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<p>1</p><p>ARGUMENTAÇÃO</p><p>Profa. Dra. Angela Cristina di Palma Back</p><p>Prof. Me. Carlos Arcângelo Schilickmann</p><p>Profa. Dra. Cibele Beirith Figueiredo Freitas</p><p>Profa. Ma. Daniela Arns Silveira</p><p>Profa. Ma. Eloisa da Rosa Oliveira</p><p>4</p><p>De acordo com o Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa, argumentar é</p><p>“apresentar fatos, razões, provas contra ou a favor (de algo)” (2010, p. 4). Nesse</p><p>sentido, podemos entender um argumento como a apresentação de uma ideia a ser</p><p>defendida, ou seja:</p><p>Argumentos são proposições destinadas a fazer admitir uma dada tese.</p><p>Argumentar é, pois, construir um discurso que tem finalidade de persu-</p><p>adir. Como qualquer discurso, o argumento é um enunciado, resultante,</p><p>pois, de um processo de enunciação, que põe em jogo três elementos:</p><p>o enunciador, o enunciatário e o discurso, ou, como foram chamados</p><p>pelos retores, o orador, o auditório e a argumentação propriamente</p><p>dita, o discurso. Esses três fatores concorrem para o ato persuasório</p><p>(FIORIN, 2015, p. 69).</p><p>Com base nas ideias acima, é possível afirmar que a função principal de um argu-</p><p>mento é fazer com que o interlocutor acredite no discurso do enunciador. A tríade</p><p>enunciador, enunciatário e discurso participa da argumentação. Nesse processo, o</p><p>enunciador precisa convencer o enunciatário de algo a partir do discurso.</p><p>CONCEITO</p><p>DE ARGUMENTO1</p><p>Um texto que pode ser explorado sob o ponto de vista da argumentação é o Sermão da</p><p>Sexagésima, escrito pelo Padre Antônio Vieira e proferido por ele na Capela Real, em Lisboa,</p><p>no ano de 1655. Apesar de ter objetivo religioso, é possível lermos esse sermão pelo viés da</p><p>“arte de argumentar”, uma vez que o texto usa a metáfora da Parábola do Semeador para</p><p>tratar da arte de persuadir. O Sermão da Sexagésima pode ser encontrado aqui!</p><p>VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. Sermões Escolhidos. v. 2, São Paulo: Edameris, 1965. Disponível em: http://bit.ly/2XukMts.</p><p>Acesso em: 5 jul. 2019.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Para construir um ponto de vista, ou seja a argumentação, podemos utilizar informa-</p><p>ções, dados, exemplos. Para que convençamos nosso interlocutor, é necessário que</p><p>exponhamos as ideias que confirmam e sustentam nosso argumento. Existem inú-</p><p>meras maneiras de se construir os “alicerces” que sustentarão nossos argumentos.</p><p>Veremos alguns deles a seguir.</p><p>ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO</p><p>DO TEXTO ARGUMENTATIVO2</p><p>ARGUMENTO PELO EXEMPLO2.1</p><p>Na argumentação pelo exemplo, identificamos um caso geral e, a partir de exemplos</p><p>de casos específicos e parecidos, reafirmamos nossa opinião. Nesse caso, o exemplo</p><p>http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1745</p><p>5</p><p>A argumentação de autoridade ocorre com inserção de autores renomados ou espe-</p><p>cialistas em determinada área para confirmar a tese apresentada. Veja o exemplo que</p><p>segue:</p><p>será nosso argumento. A tese (opinião) que será sustentada pelo exemplo poderá ser</p><p>inserida em qualquer parte do texto, seja no início, no meio ou no fim. O fundamental</p><p>é que a ilustração seja real, consistente, podendo ser narrada de forma breve ou ex-</p><p>tensa (FIORIN, 2015).</p><p>ARGUMENTO POR VOZ AUTORIDADE2.2</p><p>Pane mental, o efeito de uma noite em claro</p><p>A privação do sono amplia transtornos de humor, como a ansiedade, e prejudica o</p><p>aprendizado e a tomada de decisão.</p><p>Se você anda adotando estratégias erradas no dia a dia, convivendo com desempenhos</p><p>baixos e discutindo sem motivo aparente, preste atenção no seu sono. Novas pesquisas</p><p>confirmam que uma noite mal dormida destrambelha o processamento das emoções,</p><p>compromete o raciocínio e até debilita a memória.</p><p>[...]</p><p>“O equilíbrio dos sentimentos depende da qualidade do sono e vice-versa. Sem dormir</p><p>direito, ocorrem alterações de comportamento, já que a produção de neurotransmissores e</p><p>hormônios fica desregulada”, afirma a neurologista Anna Karla Smith, do Instituto do Sono,</p><p>em São Paulo.</p><p>[...]</p><p>Fonte: PANE mental, o efeito de uma noite em claro. Revista Saúde é Vital, São Paulo, out. 2012.</p><p>EXEMPLO</p><p>Para reafirmar a ideia de que a privação de sono influencia negativamente na vida das</p><p>pessoas, usam-se diversos argumentos, dentre eles a voz autoridade de uma médica</p><p>neurologista, a qual reforça a tese de que uma noite mal dormida pode causar danos</p><p>à saúde.</p><p>Esse tipo de argumentação é muito utilizado em textos acadêmicos, podendo ocorrer</p><p>em forma de citação direta da fonte consultada, ou indireta, como paráfrase, e tem</p><p>como função a corroboração das ideias. No entanto é importante ressaltar que o argu-</p><p>mento de autoridade, ao ser inserido num texto acadêmico, tem como objetivo reforçar</p><p>uma tese e, para que exerça essa função, ele precisa estar contextualizado. Nesse</p><p>sentido, os autores citados servem para dar veracidade, para confirmar uma ideia. Se</p><p>a citação estiver sozinha, solta e sem contexto, ela perderá a sua função primordial.</p><p>ARGUMENTOS COM BASE NUMA PROBLEMÁTICA 2.3</p><p>Uma estratégia possível de construir a argumentação pode ser baseada numa proble-</p><p>6</p><p>Para defender uma ideia, é possível fazer uso de argumentos baseados em provas</p><p>concretas. Esses argumentos dificilmente serão refutados, pois estão embasados em</p><p>fontes comprovadas, dados, estatísticas e percentuais. Assim, é fundamental que os</p><p>dados apresentados sejam verdadeiros e a que as fontes de consulta sejam indica-</p><p>das. Veja o exemplo que segue:</p><p>mática, a partir da qual se inserem sugestões de solução do problema apresentado</p><p>(KOCH; ELIAS, 2016).</p><p>ARGUMENTOS COM COMPROVAÇÃO EM PROVAS CONCRETAS2.4</p><p>Bem Vindo ou Bienvenido(a) Doutor(a)</p><p>Há milhões de excluídos desta sociedade que (sobre) vivem nas zonas periféricas das</p><p>cidades ou estados e que nunca viram um médico na vida. Suas doenças e malefícios são</p><p>mais simples, decorrentes também de suas condições de saneamento básico.</p><p>Inicialmente, é de limitar o debate a um ponto específico: falta de profissionais médicos nas</p><p>periferias das grandes cidades e nos rincões dos estados. [...] O assunto é pontual.</p><p>Fato são os números – a essa altura já reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina – a</p><p>partir dos quais as conclusões são duas: existem poucos médicos no Brasil. No Brasil são</p><p>1,8 médicos por 1000 habitantes (na Argentina são 3,2/1000). Há 5 estados com menos de</p><p>um médico por 1000 habitantes, e 20 estados com menos de 1,8 médicos por 1000. Outro</p><p>número alarmante é que em 700 municípios brasileiros não há um só médico com endereço</p><p>no local, há necessidade urgente, pois.</p><p>[...]</p><p>Fonte: OZAWA, Luiz Fernando. Apologia à crítica: 100 crônicas selecionadas. Itajaí, SC: Ipêamarelo, 2015.</p><p>EXEMPLO</p><p>No exemplo acima, é possível perceber que o autor expõe sua ideia central: “falta de</p><p>profissionais médicos nas periferias das grandes cidades e nos rincões dos estados”</p><p>e constrói sua argumentação com dados da realidade: “No Brasil são 1,8 médicos</p><p>por 1000 habitantes (na Argentina são 3,2/1000). Há 5 estados com menos de um</p><p>médico por 1000 habitantes, e 20 estados com menos de 1,8 médicos por 1000.</p><p>Outro número alarmante é que em 700 municípios brasileiros não há um só médico</p><p>com endereço no local [...]”.</p><p>A comunicação, tanto oral como escrita, é uma necessidade em todas as áreas do</p><p>conhecimento. Precisamos estar aptos para nos comunicar das mais diversas formas,</p><p>seja por e-mail, por um bilhete, por um ofício, ou mesmo por chat, no qual, muitas vezes,</p><p>utilizamos a modalidade oral na forma escrita. Para que isso ocorra de forma eficaz,</p><p>precisamos adequar o nosso discurso ao objetivo da nossa comunicação.</p><p>REFLITA</p><p>7</p><p>As pistas às quais Koch e Elias (2016) se referem são os elementos que estruturam</p><p>um texto argumentativo, cuja descrição acontecerá a seguir, num primeiro momento,</p><p>com a noção de parágrafo argumentativo e, depois, com a abordagem do texto pro-</p><p>priamente dito.</p><p>ORGANIZAÇÃO</p><p>DO PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO3</p><p>O texto tem seus segredos e, para desvendá-los, é preciso seguir as pistas que</p><p>sugerem ativação de conhecimentos necessários ao preenchimento das lacunas</p><p>(KOCH; ELIAS, 2016)</p><p>“</p><p>”</p><p>TÓPICO FRASAL3.1</p><p>Partindo</p><p>do princípio de que argumentar é se posicionar acerca de um determinado</p><p>assunto, demonstrando estar de acordo ou contra o que se apresenta como tema</p><p>para discussão, é relevante que se reflita um pouco sobre o parágrafo argumentativo</p><p>e, para tanto, é salutar começarmos com o tópico frasal.</p><p>Segundo Medeiros (2004, p. 264), “argumentar é, pois, apresentar a</p><p>demonstração de um raciocínio, é expor razões para convencer o receptor</p><p>de uma mensagem; é induzir alguém à persuasão ou convicção”.</p><p>Nesse sentido, precisamos nos ater ao fato de que o convencimento será mais efetivo</p><p>se nos valermos de evidências, ou seja, de provas. Quanto mais consistente o racio-</p><p>cínio em que se apoia a argumentação, mais força do ponto de vista da persuasão o</p><p>texto terá. Trata-se, aqui, de considerar a prática da argumentação quase como uma</p><p>questão de lógica, uma vez que essa tende a buscar testemunhos, exemplos e dados</p><p>estatísticos para comprovar sua ação de argumentar.</p><p>E, para entendermos como funciona o parágrafo, temos de reconhecer as partes que</p><p>o compõem, tais como as que compõem o texto por inteiro: introdução (tópico-fra-</p><p>sal), desenvolvimento (ideia central) e conclusão (fechamento do parágrafo). Aqui,</p><p>interessa discutirmos do que trata o tópico frasal.</p><p>O tópico frasal deve indicar a delimitação do assunto a ser desenvolvido ao longo do</p><p>parágrafo, de forma a apresentar os limites do que será exposto. Quando o autor do</p><p>parágrafo e, por conseguinte, do texto, tende a não delimitar seu tópico-frasal, corre-</p><p>-se o risco de cometer incoerência ao longo da produção.</p><p>Tópico frasal é a apresentação de uma frase ou período cuja ideia se apresenta de</p><p>forma completa e certeira com relação ao tema sobre o qual devemos argumentar.</p><p>8</p><p>Vejamos a diferença que existe em delimitar o assunto de que tratamos, como ocorre</p><p>no exemplo de tópico-frasal preciso, uma vez que a sequência do parágrafo deve se-</p><p>guir a coerência do já-dito, mantendo-se a unidade de assunto. A frase inicial, ou seja,</p><p>o tópico-frasal, portanto, tem o compromisso de manter o controle do pensamento a</p><p>ser desenvolvido a seguir.</p><p>Tópico-frasal impreciso: A leitura é fundamental.</p><p>Tópico-frasal preciso: A leitura de diferentes gêneros textuais, como artigos opinativos</p><p>e crônicas literárias, os quais são capazes de fazer refletir sobre situações do cotidiano e</p><p>situações históricas, é de fundamental para a formação do cidadão crítico.</p><p>EXEMPLO</p><p>Tendo entendido o que é tópico-frasal, partimos para o desenvolvimento do parágra-</p><p>fo, que deve ser mantido na mesma linha de coerência e adequação do assunto de</p><p>que se tratou na frase-base. Assim, o desenvolvimento do parágrafo tem de se apre-</p><p>sentar com unidade de sentido, na medida em que deve desenvolver uma única ideia</p><p>e atingir o objetivo de esmiuçar definições convincentes acerca do tema, apontando</p><p>exemplos, argumentos de prova, comparações, causas e efeitos. É preciso, então,</p><p>que o parágrafo seja construído a partir da relação que se pode estabelecer entre</p><p>o que o autor pensa e os conhecimentos de mundo que ele seja capaz de acionar,</p><p>estabelecendo entre o pensar e os seus conheceres o que podemos chamar de links.</p><p>No que diz respeito às construções frasais dentro do parágrafo, é fundamental que</p><p>essas estejam ligadas coerentemente. Também é importante que observemos o ta-</p><p>manho dos parágrafos, uma vez que, quando longos demais, podem causar confu-</p><p>são, mas, curtos, podem dar a impressão de pouca profundidade no assunto. Esse</p><p>olhar é válido, ainda, para o entendimento das frases, que devem oscilar entre curtas</p><p>e longas, mostrando domínio linguístico e estrutural do gênero e do assunto. Con-</p><p>tudo, devemos atentar ao objetivo maior da produção textual: a clareza das ideias</p><p>(MEDEIROS, 2004).</p><p>Por último, precisamos cuidar com a transposição de um parágrafo a outro, o que</p><p>deve ser feito com um vocábulo que anuncie o parágrafo seguinte, retomando a ideia</p><p>central do parágrafo anterior. Atentemos!</p><p>DESENVOLVIMENTO3.2</p><p>Ser ético é sempre pensar no bem comum. É sair do discurso e incorporar no cotidiano</p><p>atitudes pautadas nesse princípio, que vale tanto para a forma como agimos em casa, no nosso</p><p>condomínio, no trânsito, na fila do banco, na escola dos filhos, na empresa, como na sociedade.</p><p>EXEMPLO</p><p>9</p><p>Veja que o primeiro parágrafo trata do que é ser ético, apresentando situações em que</p><p>podemos expressar esse princípio. Note que o parágrafo seguinte retoma essa ideia,</p><p>contudo, como faz a mudança de parágrafo, agora, recupera o tópico frasal anterior e</p><p>apresenta uma nova abordagem sobre o tema, colocando para o leitor a questão da</p><p>ética profissional nos ambientes de trabalho.</p><p>Ética nas relações de trabalho prevê uma relação saudável entre capital e trabalho. Envolve</p><p>um compartilhar coletivo pelo sucesso e pelos erros. Pressupõe um participar holístico e</p><p>uma realização pessoal e profissional. A modernidade que queremos para o país e para as</p><p>relações de trabalho só será consistente se for embasada em princípios Éticos.</p><p>Fonte: D’ELIA, Maria Elizabete Silva. Ética: fator diferenciador no comportamento. Salvador: UFBA, set. 1995. Disponível em: http://bit.</p><p>ly/2xttzkP. Acesso em: 5 jul. 2019. (adaptado)</p><p>CONCLUSÃO3.3</p><p>Com base no que já tratamos de elaboração do parágrafo, como a construção do</p><p>tópico-frasal e o desenvolvimento, podemos, agora, tratar da sua conclusão.</p><p>Nesse sentido, para a construção do parágrafo conclusivo, devemos ter clareza do</p><p>que discutimos e apresentamos até então, porque a frase final do parágrafo deverá</p><p>retomar o pensamento inicial do ponto de vista de lhe apresentar um fechamento,</p><p>não deixando brechas para outras conclusões, ao menos não com relação ao domí-</p><p>nio linguístico, uma vez que se recomenda que sejam usados elementos de ligação</p><p>entre o que foi dito nas orações anteriores e o que está sendo dito na última frase/</p><p>sentença.</p><p>Note que o uso do conectivo “então”, no início da frase-final, anuncia que o parágrafo</p><p>está se encaminhando para o seu encerramento. Entretanto isso não significa que</p><p>deverá ser sempre dessa forma, posto que se admitem diferentes possibilidades de</p><p>conclusão, como o uso de algum substantivo que dê a noção de fechamento dentro</p><p>do contexto da produção.</p><p>A miopia é um distúrbio bastante comum no ser humano. Não sou oftalmologista, mas na</p><p>qualidade de míope, desde os onze anos de idade, aprendi que existem, basicamente, duas</p><p>formas de resolver esse problema: uso de lentes corretivas ou cirurgia. Quem não optar</p><p>por uma das duas, dependendo do grau da anomalia, não conseguirá enxergar direito à</p><p>distância [sic] e precisará que alguém lhe diga o que vê. Então, se essa pessoa for bem-</p><p>intencionada, auxiliará da melhor forma possível. Mas se for de má índole...</p><p>Fonte: GONÇALVES, Adilson Luiz. Miopia de informação. Curitiba: FENASSEC, maio 2004. Disponível em: http://bit.ly/2XTxKVE. Acesso</p><p>em: 5 jul. 2019. (adaptado)</p><p>EXEMPLO</p><p>10</p><p>De acordo com Koch e Elias (2016), a ação de começar a escrever é uma questão</p><p>que exige postura ativa de quem escreve, mas também revela que escrever suscita</p><p>trabalhar.</p><p>ORGANIZAÇÃO</p><p>DO TEXTO ARGUMENTATIVO4</p><p>INTRODUÇÃO AO ASSUNTO4.1</p><p>De posse dos conhecimentos necessários para a produção de um parágrafo argu-</p><p>mentativo, podemos começar a conversar sobre como produzir um texto argumen-</p><p>tativo, de forma tal que podemos refletir sobre a introdução ao assunto. Isso posto,</p><p>entendemos que a ação primeira a ser considerada para o começo da produção do</p><p>texto argumentativo é o planejar. Planejar de acordo com os propósitos a serem al-</p><p>cançados, do ponto de vista do gênero, do assunto, dos envolvidos, do contexto e,</p><p>finalmente, do defendido na produção.</p><p>Segundo Koch e Elias (2016, p. 158), “um tema pode ser visto sob diferentes ângu-</p><p>los”. Dessa forma, é preciso que deixemos claro o ponto de vista a ser defendido</p><p>logo nas primeiras frases; essa prática orientará a sua argumentação no decorrer do</p><p>texto. Também é relevante a fundamentação dos argumentos adotados em fatos, os</p><p>quais possam reforçar</p><p>e dar maior visibilidade ao que estamos apresentando. Tratam-</p><p>-se, muitas vezes, de argumentos de prova e de autoridade, em que podemos citar</p><p>pessoas gabaritadas no assunto, bem como situações e acontecimentos que exem-</p><p>plifiquem o que estamos colocando no texto.</p><p>Para além dos quesitos apresentados, Koch e Elias (2016) nos apresentam outras</p><p>estratégias para o começo de uma argumentação, as quais seguem:</p><p>a. Declaração inicial: negação ou afirmação acerca do pretendido, desenvolvendo</p><p>fundamentação/justificação a seguir;</p><p>b. Contação de história: é preciso saber contar a história para que haja o envolvi-</p><p>mento do leitor; contudo observe que não se trata de gênero conto, ou seja, o objetivo</p><p>não é a contação da história, mas fazer uso dela para uma argumentação;</p><p>c. Intertextualidade: citação ou menção a outros textos, o que demonstra conheci-</p><p>mento de mundo, e chama a atenção do leitor;</p><p>d. Pergunta(s): o lançamento de pergunta(s) no início do texto, além de ajudar a de-</p><p>limitar o assunto, também auxilia no desenvolvimento da argumentação que virá em</p><p>seguida, já que conduz para as respostas;</p><p>e. Comparação: pressupõe a apresentação de semelhanças e de diferenças com o</p><p>intuito de se chegar a uma conclusão;</p><p>f. Definição: apresentação de definição de termo desconhecido pelo autor até então,</p><p>cuja relevância para a produção é grande;</p><p>g. Categorização: invenção de termo próprio para a defesa da argumentação, apre-</p><p>11</p><p>sentado entre aspas ou em outro recurso gráfico, por conta de seu ineditismo. É</p><p>preciso que seja explicado;</p><p>h. Casos enumerados: servem como exemplos para o começo da discussão do</p><p>tema, fortalecendo o que se pretende defender;</p><p>i. Linha do tempo: trata-se de apresentar a mudança de conceitos ao longo do tem-</p><p>po, o que contribui para chamar a atenção do leitor por conta de sua curiosidade pelo</p><p>assunto e/ou pela questão histórica.</p><p>Miopia de Informação</p><p>A miopia é um distúrbio bastante comum no ser humano. Não sou oftalmologista, mas na</p><p>qualidade de míope, desde os onze anos de idade, aprendi que existem, basicamente, duas</p><p>formas de resolver esse problema: uso de lentes corretivas ou cirurgia. Quem não optar</p><p>por uma das duas, dependendo do grau da anomalia, não conseguirá enxergar direito à</p><p>distância [sic] e precisará que alguém lhe diga o que vê. Então, se essa pessoa for bem-</p><p>intencionada, auxiliará da melhor forma possível. Mas se for de má índole, o resultado será</p><p>um diferente do esperado. As coisas são mais ou menos iguais quando se trata do ato de</p><p>informar, qualquer que seja a mídia: a imagem que vemos ou a informação que recebemos</p><p>pode ser absolutamente verídica, mas se o contexto for omitido poderá ser leviana ou</p><p>intencionalmente tendenciosa.</p><p>Fonte: GONÇALVES, Adilson Luiz. Miopia de informação. Curitiba: FENASSEC, maio 2004. Disponível em: http://bit.ly/2XTxKVE. Acesso</p><p>em: 5 jul. 2019. (adaptado)</p><p>EXEMPLO</p><p>Observe que o parágrafo inicial apresenta a tese de que o ato de informar pode fun-</p><p>cionar como a imagem vista por alguém que tenha miopia, no sentido de ser vista</p><p>como um todo, desde o que está posto até o que está implícito, bem como a sua</p><p>contextualização (ambiente, pessoas envolvidas, tempo histórico e demais questões),</p><p>ou ser compreendida apenas do ponto de vista de sua apresentação visível, sem ob-</p><p>servar as questões citadas acima. Note que o artifício usado para introduzir o tema e</p><p>a tese do autor do texto é a comparação, de que tratamos anteriormente.</p><p>DESENVOLVIMENTO DA ARGUMENTAÇÃO4.2</p><p>Agora, é preciso que nos posicionemos no que diz respeito a apresentar argumentos</p><p>que sustentem nossa posição acerca do tema solicitado. Então, como fazer o desen-</p><p>volvimento do texto argumentativo? É preciso pensar/criar um roteiro, selecionar as</p><p>ideias e organizá-las de acordo com o que foi anunciado na introdução do texto.</p><p>A vida na França, na década de 1980, permitia que fossem lidos, além de jornais e revistas</p><p>– do consulado brasileiro –, correspondências e telefonemas esporádicos, os quais eram</p><p>EXEMPLO</p><p>12</p><p>guardados, também alguma notícia ou imagem do Brasil, fornecidos pelas emissoras de</p><p>televisão locais. O sucesso da informação só aconteceu em cinco oportunidades:</p><p>Primeira: Um jornalista francês entrevistou o magnífico ator Grande Otelo numa espelunca</p><p>patética. O entrevistado estava visivelmente alterado e mal conseguia responder as</p><p>perguntas. Qual a intenção do entrevistador? Curiosamente, uma das mais cortejadas e</p><p>controvertidas personalidades artísticas francesas da época: Serge Gainsbourg – mais</p><p>conhecido como autor da música “Je t´aime” –, comparecia a todos os eventos públicos:</p><p>embriagado, mal-vestido, falando palavrões e fumando um cigarro atrás do outro!</p><p>Segunda: Numa reportagem sobre os “bóias-frias” dos canaviais brasileiros, as cenas de</p><p>pobreza e trabalho árduo eram entrecortadas com imagens de um empresário desconhecido,</p><p>elegantemente trajado, num suntuoso escritório de um edifício paulistano, exaltando a</p><p>pujança do mercado de açúcar e álcool. Em compensação, o governo e a alta sociedade</p><p>parisiense execraram o humorista “Coluche”, quando este implantou, com o apoio de</p><p>outros artistas famosos, os “Restaurants du Coeur” (Restaurantes do Coração), destinados</p><p>a oferecer calor e alimento aos sem-teto da capital francesa, que, descobriu-se, não eram</p><p>poucos!</p><p>Terceira: Um comediante francês veio ao Brasil, especialmente para cobrir o Carnaval. Deu</p><p>ênfase exagerada à nudez das passistas! Alguém, aí, já ouviu falar do Carnaval de Nice?</p><p>Que o “top-less” é praticado sem problema nas praias francesas? Já passeou em Pigalle?</p><p>Quarta: Jorge Amado recebeu uma homenagem da Universidade de Aix-en-Provence. Sua</p><p>obra era considerada como “retrato fiel” do Brasil! Por analogia: ele estava, para a França,</p><p>como Carmem Miranda, para os EUA. Mas somos todos como os personagens de Amado ou</p><p>usamos mangas bufantes e chapéus de frutas, como Carmem?</p><p>Quinta: A Copa do Mundo de 1986.</p><p>Todas eram, parcialmente verídicas, mas qual poderia ser a imagem dos franceses sobre</p><p>o Brasil a partir dessas informações? Qual o real objetivo dessa “miopia informativa”? Nós</p><p>somos assim ou é assim que querem que sejamos vistos?</p><p>A informação é um bem de valor inestimável! Deve, portanto, ser fornecida com idoneidade</p><p>e responsabilidade, pois um boato, uma meia-verdade, uma leviandade ou uma intriga pode</p><p>desestabilizar governos e países, deixar mercados “nervosos”, além de levar ao desemprego</p><p>e morte. Será que polêmica e notoriedade pessoal valem esse preço! Além disso, depois</p><p>do “estrago” feito é difícil voltar atrás. Na maioria dos casos, não há retratações formais,</p><p>direitos de resposta ou indenizações pecuniárias que compensem os danos provocados! E</p><p>não adiante culpar a “fonte”, pois é de responsabilidade de quem vai a ela verificar se é</p><p>“potável”, ou melhor, “pautável”!</p><p>Fonte: GONÇALVES, Adilson Luiz. Miopia de informação. Curitiba: FENASSEC, maio 2004. Disponível em: http://bit.ly/2XTxKVE. Acesso</p><p>em: 5 jul. 2019. (adaptado)</p><p>Veja como o articulista apresenta a sua argumentação, valendo-se de perguntas ao</p><p>longo do texto, às quais ele vai respondendo, além de apresentar situações que pos-</p><p>sam comprovar o que fora dito no texto introdutório, ou seja, a ideia de que a informa-</p><p>ção deve ser entendida como um todo, caso contrário, sofrerá o leitor uma espécie</p><p>de miopia da leitura e do entendimento do sentido pretendido.</p><p>13</p><p>É chegada a hora de pensarmos um pouco sobre como encerrar um texto argumen-</p><p>tativo, ou seja, como devemos proceder para a conclusão do texto. Isso posto, tão</p><p>importante quanto entender o próprio fundamento do que é texto é entender como</p><p>ele é construído, quais as partes o estruturam, daí a relevância, neste momento, do</p><p>trecho conclusivo.</p><p>Da mesma forma como nos itens supracitados, de acordo com Koch e Elias (2016),</p><p>algumas estratégias podem ser adotadas para a elaboração da conclusão, tais como:</p><p>a. Síntese: apresentação de uma retomada do que já fora discutido em parágrafos</p><p>anteriores,</p><p>com a presença forte de marcadores discursivos que anunciem essa re-</p><p>tomada e apresentem um fechamento, como até mesmo, embora, entre outros, a</p><p>depender da intencionalidade do marcador;</p><p>b. Solução para problema: diante de um problema como assunto a ser desenvolvido,</p><p>no momento do fechamento, isto é, da apresentação da conclusão, o que podemos</p><p>fazer é propor uma solução para o que é apresentado, de forma clara e objetiva, sem</p><p>“rodeios” e sem falsas possibilidades; vale ressaltar que, embora a solução permaneça</p><p>no campo da produção textual, não aconteça de fato, a sua apresentação não pode</p><p>ser algo impossível ou subjetivo, tem de ser real, do ponto de vista do poder vir a ser;</p><p>c. Remissão a outros textos: trata-se de concluir com citação “direta” ou “indireta”</p><p>de textos e/ou autores; é fundamental reforçar, aqui, que não se trata de encerrar o</p><p>texto, nas suas últimas palavras, com frases prontas e acabadas de autores renoma-</p><p>dos e/ou trechos de suas obras, pois essa prática pode configurar pouca originalida-</p><p>de a sua produção. Segundo Koch e Elias (2016), o que se sugere, aqui, é que essas</p><p>citações sirvam de subsídio para a sua conclusão;</p><p>d. Pergunta retórica: interessante observar que é possível fazermos uma pergunta</p><p>no texto conclusivo no sentido de a ela não precisarmos responder, por conta de sua</p><p>resposta já ter sido, de alguma forma, respondida ao longo do desenvolvimento do</p><p>texto. A isso chamamos de pergunta retórica!</p><p>CONCLUSÃO4.3</p><p>Um antigo programa humorístico de rádio, num de seus quadros, representava uma emissora</p><p>interiorana, que usava o seguinte bordão: “– Quando num tem notícia, nóis inventa!”. Para</p><p>alguns maus jornalistas – e maus profissionais existem em todas as profissões! – isso é norma</p><p>e meio de vida. Infelizmente, há quem lhes dê crédito, financiamento e cumplicidade; e não</p><p>são apenas os tablóides sensacionalistas. Mas para quem acredita que a imprensa deve estar</p><p>a serviço da democracia está claro e nítido que ela precisa ser como uma lente corretiva para</p><p>a sociedade. Deve estar a serviço da verdade, pela verdade e para a verdade, sem tutelas</p><p>ou patrulhamentos! Se não o fizer ela não passará de mais um elemento de manipulação,</p><p>manutenção ou agravamento dessa “miopia”, a serviço, quase sempre, de interesses escusos.</p><p>Fonte: GONÇALVES, Adilson Luiz. Miopia de informação. Curitiba: FENASSEC, maio 2004. Disponível em: http://bit.ly/2XTxKVE. Acesso</p><p>em: 5 jul. 2019. (adaptado)</p><p>EXEMPLO</p><p>14</p><p>Observe que a conclusão apresentada reforça o que já fora colocado na introdução</p><p>do texto argumentativo, uma vez que fecha a produção, prevendo como virá a ser a</p><p>imprensa do ponto de vista de sua função de informar se não o fizer de forma ver-</p><p>dadeira e sem tutelas, ou seja, há de ficar míope. Notemos a coerência textual do</p><p>começo ao fim da produção.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>Neste texto, definimos o que é um argumento e exploramos as várias estratégias</p><p>argumentativas, as quais são essenciais para a defesa de um ponto de vista. Nesse</p><p>sentido, para que possamos persuadir nosso interlocutor, podemos utilizar argumen-</p><p>tos baseados em exemplos, em dados da realidade, entre outros.</p><p>Outra questão abordada diz respeito à organização do parágrafo do texto argumentati-</p><p>vo, o qual deve apresentar um tópico frasal, que se refere à apresentação de uma frase</p><p>ou de período cuja ideia se apresenta de forma completa com relação ao tema sobre</p><p>o qual iremos argumentar (introdução), desenvolvimento do assunto que será tratado</p><p>e conclusão, ou seja, o fechamento do parágrafo. Também vimos as várias possibi-</p><p>lidades de iniciarmos, bem como de desenvolver e concluir um texto argumentativo.</p><p>Dessa forma, pudemos conhecer vários exemplos de textos argumentativos e suas</p><p>estratégias, as quais são de extrema importância para a comunicação oral e escrita.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARGUMENTAR. In: Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 4. ed. São Paulo:</p><p>Moderna, 2010.</p><p>FIORIN, José Luiz. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.</p><p>KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Escrever e argumentar. São</p><p>Paulo: Contexto, 2016.</p><p>MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática dos fichamentos, resumos,</p><p>resenhas. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.</p><p>15</p><p>PRODUÇÃO DO MATERIAL</p><p>Autoras</p><p>Profa. Dra. Angela Cristina di Palma Back</p><p>Prof. Me. Carlos Arcângelo Schilickmann</p><p>Profa. Dra. Cibele Beirith Figueiredo Freitas</p><p>Profa. Ma. Daniela Arns Silveira</p><p>Profa. Ma. Eloisa da Rosa Oliveira</p><p>Assessoria Pedagógica</p><p>Caroline Jacques</p><p>Cibele Beirith Figueiredo Freitas</p><p>Graziela Fátima Giacomazzo</p><p>Guiomar da Rosa Bortot</p><p>Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC</p><p>Reitora Luciane Bisognin Ceretta</p><p>Vice-reitor Daniel Ribeiro Préve</p><p>Pró-Reitora Acadêmica</p><p>Indianara Reynaud Toreti</p><p>Setor de Educação a Distância</p><p>Graziela Fátima Giacomazzo</p><p>Revisão</p><p>Angélica Manenti</p><p>Katiana Possamai Costa</p><p>Projeto gráfico e Diagramação</p><p>Suamy Fujita</p>