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<p>EDNO JOSÉ ALMEIDA FILHO</p><p>TEXTOS</p><p>FILOSÓFICOS:</p><p>LEITURA E</p><p>COMPREENSÃO</p><p>ACESSE AQUI ESTE</p><p>MATERIAL DIGITAL!</p><p>Coordenador(a) de Conteúdo</p><p>Kevin Daniel dos Santos Leyser</p><p>Projeto Gráfico e Capa</p><p>Arthur Cantareli Silva</p><p>Revisão Textual</p><p>Cindy Mayumi Okamoto Luca</p><p>Fotos</p><p>Shutterstock e Envato</p><p>Impresso por:</p><p>Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722.</p><p>Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).</p><p>Núcleo de Educação a Distância. FILHO, Edno José Almeida.</p><p>Textos Filosóficos: Leitura e Compreensão / Edno José Almeida</p><p>Filho - Florianópolis, SC: Arqué, 2023.</p><p>260 p.</p><p>ISBN papel 978-65-6083-394-4</p><p>ISBN digital 978-65-6083-389-0</p><p>1. Textos Filosóficos 2. Leitura e Compreensão 3. EaD. I. Título.</p><p>CDD 107</p><p>EXPEDIENTE</p><p>Centro Universitário Leonardo da Vinci.C397</p><p>FICHA CATALOGRÁFICA</p><p>176476</p><p>RECURSOS DE IMERSÃO</p><p>Utilizado para temas, assuntos ou con-</p><p>ceitos avançados, levando ao aprofun-</p><p>damento do que está sendo trabalhado</p><p>naquele momento do texto.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Uma dose extra de</p><p>conhecimento é sempre</p><p>bem-vinda. Aqui você</p><p>terá indicações de filmes</p><p>que se conectam com o</p><p>tema do conteúdo.</p><p>INDICAÇÃO DE FILME</p><p>Uma dose extra de</p><p>conhecimento é sempre</p><p>bem-vinda. Aqui você</p><p>terá indicações de livros</p><p>que agregarão muito na</p><p>sua vida profissional.</p><p>INDICAÇÃO DE LIVRO</p><p>Utilizado para desmistificar pontos</p><p>que possam gerar confusão sobre o</p><p>tema. Após o texto trazer a explicação,</p><p>essa interlocução pode trazer pontos</p><p>adicionais que contribuam para que</p><p>o estudante não fique com dúvidas</p><p>sobre o tema.</p><p>ZOOM NO CONHECIMENTO</p><p>Este item corresponde a uma proposta</p><p>de reflexão que pode ser apresentada por</p><p>meio de uma frase, um trecho breve ou</p><p>uma pergunta.</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>Utilizado para aprofundar o</p><p>conhecimento em conteúdos</p><p>relevantes utilizando uma lingua-</p><p>gem audiovisual.</p><p>EM FOCO</p><p>Utilizado para agregar um con-</p><p>teúdo externo.</p><p>EU INDICO</p><p>Professores especialistas e con-</p><p>vidados, ampliando as discus-</p><p>sões sobre os temas por meio de</p><p>fantásticos podcasts.</p><p>PLAY NO CONHECIMENTO</p><p>PRODUTOS AUDIOVISUAIS</p><p>Os elementos abaixo possuem recursos</p><p>audiovisuais. Recursos de mídia dispo-</p><p>níveis no conteúdo digital do ambiente</p><p>virtual de aprendizagem.</p><p>4</p><p>181U N I D A D E 3</p><p>IMPOSIÇÕES DO TEMA NUMA DISSERTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182</p><p>EXERCÍCIOS DE LEITURAS FILOSÓFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208</p><p>EXERCÍCIO DE ANÁLISE FILOSÓFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228</p><p>7U N I D A D E 1</p><p>PRESSUPOSTOS DA LEITURA FILOSÓFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8</p><p>LER PARA EXPLICAR E COMENTAR OS TEXTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36</p><p>OS CENÁRIOS E OS CONCEITOS NOS TEXTOS FILOSÓFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . 58</p><p>83U N I D A D E 2</p><p>A TERCEIRA PESSOA NAS CENAS E OS CONCEITOS NOS TEXTOS FILOSÓFICOS . . . 84</p><p>FILOSOFIA COMO RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116</p><p>DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160</p><p>5</p><p>SUMÁRIO</p><p>UNIDADE 1</p><p>MINHAS METAS</p><p>PRESSUPOSTOS DA LEITURA</p><p>FILOSÓFICA</p><p>Apresentar os pressupostos elementares para fazer boa leitura de textos científicos.</p><p>Demonstrar como a leitura ultrapassa as fronteiras dos textos e da sala de aula em di-</p><p>reção ao mundo.</p><p>Esclarecer como podemos superar as dificuldades na compreensão dos textos filosóficos.</p><p>Explicitar os pressupostos de leituras para a explicação de textos filosóficos.</p><p>Demonstrar como podemos avançar das explicações para os comentários de textos</p><p>filosóficos.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 1</p><p>8</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudantes, bem-vindo(a) a este Tema de Aprendizagem!</p><p>Esperamos que seja uma jornada muito proveitosa de estudos. Ao iniciar</p><p>a leitura dos textos, já estará dentro deles, pois não é possível iniciar a leitura e</p><p>ficar fora dela. “Todo começo é difícil; isso vale para qualquer ciência” (MARX,</p><p>1978, p. 11). Por isso, partimos do começo da leitura, com o intuito de facilitar o</p><p>máximo possível este estudo e, aos poucos, como por degraus, ir avançando em</p><p>direção aos assuntos mais complexos de um texto filosófico.</p><p>Apresentaremos a leitura no sentido geral, desde a mecânica da leitura co-</p><p>mum até a leitura do mundo, destacando as dimensões de um texto e suas impli-</p><p>cações tanto nos aspectos de sua estrutura interna quanto nos aspectos externos.</p><p>Em seguida, apresentamos o educador Paulo Freire, demonstrando que estuda-</p><p>mos em todos os lugares, inclusive quando estamos trabalhando. Além disso,</p><p>trataremos da diferença entre disciplina e autodisciplina nos estudos de textos e</p><p>da importância do esforço pessoal para aprender.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>COMO LER UM TEXTO CIENTÍFICO?</p><p>UNIASSELVI</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>A leitura é um aprendizado para toda a vida e, uma vez desenvolvida, nunca</p><p>mais se esquece. O professor doutor José Carlos Bruni, da Universidade de São</p><p>Paulo (USP), preparou um texto para seus alunos, no ano de 2003, ainda muito</p><p>oportuno para este momento, e estamos o apresentando na íntegra. Contudo,</p><p>faremos algumas intervenções e observações, como se fossem uma espécie de</p><p>pausas na leitura para melhor compreendê-lo.</p><p>“ Aprende-se a mecânica de ler aos sete anos de idade. No entanto, a</p><p>leitura, concebida como instrumento de compreensão de uma ideia,</p><p>é processo bem mais complexo. Seu aprendizado não pode ser fixado</p><p>em uma idade determinada e o aprimoramento da técnica de leitura</p><p>é tarefa de toda uma vida. Vamos tratar, aqui, só de alguns aspectos</p><p>mais importantes dessa técnica e de modo extremamente esquemá-</p><p>tico. A leitura é exercida sobre um texto, nome genérico para toda</p><p>e qualquer porção de linguagem escrita. As dimensões do texto são</p><p>variáveis. Textos podem ser: uma obra inteira, com vários volumes;</p><p>um livro inteiro; uma parte de um livro, com vários capítulos; um</p><p>capítulo de um livro; às vezes, uma página apenas, mas de conteúdo</p><p>bastante rico. O texto científico, caracterizado por um certo rigor</p><p>de pensamento e expressão, uma certa ordem na concatenação das</p><p>ideias e pela demonstração das afirmações, comporta uma leitura</p><p>interna e uma análise externa. A leitura interna atém-se ao que o</p><p>texto diz explicitamente. A análise externa utiliza dados que não</p><p>aparecem no texto, mas que o explicam (BRUNI, [s. d.], p. 1).</p><p>Destacamos o aspecto do breve texto apresentado quando o estudioso diz que</p><p>aprendemos a ler durante toda a vida. Quando lemos, aperfeiçoamos a mecânica</p><p>da leitura. Outro aspecto que destacamos é o fato de o texto possuir duas estru-</p><p>turas, uma interna e outra externa, o texto e o contexto. Essas estruturas são os</p><p>aspectos que podem melhor explicar o texto. Avançamos um pouco mais sobre</p><p>esses aspectos.</p><p>A estrutura da leitura interna do texto</p><p>A leitura interna sempre deve intencionar buscar a ideia central do texto. Não</p><p>há texto sem ela. Essa ideia ainda não é o tema do texto, às vezes, o tema não</p><p>1</p><p>1</p><p>No trecho apresentado, chamamos a atenção</p><p>do(a) aluno(a) sobre a importância da ideia cen-</p><p>tral, das ideias secundárias e acessórias. Essas três</p><p>estruturas de um texto sempre devem estar em</p><p>mente ao ler para se estabelecer o diálogo neces-</p><p>A Leitura interna.</p><p>“A ideia básica. Ler é, fundamentalmente, o ato de apropriação da ideia central</p><p>do texto, isto é, da ideia principal, básica, que contém a essência do texto. Esse</p><p>deve ser o princípio norteador de toda leitura. Todos os outros princípios estão</p><p>subordinados a esse e devem contribuir para a sua realização. A ideia</p><p>de um texto, do início ao fim, parece ser algo complicado,</p><p>mas vai-se avançando aos poucos e, quando menos se espera, a análise acabou e o</p><p>texto foi desmembrado. Explicar um texto é uma tarefa relativamente fácil e praze-</p><p>rosa, porque é um ato de desdobramento e retirada</p><p>de informações e conhecimentos daquilo que está</p><p>posto em um determinado lugar delimitado. Além</p><p>disso, a explicação sempre vai em direção ao outro</p><p>e favorece o autoconhecimento.</p><p>A explicação sempre</p><p>vai em direção ao</p><p>outro e favorece o</p><p>autoconhecimento</p><p>PRIMEIRO</p><p>Separar o tema da tese do autor.</p><p>SEGUNDO</p><p>Identificar e destacar os movimentos e articulações da argumentação.</p><p>TERCEIRO</p><p>Destacar as noções filosóficas.</p><p>Quais são os tipos de leitura? A leitura racional, a sensorial e a emocional. A leitura</p><p>racional deve merecer a nossa atenção? Ela está na base de todas as outras? Sim.</p><p>Como articular o sensorial e o emocional nas leituras?</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>Foco Na Compreensão Do Texto</p><p>Para que uma explicação possa atrair a atenção de todos os envolvidos no pro-</p><p>cesso é necessário seguir alguns passos.</p><p>UNIASSELVI</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>Essas questões devem estar na mente do iniciante em filosofia para que faça</p><p>uma leitura objetiva e foque naquilo que interessa. Outro aspecto que merece</p><p>destaque é buscar as informações e conhecimentos de forma desarmada, sem</p><p>preconceitos com o texto, deixando o texto falar por si.</p><p>O primeiro aspecto, separar o tema da tese do autor, pressupõe que o iniciante</p><p>nos textos busque, de forma implacável, compreender o problema apresentado</p><p>pelo autor. Não há filosofia que não surge a partir de um problema, a filosofia</p><p>nada mais é do que uma atividade intelectual que busca a resolução de proble-</p><p>mas. Ao encontrar o problema central a ser resolvido, o passo seguinte é separar</p><p>o tema da tese defendida pelo autor. O comum deveria ser os dois coincidirem</p><p>ou se complementarem, mas nem sempre isso ocorre. A tese a ser desenvolvida</p><p>constitui a medula central do texto, o elemento que serve de comparação com</p><p>outros olhares e entendimento do mesmo problema.</p><p>O segundo aspecto é destacar os movimentos e articulações que dão o su-</p><p>porte argumentativo necessário para o desenvolvimento e a explicitação da tese</p><p>central. Todo o edifício argumentativo gira em torno da tentativa de provar a tese</p><p>central. O argumento é constituído por ideias que são logicamente organizadas e</p><p>relacionadas entre si com a finalidade de esclarecer a resolução de um determi-</p><p>nado problema ou sustentar uma tese. Nos argumentos, as ideias são organizadas</p><p>em forma de premissa, proposições ou frases para dar um sentido lógico, cujo</p><p>resultado final pode ser um raciocínio verdadeiro ou falso, válido ou inválido. O</p><p>raciocínio parte sempre do conhecido para chegar ao não conhecido ou partir do</p><p>que se sabe para chegar ao que não se sabe. Nos argumentos, são incluídos, além</p><p>de ideias, fatos ou acontecimentos, provas em forma de relatos com imagens,</p><p>figuras de linguagens entre outros, para convencer o leitor da sua tese em questão.</p><p>O terceiro e último aspecto, é destacar as noções filosóficas utilizadas no texto.</p><p>As noções são ideias aplicadas a uma situação em específico e com peculiarida-</p><p>des extremamente específicas. A noção é o esclarecimento do uso de uma ideia</p><p>num determinado caso. Um exemplo disto é a noção como uso em Voltaire</p><p>(1694-1778) nas Cartas Filosóficas e Tratado de Metafísica, apresentada por</p><p>uma iniciante em filosofia.</p><p>4</p><p>8</p><p>“ Nas Cartas Filosóficas, a razão é estreitamente ligada ao uso que se</p><p>faz dela – de modo que não é tanto saber o que ela seja que interessa,</p><p>mas saber como se deve usá-la. Este conhecimento é crucial, pois</p><p>interfere diretamente na vida humana: uma vez que os homens são</p><p>esclarecidos pela razão, são mais felizes. Portanto, quando se pensa</p><p>em “razão” não se pode perder de vista o fim a que ela se propõe. No</p><p>entanto, para entendermos o uso que os homens devem fazer da ra-</p><p>zão segundo Voltaire, é preciso entender primeiro a maneira como</p><p>ele pensa esses dois termos: “homem” e “razão”. Se no caso desta últi-</p><p>ma não chegaremos a uma definição completamente esclarecedora,</p><p>poderemos ao menos entender como nosso filósofo estrutura essa</p><p>noção e como ela se relaciona com a ideia de “homem”, e para tanto</p><p>recorreremos ao Tratado de Metafísica (MACHADO, 2015, p. 116).</p><p>A noção de razão em Voltaire ajuda a compreender como o emprego de uma</p><p>ideia se difere dos outros. A chave de leitura para uma interpretação próxima</p><p>daquilo que o pensador procurou explicitar é decisiva quando buscamos explicar</p><p>um texto. A chave de leitura interpretativa, nesse caso, sobre a noção de razão,</p><p>possibilita um olhar correto e diferente apresentado na solução de um problema</p><p>ou na explicitação da tese em questão.</p><p>Com essa explicação, o texto passa a ser explicado de forma clara, incluindo</p><p>o tema, a tese, os objetos em discussão e o uso das noções. A explicação de um</p><p>texto que é parte mais fácil de um estudo de texto, cumpre a sua missão, que é a</p><p>compreensão e do esclarecimento de um determinado pensador.</p><p>EU INDICO</p><p>20 Textos de Filosofia que podem ser lidos em 1 dia</p><p>Neste link, há um texto com orientações sobre como fazer leituras filosóficas, com</p><p>uma breve introdução de cada um dos textos. Os comentários são gerais, mas</p><p>oportunos para os iniciantes nos textos filosóficos. Clique aqui para acessá-lo!</p><p>Conteúdo de áudio/vídeo não patrocinado. Esse recurso utilizará seu pacote de dados</p><p>(ou Wi-Fi) para ser exibido.</p><p>UNIASSELVI</p><p>4</p><p>9</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=f2TNqT8_r38.</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>Sobre Comentar Um Texto</p><p>Uma vez compreendido e explicado o texto, o passo seguinte pode ser o comentar</p><p>o texto. O comentário de um texto não tem um padrão a ser seguido, assim como</p><p>uma explicação. O objetivo do comentário é muito diferente da explicação. Se a</p><p>explicação está a serviço do texto, o comentário interroga o seu autor. O comen-</p><p>tário pode fazer uso da erudição e da especulação. Neste sentido, o comentário</p><p>aparece como um exercício muito mais amplo e ambicioso. Contudo, tem os seus</p><p>limites traçados pelo contexto da história da filosofia. A história da filosofia é a</p><p>espinha dorsal da filosofia, dos sistemas filosóficos e das suas reflexões.</p><p>A história da filosofia vai balizando os comentários, mas com um olhar mais</p><p>refinado, mais agudo e muito preciso sobre o texto filosófico. O comentário pode</p><p>ter um grande alcance, desde avaliação no final de um período letivo até a in-</p><p>trodução de uma grande obra filosófica, além das atividades intelectuais em ar-</p><p>tigos e revistas para o público não especializado ou iniciado na filosofia, para os</p><p>chamados textos jornalísticos. Além do mais, o iniciante nos textos filosóficos,</p><p>sempre que for convocado a atender as curiosidades do público em geral, terá</p><p>informações que estão diante de alguém que vai ser especialista na filosofia.</p><p>O comentário é uma forma de dialogar com</p><p>o autor do texto. A visão do leitor sobre o texto é</p><p>resultado da sua reflexão pessoal sobre a tese e os</p><p>problemas enfrentados com o autor. Ao confrontá-</p><p>lo com outros autores, avança no aperfeiçoamento</p><p>da análise crítica. A análise leva necessariamente a questionar o que o autor disse</p><p>de verdadeiro. A cultura filosófica do iniciador nos textos filosóficos como comen-</p><p>tador é explicitada denunciando o grau de sua profundidade nas leituras. Com</p><p>isso, o exercício da especulação a partir de um texto-base possibilita fazer uso da</p><p>liberdade diante dos autores. Essa liberdade do iniciante nos textos constitui, em</p><p>sua essência, o bom uso da razão no desenvolvimento do seu entendimento.</p><p>O exercício especulativo desenvolvido nos comentários vai refinando o olhar crítico e</p><p>avança em direção do uso de uma metodologia própria com um cunho sistemático.</p><p>Essa metodologia possibilita ao iniciante criar uma forma de ir aperfeiçoando os</p><p>comentários na análise.</p><p>O comentário é uma</p><p>forma de dialogar</p><p>com o autor do texto</p><p>5</p><p>1</p><p>Alguns aspectos podem corroborar o exposto, primeiro,</p><p>porque não é possí-</p><p>vel comentar algo sem ter feito uma leitura capaz de explicar o texto e, segundo,</p><p>além de ir aos poucos saindo da ingenuidade, vai adquirindo uma boa postura</p><p>crítica, sendo capaz de identificar uma tese, um problema, as argumentações e</p><p>noções de conceitos fundamentais. Aos poucos, vai se livrando do risco de co-</p><p>mentar somente uma ideia, frase ou uma impressão superficial do texto e, assim,</p><p>agindo inadequadamente.</p><p>A construção de um comentário faz com que sejam ampliadas as modificações</p><p>de compreensão do texto. Diante disso, há, no mínimo dois problemas a serem en-</p><p>frentados: o primeiro é manter a ordem das operações no que se refere às noções</p><p>conceituais e aos argumentos fundamentais. O segundo é evitar uma justaposi-</p><p>ção entre as explicações e o comentário sobre o texto. Isso pode ser facilitado se</p><p>trabalhar com várias folhas ou colunas ao mesmo tempo do início até o final do</p><p>texto em questão. Na primeira coluna, coloque somente o que se refere à tese, ao</p><p>tema e às noções conceituais fundamentais e, na outra, as referências à obra, às</p><p>doutrinas e à história da filosofia. Uma terceira pode ser reservada somente aos</p><p>comentários para discussão e reflexões pessoais. Um exemplo disso na história da</p><p>filosofia é a obra de Santo Tomás de Aquino (1225-1274), a Suma Teológica</p><p>O comentário de texto sempre deve tomar cuidado para não fugir do tema, nem</p><p>deformar o assunto. Para evitar esse risco, procure sempre fazer um plano a ser</p><p>seguido tanto pelo autor quanto pelo leitor para que ambos não se percam. Para o</p><p>sucesso do plano, é importante preparar um esquema por colunas prevendo mais</p><p>ou menos a quantidade de espaços de acordo com a finalidade do trabalho, desde</p><p>uma dissertação até uma preparação para uma avaliação bimestral. Outro aspecto</p><p>para fazer um bom comentário é procurar os temas ou os motivos em forma de</p><p>problemas ou questões que possam ser transformados em títulos e, por fim, pro-</p><p>curar seguir a ordem e ir ajustando o plano ao conjunto do texto.</p><p>ZOOM NO CONHECIMENTO</p><p>Por fim, a introdução e a conclusão do comentário devem ajustar às necessi-</p><p>dades do comentário. A introdução já é o trabalho propriamente dito, conforme</p><p>já foi dito no início, visto que não é possível introduzir sem entrar no texto. Na</p><p>introdução, não pode faltar os elementos para atrair o leitor e, ao mesmo tempo,</p><p>apresentar o que será encontrado no interior. Já na conclusão, é aconselhável que</p><p>UNIASSELVI</p><p>5</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>faça uma retomada do assunto e faça um fechamento ou amarração das ideias</p><p>fundamentais. Na conclusão, deve aparecer os resultados da atividade que ora</p><p>está sendo finalizada.</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Você sabia que toda explicação de texto é uma atividade extremamente</p><p>limitada e delimitada, enquanto o comentário de um texto é um complemento</p><p>de uma explicação?</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Chegamos ao fim deste Tema de Aprendizagem!</p><p>Destacamos a importância das anotações, com o objetivo de atender às exi-</p><p>gências acadêmicas, que geralmente fazemos sob pressão do tempo, devido ao</p><p>fato de ser um estudo direcionado, orientado para uma disciplina em específico e</p><p>para atender aos critérios determinados pelos professores ou orientadores. Esses</p><p>registros podem ser feitos de várias maneiras, como o arquivo simples nos reda-</p><p>tores de textos e armazenados em HD (externo) como se fosse uma biblioteca</p><p>móvel, o mais seguro são as chamadas nuvens, com o Google Drive, Google Doc,</p><p>OneDrive entre outros.</p><p>Por fim, vimos as explicações e os comentários como algo inerente à atividade</p><p>filosófica. A explicação de um texto está intimamente ligada à leitura rigorosa, a</p><p>principal característica da leitura filosófica por excelência. Logo em seguida, veio</p><p>a construção de comentários que fazem com que as explicações sejam ampliadas</p><p>e possam modificar a compreensão de um texto ou sistema filosófico.</p><p>Estudante, neste tema, adquirimos bastantes conhecimentos, mas ainda há</p><p>muito que acrescentar, longe de pretender esgotar o assunto.</p><p>5</p><p>1</p><p>1. Sobre as dificuldades dos textos filosóficos, eles, efetivamente cumprem dois objetivos ao</p><p>mesmo tempo e não podem estar separados de forma nenhuma: primeiro, a iniciação à</p><p>filosofia propriamente dita; segundo, que não há conhecimentos filosóficos sem iniciação</p><p>à leitura de seus textos e com a retomada de pensamentos já produzidos na sua história.</p><p>Considerando a temática apresentada, analise as afirmativas a seguir:</p><p>I - Platão, no livro VII, da República, no mito da caverna, revela que a iniciação filosófica</p><p>pressupõe, portanto, um caminho longo e fácil.</p><p>II - Após percorrer um caminho em que a luz adquirida brilha com mais força, logo em</p><p>seguida, diante de novos questionamentos e novas informações, essa mesma luz vai se</p><p>ofuscando, exigindo novas luzes. Assim, a iniciação filosófica exige novos esforços para</p><p>a compreensão das coisas e, aos poucos, se afasta da ignorância.</p><p>III - Cada filosofia explicita as condições de sua possibilidade ou impossibilidade de sua</p><p>leitura, revelando um fenômeno abrangente para sair das contradições e nos coloca</p><p>num confronto filosófico perpétuo. O confronto do leitor com o filósofo constitui a luta</p><p>pela compreensão do texto.</p><p>IV - O iniciante na filosofia deve ter ciência dessas dificuldades para se tornar um andarilho</p><p>pelos textos filosóficos, sabendo que as alegrias proporcionadas pelo conhecimento com</p><p>muito esforço, mas, desde o início do caminho, deve ser um esforço organizado e crítico.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I.</p><p>d) Apenas II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>2. Sobre os textos filosóficos para iniciantes, em cada período da história da filosofia, os textos</p><p>apresentam dificuldades específicas daquele momento histórico, além do estilo e da forma</p><p>de reflexão exteriorizada do pensamento dos pensadores. O processo de escolha dos textos</p><p>filosóficos para os iniciantes deve ser feita em forma espiral, ou seja, não podemos começar</p><p>com um livro extremamente difícil. Diante disso, marque a alternativa correta:</p><p>a) A Crítica da razão pura, de Kant, e Enciclopédia das ciências filosóficas, de Hegel são</p><p>considerados textos super fáceis, indicados para iniciantes na filosofia.</p><p>b) Os textos considerados extremamente complexos são: Fundamentos da metafísica dos</p><p>costumes, de Kant, e as Lições sobre a estética, de Hegel.</p><p>c) Quanto à filosofia antiga, é mais aconselhável começar com o livro República, de Platão,</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>5</p><p>1</p><p>do que com livro de Parmênides, do mesmo autor.</p><p>d) Devemos demorar muito nos textos considerados de menor dificuldade. Os textos mais</p><p>difíceis não devem ser enfrentados somente no último ano.</p><p>e) Os prefácios e as introduções não constituem uma filosofia propriamente dita, visto que</p><p>é possível introduzir e ficar de fora do texto. A forma de leitura em espiral é uma estra-</p><p>tégia que significa avançar e retomar, reler e reler de forma progressiva, avançando na</p><p>compreensão do pensamento dos mais simples aos mais complexos.</p><p>3. Sobre a leitura explicativa de textos filosóficos, o leitor deve ter presente em suas intenções</p><p>que a explicação é inerente à atividade de leitura. A explicação de um texto está longe</p><p>de ser difícil. Ela nada mais é do que um exercício entre os outros, podendo ser o melhor</p><p>caminho para chegar à reflexão filosófica. Considerando a temática apresentada, analise</p><p>as afirmativas a seguir:</p><p>I - A explicação nas universidades cumpre uma função secundária, que são as avaliações. Ao</p><p>mesmo tempo em que ela é um teste, é um alimento. Antes de explicar ou dissertar, é ne-</p><p>cessário saber o que realmente os filósofos disseram, porque disseram e como disseram.</p><p>II - Não há distância entre a dissertação e a explicação. A dissertação trata-se de um tema, já</p><p>a explicação é sobre um texto em específico. Para a explicação, é necessário se apoderar</p><p>do tema do texto em sua totalidade.</p><p>III - Toda explicação de texto é uma atividade extremamente ilimitada e não delimitada. Há</p><p>dois elementos que devem levar em consideração</p><p>numa explicação. O primeiro elemen-</p><p>to se refere à erudição relacionada ao contexto analisado. O segundo elemento trata de</p><p>situar o texto na obra do autor e fazê-los dialogar.</p><p>IV - Um aspecto importante é procurar atender somente subjetivamente ao que foi solici-</p><p>tado. Alguns cuidados devem ser tomados na explicação do texto. O primeiro é fugir da</p><p>paráfrase, considerado o maior pecado dos iniciantes.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I está correta.</p><p>d) Apenas II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>5</p><p>4</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>FOLSCHEID, D. Metodologia filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 2002.</p><p>MACHADO, L. A noção de razão nas Cartas Filosóficas de Voltaire. Revista Filogene-</p><p>se, Marília, v. 8, p. 105-116, 2015. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/</p><p>RevistasEletronicas/FILOGENESE/9_laismachado.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019.</p><p>PLATÃO. A República. São Paulo: Abril Cultural, 1978.</p><p>VIEIRA, P. A. Obra completa: tomos - I epistolografia, II parenética, III profética, IV vária. Direção</p><p>de José Eduardo Franco; Pedro Calafate. São Paulo: Loyola, 2015. 30 v.</p><p>5</p><p>5</p><p>https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/9_laismachado.pdf</p><p>https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/9_laismachado.pdf</p><p>1. D.</p><p>2. C.</p><p>3. C.</p><p>GABARITO</p><p>5</p><p>1</p><p>MINHAS ANOTAÇÕES</p><p>5</p><p>1</p><p>MINHAS METAS</p><p>OS CENÁRIOS E OS CONCEITOS</p><p>NOS TEXTOS FILOSÓFICOS</p><p>Explicitar os elementos que compõem o cenário dos textos filosóficos.</p><p>Perceber os vários cenários para sujeitos e destinatários dos textos filosóficos.</p><p>Compreender os problemas de precisão e rigor dos conceitos na Filosofia.</p><p>Demonstrar como acontece a construção dos conceitos, dos sentidos e das definições</p><p>nos textos e suas implicações.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 3</p><p>5</p><p>8</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudantes, bem-vindo(a)!</p><p>Apresentaremos os cenários dos textos filosóficos e, ao mesmo tempo, opor-</p><p>tunizaremos algumas ferramentas para compreender os textos. Para compreen-</p><p>dermos um texto filosófico, é necessário identificar, no cenário, as polifonias,</p><p>no sentido criado pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975). O termo</p><p>polifonia representa a multiplicidade de vozes presentes nos textos.</p><p>A constituição dele acontece, via de regra, pelo pronome pessoal em primeira,</p><p>segunda e terceira pessoas ou pelas determinações conceituais (primeira e tercei-</p><p>ra pessoas de forma universal, mas disfarçada) de escolas filosóficas. Essas vozes</p><p>não se anulam, pelo contrário, complementam-se no texto, mas o texto fica com</p><p>aparência de confuso ou complexo. O texto pode ser considerado por muitos</p><p>como confuso ou complexo, porque o leitor ou o iniciante na leitura filosófica</p><p>não identifica o papel que cada uma das vozes desempenha naquele cenário.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>O SUJEITO NAS CENAS DOS TEXTOS</p><p>UNIASSELVI</p><p>5</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>Em qualquer texto, inclusive, nos filosóficos, aparecem os cenários em que os</p><p>sujeitos desempenham determinados papéis, quer seja na primeira, quer seja</p><p>segunda, quer seja na terceira pessoa, quer seja de forma oculta. O nosso objetivo</p><p>aqui é explicitar tais papéis para melhor compreender os textos filosóficos.</p><p>Primeira modificação do sujeito</p><p>A leitura de um texto tem como base a compreensão intuitiva das relações esta-</p><p>belecidas pelas pessoas. Os modos de determinação do locutor ou dos destina-</p><p>tários são apresentados de várias formas. Elas se modificam na medida em que</p><p>o texto se desenvolve ou a análise avança. Por exemplo, um leitor determinado,</p><p>como uma espécie de representante de opinião, mesmo que, aparentemente,</p><p>distante, pode ser aquele em que o discurso é dirigido como um adversário ou</p><p>um discípulo. Essas variantes, às vezes, confunde o iniciante nos textos filosóficos,</p><p>apresentando a reflexão do pensador como algo difícil de se acompanhar.</p><p>As reviravoltas no texto, geralmente, são</p><p>intencionadas. Em um texto de filosofia, nada</p><p>ocorre por acaso ou por falta de atenção, princi-</p><p>palmente quando se refere aos interlocutores na</p><p>reflexão filosófica. Os textos filosóficos têm como</p><p>uma das suas características nos enunciados buscar a impessoalidade e a univer-</p><p>salidade nas suas vozes. Por outro lado, numerosos textos colocam como um dos</p><p>integrantes do seu cenário a primeira pessoa, mas essa função permanece com</p><p>muita frequência ausente. Contudo, o centro do cenário principal está na fala</p><p>em busca da verdade, o discurso, aparentemente, sem sujeito, e um enunciador</p><p>universal passa ser frequente.</p><p>O autor, nesse cenário, produz uma reflexão sobre a dependência de um su-</p><p>jeito que assume a responsabilidade, mas o fato de ele estar sob uma aparência</p><p>de ausência, o anonimato, e as incertezas da autoria fazem com que as correla-</p><p>ções entre o leitor e a voz pareçam estranhas, gerando uma aparente confusão.</p><p>A posição de referência dos enunciados apresenta determinadas marcas pelas</p><p>quais o processo da leitura e o papel desempenhado pelo leitor são definidos na</p><p>reflexão filosófica pelo pensador. Essas marcas, necessárias na compreensão do</p><p>texto, passam despercebidas pelo leitor. As marcas são pontos de associações</p><p>Em um texto de</p><p>filosofia nada ocorre</p><p>por acaso</p><p>1</p><p>1</p><p>da reflexão que possibilitam ao leitor dar forma ao seu entendimento, seja ele o</p><p>destinatário, seja o adversário a ser convencido.</p><p>O sujeito na primeira pessoa e a subjetividade em uma língua sempre de-</p><p>finirão o enunciado como um funcionamento na medida de sua utilização. A</p><p>linguagem coloca cada locutor como sujeito de primeira pessoa, que, por sua</p><p>vez, remete a si próprio com o eu do discurso.</p><p>“ A relação entre pronomes pessoais é caracterizada por uma dissime-</p><p>tria interna entre primeira e segunda pessoa chamada “correlação de</p><p>subjetividade”. “Nas duas primeiras pessoas há, ao mesmo tempo, uma</p><p>pessoa implicada e um discurso sobre essa pessoa […] em segunda</p><p>pessoa; “tu” é necessariamente designado por “e” e não pode ser pen-</p><p>sado fora da relação colocada a partir do “eu”. - Mas as duas primeiras</p><p>estão unidas por uma “uma correlação de personalidade”, visto que</p><p>elas se opõem à terceira: “a forma dita de terceira pessoa comporta</p><p>uma indicação de enunciado sobre alguém ou alguma coisa, mas não</p><p>dirigida a uma pessoa específica (COSSUTTA, 2001, p. 13).</p><p>Compreendem-se as simetrias ou assimetrias dispostas na organização do</p><p>texto a partir de um outro ponto de vista, quando fazemos uma unificação das</p><p>partes. E, também, ao delimitar os espaços ocupados no interior da interlocução</p><p>e conferir à sequência textual com os advérbios, adjetivos, pronomes etc. Para</p><p>ler e explicar um texto, pressupõe-se uma compreensão intuitiva das relações</p><p>desempenhadas pelas pessoas e as suas funções, de acordo com as regras da</p><p>linguagem e as intencionalidades do autor identificadas na descrição do cenário.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>Em toda a unidade de um texto, de modo específico, o filosófico, devem estar</p><p>presentes e de modo explícito, a coerência textual interna e a possibilidade de se</p><p>construir um sentido na produção textual, uma referência a um sujeito de um</p><p>lado e, do outro lado, a possibilidade de um ponto de fuga do mesmo sujeito. Cabe</p><p>ao leitor fazer a interpretação do texto seguindo as linhas diretivas. O autor, às</p><p>vezes, tenta apagar os rastros da construção do sentido, da reflexão, como se esse</p><p>sentido fosse uma criação absolutamente autônoma, algo que surgiu de uma espé-</p><p>cie de impossibilidade. Por isso, o autor trava de uma verdadeira luta textual com</p><p>os chamados “conteúdos/argumentos” para tentar alcançar o ponto de fuga.</p><p>Primeira pessoa quase invisível</p><p>Descrição: trata-se de uma imagem de um selo postal, em que aparece um homem de cabelos ondulados, de pele</p><p>clara, sobre um fundo avermelhado.</p><p>Figura 1- Filósofo Hegel</p><p>1</p><p>1</p><p>Essa luta textual para “esconder” o sujeito é possível, devido ao significado</p><p>e às dimensões de um sujeito e um predicado. A natureza do conceito de sujeito e</p><p>do predicado possui elementos da universalidade,</p><p>particularidade e singularida-</p><p>de. O filósofo Georg Friedrich Wilhelm Hegel, nascido em 1770, em Stuttgart,</p><p>na Alemanha, em sua obra Enciclopédia das Ciências Filosóficas, desenvolve</p><p>um capítulo somente sobre este aspecto.</p><p>“ O conceito como tal contém os momentos da universalidade, en-</p><p>quanto livre igualdade consigo mesma em sua determinidade; da</p><p>particularidade, da determinidade em que permanece o universal</p><p>inalteradamente igual a si mesmo; e da singularidade, enquanto</p><p>reflexão-sobre-si das determinidades da universalidade e da parti-</p><p>cularidade; a qual a unidade negativa consigo e o determinado em</p><p>si e para si, e ao mesmo tempo o idêntico consigo ou o universal.</p><p>[…] No juízo abstrato: “o singular é o universal”, o sujeito, enquanto</p><p>é o que consigo se relaciona negativamente, é o imediatamente con-</p><p>creto; ao contrário, o predicado e o abstrato, o indeterminado, o</p><p>universal. Mas, já que estão ligados por “é”, deve também o predi-</p><p>cado do conter, em sua universalidade, a determinidade do sujeito;</p><p>e desse modo ela é particularidade, a qual é a identidade posta do</p><p>sujeito e do predicado; enquanto, pois ela é algo indiferente a essa</p><p>diferença de forma, é o conteúdo. Só no predicado o sujeito tem</p><p>determinidade expressa e conteúdo; por esse motivo, é para si uma</p><p>simples representação ou um nome vazio. Nos juízos: “Deus é o</p><p>mais real [dos seres]“ etc., “O absoluto é idêntico consigo mesmo”</p><p>etc., Deus, o absoluto são um mero nome; o que o sujeito é, diz-se</p><p>no predicado somente. Não interessa esse juízo o que além disso</p><p>possa ser algo concreto (HEGEL, 1995, p. 304).</p><p>As afirmações de Hegel revelam-nos que, por</p><p>mais que as reflexões busquem uma unidade e</p><p>tentem apagar marcas do sujeito na primeira pes-</p><p>soa, sempre haverá pistas que o intérprete pode</p><p>encontrar no próprio texto. Quando ele afirma</p><p>Sempre haverá pistas</p><p>que o intérprete</p><p>pode encontrar no</p><p>próprio texto</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>que o singular é universal e, na universalidade, há conexão com a particularidade,</p><p>o sujeito está relacionado ao concreto, e o predicado contém a universalidade e a</p><p>determinidade do sujeito e vice-versa. Portanto, todas as marcas são impossíveis</p><p>de serem apagadas. Somente o leitor iniciante tem dificuldades em detectar.</p><p>A luta para tentar apagar o sujeito é possível porque podemos separar o enun-</p><p>ciado do seu contexto histórico, político, social, cultural entre outros. A força</p><p>assertiva de um enunciado veiculado a uma tese ou argumento, relacionando</p><p>um questionamento implícito (o que é sujeito/objeto? Ou uma afirmação etique-</p><p>tada, que pode não fazer sentido retirado de um outro contexto, por exemplo, a</p><p>eternidade temporal aumentaria o prazer que nos proporciona o tempo da eter-</p><p>nidade?) para comunicar uma certeza, confirma, de fato, a presença ou ausência</p><p>do locutor no enunciado.</p><p>“ Mas, mesmo que imaginássemos os enunciados flutuando livre-</p><p>mente fora de qualquer contexto e de qualquer referência, ainda</p><p>seria possível reconstituir indiretamente o rastro de um processo</p><p>enunciativo, graças a certos elementos do conteúdo proposicional :</p><p>o estilo impessoal da frase de Epicuro significa o homem em geral, e</p><p>eu, enquanto leitor, pertenço à extensão dessa classe, assim como o</p><p>locutor que está na origem do enunciado; do mesmo modo, o “em</p><p>si” de Hegel supõe o movimento correlativo do “para nós”. Portanto,</p><p>é a referência universal veiculada pelos conteúdos ou colocada por</p><p>um quantificador que introduz obliquamente aquele que devería-</p><p>mos chamar de enunciador universal, uma vez que ele não desig-</p><p>na somente aquele a quem remete o nome próprio, mas todo leitor</p><p>singular, e portanto todo leitor em geral (COSSUTTA, 2001, p. 16).</p><p>Diante disso, percebemos que tornar o sujeito de primeira pessoa visível ou</p><p>invisível é facultativo do pensador. A tentativa de tornar o sujeito visível ou não</p><p>passa a ser um jogo curioso na cena filosófica para forçar o leitor a acompanhar</p><p>atentamente a reflexão produzida pelo autor do texto. Contudo, esse jogo de es-</p><p>conder/mostrar não é gratuito, é um ato intencional no desejo de fazer com que</p><p>o interlocutor seja convencido de sua tese ou para excluir posições contrárias.</p><p>1</p><p>4</p><p>Sujeito de primeira pessoa como universal</p><p>Descrição: trata-se de uma ilustração que apresenta um homem com cabelos ondulados, barbas cheias, trajando</p><p>uma túnica, presa por um broche no ombro.</p><p>Figura 2 - Filósofo Aristóteles / Fonte: shutterstock</p><p>Nos textos filosóficos, em sua maior parte, a tentativa de apagar o sujeito de</p><p>primeira pessoa não é total, mesmo naqueles textos que buscam objetividade e</p><p>rigor em suas análises. É comum encontrarmos regimes mistos que conjugam</p><p>o sujeito com enunciador universal e o sujeito de referência com a função co-</p><p>mum designada pelo autor. A forma segura de acompanharmos a construção</p><p>da reflexão é o texto. Seguindo os enunciados do texto, percebemos a imagem</p><p>de uma presença que garante o controle do discurso. O sujeito, com a sua fun-</p><p>ção universalizante, aparece, num primeiro momento, como uma espécie de</p><p>antecena, como se fosse a primeira, em seguida, de forma mais articulada a uma</p><p>segunda cena. Tudo isso construído como se fosse um pano de fundo. A coesão</p><p>e o desenvolvimento do texto passam a garantir o jogo desejado.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>A clareza do sujeito, por exemplo, como o “nós”, “preferimos”, “elas nos dão</p><p>prazer”, aos poucos, com o uso em terceira pessoa, vai construindo referências no</p><p>sentido de fazer com que a reflexão se desenrole, tendo, como pano de fundo, os</p><p>conteúdos, os argumentos. Com isso, a função do sujeito começa a sofrer varia-</p><p>ções na presença do intérprete. A terceira pessoa passa a ser uma espécie de sujei-</p><p>to que enuncia as proposições como se fosse universal. Aristóteles é considerado</p><p>o primeiro historiador da filosofia, ou seja, é uma referência importante para</p><p>os seus seguidores, os adversários e os demais filósofos que surgiram depois dele.</p><p>As variações do sujeito, nos textos de muitos filósofos, é algo que ocorre com</p><p>muita frequência. Por exemplo, René Descartes, nascido em Haia, em 1596,</p><p>logo no início de Meditações, destinado a leitores cultos e doutores de sua época,</p><p>começa na primeira pessoa e vai variando para a terceira pessoa.</p><p>Vejamos isto com o exemplo de Aristóteles, nascido em 384 a.C., filho de Nicôma-</p><p>co, médico do rei Felipe da Macedônia. Nas primeiras linhas do livro Metafísica, os</p><p>leitores são conduzidos à problemática a ser enfrentada no decorrer da sua análi-</p><p>se sobre o ser enquanto ser. O sujeito em questão aparece claramente no começo,</p><p>mas, no decorrer do texto, a clareza vai diminuindo.</p><p>Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o</p><p>prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si</p><p>mesmas e, mais que todas as outras, as visuais. Com efeito, não só para agir,</p><p>mas até quando não nos propomos operar coisa alguma, preferimos, por as-</p><p>sim dizer, a vista aos demais. A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que</p><p>melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre. Por nature-</p><p>za, seguramente, os animais são dotados de sensação, mas, uns, da sensação</p><p>não gera a memória, e noutros, gera-se. Por isso, estes são mais inteligentes</p><p>e mais aptos para aprender do que os que são incapazes de recordar. Inteli-</p><p>gentes, pois, mas sem possibilidade de aprender, são todos os que não podem</p><p>captar os sons, como as abelhas, e qualquer outra espécie parecida de ani-</p><p>mais. Pelo contrário, têm faculdade de aprender todos os seres que, além da</p><p>memória, são providos também deste sentido. Os outros [animais] vivem por-</p><p>tanto de imagens e recordações, e de experiência pouco possuem. Mas a es-</p><p>pécie humana [vive] também de arte e raciocínios (ARISTÓTELES, 1979, § 1, p. 11)</p><p>APROFUNDANDO</p><p>1</p><p>1</p><p>“ Na primeira, adianto as razões pelas quais podemos duvidar geral-</p><p>mente de todas as coisas, e particularmente das coisas materiais,</p><p>pelo menos enquanto não tivermos outros fundamentos</p><p>nas ciên-</p><p>cias além dos que tivemos até o presente. Ora, se bem que a utilidade</p><p>de uma dúvida tão geral não se revele desde o início, ela é, todavia,</p><p>nisso muito grande, porque nos liberta de toda sorte de prejuízos e</p><p>nos prepara um caminho muito fácil para acostumar nosso espírito</p><p>a desligar-se dos sentidos, e, enfim, naquilo que torna impossível</p><p>que possamos ser qualquer dúvida quanto ao que descobriremos,</p><p>depois, ser verdadeiro (DESCARTES,1980, p. 79).</p><p>Ao utilizar, no texto, o sujeito enunciador com função de autor (eu) e o sujeito</p><p>enunciador universal (nós), Descartes (1980) apresenta, no primeiro sujeito, uma</p><p>circunstância especial de Meditações, referindo-se a ele mesmo, e, no segundo,</p><p>o sujeito enunciador universal para que o leitor possa se reapropriar do percurso</p><p>realizado por ele nas suas reflexões no interior do texto. Com isso, fazendo a pas-</p><p>sagem de um sujeito para o outro, Descartes (1980) faz o leitor transpor-se para</p><p>o campo de análise, ou seja, para os conteúdos apresentados de forma lógica. O</p><p>leitor passa a ser um participante nas reflexões produzidas por ele.</p><p>O texto pode ser considerado, por muitos, como confuso ou complexo porque</p><p>o leitor não identifica o papel que cada uma das vozes desempenha no cenário.</p><p>Existe uma luta do autor para esconder o sujeito no texto, e há variações no uso do</p><p>sujeito no interior de muitos textos filosóficos.</p><p>ZOOM NO CONHECIMENTO</p><p>VARIAÇÕES DOS SUJEITOS E DESTINATÁRIOS</p><p>As mudanças de posição do destinatário no enunciado filosófico acontecem com</p><p>certa frequência. Muda-se, também, a cena e, ao mesmo tempo, favorece uma nova</p><p>configuração. Com a mudança de cena no texto, devido à variação dos destinatá-</p><p>rios, aparece a dualidade tanto da primeira, quanto da segunda pessoa. Observe-</p><p>mos isso de forma atenta para fazer as identificações necessárias no texto filosófico.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>Cena 1 - Variações dos sujeitos</p><p>O filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), no livro O Ser e o Nada, no</p><p>capítulo sobre a má-fé, faz uso das variações dos sujeitos e destinatários como</p><p>um elemento importante na estruturação do seu pensamento em quase todos os</p><p>seus textos, quer sejam cartas, artigos, quer sejam livros. O destinatário funciona</p><p>como um mediador entre o pensador e ele mesmo, de um lado, e, do outro, entre</p><p>o pensador e uma espécie de comunidade ampla. Portanto, o destinatário não</p><p>constitui um agente passivo das reflexões construídas pelo pensador. Isso se torna</p><p>mais explícito num diálogo, forma clássica na filosofia desde os seus primórdios</p><p>na Grécia Antiga.</p><p>Na cena a seguir, observe as variações dos sujeitos na narrativa, que apresenta,</p><p>num primeiro momento, um relato de forma impessoal, em seguida, passa ter</p><p>uma identificação do autor com o objeto descrito e o cenário como pano de</p><p>fundo. No terceiro momento, Sartre coloca-se e nos coloca como um sujeito</p><p>universal, como se fosse o garçom. As variantes, nesse caso, ganham configura-</p><p>ções que facilmente o leitor iniciante pode acompanhar com certa clareza, mas,</p><p>ao mesmo tempo, a reflexão apresenta-nos situações com extrema complexidade,</p><p>por causa das mudanças dos sujeitos na narrativa. Em O Ser e o Nada, Sartre</p><p>apresenta-nos a famosa cena do garçom, que nos ajuda a compreender melhor.</p><p>1</p><p>8</p><p>“ Vejamos esse garçom. Tem gestos vivos e marcados, um tanto preci-</p><p>so demais, um pouco rápidos demais, e se inclina com presteza algo</p><p>excessiva. Sua voz e seus olhos exprimem interesse talvez demasiado</p><p>solícito pelo pedido do freguês. Afinal volta-se, tentando imitar o rigor</p><p>inflexível de sabe-se lá que autômato, segurando a bandeja com uma</p><p>espécie de temeridade de funâmbulo, mantendo-a em equilíbrio per-</p><p>petuamente instável, perpetuamente interrompido e da mão. Contudo</p><p>parece uma brincadeira. […] Porém, precisamente, se represento, já que</p><p>não sou: acho-me separado da condição tal como o objeto do sujeito</p><p>– separado por nada, mas um nada dela me isola, me impede de sê-la,</p><p>me permite apenas julgar sê-la, ou seja, imaginar que a sou. […] Por</p><p>mais que cumpra as funções de garçom, só posso ser garçom de forma</p><p>neutralizada, como um ator interpreta Hamlet, fazendo mecanicamente</p><p>gestos típicos de meu estado e vendo-me como garçom imaginário atra-</p><p>vés desse gestual tomado como “analogon”. Tendo realizar o ser-Em-si</p><p>do garçom, como se não tivesse justamente em meu poder conferir a</p><p>meus deveres e direitos de estado seu valor e urgência, nem fosse de</p><p>minha livre escolha levantar toda manhã às cinco ou continuar deitado,</p><p>com risco de ser despedido do emprego (SARTRE, 1997, p. 106).</p><p>A narrativa de Sartre (1997) faz com que o leitor veja o cenário com algumas</p><p>variações. No primeiro momento, acontece uma descrição normal e impessoal</p><p>do personagem garçom e, no segundo, coloca-se como autor, no cenário, como</p><p>se fosse o garçom, ao mesmo tempo, envolvendo-se com as situações ali narradas.</p><p>Num terceiro momento, aparece a representação como um nada, como uma re-</p><p>presentação, como se fosse um personagem que não é real, somente como fosse</p><p>um papel a representar por ser separado por um nada, ou seja, algo que não é.</p><p>O destinatário não é somente um objetivo em si da mensagem emitida pelo autor</p><p>do texto ou um mediador, mas sim aquele que oferece resistência no processo de</p><p>convencimento. A resistência vai desde a incompreensão dos preconceitos até a</p><p>oposição à tese defendida pelo autor. Diante disso, faz-se necessário que, na escrita,</p><p>seja introduzido um ponto de vista com uma estratégia discursiva que, não só serve</p><p>de meio para a explicação, mas para transformar, de modo geral, em argumentos</p><p>filosóficos. O papel atribuído ao destinatário é fundamental na recepção do texto</p><p>pela cena social em que se inscreve.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>Na primeira pessoa, mesmo com a ausência de marcas explícitas, fica as-</p><p>segurada, diante do destinatário, a sua função na reflexão, buscando os funda-</p><p>mentos na verdadeira razão. Quando a destinação não está explícita, busca-se</p><p>um destinatário universal. Às vezes, o destinador universal confunde-se com o</p><p>enunciador universal e o leitor, mas as pistas deixadas pelo autor possibilita que</p><p>o leitor perceba de forma indireta ou no cenário.</p><p>Nietzsche: a fábula ocidental e os cenários filosóficos</p><p>Sinopse: a professora Yolanda Gloria Gamboa Munhoz lançou</p><p>pela Editora Paulus: “Nietzsche a fábula ocidental e os cenários</p><p>filosóficos”. A conversa com a professora Glória ocorreu no dia</p><p>19 de novembro de 2014 sobre o seu livro e a sua produção</p><p>intelectual.</p><p>INDICAÇÃO DE LIVRO</p><p>Cena 1 - Variações dos destinatários</p><p>Individualmente, os textos gerenciam, de maneira original e rigorosa, as posi-</p><p>ções dos destinatários, mas, ao observarmos a trajetória e os esquemas utilizados</p><p>pelos autores, formam uma espécie de cânones na enunciação filosófica. Com</p><p>isso, as doutrinas filosóficas, em forma de exposição objetiva, que privilegiam</p><p>os enunciados universais, acabam interferindo, de certa maneira, na pontua-</p><p>ção e na orientação do leitor para a validação dos destinatários no processo de</p><p>comunicação. Os textos acabam fazendo uma transformação na estruturação e,</p><p>consequentemente, no sentido.</p><p>Quando acontece a mudança de posição do destinatário no enunciado fi-</p><p>losófico, muda-se também a cena e, ao mesmo tempo, favorece-se uma nova</p><p>configuração. Com a mudança de cena no texto, devido à variação dos destina-</p><p>tários, aparece a dualidade tanto da primeira quanto da segunda pessoa. Isso fica</p><p>mais visível em cartas e diálogos filosóficos nos textos. Vejamos mais um exemplo</p><p>da filosofia de Descartes, numa carta endereçada A Chanut, em primeiro de</p><p>fevereiro de 1647.</p><p>1</p><p>1</p><p>“ Senhor, a amável carta que acabo de receber de vossa parte não</p><p>me permite repousar enquanto não lhe houver dado resposta; e,</p><p>embora proponha nela questões que outros mais eruditos do que</p><p>teriam muito trabalho para examinar em pouco tempo, todavia,</p><p>porque sei que, mesmo se eu empregasse muito tempo nisso, não</p><p>poderia resolvê-las inteiramente,</p><p>prefiro pôr prontamente sobre</p><p>o papel aquilo que o zelo, que me incita, me ditará do que pensar</p><p>com mais vagar e não escrever em seguida nada melhor. Quereis</p><p>saber minha opinião no tocante a três coisas: 1 – que é o amor?;</p><p>2 – se só a luz natural nos ensina a amar a Deus?; 3 – qual dos</p><p>dois desregramentos e maus usos é pior, o do amor ou o do ódio?</p><p>Para responder ao primeiro ponto, distingo entre o amor que é</p><p>puramente intelectual ou racional e o que é uma paixão. O pri-</p><p>meiro consiste, parece-me, apenas em que, quando nossa alma</p><p>percebe algum bem, seja presente, seja ausente, que julga lhe ser</p><p>conveniente, ela se lhe junta voluntariamente, isto é, considera-se</p><p>a si própria, com este bem, qual um todo, de que ele é uma parte</p><p>e ela a outra (DESCARTES, 1979, p. 317).</p><p>Nesse pequeno fragmento da carta, aparecem as variações de destinatários,</p><p>como o “eu”, “lhes”, “alma”, e, assim, vai mudando o cenário. Aparece a dualida-</p><p>de enunciativa verdadeira e o interesse na correspondência vai se concretizando</p><p>na carta. A resposta segue a mesma lógica interna presente na estrutura da filo-</p><p>sofia na obra produzida por Descartes (1979), em outros escritos. Identificando</p><p>as cenas a partir dos destinatários, o leitor encontra a resposta que desejava,</p><p>podendo concordar, ou não, com os argumentos no texto.</p><p>Após a identificação do cenário, o leitor começa a fazer as conexões a partir</p><p>das reflexões do autor em forma de implicações nas cartas, como exortação e os</p><p>avisos finais. O desenrolar do pensamento, no texto, acontece com a liberdade.</p><p>O ato de escrever se realiza de forma plena e, em uma conversa, faz com que o</p><p>leitor se apoie com familiaridade nos conceitos. Na carta, a personalidade do</p><p>autor fica mais explícita, diferente de um livro em que os cenários possibilitam</p><p>esconder-se ou se revelar menos. Contudo, a polêmica passa a ser evidenciada</p><p>com mais facilidade.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>Cena 1 - Variações de cenários</p><p>Ao optar pelas cartas, o autor revela uma cena filosófica que ele tem em mente e se</p><p>apoia no destinatário como outra forma de argumentação. A argumentação, na</p><p>carta, acontece em um cenário diferente: pode ser combinando um pensamento</p><p>mais denso e argumentativo e as digressões ou o tom da confidência. Contudo, a</p><p>presença do outro ou o destinatário passa a ser anexado. Há a perda da autonomia</p><p>do sujeito, enquanto, em outras formas, os argumentos desenrolam-se de forma</p><p>mais discursiva em que a unidade do espaço é mais controlado.</p><p>O diálogo é estabelecido entre um eu e o outro, mas, em determinados textos,</p><p>o autor abre mão do seu eu ou do seu ponto de vista em prol de um personagem</p><p>fictício que o representa (como Sócrates, na maioria dos textos de Platão). Platão,</p><p>no livro I de a República, cujo tema central é a questão da justiça, dá-nos uma</p><p>noção do diálogo clássico nos textos filosóficos.</p><p>1</p><p>1</p><p>Sócrates – Como vês, justiça não significa ser sincero e devolver o se tomou.</p><p>Polemarco – Eu digo que sim, Sócrates, pelo menos se acreditarmos em Simônides.</p><p>Céfalo – Deixo-vos com este assunto, visto que preciso ir terminar o sacrifício. […]</p><p>Polemarco – Que é justo devolver aquilo que devemos. Julgo ser esta asserção</p><p>correta.</p><p>Sócrates – Evidentemente, é impossível não dar razão a Simônides, homem sábio</p><p>e divino. Não obstante tu, Polemarco, deves saber o significado do que ele diz, ao</p><p>que ele diz, ao passo que eu o ignoro. Está claro que Simônides não se expressou</p><p>a respeito do que falávamos, sobre restituir a uma pessoa algo do qual nos foi</p><p>confiada a guarda, sendo que essa pessoa veio a perder a razão. Contudo, devemos</p><p>ou não restituir um objeto do qual foi-nos confiada a guarda?</p><p>Polemarco – Claro que devemos.</p><p>Sócrates – Mas de forma alguma deve ser restituído se quem o reclamar tiver</p><p>perdido a razão?</p><p>Polemarco – Com certeza.</p><p>Sócrates – Então, parece-me que Simônides quer dizer outra coisa quando afirma</p><p>ser justo que restituímos o que devemos.</p><p>Polemarco – Certamente que se trata de outra coisa, por Zeus! Na opinião dele,</p><p>deve-se fazer sempre o bem aos amigos, nunca mal (PLATÃO, 1997, p. 11).</p><p>Apesar de, no fragmento apresentado, todos os personagens fictícios esta-</p><p>rem no diálogo, o autor cria um cenário em que eles, mesmo sendo pessoas</p><p>que, historicamente, foram uma referência na sociedade, o alcance filosófico,</p><p>ao abordar um tema, como a justiça, é significa-</p><p>tivo. O exercício do diálogo é próprio do método</p><p>dialético de perguntas e respostas aperfeiçoado</p><p>por Platão. Nele, o movimento ascensional para</p><p>superar a tese adversária em direção à verdade</p><p>faz com que o cenário sofra variações, e a segunda pessoa ou os interlocutores</p><p>sejam convencidos aos poucos. Essa forma de argumentação dá liberdade para</p><p>O exercício do</p><p>diálogo é próprio do</p><p>método dialético</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 3</p><p>que o autor possa conduzir à sua maneira e de acordo com a sua conveniência o</p><p>jogo de perguntas e respostas para o convencimento de todos, inclusive, do leitor.</p><p>A escolha pela forma dialética do diálogo faz com que os interlocutores se</p><p>sintam presentes no cenário, enquanto o esforço constante da escrita, no texto,</p><p>demonstra a multiplicidade dos pontos de vistas das figuras discursivas na re-</p><p>flexão filosófica. Ao fazer a escolha por essa forma de convencimento, Platão</p><p>constitui, na sua doutrina, um ponto de vista por intermédio dos personagens</p><p>e, ao mesmo tempo, ele ultrapassa esse mesmo ponto de vista por meio de uma</p><p>reflexão cuidadosa e muito rigorosa. O leitor, a todo momento, no texto, identifi-</p><p>ca-se e, ao mesmo tempo, discorda e concorda à medida que vai compreendendo</p><p>a reflexão apresentada pelos personagens.</p><p>O destinatário funciona como mediador entre o pensador e ele mesmo. Os cená-</p><p>rios mudam de posição e, com ele, os destinatários, favorecendo nova configura-</p><p>ção. A dialética como diálogo faz com que os interlocutores se sintam presentes</p><p>em cada cenário. Por isso, escrever sobre filosofia filosoficamente é a arte de cui-</p><p>dar da nossa alma.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Estudante, chegamos ao final deste Tema de Aprendizagem. Nele, tivemos acesso</p><p>aos problemas de identificação dos sujeitos nos textos, com as suas variações de</p><p>cenários. Todas as variações de sujeitos, cenários e a luta para esconder os per-</p><p>sonagens são recursos que a própria linguagem possibilita, frutos das criações</p><p>dos filósofos.</p><p>Analisamos as causas das dificuldades em compreender os textos filosóficos.</p><p>A luta textual para “esconder” o sujeito é possível, devido ao significado e às</p><p>dimensões que estão contidos no próprio sujeito e no predicado. A tentativa de</p><p>apagar o sujeito das proposições não é perfeita, sempre haverá pistas em que o</p><p>intérprete pode encontrar as marcas no próprio texto. Outra dificuldade analisa-</p><p>1</p><p>4</p><p>da e descrita para sua superação foi a identificação das variações dos sujeitos nas</p><p>narrativas e das diversas configurações em situações, aparentemente, de extrema</p><p>complexidade. Após a identificação do cenário, o leitor começa a fazer as cone-</p><p>xões a partir das reflexões do autor em forma de implicações nas cartas, como a</p><p>exortação e os avisos finais.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>5</p><p>1. Sobre a leitura dos textos, sabemos que ela tem como base a compreensão intuitiva das</p><p>relações assim estabelecidas pelas pessoas. Os modos de determinação do locutor ou</p><p>dos destinatários são apresentados de várias formas. Eles se modificam à medida que o</p><p>texto se desenvolve, ou a análise avança. Considerando o enunciado apresentado, analise</p><p>as afirmativas a seguir:</p><p>a) Um leitor, inicialmente determinado como uma espécie de representante de uma opinião</p><p>mantida à distância, pode, num determinado momento, ser aquele a que o discurso é</p><p>dirigido como um adversário ou um discípulo. Essas variantes não atrapalham, de modo</p><p>algum, o iniciante nos textos filosóficos, nem apresentam a reflexão do pensador como</p><p>algo difícil de ser acompanhado.</p><p>b) As reviravoltas no texto, geralmente, são intencionadas. Em um texto de filosofia, alguns</p><p>conceitos</p><p>ocorrem por acaso ou por falta de atenção, principalmente quando se referem</p><p>aos interlocutores na reflexão filosófica. Os textos filosóficos têm como uma das suas ca-</p><p>racterísticas, nos enunciados, buscar a impessoalidade e a universalidade nas suas vozes.</p><p>c) Numerosos textos colocam como um dos integrantes do seu cenário a primeira pessoa,</p><p>mas essa função permanece com muita frequência ausente. Contudo, o centro do cená-</p><p>rio principal está na fala em busca da verdade, o discurso, aparentemente, sem sujeito</p><p>e um enunciador universal.</p><p>d) O autor, nesse cenário, produz reflexão sobre a dependência de um sujeito que assume a</p><p>responsabilidade. O fato de o sujeito estar sob uma aparência de ausência, o anonimato,</p><p>as incertezas da autoria, fazem com que as correlações entre o leitor e voz pareçam</p><p>estranhas, mas isso não gera, de modo algum, confusão.</p><p>e) A posição de referência dos enunciados não apresenta determinadas marcas pelas quais</p><p>o processo da leitura e o papel desempenhado pelo leitor sejam definidos na reflexão</p><p>filosófica pelo pensador. Essas marcas não são necessárias na compreensão do texto,</p><p>passam despercebidas pelo leitor.</p><p>2. Sobre a natureza do conceito em Hegel, temos que a natureza do conceito de sujeito</p><p>e do predicado possuem elementos da universalidade, particularidade e singularidade,</p><p>tornando impossível apagar suas marcas. Considerando o enunciado apresentado, analise</p><p>as afirmativas a seguir:</p><p>I - O conceito como tal contém os momentos da universalidade, enquanto livre igualdade</p><p>consigo mesma em sua determinidade; da particularidade, da determinidade em que</p><p>permanece o universal inalteradamente igual a si mesmo; e da singularidade, enquanto</p><p>reflexão-sobre-si das determinidades da universalidade e da particularidade; em que a</p><p>unidade negativa consigo e o determinado em si e para si é, ao mesmo tempo, o idêntico</p><p>consigo ou o universal.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>II - No juízo abstrato: “o singular é o universal”, o sujeito, enquanto é o que consigo se rela-</p><p>ciona negativamente, é o imediatamente concreto; ao contrário, o predicado e o abstrato,</p><p>o indeterminado, o universal.</p><p>III - Pelo fato de estarem ligados pelo “é”, deve o predicado do conter, em sua universalidade,</p><p>a determinidade do sujeito; e, desse modo, ela é particularidade, a qual é a identidade</p><p>posta do sujeito e do predicado; enquanto, pois, ela é algo indiferente a essa diferença</p><p>de forma, é o conteúdo.</p><p>IV - Só no predicado o sujeito tem determinidade expressa e conteúdo, por esse motivo, é</p><p>para si uma simples representação ou um nome vazio. Nos juízos: “Deus é o mais real</p><p>[dos seres]” etc., “O absoluto é idêntico consigo mesmo” etc., Deus e absoluto são meros</p><p>nomes; o que o sujeito é, diz-se no predicado somente. Não interessa esse juízo, o que</p><p>além disso possa ser algo concreto.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas II, III e IV.</p><p>d) I, II, III e IV.</p><p>e) Apenas I.</p><p>3. Sobre a dialética em Platão, em um diálogo estabelecido entre um eu e o outro em de-</p><p>terminados textos, o autor abre mão do seu eu ou do seu ponto de vista em prol de um</p><p>personagem fictício que o representa (como Sócrates, na maioria dos textos de Platão).</p><p>Considerando o enunciado apresentado, analise as afirmativas a seguir e assinale (V) para</p><p>a(s) Verdadeiras e (F) para (as) Falsas:</p><p>I - ( ) Nos diálogos, Platão cria um cenário em que os personagens, por mais sejam pessoas</p><p>que, historicamente, foram uma referência na sociedade, o alcance filosófico, ao abordar</p><p>um tema, como a justiça, é significativo. O exercício do diálogo, próprio do método dialé-</p><p>tico, não ocorre por meio de perguntas e respostas, aperfeiçoado por Platão.</p><p>II - ( ) No diálogo, o movimento ascensional para superar a tese adversária em direção à</p><p>verdade faz com que o cenário sofra variações, e a segunda pessoa ou os interlocutores</p><p>sejam convencidos aos poucos. Essa forma de argumentação dá liberdade ao autor</p><p>para conduzir, à sua maneira e de acordo com a sua conveniência, o jogo de perguntas</p><p>e respostas, a fim de convencer todos, inclusive, o leitor.</p><p>III - ( ) A escolha pela forma dialética do diálogo faz com que os interlocutores sintam-se</p><p>presentes no cenário, e o esforço constante da escrita no texto demonstra a multiplici-</p><p>dade dos pontos de vistas das figuras discursivas na reflexão filosófica.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>IV - ( ) Ao fazer a escolha por essa forma de convencimento, Platão constitui na sua doutrina</p><p>um ponto de vista por meio dos personagens e, ao mesmo tempo, ele ultrapassa esse</p><p>mesmo ponto de vista, por meio de uma reflexão cuidadosa e muito rigorosa.</p><p>As afirmativas I, II, III e IV são, respectivamente:</p><p>a) V, V, V, F.</p><p>b) V, V, F, V.</p><p>c) V, V, V, V.</p><p>d) F, F, F, F.</p><p>e) F, V, V, V.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>8</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARISTÓTELES. Metafísica: livro I e 2; Ética a Nicômaco; Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>COSSUTTA, F. Elementos para a leitura dos textos filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.</p><p>DESCARTES, R. Discurso do método. Meditações. Objeções e respostas. Paixões da alma. Car-</p><p>tas. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980.</p><p>HEGEL, G. W. F. Enciclopédia das ciências filosóficas em compêncidio. São Paulo, Loyola, 1995,</p><p>v. I, II e III.</p><p>NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Rio de Janeiro: Ci-</p><p>vilização Brasileira, 1998.</p><p>NIETZSCHE, F. Sobre a verdade e a mentira. In: Obras incompletas; seleção de textos de Gerard</p><p>Lebrun. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores)</p><p>PLATÃO, G. Trad. de Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa: Edições 70, 1997.</p><p>SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 1997.</p><p>1</p><p>9</p><p>1. C.</p><p>2. D.</p><p>3. E.</p><p>GABARITO</p><p>8</p><p>1</p><p>MINHAS ANOTAÇÕES</p><p>8</p><p>1</p><p>UNIDADE 2</p><p>MINHAS METAS</p><p>A TERCEIRA PESSOA NAS CENAS</p><p>E OS CONCEITOS NOS TEXTOS</p><p>FILOSÓFICOS</p><p>Explicitar os elementos que compõem o cenário dos textos filosóficos.</p><p>Perceber os vários cenários para sujeitos e destinatários dos textos filosóficos.</p><p>Compreender as dificuldades e as funções da terceira pessoa nas cenas dos textos</p><p>filosóficos.</p><p>Compreender os problemas de precisão e rigor dos conceitos na Filosofia.</p><p>Demonstrar como acontece a construção dos conceitos, dos sentidos e das definições</p><p>nos textos e suas implicações.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 4</p><p>8</p><p>4</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudante, bem-vindo(a)!</p><p>O texto pode ser considerado por muitos como confuso ou complexo, porque</p><p>o leitor ou o iniciante na leitura filosófica não identifica o papel que cada uma das</p><p>vozes desempenha naquele cenário. Outro aspecto são os conceitos que integram</p><p>os cenários nos textos. Os subsídios apresentados ajudam o leitor a identificar</p><p>não só os problemas, mas as diversas respostas às suas formas designadas e ins-</p><p>tauradas entre os interlocutores. A forma como o autor escolhe para articular</p><p>o texto na sua doutrina é decisiva na constituição para bem compreender. Na</p><p>história da filosofia, muitos filósofos consideram que a filosofia nada mais é do</p><p>que uma atividade de precisão e rigor conceitual. Para outros, como Platão, Karl</p><p>Popper entre outros, a filosofia nada mais é do que uma atividade para resolução</p><p>de problemas que são postos diante dos seres humanos. Para alguns, a filosofia</p><p>é uma atividade racional de reflexão sobre a existência na vida em sociedade.</p><p>Por fim, a construção de argumentos filosóficos numa determinada doutrina</p><p>começa com uma redefinição conceitual como base fundamental, inclusive, com</p><p>um nova noção de conceitos a serem utilizados.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>A TERCEIRA PESSOA NAS CENAS DOS TEXTOS</p><p>UNIASSELVI</p><p>8</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>Há inúmeras funções para poder assegurar as interações textuais. Elas assegu-</p><p>ram o domínio filosófico com as rupturas para a construção de novos sentidos</p><p>e significados em relação às fontes históricas das reflexões. Cabe ao leitor o tra-</p><p>balho de levantar todas as formas possíveis dessas funções, de acordo com a sua</p><p>compreensão, efetivadas nas referências,</p><p>podendo ser as formas explícitas (que</p><p>podem chegar às alusões) e implícitas (o subentendido). Além disso, o leitor deve</p><p>acompanhar no texto os enunciados distribuídos a quem está sendo endereçado</p><p>e, sobretudo, quem são.</p><p>Cena 1 - A Função No Texto Da Terceira Pessoa</p><p>A compreensão de um texto passa a ser satisfatória, quando os modos de sua</p><p>apresentação e as suas finalidades são claros diante do leitor. Nos modos de</p><p>apresentação do texto, a primeira pessoa deve ser observada com atenção, pelo</p><p>fato de que é necessária para que a verdade seja evidenciada. A segunda pessoa</p><p>é necessária para que a destinação do texto possa ser identificada e ampliada</p><p>no seu sentido ou referência. Já terceira pessoa</p><p>é apresentada como se ocupasse um lugar vazio,</p><p>podendo incorporar qualquer referência no do-</p><p>mínio de um texto.</p><p>A filosofia tem como objeto, desde Platão a</p><p>Karl Popper, a resolução de problemas diante uma</p><p>determinada realidade, que é constituída por diversos saberes, práticas e com</p><p>filosofia consolidada. Com isso, o leitor deve ficar atento para identificar não só</p><p>os problemas, mas as diversas respostas às suas formas designadas e instauradas</p><p>entre os interlocutores. A forma como o autor escolhe para articular o texto na</p><p>sua doutrina é decisiva na constituição para bem compreender. Só esse aspecto</p><p>já poderia constituir um estudo, visto que está em jogo o processo de criação e a</p><p>novidade em se tratando de filosofia. Ao apresentar o seu ponto de vista filosófico</p><p>no meio de uma multiplicidade que não é harmônica, o pensamento conquista</p><p>ou reconquista a sua autonomia. Quando utilizamos o amplo conceito de texto,</p><p>ele traz sempre consigo inúmeros elementos, um deles é o jogo múltiplo de refe-</p><p>rências, outro são as redes de intertextualidades sobre o qual é possível verificar</p><p>o uso de várias funções. Além das funções para poder assegurar as interações</p><p>textuais, assegura-se o domínio filosófico com as rupturas para a construção</p><p>Já terceira pessoa é</p><p>apresentada como</p><p>se ocupasse um</p><p>lugar vazio</p><p>8</p><p>1</p><p>de novos sentidos e significados em relação às fontes históricas das reflexões.</p><p>Cabe ao leitor o trabalho de levantar todas as formas possíveis dessas funções,</p><p>de acordo com a sua compreensão, efetivadas nas referências, podendo ser as</p><p>formas explícitas (que podem chegar às alusões) e implícitas (o subentendido).</p><p>O leitor deve acompanhar no texto os enunciados distribuídos a quem está</p><p>sendo endereçado e sobretudo quem são. Assim, deve analisar as possíveis aber-</p><p>turas à multiplicidade das posições filosóficas ou o fechamento a outras posições</p><p>filosóficas no movimento dos sujeitos que estão como ponto de partida no cen-</p><p>tro de uma perspectiva, para que sejam integrados gradualmente, quer seja de</p><p>primeira, quer seja de segunda ou terceira pessoa, inclusive, quando se trata de</p><p>refutar uma tese adversária de forma detalhada ou quando se está aproveitando</p><p>de um modelo como um todo ou apenas parte dele. Esses são aspectos impor-</p><p>tantes para o fechamento de um texto filosófico, por mais complexo que aparenta</p><p>ser antes de ser compreendido.</p><p>No texto, a pluralidade se apresenta num cenário de várias maneiras: ora</p><p>de forma neutra, mas sabemos que a neutralidade é um mito, ora de forma dis-</p><p>tanciada, ora mais objetivamente, ora fica subentendida a uma dramaticidade</p><p>intencional pelo autor. Contudo, a melhor maneira sempre dependerá de como</p><p>UNIASSELVI</p><p>8</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>a filosofia é elaborada com os conteúdos (reflexão e argumentos), assim como</p><p>faz Platão e Aristóteles quando se refere aos predecessores ou aos adversários.</p><p>“ Quanto ao número e à natureza destes princípios, nem todos pensam</p><p>da mesma maneira. Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser a água (é</p><p>por isso que ele declarou também que a terra assenta sobre a água),</p><p>levado sem dúvida a esta concepção por observar que o alimento de</p><p>todas as coisas é úmido e que o próprio quente dele procede e dele</p><p>vive (ora aquilo donde as coisas vêm é, para todas, o seu princípio).</p><p>[…] Anaxímenes e Diógenes consideram o ar como anterior à água,</p><p>e, entre os corpos simples, como o princípio por excelência, enquanto</p><p>para Hípaso Metapontino e Heráclito é o fogo, e para Empédocles são</p><p>os quatro elementos, visto ele acrescentar um quarto aos que acaba-</p><p>mos de referir: a terra. Estes elementos subsistem sempre e não são</p><p>gerados, salvo no que toca ao aumento ou diminuição, quer se unam</p><p>numa unidade, que se dividam a partir dela. Anaxágoras de Clazô-</p><p>menes, anterior a Empédocles pela idade, mas posterior pelas obras,</p><p>afirma que os princípios são infinitos (ARISTÓTELES, 1979, p. 17)</p><p>Nesse texto, a terceira pessoa está inserida dentro do sistema aristotélico,</p><p>na pluralidade textual que faz parte de todo o cenário filosófico construído pelo</p><p>autor. Ele apresenta, claramente, o seu entendimento de princípios, diferencian-</p><p>do aquilo que é fundamental no seu sistema e aquilo que os seus antecessores</p><p>apresentaram sobre os problemas etiológicos. Outro aspecto importante nesse</p><p>fragmento é a preocupação com a ordem cronológica histórica em que são</p><p>apresentados os filósofos denominados pré-socráticos e as suas reflexões sobre</p><p>as causas primeiras.</p><p>Cena 1 - Terceira pessoa e a linguagem</p><p>Há inúmeras formas de construções textuais na terceira pessoa que modificam</p><p>as relações no interior da totalidade filosófica. Destacaremos, aqui, uma que nos</p><p>coloca na presença de formas enigmáticas e polêmicas que causam um impacto</p><p>muito grande no mundo filosófico. Um exemplo é Ludwig Wittgenstein, em seu</p><p>livro Tractatus logico-philosophicus, que veio à luz em 1918. As reflexões nele</p><p>8</p><p>8</p><p>provocaram grande impacto, inclusive, no próprio autor, que se recolheu após</p><p>o lançamento do livro, afastando-se do mundo acadêmico e social, acreditando</p><p>que não havia mais nada a ser dito em filosofia. Destacamos dois aforismos do</p><p>Tractatus, o 4002 e o 4003.</p><p>“ 4002 O homem possui a capacidade de construir linguagens com</p><p>as quais se pode exprimir todo sentido, sem fazer ideia de como e</p><p>do que cada palavra significa – como também falamos sem saber</p><p>como se produzem os sons particulares. A linguagem corrente é</p><p>parte do organismo humano, e não menos complicada que ele. É</p><p>humanamente impossível extrair dela, de modo imediato, a lógica</p><p>da linguagem. A linguagem é um traje que disfarça o pensamento.</p><p>E, na verdade, de um modo tal que não se pode inferir, da forma</p><p>exterior do traje, a forma do pensamento trajado; isso porque a</p><p>forma exterior do traje foi constituída segundo fins inteiramente</p><p>diferentes de tornar reconhecível a forma do corpo. Os acordos</p><p>tácitos que permitem o entendimento da linguagem corrente são</p><p>enormemente complicados (WITTGENSTEIN, 1994, p. 165).</p><p>Analisemos o primeiro aforismo sob o nosso ponto de vista, primeiro, no</p><p>sentido de ampliarmos e esclarecermos as afirmações nele contidas. Ele afirma</p><p>que o homem constrói as linguagens e o fato mais importante não é a constru-</p><p>ção, mas os usos que eles fazem dela. Isso não constitui um problema, mas há</p><p>a necessidade de esclarecimento dos usos. O ser humano só vai atrás do seu</p><p>significado quando o uso está confuso, quando ele não cumpriu a sua finalidade</p><p>que lhe interessa. Além disso, Wittgenstein (1994) afirma que a linguagem é um</p><p>traje que disfarça o pensamento. Perceba que não há pensamento sem lingua-</p><p>gem, o traje ao qual se refere é a própria linguagem em uso, pensada. A lógica da</p><p>linguagem usada nos diversos contextos e formas é o ponto de partida e sempre</p><p>será percebida pelo pensamento que estabelece as regras de seu uso, e não o</p><p>contrário, como afirma o autor.</p><p>UNIASSELVI</p><p>8</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>“ 4003 A maioria das proposições e questões que se formularam</p><p>sobre temas filosóficos não são falsas, mas contra-sensos. Por isso,</p><p>não podemos de modo algum responder a questões dessa espécie,</p><p>mas apenas estabelecer seu caráter de contra-senso. A maioria das</p><p>questões e proposições dos filósofos provém de não entendermos</p><p>a lógica de nossa linguagem. (São da mesma</p><p>espécie que a questão</p><p>de saber se o bem é mais ou menos idêntico ao belo.) E não é de</p><p>admirar que os problemas mais profundos não sejam propria-</p><p>mente problemas (WITTGENSTEIN, 1994, p. 165).</p><p>A primeira afirmação apresentada está expressa claramente na terceira pes-</p><p>soa, em “formularam” e “dos filósofos”. As afirmações criticadas apresentadas por</p><p>Wittgenstein tratam dos temas filosóficos com o termo sondern unsinnig (no</p><p>original em alemão). Algumas traduções aparecem como contra-senso, e outras</p><p>como que desprovidas de sentido. As duas traduções, tanto uma quanto a outra,</p><p>necessitam ser mais bem esclarecidas ou mesmo explicar melhor o que é estabe-</p><p>lecer o seu caráter? Porque o autor não está de acordo com todas as proposições</p><p>dos filósofos, mas com a maioria delas. Outro aspecto que merece a nossa atenção</p><p>é quando ele afirma a lógica da nossa linguagem. No aforismo anterior, o autor</p><p>fala em linguagens, portanto, não há uma lógica única, mas algumas lógicas de</p><p>linguagens, com a dos gestos, dos signos, da língua, entre outras.</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>A qual lógica das linguagens está se referindo?</p><p>Por fim, Wittgenstein (1994) fala sobre os problemas filosóficos que não são</p><p>problemas profundos, no final do aforismo. Não está claro o que ele entende</p><p>por problema filosófico mais ou menos profundo. Sabemos que o grau de pro-</p><p>fundidade de um problema é determinado pelos contextos histórico, social e</p><p>filosófico em que ele surgiu. Um problema filosófico pode ser muito profundo</p><p>em um período histórico, e em outro não, principalmente se ele foi respondido</p><p>satisfatoriamente, porque há problemas que, até agora, não foram respondidos</p><p>de forma cabal, quer seja da linguagem, quer seja em outras áreas da filosofia,</p><p>9</p><p>1</p><p>como o problema fundamental na obra de Platão apresentado em Fédon. “Por</p><p>que as coisas nascem, por que se corrompem, por que são?”. Platão não conseguiu</p><p>dar uma resposta final, ainda está em aberto.</p><p>Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças (2004)</p><p>Sinopse: Jim Carrey interpreta Joel, um homem magoado por</p><p>sua namorada tê-lo deletado (literalmente) de sua memória.</p><p>Inconformado, resolve retribuir na mesma moeda e procura o</p><p>Doutor Howard Mierzwiak para passar pela mesma experiên-</p><p>cia. No decorrer da operação, Joel percebe que, na verdade,</p><p>ele não quer excluir Clementine de sua vida, e sim manter bem</p><p>viva em sua memória os momentos em que estiveram felizes.</p><p>A partir de então, ele enfrenta uma incrível luta dentro de sua</p><p>própria cabeça para que essas memórias continuem vivas den-</p><p>tro de si, em mais uma loucura sensível de Charlie Kaufman.</p><p>INDICAÇÃO DE FILME</p><p>Cena 1 - Recorte Epistemológico ou a Demarcação do</p><p>Cenário</p><p>Ao fazer uma abordagem a partir de um problema filosófico, que é o elemento</p><p>comum de toda a produção, faz-se necessário delimitar um período a ser pes-</p><p>quisado, caso contrário, a pesquisa corre o risco</p><p>de não ser concluída, ou seja, tem um começo,</p><p>um meio, mas não tem um fim. A conclusão não</p><p>significa, necessariamente, o fim, é apenas uma</p><p>etapa que necessita ser finalizada e que pode ser</p><p>recomeçada a qualquer momento. É comum, na filosofia, haver começos e reco-</p><p>meços na abordagem de um problema filosófico que necessita de uma resposta</p><p>em cada momento histórico, por exemplo, os problemas da filosofia existencial,</p><p>filosofia da linguagem, filosofia da ciência, filosofia política entre outras.</p><p>Nesse processo de delimitação, faz-se necessário estabelecer estratégias</p><p>utilizadas pelo autor para construir a sua filosofia. Algumas vezes, a filosofia</p><p>construída utiliza-se de partes de outras doutrinas ou sistemas filosóficos. Isso</p><p>se constitui algo comum, visto que, do nada, nada vem. Para construir ou criar</p><p>A conclusão</p><p>não significa,</p><p>necessariamente,</p><p>o fim</p><p>UNIASSELVI</p><p>9</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>alguma coisa, necessita-se de referenciais, de base ou suporte sobre o qual se</p><p>reerguerá a nova criação. A identificação dessas bases faz-se necessária para</p><p>identificar o grau de originalidade da filosofia produzida. Nesse processo, há</p><p>momentos ou aspectos que podem acontecer de forma sucessiva ou alternati-</p><p>va. Analisaremos somente três aspectos ou momentos que são importantes no</p><p>processo de delimitação na reflexão.</p><p>NO PRIMEIRO MOMENTO</p><p>Pode acontecer uma reprodução cuja base está na imitação. O iniciante ou epígono</p><p>nos textos filosóficos esforçará-se para compreender, porém, se não tomar cuidado</p><p>com a postura crítica, ou se essa postura ainda não está suficientemente refinada,</p><p>a imitação pode se fazer presente. A imitação e a reprodução podem ser, também,</p><p>resultado de um convencimento por parte do epílogo, que passa a defender o ponto</p><p>de vista do seu mestre, julgando, com isso, estar de posse dos elementos para ser feliz</p><p>no aspecto intelectual.</p><p>NO SEGUNDO MOMENTO</p><p>A busca pela apropriação do texto filosófico na tentativa de ser o mais fiel possível</p><p>pode resultar em simples reprodução idêntica do mesmo. A apropriação e a repro-</p><p>dução de forma idêntica da doutrina do mestre pode acontecer quando o iniciante</p><p>ou epígono não toma o distanciamento necessário do texto. Nesse caso, ocorre uma</p><p>confusão entre a objetividade de análise e a simples reprodução idêntica do texto.</p><p>Essa reprodução idêntica somente se justifica para fins didático-pedagógicos, como</p><p>uma aula sobre o texto, não fins de análise reflexiva.</p><p>NO TERCEIRO MOMENTO</p><p>Pode acontecer a reprodução ampliada do texto filosófico. De posse do material sobre</p><p>o sistema ou a doutrina de um pensador, busca-se, em outros escritos, os elementos</p><p>necessários para ampliar o entendimento sobre a reflexão filosófica. Esses elementos</p><p>possibilitam, além de um melhor entendimento e de ser o mais fiel possível ao pensa-</p><p>mento, buscar o domínio sobre os argumentos utilizados, a profundidade e a origina-</p><p>lidade das reflexões. A reprodução ampliada demonstra que o iniciante na leitura dos</p><p>textos avançou um pouco mais, não só na pesquisa e no diálogo com os textos, mas</p><p>com a totalidade do que foi produzido pelo pensador.</p><p>9</p><p>1</p><p>O conceito é uma forma de exteriorização do</p><p>pensamento. A exteriorização funciona como um</p><p>veículo pelo qual as visões da realidade que nos</p><p>cerca e aquilo que imaginamos faz a intermedia-</p><p>ção entre as imagens e as formas, entre concreto</p><p>e o abstrato. A Filosofia faz usos de muitos conceitos e, ao mesmo tempo, em</p><p>um ou outro momento faz referência a eles. Observemos atentamente como isso</p><p>acontece de forma intencional nos textos abordados a seguir, com o intuito de</p><p>compreender melhor o texto.</p><p>Conceitos precisos e suas (im)possibilidades</p><p>Na história da Filosofia, muitos filósofos consideram que a filosofia nada mais</p><p>é do que uma atividade de precisão e rigor conceitual. Para outros, como Platão</p><p>e Karl Popper, a Filosofia nada mais é do que uma atividade para resolução de</p><p>problemas que são postos diante dos seres humanos e que, para eles, necessi-</p><p>tam de uma resposta urgente. Para alguns, ela é atividade racional de reflexão</p><p>Com isso, o processo de demarcação teórica e histórico da abordagem ao</p><p>problema a ser resolvido ou o chamado recorte epistemológico na abordagem,</p><p>realizado pelo iniciante, demonstra que o exercício da capacidade da compreen-</p><p>são teórica foi colocado em prática, ou seja, está apresentando sinais de que está</p><p>em um nível de compreensão bem avançado no aspecto da pesquisa ou didáti-</p><p>co-pedagógico.</p><p>Temos, então, que:</p><p>■ A terceira pessoa é apresentada como se ocupasse um lugar vazio, poden-</p><p>do incorporar qualquer referência no domínio de um texto.</p><p>■ O leitor deve acompanhar, no texto, os enunciados distribuídos a quem</p><p>está sendo endereçado e, sobretudo, quem são.</p><p>■ Faz-se necessário delimitar um período a ser pesquisado.</p><p>CONCEITOS NO CENÁRIO DOS TEXTOS</p><p>O conceito é</p><p>uma forma de</p><p>exteriorização do</p><p>pensamento</p><p>UNIASSELVI</p><p>9</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>Há quem diga que filosofia é luta contra as</p><p>ilusões apresentadas aos seres humanos para</p><p>fugir da realidade nua e crua da vida social. As</p><p>ilusões se fazem presentes de diversas maneiras,</p><p>mas todas atingem os seres humanos naquilo que</p><p>o distingue de todos os outros seres: o entendimento racional. Entre esses está</p><p>o filósofo Wittgenstein, em seu livro Investigações filosóficas, de 1979, escrito</p><p>em 1945, que veio para se opor à sua obra primeira, o Tratactatus logico-philo-</p><p>sophicus, de 1998, escrito no fronte da Primeira Guerra Mundial, em 1918.</p><p>No primeiro livro, Wittgenstein (1979) afirma que o seu trabalho era ex-</p><p>plicar a natureza das sentenças e acredita, juntamente com o Círculo de Viena,</p><p>cujo principal representante é Rudolph Carnap, que a linguagem poderia ser</p><p>unificada segundo uma única estrutura lógica e formal. No segundo livro, das</p><p>Investigações Filosóficas, de 1979, defende a tese de que esse entendimento sobre</p><p>sobre a existência na vida em sociedade. Contudo, há um consenso mínimo</p><p>entre todos os filósofos que se identificam com os entendimentos apresentados</p><p>sobre a atividade filosófica: qualquer uma das atividades necessita dos conceitos,</p><p>da linguagem para veicular os seus pensamentos e reflexões. Nesse momento,</p><p>analisaremos somente o primeiro entendimento do que seja filosofia. Os outros</p><p>ficarão para um outro momento desse livro.</p><p>Há quem diga</p><p>que filosofia é luta</p><p>contra as ilusões</p><p>apresentadas</p><p>9</p><p>4</p><p>linguagem é uma ilusão. Uma proposição não pode expressar o todo de uma</p><p>linguagem. A proposição simplesmente faz parte de um jogo, assim como as pa-</p><p>lavras e conceitos, denominado por ele de jogos de linguagem. Os seres humanos</p><p>utilizam muitos deles para se comunicar. A todo momento, estão surgindo novos</p><p>jogos de linguagem, e outros estão desaparecendo.</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>O que há de comum entre os diversos jogos de linguagem?</p><p>O elemento comum são as semelhanças de famílias, segundo Wittgenstein</p><p>(1979). Por meio de semelhanças, parentescos, analogias e comparações, estabe-</p><p>lecemos as conexões entre um jogo de linguagem e outro, entre um conceito ou</p><p>palavra, ou imagem e outro.</p><p>A Filosofia, no seu entendimento, passa a ser uma luta contra as ilusões da</p><p>linguagem. Vejamos, no aforismo 68 de Investigações, o seu entendimento sobre</p><p>os conceitos, constatando que há uma possibilidade de estabelecermos precisão,</p><p>parâmetros, delimitações seguras de um conceito.</p><p>“ 68. “Bem; então o conceito de número explica-se para você como a</p><p>soma lógica daqueles conceitos isolados aparentados entre si: nú-</p><p>mero cardinal, número racional, número real, etc., e igualmente o</p><p>conceito jogo como soma lógica de conceitos parciais correspon-</p><p>dentes”. Isto não precisa ser assim. Por isso posso dar ao conceito</p><p>‘número’ limites firmes, isto é, usar a palavra “número” para a de-</p><p>signação de um conceito firmemente delimitado, mas posso usá-lo</p><p>também de tal modo que a extensão do conceito não seja fechada</p><p>por um limite. E assim empregamos a palavra “jogo”. Como o con-</p><p>ceito de jogo está fechado? O que é ainda um jogo e o que o é mais?</p><p>Você pode indicar os limites? Não (WITTGENSTEIN, 1979, p. 40).</p><p>A resposta categórica negativa sobre a impossibilidade de estabelecermos</p><p>precisão e delimitação dos conceitos não impede o seu uso. “Mas, um conceito</p><p>UNIASSELVI</p><p>9</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>impreciso é realmente um conceito? - Uma fotografia pouco nítida é realmente</p><p>a imagem de uma pessoa? Sim, pode-se substituir com vantagem uma imagem</p><p>pouco nítida por uma nítida?” (WITTGENSTEIN, 1979, p. 41). Ao fazerem uso</p><p>de conceitos imprecisos, os filósofos colocam em xeque as pretensões filosófi-</p><p>cas e concebem a filosofia exclusivamente como questão de análise conceitual.</p><p>No entanto, o uso de tal imprecisão é possível porque está na própria natureza</p><p>dos conceitos, isso não constitui empecilho para o filosofar, ou seja, a reflexão</p><p>filosófica segue problemas conceituais. Diante disso, o primeiro entendimento</p><p>do que seja filosofia recebeu um duro golpe. Isso não significa que podemos</p><p>descartar esse entendimento como algo inútil, sem valor algum.</p><p>Descrição: trata-se de um desenho em que se apresenta um homem, de cabelos curtos e escuros. Ele traja uma</p><p>camisa de gola. O desenho é traçado em preto e não possui preenchimento de cor, apenas linhas que causam</p><p>efeito de sombreamento.</p><p>É próprio da filosofia olhar para os argumentos, para a arquitetura conceitual cons-</p><p>truída em torno de uma tese, mesmo que essa seja mal posta ou falsa. Mesmo que</p><p>tal tese não se sustente, a lógica empregada nela pode servir de subsídios para</p><p>outras teses, reflexões e criações com potenciais de serem consideradas originais.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Linguagem conceitual e seus enfeitiçamentos</p><p>Figura 3 - Filósofo Wittgenstein</p><p>9</p><p>1</p><p>O conceito tem o papel de ser intermediário entre</p><p>a imagem e a forma, entre o concreto e o abstrato.</p><p>A maioria dos filósofos faz menção a ele, quer seja</p><p>apontando os seus limites, quer seja apontando as</p><p>funções que ocupam em um determinado siste-</p><p>ma, doutrina ou categorias filosóficas. Os concei-</p><p>tos como intermediários ajudam exteriorizar as ideias por meio da elucidação.</p><p>Contudo, as elucidações, em geral, podem ser mal compreendidas. Vejamos</p><p>como isso acontece por meio de conceitos.</p><p>“ Deve-se dizer que eu uso uma palavra cuja significação não conhe-</p><p>ço, e que digo, um absurdo? - Diga o que quiser dizer, contanto que</p><p>isto não o impeça de ver o que ocorre. (E quando você ver isto, dei-</p><p>xará de dizer muitas coisas). (A flutuação de definições científicas:</p><p>o que vale hoje, por experiência, como fenômeno concomitante</p><p>do fenômeno A será utilizado amanhã na definição de “A”). […]</p><p>A lógica é uma “ciência normativa”. […] Comparamos frequente-</p><p>mente o uso das palavras com jogos, com cálculos segundo regras</p><p>fixas, mas não podemos dizer que quem usa a linguagem deva</p><p>jogar tal jogo. - Se se diz, porém, que nossa expressão linguística</p><p>apenas se aproxima de tais cálculos, encontramo-nos à beira de</p><p>um mal-entendido (WITTGENSTEIN, 1979, p. 54).</p><p>Há diversas situações em que vemos autores usando termos sem ter o real</p><p>conhecimento do seu significado e em contextos dos quais necessitam preci-</p><p>sar do seu entendimento ou da sua intenção. Outras vezes, acontece de fazer o</p><p>uso de determinado conceito resultante de uma experiência do passado, e não</p><p>se aplica esse momento, devido à mudança social, econômica e cultural, isto é,</p><p>anacronismo. Além disso, merece a atenção o fato de os autores usarem termos</p><p>desconhecendo as regras do jogo daquele, por exemplo, pessoas que não conhe-</p><p>cem as “regras do discurso filosófico”, mas querem explicar filosofias citando</p><p>filósofos clássicos, como Platão, Aristóteles, Nietzsche entre outros, mas nunca</p><p>os estudaram. Tudo isso tem, como uma das consequências dos mal-entendidos,</p><p>as confusões, levando, necessariamente, à superficialidade.</p><p>Isso faz com que o nosso pensamento esteja rodeado por aguaceiro, criando,</p><p>assim, inúmeros mal-entendidos e ilusões. O discurso filosófico de busca pela</p><p>O conceito tem</p><p>o papel de ser</p><p>intermediário entre</p><p>a imagem e a forma</p><p>UNIASSELVI</p><p>9</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>precisão e o rigor conceitual está presente na história da filosofia, como o filósofo</p><p>Edmund Husserl (1859-1938), em sua obra A filosofia como ciência de rigor.</p><p>Uma das teses é a de que a filosofia devia se pautar como ciência do rigor, ou</p><p>seja, o rigor conceitual. A crítica de Wittgenstein atinge a todos os partidários</p><p>desse princípio. Contudo, o problema não é o princípio do rigor, que é algo a ser</p><p>buscado, mas as ilusões gramaticais que pode provocar.</p><p>“ Estamos na ilusão de que o especial, o profundo, o essencial (para</p><p>nós) de nossa investigação residiria no fato de que ela tenta com-</p><p>preender a essência incomparável da linguagem. Isto é, a ordem</p><p>que existe entre os conceitos de frase, palavra, conclusão, verdade,</p><p>experiência, etc. Esta ordem é uma superordem entre – por assim</p><p>dizer – superconceitos. Enquanto que as palavras “linguagem”,</p><p>“experiência”, “mundo”, se têm um emprego, devem ter um tão</p><p>humilde quanto as “palavras”, “mesa”, “lâmpada”, “porta”. 98. Por</p><p>um lado, é claro que cada frase de nossa linguagem ‘está’.</p><p>básica não</p><p>está localizada em um ponto perfeitamente identificável do texto. Não se constitui</p><p>em uma ou duas frases do texto. Anima o texto inteiro, podendo transparecer mais</p><p>claramente em certas frases do que em outras. Há certos trechos mais, em que</p><p>certas frases são muito importantes. Mas a leitura desses trechos não é suficiente</p><p>para produzir a ideia básica do texto. Tendo em vista essas considerações, pode-</p><p>mos tentar fixar a primeira regra da técnica da leitura: o esquema aqui proposto</p><p>aplica-se especialmente a textos de Ciências Humanas, 1º Ler inicialmente o texto</p><p>inteiro, para obter uma visão de conjunto, do todo. Nessa leitura, deve-se procurar</p><p>prestar atenção apenas no que se destaca, deixando-se de lado os pormenores, o</p><p>que não é essencial, como exemplos, repetições, dados ilustrativos etc. Termina-</p><p>da essa primeira leitura, necessariamente a mais superficial, é interessante tentar</p><p>fazer, mentalmente ou por escrito, um apanhado geral de ideias que se revelaram</p><p>mais salientes, que mais chamaram a atenção, das que formam um conjunto glo-</p><p>bal, sem consultar o texto novamente. Essa ideia geral será guia para os passos</p><p>restantes do trabalho de leitura. 2º As ideias secundárias como vimos, a ideia bá-</p><p>sica percorre o texto inteiro, isto é, ela não se apresenta de choque repentino, mas</p><p>é o desenrolar ordenado do discurso, são parte a sucessivas do discurso que for-</p><p>mam a ideia básica. A ideia básica vai estruturar o texto, vai comandar a articulação</p><p>das várias partes do texto. Em geral, todo texto encontra-se dividido em partes,</p><p>cada uma contendo ideias, não a central, mas outras secundárias, acessórias, que</p><p>servem de apoio para a central. As partes que se sucedem no texto estão relacio-</p><p>nadas entre si de um modo determinado e é esse modo de relacionamento das di-</p><p>versas partes entre si que chamamos de estrutura de um texto” (BRUNI, [s. d.], p. 1).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>coincide com a ideia central. A posse dessa ideia ajuda a compreender todo livro,</p><p>se for o caso, ou toda a obra filosófica.</p><p>A importância da</p><p>ideia central, das</p><p>ideias secundárias e</p><p>acessórias</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>sário, que constitui toda a leitura de um texto, afinal, ler é dialogar com o autor.</p><p>O princípio fundamental de um diálogo é a possibilidade da discordância,</p><p>se não, é monólogo. Ela possibilita outro olhar sobre o objeto ou problema em</p><p>questão. Quanto mais olhares sobre um objeto, melhor a compreensão e, conse-</p><p>quentemente, melhor a ação no mundo.</p><p>“ Com isso, podemos formular a segunda regra de leitura. Na segunda</p><p>leitura, procurar identificar as partes do texto que contêm as ideias</p><p>secundárias, bem como o modo como estão relacionadas. Nessa lei-</p><p>tura, já mais aprofundada que a anterior, deve-se prestar atenção aos</p><p>pormenores, aos elementos subordinados à ideia central, como os</p><p>exemplos, os dados ilustrativos e como de uns se passa aos outros.</p><p>3º Os conceitos. As partes de um texto, por sua vez, são compostas</p><p>por vários elementos que podemos chamar, de maneira geral, de con-</p><p>ceitos, ou seja, as ideias mais elementares de um texto. São como os</p><p>tijolos de uma casa, assim como as partes corresponderiam a seus</p><p>vários cômodos. A análise do texto deve chegar aos conceitos que o</p><p>constituem. Daí a terceira regra leitura. Uma terceira leitura do texto</p><p>deve apreender os vários elementos componentes de suas diferentes</p><p>partes: os conceitos. Trata-se, evidentemente, da leitura mais cuida-</p><p>dosa, mais minuciosa. Não é necessário ter em mente, a cada momen-</p><p>to, a ideia básica, mas deve-se tentar compreender as minúcias das</p><p>ideias, ou antes, os elementos mínimos de que as ideias são formadas.</p><p>Procura-se, então determinar o sentido de cada palavra, servindo-se</p><p>das indicações dadas no próprio texto (BRUNI, [s. d.], p. 2).</p><p>1</p><p>1</p><p>Nesse ponto, merece destaque o fato de as ideias secundárias, que percorrem</p><p>todo o texto, forçar-nos a ter mais atenção na sua relação com a ideia central.</p><p>Aparecem, aqui, os conceitos, que possuem uma função muito importante, pois</p><p>garantem a profundidade do tema e a forma como ele dá sustentação à ideia</p><p>central. Os conceitos devem ser observados com muito cuidado, buscando os</p><p>detalhes, as minúcias da sua escolha. Em um texto, nada está posto por acaso</p><p>ou é resultado da falta de atenção. Tudo tem uma intenção consciente e objetiva.</p><p>Segundo Bruni:</p><p>“ A leitura interna de um texto deve, portanto, captar sua ideia básica,</p><p>sua estrutura e seus conceitos. Trata-se de um movimento que parte</p><p>do mais geral, do mais global, para terminar no mais particular, no</p><p>mais elementar. Podemos chamar a ideia básica, a estrutura e os con-</p><p>ceitos de níveis de um texto. A leitura correta é aquela que consegue</p><p>apreender os vários níveis do texto sem confundir um com o outro.</p><p>Há outros níveis menos importante mas que convém conhecer para</p><p>não imaginar que todo texto tenha apenas os mencionados. Quando</p><p>em um texto predomina a intenção polêmica, por exemplo, devemos</p><p>tomar cuidado com os recursos de estilo, como a ironia, para não</p><p>confundir o que o autor afirma com aquilo que ele próprio critica.</p><p>Em suma, deve-se ler um texto científico três vezes. A primeira</p><p>leitura deve apreender a ideia básica, a segunda deve procurar as</p><p>partes e sua concatenação e a terceira deve fixar os conceitos. Obs.:</p><p>A prática constante da leitura de textos científicos vai aos poucos</p><p>dispensando o leitor das três leituras obrigatórias; com o treino e o</p><p>tempo, já numa primeira leitura pode-se distinguir, com bastante se-</p><p>gurança, os vários níveis do texto. Para o principiante, porém, estudar</p><p>um texto significa lê-lo, no mínimo, três vezes (BRUNI, [s. d.], p. 2).</p><p>A parte final da leitura interna chama a nossa atenção quanto ao uso do</p><p>método dedutivo (raciocínio do geral para o particular) possibilitar captar a</p><p>estrutura textual na essência, que identifica um objeto ou ideia de uma outra</p><p>e distingui-la com certa clareza. Outro aspecto são os vários níveis conceituais</p><p>presentes no texto e que precisam ser identificados com clareza. Além dos ní-</p><p>veis de compreensão, os iniciantes não devem estranhar o fato de receber como</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>orientação o uso das três leituras obrigatórias de um texto, algo muito comum.</p><p>Muitos alunos(as) afirmam que ler três vezes demora muito. Um pouco mais</p><p>adiante, falaremos das velocidades de leitura: lenta, média e a rápida.</p><p>Contexto do texto e sua estrutura</p><p>Todo texto possui um contexto que precisa ser</p><p>compreendido. O contexto é tudo aquilo que o ser</p><p>humano tem constituído por múltiplos elemen-</p><p>tos, tais como social, político, econômico, edu-</p><p>cacional e cultural, em determinado período. O</p><p>texto produzido está historicamente localizado e condicionado por esses fatores,</p><p>e o autor não está descontextualizado ou acima das suas circunstâncias. O texto</p><p>sempre responde aos desafios e problemas apresentados pela realidade concreta,</p><p>e o filosófico jamais pode ser compreendido como algo puramente abstrato, sem</p><p>sujeitos e destinatários. Continuamos a ver como o professor Bruni nos orienta</p><p>para que visualizemos com carinho a análise externa do texto.</p><p>Análise externa.</p><p>"Todo texto está inserido em um contexto. Ao contrário do texto, o contexto é</p><p>invisível, isto é, não se apresenta diretamente ao leitor. O contexto deve ser</p><p>procurado, pesquisado, reconstruído. Contexto é o conjunto de elementos que</p><p>cercam, de algum modo, o texto. O contexto lógico é composto pelos elementos</p><p>de ordem intelectual que envolvem o texto. Tudo aquilo que antecede logicamente</p><p>o texto e de que o texto depende pode ser chamado de os pressupostos do texto.</p><p>Todas as consequências que o texto acarreta, tudo aquilo a que o texto leva, pode</p><p>ser chamado de as implicações do texto. Os pressupostos do texto com as suas</p><p>implicações do contexto" (BRUNI, [s. d.], p. 2).</p><p>Merece destaque o contexto lógico de ordem intelectual para sempre estar-</p><p>mos pesquisando a formação educacional, as suas influências da história da filo-</p><p>sofia, dos seus mestres</p><p>Isto é,</p><p>que nós não aspiramos a um ideal: como se nossas frases habituais</p><p>e vagas não tivessem ainda um sentido totalmente irrepreensível</p><p>e como se tivéssemos primeiramente de construir uma lingua-</p><p>gem perfeita. - Por outro lado, parece claro que onde há sentido,</p><p>deve existir ordem perfeita. - Portanto, a ordem perfeita deve estar</p><p>presente também na frase mais vaga. […] A filosofia é uma luta</p><p>contra o enfeitiçamento do nosso entendimento pelos meios da</p><p>nossa linguagem (WITTGENSTEIN, 1979, p. 54).</p><p>Wittgenstein (1979) confessa que esteve preso nessa concepção de linguagem,</p><p>nesse princípio, juntamente com os seus seguidores.</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Mas o que faltava para se livrar desse problema?</p><p>Uma representação panorâmica da linguagem pelo qual vemos as coisas na</p><p>realidade, ou seja, uma visão de mundo. A elucidação desses problemas é insufi-</p><p>9</p><p>8</p><p>ciente para resolver os mal entendidos, pelo fato de ela cair na mesma armadilha.</p><p>A forma de resolver é a partir da descrição. A descrição possibilita fazer com</p><p>que a filosofia lute contra o enfeitiçamento conceitual que a linguagem pode</p><p>provocar nos pensadores. “O que chamamos de “descrições” são instrumentos</p><p>para empregos especiais” (WITTGENSTEIN, 1979, p. 104). Essas descrições</p><p>constituem as formas de demonstrar como as coisas são quando as vemos na</p><p>realidade concreta.</p><p>“ O que designam, pois, as palavras dessa linguagem? - o que elas de-</p><p>signam, como posso mostrar isso, a não ser na maneira do seu uso?</p><p>E este uso já descrevemos. A expressão “esta palavra designa isso”</p><p>deveria, portanto, ser uma parte dessa descrição. Ou: a descrição</p><p>deve levar à forma: “palavra … designa”. Ora, pode-se resumir a</p><p>descrição do uso da palavra “lajota”, dizendo que essa palavra de-</p><p>signa esse objeto. Isso será feito quando se tratar apenas de afastar</p><p>o mal-entendido seguinte: pensar que a palavra “lajota” se relacione</p><p>com a forma da pedra de construção que nós de fato nomeamos</p><p>“cubo”, mas o modo dessa ‘relação’, isto é o uso dessas palavras, no</p><p>restante, é conhecido (WITTGENSTEIN, 1979, p. 13).</p><p>A uniformidade da aparência das palavras ou dos conceitos, quando</p><p>elas nos são ditas ou quando nos defrontamos com a escrita, é que nos con-</p><p>funde. O uso ou o emprego desses conceitos quando filosofamos não é claro.</p><p>A descrição na denominação de algo, segundo Wittgenstein, deveria ser como</p><p>quando colocamos etiquetas nos objetos. “[…] O que é um jogo? Creio que</p><p>lhe descreveríamos jogos, e poderíamos acrescentar à descrição: isto e outras</p><p>coisas semelhantes chamamos de ‘jogos’” (WITTGENSTEIN, 1979, p. 40). A</p><p>descrição, além do elemento direto na explicação do objeto ou do conceito,</p><p>exige o uso de coisas ou conceitos semelhantes. O raciocínio por semelhanças</p><p>ou analogias ajuda as pessoas a associar determinados conceitos com os já co-</p><p>nhecidos. Além de sempre ter mente, que o mal uso dos conceitos possibilita</p><p>os mal-entendidos da linguagem.</p><p>UNIASSELVI</p><p>9</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>O conceito é uma forma de exteriorização do</p><p>pensamento. A exteriorização funciona como um</p><p>veículo pelo qual as visões da realidade e aquilo</p><p>que imaginamos nos cercam. Esse veículo fun-</p><p>ciona como uma intermediação entre as imagens</p><p>e as formas, entre concreto e abstrato. A filosofia faz uso de muitos conceitos</p><p>e, ao mesmo tempo, em outro momento, faz referência a eles, às vezes, em for-</p><p>ma de análise crítica, denunciando a sua superficialidade, os seus equívocos,</p><p>favorecendo o entendimento da verdade ou da mentira. Os conceitos não têm</p><p>compromisso nem com a verdade, nem com a mentira. Os conceitos são estí-</p><p>mulos nervosos em forma de sons simplesmente. Vejamos a seguir a crítica de</p><p>Friedrich Nietzsche (1844-1900) sobre os conceitos, como intermediação em</p><p>seu texto Sobre a Verdade e a mentira.</p><p>Estímulos nervosos em sons</p><p>Descrição: a imagem apresenta a fotografia um homem, de perfil, com cabelos curtos e escuros, bigodes longos,</p><p>terno e gravata. A imagem é em preto e branco.</p><p>O conceito é</p><p>uma forma de</p><p>exteriorização do</p><p>pensamento</p><p>Figura 4 - Filósofo Nietzsche</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>O que é uma palavra?</p><p>A figuração de um estímulo nervoso em sons. Mas concluir do estímulo nervoso</p><p>uma causa fora de nós já é o resultado de uma aplicação falsa e ilegítima do</p><p>princípio da razão. Como poderíamos nós, se somente a verdade fosse decisiva na</p><p>gênese da linguagem, se somente o ponto de vista da certeza fosse decisivo nas</p><p>designações, como poderíamos no entanto dizer: a pedra é dura: como se para</p><p>nós esse “dura” fosse conhecido ainda de outro modo, e não somente como uma</p><p>estimulação inteiramente subjetiva! Dividimos as coisas por gêneros, designamos</p><p>a árvore como feminina, o vegetal como masculino: que transposições arbitrárias!</p><p>A que distância voamos além do cânone da certeza! Falamos de uma schlange</p><p>(cobra): a designação não se refere a nada mais do que o enrodilhar-se, e, portanto,</p><p>poderia também caber ao verme. Que delimitações arbitrárias, que preferências</p><p>unilaterais, ora por esta, ora por aquela propriedade das coisas! As diferentes</p><p>línguas, colocadas lado a lado, mostram que nas palavras nunca importa a</p><p>verdade, nunca uma expressão adequada: pois senão não haveria tantas línguas. A</p><p>“coisa em si” (*tal seria justamente a verdade pura sem conseqüências) é, também</p><p>para o formador da linguagem, inteiramente incaptável e nem sequer algo que</p><p>vale a pena. Ele designa apenas as relações das coisas aos homens e toma em</p><p>auxílio para exprimi-las as mais audaciosas metáforas. Um estímulo nervoso,</p><p>primeiramente transposto em uma imagem! Primeira metáfora. A imagem, por</p><p>sua vez, modelada em um som! Segunda metáfora. E a cada vez mais completa</p><p>mudança de esfera, passagem para uma esfera inteiramente outra e nova. Pode-</p><p>se pensar em um homem, que seja totalmente surdo e nunca tenha tido uma</p><p>sensação do som e da música: do mesmo modo que este, porventura, vê com</p><p>espanto as figuras sonoras de Chladni desenhadas na areia, encontra suas causas</p><p>na vibração das cordas e jurará agora que há de saber o que os homens denominam</p><p>“som”, assim também acontece a todos nós com a linguagem. Acreditamos saber</p><p>algo das coisas mesmas, se falamos de árvores, cores, neve e flores, e no entanto</p><p>não possuímos nada mais do que metáforas das coisas, que de nenhum modo</p><p>correspondem às entidades de origem. Assim como o som convertido em figura</p><p>na areia, assim se comporta o enigmático X da coisa em si, uma vez como estímulo</p><p>nervoso, em seguida como imagem, enfim como som. Em todo caso, portanto, não</p><p>é logicamente que ocorre a gênese da linguagem, e o material inteiro, no qual e</p><p>com o qual mais tarde o homem da verdade, o pesquisador, o filósofo, trabalha</p><p>e constrói, provém, se não der Cucolândia das Nuvens, em todo caso não da</p><p>essência das coisas (NIETZSCHE, 1978, p. 48, grifo nosso).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>Primeiramente, a língua não tem compromisso com a verdade ou a mentira,</p><p>ela é apenas uma relação, simplesmente estabelece as relações entre as coisas, o</p><p>pensamento e a realidade que nomeia, significa</p><p>e ajuda a descrever. Por meio dos conceitos, po-</p><p>demos nos aproximar ou distanciar da realidade</p><p>concreta. Ao fazermos uso dos conceitos, acredi-</p><p>tamos que temos o domínio deles, mas isso não</p><p>é verdade. Fazer uso não significa, necessariamente, ter conhecimento, apenas</p><p>usamos metáforas sobre os conceitos das coisas. Ao fazer uso dos conceitos, mui-</p><p>tos estão apenas realizando um voo distante da realidade, ou seja, o pesquisador,</p><p>o filósofo não só acredita, mas constrói lógicas argumentativas para demonstrar</p><p>a desejada verdade.</p><p>O ponto de partida de Nietzsche é muito interessante e já denuncia o fato de</p><p>os conceitos serem sons, simplesmente um som como outros tantos. Isso já tira</p><p>autonomia deles, responsabilidade quanto à verdade dos fatos ou das mentiras</p><p>que se fazem uso dos conceitos. Com isso, coloca toda a responsabilidade em</p><p>quem faz o seu uso, no caso, os seres humanos. Afirmações categóricas de que</p><p>a linguagem, os signos e os conceitos</p><p>são arbitrários caem por terra. A arbitra-</p><p>riedade dos conceitos está nos seres humanos, sujeitos da língua e criadores de</p><p>inúmeras línguas e linguagens. O autor isenta de responsabilidade a linguagem,</p><p>inclusive, do princípio da razão e ao mesmo tempo, ele esclarece que, se o ser</p><p>humano quisesse fazer uso dos conceitos para dizer somente a verdade, isso não</p><p>seria possível.</p><p>A língua não tem</p><p>compromisso com a</p><p>verdade ou mentira</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Por que não é possível dizer somente a verdade, evitando a mentira?</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>“ Pensemos ainda, em particular, na formação dos conceitos. Toda</p><p>palavra torna-se logo conceito justamente quando não deve servir,</p><p>como recordação, para a vivência primitiva, completamente indi-</p><p>vidualizada e única, à qual deve seu surgimento, mas ao mesmo</p><p>tempo tem de convir a um sem-número de casos, mais ou menos</p><p>semelhantes, isso é, tomados rigorosamente, nunca iguais, portanto,</p><p>a casos claramente desiguais. Todo conceito nasce por igualação do</p><p>não-igual. Assim como é certo que nunca uma folha é inteiramente</p><p>igual a uma outra, é certo que o conceito de folha é formado por</p><p>arbitrário abandono dessas diferenças individuais, por um esque-</p><p>cer-se do que é distintivo, e desperta então a representação, como</p><p>se na natureza além das folhas houvesse algo, que fosse “folha”, uma</p><p>espécie de folha primordial, segundo a qual todas as folhas fossem</p><p>ser tecidas, desenhadas, recortadas, coloridas, frisadas, pintadas,</p><p>mas por inábeis, de tal modo que nenhum exemplar tivesse saído</p><p>correto e fidedigno como cópia fiel da forma primordial. […] A</p><p>desconsideração do individual e efetivo nos dá o conceito, portanto,</p><p>também a forma, enquanto que a natureza não conhece formas nem</p><p>conceitos, portanto também não conhece espécies, mas somente um</p><p>X X para nós inacessível e indefinível. Pois mesmo nossa oposição</p><p>entre indivíduo e espécie é antropomórfica e não provém da essên-</p><p>cia das coisas, mesmo se não ousamos dizer que não lhe correspon-</p><p>de: isto seria, com efeito, uma afirmação dogmática e como tal tão</p><p>indemonstrável quando seu contrário (NIETZSCHE, 1978, p. 48).</p><p>A unificação que um conceito realiza, que vem desde Platão até Nietzsche,</p><p>faz com que isso se transforme numa igualdade. A igualdade é uma abstração,</p><p>nada no mundo real é absolutamente igual. Os conceitos, ao serem usados, aca-</p><p>bam igualando os desiguais. Nietzsche (1978, p. 4) destaca que a “natureza não</p><p>conhece formas nem conceitos”. A igualdade é uma criação humana, social e,</p><p>especificamente, jurídica, assim como as formas e os conceitos. Ao fazermos</p><p>uso com a unificação conceitual de espécies e gêneros que são opostos, fazemos</p><p>um antropomorfismo. Portanto, os seres humanos acabam forçando a razão a</p><p>compreender, de forma ilusória, a realidade em que vivem.</p><p>A crítica à superficialidade dos usos dos conceitos realizada por Nietzsche</p><p>passa a ser um referencial teórico crítico para a análise da filosofia da linguagem,</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>Não há a possibilidade de haver uma filosofia sem</p><p>conceitos. Os conceitos constituem uma media-</p><p>ção necessária. A questão está em compreender</p><p>a importância e as funções que os conceitos de-</p><p>sempenham nas doutrinas e nas teses filosóficas,</p><p>por mais que os conceitos sejam, por alguns, supervalorizados e, por outros,</p><p>criticados e, de certa forma, injustamente. Os conceitos contribuem de forma</p><p>a filosofia das lógicas, a filosofia das essências, a filosofia da matemática, a semió-</p><p>tica, a linguística e as demais áreas da filosofia. Além disso, o estudioso lança um</p><p>novo olhar aos conceitos e à linguagem de modo geral, com o intuito de atribuir</p><p>a responsabilidade única e exclusivamente a quem faz o uso da mesma.</p><p>Não há a</p><p>possibilidade</p><p>de Filosofia sem</p><p>conceitos</p><p>Jamais os traços intensivos [conceito] são a consequência dos traços diagramáti-</p><p>cos [plano de imanência], nem as ordenadas e intensivas se deduzem dos movi-</p><p>mentos ou direções. A correspondência entre os dois excede mesmo as simples</p><p>ressonâncias e faz intervir instâncias adjuntas à criação dos conceitos, a saber, os</p><p>personagens conceituais.</p><p>Fonte: Deleuze e Guattari, (1992, p. 51).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>O SENTIDO NO CENÁRIO DOS TEXTOS</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>significativa com a construção de sentidos na produção filosófica. Os senti-</p><p>dos estão sempre inseridos em um cenário e compreendê-lo é importante para</p><p>entender os sentidos dos conceitos criados ou empregados para a resolução de</p><p>determinado problema fundamental.</p><p>Conceitos Construídos</p><p>A reflexão filosófica acontece com conceitos, por intermédio de conceitos, analisa</p><p>os usos dos conceitos e faz uma redefinição dos conceitos nos textos filosóficos.</p><p>Toda essa atividade reflexiva dos conceitos acontece por meio dos textos filosó-</p><p>ficos. A construção de argumentos filosóficos em uma determinada doutrina</p><p>começa com uma redefinição conceitual como base fundamental, inclusive,</p><p>com nova noção de conceitos a serem utilizados.</p><p>Esse dado é importante para reafirmar que os conceitos não são dados como</p><p>uma espécie de preexistência, mas incessantemente construídos e reconstruídos</p><p>para determinar a atividade filosófica. Com isso, é</p><p>preciso que o iniciante esteja atento para perceber</p><p>o movimento que a racionalidade intelectual faz</p><p>para instalar determinados conceitos que serão</p><p>usados em uma teoria. Esse movimento pode ser</p><p>uma desconstrução dos edifícios filosóficos ante-</p><p>riores, inclusive, da própria noção de conceitos. A justificativa desse movimento</p><p>se fundamenta numa resposta a um determinado problema ou a um novo olhar</p><p>sobre aquilo que a realidade impõe ao filósofo.</p><p>A construção argumentativa com a mediação dos conceitos realizados pela</p><p>filosofia oferece um caminho para seguir na leitura. A apropriação feita pela filosofia</p><p>das categorias oferecidas pela estrutura da língua, pela produção das doutrinas</p><p>na história como unidades de sentidos conceituais fixadas, constitui um universo</p><p>autônomo de significados que precisamos sempre levar em consideração. Por</p><p>mais que seja um universo aparentemente, fechado à medida que estabelece</p><p>regras próprias de coerência interna rigorosas, que garantem as ligações com as</p><p>noções, devemos, com muita análise crítica, reaproveitá-las na construção filosófica.</p><p>Os conceitos não</p><p>são dados como</p><p>uma espécie de</p><p>preexistência</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>A função de mediação dos conceitos é organizar internamente a lógica do</p><p>discurso para designar a si mesma e para designar a construção daquilo que</p><p>deseja nomear ou demonstrar detalhadamente. Essas orientações para seguir na</p><p>leitura permitem identificar a forma como os conceitos são instaurados no texto</p><p>e as funções que desempenham na argumentação e na discursividade filosófica</p><p>como um todo. Essa forma de identificação possibilita, além da identificação</p><p>das funções, as operações aparentemente complexas e específicas chamadas de</p><p>processo de construção dos sentidos e significados.</p><p>Construção de sentidos</p><p>Seria possível uma filosofia sem conceitos? Não. Os conceitos constituem uma</p><p>mediação necessária. Então, a mediação é mais importante que a reflexão filosófica</p><p>que apresenta a solução para um determinado</p><p>problema ou um conjunto de problemas? Não.</p><p>A questão não trata de estabelecer quem é mais</p><p>ou menos importante, mas sim de compreen-</p><p>der a importância e as funções que os conceitos</p><p>desempenham nas doutrinas e nas teses filosóficas, por mais que os conceitos</p><p>sejam, por alguns, supervalorizados e, por outros, criticados e, de certa forma,</p><p>injustamente. Os conceitos contribuem de forma significativa na construção de</p><p>sentidos na produção filosófica.</p><p>No processo de construção dos sentidos e da significação atribuídos às teses e</p><p>às respostas aos problemas, não basta somente fixar os sentidos de determinadas</p><p>expressões e criar um vocabulário próprio com termos específicos para um uni-</p><p>verso autônomo de uma doutrina. Faz-se necessário integrá-los em um contexto</p><p>explicativo ou demonstrativo para que a construção da sua significação</p><p>possa ser</p><p>percebida na sua totalidade. Não se pode dissociar os usos dos conceitos fora do</p><p>seu contexto, visto que isso pode mudar o sentido dos deles. Retirar uma propo-</p><p>sição do seu contexto, quer seja explicativo, demonstrativo, ou histórico-social,</p><p>pode criar anacronismos.</p><p>O anacronismo é algo muito comum em reflexões, explicações e comentários</p><p>filosóficos no meio acadêmico. Ele faz com que a reflexão filosófica seja enten-</p><p>dida como algo solto, descolado da realidade, sem nenhuma conexão entre o</p><p>mundo vivido e o mundo concebido. A reflexão filosófica, uma doutrina ou uma</p><p>Seria possível</p><p>uma filosofia sem</p><p>conceitos?</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>tese deve deixar claro o seu destinatário, evitando, assim, parecer uma reflexão</p><p>a-histórica, pura abstração ou divagação. O símbolo clássico do filósofo na Torre</p><p>de Marfim deve ser posto de lado para não confundir o pensamento refinado e</p><p>crítico com uma reflexão alienada e solta, uma espécie de raciocínio do nada para</p><p>lugar nenhum, ou o jargão repetido por muitos estudantes do Ensino Médio: “a</p><p>filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”!</p><p>Os conceitos não são dados previamente em um sistema filosófico ou doutri-</p><p>na, mesmo quando acontece o reaproveitamento das categorias já consagradas</p><p>pela história da filosofia e construídas no coração da atividade filosófica. A rear-</p><p>ticulação dos conceitos no texto desloca os sentidos ora anteriormente fixados</p><p>nas proposições, inventando novas expressões como resultado de um trabalho de</p><p>engenhosidade intelectual de muita reflexão cuidadosa, dando, assim, às novas</p><p>definições, outro sentido. As novas definições desses conceitos e observações</p><p>nesse novo sentido passam a fazer parte de investigações filosóficas e podem</p><p>até constituir um método para filosofar ou um método da filosofia (exemplos: a</p><p>filosofia aristotélica com suas definições, como a Metafísica; a filosofia analítica</p><p>anglo-saxônica entre outras).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>Definição de Conceitos</p><p>Filosofia como criação de conceitos</p><p>Tratar o pensamento como criação é uma forma de conceber a vida como pro-</p><p>cesso de criação, uma "obra de arte" constantemente vinculada à produção de</p><p>singularidades e diferenças. A filosofia deleuze-guattariana é uma experimentação</p><p>na ordem dos conceitos, o que caracteriza o chamado construtivismo filosófico</p><p>baseado na criação de conceitos e no implante do plano de imanência.</p><p>Fonte: Feixe Hertziano (2005, on-line).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Descrição: a imagem mostra um homem que olha para frente. Ele traja vestes adornadas, com casaco com botões</p><p>por cima de um colete e um lenço amarrado no colarinho, sobre fundo preto.</p><p>Figura 5 - Filósofo Hume</p><p>Os sentidos das palavras atribuídos pelos filósofos são de inteira responsabilidade</p><p>deles que o fazem, porque não encontram na língua o significado desejado para</p><p>exprimir o seu pensamento. Diante disso, os autores são forçados a escolher um</p><p>termo significante para a fixação com traços definicionais, elementos que são</p><p>diferenciadores em relação a determinados conceitos. Um exemplo é o filósofo</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>David Hume (1711-1776) afirmando claramente o que entende por impressões.</p><p>Vejamos a seguir:</p><p>“ A outra espécie não possui um nome em nosso idioma e na maio-</p><p>ria dos outros, porque, suponho, somente com fins filosóficos era</p><p>necessário compreendê-las sob um termo ou nomenclatura geral.</p><p>Deixe-nos, portanto, usar um pouco de liberdade e denominá-las</p><p>impressões, empregando esta palavra num sentido de algum modo</p><p>diferente do usual. Pelo termo impressão, entendo, pois, todas as</p><p>percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos,</p><p>odiamos, desejamos ou queremos (HUME, 1992, p. 70).</p><p>O filósofo deixou claro o seu entendimento sobre o termo impressão ao</p><p>estabelecer uma descrição detalhada dos traços definicionais e a relação entre os</p><p>conceitos. Outro aspecto a destacar é a atenção ao sentido que está formulando</p><p>e as observações sobre a língua em geral. Essa atenção faz com que o estatuto</p><p>filosófico da significação seja seguido na tentativa de elucidação dos termos</p><p>no seu uso na linguagem. O estabelecimento do sentido dos termos é crucial no</p><p>início da apresentação ou na elaboração da reflexão filosófica sobre o problema</p><p>a ser respondido e, em seguida, faz uso deles como argumentação para funda-</p><p>mentar a sua tese central.</p><p>“ Não há ideias mais obscuras e incertas em metafísica do que as de</p><p>poder, força, energia ou conexão necessária, às quais necessitamos</p><p>reporta-nos constantemente em todas as nossas inquirições. Tenta-</p><p>remos, portanto, nesta seção, estabelecer e, por este meio remover</p><p>parte da obscuridade tão lamentada neste gênero de filosofia. Parece</p><p>que esta proposição não admitia muita controvérsia: todas as nos-</p><p>sas ideias são cópias de impressões ou, em outras palavras, é-nos</p><p>impossível pensar em algo que antes não tivéramos sentido, quer</p><p>pelos nossos sentidos externos, quer pelos internos. Tenho tenta-</p><p>do explicar e provar esta proposição, e tenho também manifestado</p><p>minhas expectativas de que, mediante sua adequada aplicação, se</p><p>possa alcançar mais clareza e exatidão nos raciocínios filosóficos do</p><p>que até agora se tem podido obter (HUME, 1992, p. 96).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 4</p><p>No fragmento apresentado, fica clara a luta travada pelo autor para delimi-</p><p>tar conceitualmente o significado desejado dos termos que necessita usar para</p><p>explicitar o seu raciocínio em sua língua. Essa busca de estabelecer o sentido</p><p>na proposição não é somente de David Hume, mas é comum em toda tradição</p><p>filosófica, pois o sentido das proposições que afirmam as teses precisa ser cons-</p><p>truído para que possa alcançar mais clareza e exatidão nos raciocínios. Somente</p><p>a crítica refinada dos seus adversários e estudiosos da filosofia, no decorrer da</p><p>história, dirão se o filósofo conseguiu ser feliz na construção de proposições com</p><p>o sentido que tanto desejava.</p><p>A busca pela definição precisa e clara dos conceitos é realizada por meio da</p><p>argumentação racional fundamentada nas regras da língua e de acordo com a</p><p>semântica. Com isso, o filósofo se depara a todo momento com a “fronteira” da</p><p>linguagem acaba fazendo verdadeiro “contorcionismo conceitual” até realizar o</p><p>desejo de construir as proposições com sentido esperado. Algumas vezes, a defi-</p><p>nição desejada está fundamentada exclusivamente numa espécie de autoevidên-</p><p>cia e autoexplicativa. Contudo, a construção da definição desejada requer muita</p><p>criatividade, muito trabalho intelectual e investigação até encontrar a clareza e o</p><p>rigor na significação dos conceitos.</p><p>Diante da construção conceitual e dos termos utilizados em um sistema filosófico,</p><p>você tem a impressão de que cada sistema ou doutrina cria nova terminologia ou</p><p>linguagem própria, tamanha a dificuldade em decifrar essas engenhosidades inte-</p><p>lectuais. Diante disso, você não pode esquecer que os conceitos são construções</p><p>sociais, não algo dado aos filósofos.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Chegamos ao fim deste Tema de Aprendizagem!</p><p>Analisamos o discurso filosófico de busca pela precisão, o rigor conceitual</p><p>que está presente na história da Filosofia e a crítica de Wittgenstein que atinge a</p><p>todos os partidários desse princípio. Contudo, o problema não é o princípio do</p><p>rigor, que é algo a ser buscado, mas as ilusões gramaticais que podem provocar.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Além de analisar as origens das ilusões provocadas pela não compreensão dos</p><p>fundamentos da linguagem, entramos nos problemas de construção argumen-</p><p>tativa com a mediação dos conceitos realizados pela filosofia.</p><p>Por fim, destacamos a importância da apropriação feita pela Filosofia das</p><p>categorias oferecidas pela estrutura da língua e pela produção teórica das dou-</p><p>trinas na história da Filosofia, e os fragmentos das obras clássicas da filosofia que</p><p>foram instrumentos que podem ser aproveitados em outros estudos no decorrer</p><p>do curso.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>1. Sobre o texto na Filosofia, a forma como o autor escolhe para articular o texto</p><p>na sua dou-</p><p>trina é decisivo na constituição de sua compreensão. Só esse aspecto já poderia constituir</p><p>um estudo, visto que está em jogo o processo de criação e a novidade quando se trata de</p><p>filosofia. Ao apresentar o seu ponto de vista filosófico no meio de uma multiplicidade que</p><p>não é harmônica, o pensamento conquista ou reconquista a sua autonomia. Considerando</p><p>o enunciado apresentado, analise as afirmativas a seguir:</p><p>I - Podemos destacar, no texto filosófico, a imposição e a luta pelo rigor do seu trabalho na</p><p>validação da sua tese. Contudo, isso nem sempre é relevante no convencimento.</p><p>II - Quando utilizamos o amplo conceito de texto, ele traz sempre consigo inúmeros elemen-</p><p>tos. Um deles é o jogo múltiplo de referências, outro são as redes de intertextualidades</p><p>sobre as quais é possível verificar o uso de várias funções.</p><p>III - Além das funções para assegurar as interações textuais, a tese assegura o domínio filo-</p><p>sófico com as rupturas para a construção de novos sentidos e significados em relação</p><p>às fontes históricas das reflexões.</p><p>IV - Não cabe ao leitor o trabalho de levantar todas as formas possíveis dessas funções</p><p>textuais, de acordo com a sua compreensão, efetivadas nas referências, podendo ser as</p><p>formas explícitas (que podem chegar às alusões) e implícitas (o subentendido).</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas II, III e IV.</p><p>d) I, II, III, IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>2. Sobre a construção de conceitos na Filosofia, a reflexão filosófica acontece com conceitos,</p><p>por meio de conceitos, analisa os usos dos conceitos e faz uma redefinição dos conceitos</p><p>nos textos filosóficos. Toda esta atividade reflexiva dos conceitos acontece por intermédio</p><p>dos textos filosóficos. A construção de argumentos filosóficos numa determinada doutrina</p><p>começa com uma redefinição conceitual como base fundamental, inclusive, com nova</p><p>noção de conceitos a serem utilizados. Diante disto, marque a alternativa correta:</p><p>a) Seria possível uma filosofia sem conceitos? Não. Os conceitos constituem uma mediação</p><p>necessária. Então, a mediação é mais importante que a reflexão filosófica que apresenta a</p><p>solução para determinado problema ou para um conjunto de problemas? Sim. A questão</p><p>não trata de estabelecer quem é mais ou menos importante, mas sim compreender a im-</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>portância e as funções que os conceitos desempenham nas doutrinas e teses filosóficas,</p><p>por mais que os conceitos sejam, por alguns, supervalorizados e, por outros, criticados,</p><p>de certa forma, injustamente.</p><p>b) Os conceitos contribuem de forma significativa na construção de sentidos na produção</p><p>filosófica no processo de construção dos sentidos e da significação atribuídos às teses</p><p>e às respostas aos problemas. Não basta somente fixar os sentidos de determinadas</p><p>expressões e criar um vocabulário próprio com termos específicos para um universo</p><p>autônomo de uma doutrina. Não se faz necessário integrá-los em um contexto explica-</p><p>tivo ou demonstrativo para que a construção da sua significação possa ser percebida</p><p>na sua totalidade.</p><p>c) Não se pode dissociar os usos dos conceitos fora do seu contexto, visto que isso pode</p><p>mudar o sentido deles. Retirar uma proposição do seu contexto, seja explicativo, de-</p><p>monstrativo, ou histórico-social, não cria anacronismos.</p><p>d) O anacronismo é algo muito comum em reflexões, explicações e comentários filosóficos</p><p>no meio acadêmico. Os anacronismos fazem com que a reflexão filosófica seja entendida</p><p>como algo solto, descolado da realidade,</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARISTÓTELES. Metafísica: livro I e 2; Ética a Nicômaco; Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que É a Filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.</p><p>HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1992.</p><p>NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Rio de Janeiro: Ci-</p><p>vilização Brasileira, 1998.</p><p>NIETZSCHE, F. Sobre a verdade e a mentira. In: Obras incompletas; seleção de textos de Gerard</p><p>Lebrun. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores)</p><p>PLATÃO, G. Trad. de Manuel de Oliveira Pulquério. Lisboa: Edições 70, 1997.</p><p>WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>WITTGENSTEIN, L. Tratactus Logico-philosophicus. São Paulo: Editora da Universidade de São</p><p>Paulo, 1994.</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>1. B.</p><p>2. D.</p><p>GABARITO</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>MINHAS METAS</p><p>FILOSOFIA COMO RESOLUÇÃO DE</p><p>PROBLEMAS</p><p>Apresentar a importância do problema fundamental, a tese ou a resolução do problema,</p><p>a argumentação, a fundamentação e os exemplos na compreensão dos textos filosóficos.</p><p>Procurar identificar, nos textos filosóficos, os problemas fundamentais e suas teses.</p><p>Demonstrar as causas da falta de exemplos ou de ilustrações em muitas doutrinas ou</p><p>sistemas filosóficos.</p><p>Apresentar a importância dos argumentos e dos fundamentos para uma filosofia rigorosa.</p><p>Demonstrar o porquê de a filosofia utilizar poucos exemplos na produção filosófica.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 5</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudante, bem-vindo(a)!</p><p>Neste Tema de Aprendizagem, apresentaremos os elementos necessários para</p><p>compreender os problemas filosóficos. Começamos falando da Filosofia como</p><p>resolução de problemas e, ainda no primeiro tópico, apresentamos as dificulda-</p><p>des em compreendê-la. Para muitos filósofos, os problemas são os motores do</p><p>pensamento na Filosofia.</p><p>O problema fundamental deve ser subjetivo, e pensar é agir subjetivamente,</p><p>o que equivale a assumir o problema enquanto seu, pelo fato de ser atingido por</p><p>ele. O pensar deve ser realizado com o intuito de criar as condições por meio de</p><p>raciocínios para que surjam as soluções que ainda não foram pensadas. Pensar</p><p>é criar algo que não existe. Mas pensar o quê? Pensar o pensamento para chegar</p><p>a uma solução verdadeira para o problema.</p><p>Demonstraremos que a criação de conceitos é um resultado de uma ne-</p><p>cessidade que se impõe, quer o filósofo deseja, quer não. O que impulsiona o</p><p>filósofo é o problema fundamental. O problema mobiliza as faculdades criativas.</p><p>Se não fosse assim, seria criação de falsos conceitos ou conceitos mal postos.</p><p>Todo conceito criado está relacionado diretamente a um problema, sem os quais</p><p>jamais surgiriam.</p><p>Veremos que tentar decifrar aquilo que, aparentemente, parece indecifrável</p><p>nos textos de filosofia começa a ser um exercício de criação e recriação de proble-</p><p>mas e de novos conceitos filosóficos. Com isso, a ocupação com os textos passa</p><p>a ser uma experiência de vida, algo muito além de apenas encontrar problemas,</p><p>inventar novos problemas e ver os resultados efetivados no mundo vivido.</p><p>Por fim, enfrentaremos o problema dos exemplos ou do caso concreto nos</p><p>textos filosóficos. Os exemplos, as ilustrações tão solicitadas pelos estudantes</p><p>em todas as áreas do conhecimento, na Filosofia, recebem outro olhar.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>Para muitos filósofos, os problemas são os moto-</p><p>res do pensamento na filosofia. Para que o filósofo</p><p>seja movido por um problema, é necessário sentir,</p><p>ser tocado profundamente por ele. Demonstrare-</p><p>mos como isso acontece no pensador, e os resul-</p><p>tados à medida que são influenciados pelos problemas do mundo vivido, que</p><p>resulta na produção filosófica.</p><p>Como surge um problema?</p><p>Desde a Grécia Antiga, por exemplo, desde Platão (428-347 a. C), até os dias</p><p>atuais, muitos filósofos têm entendido a filosofia como resolução de problemas.</p><p>Com isso, os filósofos têm exercido uma atividade educativa. A educação é enten-</p><p>dida como orientação no sentido platônico, ou seja, o filósofo deve descer várias</p><p>vezes ao interior da caverna (Mito da Caverna, livro VII da República de Platão)</p><p>para influenciar aqueles que estavam presos pela ignorância. Libertar aqueles que</p><p>estão presos pela ignorância passa a ser o problema que precisa de uma resposta.</p><p>Contudo, nem todos sentem que esse problema precisa ser solucionado, nem</p><p>todos veem a ignorância como um problema.</p><p>Para muitos</p><p>filósofos, os problemas são os motores do pensamento na fi-</p><p>losofia, mais que as soluções. Os problemas são obstáculos, dificuldades, in-</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>FILOSOFIA E SEUS PROBLEMAS</p><p>Os problemas são</p><p>os motores do</p><p>pensamento na</p><p>filosofia</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>cômodos de todos os tipos e espécies que precisam ser removidos. Caso não</p><p>sejam removidos, podem gerar outros problemas, por vezes, ainda maiores. Para</p><p>removê-los, a filosofia precisa superar o sentimento de ignorância. A superação</p><p>da ignorância começa a ser resolvida à medida que a filosofia tem a experiência</p><p>do problema. O filósofo tem que sentir o problema subjetivamente, e isso é mo-</p><p>tor impulsionador para o pesquisador sair de si mesmo, ser forçado a pensar em</p><p>como resolvê-lo. O filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), em dois livros,</p><p>Lógica do sentido e Diferença e repetição, cujo tema central são os problemas na</p><p>Filosofia, apresenta alguns elementos sobre sentir o problema, entre outros que</p><p>merecem a nossa atenção.</p><p>“ Há no mundo alguma coisa que força a pensar. Este algo é objeto de</p><p>um encontro fundamental e não de uma recognição. O que é encon-</p><p>trado pode ser Sócrates, o tempo ou o demônio. Pode ser apreen-</p><p>dido sob tonalidades afetivas diversas, admiração, amor, ódio, dor.</p><p>Mas, em sua primeira característica, e sob qualquer tonalidade, ele</p><p>só pode ser sentido. É assim que ele se opõe à recognição, pois o</p><p>sensível, na recognição, nunca é o que só pode ser sentido, mas o</p><p>que relaciona diretamente com os sentidos num objeto que pode</p><p>ser lembrado, imaginado, concebido […]. Aquilo que só pode ser</p><p>sentido (o sentiendum ou o ser do sensível) sensibiliza a alma, tor-</p><p>na-a “perplexa”, isto é, força-a a colocar um problema, como se o</p><p>objeto do encontro, o signo, fosse portador de problema – como se</p><p>ele suscitasse (DELEUZE, 2006a, p. 203).</p><p>O ser humano é um ser eminentemente ativo, mas necessita de algo que o</p><p>mova. Para que o filósofo seja movido por um problema, é necessário sentir, ser</p><p>tocado profundamente por ele. No primeiro momento, são as questões senti-</p><p>mentais que entram em cena quando um problema é imposto pela realidade ao</p><p>filósofo. Só em um segundo momento é que entram os aspectos racionais para</p><p>que aconteça o equacionamento do problema. Deleuze, no fragmento apresen-</p><p>tado, fala de um “encontro fundamental” entre o sentido e o objeto. O sentido</p><p>é a força que faz com que o encontro seja o problema suscitado, um incômodo</p><p>desconhecido ao filósofo, despertando, assim, a sua curiosidade, o seu interesse</p><p>para compreendê-lo.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>Assumir um problema como seu faz com que a experiência sensível do filóso-</p><p>fo e os conhecimentos acumulados nas leituras de filosofia sejam importantes no</p><p>enfrentamento. O acúmulo de conhecimentos é resultado de toda a ocupação</p><p>do filósofo com os textos filosóficos, que possibilitará um tratamento diferente</p><p>do problema, algo muito diferente no caso de um iniciante nos seus estudos.</p><p>Quando um problema se impõe ao iniciante ou a um filósofo, não há fórmulas</p><p>determinadas, prontas para resolvê-lo: faz-se necessário criá-las, inventá-las e,</p><p>para isso, é necessário pensar. Pensar é agir subjetivamente para apresentar alter-</p><p>nativas para resolver o problema, que é aquilo que move o pensamento.</p><p>Problema como um acontecimento</p><p>O problema se impõe a nós como se fosse um acontecimento imprevisível. Se-</p><p>gundo Deleuze, possui uma singularidade composta por agrupamentos de outras</p><p>singularidades e sem um fio condutor para guiar, sem uma descrição, ou seja,</p><p>tudo está por ser construído pelo pensamento. É possível resolvê-lo porque po-</p><p>demos compreendê-lo desde o início, por isso, é um desafio a ser enfrentado.</p><p>Na Lógica do Sentido, Deleuze apresenta o problema como um acontecimento</p><p>entre outros que acontecem todos os dias para as pessoas comuns que não se</p><p>ocupam com a filosofia.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>“ O acontecimento por si mesmo é problemático e problematizante.</p><p>Um problema, com efeito, não é determinado senão por seus pontos</p><p>singulares que exprimem suas condições. Não dizemos que, por</p><p>isso, o problema é resolvido: ao contrário, ele é determinado como</p><p>problema […]. Parece, pois, que um problema tem sempre a solu-</p><p>ção que merece segundo as condições que o determinam enquanto</p><p>problema; e, com efeito, as singularidades presidem à gênese das</p><p>soluções da equação (DELEUZE, 1998, p. 57).</p><p>Entender os problemas filosóficos como um acontecimento problemático</p><p>e problematizante demonstra um olhar muito interessante que nos força a não</p><p>simplificá-los. Todo problema tem pontos singulares que revelam as suas condi-</p><p>ções enquanto manifestação para aqueles que foram tocados por ele. Esses pontos</p><p>são as condições para constituir e determinar o</p><p>problema e, de uma forma ou de outra, dão pis-</p><p>tas, indicativos para uma das inúmeras soluções.</p><p>Raramente temos um problema com uma única</p><p>solução. Se só vemos uma, não significa que não</p><p>tenham outras. Por isso, faz-se necessário pensar para escolher a melhor forma</p><p>ou o melhor caminho para resolvê-lo. Nem sempre aquele que parece ser o mais</p><p>fácil é o melhor por causa das singularidades presentes no problema.</p><p>No primeiro momento, o problema é sempre subjetivo, e pensar é agir subje-</p><p>tivamente, o que significa assumir o problema enquanto seu, pelo fato de estar te</p><p>atingindo, incomodando e perturbando, e não aos outros. No segundo momento,</p><p>o problema pode ser objetivo, se outras pessoas assumirem como se fossem</p><p>delas, ou seja, assumir coletivamente. Para que uma coletividade assuma o pro-</p><p>blema como se fosse dela, é necessário que seja mobilizada, tocada, convencida</p><p>para que seja também movida por ele. Portanto, um problema subjetivamente</p><p>pode se tornar objetivamente, desde que aconteçam ações de convencimento,</p><p>argumentação racional ou emocional para que todos sejam sensibilizados.</p><p>Para Deleuze (1998), contudo, o problema é objetivo na medida em que é</p><p>uma experiência sensível, ou seja, outras pessoas podem ter a mesma sensação</p><p>que o filósofo. Vejamos um fragmento do livro Lógica do Sentido, em que isso</p><p>fica mais claro e apresenta outros elementos interessantes.</p><p>Todo problema tem</p><p>pontos singulares</p><p>que revelam as suas</p><p>condições</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>“ Devemos, assim, romper com um longo hábito de pensamento que</p><p>nos faz considerar o problemático como uma categoria subjetiva de</p><p>nosso conhecimento, um momento empírico que marcaria somente</p><p>a imperfeição de nossa conduta, a triste necessidade em que nos</p><p>encontramos de não saber de antemão e que desapareceria com o</p><p>saber adquirido. O problema pode muito bem ser recoberto pelas</p><p>soluções, nem por isto ele deixa de subsistir na Ideia que o refere às</p><p>suas condições e organiza a gênese das próprias soluções. Sem esta</p><p>Ideia as soluções não teriam sentido. O problemático é ao mesmo</p><p>tempo uma categoria objetiva do conhecimento é um gênero de ser</p><p>perfeitamente objetivo (DELEUZE, 1998, p. 57).</p><p>Nesse sentido, o problemático como categoria objetiva contendo as singula-</p><p>ridades já mencionadas faz com que seja sentido ou não pelo filósofo. Elas estão</p><p>sempre agregadas ao problema. Caso contrário, o problema pode ser tomado</p><p>como um “falso” problema, ou seja, ser percebido de forma superficial. Uma vez</p><p>sendo percebido com todas as suas implicações, o problema pode ser descrito ou</p><p>explicado independentemente de uma pessoa ou uma coletividade de pessoas.</p><p>Além do mais, o problema é fruto da experiência como ponto de partida. Nesse</p><p>sentido, Deleuze pode ser classificado aparentemente como empirista.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Pensar o problema</p><p>O problema a ser resolvido não pode ser a orientação da investigação ou do</p><p>pensamento, mas deve-se pensar algo a partir dele. O pensar deve ser realizado</p><p>com o intuito de criar as condições por meio de raciocínios para que surjam</p><p>as soluções que ainda não foram pensadas. Pensar é criar algo que não existe.</p><p>Pensar o pensamento para chegar a uma solução verdadeira para o problema.</p><p>A engenhosidade do pensar faz com</p><p>que o diferencial do problema seja enfren-</p><p>tado com racionalidade na construção de soluções.</p><p>“ Estranho marcar passo e círculo vicioso pelos quais o filósofo pre-</p><p>tende levar a verdade das soluções aos problemas, mas, ainda per-</p><p>manecendo prisioneiro da imagem dogmática, remete a verdade</p><p>dos problemas à possibilidade de suas soluções. O que se perde é a</p><p>característica interna do problema como tal, o elemento imperativo</p><p>interior que decide, antes de tudo, de sua verdade e de sua falsidade</p><p>e que mede seu poder de gênese intrínseca: o próprio objeto da</p><p>dialética ou da combinatória, o “diferencial”. Os problemas são pro-</p><p>vas e seleções. O essencial é que, no seio dos problemas, faz-se uma</p><p>gênese da verdade, uma produção do verdadeiro no pensamento.</p><p>O problema é o elemento diferencial no pensamento, o elemento</p><p>genético no verdadeiro (DELEUZE, 2006a, p. 232).</p><p>O diferencial do pensamento é tratar os problemas a partir das características</p><p>internas, fazendo a seleção daquilo que é essencial, ou seja, tratá-los com objeti-</p><p>vidade. Sabe-se que há uma multiplicidade de singularidades e distintos arranjos</p><p>em um problema. Contudo, as soluções devem sair de dentro do problema, mas</p><p>não se pode deixar de lado os elementos que se avizinham dele e, em determina-</p><p>do momento, podem ser invertidos. Os elementos que avizinham ao problema</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Mas pensar o quê?</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>poderão ser aqueles que integraram a solução possível. É falsa a afirmação de</p><p>que há uma solução para cada problema, visto que pode haver várias soluções</p><p>para um único problema.</p><p>“ Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como o verda-</p><p>deiro e falso em relação a esta atividade, só começa com a procura de</p><p>soluções, só concerne às soluções. É provável que esta crença tenha a</p><p>mesma origem que a dos outros postulados da imagem dogmática:</p><p>exemplos pueris separados de seu contexto, arbitrariamente erigidos</p><p>em modelos. É um preconceito infantil, segundo o qual o mestre</p><p>apresenta um problema, sendo nossa a tarefa de resolvê-lo e sendo</p><p>o resultado desta tarefa qualificado como verdadeiro ou falso por</p><p>uma autoridade poderosa. E é um preconceito social, no visível in-</p><p>teresse de nos manter as crianças, que sempre nos convida a resolver</p><p>problemas vindos de outro lugar e que nos consola, ou nos distrai,</p><p>dizendo-nos que venceremos se soubermos responder: o problema</p><p>como obstáculo e o respondente como Hércules. [….] Como se não</p><p>continuássemos escravos enquanto não dispusermos dos próprios</p><p>problemas, de uma participação nos problemas, de um direito aos</p><p>problemas, de uma gestão dos problemas (DELEUZE, 2006a, p. 228).</p><p>Colocar problemas para os alunos resolverem e, depois, classificá-los como fal-</p><p>so ou verdadeiro, segundo Deleuze, não contribui para o exercício do pensamento.</p><p>Além disso, tira-lhes o direito de pensamento próprio. Os estudantes devem sentir,</p><p>experienciar o problema como se fosse seus e assumi-los como algo necessário e</p><p>urgente para encontrar as soluções. Com isso, o professor ou mestre estará contri-</p><p>buindo para que aconteça a emancipação intelectual. Os estudantes podem exer-</p><p>cer o direito de ter os próprios problemas e experimentá-los singularmente. Essa</p><p>experiência de sentir os problemas que necessitam de uma solução faz com que o</p><p>ato de pensar dos estudantes contribua para o exercício da autonomia filosófica.</p><p>Fazer um percurso já pensado por outros, praticar somente a observação</p><p>de raciocínios motivados por “falsos” problemas descontextualizados, segundo</p><p>Deleuze, é ter uma imagem dogmática (não submetido à crítica) do pensamento</p><p>e das suas potencialidades. Isso faz com que os estudantes fiquem somente na</p><p>doxa (opinião) e não experienciem um pensamento novo, nem criem respostas</p><p>para os problemas do dia a dia.</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>PROBLEMAS PARA CRIAR NOVOS CONCEITOS NA FILOSOFIA</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Como entender os filósofos e a filosofia produzida por eles?</p><p>Você sabia que o problema fundamental funciona como motor para pensar a tese</p><p>ou a solução? O primeiro passo para que isso aconteça é identificá-lo no texto filo-</p><p>sófico; o segundo é ter postura filosófica diante do problema fundamental.</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>As pessoas do público possuem algumas dificuldades em compreender a filosofia,</p><p>e uma delas está no fato de não entender o que os filósofos fazem. Elas acreditam</p><p>que cada um fala do que quer, do jeito que quer.</p><p>Devemos compreender a razão de tanta dedicação na produção dos escritos.</p><p>O motivo que os leva à produção filosófica está na tentativa de resolver os pro-</p><p>blemas na filosofia. Todo filósofo tem um problema a ser resolvido, enquanto as</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>pessoas não entendem quais são os problemas e os seus argumentos. Portanto, a</p><p>filosofia passa a ser algo estranho, confuso ou complicada demais. Sem proble-</p><p>mas, não há produção alguma de filosofia.</p><p>O primeiro passo para compreender uma produção filosófica é encontrar, ou</p><p>estabelecer, o problema fundamental do filósofo. Veja que a lista de problemas</p><p>não é pequena, nem está pronta, acabada, e não há um catálogo de problemas</p><p>dos filósofos enfrentados por cada um deles. Encontrar esse problema é uma tare-</p><p>fa essencial de todo pesquisador ou estudante de Filosofia, uma vez que faz parte</p><p>do trabalho filosófico. Portanto, devemos começar fazendo a seguinte questão:</p><p>O problema</p><p>fundamental é</p><p>aquele incômodo</p><p>que perturba o</p><p>pensador</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Qual ou quais são os problemas elaborados por este filósofo? Por que ele elaborou</p><p>este problema? Por que ele o formulou desta maneira?</p><p>Entender uma filosofia é ver como o filósofo elaborou as respostas para o</p><p>problema proposto por ele. Isso vale para qualquer filosofia em toda a sua his-</p><p>tória, sem exceção.</p><p>Devemos alertar para o fato de que muitos filósofos colocam diferentes pro-</p><p>blemas em diferentes obras, mas isso não retira as afirmações anteriores, pelo</p><p>contrário, reforçam-nas. O grau de entendimento de uma filosofia é medido</p><p>pela identificação dos seus problemas e das conexões estabelecidas por eles. Às</p><p>vezes, aparecem aspectos desconexos, mas fazem parte de um grande problema</p><p>ou problema fundamental em questão. Compreender um problema não significa</p><p>ter muitas informações a respeito da filosofia em questão, por exemplo, bio-</p><p>grafias, argumentos famosos, conceitos que chamam atenção e são comentados</p><p>por muitas pessoas, entre outros, mas ser capaz de fixar e explicar claramente o</p><p>problema fundamental.</p><p>O problema fundamental é aquele incômo-</p><p>do que perturba o pensador, que não lhe permite</p><p>descansar e o impulsiona a criar conceitos para</p><p>responder, ou buscar solucioná-lo de forma clara</p><p>e convincente. Para Deleuze, em seu livro O que é</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>filosofia?, a filosofia é a fabricação de conceitos. Vejamos em outro texto o que</p><p>o estudioso diz sobre a criação de conceitos a partir dos problemas fundamentais</p><p>dos filósofos.</p><p>É simples: a filosofia também é uma disciplina criadora, tão inventiva quanto qualquer</p><p>outra disciplina, e ela consiste em criar ou bem inventar conceitos. E os conceitos</p><p>não existem desde já feitos, numa espécie de céu em que eles esperassem que</p><p>um filósofo os agarrasse. É necessário fabricar os conceitos. Certamente, não se os</p><p>fabrica assim, do nada. Não se diz, um dia, “bem, vou inventar tal conceito”, como</p><p>um pintor não diz um dia, “bem, vou fazer um quadro assim”, ou um cineasta “bem,</p><p>vou fazer tal filme”! É necessário que se tenha uma necessidade, em filosofia ou nos</p><p>outros casos, senão não haveria nada. Um criador não é um padre que trabalha pelo</p><p>prazer. Um criador não faz nada além do que aquilo que absolutamente necessita.</p><p>Resta que esta necessidade – que é uma coisa bastante complexa, se ela existe –</p><p>faz com que um filósofo (aqui, pelo menos eu sei do que ele se ocupa) se proponha</p><p>a inventar, a criar os conceitos e não se ocupar de refletir, ainda que seja sobre o</p><p>cinema (DELEUZE, 2016, p. 292).</p><p>A criação de conceitos é resultado de uma necessidade</p><p>que se impõe, quer o</p><p>filósofo deseja, quer não. O que impulsiona o filósofo é o problema fundamen-</p><p>tal. Ele mobiliza as faculdades criativas e, se não fosse assim, seria criação de</p><p>falsos conceitos ou conceitos mal postos. Todo conceito criado está relacionado</p><p>diretamente a um problema, sem os quais jamais surgiriam. Portanto, a base da</p><p>compreensão de uma filosofia está no problema fundamental para, depois, com-</p><p>preender os conceitos, as categorias utilizadas no sistema filosófico elaborado.</p><p>Problemas e Descrição</p><p>Para entender uma filosofia, precisamos estar atentos para o que é dito como</p><p>solução (argumentação) para problemas bem claros e precisos. Uma filoso-</p><p>fia puramente descritiva do problema pode ser vista como uma contradição de</p><p>termos. Deleuze, conforme já mencionamos, afirma que um problema deve ser</p><p>experienciado para mover o filósofo, mas isso não significa que a filosofia seja</p><p>apenas uma descrição de problemas. Existem filosofias que se apresentam como</p><p>descrições, como a fenomenologia, um campo da filosofia que faz a descrição</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>da estrutura específica dos fenômenos (aquilo que aparece ao sujeito, à sua cons-</p><p>ciência). Essa descrição é condição, a priori, de possibilidades para a Teoria do</p><p>Conhecimento.</p><p>Descrever um problema ou uma solução já seria suficiente para a dissolução</p><p>do problema fundamental. Esse entendimento dos problemas pode contribuir de</p><p>forma significativa em vários sentidos, mas não poderá, efetiva e objetivamente,</p><p>eliminar o problema enquanto tal. Nesse sentido, as teses filosóficas poderiam</p><p>ser reduzidas a uma simples descrição. Entender um problema é etapa para,</p><p>posteriormente, resolvê-lo, ou seja, entender não significa encontrar a causa e</p><p>resolver. Podemos, perfeitamente, compreender os problemas e nos omitir diante</p><p>da necessidade ou urgência de uma solução. A filosofia passa a ser apenas um</p><p>discurso descritivo.</p><p>Se a filosofia não privilegiar a solução de problemas no seu ensino ou estudo,</p><p>pode-se reduzir a uma contação de episódios da história. Isso significa que ela</p><p>passa a ser totalmente descompromissada com a realidade, a ser história com</p><p>bons argumentos e aspectos muito curiosos, ou seja, no final de tudo, não passa</p><p>de simples divagações. Como consequência, ganham força os famosos jargões</p><p>de estudantes e pessoas comuns não familiarizados com a filosofia que a veem</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>como desnecessária, ou como atividade de professor maluco, desconectado da</p><p>realidade (como um filósofo simbolizado na Torre de Marfim).</p><p>A filosofia e o seu ensino não podem mais precisamente ser considerados</p><p>contação de histórias, tendo em vista que existe uma diferença categórica entre</p><p>a Cinderela, dos irmãos Grimm, e o Discurso do método, de René Descartes, ou</p><p>entre a Megera Madrasta e o Gênio Maligno. Há uma grande diferença entre</p><p>o problema de uma teoria filosófica tanto no seu tema quanto em sua questão.</p><p>O tema é aquilo do que ou sobre o que o autor fala. O autor fala sobre algo ou</p><p>diz respeito a uma tese, diferente de uma narrativa, cujo objetivo é encontrar a</p><p>moral da mensagem ou atrair a atenção para alimentar o imaginário e despertar</p><p>a curiosidade dos ouvintes.</p><p>O tema e a questão são informações que não determinam, necessariamente, o</p><p>problema fundamental, somente trazem informações que podem ser pertinentes.</p><p>É comum, nos debates e discursos acadêmicos em Língua Portuguesa, presen-</p><p>ciarmos uma confusão entre conceito e questão. Vejamos alguns exemplos: “Que-</p><p>ro falar sobre a questão da moral em Kant”, ou “Vamos à questão da alienação em</p><p>Marx”. O conceito e a questão são tratados como sinônimos, mas não são.</p><p>ZOOM NO CONHECIMENTO</p><p>A questão, aqui, está se referindo ao conceito de Kant, ou seja, o seu entendi-</p><p>mento da moral ou da questão da alienação é sobre o entendimento de alienação</p><p>em Marx. Na linguagem usual, uma questão significa questionamento, pergunta.</p><p>A questão da moral, em Kant, deveria ser posta da seguinte forma: “quero saber:</p><p>o que Kant entende sobre moral?” ou: “vamos tratar do entendimento de Marx</p><p>sobre alienação?” Perceba que são aspectos diferentes do que receber informa-</p><p>ções sobre a moral ou a alienação desses pensadores. Os verdadeiros problemas</p><p>quanto à moral ou à alienação desaparecem como num nevoeiro, ou seja, o desejo</p><p>dessas pessoas é apenas ouvir informações sobre uma descrição.</p><p>Problemas e Aprendizado</p><p>A compreensão, no estudo da filosofia, deve partir sempre do problema para o</p><p>conceito, não o inverso. Compreender os conceitos tendo o problema como base</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>do conhecimento, de modo geral, pode fazer com que o estudo seja considerado</p><p>interessante pelos alunos. Ademais, sob o ponto de vista pedagógico, faz com que</p><p>o raciocínio tenha uma ordem lógica: problema > conceitos > solução.</p><p>“ Colocar o problema e resolvê-lo implica, pois, um estranho cálculo</p><p>que procura menos aprender soluções do que abrir infinitamente o</p><p>campo dos problemas virtuais contidos no corpo problemático dado</p><p>[…]. Cada singularidade desenrola novas multiplicidades. O cálculo</p><p>procura desenvolver o campo das diferenças em redor de um dado</p><p>ponto singular, a fim de determinar o melhor possível a superfície</p><p>mais vasta das séries diferenciais; só assim conseguiremos abordar o</p><p>pensamento do singular, isto é, da diferença (DELEUZE, 2006a, p. 22).</p><p>A mobilização dos alunos, a partir da experiência de problemas para pensar</p><p>e produzir os conceitos, faz com que o ensinar seja um proferir palavras para se</p><p>colocar como mediação entre a emancipação dos alunos e a igualdade (profes-</p><p>sor) diante daquele que aprende pelo pensar. A aprendizagem acontece diante</p><p>da mobilização provocada pela problematização. Cabe ao educador fazer</p><p>investimento na problematização, na forma de colocação do problema para que</p><p>os alunos possam sentir o mesmo. Para que isso ocorra, faz-se necessário que o</p><p>educador não apresente as conclusões, a fim de que os educandos construam os</p><p>próprios conceitos.</p><p>Para pensar o ensino de filosofia nessa perspectiva, é importante dar opor-</p><p>tunidade para cada um dos educandos, desde a experimentação de problemas</p><p>até os registros de sistematização. Os atos subjetivos de pensamento devem ser</p><p>percebidos pelos iniciantes diante dos problemas para que, assim, possam se</p><p>sentir como criadores de soluções e conceitos.</p><p>“ Com efeito, de um lado, o aprendiz é aquele que constitui e en-</p><p>frenta problemas práticos ou especulativos como tais. Aprender</p><p>é o nome que convém aos atos subjetivos operados em face da</p><p>objetividade do problema (Ideia), ao passo que saber designa ape-</p><p>nas a generalidade do conceito ou a calma posse de uma regra das</p><p>soluções (DELEUZE, 2006a, p. 236).</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Se um aprendiz de jogos on-line aprende a jogar jogando, superando cada um</p><p>dos obstáculos até vencer o jogo, assim ocorre com os iniciantes de filosofia, que</p><p>enfrentam o problema fundamental com os conceitos e pensam conceitualmente.</p><p>Esse é o único caminho possível para aprender a solucionar os problemas, ou seja,</p><p>conhecer o movimento dos conceitos, pensando por meio deles desde o início.</p><p>Com isso, o iniciante faz o percurso de aprendizagem adentrando nos campos</p><p>problemáticos, primeiro, por meio da experimentação dos problemas, e, depois,</p><p>criando os conceitos por meio do ato de pensar em seu próprio pensamento. A</p><p>experiência singular dos problemas e do ato de criação conceitual impedirá a</p><p>repetição deles, e a atividade filosófica passa a ser muito prazerosa e interessante.</p><p>Você sabia que todo filósofo tem um problema fundamental a ser resolvido? Que,</p><p>sem problemas, não há produção filosófica alguma? Se a filosofia não privilegiar</p><p>a solução de problemas no ensino ou no estudo, ela pode reduzir-se à simples</p><p>contação de episódios da história.</p><p>HÁ PROBLEMAS FILOSÓFICOS</p><p>Tudo tem início, para muitos pensadores, com um problema fundamental. A</p><p>partir da elaboração do problema fundamental, surge uma hipótese de como re-</p><p>solver tal problema. Ela se apresenta, no início,</p><p>como um palpite, uma conjectura</p><p>de como resolver o problema, algo que se candidata a ser uma tese ou é muito</p><p>próximo dela. Essas são as questões que enfrentaremos a seguir, que podem ser</p><p>o início, ou não, de uma produção filosófica. O nosso intuito é deixar esses ele-</p><p>mentos claros para um melhor entendimento dos textos.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>A construção da tese</p><p>Tentar decifrar aquilo que, aparentemente, parece indecifrável nos textos de filo-</p><p>sofia começa a ser um exercício de criação e recriação de problemas e de novos</p><p>conceitos filosóficos. Com isso, a ocupação com os textos passa a ser uma expe-</p><p>riência de vida, algo muito além de apenas encontrar problemas, inventar novos</p><p>problemas e ver os resultados efetivados no mundo vivido. Viver passa a ser um</p><p>forçar a pensar, produzir por meio da violência benéfica do encontro entre o ato</p><p>de pensar e o ato de criar. A filosofia, para o iniciante, pode ser apaixonante do</p><p>começo ao fim, experimentando a mesma emoção filosófica desde os primeiros fi-</p><p>lósofos na Grécia Antiga até os que estão vivos e se divertindo com essa atividade.</p><p>Outro momento dessa atividade é a questão da identificação de um pro-</p><p>blema filosófico. O primeiro passo é a insatisfação com aquilo que está diante</p><p>do filósofo (fenômeno ou aspectos de um fenômeno), podendo ser um tema,</p><p>um argumento, uma questão, uma visão sobre um assunto que não corresponde</p><p>ao mundo vivido, entre outras coisas ou outros aspectos. Essa insatisfação é o</p><p>fato preponderante de que o entendimento comum se contenta com tal insatis-</p><p>fação (pois acredita que ela é uma forma de resistência, é o pensamento de um</p><p>problema); já o filósofo elabora uma pergunta clara e definida, possível de obter</p><p>uma resposta.</p><p>Para que tenhamos uma pergunta que expresse um problema filosófico, faz-se</p><p>necessário que se obedeça a critérios mínimos, como estar de acordo com a</p><p>gramática de forma completa, fixar claramente o problema enquanto tal, fixar</p><p>o problema de forma suficiente, a ponto de qualquer leitor (iniciante ou não)</p><p>poder identificá-lo. Perceba que a fixação do problema constitui um momento</p><p>essencial para que o trabalho filosófico seja efetivamente demonstrado como</p><p>tal. Mesmo com esse critério, está muito longe de ser algo de fácil identificação.</p><p>Muitos pensadores dizem que a tarefa da filosofia é dissolver os problemas em</p><p>vez de tentar solucioná-los.</p><p>A dissolução de um problema deve ocorrer à medida que é evidenciado e que,</p><p>em último caso, carece de sentido, ou seja, não possui causas. Os aspectos da falta</p><p>de sentido não estariam nas teses filosóficas, mas nos próprios problemas. Se</p><p>o problema for mal formulação, o resultado direto resultará numa questão mal</p><p>posta, tornando, assim, algo sem sentido. Nesse caso, a filosofia, por meio da</p><p>crítica contundente, provocará um redimensionamento das questões em pauta.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Problemas e a tese</p><p>Logo após a elaboração do problema fundamen-</p><p>tal, surge uma hipótese de como resolver tal pro-</p><p>blema. A hipótese pode, posteriormente, trans-</p><p>formar-se em tese expressa em uma proposição</p><p>de afirmação ou de negação, em um enunciado capaz de explicitar uma ideia de</p><p>como algo pode ser feito, ou se foi feito desta ou daquela maneira. É importante</p><p>destacar que nem toda tese é resultado de uma proposição afirmativa. Assim</p><p>como temos proposição negativa, o mesmo acontece com uma tese.</p><p>A proposição é uma frase, um enunciado capaz de fazer uma declaração des-</p><p>critiva ou explicativa como verdadeira ou falsa. Há conjuntos de proposições que</p><p>podemos separá-las em dois grupos distintos: as afirmativas e as não-afirmativas.</p><p>A tese é, geralmente, afirmativa e deve ser diferenciada de uma definição. A</p><p>Ela não seria uma atividade para solucionar problemas, mas sim uma atividade</p><p>esclarecedora. Evidentemente, ambas as posições não são genuinamente exclu-</p><p>dentes, mas sim complementares.</p><p>A Filosofia a partir de seus problemas</p><p>Sinopse: a filosofia tem fama de difícil, obscura e, inclusive,</p><p>arbitrária. Mas grande parte das dificuldades usuais para sua</p><p>compreensão deve-se ao não entendimento do ´problema´</p><p>do qual a filosofia trata. Neste livro, Mario Ariel González Por-</p><p>ta oferece uma opção didática e metodológica para o estudo</p><p>filosófico com base no seguinte princípio: a compreensão do</p><p>problema deve constituir o núcleo essencial, o eixo, do ensino</p><p>da filosofia. Este é um livro básico, mas não uma introdução,</p><p>porque pressupõe um contato prévio com a filosofia. O que</p><p>aqui se propõe é uma perspectiva de acesso à filosofia, cen-</p><p>trada em explicitar como podem ser melhorados o estudo e o</p><p>ensino dessa disciplina, com base na experiência de sala e na</p><p>dedicação do autor à compreensão da filosofia, empenho de</p><p>uma vida. Aqui também se publica o já muito divulgado artigo:</p><p>´Uma aula sobre Kant´.</p><p>INDICAÇÃO DE LIVRO</p><p>A hipótese pode,</p><p>posteriormente, se</p><p>transformar em tese</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>definição é uma proposição meramente nominal, podendo não ser verdadeira,</p><p>nem falsa. Não faz sentido, aqui, discutir se concordamos, ou não, com elas.</p><p>Ser uma tese, hipótese ou definição é uma função que o pensador pode, ou não,</p><p>assumir, dependendo do contexto. Às vezes, o pensador dedica mais tempo em</p><p>negar os argumentos dos adversários do que na demonstração da sua tese.</p><p>Há situações em que a tese não é situada em um lugar privilegiado no saber</p><p>filosófico, e querer entendê-la sem compreender o problema que a gerou é difícil,</p><p>ou seja, é complicado entender a resposta sem a pergunta. A tese é a resposta a</p><p>uma pergunta e só pode ser entendida em correlação à pergunta à qual responde.</p><p>“ O ser-resposta não é parte de seu entorno pragmático contingen-</p><p>te, mas de sua natureza lógica intrínseca; não é um acidente, algo</p><p>que casualmente lhe acontece, senão que lhe é hermeneuticamente</p><p>constitutivo. A atividade filosófica primária não é a afirmação ou</p><p>negação de “teses em si”, mas sempre em seu vínculo com o proble-</p><p>ma. A aparência de que o afirmar proposições é a atividade básica</p><p>em filosofia é muito forte e se deve a que, inclusive para o próprio</p><p>filósofo, o problema é dado como parte do legado histórico do qual</p><p>ele nem sempre é plenamente consciente ou que, por ser-lhe óbvio,</p><p>não considera necessário explicitar (PORTA, 2004, p. 33).</p><p>O problema é tão importante quanto a tese. Ambos estão dentro da esfera da</p><p>criatividade. Daí a importância deles dentro da atividade filosófica, pois a corre-</p><p>lação é intrínseca, ou seja, uma faz parte da natureza do outro. Tanto o problema</p><p>quanto a tese foram conduzidos pela história da filosofia até o presente momento</p><p>e são postos para serem pensados e construídos conceitualmente pelo filósofo. O</p><p>fragmento apresentado afirma que o legado histórico nem sempre é percebido</p><p>pelo filósofo e pelo leitor que está acompanhando o percurso realizado. Quando</p><p>o filósofo tem ciência de que está respondendo a um problema dentro da história</p><p>da filosofia ou de outra área em específico, julga desnecessário explicitá-lo de</p><p>forma pedagógica, tornando a compreensão um pouco mais complicada. Con-</p><p>tudo, sempre deixará as pistas para que o leitor possa identificá-lo. Ademais, é</p><p>impossível discutir um problema fixado com clareza e uma tese correlacionada</p><p>sem deixar nenhum vestígio.</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>Tese e Devir (vir a ser) Filosófico</p><p>Acompanhando atentamente a correlação entre o problema, a tese e a elaboração</p><p>de novos conceitos, o iniciante nos textos deve perceber a presença do movimen-</p><p>to histórico da filosofia ao longo dessa produção. Visto que do nada nada vem,</p><p>logo, só pode ser criado a partir de elementos anteriores, portanto, a filosofia</p><p>está muito longe de fruto de divagações descoladas da realidade e da história.</p><p>Esse movimento é o devir ou vir-a-ser do filósofo, do pré-socrático Heráclito de</p><p>Éfeso (535-475 a. C.), a espinha dorsal de toda produção filosófica a que sempre</p><p>recorremos como fonte de inspiração e fundamento. Se focarmos apenas no</p><p>problema e na tese, o movimento histórico passa a</p><p>ser mera sucessão de opiniões.</p><p>Outro aspecto que devemos destacar é o fato de que não se pode entender</p><p>filosofia se a reduzimos ao conjunto de pontos de vistas. O elemento que rompe</p><p>com isso é o fato de colocar um problema fundamental para que a tese seja cor-</p><p>relacionada de forma inerente e com sentido a ele. Com isso, a filosofia de modo</p><p>algum contrapõem-se simplesmente uma tese a outra. As teses que, aparente-</p><p>mente, se contrapõem umas às outras, podem juntas responder a um mesmo</p><p>problema. Isso ocorre com frequência na história da filosofia, e o devir traduzido</p><p>no movimento pode fazer as teses contrárias e os problemas, de alguma maneira,</p><p>complementarem-se, formando uma unidade. Exemplos: os movimentos classi-</p><p>ficados como empirismo, racionalismo, analíticos, existencialistas entre outros.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>“ O devir filosófico contém uma certa continuidade, um certo senti-</p><p>do, algo assim como uma sedimentação conceitual. O pensamento</p><p>anterior nunca é simplesmente negado ou esquecido; ele é sempre</p><p>“superado” e “integrado” no posterior. O devir não suprime, mas</p><p>supõe o anterior, e constrói sobre sua base de formas diversas (Em</p><p>tal sentido, a história da filosofia está sempre contida na filosofia</p><p>contemporânea). É certo que muitos grandes filósofos pretenderam</p><p>apagar tudo e começar do zero, mas sempre se tratou de pura ilusão.</p><p>Caso tal fato prove alguma coisa, é só que grandes filósofos podem</p><p>ser pequenos homens. A consideração da unidade que tese e pro-</p><p>blema compõem permite ver naquilo que, a princípio, parecia pu-</p><p>ramente descontínuo uma dinâmica interna e, inclusive, uma certa</p><p>direção constitutiva daquilo que a filosofia é (PORTA, 2004, p. 34).</p><p>Os movimentos ou correntes filosóficas são classificados como elementos</p><p>comuns e diferentes, ao mesmo tempo, contudo conservam as suas particulari-</p><p>dades dentro da mesma classificação. Não é porque foi superado ou integrado,</p><p>como afirma o fragmento apresentado, que pode ser desconsiderado, ou não, o</p><p>estudo, detalhadamente. Ao contrário, passa a ser fonte de investigação e suporte</p><p>para fundamentar as novas teses. Portanto, a superação ou integração nunca é</p><p>completa ou total: sempre ficarão elementos fora</p><p>das sínteses que precisam ser investigados e ob-</p><p>servados. A investigação filosófica na história da</p><p>filosofia faz-se necessária a partir dos novos pro-</p><p>blemas. O pensamento anterior jamais pode ser</p><p>descartado: ele precisa ser constantemente visitado ou revisitado para ajudar a</p><p>construir as novas teses.</p><p>O movimento do devir filosófico só possui o sentido que nós atribuímos a</p><p>ele, e isso também ocorre com a continuidade e sedimentação conceitual. Se não</p><p>atribuímos esses significados a ele, simplesmente não tem existência alguma. Isso</p><p>ocorre com a ideia de direção, que aparece no final do fragmento: a filosofia sim-</p><p>plesmente acontece, e não há nenhum desejo de querer controlar ou administrar</p><p>um rumo para a história da filosofia por parte de nenhum filósofo pelo simples</p><p>fato de ela procurar resolver problemas, só isso e nada mais. Qualquer intenção</p><p>de algum filósofo fora disso pode levar a uma ilusão, visto que não houve nada</p><p>O pensamento</p><p>anterior jamais pode</p><p>ser descartado</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>parecido em sua história. Isso não impede que muitos investigadores de filosofia</p><p>atribuam sentidos e significados, estabeleçam classificações ou referências aos</p><p>mais diversos aspectos, teses e correntes na filosofia em alguns momentos de</p><p>sua longa história.</p><p>Resolver problemas faz parte da atividade cotidiana de todos, porém, os proble-</p><p>mas científicos são nitidamente diferentes dos problemas enfrentados pelo cida-</p><p>dão comum. Uma das principais razões para esta diferença reside no fato de que</p><p>as formas de raciocínio (heurísticas) necessárias para a solução desses diferem</p><p>muito das comumente evocadas para a solução daqueles. Em outras palavras, o</p><p>raciocínio científico difere substancialmente do raciocínio de “senso comum” e é</p><p>justamente esse contato com a maneira científica de pensar que é um dos objeti-</p><p>vos mais procurados no ensino de Ciências.</p><p>Fonte: Karam e Pietrocola (2009).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>ARGUMENTOS E SUAS CONEXÕES</p><p>A tese é constituída como solução para um problema fundamental, e isso implica</p><p>fazer escolhas entre as alternativas a serem descartadas. Toda escolha implica</p><p>renúncia, e isso é algo difícil. Seria muito bom se não tivéssemos que fazer re-</p><p>núncias. Em muitos casos, temos muitas respostas pertinentes para uma mesma</p><p>pergunta e, no processo de produção, o pensador vai ter de escolher uma. Aqui</p><p>entram em cena os argumentos, que desempenham um papel essencial para toda</p><p>a produção intelectual nos argumentos, além de demonstrarem a capacidade</p><p>inventiva do pensador na elaboração, na criação de novos conceitos, na sistema-</p><p>tização do material pesquisado e na ordem lógica do raciocínio.</p><p>Os argumentos são os itens que passam a justificar a escolha por uma deter-</p><p>minada tese em relação a outras tantas possíveis. Na filosofia, o discurso argu-</p><p>mentativo pressupõe a resolução de um problema. Ele é a base que determinará</p><p>se aceitará, ou rechaçará uma ideia. O argumento é preciso, uma definição que,</p><p>às vezes, pode ser resultado de uma inferência (dedução) com valor de verdade</p><p>ou aproximação de uma verdade. Uma vez aceito, pode se caracterizar, suficien-</p><p>temente, um raciocínio descritivo ou explicativo sobre uma ideia ou um dado a</p><p>ser utilizado no processo de construção e fundamentação.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>Os argumentos têm a finalidade de legitimar a</p><p>tese em questão para que ela tenha adesão daque-</p><p>les que entram em contato com ela. Na filosofia,</p><p>não há uma hierarquia de objetos, como acontece</p><p>em outras áreas do saber, mas somente uma hierarquia de sentidos que explicam</p><p>determinada ordem racional. Essa ordem é do processo de argumentação rela-</p><p>cionada aos temas, e não algo isolado, como se fosse autônomo, ou seja, a ordem</p><p>está subordinada a uma lógica para que tenha semelhança nos argumentos. As</p><p>justificativas que formam os argumentos não podem ser separadas ou retiradas</p><p>de acordo com o interesse do leitor, visto que a atividade filosófica está justamente</p><p>nas ligações entre as proposições que sustentam a tese. A força dos argumentos</p><p>está, exatamente, nas suas conexões de ideias e sua ordem lógica conceitual.</p><p>As interligações ou conexões de ideias de forma inovadora constituem os elementos</p><p>mínimos para que os argumentos se apresentem como originais. A forma inovadora</p><p>de conexões acontece à medida que os hábitos e os usos de determinados conceitos</p><p>são alargados. Com isso, o texto começa a ganhar forma e sentido necessários para</p><p>dar conta do conjunto de proposições que forma o conteúdo.</p><p>O conteúdo, por sua vez, apresenta os argumentos e explicam os usos conceituais</p><p>e os modos dos seus desdobramentos que estão intimamente ligados entre si.</p><p>Dessa maneira, a explicação do texto com as conexões e as demonstrações dos</p><p>argumentos podem ser esboçadas com certa clareza.</p><p>Os argumentos</p><p>têm a finalidade de</p><p>legitimar a tese</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>O alargamento habitual e das conexões conceituais precisa ser validado (le-</p><p>gitimado) em todos os seus momentos para que seja conferido ou constituído</p><p>pelo estatuto de veracidade. O processo de validação envolve, de forma total,</p><p>desde uma simples proposição até a demonstração complexa, assim como a ar-</p><p>gumentação, as explicações, as descrições ou os exemplos, em que o pensador</p><p>explica as razões de suas escolhas.</p><p>Argumentação Válida</p><p>O processo de validação de uma tese e seus argumentos compreende tudo o que</p><p>reforça e estabelece, ao mesmo tempo, as propo-</p><p>sições, das mais simples às mais complexas. Para</p><p>tanto, são imprescindíveis a organização lógica, os</p><p>objetos de análise, a trama de reflexão elaborada,</p><p>os referenciais factuais, um raciocínio, um exemplo, enfim, todos os elementos</p><p>que necessitam ser legitimados para que a verdade apareça de forma robusta e</p><p>consistente. Podemos considerar como verdadeira toda reflexão utilizada</p><p>no</p><p>desenvolvimento da tese e o seu objetivo.</p><p>O discurso filosófico articula formas de expressões diversas, que podem ser</p><p>unidas na própria dinâmica do texto para ser apresentadas como válidas. Contu-</p><p>do, faz-se necessário construir os mecanismos que permitam contemplar todas</p><p>as diversidades utilizadas pelo pensador.</p><p>O primeiro mecanismo</p><p>A identificação da funcionalidade dos meios de legitimação por meio das leituras.</p><p>A leitura deve separar as partes a partir do núcleo, os meios empregados para</p><p>convencer, as sequências das partes às suas funções e analisar os espaços</p><p>ocupados. A tese deve ser colocada no início e, em seguida à sua demonstração, as</p><p>outras partes podem ser colocadas no final da apresentação.</p><p>É imprescindível a</p><p>organização lógica</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>O segundo mecanismo</p><p>É a distinção entre o que deve ser legitimado (validação) e o processo a ser justificado.</p><p>A legitimação pode ser de um aspecto da demonstração (uma proposição que</p><p>pode servir como uma prova de outra) ou de um raciocínio ou um aspecto da</p><p>argumentação pode precisar de justificativa. Já o processo de justificação aponta</p><p>na direção de que todos os aspectos da prática textual criada pelo pensador estão</p><p>sujeitos à justificativa. Nem sempre as justificativas das partes do texto são explícitas,</p><p>de fácil localização. Às vezes, o texto traz os temas com suas regras de construção</p><p>da própria legitimidade.</p><p>Vejamos um exemplo: Baruch Espinosa (1632-1677), filósofo holandês,</p><p>filho de pais portugueses, no livro Tratado da correção do intelecto, aborda a</p><p>dificuldade de método de investigação da verdade, mas aponta uma direção e a</p><p>justifica.</p><p>“ [30] Depois de sabermos que conhecimento nos é necessário, cum-</p><p>pre-nos versar sobre o caminho e o método pelo qual conhecemos</p><p>as coisas a conhecer dessa forma. Para isso, deve-se primeiramente</p><p>considerar que não haverá aqui uma investigação sem fim; a saber,</p><p>para se descobrir qual o melhor método de investigar a verdade,</p><p>não é necessário outro método para investigar qual o método de</p><p>investigar a verdade; e para que se investigue este segundo método,</p><p>não é necessário um terceiro, e assim ao infinito: por esse modo</p><p>nunca se chegaria ao conhecimento da verdade, ou, antes, a conhe-</p><p>cimento algum. O mesmo se diria dos instrumentos materiais, onde</p><p>se argumenta de igual forma, pois para forjar o ferro precisar-se-ia</p><p>de um martelo e, para se ter martelo, é preciso fazê-lo, para o que se</p><p>necessita de outro martelo e de outros instrumentos, os quais tam-</p><p>bém supõem outros instrumentos, e assim ao infinito; e desse modo</p><p>em vão tentaria alguém provar que os homens nenhum poder tem</p><p>de forjar o ferro (ESPINOSA, 1979, p. 51).</p><p>Espinosa (1979), ao constatar a necessidade do conhecimento, sente a obri-</p><p>gação de falar do método do conhecimento cujo objetivo é a verdade. Falar sobre</p><p>o método não pode cair na regressão ao infinito ao falar do método de investi-</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>gação da verdade, pelo simples fato que não chegaria ao objetivo. Chamamos a</p><p>atenção para a forma de demonstração argumentativa por meio do raciocínio</p><p>lógico para enfrentar as objeções dos seus oponentes. O próprio raciocínio lógi-</p><p>co o legitimou, mas foi construído, e não dado, como algo que fosse natural ou</p><p>evidente por si mesmo.</p><p>O esforço de justificação dos pensadores demonstra que, na filosofia, os enun-</p><p>ciados de uma tese ou doutrina carecem sempre de uma legitimação. A luta pela</p><p>legitimação é parte integrante da argumentação cujo objetivo é explicar a tese a</p><p>partir da pergunta que ela responde. A fundamentação da legitimidade da tese</p><p>deve estar no próprio processo da argumentação construída nela mesma, caso</p><p>contrário, as condições de validade estariam fragilizadas. A exposição sistemati-</p><p>zada de forma lógica diminui o risco na medida em que a tese ou doutrina, na sua</p><p>totalidade, constitui o seu próprio fundamento a ser demonstrado com clareza.</p><p>“O que é um filósofo? É um conceito em potência, diz Deleuze. E a filosofia? É a</p><p>disciplina que consiste em criar conceitos. Esta é, em suma, a resposta deleuziana:</p><p>‘a questão da filosofia é o ponto singular onde o conceito e a criação se remetem</p><p>um ao outro’. Esta conclusão não é nada mais que um princípio, uma faísca que faz</p><p>acender uma série de outras questões. Que é um conceito? O que ele supõe? De</p><p>que tipo de criação falamos aqui? Qual é o seu lugar?”</p><p>Fonte: Razão Inadequada (2019, on-line).</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>Fundamentação da Tese</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>Toda tese necessita de uma argumentação pre-</p><p>cisa e com inferências (deduções) de valores de</p><p>verdade para que lhe dê o suporte necessário, e</p><p>o leitor perceba que está diante de algo bem fun-</p><p>damentado. Há diversos modos de fundamentar</p><p>uma tese, e destacamos aqueles que buscam a ra-</p><p>dicalidade, que vão às raízes, às causas do problema fundamental. A forma de</p><p>demonstrar essa radicalidade está explicitada para clarificar os termos e as catego-</p><p>rias utilizados, desde a análise linguística ou semântica até os aspectos filológicos</p><p>empregados para construir os novos conceitos ou terminologia. Ser radical é</p><p>proceder como a raiz de uma árvore, que penetra o solo para se fixar à terra, mas</p><p>que não abandona suas ramificações, pois elas são parte e complemento daquela.</p><p>O filósofo, sociólogo e economista Karl Marx (1818-1883) ajuda-nos a en-</p><p>tender melhor a questão da radicalidade ao estabelecer relações entre a teoria e</p><p>o ser radical rigoroso.</p><p>“ A teoria é capaz de prender os homens desde que demonstre sua</p><p>verdade face ao homem, desde que se torne radical. Ser radical é</p><p>atacar o problema em suas raízes. Para o homem, porém, a raiz é o</p><p>próprio homem (MARX, 1991, p. 117).</p><p>Os fundamentos devem ser buscados com muito rigor. E onde devemos pro-</p><p>cura-los? Marx aponta que devemos buscar no próprio homem. Ele entende o</p><p>homem como gênero humano e espécie na particularidade, no caso, o pensador.</p><p>O homem como gênero refere-se ao conhecimento acumulado pela humanidade</p><p>no decorrer da história, no caso mais específico, a história da filosofia, ou seja,</p><p>deve-se submeter todo conhecimento ao crivo da crítica radical. E o homem, em</p><p>particular, é o próprio pensador, que não pode aceitar a superficialidade e inge-</p><p>nuidade, ou seja, a todo instante deve fazer a autocrítica do que está produzindo.</p><p>O processo de fundamentação das teses nem sempre segue um raciocínio</p><p>ou uma linha de pensamento linear, e não é fácil para um iniciante fazer uma</p><p>reconstituição das bases utilizadas. Às vezes, as formas dos argumentos são ex-</p><p>tremamente refinadas, rigorosas e usadas de derivações de consequências pouco</p><p>perceptíveis num primeiro momento. Algumas vezes, determinadas teses são</p><p>Toda tese</p><p>necessita de uma</p><p>argumentação</p><p>precisa</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>descartadas não por si mesmas, mas pelas consequências que podem acarretar. E</p><p>outras são incorporadas por motivos nem sempre explicados claramente. Além</p><p>disso, pode ocorrer que o principal argumento utilizado seja resultado de uma</p><p>explicitação dos pressupostos de uma tese rival.</p><p>Essa busca pelos fundamentos da tese é da natureza da filosofia desde os</p><p>seus primórdios na Grécia Antiga na luta contra os mitos, as crenças religiosas</p><p>e as visões de senso comum daquela época. As teses filosóficas sempre buscam</p><p>a visão de totalidade, de conjunto dos elementos que podem estar relacionados</p><p>à pergunta fundamental e à sua tese. A filosofia sempre foi uma ciência de rigor</p><p>em todos os períodos de sua história, e os graus desse rigor não são contínuos,</p><p>mas modificam-se de tempos em tempos.</p><p>Há períodos da história em que o rigor aparece mais, a ponto de obscurecer</p><p>toda a genialidade da criação dos argumentos e conceitos, e, em outros, não se</p><p>destaca tanto, prevalecendo os impactos, a objetividade e a clareza dos argumen-</p><p>tos da tese. Contudo, o iniciante, aos poucos, identifica esses aspectos e, com mui-</p><p>to esforço, com a sistematização, organização e autodisciplina vai superando</p><p>os preconceitos e as próprias dificuldades para</p><p>e com quais correntes simpatiza. Por exemplo, Sócrates</p><p>teve Platão como aluno, Platão teve Aristóteles como aluno, Edmund Husserl</p><p>teve Martin Heidegger como assistente. Por mais que quase todos se distancias-</p><p>Todo texto possui</p><p>um contexto</p><p>que precisa ser</p><p>compreendido</p><p>1</p><p>4</p><p>sem dos seus mestres, sempre os carregam como parte da sua história de forma</p><p>inerente, como veremos um pouco mais adiante.</p><p>“ O contexto histórico indica o conjunto de acontecimentos - fatos de</p><p>ordem política, econômica e social que determinam o contexto do</p><p>texto. Todo o texto tem uma data, a data de sua produção que o mar-</p><p>ca como produto de uma história e de uma época. O trabalho do</p><p>texto exaustivo ou total deve dar conta da estrutura interna do texto</p><p>(compreensão das idéias manifestas no texto), bem com como da</p><p>situação histórica (compreensão dos fatores determinantes do texto,</p><p>que se situam fora dela) Só depois de compreendido, um texto pode</p><p>ser discutido, criticado, aceito ou rejeitado (BRUNI, 2019, p. 20).</p><p>O conjunto de acontecimentos históricos e datados deve ser levado em con-</p><p>sideração, mas não é fácil, tanto que professor Bruni classifica o contexto como</p><p>invisível. O contexto não é invisível, mas aparece como se fosse, e isso ocorre</p><p>porque os filósofos raramente fazem menção a eles, mas estão sempre batendo</p><p>à porta do texto. Se for negligenciada a análise do texto, seja de explicação, seja</p><p>de comentário, ela pagará a conta no final, isto é, poderá ser classificada como</p><p>superficial e incompleta.</p><p>A leitura é um aprendizado para toda a vida e, uma vez desenvolvida, nunca mais</p><p>se esquece. O texto é resultado de uma leitura do mundo e é produzido por você,</p><p>que está historicamente localizado e condicionado por diversos fatores. Lembre-</p><p>-se: você nunca está descontextualizado ou acima das suas circunstâncias.</p><p>PENSANDO JUNTOS</p><p>LEITURA COMO ATO DE ESTUDAR O MUNDO</p><p>O ato de estudar - Primeira Parte</p><p>O autor deste texto, o educador Paulo Freire (1921-1997), terceiro mais citado</p><p>no mundo, serve de fundamento para a educação nos países classificados com os</p><p>melhores índices de desempenho escolar, como a Finlândia, Noruega, Alemanha</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>e Itália entre outros, que sofreram influências dos filósofos Martin Heidegger,</p><p>Jean Paul Sartre, Karl Marx, Sören Kierkegaard entre outros. Ele entende que</p><p>a leitura não é somente de textos, mas de problemas da vida cotidiana a serem</p><p>solucionados dentro de uma visão de mundo, a weltanschauung, em alemão.</p><p>“ Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas</p><p>partes mais baixas do terreno. Em certos lugares, a terra, de tão</p><p>molhada, tinha virado lama. Às vezes, os pés apenas escorregavam</p><p>nela. Às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama</p><p>até acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antônio estavam</p><p>transportando numa camioneta cestos cheios de cacau para o sítio</p><p>onde deveriam secar. Em certa altura, perceberam que a camio-</p><p>neta não atravessaria o atoleiro que tinham pela frente. Pararam.</p><p>Desceram da camioneta. Olharam o atoleiro, que era um problema</p><p>para eles. Atravessaram os dois metros de lama, defendidos por</p><p>suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensa-</p><p>ram. Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda</p><p>de algumas pedras e galhos secos de árvores, deram ao terreno a</p><p>consistência mínima para que as rodas da camioneta passassem sem</p><p>se atolar. Pedro e Antônio estudaram. Procuraram compreender o</p><p>problema que tinham a resolver e, em seguida, encontraram uma</p><p>resposta precisa. Não se estuda apenas na escola. Pedro e Antônio</p><p>estudaram enquanto trabalhavam. Estudar é assumir uma atitude</p><p>séria e curiosa diante de um problema (FREIRE, 1986, p. 67).</p><p>1</p><p>1</p><p>A descrição da realidade em que estava presente Pedro e Antônio revela que a</p><p>leitura daquela situação em que se encontraram não é diferente daquela quando</p><p>estamos com um texto em mãos. A situação-problema enquanto paradigma,</p><p>modelo ou padrão exige do leitor reflexão e atitude de resposta para a resolu-</p><p>ção daquela dificuldade. Isso é muito prazeroso. O ato de estudar a partir das</p><p>leituras que fazemos de um texto ou do mundo ao nosso redor faz com que o</p><p>ser humano sinta-se útil e dê um sentido à sua existência. Portanto, o ato de ler</p><p>é uma atividade extremamente prazerosa e nos ajuda a viver melhor no mundo</p><p>repleto de desafios. Viver é bom porque estamos a todo momento resolvendo</p><p>problemas dos mais simples aos mais complexos.</p><p>A importância do ato de ler</p><p>Sinopse: o livro A Importância do Ato de Ler, de Paulo Freire,</p><p>relata os aspectos da biblioteca popular e a relação com a alfa-</p><p>betização de adultos desenvolvida na República Democrática</p><p>de São Tomé e Príncipe.</p><p>Ao mesmo tempo, esclarece-nos que a leitura da palavra é</p><p>precedida da leitura do mundo e também enfatiza a impor-</p><p>tância crítica da leitura na alfabetização, colocando o papel do</p><p>educador dentro de uma educação. O seu fazer deve ser viven-</p><p>ciado, dentro de uma prática concreta de libertação e constru-</p><p>ção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador,</p><p>do qual ele é também um sujeito.</p><p>INDICAÇÃO DE LIVRO</p><p>Ato de estudar - Segunda Parte</p><p>Neste momento, o educador nos orienta a dar um passo no sentido de alargar o</p><p>nosso entendimento em direção a nos apropriarmos dos pressupostos necessá-</p><p>rios para o estudo dos textos. Essa apropriação constitui o fundamento para o ato</p><p>de estudar durante toda a vida. Sem esses pressupostos, o iniciante nos estudos</p><p>reunirá todas as condições para desistir do ato de estudar de forma intencio-</p><p>nada, sistemática e organizada, uma vez que ele é difícil e exige muito esforço.</p><p>Caso contrário, as escolas estariam abarrotadas de estudantes por todos os cantos</p><p>do mundo. Muitos iniciantes nos estudos desistem pelas dificuldades sociais,</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>econômicas, psicológicas, educacionais, culturais e religiosas, mas outros pelas</p><p>dificuldades do próprio ato de estudar.</p><p>“ Esta atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e os</p><p>fatos caracteriza o ato de estudar. Não importa que o estudo seja feito</p><p>no momento e no lugar do nosso trabalho, como no caso de Pedro</p><p>e Antônio, que acabamos de ver. Não importa que o estudo seja</p><p>feito noutro local e noutro momento, como o estudo que fazemos</p><p>no Círculo de Cultura. Em qualquer caso, o estudo exige sempre</p><p>esta atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e</p><p>os fatos que observamos. Um texto para ser lido é um texto para ser</p><p>estudado. Um texto para ser estudado é um texto para ser interpreta-</p><p>do. Não podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem</p><p>curiosidade; se desistimos da leitura quando encontramos a primei-</p><p>ra dificuldade. Que seria da produção de cacau naquela roça se Pe-</p><p>dro e Antônio tivessem desistido de prosseguir o trabalho por causa</p><p>do lamaçal? Se um texto às vezes é difícil, insiste em compreendê-lo.</p><p>Trabalha sobre ele como Antônio e Pedro trabalharam em relação</p><p>ao problema do lamaçal. Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil</p><p>porque estudar é criar e recriar e não repetir o que os outros dizem.</p><p>Estudar é um dever revolucionário (FREIRE, 1986, p. 67).</p><p>Merece a nossa atenção, ao reler esse fragmento, quando o educador fala</p><p>da atitude curiosa e séria. A ciência só avança no desenvolvimento de novos</p><p>conhecimentos e, consequentemente, novas descobertas, se houver curiosidade,</p><p>que precisa ser alimentada. Segundo Aristóteles (1979, p.11), na Metafísica, livro</p><p>I, “todos os homens têm por natureza, desejo de conhecer”. O conhecimento é</p><p>inerente ao homem, por isso, busca-o sempre que</p><p>motivado e estimulado. Sem o conhecimento e as</p><p>informações, o ser humano sofre, paga um preço</p><p>muito alto pela ignorância. Quanto mais conheci-</p><p>mentos e informações, mais há a possibilidade de ser uma pessoa feliz.</p><p>Outro aspecto que merece a nossa atenção é a ideia de que um texto, para</p><p>ser lido, é também para ser estudado. Um texto a ser estudado é, também, a ser</p><p>trabalhado.</p><p>a leitura dos textos filosóficos.</p><p>Muitos confundem tema e tese quando elaboram parágrafos dissertativos, prin-</p><p>cipalmente na introdução, quando esses elementos devem estar bem esboçados</p><p>para poder desenvolvê-los em seguida. O tema será sempre o assunto do texto,</p><p>o tópico frasal ou ainda a ideia-núcleo dada no enunciado da prova. Já a tese é</p><p>o ponto de vista do autor sobre o tema, o que o autor pensa, defende e acredita</p><p>sobre o assunto. A tese será positiva (favorável) ou negativa (desfavorável) à ideia</p><p>núcleo. Para fundamentar teoricamente a sua tese, o redator fará uso de argumen-</p><p>tos, de fatos, de exemplos, de dados, de citações etc., na tentativa de convencer o</p><p>interlocutor a concordar com o seu pensamento crítico.</p><p>Fonte: adaptado de Blog de Redação (2012).</p><p>ZOOM NO CONHECIMENTO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>FILOSOFIA CONTRA EXEMPLOS</p><p>Chegamos à teoria dos exemplos na filosofia, e não há consenso na utilização</p><p>deles nos textos filosóficos. Os exemplos, as ilustrações tão solicitadas pelos es-</p><p>tudantes em todas as áreas do conhecimento, na filosofia, recebe, outro olhar.</p><p>Analisaremos exatamente esse olhar de forma crítica para que possamos com-</p><p>preender a sua importância na compreensão dos textos.</p><p>Exemplo como referência</p><p>O problema fundamental, a tese ou solução, os argumentos e as fundamenta-</p><p>ções podem ganhar, ou não, um reforço solicitado por muitos alunos numa sala</p><p>de aula, o exemplo. Ele é importante e está dentro dos chamados fenômenos</p><p>referenciais. A dimensão referencial é fundamental para fazer a aproximação</p><p>ou conexão entre o mundo concebido (abstrações/entendimento) e o mun-</p><p>do vivido (real/concreto), para que se torne compreensível. A referência une</p><p>o conceito ou o termo significante com o sentido à coisa, ao objeto material. O</p><p>acontecimento faz com que o discurso filosófico o encontre no mundo vivido,</p><p>ou seja, o ser no sentido ontológico. Os elementos ou entidades identificadas</p><p>pela função referencial constróem o denotado, o objeto concreto, que pode ser</p><p>comprovado pelos sentidos, pela experiência.</p><p>O denotado é o exemplo, o paradigma, o modelo, a ilustração, o padrão, a</p><p>matriz, a norma que está ligada aos conceitos, que, por sua vez, conecta, nomeia</p><p>1</p><p>4</p><p>4</p><p>os objetos concretos no mundo vivido. Pensar sobre as referências é complexo,</p><p>devido à multiplicidade de aspectos para construir o sentido. Aquilo que se apre-</p><p>senta por meio de um enunciado como concreto pela restituição de um conteúdo</p><p>argumentativo aplica-se, também, ao elemento conceitual. Ao mesmo tempo,</p><p>criar é criar o real, o possível.</p><p>Fazer tal separação ou identificar as suas conexões estabelecidas por um pen-</p><p>sador passa a ser a tarefa essencial do iniciador à leitura dos textos. Contudo, essa</p><p>identificação de palavras e coisas como objeto referencial pressupõe tarefas que,</p><p>de certa forma, podem ser caracterizadas como difíceis para um iniciante pelo</p><p>fato de ser em uma reconstrução do mundo visto pelo pensador. Seguir essa visão</p><p>do pensador em meio aos seus registros, com as suas múltiplas variações, exige</p><p>atenção para perceber a essência do denotado.</p><p>“ O conceito, portanto, faz ao mesmo tempo referência direta a um</p><p>“objeto de pensamento” e indireta a um objeto do mundo; mas esses</p><p>objetos particulares, eles próprios, são sempre visados através da lin-</p><p>guagem e das categorias da doutrina. Distinguiremos então o uni-</p><p>verso denotativo ideal de uma doutrina de seu universo denotativo</p><p>concreto ou substrato ontológico. O primeiro é constituído na sua</p><p>mais ampla generalidade pela construção do conceito. O segundo</p><p>é produzido através dos casos particulares, exemplos ou passagens</p><p>descritivas, e compreende o conjunto dos elementos verificados no</p><p>campo perceptivo, na ordem da experiência comum que participa</p><p>do que se convencionou chamar “o real” (COSSUTTA, 2001, p. 76).</p><p>O conceito, fazendo essa dupla referência, possibilita dificultar o entendi-</p><p>mento de um lado, mas, ao mesmo tempo, facilita na análise, ao fazer o desdo-</p><p>bramento do substrato ontológico por meio do discurso filosófico. O discurso</p><p>filosófico, por meio de raciocínio, faz uma descrição da significação virtual,</p><p>aparentemente fechado, sem fazer menção direta, concreta ao particular, ou seja,</p><p>não usando exemplos ou o mínimo possível. Podemos ver isso com frequência</p><p>na filosofia de Kant, Hegel entre outros pensadores. Os conceitos possibilitam</p><p>fazer recortes no discurso denotativo ideal, em que é sempre possível vislumbrar</p><p>uma totalidade no mundo vivido.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>A construção do discurso possibilita ao pensador desejar a transformação</p><p>de várias compreensões e ações diversas dos seres humanos no mundo vivido.</p><p>Com isso, o pensador pode trabalhar com os conceitos ou as categorias sem</p><p>a preocupação de demonstrar ações concretas ou a efetividade conceitual na</p><p>realidade. Os casos concretos, os exemplos e as metáforas podem ser utilizados</p><p>não de forma necessária, mas inserindo, raramente, situações concretas, casos</p><p>particulares. O pensador faz dessa distância do mundo concebido com o mun-</p><p>do real uma condição para estabelecer uma nova relação com a sua construção</p><p>abstrata. Ademais, ele sabe que o substrato ontológico produz, no seu interior,</p><p>consequências na realidade, o que faz com que a filosofia, de alguma maneira,</p><p>saia da esfera abstrata e vá para a realidade concreta.</p><p>GILLES DELEUZE - O conceito é questão de articulação; é um complexo de com-</p><p>ponentes representados por um nome. Todo conceito remete a um problema e</p><p>só se criam conceitos em função de problemas. Saber colocar-se problemas, eis</p><p>um sinal de maturidade. Ser filósofo é também trabalho de papel, cola e tesoura: é</p><p>preciso saber cortar, ligar, desconectar ideias nos conceitos para fazê-los respon-</p><p>der aos problemas. Conceituar é “conectar componentes interiores até a saturação</p><p>ou o fechamento“, de tal modo que mudar suas conexões, mudaria sua natureza.</p><p>Fonte: Razão Inadequada (2019, on-line).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Exemplos pouco valorizados</p><p>Os exemplos, as ilustrações tão solicitadas pelos estudantes em todas as áreas do</p><p>conhecimento, na filosofia, recebe, outro olhar. Mesmo sabendo que a descrição</p><p>consegue reconstruir fatos, um cenário pressupõe a utilização de narrativas, expe-</p><p>riências no mundo que podem ser compartilha-</p><p>das pelo leitor. A descrição filosófica faz com que</p><p>um caso em específico seja o modelo. Contudo,</p><p>o sujeito é único e possui singularidades e parti-</p><p>cularidades, além de estar localizado em deter-</p><p>minado período da história, em uma sociedade</p><p>O sujeito é</p><p>único e possui</p><p>singularidades e</p><p>particularidades</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>e em uma cultura. Ao fazer uso dele como exemplo, acontece a generalização</p><p>das regras, ou seja, o exemplo se torna contraexemplo. Isso ocorre com os es-</p><p>tereótipos em uma obra filosófica como um todo, e o exemplo passa a ser uma</p><p>espécie de pseudorreferência.</p><p>Os exemplos desempenham uma função didática, ontológica e de validação</p><p>nos textos filosóficos. A função didática é fazer com que o pensador seja enten-</p><p>dido pelo leitor, fazer-se claro, essa é a razão de ser dela. É uma função extre-</p><p>mamente importante porque o texto ganha modificações sob o olhar inicial do</p><p>leitor. O fato de a didática tratar de um caso particular faz com que a mensagem</p><p>tenha uma direção clara. A função ontológica dos casos particulares é distribuí-</p><p>da ao longo do texto, desempenha várias funções referenciais e dá suporte ao</p><p>substrato ontológico, colocando uma presença do mundo no discurso. O ser, no</p><p>mundo, faz-se presente no discurso. A função ontológica conecta o ser concreto</p><p>ao discurso concebido. A função de validade desempenha não somente a cone-</p><p>xão da tese com a busca da verdade, mas coloca o caso particular na presença do</p><p>pensador e do leitor, além do papel na argumentação para fundamentar a tese.</p><p>Portanto, a função do caso particular vai além da função didática: contribui para</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>a fundamentação ontológica e oferece as evidências factuais</p><p>sem se opor à</p><p>construção conceitual.</p><p>O uso de casos particulares faz com que os pensadores enfrentem o problema</p><p>chamado “problema do exemplo”. Esse enfrentamento acontece por causa da</p><p>função metatextual, ou seja, a própria linguagem passa a ser o foco de reflexão</p><p>do pensador quanto ao uso nos seus textos, além dos conceitos na passagem do</p><p>particular para o geral. Vejamos o entendimento de Immanuel Kant (1724-</p><p>1804), no seu livro Crítica da razão pura.</p><p>“ Aguçar a faculdade de julgar, tal é grande e única utilidade dos</p><p>exemplos. Pois, no tocante ao rigor e precisão dos conhecimen-</p><p>tos do entendimento, os exemplos são, geralmente, mais prejudi-</p><p>ciais que vantajosos, porque é raro cumprirem adequadamente a</p><p>condição da regra (como casus in terminis) enfraquecem, além</p><p>disso, muitas vezes, o esforço do entendimento para apreender,</p><p>em toda a suficiência, as regras em geral e independentemente</p><p>das condições particulares da experiência, de tal modo que, por</p><p>fim, nos habituamos a usá-las mais como fórmulas do que como</p><p>princípios. Assim, os exemplos são as muletas da faculdade de</p><p>julgar de que nunca poderá prescindir quem careça desse dom</p><p>natural (KANT, 1994, p. 178).</p><p>A crítica dura na “teoria do exemplo” não é exclusividade de Kant. Outros</p><p>pensadores não aconselham ninguém a fazer uso deles, como Hegel. No enten-</p><p>dimento de Kant, a única utilidade dos exemplos é afiar a faculdade de julgar,</p><p>quanto à aquisição do conhecimento é enfraquecida. O uso dos exemplos com</p><p>frequência cria um mau hábito de usar como fórmulas, e não como princípio, as-</p><p>sim como os professores de cursinhos pré-vestibulares que passam anos contan-</p><p>do as mesmas histórias, as mesmas piadas, cantam os mesmos jingles, os mesmos</p><p>exemplos. Esses professores deixam o conhecimento (com seus princípios) de</p><p>lado e somente repetem os conteúdos decorados, e não assimilados, submetidos</p><p>ao crivo da razão. O hábito dos exemplos se transforma em muletas e nunca as</p><p>deixa, acreditando que é natural o uso delas. Os exemplos tiram dos seres huma-</p><p>nos a autonomia de pensamento e de criação de novos conceitos.</p><p>1</p><p>4</p><p>8</p><p>Há muitos pensadores que se contrapõem ao</p><p>pensamento de Kant e Hegel sobre as funções</p><p>dos exemplos ou do caso particular. Na filosofia,</p><p>é muito difícil encontrar unanimidade de pensa-</p><p>mento. As filosofias críticas são formas diferentes</p><p>de olhar as particularidades e as singularidades,</p><p>como de Henri Bergson (1859-1941), Sören Kierkegaard (1813-1855) entre</p><p>outros. Vejamos como Kierkegaard, no seu livro O conceito de angústia, analisa</p><p>Na filosofia, é muito</p><p>difícil encontrar</p><p>unanimidade de</p><p>pensamento</p><p>Exemplos e a sua importância</p><p>Na história da filosofia, muitos pensadores partilham dessa mesma forma de pen-</p><p>sar, acreditando que os exemplos atrapalham a reflexão, e os evitam o máximo</p><p>que podem. Outros pensadores acreditam que é desnecessário se preocupar</p><p>com os exemplos ou com casos particulares, visto que, nas próprias proposições</p><p>ou nos conceitos, já está contemplado o mundo vivido. Cabe ao leitor fazer as</p><p>conexões necessárias das proposições universais para os casos particulares. Com</p><p>isso, a leitura dos textos filosóficos fica, aparentemente, difícil, e a sua compreen-</p><p>são comprometida.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>o fato de uma ciência aproveitar dos casos particulares para avançar em direção</p><p>ao conhecimento e à verdade:</p><p>“ Além disso, segue do que foi dito, como por si mesmo, que a Psi-</p><p>cologia não tem a ver com os detalhes da realidade empírica, a</p><p>não ser na medida em que esta permanece exterior ao pecado.</p><p>É verdade que, como ciência, Psicologia nunca pode ocupar-se</p><p>empiricamente com o detalhe que lhe serve de base, embora este</p><p>detalhe possa receber sua representação científica, quanto mais</p><p>concreta a Psicologia se tornar. Em nosso tempo, essa ciência, pos-</p><p>to que tenha mais do que qualquer outra o direito de se embriagar</p><p>com a multiplicidade borbulhante da vida, entregou-se ao jejum e</p><p>ao ascetismo como um autoflagelante. Não é culpa da ciência, mas</p><p>dos que a cultivam (KIERKEGAARD, 2017, p. 25).</p><p>O caso particular, em muitos sistemas filosóficos, é entendido como o auxílio</p><p>da categoria da imediatidade, que pertence ao mundo sensível e faz parte de um</p><p>momento do seu contrário na dialética do real. O entendimento da angústia faz</p><p>uso do movimento dialético, por isso, Kierkegaard usa a expressão “multiplicida-</p><p>de borbulhante da vida”, o que possibilita uma apreensão intuitiva dos conceitos</p><p>e problemas. Ao mesmo tempo, força, incomoda, provoca o filósofo a responder</p><p>a essa realidade borbulhante da vida de forma objetiva.</p><p>O entendimento dos exemplos ou casos particulares como modelos ajuda</p><p>a interrogar sobre o que caracteriza a atividade filosófica, além de estabelecer</p><p>que cada uma das grandes funções textuais, as referências, podem confirmar o</p><p>discurso e o substrato ontológico de um sistema ou doutrina numa filosofia. Isso</p><p>faz com que o objetivo do filósofo, além da conceituação ou criação de novos</p><p>conceitos, a partir do já apresentados pela língua, quer seja materna, quer não,</p><p>faça-o deslocar e organizar antigas formas de expressões e termos na confirmação</p><p>de uma tese. Às vezes, algumas formas antigas precisam ser destruídas, e a rea-</p><p>tribuição de sentidos, a reconstrução ontológica devem ser utilizadas em novas</p><p>teses ou sistemas filosóficos. Tudo isso é o processo de construção de filosófica.</p><p>Por fim, a fundamentação e a argumentação também necessitam de uma</p><p>reestruturação conceitual e, em muitos casos, o uso de exemplos para a ilustra-</p><p>ção de uma ideia ou nova ideia se faz compreensível. Os exemplos sempre serão</p><p>1</p><p>5</p><p>1</p><p>Você sabia que os exemplos desempenham função didática, ontológica e de</p><p>validação nos textos filosóficos? A função didática é fazer com que o pensador</p><p>seja entendido pelo leitor, fazer-se claro, essa é a razão dela. Contudo, o exem-</p><p>plo pode criar maus hábitos, como usar como fórmula, não como princípio. Esse</p><p>hábito se transforma em muleta e nunca se esvai, tornando natural o seu uso. Os</p><p>exemplos tiram dos seres humanos a autonomia de pensamento e de criação de</p><p>novos conceitos.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>pedidos pelos iniciantes nos textos filosóficos pelo simples fato de eles não terem</p><p>obrigação nenhuma de saber aqueles conceitos e categorias que estão sendo uti-</p><p>lizados pelos filósofos. A compreensão é uma construção que o iniciante precisa</p><p>fazer, mas ela não ocorre de forma imediata, é preciso dar tempo ao tempo. Cabe</p><p>àqueles que produziram as argumentações e os fundamentos filosóficos procurar</p><p>ser o mais claro possível na sua descrição e explicação para que os pedidos de</p><p>ilustração sejam minimizados o máximo possível. Diante disso, fica claro que o</p><p>exemplo pode ser uma ferramenta importante na compreensão da filosofia, cabe</p><p>ao pensador sempre relativizar ou alertar as suas limitações e fragilidades, que</p><p>lhes são próprios.</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste Tema de Aprendizagem e acreditamos</p><p>que os elementos desenvolvidos foram úteis e importantes para a compreensão</p><p>e a identificação dos problemas filosóficos fundamentais, a tese, os argumentos,</p><p>a fundamentação e a problemática do exemplo nos textos filosóficos. Vimos,</p><p>também, que esses problemas são os motores da produção racional filosófica</p><p>que chegam até nós e que precisamos compreender.</p><p>Destacamos também a importância de entender o agir subjetivamente diante</p><p>do problema fundamental para assumi-lo com todo empenho e dedicação na sua</p><p>solução. O pensar foi explicitado com o intuito de criar as condições por meio de</p><p>raciocínios para que encontre as soluções ainda não pensadas. A engenhosidade</p><p>do pensar faz com que o diferencial do problema seja enfrentado com raciona-</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>5</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 5</p><p>lidade na construção de soluções e, muitas vezes, com a criação de conceitos.</p><p>Vimos, também, que o impulsionador do filósofo é o problema fundamental.</p><p>Oportunizamos os elementos para entender que a atividade de tentar decifrar</p><p>aquilo que aparentemente parece indecifrável nos textos de filosofia começa a ser</p><p>um exercício de criação e recriação de problemas e de novos conceitos filosóficos.</p><p>Com isso, a ocupação com os textos passa a ser uma experiência de vida, algo</p><p>muito além de apenas encontrar problemas, inventar novos problemas e ver os</p><p>resultados efetivados no mundo vivido.</p><p>Por fim, compreendemos que a “teoria dos exemplos”, nos textos filosóficos,</p><p>faz parte das controvérsias na história da filosofia. As justificativas, como sem-</p><p>pre, na filosofia, faz sentido, e o desejo de não criar maus hábitos, muletas para o</p><p>leitor, acaba gerando dificuldades que, com o tempo, podem ser superadas. Esse</p><p>foi o nosso objetivo neste material, e esperamos que os subsídios oportunizados</p><p>sejam suficientes para que as leituras dos textos possam ser mais claras. Contudo,</p><p>não há consenso quanto aos usos dos exemplos, muitos pensadores fazem uso</p><p>frequente deles e acreditam que não tiram dos seres humanos a autonomia do</p><p>pensamento e da criação de novos conceitos originais.</p><p>1</p><p>5</p><p>1</p><p>1. Todo problema tem pontos singulares que revelam as suas condições enquanto manifes-</p><p>tação para aqueles que foram tocados por ele. Esses pontos são as condições que podem</p><p>constituir e determinar o problema e, de uma forma ou de outra, dão pistas, indicativos para</p><p>uma das inúmeras soluções. Diante disso, analise as afirmativas a seguir:</p><p>I - O problema se impõe a nós como se fosse um acontecimento imprevisível e possui</p><p>uma singularidade composta por agrupamentos de outras singularidades e sem um fio</p><p>condutor para guiar.</p><p>II - É possível resolver e compreender desde o início o problema, por isso, é um desafio</p><p>enfrentá-lo como um acontecimento entre os outros que acontecem todos os dias para</p><p>as pessoas comuns que não se ocupam com a filosofia.</p><p>III - O acontecimento por si mesmo é problemático e problematizante. Um problema não é</p><p>determinado por seus pontos singulares que exprimem suas condições.</p><p>IV - Parece que um problema tem sempre a solução que merece, segundo as condições</p><p>que o determinam enquanto problema.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I, II e IV.</p><p>d) I, II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>2. O problema fundamental, a tese ou solução, os argumentos e as fundamentações podem</p><p>ganhar, ou não, um reforço solicitado por muitos alunos numa sala de aula, o exemplo. Os</p><p>exemplos são importantes e estão dentro dos chamados fenômenos referenciais. Diante</p><p>disto, marque a alternativa correta sobre a importância do exemplo:</p><p>a) Cabe àqueles que produziram as argumentações e os fundamentos filosóficos procurar</p><p>ser o mais claro possível na sua descrição e explicação, para que os pedidos de ilustração</p><p>não sejam minimizados o máximo possível.</p><p>b) O denotado é o exemplo, o paradigma, o modelo, a ilustração, o padrão, a matriz, a</p><p>norma que não está ligada aos conceitos, que, por sua vez, não conecta, não nomeia os</p><p>objetos concretos no mundo vivido. Pensar sobre as referências é complexo, devido à</p><p>multiplicidade de aspectos para construir o sentido.</p><p>c) Os exemplos desempenham uma função didática, ontológica e de validação nos textos</p><p>filosóficos. A função didática é fazer com que o pensador seja entendido pelo leitor,</p><p>fazer-se claro é a razão de ser dela. É uma função não muito importante porque o texto</p><p>ganha modificações sob o olhar inicial do leitor.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>5</p><p>1</p><p>d) No entendimento de Kant, a única utilidade dos exemplos é afiar a faculdade de julgar,</p><p>quanto à aquisição do conhecimento é enfraquecida. O uso dos exemplos, com frequên-</p><p>cia, cria um mau hábito de usar como fórmulas, e não como princípio.</p><p>e) Outros pensadores acreditam que é desnecessário se preocupar com os exemplos ou</p><p>casos particulares visto que, nas próprias proposições ou nos conceitos, já está contem-</p><p>plado o mundo vivido. Cabe ao leitor fazer as conexões necessárias das proposições</p><p>universais para os casos particulares. Com isto, a leitura dos textos filosóficos não fica,</p><p>aparentemente, difíceis, e a sua compreensão comprometida.</p><p>3. O problema é tão importante quanto a tese, já que ambos estão dentro da esfera da criati-</p><p>vidade. Daí a importância deles dentro da atividade filosófica, pois a correlação é intrínseca,</p><p>ou seja, um faz parte da natureza do outro. Diante disso, analise as afirmativas a seguir e</p><p>assinale (V) para a(s) Verdadeira(s) e (F) para a(s) Falsa(s):</p><p>I - Tanto o problema quanto a tese foram conduzidos pela história da filosofia até o pre-</p><p>sente momento e são postos para serem pensados e construídos, conceitualmente,</p><p>pelo filósofo.</p><p>II - O legado histórico sempre é percebido facilmente, sem nenhum problema tanto pelo fi-</p><p>lósofo quanto pelo leitor que está acompanhando o percurso realizado. Quando o filósofo</p><p>tem ciência de que está respondendo a um problema dentro da história da filosofia ou de</p><p>outra área em específico, julga desnecessário ter que explicitá-lo de forma pedagógica,</p><p>tornando a compreensão um pouco mais complicada, contudo, sempre deixará as pistas</p><p>para que o leitor possa identificá-lo.</p><p>III - É impossível abordar um problema fixado com clareza e uma tese correlacionada sem</p><p>deixar nenhum vestígio.</p><p>As afirmativas I, II e III são, respectivamente:</p><p>a) F, V, V.</p><p>b) V, V, V.</p><p>c) F, V, F.</p><p>d) V, F, V.</p><p>e) F, F, F.</p><p>4. O problema fundamental é aquele incômodo que perturba o pensador, que não lhe per-</p><p>mite descansar e o impulsiona a criar conceitos para responder ou buscar solucioná-lo de</p><p>forma clara e convincente. Deleuze, em seu livro, O que é filosofia?, afirma que filosofia é a</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>5</p><p>4</p><p>fabricação de conceitos. Analise as afirmativas:</p><p>I - É simples: a filosofia também é uma disciplina criadora tão inventiva quanto qualquer</p><p>outra disciplina, e ela consiste em criar ou bem inventar conceitos. E os conceitos não</p><p>existem desde já feitos, numa espécie de céu em que eles esperassem que um filósofo</p><p>os agarrasse. É necessário fabricar os conceitos.</p><p>II - Certamente, não se os fabrica assim, do nada. Não se diz, um dia: “bem, vou inventar</p><p>tal conceito”, como um pintor não diz um dia: “bem, vou fazer um quadro assim”, ou um</p><p>cineasta “bem, vou fazer tal filme”! É desnecessário que se tenha uma necessidade, em</p><p>filosofia ou nos outros casos.</p><p>III - Um criador não faz nada além do que aquilo que absolutamente necessita. Resta que</p><p>esta necessidade – que é uma coisa bastante complexa, se ela existe – faça com que</p><p>um filósofo (aqui, pelo menos eu sei do que ele se ocupa) proponha-se a inventar, a criar</p><p>os conceitos e não se ocupar em refletir, ainda que seja sobre o cinema.</p><p>IV - Todo conceito criado está relacionado diretamente a um problema, sem os quais jamais</p><p>surgiriam. Portanto, a base da compreensão de uma filosofia está no problema fun-</p><p>damental para depois compreender os conceitos, as categorias utilizadas no sistema</p><p>filosófico elaborado.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas I, III e IV.</p><p>c) Apenas I, II e IV.</p><p>d) I, II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>5. Toda tese necessita de argumentação precisa e com inferências (deduções) de valores de</p><p>verdade para que lhe dê o suporte necessário, e o leitor perceba que está diante de algo</p><p>bem fundamentado. Diante disso, assinale a alternativa correta:</p><p>a) Não há diversos modos de fundamentar uma tese, mas destacamos aqueles que bus-</p><p>cam a radicalidade, que vão às raízes, às causas do problema fundamental. A forma de</p><p>demonstrar essa radicalidade está na explicitação, em clarificar os termos e as categorias</p><p>utilizados, desde a análise linguística ou semântica até os aspectos filológicos empre-</p><p>gados para construir os novos conceitos ou a terminologia.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>5</p><p>5</p><p>b) Ser radical não é proceder como a raiz de uma árvore que penetra o solo para se fixar à</p><p>terra e não abandona suas ramificações, pois estas são parte e complemento daquela.</p><p>c) O filósofo, sociólogo e economista Karl Marx (1818-1883) ajuda-nos a entender melhor a</p><p>questão da radicalidade ao estabelecer relações entre a teoria e o</p><p>ser radical, rigoroso.</p><p>A teoria é capaz de prender os homens desde que demonstre sua verdade face ao ho-</p><p>mem, desde que se torne radical. Ser radical é atacar o problema em suas raízes. Para</p><p>o homem, porém, a raiz é o próprio homem.</p><p>d) O processo de fundamentação das teses sempre segue um raciocínio ou linha de pen-</p><p>samento linear e fácil para um iniciante fazer uma reconstituição das bases utilizadas.</p><p>e) Às vezes, as formas dos argumentos não são extremamente refinadas, nem rigorosas,</p><p>e não são usadas de derivações de consequências pouco perceptível num primeiro</p><p>momento.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>5</p><p>1</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>COSSUTTA, F. Elementos para a leitura dos textos filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.</p><p>DELEUZE, G. Diferença e repetição. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006a.</p><p>DELEUZE, G. Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: 7766t Editora</p><p>34, 2016.</p><p>DELEUZE, G. Lógica do sentido, 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.</p><p>ESPINOSA, B. Pensamentos metafísicos. Tratado da correção do intelecto; Ética; Tratado políti-</p><p>co; Correspondência. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.</p><p>KARAM, R.; PIETROCOLA, M. Habilidades Técnicas Versus Habilidades Estruturantes: Resolução</p><p>de Problemas e o Papel da Matemática como Estruturante do Pensamento Físico. ALEXANDRIA</p><p>São Paulo, v. 2, n. 2, p.181-205, jul. 2009. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.</p><p>php/3489405/mod_resource/content/1 /art_Karam.pdf. Acesso em: 10 maio 2019.</p><p>KIERKEGAARD, S. O conceito de angústia: um simples relato psicológico-demonstrativa dire-</p><p>cionada ao problema dogmático do pecado hereditário. Petrópolis: Vozes, 2017.</p><p>MARX, K. Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Editora Moraes, 1991.</p><p>PORTA, M. A. G. A filosofia a partir dos seus problemas. São Paulo: Edições Loyola, 2004.</p><p>1</p><p>5</p><p>1</p><p>1. C.</p><p>2. D.</p><p>3. D.</p><p>4. B.</p><p>5. C.</p><p>GABARITO</p><p>1</p><p>5</p><p>8</p><p>MINHAS ANOTAÇÕES</p><p>1</p><p>5</p><p>9</p><p>MINHAS METAS</p><p>DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA</p><p>Demonstrar o porquê de a dissertação ser exercício filosófico por natureza.</p><p>Identificar, nos textos filosóficos, os problemas fundamentais e suas teses.</p><p>Explicar as causas da falta de exemplos ou ilustrações em muitas doutrinas ou sistemas</p><p>filosóficos.</p><p>Explicitar a importância dos argumentos e fundamentos para uma filosofia rigorosa.</p><p>Demonstrar as especificidades do problema filosófico numa dissertação filosófica.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 6</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudante, bem-vindo(a)!</p><p>Neste Tema de Aprendizagem, apresentamos os elementos necessários para</p><p>compreender a dissertação filosófica. A dissertação é entendida como um exer-</p><p>cício do pensar e da escrita que possui regras próprias da língua corrente e do</p><p>filosofar que se pode aprender.</p><p>Veremos que a dissertação é um exercício acadêmico que será necessaria-</p><p>mente realizado, quer seja com uma certa frequência, quer seja de forma espo-</p><p>rádica, quer no final do curso, como o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso),</p><p>ou um artigo científico a ser submetido à avaliação pelas revistas especializadas.</p><p>Fazem parte da atividade filosófica em forma de dissertação, os ensaios, as teses,</p><p>as comunicações, os livros, as traduções e os artigos científicos. Uma disserta-</p><p>ção filosófica não possui uma receita pronta a ser seguida evidenciada. Querer</p><p>encontrar ou tentar apresentar revela, de certa forma, uma ingenuidade com o</p><p>pensamento filosófico.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>EXERCÍCIO DA DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>A dissertação filosófica é considerada, por muitos, um exercício difícil por razões</p><p>da natureza da filosofia. A primeira dificuldade aparece pelo simples fato de ser</p><p>atividade racional. O raciocínio é uma atividade que parte do sabido para o</p><p>não sabido, do conhecido para o não conhecido. Portanto, a dissertação filosófica</p><p>apresenta alguma novidade diante das coisas conhecidas, daí a diferença da dis-</p><p>sertação filosófica de outras áreas do conhecimento, classificadas como ciências</p><p>humanas. Vejamos como entende Claudinei Chitolina, em seu livro Para ler e</p><p>escrever textos filosóficos:</p><p>“ Diferentemente do projeto de pesquisa (que é elaborado sem com-</p><p>preensão aprofundada do objeto a ser investigado), a elaboração de</p><p>um plano redacional (do sumário) requer uma compreensão prévia</p><p>do objeto a ser investigado. Embora necessário, o plano redacional</p><p>tem, entretanto, um caráter provisório (serve de guia ou de diretriz),</p><p>pode sofrer mudanças ou alterações no decorrer da investigação. É</p><p>sua função descrever a estrutura redacional do texto – uma ordem</p><p>a seguir. A dissertação filosófica não é um exercício aleatório de</p><p>pensamento, mas um trabalho orientado por um objetivo – visa</p><p>propor, sustentar ou defender uma tese. É o plano redacional, isto</p><p>é, a ação estratégica que permite conduzir o pensamento de forma</p><p>ordenada e progressiva. Traçar um plano significa possuir, de an-</p><p>temão, conhecimento do problema, de seus pressupostos (concei-</p><p>tos/argumentos) e implicações. Ou seja, antes pôr-se a escrever, é</p><p>necessário traçar um percurso que permite saber de onde partir e</p><p>para aonde ir (CHITOLINA, 2015, p. 132).</p><p>O plano redacional pode ser feito com a ajuda de um orientador, que, via de</p><p>regra, tem conhecimento sobre o tema em questão e experiência em dissertações</p><p>anteriores, possuindo compreensão aprofundada sobre o assunto, para, juntos,</p><p>construir um trajeto a ser percorrido durante a dissertação. O orientador será</p><p>a primeira pessoa a corrigir a dissertação e pode propor os ajustes necessários</p><p>para que a avaliação, que é um outro passo na parte técnica e na parte filosófica,</p><p>possa ocorrer de forma normal.</p><p>A dissertação é um exercício de escrita com</p><p>regras próprias, que se aprende a seguir. Tudo</p><p>nela deve ser inteligível, compreendido claramen-</p><p>A dissertação é um</p><p>exercício de escrita</p><p>com regras próprias</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>te, como um exercício filosófico por excelência. Muitas pessoas classificam a</p><p>dissertação filosófica como muito difícil para o estudante ou iniciante, pois, nos</p><p>textos filosóficos, depara-se com a racionalidade exigida por aqueles que vão</p><p>corrigi-la. Às vezes, o curso de Filosofia é visto como algo estimulante, instigan-</p><p>te e animado, mas, quanto à dissertação, alguns alunos de Filosofia começam a</p><p>perceber que as exigências filosóficas da escrita desanima-os.</p><p>“ Basta considerar um maço de trabalhos de aula para perceber</p><p>isso: ideias, exemplos, referências apresentadas em desordem,</p><p>frases soltas inacabadas, derrapagens diversas, leituras errônea</p><p>ou mutilada do tema, lacunas inquietantes na cultura (filosófica,</p><p>em particular), pouco domínio de manipulação dos conceitos,</p><p>ausência total de problematização, ignorância da língua corrente</p><p>e, obviamente, da língua técnica, etc. Isso os estudantes sabem,</p><p>e os que não sabem têm o direito de saber. Desde o final do se-</p><p>cundário, eles já conhecem, de qualquer modo, essa desoladora</p><p>experiência (notas baixas, pouco progresso e a impressão de que</p><p>os professores são às vezes, severo demais). Resultado: decepção,</p><p>cansaço, incompreensão (FOLSCHEID, 2002, p. 158).</p><p>Os vários pressupostos da língua corrente e suas estruturas para uma dis-</p><p>sertação filosófica, e que muitos alunos(as) não têm, acabam desencorajando</p><p>alguns e os leva a fazerem, erroneamente, comparações com outros problemas de</p><p>conhecimento, como a Matemática, a Física entre outras. As dificuldades encon-</p><p>tradas pelos alunos devem ser superadas com o próprio exercício da dissertação,</p><p>que é o exercício por excelência para o pensar, o criar conceitos no interior de um</p><p>discurso racional em torno de uma problemática para solucionar um problema</p><p>com uma tese.</p><p>Dissertação Filosófica sem modelos</p><p>Ao pensar sobre a dissertação filosófica, a primeira coisa que vem à mente de</p><p>uma pessoa que está iniciando é procurar um modelo como espelho ou referência</p><p>para se ter uma direção. Esse tipo de dissertação tem as suas especificidades e,</p><p>dificilmente,</p><p>encontraremos um modelo em si, em que os trabalhos dos estu-</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>dantes poderiam ser corrigidos pelos professores ou orientadores. Com isso, não</p><p>há uma resposta única para as dissertações, e sim múltiplas respostas possíveis.</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Então, a princípio, todas estariam corretas?</p><p>De certa forma sim, desde que siga algumas exigências, como fixação de</p><p>problema, tese, argumentos e fundamentações entre outros, pode-se dar a</p><p>nota máxima. Contudo, tendo por referência o negativo, sempre o avaliador</p><p>encontrará alguns elementos ou aspectos a serem melhorados, visto que não há</p><p>dissertação perfeita.</p><p>A dissertação é um exercício acadêmico que será, necessariamente realizado</p><p>com certa frequência, de forma esporádica ou ao final do curso, como o TCC</p><p>(Trabalho de Conclusão de Curso), ou um artigo científico a ser submetido à</p><p>avaliação pelas revistas especializadas. Fazem parte da atividade filosófica em</p><p>forma de dissertação, os ensaios, as teses, as comunicações, os livros, as tradu-</p><p>ções e os artigos científicos. Todas essas atividades filosóficas são produções</p><p>intelectuais fechadas, conceitualmente completas e acabadas em si. Mesmo</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>sendo finalizadas, deixam as questões em aberto para serem desdobradas pelas</p><p>reflexões dos seus leitores ou avaliadores técnicos.</p><p>Na busca por um padrão de dissertação, há uma tentativa de construí-lo como</p><p>se fosse um objeto técnico que, aqui, deve ser entendido como algo objetivo que</p><p>segue determinadas regras e métodos, conforme mencionamos anteriormente. O</p><p>técnico também pode ser entendido no sentido de grego, techné, como “modo”</p><p>ou “jeito de fazer” algo, ou seja, um conjunto de recomendações para fazer uma</p><p>dissertação, e não precisamente tenha um método a seguir.</p><p>“ A natureza do método filosófico só poderá ser esclarecida se exami-</p><p>narmos criticamente as propriedades fundamentais da linguagem e</p><p>dos juízos sintéticos ou analíticos. O método especulativo não resul-</p><p>ta de algumas regras fundamentais (“Regulae ad directionem inge-</p><p>nii”, segundo a receita cartesiana), nem alguns princípios ou diretri-</p><p>zes que informem o desenvolvimento do raciocínio e do inquérito</p><p>filosófico. O método, em última análise, é a própria filosofia que se</p><p>reduz ao “processus” da busca e da investigação reflexiva. Se exami-</p><p>narmos a obra de um Descartes ou de um Kant, será difícil verificar</p><p>que nenhum desses filósofos seguiu, na exposição de suas ideias, as</p><p>normas por eles mesmos traçadas como princípios reguladores de</p><p>todo pensamento que procura atingir um fim previamente defini-</p><p>do. A maioria dos pensadores se julga dispensada de manter-se fiel</p><p>a uma técnica que lhes parecia o único meio de atingir o objetivo</p><p>proposto pela reflexão desinteressada. Essa infidelidade ao método</p><p>parte dos seus criadores mais entusiastas constitui capítulo muito</p><p>sugestivo de história da filosofia (CANNABRAVA, 1956, p. 33).</p><p>A filosofia não segue um método, visto que ela própria constitui o método</p><p>como processo filosófico ou o pensador faz com que o método não seja visível.</p><p>O pensador pode, arquitetonicamente, esconder o método utilizado, conforme</p><p>descrevemos na unidade dois deste livro em relação aos sujeitos nos textos filo-</p><p>sóficos. Visto não ser possível chegar a um ponto sem seguir nenhum caminho,</p><p>o método é, entre outros significados, um caminho, um meio para se chegar a</p><p>um objetivo previamente determinado. Portanto, há um método sempre, só não</p><p>percebemos num primeiro momento. Contudo, não deixa de ser verdade que a</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>filosofia use o “processo” reflexivo como o seu caminho, o seu próprio método.</p><p>Além disso, não deixa de ser verdade, também, que o modus operandi de um</p><p>pensador, a sua estrutura textual, permanece a mesma em outros escritos, como</p><p>livros, cartas, ensaios entre outros.</p><p>Aspectos Pedagógicos da Dissertação</p><p>A dissertação filosófica atende, necessariamente, a um plano redacional, quer</p><p>seja explícito, demonstrado num sumário, quer seja “escondido”, por meio da</p><p>engenhosidade intelectual do autor. Contudo, o iniciante na produção da dis-</p><p>sertação deve ter em mente que essa produção deve passar pelos seguintes pro-</p><p>cessos: redação, avaliação e correção. Ela constitui uma atividade pedagógica que</p><p>pertence à formação educativa do estudante ou filósofo iniciante na ocupação</p><p>com a filosofia.</p><p>O exercício pedagógico de dissertar sobre um tema em específico de filo-</p><p>sofia, que deve ser demonstrado por meio da redação, é inseparável de outros</p><p>dois momentos, a avaliação e a correção. A avaliação está dentro de um sistema</p><p>pedagógico determinado em que os parâmetros devem ser seguidos como parte</p><p>de um todo determinado, geralmente, nas reuniões pedagógicas dos cursos e,</p><p>como a redação, seguiu as regras de introdução, desenvolvimento e conclusão</p><p>entre outras.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Não se pode introduzir um tema sem problematização e delimitação do assunto</p><p>a ser dissertado. O desenvolvimento deve aparecer em toda a argumentação e</p><p>fundamentação do problema e da tese do qual está dissertando. A conclusão é o</p><p>momento de apontar as alternativas ou os resultados das atividades anteriores.</p><p>A avaliação da dissertação filosófica também está dentro do sistema peda-</p><p>gógico do curso, que estabelece os parâmetros da avaliação definidos no PPC</p><p>(Projeto Pedagógico de Curso). Isso garante que as avaliações sejam realizadas</p><p>com referenciais objetivos sujeitos à análise e verificação com conceitos cla-</p><p>ros e definidos, para que a avaliação seja justa, correta e pedagógica. Por fim, as</p><p>correções permitem a confrontação de um texto com outro, possibilitando um</p><p>melhor desenvolvimento do tema, da problemática da dissertação. As correções</p><p>são fundamentais, pois recebem as contribuições da experiência teórica filosófica</p><p>do professor ou orientador para o enriquecimento da dissertação. Se uma disser-</p><p>tação não for corrigida, não pode ser chamada de dissertação filosófica: é só um</p><p>caminho de ida sem volta e que pode se perder nas areias de um deserto informe.</p><p>Passando por esses três momentos fundamentais, o exercício pedagógico</p><p>da dissertação passa a ter melhor compreensão tanto para o orientando quanto</p><p>para os leitores. Por isso, os professores e orientadores insistem para que seus</p><p>orientandos ou alunos sigam algumas regras da língua corrente, tenham um</p><p>plano de redação e procurem determinar os métodos ou o método que usarão</p><p>na dissertação, para ser compreensível e cumprir os seus objetivos pedagógicos.</p><p>Com isso, a dissertação filosófica faz com que o</p><p>aluno seja transformado em autor.</p><p>A dissertação, no entanto, realizada pelo alu-</p><p>no, não pode transformá-lo em um autor original</p><p>de início, dispondo de autonomia que se conquis-</p><p>ta, como em muitos exercícios de escrita, para se</p><p>tornar uma autoridade no assunto. A sua disser-</p><p>tação deve ser objeto de comentários, como referência e análise crítica. No entan-</p><p>to, a realização de tal exercício já demonstra que o estudante ou iniciante já está se</p><p>inserindo como sujeito de uma reflexão filosófica e que demonstra senso e inte-</p><p>ligibilidade que deva ser considerado com as devidas ressalvas. A dissertação de-</p><p>monstra que o estudante é uma pessoa que faz uso de sua razão na escrita filosófi-</p><p>A dissertação</p><p>filosófica faz com</p><p>que o aluno seja</p><p>transformado em</p><p>autor.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>ca, seguindo um plano e com regras claras, sujeitas à avaliação de seu emprego por</p><p>terceiros. A redação filosófica consolida, de forma incontestável, a formação teó-</p><p>rica educacional do estudante.</p><p>COMPLEXIDADE DO EXERCÍCIO DE DISSERTAR</p><p>O processo da escrita na língua corrente não é uma aquisição fácil, principalmente</p><p>quando se trata da linguagem filosófica. A dissertação filosófica não possui uma</p><p>receita pronta a ser seguida Ademais, é importante lembrar que o pensamento é</p><p>um exercício, assim como acontece com outras atividades físicas desenvolvidas</p><p>pelo ser humano. Neste momento, trataremos exatamente desta atividade, este</p><p>exercício sobre a dissertação filosófica tão caro para a filosofia.</p><p>Entre o Filosófico e o Pedagógico</p><p>O exercício da dissertação filosófica envolve os aspectos pedagógicos, o pen-</p><p>samento e a escrita, a adequação das regras da língua corrente, a organização</p><p>didática dela mesma entre outros aspectos. Parece, em um primeiro momento,</p><p>tratar-se de um gênero misto, mas a dissertação filosófica é filosófica, não se</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>pode reduzir a um exercício pedagógico simplesmente, ainda que ela seja obje-</p><p>tivamente uma. Para tanto, devemos fazer a distinção entre dissertação filosófica</p><p>de dissertação de filosofia.</p><p>A dissertação de filosofia</p><p>É discorrer, expor, relatar sobre a filosofia sem ater-se a um problema</p><p>fundamental, à tese ou resolução, os confrontos entre os argumentos e a</p><p>fundamentação entre outros aspectos. Já a dissertação filosófica apresenta</p><p>exigência mais profunda de busca pela unidade entre os aspectos da forma e do</p><p>conteúdo, entre o problema e a tese, harmonia e coesão dos elementos conceituais</p><p>e a busca pela originalidade da reflexão realizada.</p><p>A dissertação filosófica</p><p>Não possui uma receita pronta a ser seguida, e querer encontrá-la ou tentar</p><p>apresentar revela, de certa forma, uma ingenuidade com o pensamento filosó-</p><p>fico. Os estudantes ou iniciantes na ocupação filosófica devem concentrar seus</p><p>pensamentos em construir um caminho próprio, mesmo diante de algumas pis-</p><p>tas, como fez o filósofo e matemático Descartes, no século XVII, em seu livro o</p><p>Discurso do Método, ao apresentar as regras para bem da razão.</p><p>Vejamos</p><p>“ O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira</p><p>que eu não conhecesse como evidentemente como tal […]. O se-</p><p>gundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse</p><p>em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem</p><p>para melhor resolvê-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus</p><p>pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de</p><p>conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhe-</p><p>cimento dos mais compostos e supondo mesmo uma ordem entre</p><p>os que não procede naturalmente uns aos outros. E o último, o de</p><p>fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais,</p><p>que eu tivesse a certeza de nada omitir (DESCARTES, 1979, p. 38).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>Para seguir as regras sem ingenuidade, faz-se necessário perceber as nuances</p><p>na aplicação delas, caso contrário, elas não serão aplicáveis, ou cometem erros</p><p>que podem comprometer o texto, visto que as regras não valem em si mesmas,</p><p>elas devem ser analisadas com cuidado para a sua efetividade na situação concre-</p><p>ta. As regras cartesianas são amplamente seguidas nas pesquisas, são consagradas</p><p>no decorrer das atividades de pesquisas durantes séculos e mesmo assim, devem</p><p>ser vistas com cuidado para que se atinja o objetivo proposto. Descartes revelou</p><p>as suas regras depois da pesquisa realizada, como forma de demonstrar o cami-</p><p>nho realizado. Portanto, fez uso das suas regras e é claro que, para identificá-las,</p><p>necessita de um aprofundamento em seu pensamento para perceber os detalhes</p><p>na sua efetividade.</p><p>Merece, aqui, um destaque especial segunda, terceira e quarta regras, princi-</p><p>palmente para o aspecto didático e a clareza ao explicá-las.</p><p>A SEGUNDA REGRA, DA ANÁLISE</p><p>Indica como superar a dificuldade diante de um problema e realmente funciona en-</p><p>quanto procedimento.</p><p>A TERCEIRA REGRA, DA SÍNTESE</p><p>É fundamental no momento da dissertação filosófica, visto que, na escrita, há neces-</p><p>sidade de ter sintetizado as leituras e os fichamentos pertinentes ao problema funda-</p><p>mental e ao tema.</p><p>QUARTA REGRA, DA ENUMERAÇÃO</p><p>Ajuda muito os pesquisadores na organização, classificação, revisão e complementa-</p><p>ção das informações pesquisadas. A enumeração faz-se necessária em todos os mo-</p><p>mentos de uma pesquisa, quer seja em um laboratório, quer seja em obras filosóficas.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Da língua corrente para a Dissertação</p><p>O processo da escrita na língua corrente não é uma aquisição fácil, quanto mais</p><p>se tratando da linguagem filosófica. Antes de mais nada, é importante lembrar</p><p>que o pensamento é um exercício e, assim como acontece com outras atividades</p><p>físicas desenvolvidas pelo ser humano, por exemplo, só aprendemos nadar na</p><p>água e se exercitando. O mesmo acontece com a escrita filosófica, para que a</p><p>dissertação apresente resultado, ou seja, ela será resultado de um treinamento.</p><p>Na dedicação a essa atividade de aprendizagem, deve-se deixar de lado a pregui-</p><p>ça, a falta de esforço organizado e o desânimo, ou seja, só ocorrerá com muita</p><p>dedicação e insistência.</p><p>É importante saber que as dificuldades da escrita começam a ser superadas,</p><p>ao mesmo tempo, com as da língua corrente e filosófica. Com o exercício do</p><p>pensamento, ao dissertar, vão-se aplainando as dúvidas, contornando os obs-</p><p>táculos de concordância verbal e nominal, pronomes e advérbios, sintaxe entre</p><p>outros aspectos. De outro lado, as terminologias da filosofia vão, aos poucos,</p><p>incorporando-se, fazendo parte de um domínio conceitual e abstrato maior</p><p>nos usos diversos do dia a dia do filosofar. O pensar e o escrever começam a</p><p>entrar no objetivo pessoal do estudante ou iniciante na dissertação filosófica de</p><p>fazer da melhor maneira possível. Aos poucos, o estudante percebe os defeitos na</p><p>escrita e aprende pouco a pouco a corrigi-los ou contorná-los, superá-los, como</p><p>acontece nas outras atividades humanas.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>Dissertação fala por si mesma</p><p>Muitos estudantes ou iniciantes no discurso filosófico passam por uma dolorosa</p><p>dificuldade, julgam que sabem, querem dizer aquilo que não sabem claramente</p><p>e, é óbvio, não conseguem falar, nem escrever sobre o assunto. A falta de conhe-</p><p>cimento associado à falta de domínio da língua</p><p>corrente indica um caminho a avançar. Não há</p><p>justificativa para separar as duas dificuldades: o</p><p>domínio da língua e a falta de conhecimento.</p><p>Na história da filosofia, em alguns momentos,</p><p>privilegiou-se a retórica. Para o uso da retórica,</p><p>era necessário dissertar sobre o assunto, ter uma</p><p>Os maiores obstáculos da dissertação filosófica encontram-se na língua</p><p>corrente. Já o domínio da linguagem técnica da filosofia é superado com mais</p><p>velocidade se a língua corrente começa a fazer parte integrante do dia a dia do</p><p>estudante de Filosofia. O sofrimento maior não está no domínio da linguagem</p><p>filosófica, e sim na língua corrente. Há, na história do pensamento, uma infini-</p><p>dade de filósofos que foram excepcionais escritores, como o Padre Antônio</p><p>Vieira (1608-1697), considerado por Fernando Pessoa o príncipe da Língua</p><p>Portuguesa, e Jean-Paul Sartre (1905-1980), que recusou o prêmio Nobel de</p><p>literatura, em 1964, mandando sua cachorra recebê-lo. A preocupação em su-</p><p>perar os problemas da língua corrente é fundamental para uma boa dissertação</p><p>filosófica. E o escrever bem começa a ser uma consequência do exercício de</p><p>dissertar, como Vieira e Sartre.</p><p>Para Ler e Escrever Textos Filosóficos</p><p>Sinopse: esse é um ensaio de metodologia filosófica, de Clau-</p><p>dinei Luiz Chitolina. Traz uma análise acerca dos elementos</p><p>fundamentais do método filosófico, que se encontram direta-</p><p>mente ligados ao ensino e ao aprendizado da filosofia. Contém</p><p>valiosa contribuição teórica sobre o problema da comunicação</p><p>(transmissão) filosófica, e serve de contraponto àqueles que</p><p>querem ensinar e aprender filosofia, assim como àqueles que</p><p>desejam aprender a ler e a escrever textos filosóficos.</p><p>INDICAÇÃO DE LIVRO</p><p>Na história da</p><p>filosofia, em</p><p>alguns momentos,</p><p>privilegiou-se a</p><p>retórica.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>tese a ser defendida, preparar e decorar os argumentos para só depois convencer</p><p>o oponente e os ouvintes. Nesse processo todo, muitas dissertações ficavam muito</p><p>boas, a escrita era o foco em muitos casos e a justificativa era a sustentação oral</p><p>e o convencimento. Evidentemente alguns se destacavam, como Padre Antônio</p><p>Vieira, professor de retórica na Bahia, no século XVII, e o maior orador do seu</p><p>tempo.</p><p>Em outros momentos, houve inversões, ou simplesmente a moda passou a</p><p>ser outra, a retórica ficou de lado e o foco era o esforço pessoal. A dissertação</p><p>podia ser ilegível e, de certa forma incoerente, mesmo assim era aceitável. O es-</p><p>pontaneísmo era valorizado nos meios acadêmicos. Toda dissertação deveria ser</p><p>valorizada por princípio. Ela era resultado de um esforço pessoal. O subjetivismo</p><p>em exprimir-se pessoalmente e as boas intenções em enfrentar um problema</p><p>eram aceitas sem grandes dificuldades. O rigor com pensar crítico e o domínio</p><p>da língua corrente foram deixados de lado em muitas situações.</p><p>Para que uma dissertação seja considerada bem construída, faz-se necessá-</p><p>rio que seja bem escrita, com o domínio da língua para dar o suporte ao pen-</p><p>samento, saber o que as palavras significam, compreender e usar o sentido de</p><p>certas expressões consagradas na filosofia entre outros elementos. O pensar na</p><p>filosofia sempre buscou uma perfeição de unida-</p><p>de possível dentro da língua corrente. Portanto, a</p><p>língua e o pensamento sempre possuíram relação</p><p>íntima e profundamente dependente uma da ou-</p><p>tra, ao ponto de uma não conseguir existir na sua</p><p>plenitude sem a outra, e, juntas, podem exprimir claramente uma ideia ou um</p><p>pensamento por mais agudo e perspicaz que se possa imaginar.</p><p>Na dissertação filosófica, o esforço para exteriorizar um pensamento só é possível</p><p>por meio da linguagem, com o uso de termos técnicos precisos, ou seja, a linguagem</p><p>e o pensamento devem sempre estar alinhados como duas engrenagens ligadas e</p><p>funcionando, simultaneamente, mas são dependentes. Essas engrenagens devem</p><p>estar sempre sob atenção e supervisão, pois um texto escrito tem por objeto expor</p><p>uma problemática, uma tese como solução, os argumentos e fundamentos, todos</p><p>em condições de serem inteligíveis e compreensíveis para os avaliadores, no caso</p><p>os professores ou orientadores e os seus leitores.</p><p>A língua e o</p><p>pensamento sempre</p><p>possuíram relação</p><p>íntima</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 6</p><p>O texto escrito deve ter autonomia, suficiência (argumentos e fundamentos)</p><p>para falar por si mesmo, com sentido bem definido, objetivos claros. Como bem</p><p>lembrou Platão, no século IV a. C., no seu livro Fedro, 276a.</p><p>“ Mais: uma vez escrito, um discurso chega a toda a parte, tanto aos</p><p>que o entendem como aos que não podem compreendê-lo e, assim,</p><p>nunca se chega a saber a quem serve e a quem não serve. Quando é</p><p>menos acabado, ou justamente censurado, tem sempre necessidade</p><p>da ajuda do seu autor, pois não é capaz de se defender nem de se</p><p>proteger a si mesmo. […] Refiro-me ao discurso conscienciosamente</p><p>escrito, com a sabedoria da alma, ao discurso capaz de se defender a si</p><p>mesmo, e que sabe quando convém ficar calado e quando convém in-</p><p>tervir. Fedro – Por acaso estás a referir ao discurso vivo e animado do</p><p>sábio, do qual todo o discurso poderia ser tomado como um simples</p><p>simulacro? Sócrates – Exatamente a esse! (PLATÃO, 2000, p. 123).</p><p>Além do texto, deve defender-se, apresentar-se e responder sozinho às ques-</p><p>tões e às críticas dos seus leitores, na ausência do seu criador. O criador deve</p><p>calar-se quando for interrogado para que o seu texto possa responder aos ques-</p><p>tionamentos. A autonomia da dissertação, do texto deve sempre estar na intenção</p><p>do seu autor, desde o seu início, ainda como plano redacional até a versão final.</p><p>As características obrigatórias da redação dissertativa são:</p><p>(1) expor uma ideia, um problema ou um questionamento, no qual se desenvolve</p><p>um raciocínio com base em argumentos que levarão à conclusão;</p><p>(2) o estudante deve ser capaz de expor argumentos válidos para fundamentar</p><p>suas afirmações, evitando clichês e generalizações;</p><p>(3) a intenção é convencer o leitor a respeito da opinião defendida no texto – a</p><p>conclusão não precisa dar solução definitiva para a questão, até porque os temas,</p><p>muitas vezes, são tão complexos que não permitem isso;</p><p>(4) o texto deve ser construído com linguagem culta, com clareza e objetividade.</p><p>Espera-se um texto impessoal, mas não é proibido usar a primeira pessoa (eu ou</p><p>nós). Fonte: adaptado de Guia do Estudante (2012).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste Tema de Aprendizagem. Acreditamos</p><p>que os elementos desenvolvidos foram úteis para a compreensão da dissertação</p><p>filosófica de forma geral. Queremos destacar que o entendimento da disserta-</p><p>ção filosófica como um exercício do pensar e da escrita constitui a essência por</p><p>excelência da filosofia.</p><p>Vimos que a dissertação filosófica não possui uma receita pronta, os estu-</p><p>dantes e iniciantes na atividade filosófica devem criar os seus próprios modelos</p><p>por meio do exercício do pensamento. Com isso, a dissertação vai ganhando</p><p>autonomia e suficiência para falar por si mesma, ou seja, o texto deve se defender</p><p>sem ajuda do seu autor. Outro aspecto desenvolvido foi o fato de a dissertação to-</p><p>mar o seu tema de empréstimo da história da filosofia. Para que uma dissertação</p><p>obtenha o êxito esperado é mobilizar toda história da filosofia em torno do tema.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>1. Para que a dissertação filosófica possa exteriorizar os resultados das pesquisas sobre o</p><p>tema e o problema fundamental, faz-se necessário que as perguntas expressem os proble-</p><p>mas como verdadeiros, e não falsos ou mal postos. Assinale a alternativa correta a seguir:</p><p>a) Os falsos problemas aparecem quando não há relação, ou quando possui relação indireta</p><p>com o tema.</p><p>b) No processo de elaboração de uma dissertação, não há diversas maneiras de enganar-se</p><p>com um tema.</p><p>c) Para desenvolver um tema, responder um problema e criar conceitos novos em uma</p><p>dissertação filosófica, não se deve fazer uso de temas que exijam uma definição.</p><p>d) A objetividade de uma dissertação filosófica só é cumprida se compreendermos, clara-</p><p>mente, o que é um problema filosófico, esta é uma das especificidades da filosofia, hoje</p><p>e sempre. Isso não difere a filosofia de outras áreas do conhecimento.</p><p>e) Os enunciados postos pelos professores ou orientadores não são uma oportunidade, ou</p><p>seja, um problema a ser tratado pela razão de forma diferente, a descobrir aquilo que</p><p>está oculto, explicitá-lo por meio de pressupostos, hipóteses, definições e argumentos</p><p>entre outros.</p><p>2. Muitos estudantes ou iniciantes no discurso filosófico passam por uma dolorosa dificul-</p><p>dade, julgam que sabem, querem dizer aquilo que não sabem claramente e, óbvio, não</p><p>conseguem falar, nem escrever sobre o assunto. A falta de conhecimento associado à</p><p>falta de domínio da língua corrente indica um caminho a avançar. Diante disso, analise as</p><p>afirmações a seguir:</p><p>I - Para que uma dissertação seja considerada bem construída, faz-se necessário que seja</p><p>bem escrita, com o domínio da língua para dar o suporte ao pensamento, saber o que</p><p>as palavras significam, compreender e usar o sentido de certas expressões consagradas</p><p>na filosofia entre outros elementos.</p><p>II - A língua e o pensamento sempre tiveram uma relação íntima e profundamente depen-</p><p>dente uma da outra, ao ponto de uma não conseguir existir na sua plenitude sem a outra</p><p>e, juntas, poderem exprimir claramente uma ideia ou pensamento, por mais agudo e</p><p>perspicaz que se possa imaginar.</p><p>III - Na dissertação filosófica, o esforço para exteriorizar um pensamento que se busca e em</p><p>que não há necessidade de ocultar esta busca, só é possível por meio da linguagem</p><p>para concretizar termos técnicos precisos. Ou seja, a linguagem e o pensamento devem</p><p>sempre estar alinhados como duas engrenagens que estão ligadas e funcionam, simul-</p><p>taneamente, e são independentes.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>IV - O texto escrito deve ter autonomia, suficiência (argumentos e fundamentos) para falar</p><p>por si mesmo, com sentido bem definido e objetivos claros. Além disso, o texto deve de-</p><p>fender-se, apresentar-se e responder sozinho às questões e às críticas dos seus leitores</p><p>na presença do seu criador.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I, II e IV.</p><p>d)</p><p>I, II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>3. Ao pensar sobre a dissertação filosófica, a primeira coisa que vem à mente de uma pessoa</p><p>que está iniciando é procurar um modelo como espelho ou referência para ter uma dire-</p><p>ção. Considerando a temática apresentada no enunciado, analise as afirmativas a seguir e</p><p>assinale (V) para a(s) Verdadeira(s) e (F) para as Falsa(s):</p><p>I - ( ) Esse tipo de dissertação tem as suas especificidades e, facilmente encontraremos</p><p>um modelo em si, em que os trabalhos dos estudantes poderiam ser corrigidos pelos</p><p>professores ou orientadores.</p><p>II - ( ) O método, em última análise, é a própria filosofia que se reduz ao “processus” da bus-</p><p>ca e da investigação reflexiva. Se examinarmos a obra de um Descartes ou de um Kant,</p><p>será difícil verificar que nenhum desses filósofos seguiu, na exposição de suas ideias, as</p><p>normas por eles mesmos traçadas como princípios reguladores de todo pensamento</p><p>que procura atingir um fim previamente definido.</p><p>III - ( ) A filosofia não segue um método, visto que ela própria constitui o método como</p><p>processo filosófico, ou o pensador faz com que o método não seja visível. O pensador</p><p>pode, arquitetonicamente, esconder o método utilizado, em relação aos sujeitos nos</p><p>textos filosóficos.</p><p>As afirmativas I, II e III são, respectivamente:</p><p>a) F, V, V.</p><p>b) V, V, V.</p><p>c) F, V, F.</p><p>d) V, F, V.</p><p>e) F, F, F.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CANNABRAVA, E. Elementos de metodologia filosófica. São Paulo: Companhia Editora Nacio-</p><p>nal, 1956.</p><p>CHITOLINA, C. L. Para ler e escrever textos filosóficos. São Paulo: Ideias & Letras, 2015.</p><p>DESCARTES, R. Discurso do método: meditações; objeções e respostas; as paixões da alma;</p><p>cartas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>FOLSCHEID, D. Metodologia filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 2002.</p><p>PLATÃO. Fedro ou da beleza. 6. ed. Lisboa: Guimarães Editora, 2000.</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>1. A.</p><p>2. A.</p><p>3. A.</p><p>GABARITO</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>UNIDADE 3</p><p>MINHAS METAS</p><p>IMPOSIÇÕES DO TEMA NUMA</p><p>DISSERTAÇÃO</p><p>Demonstrar o porquê de a dissertação ser exercício filosófico por natureza.</p><p>Identificar, nos textos filosóficos, os problemas fundamentais e suas teses.</p><p>Explicar as causas da falta de exemplos ou ilustrações em muitas doutrinas ou sistemas</p><p>filosóficos.</p><p>Explicitar a importância dos argumentos e fundamentos para uma filosofia rigorosa.</p><p>Demonstrar as especificidades do problema filosófico numa dissertação filosófica.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 7</p><p>1</p><p>8</p><p>1</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudante, bem-vindo(a)!</p><p>Neste Tema de Aprendizagem, veremos que a dissertação filosófica toma por</p><p>empréstimo um tema da cultura filosófica, ou seja, da história da própria filosofia.</p><p>Os questionamentos gerados do problema fundamental vêm da realidade vivida.</p><p>O tema deve ser sempre delimitado, preciso e organizado de forma rigorosa em</p><p>que a razão seja visível na dialética do pensamento, girando em torno de um</p><p>problema filosófico.</p><p>Para enfrentar um tema, temos que mobilizar toda a filosofia. A experiência</p><p>mostra que podemos tratá-lo de algumas maneiras, como um conceito, vários</p><p>conceitos, um questionamento, uma referência. Contudo, devemos tomar alguns</p><p>cuidados, porque as definições dadas pelos dicionários, geralmente, são gené-</p><p>ricas, e não se adaptam ao tema particular em sua presença. Por fim, falaremos</p><p>sobre o perguntar. Uma pergunta bem elaborada faz com que o caminho seja</p><p>seguro e firme. Uma conferência de Heidegger será utilizada como referência</p><p>para melhor compreendermos o tema.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>IMPOSIÇÕES DO TEMA NUMA DISSERTAÇÃO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>8</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>Em uma dissertação, o que primeiro salta aos olhos do leitor é o tema. Ele impõe</p><p>exigências próprias, vontades e razões numa ordem lógica interna para que as</p><p>interrogações, problematizações sejam seguidas naquela direção. Isso significa</p><p>que se deve respeitar o tema na dissertação e se colocar a seu serviço nos enuncia-</p><p>dos. Jamais podemos violentá-lo, ou seja, desviar, sair daquilo que está proposto,</p><p>do que está sendo solicitado. Neste momento, daremos um destaque especial a</p><p>toda essa problemática para que possamos compreender o alcance filosófico de</p><p>uma boa dissertação.</p><p>Tema emprestado para ser sujeito</p><p>A dissertação filosófica toma por empréstimo um tema da cultura filosófica, ou</p><p>seja, da história da própria filosofia. Os questionamentos gerados pelo proble-</p><p>ma fundamental vêm da realidade vivida. O tema deve ser sempre delimitado,</p><p>preciso e organizado de forma rigorosa em que a razão seja visível na dialética</p><p>do pensamento enquanto tal, girando em torno de um problema filosófico. O</p><p>problema filosófico deve ser resultado dos questionamentos traduzidos a partir</p><p>de uma proposição sobre o tema retirado da filosofia. O tema é o objeto em</p><p>questão, colocado diante de um sujeito para que seja submetido ao exercício do</p><p>pensar. Contudo, não é possível você fazer dele o que quiser, há procedimentos</p><p>a serem cuidadosamente seguidos.</p><p>“ […] O pensamento filosófico se desenvolve em confronto com a</p><p>história da própria filosofia. A interrogação filosófica volta-se não</p><p>só sobre a realidade presente, mas sobre o passado da filosofia, a his-</p><p>tória do próprio pensamento filosófico. Em cada uma das filosofias,</p><p>é a própria filosofia (sua essência e sentido) que está em questão.</p><p>Escrever textos filosóficos implica ler textos filosóficos, visto que</p><p>o ato de escrever é um procedimento que está subordinado ao ato</p><p>de ler. Ou seja, a capacidade de escrever pressupõe a leitura, na</p><p>medida em que o domínio da gramática (sintaxe e da semântica)</p><p>é condição necessária para bem escrever. Porém, se pretendemos</p><p>escrever filosoficamente, não basta seguir as normas da gramática,</p><p>é necessário pensar filosoficamente (CHITOLINA, 2015, p. 110).</p><p>1</p><p>8</p><p>4</p><p>Ao tomar de empréstimo o tema história da filosofia, a leitura dele exige</p><p>disposição a segui-lo e a servir-se dele. O tema (em francês sujet) passa a ser o</p><p>sujeito que direciona o nosso pensamento em determinada situação ou trajeto a</p><p>ser seguido, mesmo que provisoriamente. O tema filosófico que será dissertado é</p><p>o mestre a ser seguido, a ser submetido, necessariamente, pelo pensamento, será</p><p>regido pelas possibilidades apresentadas pela razão. O tema impõe exigências</p><p>próprias, vontades e razões numa ordem lógica interna para que as interrogações,</p><p>problematizações sejam seguidas naquela direção.</p><p>O tema proposto na dissertação deve ser compreendido claramente logo</p><p>de início, a ponto de ser facilmente memorizado, ser inteligível. Ao seguir ou</p><p>desenvolvê-lo, deve-se tomar alguns cuidados importantes, o primeiro é não</p><p>confiar na memória, visto que não está pedindo para recitar tudo sobre o tema;</p><p>o segundo é permanecer no tema o máximo possível, para isso, faz-se necessário</p><p>sempre tê-lo à vista e voltar o mais rapidamente possível. Deve-se sempre pensar</p><p>nele, dizer a si mesmo se está dentro do tema, considerando cada palavra, cada</p><p>imagem, para que a pesquisa esteja focada e seja realmente uma descoberta.</p><p>Durante a leitura de textos filosóficos na investigação do tempo proposto, é</p><p>importante estar atento aos aspectos, aos detalhes nos livros filosóficos, como os</p><p>questionamentos semelhantes a estes: “Que é um ente?”, “Que é o ente?”. Perceba</p><p>que parece a mesma coisa, mas não é. Outro aspecto se refere aos verbos “ser e</p><p>parecer honesto”. Atenção com os plurais, singulares, artigos e os advérbios</p><p>para perceber aquilo que está subentendido. Pense no explícito e no implícito,</p><p>nas afirmações e nos questionamentos. Para que o tema seja factível, é preciso</p><p>ter conhecimento sobre os elementos para compreender o tema a ser dissertado</p><p>e estar atento aos possíveis elementos surpresas na compreensão do tema.</p><p>Fonte da pesquisa do tema</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>8</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>A filosofia, desde a Antiguidade, com Platão e Aristóteles, é entendida como</p><p>ponto de partida, o espanto, a admiração, o extraordinário, e a surpresa é parte</p><p>integrante da produção filosófica. O espanto leva o pensador a pensar, no caso em</p><p>específico,</p><p>e a escrever, como atividade produtiva e criativa na filosofia. O pensa-</p><p>dor ou estudante iniciante deve ter ciência de que, em filosofia, sempre se inicia,</p><p>sempre há um eterno recomeço numa dissertação ou num problema. O tema é</p><p>sempre uma estreia, sempre dá frio na barriga e insegurança, algo perfeitamente</p><p>compreensível. Ademais, sempre haverá necessidade de mobilizar, em torno</p><p>da fonte, a história da filosofia e toda a experiência em escritos e estudos sobre o</p><p>tema ou problema. Por isso, o espantar-se e a admiração sempre entrarão em cena</p><p>para que o texto possa apresentar os elementos de uma possível originalidade.</p><p>No processo de mobilizar toda a filosofia diante de um tema, a experiência</p><p>mostra que podemos tratá-lo de algumas maneiras, como um conceito, vários</p><p>conceitos, um questionamento ou uma referência. Vejamos como conceito, que</p><p>é o título mais simples: “A desigualdade”, “A tolerância” entre outros. No primeiro</p><p>momento, acontece uma desorientação, visto que não temos um indicativo do</p><p>que fazer com ele.</p><p>Na filosofia, logo de início, devemos começar a investigação estabelecendo</p><p>algumas conceituações, algumas diferenças e alguns conceitos que avizinham e</p><p>que nos obrigam a fazer distinções nos jogos de contrários sobre ele. É o primeiro</p><p>empréstimo da história da filosofia, por exemplo, igualdade x desigualdade,</p><p>tolerância x intolerância. Não nos esqueçamos da precisão ao sentido semântico,</p><p>etimológico do tema, ou seja, apresentar os elementos para que daí surja uma</p><p>problematização.</p><p>O segundo são os vários conceitos que estão em um tema, e a maneira como</p><p>será tratado é semelhante à primeira. Por exemplo, “essência e existência”, “ser</p><p>e ente” etc. Podemos colocar a cópula para problematizar ou transformar em</p><p>pergunta, e ficaria assim: “Essência é existência”, “Ser é ente”, “Essência ou exis-</p><p>tência?”, “Ser ou ente?”. Podemos fazer acréscimos a partir de vírgulas, e ficaria</p><p>assim: “essência, existência…”, “Ser, ente…” etc. Faremos as mesmas observações</p><p>que fizemos no precedente. Não se pode esquecer de buscar a precisão ao sentido</p><p>semântico, etimológico dos termos, ou seja, apresentar os elementos para que daí</p><p>surja a problematização como sequência normal.</p><p>1</p><p>8</p><p>1</p><p>O terceiro é a pergunta ou o questionamento sobre um tema, e aqui entra a</p><p>formulação clássica da dissertação filosófica, a demonstração da capacidade</p><p>crítica do estudante ou iniciante na dissertação filosófica e na filosofia propria-</p><p>mente dita. Considera-se todo tema como uma pergunta, quer esteja de forma</p><p>explícita ou implícita. A pergunta pode ser comparada a uma flecha atirada em</p><p>direção a um alvo. A direção da flecha, no caso da pergunta, direciona o olhar</p><p>do pesquisador e a toda sua atenção e capacidade de investigação.</p><p>Por exemplo, “Em que sentido podemos considerar a relação entre essência e</p><p>existência?”, “Em que condições o ser se manifesta nos entes?”, chamemos a atenção</p><p>para o fato de que estamos diante de uma interrogação. Se temos uma pergunta,</p><p>temos, necessariamente, que apresentar uma resposta, nem que seja na conclusão</p><p>da dissertação.</p><p>Por fim, há referências ou as citações na dissertação. Ao fazer a pesquisa por</p><p>meio das leituras dos textos, na história da filosofia, faz-se necessário atenção</p><p>para explicitar a frase, ou seja, o que ela realmente diz e por que razões? Depois</p><p>de fazer apologia (defesa) a uma ideia ou posição do pensador na filosofia, é</p><p>preciso colocar entre aspas, fazer a indicação como referência bibliográfica, pois</p><p>dá autoridade, credibilidade à pesquisa. Fazer referências acrescenta muito à</p><p>investigação do tema. Quanto às citações, mais credibilidade, mas demonstra</p><p>capacidade de pesquisa e diálogo com os pensadores. Em seguida, é preciso co-</p><p>mentar e fazer a análise crítica para que o distanciamento teórico seja efetivado</p><p>na dissertação. Cabe ressaltar que não se pode fazer uma citação ou referência</p><p>sem análise. A referência fica solta, sem conexões, e isso é imperdoável numa</p><p>dissertação, visto que o estudante ou iniciante está dialogando com elas no texto.</p><p>Tema devolvido do empréstimo</p><p>Feito o diálogo com as fontes, as referências da história da filosofia e o proble-</p><p>ma fundamental, agora, está na hora de devolver o empréstimo. A dissertação</p><p>passa a fazer parte da cultura filosófica. No de-</p><p>senvolvimento do tema filosófico a ser disserta-</p><p>do, o estudante ou iniciante deve ter em mente</p><p>a publicidade de tal trabalho intelectual, mesmo</p><p>A dissertação passa</p><p>a fazer parte da</p><p>cultura filosófica.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>8</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>sendo incipiente em matéria de cultura filosófica. No mundo contemporâneo,</p><p>em que a conectividade é palavra de ordem, os textos filosóficos, as dissertações</p><p>entre outros chegam à rede mundial de computadores e smartphones acessíveis a</p><p>todos os que estão interessados nestas questões, sendo eles estudantes, iniciantes</p><p>e especializados, quer queiramos, ou não.</p><p>Devemos destacar que a dissertação filosófica passou pelos processos de</p><p>avaliação e correção por um professor ou orientador especialista em Filosofia.</p><p>Trata-se de um trabalho racional que seguiu determinados procedimentos de</p><p>ordem lógica, regras gramaticais da língua corrente, um plano redacional, pos-</p><p>sui certo rigor e certa precisão conceituais exigidos pela tradição filosófica. Isso</p><p>chancela o fato de que a dissertação está em condições de ser consultada como</p><p>fonte de pesquisa em diversos níveis de entendimento, com as devidas propor-</p><p>ções e considerações.</p><p>A devolução do empréstimo, depois de ter sido delimitado de forma rigorosa</p><p>e crítica, girou em torno do problema fundamental posto pelo pesquisador e re-</p><p>cebeu resposta com argumentos fundamentados, construídos de forma criativa.</p><p>O exercício do pensar aconteceu a partir do confronto com as ideias da história</p><p>da filosofia, da interrogação filosófica que voltou o seu olhar para a realidade</p><p>concreta, para o mundo vivido a partir de leitura de textos filosóficos submeti-</p><p>dos à crítica e resistiram aos ataques da razão na história pelos pesquisadores e</p><p>resistiram, tornando-se consagrados pela tradição.</p><p>1</p><p>8</p><p>8</p><p>Por fim, essa devolução que a dissertação está realizando traz uma espécie</p><p>de marca registrada, aquilo que caracteriza e diferencia das outras reflexões filo-</p><p>sóficas, ou seja, o texto traz uma assinatura do produtor ou autor. Ainda, nesse</p><p>texto, pode ser a inauguração de um novo estilo filosófico, que não se pode con-</p><p>fundir com um texto literário, uma nova maneira de pensar e estruturar o texto</p><p>ou uma nova concepção a partir do problema fundamental expressado pela tese.</p><p>Toda leitura de um texto é uma nova leitura, visto</p><p>que pode estabelecer novas relações entre o que</p><p>o pensador diz, e o que o leitor tem a dizer. Uma</p><p>dissertação ou texto filosófico é obra inacabada,</p><p>incompleta pela sua própria natureza como tal, ou</p><p>seja, o autor nunca completará a sua criação ou encerrará sua reflexão. A disser-</p><p>tação nunca contemplará o todo da filosofia nem do filosofar.</p><p>Uma dissertação</p><p>ou texto filosófico é</p><p>obra inacabada</p><p>O texto argumentativo pode utilizar-se do método dialético. Seus elementos bá-</p><p>sicos são a tese, a antítese e a síntese. A tese é a afirmação que se faz no início do</p><p>texto. A antítese é a oposição que se faz à tese, criando um conflito. A síntese é a</p><p>situação nova originada desse embate entre tese e antítese. Portanto, a síntese se</p><p>torna uma nova tese, que aceita uma nova antítese e, consequentemente, origina</p><p>uma nova síntese, num processo infinito. Essa é a estrutura de um texto filosófico,</p><p>uma vez que, antes de propor qualquer interpretação definitiva, busca refletir acer-</p><p>ca dos problemas. Escrever um texto sobre algum tema abstrato não é tão fácil.</p><p>Por isso, quanto mais lemos, mas desenvolvemos nossa capacidade de abstrair e</p><p>de argumentar.</p><p>Fonte: adaptado de Sílvio Gallo (2013, apud FILOSOFIA DIÁRIA, 2016, on-line).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>DEFINIÇÕES PARA DISSERTAR</p><p>As definições constituem um parâmetro para que as reflexões atendam aos pro-</p><p>pósitos estabelecidos. Ao</p><p>pensarmos em um conceito, devemos fazê-lo em um</p><p>espaço de relações, estabelecer vínculos, ser claros ou ocultos, o que, de certa for-</p><p>ma, é secundário, comparado com a definição direta. Ao reunir os dados todos</p><p>para atribuir os sentidos de um conceito, deve-se fazer a análise crítica e eliminar</p><p>aquilo que está fora das intenções, visto que nem tudo o que foi recolhido pode ser</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>8</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>aproveitado integralmente. O presente momento tem como objetivo analisar esses</p><p>aspectos para que a conceituação seja construída de forma clara e precisa. Com</p><p>isso, o texto apresenta os elementos necessários para uma compreensão satisfatória.</p><p>Definições construídas</p><p>Para o exercício do pensamento, por meio da dissertação, é necessário retirar o</p><p>tema da cultura filosófica e desenvolver uma série de ações interligadas para</p><p>que as análises, os raciocínios, os argumentos e a fundamentação nos pensado-</p><p>res sejam reconhecidos na história da filosofia como suporte para a produção, a</p><p>resolução de um problema em forma de texto. O ponto de partida da dissertação</p><p>é um enunciado que denuncia um tema, o objeto para o exercício. Ao fazer a</p><p>leitura do enunciado, exige-se que o estudante ou iniciante sirva o tema e, para</p><p>isso, começa a definir os conceitos ou noções diante de si. Faz-se necessário to-</p><p>mar cuidado com definições prontas apresentadas pelos dicionários. Deve-se</p><p>evitá-las o máximo possível. Caso não seja possível, é necessário procurar várias</p><p>definições sobre aquele conceito.</p><p>A definição dada pelos dicionários, geralmente, é genérica e não se adapta</p><p>ao tema particular em sua presença. Uma definição dada pelos dicionários nada</p><p>mais é do que uma tese camuflada, disfarçada, uma delimitação apertada. Há</p><p>um velho ditado que diz “quem abarca pouco, aperta muito”, inclusive, pode ser</p><p>não verdadeira, ou ser extremamente parcial e deformada. Para começar bem</p><p>a dissertação, deve-se começar com uma definição provisória ou preliminar a</p><p>1</p><p>9</p><p>1</p><p>partir da língua corrente, da etimologia dos conceitos ou de exemplos. Contu-</p><p>do, procure elaborar você mesmo o mais rápido possível e definir um ou vários</p><p>conceitos para servir como referência na pesquisa, para adaptá-los da melhor</p><p>maneira possível ao contexto e explicitar, racionalmente, as suas condições de</p><p>entendimento.</p><p>As definições são como resultados a serem apresentados de forma sintética</p><p>para avançar aos poucos, como diz Descartes, em Discurso do método, do mais</p><p>simples para o mais complexo, por meio de correções até chegar a uma definição</p><p>adequada aos seus propósitos. A definição ou as definições devem ser produzi-</p><p>das por você. No entanto evite ideias preconcebidas sobre os conceitos ou para</p><p>agradar a sua subjetividade. Trata-se de invenções, de criações, mas elas devem</p><p>ser resultados de descobertas que ampliem seu horizonte de significações, ou que</p><p>corrijam alguns entendimentos já concebidos de forma acrítica.</p><p>Na filosofia, as definições dificilmente são simples acordos arbitrários, mas são re-</p><p>sultados de procedimentos de reflexão para chegar à determinada objetividade e</p><p>alcançar a universalidade. Não há definições perfeitas ou definitivas. As produções</p><p>intelectuais nos conceitos são provisórias, porém decisivas para que o trabalho</p><p>tenha um grau de inteligibilidade no discurso para o leitor. As definições podem ser</p><p>consideradas válidas quando estão no interior do discurso, para funcionar dentro</p><p>de um limite que os circunscrevem no conjunto dos elementos para tornar o tema</p><p>compreensível.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Para um pesquisador não iniciante, como um professor, percebe-se logo de</p><p>início quando uma definição apresenta sintoma claro de que alguma coisa não</p><p>está bem. Isso ocorre quando a definição não responde de forma nenhuma à</p><p>problemática no contexto, tornando-se vazia e inoperante. Todavia, sempre é</p><p>possível produzir definições desejadas que correspondam à finalidade da signi-</p><p>ficação necessária para aquele tema em questão. É possível que não consigamos</p><p>as definições desejadas, às vezes, por razões de oportunidades e por razões fi-</p><p>losóficas. Não por incapacidade intelectual ou falta de criatividade, mas porque</p><p>exigiria outras pesquisas diante daquele tema ou problema fundamental posto.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>Definições de conceitos que se cruzam</p><p>Caso faltem as definições fundamentais dos conceitos para a significação, uma</p><p>alternativa é a exposição dos conteúdos dos significados, que podem prestar</p><p>inestimáveis serviços para a clareza do tema, tendo em vista que aprendemos</p><p>com as análises e a descrição lógica, a estrutura interna, os traços fundamentais</p><p>de um conceito. Ademais, às vezes, os conceitos numa função intermediária no</p><p>discurso filosófico, com pouco de atenção e experiência intelectual, podem ser</p><p>descobertos sem muita dificuldade, serem além de úteis e interessantes, visto que</p><p>um conceito jamais está sozinho ou isolado dos demais. Cabe ao pesquisador</p><p>estar atento para fazer, sempre que necessário, tal uso. Há uma espécie de soli-</p><p>dariedade conceitual nos textos filosóficos no decorrer da história da filosofia.</p><p>Ao pensarmos sobre um conceito, devemos fazê-lo em um espaço de relações</p><p>e estabelecer vínculos, claros ou ocultos, o que, de certa forma, é secundário,</p><p>comparado com a definição direta. Para estabelecer as relações, é importante</p><p>sentir-se livre para fazer os rabiscos, os esque-</p><p>mas, a fim de encontrar os primeiros resultados</p><p>provisórios. Ao reunir os dados para atribuir os</p><p>sentidos de um conceito, deve-se fazer a análise</p><p>crítica e eliminar aquilo que está fora das intenções, visto que nem tudo o que</p><p>foi recolhido pode ser aproveitado integralmente. Para que o trabalho tenha o</p><p>sucesso esperado, é necessário trabalhar com elementos-chave no processo de</p><p>criação: a imaginação e a memória, de um lado, e, do outro, entendimento e o</p><p>juízo (2ª operação da nossa mente em um processo lógico. As outras duas são a</p><p>simples apreensão e o raciocínio).</p><p>A imaginação começa a partir da seguinte questão: “Isso me faz pensar em quê?”.</p><p>Em seguida, deve-se anotar tudo o que vem à cabeça, até coisas esdrúxulas, sem</p><p>sentido no primeiro momento, entre outras coisas, as ideias que surgem pela memória</p><p>e imaginação de forma espontânea, mas intencionada. É a chamada tempestade de</p><p>ideias. Esse método possibilita ampliar as ideias com sinônimos, antônimos, termos</p><p>vizinhos etc. Tudo isso deve ser ordenado e analisado com cuidado, de forma</p><p>crítica. O entendimento deve entrar em cena para disciplinar e ordenar aquilo que a</p><p>memória e a imaginação conseguiram exteriorizar, desordenadamente.</p><p>Sentir-se livre para</p><p>fazer os rabiscos</p><p>1</p><p>9</p><p>1</p><p>As ideias, os conceitos, as imagens, as fórmulas, os verbos, os adjetivos etc.</p><p>que surgem na mente aleatoriamente devem ser vistos com muita atenção. Esse</p><p>método permite a descoberta de conceitos intermediários, mas é importante não</p><p>abandonar em momento algum o objeto conceitual com que se está trabalhando,</p><p>ou seja, aquilo que precisa ser definido. Na determinação do conceito, não se</p><p>pode deixar de lado a diferenciação que incomoda a nossa compreensão e nos</p><p>força a atribuir um sentido particular no primeiro momento para depois chegar</p><p>ao universal. Também é importante fazer o cruzamento para expor a diversidade</p><p>dos sentidos, que são independentes uns dos outros, mas que se cruzam em deter-</p><p>minado momento. Esse cruzamento é tão necessário quanto o da análise crítica,</p><p>visto que os sentidos se cruzam e podem adquirir as características da verdade.</p><p>Como fazer um texto dissertativo argumentativo?</p><p>Já parou para pensar que argumentamos todos os dias, seja para escolher qual</p><p>carro, seja para decidir entre almoçar ou lanchar? Estando duas pessoas com opi-</p><p>niões divergentes, inicia-se a argumentação. O problema aparece na hora de for-</p><p>malizar, na escrita, o que tão naturalmente fazemos na comunicação oral. Como a</p><p>escrita tem a característica de organizar um discurso em determinada estrutura,</p><p>entenderemos como se constrói este gênero</p><p>Ler é, inclusive, um trabalho. Não é possível estudar um texto sem</p><p>O conhecimento é</p><p>inerente ao homem</p><p>1</p><p>8</p><p>uma atitude séria. A seriedade exige que o iniciante na leitura de textos filosóficos</p><p>encare essa atividade como a coisa mais importante a ser feita nesse momento,</p><p>como um momento único e imprescindível. A seriedade tem como característica</p><p>fundamental a preocupação com a destreza na execução dessa tarefa, ou seja, já</p><p>que se dispôs a fazer, faça bem feito para não precisar refazer.</p><p>As dificuldades que se impõem ao estudo de um texto são inúmeras, desde</p><p>a falta de pressupostos para a leitura até a disponibilidade e o interesse pelo as-</p><p>sunto. É comum ouvirmos de estudantes algumas expressões que traduzem a</p><p>falta de interesse e sentido para estudar um texto, como: isto serve para quê? Por</p><p>que tenho que estudar isto? Entre outras. O educador destaca o porquê de não</p><p>desistir do ato de estudar um texto, pois pode haver consequências desagradáveis,</p><p>ademais, pode evitar ou diminuir o sofrimento e usufruir dos prazeres do bem</p><p>viver nesse mundo. Muitas pessoas desistem porque não refletiram direito ou</p><p>não receberam orientações de como ler.</p><p>Estudar exige disciplina, mas preferimos uti-</p><p>lizar o termo autodisciplina. A disciplina vem</p><p>de fora para dentro, ou seja, alguém diz a você o</p><p>que deve fazer. A autodisciplina vem de dentro</p><p>para fora, ou seja, é você que diz a si mesmo o</p><p>que deve fazer, leva a fazer escolhas, estabelecer prioridades, objetivos, metas a</p><p>serem cumpridas. Contudo, toda escolha implica renúncia. O problema não é</p><p>É você que diz a si</p><p>mesmo o que deve</p><p>fazer</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>escolher, mas o renunciar coisas que também queremos ou das quais gostamos.</p><p>Isso é muito difícil e exige esforço mental para garantir o foco nas prioridades. A</p><p>autodisciplina só ocorre quando você está convicto, quando tem uma ideologia,</p><p>quando já se convenceu de que o estudo de texto é necessário para atingir os seus</p><p>objetivos e, às vezes, de outras pessoas, como os objetivos dos seus pais.</p><p>Estudar é uma atividade de criação e recriação diante dos problemas que</p><p>as circunstâncias impõem a nós. O educador brasileiro destaca, além disso, que</p><p>é um dever revolucionário, que pode ser entendido em relação a si mesmo no</p><p>sentido de que o estudo modifica o ser humano em sua totalidade, nos aspectos</p><p>pessoal, social, econômico e cultural. Ele também tem a possibilidade de modi-</p><p>ficar o mundo a nossa volta, ou seja, provocar alterações sociais em nossa cidade,</p><p>país e mundo. Esse é um poder que a atividade educativa, por meio da leitura</p><p>de textos e mudança de comportamento, não raramente acontece no dia a dia.</p><p>Estudar é um trabalho. Para isso, faz-se necessário ter atitude séria e curiosa</p><p>diante de um problema. Ler também é um trabalho, que deve ser encarado com</p><p>profissionalismo, a fim de criar autodisciplina nos estudos.</p><p>LEITURA DE TEXTOS FILOSÓFICOS E SUAS DIFICULDADES</p><p>A leitura dos textos filosóficos, efetivamente, cumpre dois objetivos ao mesmo</p><p>tempo e não podem estar separados de forma alguma: o primeiro, a iniciação à</p><p>1</p><p>1</p><p>filosofia propriamente dito, o segundo, de que não há conhecimentos filosóficos</p><p>sem iniciação à leitura de seus textos e com a retomada de pensamentos já pro-</p><p>duzidos na sua história. Com isso, surge um problema inerente aos objetivos:</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Como iniciar para conhecer?</p><p>É necessário conhecer-se para iniciar. É caminhando que se faz o caminho.</p><p>O primeiro passo precisa ser dado o quanto antes.</p><p>Os primeiros passos nessa trajetória necessitam dos pressupostos de leitura já</p><p>mencionados nos tópicos anteriores e devem ser dados na busca pela totalidade</p><p>da filosofia. Aconselha-se que seja feita com conhecimento em blocos, que pos-</p><p>suem vantagens e desvantagens e vão se multiplicando na aprendizagem filo-</p><p>sófica. Vejamos o itinerário apresentado por Platão, no livro VII da República,</p><p>sobre o famoso Mito da Caverna cuja problemática gira em torno da educação</p><p>e da ignorância.</p><p>“ Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caver-</p><p>na, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a</p><p>infância, de pernas e pescoço acorrentados […]. Assemelham-se</p><p>a nós. […] Se forem libertados das suas cadeias e curados da sua</p><p>ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obri-</p><p>gado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar,</p><p>a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá,</p><p>e o deslumbramento impledi-lo-á de distinguir os objetos de que</p><p>antes via as sombras. […] E, quando tiver chegado à luz, poderá,</p><p>com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas</p><p>que ora denominamos verdadeiras? Glauco – Não o conseguirá,</p><p>pelo menos no início (PLATÃO, 1978, p. 226).</p><p>Platão revela bem que a iniciação filosófica pressupõe, portanto, um cami-</p><p>nho longo e difícil. Por que isso ocorre? Devido à ignorância (o não saber).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>Quando ele afirma que os homens estão ali desde a infância, significa que não</p><p>nasceram na caverna, mas estão presos. Quem os levou até a caverna? Quem</p><p>os acorrentaram pelo pescoço e pernas? Perceba que Platão não fala em mãos,</p><p>o que representa o pescoço e as pernas diante do não saber? São questões que</p><p>dificultam a compreensão do texto. Após percorrer um caminho em que a luz</p><p>adquirida brilha com mais força, logo em seguida, diante de novos questiona-</p><p>mentos e informações, essa mesma luz vai se ofuscando, exigindo novas luzes.</p><p>Assim, a iniciação filosófica vai exigindo novos esforços para a compreensão das</p><p>coisas e, aos poucos, vai se afastando da ignorância.</p><p>A leitura de textos filosóficos apresenta dificuldades, além daquelas da pró-</p><p>pria língua vernácula: "parece que toda obra filosófica – esta é uma característica</p><p>do gênero – elabora ou pretende elaborar as condições de sua própria validade</p><p>e, portanto, enuncia as próprias regras da leitura que se pode fazer dela” (COS-</p><p>SUTTA, 2001, p. 3). Essa característica desenvolvida pelos textos filosóficos, de</p><p>forma geral, apresenta-se como se estivesse aprisionando o texto dentro do pró-</p><p>prio sistema filosófico. O filósofo Ludwig Wittgenstein, em sua obra Tratactus</p><p>Logico-philosophicus, no aforismo 6.54, afirma:</p><p>“ Minhas proposições são elucidativas para aquele que, compreen-</p><p>de-me, as toma finalmente como contra-sensos, quando, pas-</p><p>sando por elas – sobre elas -, delas se afasta. É preciso que ele</p><p>transponha essas proposições; então adquire uma justa visão do</p><p>mundo (WITTGENSTEIN, 1994, p. 281).</p><p>1</p><p>1</p><p>Observe que, caso o leitor esteja compreendendo o seu enunciado, está com-</p><p>preendendo uma impossibilidade, ou seja, o autor o convida para uma leitura</p><p>no mesmo momento em que o torna impossível. Contudo, cada filosofia explicita</p><p>as condições da possibilidade ou impossibilidade de sua leitura, revelando um</p><p>fenômeno abrangente para sair das contradições e nos coloca num confronto</p><p>filosófico perpétuo. O confronto do leitor com o filósofo constitui a luta pela</p><p>compreensão do texto. O iniciador na filosofia deve ter ciência dessas dificul-</p><p>dades para se tornar um andarilho pelos textos filosóficos, sabendo que as ale-</p><p>grias proporcionadas pelo conhecimento, com muito esforço desde o início do</p><p>caminho, devem ser um esforço organizado e crítico. Ao menos, perceberá que,</p><p>ao apoiar-se nas dificuldades, elas mesmas constituirão pedras e galhos para dar</p><p>sustentação à caminhada filosófica.</p><p>É fácil ler e-mails com mensagens de texto, um site com curiosidades engraça-</p><p>das, um artigo de jornais e revistas não científicas, porém é difícil mergulhar em</p><p>um texto filosófico. Nada mais normal. Portanto, faz-se necessário não misturar os</p><p>gêneros literários. Na filosofia não se pode nem se deve esperar entendimento</p><p>imediato. Se assim fosse, poderia ser um sinal de superficialidade, ou seja, não se</p><p>atingiu o essencial. Diante disso, não devemos nos assustar, nem nos surpreender</p><p>com as dificuldades. Os textos filosóficos podem ser enfrentados</p><p>textual […]</p><p>Conteúdo de áudio/vídeo não patrocinado. Esse recurso utilizará seu pacote de</p><p>dados (ou Wi-Fi) para ser exibido.</p><p>EU INDICO</p><p>Definição com suporte em exemplos</p><p>Por mais que muitos filósofos não sejam favoráveis aos exemplos, faz-se neces-</p><p>sário utilizá-los para dar forma, tocar na sensibilidade do leitor, pois a própria</p><p>filosofia não se contenta somente com o uso de abstrações. Os exemplos pos-</p><p>sibilitam a demonstração de uma experiência real, do mundo vivido, com um</p><p>cenário cheio de representações variadas conjugadas com elementos abstratos na</p><p>definição. A definição entra na dissertação filosófica com o fundamento do con-</p><p>creto-abstrato, possibilitando a sua efetividade de forma particular e empírica,</p><p>consolidando, assim, as provas de verificabilidade para estar de vez conectado</p><p>ao mundo vivido.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>Os exemplos podem contribuir no esclarecimento do sentido naquela de-</p><p>finição conceitual, mas nem todo exemplo é necessariamente bom, tendo em</p><p>vista que se refere às experiências possíveis, e não de fato apenas um caso em</p><p>particular que não seja possível generalizá-lo com facilidade, por exemplo, uma</p><p>vivência puramente pessoal. As vivências pessoais podem ocorrer numa espe-</p><p>cificidade que não é possível generalizá-la. Em muitos casos, são ridículas e pa-</p><p>téticas, jamais serão generalizadas. Escolhas de exemplos no campo da Ciência,</p><p>História da Filosofia, da Arte, da Literatura, dos costumes entre outros, têm pos-</p><p>sibilidade de serem mais úteis do que a vivência particular. Cabe ao estudante</p><p>ou iniciante nas dissertações filosóficas proibir-se de utilizar exemplos de sua</p><p>vida, da sua subjetividade, ou seja, o seu eu deve ser deixado de lado em uma</p><p>dissertação filosófica.</p><p>Isso não quer dizer que o eu está proibido numa dissertação filosófica. Pode</p><p>ser usado nos exemplos com cuidado, com os estados de espírito e das expe-</p><p>riências a partir de determinados temas sobre a angústia, os sofrimentos entre</p><p>outros, mas esse “eu” deve ser utilizado como um eu teórico e intelectual no</p><p>sentido de uma subjetividade universal. Esse eu, na subjetividade universal,</p><p>pode ser tratado em qualquer aspecto da subjetividade de experiências comuns</p><p>que podem ser partilhadas por um grande número de pessoas. Os textos da fe-</p><p>nomenologia (Edmund Husserl, Martin Heidegger, Merleau-Ponty, Jean-Paul</p><p>Sartre etc.) podem servir de exemplos nesse caso.</p><p>Por fim, o exemplo por si só não basta e não pode se sobrepor à definição</p><p>conceitual. Por mais que um exemplo corresponda àquela camada que atinge</p><p>a sensibilidade, deve levar à reflexão e à compreensão do leitor de uma defi-</p><p>nição. O exemplo deve trazer à tona o seu poder explicativo e de mostrar a</p><p>sua racionalidade, mas a finalidade do exemplo é suscitar ou impulsionar para</p><p>a necessidade de uma definição. É melhor trabalhar com um único exemplo</p><p>com qualidade na definição do que fazer uso de uma quantidade desconectada</p><p>do elemento central da definição. O exercício do julgamento para escolher os</p><p>exemplos não é uma tarefa fácil, mas é necessário fazer com todo cuidado e</p><p>reflexão para que erre o menos possível.</p><p>1</p><p>9</p><p>4</p><p>DISSERTAÇÃO FILOSÓFICA E SUA ESPECIFICIDADE</p><p>Temas de Dissertação</p><p>Em que sentido pode-se falar de autor em filosofia? Com que direito um filósofo</p><p>pode dizer “eu”? A filosofia pode prescindir da polêmica? A reflexão filosófica é uma</p><p>forma de monólogo ou de diálogo? É verdade que a filosofia procede por concei-</p><p>tos? É verdade que o que se concebe claramente se enuncia claramente? Qual a</p><p>relação do ser com o dizer? Podemos pensar sem recorrer a imagens? A oposição</p><p>entre conceito e metáfora é filosoficamente justificada? Em que sentido pode-se</p><p>dizer que um filósofo tem razão? Convencer e demonstrar é a mesma coisa? O que</p><p>provam as provas em filosofia? É possível não ser cético em filosofia? O que é um</p><p>problema filosófico? Pensar e exprimir o que é pensado é a mesma coisa?</p><p>Fonte: adaptado de Cossutta (2001, apud GREGÓRIO, 2009, on-line).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Esse quadro dos filósofos criado por Rafael Sanzio (1483-1520), cujo centro</p><p>é ocupado por Platão e Aristóteles, apresenta os primeiros sinais da especifici-</p><p>dade da filosofia, que tem como uma das suas características o perguntar. As</p><p>perguntas direcionam o trabalho investigativo e serão incorporadas no momento</p><p>oportuno ao conjunto da pesquisa ou estudo, visto que cada pergunta deve ser</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>respondida de forma satisfatória para que a exteriorização dos argumentos seja</p><p>clara, ou seja, três ou quatro perguntas são suficientes para desenvolver uma ar-</p><p>gumentação fundamentada e clara numa análise filosófica. Nosso intuito, neste</p><p>momento, é apresentar os elementos necessários para fazer bom uso dos ques-</p><p>tionamentos durante os estudos e as pesquisas em filosofia.</p><p>Dissertar é dialogar com o tema</p><p>A filosofia surge do espanto, da admiração que são os geradores das perguntas.</p><p>A pergunta é um momento em que o pesquisador volta para si mesmo, a fim de</p><p>aprofundar o tema. Ao voltar-se ao tema, começa a transformação dele em forma</p><p>de objeto para que o pensamento possa tratá-lo, cercá-lo com procedimentos</p><p>metodológicos de investigação, ou seja, com indagações que começam a abrir</p><p>espaços novos até então não vistos. A atitude de desprendimento e desarmado</p><p>de noções anteriores facilita elaborar perguntas simples e diretas sobre o tema,</p><p>que passam a ter vantagens diante de outras preocupações ainda não muito claras.</p><p>As perguntas claras e diretas possibilitam fazer o isolamento do tema de</p><p>outras questões que, no primeiro momento, devem ser deixadas de lado, a</p><p>partir da necessidade que se impõe para chegar</p><p>na questão fundamental a ser respondida. Para</p><p>isso, é fundamental evitar perguntas ruins, mal</p><p>formuladas, deslocadas, demasiado vagas e for-</p><p>mais, sem relação direta com o tema, ou seja, sem</p><p>a objetividade necessária que o assunto exige, vis-</p><p>to que a pergunta bem elaborada já demonstra um nível de compreensão e certo</p><p>entendimento sobre o tema. Deve-se perguntar aquilo que é necessário, que é</p><p>razoável e esteja dentro de uma lógica racional para a compreensão do assunto.</p><p>As perguntas são fundamentais para que a abordagem sobre um tema tenha</p><p>o alcance necessário para que a resposta atenda aquilo a que foi posta. O filósofo</p><p>Martin Heidegger (1889-1976), que desenvolveu textos sobre a ontologia e</p><p>fenomenologia, fez uma conferência sobre o tema Qu’est-ce que la philosophie?</p><p>cujo título é em francês, mas a conferência em alemão, e pode ser traduzido como</p><p>“Que é isto - a filosofia?” No texto, o estudioso dá a justificativa de tal escolha e</p><p>responde à questão. Contudo, analisaremos somente o fragmento a seguir, no</p><p>momento em que trata da pergunta.</p><p>É fundamental evitar</p><p>perguntas ruins,</p><p>mal formuladas,</p><p>deslocadas</p><p>1</p><p>9</p><p>1</p><p>“ Por isso devemos tentar determinar mais exatamente a questão.</p><p>Desta maneira, levaremos o diálogo para uma direção segura.</p><p>Procedendo assim, o diálogo é conduzido a um caminho. Digo: a</p><p>um caminho. Assim concedemos que este não é o único caminho.</p><p>Deve ficar mesmo em aberto se o caminho para o qual desejaria</p><p>chamar a atenção, no que segue, é na verdade em caminho que</p><p>nos permite levantar a questão e respondê-la. Suponhamos que</p><p>seríamos capazes de encontrar um caminho para responder mais</p><p>exatamente à questão; então se levanta imediatamente uma grave</p><p>objeção contra o tema de nosso encontro. Quando perguntamos:</p><p>Que é isto - a filosofia?, falamos sobre a filosofia. Perguntando des-</p><p>ta maneira, permanecemos, num ponto acima da filosofia e isto</p><p>quer dizer fora dela. Porém, a meta de nossa questão é penetrar na</p><p>filosofia, demorarmo-nos nela, submeter nosso comportamento</p><p>às suas leis, quer dizer, “filosofar”. O caminho de nossa discussão</p><p>deve ter por isso não apenas uma direção bem clara, mas esta di-</p><p>reção deve, ao mesmo tempo, oferecer-nos também a garantia de</p><p>que nos movemos no âmbito da filosofia, e não fora e em torno dela</p><p>(HEIDEGGER, 1979, p. 13).</p><p>Nesse fragmento,</p><p>Heidegger coloca claramente “a questão” para que ela nos</p><p>leve pelo diálogo, e o caminho a ser seguido é a pergunta. Uma pergunta bem</p><p>elaborada faz com que o caminho seja seguro e firme. Perceba que o tema da</p><p>conferência é em forma de pergunta, ou seja, pergunta e tema podem ser sinô-</p><p>nimos. A pergunta deixa o pesquisador sempre numa condição privilegiada em</p><p>relação ao perguntado. O perguntar é um ato de fora para dentro e acima do tema,</p><p>e isso, de certa forma, é cômodo e uma atitude de superioridade do pesquisador</p><p>em relação ao objeto em questão. Contudo, ao começar a responder, o pesquisa-</p><p>dor penetra nele e passa a estar no mesmo nível de entendimento e deve seguir as</p><p>suas regras, no caso em específico, “o filosofar”. Neste momento, a questão começa</p><p>a ser respondida devido ao diálogo estabelecido com o objeto pesquisado.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>Perguntar para direcionar a dissertação</p><p>Constatamos que o ato de perguntar vai além do</p><p>querer saber simplesmente. O pesquisador passa</p><p>a ser tocado, sentimental e racionalmente, pelo</p><p>diálogo, ele é incomodado pelo tema a partir do</p><p>diálogo estabelecido em torno do tema. Há diversas formas de perguntar num</p><p>diálogo com o tema sobre definições, distinções, princípios, condições de pos-</p><p>sibilidades, origens, poder entre outros. Por exemplo, sobre definição: “Como</p><p>definir…?”; sobre distinção: “Em que A e B se diferem” etc. Todos esses mode-</p><p>los possibilitam dialogar de forma direta, objetiva, com uma finalidade clara de</p><p>compreensão e demonstração sobre o tema em questão.</p><p>As perguntas direcionam o trabalho investigativo e serão incorporadas no</p><p>momento oportuno. Às vezes, são colocados questionamentos na introdução</p><p>ou na primeira seção da dissertação, dependendo do plano de redação, que é,</p><p>essencialmente, prático. Contudo, faz-se necessário controlar a quantidade de</p><p>perguntas, pois podem confundir o leitor e desviar da objetividade do tema da</p><p>dissertação. Cada pergunta deve ser respondida de forma satisfatória para que</p><p>a exteriorização dos argumentos seja clara, ou seja, três ou quatro perguntas são</p><p>suficientes para desenvolver uma argumentação fundamentada e clara numa aná-</p><p>lise filosófica. Deve-se evitar um questionamento para um único filósofo, visto</p><p>que o diálogo pode ser demasiado estreito e pode distanciar de uma possível</p><p>visão de totalidade sobre o tema.</p><p>Para que um tema seja suficientemente desenvolvido e explicitado, deve-se</p><p>buscar, criticamente, uma visão de totalidade em diversos autores. Perceba que o</p><p>estudante ou iniciante em filosofia está dialogando com o tema. O tema de diálo-</p><p>go com a filosofia e os filósofos são como que andaimes para que o assunto possa</p><p>ser alçado no mais alto nível possível de argumentos. Os andaimes, os filósofos e</p><p>as suas produções consagradas pelo tempo e pela crítica são as referências para</p><p>que o pensar sobre o tema seja livre e autônomo com argumentos, fundamentos</p><p>sólidos e claros para convencer o leitor que tal tese apresenta alternativas para a</p><p>compreensão do tema no mundo vivido.</p><p>A pergunta deve explicitar a necessidade do entendimento para justificar a</p><p>relação, a conexão entre o problema fundamental e a tese, ou seja, o questiona-</p><p>mento não é um simples questionar por questionar, possui uma razão de ser clara.</p><p>O ato de perguntar</p><p>vai além do querer</p><p>saber simplesmente</p><p>1</p><p>9</p><p>8</p><p>As perguntas são consequências da identificação da problemática que en-</p><p>volve, necessariamente, o tema a ser desenvolvido. Essa é uma dificuldade a ser</p><p>superada na dissertação filosófica e que determina o valor desse exercício para</p><p>a formação do estudante ou iniciante nos textos filosóficos. Caso contrário, a</p><p>dissertação não ficará clara e não atingirá os objetivos estabelecidos para o tra-</p><p>tamento do tema em questão.</p><p>A dissertação filosófica com exposição clara e bem construída sob o aspecto da</p><p>argumentação e da harmonia das suas partes, possibilitará ao leitor, em contato</p><p>com o título e a problemática fundamental, entrar também com o núcleo do tema</p><p>e a comunicação, e o convencimento acontecerá de forma quase direta. Diante</p><p>disso, jamais ouviremos análise da dissertação filosófica com os seguintes juízos</p><p>de valores: “A dissertação está fora do tema”, “O texto não apresenta uma argu-</p><p>mentação clara”, “O que o autor queria demonstrar com este texto?” entre outros.</p><p>Os cuidados com as perguntas e as respostas são fundamentais para que a con-</p><p>sistência textual e filosófica seja clara, não pairando dúvidas fundamentais sobre a</p><p>abordagem do tema e a sua problemática no texto.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Problemas falsos na dissertação</p><p>Para que a dissertação filosófica possa exteriorizar os resultados das pesquisas</p><p>sobre o tema e o problema fundamental, faz-se necessário que as perguntas ex-</p><p>pressem os problemas verdadeiros, e não falso ou mal posto. Às vezes, os es-</p><p>tudantes ou iniciantes se perdem num falso problema. Isso pode ocorrer quando</p><p>não se compreendeu o problema, consequentemente, tudo o que deve derivar por</p><p>dedução (retirar) dele pode estar comprometido. Ocorre, frequentemente, em</p><p>dois momentos: o primeiro quando o estudante estabelece relações entre elemen-</p><p>tos, ideias, objetos que não têm relação alguma uma com a outra; e o segundo,</p><p>quando ele tem dificuldades de fazer um juízo de valor sobre o objeto em questão.</p><p>Os falsos problemas aparecem quando não há relação ou possui relação indi-</p><p>reta com o tema, fruto às vezes da imaginação fértil dos estudantes com dificul-</p><p>dade de catalogar as várias situações em que podemos colocar o problema fun-</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>damental. No processo de elaboração de uma dissertação, há diversas maneiras</p><p>de enganar-se com um tema. Portanto, há inúmeras maneiras de colocar um falso</p><p>problema numa dissertação filosófica e perder muito tempo e esforço intelectual</p><p>em algo que não tem valor algum para o objetivo estabelecido. Podemos utilizar</p><p>como exemplo o tema da ignorância na filosofia para demonstrar como é fácil</p><p>colocar um falso problema.</p><p>Tema: “A ignorância pode ser entendida como um argumento?”. Ao colocar a</p><p>ignorância como condição de possibilidade de conhecimento (já que, para</p><p>conhecer, é necessário não conhecer, ou ignorar, o que é uma falácia), acabamos</p><p>de perguntar se a ignorância é uma condição que permite o conhecimento, se é</p><p>um argumento importante. Por que essa é uma questão mal posta, mal formulada?</p><p>Pelo fato de que a ignorância é a maior dificuldade do conhecimento. Há uma luta</p><p>contra a ignorância, pois ela se opõe ao conhecimento, ele é o seu maior obstáculo.</p><p>Por isso, ela não pode ser a condição que permite o conhecimento. Quando</p><p>adquirimos o conhecimento vencemos a ignorância. A ignorância não é meio para</p><p>o conhecimento, mas a separação, um distanciamento dela. Portanto, a ignorância</p><p>não pode ser colocada como um argumento para o conhecimento.</p><p>O problema: as perguntas devem ser retiradas do tema. Um falso problema</p><p>pode ser usado de forma argumentativa retórica, intencionalmente organi-</p><p>zada para evitar os riscos de desvios do tema da</p><p>dissertação. Pode-se produzir um falso problema</p><p>para fins didáticos e pedagógicos para demons-</p><p>trar como não fazer, ou seja, usar do negativo para</p><p>compreender o positivo numa investigação ou na</p><p>própria redação. Na retórica, é o chamado de aporia (criar intencionalmente um</p><p>impasse ou um beco-sem-saída, na verdade, é, aparentemente, sem saída), para</p><p>expor as hipóteses de pesquisa, demonstrar que são inválidas ou sem sentido</p><p>para, em seguida, demonstrar como se deve fazer corretamente para que o ar-</p><p>gumento seja considerado válido (nem tudo que é válido é verdadeiro, segundo</p><p>a lógica) e verdadeiro.</p><p>Pode-se produzir</p><p>um falso problema</p><p>para fins didáticos</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Para desenvolver um tema, responder um problema e criar conceitos novos</p><p>em uma dissertação filosófica, deve-se fazer uso de temas que exijam uma defi-</p><p>nição. Por exemplo: “O que é ética?”, “O que é estudar?”. Nesses casos, iniciam-se</p><p>as abordagens demonstrando as falsas pistas, os falsos</p><p>entendimentos sobre as</p><p>questões postas e, em seguida, demonstram as aproximações, até formular um</p><p>problema verdadeiramente filosófico. Utilizamos somente a primeira pergunta.</p><p>A ética é, verdadeiramente, definível? Se sim, em que condições podemos defi-</p><p>nir o termo ética? Se não, qual é a razão de não podermos definir claramente o</p><p>termo ética? Há alguma coisa na sua natureza, na sua essência que constitui um</p><p>obstáculo para a definição do termo ética?</p><p>A objetividade de uma dissertação filosófica só é cumprida se compreen-</p><p>dermos claramente o que é um problema filosófico. Essa é uma das especifi-</p><p>cidades da filosofia hoje e sempre. Isso difere a filosofia de todas as áreas do</p><p>conhecimento, consequentemente, a sua dissertação. O estudante ou iniciante</p><p>de filosofia deve, desde o início do curso, aprender a extrair fórmulas dos temas</p><p>a serem desenvolvidos ou postos pelos professores. Os enunciados postos pelos</p><p>professores ou orientadores são uma oportunidade, ou seja, um problema a ser</p><p>tratado pela razão de forma diferente, a fim de descobrir aquilo que está oculto e</p><p>explicitá-lo por meio de pressupostos, hipóteses, definições e argumentos entre</p><p>outros. As respostas, as definições produzidas numa dissertação filosófica serão</p><p>sempre provisórias, jamais definitivas e sujeitas a modificações e interpretações</p><p>diversas. Essa é uma condição de uma dissertação que se pretende ser filosófica</p><p>hoje e sempre.</p><p>Esse vídeo apresenta boa problematização para temas e assuntos em uma disser-</p><p>tação filosófica, a partir daquilo que é posto e exige interpretação. Além de ajudar</p><p>a interpretar um enunciado, possibilita refletir diante de um enunciado filosófico.</p><p>Conteúdo de áudio/vídeo não patrocinado. Esse recurso utilizará seu pacote de</p><p>dados (ou Wi-Fi) para ser exibido.</p><p>EU INDICO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 7</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Chegamos ao fim deste Tema de Aprendizagem!</p><p>Chamamos a atenção sobre a investigação, que estabelece algumas concei-</p><p>tuações, diferenças e alguns conceitos que se avizinham na filosofia e que nos</p><p>obrigam a fazer distinções no jogo de contrários sobre um tema. Esse é o primeiro</p><p>empréstimo da história da filosofia para que tenham certo rigor e precisão con-</p><p>ceitual exigidos pela tradição filosófica. Na dissertação, as definições dos dicio-</p><p>nários são insuficientes para atender ao tema, e devemos considerar os conceitos</p><p>intermediários, visto que há uma solidariedade conceitual nos textos de filosofia.</p><p>Por fim, demonstramos que os exemplos devem trazer à tona o seu poder</p><p>explicativo e o poder de uma pergunta bem elaborada para trilhar caminho o</p><p>mais seguro e certo possível. As perguntas direcionam o pensar e devem ser res-</p><p>pondidas para que haja coesão na dissertação. Acreditamos que oportunizamos</p><p>subsídios para que os estudantes e os iniciantes na ocupação filosófica possam</p><p>avançar um pouco mais na própria atividade do filosofar, do qual todos nós</p><p>estamos sempre reiniciando.</p><p>“A introdução é aquilo que não pede nada antes, mas que exige algo depois”, esta</p><p>afirmação de Aristóteles continua válida. A introdução inicia o leitor no assunto.</p><p>Diz o que o texto vai dizer. Então, já deu para perceber que, nas primeiras linhas, o</p><p>leitor deve ser informado sobre o tema da redação; e mais: como esse tema será</p><p>apresentado. Comece com uma frase atrativa, que chame a atenção de quem está</p><p>lendo – pode ser uma pergunta, uma declaração, uma exclamação. O importante</p><p>é que esteja dentro do tema.</p><p>Fonte: adaptado de Coelho ([2019], on-line)4.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>1. A dissertação filosófica atende, necessariamente, a um plano redacional –seja explícito,</p><p>demonstrado num sumário, ou oculto por meio da engenhosidade intelectual do seu autor.</p><p>Contudo, o iniciante na produção da dissertação deve ter em mente que esta deve seguir os</p><p>processos de redação, de avaliação e de correção. Considerando a temática apresentada</p><p>no enunciado, analise as afirmativas a seguir:</p><p>I - O exercício pedagógico de dissertar sobre tema específico de filosofia, que deve ser</p><p>demonstrado por meio da redação, é inseparável de outros dois momentos: da avaliação</p><p>e da correção.</p><p>II - A avaliação da dissertação filosófica está dentro do sistema pedagógico do curso. O</p><p>sistema estabelece os parâmetros de avaliação definidos no PPC (Projeto Pedagógico</p><p>de Curso). Isso garante que as avaliações sejam realizadas com referenciais objetivos,</p><p>sujeitos à análise e à verificação com conceitos claros e definidos, para que sejam justas,</p><p>corretas e pedagógicas.</p><p>III - As correções são fundamentais, pois recebem as contribuições da experiência teórica</p><p>filosófica do professor ou orientador para o enriquecimento da dissertação. Se essa não</p><p>for corrigida, não pode ser chamada de dissertação filosófica, pois representará um ca-</p><p>minho sem volta e que pode se perder nas areias de um deserto informe.</p><p>IV - Os professores e orientadores não insistem para que seus orientandos ou alunos si-</p><p>gam regras da língua corrente, tenham plano de redação e procurem determinar o(s)</p><p>método(s) que usarão na dissertação, para que esta seja compreensível e cumpra seus</p><p>objetivos pedagógicos.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I, II e IV.</p><p>d) I, II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>2. Desde a antiguidade, com Platão e Aristóteles, a filosofia é entendida como ponto de parti-</p><p>da. O espanto, a admiração, o extraordinário e a surpresa fazem parte da produção filosófica.</p><p>Sendo assim, analise as afirmativas a seguir e assinale (V) para a(s) Verdadeira(s) e (F) para</p><p>as Falsa(s):</p><p>I - ( ) O espanto leva o estudioso a pensar e a escrever como atividade produtiva e criativa</p><p>na filosofia.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>II - ( ) O pensador ou o estudante iniciante deve ter ciência que, em filosofia, sempre se</p><p>chega ao ponto final. Há eterno recomeço na dissertação ou no problema; o tema é</p><p>uma estreia, sempre há o “frio na barriga” e as inseguranças – o que é perfeitamente</p><p>incompreensível.</p><p>III - ( ) Não há necessidade de mobilizar-se em torno da fonte, da história da filosofia e de</p><p>toda a experiência em escritos e em estudos sobre o tema ou o problema. Por isso, o</p><p>espantar-se – a admiração – sempre entrará em cena, para que o texto possa apresentar</p><p>os elementos de uma possível originalidade.</p><p>As afirmativas I, II e III são, respectivamente:</p><p>a) F, V, V.</p><p>b) V, V, V.</p><p>c) F, V, F.</p><p>d) V, F, F.</p><p>e) F, F, F.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CHITOLINA, C. L. Para ler e escrever textos filosóficos. São Paulo: Ideias & Letras, 2015.</p><p>DESCARTES, R. Discurso do método: meditações; objeções e respostas; as paixões da alma;</p><p>cartas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>GALLO, Sílvio. Filosofia: experiência do pensamento. São Paulo: Scipione, 2013.</p><p>HEIDEGGER, M. Que é isto – a filosofia? In: HEIDEGGER, M. Conferências e escritos filosóficos.</p><p>São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>PLATÃO. Fedro ou da beleza. 6. ed. Lisboa: Guimarães Editora, 2000.</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>1. B.</p><p>2. D.</p><p>GABARITO</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>MINHAS ANOTAÇÕES</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>MINHAS METAS</p><p>EXERCÍCIOS DE LEITURAS</p><p>FILOSÓFICAS</p><p>Entender os primeiros passos para produzir um artigo filosófico com as especificidades</p><p>da filosofia.</p><p>Compreender os exercícios de escrita de um artigo filosófico objetivando a originalidade</p><p>na filosofia.</p><p>Demonstrar como analisar um artigo clássico de filosofia, tanto no aspecto da explicação</p><p>quanto do comentário para a compreensão do texto.</p><p>Apresentar os passos na construção de argumentos para sustentação da ideia central no</p><p>texto filosófico.</p><p>Demonstrar como exercitar a hermenêutica filosófica como ponto de partida para a leitu-</p><p>ra de textos.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 8</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudantes, seja bem-vindo(a)!</p><p>Neste Tema de Aprendizagem, veremos exercícios de leituras filosóficas.</p><p>Partiremos da leitura e da escrita de artigos, da análise de um artigo clássico</p><p>na história da filosofia – sobre esclarecimento e liberdade –, até chegarmos ao</p><p>exercício de hermenêutica dos textos filosóficos.</p><p>De início, apresentaremos</p><p>os elementos para identificar o artigo científico e</p><p>filosófico. Ao tratarmos deste com mais detalhes, daremos atenção às suas es-</p><p>pecificidades filosóficas. Demonstraremos as características e as diferenças do</p><p>paper e do artigo filosófico. Além disso, explicaremos como realizar a leitura</p><p>passo a passo de um artigo.</p><p>Explicaremos os passos para exercitar a escrita do artigo para alcançar a ori-</p><p>ginalidade na abordagem filosófica – destaque para os elementos do artigo filo-</p><p>sófico que o diferenciam dos demais. Assim, o estudante ou o iniciante nestas</p><p>leituras poderá ser capaz de defender suas razões e de demonstrar que acredita</p><p>nelas. Também analisaremos um artigo como exemplo, para deixá-lo(a) mais</p><p>confortável para lê-los.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>EXERCÍCIO DE DIFERENCIAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS E</p><p>FILOSÓFICOS</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2002, p.2.),</p><p>um artigo científico pode ser definido como a “publicação com autoria declara-</p><p>da, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas</p><p>diversas áreas do conhecimento”. Tem como veículo as revistas científicas com</p><p>publicações periódicas ou permanentes, ou seja, pode receber artigos a qual-</p><p>quer momento do ano. Nas revistas científicas, ocorrem publicações de dossiês</p><p>sobre tema ou cientista em específico. Além do mais, as publicações científicas</p><p>têm como objetivo publicar novas descobertas no campo da ciência, novos</p><p>resultados a respeito de determinado assunto, contestar resultados anteriores</p><p>ou apresentar respostas para problemas controversos. Todas as características</p><p>mencionadas estão contidas nas revistas filosóficas, contudo, são acrescentados</p><p>os aspectos próprios do conhecimento filosófico.</p><p>O artigo científico tem como uma de suas particularidades a concisão do</p><p>tema, o que o difere da monografia. Nesta, há a possibilidade de melhor detalhar</p><p>o assunto delimitado, desenvolvendo-o em vários capítulos. No artigo, por sua</p><p>vez, isso não é permitido. A monografia tem como uma das características ser</p><p>uma pesquisa bibliográfica, com a finalidade de verificar a capacidade de síntese</p><p>e de análise de dados por parte do estudante; não tem a exigência de origina-</p><p>lidade sobre o tema ou o problema, mas de revelar a capacidade pesquisa, seja</p><p>de campo ou bibliográfica. Apesar das diferenças, muitas instituições de ensino</p><p>substituem a exigência da monografia pelo artigo científico ao final do curso.</p><p>Essas características e exigências de monografia e de artigos estão presentes na</p><p>pesquisa filosófica, além de outros requisitos específicos da filosofia.</p><p>Outro aspecto do artigo científico, além da concisão de dados e de ideias apre-</p><p>sentadas, é a passagem por processo rigoroso de correção, não apenas da língua</p><p>corrente, na verificação da obediência às regras da linguagem, mas do conteúdo</p><p>em questão. As revistas científicas repassam os artigos para três avaliações ad</p><p>hoc (para o caso em específico), para analisar e apresentar parecer justificado ou</p><p>solicitar correções e alterações antes do aceite definitivo. Os pareceristas, além das</p><p>correções, devem ser convencidos da relevância científica atribuída ao texto em</p><p>questão, isto é, se acrescenta conhecimentos e informações para a comunidade</p><p>científica da qual o cientista faz parte. Essas características das revistas científicas</p><p>estão presentes no mesmo formato para as revistas filosóficas.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>De acordo com os livros de metodologias científicas, como Marconi e Lakatos</p><p>(2005), os artigos científicos, no que diz respeito aos conteúdos, devem apresentar</p><p>estudo pessoal, descoberta ou enfoque diferente, ou contrário ao conhecido até</p><p>então. Outra característica é a apresentação de soluções e de questões em que</p><p>há controvérsias sobre determinado assunto, ou seja, é preciso tornar público o</p><p>conhecimento intelectual ou especializado de ideias originais para verificação de</p><p>opiniões ou atualização de alguns informes. Por fim, é necessário expor aspectos</p><p>secundários, que surgiram nas pesquisas e que poderiam não ser utilizados nela.</p><p>No caso do artigo filosófico, além de conter todas as características do artigo</p><p>científico, há os aspectos da especificidade da filosofia. Sua particularidade está</p><p>na defesa racional de uma tese, com argumentos</p><p>e problematização dos problemas ou temas filosó-</p><p>ficos. Difere claramente do artigo de pesquisa ou</p><p>literário, visto que não é uma narrativa ou um rela-</p><p>to de vários filósofos que discorreram sobre determinado tema. Ele também não</p><p>descreve as últimas descobertas da filosofia, nem as percepções sobre um assunto.</p><p>Aspectos de um paper</p><p>Muitos alunos já ouviram falar sobre artigo filosófico e paper. Há dúvidas sobre</p><p>as diferenças entre eles, tanto na escrita quanto na leitura. Antes de mais nada,</p><p>vamos diferenciá-los.</p><p>Os papers podem ser caracterizados como o posicionamento pessoal em um “mini</p><p>artigo” filosófico ou científico a respeito de tema posto por terceiros (professor,</p><p>congresso, seminários sobre aspectos de bibliografia, documentos, pesquisa</p><p>experimental, debates, entre outros) sobre temas de uma área da filosofia, cuja</p><p>finalidade é a discussão de ideias clássicas sob enfoques contemporâneos e o</p><p>aprofundamento da análise dos acontecimentos, dos métodos, das técnicas e dos</p><p>resultados das pesquisas.</p><p>Os focos na construção dos papers são a objetividade, a clareza e a observância</p><p>dos termos técnicos e o culto à linguagem. As expressões coloquiais, as gírias, os</p><p>juízos de valor e os adjetivos desnecessários devem ser deixados de lado, para que</p><p>o paper não seja demasiado resumido e não dificulte a compreensão. É preciso</p><p>ter cuidado na elaboração do título, para que corresponda ao conteúdo proposto.</p><p>Sua particularidade</p><p>está na defesa</p><p>racional de uma tese</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>Um bom paper deve ter entre 10 (dez) a 15 (quinze) páginas bem fundamen-</p><p>tadas em, no mínimo, três pensadores. Deve estar organizado ou seguir roteiro</p><p>com: esquema geral das ideias; apresentação inicial e seus objetivos; subdivisões,</p><p>para facilitar a compreensão do tema e os aspectos a serem destacados; e, claro,</p><p>introdução, desenvolvimento e conclusão.</p><p>A INTRODUÇÃO</p><p>É o primeiro contato que o leitor tem com o texto. É exigido que seja direto em relação</p><p>ao contexto da pesquisa, de forma didática, com, em média, duas páginas – contendo</p><p>o assunto e os seus objetivos, além da justificativa e da importância teórica ou prática,</p><p>a metodologia de forma resumida, as limitações quanto à extensão e à profundidade e</p><p>a sua forma de organização.</p><p>O DESENVOLVIMENTO</p><p>É o corpo do paper, com 80% das páginas do trabalho. Contém os elementos essen-</p><p>ciais para o convencimento. Deve-se organizá-lo também didaticamente, com subdi-</p><p>visões para motivar a leitura, apesar de não garantirem a qualidade e a consistência</p><p>argumentativa. Contudo, a articulação lógica das estruturas ajuda na compreensão do</p><p>trabalho, no que se refere à unidade e à coerência textual.</p><p>A CONCLUSÃO OU AS CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Deve apresentar as informações para finalizar o trabalho, mas não o assunto, devendo</p><p>integrar as partes desenvolvidas na discussão. É necessário destacar os resultados</p><p>finais de forma breve e sintética e retomar aspectos da introdução, para que o leitor</p><p>compreenda todo o trabalho e as suas implicações.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Com tais características, fica claro que o paper é diferente da monografia, da</p><p>dissertação, da tese e do artigo filosófico. Ao produzi-lo, o estudante ou iniciante</p><p>na filosofia inicia uma aproximação aos conceitos, às teorias ou às hipóteses de</p><p>trabalho para discuti-las detalhadamente. Deve-se reunir o máximo de informa-</p><p>ções – de livros, de revistas científicas e de outros documentos de valor científico</p><p>– antes de começar a escrever.</p><p>Leitura de artigo filosófico</p><p>Para identificar e ler um artigo filosófico, é importante verificar no texto algumas</p><p>características, além das particularidades já mencionadas do artigo científico</p><p>e do</p><p>paper. É preciso estar atento à sua especificidade: a defesa racional de uma tese.</p><p>Esse é o elemento central, a identidade do texto acompanhada das argumenta-</p><p>ções filosóficas. O estudante de filosofia ou iniciante dos textos filosóficos deve</p><p>realizar uma leitura atenta, buscando localizar a ideia central, já denunciada pelo</p><p>tema, expressa no título do artigo. No primeiro momento, deve-se fazer a leitura</p><p>descritiva para buscar o que o autor acredita que estamos estudando. A discussão</p><p>das ideias postas faz parte do segundo momento.</p><p>A leitura descritiva da tese central – dos argumentos filosóficos utilizados</p><p>pelo autor – deve ser benfeita e com objetividade, isto é, o pensamento do autor</p><p>deve ser descrito de forma rigorosa. Esse momento não pode ser confundido</p><p>com o segundo, o da discussão. Não raro, encontramos estudantes ou iniciantes</p><p>nos estudos filosóficos que confundem os dois momentos e, com isso, a leitura se</p><p>torna extremamente mal feita, gerando preconceitos, incompreensões e injustiças</p><p>com o autor. A objetividade é um exercício que</p><p>exige muita disciplina e atitude ética com o artigo</p><p>estudado ou investigado.</p><p>O segundo momento é a discussão das</p><p>ideias do pensador como etapa de finalização do</p><p>primeiro. Não é suficiente compreender um texto rigorosamente sob o ponto</p><p>de vista do autor, mas é preciso aprender a discuti-lo. Nessa etapa, deve-se</p><p>levantar objeções à ideia central e apresentar contra exemplos demonstrando</p><p>que determinada visão não corresponde totalmente à realidade. Se o texto foi</p><p>compreendido, as objeções sempre serão pertinentes a ponto de poder esta-</p><p>belecer diálogos com os professores e os colegas sobre o assunto em questão;</p><p>A objetividade é</p><p>exercício que exige</p><p>muita disciplina</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>caso contrário, aparecem as chamadas objeções “tolas”, desconexas e imprecisas,</p><p>demonstrando claramente que o texto não foi compreendido. Diante disso, os</p><p>estudantes ou iniciantes nas leituras não têm liberdade para errar na compreen-</p><p>são e na interpretação das ideias centrais e secundárias do texto, o que pode</p><p>comprometer todo o trabalho realizado até então.</p><p>Os dois momentos devem ser complementados, a fim de que os estudantes e</p><p>os iniciantes realizem leitura atenta e objeções inteligentes das ideias estudadas,</p><p>demonstrando, assim, a compreensão correta e completa do pensamento do au-</p><p>tor. A leitura atenta é ativa na compreensão e no questionar de cada passo do texto</p><p>e, ao mesmo tempo, pode indicar as razões que temos para aceitar ou para rejeitar</p><p>as ideias analisadas. A combinação das duas formas de análise do texto constitui</p><p>o núcleo do que é estudar corretamente a filosofia. As ideias secundárias, que</p><p>alimentam as ideias centrais, representam as razões do autor em relação ao tema.</p><p>Só a leitura atenta do artigo pode distinguir suas diferentes partes e como elas</p><p>estão relacionadas entre si. Temos partes de ideias defendidas, ideias usadas para</p><p>defendê-las, ideias secundárias, ideia central e aquelas distribuídas nas seções,</p><p>nos capítulos ou em outras partes. A leitura correta pode abordar essas diversas</p><p>ideias distribuídas ao longo do texto, que apresentam funções em diferentes</p><p>papéis. Outra função é desempenhada pela lógica, na compreensão do texto,</p><p>além, claro, do bom uso da língua corrente.</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>EXERCÍCIO SOBRE ESCREVER ARTIGO FILOSÓFICO</p><p>Para Murcho ([s.d]), há indicadores que possibilitam identificar os elementos</p><p>necessários para a compreensão do texto – indicadores lógicos e da língua por-</p><p>tuguesa como premissa de introdução e de conclusão em um texto. O primeiro</p><p>instrumento da língua portuguesa são indicadores de premissas, apresentados na</p><p>introdução como: porque…; pois…; dado que…; visto que…; devido a…; a razão é que…;</p><p>admitindo que…; sabendo-se que…; supondo que…”. Já os indicadores de premis-</p><p>sas de conclusão lógica podem ser: “logo…; portanto…; por isso…; por conseguinte...;</p><p>implica que…; daí que…; segue-se que...; infere-se que…; consequentemente...”. O se-</p><p>gundo instrumento da lógica aparece em forma de palavras importantes, como:</p><p>“não”, “se”, “ou”, “e”, “todos”, “alguns”, “nenhum”, “possível”, “necessário”, “contingente”.</p><p>Fazer uso das regras da lógica nos permite deduzir as afirmações e as conclusões.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Este é o momento de tratarmos das origens da filosofia, que colabora com o</p><p>entendimento de que pensar um problema filosófico é difícil, visto que é neces-</p><p>sário ter domínio do pensamento dos filósofos que servem como suporte para</p><p>a nova produção filosófica. Contudo, demonstraremos que o ato da escrita não</p><p>deveria ser visto como uma tarefa penosa, mas, se o estudante ou o iniciante dos</p><p>textos quer uma produção de excelência, de início, pode tornar-se muito difícil.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>A filosofia é uma atividade intelectual de investigação que prima pela precisão</p><p>conceitual. A posição de um pensador deve ser apresentada de forma certeira,</p><p>sem margem para erro ou para dúvida e com indicação da fonte.</p><p>Escrita e originalidade na filosofia</p><p>Os elementos para escrever artigo ou texto filosófico são diferentes dos demais,</p><p>pois esses tipos de textos têm identidade própria, que consiste na defesa racional</p><p>de uma tese baseada em argumentos filosóficos, ou seja, não pode ser um sim-</p><p>ples relato ou uma exposição de opiniões dos pensadores. O aluno ou iniciante</p><p>na leitura filosófica deve ser capaz de defender suas razões e demonstrar que</p><p>acredita nelas. Há inúmeras possibilidades diante de uma tese a ser desenvolvida</p><p>criticamente, por exemplo, apresentar um tema e criticá-lo, colocá-lo em cheque</p><p>por meio de perguntas, apresentar contra exemplos à tese, defendê-la contra a</p><p>crítica de outra pessoa, apresentar razões para acreditar nela, fazer uso de exem-</p><p>plos para contribuir com a explicação da tese, a fim de torná-la compreensível,</p><p>entre outros.</p><p>A revisão crítica de uma tese se faz necessária diante de alguma objeção para</p><p>poder aceitar ou recusar, ou para verificar se as informações são suficientes para</p><p>tomá-la verdadeira ou falsa. É importante definir</p><p>para si mesmo os conceitos e os argumentos para</p><p>construir o seu convencimento sobre o assunto, e,</p><p>só depois, tentar convencer a outrem. Um artigo</p><p>de filosofia começa a ser classificado como bom a</p><p>partir do momento em que procura ser modes-</p><p>to. Isso significa procurar um pequeno ponto, clara e diretamente, para oferecer</p><p>as razões para apoiá-lo e desenvolvê-lo de forma mais ampla, enquanto reflexão.</p><p>O contrário faz com que muitas pessoas queiram escrever um artigo longo ou</p><p>com muitas informações, o que resulta em um texto cheio de afirmações difíceis</p><p>de serem defendidas e mal explicadas, isto é, excessivamente ambicioso.</p><p>A filosofia sempre se moveu lentamente, mas com argumentos consistentes e</p><p>pensamentos profundos, a partir de questões que, num primeiro momento, apre-</p><p>sentam-se como algo de interesse para alguns, somente. Contudo, aos poucos,</p><p>foi se ampliando e surgiram afirmações originais. A busca pela originalidade</p><p>é a finalidade de todo e qualquer trabalho de pesquisa em filosofia, inclusive os</p><p>A revisão crítica</p><p>de uma tese se faz</p><p>necessária diante de</p><p>alguma objeção</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>O vínculo às origens da filosofia torna o pensar um problema filosófico difícil,</p><p>visto que é necessário ter o domínio do pensamento dos filósofos que servem</p><p>como suporte para a nova produção. Para uma produção modesta, deve-se, pri-</p><p>meiro, realizar um esboço, ao qual deve conter questões, como: ordem das</p><p>explicações dos termos, posições teóricas dos oponentes, ordem das críticas aos</p><p>oponentes, ordem dos argumentos, entre outros</p><p>elementos. Essa estrutura contribuirá para a cla-</p><p>reza do trabalho de forma geral. Dê muita atenção</p><p>à estruturação dos seus argumentos, dos pontos</p><p>que você deseja criar e dizer qual é o seu argu-</p><p>mento principal. Todos esses e outros aspectos detalhados te ajudarão na hora</p><p>da escrita do artigo. O esboço corresponde a quase 80% do trabalho filosófico.</p><p>O leitor deve</p><p>perceber claramente que seu trabalho tem estrutura clara e de</p><p>fácil percepção. Faz-se necessário que o leitor possa acompanhar cada movi-</p><p>mento dos pontos pensados por você, autor, ou seja, o caminho percorrido por</p><p>ele deve ser determinado, direcionado.</p><p>artigos. O original é constituído da apresentação de uma visão, uma abordagem</p><p>que, até o presente momento, ninguém apresentou e deve estar fundamentada</p><p>nas origens do pensamento filosófico no decorrer da história da filosofia. Enten-</p><p>demos por origens toda filosofia consagrada pela história, os chamados clássicos</p><p>do pensamento filosófico.</p><p>Dê muita atenção</p><p>à estruturação dos</p><p>seus argumentos</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>“ Acabamos de ver como X diz que P. Agora vou apresentar dois ar-</p><p>gumentos que não-P. Meu primeiro argumento é… Meu segundo</p><p>argumento de que não-P é... X pode responder aos meus argumen-</p><p>tos de várias maneiras. Por exemplo, ele poderia dizer isso… Outra</p><p>maneira que X pode responder aos meus argumentos é alegando</p><p>que... Então, vimos que nenhuma das respostas de X ao meu argu-</p><p>mento de que não-P é bem-sucedida. Portanto, devemos rejeitar a</p><p>afirmação de X de que P (PRYOR, 2019, p. 5).</p><p>Perceba que, no fragmento apresentado, o autor direciona o olhar do leitor</p><p>para o objetivo traçado por ele. Isso possibilita a concisão do texto, ou seja,</p><p>sem divagações com elementos não fundamentais, tendo em vista o tema ou</p><p>o problema a ser perseguido desde o início. O problema central ou a pergunta</p><p>filosófica deve estar presente, direta ou indiretamente, de forma clara a todo</p><p>momento no artigo.</p><p>Explicar-se no artigo</p><p>No artigo, o aluno ou o iniciante deve se explicar de forma completa, devido à</p><p>facilidade de confundir a si mesmo ou ao leitor no momento da escrita de um</p><p>problema filosófico. Faz-se necessário ter cuidado especial para buscar a todo</p><p>momento a clareza de ideias filosóficas nas afirmações. Assim, utilize lin-</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>A filosofia é atividade intelectual de investi-</p><p>gação que prima pela precisão conceitual. A po-</p><p>sição do pensador deve ser apresentada de forma</p><p>certeira, sem margem para erro ou para dúvida e</p><p>com indicação da fonte. A filosofia é considerada a mãe de todas as ciências, por-</p><p>tanto, deve ser mais criteriosa e precisa do que qualquer outra que conhecemos.</p><p>guagem simples e direta, esforçando-se para construir parágrafos curtos, com</p><p>termos conhecidos na filosofia, para expressar os seus pensamentos de forma</p><p>detalhada e sem rodeios. Por exemplo: imagine que o seu texto será lido por</p><p>alunos dos anos finais do Ensino Médio. Sua escrita deverá ser direta, sem o</p><p>rebuscamento de termos técnicos da filosofia ou expressões longas e confusas</p><p>para exprimir uma ideia simples ou complexa.</p><p>Às vezes, é necessário ler o texto em voz alta para verificar se é facilmente</p><p>compreendido. Tente responder algumas perguntas, como “esta afirmação real-</p><p>mente faz sentido?”, “o que isto significa?” e “há conexão entre isto e aquilo?”. Esses</p><p>questionamentos são fundamentais na busca por clareza, coerência e harmonia</p><p>na estruturação da escrita em questão. Orientações como essa representam preo-</p><p>cupação e responsabilidade com o texto produzido e, principalmente, com o seu</p><p>leitor ou avaliador.</p><p>A filosofia é</p><p>considerada a mãe</p><p>de todas as ciências</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>Para a discussão, deve-se explicar precisamente ao leitor o que o texto busca</p><p>dizer. O leitor não deve analisar a crítica que você faz, sem antes saber o que o</p><p>pensador diz realmente. Ao discutir os elementos da filosofia de determinado</p><p>estudioso, comece por separar seus argumentos ou suas suposições importan-</p><p>tes. Na separação, pergunte a si mesmo: “esses argumentos são plausíveis?”, “são</p><p>bons, realmente?” etc. Só depois deverá tratá-los separadamente e utilizá-los no</p><p>momento da escrita.</p><p>Ao tratar de um tópico ou de uma ideia, você deve explorá-lo ao máximo,</p><p>jamais jogá-lo em apenas uma frase e esperar que o leitor adivinhe o que quer di-</p><p>zer. Em um texto, não é possível “querer dizer…”, diga diretamente o que pretende,</p><p>com clareza. Se possível, mas com muito cuidado, pode fazer uso de exemplos,</p><p>para deixar sua ideia mais clara e auxiliá-lo na argumentação. O exemplo deve</p><p>ser contextualizado, para dar suporte à ideia, visto que, em filosofia, o uso da</p><p>abstração é comum. Os exemplos são úteis para a compreensão de termos que</p><p>ocupam papel importante numa tese. Se houver apenas abstrações, a exposição</p><p>pode parecer descolada do mundo real, dificultando o entendimento no dia a dia.</p><p>Utilizando um exemplo para tratar do tema respeito, você pode aplicar o seguinte</p><p>raciocínio dedutivo (da premissa geral para o caso particular):</p><p>• Toda pessoa deve respeitada.</p><p>• Ora, o morador de rua é pessoa.</p><p>• Logo, deve-se respeitar o morador de rua.</p><p>O exemplo nos ajuda a compreender o conceito de respeito às pessoas e de-</p><p>monstra a posição do autor do artigo, por mais que não esteja explícita. O valor</p><p>sobre o conceito de respeito ou de pessoa não está desenvolvido, contudo, na</p><p>filosofia, ao explicar o conceito, é possível apresentar uma visão diferente da usual,</p><p>mas isso deve ficar claro para o leitor. O estudante ou iniciante na escrita filosófica</p><p>deve responder questões, como “o que é respeito?” e “o que é pessoa?” para história</p><p>da filosofia, e em que sentido quer fazer uso dos termos. A busca por explicações</p><p>faz com que a novidade se aproxime do escritor. Um artigo filosófico pode ser</p><p>a abertura da porta para que novos sentidos adentrem e se apresentem a todos.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Crítica e objetividade na escrita</p><p>Em filosofia, para o uso de conceitos precisos, os filósofos frequentemente bus-</p><p>cam dar sentidos técnicos exatos, transformando-os em categorias (atributos</p><p>e predicados). As primeiras categorias foram utilizadas por Aristóteles, que as</p><p>denominou “categorias do ser” e as classificou em dez atributos do “ser en-</p><p>quanto ser”. São elas: substância, quantidade, qualidade, relação ou relativo,</p><p>lugar, tempo ou data, situação ou posição, posse ou estado ou condição, ação e</p><p>paixão. Ao utilizar qualquer uma delas, é necessário explicar detalhadamente</p><p>seus significados.</p><p>“ Mesmo quando os filósofos profissionais escrevem para outros</p><p>filósofos profissionais têm de explicar o vocabulário técnico espe-</p><p>cial que estão a usar. Pessoas diferentes às vezes usam o vocabulá-</p><p>rio especial de diferentes formas, por isso é importante ter certeza</p><p>de que os nossos leitores dão a estas palavras o mesmo significado.</p><p>Faça de conta que seus leitores nunca as ouviram antes. […] Se</p><p>temos em mente discutir as opiniões do filósofo X, temos de co-</p><p>meçar por descobrir quais são os seus argumentos ou pressupostos</p><p>centrais (PRYOR, 2019, p. 7).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>Para discutir os argumentos com os pressupostos dos filósofos, faz-se ne-</p><p>cessário ter capacidade crítica refinada, algo em construção em estudantes ou</p><p>em iniciantes na escrita. Esse aspecto só é alcançado a partir do exercício, assim</p><p>como a escrita e a leitura de textos filosóficos, ou seja, acontece de forma gradual</p><p>na vida intelectual. A crítica é sinônimo de análise, de capacidade de colocar um</p><p>argumento ou tese em crise. Criticar é dizer não, mostrar algo que não foi visto.</p><p>Observe a tese partilhada por Roberto Gomes em seu livro Crítica da Razão</p><p>Tupiniquim (1983), no capítulo sobre filosofia e negação, ao afirmar que</p><p>“ Qualquer conhecimento inicia sendo negação, ou seja: como essen-</p><p>cialmente crítico. O que não é, está visto, exclusividade da filosofia.</p><p>Filosofar é deslocar a questão, tornar incomum a abordagem ao</p><p>objeto, é ver onde ninguém está enxergando (GOMES, 1983, p.32).</p><p>O aluno e o iniciante na escrita devem fazer uso da crítica, mesmo sendo</p><p>ainda incipiente, por isso, todo cuidado é pouco. A crítica cuidadosa é sinônimo</p><p>de entendimento dessa ferramenta essencial para que a filosofia aconteça com</p><p>precisão e objetividade. Essa é a capacidade que o leitor tem de olhar com os</p><p>olhos do filósofo, que construiu os argumentos</p><p>filosóficos para defender sua tese.</p><p>“ Os filósofos às vezes dizem coisas perturbadoras, mas se a opinião</p><p>que você está atribuindo a um filósofo parece obviamente louca,</p><p>então deve reflectir melhor e descobrir se ele realmente diz o que</p><p>você acha que diz. Use a imaginação. Tente descobrir que opinião</p><p>razoável o filósofo poderia ter tido em mente, e dirija seus argumen-</p><p>tos contra ela. Nos nossos ensaios temos sempre de explicar qual</p><p>é a perspectiva X que queremos criticar, antes de fazê-lo. Se não o</p><p>fizermos, o leitor não poderá julgar se a crítica que oferecemos a</p><p>X é boa, ou se apenas se baseia em uma má interpretação ou má</p><p>compreensão do ponto de vista de X. Assim, diga ao leitor o que</p><p>acha que X afirma (PRYOR, 2019, p. 7).</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>A objetividade é uma capacidade que se adquire com o exercício de leitura e</p><p>de escrita de textos, mas o estudante ou o iniciante tem a liberdade para contri-</p><p>buir na produção filosófica. O resumo dos fragmentos dos textos clássicos dos</p><p>pensadores deve ser feito somente do trecho que precisa, de fato, ser interpretado</p><p>e criticado, ou das partes que devem ser citadas para confirmar que está sendo fiel</p><p>e justo com o pensador em questão. Quando tiver que se posicionar diante da tese</p><p>analisada, o estudante ou iniciante deve deixar claro o seu posicionamento,</p><p>para que o leitor possa acompanhar o trajeto percorrido. Ao mesmo tempo, ele</p><p>poderá separar o que é análise e o que é a descrição do objeto analisado, o que</p><p>valoriza o trabalho realizado.</p><p>A atitude filosófica é crítica porque o ser humano tomado por tal atitude duvida</p><p>das verdades estabelecidas pela sociedade, como, as regras estabelecidas, que</p><p>são postas em dúvida e, dessa maneira, o homem e a mulher, tomados pela críti-</p><p>ca, fundamentam as suas crenças e não ficam alienados frente às verdades que</p><p>o meio lhes impõem, procurando pelo autoconhecimento. Outra característica da</p><p>atitude filosófica é a criação, pois, ao tomar consciência dos problemas que cer-</p><p>cam a vida, o homem e a mulher, perplexos com tais questões, reinventam-na.</p><p>Desse modo, criam novas saídas para resolver as inquietações que o mundo lhes</p><p>apresenta.</p><p>Fonte: adaptado de Luis Santos (2010).</p><p>APROFUNDANDO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 8</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste Tema de Aprendizagem. Acreditamos</p><p>que os elementos desenvolvidos foram úteis para aperfeiçoar o seu conhecimento</p><p>por meio de exercícios de leituras, de interpretação e de escrita de textos filosóficos.</p><p>Destacamos a importância dos artigos filosóficos para a atividade da filosofia,</p><p>o acesso aos novos conhecimentos e a divulgação de resultados das pesquisas</p><p>na atualidade. Diferenciamos um artigo de um paper, para que o estudante ou</p><p>iniciante nas leituras filosóficas possa exercitar suas reflexões na busca pela ori-</p><p>ginalidade de sua produção intelectual. Chamamos a atenção para o aspecto da</p><p>argumentação da tese central dos textos e dos usos dos exemplos sob o ponto de</p><p>vista de alguns filósofos e para a necessidade de revisão crítica dos textos produ-</p><p>zidos antes de submetê-los à avaliação.</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>1. O artigo filosófico, além de conter todas as características do artigo científico, acrescenta</p><p>aspectos da especificidade filosófica. Considerando a temática apresentada no enunciado,</p><p>analise as afirmativas a seguir::</p><p>I - A especificidade do artigo filosófico está nas revistas científicas com publicações pe-</p><p>riódicas ou permanentes, ou seja, podem receber artigos a qualquer momento do ano.</p><p>II - A especificidade do artigo filosófico está nas revistas científicas, em que ocorrem publi-</p><p>cações de dossiês sobre tema ou cientista em particular.</p><p>III - A especificidade da filosofia está na defesa racional de uma tese, com argumentos e</p><p>problematizações de temas filosóficos.</p><p>IV - A especificidade da filosofia difere claramente do artigo de pesquisa ou literário, visto</p><p>que não é uma narrativa ou um relato de vários filósofos que discorreram sobre deter-</p><p>minado tema.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I, II e IV.</p><p>d) I, II, III e IV.</p><p>e) Apenas II.</p><p>2. Os elementos para escrever um artigo ou um texto filosófico são diferentes dos demais. Há</p><p>identidade própria, que consiste na defesa racional de uma tese baseada em argumentos</p><p>filosóficos. Diante disso, analise as afirmativas a seguir e assinale (V) para a(s) Verdadeira(s)</p><p>e (F) para as Falsa(s)::</p><p>I - ( ) A revisão crítica de uma tese não se faz necessária, mesmo diante de alguma objeção</p><p>para poder aceitar, recusar ou verificar se as informações são suficientes para tomá-la</p><p>como verdadeira ou falsa.</p><p>II - ( ) O estudante ou iniciante na leitura filosófica deve ser capaz de defender suas razões</p><p>e demonstrar que acredita nelas.</p><p>III - ( ) Sempre é importante definir para si mesmo os conceitos e os argumentos a fim de</p><p>construir o seu convencimento sobre o assunto e, só depois, tentar convencer a outrem.</p><p>As afirmativas I, II e III são respectivamente:</p><p>a) F, V, V.</p><p>b) V, V, V.</p><p>c) F, V, F.</p><p>d) V, F, V.</p><p>e) F, F, F.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABNT. NBR 6022 - Informação e documentação - Artigo em publicação periódica científica im-</p><p>pressa - Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.</p><p>GOMES, R. Crítica da razão Tupiniquim. São Paulo: Cortez, 1983.</p><p>LAKATOS, E.; MARCONI, M. Metodologia da pesquisa. São Paulo: Atlas, 2005.</p><p>MURCHO, D. Como se estuda filosofia. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: http://filosofia.paginas.</p><p>ufsc.br/files/2013/04/Como-estudar-filosofia.pdf. Acesso em: 3 maio 2019.</p><p>PRYOR, J. Diretrizes sobre como escrever um ensaio de filosofia. Florianópolis: UFSC, 2013.</p><p>Disponível em: http://filosofia.ufsc.br/files/2013/04/JamesPryor.pdf. Acesso em: 3 maio 2019.</p><p>SILVA, M. L. P. Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica. Coimbra: [s. n.], 2010. Dis-</p><p>ponível em: http://www.uc.pt/fluc/lif/conceitos_herm. Acesso em: 9 maio 2019.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>1. C.</p><p>2. A.</p><p>GABARITO</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>MINHAS METAS</p><p>EXERCÍCIO DE ANÁLISE FILOSÓFICA</p><p>Entender os primeiros passos para produzir um artigo filosófico com as especificidades</p><p>da filosofia.</p><p>Compreender os exercícios de escrita de um artigo filosófico objetivando a originalidade</p><p>na filosofia.</p><p>Aprender a analisar um artigo clássico de filosofia, tanto no aspecto da explicação quanto</p><p>do comentário para a compreensão do texto.</p><p>Apresentar os passos na construção de argumentos para sustentação da ideia central no</p><p>texto filosófico.</p><p>Demonstrar como exercitar a hermenêutica filosófica como ponto de partida para a leitu-</p><p>ra de textos.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 9</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudante, seja bem-vindo(a)!</p><p>Neste Tema de Aprendizagem, apresentaremos o exercício sobre o esclare-</p><p>cimento e a liberdade fundamentada em Immanuel Kant. Começaremos com</p><p>a resposta, em via de esclarecimento, acompanhando passo a passo a trajetória</p><p>realizada pelo autor. Além disso, trataremos dos pressupostos, a fim de realizar o</p><p>exercício da hermenêutica filosófica fundamentada em Gadamer. Partiremos da</p><p>hermenêutica tradicional – que trata das teorias de interpretação, da arte de inter-</p><p>pretação por meio do exercício da leitura de textos escritos – para a hermenêutica</p><p>moderna, como tudo o que envolve o processo interpretativo de modo geral.</p><p>Acreditamos, assim, que te apresentaremos subsídios necessários para exer-</p><p>citar sua escrita e leitura de textos filosóficos.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>EXERCÍCIO DE ANÁLISE DO ARTIGO DE KANT SOBRE O</p><p>ESCLARECIMENTO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>Neste momento, faremos o exercício de análise</p><p>de um artigo clássico como forma de demons-</p><p>trar um olhar entre outros sobre um dos temas</p><p>ali presentes, no caso, a liberdade, no sentido</p><p>kantiano. Liberdade é fazer uso da razão, e não</p><p>como simples capricho – liberdade sem consequências ou responsabilidades.</p><p>Esse olhar deve apresentar, via de regra, novos elementos aos já vistos, o que</p><p>possibilita alimentar a curiosidade, elemento tão caro para a filosofia.</p><p>Artigo</p><p>“O que é esclarecimento?”</p><p>Em 05 de outubro de 1783, um jornal na Alemanha lançou um convite para</p><p>que os intelectuais participassem de um concurso. Eles deveriam escrever um</p><p>artigo que respondesse à pergunta: o que é esclarecimento? O artigo que ficou</p><p>em segundo lugar foi apresentado por Immanuel Kant (1724-1804).</p><p>Kant foi um dos maiores sistematizadores da história da filosofia. Escreveu o</p><p>artigo supracitado seguindo os procedimentos, exatamente conforme as orienta-</p><p>ções já mencionadas, com um tema em forma de pergunta, que foi respondida.</p><p>Os argumentos utilizados no desenvolvimento são filosóficos e o estudioso fez</p><p>a defesa racional de sua tese como resposta à pergunta. Na defesa, contestou os</p><p>argumentos dos adversários e do senso comum sobre a tese defendida.</p><p>“ Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua</p><p>menoridade, pela qual ele próprio é responsável. A menoridade é a</p><p>incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela</p><p>de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa minoridade,</p><p>uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta</p><p>de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendi-</p><p>mento sem a tutela de outro. Sapere aude! (ousa saber). Tenha a</p><p>coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é o lema do</p><p>Esclarecimento (KANT, [s. d.], p. 1).</p><p>No referido artigo, Kant responde a pergunta logo no início, ou seja, de forma</p><p>direta, como mencionamos, e, em seguida, aponta as causas da falta de esclareci-</p><p>mento, o não uso da razão. Nas primeiras linhas, é comum elaborar a introdução</p><p>Liberdade é fazer</p><p>uso da razão e</p><p>não como simples</p><p>capricho</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>sobre o tema. Todavia o autor pode optar por ser direto e claro, não só respon-</p><p>dendo a questão, mas apontando as causas e as soluções para resolver o proble-</p><p>ma fundamental. Organizar o artigo dessa maneira pode assustar no primeiro</p><p>momento, mas o leitor, ao entrar em contato com o texto, sentirá um impacto</p><p>importante diante de uma tese para seguir a leitura até o final. Perceba que a</p><p>introdução cumpriu adequadamente a sua finalidade sobre o tema proposto:</p><p>“ A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão</p><p>grande dos homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela</p><p>alheia (naturaliter majorennes), continuam a permanecer por toda</p><p>sua vida menor; e é por isso que é tão fácil a outros instituírem-</p><p>-se seus tutores. É tão cômodo ser menor. Se possuo um livro que</p><p>possui entendimento por mim, um diretor espiritual que possui</p><p>consciência em meu lugar, um médico que decida acerca de meu</p><p>regime etc., não preciso eu mesmo esforçar-me. Não sou obrigado</p><p>a refletir, se é suficiente pagar; outros se encarregarão por mim da</p><p>aborrecida tarefa. Que a maior parte da humanidade (e especial-</p><p>mente todo o belo sexo) considere o passo a dar para ter acesso</p><p>à maioridade como sendo não só penoso, como ainda perigoso,</p><p>é ao que se aplicam esses tutores que tiveram a extrema bondade</p><p>de encarregar-se de sua direção. Após ter começado a emburrecer</p><p>seus animais domésticos e cuidadosamente impedir que essas cria-</p><p>turas tranquilas sejam autorizadas a arriscar o menor passo sem o</p><p>andador que as sustenta, mostram-lhes em seguida o perigo que as</p><p>ameaça se tentam andar sozinhas. Ora, esse perigo não é tão grande</p><p>assim, pois após algumas quedas elas acabam aprendendo a andar;</p><p>mas um exemplo desse tipo intimida e dissuade usualmente toda</p><p>tentativa ulterior (KANT, [s. d.], p. 2).</p><p>No segundo parágrafo do artigo, o autor inicia a apresentação dos seus argu-</p><p>mentos ao demonstrar as causas das dificuldades que fazem com que as pessoas</p><p>não saiam da condição da menoridade. Ele aponta como motivos a preguiça e a</p><p>covardia. Contudo, não detalha essas razões de forma direta, mas induz o leitor a</p><p>pensar. Sobre a preguiça, afirma que as pessoas não querem esforçar-se, porque é</p><p>cômodo ter alguém que faça por elas. O preguiçoso quer ser tratado como menor,</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>não quer caminhar com as próprias pernas. Fica evidente que a preguiça é uma</p><p>condição desejada desde a origem do homem na história. Portanto, o preguiçoso</p><p>não acabará, pois detém um atributo que faz parte da condição humana, mas</p><p>pode ser que o número de preguiçosos aumente ou diminua em determinado</p><p>momento da história de uma sociedade.</p><p>A covardia se apresenta em ter medo de andar com as próprias pernas, isto</p><p>é, de chegar à maioridade. Essa tem como uma das características a ousadia para</p><p>realizar os enfrentamentos, vencer os obstáculos apresentados pela existência.</p><p>A chegada da maioridade é um processo de evolução “natural”, o crescimento é</p><p>inevitável, mas a posição cômoda faz com que o sujeito veja perigos inexistentes,</p><p>que desaparecem depois de sofrer algumas quedas, fazendo-o aprender a cami-</p><p>nhar. A maioridade é algo parecido com os primeiros passos de uma criança antes</p><p>dos dois anos de idade. O covarde vê perigos e riscos em tudo que o tira da zona</p><p>de comodismo, de conforto. A covardia e a preguiça, segundo Kant, atingem a</p><p>maioria dos seres humanos em nossa sociedade e, quanto mais a ciência e a tecno-</p><p>logia avançam, mais conforto possibilitam. Com isso, muitas pessoas encontram</p><p>meios para serem acomodadas, dependentes, escravas de si mesmas e buscam</p><p>viver sob a proteção de outrem, com todas as suas manhas, seus caprichos e suas</p><p>vitimizações de si. Entretanto, a conta se aproxima mais cedo ou mais tarde –</p><p>como na velhice – e alguém terá de pagar. Essa é a condição da existência.</p><p>Uso público e privado da razão</p><p>No terceiro e no quarto parágrafos do artigo, Kant analisa as dificuldades em</p><p>superar as causas descritas nos fragmentos apresentados. No primeiro mo-</p><p>mento, trata do homem no sentido particular e, em seguida, no sentido público.</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Ele contraria o argumento de senso comum ao demonstrar que o meio social e</p><p>a família, por não saberem orientar seus pares, criam indivíduos preguiçosos e</p><p>covardes, ou seja, não são absolutamente culpados de estarem nessa situação. A</p><p>culpa deve ser partilhada por aqueles que estão relacionando-se diretamente</p><p>com os covardes e os preguiçosos.</p><p>“ É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se</p><p>da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Che-</p><p>gou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de</p><p>utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer</p><p>a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumen-</p><p>tos mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons na-</p><p>turais, são os grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se</p><p>livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais</p><p>estreito fosso, porque não está habituado a este movimento livre.</p><p>Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram, pela transfor-</p><p>mação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender</p><p>então uma marcha segura. Que, porém, um público se esclareça a</p><p>si mesmo é perfeitamente possível; mais que isso, se lhe for dada a</p><p>liberdade, é quase inevitável. Pois, encontrar-se-ão sempre alguns</p><p>indivíduos capazes de pensamento próprio, até entre os tutores es-</p><p>tabelecidos da grande massa, que, depois de terem sacudido de si</p><p>mesmos o jugo da menoridade, espalharão em redor de si o espírito</p><p>de uma avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada</p><p>homem em pensar por si mesmo (KANT, [s. d.], p. 3).</p><p>Uma vez formados o preguiçoso e o vagabundo, é difícil reverter o quadro,</p><p>pois a menoridade se transforma em “segunda natureza” (hábito). O indivíduo</p><p>passa a pensar que é assim e gosta de ser desse modo, não se imaginando de outra</p><p>maneira. Esse tipo de pensamento compromete o entendimento da pessoa, que</p><p>acredita ser incapaz de ter maturidade. Poucos conseguem sair dessa condi-</p><p>ção por si mesmos, sem intervenção coletiva, uma vez que o público tem mais</p><p>possibilidades de oferecer esclarecimentos, pois pode haver sujeitos que fazem</p><p>uso do pensamento próprio e influenciarão os outros, para que também façam</p><p>uso da razão. Contudo,</p><p>esse processo acontece de forma muito lenta. Há casos</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>em que apenas uma revolução do coletivo pode fazer com que o despotismo</p><p>individual seja derrubado, isto é, influenciar para que as pessoas deixem de lado</p><p>a preguiça e a covardia.</p><p>No quinto parágrafo, Kant introduz a categoria fundamental do iluminismo</p><p>na Alemanha e, em outros países da Europa, a liberdade. Muitas vezes, essa é</p><p>interpretada pelo senso comum como fazer o que quer ou o que tem vontade,</p><p>sem regras, sem limitações e sem obediência: não é, portanto, o entendimento</p><p>do autor do artigo. Vejamos os elementos a seguir para compreendermos o seu</p><p>posicionamento sobre a liberdade:</p><p>“ Para este esclarecimento, porém, nada mais se exige senão liberdade.</p><p>E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade,</p><p>a saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas as questões.</p><p>Ouço, agora, porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O</p><p>oficial diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama:</p><p>não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciocineis,</p><p>mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quan-</p><p>to quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui por</p><p>toda a parte a limitação da liberdade. Que limitação, porém, im-</p><p>pede o esclarecimento? Qual não o impede, e até mesmo favorece?</p><p>Respondo: o uso público de sua razão deve ser sempre livre e só</p><p>ele pode realizar o esclarecimento entre os homens. O uso priva-</p><p>do da razão pode, porém, muitas vezes, ser muito estreitamente</p><p>limitado, sem contudo por isso impedir notavelmente o progresso</p><p>do esclarecimento. Entendo, contudo, sob o nome de uso público</p><p>de sua própria razão aquele que qualquer homem, enquanto faz</p><p>dela diante do grande público do mundo letrado. Denomino uso</p><p>privado aquele que o sábio pode fazer de sua razão em um certo</p><p>cargo público ou função a ele confiado. Ora, para muitas profissões</p><p>que se exercem no interesse da comunidade, é necessário um certo</p><p>mecanismo, em virtude do qual alguns membros da comunidade</p><p>devem comportar-se de modo exclusivamente passivo para serem</p><p>conduzidos pelo governo, mediante uma unanimidade artificial,</p><p>para finalidades públicas, ou pelo menos devem ser contidos para</p><p>não destruir essa finalidade. Em casos tais, não é sem dúvida permi-</p><p>tido raciocinar, mas deve-se obedecer (KANT, [s. d.], p. 4).</p><p>1</p><p>1</p><p>4</p><p>Liberdade é tida, no texto, como o fazer uso da razão, do entendimento, pri-</p><p>vada ou publicamente. Por um lado, o uso privado significa obedecer às regras</p><p>ou às ordens determinadas pelo seu superior ou chefe. Obedecer é fazer uso da</p><p>liberdade, visto que não é possível não obedecer. Portanto, obedecendo, estou</p><p>exercendo a minha liberdade e cumprindo as minhas obrigações que me foram</p><p>confiadas pela coletividade ou por instância superior. Por exemplo, uma pessoa</p><p>ferida chega a um pronto socorro; os enfermeiros e médicos dizem “hoje não</p><p>quero atender ninguém, não estou afim”. Isso não é liberdade, mas capricho.</p><p>Mesmo contra a vontade pessoal, os funcionários devem exercer sua liberdade e</p><p>fazer o que têm de fazer. Isso é ser livre, pois podem não fazer.</p><p>Por outro lado, o uso público significa expressar os seus pensamentos diante de um</p><p>público, mas que deve, primeiro, realizar a tarefa que lhe foi confiada, ou pagar o que</p><p>é apresentado como se fosse devido, por exemplo, um imposto. Depois de obedecer</p><p>à ordem ou pagar um imposto, é possível manifestar opiniões publicamente, oral ou</p><p>por escrito.</p><p>Primeiro, é preciso obedecer, para que a vida em sociedade não se transforme</p><p>em caos, visto que muitos não fazem uso da razão de forma sábia. Sem seguir</p><p>as regras, querem protestar ou manifestar, atitude que os superiores classificarão</p><p>como incoerente ou irresponsável, acreditarão que o não obedecer é uma des-</p><p>culpa para manter a condição de preguiçoso ou covarde. Obedecer é sinônimo</p><p>de liberdade. Assim, após obedecer às regras da convivência social, deve-se fazer</p><p>uso da razão traduzida em liberdade. Esta, quando exercida por meio da razão,</p><p>demonstra, por meio do indivíduo, que possui conhecimentos sobre tal atividade</p><p>prática ou teórica e, como cidadão, deve manifestar publicamente suas ideias e</p><p>opiniões sobre os assuntos que lhe forem convenientes.</p><p>Esclarecidos seguem regras</p><p>O uso público da razão deve ocorrer, inclusive, em instituições cuja obediência</p><p>deve ser seguida com todo rigor, por exemplo, a religião. O religioso, o sacerdote ou</p><p>o pastor, mesmo não concordando com os preceitos de seus líderes, deve segui-los,</p><p>obedecê-los, para só depois manifestar a sua opinião publicamente, por escrito ou</p><p>por ações. Assim, a liberdade se manifesta carregada de responsabilidades, não</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>somente em relação ao outro, seu superior, mas a toda coletividade social. Portan-</p><p>to, no sentido kantiano, a liberdade significa fazer uso da razão, e não um simples</p><p>capricho, como a liberdade sem consequências (como se isto fosse possível):</p><p>“ Do mesmo modo também o sacerdote está obrigado a fazer seu</p><p>sermão aos discípulos do catecismo ou à comunidade, de confor-</p><p>midade com o credo da Igreja a que serve, pois foi admitido com</p><p>esta condição. Mas, enquanto sábio, tem completa liberdade, e até</p><p>mesmo o dever, de dar conhecimento ao público de todas as suas</p><p>ideias, cuidadosamente examinadas e bem-intencionadas, sobre o</p><p>que há de errôneo naquele credo, e expor suas propostas no sentido</p><p>da melhor instituição da essência da religião e da Igreja. Nada existe</p><p>aqui que possa constituir um peso na consciência. Pois aquilo que</p><p>ensina em decorrência de seu cargo como funcionário da Igreja,</p><p>expõe-no como algo em relação ao qual não tem o livre poder de en-</p><p>sinar como melhor lhe pareça, mas está obrigado a expor segundo a</p><p>prescrição de um outro e em nome deste. Poderá dizer: nossa igreja</p><p>ensina isto ou aquilo; estes são os fundamentos comprobatórios de</p><p>que ela se serve (KANT, [s. d.], p. 6).</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>Caso discorde das orientações ou das regras da instituição religiosa ou civil,</p><p>o indivíduo tem a liberdade de renunciar o cargo que lhe foi confiado, mas só</p><p>depois de ter cumprido os seus deveres como membro, cidadão ou integrante</p><p>da instituição.</p><p>Portanto, ao obedecer, o indivíduo é livre; seguir regras é sinônimo de liberdade,</p><p>fazendo, ou não, uso da razão, de forma pública ou privada. Essa é a essência do</p><p>conceito de liberdade a partir do iluminismo, inclusive, no sentido kantiano.</p><p>No sexto parágrafo do artigo, Kant afirma que não há contradições no uso</p><p>privado da razão, visto que a liberdade sempre faz parte dessa faculdade, de po-</p><p>der escolher entre seguir, ou não, uma regra, obedecer ou não obedecer, mesmo</p><p>estando em instituições extremamente fechadas. Contudo, o uso da razão pos-</p><p>sibilita ao indivíduo exercer uma liberdade ilimitada, no sentido do seu poder</p><p>de escolha, mas sempre assumindo as consequências.</p><p>“ Em todo caso, porém, pelo menos nada deve ser encontrado aí que</p><p>seja contraditório com a religião interior. Pois se acreditasse en-</p><p>contrar esta contradição não poderia em sã consciência desempe-</p><p>nhar sua função, teria de renunciar. Por conseguinte, o uso que um</p><p>professor empregado faz de sua razão diante de sua comunidade é</p><p>unicamente um uso privado, porque é sempre um uso doméstico,</p><p>por grande que seja a assembleia. Com relação a esse uso ele, en-</p><p>quanto padre, não é livre nem tem o direito de sê-lo, porque executa</p><p>uma incumbência estranha. Já como sábio, ao contrário, que por</p><p>meio de suas obras fala para o verdadeiro público, isto é, o mundo,</p><p>o sacerdote, no uso público de sua razão, goza de ilimitada liberdade</p><p>de fazer uso de sua própria razão e de falar em seu próprio nome.</p><p>Pois o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais) devem ser</p><p>eles próprios menores constitui um absurdo que dá em resultado a</p><p>perpetuação dos absurdos (KANT, [s. d.], p. 4).</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>Veja a resposta de Kant para uma hipótese lançada a uma</p><p>sociedade fechada à</p><p>crítica:</p><p>“ Isto é inteiramente impossível, digo eu. Tal contrato, que decide</p><p>afastar para sempre todo ulterior esclarecimento do gênero huma-</p><p>no, é simplesmente nulo e sem validade, mesmo que fosse confir-</p><p>mado pelo poder supremo, pelos parlamentos e pelos mais solenes</p><p>tratados de paz. Uma época não pode se aliar e conjurar para colo-</p><p>car a seguinte em um estado em que se torne impossível para esta</p><p>ampliar seus conhecimentos (particularmente os mais imediatos),</p><p>purificar-se dos erros e avançar mais no caminho do esclarecimen-</p><p>to. Isto seria um crime contra a natureza humana, cuja determina-</p><p>ção original consiste precisamente neste avanço (KANT, [s. d.], p. 5).</p><p>Os crimes que ocorrem em relação à natureza humana decorrem da falta de</p><p>esclarecimento. Os chamados sábios (no caso, os religiosos) não podem ser</p><p>impedidos de duvidar, de questionar sobre os princípios, sobre as regras ins-</p><p>titucionais que contribuem para o aperfeiçoamento da humanidade. Esse é um</p><p>dever da atual geração para com as futuras gerações, que têm o direito de receber</p><p>um mundo melhor, mais esclarecido, desenvolvido e humano do que o atual.</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Há uma forma determinada de uma classe (por exemplo, a dos religiosos) impor</p><p>seu credo e suas regras em forma de contrato para impedir o esclarecimento de</p><p>todo um povo?</p><p>O uso público da razão tem alcance universal, por isso, pode ser ilimitada</p><p>enquanto ação livre. Outro aspecto que merece destaque na argumentação é o</p><p>comportamento do sábio diante de pessoas livres. Ele tem a clareza do seu poder</p><p>no uso da razão para influenciar e intervir na razão alheia, ou seja, conhece a força</p><p>do conhecimento para modificar os comportamentos. Assim, surge uma questão:</p><p>1</p><p>1</p><p>8</p><p>EXERCÍCIOS SOBRE ESCLARECIMENTO E LIBERDADE</p><p>A Dialética do Esclarecimento é um diagnóstico potente do pós-guerra, é a afir-</p><p>mação de que o projeto do iluminismo saiu pela culatra. A grande questão é: se</p><p>o esclarecimento (o iluminismo e toda sua tentativa de universalizar o conheci-</p><p>mento) deveria levar a espécie humana para sua maioridade, então, por que o</p><p>nazi-fascismo cresceu de maneira tão forte? Por que as massas apoiavam Hitler,</p><p>Mussolini, Salazar e seu companheiros? Os regimes fascistas deixavam a explora-</p><p>ção e a dominação claros. Eram regimes que não tinham a preocupação de utilizar</p><p>aparelhos estatais para disfarçar a dominação.</p><p>Fonte: adaptado de Siqueira (2014, on-line)².</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Neste momento, daremos continuidade à análise anterior sobre o artigo de Kant,</p><p>mas abordando elementos diferentes que se complementam na totalidade do ex-</p><p>posto. Dentre eles, está a liberdade, que possibilita a autodisciplina, seja de um</p><p>civil ou de um soldado. A liberdade garante também o cumprimento de regras</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>estabelecidas para o bem da coletividade, de forma geral. Como vimos, obe-</p><p>decer é sinônimo de liberdade, então, as pessoas devem ser livres para exercitar</p><p>o pensar e o obedecer.</p><p>Em via de esclarecimento</p><p>Avançamos na análise do artigo de Immanuel Kant sobre a resposta à pergunta “o</p><p>que é esclarecimento?” e, diferente do momento anterior, em que apresentamos</p><p>as causas da ausência do esclarecimento ou de estar em via de esclarecimento,</p><p>trataremos objetivamente da resposta apresentada pelo autor. Quando uma per-</p><p>gunta fundamental é exteriorizada, o filósofo necessariamente deve respondê-la</p><p>de forma direta, para que o leitor possa refletir sobre ela. Vejamos a resposta de</p><p>Kant e seus argumentos:</p><p>“ Se for feita então a pergunta: “vivemos agora uma época esclareci-</p><p>da”?, a resposta será: não, vivemos em uma época de esclarecimen-</p><p>to. Falta ainda muito para que os homens, nas condições atuais,</p><p>tomados em conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser</p><p>colocados nela, na qual em matéria religiosa sejam capazes de fazer</p><p>uso seguro e bom de seu próprio entendimento sem serem dirigidos</p><p>por outrem. Somente temos claros indícios de que agora lhes foi</p><p>aberto o campo no qual podem lançar-se livremente a trabalhar</p><p>e tornarem progressivamente menores os obstáculos ao esclareci-</p><p>mento geral ou à saída deles, homens, de sua menoridade, da qual</p><p>são culpados. Considerada sob este aspecto, esta época é a época</p><p>do esclarecimento ou o século de Frederico (KANT, [s. d.], p. 7).</p><p>A resposta é negativa sobre se vivemos em uma época esclarecida. Vivemos em</p><p>uma época em via de esclarecimento, na qual temos aspectos de despotismo</p><p>– de forma espiritual, no sentido pessoal e de forma coletiva, enquanto povo ou</p><p>nação –, visto que os obstáculos ainda não foram superados, não somente em</p><p>relação às causas, mas também à preguiça e à covardia. Além disso, muitos não</p><p>fazem uso de seu entendimento e vivem sob a tutela de alguém. Há, inclusive,</p><p>aqueles que, por seguirem uma religião, não fazem uso seguro e bom sobre o</p><p>entendimento e seguem a outrem.</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>Mesmo a resposta sendo negativa, o pensador apresenta elementos posi-</p><p>tivos para que vejamos os sinais de um possível avanço em relação ao escla-</p><p>recimento das pessoas. Há claros indícios de que temos avançado no que se</p><p>refere ao aumento do uso que as pessoas fazem de seu entendimento, mas ele</p><p>alerta que ainda falta muito para que sejamos, de fato, esclarecidos. O exemplo</p><p>citado foi o governo de Frederico I, na Prússia (1688-1740) – a Alemanha</p><p>ainda não havia feito a unificação. O monarca foi considerado por muitos um</p><p>esclarecido, pois criou escolas, garantiu a liberdade religiosa, acabou com a</p><p>servidão dos camponeses e deixou, para o seu sucessor, um país próspero. Os</p><p>avanços podem tornar os obstáculos mais fáceis para o esclarecimento geral</p><p>das pessoas, em um cenário em que elas mesmas são as culpadas por viverem</p><p>como menores, como crianças.</p><p>O Mundo de Sofia (2013)</p><p>Sinopse: às vésperas de seu aniversário de quinze anos, Sofia</p><p>Amundsen começa a receber bilhetes e cartões postais bas-</p><p>tante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia</p><p>quem é ela e de onde vem o mundo em que vivemos. Os pos-</p><p>tais foram mandados do Líbano, por um major desconhecido,</p><p>para alguém chamada Hilde Knag, jovem que Sofia igualmente</p><p>desconhece. O mistério dos bilhetes e dos postais é o ponto de</p><p>partida deste fascinante romance, que conquista milhões de</p><p>leitores em todos os países em que foi lançado. De capítulo em</p><p>capítulo, de lição em lição, o leitor é convidado a trilhar toda a</p><p>história da filosofia ocidental – dos pré-socráticos aos pós-mo-</p><p>dernos -, ao mesmo tempo em que se vê envolvido por um</p><p>intrigante Thriller que toma um rumo surpreendente.</p><p>INDICAÇÃO DE FILME</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>“ Um príncipe que não acha indigno de si dizer que considera um</p><p>dever não prescrever nada aos homens em matéria religiosa, mas</p><p>deixar-lhes em tal assunto plena liberdade, que, portanto, afasta de</p><p>si o arrogante nome de tolerância, é realmente esclarecido e merece</p><p>ser louvado pelo mundo agradecido e pela posteridade como aquele</p><p>que pela primeira vez libertou o gênero humano da menoridade,</p><p>pelo menos por parte do governo, e deu a cada homem a liberdade</p><p>de utilizar sua própria razão em todas as questões da consciência</p><p>moral. Sob seu governo os sacerdotes dignos de respeito podem,</p><p>sem prejuízo de seu dever funcional expor livre e publicamente,</p><p>na qualidade de súditos, ao mundo, para que os examinasse, seus</p><p>juízos e opiniões num ou noutro ponto discordante do credo ad-</p><p>mitido. Com mais forte razão isso se dá com os outros, que não</p><p>são limitados por nenhum dever oficial. Este espírito de liberdade</p><p>espalha-se também no exterior, mesmo nos lugares em que tem de</p><p>lutar contra obstáculos externos estabelecidos por um governo que</p><p>não se compreende a si mesmo. Serve de exemplo para isto o fato</p><p>de num regime de liberdade a tranquilidade pública e a unidade</p><p>da comunidade não constituírem em nada motivo de inquietação.</p><p>Os homens se desprendem por si mesmos progressivamente do</p><p>estado de selvageria, quando intencionalmente não se requinta em</p><p>conservá-los nesse</p><p>como mediações</p><p>do pensamento. A luta pela sua compreensão caracteriza com frequência aquilo</p><p>que denominamos trabalho intelectual, assim como todo trabalho, o trabalho in-</p><p>telectual tem suas regras que devem ser seguidas e criadas de acordo com as</p><p>exigências estabelecidas pelos filósofos.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Como superar as dificuldades nos textos?</p><p>Ajuda muito a vencer as dificuldades, observando que todas as obras elaboram</p><p>uma teoria do conhecimento, do sentido dos termos e conceitos da linguagem,</p><p>deduzindo uma hermenêutica filosófica. Por exemplo, Marx (1978), na sua obra</p><p>Contribuição à crítica da economia política, descreve que as categorias de análise</p><p>só podem vir à tona na mente de um pensador na medida dos condicionamentos</p><p>sociais determinados historicamente, ou seja, em um contexto específico.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>“ O concreto é concreto porque é a síntese de muitas determinações,</p><p>isto é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensa-</p><p>mento como o processo de síntese, como resultado, não como ponto</p><p>de partida, ainda que seja o ponto de partida do efetivo, e, portanto,</p><p>o ponto de partida também da intuição e da representação. No pri-</p><p>meiro método, a representação plena volatiliza-se em determinações</p><p>abstratas, no segundo, as determinações abstratas conduzem à re-</p><p>produção do concreto por meio do pensamento. Por isso é que He-</p><p>gel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento</p><p>que se sintetiza em si, se aprofunda em si, e se move por si mesmo;</p><p>enquanto que o método que consiste em elevar-se do abstrato ao</p><p>concreto não é senão a maneira de proceder do pensamento para</p><p>apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado.</p><p>Mas este não é de modo nenhum o processo da gênese do próprio</p><p>concreto. A mais simples categoria econômica, suponhamos, por</p><p>exemplo, o valor de troca, pressupõe a população, uma população</p><p>produzindo em determinadas condições e também certos tipos de</p><p>famílias, de comunidades ou Estados (MARX, 1978, p. 117).</p><p>As suas categorias, como o valor de troca de uma mercadoria, só pode ser</p><p>concebido a partir das relações concretas, e não abstratas descoladas da reali-</p><p>dade. O alicerce proposto do seu método depende da legitimidade do alicerce</p><p>filosófico do qual ele deduz. Nesse caso, Marx apontou que seu alicerce é a filo-</p><p>sofia de Hegel, apesar de deixar claro as suas di-</p><p>vergências com ele. Mesmo assim, Marx continua</p><p>sendo fortemente influenciado por Hegel, ou seja,</p><p>no caminho percorrido ele, Hegel estará presente</p><p>ocupando um espaço privilegiado. Todo filósofo</p><p>quer escapar do círculo hermenêutico, no entanto, todos entram na sua órbita</p><p>no exato momento em que quer evitá-lo.</p><p>Encontramos na história da Filosofia muitos fenômenos que apresen-</p><p>tam as peculiaridades da reflexão filosófica na sua relação com a retomada</p><p>de pensamentos consolidados, tornando, assim, difícil a sua compreensão.</p><p>Com isso, compreendemos que a aprendizagem da leitura só pode ser filosó-</p><p>fica, não podendo, de forma alguma, dispensar a reflexão. Nem por isso deve</p><p>dispensar uma análise metodológica na sua compreensão, diminuindo, assim,</p><p>as suas dificuldades inerentes aos textos. Entretanto, essa reflexão preliminar</p><p>Todo filósofo quer</p><p>escapar do círculo</p><p>hermenêutico</p><p>1</p><p>4</p><p>das dificuldades leva-nos a tomar consciência de que a filosofia busca atingir a</p><p>verdade na universalidade, mas a todo momento busca apagar ou ocultar essa</p><p>mesma universalidade nos seus textos.</p><p>O texto filosófico possui um encadeamento,</p><p>às vezes, numa linearidade no tempo e na escrita,</p><p>mas nem sempre há textos que fogem dessa estru-</p><p>turação. Tais elementos, devido às suas referências</p><p>internas, cruzam-se e colocam numa dupla presença (o leitor e o escritor) ideal</p><p>dos momentos da sua construção. Um texto ou uma obra, em Filosofia, deve ser</p><p>apresentado em forma de um tratado dedutivo ou de aforismos brilhantes que</p><p>constituem o todo, aberta ao mundo e ao sentido captado pelo leitor. Por exemplo,</p><p>no livro Assim falou Zaratustra, no aforismo sobre ler e escrever:</p><p>“ De tudo o que se escreve, aprecio somente o que alguém escreve com</p><p>seu próprio sangue. Escreve com sangue; e aprenderás que o sangue é</p><p>espírito. Não é fácil compreender o sangue alheio; odeio todos os que</p><p>leem por desfastio. Aquele que conhece o leitor nada mais faz pelo</p><p>leitor. Mais um século de leitores – até o espírito estará fedendo. Que</p><p>toda a gente tenha o direito de aprender a ler, estraga, a longo prazo,</p><p>não somente o escrever, senão, também, o pensar. […] Aquele que</p><p>escreve em sangue e máximas não quer ser lido, mas aprende de cor</p><p>(NIETZSCHE, 1998, p. 66).</p><p>A filosofia busca</p><p>atingir a verdade na</p><p>universalidade</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>O texto possui mobilidades tanto internas quanto externas (leitor), que se</p><p>desenvolvem num mundo de virtualidades provocado pela própria estrutura</p><p>discursiva, suscetíveis de serem analisadas e explicitadas. Isso ocorre a partir</p><p>do momento em que tomamos o texto em nossas mãos, com acesso ao título, ao</p><p>índice, prefácio e que tenhamos uma visão de totalidade, antes de uma leitura</p><p>detalhada. A curiosidade vai vencendo a estranheza num primeiro momento do</p><p>estilo do texto e, aos poucos, vai-se apropriando da conceituação filosófica com</p><p>mais facilidade e percorrendo o caminho traçado pelo texto. As informações vão</p><p>se tornando familiarizadas à medida que é necessário ler e reler sem cessar. É</p><p>justamente aí que começa a dificuldade: ao entrar no labirinto das terminologias</p><p>filosóficas na argumentação, surgem as questões, como:</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>De que maneira pode-se separar o superficial do fundamental nas argumentações?</p><p>Não só em nível conceitual do texto, como das imagens e exemplos que parecem</p><p>desviar das argumentações centrais?</p><p>Ler e reler um texto com inteligência, ou seja, com um esforço organizado,</p><p>faz-se necessário para que tenhamos domínio dos procedimentos utilizados na</p><p>compreensão. Isso é o que chamamos de método. Chamamos a atenção para o</p><p>fato de que não há um método que sirva para todos os textos, mas sim regras para</p><p>ler um texto e se apropriar dos conteúdos. Cada filosofia apresenta elementos</p><p>necessários para as percebermos naquela leitura, mas a atenção aos seus procedi-</p><p>mentos no próprio texto constitui um aspecto tão importante quanto o método.</p><p>Escolhas dos textos a serem lidos</p><p>Os textos filosóficos consagrados, os chamados clássicos da história da filosofia,</p><p>devem fazer parte da nossa prioridade de escolha. A principal justificativa é que</p><p>eles foram submetidos à crítica de grandes filósofos e resistiram a ponto de se</p><p>tornarem uma referência de reflexão na resolução de problemas, tanto no perío-</p><p>do em que foram construídos quanto na atualidade. Os outros textos ainda não</p><p>1</p><p>1</p><p>A filosofia não pode ser vista como a “ciência humana”, contrariamente, o que</p><p>sugerem as classificações fixadas por algumas universidades ou diplomas emiti-</p><p>dos por elas e governos constituídos, assim como</p><p>a psicologia, a sociologia entre outras, mas sim a</p><p>reflexão crítica das chamadas “ciências humanas”.</p><p>Com isso, numerosos textos das chamadas “ciên-</p><p>cias humanas” e literatura podem ser objetos de</p><p>uma leitura filosófica. Exemplo são textos de Freud, Thomas Mann, Graciliano</p><p>Ramos, Guimarães Rosa, Lacan, Max Weber, Dürkheim entre outros. Po-</p><p>demos chamá-los de textos intermediários que os estudantes de Filosofia devem</p><p>estudá-los de forma sistemática e crítica.</p><p>"Não esqueça de que a prática da filosofia, que pode submeter a exame qualquer</p><p>objeto, ganha em sutileza e pertinência quando acompanhada de uma verdadeira</p><p>cultura geral. Conforme os gostos, as competências ou as lacunas, convém,</p><p>portanto, se esforçar sempre para ampliar e aprofundar essa cultura através da</p><p>leitura regular de livros de literatura, de história, de psicologia, ou relativos às</p><p>ciências da natureza, etc. Só que será preciso distinguir os gêneros e as coisas,</p><p>evitando misturar o que tem a ver com a informação, com o conhecimento</p><p>estado (KANT, [s. d.], p. 08).</p><p>No fragmento, o argumento utilizado para exemplificar o seu entendimento</p><p>sobre o que significa uma pessoa ser esclarecida – no caso, um monarca toleran-</p><p>te – faz com que o seu conceito de esclarecimento seja mais bem compreendido</p><p>pelo leitor. Perceba que o exemplo escolhido cumpriu exatamente o papel de</p><p>modelo, padrão ou paradigma a ser utilizado para que uma ideia seja explicada</p><p>com clareza. A exploração do exemplo na filosofia tem desenvolvimento preciso</p><p>e objetivo, a ponto de tornar-se algo parecido com um subtema, demonstrando</p><p>que ocupa espaço privilegiado na argumentação para dar sustentação à tese.</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>A tolerância religiosa, citada como exemplo, pode ser sinal de esclarecimen-</p><p>to pelo fato de permitir que as pessoas exerçam sua liberdade plenamente. A</p><p>religião, com suas vantagens e desvantagens em uma sociedade, deve ser vista</p><p>como um desejo, em que somente a pessoa pode decidir se agrega ao não a</p><p>essa comunidade. É um direito que deve ser res-</p><p>peitado por todos, inclusive pelos governantes. É</p><p>dever de todo indivíduo tolerar o querer do ou-</p><p>tro, desde que não prejudique qualquer membro</p><p>da sociedade. Cabe ao Estado aplicar as normas</p><p>para garantir a convivência pacífica e responsável</p><p>na sociedade, que é composta por todos os tipos de pessoas, exercendo suas li-</p><p>berdades de forma plena. Tolerar quer dizer ser capaz de aceitar o outro em seu</p><p>exercício de liberdade como ser humano, mesmo sem concordar.</p><p>Tolerância: sinal de esclarecimento</p><p>Segundo Kant ([s. d.]), quando as pessoas começam a aceitar o exercício da li-</p><p>berdade de forma plena, acabam servindo de referência para outras pessoas, a</p><p>ponto de espalhar-se pelo mundo como um remédio para enfrentar a doença da</p><p>ignorância e servir de estímulo para superar os obstáculos estabelecidos por go-</p><p>vernos. As próprias pessoas que vivem em sociedade serão beneficiadas, caso os</p><p>obstáculos postos sejam derrubados ou superados no exercício da liberdade ple-</p><p>na. Em sua argumentação, o pensador apresenta o outro lado de uma sociedade</p><p>esclarecida, ao dizer que, em um regime de liberdade, a tranquilidade pública não</p><p>está isenta de desafios, ou seja, está longe de ser algo sem inquietação.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Cabe ao Estado</p><p>aplicar as normas</p><p>para garantir a</p><p>convivência pacífica</p><p>Kant afirma que o viver em determinados lugares (sociedades) cria condi-</p><p>ções para que as pessoas possam desejar sair do estado de selvageria e, conse-</p><p>quentemente, buscar um viver melhor. Para isso, se faz-se necessário o exercício</p><p>da liberdade. “Os homens se desprendem por si mesmos progressivamente do</p><p>estado de selvageria, quando intencionalmente não se requinta em conservá-los</p><p>nesse estado” (KANT, [s. d.], p. 6). O desprender de si acontece à medida que se</p><p>confronta com o outro, isto é, a relação de alteridade provoca o sair de si mesmo.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>“ Acentuei preferentemente em matéria religiosa o ponto princi-</p><p>pal do esclarecimento, a saída do homem de sua menoridade,</p><p>da qual tem a culpa. Porque no que se refere às artes e ciências</p><p>nossos senhores não têm nenhum interesse em exercer a tutela</p><p>sobre seus súditos, além de que também aquela menoridade é de</p><p>todas a mais prejudicial e mais desonrosa. Mas o modo de pen-</p><p>sar de um chefe de Estado que favorece a primeira vai ainda além</p><p>e compreende que, mesmo no que se refere à sua legislação, não</p><p>há perigo em permitir a seus súditos fazer uso público de sua</p><p>própria razão e expor publicamente ao mundo suas ideias sobre</p><p>uma melhor compreensão dela, mesmo por meio de uma cora-</p><p>josa crítica do estado de coisas existentes. Um brilhante exemplo</p><p>disso é que nenhum monarca superou aquele que reverenciamos</p><p>(KANT, [s. d.], p. 6).</p><p>Neste momento do artigo, a preocupação da argumentação do pensador está</p><p>centrada em justificar as suas escolhas. Ao mesmo tempo, ele revela a visão</p><p>dos senhores de sua época, que querem os indivíduos sob suas tutelas para con-</p><p>trolar as ações, tentando, a todo momento, privá-los do exercício da liberdade.</p><p>A religião, em muitos momentos da história, serviu de controle ideológico dos</p><p>poderes constituídos. Nos tempos de Kant, quem fugiu desse roteiro do poder foi</p><p>1</p><p>4</p><p>4</p><p>Frederico I, da Prússia. Mesmo assim, os únicos culpados pela falta de esclareci-</p><p>mento são as próprias pessoas, que deixam ser contaminadas pela preguiça e</p><p>pela covardia, ou seja, abrem mão do uso da razão de forma pública ou privada.</p><p>Liberdade como expressão máxima dos esclarecidos</p><p>Para os filósofos iluministas, como Kant, a li-</p><p>berdade é a expressão máxima daquilo que o ser</p><p>humano é. Na introdução do artigo, o pensador</p><p>destaca o “ousa saber” (sapere aude), que traduz</p><p>bem as características de uma pessoa que goza</p><p>do exercício da liberdade plena, fazendo uso de</p><p>seu entendimento para sair da menoridade e tornar-se uma pessoa esclarecida,</p><p>autônoma e independente, ou seja, senhor(a) de si, de suas ações e pensamentos</p><p>para ser feliz. Ser autônomo é ter a capacidade de criar, por meio da razão, as</p><p>regras morais de como viver em sociedade para si mesmo, apesar dos condicio-</p><p>namentos sociais – é sinônimo de liberdade.</p><p>A liberdade é a</p><p>expressão máxima</p><p>daquilo que o ser</p><p>humano é.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>4</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 9</p><p>“ Mas também somente aquele que, embora seja ele próprio esclare-</p><p>cido, não tem medo de sombras e ao mesmo tempo tem à mão um</p><p>numeroso e bem disciplinado exército para garantir a tranquilidade</p><p>pública, pode dizer aquilo que não é lícito a um Estado livre ousar:</p><p>racionais tanto quanto quiserdes e sobre qualquer coisa que quiser-</p><p>des; apenas obedecei! Revela-se aqui uma estranha e não esperada</p><p>marcha das coisas humanas; como, aliás, quando se considera esta</p><p>marcha em conjunto, quase tudo nela é um paradoxo. Um grau</p><p>maior de liberdade civil parece vantajoso para a liberdade de espíri-</p><p>to do povo e, no entanto, estabelece para ela limites intransponíveis;</p><p>um grau menor daquela dá a esse espaço o ensejo de expandir-se</p><p>tanto quanto possa (KANT, [s. d.], p. 7).</p><p>Perceba que é muito comum, nos artigos de filosofia, os argumentos da tese</p><p>central aparecerem no final, conforme mencionamos. Kant afirma que os escla-</p><p>recidos, fazendo uso de seus entendimentos, não têm mais medo. Este representa</p><p>a ignorância, cuja essência é a falta de conhecimento sobre aquilo que a faz temer.</p><p>Uma vez compreendido e explicado, perde-se o medo – eis o primeiro resul-</p><p>tado do entendimento. Por isso, a liberdade garante e sustenta a ousadia para</p><p>superar os obstáculos que tentam impedi-la de seu pleno exercício.</p><p>As pessoas devem ser livres para pensar e para obedecer. Segundo o autor,</p><p>isso aparenta ser um paradoxo, mas apenas aparenta. A liberdade em obedecer</p><p>faz com que as ações sejam mais objetivas e com melhor qualidade. A liberdade</p><p>civil de um povo deve prevalecer sobre as liberdades menores ou individuais,</p><p>que não podem ser confundidas com caprichos, ou seja, fazer o que quiser sem</p><p>assumir as responsabilidades civis e pessoais de seus atos.</p><p>“ Se, portanto, a natureza por baixo desse duro envoltório desenvolveu o</p><p>germe de que cuida delicadamente, a saber, a tendência e a vocação ao</p><p>pensamento livre, este atua em retorno progressivamente sobre o modo</p><p>de sentir do povo (com o que este se torna capaz cada vez mais de agir</p><p>de acordo com a liberdade), e finalmente até mesmo sobre os princípios</p><p>do governo, que acha conveniente para si próprio tratar o homem, que</p><p>agora é mais do que simples máquina, de acordo com a sua dignidade</p><p>(KANT, [s. d.], p. 7).</p><p>1</p><p>4</p><p>1</p><p>Para finalizar o artigo, Kant utiliza como argumento a ideia de que a natureza</p><p>do ser humano é ser livre, por mais que esteja envolto em aparências diversas.</p><p>Essa vocação (à liberdade) pertence a todo ser humano, mesmo aqueles que</p><p>estão na menoridade, que podem senti-la à medida que o espírito de um povo</p><p>progressivamente se manifesta e os provoca a observar os comportamentos dos</p><p>seus concidadãos, fundamentados nos usos do entendimento no dia a dia da</p><p>práxis social.</p><p>e com a</p><p>reflexão propriamente dita" (FOLSCHEID, 2002, p. 15).</p><p>No caso dos estudantes de Filosofia, os professores apresentam os textos</p><p>a serem rigorosamente lidos, portanto, não há nenhum problema na escolha.</p><p>Durante o curso de Filosofia, muitas serão as abordagens, mas o iniciante nos</p><p>estudos vai se familiarizando e se identificando com o tipo pensamento ou com</p><p>o pensamento de determinada época: filosofia antiga, medieval, moderna, con-</p><p>submetidos ao crivo da crítica na história, devem ser submetidos aos seguintes</p><p>questionamentos:</p><p>A filosofia não pode</p><p>ser vista como a</p><p>“ciência humana”</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Este texto é, ou não, redutível à inteligência filosófica? Quais são os fundamentos</p><p>conceituais desse conhecimento e a forma como os problemas são postos e</p><p>respondidos por tal reflexão?</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>temporânea (atualidade) diante de si. Em cada período da história da filosofia,</p><p>os textos apresentam dificuldades específicas daquele momento histórico, além</p><p>do estilo e da forma de reflexão exteriorizada do pensamento dos pensadores.</p><p>O processo de escolha dos textos filosóficos para os iniciantes deve ser feita em</p><p>forma espiral. Não podemos começar com um livro extremamente difícil, como</p><p>Crítica da razão pura de Kant ou Enciclopédia das ciências filosóficas de Hegel, mas</p><p>é possível, no primeiro momento, inicial com livros de entendimento medianos,</p><p>como Fundamentos da metafísica dos costumes de Kant e, no segundo momento,</p><p>Lições sobre a estética, de Hegel. Na filosofia antiga, é aconselhável começar com</p><p>o livro da República, de Platão, do que com livro de Parmênides do mesmo autor.</p><p>Contudo isso não significa que devemos demorar muito nos textos considerados</p><p>de menor dificuldade. Os textos mais difíceis devem ser enfrentados o quanto an-</p><p>tes, nem que seja pelos prefácios e pelas introduções. Os prefácios e as introdu-</p><p>ções já constituem a filosofia propriamente dita, visto que não é possível introduzir</p><p>e ficar de fora do texto. A forma de leitura em espiral é uma estratégia que significa</p><p>avançar e retomar, reler e reler de forma progressiva, avançando na compreensão</p><p>do pensamento começando dos mais simples aos mais complexos.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Leitura com regularidade</p><p>As dificuldades na leitura dos textos filosóficos podem ser amenizadas com a</p><p>regularidade nos exercícios de ler e reler algumas vezes por dia, ou por semana,</p><p>se possível. Porém não convém ficar postergando os momentos de aprendizagem</p><p>para enfrentar os textos filosóficos de difícil compreensão, esperando estar bem</p><p>mais preparado para tal. Essa forma de pensar pode aumentar as dificuldades,</p><p>em vez de superá-las. Esse tipo de dificuldade só é superado com esforço orga-</p><p>nizado e paciência. Aos poucos e com o tempo, a compreensão conceitual vai</p><p>ganhando mais repertório intelectual na aprendizagem.</p><p>O período de iniciação na filosofia não tem um tempo definido em anos. Di-</p><p>ferente do esporte ou de outras ocupações, o estudante percebe aos poucos o seu</p><p>progresso, que pode dar os primeiros sinais em poucos meses, o que se verifica ao</p><p>fazer uma retrospectiva desde o início, voltando-se para o seu passado próximo.</p><p>Ao destacar a necessidade do esforço organizado e a paciência diante dos textos</p><p>filosóficos, significa que estamos falando em mudança de atitude para ser mais</p><p>1</p><p>8</p><p>racional, não dramatizando as dificuldades e criando ilusões por um lado, nem</p><p>as simplificar como se elas não estivessem a todo momento batendo à sua porta.</p><p>Por exemplo, os pensamentos de Platão, Descartes, Hegel entre outros, em</p><p>alguns textos, são considerados, por muitos, como de fácil compreensão, e outros</p><p>herméticos e difíceis.</p><p>Um texto passa a ser tecnicamente fácil à medida que você possui os recursos,</p><p>as chaves de leitura, fazendo as identificações das problemáticas, dos conceitos</p><p>e das categorias que fundamentam a tese central daquela filosofia. Diante disso,</p><p>podemos afirmar que o texto não é, objetivamente, difícil, mas é o leitor que ainda</p><p>não se encontra com as suas capacidades desenvolvidas a ponto de decodificar o</p><p>texto diante de si. Portanto, os chamados textos difíceis são questões mal coloca-</p><p>das que se voltam contra o leitor, desarmando-o dos recursos necessários para ler</p><p>o texto. Em vez de encorajar o leitor, essa forma de pensamento tira a coragem</p><p>e impede a pessoa de dar o melhor de si. O essencial não é ser o vencedor na</p><p>compreensão do texto, como se fosse um concurso público, mas os progressos</p><p>pessoais diante de todos os tipos de textos diante de si.</p><p>Todo leitor, mesmo com conhecimentos modestos adquiridos no ensino</p><p>médio, possui os elementos necessários que permitem uma iniciação em forma</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 1</p><p>de espiral para a leitura e a compreensão de qua-</p><p>lidade. Contudo, essas indicações sobre a apro-</p><p>priação dos conteúdos das teses, conceitos e cate-</p><p>gorias filosóficas apresentam resultados se forem</p><p>colocadas em prática efetiva da leitura. Só se aprende a ler os filósofos lendo. Só</p><p>o exercício de leitura é a garantia dos progressos pessoais, do desenvolvimento da</p><p>capacidade crítica e outras habilidades menores, mas necessárias na compreensão</p><p>da filosofia escolhida.</p><p>O exercício da leitura é melhor praticado quando o iniciante nos textos fi-</p><p>losóficos procura determinar velocidades de leitura. Há três tipos de leitores:</p><p>vagarosos, médios e velozes.</p><p>Os vagarosos são considerados aqueles que leem até 400 palavras por minuto;</p><p>o leitor médio é aquele que lê até 800 palavras por minuto; os velozes são aqueles</p><p>que leem acima desse número de palavras por minuto. A leitura tem como pres-</p><p>suposto que lemos por sentenças, e não por palavras, pois nos comunicamos</p><p>por frases e de forma rápida. O mesmo ocorre com a leitura: quanto maior a</p><p>velocidade, melhor a compreensão do pensamento a ser apropriado. O bom lei-</p><p>tor é aquele que determina a velocidade da leitura de acordo com a necessidade.</p><p>Há textos que podem e devem ser lidos vagarosamente, objetivando a com-</p><p>preensão detalhada das ideias, e outros que devem ser lidos da forma mais rá-</p><p>pida possível. A leitura rápida ou dinâmica é um instrumento a ser utilizado</p><p>para o conhecimento de totalidade do livro ou da obra dos pensadores. Ela é,</p><p>também, muito útil para todos os meios escritos: jornais, documentos, e-mails,</p><p>revistas, romances, ensaios entre outros. Essa leitura é indispensável em todas</p><p>as áreas do conhecimento. Contudo, o bom leitor é aquele que alterna a veloci-</p><p>dade dela de acordo como a necessidade de cada texto. Há textos filosóficos que</p><p>necessitam de uma leitura vagarosa e atenta, às vezes, desesperadamente lenta,</p><p>dando a impressão de que não está saindo do lugar. No entanto, devemos tomar</p><p>cuidado, pois, ao esmiuçar o texto, podemos nos perder em detalhes periféricos</p><p>da tese central, afastando-nos, assim, do essencial, das discussões fundamentais.</p><p>Só se aprende a ler</p><p>os filósofos, lendo</p><p>1</p><p>1</p><p>NOVOS DESAFIOS</p><p>Estudante, encerramos aqui a primeira fase do nosso trabalho de conhecer os</p><p>pressupostos para o aproveitamento de leitura de textos filosóficos. Esperamos</p><p>que algumas dificuldades iniciais tenham sido superadas. Os textos técnicos exi-</p><p>gem uma atitude diferenciada de comportamento, autodisciplina e técnicas para</p><p>apropriação dos conteúdos.</p><p>O entendimento de que a leitura é um aprendizado para toda a vida e, uma</p><p>vez desenvolvida, nunca mais se esquece, fortalece a ideia de uma preparação</p><p>não somente para o estudo de filosofia, mas como formação completa e integral</p><p>em todas as dimensões da nossa existência. Por isso, estudar é um dever revolu-</p><p>cionário, não somente em relação a si mesmo, mas no sentido de que o estudo</p><p>modifica o mundo à nossa volta.</p><p>Você sabia que há velocidades de leituras? O bom leitor determina as velocidades</p><p>de acordo com os textos: leitura devagar (até 400 palavras por minutos), leitura</p><p>média (de 400 a 800 palavras) e leitura rápida (800 a 1200 palavras por minutos).</p><p>Esta deve ser feita com jornais e revistas. Um texto filosófico,</p><p>como a Crítica da</p><p>Razão Pura, de Immanuel Kant (1787), deve ser feita devagar e com muita atenção.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>1. A respeito de Leitura de textos filosóficos, entendemos que o ato de ler é uma atividade</p><p>que nos acompanha durante toda a vida. O professor doutor José Carlos Bruni preparou</p><p>um texto para os seus alunos, no ano de 2003, intitulado Como ler. A partir do texto, analise</p><p>as afirmativas seguintes:</p><p>I - Aprende-se a mecânica de ler aos sete anos de idade. No entanto a leitura, concebida</p><p>como instrumento de compreensão de uma ideia, é processo bem mais complexo. Seu</p><p>aprendizado pode ser fixado em uma idade determinada, e o aprimoramento da técnica</p><p>de leitura é tarefa para uma idade especificamente determinada.</p><p>II - A leitura é exercida sobre um texto que pode ser: uma obra inteira com vários volumes;</p><p>um livro inteiro; uma parte de um livro com vários capítulos; um capítulo de um livro; às</p><p>vezes, uma página apenas, de conteúdo pouco rico.</p><p>III - O texto científico, caracterizado por certo rigor de pensamento e expressão, certa ordem</p><p>na concatenação das ideias e pela demonstração das afirmações, não comporta uma</p><p>leitura interna e uma análise externa.</p><p>IV - A leitura externa atém-se ao que o texto diz, explicitamente. A análise interna utiliza dados</p><p>que não aparecem no texto, mas que o explicam.</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>a) Apenas I e II.</p><p>b) Apenas II e III.</p><p>c) Apenas I.</p><p>d) Apenas II, III e IV.</p><p>e) Nenhuma das afirmativas está correta.</p><p>2. O educador Paulo Freire (1921-1997), o terceiro mais citado no mundo, em seu texto A</p><p>importância do ato de ler, afirma que as dimensões do estudo vão além da leitura de um</p><p>texto. Diante disso, assinale a alternativa correta:</p><p>a) Procura compreender o problema que tinham para resolver e, em seguida, encontrar</p><p>uma resposta precisa. Estuda-se apenas na escola. Estudar é assumir uma atitude séria</p><p>e curiosa diante de um problema.</p><p>b) A atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e os fatos caracteriza o ato</p><p>de estudar. Não importa que o estudo seja feito no momento e no lugar do nosso trabalho.</p><p>c) Em qualquer caso, o estudo nem sempre exige atitude séria e curiosa na procura de</p><p>compreender as coisas e os fatos que observamos.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>d) Um texto para ser lido é um texto a ser estudado. Um texto para ser estudado é um</p><p>texto para ser interpretado. Podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem</p><p>curiosidade.</p><p>e) O que seria da produção de cacau naquela roça se Pedro e Antônio tivessem desistido de</p><p>prosseguir no trabalho por causa do lamaçal? Se um texto, às vezes, é difícil, não insista</p><p>em compreendê-lo, deixe-o lado e procure outro mais fácil.</p><p>AUTOATIVIDADE</p><p>1</p><p>1</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARISTÓTELES. Metafísica: livro I e II. São Paulo: Abril Cultural, 1979.</p><p>BRUNI, J. C. Como ler. Sugestões para uma prática produtiva da leitura. São Paulo: USP. Tex-</p><p>to para discussão. [S. d.]. 2p. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/109243/mod_resource/</p><p>content/2/Como%20ler.pdf. Acesso em: 10 abr. 2019.</p><p>COSSUTTA, F. Elementos para a leitura dos textos filosóficos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.</p><p>FOLSCHEID, D. Metodologia filosófica. São Paulo: Martins Fontes, 2002.</p><p>FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores</p><p>Associados: Cortez, 1986.</p><p>MARX, K. Para a crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1978.</p><p>NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Rio de Janeiro:</p><p>Civilização Brasileira, 1998.</p><p>PLATÃO. A República. São Paulo: Abril Cultural, 1978.</p><p>WITTGENSTEIN, L. Tratactus Logico-philosophicuso. São Paulo: Editora da Universidade de</p><p>São Paulo, 1994.</p><p>1</p><p>4</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/109243/mod_resource/content/2/Como%20ler.pdf.</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/109243/mod_resource/content/2/Como%20ler.pdf.</p><p>1. E.</p><p>2. B.</p><p>GABARITO</p><p>1</p><p>5</p><p>MINHAS METAS</p><p>LER PARA EXPLICAR E COMENTAR</p><p>OS TEXTOS</p><p>Demonstrar como a leitura ultrapassa as fronteiras dos textos e da sala de aula em di-</p><p>reção ao mundo.</p><p>Esclarecer como podemos superar as dificuldades na compreensão dos textos filosóficos.</p><p>Explicitar os pressupostos de leituras para a explicação de textos filosóficos.</p><p>Demonstrar como podemos avançar das explicações para os comentários de textos</p><p>filosóficos.</p><p>T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 2</p><p>1</p><p>1</p><p>INICIE SUA JORNADA</p><p>Estudante, bem-vindo(a)!</p><p>Entraremos na problemática do ler e do explicar um texto filosófico. Também</p><p>faremos um esquadrinhamento das palavras fundamentais que dão suporte às</p><p>teses e aos parágrafos para esclarecer os pressupostos e as implicações de tais</p><p>afirmações. Apresentaremos os elementos necessários da leitura para comentar</p><p>um texto, inclusive, em forma de carta. Com isso, desejamos a você, estudante</p><p>ou iniciante nos textos filosóficos, bons estudos e uma proveitosa leitura deste</p><p>Tema de Aprendizagem.</p><p>DESENVOLVA SEU POTENCIAL</p><p>LER PARA EXPLICAR OS TEXTOS</p><p>A leitura atenta do texto deve ser o foco, buscando um esquadrinhamento das</p><p>palavras fundamentais que dão suporte às teses e aos parágrafos para esclarecer</p><p>os pressupostos e as implicações de tais afirmações. Esses aspectos são os sinais de</p><p>uma leitura genuinamente filosófica, que, posteriormente, poderá ser explicada.</p><p>O tempo gasto numa página não é fundamental, o que interessa é a compreensão</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>para provocar as fissuras e, assim, chegar na medula central do texto ou da tese.</p><p>Um exercício importante é escolher uma parte do texto e explicá-la como se</p><p>fosse uma questão de prova a ser respondida com detalhes. Com isso, encurtará</p><p>a distância entre a leitura e a explicação das reflexões filosóficas nos textos.</p><p>No treinamento, é importante exercitar-se alternando velocidades na leitura</p><p>para não perder a visão de totalidade dos textos. O tempo de leitura e o resul-</p><p>tado obtido devem ser analisados de forma racional, tendo em vista que, nesse</p><p>momento, o importante é o aspecto oral, o escrito será em outro momento. Ter o</p><p>domínio da leitura é o primeiro pressuposto do estudante de Filosofia, o que será,</p><p>progressivamente, ampliado dia a dia na sua ocupação intelectual. Esse primeiro</p><p>pressuposto do estudante e iniciador da filosofia constitui aquilo que denomi-</p><p>namos de normalidade da atividade de leitura e reflexão do futuro filósofo. Os</p><p>passos seguintes só poderão ser dados com consistência se houver o domínio da</p><p>alternância entre a leitura rápida e a aprofundada dos tipos de escritos do autor.</p><p>Além dos textos com as principais categorias ou conceitos, é importante fazer</p><p>leituras de poemas, poesias e romances se houver.</p><p>Ler e anotar</p><p>O segundo passo fundamental após a leitura, para os iniciantes, são as ano-</p><p>tações das ideias fundamentais do textos, indispensáveis para registar o esforço</p><p>1</p><p>8</p><p>de compreensão naquele momento. Aos poucos, aumentará a sua cultura filo-</p><p>sófica. Um princípio básico é que aquilo que não anotamos podemos esquecer.</p><p>O esquecimento do que foi lido força, a todo momento, retomar um caminho já</p><p>percorrido, podendo tornar a leitura enfadonha. As anotações são os primeiros</p><p>passos para que um texto seja estudado, e não apenas lido. Podemos classificar,</p><p>de modo geral, dois tipos de anotações, a primeira destinada à atender uma</p><p>exigência acadêmica: avaliações, dissertações e teses; a outra é destinada ao uso</p><p>pessoal, aos esboços, aos esquemas, aos resumos, aos fichamentos entre outros.</p><p>As anotações com o objetivo de atender às exigências acadêmicas são aquelas</p><p>que realizamos sob pressão, devido ao fato de ser um estudo direcionado, com</p><p>tempo determinado, orientado para a disciplina em específico e para atender aos</p><p>critérios determinados pelos professores ou orientadores. Atender às exigências</p><p>de leitura de textos determinados por outrem faz com que as atividades acadê-</p><p>micas sejam consideradas, por muitos, como desagradáveis, pelo fato de agirmos</p><p>por dever, e não por prazer. Contudo, são necessárias exigências</p><p>que servem</p><p>para nos ajudar a moldar o nosso caráter (força que vem dentro para fora) e para</p><p>termos uma formação completa enquanto cidadãos, para o mercado de trabalho</p><p>e para a vida intelectual que se iniciou.</p><p>As anotações dos textos lidos que visam atender ao estudo estritamente pes-</p><p>soal são mais importantes que as primeiras já mencionadas, porque são mo-</p><p>vidas pelos seus desejos racionais livres de exigências de outrem. As anotações</p><p>pessoais resultam de análise objetiva do texto, em que prevalece a transcrição</p><p>literal das ideias centrais e periféricas, que devem ser muito precisas em relação às</p><p>referências bibliográficas para serem utilizadas em novas produções dissertativas</p><p>ou explicativas. Elas também resultam de reflexões críticas sobre tais ideias do</p><p>pensador em questão. Nessas anotações, deve ficar muito clara a distinção entre</p><p>citação literal e as reflexões críticas suas e, se possível, faz-se necessário datar o</p><p>período de tal análise.</p><p>A clareza das anotações dos textos filosóficos lidos faz-se necessária pelo</p><p>fato de o iniciante e os filósofos estarem frequentando esses escritos com certa</p><p>frequência, ora para ampliá-los, ora para corrigi-los, ora para as dissertações, de</p><p>modo geral, artigos, livros, palestras, enfim, são ferramentas de trabalho da ocu-</p><p>pação filosófica. O Padre Antônio Vieira (1608-1697), intelectual de máxima</p><p>grandeza, relata como as anotações são importantes já naquele período.</p><p>UNIASSELVI</p><p>1</p><p>9</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>“ [...] Indo estudar Filosofia de idade de vinte anos, no mesmo tempo</p><p>compus uma filosofia própria; e passando à Teologia, me consen-</p><p>tiram os meus prelados que não tomasse apostila, e que eu compu-</p><p>sesse por mim as matérias, como com efeito compus, que estão</p><p>na mesma Província, onde de idade de trinta anos fui eleito mestre</p><p>de Teologia, o que não prossegui por ser mandado a este Reino</p><p>na ocasião da restauração dele (VIEIRA, 2015, t. III, v. IV, p. 439).</p><p>Desde os primórdios da filosofia, os estudantes eram orientados a fazerem as</p><p>próprias anotações e a escreverem os textos. O próprio Vieira relata que sempre</p><p>andavam com os chamados “papelinhos” ou “borrões” em mãos, ora para memo-</p><p>rização para depois pregar, ora como fonte de consultas para auxiliar na escrita</p><p>dos famosos Sermões (a principal obra literária do século XVII). Os professores</p><p>deveriam escrever as apostilas para ministrar as aulas. Aulas, compreendidas pelos</p><p>estudantes desde a Antiguidade, significam que deveriam ser anotadas.</p><p>Anotações para ler</p><p>As anotações, num passado próximo, eram feitas, exclusivamente, em papéis,</p><p>fichas de leituras e cadernos. Com o advento da rede mundial de computadores, a</p><p>chamada Internet, a partir de necessidades bélicas, no início dos anos de 1980, nos</p><p>Estados Unidos, e a sua liberação no Brasil, no final do ano de 1997, surgiram</p><p>novas formas de anotações não mais exclusivamente em papéis. Eles passaram a</p><p>4</p><p>1</p><p>dividir os espaços das anotações dos textos com as formas eletrônicas, como a In-</p><p>ternet, com as novas mídias, os computadores em rede, os celulares smartphones,</p><p>os livros eletrônicos e as novas formas de armazenamento de dados em nuvens.</p><p>Em outras palavras, a própria Internet fez com que os papéis e os livros escritos</p><p>em papéis começassem a perder a preferência dos leitores e escritores. A Internet</p><p>passou a ser uma poderosa ferramenta de consulta e armazenamento de dados</p><p>para os filósofos e os seus iniciantes nos estudos de textos filosóficos.</p><p>As anotações em fichas de leituras bibliográficas, descritivas, analíticas, per-</p><p>manentes, transitórias, entre outras, constituem uma forma de estudos e registro.</p><p>Os resultados das leituras dos textos em resumos, os conceitos fundamentais, os</p><p>esquemas de estudos, os livros mais importantes daquele assunto em específico</p><p>e as referências de textos a serem usadas numa dissertação, tese ou avaliações</p><p>constituíram a principal e mais eficaz forma de anotações para a atividade in-</p><p>telectual diária conhecida até então. Todo o trabalho duro e penoso do estudo</p><p>do filósofo e dos iniciantes não caía no esquecimento ou não eram confiados,</p><p>unicamente, à memória.</p><p>“ Com efeito, os pensamentos dos outros não podem se tornar para</p><p>nós “lembranças” no sentido estrito. Existe aí como que uma dis-</p><p>torção de nossas funções. A memória está de uma certa maneira</p><p>envolvida, mas ela não predomina – e não deve predominar,</p><p>sob pena de transvestir o pensamento de saberes exteriores.</p><p>Independente da integração dos pensamentos dos outros em nosso</p><p>pensar, o verdadeiro lugar onde se depositam os pensamentos é o</p><p>papel. Isso vale tanto para o filósofo experiente quanto para o apren-</p><p>diz. O tempo passado sobre os textos, mas que não se concretiza em</p><p>fichas, é praticamente tempo perdido (FOLSCHEID, 2002, p. 24)</p><p>As fichas de anotações são tão pessoais que tornam quase impossível</p><p>descrever as melhores formas de suas confecções. Contudo elas são indispensá-</p><p>veis no estudo pessoal. A partir delas é que temos uma visão global e minuciosa</p><p>dos textos estudados e dos seus autores. Os resultados das fichas de anotações</p><p>são imensos, desde a preparação para as avaliações até os trabalhos intelectuais</p><p>de modo geral, apesar de ser impossível fazê-las com rapidez ou às vésperas de</p><p>avaliações e demais trabalhos. As confecções devem se estender durante o todo</p><p>UNIASSELVI</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>o ano ou durante toda a vida intelectual. No entanto, as consultas às fichas de</p><p>anotações devem ser feitas de forma frequente com as devidas atualizações.</p><p>Sociedade dos Poetas Mortos</p><p>Sinopse: “o que quer que digam, palavras e ideias mudam o</p><p>mundo”. Abrimos a nossa lista com um clássico. A Sociedade</p><p>dos Poetas Mortos é um dos filmes sobre a importância da lei-</p><p>tura mais conhecidos e imperdível para os alunos. O professor</p><p>Keating, interpretado pelo ator Robin Willians, é contratado</p><p>para dar aulas de literatura inglesa e norte-americana em uma</p><p>escola bem tradicional.</p><p>Com métodos inovadores e questionadores, opostos aos pa-</p><p>drões da escola, Keating passa a inspirar seus alunos a não</p><p>só olharem a literatura e as palavras de forma diferente, mas</p><p>principalmente a vida. O filme traz a literatura como plano de</p><p>fundo principal e nos faz refletir sobre as coisas que fazemos</p><p>por paixão e que de fato move as nossas vidas. Ajuda ainda a</p><p>desenvolver estratégias para incentivar e melhorar o desem-</p><p>penho dos alunos</p><p>INDICAÇÃO DE FILME</p><p>Anotações de leituras eletrônicas</p><p>Na contemporaneidade, a Internet ocupa um tempo enorme na vida das pessoas</p><p>e, de modo geral, passa a ocupar também um enorme espaço de armazenamento</p><p>de livros eletrônicos, imagens, sons e artigos científicos. A Internet passou a ser a</p><p>principal fonte de acesso à pesquisa de informações, conhecimentos científicos e</p><p>filosóficos como nunca se viu na história da humanidade. A questão que surge,</p><p>agora, é:</p><p>VOCÊ SABE RESPONDER?</p><p>Como fazer o registro das nossas anotações de forma eletrônica? Quais são os</p><p>principais desafios e riscos das anotações eletrônicas?</p><p>4</p><p>1</p><p>Essas questões são importantes pelo fato de constituírem uma novidade</p><p>e, portanto, não termos resultados claros para fazermos afirmações das vanta-</p><p>gens ou das desvantagens das anotações feitas em papéis. Antes de responder às</p><p>questões apresentadas, faz-se necessário destacar que tanto o filósofo quanto o</p><p>iniciante nos textos filosóficos devem estabelecer um padrão ou um sistema de</p><p>anotações de como fazê-las. Por exemplo, é necessário estabelecer o significado</p><p>das abreviações, os esquemas e mantê-los durante o processo. O sistema de</p><p>abreviações próprias ajuda a agilizar as anotações, como se fosse um telégrafo</p><p>(mas inteligível). Economizando espaço, ganha-se tempo para poder ter mais</p><p>densidade filosófica na ficha eletrônica a ser confeccionada.</p><p>Quanto maior a densidade filosófica, melhor será a ficha, e as consultas serão</p><p>mais frequentes. A precisão nas referências constitui um aspecto fundamental a</p><p>ser observado. Outro aspecto é habituar-se às normas da ABNT (Associação</p><p>Brasileira de Normas Técnicas), seguindo sempre a ordem: autor, título do li-</p><p>vro, lugar da edição, editor, ano e página.</p><p>Para fazer os registros em fichas eletrônicas, deve haver as mesmas características</p><p>científicas da ficha de papel, reservando em torno de 10 a 15 fichas para um livro,</p><p>por exemplo, a Crítica da razão pura. Cada ficha deve corresponder a uma página</p><p>de caderno do tipo universitário. Nas fichas, são necessárias algumas informações</p><p>básicas fundamentais, como o título de ficha de leitura (de forma bem visível e em</p><p>caixa alta) e numeração em cada uma. A numeração deve ser primeira coisa a ser</p><p>feita e ficar sempre visível como meio de controle e identificação, com suas subdi-</p><p>visões, quando houver. As referências bibliográficas são o conjunto de informações</p><p>que permite identificar o livro, o jornal, a revista, o artigo, os textos de Internet ou</p><p>qualquer obra publicada. O autor deve ser identificado pelo sobrenome e nome,</p><p>título, volume ou tomo e número da edição, tradutor (se houver), local, editora, ano</p><p>e páginas. Esses registros podem ser feitos de várias maneiras, como o arquivo</p><p>simples dos redatores de textos e armazenados em HD (externo) como se fosse</p><p>uma biblioteca móvel, que é o menos aconselhável, mas pode servir como um</p><p>plano B em caso de perda de dados. O mais seguro são as chamadas nuvens,</p><p>Google Drive, Google Doc, OneDrive entre outros.</p><p>APROFUNDANDO</p><p>Nas fichas eletrônicas, o iniciante deve anotar, com precisão, para obter sem-</p><p>pre mais clareza nas referências e nas ideias centrais do texto lido. Se preferir,</p><p>UNIASSELVI</p><p>4</p><p>1</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>coloque as ideias centrais em itálico e evite as aspas em títulos ou termos. Melhor</p><p>grifar aquilo que merece destaque para a sua atenção. As observações são sempre</p><p>oportunas, caso julgue necessárias e pertinentes na compreensão da ideia central.</p><p>As reflexões feitas pelo autor acerca das fichas devem ser destacadas a ponto de</p><p>não fazer confusão entre as ideias centrais e argumentos que dão sustentação a</p><p>esta, garantindo, assim, o máximo de objetividade no resumo ou no fichamento</p><p>do livro ou texto em questão.</p><p>LER PARA COMENTAR OS TEXTOS</p><p>O bom leitor procura sempre uma leitura enriquecedora, e o caminho a per-</p><p>correr passa, necessariamente, pela classificação dos conceitos encontrados e</p><p>identificados com o contexto da produção da filosofia naquele livro ou naquela</p><p>obra. Esse trabalho é indispensável para aumentar a cultura filosófica e poderá</p><p>recorrer a todos os tipos de exercícios e trabalhos intelectuais. A organização</p><p>desse trabalho deve seguir as preferências do autor, mas alguns aspectos meto-</p><p>dológicos merecem ser observados: primeiro, que há termos não filosóficos que</p><p>podem se tornar; segundo, termos filosóficos universalmente consagrados (por</p><p>exemplo: substâncias, essência, ideia, razão entre outros) adquirem significações</p><p>diferentes conforme o contexto e o autor. Por fim, há termos absolutamente</p><p>específicos, impossível de se retirar do contexto, porque caso ocorra, pode levar</p><p>ao erro, como o termo “transcendental” no sentido kantiano.</p><p>4</p><p>4</p><p>No processo de estudo para a compreensão dos textos filosóficos, faz-se ne-</p><p>cessária a utilização de dicionários especializados dos filósofos e de filosofia</p><p>geral. Há muitos dicionários de filosofia geral e específicos dos principais sistemas</p><p>filosóficos, além dos clássicos de termos em grego e latim, disponíveis, eletronica-</p><p>mente. Os termos que estão nos dicionários nos ajudam a compreender o sentido</p><p>no sistema filosófico, mas as conceituações apresentam-se de forma engessada,</p><p>não possibilitando alterações, o que nos obriga a aceitá-las do jeito que estão. Con-</p><p>tudo, os dicionários constituem uma base fundamental para reflexão filosófica.</p><p>Diferentemente dos dicionários, a reflexão filosófica, a partir de um determi-</p><p>nado texto ou problema, faz com que os termos e as noções filosóficas ganhem</p><p>versatilidade e dinâmica a serviço do exercício, máxima de liberdade, na escrita.</p><p>A atividade racional de criação jamais parte do sentido dos termos filosóficos.</p><p>Ao contrário, todo texto tem como ponto de chegada um novo sentido, ou seja,</p><p>jamais se parte do sentido. Portanto, os dicionários são constituídos por termos</p><p>filosóficos como uma ferramenta para auxiliar na elaboração de novos significa-</p><p>dos. Consultando os dicionários, exercitando a escrita filosófica, o iniciante, aos</p><p>poucos, vai deixando de lado a visão ingênua de pensar que os dicionários dão</p><p>sentido aos termos, e passa a vê-los apenas como mais um dado a ser trabalhado,</p><p>um dado como ponto de partida para a reflexão filosófica.</p><p>Da leitura explicativa para a leitura comentada do texto</p><p>O leitor deve ter presente em suas intenções que a explicação é algo inerente à</p><p>atividade de leitura e, em um texto, está longe de ser difícil, ela nada mais é do que</p><p>um exercício como os outros, podendo ser o me-</p><p>lhor caminho para se chegar à reflexão filosófica.</p><p>Nas universidades, ela cumpre função secundária,</p><p>que são as avaliações. Ao mesmo tempo em que</p><p>ela é um teste, é um alimento. Antes de explicar</p><p>ou dissertar, é necessário saber o que realmente os filósofos disseram, porque</p><p>disseram e como disseram para só depois começar a explicar e dissertar sobre o</p><p>assunto em questão.</p><p>A explicação de um texto está intimamente ligada à leitura rigorosa, a prin-</p><p>cipal característica da leitura filosófica por excelência. Há uma distância entre a</p><p>dissertação e a explicação.</p><p>A explicação é algo</p><p>inerente à atividade</p><p>de leitura</p><p>UNIASSELVI</p><p>4</p><p>5</p><p>TEMA DE APRENDIZAGEM 2</p><p>A dissertação</p><p>A dissertação trata de um tema, já a explicação trata de um texto em es-</p><p>pecífico, em que é necessário apoderar-se do tema do texto em sua totalidade.</p><p>Com isso, o texto trabalhado entra na condição de pretexto a ser esquadrinhado,</p><p>dissecado pelo filósofo ou iniciante da explicação e, no final, o texto fica de lado</p><p>diante do objetivo uma vez alcançado. Tudo isso para que seja dito exatamente</p><p>o que o autor expôs no texto.</p><p>A explicação</p><p>Toda explicação de texto é uma atividade extremamente limitada e delimi-</p><p>tada. Há dois elementos que devem levar em consideração numa explicação. O</p><p>primeiro elemento refere-se à erudição relacionada ao contexto analisado. A</p><p>erudição deve ser deixada de lado para traduzir o pensamento numa linguagem</p><p>clara e precisa, com o objetivo de compreender o texto dito. O segundo elemento</p><p>trata de situar o texto na obra do autor e fazê-lo dialogar. Além disso, o pensador</p><p>deve estar contextualizado nos aspectos histórico, social, econômico e cultural,</p><p>para não ser visto como um ser descolado da realidade. Os seres humanos são</p><p>eles e suas circunstâncias e respondem aos seus problemas situados no seu tempo</p><p>historicamente delimitados, quer seja problemas filosóficos, quer sejam sociais</p><p>entre outros.</p><p>Um aspecto importante é procurar atender objetivamente ao que foi solici-</p><p>tado. Alguns cuidados devem ser tomados na explicação do texto. O primeiro é</p><p>fugir da paráfrase, considerado o maior pecado dos iniciantes.</p><p>“ Parafrasear, como a palavra indica, consiste em fraser ao lado do</p><p>texto, a propósito do texto. Por que recusar a paráfrase? Porque ela</p><p>é a arte de repetir de outro modo o que é enunciado, simplesmente</p><p>juntando-lhe um coeficiente multiplicador de quantidade. Falando</p><p>claro: substitui-se um texto bom e breve por outro, longo e ruim</p><p>– a obra de um mestre pela imitação de um aluno. A paráfrase é</p><p>antifilosófica porque oculta o texto em vez de manifestá-lo, aplaina</p><p>suas asperezas em vez de realçá-las, ignora o que ele pressupõe, su-</p><p>bentende, cala ou implica em vez de mostrar, apaga as articulações</p><p>em vez de exibi-las. A paráfrase dilui, aborrece, enfraquece, torna</p><p>cego, surdo e mudo (FOLSCHEID, 2002, p. 31).</p><p>4</p><p>1</p><p>A explicação de um texto deve ser cuidadosa com as palavras e com os signos</p><p>para não destruir o sentido atribuído aos termos dado pelo pensador. Isso serve</p><p>não só para o texto filosófico, mas para todo e qualquer texto que seja pedida uma</p><p>explicação. A dissecação</p>

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