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DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Profa. Tânia Spada Prof. Dr. Bruno Pinheiro 2 SUMÁRIO 1 CRESCIMENTO: CONCEITOS BÁSICOS, ASPECTOS FISIOLÓGICOS E FATORES INFLUENCIADORES ........................................................................................................ 3 2 DESENVOLVIMENTO: CONCEITOS BÁSICOS E FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR ....................................................................................................................... 19 3 ASPECTOS FÍSICOS, COGNITIVOS E PSICOSSOCIAIS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA ........................................................................................................... 33 4 ASPECTOS FÍSICOS, COGNITIVOS E PSICOSSOCIAIS NA VIDA ADULTA ....................... 53 5 PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM MOTORA ............................................................... 64 6 APRENDIZAGEM MOTORA: LATERALIDADE, INSTRUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA ...................................................................................................................... 77 3 1 CRESCIMENTO: CONCEITOS BÁSICOS, ASPECTOS FISIOLÓGICOS E FATORES INFLUENCIADORES Crescimento é um processo físico que ocorre com os seres humanos. Durante as duas primeiras décadas de vida, a principal atividade do organismo humano é “crescer” e “desenvolver-se”. O profissional de educação física deve entender as etapas do crescimento e sua relação com a prática de atividades motoras, aprender a monitorar o crescimento, e conhecer fatores intrínsecos e extrínsecos que podem influenciar nesse processo para favorecer o crescimento de seus alunos. Fonte: Mesquita (2016). 1.1 Crescimento físico e fatores que influenciam no crescimento O crescimento se refere ao aumento do tamanho do corpo e de suas partes durante o processo de maturação. Trata-se de transformações progressivas de cunho quantitativo como o aumento de altura e envergadura. Essas transformações resultam da multiplicação e da diferenciação celular que determinam alterações progressivas nas dimensões do corpo inteiro ou de partes e segmentos específicos, do nascimento à idade adulta. O crescimento normal de uma criança depende de diferentes fatores, e qualquer alteração em um desses fatores pode levar à falha do crescimento. Os fatores, a seguir, relacionados à idade da criança podem ser determinantes para o crescimento adequado: 4 Crescimento pré-natal: os principais determinantes do crescimento fetal são tamanho do útero, função placentária, nutrição materna, insulina, fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs) e proteínas de ligação ao IGF (IGFBPs) (BARGMAN; VOGIATZI, 2018); Crescimento pós-natal: o hormônio do crescimento, hormônios da tireoide, nutrição e insulina desempenham papéis importantes nesse momento (BARGMAN; VOGIATZI, 2018); Crescimento puberal: os hormônios sexuais exercem importantes efeitos de crescimento durante a puberdade, além de outros fatores, como hormônio de crescimento, hormônios da tireoide, nutrição e insulina (BARGMAN; VOGIATZI, 2018). Os fatores que podem influenciar no crescimento podem ser divididos em intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais). Os fatores intrínsecos ou genéticos estão relacionados à influência de componentes genéticos na determinação dos níveis de crescimento físico. Apesar da forte influência da genética no processo de crescimento, os fatores ambientais podem modificar desfavoravelmente o que o patrimônio genético estabeleceu como predeterminante. Já os fatores extrínsecos ou ambientais estão relacionados com alimentação, saúde, higiene, habitação e demais cuidados gerais com a criança. O processo de crescimento pode ser influenciado pelo estilo de vida do ser humano, hábitos saudáveis, como alimentação saudável, sono adequado e exercício físico leve e moderado, que estimulam positivamente o crescimento e devem ser incentivados. 5 Exercício Atividades físicas rotineiras, que podem ser realizadas por meio de brincadeiras, educação física escolar e esportes são positivas para o desenvolvimento da criança. A atividade física estimula a mineralização óssea contribuindo para ossos mais fortes, aumenta a força muscular, reduz a gordura corporal e beneficia o desenvolvimento físico, também desenvolvendo os aspectos psicossociais e cognitivos. Os esportes, os jogos e as brincadeiras promovem a interação social, possuem regras, ensinam limites e provocam emoções como alegria e raiva. A prática dessas atividades requer criatividade, raciocínio, uso de linguagem e memória, entre outras habilidades, estimulando assim o desenvolvimento cognitivo. Por outro lado, o exercício, quando realizado de maneira indevida, pode ter efeitos negativos no crescimento. A prática de exercícios físicos, tanto de força quanto aeróbicos de impacto, proporcionam aumento da densidade mineral, porém o exercício físico extenuante, principalmente quando associado à restrição dietética, pode afetar o crescimento, o desenvolvimento puberal, a função reprodutiva e a mineralização óssea (ALVES; VILLAS BOAS, 2008). Nutrição Sabemos da importância de uma alimentação balanceada e saudável para o bom desenvolvimento e manutenção da saúde, porém, infelizmente, muitas crianças não têm acesso a uma boa nutrição. A má nutrição pode interromper o processo de crescimento e pode desencadear doenças que o atrapalham. Crianças mal nutridas durante um longo período de tempo, principalmente na primeira infância, não conseguem atingir os padrões de crescimento de sua faixa etária. Esse problema está relacionado ao nível socioeconômico e ocorre em sua maioria em países em desenvolvimento. O excesso de alimentação também pode prejudicar o desenvolvimento. A obesidade infantil é um sério problema em países desenvolvidos, o alto consumo de açúcar e farinhas pode levar a problemas de saúde futuros, além da saúde física. A obesidade também pode acarretar problemas psicossociais. 6 Sono O sono adequado é necessário para que as crianças cresçam e se desenvolvam. É importante tanto para a saúde física quanto para a saúde mental. Dormir o suficiente favorece o crescimento, melhora a atenção, o comportamento, a aprendizagem e a memória. Durante o sono, ocorre o relaxamento do corpo e da mente, são liberados hormônios do crescimento (GH) e a memória é consolidada (WANG, 2018). A má qualidade do sono da criança nos primeiros anos de vida tem efeitos negativos sobre o desenvolvimento físico e cerebral, o comportamento, o humor, as emoções, a memória e o desempenho escolar (WANG, 2018). A falta de sono adequado pode atrapalhar o desenvolvimento, causar problemas de saúde e de comportamento, como obesidade e dificuldades emocionais. A associação entre menor duração de sono e risco para sobrepeso e obesidade está bem estabelecida para todas as faixas etárias da pediatria. Problemas de sono podem estar relacionados a dificuldades emocionais e agressão (EL HALAL; NUNES, 2018). O desenvolvimento cognitivo também pode ser prejudicado pela má qualidade do sono. A falta de sono em crianças de até 3 anos pode afetar as habilidades para leitura, matemática e de percepção espacial (WANG, 2018). Crianças que dormem quantidades adequadas de horas por dia têm seu desenvolvimento físico, mental e emocional favorecidos. Dormir o suficiente resulta em melhor atenção, comportamento, aprendizagem e memória, dizem os especialistas (WANG, 2018). Influência socioeconômica Crianças que crescem em condições socioeconômicas desfavoráveis podem apresentar estatura menor quando comparadas a crianças da mesma faixa etária em melhores condições socioeconômicas. Em países em desenvolvimento, a baixa estatura é frequentemente uma consequência da desnutrição. As taxas de prevalência de déficit de estaturaem adolescentes e crianças variam de 9% a 11% na América do Sul e 30% em partes da África (BARGMAN; VOGIATZI, 2018). 7 1.2 Formação de uma nova vida: crescimento pré-natal O crescimento tem início no momento da concepção, com a união do espermatozoide com o óvulo, percorrendo uma sequência ordenada ao longo do período pré-natal. Quando o espermatozoide rompe a membrana do óvulo, ocorre a fertilização. O espermatozoide e o óvulo têm 23 cromossomos cada um, que carregam as informações genéticas dos pais. Quando essas células se unem, formam o zigoto, um ovo com 46 cromossomos, com a herança genética recebida dos pais como cor dos olhos e da pele. Fonte: Martorelli et al. (1978) apud Portal Educação (2012). SAIBA MAIS Tanner (1960) estudou 300 pares de gêmeos homozigotos, criados separadamente e em condições socioeconômicas bem diferentes. Observou variação média de 6 cm de altura quando adultos, sendo que os indivíduos criados em ambiente carente e com acesso limitado às ações de saúde foram sempre mais baixos que os seus irmãos. Estudo de Martorell et al. (1978) analisou a estatura média de meninos com níveis socioeconômicos altos e baixos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, e mostrou que crianças com nível socioeconômico mais baixo apresentam menor estatura, como mostra o gráfico a seguir. 8 A fase pré-natal é a fase na qual o crescimento é mais acelerado e é constante. O bebê ainda é frágil e tem alta vulnerabilidade às influências ambientais. O desenvolvimento no período pré-natal, segundo Gallahue (2013), pode ser dividido em quatro fases: 1) Período zigótico (concepção à primeira semana): neste período, ocorre a concepção e o zigoto recebe a herança genética de seus pais, porém, apesar da herança genética, o ambiente pode influenciar o desenvolvimento. Durante a primeira semana, o zigoto continua praticamente do mesmo tamanho. No final da primeira semana, tem cerca de 2,5 mm de largura. Estima-se que apenas 50% dos ovos fertilizados sobrevivem no primeiro semestre teoricamente ajudando a garantir apenas a sobrevivência dos zigotos mais ajustados. 2) Período embrionário (da segunda semana ao segundo mês): nesta fase, ocorre a implantação do embrião na parede uterina que recebe nutrição pela placenta e cordão umbilical. É um período de alta vulnerabilidade para malformação congênita. Os sistemas, os órgãos e as estruturas corporais básicas se formam. No final do primeiro mês, o embrião tem cerca de 6 mm e 28 g, tem a forma de uma lua crescente e seu coração começa a bater. No final do segundo mês, o embrião tem cerca de 4 cm. Começa a desenvolver a face, o pescoço, os dedos das mãos e dos pés e os órgãos sexuais, e o corpo começa a ter uma forma mais humana. 3) Início do período fetal (do terceiro ao sexto mês): nesta fase, o crescimento continua rápido. No final do terceiro mês, o feto tem cerca de 8 cm, o estômago e os rins começam a funcionar, são sentidas as primeiras ações reflexas, o feto abre e fecha a boca, engole, fecha as mãos e pode até chupar os dedos. No quarto mês, o feto quase dobra de tamanho chegando de 15 cm a 20 cm e pesa em torno de 171 g. O esqueleto cartilaginoso começa a se transformar em ossos. No quinto mês, tem de 20 cm a 26 cm e cerca de 227 g. Aparecem a pele, as unhas e o cabelo. No final do sexto mês, o feto tem cerca de 900 g e 36 cm, já está com a estrutura formada, porém os órgãos não estão amadurecidos. 9 4) Final do período pré-natal (sétimo ao nono mês): a partir do sétimo mês até o final da gestação, o feto triplica de tamanho e ganha peso rapidamente, depósitos de tecido adiposo são distribuídos pelo corpo, o cérebro se torna mais ativo e cada vez mais controla os sistemas do corpo. Fonte: Pereira (2013). Figura 1.1 – Crescimento pré-natal. 1.3 Crescimento infantil O crescimento no início da infância é expressivo. Ocorre a mudança do corpo frágil do bebê para o corpo da criança, autônoma e ereta. Papalia e Feldman (2013) classificam o período da infância em três fases de acordo com a faixa etária: primeira infância, segunda infância e terceira infância. 1.3.1 Primeira infância A primeira infância vai do nascimento aos 3 anos. Nessa fase, o crescimento físico é rápido. Alguns aspectos do crescimento na primeira infância são: 10 Período neonatal (do nascimento até a quarta semana): o bebê nascido no período normal tem em média de 48 cm a 53 cm, seu peso pode variar de acordo com condições hereditárias e ambientais. O crescimento ótimo nessa fase depende de nutrição adequada e boa saúde; Início do período do bebê (quarta semana a 1 ano): nessa fase, a criança ganha peso e altura rapidamente. Nos primeiros 6 meses, ocorre um processo de “finalização”, com leves mudanças nas proporções corporais; Final do período do bebê (de 1 a 2 anos): o crescimento físico continua com ritmo rápido. O crescimento da cabeça diminui, o do tronco continua com ritmo moderado e o dos membros ocorre em ritmo mais acelerado. 1.3.2 Segunda infância A segunda infância vai dos 3 aos 6 anos de idade. Nessa fase, o crescimento é constante, a aparência torna-se mais esguia, se assemelhando mais à do corpo de um adulto. Alguns aspectos do crescimento na segunda infância são: Nessa fase, as crianças crescem entre 5 cm e 7,6 cm, e ganham aproximadamente de 1,8 kg a 2,7 kg por ano; Com aproximadamente 3 anos, as crianças começam a perder a forma roliça, característica dos bebês, e assumem uma postura mais esguia e atlética; Os músculos abdominais tornam-se mais fortes; O tronco, os braços e as pernas tornam-se mais longos. Você sabia? Você sabia que a maior causa de morte de crianças na segunda infância nos Estados Unidos vem de acidentes? Estar atento e eliminar todos os possíveis riscos é essencial para a prevenção. 11 1.3.3 Terceira infância A terceira infância vai dos 6 aos 11 anos de idade. Nessa fase, o crescimento torna-se mais lento. Alguns aspectos do crescimento na terceira infância são: Nessa fase, as crianças crescem entre 5 cm e 7,5 cm por ano e aproximadamente dobram de peso; No final dessa fase, o corpo da criança se assemelha mais ao de um adulto. Fonte: Ministério da Saúde (2002) apud Portal Educação (2012). 1.4 Crescimento na adolescência e maturação biológica A adolescência é a fase do desenvolvimento humano que ocorre após a puberdade, na qual ocorrem mudanças expressivas como o estirão do crescimento e a maturação sexual. 1.4.1 Puberdade A puberdade é o período de transição da infância para a adolescência, no qual ocorrem rápido crescimento, desenvolvimento das características sexuais e início das funções reprodutivas. No homem, ocorre a hipertrofia do pênis e crescimento dos testículos. Sequencialmente, ocorre estirão do crescimento, formação dos pelos axilares, engrossamento da voz, formação do esperma maduro, surgimento dos pelos faciais e aumento dos pelo do corpo (GALLAHUE, 2013). 12 Na mulher, ocorre estirão do crescimento, aumento dos seios, surgimento dos pelos pubianos e crescimento da genitália. Em seguida, ocorre o surgimento dos pelos axilares, a menarca (primeiro fluxo menstrual) e a maturação dos óvulos, levando à capacidade de engravidar (GALLAHUE, 2013). 1.4.2 Estirão do crescimento Período definido por crescimento acelerado que geralmente dura quatro anos e meio. Nos homens, ocorre por volta dos 11 anos de idade e termina aos 17 ou 18 anos, e nas mulheres, inicia mais cedo, por volta dos 9 anos, com o pico aos 11 e o fim aos 16 anos (GALLAHUE, 2013). 1.4.3 Maturação biológica A maturação corresponde a sucessivas modificações que se processam em determinado tecido, sistema ou função até que seu estágio final seja alcançado. Alguns indicadores podem ser utilizadospara a identificação da maturação biológica: Maturação dental: idade de erupção dos dentes temporários e permanentes; Maturação sexual: idade do aparecimento das características sexuais secundárias; Maturação óssea: idade de ossificação e fusões epifisais. 1.4.3.1 Idade óssea A idade óssea é uma maneira de descrever o grau de maturação dos ossos de uma criança. Conforme os níveis de esteroides sexuais aumentam durante a puberdade, a maturação dos ossos acelera, assim, os ossos vão se aproximando do tamanho e da forma que terão na idade adulta. A maturação óssea pode ser observada pelo afinamento da camada de cartilagem (cartilagem do crescimento) presente nas extremidades dos ossos longos. 13 Fonte: Caio Jr. (2016). Figura 1.2 – Maturação óssea 1.4.3.2 Maturação sexual A maturação sexual é a capacidade do ser humano em se reproduzir, ou seja, ter filhos. O começo do estirão de crescimento e a puberdade marcam a transição da infância para a maturidade reprodutiva ou sexual. Surgem características sexuais como o aumento das mamas e aparecimento dos pelos púbicos nas mulheres e crescimento dos testículos e surgimento de pelos púbicos nos homens. 1.5 Monitoração do crescimento A monitoração do crescimento pode ser realizada pela avaliação de medidas para identificar se a criança tem padrão de crescimento adequado para sua faixa etária. Para a Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995), níveis de crescimento físico de jovens podem ser considerados importantes indicadores de saúde e qualidade de vida individual e coletiva de uma comunidade. Indicadores associados ao crescimento físico podem auxiliar na detecção de eventuais agressões relacionadas à saúde de crianças e adolescentes. Os profissionais de Educação Física estão em posição privilegiada de modo que podem acompanhar indicadores de crescimento e desenvolvimento, considerando seu envolvimento com aspectos educacionais e de promoção da saúde na população jovem. 14 1.5.1 Curvas de crescimento As curvas de crescimento podem ser um importante instrumento técnico para medir, monitorar e avaliar o crescimento de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. Desnutrição, sobrepeso, obesidade e condições associadas ao crescimento e à nutrição da criança podem ser detectadas e encaminhadas para tratamento precocemente. A monitoração do crescimento físico em crianças e adolescentes torna-se uma importante ferramenta para a otimização do desenvolvimento orgânico. Para avaliar o crescimento da criança com o uso das curvas de crescimento, é necessário encontrar o ponto de intersecção entre a altura (eixo vertical, em centímetros) e a idade da criança ou adolescente (eixo horizontal, em meses e anos). Em seguida, é só consultar a tabela com os percentis para interpretar o resultado encontrado (WHO, 2018). 15 Fonte: WHO (2018). Fonte: WHO (2018). 16 Se a estatura da criança/adolescente se aproximar do... percentil 3 ela está entre as 3% mais baixas da população percentil 15 entre as 15% mais baixas percentil 50 na média de estatura percentil 85 entre as 15% mais altas percentil 97 entre as 3% mais altas Fonte: WHO (2018). 17 Conclusão O crescimento se inicia desde a concepção e apresenta características diferentes em cada etapa do desenvolvimento. O período pré-natal é marcado pela concepção e formação do feto até o nascimento. Em seguida, ocorre o período neonatal, caracterizado pelo crescimento do bebê após o nascimento. Nessa fase, o crescimento é rápido e o bebê se transforma em uma criança com postura ereta e maior autonomia. No final da infância, ocorre a puberdade marcada pela maturação sexual e transição da infância para a adolescência. Alguns fatores de origem genética ou fatores relacionados aos cuidados com a criança podem atrapalhar o crescimento. Identificar e combater esses fatores negativos é de fundamental importância para que o crescimento ocorra de maneira adequada. Referências ALVES, C.; VILLAS BOAS, R. L. Impacto da atividade física e esportes sobre o crescimento e puberdade de crianças e adolescentes. Rev. Paul. Pediatr., v. 26, n. 4, p. 383-91, 2008. BARGMAN, R.; VOGIATZI, M. Evaluation of short stature. Epocrates, 1 maio 2018. Disponível em: <https://bit.ly/3qivzWd>. Acesso em: 18 nov. 2018. CAIO JR., J. S. Crescer envolvendo baixa estatura: maturação do esqueleto “idade óssea” infantil/ juvenil/ pré-púbere. 14 mar. 2016. Disponível em: <https://bit.ly/3sr5SEL>. Acesso em: 19 fev. 2018. GALLAHUE, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. MARTORELL, R. et al. Small stature in developing nations: its causes and implications. Growth retardation, nutrient deficiencies. Agris, v. 2, p. 142-56, 1978. 18 MESQUITA, A. As fases do desenvolvimento infantil. Revista Educar, 4 out. 2016. Disponível em: <https://issuu.com/revista-educar/docs/106_issuu>. Acesso em: 14 jan. 2021. PAPALIA, D. E.; FELDMAN Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. PEREIRA, N. B. Processos patológicos III. Patologia Geral na Web, 2013. Disponível em: <https://patologia-na-web.webnode.com/processos-patologicos-iii/>. Acesso em: 19 fev. 2019. PORTAL EDUCAÇÃO. Fatores que influenciam no crescimento. 11 abr. 2012. Disponível em: <https://bit.ly/35T34ab>. Acesso em: 19 fev. 2019. TANNER, J. M. Growth e Development. 2. ed. Ney York, London: J. M. Plenum Press, 1960. v. 2. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Physical Status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva, Switzerland: WHO, 1995. (WHO Technical Report Series, n. 854). WORLD HEALTH ORGANIZATION. The WHO Child Growth Standards. Disponível em: <http://www.who.int/childgrowth/en/>. Acesso em: 19 nov. 2018. http://www.who.int/childgrowth/en/ 19 2 DESENVOLVIMENTO: CONCEITOS BÁSICOS E FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR O desenvolvimento é uma sequência de modificações em órgãos e sistemas do organismo humano que induzem ao aperfeiçoamento de suas funções. Engloba transformações quantitativas e qualitativas, resultantes de aspectos associados ao processo de crescimento físico, maturação e às experiências vivenciadas como o desempenho motor, emocional, social e cognitivo. O desenvolvimento continua durante toda a vida, e cada parte do ciclo de vida tem suas próprias características e valores especiais. Fonte: Mesquita (2016). 2.1 Conceitos básicos sobre desenvolvimento e suas fases: apresentando o modelo da ampulheta de Gallahue e seus fatores hereditários e ambientais A fim de se compreender melhor o desenvolvimento motor e a progressão do controle do movimento, foi elaborada uma série de modelos teóricos. Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) propõem um modelo de sequência representado por uma ampulheta, com o objetivo de servir de base para a compreensão da aquisição de habilidades motoras especializadas (esportivas). Dentro da ampulheta, o conteúdo da vida é a areia, e com o passar do tempo a areia vai caindo e preenchendo o fundo da ampulheta, se referindo ao desenvolvimento. A ampulheta representa o desenvolvimento motor no decorrer da vida e há classificação por fases de desenvolvimento. 20 Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). Figura 2.1 – Modelo de sequência representado por uma ampulheta 2.1.1 Fatores hereditários e ambientais que influenciam o desenvolvimento motor No modelo da ampulheta de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) ‒ ver figura da ampulheta a seguir ‒, há dois recipientes representando as influências da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento motor: Hereditário (com tampa): no momento da concepção, a nossa estrutura genética é determinada, e a quantidade de areia no recipiente é fixa, ou seja, as influênciashereditárias são recebidas apenas na concepção; Ambiental (sem tampa): a areia pode ser acrescentada ao recipiente e à nossa ampulheta; podemos abaixar-nos sobre a areia (ambiente) e pegar mais areia para colocar na ampulheta, ou seja, podemos manipular as influências ambientais. 21 Fonte: Gallahue, Osmun e Goodway (2013). Figura 2.2 – Ampulheta de Gallahue 2.2 Fases do desenvolvimento motor 2.2.1 Fase motora reflexiva Os movimentos reflexos são os primeiros que o feto realiza. São movimentos involuntários que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. Gallahue, Osmun e Goodway (2013) dividem essa fase em dois estágios: Estágio de codificação de informações (do período fetal a 4 meses) Esse estágio se caracteriza por reações involuntárias a uma série de estímulos que servem de recurso primário do bebê para coletar informações. Nessa fase, o bebê é capaz de reunir informações, buscar alimento e encontrar proteção por meio do movimento. 22 Estágio de decodificação de informações (de 4 meses a 1 ano) Esse estágio se caracteriza pela inibição gradual de muitos reflexos à medida que o desenvolvimento cerebral ocorre. Inicia o desenvolvimento do controle voluntário dos movimentos do bebê com as informações que foram coletadas e não apenas como resposta a estímulos. 2.2.2 Fase motora rudimentar Os movimentos rudimentares são a primeira forma de movimento voluntário. Esses movimentos podem ser estabilizadores (controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco), manipulativos (alcançar, agarrar e soltar), e movimentos locomotores (arrastar- se, engatinhar e caminhar). A fase motora rudimentar é dividida em dois estágios (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013): Estágio de inibição do reflexo (do nascimento a 1 ano) O desenvolvimento do córtex cerebral e a diminuição das restrições ambientais fazem com que vários reflexos sejam inibidos e aos poucos desapareçam. Os reflexos primitivos e posturais são substituídos por comportamento motor voluntário. Os movimentos parecem descontrolados e não refinados. Estágio pré-controle (de 1 a 2 anos) Em torno de 1 ano, o bebê começa a ter maior precisão e controle dos movimentos. Nesse estágio, as crianças aprendem a adquirir equilíbrio, a manipular objetos e a locomover-se no ambiente com grande grau de proficiência e controle. 2.2.3 Fase motora fundamental Essa fase representa um período de descoberta e experimentação das capacidades motoras. Caracteriza-se pela descoberta de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos realizados inicialmente isolados e depois de modo combinado. 23 A fase motora fundamental é dividida em três estágios (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013): Estágio inicial (de 2 a 3 anos) São as primeiras tentativas da criança para executar uma habilidade fundamental. O movimento é caracterizado pela ausência de determinadas partes ou por uma sequência inadequada, pelo uso muito restrito ou exagerado do corpo e por má coordenação e ritmo. Estágio elementar emergente (de 3 a 5 anos) Estágio de maior controle motor e coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Apesar de mais bem coordenados, os padrões de movimento em geral são exagerados ou restritos. Estágio proficiente (de 5 a 7 anos) Caracteriza-se por performances eficientes, coordenadas e controladas. Algumas crianças podem alcançar a proficiência pela maturação e o mínimo de incentivo ambiental, porém, para a maioria, quando não são oferecidas oportunidades de prática, fica extremamente difícil alcançar a proficiência dos movimentos fundamentais, inibindo a aplicação do desenvolvimento seguinte. De acordo com as fases do desenvolvimento motor, a criança com 7 anos já está no estágio maduro, sendo a idade de 6-7 anos o ponto de transição. A partir desse ponto, é necessário repensar quais estímulos motores devemos aplicar como iniciação esportiva. 2.2.4 Fase motora especializada Nessa fase, o movimento se aplica a atividades motoras complexas usadas na vida diária, nas brincadeiras e nos esportes. Os movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos são progressivamente refinados, combinados e elaborados para o uso em situações mais exigentes, como pular corda e jogar queimada. A fase motora especializada é dividida em três estágios (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013): 24 Estágio de Transição (de 7 a 10 anos) Durante a fase de transição, a criança começa a combinar os movimentos fundamentais para executar habilidades especiais, tem interesses por vários esportes e tende a comparar o próprio desempenho com o de outros. Estágio de Aplicação (de 11 a 13 anos) Com base ampliada de experiências, o indivíduo nessa fase é capaz de fazer numerosos aprendizados e tomar decisões de participação de acordo com fatores próprios, ambientais e da tarefa. Essa é a época para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos avançados e em esportes escolhidos. O indivíduo tem maior consciência sobre o movimento e melhora a competência através de treinamento. Estágio de utilização ao longo da vida (a partir dos 14 anos e segue por toda a vida) Representa o auge do desenvolvimento motor e é caracterizado pelo uso do repertório de movimentos adquiridos pelo indivíduo por toda a vida. Ocorre a escolha de atividades para participação regular. A falta de incentivo, equipamentos e materiais pode afetar o desenvolvimento nesse estágio. 2.3 Desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais No início da infância, começa o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais que são a base para atingir a proficiência nos esportes, jogos, lutas e danças. As crianças que desenvolvem a competência motora em habilidades fundamentais têm maior chance de sucesso na fase seguinte do desenvolvimento motor, ou seja, maior proficiência na fase especializada. As habilidades fundamentais são: manipulação, locomoção e estabilidade (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013). 25 2.3.1 Habilidades de manipulação Gallahue, Osmun e Goodway (2013) descrevem as habilidades de manipulação como aquelas que envolvem a capacidade de manipular objetos, como bola, arcos e bastões, de forma controlada ou precisa. Essas habilidades podem ser divididas em: Arremessar: lançar um objeto é uma das habilidades mais úteis; muitos esportes e diversas atividades praticadas utilizam essa habilidade; Pegar: reter a possessão de um objeto; em geral, utilizada em esportes, jogos e atividades do dia a dia; Chutar: rebater com o pé, utilizado em muitos esportes; Volear: forma de chute quando o pé bate em uma bola aérea; é uma habilidade mais complexa; Rebater: habilidade de propulsão, com características diferentes em cada esporte. 2.3.2 Habilidades de locomoção Consiste em um grupo de habilidades motoras fundamentais que permite que o indivíduo se movimente pelo espaço. O desenvolvimento fundamental dessa habilidade possibilita que a criança seja capaz de explorar o potencial de seu corpo quando se movimenta no espaço (GALLHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013). São habilidades de locomoção: Correr: projetar o corpo para frente e alternar os pés como base é uma das habilidades locomotoras mais importantes; é usada em quase todos os esportes e jogos; Galopar: é uma habilidade rítmica; ocorre um passo adiante junto com um passo de lançamento de outro pé; Skipping: consiste em dar um passo-saltito com um pé seguido de um passo- saltito com o outro; é uma habilidade rítmica e bipedal; Saltar: projeção do corpo que envolve decolagem e aterrissagem sobre os pés; 26 Saltitar: projeção do corpo em que a criança deve decolar e aterrissar no mesmo pé. 2.3.3 Habilidades estabilizadoras As habilidades estabilizadoras correspondem a ações motoras para a obtenção e manutenção do equilíbrio. O equilíbrio é necessário paraa prática de diversas atividades como caminhada, corrida, ciclismo, ginástica olímpica, surfe, skate etc. 2.3.4 Fatores que influenciam o desempenho motor Os fatores ambientais e o objetivo da tarefa atuam sobre o indivíduo quando ele se movimenta, podendo interferir no resultado desse movimento. Segundo Gallahue, Osmun e Goodway (2013), esses fatores podem ser divididos em: Fatores individuais: são as características próprias de quem executa a ação, suas capacidades e habilidades como coordenação mão-olho, controle motor, motivação. Exemplo: coordenação mão-olho e controle motor ao arremessar uma bola; Fatores ambientais: são as características do ambiente onde se realiza a ação, velocidade da bola arremessada, presença de outros jogadores, distância do objeto arremessado, altura de um obstáculo. Exemplo: altura da cesta ao se arremessar a bola e presença de um jogador à frente; Natureza da tarefa: é o objetivo que se quer alcançar, o propósito do movimento como apanhar uma bola, arremessar um objeto em um determinado lugar, saltar um obstáculo. Exemplo: arremesso a uma cesta de basquete. 27 SAIBA MAIS Leia o artigo “Desenvolvimento motor: fatores associados e implicações para o desenvolvimento infantil” de Glauber Carvalho Nobre, Paulo Felipe Ribeiro Bandeira e Larissa Wagner Zanella. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/actabrasileira/article/download/2833/2099 2.4 Desenvolvimento das habilidades motoras especializadas As habilidades motoras especializadas são movimentos fundamentais aperfeiçoados e adaptados para as especificidades das atividades esportivas, recreativas e do cotidiano. A maioria das crianças de 6 anos consegue executar a maioria das habilidades motoras fundamentais na fase proficiente e iniciar a transição para a fase especializada. Porém, muitos adolescentes não desenvolvem adequadamente suas habilidades motoras por falta de prática ou por má qualidade da prática. O padrão de muitos adolescentes e adultos caracteriza um estágio elementar do desenvolvimento se comparado a uma criança (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013). Para melhor desempenho, a progressão das fases do desenvolvimento deve ser bem- sucedida. 2.4.1 Barreira de proficiência Para Seefeldt (1980 apud GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013), há supostamente uma barreira de proficiência entre a fase fundamental e a especializada. Ocorre uma dificuldade em realizar um movimento especializado, pois a transição de uma fase para a outra depende da aplicação de padrões proficientes de movimento, caso contrário, a habilidade será prejudicada. 28 2.4.2 O desenvolvimento das habilidades motoras especializadas nos diferentes estágios O progresso de um estágio para outro depende do desenvolvimento das habilidades fundamentais. O jovem não precisa necessariamente ser proficiente em todos os movimentos fundamentais para avançar nos estágios do movimento especializado, por exemplo, pode realizar um arremesso de forma proficiente, mas não ser capaz de realizar habilidades de locomoção com a mesma proficiência. As características da natureza da tarefa, do ambiente e do indivíduo podem influenciar a passagem de um estágio para outro (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2003). Vamos falar dos estágios brevemente: Estágio de transição: durante esse estágio ocorrem as primeiras tentativas em aperfeiçoar os movimentos e combinar as diferentes habilidades de forma proficiente; Estágio de aplicação: aumenta a consciência dos valores e limitações físicas e a ênfase em melhorar a proficiência. Ocorre a consolidação das habilidades táticas e técnicas esportivas, e o aumento da força e resistência muscular e da resistência aeróbica devido à maturação biológica, propiciando maior condicionamento físico; Estágio de utilização ao longo da vida: o objetivo dessa fase é a maximização da performance das habilidades adquiridas. As atividades realizadas nessa fase são baseadas em interesses pessoais e, em muitos casos, a realização de práticas fica reduzida. 29 2.5 Desenvolvimento motor: fatores associados e implicações para o desenvolvimento infantil 2.5.1 Melhorias na aprendizagem O ensinamento das habilidades motoras deve se basear nas necessidades e no potencial de cada aluno, conhecer o seu nível de desenvolvimento, avaliar o nível de desempenho motor e proporcionar experiências de aprendizagem necessárias e prazerosas. Para o bom desenvolvimento especializado, devem-se conhecer quais aspectos que possam limitar ou ampliar o aprendizado motor (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013). Segundo Gallahue, Osmun e Goodway (2013), há três conceitos a serem seguidos para melhorar o aprendizado: 1. Controle do movimento: agrega o conhecimento das habilidades de manipulação, locomoção e estabilidade juntamente com o nível de aprendizado do aluno, se é iniciante, intermediário ou avançado; 2. Controle emocional: inclui autodisciplina, responsabilidade, autocontrole e interação com os outros; 3. Prazer no aprendizado: motivação e vontade de aprender. 2.5.2 Prática esportiva na infância e adolescência A prática de exercícios e esportes é fundamental para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Os benefícios da prática são extensos, como melhora do condicionamento físico, da saúde, há influência positiva no crescimento, melhora da autoestima, das relações sociais, da disciplina, do autocontrole, entre tantos outros. Os adolescentes que praticam atividade física regular são mais produtivos, lidam com maior facilidade com os problemas causados pelas grandes transformações dessa fase e têm menos risco de terem depressão (SEGATTO, 2017). Além dos benefícios físicos e emocionais, a prática de exercícios melhora o desenvolvimento cognitivo, aumenta o nível de concentração e atenção, a disposição e a motivação (SEGATTO, 2017). 30 2.5.3 Exigências, incentivo e motivação Quando a prática esportiva deixa de acontecer por motivação intrínseca e passa apenas a ser motivada por motivos externos, ou seja, quando a prática deixa de acontecer por diversão e prazer e passa a ser por obrigação e cobrança, essa prática pode trazer malefícios aos praticantes. Muitas vezes, os pais projetam seus próprios planos e desejos em seus filhos e cobram resultados, causando pressão psicológica. Quando esses jovens atletas não são bem orientados e sofrem pressão, podem desenvolver a síndrome de burnout, ou seja, desgaste extremo, gerando desmotivação e desistência na prática (VOSER, 2018 apud REDAÇÃO GUIA DA SEMANA, 2018). 2.5.4 Alimentação e hidratação adequada Alimentação, hidratação e atividade física adequadas promovem bem-estar e saúde, além de melhorarem o desempenho e o rendimento do atleta (LAGACIONE, 2012). A má alimentação e a má hidratação podem ser prejudiciais aos jovens atletas. O ideal é se hidratar antes, durante e depois do exercício de acordo com a sede e as condições do ambiente (LAGACIONE, 2012). Quanto à alimentação, a dieta saudável deve equilibrar carboidratos, proteínas, gorduras e vitaminas essenciais para o organismo. Deve-se dar atenção ao período pré- competitivo, identificar esportes que exigem baixo peso corporal e competições onde há um limite de peso que exige perda rápida de massa pouco antes da competição. Além das recomendações ideais sobre alimentação saudável e hidratação, o profissional de Educação Física deve estar atento a possíveis transtornos alimentares como bulimia, anorexia e anorexia atlética, além de horários inadequados e sessões excessivas de treino (LAGACIONE, 2012). 31 Conclusão O processo de desenvolvimento motor é gradual e se inicia no começo da vida. O ser humano passa de um estágio para outro com o passar dos anos, aperfeiçoando seus movimentos. Fatores genéticos, ou seja, herdados dospais, e fatores externos como alimentação inadequada, falta ou excesso de exercícios e doenças podem atrapalhar o processo de desenvolvimento. Fazer com que a criança tenha boas condições de saúde e alimentação e fornecer estímulos e experiências para a prática irão favorecer seu desenvolvimento motor. O desenvolvimento motor, segundo Gallahue, Osmun e Goodway (2013), pode ser dividido em quatro fases: 1. Fase motora reflexiva (os movimentos reflexos são involuntários); 2. Fase motora rudimentar (primeira forma de movimento voluntário); 3. Fase motora fundamental (descoberta de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos); e 4. Fase motora especializada (refinamento dos movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos). As habilidades motoras especializadas são movimentos fundamentais aperfeiçoados. A maioria das crianças de 6 anos consegue executar a maioria das habilidades motoras fundamentais na fase proficiente e iniciar a transição para a fase especializada. O progresso de um estágio para outro depende do desenvolvimento das habilidades fundamentais. A prática esportiva por crianças e adolescentes proporciona diversos benefícios, porém cobranças excessivas, excesso de treinamento, má alimentação e má hidratação podem causar danos à saúde. 32 Referências BIDERMAN, I. ‘Estamos criando analfabetos motores’, afirma educador físico. Folha de S. Paulo, 11 set. 2012. Disponível em: <https://bit.ly/2MZoN9w>. Acesso em: 19 nov. 2018. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. LAGACIONE, A. C. et al. Importância da alimentação e hidratação para jovens atletas. Revisão de literatura. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, n. 171, ago. 2012. Disponível em: <http://www.efdeportes.com>. Acesso em: 20 nov. 2018. REDAÇÃO GUIA DA SEMANA. Atletas mirins: entre a saúde e o desgaste. Guia da Semana, 6 set. 2011. Disponível em: <https://bit.ly/2LQAbUS>. Acesso em: 19 nov. 2018. SEGATTO, M. Os benefícios dos hábitos esportivos na adolescência. O Estado de S. Paulo, 25 out. 2017. http://www.efdeportes.com/ 33 3 ASPECTOS FÍSICOS, COGNITIVOS E PSICOSSOCIAIS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA O crescimento e o desenvolvimento se iniciam no momento da concepção e continuam por toda infância e adolescência. Neste bloco, vamos estudar o desenvolvimento físico, psicossocial e cognitivo nas diferentes etapas do desenvolvimento. O desenvolvimento abrange tanto crescimento físico quanto as transformações de cunho qualitativo, como melhora da coordenação motora, melhora do equilíbrio, aumento de força etc. Além do desenvolvimento físico, há o desenvolvimento psicossocial relacionado a emoções, personalidade, temperamento e relações sociais da criança; e também o desenvolvimento cognitivo relacionado aos processos de pensamento, aprendizagem, memória, linguagem e comportamento. Fonte: Mesquita (2016). 3.1 Aspectos físicos, cognitivos e psicossociais na infância 3.1.1 Aspectos físicos, cognitivos e psicossociais na primeira infância A primeira infância vai do nascimento até os 3 anos de idade. Esta fase é marcada pela transformação de um ser frágil e dependente em uma criança em posição ereta e mais independente. 34 3.1.1.1 Desenvolvimento físico Nos três primeiros meses de vida, o crescimento é mais rápido e vai diminuindo após o segundo e o terceiro anos. O desenvolvimento das habilidades motoras também ocorre de maneira rápida, o cérebro se desenvolve e aumenta sua capacidade de executar tarefas mais complexas. A maioria das crianças senta-se sem apoio por volta dos 6,8 meses, fica em pé sem apoio aos 8,5 meses, anda bem com 14,9 meses, sobe escadas com 21,6 meses e consegue pular no mesmo lugar com 2,4 anos. A altura e o peso da criança têm forte influência hereditária, mas podem ser alterados pelo ambiente. Com 1 ano, a criança tem cerca de 76 cm e aos 2 anos cerca de 91 cm. A dentição começa por volta dos 3 ou 4 meses, fase na qual o bebê leva tudo à boca. Com 1 ano, a criança tem de 6 a 8 dentes, e aos 2 anos já tem todos os dentes (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.1.2 Desenvolvimento psicossocial Embora os bebês apresentem um padrão de desenvolvimento, desde o início cada um tem uma personalidade distinta. Os bebês podem ser alegres ou se irritar com facilidade. Há crianças que preferem brincar com outras e aquelas que querem brincar sozinhas (PAPALIA; FELDMAN, 2013). A partir desta fase, a personalidade é desenvolvida com base nas relações sociais, aumenta o interesse por outras crianças e são formados os vínculos afetivos com os pais e com outras pessoas. É formada a autoconsciência da criança, ela torna-se menos dependente e mais autônoma (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.1.3 Desenvolvimento cognitivo Ocorre o rápido desenvolvimento da compreensão e da linguagem, a criança aprende a usar símbolos e a resolver problemas por volta do final do segundo ano de vida (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 35 3.1.2 Aspectos físicos, cognitivos e psicossociais na segunda infância (3 a 6 anos) A segunda infância vai dos 3 aos 6 anos de idade, o crescimento e o desenvolvimento continuam a ocorrer de forma rápida. 3.1.2.1 Desenvolvimento físico O crescimento é constante, as crianças emagrecem e crescem rapidamente, e sua aparência torna-se mais esguia e mais parecida com a de um adulto. Aos 3 anos, os meninos têm cerca de 15,3 kg e 98 cm, aos 4 anos, 18,1 kg e 107 cm; aos 5 anos, 21 kg e 115 cm, e aos 6 anos, 23,7 kg e 121 cm. As meninas têm um padrão um pouco menor que os meninos. Aos 3 anos, tem 15,5 kg e 98 cm, aos 4 anos, 15,5 kg e 105 cm, aos 5 anos, 19,7 kg e 112 cm e aos 6 anos, 22,1 kg e 118 cm. O desenvolvimento motor é constante, aumenta a força, melhora a capacidade para correr, pular e jogar bola, e se aprimoram as habilidades motoras finas e gerais. Surge a preferência pelo uso de uma das mãos, direita ou esquerda (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.2.2 Desenvolvimento psicossocial Nesta fase, a criança torna-se mais independente, tem mais iniciativa e maior autocontrole, compreende mais as emoções e cresce o autoconhecimento. A identidade de gênero é desenvolvida. As brincadeiras neste período são mais imaginativas e mais elaboradas, com maior interação social (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.2.3 Desenvolvimento cognitivo As crianças desta fase têm o pensamento egocêntrico, mas aumenta a compreensão do ponto de vista dos outros. A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilógicas sobre o mundo. A inteligência, a memória e a linguagem são aprimoradas (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 36 3.1.3 Aspectos físicos, cognitivos e psicossociais na terceira infância (6 a 11 anos) A terceira infância vai dos 6 aos 11 anos de idade, o crescimento torna-se mais lento, porém continua expressivo. 3.1.3.1 Desenvolvimento físico Nesta etapa, ocorre o aumento da força física e o aprimoramento das habilidades motoras. As crianças crescem de 5 cm a 7,5 cm ao ano, o corpo das meninas retém mais tecido adiposo que o dos meninos. São comuns as doenças respiratórias, mas de um modo geral a saúde é melhor do que em qualquer outra fase do ciclo da vida (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.3.2 Desenvolvimento psicossocial As crianças desta fase dão grande importância aos colegas, ao autoconceito, ou seja, a opinião que a criança tem de si mesma torna-se mais complexa, afetando assim a sua autoestima (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.3.3 Desenvolvimento cognitivo O egocentrismo nesta etapa diminui. Aumentam as habilidades de memória e linguagem, e as crianças começam a pensar com lógica. Algumas crianças nesta faixa etária podem demonstrar necessidades educacionais, e talentosespeciais podem ser descobertos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 3.1.4 Aspectos físicos, cognitivos e psicossociais na puberdade A puberdade é o período de transição da infância para a adolescência na qual ocorrem importantes transformações como rápido crescimento físico, início das funções reprodutivas, e desenvolvimento das características sexuais como o aumento das mamas e aparecimento dos pelos púbicos nas mulheres, e crescimento dos testículos e surgimento de pelos púbicos nos homens. 37 Nas mulheres, a puberdade se inicia com a menarca, ou seja, o primeiro fluxo menstrual, porém os óvulos só estarão maduros cerca de dois anos depois, no final da puberdade quando a maturidade sexual é atingida. A puberdade nos meninos é marcada pela primeira ejaculação e, como nas mulheres, não marca necessariamente a capacidade reprodutiva. Para isso, é necessário produzir espermatozoides vivos, o que geralmente ocorre por volta dos 13 aos 16 anos. 3.1.4.1 Eventos que marcam a puberdade Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) descrevem os eventos marcantes que ocorrem na puberdade nos homens e mulheres da seguinte forma: Mulheres Idade aproximada do surgimento Eventos ocorrentes 9-10 anos Início do estirão do crescimento 10-11 anos Despontar dos mamilos 11-12 anos Despontar dos seios 11-12 anos Início do crescimento dos pelos púbicos 11-12 anos Crescimento da genitália 12-13 anos Pico do estirão do crescimento 12-13 anos Formação dos pelos axilares 12-13 anos Menarca 14-15 anos Produção de óvulos maduros (final da puberdade) 15-16 anos Acne 15-16 anos Voz mais grossa 15-16 anos Pelos púbicos maduros e desenvolvimento dos seios 16-17 anos Cessação do crescimento esquelético 38 Homens Idade aproximada do surgimento Eventos ocorrentes 9-10 anos Primeiro crescimento testicular 11-12 anos Início do estirão do crescimento 11-12 anos Início do crescimento dos pelos púbicos 13-14 anos Estirão do crescimento testicular e peniano 14-15 anos Formação dos pelos axilares 14-15 anos Engrossamento da voz 15-16 anos Produção de espermatozoides maduros (final da puberdade) 16-17 anos Pelos faciais 16-17 anos Pelos corporais 16-17 anos Desenvolvimento de pelos púbicos maduros 18-19 anos Cessação do crescimento esquelético Fonte: Gallahue, Osmun e Goodway (2013). Apesar dos eventos descritos anteriormente ocorrerem dentro de uma faixa etária esperada, atrasos no desenvolvimento, assim como o desenvolvimento precoce, podem ocorrer. 3.1.4.2 Alterações hormonais na puberdade Vários hormônios são responsáveis pelas transformações ocorridas na puberdade. Inicialmente, o hipotálamo aumenta a produção do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) que, consequentemente, eleva a liberação dos hormônios luteinizante (LH) e estimulador do folículo (FSH). O FSH desencadeia a menstruação nas meninas, e nos meninos o LH inicia a secreção de testosterona e aldosterona. 39 As glândulas adrenais aumentam a secreção de androgênios, principalmente o de- hidroepiandrosterona (DHEA) que influencia no crescimento mais rápido do corpo e dos pelos faciais, axilares e púbicos. Posteriormente, ocorre outro surto na secreção de DHEA levando ao aumento da produção de estrogênio nos ovários, estimulando o desenvolvimento dos seios, dos pelos púbicos e axilares e o crescimento dos órgãos genitais. Nos meninos, o segundo pico de DHEA desencadeia o aumento da produção de hormônios androgênios nos testículos, principalmente do hormônio testosterona, estimulando o aumento da massa muscular, aumento dos genitais e dos pelos. Tanto as meninas quanto os meninos possuem os dois tipos de hormônio, porém as meninas possuem maior nível de estrogênios e os meninos maior nível de testosterona. Fonte: Papalia e Feldman (2013). Figura 3.1 – Alterações hormonais na puberdade 40 3.2 Aspectos físicos na adolescência A adolescência é marcada por transformações físicas como o estirão do crescimento e transformações relacionadas à maturação sexual. Essas características físicas podem ser genéticas e influenciadas pelo ambiente. 3.2.1 Estirão do crescimento O estirão do crescimento dura aproximadamente quatro anos e meio. Nos homens, se inicia por volta dos 11 anos e termina por volta dos 18 anos, e o pico de crescimento ocorre por volta dos 13 anos. Nas mulheres, se inicia por volta dos 9 anos e termina por volta dos 16 anos, sendo que o pico de crescimento ocorre por volta dos 11 anos. Em geral, o percentil (curvas de crescimento) alcançado na puberdade será o mesmo até o final da fase do crescimento. Por exemplo, se uma menina de 13 anos tem 150 cm correspondente ao percentil 15, provavelmente aos 19 anos continuará no mesmo percentil e alcançará a altura de 156 cm aproximadamente. A influência da genética na altura é grande, o ambiente tem menor influência nesse aspecto. O crescimento pode não acompanhar o perfil descrito e ocorrer atraso ou aceleração do crescimento. O crescimento precoce nas mulheres e atraso nos homens pode gerar problemas de adaptação nesses jovens. 3.3 Aspectos do desenvolvimento cognitivo e psicossocial na adolescência Além das grandes transformações no corpo e rápido desenvolvimento físico que ocorre na adolescência, há também transformações na forma de falar, pensar e processar informações. Nesta fase, a capacidade de pensar de forma abstrata e usar o raciocínio lógico é desenvolvida, muitos adolescentes conseguem formar julgamentos morais de uma maneira mais madura e fazer planos para o futuro de maneira mais realista. 41 Apesar de grande progresso no julgamento moral e raciocínio, o pensamento imaturo continua em algumas atitudes e comportamentos. O desenvolvimento cognitivo envolve: Processo de pensamento e memória; Compreensão de si mesmo e do ambiente; Percepção de semelhanças e diferenças; Execução de ordens; Compreensão de cor, forma, tamanho, espaço e tempo; Aquisição de conceitos e estabelecimento de relação entre fatos e conceitos. 3.3.1 Estágio operatório-formal Segundo Piaget (1951) e Piaget e Inhelder (1976), o adolescente por volta dos 11 anos alcança o mais alto nível do desenvolvimento cognitivo que ele denomina de estágio operatório-formal. Neste estágio, o adolescente é capaz de entender o tempo histórico e o espaço terrestre, imaginar possibilidades, testar e criar hipóteses. O adolescente torna-se capaz de refletir sobre determinado tema, fugindo assim do concreto e se aproximando do abstrato. Constrói novas teorias sobre os pontos de vista estabelecidos no meio social, tentando formar seu próprio conceito e alcançar o sucesso em suas decisões. O desenvolvimento cognitivo pode ser influenciado positivamente ou negativamente pelo desenvolvimento afetivo. 3.3.2 Raciocínio dedutivo-hipotético O raciocínio dedutivo-hipotético se refere a testar hipóteses existentes, buscando a eliminação de erros por meio da negação dessa hipótese e realização de experimentos para negá-la. A partir desses experimentos, são pensadas novas hipóteses buscando melhores maneiras para resolver questões e problemas. 42 3.3.3 Mudança no processamento de informações Fonte: Critis (2010). A forma como os adolescentes processam as informações está relacionada ao amadurecimento dos lobos pré-frontais do cérebro. Segundo Eccles, Wigfield e Byrnes (2003), essas mudanças apresentam duas categorias: mudança estrutural e mudança funcional. Mudança estrutural: o aumento do conhecimento declarativo, procedual e conceitual; o aumento da capacidade de memória de trabalho. Mudança funcional: o progresso no raciocínio dedutivo. DEBATE O desenvolvimento de estruturas cerebrais relacionadas às emoções, julgamentos, comportamento e autocontrole pode ainda estar imaturo nos adolescentes. Essasestruturas podem estar totalmente desenvolvidas apenas no início da idade adulta, levantando a questão se adolescentes podem ser totalmente responsabilizados pelos seus atos. 43 3.3.4 Aspectos psicossociais na adolescência O desenvolvimento psicossocial envolve aspectos psicológicos juntamente com os sociais. Está relacionado à busca pelo autoconhecimento, ao desenvolvimento da sexualidade, ao relacionamento amoroso, com a família e amigos. A adolescência é uma etapa delicada do desenvolvimento humano e pode ser a mais difícil. É um período de grandes transformações, escolhas e busca pela identidade e individualidade. A imaturidade nesse período favorece a tomada de decisões erradas, que muitas vezes podem ocasionar problemas para a vida toda. Os aspectos psicossociais dos adolescentes como o relacionamento social e estilo de vida é de suma importância na promoção da saúde e prevenção de doenças, além de minimizar os riscos aos quais os jovens estão expostos. 3.3.4.1 Identidade A adolescência é a fase da busca pela identidade, e está relacionada a crenças, valores e metas ou objetivos desejados. Essa busca se caracteriza pela experimentação de diferentes experiências, modo de se vestir, estilo musical etc. Mas essa busca não é fácil, sendo que o adolescente pode ter dificuldades em entender o que realmente faz sentido para ele, quais são suas próprias escolhas e não imposições ou influências externas. Nesse sentido, pode desenvolver a chamada crise de identidade, descrita pela primeira vez pelo psicanalista Erik Erikson, muito comum nessa fase. Para Erikson (1968), o adolescente precisa vencer a crise “identidade versus confusão de identidade” na qual precisa desenvolver a percepção de si mesmo e o papel que deve exercer na sociedade. Dificilmente a crise de identidade é resolvida na adolescência. Muitas vezes, questões de identidade podem surgir posteriormente durante a vida adulta. Compreender o que está acontecendo com o adolescente e guiá-lo adequadamente, não minimizando suas crises, alertando sobre os riscos e o incentivando a fazer boas escolhas, pode ajudá-lo nessa fase. 44 3.3.4.2 Sexualidade O desenvolvimento sexual na adolescência é marcante, impulsionado pelo desenvolvimento biológico e influenciado pelo ambiente. Ao se descobrir como um ser sexual, o jovem reconhece sua orientação sexual e começa a manifestá-la, aumentando sua consciência de sexualidade e formando sua identidade sexual. A formação da identidade sexual pode estar diretamente relacionada à autoimagem e aos relacionamentos. O pensamento imaturo em uma fase na qual o jovem está descobrindo sua sexualidade o expõe a riscos como gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis. Programas de conscientização e educação devem ser trabalhados com esses jovens para minimizar esses riscos e proporcionar um desenvolvimento mais adequado. 3.3.4.3 Relacionamentos Para a maioria dos jovens, a adolescência é uma fase relativamente tranquila, sem grandes problemas. O relacionamento com os pais geralmente é bom, porém alguns problemas podem surgir por divergências de opinião e disputa pela liberdade. O jovem busca sua individualidade e liberdade e os pais podem ter dificuldade de aceitar. O relacionamento com os amigos é forte, as amizades tornam-se mais estáveis nessa fase. O grupo de amigos exerce grande influência em sua vida que pode ocorrer de forma negativa ou positiva. Os relacionamentos amorosos são fundamentais na vida social dos adolescentes que podem interagir mais com os parceiros do que com a família e amigos. No decorrer da adolescência, os relacionamentos amorosos passam a ser mais íntimos e mais intensos. 45 3.4 Crescimento, maturação e desenvolvimento na infância e adolescência: implicações para o esporte SAIBA MAIS Leia o artigo “Crescimento, maturação e desenvolvimento na infância e adolescência: implicações para o esporte” de Alessandro H. Nicolai Ré. Publicado em nov. 2010. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/mot/v7n3/v7n3a08.pdf. Acesso em: 17 jan. 2021. 3.5 Comportamentos de risco que podem influenciar o desenvolvimento e a saúde na adolescência Em geral, os adolescentes são indivíduos saudáveis e o nível de doenças é baixo, porém estão expostos a sérios riscos ligados às alterações corporais da puberdade e comportamentos de alto risco (BARRETO, 2009). Esse comportamento de risco pode prejudicar a saúde física e mental dos adolescentes (PENA, 2016). Subestimar os perigos e a falsa sensação de que as coisas só acontecem aos outros pode ocasionar vários comportamentos de risco que podem causar morbidade e mortalidade entre jovens e adultos (NIGHTINGALE; FISCHHOFF, 2001). As principais causas de morte entre os adolescentes são acidentes de trânsito, AIDS, suicídio, infecções respiratórias inferiores e violência interpessoal. Mais de 3 mil adolescentes morrem todos os dias por causas que podem ser evitadas (WHO, 2014). A maior parte das mortes pode ser prevenida com bons serviços de saúde, educação e apoio social, porém muitos adolescentes não recebem essa assistência. Além do risco à vida, há comportamentos que podem comprometer a saúde como inatividade física, má alimentação e comportamentos de saúde sexual de risco. 46 3.5.1 Doenças sexualmente transmissíveis As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) atingem 25% dos jovens com menos de 25 anos. É durante a adolescência que se verifica maior incidência de DSTs, de modo que 65% dos casos de AIDS manifestos entre os 20 e 39 anos são causados pela infecção pelo HIV durante a adolescência (RODRIGUES, 2010). A população jovem é vulnerável às infecções sexualmente transmissíveis pela intensa troca de parceiros e grande número de portadores assintomáticos e pelo uso inadequado e irregular de métodos contraceptivos. 3.5.2 Gravidez na adolescência Aproximadamente 16 milhões de adolescentes entre 15 e 19 anos e 2 milhões das adolescentes menores de 15 anos engravidam a cada ano. A taxa de fertilidade entre adolescentes é alta e afeta principalmente as populações mais desfavorecidas. A cada mil meninas de 15 a 19 anos, 46 têm filhos no mundo, sendo que no Brasil a taxa é de 68,4%. O início precoce da atividade sexual e o não uso de preservativo aumentam o risco da gravidez precoce e o surgimento das doenças sexualmente transmissíveis. Em estudo com adolescentes, 26,8% da amostra declararam não usar preservativo nas relações sexuais (PENA, 2016). A gravidez na adolescência pode ter efeitos negativos para as meninas, pode atrapalhar seu desenvolvimento psicossocial e físico, além do alto risco de morte materna. A mortalidade materna é uma das principais causas da morte entre adolescentes e jovens de 15 a 24 anos. Em 2014, cerca de 1,9 mil jovens morreram por problemas de saúde durante a gravidez, no parto ou após o parto. Complicações na gravidez, como hemorragia, sepse, obstrução do trabalho de parto e complicações decorrentes de abortos inseguros são a principal causa de morte (OPAS, 2017). O risco à vida duplica nas adolescentes com menos de 15 anos que vivem em países de baixa e média renda (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2018). 47 3.5.3 Hábitos não saudáveis Atualmente, devido ao aumento tecnológico, os adolescentes dedicam grande parte de seu tempo a celulares, computadores, televisão e videogames, e se dedicam cada vez menos a atividades esportivas e recreativas. A inatividade física entre os adolescentes aumenta a cada dia e pode afetar a saúde e o desenvolvimento físico dos jovens, se tornando um importante problema de saúde pública. Além da falta de atividade física, a alimentação no período da adolescência costuma não ser adequada, ser composta por alimentos com alto teor de açúcar e gorduras e baixo teor nutricional, acarretando obesidade.Os casos de obesidade em adolescentes estão aumentando. Alguns adolescentes conseguem perder o excesso de peso à medida que amadurecem e se desenvolvem, porém muitos se transformam em adultos obesos. Além de problemas ortopédicos e posturais, dislipidemias, alterações dermatológicas, desconforto respiratório, hipertensão arterial e outros problemas de saúde, a obesidade pode causar problemas psicossociais. Ela pode estar relacionada a influências genéticas ou ambientais (BARRETO, 2009). 3.5.4 Violência Das mortes ocorridas na adolescência, 66,25% são ocasionadas por causas externas, como agressões, traumatismos e lesões. As agressões são as principais causas de morte entre as causas externas, 36,45% dos adolescentes entre 10 e 19 anos que faleceram no ano de 2012 perderam a sua vida como consequência de agressões (ROSA, 2018). A maioria dos homicídios no Brasil ainda acomete homens jovens e adolescentes. O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) de 2010 (base de dados de 2007) aponta a ocorrência de 2,67 adolescentes mortos (entre 12 e 18 anos) por homicídio para cada grupo de 1.000 no Brasil. Entre as cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, Foz do Iguaçu (PR) lidera o ranking de homicídios com 11,8 mortes para cada grupo de 1.000 adolescentes, seguida de Cariacica (ES) com 8,2, e Olinda (PE) com 8 (UNICEF). 48 Entre os maiores causadores de morte na adolescência estão os acidentes de trânsito. No ano de 2015, foi a principal causa de morte de adolescentes entre 10 e 19 anos, resultando em aproximadamente 115 mil mortes, em sua maioria meninos com idade entre 15 a 19 anos. (OPAS, 2017). Outra séria causa de morte entre adolescentes é provocada pela violência contra si mesmo. O suicídio e a morte acidental por autoagressão foram a terceira causa de morte entre adolescentes em 2015, resultando em cerca de 67 mil óbitos (OPAS, 2017). 3.5.5 Consumo de drogas ilícitas, álcool e tabaco A adolescência é um período de grandes modificações e tomada de importantes decisões. O adolescente passa por um período de conflitos e incertezas, surge grande curiosidade, autonomia e liberdade para tomar as suas próprias decisões. Consequentemente, na adolescência o indivíduo fica suscetível ao uso de drogas, que não são apenas as ilícitas (maconha, cocaína, crack etc.), mas também cigarro e álcool (SANTOS; COSTA, 2013). O álcool é muito utilizado pelos jovens em festas, é uma droga mais bem aceita na sociedade e pode trazer prejuízos como a dependência e o desejo de experimentar outras drogas. Pode causar intoxicações graves, hepatite e crises convulsivas. Estudo com adolescentes relatou que 24,8% beberam de forma abusiva (PENA, 2016). O álcool é particularmente perigoso por ser de fácil acesso, por ser considerado um elemento de socialização, de autoafirmação e de inclusão no mundo adulto, além de muitas vezes ser propiciado pelos próprios familiares do adolescente. Considerando que a adolescência é a fase da construção da identidade, não é benéfico particularmente que o indivíduo vivencie suas experiências como festas, namoros, relações afetivas e sexuais sob o efeito do álcool (OLIVIERI, 2006). Além de drogas ilícitas e álcool, há o tabaco, uma das drogas mais consumidas, sendo que 15,7% dos adolescentes entre 12 e 17 anos já consumiram tabaco na vida. Os homens são maioria (MACHADO; CRUZ, 2003). 49 Os prejuízos provocados pelas drogas podem ser agudos (durante a intoxicação ou “overdose”) ou crônicos, produzindo alterações mais duradouras e até irreversíveis. Podem causar consequências irreparáveis à saúde, aprendizagem e convivência familiar e com a sociedade (SANTOS; COSTA, 2013). Além disso, aumentam o risco de acidentes e de violência, por diminuírem os cuidados de autopreservação, já enfraquecidos na adolescência (MARQUES; CRUZ, 2000). Conclusão O desenvolvimento está relacionado ao crescimento e aperfeiçoamento das capacidades físicas e mentais, além da evolução das relações sociais e das emoções. Assim como o crescimento, o desenvolvimento se inicia na concepção e apresenta características diferentes em cada etapa. O período pré-natal é marcado pela concepção, formação do feto e desenvolvimento dos movimentos reflexos, memória e aprendizagem. Em seguida, ocorre o período da primeira infância, caracterizado pela transformação do bebê frágil em uma criança mais independente. Nesta fase, o crescimento é rápido, a personalidade é desenvolvida com base nas relações sociais, são formados os vínculos afetivos com os pais e com outras pessoas. É formada a autoconsciência da criança, ela torna-se menos dependente e mais autônoma e capaz de solucionar problemas. Na segunda infância, o crescimento é constante, e a aparência das crianças torna-se mais esguia e mais parecida com as de um adulto. Ocorre o ganho de força, melhora a capacidade para correr, pular e jogar bola, e melhoram as habilidades motoras finas e gerais. A criança torna-se mais independente, compreende melhor suas emoções, desenvolve sua identidade de gênero e suas brincadeiras têm maior interação social. Apesar do pensamento egocêntrico característico desta fase, aumenta a compreensão do ponto de vista dos outros, e sua inteligência, memória e linguagem são aprimoradas. No final da infância, o crescimento torna-se mais lento, aumenta a força física e as habilidades físicas são aprimoradas. O egocentrismo nesta etapa diminui, as crianças dão grande importância aos colegas, o autoconceito torna-se mais complexo afetando sua autoestima, aumentam as habilidades de memória e linguagem, e elas começam a pensar de forma lógica. 50 A adolescência é a fase de transição da infância para a idade adulta e se inicia após a puberdade. Nesse período, ocorrem importantes transformações físicas, cognitivas e psicossociais. As transformações físicas marcantes que ocorrem na adolescência são o estirão do crescimento (rápido crescimento em estatura) e transformações relacionadas à maturação sexual (mudanças no corpo e capacidade de reprodução). Essas características físicas recebem influência genética e ambiental. Além das grandes transformações no corpo e rápido desenvolvimento físico que ocorre na adolescência, há também transformações na forma de falar, pensar e processar informações. Desenvolve-se a capacidade de pensar de forma abstrata e de usar o raciocínio lógico. Muitos adolescentes conseguem formar julgamentos morais e fazer planos para o futuro. Apesar de grande progresso no julgamento moral e raciocínio, o pensamento imaturo continua em algumas atitudes e comportamentos. Entre os aspectos psicossociais, a busca pela identidade é o mais marcante e está relacionada a crenças, valores e metas ou objetivos desejados. Essa busca se caracteriza pela experimentação de diferentes experiências, modo de se vestir, estilo musical etc. Os aspectos psicossociais dos adolescentes como o relacionamento social e estilo de vida é de suma importância na promoção da saúde e prevenção de doenças, além de minimizar os riscos aos quais os jovens estão expostos. Além de todas as transformações que ocorrem nesse período, os adolescentes ainda enfrentam sérios problemas ligados às alterações corporais da puberdade e comportamentos de alto risco. Estão expostos ao uso de drogas, gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis e violência. Refletir sobre as transformações que ocorrem na adolescência e pensar sobre os riscos aos quais eles estão expostos é indispensável para discutir propostas e criar alternativas para minimizar os danos. 51 Referências BARRETO, L. dos S. et al. Hábitos saudáveis na adolescência. Webartigos, 1 abr. 2009. Disponível em: <https://bit.ly/3nXCKl3>. Acesso em: 7 jan. 2019. CRITIS, M. 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Mais de 1,2 milhão de adolescentes morrem por causas evitáveis a cada ano. OPAS Brasil, 16 maio 2017. Disponível em: <https://bit.ly/3iknxJU>. Acesso em: 7 jan. 2019. PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. PENA, G. das G. Comportamentos de risco para a saúde de adolescentes da rede pública de ensino. Adolesc. Saúde, v. 13, n. 1, jan./mar. 2016. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1951. PIAGET, J.; INHELDER, B. E. Da lógica da criança a lógica do adolescente. São Paulo: Pioneira, 1976. 260p. RODRIGUES, M. J. Nascer e crescer. XXII Reunião do Hospital de Crianças Maria Pia contracepção e gravidez na adolescência Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) na Adolescência. Revista do Hospital de Crianças Maria Pia, v. 14, n. 3, 2010. ROSA, C. Vidas perdidas: análise descritiva do perfil da mortalidade dos adolescentes no Brasil. Revista Oficial do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente, 15 abr./jun. 2018. 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Após essa idade, as mudanças irão ocorrer muito vagarosamente, imperceptíveis em curto prazo. Ocorre a desaceleração do metabolismo a longo prazo e o corpo começa a perder pouco a pouco sua rigidez, se tornando frágil, caminhando para a velhice. Manter um estilo de vida saudável é fundamental para manter a saúde e a capacidade de realizar as atividades diárias. Declínios progressivos no desempenho motor, redução da força muscular e incapacidade de realizar as tarefas domésticas são condições que podem afetar de modo negativo as perspectivas psicológicas e interações sociais dos adultos e podem ser evitados pela prática de exercícios (GALLAHUE; OSMUN; GOODWAY, 2013). O início da vida adulta está relacionado ao ingresso na vida profissional, à aquisição de bens materiais como carro e casa, às responsabilidades familiares, e à busca pelas realizações pessoais. Devido a todas essas metas e responsabilidades, o adulto dedica muito do seu tempo ao trabalho, ao aperfeiçoamento profissional, aos estudos, à família, ao cuidado dos filhos etc., restando menos tempo para realizar atividades físicas que costumam ser mais presentes na infância e adolescência. Fonte: Mesquita (2016). 54 4.1 Inversão da ampulheta de Gallahue Observando o modelo da ampulheta de Gallahue, que exemplifica o desenvolvimento humano desde a fase pré-natal até a vida adulta, a areia que cai aos poucos pela ampulheta se refere ao ganho de habilidades motoras ao passar dos anos. Em determinado momento da vida, a ampulheta se inverte: para a maioria das pessoas, ocorre no final da adolescência, no início dos 20 anos. Entretanto, esse acontecimento pode variar e depende mais de fatores sociais e culturais do que de físicos. De acordo com o modelo da ampulheta, a areia que cai passa por dois filtros diferentes: o filtro hereditário e, em seguida, o filtro do estilo de vida. O filtro hereditário corresponde às características genéticas que herdamos de nossos pais, e não há como modificá-lo, pouco podemos fazer, pois se trata, por exemplo, de predisposição para a longevidade ou para doenças. A areia que passou pelo filtro hereditário, em seguida, passa pelo filtro do estilo de vida determinado por muitos fatores: aptidão física, estado nutricional, dieta, exercício, habilidade para lidar com o estresse, bem-estar social e espiritual etc. O filtro do estilo de vida é baseado no ambiente e temos bastante controle sobre ele. Apesar de não podermos impedir que a areia caia até à base da ampulheta, podemos diminuir a velocidade de sua queda, ou seja, não podemos evitar o envelhecimento, mas podemos retardá-lo com qualidade de vida. O profissional de educação física deve proporcionar e estimular a prática de diferentes tipos de exercícios com qualidade, auxiliando na manutenção da qualidade de vida e na redução da velocidade de escoamento da areia na ampulheta. 4.2 Início da vida adulta Há diferentes marcadores para o início da vida adulta, como ter responsabilidade por si mesmo, ser capaz de tomar decisões importantes e ser financeiramente independente (ARNETT, 2006). Segundo Papalia e Feldman (2013), esta fase inicia aos 20 anos e termina aos 40. 55 4.2.1 Desenvolvimento físico No início da vida adulta, a condição física atinge seu auge e, em seguida, declina gradualmente. Os adultos desta fase geralmente têm boa saúde, porém a cada dia padecem mais de uma série de riscos relacionados à saúde e associados aos estilos de vida modernos. Alguns comportamentos característicos desta fase podem prejudicar a saúde e o desempenho motor, como: sedentarismo; obesidade; estresse; tabagismo; uso de álcool. A prática de exercícios neste período previne doenças, causa sensação de bem-estar, reduz o estresse e ajuda a manter o condicionamento físico. 4.2.2 Desenvolvimento cognitivo O pensamento e o julgamento moral muitas vezes não estão totalmente desenvolvidos até os 20 anos, apenas na vida adulta se tornarão mais complexos.Por meio de experiências vivenciadas, o adulto consegue formar seu julgamento moral que pode ser fortemente influenciado por questões ambientais como vivências religiosas, doença grave ou guerra. Além do desenvolvimento moral, nesta fase são feitas as escolhas vocacionais e educacionais. O raciocínio do adulto além de complexo pode estar relacionado às emoções. O filósofo John Dewey (1910) denomina como pensamento pós-formal a fase do desenvolvimento cognitivo que combina raciocínio lógico com emoção e experiência prática para solucionar problemas complexos. 56 4.2.3 Desenvolvimento psicossocial A personalidade é mais estável nesta fase, mas mudanças na personalidade podem ocorrer e serem influenciadas pelos acontecimentos da vida. No início da vida adulta, são tomadas decisões sobre relacionamentos íntimos, a maioria das pessoas casa-se e têm filhos. Ocorre a definição do estilo de vida pessoal, mas, assim como o relacionamento, pode não ser duradouro. 4.3 Vida adulta intermediária A vida adulta intermediária vai dos 40 aos 65 anos. Apesar dessa definição de faixa etária, não há consenso sobre eventos biológicos específicos que marcam tal fase. A experiência de meia-idade varia de acordo com a saúde, o gênero, a raça/etnia, o nível socioeconômico, a cultura, a personalidade. Algumas pessoas de meia-idade podem correr maratonas, outras ficar sem fôlego ao subir uma escada. 4.3.1 Desenvolvimento físico O desenvolvimento físico neste período segue um processo de degradação, podendo ocorrer uma lenta deterioração das habilidades sensoriais, da saúde, do condicionamento físico, do vigor e da força. Há o fim da capacidade reprodutiva para as mulheres. Mudanças nos sistemas humanos durante a meia-idade Mulher Homem Mudança hormonal Diminuição do estrogênio e da progesterona Queda na testosterona Sintomas Ondas de calor, secura vaginal, disfunção urinária Indeterminados Capacidade reprodutiva Término Continua, mas ocorre uma diminuição na fertilidade 57 Apesar de algumas transformações fisiológicas resultantes do envelhecimento biológico, fatores comportamentais e de estilo de vida podem afetar o tempo de ocorrência e a extensão dessas transformações. Pessoas que são ativas desde cedo colhem os benefícios de mais vigor após os 60 anos. 4.3.2 Desenvolvimento cognitivo As capacidades mentais atingem o auge, são acentuadas as habilidades de solucionar problemas práticos, a produção criativa pode declinar em rendimento, mas melhora em qualidade. Para alguns, o sucesso financeiro e na carreira atinge seu auge, entretanto para outros pode ocorrer mudança de carreira e esgotamento emocional. 4.3.3 Desenvolvimento psicossocial A identidade pessoal continua a se desenvolver. Nas relações sociais, aumenta a responsabilidade; além do cuidado com os filhos, os pais idosos podem necessitar de cuidados. O acúmulo de responsabilidades como trabalho, casa, família pode causar estresse. A independência e saída dos filhos de casa podem causar sentimentos de solidão e tristeza nos pais, a chamada síndrome do ninho vazio. 4.4 Vida adulta tardia e os fatores que influenciam no desenvolvimento da vida adulta Período marcado por declínios no funcionamento físico, associados ao envelhecimento, que se inicia após os 65 anos. O envelhecimento pode ser caracterizado por um processo contínuo no qual ocorre declínio progressivo de todos os processos fisiológicos (NÓBREGA, 1999). Há duas teorias para o envelhecimento: Teoria da Programação Genética: envelhecimento programado biologicamente, de maneira que o corpo envelhece de acordo com o relógio evolutivo normal inato dos genes; Teoria das Taxas Variáveis: o envelhecimento resulta de processos aleatórios que variam de pessoa para pessoa e envolvem danos resultantes de erros aleatórios ou agressões ambientais nos sistemas biológicos. 58 4.4.1 Desenvolvimento físico A maioria das pessoas dessa faixa etária é saudável e ativa, embora geralmente haja um declínio da saúde e das capacidades físicas. O tempo de reação torna-se mais lento e isso afeta alguns aspectos funcionais. Algumas alterações físicas são visíveis nos idosos como: pele mais clara, menos elástica e enrugada; cabelo mais fino, mais grisalho e posteriormente branco; pelos mais ralos; varizes nas pernas; diminuição da altura. Outras alterações fisiológicas limitantes podem ocorrer como: osteoporose; problemas de visão; alterações posturais; redução da massa muscular; rigidez e perda da flexibilidade articular; redução do equilíbrio; perda de memória; declínio da função pulmonar; diminuição da capacidade funcional. 59 Com o passar dos anos, também ocorrem importantes perdas das capacidades físicas: perda de força; perda de flexibilidade; perda de velocidade; diminuição dos níveis de VO2máx. A inatividade física geralmente leva o idoso a uma condição degenerativa crescente de suas capacidades físicas e fisiológicas. O exercício físico não só melhora os aspectos relacionados ao condicionamento, mas também auxilia na manutenção da massa muscular e óssea, melhora a capacidade respiratória, dores articulares, depressão e outros aspectos psicológicos. 4.4.2 Desenvolvimento cognitivo A maioria dos idosos está mentalmente alerta. Pode ocorrer deterioração da inteligência e da memória, porém a maioria das pessoas encontra meios de compensação. 4.4.3 Desenvolvimento psicossocial Nesta fase, a busca pelo significado da vida assume importância fundamental. O tempo livre proporcionado pela aposentadoria pode ser aproveitado. Muitos idosos enfrentam perdas pessoais e desenvolvem estratégias mais flexíveis para lidar com essas perdas e com a morte iminente. O relacionamento com a família e com os amigos pode proporcionar um importante apoio para eles. 4.5 Consequências do estilo de vida na saúde e no desenvolvimento durante a vida adulta O estilo de vida exerce importante influência no estado de saúde física e mental dos adultos. Os seguintes fatores são importantes influências na qualidade de vida: alimentação inadequada; sedentarismo; 60 estresse; tabagismo; uso de álcool. Fonte: https://i.pinimg.com/originals/eb/d7/f4/ebd7f494fc1e0d02c05972b9133a6aa4.jpg O sedentarismo é um sério problema de saúde pública e está relacionado a diversas doenças. Segundo a American College of Sports Medicine (ACSM), o sedentarismo pode abreviar em até 10 anos a expectativa de vida. A redução da aptidão física e doenças limitantes consequentes de doenças neurológicas, cardiovasculares, fraturas, lesões articulares, entre outras, que acometem principalmente os idosos, podem causar dependência. Esse é o problema que mais afeta a qualidade de vida dos idosos, tanto para realizar as atividades do cotidiano quanto instrumentais. Para evitar esse problema, deve-se incentivar os hábitos saudáveis e a prática de exercícios, promovendo diversos benefícios na vida dos idosos, como: retardo da perda de flexibilidade; melhora do fluxo sanguíneo para o cérebro, aumentando a quantidade de oxigênio que alcança as células nervosas; diminuição dos riscos de doenças coronarianas, hipertensão, diabetes e dislipidemia; diminuição da perda de massa magra; redução do percentual de gordura corporal; 61 melhora da autonomia. A atividade física regular melhora a aptidão física, aumenta o bem-estar funcional e diminui a taxa de morbidade e de mortalidade. As recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) discorrem que o adulto acumule pelo menos 150 minutos de atividade física leve a moderada, ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana. Para Hipócrates (460-377 a.C.), conhecido como o pai da Medicina, fornecer a cada indivíduo a quantidade exatade nutrientes e de exercício, que não seja insuficiente nem excessiva, é o caminho mais seguro para a saúde. Hipócrates, pai da Medicina Condizente com a declaração de Hipócrates, “Exercise is medicine” (Exercício é remédio) é uma iniciativa de saúde global da American College of Sports Medicine (ACSM) que incentiva o exercício no tratamento de doenças. Segundo Healthy People (2010), se o exercício pudesse ser prescrito em forma de pílula, seria o remédio mais vendido do mundo. SAIBA MAIS Atividade física e envelhecimento humano: a busca pelo envelhecimento saudável. Por Mauro Lúcio Mazini Filho et al. Publicado em jan./abr. 2010. Disponível em: http://seer.upf.br/index.php/rbceh/article/view/448/926 62 Conclusão A vida adulta se inicia após a adolescência aos 20 anos. Nesta fase, o crescimento corpóreo e a maturidade sexual estão completos. Ocorre a desaceleração do metabolismo a longo prazo e o corpo começa a perder pouco a pouco sua rigidez, se tornando frágil, caminhando para a velhice. Para estudarmos a fase adulta, podemos dividi-la em três períodos: início da vida adulta, vida adulta intermediária e vida adulta tardia. O início da vida adulta inicia aos 20 anos e termina aos 40. Os adultos dessa fase geralmente têm boa saúde e a condição física atinge seu auge e em seguida declina gradualmente. O pensamento e o julgamento moral tornam-se mais complexos, são feitas as escolhas vocacionais e educacionais. Neste período da vida adulta, são tomadas decisões sobre relacionamentos íntimos, a maioria das pessoas casa-se e têm filhos. A vida adulta intermediária vai dos 40 aos 65 anos. Pode ocorrer uma lenta deterioração das habilidades sensoriais, da saúde, do condicionamento físico, do vigor e da força, e há o fim da capacidade reprodutiva para as mulheres. As capacidades mentais atingem o auge, são acentuadas as habilidades de solucionar problemas práticos, a produção criativa pode declinar em rendimento, mas melhora em qualidade. Para alguns, o sucesso financeiro e na carreira atinge seu auge. Entretanto, para outros pode ocorrer mudança de carreira e esgotamento emocional. A identidade pessoal continua a se desenvolver. Nas relações sociais, aumenta a responsabilidade, além do cuidado com os filhos, os pais idosos podem necessitar de cuidados. A independência e a saída dos filhos de casa podem causar a síndrome do ninho vazio. A vida adulta tardia se inicia após os 65 anos, é um período marcado por declínios no funcionamento físico, associados ao envelhecimento. A maioria das pessoas dessa faixa etária é saudável e ativa, embora geralmente haja um declínio da saúde e das capacidades físicas. A maioria dos idosos está mentalmente alerta, pode ocorrer deterioração da inteligência e da memória, porém a maioria das pessoas encontra meios de compensação. Nesta fase, a busca pelo significado da vida assume importância fundamental, muitos enfrentam perdas pessoais e desenvolvem estratégias para lidar com essas perdas e com a morte iminente. 63 O relacionamento com a família e com amigos pode proporcionar um importante apoio para eles. A redução da aptidão física e doenças limitantes consequentes de doenças neurológicas, cardiovasculares, fraturas, lesões articulares, entre outras, que acomete principalmente os idosos pode causar dependência, o problema que mais afeta a qualidade de vida dos idosos, tanto para realizar as atividades do cotidiano quanto instrumentais. Para evitar esse problema, deve-se incentivar os hábitos saudáveis e a prática de exercícios. Referências ARNETT, J. J. Emerging adulthood: understanding the new way of coming of age. In: ARNETT, J. J.; TANNER, J. L. (ed.). Emerging adults in America: coming of age in the 21st century. Washington: American Psychological Association, 2006. DEWEY, J. How we think. Boston: D.C. Heath & Co., 1910. GALLAHUE, D. L.; OSMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. NÓBREGA, A. C. L. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso. Rev Bras Med Esporte, v. 5, n. 6, nov./dez. 1999. PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 64 5 PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM MOTORA O sistema motor é a parte do corpo humano responsável pelo movimento. O sistema nervoso central recebe informações de vários órgãos dos sentidos, processa essas informações por estágios e responde por meio de movimentos. O processamento de informações pelo sistema motor ocorre por estágios de identificação do estímulo, seleção da resposta, e de programação do movimento. A aprendizagem motora pode ser adquirida por meio da manipulação de vários fatores como demonstração e instrução, estabelecimento de metas e principalmente pela prática, que tem papel fundamental na aquisição de habilidades. Por meio da prática o indivíduo pode experimentar alternativas na busca por soluções para resolver um determinado problema motor e alcançar seus resultados (SCHMIDT, 2016). Fonte: Mesquita (2016). 5.1 Conceitos e princípios teóricos da aprendizagem motora A aprendizagem motora engloba processos que são associados à prática que leva a ganhos relativamente permanentes na melhora do desempenho. Durante a prática ocorrem alterações do sistema nervoso central devido à plasticidade cerebral. Plasticidade cerebral é a capacidade de adaptação do sistema nervoso central por meio de modificações em sua organização estrutural e funcionamento. 65 Os efeitos proporcionados pela prática podem ser relativamente permanentes (persistem durante muitos dias ou anos); temporários (desaparecem com o tempo ou numa mudança de condições); ou efeitos simultâneos (temporários e relativamente permanentes) (SCHMIDT, 2016). 5.1.1 Tempo de reação O tempo de reação (TR) indica a velocidade e a eficácia da tomada de decisão, representa o tempo que um indivíduo leva para tomar uma decisão e iniciar a ação. Esse processo inicia quando o estímulo é apresentado e termina quando o movimento é iniciado. O tempo de reação (TR) é uma importante medida de performance, mede a duração acumulada dos estágios de processamento citados anteriormente. Qualquer fator que aumenta a duração desses estágios de processamento aumenta o tempo de reação. Fonte: Mundo Educação Quanto menor for o tempo de reação de um corredor após ouvir o disparo inicial, melhor será seu desempenho na corrida. SAIBA MAIS Reação, potência e velocidade: como os atletas encaram as provas rápidas Artigo de Raquel Castanharo publicado em 18 ago. 2016. http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2016/08/reacao-potencia-e- velocidade-como-os-atletas-encaram-provas-rapidas.html http://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/2016/08/reacao-potencia-e-velocidade-como-os-atletas-encaram-provas-rapidas.html 66 5.1.2 Feedback O feedback é a informação que se obtém após uma resposta, é uma das variáveis mais importantes na aprendizagem (McGOWN, 1991). Essa informação pode ocorrer de maneira intrínseca ou extrínseca. Feedback intrínseco: é a informação fornecida como consequência natural da realização de uma ação, percebida pelos órgãos sensoriais e proprioceptivos; Feedback extrínseco: é a resposta informada ao executante por algum meio artificial, seja verbal, visual ou sonoro; Feedback aumentado: é a combinação das informações recebidas entre um feedback intrínseco e um feedback extrínseco. 5.1.2.1 Tipos de feedback aumentado O feedback aumentado aumenta o feedback intrínseco a tarefa de duas formas distintas. Em algumas situações o feedback aumentado melhora ofeedback intrínseco a tarefa que o próprio sistema sensorial da pessoa pode detectar prontamente. Por exemplo, um professor ou treinador precisa dizer a um jogador de golfe onde suas mãos estavam posicionadas no topo do balanço, embora a própria pessoa pudesse sentir onde estavam. Em outras situações, o feedback aumentado acrescenta informação que a pessoa não consegue detectar usando seu sistema sensorial. Por exemplo, professor ou treinador de golfe precisa dizer ao jogador onde a bola caiu porque ele não a viu depois de tê-la atingido. Nesta situação, o feedback aumentado fornece informação de desempenho que, de outra forma, a pessoa não teria. Assim, define-se duas categorias de tipos de feedback aumentado: a) Para conhecimento de desempenho: trata-se de informação sobre as características do movimento responsáveis pelo resultado do desempenho. Por exemplo, na natação, o professor ou técnico indica a maneira mais eficaz de coordenar a respiração e os movimentos de braço. Este tipo de feedback pode ser fornecido de maneira verbal e não verbal (vídeos do próprio atleta, softwares de avaliação de desempenho, entre outros). 67 b) Para conhecimento de resultados: consiste em informação apresentada externamente sobre o resultado do desempenho de uma habilidade ou sobre a obtenção da meta do desempenho. Por exemplo, se um professor diz ao aluno numa aula de arco e flecha, "você acertou um azul na posição das 9 horas", o professor está fornecendo informação do resultado. Às vezes o feedback para conhecimento de resultados não descreve o resultado do desempenho, mas simplesmente informa se o praticante atingiu a meta do desempenho. Por exemplo, o professor apenas indica gestualmente se o atleta atingiu ou não a meta. Também pode-se classificar o feedback aumentado de acordo com o instante em que ele é fornecido: a) Feedback aumentado concomitante: dado enquanto o movimento está em andamento. b) Feedback aumentado terminal: fornecido após habilidade ter sido desempenhada. 5.1.2.2 Feedback aumentado como motivação e aquisição das habilidades Um instrutor ou professor pode usar o feedback aumentado para modificar a percepção que a pessoa tem de sua própria capacidade de executar uma habilidade. Essa é uma forma eficiente de motivar a pessoa a continuar a perseguir a meta de uma tarefa ou desempenho de uma habilidade. A afirmação verbal "Você está se saindo muito melhor" pode demonstrar que a pessoa está sendo bem-sucedida numa atividade. As evidências que confirmam a eficiência motivacional desse tipo de feedback verbal provém de pesquisas relacionadas à autoeficácia e ao desempenho de habilidades. Por exemplo, Salomon e Boone (1993) mostraram que, numa aula de Educação Física, os alunos com alta capacidade de percepção demonstraram maior persistência no desempenho de habilidades e apresentaram expectativas de desempenho mais altas que aqueles com baixa capacidade de percepção. Em seu trabalho de revisão da literatura sobre autoeficácia relacionada ao desempenho de habilidades, Feltz (1992) concluiu que o sucesso ou o fracasso do desempenho passado é um mediador chave da percepção que a pessoa tem de sua própria capacidade. 68 Uma implicação lógica desses resultados é que um instrutor ou professor pode apresentar o feedback aumentado de modo a influenciar a forma como a pessoa encara o seu sucesso ou fracasso. Por isso, o feedback aumentado pode influenciar na decisão da pessoa em persistir no desempenho de uma habilidade ou não. O feedback aumentado também tem como papel facilitar a obtenção da meta da habilidade. Como o feedback aumentado fornece informação sobre o sucesso da habilidade em andamento ou que acabou de ser executada, o aprendiz pode determinar se o que ele está fazendo é apropriado para desempenhar corretamente habilidade. Assim, o feedback aumentado pode ajudar a pessoa a atingir a meta da habilidade mais rapidamente ou mais facilmente do que atingiria sem essa informação externa. O feedback bem utilizado pode contribuir para a melhora da performance em situações desgastantes, entediantes e até desmotivadoras. O uso do reforço positivo incentiva o aluno a repetir a mesma ação de forma motivada. Manter o aluno informado sobre sua performance pode ajudá-lo a exercer mais esforço na tarefa, beneficiá-lo em termos da aprendizagem aumentada e motivá-lo. A não utilização do feedback pode desmotivar o praticante, e em algumas situações, se o feedback causar vergonha ao praticante, poderá desmotivá-lo. O reforço negativo pode inibir qualquer tentativa futura. SAIBA MAIS O papel motivacional do feedback na aprendizagem motora: evidências, interpretações e implicações Por Suzete Chiviacowsky. Publicado em jul. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3qE58L5 69 5.3 Habilidades motoras A habilidade é a capacidade de atingir algum resultado com o máximo de certeza e um mínimo dispêndio de energia ou de tempo (GUTHRIE, 1952). 5.3.1 Habilidades abertas e fechadas As habilidades podem ser classificadas em abertas e fechadas conforme o ambiente, se os ambientes são estáveis e previsíveis ou imprevisíveis durante a performance. Habilidade aberta: a ação ocorre em ambiente variável e imprevisível, como a maioria dos esportes em equipe, nos quais é difícil prever os movimentos futuros de outras pessoas; Fonte: Imagem à esquerda - Blog Esporte Olímpico Brasileiro (2012); imagem à direita - Jornal da Cidade (2014). Habilidade fechada: a ação ocorre em ambiente estável e previsível, como nadar em uma raia vazia em uma piscina. Fonte: Portal Brasil Contemporâneo – Piauí (2018). 70 5.3.2 Habilidades discretas, contínuas e seriadas Na organização do movimento, encontramos três classificações das habilidades que se referem ao tipo de movimento, se é contínuo ou uma ação breve e bem definida. Habilidades discretas: têm início e fim bem definidos com breve duração, como arremessar uma bola. Fonte: Salvador (2016) Habilidades contínuas: não têm início e fim definidos, o movimento flui por minutos como pedalar. Fonte: Luz (2016) Habilidades seriadas: formada por um grupo de habilidades discretas para formar ações mais complexas. A ordem dos elementos é essencial para a performance bem-sucedida (SCHMIDT, 2016). Fonte: ABC News (2018). 71 5.4 Fases da aprendizagem motora A aquisição de habilidades será alcançada por meio da prática. O processo que conduz a aprendizagem faz com que o praticante mude algo na padronização do movimento, buscando uma performance mais eficiente. Os praticantes devem ser instruídos a evitar a repetição de padrões realizados anteriormente e experimentar novos padrões de movimento resultando em movimentos mais eficazes. O movimento ocorre como resposta de um processamento de informações, separado por três estágios (SCHMIDT, 2016): Estágio de identificação do estímulo: é principalmente um estágio sensorial no qual ocorre a identificação do estímulo. Esse estímulo resulta de informações ambientais enviadas pelos órgãos dos sentidos; Estágio de seleção da resposta: após a identificação do estímulo, a resposta é selecionada de acordo com a natureza da situação e do ambiente; Estágio de programação do movimento: após receber a decisão sobre qual será a resposta para determinada situação, o sistema motor se organiza para fazer o movimento desejado. 5.4.1 Sistemas de memória Há três processos que podem ser identificados na memória humana, os quais são responsáveis pela codificação, retenção, e recuperação de informações. Memória sensorial: é um sistema de memória que retém por alguns segundos a imagem detalhada da informação sensorial recebida pelos órgãos dos sentidos. É responsável pelo processamento inicial da informação sensorial e sua codificação; Memória de curto prazo: recebe as informações já codificadas pelos mecanismos de reconhecimento da memória sensorial e retém essas informações por segundos ou minutos, para que sejam utilizadas, descartadas ou armazenadas; 72 Memória de longo prazo: recebe as informações da memória de curto prazo e as armazena, possui capacidade e tempo ilimitados de armazenamento de informações (SCHMIDT, 2016). Figura 5.1 – Esquema dos processos no armazenamento e resgate da memória 5.5 Estágios da aprendizagem O processo de aprendizagem passa por estágios até ser concluído, diferentemente dos estágios de processamento de informações. Os estágios de aprendizagem estão relacionados à aquisição de habilidades. Ocorre a evolução de movimentos simples para movimentos complexos, passando por estágios que serão descritos a seguir por duas perspectivas diferentes, porém importantes para o estudo da aprendizagem. 5.5.1 Estágios de Fitts e Posner Fitts e Posner dividem a aprendizagem das habilidades motoras em três estágios (FITTS; POSNER, 1967): 73 1) Estágio cognitivo O aluno “pensa” muito para realizar a tarefa; Comete grande quantidade de erros; Os erros são grosseiros; Há grande necessidade de feedback extrínseco. 2) Estágio associativo O aluno faz ligações entre o raciocínio sobre a ação e a ação em si; Comete menor quantidade de erros; Os erros cometidos são sutis; Utiliza o feedback intrínseco. 3) Estágio autônomo O aluno automatiza o movimento; Utiliza menor demanda de atenção para executar a ação; Quase não há erros; O feedback extrínseco é quase desnecessário. 5.5.2 Estágios de Gentile O modelo de Gentile (1972) descreve o ponto de vista pelo aprendiz, e é dividido em dois estágios (GENTILE, 1972): 1) Captação da ideia do movimento Ocorre identificação dos estímulos e do padrão de movimento mais adequado para um bom desempenho em determinada habilidade; 74 Há concentração em desenvolver a coordenação praticando a habilidade de forma que o padrão de movimento obtido seja o ideal ou característico dessa habilidade. 2) Fixação/Diversificação Há concentração na habilidade de forma que se obtenha um bom desempenho; Este estágio está relacionado com o tipo de classificação da habilidade: habilidades fechadas ou abertas: o habilidades fechadas: o estágio será de fixação, a prática permitirá ao aprendiz refinar o padrão de movimento aprendido no primeiro estágio; o habilidades abertas: o estágio será de diversificação, pois como o ambiente é variável e imprevisível, o mesmo padrão de movimento não será adquirido em respostas sucessivas. Identificar os estágios de aprendizagem de uma habilidade motora é fundamental para que o profissional de Educação Física saiba utilizar estratégias adequadas a esse determinado estágio de aprendizagem, permitindo que o estudante desenvolva ao máximo e com maior eficiência (MIYADAHIRA, 2001). Conclusão O sistema motor é a parte do corpo humano responsável pelo movimento, recebe informações de vários órgãos dos sentidos, processa essas informações por estágios e responde por meio de movimentos. O processamento de informações pelo sistema motor ocorre pelos estágios de identificação do estímulo, seleção da resposta, e programação do movimento. A aprendizagem motora engloba processos que são associados à prática, que leva a ganhos relativamente permanentes na melhora do desempenho. Durante a prática, ocorrem alterações do sistema nervoso central, devido à plasticidade cerebral. 75 A aquisição de habilidades será alcançada por meio da prática. O processo que conduz à aprendizagem faz com que o praticante mude algo na padronização do movimento, buscando uma performance mais eficiente. A habilidade definida como a capacidade de atingir algum resultado com o máximo de certeza e um mínimo dispêndio de energia ou de tempo pode ser classificada como aberta ou fechada de acordo com o ambiente. Na organização do movimento, encontramos três tipos de habilidades que se referem ao ponto até o qual o movimento é contínuo ou uma ação breve bem definida: são as habilidades discretas, contínuas e seriadas. O processo de aprendizagem passa por estágios que estão relacionados à aquisição de habilidades. Os estágios propostos por Fitts e Posner são: cognitivo, associativo e autônomo. E os propostos por Gentile são captação da ideia do movimento e fixação/diversificação. Para maximizar o aprendizado e o desempenho motor, a prática deve ser organizada e estruturada. Deve-se estabelecer metas, estimular a prática, dar instruções, feedback e utilizar estratégias para organizar a prática. Referências ABC NEWS. Professional curlers disqualified from world event for playing while 'extremely drunk'. ABC News, 20 nov. 2018. Disponível em: <https://ab.co/39QfsJb>. Acesso em: 22 fev. 2019. FITTS, P. M.; POSNER, M.I. Human performance. Belmont: Brooks/Cole Pub. Co, 1967. GENTILE, A. M. A working model of skill acquisition with application to teaching. Quest, v.17, p.3-23, 1972. GUTHRIE, E. R. The psychology of learning. New York: Harper and Row, 1952. LUZ, G. O que comprar, como e onde começar: coloque o ciclismo de vez na sua vida. Globo.com, Rio de Janeiro, 12 dez. 2016. Disponível em: <https://glo.bo/3sD61Ft>. Acesso em: 22 fev. 2019. McGOWN, C. O ensino da técnica desportiva. Treino Desportivo. II série, n. 22, p. 15- 22, dez. 1991. 76 MIYADAHIRA, A. M. K. Capacidades motoras envolvidas na habilidade psicomotora da técnica de ressuscitação cardiopulmonar: subsídios para o processo ensino- aprendizagem. Rev Esc Enferm USP, v. 35, n. 4, p. 366-373, 2001. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v35n4/v35n4a08.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2021. PORTAL BRASIL CONTEMPORÂNEO – PIAUÍ. Natação no Piauí. 8 jul. 2018. Disponível em: <http://piaui.portalbrasilcontemporaneo.com.br/verbete/natacao-no-piaui/>. Acesso em: 22 fev. 2019. ROMANO, M. Chances brasileiras em Londres: esportes coletivos. Esporte Olímpico Brasileiro, 25 jul. 2012. Disponível em: <https://bit.ly/2Nng01D>. Acesso em: 22 fev. 2019. SALVADOR, A. O teorema de Curry. Veja, 4 fev. 2016. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/esporte/o-teorema-de-curry/>. Acesso em: 22 fev. 2019. SANTOS, H. Aprendizagem motora: a prática. Blog Aprendizagem e Controlo Motor, 29 nov. 2012. Disponível em: <https://bit.ly/38XvTUu>. Acesso em: 17 jan. 2019. SCHMIDT, R. A. Aprendizagem e performance motora: dos princípios à aplicação. Porto Alegre: Artmed, 2016. SILVA JÚNIOR, J. S. da. Tempo de reação. Mundo Educação, 4 mar. 2016. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/tempo-reacao.htm>. Acesso em: 22 fev. 2019. VELOSO, A. Jeura completam fase dos esportes coletivos e começa a dos individuais. Jornal da Cidade, Uberaba, 30 out. 2014. Disponível em: <https://bit.ly/3is80HM>. Acesso em: 22 fev. 2019. http://piaui.portalbrasilcontemporaneo.com.br/verbete/natacao-no-piaui/ http://www.blogger.com/profile/07951809553847404518 http://www.blogger.com/profile/07951809553847404518 77 6 APRENDIZAGEM MOTORA: LATERALIDADE, INSTRUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA A instrução na aprendizagem motora caracteriza uma situação em que um agente extrínseco, o professor ou técnico, determina uma ação a ser executada e procura comunicá-la ao aprendiz. Para que esse processo de comunicação seja eficaz, torna-se necessário não apenas dominar o conteúdo a ser transmitido, mas também conhecer as características do aprendiz que limitam a assimilação dessas informações. Fonte: Mesquita (2016). 6.1 Lateralidade Lateralidade é um conceito abrangente que envolve diferentes aspectos relativos aos hemisférios direito e esquerdo do corpo. De particular importância para o estudo do comportamento motore da aprendizagem motora são as preferências laterais e as assimetrias interlaterais de desempenho. Segundo Teixeira (2006): 1) A proporção entre destros e canhotos na população em geral é de aproximadamente 9:1; 2) As preferências laterais e assimetrias motoras manifestam-se precocemente durante o desenvolvimento motor; 3) As preferências laterais são distintas para cada dimensão da lateralidade e se alteram durante o ciclo de vida; 78 4) Há um aumento da congruência interdimensões de preferência lateral durante o desenvolvimento; 5) Em uma mesma dimensão existe variação da força de preferência lateral, mas podem ser identificados grupos de tarefas com perfis similares. 6.1.1 Preferência lateral Existem pelo menos quatro dimensões da lateralidade: Manualidade Podalidade Ocularidade Uricularidade Estas dimensões correspondem, respectivamente, a preferências laterais e assimetrias laterais de desempenho de mãos, pés, olhos e ouvidos direito e esquerdo. Diferentes modelos de relacionamento entre os hemisférios cerebrais têm sido empregados para explicar as origens neurais das assimetrias comportamentais. A compreensão do relacionamento entre os dois hemisférios cerebrais tem sido ampliada pelo uso de técnicas de rastreamento de atividade cerebral durante a execução de movimentos voluntários. O estudo das preferências laterais tem sido realizado por meio de inventários ou pela observação direta do comportamento, enquanto o estudo de assimetrias de desempenho tem sido conduzido através da comparação da capacidade de movimento entre segmentos corporais dos lados direito e esquerdo do corpo (TEIXEIRA, 2006). Assim, em relação à preferência lateral, Teixeira (2006) afirma que: 1. Existem diferentes dimensões da lateralidade e a preferência por um dos lados do corpo não é uniforme entre estas dimensões. 2. A lateralidade pode ser explicada pela forma de interação entre os hemisférios cerebrais. 79 3. Apesar da concepção tradicional de que a lateralidade é determinada basicamente por fatores genéticos, existem evidências de que ela é fortemente influenciada por fatores ambientais, tais como prática diferencial entre os dois lados do corpo. 4. Há variação de preferência manual entre diferentes tarefas motoras, o que pode estar relacionado às exigências particulares de controle motor de cada tarefa. 6.1.2 Mudança da preferência manual por prática unilateral A classificação em destro ou canhoto indica a preferência global pela mão direita ou esquerda, respectivamente, para desempenhar a maioria das habilidades motoras. Alguns autores afirmam que a preferência manual seja determinada por fatores genéticos, isto é, que a presença de um gene determina a preferência manual de uma pessoa. Em um estudo publicado em Brain & Cognition (2007) é apresentado um contraponto a esta perspectiva, mostrando evidência de que a preferência manual em uma tarefa motora é moldada por prática unilateral desta tarefa. Neste estudo que a preferência manual em indivíduos destros foi alterada em tarefa exigindo destreza de movimentos dos dedos, com resultados persistentes no teste de retenção. Em outras palavras, trata-se de uma alteração relativamente persistente do comportamento, correspondendo assim a um efeito de aprendizagem. 6.2 Funções da instrução na aprendizagem Nesse processo as instruções do orientador são precedidas pela avaliação do estágio de aprendizagem do executante, o que restringe o universo de tarefas apropriadas para o avanço da aprendizagem e as correspondentes instruções para sua correta realização. De nada adianta instruir sobre aspectos microscópicos da ação se o padrão global ainda não foi adquirido, assim como seria redundante informar sobre a estrutura global da ação em uma fase em que o indivíduo estivesse em busca do refinamento da habilidade. A parte mais evidente desse processo instrucional é a comunicação do orientador com o aprendiz através de uma dentre diferentes estratégias possíveis, estabelecendo metas para a ação futura e auxiliando na sintonização do foco de atenção. 80 Uma fase crítica nesse processo é a transição entre o que foi comunicado pelo orientador e aquilo que foi efetivamente compreendido pelo executante, de maneira que uma preocupação que deve ser constante para o orientador é a forma pela qual tais instruções são transmitidas. Diante do exposto, são duas as funções da instrução na aprendizagem motora: Informacional Uma das mais evidentes é a função informacional, uma vez que é através da instrução que se comunicam os objetivos pretendidos em termos de modificação ambiental ou de produção de um determinado padrão de movimento. Isto é, como orientador posso estabelecer que a meta da próxima atividade será realizar uma estrela reproduzindo uma demonstração correta da ação (padrão de movimento) ou posso estabelecer como meta passar por entre duas hastes verticais na posição invertida (meta ambiental). Orientação da atenção seletiva A segunda função de relevância para nossa discussão é a de orientação da atenção seletiva. Quando se informa, por exemplo, que as pontas dos pés devem estar estendidas durante uma parada-de-mãos, seja a instrução oferecida antes ou durante a ação, orienta-se o foco de atenção para esse componente da habilidade. Desde que o foco de atenção não pode ser dividido entre duas ou mais fontes de informação simultaneamente, esse procedimento canaliza os recursos de atenção para o aspecto que se deseja corrigir. Dentre os vários aspectos da ação que se deve atender durante o movimento, uma instrução como essa indica que a extensão das pontas dos pés deverá ser privilegiada. 6.2.1 Instrução adequada aos estágios de aprendizagem O praticante atravessa estágios durante o processo de aprendizagem, os quais podem ser identificados por características comportamentais. A grande maioria dessas características está associada ao uso dos recursos atencionais disponíveis nos níveis superiores de processamento do sistema nervoso. 81 Nossa capacidade de atenção consiste em um espaço de processamento com capacidade limitada, o qual não se altera com a aprendizagem. O que a prática de uma tarefa motora faz, de fato, é promover a redução do espaço de processamento de informação (atenção) necessário para o controle da ação. A classificação da complexidade de uma tarefa motora está baseada justamente nesse parâmetro. Isto é, uma tarefa simples é aquela que requer pouco uso dos recursos atencionais, o que fica caracterizado pela baixa demanda de concentração para realizar a ação. Os movimentos são feitos com muita naturalidade e fluência, o que se convencionou chamar de controle automático (ou autônomo). No outro extremo estão as tarefas complexas, com características opostas. Tal classificação é atribuída em função da grande demanda de processamento de informação em níveis superiores do sistema neural, uma vez que o controle é predominantemente consciente. Uma vez que a capacidade de processamento é limitada, o executante tem que se concentrar bastante para realizar a ação com algum sucesso. A demanda de atenção vem não apenas da organização dos movimentos, mas também da necessidade de monitorar a execução da tarefa através do processamento de feedback. Consequentemente, sempre que uma tarefa for realmente nova para um indivíduo, sem que tenha havido prática prévia da tarefa ou possibilidade de transferência de aprendizagem anterior, ela será relativamente complexa para ele. Por outro lado, quanto mais prática específica em uma dada tarefa motora, mais simples essa tarefa se torna para o indivíduo. A partir dessa explicação, depreende-se que estamos tratando da complexidade de forma relativa ao indivíduo e à tarefa. Quanto mais prática em uma tarefa, mais simples (automática) ela se tornapara o aprendiz. Essa retomada das características dos estágios de aprendizagem foi feita para tornar mais explícita a relação entre as necessidades e limitações dos aprendizes e o tipo de instrução que possui maiores chances de ser efetiva no auxílio do processo de aquisição da habilidade. No que se refere à complexidade relativa da tarefa, existe uma hierarquia de objetivos a serem atingidos ao longo do processo de aprendizagem. Essa hierarquia é particular à tarefa e ao nível de aprendizagem, de forma que as metas prioritárias são diferentes para cada etapa do processo de aquisição da habilidade. Uma regra básica nesse item é que as prioridades evoluem do global para o específico, ou seja, de aspectos macroscópicos para aspectos microscópicos da ação motora. 82 A preocupação central no início da aprendizagem de qualquer habilidade é o domínio da estrutura global da ação, o que é específico para cada habilidade. Por estrutura global nos referimos ao padrão geral de coordenação, com uma correta organização entre os movimentos dos segmentos corporais envolvidos. A compreensão da relação espaço- temporal entre a ação do tronco e dos membros é algo que deve ser perseguido nas instruções iniciais, fazendo com que o aprendiz adquira a ideia geral do movimento. Uma vez que a meta inicial tenha sido atingida, passa-se para o segundo degrau da hierarquia estabelecida pelo orientador, e assim sucessivamente até que se chegue ao outro extremo da hierarquia de metas, em uma etapa que se poderia chamar de refinamento da ação. Nesta etapa, uma vez que a estrutura global da habilidade já foi aprendida, o alvo prioritário passa a ser o desenvolvimento de detalhes, tais como expressividade, amplitude, e finalização dos movimentos. Consequentemente, a instrução deve acompanhar essa hierarquia, através do oferecimento apenas das informações compatíveis com o estágio de aprendizagem do executante. 6.3 Interferência contextual na aprendizagem motora Via de regra, a prática de habilidades motoras, independentemente do estágio de aprendizagem, é realizada em bloco. Isto é, em uma sessão de treinamento, pratica-se extensivamente uma tarefa antes de passar à prática da tarefa seguinte, constituindo-se blocos de tentativas em uma mesma tarefa. Esse procedimento traz uma vantagem de se poder analisar os resultados da tentativa recém-executada e tentar aproveitar essa avaliação na melhoria do desempenho na tentativa seguinte. No entanto, evidências experimentais têm mostrado que outra estratégia de organização da prática é mais efetiva em termos de aprendizagem: a alternância entre variações de uma tarefa ou entre tarefas distintas dentro de uma sessão de treinamento. Esse procedimento conduz a resultados melhores não apenas na aprendizagem da tarefa específica, mas principalmente na transferência para tarefas relacionadas. Esse efeito tem sido chamado de interferência contextual. 83 Os primeiros resultados de pesquisa revelando esse efeito na área de aprendizagem motora foram apresentados por Shea e Morgan (1979), ao investigarem a aquisição de uma tarefa motora simples de laboratório. A tarefa envolvia o contato de uma série de pequenas barreiras de madeira com uma das mãos, procurando-se realizar a sequência especificada o mais rapidamente possível. Nesse experimento foram usados três padrões sequenciais de movimento, sendo que cada um deles foi praticado através de uma série de tentativas. A um grupo experimental foi oferecida prática em blocos, com cada padrão de movimento sendo praticado de uma única vez, até que se esgotassem as tentativas correspondentes (baixa interferência contextual). Um segundo grupo praticou os mesmos padrões, só que alternando aleatoriamente os padrões sequenciais de contato das barreiras entre os três estabelecidos (alta interferência contextual). Através dessa estratégia, não havia repetição de padrões em tentativas seguidas. O teste de aprendizagem constou da avaliação do desempenho nos padrões praticados (retenção) e em uma tarefa de transferência, em que foi solicitado um novo padrão de ação. A análise dos resultados mostrou que o grupo de prática em blocos se saiu melhor durante a prática. Porém, o grupo de prática aleatorizada alcançou os melhores desempenhos tanto na retenção quanto na transferência de aprendizagem, indicando que a condição de alta interferência contextual foi a mais efetiva em promover a aprendizagem dessa habilidade motora. 6.3.1 Via sensorial Outra decisão que o orientador deverá tomar durante o processo instrucional diz respeito à via sensorial que será empregada por ele para se comunicar com o aprendiz. As alternativas disponíveis nesse item são a comunicação através das vias visual, auditiva e tátil. Visual Dentro da modalidade visual de instrução, devemos ainda escolher entre algumas alternativas de informar ao aprendiz as metas de desempenho. Tais instruções podem ser dadas com imagens estáticas, tais como figuras de livros, ou de forma dinâmica, através de modelos ao vivo ou filmagens. 84 Para a forma dinâmica, deve-se escolher ainda entre um modelo habilidoso, que apresente a forma correta de execução, ou um modelo não treinado durante o processo de aprendizagem. Verbal No caso da instrução verbal, o aprendiz precisa fazer a decodificação de uma série de informações oferecidas pelo orientador e transformá-las, posteriormente, em um código visual e proprioceptivo, sobre o qual está baseado o controle dos movimentos. A instrução auditiva raramente é empregada de forma pura, particularmente quando se trata de uma habilidade complexa, possuindo vários componentes a serem controlados integradamente. No entanto, seu uso tem algumas vantagens em relação ao uso exclusivamente de informação visual. A primeira delas está, paradoxalmente, na falta de definição exata da meta de movimento. Se por um lado isso gera incerteza e imprecisão na execução da ação, por outro dá liberdade ao executante de realizar uma variedade de organizações da resposta que a informação visual de certa forma restringe. Quando se oferece uma imagem ao aprendiz, está-se especificando exatamente a ação que ele deve tentar reproduzir, enquanto que a instrução verbal é mais vaga por natureza, deixando em aberto como determinadas partes do movimento devem ser feitas. O efeito benéfico dessa forma de instrução se manifesta principalmente em situações de transferência, quando se altera a tarefa original para outra relacionada a ela. Tátil A terceira modalidade sensorial de instrução é a tátil. Essa estratégia usualmente é empregada em situações em que o aprendiz não consegue realizar o movimento ou existe algum risco à integridade física do executante, algo muito comum em ginástica artística. 85 O auxílio mecânico pode ser usado em alguns casos, como um recurso instrucional no início da aquisição de algumas habilidades. Porém, não se deve insistir nesse recurso em estágios posteriores sob pena de criar uma situação artificial de prática, que torna o executante dependente desse auxílio extrínseco, retardando assim o processo de aprendizagem. 6.4 Organização e estruturação da prática para a aprendizagem motora Para maximizar o aprendizado e o desempenho motor, a prática deve ser organizada e estruturada. A forma como a prática é organizada interfere na qualidade e quantidade de informações recebidas, processadas e geradas. A quantidade e a qualidade da prática são fundamentais para a formação de um comportamento habilidoso. 6.4.1 Estabelecer metas Estabelecer metas é uma estratégia motivacional que procura direcionar e manter a atenção do executante para um determinado objetivo a ser alcançado. Ajuda o aprendiz a ter maior comprometimento com a tarefa para executá-la com maior dedicação e motivação. A estratégia de estabelecermetas pode ser vista como um traço característico do comportamento humano, observado na capacidade de projetar condições futuras para guiar as suas ações presentes (SCHMIDT, 2016). 6.4.2 Instrução A forma de passar as instruções pode influenciar o processo de aprendizagem motora. A demonstração (instrução visual) e a instrução verbal e tátil são as formas mais comuns de fornecimento de informações. O profissional seleciona a forma de instrução coerente com os objetivos, modalidade e estágio de aprendizagem. 86 6.4.3 Estratégias para a prática Algumas estratégias de prática podem ser utilizadas para organizar a prática pelo todo ou por partes: Fragmentação: ocorre a decomposição dos elementos da tarefa em subcomponentes, para serem praticados isolados, e depois quando aprendidos, realizados com todas as partes juntas; Segmentação: uma parte da habilidade é praticada até que seja aprendida, só então a segunda parte é adicionada à primeira, e as duas são praticadas juntas e assim por diante, até que toda a habilidade seja realizada; Simplificação: significa simplificar a habilidade, reduzindo em algum aspecto sua dificuldade, até que ela seja aprendida. Ao escolher qual a melhor estratégia para a prática, pode-se levar em consideração o tipo de habilidade que será aprendida. Para as habilidades seriadas ou contínuas, o mais apropriado é utilizar o método pelas partes. Se a habilidade é discreta ou possui poucos componentes, a prática pelo todo pode ser a mais efetiva (SANTOS, 2012). 6.4.4 Análise qualitativa do movimento Professores e técnicos esportivos frequentemente fornecem informação de feedback a alunos/atletas para que estes melhorem seus desempenhos. Algumas dessas informações são relativas aos resultados da ação, como quando o professor de natação diz ao seu aluno que ele nadou os últimos 25 m em 17 s, ou quando o técnico de voleibol diz que a cortada de um atacante está muito fraca. Outra categoria de informação consiste em comunicar uma avaliação do padrão de movimento que gerou o resultado observado. No caso da natação, o professor poderia dizer a um aluno que ele está elevando demasiadamente a cabeça para respirar, assim como o técnico de voleibol poderia informar a seu atleta que ele precisa usar mais a ação do tronco nos movimentos de ataque ao invés de restringi-los à ação dos braços. 87 Nas duas primeiras situações temos condições de medir os resultados do ato motor para avaliar o desempenho, cronometrando-se o tempo gasto para cruzar a piscina ou medindo-se a velocidade de deslocamento da bola. O que fazer, entretanto, para avaliar o padrão de movimento como feito para fornecer as duas últimas informações? Esse é um problema crítico também para árbitros de modalidades esportivas, tais como em ginástica artística e saltos ornamentais, em que o avaliador necessita atribuir uma nota para o desempenho observado sem que nenhuma medida quantitativa tenha sido feita. Nessas situações, procede-se ao que se chama de análise qualitativa, em que o avaliador observa o padrão de movimento apresentado e compara essa apresentação com critérios de qualidade de execução previamente definidos. Consequentemente, o avaliador precisa ter esses critérios muito bem assimilados, de forma que consiga realizar uma comparação em tempo real entre a imagem que ele recebe durante a observação da ação e um referencial interno de correção. A partir da diferença entre esse referencial e os movimentos efetivamente executados, o instrutor emite sua informação de feedback e o árbitro sua nota para a apresentação. Na pesquisa científica em aprendizagem motora, a avaliação de padrões de movimento segue os mesmos princípios, com uma diferença: os padrões de movimento são filmados e, posteriormente, analisados em seus detalhes, através de uma escala de avaliação. Nessa escala de avaliação usualmente a ação motora é dividida em suas partes principais e cada parte é analisada em termos da qualidade de sua execução. Para cada item são previstos diferentes níveis de execução, de forma que se possam classificar os movimentos desde um nível elementar até o mais avançado. O passo seguinte nesse procedimento é atribuir pontos crescentes a cada nível dos componentes avaliados, e através da soma de todos os pontos obter um escore geral indicador da qualidade do desempenho. 88 SAIBA MAIS Contribuições da aprendizagem motora: a prática na intervenção em Educação Física Artigo de Herbert Ugrinowitsch e Rodolfo Novellino Benda publicado em dez. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbefe/v25nspe/04.pdf Conclusão Neste bloco, abordamos alguns dos princípios relacionados ao desenvolvimento da lateralidade, os principais aspectos da aprendizagem motora relacionados à instrução e algumas dicas sobre a organização da prática para a aprendizagem motora. Compreendemos que o trabalho com a lateralidade abrange diversos aspectos relacionados aos hemisférios direito e esquerdo do corpo. Em relação à preferência lateral, existem pelo menos quatro dimensões da lateralidade: manualidade, podalidade, ocularidade e uricularidade. Apesar de existirem evidências que a preferência lateral pode ser determinada por fatores genéticos, o trabalho diferenciado com ambos os hemisférios corporais pode influenciar no desenvolvimento de habilidades laterais a partir do controle motor de determinada tarefa. Sobre o papel da instrução na aprendizagem motora, é relevante destacar que as principais funções da instrução neste contexto têm o caráter informacional e de orientação da atenção seletiva. Contudo, é imprescindível que a instrução seja adequada ao estágio de aprendizagem que o indivíduo se encontra, analisar as possíveis interferências contextuais que influenciam no processo de aprendizagem motora e selecionar estratégias de instrução que atendam às metas e modalidade a ser trabalhada. Em relação à organização da prática para a aprendizagem motora, pontos como definição de metas, seleção do tipo de instrução, estratégias para a prática e análise qualitativa do movimento devem ser levados em consideração desde o planejamento até efetiva conclusão da tarefa motora proposta. 89 Referências KNUDSON, D.V.; MORRISON, C.S. Análise qualitativa do movimento humano. São Paulo: Manole, 2001. LAMEIRA, A.P.; GAWRYSZEWSKI, L.G.; PEREIRA JR, A. Neurônios espelho. Psicologia USP, v. 17, n. 4, p. 123-133, 2006. Disponível em: https://bit.ly/35YiTft. Acesso em: 20 jan. 2021. MAGILL, R.A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2000. MAGILL, R.A. Aprendizagem e controle motor: conceitos e aplicações. São Paulo: Phorte, 2011. TEIXEIRA, L.A. Aprendizagem de habilidades motoras na ginástica artística. In: NUNOMURA, M.; NISTA-PICCOLO, V.L. (Eds.). Compreendendo a ginástica artística. São Paulo: Phorte, 2004. p. 77-106. TEIXEIRA, L.A. Controle motor. Barueri, SP: Manole, 2006. 1 CRESCIMENTO: CONCEITOS BÁSICOS, ASPECTOS FISIOLÓGICOS E FATORES INFLUENCIADORES 2 DESENVOLVIMENTO: CONCEITOS BÁSICOS E FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR 3 ASPECTOS FÍSICOS, COGNITIVOS E PSICOSSOCIAIS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA 4 ASPECTOS FÍSICOS, COGNITIVOS E PSICOSSOCIAIS NA VIDA ADULTA 5 PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM MOTORA 5.1 Conceitos e princípios teóricos da aprendizagem motora 6 APRENDIZAGEM MOTORA: LATERALIDADE, INSTRUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA