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<p>ARTIGO - Câncer colorretal como problema de saúde pública</p><p>O câncer colorretal é o terceiro mais frequente em homens, do total de sua incidência mundial, com 746.000 casos, 10% do total, e o segundo em mulheres, com 614.000 casos, 9,2% do total.1 No Brasil, para 2016, foi estimada a incidência de 16.660 casos novos de câncer colorretal em homens e 17.620 em mulheres com taxa de incidência padronizada de 16,84 por 100.000 para homens e 17,10 por 100.000 mulheres. A falta de acesso ao diagnóstico precoce faz a maioria das pessoas o obterem quando seus sinais e sintomas aparecem. Isso torna seu tratamento complexo, dispendioso e invasivo, com necessidade de intervenção cirúrgica, quimioterapia e radioterapia, o que produz impacto econômico, psicológico e social negativos. No entanto, o câncer colorretal pode ser considerado como doença passível de detecção precoce ou de prevenção secundária, e parte das mortes pode ser evitada na medida em que se conhece a história natural da doença. O aparecimento do adenoma, seu crescimento e sua transformação em câncer podem ter curso de dez a quinze anos. Nesse período, é possível realizar uma intervenção adequada por meio de política pública de rastreamento, com identificação de lesões precoces ou localmente avançadas e ressecção destas e, portanto, prevenção e tratamento precoce do câncer. Estima-se que 75% dos casos ocorram em pessoas sem fatores de risco elevado de desenvolvimento do câncer colorretal, e 20% dos casos ocorrem em pessoas com história familiar. A idade é certamente o maior fator de risco de desenvolvimento do câncer colorretal, e a probabilidade de desenvolvê-lo em idade jovem é baixa. Entre indivíduos com 45 a 55 anos de idade, a incidência de câncer colorretal é de 25 por 100.000 por ano. No entanto, em indivíduos com idade de 75 anos ou superior, a taxa de incidência é de 300 por 100.000 por ano. O rastreamento é uma ação dirigida à população assintomática na fase subclínica da doença. Seu objetivo é reduzir a incidência de câncer invasivo e a taxa de mortalidade na população, descobrindo-o em seus estádios iniciais. O exame de rastreamento não é diagnóstico, havendo, portanto, necessidade de exames complementares. Deve ter como característica ser pouco invasivo, ter baixo custo e fácil aceitação pela população. Seu sucesso depende de recrutamento populacional adequado, da realização de exames apropriados, que sejam bem aceitos, e do seguimento dos pacientes com resultados alterados nesses testes, além da repetição dos exames em intervalos preestabelecidos. No Brasil, o Caderno de Atenção Primária Rastreamento, emitido pelo Ministério da Saúde, recomenda o rastreamento do câncer de cólon e reto em adultos de 50 a 75 anos de idade, usando-se pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou sigmoidoscopia. Declara não haver consenso sobre o método de escolha para o rastreamento no Sistema Único de Saúde. Essa norma é ambígua, ou seja, não há hoje consenso sobre qual o método de escolha para o rastreamento populacional na área da saúde pública no País, tampouco sobre o tipo de rastreamento que deve ser implementado. Apesar da recomendação, desconhece-se que, no País, exista programa de rastreamento de base populacional para o câncer colorretal efetivamente implantado em municípios ou estados. Nosso objetivo é apontar desafios para a incorporação do rastreio organizado no Brasil. Tipos de estratégias e métodos de rastreio do câncer colorretal A classificação do risco de desenvolvimento do câncer colorretal leva em consideração fatores epidemiológicos e de biologia molecular. O rastreamento deve ser individualizado segundo o risco de desenvolvimento da doença. Como população de baixo risco entende-se pessoas com idade superior a 50 anos sem outros fatores de risco de câncer colorretal. Por risco moderado classificam-se as pessoas com história familiar de câncer colorretal em um ou mais parentes de primeiro grau, história pessoal de pólipo maior do que um centímetro ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e indivíduos com antecedente pessoal de câncer colorretal, tratados com intenção curativa. Como alto risco, são classificadas as pessoas com história familiar de câncer colorretal hereditário na forma de polipose adenomatosa familiar (PAF) ou câncer colorretal hereditário não polipose (HNPCC), ou com diagnóstico de doença inflamatória intestinal na forma da pancolite ou colite esquerda. A incidência, a fase pré-clínica longa, a lesão precursora reconhecida e facilmente tratável, os altos custos envolvidos no tratamento da doença e a correlação da mortalidade com o estadiamento da doença são características que favorecem a incorporação de rastreio organizado para detecção de câncer colorretal. Os autores discutem a importância e os desafios do rastreio organizado em detrimento do oportunístico. Este último ocorre quando o profissional de assistência ao paciente aproveita o momento em que a pessoa procura o serviço assistencial por algum outro motivo visando ao diagnóstico ou ao tratamento de alguma doença ou agravo. Nesse caso, usuários do sistema de saúde são avaliados em termos de sinais e sintomas relacionados à suspeição de câncer colorretal e encaminhados a exames de triagem e diagnóstico. Ocorrem, nesses casos, ações de rastreio em diversas. Usualmente, o exame de rastreamento é pouco invasivo e, por isso, é importante considerar a característica operacional dos testes disponíveis aliados ao conhecimento da prevalência da doença. O exame de sangue oculto nas fezes é o mais habitualmente usado como exame inicial para rastreamento do câncer colorretal. É de baixo custo inicial, não invasivo e pode ser realizado em casa pelo próprio paciente, exigindo-se poucos recursos. Dentre os demais exames existentes disponíveis para o rastreamento do câncer colorretal, além do teste de pesquisa de sangue oculto nas fezes, há os exames de imagem do cólon, sendo eles o exame contrastado com ar e o enema baritado, a colonografia computadorizada (CCT ou colonoscopia virtual), a retosigmoidoscopia flexível e a colonoscopia. São exames de custos mais elevados que os de sangue oculto nas fezes, que exigem maior aporte tecnológico de imagem e especialistas nas áreas de radiologia e endoscopia ou coloproctologia. Desafios para o rastreamento organizado no Brasil Situações críticas sobre organização de serviços no contexto do rastreamento no Sistema Único de Saúde (SUS) devem ser objeto de reflexão para que ações sejam alinhadas e pensadas de acordo com a magnitude do problema. Apesar de as estratégias de rastreio oportunístico serem de menor custo ao compará-lo com a estratégia organizada de base populacional, podem não propiciar a detecção precoce do câncer de colo. Isso ocorre provavelmente devido ao vínculo da qualidade da prestação de serviços com a capacidade das equipes de saúde da família em realizar uma triagem adequada e com isso indicar um método de rastreio. Do mesmo modo, a adoção de uma estratégia para abarcar toda a população saudável a partir de 60 anos etários pode trazer barreiras de acesso devido à estrutura dos serviços e à capacidade do usuário em realizar os testes de confirmação diagnóstica, principalmente os que requerem equipamentos e laudo especializado. Alguns testes de sangue oculto nas fezes requerem preparo específico, com jejum de carne vermelha e seus derivados além de alimentos com corantes. Em laboratório, a análise por imuno-histoquímica detecta resíduos de sangue que podem estar presentes nas fezes, o que indica necessidade de realização de colonoscopia, para confirmação do diagnóstico de lesão precursora ou de câncer. Nesse sentido, por ser mais barato e mais acessível, o exame para pesquisa de sangue oculto nas fezes poderia funcionar como um processo de triagem populacional, indicando quem, de fato, deve ser encaminhado à colonoscopia. Isso requer adesão da população na auto coleta. Quando se observa a perspectiva das pessoas, a adesão significa aceitação de uma ideia, a manifestação de aprovação ou apoio e o reconhecimento</p><p>de uma intervenção. No campo da saúde, a adesão ao tratamento pode estar relacionada a três componentes principais, a saber, a noção de doença que atinge o paciente, a ideia de cura ou de melhora, o lugar do profissional e dos serviços em seu campo imaginário. Esses componentes são interpretados como relação de parceria e vínculo entre o paciente e o profissional que o assiste e, ainda, os que atuam como fator estruturante do possível processo de rastreamento de câncer, por exemplo. Outra dimensão ao se estabelecer um programa de rastreamento é garantir condições de oferta de diagnóstico definitivo e de tratamento para a condição rastreada. Além disso, requer sistemas de informação para o monitoramento e avaliação de desempenho em um panorama populacional. A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (International Agency for Research on Cancer – Iarc) determina que, para implementar um programa de rastreamento organizado de base populacional, deve-se atender aos seguintes procedimentos: estabelecer uma política explícita com categorias de idade, métodos de rastreio e periodicidade; definir a população-alvo; estabelecer uma equipe responsável pela implementação; estabelecer uma equipe de especialistas responsável pelas decisões, cuidado e seguimento dos pacientes com testes de rastreio positivos; estruturar a qualidade de cada etapa envolvida no processo; estabelecer um processo de monitoramento, avaliação e identificação da ocorrência de câncer na população.</p><p>[ARTIGO] Câncer de Intestino (colorretal): da prevenção ao tratamento e cura.</p><p>O câncer colorretal é um tipo de câncer relativamente frequente no mundo. O Ministério da Saúde estima aproximadamente 30.140 novos casos no Brasil este ano, sendo que a doença pode afetar tanto homens quanto mulheres. Por tratar-se de um tipo de câncer curável desde que diagnosticado precocemente, a mortalidade por câncer colorretal pode ser bastante baixa. Entre os fatores de risco que podem predispor ao aparecimento do câncer colorretal, constam dieta rica em gordura e pobre em vegetais, obesidade e sedentarismo, e uma história de câncer colorretal na família (pais, tios, irmãos). Além disso, sabemos que o câncer colorretal ocorre com maior frequência em pacientes mais velhos, pacientes com as chamadas doenças inflamatórias intestinais e pacientes com número elevado de pólipos no intestino. A prevenção passa por uma dieta rica em fibras, evitar a obesidade, e atentar para possíveis sintomas que possam sugerir algum problema no intestino, levando o paciente a procurar uma investigação. Além disso, considerando a idade como grande fator de risco, diversos países preconizam o rastreamento do câncer colorretal através da realização de colonoscopia de rastreamento a partir dos 50 anos, ou ao menos através da pesquisa de sangue nas fezes (recomendado entre outros pelo Ministério da Saúde no Brasil). A detecção de sangue nas fezes deve levar o paciente a procurar investigação adequada com um clínico, gastroenterologista, proctologista ou cirurgião. Vale ressaltar que a grande maioria dos pacientes que apresentam algum sangramento retal (sangue vivo no papel após evacuação) se deve à presença de hemorroidas, que nada tem a ver com o câncer. Entre os sintomas que podem ocorrer como consequência do câncer colorretal estão o sangramento, anemia, mudanças na frequência e formato das fezes, um excesso de gases e distensão ou desconforto abdominal. O diagnóstico do câncer é confirmado pela biópsia feita na colonoscopia. Uma vez diagnosticado, o paciente passa por avaliação com exames de sangue e tomografias para avaliar a extensão da doença. Na grande maioria das vezes, o paciente é então operado, com a ressecção de todo o segmento do intestino grosso no meio do qual estava o tumor. São também ressecados muitos linfonodos (gânglios) para avaliar se o tumor havia saído do intestino, e em casos de suspeita de alguma lesão à distância, frequentemente é feita uma biópsia adicional da área. Dependendo da profundidade do tumor na parede do intestino, da presença ou não de doença nos gânglios ou fora do intestino, faz-se necessária a complementação do tratamento cirúrgico com quimioterapia. Quando se trata de tumores no reto, frequentemente é necessária incorporação da radioterapia ao tratamento. Na última década, novos medicamentos mais eficazes para matar células tumorais foram descobertos, o que tem melhorado muito a chance de o paciente não mais ter recidiva da doença e ficar, portanto, curado. Mesmo quando a doença já é metastática (está fora do intestino, por exemplo, com um nódulo no fígado), a doença ainda pode ser curada, graças a melhores drogas disponíveis e a melhores técnicas cirúrgicas. Por definição, sempre que a doença é ressecável (operável) ela é potencialmente curável. Para pacientes incuráveis (nos quais a doença não mais é ressecável), dispomos de várias drogas com boa atividade antitumoral, não só quimioterápicos, mas também medicamentos chamados de "terapias-alvo” que alvejam determinadas proteínas das células tumorais e drogas que impedem o crescimento de vasos que iriam nutrir o tumor em crescimento. Com o uso sequencial destas diversas opções de tratamento, pacientes com doença metastática não ressecável praticamente dobraram o tempo de sobrevida em relação ao que ocorria há 10 anos. Como ocorre com diversos outros tipos de câncer metastático para os quais se consegue prolongar a sobrevida por alguns anos, estes anos podem significar uma chance para o aparecimento de novas e mais eficientes estratégias de tratamento.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>http://www.oncoguia.org.br/conteudo/artigo-cancer-de-intestino-colorretal-da-prevencao-ao-tratamento-e-cura/565/8/</p><p>https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/3143</p><p>http://www.oncoguia.org.br/conteudo/sinais-e-sintomas-do-cancer-colorretal/533/179/</p><p>http://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://cdn.publisher.gn1.link/rbm.org.br/pdf/v56a02.pdf</p><p>Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Cancer José Alencar Gomes da Silva, INCA - Estimativa 2016, 124 p. Disponível em http://www.inca. gov.br/estimativa/2014/sintese-de-resultadoscomentarios.asp</p><p>http://rbm.org.br/details/289/pt-BR/cancer-colorretal-no-brasil--perspectivas-para-deteccao-precoce#:~:text=C%C3%82NCER%20COLORRETAL%20COMOPROBLEMA%20DE%20SA%C3%9ADE,9%2C2%25%20do%20total.</p><p>https://www.scielo.br/j/ag/a/T8ddkyGc7tgMCqVBsgN933r/?lang=pt</p>