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<p>DIFICULDADES E DISTÚRBIOS</p><p>DE APRENDIZAGEM</p><p>AULA 6</p><p>Profª Eliza Ribas Gracino</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta aula, empenharemos esforços para possibilitar a reflexão sobre a</p><p>responsabilidade da escola em viabilizar a aprendizagem. Vamos ponderar</p><p>estratégias que permitam a integração do indivíduo às atividades cotidianas de</p><p>sala de aula e à sociedade.</p><p>Apesar da significância da instituição escolar, dada sua função de</p><p>transformar o senso comum em conhecimento científico (Saviani, 1992), é</p><p>importante salientar que a educação não é um fenômeno atual, ela sempre</p><p>esteve presente em todos os grupos sociais, desde as sociedades primitivas,</p><p>assumindo formas variadas (Brandão, 2005).</p><p>A compreensão do educador a respeito da educação como exercício de</p><p>uma práxis pedagógica permanente, na concretude de um contexto social</p><p>específico, bem como da complexidade das multideterminações e dos aspectos</p><p>que envolvem o fenômeno educativo, é de fundamental importância para que</p><p>este vislumbre a contextualização da realidade de sua escola e de seus alunos,</p><p>visando a prática pedagógica que oportunize uma formação ética, crítica e</p><p>criativa (Freire, 1996).</p><p>A utilização de estratégias adequadas pelo professor, o emprego de</p><p>diversas formas de interação e o respeito às experiências prévias de seus alunos</p><p>auxiliarão nas práticas que possibilitarão a aquisição de conhecimentos, que</p><p>permitam o pleno desenvolvimento do aluno, instrumentalizando-os para a</p><p>aprendizagem.</p><p>Nossos objetivos para esta aula são: compreender, pelo viés da história,</p><p>como se constituem as teorias sobre as Dificuldades de Aprendizagem;</p><p>conhecer as origens dos estudos sobre as dificuldades de aprendizagem;</p><p>conceituar aprendizagem e discutir os padrões hegemônicos de normalidade;</p><p>compreender como se classificam as dificuldades de aprendizagem; conhecer</p><p>as teorias sobre as dificuldades de aprendizagem; compreender os principais</p><p>pontos da teoria histórico-cultural e suas perspectivas sobre a aprendizagem e</p><p>suas dificuldades.</p><p>Para alcançarmos estes objetivos, estruturamos esta aula em cinco</p><p>partes: 1) O papel da escola frente às dificuldades de aprendizagem; 2) O papel</p><p>docente diante dos obstáculos à aprendizagem; 3) Estratégias para o ensino e a</p><p>aprendizagem do indivíduo com dislexia e disgrafia; 4) Estratégias para o ensino</p><p>3</p><p>e a aprendizagem do indivíduo com disortografia e discalculia; 5) Estratégias</p><p>para o ensino e a aprendizagem do indivíduo com TDAH.</p><p>TEMA 1 – O PAPEL DA ESCOLA FRENTE ÀS DIFICULDADES DE</p><p>APRENDIZAGEM</p><p>Dentre os principais marcos históricos da luta pela educação para todos</p><p>estão a Conferência de Jomtien (1990) e a Declaração de Salamanca (1994),</p><p>que influenciaram as políticas educacionais inclusivas em nosso país.</p><p>Entretanto, a instituição escolar tem apresentado dificuldades em trabalhar na</p><p>perspectiva da diversidade.</p><p>As práticas tradicionais de transmissão de conhecimento não têm se</p><p>apresentado eficazes, pois seu principal objetivo é o de homogeneizar seus</p><p>alunos, buscando necessidades comuns, desconsiderando a diversidade de</p><p>contextos e as características específicas de seus alunos, e gerando o fracasso</p><p>escolar e a exclusão (Blanco, 2004; Freitas, 2006).</p><p>À escola cabe o papel de mobilizar a todos para que a aprendizagem</p><p>aconteça, oferecendo subsídios físicos e materiais, proporcionando o</p><p>desenvolvimento pleno de suas capacidades para pensar e buscar informações</p><p>(Soares, 2003).</p><p>1.1 A função social da escola</p><p>As atividades humanas são mediadas pela prática, transformando a</p><p>natureza, por meio do trabalho, sendo elas importantes para a subsistência da</p><p>espécie, por legar os conhecimentos acumulados por gerações anteriores. Ao</p><p>agir intencionalmente no mundo, mediado pela cultura, “transmitidos de geração</p><p>para geração por meio do ato educativo” (Saviani, 1992, p. 17).</p><p>A principal função da educação escolar é tornar os conhecimentos</p><p>científicos e culturais acessíveis, socializando o indivíduo, por meio do saber</p><p>sistematizado (Sacristán, 2002).</p><p>Neste sentido, Saviani pontua que a principal função da instituição escolar</p><p>é permitir o acesso à cultura letrada e, posteriormente erudita, por meio do saber</p><p>sistematizado. Esse saber “refere-se à conhecimento científico; i) conhecimento</p><p>elaborado e não conhecimento espontâneo; ii) saber sistematizado e não saber</p><p>fragmentado; iii) cultura erudita e não à cultura popular” (Saviani, 2000, p. 19).</p><p>4</p><p>A dinâmica da sociedade muitas vezes impõe dificuldades para que a</p><p>instituição escolar cumpra sua função social, de transmitir, de maneira</p><p>sistematizada, o conhecimento científico acumulado historicamente, produzindo,</p><p>dessa maneira, “direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a</p><p>humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos</p><p>homens” (Saviani, 2011, p. 13). Ao que se observa que a eficiência por parte da</p><p>instituição escolar no tocante a este objetivo está deficitária.</p><p>A instituição escolar está demarcada pelas demandas dos períodos em</p><p>que foi institucionalizada, mas seu principal objetivo sempre foi transmitir o</p><p>conhecimento (Mendonça, 2011). Dadas as contradições da realidade que</p><p>emerge do momento histórico e social em que está inserida, a escola deve</p><p>mediar as manifestações sociais, influenciando a sociedade.</p><p>1.2 Qualidade na educação</p><p>Para compreender a educação, é preciso ter consciência de que é um</p><p>fenômeno complexo. Da mesma maneira, é difícil discutir sua qualidade, dado</p><p>seu caráter polissêmico, intrincado, que abrange recursos materiais e humanos,</p><p>compreendida aqui como “decorrente do desenvolvimento das relações sociais</p><p>(políticas, econômicas e culturais) ” (Brasil, 2013, p. 52).</p><p>O termo qualidade vem do latim qualitate, e é utilizado em situações</p><p>bem distintas. Por exemplo, quando se fala da qualidade de vida das</p><p>pessoas de um país ou região, quando se fala da qualidade da água</p><p>que se bebe ou do ar que se respira, quando se fala da qualidade do</p><p>serviço prestado por uma determinada empresa, ou ainda quando se</p><p>fala da qualidade de um produto no geral. Como o termo tem diversas</p><p>utilizações, o seu significado nem sempre é de definição clara e</p><p>objetiva. (Ricaldes, 2016, p. 26)</p><p>Diante de dois fenômenos igualmente complexos, o que se dizer da</p><p>junção deles? Como discutir a qualidade na educação? Essa discussão é</p><p>extremamente pertinente, uma vez que destinar uma educação de qualidade a</p><p>todos é um grande desafio às políticas públicas em nosso país, mas para que</p><p>seja uma realidade, é necessário que seja analisada em seu contexto histórico.</p><p>Cada contexto histórico tem diferentes noções do que seja qualidade de</p><p>ensino. No caso da educação brasileira, essa discussão já esteve atrelada ao</p><p>ingresso das classes populares à escola (1930-1970); às questões da</p><p>universalização do ensino (1970-1990) e, atualmente, às questões do</p><p>desempenho nas avaliações de larga escala (Oliveira; Araújo, 2005).</p><p>5</p><p>Compreendemos que educação de qualidade é aquela que permite o</p><p>acesso de todos, com ensino que oportunize os domínios necessários para o</p><p>desenvolvimento das potencialidades para a aprendizagem, estando “implícito à</p><p>educação e ao ensino” (Libâneo, 2007, p. 117-118).</p><p>TEMA 2 – O PAPEL DOCENTE DIANTE DOS OBSTÁCULOS À APRENDIZAGEM</p><p>A qualidade na educação abrange tudo o que diz respeito à escola, sendo</p><p>o professor o principal responsável para que as situações de aprendizagem se</p><p>efetivem, havendo a apropriação dos alunos dos conteúdos historicamente</p><p>construídos pela humanidade.</p><p>A falta de convergência entre a prática pedagógica e as necessidades dos</p><p>alunos é um dos principais fatores para a ocorrência das dificuldades de</p><p>aprendizagem, ao passo que a adequação entre esses dois pontos permite à</p><p>criança demonstrar com mais tranquilidade suas potencialidades, suas</p><p>limitações, seus interesses e suas necessidades</p><p>(Souza, 1996).</p><p>2.1 Relacionamento professor-aluno: a criação de um clima de liberdade</p><p>O professor tem papel extremamente importante na aprendizagem, dada</p><p>sua função como mediador, responsável por auxiliar seus alunos com</p><p>estratégias diferenciadas, em situações planejadas por meio de um movimento</p><p>dinâmico e dialético, entre o conhecimento científico e empírico, permitindo,</p><p>assim, a apropriação do conhecimento pelo aluno. Estimular os alunos para que</p><p>se percebam como sujeitos históricos, como parte integrante do processo de</p><p>ensino e aprendizagem é uma importante atribuição docente. O investimento no</p><p>diálogo é essencial para o conhecimento a respeito da realidade de seus alunos,</p><p>mas também para que estes se sintam valorizados, mobilizando-os à</p><p>aprendizagem.</p><p>Para aprender é indispensável que haja um clima e um ambiente</p><p>adequados, constituídos por um marco de relações em que</p><p>predominem a aceitação, a confiança, o respeito mútuo e a</p><p>sinceridade. A aprendizagem é potencializada quando convergem as</p><p>condições que estimulam o trabalho e o esforço. É preciso criar um</p><p>ambiente seguro e ordenado, que ofereça a todos os alunos a</p><p>oportunidade de participar, num clima com multiplicidades de</p><p>interações que promovam a cooperação e a coesão de grupo. (Zabala,</p><p>1998, p. 100)</p><p>6</p><p>O professor é, portanto, aquele que guia todo o processo, escolhendo as</p><p>melhores estratégias para que a aprendizagem se efetive. E como saber qual é</p><p>a melhor estratégia? Sem dúvida, a melhor tática é a que permite ao aluno sentir-</p><p>se desafiado para a aprendizagem; no caso do aluno com dificuldades, é</p><p>importante contribuir para que ele se sinta capaz de aprender, criando confiança</p><p>em si mesmo. Para tal, é preciso que as atividades tenham como ponto de</p><p>partida os conteúdos, mas também que sejam organizadas, adequadas e</p><p>aplicáveis. Essa postura docente incentiva os alunos a se apropriarem dos</p><p>conteúdos, construindo-os e reconstruindo-os (Boruchovitch, 2002).</p><p>2.2 Organização do trabalho docente</p><p>A atividade de ensino pressupõe organização e sistematização docente</p><p>intencional, pautada em objetivos e seleção de conteúdos, que para serem</p><p>alcançados necessitam de procedimentos e metodologias diversificadas, cuja</p><p>intenção é alcançar a aprendizagem e o desenvolvimento integral do indivíduo,</p><p>fundamentando-se em uma prática social, vislumbrando a apropriação pelas</p><p>novas gerações de conhecimentos necessários à vida em sociedade (Damis,</p><p>1990; Saviani, 2010).</p><p>O estabelecimento de rotinas também auxiliará no processo de</p><p>organização interna, permitindo melhor aproveitamento do tempo, para que seja</p><p>possível a escuta dos alunos e a observação do cotidiano, melhorando o</p><p>atendimento (Roman; Steyer, 2001). O processo de planejamento docente é</p><p>fundamental para que as situações de ensino atinjam o objetivo da</p><p>aprendizagem, ele possibilita “aperfeiçoar o conteúdo e os métodos do trabalho</p><p>didático educativo com as crianças de maneira que exerça uma influência</p><p>positiva no desenvolvimento de suas capacidades” (Davídov, 1988, p. 47). Para</p><p>isso, o professor deve selecionar as informações realmente relevantes e pensar</p><p>em procedimentos que possibilitem ao aluno melhorar a execução das atividades</p><p>propostas constantemente (Pozo, 1996).</p><p>O encorajamento dos alunos a responsabilizarem-se por seu processo de</p><p>aprendizagem, participando de seus trabalhos, interagindo em grupo, solicitando</p><p>ajuda e auxiliando os colegas permite o desenvolvimento da autonomia de</p><p>experiências concretas (Bzuneck, 2010).</p><p>Antes de escolher a estratégia a utilizar, é necessário que o professor</p><p>reconheça a dificuldade da criança, levando em consideração que “cada</p><p>7</p><p>necessidade é única e, portanto, cada caso deve ser estudado com muita</p><p>atenção” (Brasil, 2002, p. 6).</p><p>Acreditamos ser pertinente esclarecer a definição de estratégia, uma vez</p><p>que, em momentos anteriores, já o fizemos em relação à aprendizagem e ensino.</p><p>A palavra estratégia origina-se do grego strategia e do latim strategi e relaciona-</p><p>se à habilidade para comando de um exército, táticas, processos,</p><p>procedimentos, técnicas, planos (Moura, 1992).</p><p>Quando utilizada em situações de ensino, a estratégia ajuda a antecipar</p><p>dificuldades, possibilitando o encorajamento e a motivação do aluno para a</p><p>superação dos limites à realização de tarefas (Oliveira; Boruchovitch; Santos,</p><p>2010).</p><p>TEMA 3 – ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO INDIVÍDUO COM</p><p>DISLEXIA E DISGRAFIA</p><p>3.1 Dislexia</p><p>A dislexia é um distúrbio de ordem neurológica, que consiste na</p><p>dificuldade em reconhecer palavras, dificultando o exercício da leitura</p><p>(Associação Internacional de Dislexia, 2012).</p><p>O acompanhamento do aluno e o investimento na afetividade é</p><p>imprescindível a todos. Para auxiliar na aprendizagem do disléxico, é importante</p><p>trabalhar lateralidade, memória tátil e cinestésica, discriminação e percepção</p><p>visual, discriminação e percepção auditiva, estruturação espacial e temporal,</p><p>análise e síntese, coordenação motora fina, investindo em atividades de leitura,</p><p>sendo objetivo, direto e claro nas orientações (Borba; Braggio, 2016).</p><p>São possibilidades de intervenção: a) Leitura interrompida: apresentar o</p><p>texto e solicitar a leitura. Interromper ao primeiro ou segundo parágrafo e fazer-</p><p>lhe perguntas (Qual é o assunto do texto? Para quem foi escrito? Por que o autor</p><p>escreveu? Como você acha que vai terminar?). Ler mais um trecho e interromper</p><p>novamente (Você continua pensando a mesma coisa ou mudou de ideia? O que</p><p>o fez mudar de ideia? E agora, como acha que vai terminar? b) Completar</p><p>lacunas: Apresentar um texto com lacunas para que o aluno, ao ler</p><p>silenciosamente, possa preenchê-las. c) Palavras/frases/trechos não</p><p>pertencentes ao texto: inserir no texto palavras, frases ou pequenos trechos</p><p>alheios a ele, que devem ser identificados pela criança e circulados; d)</p><p>8</p><p>Correspondência título/texto: apresentar um ou dois textos e três ou quatro</p><p>títulos. Após ter lido cada um, a criança deve indicar qual título pertence a que</p><p>texto; e) Correspondência manchete/notícia, ilustração-texto; Quebra-cabeça</p><p>com textos: recortar partes de um texto para a criança sequenciar. Aumentar o</p><p>nível de dificuldade de acordo com o desenvolvimento.</p><p>3.2 Disgrafia</p><p>A dificuldade no traçado das letras, tornando a escrita lenta ou ilegível, ou</p><p>a disgrafia léxica, advinda da complicação de consciência fonológica, não</p><p>necessariamente acompanhadas por dificuldade neurológica ou intelectual,</p><p>também dificultam a aprendizagem (DSM-5, APA, 2014). Ciasca (1994)</p><p>denomina a disgrafia como disléxica.</p><p>Para auxiliar na aprendizagem, é importante trabalhar com o</p><p>desenvolvimento psicomotor (postura, domínio corporal, grafismo), os padrões</p><p>visuais e cinestésicos em separado, depois integrá-los, encorajar o</p><p>desenvolvimento de movimentos ordenados, reforçar padrões visuais-motores</p><p>por meio de repetição, usar materiais para ter bom feedback visual.</p><p>Pode-se utilizar como estratégias a autocorreção de textos; o</p><p>convencionamento de códigos (codificação); a refacção de textos, auxiliando-o</p><p>a pensar o conteúdo com perguntas.</p><p>TEMA 4 – ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DO INDIVÍDUO</p><p>COM DISORTOGRAFIA E DISCALCULIA</p><p>4.1 Disortografia</p><p>Disortografia é um transtorno específico de escrita, que abrange a</p><p>ortografia e a gramática. Devido às ocorrências serem maiores em palavras com</p><p>sons similares e bilabiais, acredita-se que ocorra devido a problemas no aparelho</p><p>viso-perceptivo, responsável pela conversão dos fonemas em grafemas.</p><p>O disgráfico tem dificuldade de memorizar regras ortográficas, realizando</p><p>a substituição, inversão, omissão, fragmentação e modificação de palavras,</p><p>dificultando na estruturação das palavras, frases e na produção textual</p><p>(Fernandez, 2010; Casal, 2013).</p><p>9</p><p>É necessário intervir enfatizando o ensino alfabético, a função e o uso das</p><p>palavras, a consciência fonológica,</p><p>devendo-se ensinar gradativamente as</p><p>regras ortográficas e morfológicas, bem como a relação fonema-grafema. É</p><p>importante também oferecer maior tempo para o desempenho das atividades,</p><p>partindo-se sempre dos textos produzidos pela criança (Fernandez, 2010).</p><p>4.2 Discalculia</p><p>O aluno com discalculia têm dificuldades em manejar os números,</p><p>observam-se problemas na qualificação, no sequenciamento e na distribuição de</p><p>números, nas operações matemáticas, na distinção de símbolos e na</p><p>memorização de cálculos e fórmulas (Peretti, 2009).</p><p>Dentre as principais questões a se observar para a identificação da</p><p>discalculia estão: dificuldade em reconhecer símbolos matemáticos;</p><p>incapacidade para operar quantidades numéricas; dificuldade em reconhecer</p><p>sinais de operações; memória insuficiente; dificuldade na leitura dos números;</p><p>dificuldade em localizar espacialmente a multiplicação e divisão (Bernardi, 2014).</p><p>As intervenções lúdicas sistemáticas são pertinentes para trabalhar as</p><p>habilidades matemáticas, dada sua possibilidade em estimular todas as</p><p>dimensões, motora, social, cognitiva e afetiva do sujeito, auxiliando para a</p><p>apropriações de natureza objetiva, como contagem, classificação,</p><p>reconhecimento, seriação, desenvolvimento da orientação espacial, resolução</p><p>de exercícios visório-motores, bem como auxilia na interação da criança (Silva,</p><p>2011).</p><p>Os jogos lúdicos possibilitam o desenvolvimento de todas as áreas</p><p>neurológicas e cognitivas. Ao trabalhar com a corporeidade, pensamentos e</p><p>sentimentos são acionados, permitindo o desenvolvimento de habilidades</p><p>motrizes, raciocínio, organização, planejamento, destreza e outros (Grassi,</p><p>2008, apud Santos, 2011).</p><p>Dentre as possibilidades de intervenção, estão: a) os jogos de exercícios;</p><p>os jogos simbólicos e os jogos de regras.</p><p>O trabalho com a percepção visual-espacial, partindo de experiências não</p><p>verbais e a intervenção por meio da ludicidade é um importante auxílio (Bernardi,</p><p>2014).</p><p>10</p><p>TEMA 5 – ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DO INDIVÍDUO</p><p>COM TDAH</p><p>O TDAH é uma disfunção neurológica, ocasionada pela alteração de</p><p>alguns neurotransmissores, gerando a falta de atenção, a agitação e a</p><p>impulsividade (Richter, 2012).</p><p>Dentre as principais características do hiperativo, estão (Goldsteins,</p><p>1998): a) Desatenção e Distração: a criança apresenta grande dificuldade de se</p><p>concentrar; b) Superexcitação e Atividade Excessiva: tendência a se mostrar</p><p>agitada e ativa em excesso prejudicando a concentração; c) Impulsividade:</p><p>dificuldade de pensar antes de agir e em seguir regras; d) Dificuldade de lidar</p><p>com a frustração: não consegue trabalhar com objetos a longo prazo. Precisa de</p><p>mais compensação a curto prazo.</p><p>Este quadro dificulta a aprendizagem e traz prejuízos à vida social do</p><p>indivíduo, de modo que seu comportamento inquieto muitas vezes ser</p><p>confundido com falta de educação e/ou disciplina, afastando inclusive os colegas</p><p>(Lopes, 2001).</p><p>Muitas vezes, os professores são os primeiros a observar as</p><p>características do TDAH como a agitação e a dificuldade de concentração,</p><p>organização e observação de instruções, bem como a indisposição às regras por</p><p>parte das crianças (Topczewski, 2011).</p><p>A utilização de estratégias e de recursos para à aprendizagem são</p><p>extremamente importantes, mas é necessário pontuar que:</p><p>[…] o recurso, por si só́, não promove o ensino, é fundamental a</p><p>presença do professor para fornecer oportunidades de aprendizagem</p><p>aos alunos, […] selecionar, construir ou adaptar um recurso, o docente</p><p>deve levar em consideração às características individuais dos</p><p>estudantes para que o recurso possa garantir o acesso do aluno à</p><p>atividade e melhorar o seu desempenho na realização das tarefas”.</p><p>(Silva, 2010 p.30)</p><p>O respeito do professor à individualidade do aluno, seu cuidado em</p><p>planejar as situações para a aprendizagem, o preparo de um ambiente favorável</p><p>à aprendizagem, tranquilo e sem distratores, que permita a localização do aluno</p><p>espaço, permitindo que esteja próximo ao professor e evitando que esteja</p><p>próximo a portas e janelas para não distrair-se, são imprescindíveis (Seno,</p><p>2010).</p><p>11</p><p>Poeta e Rosa Neto (2005, p. 113) orientam a utilização de atividades</p><p>psicomotora como estratégia para a aprendizagem, uma vez que:</p><p>[…] Por meio da intervenção do professor, utilizando atividades</p><p>psicomotoras, o aluno com TDAH apresenta progressos nas áreas</p><p>motoras como: coordenação motora global, coordenação motora fina,</p><p>equilíbrio, lateralidade, noção corporal, temporal e espacial,</p><p>fundamentais para a realização de tarefas cotidianas, bem como,</p><p>imprescindíveis nas atividades escolares e, por conseguinte, nos</p><p>aspectos relacionados à aprendizagem.</p><p>Também é importante o trabalho com atividades auditivas que envolvam</p><p>estratégias de duração e tonicidade; estimulação de aspectos criativos e afetivo-</p><p>emocionais; atividades fonológicas e semânticas; atividades de ensaio oral,</p><p>antes da prática da escrita, e atividades que contribuam para o desenvolvimento</p><p>das habilidades de organização, sequencialização e imagem articulatória (Bellis,</p><p>1996, 2002; Alvarez; Katz; Wilde, 1999).</p><p>A intervenção por meio de jogos de exercícios sensório-motores, ou de</p><p>combinações intelectuais, como damas, xadrez, carta, memória, quebra-cabeça,</p><p>exercícios gráficos; jogos e raciocínio lógico, como completar as frases,</p><p>identificar as diferenças, ordenar os números auxiliam para a ampliação da</p><p>percepção, a socialização e o despertar do interesse da criança por sua</p><p>aprendizagem, uma vez que “por meio da ludicidade, a criança aprende a colocar</p><p>em prática sua curiosidade, adquire iniciativa, autoconfiança, desenvolve a</p><p>linguagem, pensamento e a concentração” (Vygotsky, 2003, p.23).</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Com base nos pontos abordados nesta aula, elabore um texto a respeito</p><p>do papel docente diante da criação de estratégias para assegurar a</p><p>aprendizagem.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta aula, cuja temática foram as estratégias para o ensino e a</p><p>aprendizagem a serem empregadas no processo de ensino-aprendizagem de</p><p>indivíduos com dislexia, disgrafia, disortografia, discalculia e TDAH, também</p><p>abordamos assuntos pertinentes à instituição escolar, considerando-o um</p><p>ambiente heterogêneo. São diversas as realidades enfrentadas pelo professor</p><p>dentro de uma sala de aula, e quanto mais ele conhecer as dificuldades de</p><p>12</p><p>aprendizagem, mais capaz será de intervir da forma correta para que todos</p><p>aprendam.</p><p>Discutiu-se, ainda, sobre a necessidade de que cada integrante do</p><p>processo de ensino e aprendizagem responsabilize-se pelo processo de</p><p>desenvolvimento acadêmico de todas as crianças.</p><p>Neste sentido, é importante considerar que a escola é o lugar onde o</p><p>aprendizado deve acontecer, mesmo que, para isso, o professor utilize-se de</p><p>estratégias de ensino diversas.</p><p>13</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALVAREZ, A. M. M; ZAIDAN, E. Processamento auditivo central: novas</p><p>abordagens em habilitação. In: Associação Brasileira de Dislexia. Dislexia,</p><p>cognição e aprendizagem. São Paulo: Frôntis, 2000. p. 49-61.</p><p>APA – American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de</p><p>Transtornos Mentais: DSM-5. 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