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<p>Unidade II</p><p>Qualidade textual</p><p>Oficina de Textos</p><p>em Português</p><p>Diretor Executivo</p><p>DAVID LIRA STEPHEN BARROS</p><p>Gerente Editorial</p><p>ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS</p><p>Projeto Gráfico</p><p>TIAGO DA ROCHA</p><p>Autoria</p><p>FERNANDA CREVELIN</p><p>AUTORIA</p><p>Fernanda Crevelin</p><p>Olá. Meu nome é Fernanda Crevelin. Sou formada em Letras –</p><p>Português e Inglês e suas respectivas literaturas. Também sou pós-</p><p>graduada em Produção e Recepção de Texto. Tenho uma vasta experiência</p><p>na área de redação, tanto em escrita de textos, como em edição e revisão,</p><p>além de estudos linguísticos em geral. Já atuei em diversos campos,</p><p>desde emissora de televisão até editora de material didático.</p><p>A Linguística está em tudo em nossas vidas e é uma verdadeira</p><p>paixão para mim! Transmitir minha experiência de vida àqueles que estão</p><p>iniciando em suas profissões é de fato gratificante e enriquecedor. Por</p><p>isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de</p><p>autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase</p><p>de muito estudo e trabalho. Conte comigo!</p><p>ICONOGRÁFICOS</p><p>Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez</p><p>que:</p><p>OBJETIVO:</p><p>para o início do</p><p>desenvolvimento</p><p>de uma nova</p><p>competência;</p><p>DEFINIÇÃO:</p><p>houver necessidade</p><p>de apresentar um</p><p>novo conceito;</p><p>NOTA:</p><p>quando necessárias</p><p>observações ou</p><p>complementações</p><p>para o seu</p><p>conhecimento;</p><p>IMPORTANTE:</p><p>as observações</p><p>escritas tiveram que</p><p>ser priorizadas para</p><p>você;</p><p>EXPLICANDO</p><p>MELHOR:</p><p>algo precisa ser</p><p>melhor explicado ou</p><p>detalhado;</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>curiosidades e</p><p>indagações lúdicas</p><p>sobre o tema em</p><p>estudo, se forem</p><p>necessárias;</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>textos, referências</p><p>bibliográficas</p><p>e links para</p><p>aprofundamento do</p><p>seu conhecimento;</p><p>REFLITA:</p><p>se houver a</p><p>necessidade de</p><p>chamar a atenção</p><p>sobre algo a ser</p><p>refletido ou discutido;</p><p>ACESSE:</p><p>se for preciso acessar</p><p>um ou mais sites</p><p>para fazer download,</p><p>assistir vídeos, ler</p><p>textos, ouvir podcast;</p><p>RESUMINDO:</p><p>quando for preciso</p><p>fazer um resumo</p><p>acumulativo das</p><p>últimas abordagens;</p><p>ATIVIDADES:</p><p>quando alguma</p><p>atividade de</p><p>autoaprendizagem</p><p>for aplicada;</p><p>TESTANDO:</p><p>quando uma</p><p>competência for</p><p>concluída e questões</p><p>forem explicadas;</p><p>SUMÁRIO</p><p>Compreendendo como funcionam os gêneros textuais ............ 10</p><p>Diferença entre gênero textual e tipo textual ................................................................................ 10</p><p>Exemplos de gêneros textuais - desenvolvendo ......................................................................13</p><p>Entendendo os tipos textuais ................................................................ 19</p><p>Os tipos textuais ......................................................................................................................................................... 19</p><p>Especificidades dos tipos textuais ...........................................................................................................22</p><p>Identificando a formalidade de um texto .........................................34</p><p>A sociolinguística e as variações linguísticas .................................................................................34</p><p>A formalidade do texto, de fato ................................................................................................................. 40</p><p>Executando os procedimentos de coesão e coerência ..............48</p><p>7</p><p>UNIDADE</p><p>02</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>8</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Como já vimos na primeira unidade, o texto está nas nossas vidas</p><p>o tempo todo! Quando falamos com alguém, quando mandamos um</p><p>e-mail, quando escrevemos um bilhete, quando fazemos gestos, etc.</p><p>Tudo isso são formas de texto, que tem como função principal estabelecer</p><p>a comunicação de alguma forma.</p><p>Então, nesta unidade nós vamos trabalhar os tipos e gêneros</p><p>textuais, quais são e suas características, etc. Também faremos a</p><p>diferenciação, muito importante entre gênero e tipo textual. A ideia é</p><p>fazer com que você, aluno, se inteire como se dá o processo de um texto</p><p>Também se pretende, neste processo de aprendizagem, mostrar como</p><p>é a formalidade de um texto, quais os níveis e como ela acontece. Além</p><p>dos processos de coesão e coerência, suas diferenças e porque elas</p><p>caminham sempre juntas. Vamos lá? Ao longo desta unidade letiva você</p><p>poderá mergulhar neste universo!</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>9</p><p>OBJETIVOS</p><p>Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar</p><p>você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o</p><p>término desta etapa de estudos:</p><p>1. Compreender como funcionam os gêneros textuais.</p><p>2. Entender quais são os tipos textuais.</p><p>3. Identificar qual e como é a formalidade de um texto.</p><p>4. Executar os procedimentos de coesão e coerência.</p><p>E aí, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?</p><p>Então, vamos ao trabalho!</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>10</p><p>Compreendendo como funcionam os</p><p>Gêneros Textuais</p><p>OBJETIVO</p><p>Ao término deste capítulo você será capaz de entender</p><p>como funcionam os gêneros textuais. Isso será fundamental</p><p>para o exercício de sua profissão. Pois é comum que exista</p><p>um equívoco entre os conceitos de gênero e tipo textual,</p><p>então aqui você poderá entender essas diferenças e</p><p>também a particularidades de cada um. E então? Motivado</p><p>para desenvolver esta competência? Então vamos lá.</p><p>Avante!</p><p>Diferença entre gênero textual e tipo</p><p>textual</p><p>Muito se fala sobre os gêneros e tipos textuais e muito se confunde</p><p>esses dois termos. Muitas vezes é ensinado que eles são as mesmas</p><p>coisas, porém, são bem distintos um do outro. Vamos a eles?</p><p>Bem, os gêneros textuais são textos que exercem uma função social</p><p>específica, ou seja, ocorrem em situações cotidianas e têm uma intenção</p><p>comunicativa bem definida. Os diferentes gêneros textuais se adequam ao</p><p>uso que se faz deles. Eles fazem adequação principalmente ao objetivo do</p><p>texto. Eles têm muita relação com o emissor, receptor e ao contexto. Você</p><p>se lembra desses termos? Nós os estudamos na unidade 1.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>11</p><p>Gêneros Textuais</p><p>LENDA</p><p>A lenda é um tipo de</p><p>narrativa passada de</p><p>geração para geração</p><p>e contada como se</p><p>fosse uma verdade. Tem</p><p>elementos fantásticos</p><p>e pode servir para</p><p>explicar fenômenos ou</p><p>acontecimentos reais.</p><p>MITO</p><p>O mito é uma narrativa</p><p>fi ctícia que explica</p><p>acontecimentos dos</p><p>lugares. Geralmente</p><p>inclui seres fantásticos</p><p>e deuses locais.</p><p>FÁBULA</p><p>A fábula é uma</p><p>narrativa curta que traz</p><p>a refl exão de valores</p><p>humanos. Costuma</p><p>apresentar uma moral</p><p>ao fi nal e geralmente</p><p>os personagens são</p><p>animais.</p><p>CONTOS DE FADA</p><p>O conto de fada é uma</p><p>história fi ctícia que traz</p><p>elementos ou criaturas</p><p>mágicas. É comum o uso</p><p>de príncipes e princesas.</p><p>POESIA</p><p>A poesia é um tipo</p><p>de texto que traz um</p><p>formato diferente,</p><p>composto de estrofes</p><p>e versos. Ele costuma</p><p>ter um ritmo de leitura</p><p>musicada, pode ter</p><p>rimas e expressa os</p><p>sentimentos do autor.</p><p>BIOGRAFIA</p><p>A biografi a é a história</p><p>da vida de uma</p><p>pessoa e relata vários</p><p>momentos marcantes</p><p>de sua existência.</p><p>RECEITA</p><p>A receita é um texto</p><p>que tem a função</p><p>de ensinar alguém a</p><p>preparar um alimento.</p><p>É comum que</p><p>venha dividido entre</p><p>ingredientes e modo de</p><p>preparo.</p><p>CRÔNICA</p><p>A crônica é um</p><p>tipo de texto que</p><p>mistura jornalismo e</p><p>literatura. Tem como</p><p>característica forte a</p><p>ironia e costuma utilizar</p><p>notícias parar narrar</p><p>histórias fi ctícias com</p><p>humor.</p><p>BULA DE REMÉDIO</p><p>A bula de remédio tem a</p><p>intenção de fornecer ao</p><p>paciente o máximo de</p><p>informações possíveis</p><p>sobre o medicamento.</p><p>Traz composição</p><p>contraindicações,</p><p>dosagem, reações,</p><p>precauções e outras</p><p>informações do</p><p>medicamento.</p><p>E-mail</p><p>O E-mail (ou correio</p><p>eletrônico) é um gênero</p><p>eletrônico escrito,</p><p>cujas características</p><p>lembram as de bilhetes</p><p>e cartas, embora</p><p>possam transmitir</p><p>qualquer mensagem.</p><p>A praticidade é uma</p><p>grande vantagem deste</p><p>gênero textual.</p><p>CARTA</p><p>A carta envolve um</p><p>remetente e um</p><p>destinatário. É costume</p><p>colocar local e data</p><p>e iniciar com uma</p><p>saudação.</p><p>definida como as correspondências</p><p>de associação entre as partes de enunciados do texto “que podem ser</p><p>resolvidos em termos de igualdade ou diferença: pronomes, descrições,</p><p>definidos e demonstrativos, possessivos, etc.”</p><p>Segundo Koch e Travaglia (1989:24),</p><p>“evidentemente, um texto coeso pode parecer</p><p>incoerente, por dificuldades particulares do leitor, como</p><p>o desconhecimento do assunto ou a não-inserção na</p><p>situação. Tudo isso evidencia que a coesão ajuda a</p><p>estabelecer a coerência, mas não a garante, pois ela</p><p>depende muito dos usuários do texto (seu conhecimento</p><p>de mundo) e da situação. Na verdade, a coesão ajuda a</p><p>perceber a coerência na compreensão dos textos, porque</p><p>é resultado da coerência no processo de produção desses</p><p>mesmos textos”.</p><p>Há dois tipos principais de coesão: a retomada de termos, expressões</p><p>ou frases já ditos e/ou sua antecipação e o encadeamento de segmento</p><p>textual. A coesão por retomada por uma palavra gramatical (pronomes,</p><p>verbos, numerais, advérbios) se dá quando um termo se refere àquele</p><p>que já foi mencionado no texto, como na frase:</p><p>Ana está no hospital. Ela está doente.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>51</p><p>O pronome “ela” é um anafórico de Ana.</p><p>Quando uma palavra gramatical antecipa um termo do texto, ocorre</p><p>a catáfora; no exemplo a seguir, o pronome isso antecipa tomou banho</p><p>de chuva por quatro horas seguidas (Luís fez isso: tomou banho de chuva</p><p>por quatro horas seguidas). O artigo definido é usado para retomar um</p><p>referente indefinido já mencionado, exemplo: Luís tomou uma xícara de</p><p>chá. A xícara era de louça, o vocábulo xícara, mencionado na primeira</p><p>oração, passa a ser acompanhado pelo artigo definido a. Ainda como</p><p>anáforas, os verbos ser e fazer substituem outros por retomada: Luís tomou</p><p>chá. Leila fez o mesmo, o verbo fazer substitui verbos de ação, sempre</p><p>acompanhado de um pronome. O verbo ser substitui verbos de estado:</p><p>Luís parece frágil. Leila também é, pois Leila também é frágil. A retomada</p><p>por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos) se dá por repetição</p><p>ou substituição por sinônimo, múltiplo referenciamento (repetição de</p><p>um mesmo fenômeno por formas diversas), hiperônimo (elemento que</p><p>mantém com o segundo uma relação de todo) ou hipônimo (elemento</p><p>que mantém com o segundo uma relação de parte) ou por antonomásia</p><p>(substituição de um nome próprio por um comum ou vice-versa). Estes</p><p>mecanismos podem ser assim exemplificados: Luís gosta de quadros.</p><p>Expressionistas, então, ama, existe aí um hiperônimo; o hipônimo aparece</p><p>assim: O galo canta toda manhã. Essa ave acorda todo mundo bem cedo.</p><p>A antonomásia é dizer Ele é um judas, em vez de Ele é um traidor ou se</p><p>referir ao rei do futebol em vez de Pelé. Alguns nomes genéricos como</p><p>gente, coisa, negócio, elemento, funcionam como itens de referência</p><p>anafórica, como O eclipse iluminava a todos. Era uma coisa mágica, a coisa</p><p>é o eclipse. Muitas vezes para se entender as formas nominais definidas</p><p>(múltiplo referenciamento) se faz necessário haver um conhecimento de</p><p>mundo, e não apenas a sinonímia, pois expressões como populista, pai</p><p>dos pobres e estadista, se referem a Getúlio Vargas e podem substituí-lo</p><p>num determinado contexto. A elipse é o apagamento de um termo da</p><p>frase que pode ser recuperado pelo contexto, exemplo: Em que hospital</p><p>Luís está? Está no hospital da Restauração, neste caso o sujeito do verbo</p><p>estar, nas duas passagens, é Luís.</p><p>A coesão sequencial é feita por encadeamento de segmentos</p><p>textuais e tem por função assinalar que a informação se desenvolve, ou</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>52</p><p>seja, leva à frente o discurso. Os conectores coesivos sequenciais (palavras</p><p>ou expressões) são responsáveis pela concatenação, pela criação de</p><p>relações entre os segmentos do texto, marcando conclusões, gradações,</p><p>comparações, argumentos decisivos, generalizações, exemplificações,</p><p>correções, explicitações, entre outros. Além disso, a coesão sequencial</p><p>pode ser feita sem o uso de sequenciadores, “cabendo ao leitor reconstruir,</p><p>com base na sequência, os operadores que não estão presentes na</p><p>superfície textual” (Platão & Fiorin, 1996:382).</p><p>RESUMINDO:</p><p>Os conectores de coesão de um texto não o fazem</p><p>coerente, mas foi visto que para textos jornalísticos, assim</p><p>como científicos, didáticos e outros, faz-se necessário o</p><p>uso de elementos coesivos para uma boa leitura e um bom</p><p>entendimento do texto. A coesão textual apresenta subsídios</p><p>para interpretações reais e não ambíguas, e se dá através</p><p>de ligações entre palavras, expressões ou frases. Por mais</p><p>organizado que esteja o texto, a compreensão não se dará</p><p>se os elementos coesivos não estiverem numa sequência</p><p>lógica, e para o leitor, ele se apresentará destituído de</p><p>coesão. Assim, é necessário que ao se elaborar um texto,</p><p>utilizem-se recursos coesivos.</p><p>2. Coerência</p><p>“a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer</p><p>um sentido para o texto” (KOCH, 1990:21). Em outras palavras, só existirá</p><p>sentido no texto se as informações nele contidas estiverem interligadas por</p><p>uma noção lógica, se forem coerentes. Portanto, o que o intérprete procura</p><p>num texto, é o seu sentido ou a sua lógica interna, que, em última instância,</p><p>se liga a uma lógica maior e externa que aqui chamamos de conhecimento</p><p>do mundo. Em algumas circunstâncias, a falta de sentido no discurso de</p><p>partida poderá indicar ao intérprete a necessidade de ativar estratégias</p><p>que lhe possibilitem restaurar ou restabelecer o sentido, o que implica em</p><p>encontrar informações que supram vazios existentes na estrutura lógica do</p><p>texto ou na memória do intérprete.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>53</p><p>A coerência deve ser também entendida como um “princípio</p><p>de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação</p><p>de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o</p><p>sentido deste texto. ”Essa capacidade é o resultado da concatenação das</p><p>informações existentes no texto com aquelas que estão armazenadas na</p><p>memória do intérprete. Ou poderíamos dizer que a coerência interna do</p><p>texto dependerá de uma correspondência entre os dados existentes na</p><p>mente do intérprete e aqueles do mundo onde ele se insere. Mais do que</p><p>uma relação direta e unívoca, todavia, essa relação é multifacetada, o que</p><p>reflete o entrelaçamento geralmente existente entre os diversos dados</p><p>armazenados na memória. Os dados se cruzam permanentemente e</p><p>evocam outros que também a eles se associam, tornando o processamento</p><p>muito complexo. Como explica Koch:</p><p>Evidentemente o relacionamento entre esses elementos</p><p>não é linear e a coerência aparece assim como uma</p><p>organização reticulada, tentacular e hierarquizada do</p><p>texto. A continuidade estabelece uma coesão conceitual</p><p>cognitiva entre os elementos do texto através de processos</p><p>cognitivos que operam entre os usuários (produtor e</p><p>receptor) do texto e são não só de tipo lógico, mas também</p><p>dependem de fatores sócio-culturais diversos e de fatores</p><p>interpessoais... (KOCH, op. cit., 25)</p><p>Os fatores socioculturais e interpessoais são o conhecimento do</p><p>mundo que o intérprete possui, sendo que esse conhecimento estende-</p><p>se também ao que convencionalmente se denomina intertextualidade, ou</p><p>seja, a capacidade de relacionar textos novos com outros já existentes.</p><p>Parece evidente que é impossível separar conhecimento do mundo de</p><p>intertextualidade, pois os dois conceitos se superpõem.</p><p>EXPLICANDO MELHOR:</p><p>A  coerência textual  está diretamente relacionada com</p><p>a significância e com a interpretabilidade de um texto. A</p><p>mensagem de um texto é coerente quando ela faz sentido</p><p>e é comunicada de forma harmoniosa, de forma que haja</p><p>uma relação lógica entre as ideias apresentadas, onde umas</p><p>complementem as outras. Para garantir a coerência de um</p><p>texto, é preciso ter em conta alguns conceitos básicos.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>54</p><p>Para uma boa coerência em um texto, existem alguns aspectos a</p><p>serem abordados, vamos a eles:</p><p>1. Princípio da não contradição</p><p>Não pode haver contradições de ideias entre diferentes partes do</p><p>texto.</p><p>Coerência correta: Ele só compra leite de soja, pois é intolerante à</p><p>lactose.</p><p>Erro de coerência: Ele só compra leite de vaca, pois é intolerante à</p><p>lactose.</p><p>Explicação: quem é intolerante à lactose não pode consumir leite de</p><p>vaca. Por esse motivo, o segundo exemplo constitui um erro de coerência;</p><p>não faz sentido.</p><p>2. Princípio da não tautologia</p><p>Ainda que sejam expressas através do uso de diferentes palavras,</p><p>as ideias não devem ser repetidas, pois isso compromete a compreensão</p><p>da mensagem a ser emitida e muitas vezes a torna redundante.</p><p>Coerência correta: Visitei Roma há cinco anos.</p><p>Erro de coerência: Visitei Roma há cinco anos atrás.</p><p>Explicação: “há” já indica que a ação ocorreu no passado. O uso da</p><p>palavra “atrás” também indica que a ação ocorreu no passado, mas não</p><p>acrescenta nenhum valor e torna a frase redundante.</p><p>3. Princípio da relevância</p><p>As ideias devem estar relacionadas entre si, não devem ser</p><p>fragmentadas e devem ser necessárias ao sentido da mensagem.</p><p>O ordenamento das ideias deve ser correto, pois, caso contrário,</p><p>mesmo que elas apresentem sentido quando analisadas isoladamente, a</p><p>compreensão do texto como um todo pode ficar comprometida.</p><p>Coerência correta: O homem estava com muita fome, mas não tinha</p><p>dinheiro na carteira e por isso foi ao banco e sacou uma determinada</p><p>quantia para utilizar. Em seguida, foi a um restaurante e almoçou.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>55</p><p>Erro de coerência: O homem estava com muita fome, mas não tinha</p><p>dinheiro na carteira. Foi a um restaurante almoçar e em seguida foi ao</p><p>banco e sacou uma determinada quantia para utilizar.</p><p>Explicação: observe que, embora as frases façam sentido</p><p>isoladamente, a ordem de apresentação da informação torna a mensagem</p><p>confusa. Se o homem não tinha dinheiro, não faz sentido que primeiro ele</p><p>tenha ido ao restaurante e só depois tenha ido sacar dinheiro.</p><p>4. Continuidade temática</p><p>Esse conceito garante que o texto tenha seguimento dentro de um</p><p>mesmo assunto. Quando acontece uma falha na continuidade temática, o</p><p>leitor fica com a sensação de que o assunto foi mudado repentinamente.</p><p>Coerência correta: “Tive muita dificuldade até acertar o curso que</p><p>queria fazer. Primeiro fui fazer um curso de informática... A meio do semestre</p><p>troquei para um curso de desenho e por fim acabei me matriculando aqui</p><p>no curso de inglês. Foi confuso assim também para você?”</p><p>“Na verdade foi fácil, pois eu já tinha decidido há algum tempo que</p><p>assim que tivesse a oportunidade de pagar um curso, faria um de inglês.”</p><p>Erro de coerência: “Tive muita dificuldade até acertar o curso que</p><p>queria fazer. Primeiro fui fazer um curso de informática... A meio do semestre</p><p>troquei para um curso de desenho e por fim acabei me matriculando aqui</p><p>no curso de inglês. Foi confuso assim também para você?”</p><p>“Quando eu me matriculei aqui no curso, eu procurei me informar</p><p>sobre a metodologia, o tipo de recursos usados, etc. e acabei decidindo</p><p>rapidamente por este curso.”</p><p>Explicação: note que no último exemplo, o segundo interlocutor</p><p>acaba por não responder exatamente ao que foi perguntado.</p><p>O primeiro interlocutor pergunta se ele também teve dificuldades</p><p>de decidir que tipo de curso fazer, e a resposta foi sobre características</p><p>que ele teve em conta ao optar pelo curso de inglês onde se matriculou.</p><p>Apesar de ter falado de um curso, houve uma alteração de assunto.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>56</p><p>5. Progressão semântica</p><p>É a garantia da inserção de novas informações no texto, para</p><p>dar seguimento a um todo. Quando isso não ocorre, o leitor fica com a</p><p>sensação de que o texto é muito longo e que nunca chega ao objetivo</p><p>final da mensagem.</p><p>Coerência correta: Os meninos caminhavam e quando se depararam</p><p>com o suspeito apertaram o passo. Ao notarem que estavam sendo</p><p>perseguidos, começaram a correr.</p><p>Erro de coerência: Os meninos caminhavam e quando se depararam</p><p>com o suspeito continuaram caminhando mais um pouco. Passaram por</p><p>várias avenidas e ruelas e seguiram sempre em frente. Ao notarem que</p><p>estavam sendo perseguidos, continuaram caminhando em direção ao seu</p><p>destino, percorreram um longo caminho...</p><p>Explicação: note que a frase onde a coerência está correta apresenta</p><p>uma sequência de novas informações que direcionam o leitor à conclusão</p><p>do desfecho da frase .</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>57</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>______. A lingüística textual: uma introdução à análise textual dos</p><p>discursos. São Paulo: Cortez, 2008.</p><p>KOCH, I. G. V.; FÁVERO, L. L. Contribuição a uma tipologia textual.</p><p>Letras & Letras, Uberlândia, v. 3, n. 1, p. 3-10, jun. 1987.</p><p>MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: o que são e como se constituem.</p><p>Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2000. Mimeografado.</p><p>VAN DIJK, T. A. La ciência del texto: um enfoque interdisciplinario. 3.</p><p>ed. Buenos Aires/Barcelona/México: Paidós, 1978.</p><p>KOCH, I. V. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1992.</p><p>LABOV, W. Padrões sociolingüísticos. Trad. de M. Bagno; M. M. P.</p><p>Scherre; C. R. Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].</p><p>KOCH, Ingedore (1997). O texto e a construção dos sentidos. São</p><p>Paulo, Contexto.</p><p>PLATÃO, Francisco & FIORIN, José Luiz (1996). Lições de texto:</p><p>leitura e redação. São Paulo, Ática.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>O assunto é</p><p>livre, pois geralmente</p><p>depende do que você</p><p>deseja comunicar. O</p><p>tamanho da escrita</p><p>deve ser médio ou</p><p>longo.</p><p>BILHETE</p><p>O bilhete tem como</p><p>principal função</p><p>informar alguém</p><p>sobre alguma coisa. A</p><p>linguagem é informal</p><p>e o texto costuma ser</p><p>breve. Deve-se colocar</p><p>o nome do destinatário</p><p>e do emissor.</p><p>ENTREVISTA</p><p>A entrevista é um</p><p>tipo de texto que</p><p>tem a função de</p><p>informar sobre um</p><p>acontecimento ou</p><p>levar ao público ideias</p><p>e opniões da pessoa</p><p>entrevistada.</p><p>DIÁRIO</p><p>O diário conta fatos</p><p>do cotidiano ou</p><p>impressões que o autor</p><p>teve sobre determinado</p><p>dia. Geralmente é o</p><p>autor que lê o diário,</p><p>que costuma ser escrito</p><p>em primeira pessoa.</p><p>INFORMATIVO</p><p>Tipo de texto que</p><p>tem como principal</p><p>função informar sobre</p><p>acontecimentos,</p><p>pessoas, lugares entre</p><p>outros. Há muitos</p><p>gêneros textuais</p><p>informativos.</p><p>FICÇÃO-CIENTÍFICA</p><p>História que traz</p><p>elementos que não</p><p>existem na realidade.</p><p>Geralmente envolve</p><p>tecnologia ciência e</p><p>outros planetas.</p><p>MISTÉRIO</p><p>O mistério traz uma</p><p>história com elementos</p><p>de suspense e costuma</p><p>trazer a solução do</p><p>principal enigma da</p><p>trama no fi nal da</p><p>história.</p><p>TERROR</p><p>Histórias de terror</p><p>costumam apresentar</p><p>personagens</p><p>assustadores e</p><p>contar situações que</p><p>provocam medo</p><p>no leitor, usando</p><p>elementos tenebrosos.</p><p>AVENTURA</p><p>As histórias de aventura</p><p>são empolgantes e</p><p>cativam o leitor pela</p><p>ação dos personagens.</p><p>Passar por terras</p><p>desconhecidas e</p><p>encontrar tesouros, por</p><p>exemplo, são tipos de</p><p>aventura.</p><p>Fonte: Pinterest</p><p>Então, os gêneros textuais são inúmeros, e alguns deles estão muito</p><p>presentes no nosso dia a dia. Vamos a alguns exemplos:</p><p>• Bula de remédio</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>12</p><p>• Carta</p><p>• E-mail</p><p>• Reportagem</p><p>• Relatório</p><p>• Texto científico</p><p>• Diário</p><p>• Entrevista</p><p>• Artigo de opinião</p><p>• Lista de compras</p><p>• Entre vários outros.</p><p>EXPLICANDO MELHOR:</p><p>Os gêneros textuais são inúmeros e estão presentes o</p><p>tempo todo em nossas vidas, que nem percebemos. Então,</p><p>eles fazem parte do nosso cotidiano, desde quando abrimos</p><p>o jornal para ler uma notícia pela manhã, até quando temos</p><p>que fazer uma lista do que comprar no supermercado.</p><p>E os tipos textuais?</p><p>Bem, esses são bem específicos e apenas 6:</p><p>• Texto narrativo;</p><p>• Texto descritivo;</p><p>• Texto dissertativo expositivo;</p><p>• Texto dissertativo argumentativo;</p><p>• Texto explicativo injuntivo;</p><p>• Texto explicativo prescritivo.</p><p>Os tipos textuais são modelos abrangentes e fixos que definem</p><p>e distinguem a estrutura e os aspectos linguísticos de uma narração,</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>13</p><p>descrição, dissertação e explicação. Mas sobre eles nós falaremos melhor</p><p>na próxima seção.</p><p>Exemplos de gêneros textuais -</p><p>desenvolvendo</p><p>Agora, para facilitar seu entendimento sobre gêneros textuais,</p><p>vamos dar alguns exemplos práticos?</p><p>1. Reportagem:</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>A reportagem apresenta elementos que não são próprios do gênero</p><p>notícia, entre eles o levantamento de dados, entrevistas com testemunhas</p><p>e/ou especialistas e uma análise detalhada dos fatos. Embora preze</p><p>pela objetividade, característica importante dos gêneros jornalísticos, a</p><p>reportagem invariavelmente apresenta um retrato do assunto a partir de</p><p>um ângulo pessoal, por isso, ao contrário da notícia, ela é assinada pelo</p><p>repórter. Nesse gênero é comum encontrar também o recurso da polifonia,</p><p>pois nele existem outras vozes que não a do repórter, por isso o equilíbrio</p><p>entre o discurso direto e indireto. A finalidade maior da polifonia é permitir</p><p>que o repórter aborde o tema de maneira global e, dessa maneira, isente-</p><p>se da apresentação dos fatos. Exemplo:</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>14</p><p>“Jornalistas e feministas”: livro aborda a prática do Portal Catarinas.</p><p>“Jornalistas e feministas: a construção da perspectiva de gênero</p><p>no jornalismo” é o título do livro que traz um estudo de caso sobre o</p><p>Portal Catarinas. Resultado da dissertação de mestrado da estudante</p><p>Jessica Gustafson no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da</p><p>UFSC, a publicação será lançada nesta quinta-feira (14), às 19h, na Fun-</p><p>dação Cultural Badesc, em Florianópolis.</p><p>Em entrevista ao Catarinas, a doutoranda em jornalismo pela</p><p>UFSC fala sobre as principais descobertas dessa pesquisa e das contri-</p><p>buições ao campo científico e profissional. Durante a investigação, Gus-</p><p>tafson ouviu cinco jornalistas do Portal, buscando compreender suas</p><p>rotinas de trabalho, visões de mundo e práticas jornalísticas.</p><p>A pesquisadora estudou particularmente o fundamento da obje-</p><p>tividade jornalística que está ligado ao conceito de verdade, no senti-</p><p>do de ser um método para aproximar-se dela. Assim como na ciência,</p><p>a objetividade jornalística pressupõe o distanciamento do sujeito que</p><p>olha. “Acredito que o mais interessante seja pensar nas rupturas impor-</p><p>tantes que os feminismos podem trazer aos pressupostos do jornalis-</p><p>mo”, explica a pesquisadora.</p><p>Ela encontrou em Donna Haraway, bióloga e professora emérita</p><p>estadunidense do Departamento de História da consciência, na Uni-</p><p>versidade da Califórnia em Santa Cruz, as bases teóricas para entender</p><p>uma nova maneira de pensar a objetividade, a partir de uma visão críti-</p><p>ca da ideia de verdade no jornalismo.</p><p>“Refletindo a partir do conceito de objetividade corporificada de</p><p>Donna Haraway, pude perceber que o jornalismo feminista subverte</p><p>esse distanciamento, se aproximando e dialogando mais abertamente</p><p>com as pessoas envolvidas na construção das matérias jornalísticas e</p><p>não se eximindo de sua responsabilidade enquanto sujeitos que en-</p><p>xergam o mundo a partir de uma localização social específica”, explica</p><p>Jessica.</p><p>Ainda segundo a autora do livro, ao assumir que a perspectiva</p><p>apresentada será sempre parcial, abre-se possibilidades para outros</p><p>saberes, “em um movimento de abertura e não de fechamento em</p><p>busca de verdade única, que será sempre excludente”.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>15</p><p>“De forma geral, me parece importante buscar nos feminismos,</p><p>enquanto práticas políticas de ativismo e também contribuições teóri-</p><p>cas densas, novas formas de se pensar a prática de outro tipo de jorna-</p><p>lismo, que possa melhor se relacionar com a complexidade social que</p><p>vivemos hoje”, afirma.</p><p>Portal Catarinas</p><p>2. E-mail</p><p>Os e-mails se assemelham muito às cartas, mas de forma eletrônica.</p><p>Para enviá-los é necessário um assunto, depois vem o corpo do e-mail,</p><p>normalmente com uma saudação, texto e a despedida. E-mails são</p><p>enviados por inúmeros motivos: de boas-vindas, para informar, para vender,</p><p>para perguntar, para entregar documentos etc. Vejamos um exemplo:</p><p>À</p><p>(destinatário)</p><p>Atenção a</p><p>(pessoa ou departamento)</p><p>Assunto</p><p>(tema da mensagem)</p><p>Prezados (as) Senhores(as),</p><p>Com relação à reunião marcada para o próximo dia 20 de abril,</p><p>sinto informar que será necessário remarcar a data diante da impos-</p><p>sibilidade de comparecimento de boa parte do corpo diretor, que se</p><p>encontrará em viagem para negociação com fornecedores.</p><p>Dessa forma, agendaremos a exposição de seus produtos para a</p><p>outra oportunidade na data mais próxima disponível.</p><p>Faremos em breve novo contato para agendamento.</p><p>Atenciosamente,</p><p>(empresa)</p><p>(nome do responsável)</p><p>(cargo)</p><p>(telefone)</p><p>(e-mail)</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>16</p><p>3. Crônica</p><p>A Crônica é um tipo de texto narrativo curto, geralmente produzido</p><p>para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas etc. Além de</p><p>ser um texto curto, possui uma “vida curta”, ou seja, as crônicas tratam</p><p>de acontecimentos corriqueiros do cotidiano. Portanto, elas estão</p><p>extremamente conectadas ao contexto em que são produzidas, por isso,</p><p>com o passar do tempo ela perde sua “validade”, ou seja, fica fora do</p><p>contexto. De acordo com o crítico literário Antônio Cândido:</p><p>A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma</p><p>literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o</p><p>brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e</p><p>poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um</p><p>cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo</p><p>que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, seria</p><p>o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto</p><p>de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas</p><p>para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura</p><p>(...).</p><p>Veja um exemplo:</p><p>A morte dos girassóis</p><p>Anoitecia, eu estava no jardim. Passou um vizinho e ficou me olhando,</p><p>pálido demais até para o anoitecer. Tanto que cheguei a me virar para trás,</p><p>quem sabe alguma coisa além de mim no jardim. Mas havia apenas os</p><p>brincos-de-princesa, a enredadeira subindo lenta pelos cordões, rosas</p><p>cor-de-rosa, gladíolos desgrenhados. Eu disse oi, ele ficou mais pálido.</p><p>Perguntei que-que foi, ele enfim suspirou: “Me disseram no Bonfim que</p><p>você morreu na quinta-feira”. Eu disse ou pensei dizer ou de tal forma</p><p>deveria ter dito que foi como se dissesse: “É verdade, morri sim. Isso que</p><p>você está vendo é uma aparição, voltei porque não consigo me libertar</p><p>do jardim, vou ficar aqui vagando feito Egum até desabrochar aquela rosa</p><p>amarela plantada no dia de Oxum. Quando passar lá no Bonfim diz que</p><p>sim, que morri mesmo, e já faz tempo, lá por agosto do ano passado.</p><p>Aproveita e avisa o pessoal que é ótimo aqui do outro lado: enfim um lugar</p><p>sem baixo astral”.</p><p>Acho que ele foi embora, ainda mais pálido. Ou eu fui, não importa.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>17</p><p>Mudando de assunto sem mudar propriamente, tenho aprendido</p><p>muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora</p><p>parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas.</p><p>Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar</p><p>enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos</p><p>destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá está o botãozinho todo</p><p>catita, parece que vai abrir.</p><p>Mas leva tempo, ele também, se produzindo. Eu cuidava, cuidava, e</p><p>nada. Viajei por quase um mês no verão, quando voltei, a casa tinha sido</p><p>pintada, muro inclusive, e vários girassóis estavam quebrados. Fiquei uma</p><p>fera. Gritei com o pintor: “Mas o senhor não sabe que as plantas sentem</p><p>dor que nem a gente?” O homem ficou me olhando tão pálido quanto</p><p>aquele vizinho. Não, ele não sabe, entendi. E fui cuidar do que restava,</p><p>que é sempre o que se deve fazer.</p><p>Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente</p><p>despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então,</p><p>como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por</p><p>terra, exausto da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas</p><p>mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto.</p><p>Alguns amarrei com cordões em estacas, mas havia um tão</p><p>quebrado que nem dei muita atenção, parecia não valer a pena. Só</p><p>apoie-o numa espada de São Jorge com jeito, e entreguei a Deus. Pois no</p><p>dia seguinte, lá estava ele todo meio empinado de novo, tortíssimo, mas</p><p>dispensando o apoio da espada. Foi crescendo assim precário, feinho,</p><p>fragilíssimo. Quando parecia quase bom, cráu! Veio chuva medonha e</p><p>deitou-o por terra. Pela manhã estava todo enlameado, mas firme. Aí me</p><p>veio a ideia: cortei-o com cuidado e coloquei-o aos pés do Buda chinês</p><p>de mãos quebradas que herdei de Vicente Pereira. Estava tão mal que</p><p>o talo pendia cheio de ângulos das fraturas, a flor ficava assim meio de</p><p>cabeça baixa e de costas para o Buda. Não havia como endireitá-lo.</p><p>Na manhã seguinte, juro, ele havia feito um giro completo sobre</p><p>o próprio eixo e estava com a corola toda aberta, iluminada, voltada</p><p>exatamente para o sorriso do Buda. Os dois pareciam sorrir um para o</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>18</p><p>outro. Um com o talo torto, o outro com as mãos quebradas. Durou pouco,</p><p>girassol dura pouco, uns três dias. Então peguei e joguei-o pétala por</p><p>pétala, depois o talo e a corola entre as alamandas da sacada. Para que</p><p>caíssem no canteiro lá embaixo e voltassem a ser pó, húmus misturado à</p><p>terra. Depois não sei ao certo, voltasse à tona fazendo parte de uma rosa,</p><p>palma-de-santarrita, lírio ou azaleia, vai saber que tramas armam as raízes</p><p>lá embaixo no escuro, em segredo.</p><p>Ah, pede-se não enviar flores. Pois como eu ia dizendo, depois que</p><p>comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se</p><p>deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu?</p><p>Algumas pessoas acham que nunca. Mas não é para essas que escrevo.</p><p>Caio Fernando Abreu</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Quer saber mais sobre a importância dos gêneros textuais</p><p>no ensino da Língua Portuguesa? Então leia o artigo de Alina</p><p>Segate, “Gêneros textuais no ensino de língua portuguesa”.</p><p>Acesse clicando aqui.</p><p>RESUMINDO:</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu</p><p>mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de</p><p>que você realmente entendeu o tema de estudo deste</p><p>capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter</p><p>aprendido que os gêneros textuais são coisas diferentes</p><p>de tipos textuais. Os primeiros são inúmeros e são sempre</p><p>presentes no nosso cotidiano, como receitas, bulas de</p><p>remédio, e-mails, reportagens etc. Já os tipos textuais são</p><p>especificamente seis: narrativo, descritivo, argumentativo,</p><p>expositivo, explicativo injuntivo e explicativo prescritivo,</p><p>que serão melhor explicados na próxima seção. Vamos lá?</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/download/37333/40053/</p><p>19</p><p>Entendendo os Tipos Textuais</p><p>OBJETIVO:</p><p>Como nós vimos na primeira seção, tipos textuais são</p><p>diferentes de gêneros textuais, por mais que um tenha</p><p>relação com o outro. Nesta seção nós vamos trabalhar mais</p><p>profundamente os tipos textuais, reforçar quais são eles e</p><p>definir as características cada um. Então, ao término desta</p><p>seção você deverá saber como funcionam os tipos textuais</p><p>e quais são as características de cada um. Vamos lá?</p><p>Os Tipos Textuais</p><p>Alguns autores definem os tipos textuais como sendo um</p><p>“sorteamento”. Segundo os autores, o sorteamento de textos é um</p><p>procedimento de base indutiva e empírica, já a tipologia de textos,</p><p>outra forma de se chamar os tipos textuais, é um procedimento de base</p><p>dedutiva e teórica. Nesse sentido, os tipos textuais partem de uma teoria</p><p>e tem como objetivo categorizar o universo textual de forma sistemática</p><p>e exaustiva. Dessa forma, a caracterização dos textos é baseada em um</p><p>conjunto limitado de critérios, constituindo um número relativamente</p><p>pequeno de tipos. De acordo com os estudiosos, a tipologia não utiliza as</p><p>categorizações já existentes em uma dada comunidade, já que estabelece</p><p>sua própria terminologia para dar conta de todos os textos.</p><p>EXPLICANDO MELHOR:</p><p>Os tipos textuais, ou tipologia textual ou até mesmo tipos</p><p>de texto, são as diferentes formas que um texto pode</p><p>apresentar, visando a responder a diferentes intenções</p><p>comunicativas. Os aspectos constitutivos de um texto</p><p>divergem mediante a finalidade do texto: contar, descrever,</p><p>argumentar, informar etc. Então, os diferentes tipos de texto</p><p>apresentam diferentes características, em questão, por</p><p>exemplo, de: estrutura, construções de frases, linguagem,</p><p>vocabulário, tempos verbais, relações lógicas, modo de</p><p>interação com o leitor etc.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>20</p><p>Então, as propriedades de uma tipologia que são: a homogeneidade,</p><p>a monotipia, o rigor e a exaustividade. A homogeneidade diz respeito</p><p>à base que sustenta as definições dos tipos textuais, que deve ser da</p><p>mesma natureza. A monotipia diz respeito à atribuição de um dado texto</p><p>a um único tipo textual, ou seja, um texto não pode ser classificado em</p><p>diversos tipos em um mesmo nível de hierarquia. O rigor refere-se ao fato</p><p>de não haver ambiguidade tipológica, de modo que o texto não possa ser</p><p>classificado em distintos tipos. Por fim, a exaustividade se refere ao fato de</p><p>que a tipologia tenha a possibilidade de ser aplicada em todos os textos.</p><p>Existe uma dificuldade em se entrar em um consenso conceitual em</p><p>relação à noção de “tipo textual”, principalmente por conta da utilização</p><p>de</p><p>diferentes teorias de linguagem que a fundamentam. Em uma tentativa de</p><p>elaborar uma síntese desta categoria, Silva (1999, p. 101) tece articulações</p><p>entre diferentes quadros teóricos e formula uma concepção de “tipo</p><p>textual” como:</p><p>modos enunciativos de organização do discurso no</p><p>texto [...],efetivados por operações textual-discursivas</p><p>[...], construídas pelo locutor em função de sua atitude</p><p>discursiva em relação ao seu objeto do dizer e ao seu</p><p>interlocutor. Tudo isso é regulado pelo gênero a que o</p><p>texto pertence e pela situação interlocutiva, ambientada</p><p>em dada instância social do uso da linguagem.</p><p>De acordo com essa concepção podemos perceber uma forte</p><p>conexão com “tipo textual” e “gênero textual”, entre “tipo textual” e situação</p><p>de comunicação e entre “tipo textual” e esfera de atividade humana (no</p><p>sentido bakhtiniano, autor muito abordado na nossa primeira unidade),</p><p>deixando evidente que a noção de “tipo textual” é concebida a partir do</p><p>diálogo entre uma dimensão estrutural e uma dimensão discursiva.</p><p>Já Marcuschi (2002) se posiciona de forma contrária ao apresentar</p><p>diferenças entre as concepções de “gênero textual” e “tipo textual”.</p><p>Para o autor, os tipos textuais são “construtos teóricos definidos por</p><p>propriedades linguísticas intrínsecas” (MARCUSCHI, 2002, p. 23). Como é</p><p>possível observar, são considerados apenas os aspectos estruturais na</p><p>noção de “tipo textual”. Essas posições ilustram que, mesmo em uma</p><p>tentativa de estabilizar a noção de “tipo textual”, ela se apresenta de forma</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>21</p><p>escorregadia.Quando iniciamos a discussão acerca dos tipos textuais é</p><p>de suma importância trabalhar o conceito de “superestrutura” de Van Dijk</p><p>(1978), considerarmos que no conceito do autor há uma convergência com</p><p>a noção de “tipo textual” por conta do viés cognitivista. Outro argumento</p><p>é apresentado por Marcuschi (2000) ao afirmar que, apesar de o autor</p><p>não ter elaborado uma tipologia textual, a noção de “superestrutura”</p><p>provê bases para isso.Para Dijk, superestrutura é “um tipo de esquema</p><p>abstrato que estabelece a ordem global de um texto e que é constituído</p><p>de uma série de categorias, cujas possibilidades se baseiam em regras</p><p>convencionais”. Essa conceituação revela que a superestrutura tem um</p><p>caráter textual, abstrato e convencional.</p><p>A natureza textual da “superestrutura” se explica em oposição</p><p>à natureza gramatical, de modo que a categoria se presta a definir um</p><p>texto tomado em seu conjunto e não a partir de orações isoladas, por</p><p>exemplo. Já a natureza abstrata, diz respeito ao fato de a “superestrutura”</p><p>se constituir em um sistema secundário que não possui diretamente</p><p>funções pragmáticas, e se manifestar indiretamente por meio dos</p><p>sistemas linguísticos das línguas naturais. Essas “estruturas textuais</p><p>abstratas” são conhecidas e utilizadas pelos falantes, de modo que eles</p><p>produzem e interpretam textos de acordo com esse sistema implícito. Daí</p><p>sua natureza convencional. De acordo com o autor, esse conhecimento</p><p>cognitivo pertence aos falantes de uma dada comunidade linguística.</p><p>VanDijk (1978) define, ainda, a superestrutura como a “forma” do texto,</p><p>contudo Marcushi (2000, p. 42) nos adverte que “a superestrutura não é</p><p>apenas forma, mas tem um componente cognitivo bastante claro [...]”. Veja</p><p>a seguir a exemplificação em imagem essa superestrutura de Dijk.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>22</p><p>Argumentação</p><p>Circunstância</p><p>Reforço</p><p>Marco</p><p>Legitimidade</p><p>Conclusão</p><p>Feitos</p><p>Justificativa</p><p>Pontos de partida</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Quer saber mais como é o pensamento de Marcushi? Leia</p><p>o livro do autor intitulado como “Gêneros textuais: definição</p><p>e funcionalidade”, publicado em 2002.</p><p>Especificidades dos Tipos Textuais</p><p>Agora que você tem uma noção geral sobre os tipos textuais, vamos</p><p>estudar um por um? Vamos lá!</p><p>1. Texto narrativo</p><p>Maioritariamente escrito em prosa, o texto narrativo é caracterizado</p><p>por narrar uma história, ou seja, contar uma história através de uma</p><p>sequência de várias ações reais ou imaginárias. Essa sucessão de</p><p>acontecimentos é contada por um narrador e está estruturada em</p><p>introdução, desenvolvimento e conclusão. Ao longo dessa estrutura</p><p>narrativa são apresentados os principais elementos da narração: espaço,</p><p>tempo, personagem, enredo e narrador. Quais são os principais elementos</p><p>da narrativa?</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>23</p><p>Espaço: O espaço se refere ao local onde se desenrola a ação.</p><p>Pode ser físico (no colégio, no Brasil, na praça etc.), social (características</p><p>do ambiente social) e psicológico (vivências, pensamento e sentimentos</p><p>do sujeito etc.).</p><p>Tempo: O tempo se refere à duração da ação e ao desenrolar dos</p><p>acontecimentos. O tempo cronológico indica a sucessão cronológica</p><p>dos fatos, pelas horas, dias, anos etc. O tempo psicológico se refere às</p><p>lembranças e vivências das personagens, sendo subjetivo e influenciado</p><p>pelo estado de espírito das personagens em cada momento.</p><p>Personagens: São caracterizadas através de qualidades físicas</p><p>e psicológicas, podendo essa caracterização ser feita de modo direto</p><p>(explicitada pelo narrador ou por outras personagens, através de</p><p>autocaracterização ou heterocaracterização) ou de modo indireto (feita</p><p>com base nas atitudes e comportamento das personagens).</p><p>Enredo: Também chamado de intriga, trama ou ação, o enredo é</p><p>composto pelos acontecimentos que ocorrem num determinado tempo e</p><p>espaço e são vivenciados pelas personagens. As ações seguem-se umas</p><p>às outras por encadeamento, encaixe e alternância.</p><p>Narrador: O narrador é o responsável pela narração, ou seja, é</p><p>quem conta a história. Existem vários tipos de narrador:</p><p>Narrador onisciente e onipresente: Conhece intimamente as</p><p>personagens e a totalidade do enredo, de forma pormenorizada. Utiliza</p><p>maioritariamente a narração na 3.ª pessoa, mas pode narrar na 1.ª pessoa,</p><p>em discurso indireto livre, tendo sua voz confundida com a voz das</p><p>personagens, tal é o seu conhecimento e intimidade com a narrativa.</p><p>Narrador personagem, participante ou presente: Conta a história</p><p>na 1.ª pessoa, do ponto de vista da personagem que é. Apenas conhece</p><p>seus próprios pensamentos e as ações que se vão desenrolando, nas</p><p>quais também participa. Tem conhecimentos limitados sobre as restantes</p><p>personagens e sobre a totalidade do enredo. Este tipo de narração é mais</p><p>subjetivo, transmitindo o ponto de vista e as emoções do narrador.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>24</p><p>Narrador observador, não participante ou ausente: Limita-se a</p><p>contar a história, sem se envolver nela. Embora tenha conhecimento das</p><p>ações, não conhece o íntimo das personagens, mantendo uma narrativa</p><p>imparcial e objetiva. Utiliza a narração na 3.ª pessoa.</p><p>Nós temos também a estrutura de uma narrativa. Vamos a ela?</p><p>Introdução: A introdução se refere à situação inicial da história.</p><p>Também chamada de apresentação, é nesta parte da narração que</p><p>são apresentados os principais elementos da narração: espaço, tempo,</p><p>personagens, enredo e narrador. Ficamos sabendo quem, quando e onde.</p><p>Desenvolvimento: Durante o desenvolvimento do enredo, ocorrem</p><p>conflitos, ou seja, acontecimentos que quebram o equilíbrio apresentado</p><p>na introdução, modificando essa situação inicial. Ficamos sabendo o quê</p><p>e como. No desenvolvimento ocorre também o momento mais tenso e</p><p>emocionante da história - o clímax.</p><p>Conclusão: Também chamada de desfecho, desenlace ou epílogo,</p><p>a conclusão é a parte da narração em que se resolvem os conflitos</p><p>(positiva ou negativamente). Fica evidenciada a relação existente entre os</p><p>diferentes acontecimentos, sendo apresentadas suas consequências.</p><p>Exemplo de excerto de texto narrativo:</p><p>A memória é a costureira, e costureira caprichosa. A memória faz a</p><p>sua agulha correr para dentro e para foram, para cima e para baixo, para</p><p>cá e para lá. Não sabemos o que vem em seguida, o que virá depois.</p><p>Assim, o ato mais vulgar do mundo, como o de sentar-se a uma</p><p>mesa e</p><p>aproximar o tinteiro, pode agitar mil fragmentos díspares, ora iluminados,</p><p>ora em sombra, pendentes, oscilantes, e revirando-se como a roupa</p><p>branca de uma família de catorze pessoas, numa corda ao vento. (Orlando</p><p>– Virgina Woolf)</p><p>2. Texto Descritivo</p><p>O texto descritivo é caracterizado por descrever algo ou alguém</p><p>detalhadamente, sendo possível ao leitor criar uma imagem mental do</p><p>objeto ou ser descrito, de acordo com a descrição efetuada. Descrição essa</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>25</p><p>tanto dos aspectos mais importantes e característicos que generalizam</p><p>um objeto ou ser, como dos pormenores e detalhes que os diferenciam</p><p>dos outros.</p><p>Não é, por norma, um tipo de texto autônomo, encontrando-se</p><p>presente em outros textos, como o texto narrativo. Passagens descritivas</p><p>ocorrem no meio da narração quando há uma pausa no desenrolar dos</p><p>acontecimentos para caracterizar pormenorizadamente um objeto, um</p><p>lugar ou uma pessoa, sendo um recurso útil e importante para capturar a</p><p>atenção do leitor.</p><p>Estrutura do texto descritivo</p><p>Introdução: Primeiramente é feita a identificação do ser ou objeto</p><p>que será descrito, de modo a que o leitor foque sua atenção nesse ser ou</p><p>objeto.</p><p>Desenvolvimento: Ocorre então a descrição do objeto ou ser em</p><p>foco, apresentando seus aspectos mais gerais e mais pormenorizados,</p><p>havendo caracterizações mais objetivas e outras mais subjetivas.</p><p>Conclusão: A descrição está concluída quando a caracterização do</p><p>objeto ou do ser estiver terminada.</p><p>Características do texto descritivo</p><p>O texto descritivo não se encontra limitado por noções temporais</p><p>ou relações espaciais, visto descrever algo estático, sem ordem fixa para</p><p>a realização da descrição. Há uma notória predominância de substantivos,</p><p>adjetivos e locuções adjetivas, em detrimento de verbos, sendo</p><p>maioritariamente necessária a utilização de verbos de estado, como ser,</p><p>estar, parecer, permanecer, ficar, continuar, tornar-se, andar etc.</p><p>O uso de uma linguagem clara e dinâmica, com vocabulário rico</p><p>e variado, bem como o uso de enumerações e comparações, ou outras</p><p>figuras de linguagem, servem para melhor apresentar o objeto ou ser em</p><p>descrição, enriquecendo o texto e tornando-o mais interessante para o</p><p>leitor.</p><p>A descrição pode ser mais objetiva, focalizando aspectos físicos,</p><p>ou mais subjetiva, focalizando aspectos emocionais e psicológicos. Nas</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>26</p><p>melhores descrições, há um equilíbrio entre os dois tipos de descrição,</p><p>sendo o objeto ou ser descrito apresentado nas suas diversas vertentes.</p><p>Na descrição de pessoas, há a descrição de aspectos físicos, ou seja,</p><p>aquilo que pode ser observado e a descrição de aspectos psicológicos e</p><p>comportamentais, como o caráter, personalidade, humor,…, apreendidos</p><p>pelo convívio com a pessoa e pela observação de suas atitudes. Na</p><p>descrição de lugares ocorre tanto a descrição de aspectos físicos, como</p><p>a descrição do ambiente social, econômico, político,… Na descrição de</p><p>objetos, embora predomine a descrição de aspectos físicos, pode ocorrer</p><p>uma descrição sensorial, que estimule os sentidos do leitor.</p><p>Exemplos:</p><p>Descrição Subjetiva</p><p>“Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão</p><p>de manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos botões de</p><p>madrepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco</p><p>do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina,</p><p>de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; com</p><p>o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento</p><p>e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações</p><p>escarlates.” (O Primo Basílio, Eça de Queiroz)</p><p>Descrição Objetiva</p><p>“A vítima, Solange dos Santos (22 anos), moradora da cidade de</p><p>Marília, era magra, alta (1,75), cabelos pretos e curtos; nariz fino e rosto</p><p>ligeiramente alongado.”</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>27</p><p>3. Texto dissertativo-expositivo</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>O texto dissertativo-expositivo tem como objetivo informar e</p><p>esclarecer o leitor através da exposição de um determinado assunto</p><p>ou tema. Não há a necessidade de convencer o leitor, apenas de expor</p><p>conhecimentos, ideias e pontos de vista.</p><p>É essencial que o autor domine totalmente o assunto, uma vez</p><p>que o rigor na análise do conteúdo de um texto dissertativo-expositivo é</p><p>elevadíssimo. Por se tratar da transmissão de um conhecimento teórico,</p><p>devidamente legitimado, não pode haver qualquer tipo de incorreção.</p><p>Além disso, é importante que o assunto seja exposto de forma</p><p>clara, pormenorizada e objetiva, de modo a que o texto seja entendido</p><p>pelo maior número possível de leitores.</p><p>Este tipo de texto é usado em: livros, aulas e resumos escolares,</p><p>enciclopédias, textos científicos, verbetes de dicionário, textos para</p><p>transmissão de conhecimentos em diversos meios de comunicação,</p><p>como internet, jornais, revistas etc.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>28</p><p>Características do texto dissertativo-expositivo:</p><p>Com o intuito de informar e esclarecer, o texto dissertativo-</p><p>expositivo é caracterizado por:</p><p>Utilizar uma linguagem clara e objetiva;</p><p>Ser de fácil compreensão por diversas pessoas;</p><p>Apresentar muita informação sobre um determinado assunto;</p><p>Especificar conceitos e definições;</p><p>Realizar descrições de características;</p><p>Recorrer a enumerações, comparações e contrastes para clarificar</p><p>os conceitos.</p><p>Estrutura do texto dissertativo-expositivo</p><p>O texto dissertativo-expositivo pode ser construído através da</p><p>estrutura textual típica de introdução, desenvolvimento e conclusão.</p><p>Contudo, mais importante do que seguir uma estrutura rígida, é que haja</p><p>a exposição de ideias certas e bem organizadas sobre um determinado</p><p>tema.</p><p>Introdução:</p><p>Na introdução é feita a apresentação do tema que será abordado,</p><p>com possível contextualização num universo mais amplo, no qual o tema</p><p>se encontra inserido. Neste momento, é feita também a definição do</p><p>objetivo do texto.</p><p>Desenvolvimento:</p><p>No desenvolvimento é feita uma explicação pormenorizada, clara e</p><p>objetiva do tema, havendo uma exploração de todas as suas vertentes e</p><p>de todos os aspectos principais e secundários relativos ao mesmo.</p><p>Conclusão:</p><p>Na conclusão ocorre a reafirmação do tema, sendo feita a síntese</p><p>dos conteúdos abordados. Pode haver uma tomada de posição do autor</p><p>relativamente ao assunto tratado.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>29</p><p>Exemplo de texto dissertativo-expositivo:</p><p>“Locução adjetiva é um conjunto de duas ou mais palavras que,</p><p>juntas, atuam como um adjetivo, caracterizando um substantivo. A maior</p><p>parte das locuções adjetivas é formada pela preposição de mais um</p><p>substantivo. Há, no entanto, locuções adjetivas formadas por advérbios e</p><p>pelas preposições sem, com, em, etc.”</p><p>Algumas locuções adjetivas se encontram diretamente relacionadas</p><p>com um adjetivo, outras não. Assim, em alguns casos é possível a</p><p>substituição da locução adjetiva por um adjetivo, em outros não.</p><p>A utilização de locuções adjetivas permite uma maior diversidade</p><p>vocabular e enriquecimento textual.</p><p>Texto dissertativo argumentativo</p><p>O texto dissertativo-argumentativo tem como objetivo persuadir e</p><p>convencer, ou seja, levar o leitor a concordar com a tese defendida. É</p><p>expressa uma opinião crítica acerca de um assunto, sendo defendida uma</p><p>tese sobre esse assunto através de uma argumentação clara e objetiva,</p><p>fundamentada em fatos verídicos e dados concretos.</p><p>Estrutura do texto dissertativo argumentativo</p><p>A apresentação e defesa da tese desenvolvem-se através da</p><p>estrutura textual típica de introdução, desenvolvimento e conclusão.</p><p>Introdução</p><p>Na introdução ocorre a apresentação de um assunto e de uma</p><p>tese que será defendida sobre esse assunto. Assim, após a identificação</p><p>de um problema num determinado assunto, é apresentada a tese de</p><p>forma clara e objetiva, sendo essencial que esta esteja bem definida e</p><p>delimitada. A reflexão crítica sobre a tese e sua argumentação</p><p>será feitas</p><p>no desenvolvimento do texto.</p><p>Desenvolvimento</p><p>No desenvolvimento ocorre a apresentação e a exploração dos</p><p>diversos argumentos que suportam a tese. Podem ser apresentados</p><p>através do reconhecimento das causas e consequências do problema,</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>30</p><p>da identificação de seus aspectos positivos e negativos ou da contra-</p><p>argumentação de uma tese contrária. Pode haver um foco no argumento</p><p>justificando a tese ou um foco na tese que ocorre por um determinado</p><p>argumento. O que importa é que se utilize uma linguagem coerente,</p><p>objetiva e precisa.</p><p>A apresentação dos argumentos deve seguir uma sequência lógica.</p><p>Pode haver um argumento principal e argumentos auxiliares ou vários</p><p>argumentos fortes. O mais importante é que estes sejam objetivos e</p><p>detalhados e que haja conexão entre eles.</p><p>Os diversos argumentos deverão ser sustentados com exemplos e</p><p>provas que os validem, tornando-os indiscutíveis, como:</p><p>• Atos comprovados;</p><p>• Conhecimentos consensuais;</p><p>• Dados estatísticos;</p><p>• Pesquisas e estudos;</p><p>• Citações de autores renomados;</p><p>• Depoimentos de personalidades renomadas;</p><p>• Alusões históricas;</p><p>• Fatores sociais, culturais e econômicos.</p><p>Além disso, diversos recursos de linguagem podem ser usados</p><p>para captar a atenção do leitor e convencê-lo da correção da tese,</p><p>como a utilização de uma linguagem formal, de perguntas retóricas, de</p><p>repetições, de ironia, de exclamações etc.</p><p>Conclusão</p><p>Na conclusão há a retoma e reafirmação da tese inicial, já</p><p>defendida pelos diversos argumentos apresentados no desenvolvimento.</p><p>Pode ocorrer a apresentação de soluções viáveis ou de propostas de</p><p>intervenção. A conclusão aparece como um desfecho natural e inevitável</p><p>visto o pensamento do leitor já ter sido direcionado para a mesma durante</p><p>a apresentação dos argumentos.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>31</p><p>Exemplo de texto dissertativo-argumentativo:</p><p>“Não é de hoje que a sociedade brasileira sofre com os tormentos</p><p>ocasionados pela disseminação da violência. Esse fato estarrecedor gera</p><p>debates e mais debates, na tentativa de sanar, ou ao menos coibir, os sérios</p><p>impactos sociais que as ações violentas representam para a coletividade.</p><p>Para esse fim, seria a redução da maioridade penal um componente de</p><p>primeira grandeza?</p><p>Constata-se que o envolvimento de jovens infratores em graves</p><p>delitos pode não ser uma exclusividade dos tempos modernos; no entanto,</p><p>é inegável o aumento de casos envolvendo crianças e adolescentes</p><p>em situações deploráveis, como furtos, roubos e, em muitos contextos,</p><p>homicídios.</p><p>Com esse cenário, parece irrefutável a tese que defende o declínio</p><p>de dois anos nas contas da maioridade penal. Para os mais inconformados</p><p>com a realidade, aqueles tomados pelo afã do “justiceiro implacável”,</p><p>não parecem existir outras saídas. Todavia, nem sempre o que se</p><p>revela aparentemente óbvio o é. Há fatores envolvidos nas estatísticas</p><p>da criminalidade covardemente camuflados por alguns setores</p><p>governamentais, bem como por áreas específicas da sociedade civil.</p><p>Se reduzir a idade mínima penal tivesse consequências positivas</p><p>imediatas para a diminuição dos índices criminais, essa certamente já seria</p><p>uma medida adotada por todas as nações. Fatores bem mais importantes</p><p>como priorização efetiva dos investimentos em educação e cultura, bem</p><p>como distribuição de emprego e renda, inserindo o jovem no universo</p><p>acadêmico ou técnico, indubitavelmente aplacariam com mais rapidez e</p><p>eficácia os deploráveis números.</p><p>A participação de menores infratores em crimes hediondos não</p><p>deve ser ignorada, é inegável; diminuir a idade base para a criminalização</p><p>de seus atos pode ser uma saída, mas necessita, ainda, de discussões e</p><p>argumentos mais convincentes. “De concreto, fica a certeza de que só um</p><p>programa capaz de incluir crianças, adolescentes e jovens nos interesses</p><p>mais prioritários do país terá a força suficiente para contornar quadro tão</p><p>desfavorável.” (Prof. Eduardo Sampaio)</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>32</p><p>4. Texto injuntivo e prescritivo</p><p>Tanto os textos injuntivos, quanto os prescritivos têm a finalidade de</p><p>instruir o leitor. Não só fornecem uma informação, como incitam à ação,</p><p>guiando a conduta do leitor.</p><p>Embora considerados sinônimos por alguns autores, podemos</p><p>distinguir os textos injuntivos dos textos prescritivos devido ao grau de</p><p>obrigatoriedade existente no seguimento das instruções dadas. Os textos</p><p>injuntivos informam, ajudam, aconselham, recomendam e propõem,</p><p>dando alguma liberdade de atuação ao interlocutor. Os textos prescritivos</p><p>obrigam, exigem, ordenam e impõem, exigindo que as determinações</p><p>sejam cumpridas da forma que estão referidas, sem margem para</p><p>alterações.</p><p>Texto injuntivo</p><p>O texto injuntivo (ou instrucional) apresenta as seguintes</p><p>características:</p><p>• Instrui o leitor acerca de um procedimento;</p><p>• Induz o leitor a proceder de uma determinada forma;</p><p>• Permite a liberdade de atuação ao leitor;</p><p>• Utiliza linguagem objetiva e simples;</p><p>• Utiliza predominantemente verbos no infinitivo, imperativo ou</p><p>presente do indicativo com indeterminação do sujeito.</p><p>Exemplos: receita culinária, bula de remédio, manual de instrução,</p><p>livro de autoajuda, guia rodoviário etc.</p><p>Excerto de texto injuntivo:</p><p>“Derreta uma colher de sopa de manteiga numa panela em fogo</p><p>médio. Acrescente uma lata de leite condensado. De seguida, junte quatro</p><p>colheres de sopa de chocolate em pó. Mexa suavemente, sem parar,</p><p>até desgrudar do fundo da panela. Despeje a mistura em um recipiente</p><p>previamente untado e deixe esfriar. Depois, com a ajuda de uma colher de</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>33</p><p>sobremesa, faça pequenas bolas com as mãos e passe-as no chocolate</p><p>granulado.” (receita de brigadeiro de chocolate)</p><p>Texto prescritivo</p><p>O texto prescritivo apresenta as seguintes características:</p><p>• Instrui o leitor acerca de um procedimento;</p><p>• Exige que o leitor proceda de uma determinada forma;</p><p>• Não permite a liberdade de atuação ao leitor;</p><p>• Apresenta caráter coercitivo;</p><p>• Utiliza linguagem objetiva e simples;</p><p>• Utiliza predominantemente verbos no infinitivo, imperativo ou</p><p>presente do indicativo com indeterminação do sujeito.</p><p>Exemplos: cláusulas contratuais, leis, códigos, constituição, edital</p><p>de concursos públicos, regras de trânsito,…</p><p>Excerto de texto prescritivo:</p><p>“O pedido de isenção deverá ser solicitado, das 12 horas do dia 22</p><p>de abril de 2015 até as 16 horas do dia 4 de maio de 2015. Esta solicitação</p><p>deverá ser caracterizada no Requerimento de Inscrição, em campo</p><p>próprio, devendo o candidato informar o seu Número de Identificação</p><p>Social – NIS, atribuído pelo Cadastro Único – CadÚnico.” (Edital N.° 101/</p><p>2015 - Universidade Federal Fluminense)</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>34</p><p>Identificando a formalidade de um texto</p><p>OBJETIVO:</p><p>A formalidade de um texto é algo muito subjetivo, pois tudo</p><p>depende do ambiente, do tempo histórico, do falante, do</p><p>receptor e de vários outros fatores. Então, nesta seção você</p><p>deverá entender as variações linguísticas como um tudo,</p><p>saber por que a língua é mutável, o que é um texto formal</p><p>e informal na língua escrita e quando usar cada um. Está</p><p>pronto? Então vamos nessa!</p><p>A sociolinguística e as variações</p><p>linguísticas</p><p>Para dar início a nossa seção, vamos ler uma pequena piada so-</p><p>bre a língua de Sírio Possenti? Analise:</p><p>Domingo à tarde, o político vê um programa de TV. Um assessor</p><p>passa por ele e pergunta:</p><p>– Firme?</p><p>O político responde:</p><p>– Não, Sírvio Santos.</p><p>(POSSENTI, S. Os humores da língua. Campinas, SP: Mercado das Le-</p><p>tras, 1998, p. 34)</p><p>Você deve estar se perguntando: ótimo, mas o que isso tem a ver</p><p>piada com a Sociolinguística?</p><p>Bem, fazendo uma análise rápida, notamos que é a palavra “firme”</p><p>que desencadeia o efeito humorístico, pois aqui ela tem dois sentidos:</p><p>a. firme = “tudo bem?”, um cumprimento informal;</p><p>b. firme = “filme”, uma variante popular.</p><p>O assessor cumprimenta o político perguntando</p><p>se está tudo bem,</p><p>mas ele entende que o primeiro está querendo saber se ele está assistindo</p><p>a um filme na TV. Essa segunda interpretação é linguisticamente reforçada</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>35</p><p>pelo uso da palavra “Sírvio”. Assim, fica claro que a figura do político está</p><p>sendo representada como um caipira, não escolarizado etc. Ele ouve a</p><p>palavra “firme” e a entende como uma variante de “filme”.</p><p>A troca de /l/ por /r/, nesse caso, representa uma variação</p><p>linguística. Neste caso, é uma variação fonológica, ou seja, a troca de um</p><p>fonema por outro sem alteração do significado referencial da palavra. No</p><p>caso exemplificado pela piada, a variante usada pelo político carrega um</p><p>significado social, justamente aquele mencionado acima: o falante não tem</p><p>domínio da variedade padrão do português oral, sendo, provavelmente,</p><p>de baixa escolaridade. A piada veicula um teor de crítica apresentando</p><p>uma espécie de caricatura da classe dos políticos.</p><p>EXPLICANDO MELHOR:</p><p>a partir desse exemplo, é que existe uma relação estreita</p><p>entre as formas da língua, os diferentes grupos sociais que</p><p>as utilizam e a imagem que projetamos nestes através</p><p>daquela. É dessa relação que se ocupa a Sociolinguística.</p><p>Então, para que você tenha uma dimensão histórica sobre a</p><p>sociolinguística, foi no início do século XX que começaram a germinar as</p><p>sementes que viriam posteriormente – depois de cerca de meio século de</p><p>domínio de correntes estruturalistas – a florescer e dar frutos na área de</p><p>estudos da linguagem que estamos abordando. Assim, a partir da década</p><p>de 60, como herança de Meillet, volta a ganhar força a noção de língua</p><p>como fato social dinâmico, cuja variação é explicada pela mudança social,</p><p>por forças externas. E como herança de Bakhtin, como já muito estudado</p><p>aqui, se renova a perspectiva de que a língua é um fenômeno social cuja</p><p>natureza é ideológica.</p><p>SAIBA MAIS:</p><p>Quer ficar ainda mais por dentro sobre az história da</p><p>Sociolinguística? Então leia o livro “Sociolinguística. Uma</p><p>Introdução Critica”, de Louis-Jean Calvet.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>36</p><p>Agora que você já tem uma noção do que é a sociolinguística,</p><p>vamos as variações linguísticas de fato?</p><p>Bem, existem vários tipos de variações linguísticas, elas acontecem</p><p>porque a língua muda o tempo todo. De acordo com Labov, um dos</p><p>precursores do nosso estudo, variação é o processo pelo qual duas</p><p>formas podem ocorrer no mesmo contexto linguístico, com o mesmo valor</p><p>referencial, ou com o mesmo valor de verdade, com o mesmo significado.</p><p>Dois requisitos devem ser cumpridos para que ocorra variação: as formas</p><p>envolvidas precisam ser intercambiáveis no mesmo contexto e manter o</p><p>mesmo significado. Ainda em consonância com o autor, a Sociolinguística</p><p>se ocupa da relação entre língua e sociedade, e do estudo da estrutura e</p><p>da evolução da linguagem dentro do contexto social da comunidade de</p><p>fala. Veja que, ao eleger como objeto de estudo a estrutura e a evolução</p><p>linguística, Labov rompe com a relação estabelecida por Saussure entre</p><p>estrutura e sincronia de um lado e história evolutiva e diacronia de outro,</p><p>aproximando igualmente a sincronia e a diacronia às noções de estrutura</p><p>e funcionamento da língua.</p><p>conceituando: No âmbito da Sociolinguística, o termo ‘evolução’</p><p>equivale a ‘mudança’. Não existe nenhum tipo de valoração associado:</p><p>não está em jogo nenhuma avaliação positiva ou negativa – as línguas</p><p>simplesmente mudam (nem para melhor, nem para pior).</p><p>Fonte: Freepik</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>37</p><p>Vamos, então, finalmente a cada variação linguística?</p><p>1. Variações diatópicas</p><p>Também chamada de variação geográfica ou regional, consiste</p><p>numa variação ocorrida quando a mesma Língua é falada de forma</p><p>diferente, a depender de determinada localidade (país, estado, cidade).</p><p>Esse tipo de  variação linguística  é identificado ao</p><p>compararmos as alterações do português entre as diversas</p><p>regiões do Brasil e também ao compararmos o português</p><p>falado no nosso país com o português falado em Portugal.</p><p>Alguns exemplos:</p><p>• Mexerica, bergamota ou vergamota = determinado tipo de fruta</p><p>cítrica.</p><p>• Marmitex, quentinha = comida.</p><p>• Macaxeira, aipim, mandioca = um tipo de raiz.</p><p>Esse tipo de variação ocorre mediante influências culturais, hábitos</p><p>regionais, tradições etc., podendo acontecer das seguintes maneiras:</p><p>• Diferentes palavras para os mesmos conceitos ou significados;</p><p>• Diferentes dialetos, sotaques e falares;</p><p>• Diminuição de palavras ou perda de fonemas.</p><p>2. Variações diastráticas</p><p>Também conhecidas como variações sociais, são tipos de variações</p><p>linguísticas que ocorrem em virtude da convivência entre determinados</p><p>grupos sociais que, por questões culturais, preferências, atividades ou</p><p>profissões em comum adotam um linguajar próprio (especialmente</p><p>jargões e gírias).</p><p>Trata-se, por exemplo, da linguagem utilizada entre grupos distintos,</p><p>tais como:</p><p>• Advogados;</p><p>• Surfistas;</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>38</p><p>• Policiais;</p><p>• Políticos;</p><p>• Religiosos;</p><p>• Bandidos etc.</p><p>Por que é importante compreender as variações linguísticas?</p><p>O entendimento com relação a essas variações evita o preconceito</p><p>quanto a quem fala diferente, tornando o idioma ainda mais amplo e rico</p><p>com relação aos significados das palavras e expressões.</p><p>Estudos relacionados a cada tipo de variação linguística são</p><p>recorrentes no caso dos profissionais que atuam na área de Letras, já que</p><p>eles buscam analisar as transformações ocorridas na Língua em virtude</p><p>de fatores geográficos, históricos, culturais, sociais etc.</p><p>Fatores extralinguísticos que interferem nas variações</p><p>• Classe social ou nível socioeconômico;</p><p>• Origem geográfica;</p><p>• Nível de escolarização;</p><p>• Sexo;</p><p>• Idade;</p><p>• Profissão;</p><p>• Redes sociais;</p><p>• Palavras e expressões estrangeiras.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>39</p><p>Fonte: Freepik</p><p>Classificação das variações linguísticas</p><p>Essas variações possuem uma classificação específica, sendo</p><p>nomeadas de:</p><p>• Variação morfológica: alteração na grafia (forma de escrever) da</p><p>palavra.</p><p>• Variação fonético-fonológica: diferentes pronúncias para uma</p><p>letra. Aqui no Brasil, um exemplo comum são as diferentes</p><p>pronúncias da letra R.</p><p>• Variação semântica: quando uma mesma palavra pode ser</p><p>empregada com significados diferentes.</p><p>• Variação sintática:  refere-se à organização dos elementos,</p><p>mantendo o mesmo sentido da oração.</p><p>• Variação estilístico-pragmática:  variam conforme situações de</p><p>interação social, sendo caracterizadas por maior ou menor grau</p><p>de formalidade.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>40</p><p>• Variação lexical: palavras escritas de maneira diferente, mas que</p><p>possuem o mesmo significado.</p><p>A formalidade do texto, de fato</p><p>Agora que nós vimos como acontecem e quais são as variações</p><p>linguísticas, vamos entender de fato sobre a formalidade do texto:</p><p>A linguagem pode ser mais ou menos formal, dependendo</p><p>da situação.  Neste capítulo, o que são os níveis de formalidade,</p><p>estrangeirismos e neologismos e ainda vai entender mais sobre o</p><p>emprego de gírias e regionalismos.</p><p>Linguagem formal e linguagem informal:</p><p>A linguagem formal pode ser oral ou escrita.  É geralmente</p><p>empregada quando nos dirigimos a um interlocutor com quem não</p><p>temos proximidade: solicitação de algo a uma autoridade, entrevista de</p><p>emprego, por exemplo.  A polidez e a seleção cuidadosa de palavras são</p><p>suas características marcantes.</p><p>A linguagem formal segue a norma culta.  É usada em situações</p><p>formais, como correspondência entre empresas, artigos de alguns jornais</p><p>e revistas, textos científicos, livros didáticos.</p><p>A linguagem informal também pode ser oral e escrita.  É geralmente</p><p>empregada quando há certo grau de intimidade entre os interlocutores,</p><p>em situações informais, como na correspondência entre amigos e</p><p>familiares.</p><p>A estrutura da linguagem informal é mais solta, com construções</p><p>mais simples, e permitem abreviações, diminutivos, gírias</p><p>e até</p><p>construções sintáticas que não seguem a norma culta.  Lembre-se de</p><p>que usar essa linguagem não significa que o emissor não saiba (ou não</p><p>possa) se comunicar de outra forma quando necessário.</p><p>Vamos ler alguns textos para contextualizar?</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>41</p><p>Texto 1</p><p>“(...)</p><p>Os meninos estão se divertindo no chafariz da Praça da Sé. Dos</p><p>oito aos quinze anos, eu também pulava nessas águas, e o chafariz era</p><p>a minha felicidade. Mas o tempo passou. Hoje estou com 21 anos e não</p><p>tomo mais banho da praça. (...)</p><p>Nesse tempo, dos banhos gelados da Sé aos banhos do meu</p><p>chuveiro quente, quase dancei, quase morri. Fui até o fundo. Roubei,</p><p>fumei crack, trafiquei, fui presa, apanhei pra caramba. Diziam que eu</p><p>não tinha jeito, estava perdida. Eu mesma achava que não tinha jeito.</p><p>Quase todos os meus amigos daquela época do chafariz estão mortos,</p><p>presos, loucos ou doentes. Gente que andava comigo, fumava comigo</p><p>ou roubava comigo. Por que não morri? Por que não pirei? (...)”</p><p>Esmeralda Ortiz – Porque não dancei</p><p>Texto 2</p><p>“Chegando à vila, tive más noticias do coronel. Era homem insu-</p><p>portável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios ami-</p><p>gos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dous deles quebrou</p><p>a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de</p><p>doentes; e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as</p><p>notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade segui para</p><p>a residência do coronel.</p><p>Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando mui-</p><p>to. Não me recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim</p><p>dous olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno</p><p>alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum</p><p>dos enfermeiros que tivera prestava para nada, dormiam muito, eram</p><p>respondões e andavam ao faro das escravas; dous eram até gatunos!”</p><p>Machado de Assis – Contos Consagrados</p><p>Além da linguagem formal e informal, existem outros níveis de</p><p>formalidade de um texto, vamos a eles:</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>42</p><p>Estrangeirismos:</p><p>A forte influência que algumas culturas exercem sobre outras pode</p><p>ser percebida no vestuário, na culinária, na música, no cinema e também</p><p>no comportamento.  Na língua, pode se manifestar pelo emprego de</p><p>estrangeirismos.</p><p>Algumas palavras são empregadas até hoje sem modificar a</p><p>forma original ou a pronúncia, mesmo existindo o termo aportuguesado.</p><p>Por exemplo:    usa-se omelete, vitrine, nuance, vindas do francês – e</p><p>não omeleta, vitrina e nuança.</p><p>Uma palavra – hoje considerada estrangeirismo – pode, com o</p><p>tempo, ser incorporada ao cotidiano do falante e ao vocabulário da língua.</p><p>Foi o que ocorreu com lanche e futebol: essas palavras, assimiladas do</p><p>inglês (lunch e football), eram estrangeirismos quando começaram a ser</p><p>utilizadas e agora fazem parte do vocabulário da língua portuguesa.</p><p>Atualmente, observa-se o uso cada vez mais frequente de</p><p>estrangeirismos, o que em geral tem relação com a globalização dos</p><p>meios de produção e da economia.  Termos como  design, case, job,</p><p>deadline, show etc. estão presentes na TV, no rádio, na mídia impressa e</p><p>na internet.</p><p>No entanto, nem sempre o uso do estrangeirismo comunica ou</p><p>traduz o que pretende o emissor. No texto a seguir, você pode observar</p><p>tanto usos funcionais quanto equivocados desse recurso linguístico. Veja</p><p>um texto que exemplifica bem essa questão dos estrangeirismos:</p><p>“Yes”, a gente fala inglês... ou quase</p><p>“Com conhecimento rudimentar da língua, carioca transforma o</p><p>idioma nascido nas ilhas britânicas em dialeto especial.</p><p>‘Shine, mister?’ (brilho, senhor?). Gesticulando e gingando diante</p><p>do possível freguês (...) o engraxate Gilberto da Costa, de 36 anos, 26</p><p>deles com sua caixa na Avenida Atlântica, não se aperta diante do fato</p><p>de que o americano branquela à sua frente aparenta não falar nada</p><p>além de inglês. ‘É tem (dez) real, mister’, continua, agarrando o sapato</p><p>do sujeito – e, à exclamação espantosa do gringo: ‘It’s too expensíve!’ (é</p><p>muito caro), responde sem vacilar. ‘É, sou especialista, mesmo!’.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>43</p><p>O americano em questão, porém, nasceu em Lisboa e fala um</p><p>excelente português. O advogado John Godinho, de 59 anos, que foi</p><p>para os Estados Unidos ainda criança, mas mora no Brasil há três dé-</p><p>cadas (...) percorreu a cidade para ver, no globalizado Rio de Janeiro,</p><p>como o carioca se apropriou do que, há 1.500 anos, era um dialeto es-</p><p>quisito das Ilhas Britânicas – e que, hoje, transformou-se num dialeto</p><p>esquisito do lado de cá do hemisfério.</p><p>‘Parece que está acontecendo uma contaminação mútua entre</p><p>o carioca e a língua inglesa.  O inglês in filtra-se, mas o cidadão dá o</p><p>troco.  É como se o carioca criasse um limbo linguístico em que as pala-</p><p>vras parecem inglesas, mas já não são’, observa Godinho, que trabalha</p><p>como consultor da língua para executivos. (...)</p><p>Nessa época de liquidação em shopping center (que em inglês,</p><p>na verdade, chama-se mal), a palavra da moda é off.  Segundo Godi-</p><p>nho, a expressão só faz sentido se vier acompanhada, por exemplo, de</p><p>um percentual: 50% off. (...)</p><p>(...) ‘A gente usa off porque dá muito estrangeiro no shopping’,</p><p>explica José Luiz Marques, 51 anos, um dos sócios da loja de roupas</p><p>femininas Scrap, no Rio Sul.</p><p>A loja é um daqueles exemplos de como essa apropriação, se in-</p><p>débita, pode criar constrangimentos gerais. ‘Quando entra turista aqui,</p><p>eles ficam rindo do nome’, confessa Marques. Pudera: scrap significa</p><p>restos, sobras de comida. ‘Quando a loja começou, na Rua da Alfânde-</p><p>ga, vendia várias marcas de jeans, daí a ideia de sucata. Depois, o nome</p><p>pegou’, justifica. (...)”</p><p>AZEVEDO, Eliane. In Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 ago.</p><p>2001.</p><p>Neologismos:</p><p>Os neologismos ocorrem quando o falante necessita expressar</p><p>uma ideia, mas não encontra uma palavra com significado adequado na</p><p>língua.  Nesses casos, o falante recorre a uma palavra em outra língua,</p><p>cujo significado expressa bem a ideia. Os neologismos ocorrem também</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>44</p><p>quando o falante usa uma palavra com um sentido novo, diferente do</p><p>significado original.</p><p>Algum tempo após o seu uso informal, alguns neologismos são</p><p>incorporados aos dicionários, isto é, são dicionarizados.</p><p>Na literatura e na música, os neologismos são utilizados sem</p><p>restrições em razão da licença poética de que dispõem os escritores e os</p><p>compositores e, também, porque o próprio “fazer literário” usa as palavras</p><p>de forma distinta daquela com que é utilizada no senso comum e amplia</p><p>os recursos expressivos possíveis.</p><p>Na canção “Carnavália”, de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e</p><p>Marisa Monte (CD Tribalistas, 2002), há um neologismo por aglutinação</p><p>de palavras:</p><p>“Repique tocou</p><p>O surdo escutou</p><p>E o meu corasamborim</p><p>Cuíca gemeu, será que era eu, quando ela</p><p>passou por mim?”</p><p>No terceiro verso,  corasamborim  é junção de  coração + samba</p><p>+ tamborim.  A palavra refere-se, ao mesmo tempo, a elementos que</p><p>compõem uma escola de samba e à situação emocional em que se</p><p>encontra o emissor da mensagem, com o coração no ritmo da percussão.</p><p>Na mídia é comum o uso de neologismos que, aos poucos, são</p><p>incorporados ao cotidiano da maioria da população.  Laranja (falso</p><p>proprietário) e gato (ligação clandestina de instalações elétricas) são</p><p>exemplos de palavras com significado diverso do usual.</p><p>Na terminologia da informática, observa-se diariamente a introdução</p><p>de neologismos. Leia alguns verbetes de informática do glossário a seguir.</p><p>(Verbete é o conjunto de acepções e exemplos referentes a um termo,</p><p>encontrado em dicionários, enciclopédias, glossários.)</p><p>“DELETAR (forma aportuguesada de delete.) Destruir, eliminar;</p><p>apagar um texto.”</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>45</p><p>“LINCAR (forma aportuguesada de link).Acessar documentos de</p><p>hipertexto por meio de link.”</p><p>“LOGAR (forma aportuguesada de login ou logon.). Fornecer nome</p><p>do usuário</p><p>e senha para obter acesso a um equipamento, sistema ou rede</p><p>de computadores.”</p><p>Gírias:</p><p>As gírias nascem num determinado grupo social e passam a fazer</p><p>parte da linguagem familiar de várias camadas sociais.  Podem também</p><p>ser constituídas de estrangeirismo e neologismos.</p><p>O processo de formação de gírias inclui metáforas, truncamentos,</p><p>sufixação, acréscimo de sons ou sílabas, e, às vezes, palavras de baixo</p><p>calão.  Por exemplo: nas frases “Está um sol de chapar o coco!” e “Não</p><p>esquente a moringa com isso”, as gírias são formadas com base em</p><p>metáforas – coco e moringa estão no lugar de cabeça; chapar quer dizer</p><p>“esquentar”, e esquentar, na segunda frase, significa “preocupar”.</p><p>A gíria pode revelar a idade do falante.  Uma pessoa de 50 anos</p><p>provavelmente sabe o significado destas gírias: “boco-moco”, “cafona”,</p><p>“careta”, “joia”, “é uma brasa, mora”, “prafrentex”. Um jovem sabe o que é</p><p>“parada sinistra”, “pro “responsa”, “mó legal” e “da hora”.</p><p>A gíria também é conhecida como jargão quando se refere à</p><p>linguagem peculiar usada por quem exerce determinada profissão.  Veja</p><p>estes exemplos do jargão da área de economia e finanças: quase moeda (o</p><p>mesmo que depósitos de poupança, títulos emitidos pelo governo</p><p>etc.), duopólio (mercado no qual só há dois vendedores), boom (fase de</p><p>aumento significativo no número de transações no mercado de ações).</p><p>Regionalismos:</p><p>No Brasil, a influência de várias culturas deixou na língua portuguesa</p><p>marcas que acentuam a riqueza de vocabulário e de pronúncia.  As</p><p>diferenças na nossa língua não constituem erro, mas são consequência</p><p>das marcas deixadas pelas línguas originais que entraram na formação do</p><p>português falado no Brasil, no qual estão presentes, sobretudo, elementos</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>46</p><p>de línguas indígenas e africanas, além das europeias, como o francês e</p><p>o italiano.</p><p>Existem diversas variantes linguísticas quanto à forma de expressão</p><p>escrita e falada de acordo com as regiões em que as pessoas vivem.</p><p>São os regionalismos linguísticos, que diferem quanto ao sotaque ou</p><p>pronúncia de cada região.</p><p>Um mesmo objeto pode ser nomeado por palavras diversas,</p><p>conforme a região.  Por exemplo:  “pipa” ou “papagaio”, no Rio Grande do</p><p>Sul, se chama “pandorga”; “semáforo” pode ser designado por “farol” em</p><p>|São Paulo, e “sinal” ou “sinaleiro” no Rio de Janeiro.</p><p>Leia o texto a seguir para exemplificar o regionalismo:</p><p>“Acharam mais um chimpanzé. Lá na Serra da Capivara. Ingá, não</p><p>sei. Ou será que foi no chão de Catolé? O dente do macaco vale ouro,</p><p>pois é. E a gente aqui nessa miséria.  O couro cabeludo. Enterrado até o</p><p>pescoço. Há um milhão de tempo. No esquecimento. Osso bom é osso</p><p>morto. O que vai ter de estudioso, perguntando. No futuro, pela gente,</p><p>pode crer. De que ele morreu, sei lá, foi de repente? Comeu calango</p><p>podre? Bebeu água doente?. E a mulher dele, o que será que houve?</p><p>Eu, preta, caída na cova. Cabelo até a cintura. Carcaça prematura. Mor-</p><p>reu de desgosto. Isso se a gente tiver sorte. O que tem de corpo que</p><p>morre e ninguém vê o pó. Neste sol de rachar o quengo. É vaca, é bode,</p><p>bezerro, jumento, cachorro. É menino morto. feito passarinho. Não o</p><p>passarinho que eles encontram, gigante. Importante é bicho grande.</p><p>Se pelo menos ovo de dinossauro matasse a fome. A gente tava feito.</p><p>A gente tem de fazer alguma coisa, urgente. Para sair desse buraco,</p><p>entende? A gente podia ganhar dinheiro. Não deve ser difícil achar mais</p><p>um chimpanzé, Zé. Por aqui mesmo.”</p><p>FREIRE, Marcelino. In Folha de S.Paulo, 29 out.2002.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>47</p><p>Fonte: Freepik adaptado</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>48</p><p>Executando os Procedimentos de Coesão</p><p>e Coerência</p><p>INTRODUÇÃO:</p><p>A coesão e coerência são de suma importância para a</p><p>formação de um bom texto. Ao fim desta seção, você,</p><p>aluno, deverá entender o que são esses termos, como</p><p>eles aparecerem nos textos, quais suas características e</p><p>diferenças. Vamos lá?</p><p>A língua escrita tem funções bem definidas nas sociedades e se</p><p>manifesta através de diferentes registros. A variedade de contextos sociais</p><p>envolve uma infinidade de textos que versam sobre os mais diferentes</p><p>conteúdos e que são organizados de modos distintos e característicos.</p><p>Os diferentes gêneros de texto podem ser considerados um fenômeno</p><p>cognitivo e social. Na perspectiva cognitiva, observa-se um interesse em</p><p>examinar os processos de desenvolvimento que atuam na estruturação e</p><p>representação que a criança apresenta sobre determinado gênero de texto.</p><p>Na perspectiva social, a ideia de gênero é expandida para</p><p>caracterizar qualquer discurso, oral, conversacional etc. Para Bakhtin</p><p>(1986), gênero é um componente essencial de significados, podendo ser</p><p>de dois tipos: secundários e primários. Os gêneros secundários (textos</p><p>científicos, novelas) derivam-se dos primários, os quais têm origem nas</p><p>situações e contextos da vida diária.</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>49</p><p>EXPLICANDO MELHOR:</p><p>A Linguística Textual é a responsável pelo estudo da</p><p>estrutura e do funcionamento dos textos, ela é capaz de</p><p>explanar os fenômenos textuais através de uma gramática</p><p>de enunciado. O texto é composto de grupos de enunciados</p><p>e para produzi-lo e fazer com que seja entendido se faz</p><p>necessária a habilidade do falante/escritor para falar/</p><p>escrever. Para se ter textos, que são frases interligadas e</p><p>não um monte de palavras soltas é necessário haver uma</p><p>produção linguística, pois o texto é uma criação falada</p><p>ou escrita que forma um todo significativo. Os textos</p><p>são considerados unidades da língua com uma função</p><p>comunicativa definível, caracterizando-se por vários</p><p>fatores textuais: contextualização, coesão, coerência,</p><p>intencionalidade, informatividade, aceitabilidade,</p><p>situacionalidade e intertextualidade.</p><p>Então, como se dão a coesão e coerência?</p><p>1. Coesão</p><p>Coesão textual é um fator importante do texto que se refere à</p><p>conexão de palavras, expressões ou frases dentro de uma sequência.</p><p>O texto coeso se constrói com elementos de ligação que podem ser</p><p>pronomes, verbos, advérbios, conectores coesivos (termos e expressões);</p><p>e sem sequenciadores, sendo o lugar do conector marcado por sinais de</p><p>pontuação (vírgula, ponto, dois-pontos, ponto-e-vírgula). Segundo Koch</p><p>e Travaglia (1989), a coesão é explicitamente apresentada através de</p><p>elementos linguísticos, indicações na estrutura superficial do texto, sendo</p><p>de caráter claro e direto, expressando-se na organização sucessiva do texto.</p><p>Então, a coesão é a relação semântica entre os elementos do texto</p><p>que são decisivos para sua interpretação. Além disso, a coesão é a relação</p><p>entre os componentes superficiais do texto e a maneira pela qual eles se</p><p>interligam e se combinam para resultar num desenvolvimento desejado.</p><p>Essa visão semântica da coesão diz respeito às relações de dependência</p><p>que transformam enunciados interligados em um texto. Coesão é a relação</p><p>de significado entre dois componentes do texto, sendo um dependente</p><p>Oficina de Textos em Português</p><p>50</p><p>do outro. “há dois tipos de coesão: coesão gramatical (expressa através da</p><p>gramática) e coesão lexical (expressa através do vocabulário)”.</p><p>Além dos conectores coesivos, se faz necessário haver certo grau de</p><p>coerência para que um discurso seja um texto. Então, a coesão é o modo</p><p>como os elementos superficiais do texto se interligam numa sucessão</p><p>linear por meio de sinais linguísticos. De acorso com Widdowson (1978),</p><p>“a coesão ‘é o modo pelo qual as frases ou partes delas</p><p>se combinam para assegurar um desenvolvimento</p><p>proposicional... ’ e revela-se por índices formais, sintáticos,</p><p>sem apelo ao pragmático”.</p><p>Para Marcuschi (1983), a coesão diz respeito à estruturação sucessiva</p><p>da superfície do texto e a sua conformidade linear sob o aspecto linguístico.</p><p>Portanto, a coesão pode ser considerada um conjunto de conectores do</p><p>texto que apresenta relações entre os componentes do mesmo. Além</p><p>disso, a coesão pode também ser</p>

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