><p>laboradas e reforçadas. Outra possibilidade</p><p>é a escolha de textos que apresentem jogos</p><p>linguísticos, que contribuam para ilustrar o</p><p>lado lúdico que a linguagem pode apresentar.</p><p>Exemplos são obras que “brincam” com os erros</p><p>ortográficos, vícios de linguagem ou expressões coti-</p><p>dianas típicas de determinada idade, esses livros</p><p>podem contribuir para a reflexão do comportamento</p><p>linguístico do aluno e de seu grupo social, além disso,</p><p>o aluno pode perceber que sua fala é reconhecida,</p><p>tendo prestígio social ou não.</p><p>2 Tema: muitas vezes, o professor conhece títu-</p><p>los, já consagrados, que abordam temas clás-</p><p>sicos para cada fase da vida escolar. É impor-</p><p>tante que seja levado em conta o cotidiano</p><p>de cada escola, o perfil dos alunos e turmas,</p><p>e situações que possam gerar discussões e</p><p>conflitos que possam ser mediados por textos</p><p>literários. Muitas vezes, ouvir o que o aluno</p><p>gosta, é a passagem para o professor conse-</p><p>guir inserir a prática de leitura de modo mais</p><p>fácil e simpático. É comum que o professor</p><p>tenha, por exemplo, ressalvas e uma visão</p><p>negativa, com os best-sellers, porém não se</p><p>pode negar que muitas vezes são esses títulos</p><p>que podem contribuir para que o aluno seja</p><p>inserido no universo da leitura. Começa-se o</p><p>hábito da leitura, que avança gradativamente</p><p>para textos mais consistentes e de qualidade.</p><p>Outra necessidade, em relação ao tema, é a ade-</p><p>quação à idade. Ler textos clássicos, por exemplo,</p><p>sempre será uma boa saída para o debate e a discus-</p><p>são, porém podem ser textos inadequados à idade e</p><p>perfil do aluno. São comuns os casos de alunos que</p><p>afirmam, categoricamente, não gostar de ler. Muitos</p><p>tiveram experiências ruins, com livros que não são</p><p>compatíveis com a idade e maturidade. Machado de</p><p>Assis é, indiscutivelmente, um clássico, que não pode</p><p>ser lido enquanto o aluno não apresenta maturidade</p><p>para compreendê-lo, e a ressalva ou falta de interesse</p><p>será praticamente inevitável.</p><p>Ler textos clássicos, por</p><p>exemplo, sempre será uma</p><p>boa saída para o debate e a</p><p>discussão, porém podem ser</p><p>textos inadequados à idade e</p><p>perfil do aluno.</p><p>Por outro lado, leituras infantilizadas também</p><p>podem causar problemas. Não subestime seu aluno.</p><p>Livros que já vêm prontos, que sua escrita já é pen-</p><p>sada para realizar atividades, nem sempre são a melhor</p><p>pedida. Podem apresentar temas e formas</p><p>óbvias que</p><p>não interessarão, nem dialogarão com a criança.</p><p>Outro erro comum é a escolha de título com</p><p>temas polêmicos. Nem sempre o que o professor</p><p>considera um tema rico para a discussão irá chamar</p><p>a atenção ou motivar para leitura. Às vezes, o aluno já</p><p>discutiu tanto determinados assuntos, que um texto</p><p>literário com a mesma temática pode chatear mais do</p><p>que motivar.</p><p>2 Qualidade literária: o livro escolhido deve</p><p>apresentar qualidade, sempre. Muitas vezes</p><p>uma descrição de que a obra apresenta dis-</p><p>cussões de ordem ecológica, e que podem ser</p><p>aliadas à leitura, fazem com que o professor</p><p>a escolha. Nem sempre os livros mais atra-</p><p>tivos são os de maior qualidade. Às vezes,</p><p>os títulos com as melhores intenções são os</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 12</p><p>mais fracos e não se sustentam diante de uma</p><p>turma questionadora.</p><p>Existem muitas adaptações de clássicos da lite-</p><p>ratura universal que são reescritos em uma lingua-</p><p>gem coerente para um aluno do ensino fundamental,</p><p>porém nem toda adaptação é boa. A adaptação não</p><p>garante a mesma qualidade do texto clássico. Mais: não</p><p>se pode esquecer que uma adaptação nunca é o texto</p><p>original. Muitos escritores clássicos possuem obras que</p><p>um público mais jovem consegue e tem interesse em</p><p>ler, ou o autor escreveu para criança especificamente,</p><p>dessa forma lê-se o clássico sem o comprometimento</p><p>de estar realizando uma leitura difícil demais, ou des-</p><p>motivadora porque ingênua demais.</p><p>Alguns paradidáticos também devem ser anali-</p><p>sados com cuidado: normalmente os livros utilitários</p><p>demais, ou seja, com uma aplicabilidade muito óbvia,</p><p>podem ser pobres em conteúdo e no modo como são</p><p>escritos. O aluno não encontrará desejo de continuar</p><p>a leitura por que se sentirá subestimado e, ele próprio</p><p>avaliará a leitura como ruim. Muitas vezes, o aluno já</p><p>percebe e adianta as atividades que serão realizadas,</p><p>pois o texto as indica.</p><p>Por isso, ler atentamente cada livro com potencial</p><p>para escolha e questionar a adesão à leitura pelo aluno</p><p>são importantíssimos para a melhor seleção de títulos,</p><p>e a probabilidade de erro também será menor.</p><p>2 Ilustração: um aspecto que pode ficar em</p><p>segundo plano, por parecer mais estético é a</p><p>análise das ilustrações das obras. Nem todas</p><p>as ilustrações são óbvias em relação ao conte-</p><p>údo apresentado e, muitas vezes, mostram o</p><p>que o texto não diz, salientam aspectos que</p><p>pareciam não ser relevantes, ou mostram o</p><p>ponto de vista único e exclusivo do artista que</p><p>as produziu.</p><p>As ilustrações também possuem uma importância</p><p>ideológica muito forte. Um exemplo é o livro infantil</p><p>Espelho, espelho de Paulo Venturelli (2000). A história</p><p>narrada gira em torno do cotidiano de um menino da</p><p>periferia que descreve seu dia a dia, o lugar onde mora</p><p>e seus hábitos. Esse menino diz, logo no início da obra</p><p>que é vesgo, mas que enxerga muito bem, o que jus-</p><p>tifica toda sua observação. As ilustrações de Iraçu de</p><p>Borba mostram um menino negro. Pronto, já há toda</p><p>uma ideologia apresentada, em uma única caracte-</p><p>rística. Um aluno perspicaz notará isto rapidamente</p><p>e poderá ser realizada uma discussão a respeito desse</p><p>aspecto, e note-se: a obra não revela na fala do menino</p><p>nada sobre sua etnia.</p><p>Obras em que as ilustrações contribuam e insti-</p><p>gam os alunos são sempre mais bem-vindas das que</p><p>possuem desenhos sem criatividade e real diálogo</p><p>com a obra. Não se esqueça do papel importantís-</p><p>simo na formação de qualquer leitor principiante das</p><p>histórias em quadrinhos, típicas dessa fase do desen-</p><p>volvimento escolar.</p><p>2 Textos do cotidiano: são tão importan-</p><p>tes quanto os textos literários. São todos os</p><p>tipos e gêneros textuais que estão à volta de</p><p>qualquer pessoa. As notícias jornalísticas</p><p>(com suas variações de temas e abordagens),</p><p>as reportagens, as campanhas publicitárias</p><p>(sejam da TV ou de revistas), os outdoors, as</p><p>receitas culinárias, as bulas de remédio, os</p><p>manuais (de eletrodomésticos ao brinquedo),</p><p>as regras de um jogo, a previsão do tempo, o</p><p>livro didático (de qualquer matéria), a revista</p><p>de história em quadrinhos, o horóscopo...</p><p>enfim, os textos que fazem parte da vida de</p><p>qualquer pessoa.</p><p>A escolha adequada de temas, tipos e linguagem</p><p>para cada idade e interesse faz parte do trabalho do</p><p>professor. Um bom leitor é aquele que é competente</p><p>em todas as leituras e, principalmente, nas leituras que</p><p>dizem respeito ao mundo à sua volta. Não adianta um</p><p>aluno dominar as regras da língua, ser competente em</p><p>leituras literárias e não conseguir ler um encarte de</p><p>promoções do supermercado.</p><p>O aluno precisa perceber que ele está inserido,</p><p>o tempo todo, no universo da leitura, é a leitura que</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>13Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>possibilita conhecer e descobrir qualquer informação</p><p>presente no mundo.</p><p>7 ESCRITA E LEITURA: O QUE FAZER?</p><p>Lígia Chiappini de Moraes Leite afirma a respeito</p><p>do ensino de língua e leitura/literatura:</p><p>O que se coloca é a separação do</p><p>ensino de língua e de literatura é</p><p>inevitável, enquanto exigência da</p><p>própria escola com sua compar-</p><p>timentação artificial do saber, ou</p><p>se haveria outra maneira de ensi-</p><p>nar língua e literatura de modo a</p><p>dinamizar e relacionar organica-</p><p>mente as duas. E, havendo possi-</p><p>bilidade de transformar o ensino</p><p>de comunicação e expressão, o que</p><p>isso mudaria? O que ganhariam os</p><p>alunos, os professores, a escola ou</p><p>a sociedade com essa mudança?</p><p>Os alunos aprenderiam mais ou</p><p>melhor a língua e a literatura?</p><p>(LEITE, 2004, p. 18)</p><p>A resposta para esse questionamento deve vir,</p><p>antes de tudo, de uma reflexão a respeito da importân-</p><p>cia da leitura e da escrita para a formação de qualquer</p><p>indivíduo, seja esta formação empírica (calcada nas</p><p>necessidades diante da realidade), seja na formação de</p><p>sua subjetividade e visão de mundo.</p><p>O estudo da língua portuguesa, dessa forma, é</p><p>fundamental para a formação do aluno, e estabelecer</p><p>quais as diretrizes esse ensino deve tomar e saber arti-</p><p>cular atividades que envolvam a escrita e a leitura, de</p><p>modo coeso, é o grande desafio do professor.</p><p>A seguir um exemplo prático de como essas ati-</p><p>vidades podem se articular e serem realizadas para-</p><p>lelamente. Imagine uma turma de 6.º ano, do atual</p><p>ensino fundamental. Um tema que pode chamar a</p><p>atenção dos alunos dessa faixa etária são as histórias de</p><p>mistério ou detetive.</p><p>A seleção de textos pode conter obras clássicas</p><p>desse gênero, adaptações, ou histórias em quadrinhos.</p><p>A seleção dos textos pode apresentar auto-</p><p>res consagrados como Conan Doyle, o criador do</p><p>famoso detetive Sherlock Holmes, que pode apresen-</p><p>tar alguma dificuldade para os alunos, por isso sele-</p><p>cionar trechos, contar outros pode ser uma maneira</p><p>para introduzir o assunto.</p><p>Há também, se for o perfil dos alunos, edições</p><p>adaptadas das história de Doyle, ou outros títulos e</p><p>autores com a mesma temática, como A morte não tira</p><p>férias de Boileau-Narcejac; O estranho caso da caverna</p><p>de Graziela Bozano Hetzel; ou A pista do alfinete novo</p><p>de Edgar Wallace.</p><p>Antes de iniciar as leituras, introduzir o aluno no</p><p>universo das histórias de detetives, instigando a curio-</p><p>sidade e a elaboração de perguntas durante a leitura,</p><p>ajudam a criar interesse e mostrar o que é importante</p><p>para a compreensão das histórias.</p><p>Ainda, essas atitudes contribuem para que o aluno</p><p>perceba que, tendo essa postura diante do texto, con-</p><p>seguirá achar sozinho as respostas de que precisa. Veja-</p><p>mos algumas perguntas que podem contribuir para o</p><p>interesse dos alunos:</p><p>2 Você conhece histórias de terror?</p><p>2 Você conhece histórias de mistério?</p><p>2 O que mais chama a atenção nesse tipo de</p><p>história?</p><p>2 Você fica com medo de ouvir essas histórias?</p><p>2 É bom sentir medo, ao ouvir essas histórias?</p><p>2 Você gosta de filmes de terror? Quais?</p><p>2 O que mais chama a atenção nesses filmes?</p><p>Essas perguntas podem ser as motivadoras para</p><p>iniciar o tema proposto, e podem ser facilmente adap-</p><p>tadas para qualquer outro tema. O importante é dar</p><p>um pouco de corda aos alunos, para se descobrir do</p><p>que gostam</p><p>e o porquê.</p><p>Uma sugestão, nesse caso, para iniciar o trabalho</p><p>com o tema, é arrumar a sala de modo que o profes-</p><p>sor possa contar uma história, em um ambiente que</p><p>estimule os alunos a participarem e prestarem a aten-</p><p>ção. Por exemplo: deixar que todos sentem no chão,</p><p>em círculos; deixar a sala quase escura e usar uma</p><p>lanterna, ou outros objetos que ajudem a estimular a</p><p>criatividade; utilizar alguma música que ajude a cau-</p><p>sar o suspense...</p><p>Em seguida, os alunos precisam conhecer os tex-</p><p>tos, a seguir alguns trechos de textos selecionados, que</p><p>podem servir de sugestão. Caso o professor ache textos</p><p>interessantes, mas difíceis para o nível da turma, uma</p><p>sugestão é que a história seja contada, e não lida, mas</p><p>que a narração estimule o desejo por textos novos.</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 14</p><p>Texto 1</p><p>“A casa número três de Laurinston Gardens tinha</p><p>uma aparência fatídica e ameaçadora. Era uma entre</p><p>quatro casas construídas um pouco afastadas da rua.</p><p>Duas delas estavam ocupadas; duas permaneciam sem</p><p>moradores. A de número três espiava a rua por três</p><p>fileiras de janelas tristes e vazias, que seriam ainda</p><p>mais desoladoras e funestas, não fossem os cartazes de</p><p>‘Aluga-se’, que, como cataratas, cobriam algumas das</p><p>vidraças turvas. Um pequeno jardim em que árvores</p><p>anêmicas haviam sido salpicadas, distantes umas das</p><p>outras, separava cada casa da rua. Atravessava-o uma</p><p>senda estreita e amarelada, feita com o que parecia</p><p>ser uma mistura de saibro e argila. A chuva durante a</p><p>noite deixara o lugar lamacento e úmido.”</p><p>DOYLE, C. Um estudo em vermelho. São</p><p>Paulo: FTD, 1998.</p><p>Texto 2</p><p>“Na escuridão do prédio deserto, a luz do eleva-</p><p>dor subia misteriosamente, deslocando sombras com-</p><p>plicadas pelo solo e pelas paredes dos andares por onde</p><p>passava. Chegando ao quarto, Gersaint empurrou vio-</p><p>lentamente as velhas portas de grade e passou na frente</p><p>de sua mulher.”</p><p>BOILEAU-NARCEJAC. A morte não tira</p><p>férias. Rio de Janeiro: Globo, 1973.</p><p>Texto 3</p><p>“Às onze horas Stott levantou-se da cama, tomou</p><p>um banho e meteu-se no pijama. A noite estava</p><p>quente, opressivamente quente, e a cama não o convi-</p><p>dava. Abriu a janela do quarto de dormir e, ocupando</p><p>a metade de sua reduzida varanda com uma cadeira</p><p>dobrável, sentou-se nela para gozar a brisa que soprava</p><p>de quando em quando. [...]</p><p>Durante meia hora fumou placidamente, viu os</p><p>Mander que chegavam do teatro, e Mr. Trammin,</p><p>ocupante de uma casa que estava a três portas da sua,</p><p>regressando ao lar em estado de embriaguez e disposto</p><p>a brigar com o motorista por causa do preço da cor-</p><p>rida. Viu o automóvel do velho Pusuer, parado na</p><p>frente do Flemington,e, quando já perdia o interesse</p><p>por esses detalhes e pensava em jogar fora o charuto,</p><p>avistou dois homens que se aproximavam devagar. [...]</p><p>Stott ficou alerta instantaneamente. Deviam ser</p><p>oficiais da polícia... Chegou até ele o som de vozes altas.”</p><p>WALLACE, E. A pista do alfinete novo. Rio de</p><p>Janeiro: Globo, 1987.</p><p>Texto 4</p><p>“Quando foi pela segunda vez à caverna, não</p><p>levou Biscoito. O cachorro tinha atrapalhado mais do</p><p>que ajudado, da outra vez.</p><p>Munido da lanterna e de um canivete suíço,</p><p>Felipe escapuliu de casa dizendo que ia à praia. As pro-</p><p>vas mensais haviam acabado.</p><p>Com cuidado, por causa dos morcegos, foi ilu-</p><p>minando a caverna. O canivete no bolso da bermuda,</p><p>dando coragem.</p><p>As latas de salsicha tinham sumido, substituídas</p><p>por alguns pacotes vazios de biscoito, uma barra de</p><p>chocolate meio comida e dois cotocos de vela.</p><p>Em um canto, encontrou um colchão velho, rou-</p><p>pas, um abridor de latas e algumas revistinhas.</p><p>‘Não é que tem mesmo alguém se escondendo</p><p>aqui? Só pode ser um maluco pra morar nesse buraco</p><p>escuro e fedorento. Ou, então, um bandido!’ Apalpou</p><p>o canivete, nervoso.”</p><p>HETZEL, G. B. O estranho caso da caverna.</p><p>São Paulo: Atual Editora, 2009.</p><p>Texto 5 – História em quadrinhos</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>15Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>Fonte: DOYLE, C. (2010)</p><p>Esses cinco trechos de textos mostram possibi-</p><p>lidades de trabalho, com a mesma temática e com</p><p>uma variedade de textos. Conan Doyle, por exem-</p><p>plo, no original é um autor mais difícil para uma</p><p>faixa etária menor, porém através de adaptações, se</p><p>torna mais fácil. Foram selecionados cinco trechos</p><p>de textos, inclusive de uma adaptação em história</p><p>em quadrinhos, para diversificar o tipo e a aborda-</p><p>gem dos textos.</p><p>8 CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Somente com a leitura da seleção dos textos apre-</p><p>sentada, é possível perceber que todos apresentam um</p><p>vocabulário (principalmente de adjetivos) bem pecu-</p><p>liar, o que contribui para o clima de mistério e sus-</p><p>pense; além de deixarem os leitores com o desejo de</p><p>saber como a história acaba. Outro elemento que pode</p><p>ser observado é que todos os textos apresentam con-</p><p>textos do cotidiano, pois as personagens estão em casa,</p><p>ou em lugares de fácil acesso, com exceção da persona-</p><p>gem Felipe do livro O estranho caso da caverna, ainda</p><p>assim um lugar conhecido pelo universo dos alunos.</p><p>A leitura conjunta de textos mais difíceis pode ser</p><p>uma boa saída, pois o professor pode ler e dar ênfase</p><p>nos trechos mais assustadores, e ao mesmo tempo</p><p>pode esclarecer dúvidas de vocabulário, ou mesmo de</p><p>conhecimento de mundo. Por exemplo, se a história se</p><p>passa em outro país, pode haver alguma dúvida quanto</p><p>a nomes de pessoas ou locais, comida, etc.</p><p>Outra estratégia para fomentar a leitura entre as</p><p>crianças pode ser selecionar anteriormente títulos que</p><p>façam parte desse universo de informação escolhido e</p><p>deixar que cada um escolha o título que mais agradar.</p><p>Conforme as leituras forem se desenvolvendo, os alu-</p><p>nos podem trocar informações e pode-se criar rodas</p><p>de leitura, em que as histórias são contadas do ponto</p><p>de vista da criança, com seu olhar peculiar, marcando</p><p>os detalhes que mais lhe chamam a atenção. A prática</p><p>de rodas de leitura ajuda, sobremaneira, o fomento da</p><p>prática da leitura, baseado no prazer e no lúdico que o</p><p>texto apresenta.</p><p>Em outro momento, a escolha de um título ins-</p><p>tigante e que não apresente muitas dificuldades de lei-</p><p>tura para a faixa etária, pode ser escolhido para que</p><p>toda a turma leia. Dos trechos de texto apresentados, é</p><p>perceptível que os primeiros textos possuem um nível</p><p>de dificuldade um pouco maior que o texto número</p><p>04, escrito de modo mais fácil para uma turma de</p><p>idade menor.</p><p>A história em quadrinhos ajuda também na visu-</p><p>alização do texto, fundamental para as crianças, pois</p><p>são muito visuais, e esse tipo de leitura também con-</p><p>tribui para a criatividade. Não se pode ignorar que o</p><p>aluno também aprende a ler as imagens. Juntamente</p><p>a isto, o professor pode associar o trabalho de leitura</p><p>com filmes, que dialoguem com o assunto estudado.</p><p>No caso das histórias de mistério, há o filme de Sher-</p><p>lock Holmes, que pode não ser adequado para crian-</p><p>ças menores, mas pode (a partir de trechos) mostrar</p><p>hábitos, modos de se vestir, etc.</p><p>Sherlock Holmes é uma personagem inglesa</p><p>típica, o filme, nesse caso, pode ajudar a mostrar</p><p>como, na época em que se passa a história, as pessoas</p><p>se vestiam e se comportavam.</p><p>Outra opção interessante, é Harry Potter, uma</p><p>personagem ícone da adolescência contemporânea.</p><p>Suas histórias apresentam características de mistérios</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 16</p><p>e, às vezes, terror, e podem ajudar as crianças a explo-</p><p>rarem características e criar empatia.</p><p>Após envolver os alunos no universo da leitura,</p><p>utilizando história de mistério como exemplo, é hora</p><p>de iniciar um trabalho a respeito das características do</p><p>gênero estudado. Por exemplo: as histórias de mistério</p><p>sempre deixam pistas durante a narrativa e todas são</p><p>recuperadas e explicadas ao final da história; o texto</p><p>sempre apresenta um suspeito, há pistas de crimes,</p><p>normalmente as cenas do crime são comuns; normal-</p><p>mente a história é contada no passado, pois as persona-</p><p>gens já passaram pela situação e querem, distanciados</p><p>no tempo, narrar o que aconteceu; deve-se perceber a</p><p>importância da descrição nesse tipo de</p><p>texto, o uso de</p><p>adjetivos que contribuem para criar suspense e, final-</p><p>mente, o modo como o texto desvenda o mistério.</p><p>Outra característica importante, nesse tipo de</p><p>texto, é a presença da verossimilhança da construção,</p><p>ou seja, é sempre possível discutir, depois do misté-</p><p>rio desvendado, as pistas deixadas, que deixam claro</p><p>quem é o culpado, por exemplo, mas que enquanto</p><p>estamos lendo, não conseguimos perceber.</p><p>Durante e, principalmente, depois dos alunos</p><p>conhecerem as características e alguns textos do gênero</p><p>escolhido, passamos para outra fase do trabalho: as</p><p>práticas de escrita. Existem, para esse caso, várias pos-</p><p>sibilidades de trabalho com textos. Dependendo da</p><p>intenção do professor, e das necessidades da turma que</p><p>está participando dessas atividades, pode-se escolher</p><p>entre várias possibilidades de trabalho, motivadas pela</p><p>leitura da literatura de mistério:</p><p>2 resumo;</p><p>2 sinopse;</p><p>2 resenha;</p><p>2 roteiro;</p><p>2 peça de teatro;</p><p>2 notícia de jornal;</p><p>2 interrogatório para descoberta do culpado;</p><p>2 história em quadrinhos;</p><p>2 descrição;</p><p>2 narração – texto de mistério.</p><p>O trabalho do professor será o de mostrar quais</p><p>as características de cada tipo de texto e motivar a pro-</p><p>dução. As diferenças entre os gêneros textuais devem</p><p>ficar claras para o aluno, antes de iniciar a produção</p><p>textual, que deve estar atrelada a alguma atividade na</p><p>escola. Independente da escolha de trabalho, por parte</p><p>do professor, é indicada a criação de textos de histó-</p><p>rias de mistério. Os alunos podem seguir um roteiro,</p><p>previamente visto pelo professor, para iniciar a criação</p><p>de sua história: escolher um mistério ou enigma, um</p><p>crime, um suspeito, deixar pistas, fazer uma seleção</p><p>vocabular adequada ao tipo de texto (o uso do dicio-</p><p>nário é imprescindível), caracterização das persona-</p><p>gens adequada, final coerente.</p><p>Cada aluno, ou grupo, deve criar seu conto, que</p><p>deve ser corrigido pelo professor e deve haver uma</p><p>conversa, para que o texto seja reescrito (com as devi-</p><p>das correções) e com possíveis alterações da história,</p><p>para que haja nova correção. Nesse processo é funda-</p><p>mental que os alunos percebam a coesão e coerência, a</p><p>progressão textual para que o texto surta o efeito dese-</p><p>jado (nesse caso, apresentar o mistério).</p><p>Depois de prontos os textos, os alunos podem</p><p>apresentar os trabalhos para os colegas e montar um</p><p>livro com todos os textos, em que todos possam dar</p><p>alguma contribuição, seja ilustrando, seja digitando</p><p>ou organizando a estrutura do livro.</p><p>Outra atividade que pode ser realizada é a escrita</p><p>de textos narrativos a partir de dados apresentados pelo</p><p>professor. Pode-se apresentar para o aluno o início de</p><p>uma história que já exista, propondo que dê continui-</p><p>dade, observando como é o narrador, quais circuns-</p><p>tâncias, personagens, etc. e depois mostrar para toda</p><p>a turma como é o final real da história. Normalmente</p><p>os alunos, nessa condição, os alunos ficam empolga-</p><p>dos, se envolvem na escrita, e, mesmo que apresentem</p><p>dificuldades de criação e elaboração da história, têm o</p><p>desejo de participar.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALLIENDE, F. A leitura: teoria, avaliação e desenvol-</p><p>vimento. Porto Alegre: Artmed, 2005.</p><p>ALMEIDA, G. P. Desenvolvimento da escrita: 100</p><p>propostas práticas de trabalho com crianças de seis</p><p>anos. Rio de Janeiro: Wak Ed, 2008.</p><p>AMARILHA, M. Estão mortas as fadas? Literatura</p><p>infantil e prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2009.</p><p>COLOMER, T. Andar entre livros: a leitura literária</p><p>na escola. São Paulo: Global, 2007.</p><p>COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática.</p><p>São Paulo: Contexto, 2009.</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>17Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>DOYLE, C. O cão dos Baskervilles: um mistério de</p><p>Sherlock Holmes (adaptada por Martin Powlel). São</p><p>Paulo: On Line Editora, 2010.</p><p>FLORES, O. C. (Org.). Ensino de língua e litera-</p><p>tura: alternativas metodológicas. Canoas: Editora</p><p>ULBRA, 2001.</p><p>GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. São</p><p>Paulo: Ática, 2004.</p><p>LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura</p><p>do mundo. São Paulo: Ática, 2010.</p><p>MICOTTI, M. C. de O. Leitura e escrita: como</p><p>aprender com êxito por meio da pedagogia por proje-</p><p>tos. São Paulo: Contexto, 2009.</p><p>MONTEIRO, S. M. Aprender a ler e a escrever. In:</p><p>Guia da alfabetização. São Paulo: Segmento, 2010.</p><p>PÉCORA, A. Problemas de redação. São Paulo:</p><p>Martins Fontes, 1992.</p><p>POSSENTI, S. Sobre o ensino de português na escola.</p><p>In: O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2004.</p><p>SOUZA, R. J. de (Org.). Caminhos para a formação</p><p>do leitor. São Paulo: DCL, 2004.</p><p>VÁRIOS. Leituras literárias: discursos transitivos.</p><p>Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005.</p><p>VENTURELLI, P. Espelho espelho. Curitiba: Nova</p><p>Didática, 2000.</p><p>ZINANI C. J. A. et al. Transformando o ensino de</p><p>língua em literatura: análise da realidade e propostas</p><p>metodológicas. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.</p><p>Material Complementar</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>19Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>AFIRMAÇÕES</p><p>Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link e clicar.</p><p>2 Conceito de alfabetismo</p><p>“Analfabetismo é uma palavra utilizada no português corrente para designar a condição daqueles que</p><p>não sabem ler e escrever; já seu antônimo afirmativo, alfabetismo, mesmo já tendo sido dicionarizado,</p><p>ainda soa estranho aos falantes do idioma. Comentando essa curiosidade semântica, Magda B. Soa-</p><p>res (1995) observa que o mesmo fato já ocorrera com o termo literacy, do inglês, que só passou a ser</p><p>correntemente utilizado no final do século XIX, mais de dois séculos depois do surgimento do termo</p><p>illiteracy, talvez porque a necessidade de compreender a condição dos que sabem ler e escrever tenha</p><p>aparecido mais tardiamente na História, quando se tornaram mais complexas e variadas as demandas</p><p>sociais relacionadas ao uso da linguagem escrita.”</p><p>RIBEIRO, V. M. Alfabetismo funcional: referências conceituais e metodológicas para a pesquisa. Edu-</p><p>cação & sociedade, Campinas, ano XVIII, n. 60, p. 144-158, dez. 1997. Disponível em: <http://</p><p>www.scielo.br/pdf/es/v18n60/v18n60a8.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>2 Conceito de letramento</p><p>“Temos observado que, no sistema atual de ensino, o vocábulo letramento tem sido frequentemente</p><p>utilizado por professores de educação infantil, ensino fundamental, pedagogos, orientadores educacio-</p><p>nais e coordenadores pedagógicos, bem como por psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos, para</p><p>ficarmos no âmbito de profissionais que, de uma forma ou de outra, têm suas atenções voltadas para</p><p>os anos iniciais de educação formal. Assim, é comum ouvirmos frases como: ‘Os alunos desta classe</p><p>são iletrados, precisam ser alfabetizados com urgência’; ‘A coordenadora pedagógica disse que o mais</p><p>importante é que a criança seja letrada, não precisa saber tabuada, mas tem que saber ler corretamente’;</p><p>‘O letramento é a salvação da lavoura, porque se o aluno for letrado ele saberá interpretar um texto; vai</p><p>escrever muito, vai entender matemática, ciências, tudo, etc’. Discursos como os acima apresentados, a</p><p>observação de que muitos cursos e palestras envolvendo o tema (letramento) têm sido constantemente</p><p>ministrados, bem como o fato de muitos autores de livros didáticos de português discorrerem sobre o</p><p>assunto nos manuais de orientação ao professor e, ainda, a abordagem sobre letramento, apresentada</p><p>nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN(s), ou seja, ‘[...] como produto da participação em</p><p>práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia” (1997, p. 23) – motivou-nos</p><p>a investigar como o termo letramento tem sido tratado pela e na instituição escolar, assim como as con-</p><p>sequências e implicações para uma prática pedagógica de ensino de leitura e escrita decorrentes desse</p><p>tratamento, nas séries iniciais do ensino fundamental.’”</p><p>ASSOLINI, F. E.; TFOUNI, L. V. Os (des)caminhos da alfabetização, do letramento e da leitura. Pai-</p><p>déia, Riberão Preto, v. 9, n. 17, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-</p><p>text&pid=S0103-863X1999000200004>.</p><p>Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>ESTUDOS DE CASOS</p><p>2 A dificuldade de leitura em uma turma do 3º ano do ensino fundamental</p><p>A professora de uma turma de 3º ano do ensino fundamental tem por hábito inserir a prática da leitura</p><p>com seus alunos. Para isso, ela sempre escolhe os títulos que considera melhores para a faixa etária dos</p><p>alunos, temas apropriados para o conhecimento de mundo dos alunos, adequação vocabular, etc. Os</p><p>alunos, por outro lado, não se sentem satisfatoriamente estimulados para essa prática e, na maioria</p><p>dos casos, não se envolve e não gosta das aulas de leitura. A professora já tentou leitura em voz alta e</p><p>individual, mas poucos alunos conseguem gostar dessas aulas.</p><p>O que a professora deveria fazer para incutir nos alunos a prática da leitura?</p><p>Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 20</p><p>2 A dificuldade de escrita em uma turma de 4º ano do ensino fundamental</p><p>Em uma turma de 4º ano do ensino fundamental, que passou por vários problemas de alfabetização,</p><p>que possui muitas dificuldades de escrita e de se expressarem verbalmente, o que os faz se sentirem com</p><p>a autoestima muito baixa em relação a tudo o que envolve a escrita. Essa situação faz com que a turma,</p><p>de modo geral, também tenha um desempenho ruim nas outras disciplinas, pois como sua capacidade</p><p>de escrita (e leitura) é baixa, sofrem ao responderem uma prova ou realizarem outras atividades, que</p><p>envolvam a escrita. A professora da turma, tentando incentivar a turma a escrever, mesmo que com</p><p>erros, pede que cada aluno escreva sua autobiografia. A atividade, que poderia ser fácil, acaba por criar</p><p>um novo problema, pois a maioria dos alunos não consegue perceber o que fez de bom ou ruim, e</p><p>percebem muitas vezes que suas condições de vida não são as melhores, criando um problema maior</p><p>ainda de autoestima.</p><p>Como essa professora pode, a partir das dificuldades apresentadas, reverter a situação dos alunos, e</p><p>contribuir para que haja uma melhora na escrita dos mesmos?</p><p>TEMAS TRANSVERSAIS</p><p>Os temas transversais são importantes para ampliar e qualificar os conhecimentos adquiridos na disciplina</p><p>porque permitem interagir com outras temáticas.</p><p>Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link e clicar.</p><p>2 Uma análise da produção de histórias coerentes por crianças</p><p>Quando discutimos a questão da escrita por crianças, é muito comum a proposta de produção de his-</p><p>tórias por parte do professor. Estimular o aluno a produzir suas próprias histórias é uma maneira de</p><p>inseri-lo na prática da escrita, porém muitas crianças possuem dificuldades de estruturar seus textos de</p><p>como coerente, pois as ideias se confundem, e o aluno não possui referencial para conseguir manter o</p><p>sentido do texto.</p><p>Leia o artigo indicado a seguir e reflita a respeito do papel do professor como articulador do processo</p><p>de escrita (e não somente de ensinar regras e formas a serem decoradas).</p><p>SPINILLO, A. G.; MARTINS, R. A. Uma análise da produção de histórias coerentes por crianças.</p><p>Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, v. 10, n. 2, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/</p><p>scielo.php?pid=S0102-79721997000200004&script=sci_arttext>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>2 Aprendendo a ler e a escrever – a narrativa das crianças sobre a alfabetização</p><p>O processo de alfabetização é, sem dúvida, complexo, por isso não pode ser tratado como uma etapa</p><p>qualquer do processo de aprendizagem. Perceber as dificuldades que esse processo apresenta, bem</p><p>como discuti-los é parte fundamental da reflexão do aprendizado desse conhecimento.</p><p>O artigo a seguir apresenta como a própria criança percebe esse processo. Leia-o e, a partir dos dados</p><p>apresentados, reflita a respeito de sua prática.</p><p>CORREA, J.; MACLEAN, M. Aprendendo a ler e a escrever: a narrativa das crianças sobre a alfabe-</p><p>tização. Psicologia: reflexão e crítica, Porto Alegre, v. 12, n. 2, 1999. Disponível em: <http://www.</p><p>scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000200003>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>TEMAS EMERGENTES</p><p>Os temas emergentes indicam temas atuais que enriquecem os conhecimentos da disciplina, pois permitem</p><p>identificar conceitos e fatos em evidência na sociedade.</p><p>Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link e clicar.</p><p>Projetos de Leitura e Escrita</p><p>21Faculdade Educacional da Lapa - FAEL</p><p>2 Alfabetismo funcional – referências conceituais e metodológicas para a pesquisa</p><p>Quando discutimos a importância da leitura e da escrita, um questionamento fundamental neste pro-</p><p>cesso é o do analfabetismo funcional, que infelizmente, faz parte de um número muito grande de bra-</p><p>sileiros. Querer que o aluno aprenda e tenha a prática da leitura é um modo de fazer com que não se</p><p>torne um adulto que sabe decodificar as letras, mas não consegue apreender o texto. Refletir a respeito</p><p>desta questão, durante o processo escolar, é uma maneira de evitarmos adultos que não entendem o</p><p>que leem.</p><p>Leia o texto a seguir e reflita sobre o papel do professor para diminuir o problema do analfabetismo</p><p>funcional, tão comum na sociedade brasileira.</p><p>RIBEIRO, V. M. Alfabetismo funcional: referências conceituais e metodológicas para a pesquisa. Edu-</p><p>cação & sociedade, Campinas, ano XVIII, n. 60, p. 144-158, dez. 1997. Disponível em: <http://</p><p>www.scielo.br/pdf/es/v18n60/v18n60a8.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>2 Os (des)caminhos da alfabetização, do letramento e da leitura</p><p>A discussão, contemporânea, a respeito do sentido de “letramento” tem sido primordial para a reflexão</p><p>a respeito do papel da leitura e escrita na vida escolar de qualquer aluno, e depois de sua saída da escola,</p><p>caso o aluno encontre problemas de leitura e escrita.</p><p>Leia o texto e proponha um questionamento de sua prática na escola, a respeito do letramento e</p><p>da leitura.</p><p>ASSOLINI, F. E.; TFOUNI, L. V. Os (des)caminhos da alfabetização, do letramento e da leitura. Pai-</p><p>déia, Riberão Preto, v. 9, n. 17, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-</p><p>text&pid=S0103-863X1999000200004>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>LEITURAS COMPLEMENTARES</p><p>Os textos abaixo selecionados para leitura e desenvolvimento acadêmico retratam as produções de pesqui-</p><p>sadores da área. A leitura e a análise desses textos contribuem para o seu conhecimento, além de subsidiar a</p><p>realização das avaliações, já que as questões são elaboradas também a partir deles.</p><p>Para acessar os sites a seguir, basta posicionar a seta sobre o link e clicar.</p><p>CALDAS, G. Mídia, escola e leitura crítica do mundo. Educação & sociedade, Campinas, v. 27, n. 94, p. 117-130,</p><p>jan./abr. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a06v27n94.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>CERQUEIRA, M. S. de. Atividade versus exercício: con cepções teóricas e a prática da produção textual no</p><p>ensino de língua portuguesa. Trab. Ling. Aplic., Cam pinas, v. 49, n. 1, p. 129-143, jan./jun. 2010. Disponí vel</p><p>em: <http://www.scielo.br/pdf/tla/v49n1/10.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>FERREIRA, S. P. A.; DIAS, M. da G. B. B. A escola e o ensino da leitura. Psicologia em estudo, Maringá, v.</p><p>7, n. 1, p. 39-49, jan./jun. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v7n1/v7n1a05.pdf>. Acesso em:</p><p>26 jul. 2018.</p><p>MINUCCI, M. V.; CÁRNIO, M. S. Habilidade de leitura de legendas de filmes em escolares no ensino funda-</p><p>mental. Pró-fono revista de atualização científica, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 227-232, jul./set. 2012. Disponí-</p><p>vel em: <http://www.scielo.br/pdf/pfono/v22n3/a12v22n3.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>RIBEIRO, A. E. Navegar sem ler, ler sem navegar e outras combinações de habilidades do leitor. Educação</p><p>em revista, Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 75-102, dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edur/</p><p>v25n3/05.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>RIZZATTI, M. E. C. Implicações metodológicas do pro cesso de formação do leitor e do produtor de textos na</p><p>escola. Educação em revista, Belo Horizonte, n. 47, p. 55-82, jun. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/</p><p>pdf/edur/n47/04.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.</p><p>Faculdade Educacional</p>