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<p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 1/35</p><p>Cultura alimentar: concepções</p><p>Prof.ª Laura Eugenia Perez Freitas</p><p>Descrição</p><p>Compreensão dos conceitos de etnocentrismo, relativismo cultural, tabus, crenças e sistemas alimentares, e sua importância para o profissional da</p><p>área da Nutrição.</p><p>Propósito</p><p>As concepções de cultura alimentar e as características dos sistemas alimentares nos permite estar atentos à diversidade cultural e aos conceitos,</p><p>às crenças e valores relativos à alimentação dos pacientes, a fim de promover saúde e mudanças de hábitos alimentares de forma mais ética,</p><p>eficiente e empática.</p><p>Objetivos</p><p>Módulo 1</p><p>Conceito de cultura</p><p>Definir o conceito de cultura.</p><p>Módulo 2</p><p>Mitos, tabus e crenças</p><p>Reconhecer os mitos, tabus e crenças.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 2/35</p><p>Módulo 3</p><p>Sistemas alimentares</p><p>Identificar os sistemas alimentares.</p><p>Introdução</p><p>Neste conteúdo, você vai compreender as diferentes concepções do conceito de cultura.</p><p>A alimentação é um fenômeno biopsicossocial que vai muito além dos nutrientes, ela apresenta uma dimensão biológica, que estuda a ciência da</p><p>Nutrição, entre outras, mas também tem um aspecto relacionado ao prazer, ao desejo de comer para satisfazer algo além da fome. Esta dimensão</p><p>psicológica fica muito clara nos fenômenos de compulsão e nos transtornos do comportamento alimentar. A perspectiva social, por sua vez,</p><p>compreende a função social da alimentação, os aspectos culturais etc. Por isso, dizemos que ela é um fato biopsicossocial.</p><p>A cultura alimentar dos indivíduos molda as suas práticas e hábitos alimentares e a sua compreensão sobre o que é uma alimentação saudável.</p><p>Tais aspectos culturais estão ligados à forma como o indivíduo se desenvolve no decorrer da sua existência. São crenças, valores e representações</p><p>sobre a comida que definem a visão das pessoas sobre a alimentação.</p><p>Com objetivo de transformar comportamentos e promover saúde e bem-estar, o profissional da área de Nutrição deve estar em constante</p><p>agenciamento com os aspectos culturais da alimentação de seus pacientes e/ou público-alvo. Para isso, ele precisa compreender a definição desse</p><p>conceito e seus múltiplos desdobramentos.</p><p>1 - Conceito de cultura</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de de�nir o conceito de cultura.</p><p></p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 3/35</p><p>Conceito de cultura na história</p><p>De�nição</p><p>A palavra cultura vem do latim e significa cultivar, tratar (Ferreira, 1999). Com este mesmo significado da palavra em latim, cultura se refere a tudo</p><p>que é cultivado pelo homem. Falamos em cultura de soja, em cultura de bactérias ou em cultura de subsistência.</p><p>Cícero (106-43 a.C.), cônsul da República romana, fala em cultura animi, que seria o cultivo do espírito, pois a alma era como um campo a ser</p><p>cuidado. (Vannucchi, 2002). Esse conceito vem sendo discutido pelos homens desde a Antiguidade com vários significados que são válidos até os</p><p>dias de hoje. Vejamos alguns a seguir:</p><p>Conceito de cultura na Antropologia</p><p>Antes mesmo de existir qualquer ciência que reflita sobre a cultura humana, no sentido que a Antropologia dá a esse termo, desde a Antiguidade, os</p><p>homens já se surpreendiam com a visão de mundo de outros povos.</p><p>Laraia (2007) nos conta que Heródoto (484-424 a.C.) já estranhava o costume dos Lícios, que herdavam o nome de suas mães, e não de seus pais,</p><p>como era nas cidades-estados gregas. Mas ele teve o discernimento de afirmar, entre todos os costumes de todos os povos, os homens certamente</p><p>escolheriam os de seu povo, tanto estes lhes parecem os melhores.</p><p>Meados do século XVI</p><p>A palavra cultura vai ser utilizado na Renascença, opondo o homem culto aos animais e aos “bárbaros”. Durante o Iluminismo, cultura</p><p>será o atributo daquele que tem propriedade em ciências, letras e artes (RIVIÈRE apud BOUDON et al., 1990).</p><p>Cultura ainda teve o significado de civilização no século XIX. Ainda hoje, utilizamos o vocábulo com essa acepção, mas cultura e</p><p>civilização não têm o mesmo sentido. O termo civilização se consolida na Europa durante o século XVII.</p><p>Século XVII</p><p>A palavra cultura indica certo estado de desenvolvimento, um acúmulo de progressos técnicos, intelectuais e sociais (TAYLOR apud</p><p>BONTE; IZARD, 1991). Ele se coloca como um ideal a ser alcançado pelos outros povos, e, com a pretensão de “civilizar” outros povos</p><p>considerados menos evoluídos, cruéis expansões coloniais foram justificadas.</p><p>Os civilizados também podem ser aqueles que se opõem aos primitivos ou selvagens.</p><p>Século XIX</p><p>A palavra cultura se tornará um termo central na Antropologia cultural, ciência que surge nesse momento e vai, logo nos seus</p><p>primórdios, definir este conceito.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 4/35</p><p>Roque de Barros Laraia</p><p>A Antropologia cultural, como ciência, surge no século XIX como resultado da expansão neocolonialista europeia em direção à Ásia e a África, que</p><p>tinha como objetivo a expansão do capital, a busca de mão de obra e matérias-primas. Os pais fundadores da Antropologia vão organizar as</p><p>informações que chegavam das colônias sobre aqueles povos exóticos, fundando, assim, a disciplina.</p><p>Capa do livro Primitive culture, de Edward Tylor</p><p>Em um momento de expansão colonial, a definição do conceito de cultura auxiliava os europeus a conhecer os povos que eles estavam dominando.</p><p>Todo o desenvolvimento teórico inicial da Antropologia se deu através do olhar do europeu sobre tais povos, sobre os quais impunha sua cultura,</p><p>subjugando-os (SANTOS, 2005).</p><p>Nesse início da Antropologia, o conceito de cultura é definido por Edward Tylor, um de seus pais fundadores, da seguinte forma:</p><p>Tomada em seu amplo sentido etnográfico, é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,</p><p>moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma</p><p>sociedade.</p><p>(TYLOR, apud LARAIA, 2007, p.14)</p><p>A etnografia se refere ao trabalho de campo, o método por excelência da Antropologia, que será detalhado mais adiante. Esta definição é bastante</p><p>ampla e define a cultura como algo que é inventado pelo homem, e não é ligado à sua biologia, mas transmitido entre os seres humanos através do</p><p>aprendizado.</p><p>Agora, tentaremos compreender melhor este conceito a partir da metodologia de DaMatta (1986), utilizada em um artigo de divulgação científica, na</p><p>pergunta presente no título do artigo: Você tem cultura?. O que significa essa palavra?</p><p>Quando dizemos que fulano tem cultura e beltrano, não, cultura significa conhecimento. Um significado similar àquele da época do Iluminismo.</p><p>O autor usa um procedimento muito eficiente para discutir um conceito que é tão complexo: ele compara o seu</p><p>sentido no senso comum e na Antropologia.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 5/35</p><p>Efetivamente, no senso comum, cultura significa conhecimento, sabedoria, inteligência etc., mas este conceito também é usado para estabelecer</p><p>diferenças hierárquicas entre as pessoas, como se aquelas que tivessem mais cultura fossem melhores do que as outras. Podemos ver isso</p><p>claramente quando dizemos que os pobres não têm cultura.</p><p>Na Antropologia, cultura significa o estilo de vida de um povo, a maneira específica como eles vivem. Podemos dizer também que cultura é um</p><p>conjunto de regras, um mapa ou uma receita que nos diz como devemos nos comportar e agir em sociedade.</p><p>O que concluímos a partir daí é que, se enxergamos cultura do ponto de vista da Antropologia, não podemos dizer que existem homens sem cultura.</p><p>A vida em sociedade implica a aquisição de cultura.</p><p>Atenção!</p><p>Não se pode considerar também que existam culturas melhores ou piores, pois, quando falamos algo</p><p>assim, estamos usando conceitos de melhor e</p><p>pior, que são característicos da nossa cultura. Falamos em complexidade e em desenvolvimento tecnológico, mas não em desenvolvimento cultural.</p><p>Em um país desigual, como o nosso, pensar sobre cultura com o sentido atribuído pela Antropologia nos ajuda a descontruir preconceitos. O funk é</p><p>uma manifestação cultural, assim como a música clássica. Da mesma forma, o samba e o balé clássico são danças. Não existe hierarquia entre</p><p>manifestações culturais, elas somente são diferentes umas das outras.</p><p>Reconhecer que existem culturas diferentes será importante na sua atuação profissional. Não se pode fazer julgamentos de valor sobre as crenças,</p><p>valores, conceitos e hábitos dos seus pacientes ou do seu público-alvo.</p><p>Veja algumas definições de cultura citadas pelos seguintes antropólogos:</p><p>Foi Edward Tylor que deu a primeira definição formal de que a cultura é vista como um feixe de hábitos. Existem definições mais atuais, que</p><p>dão mais dinamismo ao conceito.</p><p>Foi Geertz (1989) que disse que a cultura é “um conjunto de mecanismo de controle – planos, receitas, regras, instruções (o que os</p><p>engenheiros de computação chamam de ‘programas’) para governar o comportamento”. O autor pensa também que o homem, enquanto</p><p>animal, depende desses mecanismos de forma muito importante. E nada disso faz parte da nossa biologia. São valores, crenças, hábitos e</p><p>visões de mundo que são aprendidos pelos homens com seus semelhantes.</p><p>Foi Benedict (2019) que formou a famosa metáfora sobre o conceito de cultura. Ela diz que “cultura é uma lente através da qual vemos o</p><p>mundo”. Essa comparação é muito pertinente, uma vez que ela indica que os homens veem o mundo através dos “óculos” de sua cultura, que</p><p>Edward Tylor </p><p>Clifford Geertz </p><p>Ruth Benedict </p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 6/35</p><p>é colado em seu rosto depois do nascimento. Cada cultura tem a sua lente, que serve somente para enxergar aquele modo de existir. Quando</p><p>olhamos outras culturas com a nossa lente, as vemos desfocadas, feias, erradas.</p><p>Culturas ou subculturas</p><p>Em uma sociedade complexa e multifacetada, como a nossa, pertencemos a diferentes culturas. Há quem fale em várias subculturas dentro de uma</p><p>cultura (DAMATTA, 1986).</p><p>Devemos ficar atentos a este termo, pois ele pode significar que existe uma cultura maior que contém outras</p><p>subculturas menores e menos importantes, o que dá uma visão equivocada das relações entre estas várias</p><p>culturas. Mesmo assim, é um termo bastante utilizado nas Ciência Sociais.</p><p>As “subculturas” são culturas à parte. Cada profissional participa da cultura de sua profissão.</p><p>Exemplo</p><p>Você está entrando em contato com a cultura da Nutrição. Os praticantes do candomblé vivem essa cultura especificamente, e os cristãos, budistas</p><p>ou muçulmanos também vivem as culturas associadas às suas religiões.</p><p>Se você faz dança de salão, joga vôlei na praia, ou frequenta uma academia, no momento em que você está nesses espaços, vê o mundo através da</p><p>lente de tais culturas.</p><p>Quando você está trabalhando como nutricionista, usa uma roupa adequada, utiliza um vocabulário específico. Ao estudar os temas relativos à</p><p>Nutrição, você, provavelmente, já está vendo o mundo através desta lente, olhando com mais atenção os rótulos dos alimentos, buscando um</p><p>equilíbrio maior na alimentação etc.</p><p>Da mesma forma, quando alguém está lutando capoeira, ou num baile funk, a lente se ajusta a essas culturas. Na capoeira, há uma vestimenta</p><p>específica, jargões, os instrumentos, a música. No funk, ocorre a mesma coisa, com roupas e danças específicas, conversas, paqueras etc., que</p><p>representam essa cultura.</p><p>Na contemporaneidade, pertencemos aos mais variados grupos culturais e nos identificamos de diferentes formas com cada um deles.</p><p>Mesmo com todas as culturas se equivalendo, porém existem culturas em desacordo com a lei e com nossos valores que desejamos extinguir. Por</p><p>exemplo, aquelas culturas que representam um atentado à dignidade da pessoa humana, princípio de nossas leis.</p><p>Que culturas são essas? A cultura da violência, do machismo, do racismo, da xenofobia (aversão aos estrangeiros),</p><p>da misoginia (aversão às mulheres), da intolerância religiosa, da destruição do meio ambiente etc.</p><p>São culturas que têm suas respectivas visões de mundo como todas as outras mencionadas. E existem pessoas que participam dessas culturas e</p><p>as consideram corretas e válidas, mas, de acordo com a lei e com os valores de outras pessoas que não participam, elas são erradas e deveriam</p><p>desaparecer.</p><p>Características da cultura na alimentação</p><p>Para melhor refletirmos sobre o papel da cultura na alimentação, vamos falar sobre algumas características da cultura, que são também</p><p>características das culturas alimentares.</p><p>A cultura condiciona os sistemas alimentares e tem um papel fundamental na visão de mundo dos indivíduos. A categoria comida é culturalmente</p><p>determinada, assim como as formas de explorar os recursos e de classificar os alimentos. A cultura pode também interferir no plano biológico</p><p>(LARAIA, 2007) Vamos ver, por exemplo, dois casos bastante conhecidos pelo senso comum:</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 7/35</p><p>Quem não conhece o clássico tabu entre a mistura de leite com manga? Ao acreditar que esta mistura seja prejudicial à saúde, o indivíduo pode</p><p>realmente passar mal se a ingerir.</p><p>Por outro lado, como uma espécie de efeito placebo, acreditam que a ingestão do suco do maracujá pode acalmar algumas pessoas. O que elas</p><p>não sabem é que os compostos químicos calmantes não se encontram no fruto.</p><p>O que deve fazer o profissional de saúde a esse respeito? Será que ele deve esclarecer seu paciente, ou, não deve desfazer tal crença, caso este</p><p>relate efeitos positivos, como o exemplo do suco de maracujá? Provavelmente, o profissional de saúde promoverá mais o bem-estar do paciente</p><p>omitindo a verdade do que revelando-a, já que a cultura interfere na forma como o corpo vai se portar.</p><p>Curiosidade</p><p>As diferentes culturas têm suas próprias lógicas, não sendo lógicas pragmáticas nem racionais, e sim culturais. O fato de que uma grande parte das</p><p>culturas despreza o consumo de insetos demonstra que não há pragmatismo nos hábitos culturais e que eles possuem uma racionalidade própria.</p><p>Os mitos, crenças e tabus, assim como todo o complexo de proibições e prescrições, estão relacionados a uma forma de classificar os alimentos,</p><p>que é própria da lógica de cada cultura.</p><p>Outra característica levantada por Laraia (2007) é o dinamismo das culturas. Efetivamente, não podemos pensar as culturas como algo terminado</p><p>ou estático. A cultura é, antes de mais nada, um processo, que está em constante transformação.</p><p>É o caso da linhaça, da chia, da quinoa, da farinha de amêndoas, do goji berry, dos produtos sem glúten, dos laticínios sem lactose. Esses produtos</p><p>surgiram no esteio da busca por uma alimentação mais saudável e que possibilite o emagrecimento.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 8/35</p><p>Uma preparação que já existia, mas também virou a queridinha do povo fit, é a tapioca, por ser feita de goma da mandioca e não possuir glúten. O</p><p>mesmo aconteceu com a batata doce e o abacate.</p><p>Processo de socialização</p><p>Crianças criadas por animais</p><p>Você já ouviu falar em crianças que foram criadas por animais?</p><p>Certamente você já ouviu falar de Tarzan, criado por macacos, e Mogli, do Livro da Selva. Há também a história dos fundadores de Roma — Rômulo</p><p>e Remo —, que foram amamentados por uma loba quando pequenos.</p><p>Nesses casos, estamos falando de lendas, mas existem histórias verdadeiras de crianças que foram criadas por animais. Conheça a história do</p><p>menino de Aveyron:</p><p>Victor de Aveyron</p><p>O menino de Aveyron foi encontrado no início do século XIX na cidade francesa de mesmo nome. Embora andasse</p><p>ereto, ele se comportava como</p><p>um macaco: não falava, só grunhia, fazia suas necessidades onde bem entendesse e era agressivo.</p><p>Foi recolhido por um médico que tentou adaptá-lo à vida entre os homens.</p><p>Ele morreu com aproximadamente 40 anos de idade e nunca aprendeu a falar. Sua história deu origem ao filme O Garoto Selvagem (França, 1970,</p><p>direção de François Truffaut).</p><p>Existem outras histórias de crianças cuidadas por animais, geralmente por lobos e macacos. Elas apresentam, no geral, muitas dificuldades de viver</p><p>entre os seres humanos. Essas crianças pertencem obviamente à nossa espécie.</p><p>Será que, no sentido amplo e filosófico do termo, elas são humanas? Como podemos compreender o pensamento</p><p>de um ser humano que não fala, não chora e não sorri?</p><p>Essas crianças são verdadeiras aberrações, e o fato de não terem convivido entre humanos faz com que elas se comportem como animais, pois</p><p>elas não passaram pelo processo de socialização primário.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 9/35</p><p>É nesse processo que ela aprende a falar, a andar ereta e que há horários para as diferentes atividades. Dessa forma, ela vai tornar suas essas</p><p>formas de pensar, de agir e de sentir (CHERKAOUI, 1990).</p><p>Durkheim foi um dos primeiros a falar em socialização. Ele se referia sobretudo à criança (GRIGOROWITSCH, 2008). Mas o processo de socialização</p><p>não termina nunca, e ele nunca é perfeito, pois todos temos comportamentos desviantes. Cada vez que entramos em um novo grupo, ou em uma</p><p>nova cultura, temos que nos socializar.</p><p>Processo de socialização primário</p><p>Por meio do qual o indivíduo se torna membro de determinado grupo social, introjetando seus valores. A socialização primária é aquela em que a</p><p>criança se torna um membro da sociedade, aprendendo seus conceitos, suas regras etc.</p><p>Atenção!</p><p>Para os nutricionistas, é muito importante compreender que é nesse processo que os indivíduos de determinada cultura vão aprender a gostar de</p><p>certos alimentos, vão desenvolver seus hábitos e suas preferências alimentares, vão criar conceitos sobre o que é uma alimentação saudável etc.</p><p>Como a Antropologia estuda a cultura e o processo de socialização? Por meio da etnografia, nosso próximo assunto. Vamos lá!</p><p>Etnogra�a e observação participante</p><p>Como a Antropologia coleta seus dados para poder realizar suas pesquisas, elaborar seus conceitos e suas teorias? Nos seus primórdios, os</p><p>antropólogos não iam a campo conhecer os povos “exóticos” sobre quem escreviam. Eles recebiam informações de terceiros e até de livros de</p><p>curiosidades.</p><p>Como esses antropólogos falavam de pessoas que estavam do outro lado do mundo e elaboravam teorias sobre elas sem nunca as ter visto, a</p><p>Antropologia deste período é chamada de Antropologia de gabinete.</p><p>Com Bronislaw Malinowski (1884-1942), antropólogo polonês que trabalhou na Inglaterra, a Antropologia mudou sua forma de obter dados. Esse</p><p>pesquisador trabalhou muitos anos com habitantes da Nove Guiné, instituindo o trabalho de campo e ressaltando sua importância.</p><p>Desde então, a etnografia é o método por excelência da Antropologia. Etnografia vem do prefixo grego etno, que</p><p>significa povo ou nação, e do sufixo grafia, cujo significado é escrever, ou seja, é a descrição do modo de vida de</p><p>determinada sociedade.</p><p>Dessa forma, o antropólogo procura se imbuir da visão de mundo daqueles que está pesquisando para poder melhor compreendê-los. A partir de</p><p>então, a Antropologia não é somente aquela ciência que estuda os povos “exóticos”, mas aquela que estuda o “Outro”, com O maiúsculo, que</p><p>significa aquele que é diferente de mim.</p><p>A etnografia é o método por excelência da Antropologia. Assim, o antropólogo é quem produz os dados necessários para sua pesquisa. Para isso,</p><p>ele precisa ir a campo e estar em contato com seu objeto de estudo, seja na Nova Guiné ou em um baile funk. A técnica utilizada é a da observação</p><p>participante.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 10/35</p><p>Este tipo de observação consiste no fato de que o pesquisador não somente observa seu objeto de estudo a distância, mas também procura</p><p>participar, na medida do possível, das mais variadas atividades daqueles com quem está convivendo durante o trabalho de campo.</p><p>O método da etnografia e a técnica da observação participante são bastante utilizados por outras ciências na atualidade. Em relação à Nutrição, não</p><p>poderia ser diferente. Pesquisadores da área utilizam a etnografia em enquetes nutricionais e na implementação de programas e políticas de saúde</p><p>pública relacionados à nutrição.</p><p>Saiba mais</p><p>Jiménez et al (2017), em um artigo no qual refletem sobre a importância da teoria antropológica nas práticas de educação em saúde, enfatizam a</p><p>importância de se explorarem as crenças e práticas culturais quando se trata de cuidados em saúde.</p><p>Programas e projetos de promoção da saúde que não levam em consideração os aspectos culturais e as representações sobre a saúde e comida</p><p>das populações-alvo podem utilizar muitos recursos e não atingir os objetivos propostos por inadequação.</p><p>A cultura como in�uência direta da escolha alimentar</p><p>Entenda o conceito de cultura e a sua influência na escolha alimentar.</p><p></p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 11/35</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Em uma aula de Sociologia, o professor, ao entrar em sala, encontrou um grupo de alunos numa calorosa discussão sobre cultura. Aproveitando</p><p>o interesse pelo tema, organizou um debate no qual ficaram evidenciadas várias formas de entender o que é cultura. Entre elas, destacaram-se</p><p>as respostas a seguir. Qual delas melhor corresponde ao significado do conceito na Antropologia?</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>Cultura no senso comum significa sabedoria, conhecimento. Mas, na Antropologia, é a maneira total de viver de um povo, ou seja, seu estilo de</p><p>vida, seus valores, crenças, hábitos. Assim, não podemos dizer que alguém não tem cultura, pois quem vive em sociedade adquire cultura.</p><p>Questão 2</p><p>Etnografia é:</p><p>A Cultura é a leitura de muitos livros.</p><p>B É estudar bastante, é o saber lidar com muita coisa.</p><p>C Quando uma pessoa é bem educada a gente diz: Que culta!</p><p>D A cultura é aquilo que a gente sabe, é aquilo que a gente faz, portanto, todas as pessoas têm cultura.</p><p>E A cultura é aquilo que a gente sabe, é aquilo que a gente faz, portanto, todas as pessoas têm cultura.</p><p>A Tudo aquilo que é produzido pelo homem como membro de uma sociedade.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 12/35</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>A etnografia é o método utilizado na Antropologia. Para coletar dados para sua pesquisa, o antropólogo precisa ir a campo e procurar se imbuir</p><p>da cultura que pretende estudar. A palavra etnografia significa literalmente escrever uma cultura.</p><p>2 - Mitos, tabus e crenças</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os mitos, os tabus e as crenças.</p><p>Sagrado e profano</p><p>Antes mesmo de definir e discutir as relações entre mitos, tabus e crença sobre a alimentação, é importante distinguir a esfera do sagrado e a do</p><p>profano, uma vez que tanto mitos, como tabus, proibições e crenças podem ser sagados ou profanos.</p><p>Sagrado</p><p>Inclui tudo aquilo que é excepcional, superior, sobrenatural, transcendente, divino. O sagrado com frequência se traduz por um sentimento de</p><p>respeito religioso (ROBERT, 1995). Enquanto a palavra sagrado se refere a um domínio separado, a religião tem origem no termo religare, do</p><p>latim, que significa atar ou ligar. Assim, aquilo que é separado é reunido por meio de ritos (SILVA, 2013).</p><p>B A descrição de uma cultura, ou seja, dos hábitos e estilo de vida de um grupo cultural.</p><p>C Acreditar que os valores de sua própria cultura são os mais</p><p>corretos e naturais.</p><p>D As diferenças existentes entre as culturas.</p><p>E A observação de uma cultura a partir das “próprias lentes”.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 13/35</p><p>Profano</p><p>Inclui tudo aquilo que não é sagrado. É aquilo que é comum, cotidiano, próximo. Mas é importante sinalizar que o significado de sagrado e</p><p>profano muda de sociedade para sociedade (BARRETO, 2018). Enquanto alguns adoram as estrelas, outros podem sacralizar a água dos rios</p><p>ou uma árvore específica. O sagrado trata das relações dos homens com a divindade, e o profano, da relação dos homens entre si</p><p>(Herrenschmidt, 1991).</p><p>Dessa forma, o sagrado se opõe ao profano, mas, por outro lado, as religiões tentam levar o sagrado em direção ao profano (COELHO, 2015). A esse</p><p>propósito, as múltiplas aparições midiáticas do papa Francisco falando de temas como desigualdade social, capitalismo e meio ambiente, temas</p><p>tradicionalmente profanos, vêm demonstrar esta aproximação entre sagrado e profano (OLIVEIRA e FARIAS 2019).</p><p>Vemos que essas esferas são separadas, mas, em algumas situações, elas se aproximam. Consequentemente, fica mais fácil compreender o</p><p>caráter sagrado ou profano dos mitos, tabus e crenças.</p><p>Mitos e alimentação</p><p>Conceito de mito</p><p>A narrativa mítica se traduz por uma série de formas discursivas que fazem referência ao sobrenatural, que são características de determinado</p><p>grupo cultural, e somente fazem sentido dentro deste. Esta narrativa não é histórica, ela se refere ao início dos tempos, sem uma data definida.</p><p>O mito dá sentido ao real, organiza a experiência do ser humano e traduz o seu característico desejo por segurança. Para isso, eles se apoiam nas</p><p>crenças sobrenaturais em “forças superiores que protegem ou ameaçam, recompensam ou castigam” (ARANHA & PIRES, 2009), como as mitologias</p><p>grega e indígena.</p><p>Mitos e crendices na nutrição</p><p>Uma vez que apresentamos o conceito de mito e sua importância, vamos falar dos mitos relativos à alimentação, que nem sempre têm o mesmo</p><p>significado tratado anteriormente. Nesse caso, tratamos como mito aquilo que não é verdade do ponto de vista racional, coisas em que muitas</p><p>pessoas acreditam, mas não correspondem ao que a ciência afirma.</p><p>Recomendação</p><p></p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 14/35</p><p>Nesse contexto, é importante ficar atento à quantidade de pessoas sem nenhuma formação em Nutrição ou áreas afins que estão presentes nas</p><p>mídias sociais dando conselhos sobre o que comer. Mesmo o Conselho Federal de Nutrição determinando que somente nutricionistas deem</p><p>orientação neste sentido, é comum ver blogueiros(as), youtubers e influencers espalhando todo tipo de orientação equivocada. O mais dramático é</p><p>que eles são seguidos por milhares de pessoas que adotam seus conselhos e podem ter sua saúde prejudicada.</p><p>Tais diretrizes entram na categoria de mito, ou seja, informações falsas não comprovadas pela ciência, que, muitas vezes, são compartilhadas até</p><p>por profissionais da área da Saúde.</p><p>É muito importante que o nutricionista enfrente este tipo de situação junto aos seus pacientes, de forma ética,</p><p>dando orientações e sempre explicando o que é valido ou não e por quê. Fazer pouco dos mitos, crenças e tabus</p><p>trazidos pelos seus pacientes é um comportamento arrogante, antiético e que provavelmente não irá promover a</p><p>saúde. Se for o caso de uma crença religiosa, deve-se compreender que ela não pode ser transgredida.</p><p>Também acreditamos que certos alimentos engordam mais que outros, como o exemplo trazido por Vieira (2010) em seu artigo sobre mitos e</p><p>crendices na Nutrição.</p><p>Ele comenta sobre o fato de as pessoas acreditarem que o açúcar engorda mais que a ricota, sendo que os carboidratos e as proteínas produzem a</p><p>mesma quantidade de Kcal por grama. Logo, o que engorda é a quantidade, não a qualidade do alimento.</p><p>Outro que virou um vilão da dieta é o glúten. O número de adeptos das dietas sem glúten e low carb aumentou muito nos últimos anos, trazendo a</p><p>promessa de emagrecimento e saúde.</p><p>Entretanto, pesquisas posteriores demonstraram que o baixo consumo de glúten cria propensão para a diabetes tipo 2 e que a privação de glúten</p><p>em celíacos – pacientes que apresentam intolerância ao glúten – pode aumentar o risco de AVC. (POTTER et al., 2017).</p><p>Lembramos que o trigo foi o primeiro cereal cultivado pelos homens há aproximadamente 10 mil anos, e vem sendo intensamente consumido desde</p><p>então.</p><p>Existem ainda muito outros exemplos de mitos relacionados à alimentação. Fica claro que é sempre importante ver a origem das informações e ter</p><p>uma aproximação crítica sobre elas, afinal, mesmo o conhecimento científico não produz uma verdade última sobre as coisas.</p><p>Podemos ver isso claramente na ciência da Nutrição, em que alimentos que eram vilões se tornaram heróis e vice-versa.</p><p>Exemplo</p><p>O próprio ovo já foi considerado um alimento que aumentava o colesterol, e toda uma geração de jovens passou boa parte da vida querendo</p><p>aumentar o consumo de ovos e não podia. Podemos adicionar a esta lista a manteiga, o abacate, o café, o chocolate amargo etc.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 15/35</p><p>O conhecimento produzido pela ciência é provisório e, no limite, todos os pesquisadores ficam testando as verdades estabelecidas.</p><p>Tabus e alimentação</p><p>Conceito de tabu</p><p>O conceito de tabu é originário da Ilha de Tonga, Polinésia, na Oceania.</p><p>O explorador inglês James Cook (1728-1779) é o responsável pelo surgimento da palavra nas línguas ocidentais, tendo também visto sua utilização</p><p>no Taiti (KEESING, 1991).</p><p>A partir de uma interpretação do significado da palavra nos idiomas desses povos, os mais diversos sistemas de proibições do mundo inteiro foram</p><p>nomeados como tabu.</p><p>Estátua de James Cook</p><p>Portanto, tabu é aquilo que é objeto de uma proibição que, se transgredida, trará perigo, desgraça e o caos. É o caso do tabu do incesto, que é</p><p>comum a todas as sociedades humanas das quais se tem notícia. Nas mais variadas sociedades, a transgressão desse tabu é punida, inclusive na</p><p>nossa.</p><p>Não temos uma lei que proíba o incesto, porém o casamento entre irmãos e entre pais e filhos é proibido por lei. Adultos maiores de idade em</p><p>situação de mútuo consentimento não transgridem a lei se cometerem incesto. Mas ele é um tabu moral tão forte que indivíduos nesta situação</p><p>serão colocados em isolamento social.</p><p>O tabu tanto se refere àquilo que é proibido e intocável por ser sagrado, como ao que é impuro ou perigoso. Aqui, trataremos sobretudo do segundo</p><p>significado, pois é o que se apresenta nos fenômenos que estudaremos, mas o que nos interessa são os tabus alimentares, ou seja, as proibições</p><p>relativas ao consumo de determinados alimentos, sejam elas profanas ou sagradas.</p><p>Tabus alimentares e proibições sagradas</p><p>Como não é o objetivo aqui fazer uma lista exaustiva de todos os tabus existentes, escolhemos alguns exemplos de proibições sagradas, aquelas</p><p>do catolicismo e a das religiões de matriz africana no Brasil. São elas:</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 16/35</p><p>Catolicismo</p><p>Os católicos deveriam respeitar até 166 dias de jejum, sendo os quarenta dias da Quaresma extremamente rígidos (CARNEIRO, 2003), que é o</p><p>período de quarenta dias que vai da Quarta-feira de Cinzas até a Quinta-feira Santa antes da Páscoa, na Europa do século XVII. É um período de</p><p>recolhimento e reflexão entre os cristãos. Na atualidade, porém, as proibições se restringem basicamente ao consumo de carne vermelha na Sexta-</p><p>feira Santa. Algumas famílias mais tradicionais e religiosas mantêm o interdito de comer carne durante todas as sextas-feiras da Quaresma, ou</p><p>mesmo mais dias da semana.</p><p>Candomblé</p><p>O candomblé possui interdições permanentes, como o consumo de peixes, sem escamas, e da carambola,</p><p>mas a maior parte delas está ligada aos</p><p>filhos de determinado orixá ou a certas datas. Existem proibições que são ligadas a alimentos que são usados nas oferendas, e outras aos</p><p>alimentos específicos que não são tolerados pelas diferentes divindades. Essas proibições são as quizilas. Se elas não forem respeitadas, as</p><p>consequências não serão boas. Por exemplo, Oxalá não tolera o azeite de dendê, Oxóssi não pode comer mel e Iansã execra o carneiro (SOUZA,</p><p>2014). Portanto, as proibições variam de indivíduo pra indivíduo.</p><p>Esses e outros tabus religiosos devem ser respeitados pelo profissional da área da Nutrição, pois sempre será possível fazer substituições. Em</p><p>algumas situações, as pessoas preferem não comentar o assunto. É importante perguntar na anamnese se o paciente tem alguma restrição</p><p>alimentar religiosa, sem necessidade de mais explicações.</p><p>Tabus profanos</p><p>Quanto aos tabus profanos, quem nunca ouviu falar que comer manga com leite faz mal à saúde? Existe uma explicação para um tabu tão difundido</p><p>no Brasil. Alguns afirmam que, no tempo da escravidão, os senhores inventaram esta história para impedir que os escravizados comessem manga</p><p>(VIEIRA, 2010). Outros já afirmam o contrário, que a origem deste tabu é por que os senhores não queriam que os escravizados tomassem leite. De</p><p>todas as formas, é uma invenção.</p><p>Os mitos e os tabus são invenções, mas isto não significa que eles não sejam muito importantes e que devam ser respeitados, inclusive pelos</p><p>nutricionistas no contexto do seu atendimento.</p><p>Trigo et al. (1989) observaram inúmeros tabus alimentares em comunidades do Pará e ressaltaram a importância do conhecimento destas</p><p>concepções para qualquer intervenção e programas de educação nutricional nesta região. As autoras relataram a proibição do consumo de várias</p><p>frutas com leite, não somente a manga, mas também o consumo de frutas misturadas com ovos, e carne misturada com peixe. Tais misturas,</p><p>segundo os entrevistados, faziam mal, ofendiam, envenenavam e podiam até matar.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 17/35</p><p>Mas os tabus alimentares podem ser permanentes, como o tabu de consumir carne humana, ou temporários, se referindo a certos momentos do</p><p>ciclo de vida. As crianças, os idosos, os enfermos, as mulheres menstruadas, as mulheres grávidas e as nutrizes, são sujeitos a restrições</p><p>alimentares mais importantes.</p><p>Um exemplo de tabu temporário é aquele que se refere ao complexo da reima, do grego  rheum, que significa viscoso (SILVA, 2007). As comidas</p><p>reimosas são conhecidas no Sudeste como comidas “carregadas”.</p><p>A reima é uma classificação dos alimentos. Os alimentos reimosos são considerados perigosos para a saúde. No geral, a reima tem importância em</p><p>momentos da vida, como durante os episódios de doença, durante a menstruação e o pós-parto. Mas existem lugares onde as mulheres não devem</p><p>comer carne de porco, por exemplo, porque ela é muito reimosa.</p><p>Não existe a lista definitiva da reima, mas, em geral, entram em tal categoria:</p><p>os frutos do mar;</p><p>a carne de porco;</p><p>algumas carnes de caça;</p><p>os peixes sem escama;</p><p>chocolate, dentre outros.</p><p>Em alguns casos, a reima de um alimento pode atingir não somente aquele que o consome, mas também aqueles que lhe são próximos, como em</p><p>uma espécie de contágio. Em alguns casos, a reima de um alimento pode atingir não somente aquele que o consome, mas também aqueles que lhe</p><p>são próximos (Ibid), como em uma espécie de contágio.</p><p>A gravidez e a amamentação são objetos de uma série de tabus alimentares. Durante a gravidez, algumas frutas, como a melancia, o pepino e a</p><p>manga são proibidos em algumas regiões de Pernambuco. Também devem ser evitados, tanto na gestação como no aleitamento, ovos de galinha,</p><p>peixes e carne de porco. Já a canela seria abortiva (GOMES et al., 2011).</p><p>As mulheres que estão amamentando também estão sujeitas a variadas proibições alimentares. Os alimentos mais citados como prejudicial pelas</p><p>mães em Programas de Puericultura em Unidades Básicas de Saúde foram refrigerantes, carne de porco, pimenta, chocolate e comidas ácidas. O</p><p>mal causado por essas comidas seriam cólicas, gases, diarreias e alergias, entre outros (CIAMPO et al., 2008). Em certas regiões do Piauí e do</p><p>Distrito Federal, o leite da mãe seria venenoso para o seu filho e outra mulher deve amamentá-lo (DANIEL & CRAVO, 2005).</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 18/35</p><p>Em algumas situações, os tabus alimentares podem vir a prejudicar a saúde da gestante e do bebê. O nutricionista deve estar atento, sempre</p><p>lidando com a situação de forma empática, para que possa orientar sem ofender ou descredenciar os tabus pertencentes àquela população e poder</p><p>provocar mudanças.</p><p>Crenças na alimentação</p><p>Conceito de crença</p><p>O verbo crer representa alguns problemas, pois, sobretudo no aspecto sagrado, quando falamos em crença, fica subentendido que existem aqueles</p><p>que não creem. Quando alguém diz que crê em Deus, compreendemos perfeitamente. Entretanto, quando vemos escritos nas portas de templos</p><p>neopentecostais: “Jesus Cristo é o Senhor”, nesse caso, não há referência há uma crença, mas a uma verdade, uma realidade.</p><p>Muito se fala em crenças e o significado desta palavra é compreendido por todos através do senso comum. Efetivamente, o Aurélio (FERREIRA,</p><p>1999) define o verbo crer como aquilo que se tem por certo, por verdadeiro, e, o vocábulo crença, ele define como aquilo em que se crê, fé religiosa</p><p>ou convicção íntima.</p><p>Podemos dizer que a crença é uma convicção íntima, aquilo que se tem por verdadeiro, e que não precisa de comprovação. Como vimos, existem</p><p>crenças que estão relacionadas ao sagrado, e outras que são profanas. Entretanto, é importante enfatizar que todos os mitos e tabus estão</p><p>fundamentados em uma crença.</p><p>Em relação ao aleitamento materno:</p><p>Exemplo</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 19/35</p><p>Enquanto algumas mães acreditam que consumir leite de vaca fará com que ela produza mais leite, outras já pensam que isso fará com que o bebê</p><p>tenha cólicas (GOMES et al., 2011). Fubá, canjica e sopa também aumentariam a produção de leite.</p><p>Crenças muito difundidas também são aquelas relacionadas à produção do leite materno. Todos já ouviram falar na crença de que beber cerveja</p><p>preta aumentaria a produção de leite materno. Não há comprovação desse fato e consumir álcool durante a lactação pode ser prejudicial para a</p><p>saúde da criança.</p><p>A crença de que existe um leite fraco pode ser bastante prejudicial à amamentação e está entre as principais causas da complementação precoce.</p><p>A aparência do leite materno comparado ao da vaca fundamenta tal crença (MARQUES et al., 2011).</p><p>Podemos ainda acrescentar outras crenças, como a de que comer banana ouro pela noite seria fatal, ou de que a banana prende o intestino e a</p><p>cerveja dá barriga (VIEIRA, 2010).</p><p>É importante enfatizar que crenças sobre o emagrecimento também abundam e podem ser</p><p>prejudiciais para a saúde.</p><p>Ficar sem comer, pular refeições, comer de três em três horas, evitar frutas porque têm muito açúcar, cortar carboidratos e outras crenças são muito</p><p>difundidas e, neste caso, cabe ao nutricionista esclarecer o paciente sobre estas questões.</p><p>Sempre lembrando que crenças que fazem parte dos sistemas alimentares não podem ser simplesmente descartadas como inúteis. O nutricionista</p><p>não deve questionar de forma assertiva as crenças dos seus pacientes, pois, para eles, tais crenças fazem sentido. Ao contrário, o nutricionista deve</p><p>buscar compreender a riqueza destas concepções e promover a saúde, dando as orientações necessárias sem desprezar as crenças populares.</p><p>Os tabus e suas implicações no atendimento nutricional</p><p>Veja os mitos presentes na alimentação e que podem interferir no consumo alimentar dos pacientes.</p><p></p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar:</p><p>concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 20/35</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Qual das assertivas abaixo se refere a um tabu alimentar?</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>Os mitos e os tabus são invenções. O tabu alimentar representa a proibição temporária ou permanente de consumir determinados itens</p><p>alimentares. No caso, é um tabu temporário.</p><p>A Tomar canjica faz a mulher ter mais leite.</p><p>B Todos os iogurtes contêm probióticos.</p><p>C A mulher não pode comer carne reimosa durante a gravidez.</p><p>D A vaca é um animal sagrado na Índia.</p><p>E O açúcar engorda mais que a ricota.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 21/35</p><p>Questão 2</p><p>Leia o diálogo a seguir:</p><p>Léia – Vi no Instagram uma nova dieta maravilhosa!</p><p>Joana – E como ela é?</p><p>Léia – Você pula o almoço todos os dias, menos no fim de semana.</p><p>Joana – E funciona?</p><p>Léia – Claro, eu vi a foto do “antes e depois” no insta!</p><p>O diálogo acima se refere a</p><p>Parabéns! A alternativa A está correta.</p><p>As crenças são conceitos, suposições e ideias que o indivíduo tem como certas sem comprovação, é uma certeza sem provas.</p><p>3 - Sistemas alimentares</p><p>A crenças na alimentação.</p><p>B tabus na alimentação.</p><p>C comida sagrada.</p><p>D relativismo cultural.</p><p>E mito na alimentação.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 22/35</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os sistemas alimentares.</p><p>Sistemas alimentares</p><p>De�nição</p><p>A definição de sistema trazida pelo Aurélio (FERREIRA, 1999) fala em conjunto de elementos entre os quais existe uma relação, ou, como partes de</p><p>um todo, coordenadas entre si, e que formam uma estrutura organizada. Em um sistema, os seus variados elementos estão conectados e afetam</p><p>uns aos outros.</p><p>Quando falamos de sistema alimentar, vamos no mesmo sentido. Poulain (2004) o define como:</p><p>Conjunto de estruturas tecnológicas e sociais que, da coleta até a cozinha, passando por todas as etapas de</p><p>produção-transformação, permitem que o alimento chegue até o consumidor e seja reconhecido como</p><p>comestível.</p><p>(POULAIN, 2004, p.252)</p><p>Construção dos sistemas alimentares</p><p>Na construção dos sistemas alimentares, há uma interação entre as dimensões naturais e culturais da alimentação. Contreras & Gracia (2015)</p><p>afirmam que, em cada etapa do sistema, diferentes indivíduos lançam mão tanto de conhecimento tecnológico, como de valores, crenças e</p><p>representações para tomarem decisões até que o alimento chegue no consumidor final.</p><p>Vemos que os sistemas alimentares diferem de sociedade para sociedade, e, mesmo quando existe uma tendência à homogeneização, eles</p><p>guardam características próprias. Eles incluem as operações de produção, distribuição, preparo, consumo e podemos acrescentar o dejeto dos</p><p>resíduos.</p><p>Barbosa (2007) enfatiza que, no Brasil, ao contrário da maior parte dos países desenvolvidos, compramos os ingredientes in natura e os cozinhamos</p><p>em casa.</p><p>Compramos os cereais, legumes, verduras e tubérculos e preparamos nossa refeição.</p><p>Em outros casos, delega-se a um trabalhador doméstico, luxo que, por conta do baixo custo deste trabalho, é permitido às famílias de classe média.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 23/35</p><p>Nas famílias menos abastadas, muitas vezes, a mulher cozinha para a família durante à noite, quando chega do trabalho. Isto já muda alguns</p><p>componentes do sistema alimentar. Entretanto, no Brasil, verifica-se uma lenta redução no consumo de itens alimentares tradicionais, como feijão,</p><p>arroz, farinha de mandioca e farinha de milho e um aumento do consumo de produtos industrializados (BLEIL, 1998) e de massas, pães e</p><p>refrigerantes (IBGE, 2019). Isso mostra que os sistemas alimentares são dinâmicos.</p><p>A pesquisa de orçamentos familiares e os desa�os do</p><p>nutricionista frente a este cenário</p><p>Confira os dados da pesquisa do IBGE de 2019, explicando como o orçamento das famílias está relacionado às escolhas alimentares.</p><p>Os sistemas alimentares nativos das Américas mudaram completamente com a chegada dos conquistadores, e os itens alimentares americanos,</p><p>como a batata, o tomate, o pimentão, o milho, entre outros, transformaram os sistemas alimentares europeus e africanos. Na África, introduziu-se o</p><p>amendoim, a mandioca e o milho (MACIEL, 2005).</p><p>Hoje é difícil convencer muitos europeus e africanos que estas plantas são nativas das Américas. Assim como pode ser difícil convencer um</p><p>brasileiro de que a manga e a jaca não são nativas daqui.</p><p>Essas transformações também ocorrem em função de interesses econômicos e políticos.</p><p>Guia alimentar para a população brasileira</p><p>O Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014) sublinha que a forma de produzir e distribuir alimentos vem aumentando a</p><p>desigualdade social no mundo.</p><p></p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 24/35</p><p>Guia Alimentar - 2014</p><p>No Brasil, os sistemas alimentares tradicionais, baseados na agricultura familiar, que promovem um manejo sustentável dos solos e uma</p><p>distribuição local dos alimentos, estão sendo substituídos por um sistema fundamentado em grandes monoculturas que abastecem sobretudo as</p><p>indústrias de ultraprocessados e o mercado de rações para animais.</p><p>Como diz Maciel (2005):</p><p>Na constituição desses sistemas, intervêm fatores de ordem ecológica, histórica, cultural, social e econômica</p><p>que implicam representações e imaginários sociais envolvendo escolhas e classificações.</p><p>(MACIEL, 2005, p.49)</p><p>Há, efetivamente, interesses econômicos pressionando a mudança dos sistemas alimentares em benefício da indústria alimentícia e no sentido</p><p>contrário de uma produção e distribuição dos alimentos que sejam sustentáveis socialmente e ambientalmente.</p><p>O estilo de vida, aliado às mudanças nos sistemas alimentares, tem provocado um aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como</p><p>a diabetes, a hipertensão, a obesidade, câncer e problemas cardíacos.</p><p>Diversidade cultural</p><p>As crenças, valores, mas também as técnicas de produção e de preparo dos alimentos variam enormemente de sociedade para sociedade. Esses</p><p>valores orientam os tabus e as prescrições sobre os quais falamos.</p><p>Chamamos de diversidade cultural todas diferenças culturais existentes entre os grupos, as sociedades e as múltiplas culturas. Esse termo se refere</p><p>à cultura material e à imaterial. Tais diferenças são características de cada grupo cultural, que constroem o seu sentimento de pertencimento àquele</p><p>grupo através destas especificidades, a chamada identidade cultural.</p><p>Outros autores, também dentro da noção de sistemas alimentares, dizem o seguinte:</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 25/35</p><p>O ato da alimentação, mais do que biológico, envolve as formas e tecnologias de cultivo, manejo e a coleta do</p><p>alimento, a escolha, seu armazenamento e formas de preparo e de apresentação, constituindo um processo</p><p>social e cultural.</p><p>(SONATI et al., 2009, p.137)</p><p>In�uência cultural na culinária brasileira</p><p>Cada cultura executa essas etapas de forma diferente. Não somente a própria definição do que é comida varia entre os grupos humanos, como</p><p>também todas as etapas dos sistemas alimentares que vimos acima. No Brasil, temos uma diversidade cultural à mesa muito grande por conta de</p><p>todas as diferentes influências que a culinária brasileira recebeu no decorrer do tempo.</p><p>Se nossa matriz cultural vem dos indígenas, africanos e portugueses, será que a cozinha brasileira seria uma mistura da culinária desses povos?</p><p>É importante ressaltar, a este propósito, que a contribuição desses diferentes povos não foi a mesma. O português estava no topo da pirâmide</p><p>social (DÓRIA, 2009). Observe cada povo a seguir:</p><p>Os negros</p><p>escravizados não tinham direito à palavra, eram semoventes. Não participaram ativamente da construção da culinária nacional nesta</p><p>condição. Os ingredientes africanos, como o azeite de dendê, o jiló, o quiabo e a pimenta malagueta, foram trazidos pelos portugueses. A culinária</p><p>de comidas de santo só floresce no Brasil depois do fim da escravidão, mas isso não significa que esses pratos não façam parte da cozinha</p><p>brasileira.</p><p>Os indígenas foram valorizados no indigenismo brasileiro no século XIX. Este era um projeto do Próprio D. Pedro II junto ao Instituto Histórico</p><p>Geográfico Brasileiro (IHGB), com a construção de um mito de origem do povo brasileiro, como aquele descrito nos romances da época de José</p><p>de Alencar (1829-1877) e nas peças de Gonçalves Dias (1823-1864).</p><p>Entretanto, sobre a influência indígena na culinária brasileira, ela se deu sobretudo em relação aos ingredientes e às formas de beneficiar a</p><p>mandioca e, eventualmente, de assar a carne, excetuando o Norte do Brasil, onde as influências da culinária indígena e do consumo de peixes de</p><p>água doce se faz mais presente.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 26/35</p><p>Os modos de preparo da nossa cozinha são essencialmente portugueses, assim como todas as criações e laticínios que consumimos. Ao chegar</p><p>aqui no período colonial, as sinhás usavam os ingredientes nativos para preparar pratos europeus. Assim, as frutas brasileiras, como o caju e a</p><p>goiaba e o mamão, foram usadas para fazer doces e compotas, e as diferentes farinhas e polvilhos da mandioca fizeram os mais variados tipos</p><p>de bolos e pães, como o nosso querido pão de queijo.</p><p>Além de toda a diversidade das cozinhas regionais, também influenciaram a nossa culinária os imigrantes europeus, sírios, libaneses e os</p><p>japoneses, que vieram para cá em diferentes épocas. A influência alemã e ucraniana no Rio Grande do Sul. A açoriana em Santa Catarina, a italiana</p><p>em São Paulo, a síria e libanesa no Sudeste, entre outras, só vieram enriquecer nossas receitas, nossos hábitos e nosso paladar.</p><p>Determinismo biológico e geográ�co</p><p>Os homens sempre se perguntaram como, existindo entre eles uma unidade biológica facilmente constatável, é possível que tenham</p><p>comportamentos, visões de mundo, valores e sistemas alimentares tão diferentes.</p><p>Os homens são tão diferentes porque são biologicamente diferentes. Embora esse pensamento já existisse anteriormente, ele ganha força nas</p><p>teorias de Franz Gall (1758-1828), médico alemão e Cesare Lombroso (1835-1909), criminologista alemão.</p><p>Essas teorias, científicas na época, são apenas um aspecto de uma visão deturpada sobre a diversidade cultural.</p><p>Se são aspectos físicos e biológicos que determinam o comportamento, isto é algo imutável, inato. Podemos achá-</p><p>las absurdas, mas elas estão presentes entre nós de forma importante ainda hoje.</p><p>Ambos acreditavam que características físicas, como a forma da cabeça e condições como a epilepsia, determinavam o criminoso nato. Logo, o</p><p>criminoso não podia ser recuperado e deveria ficar isolado para proteger a sociedade.</p><p>Exemplo</p><p>O conceito de raça é um exemplo clássico de determinismo biológico. Devemos esclarecer que este conceito foi originariamente definido nas</p><p>Ciências Biológicas. A raça é a categoria taxonômica que vem abaixo da espécie, é a subespécie. Nós, por exemplo, somos do gênero Homo, da</p><p>espécie sapiens e da subespécie sapiens. Somos Homo sapiens sapiens, ou seja, da espécie humana e da raça humana. Existe somente uma raça</p><p>da espécie humana.</p><p>Porém, os indivíduos acreditam que existem raças e que os membros delas têm capacidades, inteligência, temperamento, ética e disposições</p><p>diferentes uns dos outros e que isto está escrito em sua biologia.</p><p>O racismo existe, é muito presente e provoca estragos e desigualdades enormes. Em nossa sociedade o racismo é</p><p>estrutural e muitas vezes nem percebemos como palavras e expressões podem ser racistas.</p><p>Também observamos um discurso naturalizado sobre o gênero, dizendo que a mulher é o sexo frágil. Essa ideia reforça o machismo e a visão</p><p>inferior sobre elas. Efetivamente, as mulheres têm estatisticamente um percentual maior de gordura no seu corpo e os homens, um percentual</p><p>maior de músculos. Mas isso não quer dizer que a mulher seja o sexo frágil.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 27/35</p><p>O gênero é uma construção cultural e cada sociedade define quais são os comportamentos mais adequados para o homem e para a mulher. Entre</p><p>os indígenas Cinta-Larga de Rondônia, a mulher é sempre aquela que carrega o peso, a água, os trinta quilos de mandioca desde a roça, assim como</p><p>quem corta e carrega a lenha para o fogo.</p><p>Não precisamos nem ir tão longe, a função de subir os morros com uma lata d´água na cabeça no Rio de Janeiro de antigamente era feminina.</p><p>Nós nascemos com o potencial genético para sermos socializados em qualquer cultura. Esta é a especificidade humana. Temos a possibilidade de</p><p>viver mil vidas diferentes, mas acabamos vivendo somente uma (GEERTZ, 1989).</p><p>Enquanto o determinismo biológico acredita que as diferenças entre os homens são função de sua biologia, o</p><p>determinismo geográfico diz que os homens são diferentes porque eles vivem em ambientes diferentes. Ou seja, o</p><p>seu modo de vida seria determinado pelo ambiente físico.</p><p>Este tipo de teoria existe desde a Antiguidade, mas é somente no final do século XIX que ela se tornou popular, sendo formulada sobretudo por</p><p>geógrafos (LARAIA, 2007).</p><p>A Antropologia também contesta esta teoria dizendo que homens que vivem no mesmo ambiente têm culturas diferentes, fazem escolhas</p><p>alimentares diferentes e exploram os recursos de formas específicas.</p><p>Exemplo</p><p>Aqui no Brasil temos uma costa de mais de nove mil quilômetros. Entretanto, exceto em comunidades pesqueiras, não temos o hábito de comer</p><p>peixe regularmente. Os que vivem no interior da região Norte comem peixes de rio com muito mais frequência do que os que moram no litoral em</p><p>relação aos peixes do mar.</p><p>Os maiores mercados de peixe do mundo são a cidade de Tóquio, no Japão, o que não é muito surpreendente, e a cidade de Madrid, na Espanha,</p><p>que fica no centro da península Ibérica. O peixe é trazido de avião das costas marítimas para atender a esse mercado.</p><p>Vemos, assim, que a Antropologia contradiz essas duas teorias e enfatiza a importância da cultura na determinação dos hábitos, do estilo de vida e</p><p>dos sistemas alimentares. Porém, essas concepções são ainda muito difundidas na contemporaneidade, e o profissional da área de Nutrição deve</p><p>ficar atento a elas.</p><p>A diversidade cultural, porém, também pode ser compreendida de outras formas. Vamos a elas.</p><p>Etnocentrismo</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 28/35</p><p>Vamos pensar juntos em qual é a etimologia desta palavra. Etnocentrismo significa “minha etnia no centro do mundo”. Segundo Rocha:</p><p>Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os</p><p>outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a</p><p>existência.</p><p>(ROCHA, 1984, p.5)</p><p>Se pensarmos na metáfora que vimos anteriormente, de que “a cultura é uma lente através da qual vemos o mundo”, nossa lente é ajustada para</p><p>enxergarmos a nossa cultura. Quando olhamos para outra cultura com nossos “óculos”, a vemos embaçada, disforme. E isso é o etnocentrismo, um</p><p>estereótipo através do qual olhamos para a diversidade cultural.</p><p>O etnocentrismo implica não somente um estranhamento, mas também um julgamento de valor. Se achamos que</p><p>alguns orientais são bárbaros porque comem carne de cachorro, ou outros são sujos porque arrotam na mesa ou</p><p>não têm os mesmos princípios de higiene alimentar que nós, estamos sendo etnocêntricos.</p><p>Este sentimento que, por vezes, é até inconsciente, é uma forma muito comum entre os homens de</p><p>lidar com a diferença. Podemos nos perguntar</p><p>se é possível não sermos etnocêntricos. A conclusão a que chegaremos é que não. Sempre teremos posturas julgadoras diante daquilo que</p><p>desconhecemos ou mesmo discordamos.</p><p>No processo de socialização, somos treinados para sermos etnocêntricos. Desde pequenos, nos ensinam que as coisas são certas ou erradas,</p><p>limpas ou sujas, boas ou más, justa ou injustas. Necessitamos deste referencial ético para podermos formar nosso caráter e nos adaptarmos à</p><p>sociedade na qual vivemos.</p><p>Muitas sociedades tradicionais se nomeiam, o que chamamos de etnônimo, com nomes que significam “nós, o povo”, ou “nós, os homens”,</p><p>expulsando da província humana aqueles que não pertencem à sua etnia.</p><p>Atenção!</p><p>Não precisamos estar diante de um asiático comendo cachorro para sermos etnocêntricos. Quando dizemos que alguém é paraíba, piriguete,</p><p>patricinha, carte, doidão ou favelado, estamos lidando com a diferença através do etnocentrismo.</p><p>Por outro lado, existem culturas que atingem a dignidade humana e com as quais, legalmente, devemos ser etnocêntricos. Mas vemos que existem</p><p>muitas pessoas para quem o preconceito, a violência e o machismo representam a forma correta de se pensar.</p><p>E, de seu ponto de vista, quem pensa diferente deles é que está errado. O etnocentrismo se situa na origem de todos os preconceitos, pois ninguém</p><p>nasce preconceituoso. É no processo de socialização que nos tornamos racistas, homofóbicos, intolerantes religiosos etc.</p><p>Podemos concluir que não existe certo ou errado. Somente as religiões e a Filosofia estabelecem estes parâmetros, a ciência não. Podemos dizer o</p><p>que determinado grupo humano acredita ser o certo, mas não podemos afirmar o que é o certo. Certo e errado são pontos de vista que as culturas</p><p>colocam sobre a realidade. Não é certo ou errado comer isto ou aquilo, é diferente.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 29/35</p><p>Mas não vamos esquecer que os valores são fundamentais para ordenar o nosso comportamento, pois, dentro de nossa cultura, existem, sim, certo</p><p>e errado. E que o etnocentrismo pode ter consequências muito graves, como escravidão, guerras e genocídios.</p><p>Mas podemos ter outra postura diante da diversidade cultural, é possível relativizar, e é disto que falaremos agora.</p><p>Relativismo cultural</p><p>O relativismo cultural pode ser visto como oposto ao etnocentrismo. Relativizar não significa que, ao contrário do etnocentrismo, acharemos correto</p><p>comer cachorros ou arrotar à mesa, nem que iremos fazer isso. Relativizar significa compreender que a nossa lente cultural não é ajustada para</p><p>enxergar as outras culturas. Não podemos tentar compreender a diversidade através da lógica da nossa própria cultura, pois cada uma tem uma</p><p>lógica, que só é compreensível dentro daquele contexto cultural.</p><p>Relativizar é, segundo Rocha:</p><p>Ver que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição.</p><p>(ROCHA, 1984, p.9)</p><p>Enquanto o etnocentrismo está na origem do preconceito, o relativismo cultural está na origem da tolerância. O relativismo cultural é a postura</p><p>utilizada pela Antropologia na compreensão da diversidade cultural.</p><p>A postura do nutricionista deve ser sempre relativista. Como já comentamos, ele não deve fazer juízos de valor sobre seus pacientes em nenhum</p><p>aspecto, pois seria uma postura antiética, que certamente não está entre as boas práticas de promoção da saúde.</p><p>Cultura alimentar</p><p>Tudo o que temos discutido até agora está relacionado à cultura alimentar. Tanto os múltiplos significados simbólicos que atribuímos aos</p><p>alimentos, que vão determinar o que se come ou não, como também as imagens, comportamentos e situações relacionadas à alimentação (BRAGA,</p><p>2004).</p><p>Ela se constitui também no dinamismo entre aquilo que é tradicional e as inovações e todas as mudanças ocorridas nos nossos hábitos alimentares</p><p>e na comensalidade em função do estilo de vida contemporâneo.</p><p>A cultura alimentar é uma fonte muito importante de construção de pertencimentos, sendo uma referência para o estabelecimento das identidades</p><p>individuais e coletivas. A comida regional, mesmo não sendo cotidiana, cria marcadores identitários específicos.</p><p>É importante ressaltar que a cultura, como algo que determina as escolhas alimentares, está profundamente</p><p>impregnada no indivíduo. Este desenvolveu seus hábitos e preferências alimentares desde a infância. Por conta da</p><p>intimidade que as pessoas têm com suas formas de comer, a cultura pode se apresentar como uma dificuldade</p><p>para o nutricionista.</p><p>Isto porque a mudança de comportamentos alimentares neste contexto cultural é bastante complexa. O nutricionista deve promover a saúde em</p><p>uma constante negociação com a cultura alimentar do paciente, sempre tendo em vista que o paciente está no centro do processo.</p><p>Papel da cultura na alimentação e da alimentação na cultura</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 30/35</p><p>Quando falamos de sistemas alimentares, significa que cultura e alimentação fazem parte desses sistemas e estão profundamente conectadas.</p><p>Vimos que esses sistemas são dinâmicos e o que podemos perceber é que, quando há mudanças na cultura, a alimentação se transforma. Da</p><p>mesma forma, não somente nas sociedades tradicionais, mas também nas contemporâneas, se os recursos disponíveis mudam, a cultura alimentar</p><p>também se transformará.</p><p>Entretanto, nos dias de hoje, tais recursos alimentares mudam segundo interesses econômicos atrelados ao lucro.</p><p>As indústrias alimentares são empresas capitalistas, muitas vezes com capital aberto, que têm como principal objetivo, o lucro.</p><p>Das dez maiores empresas de consumo no mundo, nove são grandes conglomerados multinacionais na área da alimentação que possuem uma</p><p>enorme riqueza, muitas vezes maior do que o PIB de alguns países.</p><p>Assim, essas empresas são capazes de fazer potentes lobbies junto aos governos.</p><p>O estilo de vida dos seres humanos tem mudado profundamente nas últimas décadas, e sua alimentação também. Desta forma, temos aí uma</p><p>ótima oportunidade de discutirmos a relação entre alimentação e cultura nesta perspectiva dinâmica.</p><p>Para isso, utilizaremos o conceito de modernidade alimentar, que pode ser definido da seguinte forma:</p><p>Sintetiza e representa os impactos que a alimentação tem sofrido em função das transformações sociais,</p><p>econômicas e culturais ocorridas na sociedade contemporânea.</p><p>(FONSECA, 2011, p. 3854)</p><p>A vida do comedor moderno mudou profundamente. A alimentação fora de casa cresce muito e a própria mulher também foi para o mercado de</p><p>trabalho, impactando a alimentação da família.</p><p>Ao mesmo tempo, surgiu toda uma indústria de gadgets para a cozinha e de alimentos pré-preparados ou prontos que pretendem facilitar a vida</p><p>dessa mulher que trabalha. Pois, mesmo dentro deste novo contexto, a mulher ainda é aquela que cuida da alimentação da família (BARBOSA,</p><p>2007).</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 31/35</p><p>Com esta modernidade alimentar, cresce também a preocupação com uma alimentação mais saudável e surgem diferentes tribos alimentares</p><p>como os orgânicos, vegetarianos, veganos etc. (FONSECA et al., 2011).</p><p>Neste quadro, a transmissão de tradições culinárias fica comprometida.</p><p>Assim, podemos ver o fenômeno da aprendizagem individual, que pode misturar diferentes tipos de culinária, além de incorporar as preocupações</p><p>dietéticas.</p><p>Por outro lado, há uma desconfiança em relação aos produtos industrializados, mesmo se o seu consumo for alto.</p><p>Se a alimentação é uma fonte potente de construção das identidades culturais, com o que este comedor moderno</p><p>vai se identificar?</p><p>Ademais, estas mudanças culturais e alimentares estão afetando também a saúde da população, com um aumento nas DCNT, como vimos</p><p>anteriormente.</p><p>O profissional da área de Nutrição deve ficar atento a todas</p><p>estas transformações e seus impactos para a saúde dos indivíduos e nos seus</p><p>comportamentos e representações acerca da modernidade alimentar. Assim, ele terá instrumentos para planejar estratégias de intervenção em</p><p>relação ao paciente e no âmbito de uma ação política junto aos conselhos de Nutrição.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 32/35</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Assinale a afirmativa que fala sobre o papel da cultura na alimentação:</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>A dieta vegetariana refere-se a questões culturais relacionadas à alimentação. É uma mudança na cultura que altera o hábito alimentar. As</p><p>demais alternativas abordam aspectos fisiológicos, nutricionais ou biológicos.</p><p>Questão 2</p><p>A A máquina de colher soja quebrou quando passou sobre uma pedra.</p><p>B Umas das causas de anemia ferropriva é uma dieta pobre em vitamina C.</p><p>C As abelhas estão morrendo por conta dos agrotóxicos.</p><p>D Muitas pessoas se tornam vegetarianas por solidariedade aos animais.</p><p>E Parte da contaminação da água ocorre devido ao uso de anticoncepcionais.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 33/35</p><p>Montaigne (1533-1572) assim comentou a antropofagia dos Tupinambás: Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade, mas</p><p>que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o</p><p>comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a</p><p>pretexto de devoção e fé, como não somente o lemos mas vimos ocorrer entre vizinhos nosso conterrâneos.</p><p>O conceito que se aplica ao trecho em negrito é</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>Montaigne, mesmo tendo vivido no século XVI, demonstra, com este texto, que relativiza as práticas consideradas “normais” em sua própria</p><p>cultura diante do canibalismo. O relativismo é justamente compreender a diferença do outro dentro da sua própria concepção de mundo.</p><p>Considerações �nais</p><p>Vimos a importância do conceito de cultura na compreensão de variados aspectos da alimentação. Por mais que as crenças dos sujeitos possam</p><p>parecer absurdas diante da formação científica do nutricionista, elas devem ser tratadas de forma empática e respeitosa. Se o profissional da área</p><p>da Nutrição tiver uma postura arrogante em relação a concepções culturais diferentes, ele não somente está se comportando de maneira antiética,</p><p>como também reduz as possibilidades de sucesso do tratamento.</p><p>Concluímos sobre o papel da cultura na alimentação com um exemplo relativo à modernidade alimentar.</p><p>A cultura alimentar vem se transformando muito nas últimas décadas, e cabe ao nutricionista compreender estas mudanças e lutar por uma</p><p>alimentação mais saudável e sustentável.</p><p>Podcast</p><p>Para encerrar, ouça um resumo sobre os principais assuntos abordados neste conteúdo.</p><p>A socialização.</p><p>B diversidade cultural.</p><p>C relativismo cultural.</p><p>D etnocentrismo.</p><p>E cultura alimentar.</p><p></p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 34/35</p><p>Explore +</p><p>Confira o que separamos especialmente para você!</p><p>Assista ao vídeo Comida, saúde e cultura, disponibilizado no Youtube, com o sociólogo francês Jean-Pierre Poulain falando sobre a reorganização</p><p>do espaço social da cozinha.</p><p>Para ampliar a discussão sobre o tema, assista ao vídeo Relativismo Cultural e seus problemas disponível no canal SciFilo no Youtube.</p><p>Referências</p><p>BARRETO, E. A experiência religiosa, o sagrado e o profano. Século Diário, 2018. Consultado na internet em: 23 out. 2020.</p><p>BLEIL, S. I. O Padrão Alimentar Ocidental: considerações sobre a mudança de hábitos no Brasil. Revista Cadernos de Debate, Campinas, Vol. VI, p. 1-</p><p>25, 1998. Consultado na internet em: 23 out. 2020.</p><p>BRAGA, V. Cultura alimentar: contribuições da antropologia da alimentação. Saúde Rev., Piracicaba, 6(13): 37-44, 2004. Consultado na internet em:</p><p>23 out. 2020.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.</p><p>CÂMARA CASCUDO, L. História da Alimentação no Brasil . São Paulo: Global, 2004.</p><p>CARNEIRO, H.  Comida e Sociedade : Uma História da Alimentação. 6.Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.</p><p>CHERKAOUI, M.Socialisation. In: BOUDON, R. et al.Dictionnaire de la Sociologie. 2 ed. Paris: Larrousse, 1990.</p><p>CIAMPO, L. et al. Aleitamento materno e tabus alimentares. São Paulo. Rev Paul. Pediatr., 26(4) p.345-349, 2008. Consultado na internet em: 23 out.</p><p>2020.</p><p>COELHO, C. História e Antropologia da Nutrição. Rio de Janeiro: SESES, 2015.</p><p>CONTRERAS, J. & GRACIA, M. Alimentação, sociedade e cultura Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2015.</p><p>DAMATTA, R.Você tem cultura?  In: DAMATTA. R. Explorações. Ensaios de Antropologia Interpretativa. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 121-128.</p><p>DANIEL, J. & CRAVO. V. Valor Social e Cultural da Alimentação. In: CANESQUI, A. M.; GARCIA, R. (Org). Antropologia e Nutrição: Um diálogo possível.</p><p>Rio de Janeiro: ABRASCO, 2005.</p><p>IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018 - POF. Rio de Janeiro, 2019. Consultado na</p><p>internet em: 23 out. 2020.</p><p>ROCHA, E. O que é Etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 2004</p><p>SANTOS, J. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2005.</p><p>VIEIRA, E. Tabus, mitos e crendices em Nutrição. Rev Med Minas Gerais; 20(3): 371-374, 2010. Consultado na internet em: 23 out. 2020.</p><p>15/09/2023, 13:33 Cultura alimentar: concepções</p><p>https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/00613/index.html# 35/35</p><p>Material para download</p><p>Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF.</p><p>Download material</p><p>O que você achou do conteúdo?</p><p>Relatar problema</p><p>javascript:CriaPDF()</p>

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