Prévia do material em texto
<p>1</p><p>A igreja e o consumo de drogas</p><p>LUIS HENRIQUE BATISTA RIBEIRO</p><p>RESUMO</p><p>O presente artigo, busca propor uma discussão para promoção de quebra de paradigma,</p><p>estabelecer relações entre os atores interno das Instituições religiosas e o conhecimento</p><p>acadêmico e com isso colaborar para o desenvolvimento de responsabilidade social em face</p><p>ao problema do consumo de drogas. Portanto, a propositura de uma das possíveis respostas a</p><p>inercia das instituições religiosas cristãs frente a orientação racional e espiritual pertinentes ao</p><p>consumo de drogas ilícitas no Brasil, bem como a expor as contribuições do Bacharel em</p><p>Teologia, a fim de estabelecer o diálogo multidisciplinar e interdisciplinar nas relações</p><p>conflitantes entre igreja e ciência, é a contemplação de algo maior, ou seja, o bem-estar social.</p><p>Nesse sentido, procura-se nesta pesquisa compreender o problema, tendo como fonte o</p><p>conhecimento acadêmico armazenado em livros, sites, apostilas de graduação e artigos</p><p>científicos, desta forma, a estratégia utilizada para alcançar o objetivo é interpretar o problema</p><p>observado buscando como método o processo de pesquisa qualitativa, que promova uma</p><p>reflexão quanto aos motivos que atribuem significados ao fenômeno. Assim é imprescindível</p><p>conhecer os fatores que determinam a conduta humana para incutir a responsabilidade da</p><p>Igreja com relação às drogas ilícitas. Concomitante as questões anteriores, cumpre analisar a</p><p>possibilidade de atuação da Igreja como parte da cultura e integrante do terceiro setor a</p><p>penetrar o universo amoral e apresentar ao indivíduo um novo padrão amparado na relação</p><p>entre a razão e fé, ética e moral. Sendo assim, através do diálogo entre religião e ciência</p><p>concomitante a ausência do proselitismo religioso é permissível criar as condições necessárias</p><p>a atitude filosófica e como resultado romper com conceitos aprendidos das experiências</p><p>vividas, bem como ao dogmatismo institucional possibilitando as pessoas racionalmente se</p><p>tornarem autônomas de suas escolhas. Destarte, se pretende ainda avaliar no resultado final a</p><p>quebra de paradigma e a ressignificação pelo conhecimento adquirido, os quais concatenam</p><p>conhecimento sistematizado e teológico.</p><p>Palavras-chave: Igreja; Ciência; Drogas; Paradigma.</p><p>2</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>The church and drug use</p><p>LUIS HENRIQUE BATISTA RIBEIRO</p><p>ABSTRACT</p><p>This article seeks to propose a discussion to promote a break in the paradigm, establish</p><p>relationships between the internal actors of religious institutions and academic knowledge and</p><p>thereby contribute to the development of social responsibility in the face of the problem of</p><p>drug consumption. Therefore, the proposal of one of the possible responses to the inertia of</p><p>Christian religious institutions in the face of rational and spiritual guidance pertinent to the</p><p>consumption of illicit drugs in Brazil, as well as exposing the contributions of the Bachelor of</p><p>Theology, in order to establish multidisciplinary and interdisciplinary dialogue in the</p><p>conflicting relationships between church and science, it is the contemplation of something</p><p>greater, that is, social well-being. In this sense, this research seeks to understand the problem,</p><p>having as a source the academic knowledge stored in books, websites, undergraduate</p><p>textbooks and scientific articles, in this way, the strategy used to achieve the objective is to</p><p>interpret the problem observed, seeking as a method the qualitative research process, which</p><p>promotes reflection on the reasons that attribute meanings to the phenomenon. Therefore, it is</p><p>essential to know the factors that determine human conduct to instill the Church's</p><p>responsibility in relation to illicit drugs. Concomitant to the previous questions, it is necessary</p><p>to analyze the possibility of the Church acting as part of culture and as part of the third sector</p><p>to penetrate the amoral universe and present to the individual a new standard supported by the</p><p>relationship between reason and faith, ethics and morals. Therefore, through dialogue between</p><p>religion and science, concomitant with the absence of religious proselytism, it is permissible</p><p>to create the necessary conditions for a philosophical attitude and, as a result, to break with</p><p>concepts learned from lived experiences, as well as institutional dogmatism, enabling people</p><p>to rationally become autonomous of their choices. Therefore, it is also intended to evaluate</p><p>the paradigm shift and the redefinition of acquired knowledge in the final result, which</p><p>combine systematized and theological knowledge.</p><p>Key-words: Church; Science; Drugs; Paradigm.</p><p>3</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A discussão sobre o tema “Igreja e o consumo de drogas” se constrói diante a uma</p><p>problemática antiga, porém atualíssima. Nesse sentido, é tangível notar que organizações</p><p>criminosas têm explorado esse campo fidelizando “clientes”, ao passo que parte das</p><p>instituições religiosas concentram suas forças de trabalho em atividades prosélitas a angariar</p><p>novos conversos. Sob outra perspectiva, os organismos que dão corpo a sociedade têm-se</p><p>mostrado ineficazes ou inertes ao assunto e com isso dá-se à luz, no âmbito interno da nação,</p><p>a falsa sensação de descaso e impunidade.</p><p>Nesse sentido, sabe-se que o ser humano é um ser social e necessita estar vinculado a</p><p>um grupo, seja biológico ou não. Todavia, a capacidade de formar novos laços o leva a</p><p>construir ou dar nova significância a uma determinada consciência e concomitante a uma</p><p>convivência coletiva, contudo para que não haja atritos é necessário harmonizar-se às regras</p><p>ou doutrinas estabelecidas pelo coletivo para que haja a coesão social e com isso alcançar uma</p><p>convivência tranquila e aceitável. No entanto, a coerência das ideias as quais rege o grupo</p><p>quando em desacordo com as normas do Estado Soberano, conduz a fração da sociedade ao</p><p>estado de anomia.</p><p>Pensando nisso, ao observar a rotina de pequenos grupos de jovens os quais costumam</p><p>se reunir nas cercanias de uma determinada Instituição religiosa na cidade de Taubaté – SP,</p><p>verificou-se que além dos limites da instituição, tais grupos infringem o ordenamento jurídico</p><p>brasileiro, cada qual guiado por seu objetivo e subjetividade imersos em um mundo amoral,</p><p>enquanto a Instituição religiosa segue adiante no interior de suas cercanias ofertando a</p><p>comunidade serviços que não condiciona a mente humana a uma mudança de paradigma.</p><p>Nesse sentido, cabe neste esforço investigar quais contribuições o Bacharel em Teologia pode</p><p>realizar no sentido de conduzir a instituição religiosa, nas entrelinhas do conhecimento</p><p>acadêmico, a intervir de forma proeminente e eficaz! A final, as pessoas ao manterem</p><p>distancia da religião se tornam vítimas do inimigo da humanidade vencido na cruz? Ou a</p><p>adicção se dá em razão da ira divina em desfavor do homem?</p><p>A construção do processo de investigação parte da necessidade da averiguação do</p><p>fenômeno observado. Nesse sentido, procura-se nesta pesquisa compreender o problema e</p><p>apresentar uma possível solução, tendo como fonte o conhecimento armazenado em livros,</p><p>sites, apostilas de graduação e artigos científicos.</p><p>Assim, face ao exposto, fez-se necessário a realização de um projeto de pesquisa a</p><p>responder: a igreja delegada de autoridade transcendente, por meio do Bacharel em Teologia</p><p>pode atuar em questões profanas? Destarte, a atitude filosófica pode guiar o homem comum a</p><p>4</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>obtenção do saber? O porquê da necessidade de obtenção de tais conhecimentos e concatena-</p><p>los ao conhecimento cientifico teológico, bem como das demais áreas do conhecimento?</p><p>Desta forma, a estratégia utilizada para alcançar o objetivo é interpretar o problema</p><p>observado buscando como método o processo de pesquisa qualitativa, que promova uma</p><p>reflexão quanto aos motivos que atribuem significados ao fenômeno.</p><p>relação alienadora entre a instituição religiosa e o homem.</p><p>Neste liame, a estrada vicinal condutora da cura para os males prende-se a soberania</p><p>do Deus punitivo, cuja ausência se dá em face as más condutas do ser humano e seu</p><p>concomitante afastamento da igreja. Todavia a capacidade de formar novos laços mostra a</p><p>construção de uma determinada consciência e simultaneamente a uma convivência coletiva,</p><p>contudo as diligencia bibliográficas revelaram que para não haver atritos há uma</p><p>harmonização às regras ou doutrinas estabelecidas pelo grupo com a finalidade de alcançar</p><p>uma convivência tranquila e aceitável. Mesmo que tais normas internas caminhem em rota de</p><p>colisão ao ordenamento jurídico da nação criando um estado de anomia.</p><p>Partindo desse princípio, ao considerar os comportamentos, atitudes e condutas</p><p>relativas ao consumo de drogas, bem como a ausência de regras socialmente aceita a qual</p><p>submerge o adicto em um coletivo paralelo, tal realidade pode ser alterada com a atuação e</p><p>supervisão do Bacharel em Teologia no campo de suas atribuições cientificas. Por</p><p>conseguinte, como foi mencionado é tangível que o ser humano é um ser social e precisa estar</p><p>vinculado a um grupo, assim o labor mostrou que o conceito de consciência social por meio</p><p>da simbiose entre o racional e o espiritual e a conexão do profano ao ambiente sagrado</p><p>concatenados ao conhecimento cientifico, favorece ao indivíduo a ressignificação do</p><p>arcabouço de conhecimentos obtidos ao longo da vida, fato este que impacta na sua conduta</p><p>ética e moral.</p><p>Uma vez apontada a viabilidade de atuação em conjunta entre religião e ciência em</p><p>busca do reencontro com o sentido da vida, as ações conduzidas com fundamentos teológicos</p><p>necessitam distanciar-se do proselitismo religioso. Assim sendo, ao impetrar uma ação social</p><p>o Bacharel em Teologia confere ao adicto as condições necessárias a este conduzir-se de</p><p>forma autônoma, deixando-o livre para em outro momento decidir qual religião seguir ou não,</p><p>independente da divindade que deseja a cultuar.</p><p>Desta empreitada, concluo que, o objetivo finalístico deste trabalho foi apresentar</p><p>apenas uma fração do conhecimento e das contribuições do Teólogo frente aos problemas do</p><p>consumo de drogas e com isso propor uma análise crítica através de recortes históricos.</p><p>Todavia em razão da vasta amplitude de conteúdos científicos disponíveis é imprescindível</p><p>27</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>novos fios condutores de investigação a fomentar e aprofundar novas pesquisas que envolvam</p><p>outras áreas do saber com relação a temática discutida, em prol das famílias que sofrem com</p><p>tais problemas.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, M. A. P. As epidemias nas noticias em Portugal: colera, peste, tifo, gripe e</p><p>variola,1854-1918. História, Ciências, Saúde –Manguinhos, Rio de Janeiro, v.21, n.2, abr.-</p><p>jun. 2014, p.687-708.</p><p>BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.</p><p>BASTOS, M. J. M. Pecado, Castigo e Redenção: a Peste como Elemento do Proselitismo</p><p>Cristão (Portugal, Séculos XIV/XVI). Rio de Janeiro, Vol. 2, n° 3, 1997. Disponível em:</p><p>https://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/artg3-8.pdf. Acesso em: 25 set. 2023.</p><p>BASTOS, M. C. P.; FERREIRA, D. V. Metodologia científica. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2016.</p><p>BÍBLIA Online. Versão ACF – Almeida Corrigida Fiel. Disponível em:</p><p>https://www.bibliaonline.com.br. Acesso em: 5 jan. 2023.</p><p>BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2019.</p><p>BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.</p><p>Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.</p><p>Acesso em: 05 set. 2023.</p><p>BRASIL. LEI No 14.532, de 11 de janeiro de 2023. Disponível em:</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/l14532.htm. Acesso em: 11</p><p>jan. 2023.</p><p>CARVALHO, S. S. RELIGIÃO E AÇÃO COMUNITÁRIA. 2023. ed. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A; AVA, 2023.</p><p>CARVALHO, G. O. O PROBLEMA FILOSÓFICO DA EXISTÊNCIA DE DEUS NA</p><p>FILOSOFIA DE GABRIEL MARCEL. Último Andar, [S. l.], n. 24, p. 25–35, 2014.</p><p>Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/21518. Acesso</p><p>em: 24 set. 2023.</p><p>CARVALHO, S. DOS S. C. Religião e Ação Comunitária. Londrina, PR: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., AVA, 2023.</p><p>CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995.</p><p>DA SILVA, E. I. C. Émile Durkheim: Coesão e Fato Social. 2019. Disponível em:</p><p><https://philpapers.org/rec/DASMDC.pdf>. Acesso em 07 set. 2023.</p><p>DATASUS. F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de</p><p>https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/l14532.htm</p><p>28</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>substancia psicoativa. Disponível em:</p><p><http://www2.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/f10_f19.htm>. Acesso em: 18 ago.</p><p>2023.</p><p>DE ALMEIDA, J. T. PSICOLOGIA DA RELIGIÃO. Londrina: Editora e Distribuidora</p><p>Educacional S.A; AVA, 2023.</p><p>DE SOUZA MARQUES, A. J. et al. Direito a Saúde, Cobertura Universal e Integridade</p><p>Possível. Disponivel em:</p><p>https://www.almg.gov.br/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/2016/encontro_inte</p><p>rnacional_saude/documentos/textos_referencia/00_palavra_dos_organizadores.pdf. 2016.</p><p>Acesso em: 8 set. 2023.</p><p>DEPUTADOS, C. Proposta regulamenta profissão de teólogo para combater lucro com a</p><p>fé. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/noticias/385463-proposta-regulamenta-</p><p>profissao-de-teologo-para-combater-lucro-com-a-fe/>. Acesso em: 6 out. 2023.</p><p>FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.</p><p>FENIMAN, S. F. Antropologia da Religião II. Londrina: Editora e Distribuidora</p><p>Educacional S.A. AVA, 2023.</p><p>FILHO, J. M. S.; FENIMAN, S. F. Antropologia da Religião I. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A, 2020.</p><p>JERONIMIDES, M. Reflexões sobre o conceito de aparelho psíquico e traços mnêmicos</p><p>na infância. São Paulo: PUC, 2021.</p><p>JÚNIOR, C. A. R. Vista do REFLEXÕES ANTROPOLÓGICAS SOBRE A RELIGIÃO</p><p>NA MODERNIDADE: DECLÍNIO OU RECONFIGURAÇÃO DO</p><p>RELIGIOSO? Disponível em:</p><p><https://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/6689/6121>. Acesso em: 6</p><p>out. 2023.</p><p>LATOUR, B. O que é iconoclash? Ou, há um mundo além das guerras de imagem?</p><p>Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 111-150, jan./jun. 2008.</p><p>Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ha/v14n29/a06v14n29.pdf. Acesso em: 7 out. 2023.</p><p>MAHLKE, H. Direitos humanos. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.</p><p>MELO, J. R. F.; MACIEL, S. C. Representação Social do Usuário de Drogas na</p><p>Perspectiva de Dependentes Químicos. Psicologia Ciência e Profissão, v. 36, n. 1, p. 76–</p><p>87, 2016.</p><p>MELO, Y. Id, ego, superego e a estruturação da psique. São Paulo/SP: Editora Dialética,</p><p>2023.</p><p>MOREIRA, N.; HOLANDA, A. Logoterapia e o sentido do sofrimento: convergências nas</p><p>dimensões espiritual e religiosa. Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345–356, 2010.</p><p>OLE. OBSERVATÓRIO DA LAICIDADE NA EDUCAÇÃO -. Campo religioso:</p><p>harmonia ou conflito? Universidade Federal Fluminense - UFF, Rio de Janeiro, 2019.</p><p>https://www.almg.gov.br/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/2016/encontro_internacional_saude/documentos/textos_referencia/00_palavra_dos_organizadores.pdf</p><p>https://www.almg.gov.br/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/2016/encontro_internacional_saude/documentos/textos_referencia/00_palavra_dos_organizadores.pdf</p><p>29</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Disponível em: http://ole.uff.br/campo-religioso-harmonia-ou-conflito/. 23 ago. 2023.</p><p>RAMOS, I. G. HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA. 2022. ed. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A; AVA, 2022.</p><p>RIBEIRO, M. Drogas: uma leitura junguiana da história e da clínica das dependências.</p><p>São Paulo: Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 2012.</p><p>SONELISE, A. S.; CARTONI, D. M. Ética,</p><p>Política e Sociedade. Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2016.</p><p>SPSP. Departamento de Pediatria da APM. Sabe quais são as semelhanças entre a</p><p>pandemia do coronavírus e a endemia das drogas? Disponível em:</p><p><https://www.spsp.org.br/2020/07/24/sabe-quais-sao-as-semelhancas-entre-a-pandemia-do-</p><p>coronavirus-e-a-endemia-das-drogas/>. 2020. Acesso em: 25 set. 2023.</p><p>TORCATO, C. E. M. A história das drogas e sua proibição no Brasil: da Colônia à</p><p>República. [s.l.] Universidade de São Paulo, 9 ago. 2018.</p><p>http://ole.uff.br/campo-religioso-harmonia-ou-conflito/</p><p>Todavia, e, não obstante</p><p>do objetivo, é preciso ir além de conhecer e interpretar o problema que o tema revela e para</p><p>tanto é necessário buscar apresentar uma solução que corrobore a ciência e religião</p><p>caminharem juntas e reflita na ótica de ambos os lados, ou seja, a visão Institucional da Igreja</p><p>sobre ciência em favor dos jovens em relação ao mundanismo.</p><p>Nesse sentido, enquanto o presente artigo não for refutado, o realinhamento dos</p><p>processos de ensino e aprendizado eleva a educação religiosa a uma simbiose entre as áreas</p><p>do conhecimento cientifico e a fé, e com isso pode nortear o indivíduo a por si ressignificar o</p><p>sentido da vida.</p><p>Finalmente, cumpre ressaltar que, o que se pretendeu obter com a pesquisa foi a</p><p>elaboração de uma pesquisa teológica que consista em apresentar uma possível solução ao</p><p>tema e que este subsidie o terceiro setor, neste caso a Instituição religiosa, a fornecer serviços</p><p>de qualidade, no âmbito das atividades teológicas e espirituais e, que fomente em conjunto</p><p>com o conhecimento cientifico uma mudança de paradigma.</p><p>DESENVOLVIMENTO</p><p>Desde os primórdios da humanidade, conforme apresenta a canônico cristã, o homem</p><p>situa-se em meio a uma peleja entre o bem e o mal, Deus e o Diabo, a Lei divina e a</p><p>transgressão, assim, ao considerar o diálogo discorrido no primeiro livro do pentateuco entre</p><p>Criador e criatura, momento anterior a deflagração do primeiro homicídio, vislumbra-se que a</p><p>responsabilidade concernente a tais polaridades foi condicionada ao homem. Desta forma a</p><p>este compete a supremacia de suas ações frente aos extremos, seja pelo conhecimento</p><p>empírico ou racional, uma vez que dito pelo criador, segundo a religião do livro: “Se</p><p>procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado</p><p>jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (BIBLIA, A.T. Genesis</p><p>4:7) (grifo meu).</p><p>Nesse sentido, o homem deve ser responsabilizado pelos seus atos e legado a própria</p><p>sorte, uma vez que cabe a este o domínio próprio? Então, estaria a igreja isenta de</p><p>responsabilidades frente ao infortúnio do homem comum no grande dia do juízo final?</p><p>Dessarte, se tomar por conjectura o diálogo entre Deus e Caim, o silogismo leva a uma figura</p><p>5</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>de linguagem onde a luta entre o bem e o mal apresenta uma prosopopeia em que Satanás, na</p><p>figura do demônio, apresenta-se à porta do pecador observando-o atentamente a fim de</p><p>subjuga-lo e sujeita-lo a transgredir a lei divina, por outro lado Jesus Cristo vai dizer a</p><p>humanidade por intermédio de Pedro, milênios depois, segundo a cronologia das narrativas</p><p>bíblica: “e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não</p><p>prevalecerão contra ela.” (BIBLIA, N.T. Mateus 16:18) (grifo meu). Posto isto, segundo a</p><p>narrativa de Jesus a igreja tem um dever a cumprir junto a humanidade, uma vez que o</p><p>supedâneo da hierofania e os ideais fundamentais do cristianismo se ancoram no amor ao</p><p>próximo (BIBLIA, N.T. Mateus 22:39).</p><p>Todavia, antecedente às disputas com a ciência, desde outrora o entrave entre as</p><p>divisões cristãs, no viés da cosmovisão religiosa de entender a mundividência, a existência</p><p>humana e o transcendente desde os tempos remotos conduzem o homem a um segundo plano.</p><p>Nesse sentido, concomitante ao citado certame a igreja, detentora da autoridade delegada,</p><p>reivindica entre seus segmentos o direito de exclusividade de exploração de suas concepções</p><p>da verdade em uma disputa de poder no “Campo religioso”.</p><p>O campo religioso, segundo a sociologia, é o espaço social onde agentes e instituições</p><p>disputam o monopólio nas relações com o sagrado. Portanto, um campo de conflito,</p><p>no qual cada religião se apresenta como verdadeira, autêntica, até mesmo como tendo</p><p>sido criada diretamente pela divindade. As demais, em consequência, são</p><p>consideradas fruto da ignorância, do desvio do verdadeiro caminho ou de interesses</p><p>não autenticamente religiosos. Esses conflitos aparecem claramente, quando a</p><p>militância religiosa é mais ostensiva. Ou são dissimulados por ideologias que</p><p>enfatizam as semelhanças entre os valores e as práticas religiosas, bem como a</p><p>presumida busca dos mesmos fins, por caminhos diferentes. (OLE, 2019, [s.p.])</p><p>Não é o foco deste trabalho trazer a discussão as disputas espirituais travadas pelas</p><p>grandes e médias potencias religiosas, mas também não é salutar ao teólogo fechar os olhos</p><p>ao atual cenário pós-modernidade em que a disputa pelo fiel o transforma em coisa. Ou seja,</p><p>uma mercadoria a ser disputada! Deste feito, àquele que a conquiste aliena-o a condição de</p><p>propriedade tirando-lhe sua essência. Parafraseando com sociólogo e filósofo polonês</p><p>Zygmunt Bauman (1925-2017):</p><p>Como Karl Polanyi viria a surgir muitos anos depois, atualizando Karl Marx, que o</p><p>ponto de partida da “grande transformação” que trouxe à vida a nova ordem</p><p>industrial foi a separação dos trabalhadores de suas fontes de existência. Esse evento</p><p>momentoso era parte de um processo mais amplo: a produção e a troca deixaram de</p><p>se inscrever num modo de vida indivisível, mais geral e inclusivo, e assim se</p><p>criaram as condições para que o trabalho (junto com a terra e o dinheiro) fosse</p><p>6</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>considerado como mera mercadoria e tratado como tal.12 Podemos dizer que foi a</p><p>mesma nova desconexão que libertou os movimentos da força de trabalho e de seus</p><p>portadores que os tornou passíveis de serem movidos, e assim serem sujeitosa outros</p><p>usos (“melhores” – mais úteis ou lucrativos), recombinados e tornados parte de</p><p>outros arranjos (“melhores” – mais úteis ou lucrativos). A separação das atividades</p><p>produtivas do resto dos objetivos da vida permitiu que o “esforço físico ou mental”</p><p>se condensasse num fenômeno em si – uma “coisa” a ser tratada como todas as</p><p>coisas, isto é, a ser “manipulada”, movida, reunida a outras “coisas” ou feita em</p><p>pedaços. (BAUMAN, 2001, Pag. 133)</p><p>A ebulição de conceitos e teorias que corresponde ao período da revolução industrial</p><p>foi de importância para os dias atuais, todavia muitos conceitos foram ponderados ao longo do</p><p>tempo, principalmente ao que concerne a essência de produção do artesão com o pensamento</p><p>da Revolução Industrial. No campo religioso também não é diferente ao que Bauman diz,</p><p>sendo assim, ao traçar um paralelo neste processo de transformação e alienação concernente</p><p>ao campo religioso, o sistema que de um modo geral gera riscos a essência humana, subtrai da</p><p>criatura o que lhe é característico de um ser e neste caso o criado pela divindade priva-se do</p><p>exercício do direito inerente e supremo da dignidade da pessoa humana no momento em que é</p><p>nivelado a condição de mercadoria. Como mera mercadoria nas mãos de seu dominador este</p><p>está sujeito a um sistema materialista com fins arrecadatório, com isso o sonho da autonomia</p><p>o conduz inconscientemente a condição de heteronomia.</p><p>Dessarte, o desejo de emancipação, a conquista de libertação e salvação é manifestada</p><p>em um cenário com pano de fundo pintado por uma teologia de prosperidade, onde a</p><p>“benção” é passível de medição. Desta forma “o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o</p><p>que semeia em abundância, em abundância ceifará”. (BIBLIA, N.T. 2 Coríntios 9:6)</p><p>Outra questão a trazer a discussão está relacionada a dificuldade de aproximação entre</p><p>religião e ciência, o imanente e o transcendente. Dito isto, parece uma questão simples de</p><p>resolver. Entretanto, diante do entrave de visões fundamentais e doutrinárias vestidas de verdade</p><p>absoluta e universal, sustenta-se a religião em seus pilares segundo o olhar espiritual, o qual não</p><p>pode ser verificável pela ciência, mas de grande valor inspiracional. Em contraponto, o cientifico</p><p>sistemático, verificável e falível que vai a vanguarda em busca de soluções verificáveis.</p><p>Desse modo, em que pese a ciência não atestar a veracidade da existência</p><p>de uma</p><p>divindade superior, seja pela ausência de fundamentos que o comprovem racionalmente ou por</p><p>meio de pressupostos tangíveis não condicionados a fé, para o cristianismo Deus é o portador de</p><p>todo tipo de conhecimento transcendente ou imanente, pois “[...] ele muda os tempos e as</p><p>estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos</p><p>7</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>entendidos”.(BIBLIA, A.T. Daniel 2:21) (grifo meu).</p><p>Não se pode pensar a Deus com a categoria da objetividade. Pensar o objeto, é</p><p>pensar algo para o qual eu não conto. Se o ser se define, para mim, como aquilo que</p><p>não se deixa dissolver pela dialética da experiência, a objetivação impede toda a</p><p>participação. Colocar Deus no campo do objetivo é situá-lo na categoria do ter,</p><p>caracterizando-o, definindo-o. Ora, isto seria inventariar propriedades de Deus.</p><p>Caracterizar é próprio do conhecimento científico. Segundo Marcel, Deus é</p><p>incaracterizável. Um deus conceitualizado é um deus reduzido a objeto de nossas</p><p>representações, um deus criado pela razão humana, como explicação última da</p><p>realidade. Mas Deus não é um objeto da experiência empírica. Neste sentido, negar</p><p>a existência de Deus significa dizer que ele não se manifesta</p><p>empiricamente. Deus deve ser pensado como transcendente a toda determinação e a</p><p>toda verificação empírica. (CARVALHO, 2014, Pag. 4)</p><p>De outro modo falando, o conhecimento segundo a perspectiva religiosa não pode ser</p><p>envaso ou submetido ao exame racional pelo homem uma vez que conforme a Bíblia “as</p><p>coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a</p><p>nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”. (BIBLIA, A.T.</p><p>Deuteronômio 29:29)</p><p>Segundo Marcel, Deus é incaracterizável. Um deus conceitualizado é um deus</p><p>reduzido a objeto de nossas representações, um deus criado pela razão humana,</p><p>como explicação última da realidade. Mas Deus não é um objeto da experiência</p><p>empírica. Neste sentido, negar a existência de Deus significa dizer que ele</p><p>não se manifesta empiricamente. Deus deve ser pensado como transcendente a</p><p>toda determinação e a toda verificação empírica. (CARVALHO, 2014, Pag. 4)</p><p>Dentre as perspectivas apresentadas seria possível religião e ciência caminharem juntas</p><p>em busca do bem comum, a fim de fomentar o bem-estar-social? Em que pese a antagônica</p><p>situação filosófica entre ambos conhecimentos, haveria a possibilidade de concatenar</p><p>conhecimento científico ao conhecimento religioso? Sim, seria possível! Contudo é</p><p>imprescindível a conexão entre religião e outras áreas do conhecimento, nesse sentido cabe ao</p><p>Bacharel em Teologia um olhar crítico para o passado para que erros de outrora não sejam</p><p>cometidos no presente e no futuro.</p><p>IGREJA, O CAMINHO DA CURA.</p><p>Uma vez que fulcro deste trabalho se norteia em uma pesquisa bibliográfica com intuito</p><p>de propor uma solução que fomente a junção de conhecimentos a conduzir o homem a</p><p>8</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>ressignificação concernente ao consumo de drogas e álcool, é preciso que o teólogo em primeiro</p><p>momento ajuste as lentes com o propósito de um olhar crítico, porém isento de subjetividade. Para</p><p>tal, é preciso revirar o velho baú e investigar na história os fatos que se perpetuaram na construção</p><p>da odisseia humana, assim será possível compreender suas experiencias, principalmente no que</p><p>diz respeito as decorrentes do monopólio da igreja católica, herdeira do teocentrismo medieval</p><p>e do movimento cultural europeu do século XVII e XVIII, o qual gestou o iluminismo com</p><p>seus ideais, tais como o pensamento racional e cientifico, liberdade política e religiosa.</p><p>Nesse sentido, é essencial ao teólogo criar uma ponte que conflua o saber teológico as</p><p>demais ciências contudo isenta-las do dogmatismo, a fim de que os conhecimentos convirjam na</p><p>superação de paradigmas. No entanto, para que tais superações venham se efetivar, tomo como</p><p>ponto de partida para proposição de uma possível solução ao tema a relação do consumo de</p><p>drogas e álcool e as doenças epidêmicas, sendo assim corrobora a Sociedade de Pediatria de São</p><p>Paulo ao considerar a relação do consumo de drogas e a pandemia da COVID-19.</p><p>1. Muitos não acreditam que há realmente uma doença que está matando muitos no</p><p>mundo todo, apesar de o Brasil ser responsável por aproximadamente 13% das</p><p>mortes mundiais. A semelhança é que muitos não acreditam que as drogas também</p><p>são responsáveis por destruição de vidas no Brasil e no mundo e se entregam a elas</p><p>com muita facilidade.</p><p>2. Ainda se vê muita gente sem máscaras e nem um pouco preocupada com o</p><p>distanciamento entre as pessoas, vide a abertura dos bares no Rio de Janeiro. A</p><p>semelhança é que também se vê uso de drogas recreacionais, esporádicas, aos finais</p><p>de semana, aumentando a chance de se ter dependência, partindo para o uso nocivo.</p><p>(“SPSP, 2020)</p><p>Posto isto, uma vez que o consumo de drogas é levado ao grau de endemia em</p><p>comparação a pandemia da COVID-19, seria o responsável pelo consumo recreativo ou</p><p>nocivo de drogas e ou álcool o homem? Ou seria Deus ou o Diabo? No que diz respeito a</p><p>perspectiva instituída pela igreja entre os séculos XIV e XVI Bastos afirma que:</p><p>A assimilação das epidemias a um castigo divino explicita-se como um processo de</p><p>investimento de sentido cujos principais artífices foram membros da Igreja, que o</p><p>instrumentalizaram, instituindo e disseminando esta concepção através de discursos</p><p>(orais e escritos), imagens, ritos e cerimônias estabelecidas, salvo engano, no</p><p>Ocidente a partir de fins do século V. Nas sociedades ocidentais, tal qual a doença, a</p><p>formulação da interpretação cristã desta inscreve-se na longa duração, sorvendo o</p><p>manancial vetero-testamentário para circunscrever um campo primordial de</p><p>referência. A mão divina foi recurso primeiro... e último! (BASTOS, 1997, Pag. 2)</p><p>Conforme o excerto, em que pese a Constituição da República Federativa do Brasil de</p><p>1988, no seu sentido mais profundo, intentar no artigo terceiro a construção de uma</p><p>9</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>“sociedade livre, justa e solidária” pelo exercício da liberdade, a doutrina religiosa de caráter</p><p>indiscutível, os dias atuais não se distanciaram do pensamento religioso que se consolidou no</p><p>medievo e sobreviveu a modernidade com o desencantamento das trevas. Bastos ainda</p><p>sustenta dizer que:</p><p>Neste processo, o elemento primário a considerar reside na perspectiva eclesiástica,</p><p>que atravessa a Idade Média, de requisitar-se a hegemonia e o controle das relações</p><p>humanas com a esfera do sagrado, explicitada em especial na função social</p><p>requerida e definidora da ordem clerical na ideologia da sociedade tripartida.</p><p>(BASTOS, 1997, Pag. 2)</p><p>Portanto, é notório que conforme a perspectiva religiosa o clericalismo contemporâneo</p><p>ainda manifesta seu poder fenomenológico sobre a vida social do indivíduo, imputando a este</p><p>a culpabilidade de suas condutas. Nesse sentido, ao olhar antropológico é permissível falar</p><p>que o distanciamento do homem em relação ao seu deus, por consequência ao afastamento da</p><p>instituição religiosa, condiciona legalidade ou “brechas” que possibilita o Diabo, por meio de</p><p>seus demônios, a subjuga-lo e sujeita-lo a transgredir a lei divina.</p><p>Por conseguinte, a história revela que assim como em outros tempos nos dias atuais o</p><p>homem não vislumbra outro recurso a não ser entregar-se ao detentor da autoridade</p><p>constituída, para que este prove-lhe na qualidade de intermediário, por meio do transcendente,</p><p>o perdão, a esconjuração da possessão demoníaca e a salvação. Enfim, a cura dos males</p><p>individuais e coletivos e isso inclui a “maldição” da dependência química.</p><p>Ainda nesse raciocínio, considerando que estamos às vésperas do arrebatamento de</p><p>acordo com as profecias neotestamentárias, a qual indiscutivelmente</p><p>afirma que “porque o</p><p>mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os</p><p>que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (BIBLIA, N.T. 1Tessalonicense 4:16) pela</p><p>manifestação do sagrado. Considerando ainda a narrativa bíblica a qual afirma que “depois nós, os</p><p>que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor</p><p>nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (BIBLIA, N.T. 1Tessalonicense 4:17), é fato</p><p>que está profecia está condicionada ao momento crucial e esperado pelo cristianismo, em que o</p><p>ressurreto voltará para buscar a sua igreja. Todavia, ao que se percebe no processo</p><p>investigativo é a ideia central positivada na doutrina da salvação, em que a profecia somente</p><p>alcançará os membros do corpo de Cristo porque “quem crer e for batizado será salvo; mas</p><p>quem não crer será condenado” (BIBLIA, N.T. Marcos 16:16) ou deixado para trás, o que se</p><p>traduz a urgência de conversão.</p><p>Dessarte, na medida que a natureza do homem dá sentido às coisas por meio das</p><p>10</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>experiências vividas no ambiente profano ou na esfera sagrada, a doutrina da salvação ainda</p><p>reuni, em campo fértil e propício, as condições necessárias a sobrepujar a racionalidade. Fato</p><p>é que desde outrora as gerações de novos convertidos são coagidos e seguem de forma</p><p>heterônoma o condicionante do sempiterno educador, justo e fiel, mas punitivo, assim sendo,</p><p>o tempo e o espaço, bem como o despertar das trevas e os movimentos culturais do século</p><p>XVII e XVIII não foram óbice a alcançar o mundo globalizado por meio do cárcere religioso</p><p>ou do ordálio soberano, ou seja, ainda se manifesta na consciência do homem contemporâneo</p><p>pelo princípio do inquestionável e aceito sem discussão. Nesse sentido, Bastos relata que:</p><p>Na constante véspera do Apocalipse, as pestes são, além de um sinal do final dos</p><p>tempos, a demonstração do poder punitivo de Deus, a realização da sua justiça,</p><p>castigo-resgate da comunidade dispersa, reintroduzida no caminho da salvação. É a</p><p>teologia do Deus terrível, perene no discurso cristão, e reforçada nos contextos de</p><p>calamidades, particularmente no da fúnebre cadeia que se abateu sobre o Ocidente a</p><p>partir da Peste Negra. Divindade paciente e misericordiosa, sujeita, no entanto, a</p><p>arroubos de cólera periódicos identificados como manifestação de sua indignação,</p><p>ação legítima posto que intrínseca à natureza do Justo Juiz. A dialética</p><p>punição/redenção impôs-se aos espíritos com força de lei, reafirmando, ao termo, o</p><p>caráter indelével e incomensurável da piedade divina. (BASTOS, 1997, Pag. 4)</p><p>Se por um lado, ao cotejar o que diz a ciência a respeito, o consumo de drogas e álcool</p><p>é uma questão de saúde pública e sob a égide da Organização Mundial de Saúde precisa ser</p><p>tratado com amparo e aparato cientifico. Sendo assim, não obstante as questões internas,</p><p>outras organizações também empregam esforços a fomentar a cooperação mutua entre as</p><p>nações a fim de viabilizar e assegurar a defesa da vida e do bem-estar-social.</p><p>Dito isto, no “Encontro Internacional” ocorrido em 2012, foi posto que:</p><p>A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “um estado de</p><p>completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e</p><p>enfermidades”. É um Direito social, “inerente à condição de cidadania, que deve ser</p><p>assegurado sem distinção de raça, de religião, ideologia política ou condição</p><p>socioeconômica, a saúde é assim apresentada como um valor coletivo, um bem de</p><p>todos”. (DE SOUZA MARQUES, A. J. et al. 2016)</p><p>Ao que se percebe, os transtornos mentais e comportamentais advindos da utilização</p><p>de tais substancias, sejam elas psicoativas ou alcoólicas, se tornaram um problema de saúde</p><p>pública e de interesse de todos, sejam estes públicos ou privados e até mesmo a sociedade</p><p>civil. Diante disto, tais demandas estão categorizadas na Classificação Internacional de</p><p>Doenças (CID), ou seja, na CID-F19.0 à F19.9 das substancias psicoativas, bem como na</p><p>CID-F10.0 a F10.9 referentes ao consumo de álcool. (DATASUS, [s.d.])</p><p>11</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Por outro lado, a oferta de cura, libertação e expiação para o arrebanhamento do</p><p>apóstata, sob o ponto de vista eclesial em consonância a leitura de Bastos (1997), reza-se</p><p>impactantes discursos impregnados de proselitismo no contemporâneo, os quais subtraem da</p><p>história uma irrevogável ideia fundamental a qual segue em concordância que “a doença</p><p>traduz a temporária ausência divina, a da sua verdadeira face, do Pai misericordioso”</p><p>(BASTOS, 1997, Pag. 8). Desta forma, não há outra saída ou fuga do mal que se abate no</p><p>indivíduo ou assola a coletividade, como a exemplo deste último o aglomerado de adictos que</p><p>habitualmente se concentram em locais públicos para o consumo de substancias psicoativas.</p><p>Não obstante ao parágrafo anterior, logrou a investigação em compreender que o</p><p>sistema religioso intenciona nas entrelinhas do pensamento humano o ditar do pensamento</p><p>certo e o errado, o bem e o mal e inclusive regula a ótica de mundo, a moldar os</p><p>comportamentos do homem por meio de normas que condicione a irrepreensível conduta</p><p>sócio religiosa. A exemplo disto versa o conteúdo de sabedoria no livro de autoria do Rei</p><p>Salomão – Provérbios, sendo assim, labuta o clericalismo em um ambiente dissimulado</p><p>através da manifestação do sagrado e a conversão do alvo, todavia não lhe prove as condições</p><p>necessárias a ressignificação racional do sentido da vida levando o esconjurado a retornar as</p><p>velhas práticas, ou seja, como diz o próprio livro sagrado cristão “O cão voltou ao seu</p><p>vômito" e ainda: "A porca lavada voltou a revolver-se na lama". (BIBLIA, N.T. 2 Pedro 2:22)</p><p>Nesse sentido, Bastos (1997) também vai dizer que “do discurso do pregador destaca-</p><p>se, como antídoto seguro contra o desespero, o recurso às "armas" cristãs da paciência, do</p><p>amor a Deus e da esperança.” Assim sendo, as chaves que conduz o escrutinar da cura</p><p>milagrosa, a aniquilação do mal e a benevolência da divindade superior encontra alicerce na</p><p>prédica cristã da purificação, pois “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para</p><p>nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça (BIBLIA, N.T.1 João 1:9), ou seja,</p><p>distante do indubitável discurso não há possibilidade de expiação se não por meio de jejum e</p><p>oração, confissão e arrependimento.</p><p>Assim como na atualidade o homem de outrora que subsistiu os males de seu tempo,</p><p>mesmo arredio aos princípios básicos da crença dominante, insurgiu os males por intermédio</p><p>do flagelo. Na busca pela cura o homem moderno somente encontrou validade no seu</p><p>sacrifício no interior das cercanias de domínio da instituição religiosa, de outra forma falando,</p><p>fora do ambiente sacralizado o sacrifício seria de tolo (BIBLIA, A.T. Eclesiastes 5:1), por</p><p>conseguinte, ao analisar os flagelantes dos séculos anteriores em que as pestes acometeram as</p><p>sociedades europeias Bastos traz uma importante contribuição.</p><p>Originadas do pecado coletivo, as iniciativas individuais de expiação, ainda que</p><p>12</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>necessárias, não bastavam para aplacar a divindade. Recaindo sobre a comunidade,</p><p>exigia-se dela a confissão das faltas e a imploração coletiva do perdão. Através das</p><p>procissões, cortejos ordenados e hierarquizados, o clero orientava, retinha e</p><p>canalizava as manifestações expiatórias, afirmando o direito exclusivo da Igreja</p><p>hierárquica de impor ao pecador a "satisfação" de seu erro. (BASTOS, 1997,</p><p>Pag. 14) (grifo meu)</p><p>Assim, nas entranhas do poder e autoridade religiosa constituída pela divindade de</p><p>culto, seja este de credo monolatra, politeísta ou monoteísta, inaugurou-se o tempo do</p><p>sacrifício que penetra na alma e no coração do abastardo. Assim, o mundanismo que se revela</p><p>no hábito pecaminoso imerso no mundo temporal sede ao sagrado “Porque a palavra</p><p>de Deus</p><p>é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão</p><p>da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e</p><p>intenções do coração.” (BIBLIA, N.T. Hebreus 4:12)</p><p>Dito isto, cumpre ressaltar que a propositura missionária do teólogo, que para além de</p><p>conduzir o sistema a refutar antigas perspectivas, deve preparar a religião a aproximar-se das</p><p>demais áreas da ciência em buscar de algo maior. A dignidade da pessoa humana!</p><p>CIÊNCIA, A CURA PELA RAZÃO.</p><p>Com a eclosão do tempo das luzes, logo após o fim da Idade Média e início da Idade</p><p>Moderna, o poder absoluto da igreja do ocidente, pautada nos princípios teocêntricos,</p><p>encontra à sua frente uma poderosa força motriz, a qual projetaria a humanidade ao</p><p>desencantamento do medievo ou “Tempo da Trevas”. Concomitante a transição de</p><p>pensamento o antropocentrismo forneceu terra fértil ao início do renascimento e do</p><p>desenvolvimento cientifico, os quais propuseram um novo modelo a sociedade.</p><p>Portanto, o padrão a ser estabelecido nada mais era que a superação de um paradigma,</p><p>onde Deus sede seu lugar ao homem no centro do universo. Entretanto o que seria um</p><p>paradigma? Segundo Thomas Samuel Kuhn (1922-1996) “Um paradigma é aquilo que os</p><p>membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste</p><p>em homens que partilham um paradigma” (KUHN, 1998; p. 219). Assim, com o homem</p><p>sendo parte essencial do universo as diligencias bibliográficas mostraram que as ações</p><p>antrópicas passaram a ser conduzidas e balizadas pela razão, nesse sentido, a direção a ser</p><p>tomada na superfície da história deixou de seguir a prédica lacônica da ortodoxia cristã</p><p>teocrática sob a égide autoproclamada dos profissionais do sagrado, os quais afirmavam ou</p><p>negavam um fato, por intermédio do conhecimento teológico institucional e passaram a ser</p><p>orientadas por argumentos lógicos ou empíricos.</p><p>13</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Dito isto, em que pese o renascimento da capacidade do homem em produzir</p><p>conhecimento pelo apreender e compreender, a comunidade cientifica por meio dos</p><p>conhecimentos sistematizados, segundo as pesquisas realizadas, deste outrora, ainda não</p><p>resolveram os embates que permeiam a existência ou não de Deus. Nesse sentido, seria</p><p>possível a ciência lograr tal prova e pacificar o entrechoque “religião versos ciência”?</p><p>Segundo Gabriel Marcel, a ciência (ou a verificação) não pode captar o objeto da fé</p><p>que é Deus. Deus é o não verificável. E o crente não pode explicar Deus por meio de</p><p>demonstrações verificáveis, já que Deus está além de todas as razões e além de toda</p><p>relação causal. Deus é o outro da ciência que verifica; é o absolutamente Outro. O</p><p>homem é feito para Deus e não pode deixar de reconhecê-lo quando ele passa na sua</p><p>proximidade. A atitude que convém ao homem diante de Deus não é a de</p><p>especulação nem a de interrogação, mas a de adoração, de humilde oração. O</p><p>filósofo deve falar a Deus, não de Deus. (CARVALHO, 2014, Pag. 25)</p><p>Conforme o excerto acima, é notório que para a ciência não é possível provar por meio</p><p>de argumentos a existência de Deus e por outro lado para a religião a criação é por si a</p><p>suficiente prova substancial da existência do grande criador do universo, dentre tantas outras</p><p>existentes. Assim sendo, diante de argumentos tão profundos, como resolver esse embate?</p><p>Thomas Kuhn nas entrelinhas do seu pensamento apresenta uma proposta para a solução do</p><p>embate:</p><p>Uma breve ilustração dos efeitos da especialização reforçará essa série de</p><p>argumentos. Um investigador, que esperava aprender algo a respeito do que os</p><p>cientistas considera ser a teoria atômica, perguntou a um físico e a um químico</p><p>eminentes se um único átomo de hélio era ou não uma molécula. Ambos</p><p>responderam sem hesitação, mas suas respostas não coincidiram. Para o químico, o</p><p>átomo de hélio era uma molécula porque se comportava como tal desde o ponto de</p><p>vista da teoria cinética dos gases. Para o físico o hélio não era uma molécula porque</p><p>não apresentava um espectro molecular. Podemos supor que ambos falavam da</p><p>mesma partícula, mas a encaravam a partir de suas respectivas formações e práticas</p><p>de pesquisa. (KUHN, 1998; p. 75-76)</p><p>De outro modo falando, para compreensão dos argumentos defendidos é</p><p>imprescindível abster-se de julgamentos pré-concebidos das premissas e engendrar através de</p><p>argumento dedutivo a validade das verdades. Dessarte, com a ilustração é possível trilhar o</p><p>caminho a obter uma possível resposta, segundo o físico e filósofo, e perceber que esta está</p><p>condicionada a perspectiva de cada lado, ou seja, ambos conhecimentos estão corretos em</p><p>relação as suas verdades, filosofias e doutrinas.</p><p>Entretanto a imposição eminente da hegemonia religiosa sobre o conhecimento</p><p>racional sistematizado por Aristóteles, desde os primórdios tempos segundo a dissertação de</p><p>14</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Carvalho (2014), ainda é um grande problema a ser superado. Assim sendo, ao examinar</p><p>minuciosamente o emblema dogmático sob o prisma do raciocínio dedutivo, tendo como pano</p><p>de fundo às vésperas do iminente arrebatamento, o consumo de drogas cotejado as epidemias</p><p>que assolaram a humanidade nos tempos de outrora, mostram-se embebidos de um sentido</p><p>transcendente os quais subordinam a ciência a divindade, sem com isso imputar-lhe nulidade.</p><p>Vale aqui pontuar que tais conhecimentos estão verticalmente hierarquizados, desta forma, a</p><p>esfera religiosa coteja importância ao conhecimento de Deus em relação ao conhecimento de</p><p>natureza humana, uma vez que Este concebeu a verdadeira ciência e somente a Este cabe</p><p>compartilha-la ou não com a humanidade, como se pode verificar na Tanakh, livro canônico</p><p>da religião monoteísta de matriz abraâmica: “mas pediste para ti sabedoria e conhecimento,</p><p>para poderes julgar a meu povo, sobre o qual te constituí rei, [...]. Sabedoria e conhecimento</p><p>te são dados; (BIBLIA, A.T. 2 Crônicas 1:11-12).</p><p>Nesse sentido, Bastos (1997) define sob a ótica religiosa que:</p><p>A origem de tal mortalidade, descrita por são Beda, evoca um traço marcante da</p><p>perspectiva cristã relativa à doença: ela reconhece, preserva e qualifica a referência</p><p>médica, de matriz hipocrático-galênica, submetendo-a à deliberação divina. [...]. São</p><p>Isidoro de Sevilha (ca. 570-636) firmara, em suas Etimologias, o princípio: "Ainda</p><p>que esta enfermidade [a peste] seja muitas vezes provocada pelas propriedades que</p><p>têm o ar, não ocorre nunca, no entanto, sem a decisão de Deus onipotente”18. A</p><p>explicação última, irrefutável, entrava em cena, para dominá-la. O saber médico,</p><p>herança da cultura da Antigüidade, referência básica dos tratados antipestíferos dos</p><p>séculos XIV ao XVI, impôs-se, mediatizado e previamente cristianizado, pelo labor</p><p>de dois dos maiores expoentes da Igreja na Alta Idade Média ocidental. (BASTOS,</p><p>1997, Pag. 5)</p><p>A pesar de a esfera religiosa conferir uma ordem de prioridade e subordinação, a</p><p>ciência ao longo do tempo seria capaz de proporcionar a humanidade a cura dos males? Com</p><p>o renascimento o homem munido de inteligência seria capaz de dotar subsídio a fomentar um</p><p>método de tratamento de doenças e concomitante acessar a essência dos desconhecidos</p><p>males? Seria possível superar as interpretações da igreja frente as crises sanitárias? Pois bem,</p><p>antes de responder a tais indagações é necessário uma atitude teológica cientifica para o olhar</p><p>criterioso e submerso no espaço e no tempo a fim de acessar os fatos decorridos na Europa,</p><p>nos períodos de crise sanitárias para concluir uma possível respostas.</p><p>Desta forma, em razão do arcabouço de informações disponíveis e pertinentes ao que</p><p>se discorre é absolutamente preciso um recorte na história que possa viabilizar a análise</p><p>posterior da importância do olhar cientifico, assim muito tem a corroborar as crises sanitárias</p><p>15</p><p>A igreja e o consumo</p><p>de drogas, 2023.</p><p>da segunda metade do século XIX e início do século XX em comparação a endemia do</p><p>consumo de drogas e álcool nos dias atuais. Dito isto, como narrado anteriormente, em que</p><p>pese a imposição hierárquica de caráter religioso o conhecimento cientifico multidisciplinar,</p><p>entre os anos de 1854 a 1918, sobrepujou a predestinação divina disseminando informações</p><p>de especificidade cientifica. Talvez para Agostinho de Hipona isso seria absolutamente fora</p><p>de cogitação e impossível sem a intervenção transcendente, todavia Almeida (2014) em suas</p><p>investigações corrobora relatando que:</p><p>No que diz respeito a saúde pública, a divulgação das informações, especialmente</p><p>em períodos epidêmicos, era uma questão de sobrevivência. Ao longo do século</p><p>XIX tomou-se consciência, pela experiencia traumática das sucessivas pandemias,</p><p>que a prevenção e cada vez mais a higiene eram os meios mais eficazes para</p><p>lidar com as crises sanitárias em geral e as doenças em particular. O discurso</p><p>higienista introduziu a medicina na vida privada (Ferreira, 1999), e as</p><p>autoridades aplicaram-no para lutar contra as epidemias, usando-o nos</p><p>relatórios oficiais que eram publicados nos periódicos generalistas. Sem esse</p><p>recurso os médicos e as autoridades sanitárias teriam perdido as sucessivas batalhas</p><p>contra as doenças em que o mundo inteiro estava envolvido. (ALMEIDA, 2014, p.</p><p>690) (grifo meu)</p><p>Em contraponto a atitude cientifica, a imanência divina transmitida por intermédio de</p><p>seus sacerdotes dissemina nos átrios o caminho da cura e conferem-lhe sacralidade.</p><p>Sob a ótica cristã, a doença fomentou a abordagem do pecado, da culpa, do</p><p>arrependimento e da redenção, ressaltando o papel social da caridade e, em extremo,</p><p>a fundamental observância das leis que regulam o pacto entre Deus e os homens.</p><p>(BASTOS, 1997, Pag. 1)</p><p>Ainda que o sistema oficial religioso defendesse com força impetuosa a proposição da</p><p>cura pela fé mediada, sendo está última quesito indispensável até os dias atuais por permitir o</p><p>fiel a acessar o sagrado desde a antiguidade, os tempos da derrocada do feudalismo não</p><p>alterou o sermão do “arrependimento e da redenção, ressaltando o papel social da caridade e,</p><p>em extremo, a fundamental observância das leis que regulam o pacto entre Deus e os</p><p>homens.” (BASTOS, 1997, Pag. 1). Nesse sentido, com a crise sanitária a razão insurge a</p><p>crença em fundamentos transcendentais e de culpabilidade conduzindo o homem a comutar o</p><p>sistema de pensamento e crença, destarte contribui nesta lógica Ribeiro (2012) ao destacar em</p><p>sua monografia que: “O pensamento científico adquiriu sua maioridade com a chegada do</p><p>século XVIII, sendo a aplicação de seu método responsável por grandes descobertas,</p><p>principalmente no século seguinte, denominado o "Século da Ciência"”. (RIBEIRO, 2012,</p><p>p.188)</p><p>16</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Ainda neste contexto, Almeida relata também que no século XIX “Em paralelo, um</p><p>efeito político das epidemias foi a colocação da classe médica e das políticas de saúde pública</p><p>no centro das atenções da vida do país e dos municípios” (ALMEIDA, 2014, p. 690). Nesse</p><p>sentido, o abrir das mentes revelou novos horizontes às autoridades no século XIX e com isso</p><p>grandes contribuições o conhecimento cientifico proporcionou a sociedade portuguesa</p><p>naquele tempo e na atualidade é um dos grandes desafios a ser superado pelo Bacharel em</p><p>Teologia.</p><p>Com a ciência em expansão nos tempos modernos outras contribuições foram postas a</p><p>sociedade e que salvaram vidas no período da eclosão da pandemia da COVID-19,</p><p>Uma inovação importante nesse período foi uma máscara profilática facial inventada</p><p>pelo médico Afonso de Lemos, para ser usada por médicos e enfermeiros na</p><p>observação e tratamento dos doentes de peste (Diário..., 24 ago. 1899, p.1).</p><p>Considerando que foi apenas em 1918, durante a epidemia de gripe, que as máscaras</p><p>faciais foram popularizadas, esse aparelho e demonstrativo da criatividade dos</p><p>médicos portugueses. (ALMEIDA, 2014, p. 698)</p><p>Mas em contrapartida ao tempo das descobertas, séculos anteriores, sob a hegemonia</p><p>cristã e à sombra da adversidade, Bastos (1997) ainda vai afirmar que em “Em Lisboa, apenas</p><p>no contexto da peste de 1569, realizaram-se nove distintas procissões, algumas convocadas</p><p>por autoridades públicas, mas todas organizadas pelas ordens religiosas”. (BASTOS, 1997,</p><p>Pag. 15).</p><p>Enfim, muito poderia abordar sobre a diversidade do conhecimento cientifico</p><p>produzido pelos cientistas em tempos de crise sanitária, os quais contribuíram e ainda</p><p>concorrem a favor do bem-estar-social e da dignidade da pessoa humana, dito isto, o</p><p>dissertado se faz suficiente a apresentar a importância do conhecimento produzido pelo</p><p>homem. Seguindo adiante, em relação a indagação lançada anteriormente é preciso antes de</p><p>propor uma possível resposta analisar um fato ocorrido no primeiro século da nossa era,</p><p>destarte, a Bíblia cristã vai narrar sobre uma perspectiva de superação de paradigma a história</p><p>de um homem acometido de paralisia a um longo tempo. Conforme algumas traduções, este</p><p>encontrava-se impossibilitado de lograr a cura de sua enfermidade, uma vez que não</p><p>conseguiria adentrar as águas de um tanque popularmente conhecido por Bethesda no ápice de</p><p>um acontecimento sobrenatural esperado por todos. Assim, a bíblia vai dizer que:</p><p>⁵ E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. ⁶ E Jesus,</p><p>vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe:</p><p>Queres ficar são? ⁷ O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que,</p><p>quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro</p><p>17</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>antes de mim. ⁸ Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma o teu leito, e anda. ⁹ Logo aquele</p><p>homem ficou são; e tomou o seu leito, e andava. E aquele dia era sábado. (BIBLIA,</p><p>N.T. João 5:5-9)</p><p>Não cabe aqui criar um debate religioso sobre o poder miraculoso Messiânico, mas</p><p>sim analisar detalhadamente a narrativa bíblica, desta forma, é tangível verificar que o</p><p>paralitico de Bethesda ao superar a antiga crença angelical por meio do novo paradigma</p><p>proposto por Jesus encontrou a cura de seus males. Assim, também é possível a ciência</p><p>corroborar com a humanidade.</p><p>CIÊNCIA E RELIGIÃO, UM NOVO PARADIGMA!</p><p>Uma vez posto ao comparativo analítico as perspectivas, constructo histórico e</p><p>filosofias concernentes ao campo religioso bem como cientifico, os quais sob a introjeção da</p><p>citação anterior de Tomás Kuhn (1998; p. 75-76), trazem na garupa, o bojo de suas verdades</p><p>ancoradas na subjetividade doutrinaria ou filosófica. Nesse sentido, podem no contexto de</p><p>ação social religião e ciência conduzir o homem a ressignificação de suas ações e condutas em</p><p>relação ao consumo de drogas e álcool? Seria possível a igreja corroborar a ciência, por</p><p>intermédio da atitude filosófica, ao bem-estar-social? Em relação a esta última, de acordo com</p><p>o lecionar de Sonelise e Cartoni é possível! Pois, “Temos a ideia de que o pensamento</p><p>filosófico é função exclusiva de grandes pensadores, mas qualquer pessoa pode adotar postura</p><p>filosófica por meio de atitudes críticas perante o mundo e situações cotidianas.” (SONELISE;</p><p>CARTONI, 2016, p.11)</p><p>No que condiz a primeira indagação, mesmo que seja possível o homem ser conduzido</p><p>através de uma ação sistêmica que possibilite a significação e reformulação do sentido da</p><p>vida, é preciso o teólogo ter em mente que as investigações acadêmicas mostram que desde</p><p>outrora as substancia psicoativas estão presentes nas mais diversas culturas. Contudo, sob a</p><p>proeminente perspectiva de saúde pública estas representam a gênesis das preocupações de</p><p>órgãos governamentais e principalmente a célula totipotente de toda organização social, a</p><p>família. Dessarte, em que pese o efeito paralaxe produzir o astigmatismo axiomático da</p><p>realidade e com isso criar o pano</p><p>de fundo propício a conduzir o adicto a anelar o objetivo, a</p><p>influência conjugada de fatores tais como a ausência de percepção dos perigos e das</p><p>consequências sociais resultantes, bem como os efeitos colaterais não desejados, mas de</p><p>preocupação de suma importância, Melo e Maciel concordam e afirmam que:</p><p>O uso de drogas sempre esteve presente na história da humanidade e, ao longo do</p><p>tempo, cada sociedade se encarregou de delimitar suas formas de uso, de acordo</p><p>18</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>com o seu contexto cultural. Mesmo levando em consideração o perigo oferecido</p><p>pelas substâncias, as regras de utilização, suas proibições e liberações foram</p><p>determinadas histórica e culturalmente (Cruz, 2011). Nesse sentido, observa-se que</p><p>as drogas nem sempre foram tidas como geradoras de problemas, sendo utilizadas</p><p>em contextos diversos, como: religioso, místico, social, econômico, medicinal,</p><p>cultural, psicológico, climatológico, militar e o da busca do prazer. (MELO;</p><p>MACIEL, 2016. p.3)</p><p>Neste liame, é necessário compreender que o fulcro deste trabalho caminha na direção</p><p>da evolução humana a fim de propor atuação sistêmica entre os organismos de controle social,</p><p>terceiro setor e conhecimento cientifico. Todavia, apesar de os princípios evangelistas muito</p><p>contribuírem a formação do homem sociorreligioso e por de certo modo serem balizadores</p><p>das ações antrópicas na sociedade ao modelar a ética e a moral, é imprescindível como já dito</p><p>a superação do proselitismo em prol de algo maior, concomitante a este último o</p><p>conhecimento popular carece ser submetido aos filtros da teologia científica. Dessarte, Bastos</p><p>e Ferreira sustentam que:</p><p>O conhecimento senso comum também é conhecido como vulgar ou empírico por</p><p>vir do povo, ser obtido ao acaso de forma assistemática. O indivíduo comum,</p><p>mesmo sem uma formação acadêmica, tem conhecimentos sobre o mundo onde</p><p>vive, tem consciência sobre si mesmo, defende ideias, reconhece seus sentimentos,</p><p>aproveita-se da experiência de outros ou age por meio de vivências pessoais e por</p><p>informações obtidas das tradições da coletividade ou ainda de uma religião.</p><p>(BASTOS; FERREIRA, 2016, p.22)</p><p>É certo que as afirmativas postas neste trabalho vão em rota de colisão ao</p><p>inquestionável discurso teológico do episcopado e com isso seriam suficientes em outrora a</p><p>condenação no Tribunal da Santa Inquisição, uma vez que por si fundamentaria a irrefutável</p><p>prova tarifada e porque não de intima convicção contra o ordenamento jurídico religioso.</p><p>Todavia, as diligencias mostram que é importante salientar que a humanidade precisa</p><p>continuar a evoluir e a igreja a se adaptar à realidade contemporânea.</p><p>Dito isto, ao propor a autonomia por meio da razão o homem imerso no consumo de</p><p>substancias nocivas pode encontrar o caminho que o conduza a desvencilhar-se da</p><p>heteronomia proposta pelas correntes dogmáticas e prosélitas e, desta forma ressignificar o</p><p>sentido da vida em busca da cura de seus males ou “maldição”. Sendo assim, por intermédio</p><p>do Bacharel em Teologia a igreja como terceiro setor ao despir-se das correntes</p><p>fundamentalistas ombreia com as demais ciências, abrindo-lhe as portas. Resultante desta</p><p>abertura é o inserir do ambiente sagrado no universo profano, neste contexto o homem na</p><p>situação de vulnerabilidade se distância momentaneamente da adicção sendo resgatado no</p><p>19</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>contexto messiânico de salvação e importância, à vista disso o ambiente abre uma janela de</p><p>oportunidade onde a postura filosófica concatenada as demais áreas do conhecimento</p><p>científico e teológico podem favorecer a uma atitude filosófica no indivíduo.</p><p>Nesse sentido, ao se debruçar sobre as questões filosóficas Chauí (1995) entende que:</p><p>Ao tomar esta distância, estaria (o indivíduo) interrogando a si mesmo, desejando</p><p>conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que</p><p>são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o</p><p>que chamamos de atitude filosófica. Assim, uma primeira resposta à pergunta “O</p><p>que é Filosofia” poderia ser: a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as</p><p>coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa</p><p>existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e</p><p>compreendido. (CHAUÍ, 1995, p. 12)</p><p>Não obstante a Chauí, o neuropsiquiatra Victor Frankl (1905-1997) fundador da</p><p>terapia centrada no sentido da vida, vem a agregar com seus conhecimentos sobre logoterapia.</p><p>Sendo assim, com fundamentos em Viktor o artigo de Moreira e Holanda (2010) nos conduz a</p><p>compreender que:</p><p>O sentido não é moldado pela mente, mas a mente pelo sentido. Em vez de criar um</p><p>sentido, a mente tem de submeter-se a ele, uma vez encontrado. Segundo Frankl, o</p><p>sentido da vida é uma realidade ontológica e não uma criação cultural. O sentido da</p><p>vida simplesmente existe: trata-se apenas de encontrá-lo. Universal no seu valor e</p><p>individual no seu conteúdo, o sentido da vida é encontrado mediante uma</p><p>investigação do paciente e do terapeuta em busca de resposta à questão sobre o que</p><p>somente o paciente, e absolutamente mais ninguém, pode fazer. Para Frankl,</p><p>nenhum homem inventa o sentido da vida: cada um é cercado e impelido pelo</p><p>sentido da própria vida. O sentido não pode ser dado ou criado, mas deve ser</p><p>encontrado. E mais, o sentido não só deve ser achado, como ele pode ser achado.</p><p>(MOREIRA; HOLANDA, 2010, p.347)</p><p>Dentre outras palavras, o homem necessita encontrar sentido para suas ações, sonhos e</p><p>experiencias e com isso encontrar uma razão para sua existência. Caso contrário viverá este</p><p>submerso a um constante ciclo de fuga e frustação. “E nessa busca o homem é orientado pela</p><p>consciência. Em uma palavra, a consciência é o órgão do sentido, é a capacidade de descobrir</p><p>o sentido único e irreprodutível que se esconde em cada situação” (FRANKL, 1978, p. 19,</p><p>apud MOREIRA; HOLANDA, 2010, p.347). Todavia, ao iniciar a busca ou significação do</p><p>sentido da vida, no que diz respeito ao consumo de drogas, principalmente as de origens</p><p>ilícitas, as razões que dão base a vida em sociedade necessitam estar plenamente alinhadas ao</p><p>que a sociedade espera do homem social no interior da cultura local. Nesse sentido, Sonelise e</p><p>Cartoni (2016) contribuem novamente ao lecionar sobre as questões que regem o convício</p><p>20</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>social e afirmam que “A moral e a ética são indispensáveis no convívio humano, e, nos</p><p>grupos sociais, estão intimamente relacionadas. Sem moral, a convivência humana torna-se</p><p>impossível. Sem ética, torna-se lamentável, vergonhosa, mesquinha e infeliz.” (SONELISE;</p><p>CARTONI, 2016, p.59)</p><p>Seguindo esse raciocínio, as contribuições do neurologista e psiquiatra austríaco</p><p>criador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), o qual também contribuiu com Viktor</p><p>Frank, vai concorrer a proposta deste trabalho ao trazer a luz do conhecimento seus estudos</p><p>sobre o aparelho psíquico. Nesse sentido, revela-se que a psique do homem é composta de</p><p>duas categorias e três níveis de consciência, dito isto Jeronimides (2021) disserta em sua</p><p>monografia que:</p><p>O surgimento do conceito freudiano de aparelho psíquico designa uma organização</p><p>psíquica que é dividida em instâncias. Essas instâncias ou sistemas são interligadas</p><p>entre si, possuindo funções distintas. A partir desse conceito Freud apresentou dois</p><p>modelos da mente/psique. O primeiro denominado topográfico, conhecido como a</p><p>primeira tópica sendo composto de instâncias denominadas inconsciente, pré-</p><p>consciente e consciente. O segundo modelo denominado estrutural é desmembrado</p><p>conceitualmente em estruturas conhecidas como id, ego e superego.</p><p>(JERONIMIDES, 2021, p.3)</p><p>Todavia, antes de abordar as contribuições de Freud, as quais discernem os níveis de</p><p>consciência – Id, Ego, Superego, é preciso o teólogo compreender que a dinâmica</p><p>do</p><p>conhecimento não nasce pronta, ou seja, o constructo de novos conceitos e teorias devem ser</p><p>subsidiadas por argumentos válidos que estimulem o fundamentar criterioso de escolhas as</p><p>quais gerem mudança interior. Dito isto, Sonelise e Cartoni (2016) muito contribui a questão</p><p>ressaltando que “A construção do conhecimento se dá por meio da evolução do pensamento</p><p>crítico. Muito mais do que buscar respostas já existentes, a missão é buscar as perguntas que</p><p>ajudam a refletir de forma crítica sobre a realidade.” (SONELISE; CARTONI, 2016, p.13)</p><p>De acordo com a teoria freudiana a humanidade é dotada de níveis de consciência,</p><p>como dito anteriormente, fato pelo qual nos diferencia dos demais seres vivos ou dos</p><p>selvagens que habitam nosso planeta, assim os instintos animais encontram-se nas entrelinhas</p><p>do que Freud conceituou de Id. Com relação a essa área da psique, no subconsciente estão</p><p>alojados os instintos primitivos, instintos estes que nos impulsionam e que nos conduzem a</p><p>reações de sobrevivência as quais não decorrem da razão, tão pouco de habilidades ou</p><p>conhecimentos.</p><p>Desta forma, é importante ressaltar que tais pulsões não se balizam por normas de</p><p>conduta ou valores morais ou éticos. Dessarte, Melo (2023) vai dizer que “O id é o espaço das</p><p>21</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>pulsões da vida e da morte, e tem intima ligação com o inconsciente, também tem sua</p><p>regência pelo princípio do prazer.”</p><p>No entanto, Melo (2023) também afirma que: “O conceito de ID foi introduzido na</p><p>teoria psicanalítica de Freud nos anos de 1920-1923, e estava caracterizada em alterações na</p><p>teoria das pulsões, considerando as funções inconsciente de defesa e recalque.”</p><p>Dito isto, é importante ressaltar ao teólogo que na busca pelo prazer conforme Freud, o</p><p>objetivo dos impulsos demandados do Id é anular a frustração com soluções imediatas.</p><p>“Assim, o ID se tornou a designação do inconsciente, na perspectiva de receptáculo pulsional</p><p>desorganizado e de “paixões indomadas” que precisam sofrer intervenção do eu.” (MELO,</p><p>2023)</p><p>Outro conceito freudiano, o Ego, se aloca no nível consciente da psique humana.</p><p>Assim, este reflete exteriormente o comportamento gestado do juízo resultante entre o choque</p><p>do Superego e o Id. Nesse sentido, ainda conforme Melo “No ego temos o equilíbrio entre o</p><p>id, a realidade e o superego. Dessa forma rege o funcionamento psíquico. Portanto, oferta ao</p><p>prazer o escopo da realidade. O ego se manifesta nas funções: percepção, memória,</p><p>sentimentos e o pensamento.”</p><p>Enfim, chegamos ao Superego. Este conforme a perspectiva freudiana está no nível do</p><p>subconsciente agindo como uma espécie de filtro dualista a definir as condutas humanas, que</p><p>por sua vez tende a viabilizar o convívio harmônico em sociedade, ou seja, a coesão social,</p><p>por meio do arcabouço de valores assimilados pelo indivíduo durante sua formação</p><p>intelectual. De outra forma falando, os filtros do Superego norteiam as condutas concernentes</p><p>a moralidade e a ética, que por meio da consciência moral dita o correto ou errado em</p><p>concordância com o convencionado no interior de uma cultura, nesse sentido, ao atuar sobre</p><p>os instintos primitivos este acende a luz semafórica amarela como uma espécie de “puxão de</p><p>orelhas” a conduzir o sujeito a refletir sobre seus desejos.</p><p>Assim sendo, estando ativa a “voz da consciência”, Sonelise e Cartoni (2016) vão</p><p>dizer que “A forma principal de manifestação da consciência moral é a capacidade de</p><p>escolher, entre as diversas alternativas, a partir de valores éticos, e decidir qual é a melhor.”</p><p>Ou seja, a capacidade inata do ser humano em construir o arcabouço de valores durante a vida</p><p>corrobora a atividade do agente moral.</p><p>O agente moral ativo controla interiormente suas paixões, inclinações, debate</p><p>consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos,</p><p>questiona como os valores devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores</p><p>superiores a esses, avalia sua capacidade para estabelecer para si próprio regras de</p><p>22</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>conduta, pergunta para sua vontade e sua razão antes de tomar uma atitude, tem</p><p>respeito e consideração pelos demais sem submeter-se de forma inquestionável a</p><p>eles, é responsável por suas ações e escolhas, avalia e julga suas próprias intenções e</p><p>não aceita qualquer violência contra si ou contra os outros. Por isso o agente moral</p><p>ativo é autônomo e verdadeiramente livre. (SONELISE; CARTONI, 2016, p.60)</p><p>Pois bem, de acordo com a teoria freudiana o Superego ao filtrar os impulsos do Id</p><p>resulta nas atitudes e condutas do ser refletidos no Ego. Portanto, sendo o Superego o “juiz”</p><p>das condutas humanas e construído a partir de valores apreendidos durante a vida, tais valores</p><p>não são características congênitas do ser humano. Dito isto, há uma fonte condutora a</p><p>influenciar a introspecção de tais valores internalizados?</p><p>Algumas respostas são possíveis, assim dentre tantos preponderantes que poderiam ser</p><p>apontados neste trabalho passo a considerar três de importância ao labor teológico, sendo</p><p>estes os principais e fundamentais indutores na formação de valores, sendo eles a família, a</p><p>escola e a religião.</p><p>Com relação a família por se tratar do primeiro convívio social as relações encontram</p><p>um alicerce solidificado e propício a educação prática aplicada por meio das vivencias</p><p>experienciadas pelos pais, nesse sentido, sobre a perspectiva freudiana, as investigações</p><p>bibliográficas mostram que os pais transferem aos filhos seus valores, com base no dualismo</p><p>conceituado ente o moral e o imoral, por julgarem estarem estes correlacionados aos valores</p><p>herdados. A segunda instituição social de fundamental importância e a primeira de convívio</p><p>coletivo é a escola, dessarte, está incute no indivíduo valores relacionados ao respeito, à</p><p>disciplina consciente e ao conhecimento que modela o futuro integrante da sociedade civil.</p><p>Quanto ao terceiro e não menos importante é a religião, que por intermédio de suas</p><p>instituições corrobora a significação do sentido da vida agregando valores indiscutíveis e</p><p>rígidos de maior ou menor intensidade. Por conseguinte, de adesão coletiva relaciona fé a</p><p>conhecimentos valorativos, infalíveis e principalmente inspiracional os quais estão</p><p>intimamente ligados à compaixão, altruísmo e fidelidade.</p><p>Enfim, a humanidade desde os primórdios tempos coexisti com a religião, todavia em</p><p>que pese a religião estar intrinsicamente conectada e delegada ao universo sagrado e</p><p>transcendente, está não subsiste sem o homem no mundo profano, assim sendo “a religião</p><p>sempre teve um papel muito importante na história e muitos são os fatores que mostram que</p><p>ela mantém um caráter de importância para a cultura de povos em todo o mundo.” (FILHO;</p><p>FENIMAN, 2020, p.10). Ainda no que se refere ao campo religioso, Feniman (2023) vai dizer</p><p>que “Para Émile Durkheim, os diversos rituais religiosos atendem à função de unir o</p><p>indivíduo à sociedade.”</p><p>23</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Dito isto, grande contribuição a religião pode corroborar a questão das ações sociais,</p><p>no que diz respeito a orientação e prevenção ao consumo de droga e álcool. Contanto que tais</p><p>ações não encontrem fundamentos dogmáticos voltados ao proselitismo como assim se</p><p>revelou no passado! Como dissertado anteriormente, a igreja por fazer parte da essência</p><p>cultural de um povo deve conduzir sua força de trabalho a uma teologia prática e comunitária</p><p>de inclusão social, no entanto o desenvolver de suas ações necessitam fomentar o bem-estar-</p><p>social e isso não pode apenas prender-se a arrecadação de alimentos, fundos ou roupas aos</p><p>vulneráveis.</p><p>Destarte, em que pese o Projeto de Lei 4293 de 2012, apresentado em 08 de agosto do</p><p>mesmo ano, o qual regulamenta a profissão do Teólogo não ter prosperado até o presente</p><p>momento no parlamento brasileiro, a igreja precisa aliar-se ao conhecimento</p><p>cientifico por</p><p>meio do Bacharel em Teologia e ofertar ao adicto e familiares o conhecimento necessário a</p><p>ressignificação da consciência moral em ações multidisciplinares recorrendo a</p><p>interdisciplinaridade de conhecimentos e com isso refletir e fazer refletir os aprendizados e</p><p>experiências. Nesse sentido, a igreja como determinante da estrutura social age como</p><p>formadora de opinião mediante a valores rígidos professados e compartilhados no contexto da</p><p>fé, assim a instituição religião pode ao romper com os paradigmas doutrinários incutir no</p><p>Superego novos valores de juízo que projete o expressar da autonomia de livre-arbítrio.</p><p>Todavia, Carvalho faz uma importante colaboração ao parágrafo anterior lecionando</p><p>que:</p><p>A ação social religiosa não deve ser um processo de colonização da comunidade,</p><p>mas um meio de promover liberdade a uma comunidade por meio de sua autonomia.</p><p>É fundamental que o ator comunitário se limite a levar o benefício da ação</p><p>comunitária, contudo, sem exigir nada em troca. (CARVALHO, 2023 [s.p])</p><p>Nesse sentido, ainda que a Lei nº 14.532, de 11 de janeiro de 2023 venha a corroborar</p><p>a proteção dos direitos de culto religioso no Brasil, prevendo inclusive penas nos casos de</p><p>transgressões, é imprescindível a teologia abster-se de ações que a coloque em rota de colisão</p><p>com o ordenamento jurídico brasileiro.</p><p>Seguindo a proposta de ação social, na configuração de igreja norteadora das condutas</p><p>sociais pode esta amparar-se no fato social também pensado por Émile Durkheim (1858-</p><p>1917). Destarte, levando em consideração que o ordenamento jurídico brasileiro tipifica as</p><p>condutas relativas as drogas ilícitas no corpo da Lei 11.343/2006, é necessário que a norma</p><p>jurídica vigore de forma coercitiva agindo no individual para refletir no coletivo suas</p><p>24</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>consequências e com isso passe a ser seguida por toda sociedade. De outra forma falando,</p><p>afirma Da Silva:</p><p>Os fenômenos sociais seriam, mediante o supracitado, formas de cogitar, vivenciar e</p><p>proceder que exercem uma coerção (força) externa sobre os sujeitos</p><p>sodalísticos. Para o autor, o corpo social vem antes que todos os sujeitos e procedam</p><p>sobre os mesmos, caracterizando suas formas de ser. Com isso, um fato social</p><p>poder-se-ia ser identificado com base nessa força ou coerção social compulsória a</p><p>um único ou mais sujeitos. (DA SILVA, 2019, p.4)</p><p>Ou seja, de acordo com Durkheim, seguindo a perspectiva de Da Silva a igreja como</p><p>corpo social ao exercer influência como uma força externa, com base em conhecimento</p><p>cientifico oriundos das demais áreas do saber e mediante a uma religião prática, através do</p><p>Teólogo, sobre o adicto, pode auxilia-lo a reencontrar o sentido da vida pela coesão social.</p><p>Conforme a convicção de De Almeida:</p><p>A religião oferece diversas fronteiras e possibilidades ao homem religioso: além da</p><p>oportunidade de contemplação do sagrado e da concretização da experiência</p><p>religiosa, também pode-se concebê-la como um instrumento de coesão social (ao</p><p>ligar pessoas por um interesse comum, gerando convivência), e, especialmente,</p><p>como fonte de sentido. (DE ALMEIDA, 2023, [s.p])</p><p>Não menos importante, corrobora o Teólogo no campo da fé, segundo Frankl, uma vez</p><p>que a religiosidade deve ser estabelecida mediante o aguçar da espiritualidade contanto que</p><p>esta seja um fator gerador de características individuais, “assim, a espiritualidade se impõe</p><p>como um fator de constituição da identidade do indivíduo, atuando como fator de justificação</p><p>à sua existência. Nessa dimensão, ocorrem dois movimentos simultâneos” (FRANKL, 2005,</p><p>apud DE ALMEIDA, 2023, [s.p]), a autotranscendência a qual conforme De Almeida (2023)</p><p>conduz o “homem a autorreflexão de si mesmo como parte do mundo.”</p><p>O segundo movimento é o de autodistanciamento, que corresponde a um processo de</p><p>questionamento e exame do indivíduo a partir de si mesmo: “em uma analogia, seria</p><p>como se a pessoa pudesse ver a si própria “de fora”, analisando emoções, gestos e</p><p>sentimentos para a compreensão dos diferentes modos de ser.” (DE ALMEIDA,</p><p>2023, [s.p])</p><p>Entende-se, portanto, que a busca pelo sentido da vida é uma experiência</p><p>intrinsecamente individual e permeada por particularidades. Trata-se de um processo</p><p>mutável e inconstante, volatilizando-se no tempo, de acordo com as circunstâncias e</p><p>conjunturas individuais. Essa busca, no entanto, refere-se a algo concreto, uma vez</p><p>que o sentido da vida não é apenas uma suposição abstrata ou um sentimento. Esse</p><p>sentido relaciona-se a situações desejadas pela pessoa para dar um impulso aos seus</p><p>atos no mundo sob diferentes formas (PONTES, 2019, apud DE ALMEIDA, 2023,</p><p>[s.p]).</p><p>25</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>Dito isto,</p><p>os racionalistas defendem a existência de ideias inatas ao ser humano como fonte do</p><p>conhecimento verdadeiro, os empiristas afirmam que todas as ideias emergem do</p><p>contato do ser humano com o mundo. Por isto, Locke afirma que o ser humano</p><p>nasce como uma “tábula rasa”. (RAMOS, 2022, [s.p])</p><p>A luz do raciocínio de Ramos, demonstra que a abstração de novos valores e</p><p>conhecimentos por intermédio da junção entre religião e ciência permitirá ao Teólogo o</p><p>restabelecimento da coesão social pela desconstrução da velha imagem do mundo, neste caso</p><p>a adicção, para que novos conhecimentos se apoderem do consciente racional e possa</p><p>configurar novos filtros ao Superego. Nesse sentido, a nova percepção de mundo irá alterar o</p><p>rumo na história do livre-arbítrio, todavia as ações iconoclastas devem ser orientadas por</p><p>teólogos devidamente habilitados nos bancos acadêmicos, dado a rarefação do conhecimento</p><p>cientifico do teólogo leigo. E isso não significa relegar o conhecimento empírico deste na</p><p>formação espiritual, mas em razão da limitação de conhecimento aperfeiçoado de qualidade</p><p>superior! Seguindo adiante, ao superar a doutrinação institucional e fomentar o diálogo</p><p>ecumênico e inter-religioso as ações sociais devem afastar-se de atitudes iconoclash e serem</p><p>balizadas a descontruir velhos valores de forma tal que o sujeito não reconstrua novos ídolos</p><p>(conhecimento) a partir de antigas convicções.</p><p>Sendo assim, é importante dizer o que discerni Feniman:</p><p>O iconoclasmo é o ato de destruir imagens com a consciência sobre o porquê da</p><p>destruição, com o conhecimento sobre as motivações envolvidas que justificam o</p><p>projeto de quebrar. Já o iconoclash acontece quando o ato de destruir não é</p><p>acompanhado por um conhecimento sobre ação, de forma imprevisível sobre o</p><p>caráter destrutivo ou construtivo envolvido no ato da destruição, a menos que haja</p><p>uma investigação maior. (FENIMAN, 2023, [s.p])</p><p>Como dito anteriormente, a igreja é parte da cultura de um povo e suas manifestações</p><p>culturais refletem sua identidade, portanto caminhando juntos ciência e religião novos hábitos,</p><p>visão de mundo e sentido da vida surgirão. Além disso, como visto na citação de Feniman é</p><p>necessário que os Teólogos a frente das instituições religiosas hajam de forma imparcial e</p><p>nesse sentido, abram mão das questões prosélitas em busca da melhoria da qualidade de vida</p><p>do sujeito adicto e possa este ressignificar suas condutas e libertar-se da adicção.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>As pesquisas bibliográficas revelaram nos recortes históricos que desde os tempos</p><p>passados o distanciamento entre religião e ciência se tornou nocivo a humanidade e de certa</p><p>26</p><p>A igreja e o consumo de drogas, 2023.</p><p>forma a proeminente resistência por parte da igreja em não considerar no cenário sacralizado</p><p>a diversidade de conhecimentos produzidos oriundos dos saberes científicos acarretou efeitos</p><p>colaterais irreversíveis. Visto que a ausência de compreensão da realidade, legou em outrora a</p><p>criatura ao mercê do dogmatismo institucionalizado, nesse sentido, as pesquisas conduziram a</p><p>leitura dos fenômenos passados em relação aos atuais a partir de uma atitude antropológica, a</p><p>qual aponta para</p>