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<p>CA</p><p>PÍ</p><p>TU</p><p>LO</p><p>12</p><p>» Competências e</p><p>habilidades</p><p>CGEB4 e CGEB7.</p><p>CECHSA1: EM13CHS101,</p><p>EM13CHS103 e EM13CHS106.</p><p>CECHSA2: EM13CHS201,</p><p>EM13CHS204 e</p><p>EM13CHS206.</p><p>CECHSA6: EM13CHS603 e</p><p>EM13CHS604.</p><p>CECNT3: EM13CNT301 e</p><p>EM13CNT302.</p><p>CONFLITOS TERRITORIAIS</p><p>NO BRASIL</p><p>Após a independência do Brasil, os conflitos internos e externos (com nações</p><p>vizinhas) envolvendo o território brasileiro continuaram. No século XX, o Brasil</p><p>participou, inclusive, das duas guerras mundiais. No âmbito interno, regimes au-</p><p>toritários cercearam as liberdades individuais e, nas décadas de 1960 e 1970,</p><p>houve conflitos relacionados ao regime militar e ditatorial que governava o país.</p><p>A demarcação das Terras Indígenas continua incipiente até hoje. Além disso,</p><p>as terras já demarcadas continuam a sofrer ameaças de invasão por fazendeiros</p><p>e mineradores ou de ser retomadas pelo governo. Milhões de trabalhadores não</p><p>têm acesso à terra, e o campo é marcado pela violência. Nas cidades, se, por um</p><p>lado, seguem as lutas pelo direito à moradia, por outro, identificam-se áreas das</p><p>periferias urbanas sob controle do crime organizado.</p><p>1. Verificam-se, frequentemente, protestos de grupos indígenas em Brasília,</p><p>capital do país, reivindicando, entre outros temas, a demarcação de suas terras.</p><p>Quais fatores se relacionam aos conflitos em Terras Indígenas na atualidade?</p><p>2. Como os atuais conflitos em Terras Indígenas estão relacionados ao processo</p><p>de formação do território brasileiro?</p><p>3. Em sua opinião, qual deve ser o papel do governo e da sociedade civil na de-</p><p>fesa dos povos indígenas e na demarcação de suas terras?</p><p>Indígenas manifestando-se</p><p>em defesa de seus direitos</p><p>em frente ao Congresso</p><p>Nacional, em Brasília (DF).</p><p>Foto de 2017.</p><p>E</p><p>va</p><p>ris</p><p>to</p><p>S</p><p>a/</p><p>A</p><p>FP</p><p>138</p><p>CONFLITOS NO TERRITÓRIO BRASILEIRO</p><p>No Brasil, os conflitos territoriais giram em torno de di-</p><p>ferentes questões, como: a expansão urbana sem o devi-</p><p>do planejamento, que resulta na desigualdade de acesso</p><p>a serviços básicos; a especulação imobiliária; o violento</p><p>conflito gerado pela exploração econômica das terras dos</p><p>povos tradicionais por fazendeiros, madeireiros e minera-</p><p>dores; e a ameaça sofrida pelos próprios agentes do go-</p><p>verno que trabalham com o processo de identificação e</p><p>titulação de terras indígenas e quilombolas.</p><p>Conflitos com remanescentes quilombolas</p><p>No Brasil, a escravidão ocorreu de 1530 a 1888. O pro-</p><p>cesso de abolição da escravidão transcorreu no Brasil im-</p><p>perial e resultou principalmente da luta por liberdade em-</p><p>preendida por africanos escravizados que, em várias</p><p>revoltas, se levantaram contra os latifundiários. A escra-</p><p>vidão foi abolida com a assinatura da Lei Áurea, em 1888.</p><p>Durante os quase quatro séculos de escravidão, os es-</p><p>cravizados que conseguiam fugir das fazendas procura-</p><p>vam se refugiar nos quilombos, que se tornaram locais de</p><p>resistência à escravidão no território brasileiro. O Quilombo</p><p>dos Palmares foi o maior e o mais importante quilombo</p><p>durante todo o século XVII. Localizado no atual estado</p><p>de Alagoas, ele era constituído por diversos núcleos de po-</p><p>voamento (mocambos). Estima-se que havia nele cerca de</p><p>20 mil habitantes, liderados, principalmente, por Zumbi.</p><p>No período em que ocuparam Pernambuco (1630-</p><p>-1654), os holandeses fizeram investidas contra Palma-</p><p>res, porém fracassaram. Os administradores coloniais</p><p>portugueses também tentavam constantemente atacar</p><p>esse quilombo. Após inúmeras tentativas, em 1692, eles</p><p>contrataram bandeirantes paulistas especializados na</p><p>captura e na escravização de indígenas para invadir e</p><p>destruir os mocambos. Assim, o Quilombo dos Palmares,</p><p>principal foco de resistência e luta contra a escravidão no</p><p>Brasil, foi arrasado em uma batalha em 1694, que</p><p>resultou na morte de Zumbi, cuja cabeça foi cortada e</p><p>exibida em praça pública no Recife.</p><p>Os combates contra os quilombos estão entre os conflitos</p><p>territoriais internos mais frequentes da história do Brasil. A</p><p>Constituição de 1988 garante aos remanescentes de comu-</p><p>nidades quilombolas o direito à propriedade definitiva das</p><p>terras ocupadas por seus antepassados. No entanto, nos</p><p>dias atuais, os grupos quilombolas ainda sofrem ameaças</p><p>de invasão de suas terras e registram casos de agressão e</p><p>homicídio. Além disso, os quilombolas enfrentam a lentidão</p><p>no processo de identificação, reconhecimento, demarcação</p><p>e titulação de propriedade de suas terras pelo governo.</p><p>Separatismo e conflito no Sul do Brasil</p><p>O atual Rio Grande do Sul foi palco inicial da Guerra dos</p><p>Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha,</p><p>que se estendeu de 1835 a 1845. Esse período foi marca-</p><p>do por instabilidades políticas, uma vez que revoltas, insur-</p><p>reições e guerras aconteciam continuamente. Entre elas,</p><p>destaca-se o movimento iniciado no Rio Grande do Sul em</p><p>apoio às ideias liberais, republicanas e federalistas, que</p><p>somaram-se à precária situação econômica local e às exi-</p><p>gências por proteção ao mercado local de charque e couro</p><p>contra a mercadoria equivalente proveniente da Argentina</p><p>e do Uruguai. Em 1836, os farroupilhas proclamaram a in-</p><p>dependência da República Rio-Grandense, sob a presidên-</p><p>cia de Bento Gonçalves, contando com a participação do</p><p>italiano Giuseppe Garibaldi, figura emblemática das lutas</p><p>pela unificação Italiana.</p><p>Em 1839, com Garibaldi à frente da expedição que de-</p><p>sembarcou na cidade de Laguna, os catarinenses proclama-</p><p>ram a República Juliana. Apesar da resistência militar em-</p><p>preendida pelo governo imperial contra o movimento</p><p>separatista, os conflitos se estenderam até 1842, quando</p><p>D. Pedro II nomeou Luís Alves de Lima e Silva, posteriormen-</p><p>te conhecido como Duque de Caxias, como representante</p><p>do Rio Grande do Sul. Ele negociou o fim do conflito sepa-</p><p>ratista do Sul, mediante anistia aos farroupilhas, em 1845.</p><p>A população negra e a Revolução Farroupilha</p><p>A cena se repete anualmente nos dias que antecedem o 20</p><p>de setembro, principal feriado gaúcho. Por todo o Rio Grande</p><p>do Sul, crianças são autorizadas a trocar seus uniformes esco-</p><p>lares pelas roupas típicas […]. Os trajes são usados enquanto</p><p>aprendem sobre a Revolução Farroupilha […]. Porém, pouco</p><p>se fala sobre a participação negra na chamada Guerra dos Far-</p><p>rapos. Centenas de africanos escravizados foram incorporados</p><p>à divisão dos Lanceiros Negros, do exército gaúcho, com a</p><p>promessa de ganharem liberdade ao final do conflito.</p><p>Eles lutaram em diversas batalhas, mas antes de serem</p><p>libertados foram traídos em uma emboscada conhecida co-</p><p>mo Massacre de Porongos, na madrugada de 14 de novembro</p><p>de 1844. Centenas foram assassinados. Os que escaparam</p><p>foram levados à corte, no Rio de Janeiro, para servirem como</p><p>escravos.</p><p>Por isso, o grupo cultural Afro-Sul Odomode produziu trajes</p><p>iguais aos dos Lanceiros para que as crianças negras também</p><p>se reconheçam na história sul-riograndense.</p><p>Sperb, Paula. Traje inclui crianças negras em atividades do principal</p><p>feriado do Rio Grande do Sul. Folha de S.Paulo, 20 set. 2019. Cotidiano.</p><p>Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/</p><p>traje-inclui-criancas-negras-em-atividades-do-principal-feriado-do-rio-</p><p>grande-do-sul.shtml. Acesso em: 16 maio 2020.</p><p>1. Apesar de os negros terem lutado na Revolução Farrou-</p><p>pilha com a promessa de se tornarem livres após esse</p><p>conflito, muitos republicanos gaúchos eram escravagis-</p><p>tas. Nessa perspectiva, como você interpreta os princípios</p><p>liberais então propagados por esses revolucionários?</p><p>AÇÃO E CIDADANIA</p><p>139Não escreva no livro.</p><p>portuguesa daquela época. Os holandeses tinham inte-</p><p>resse em controlar a produção e a comercialização do</p><p>açúcar brasileiro. Após anos de lutas pela conquista des-</p><p>se território, eles se firmaram definitivamente em Recife.</p><p>Lá iniciaram grandes transformações urbanísticas, sob o</p><p>governo de Maurício de Nassau, iniciado em 1637. O pe-</p><p>ríodo de domínio holandês caracteriza-se por: investimen-</p><p>tos na produção científica, com importante legado artís-</p><p>tico e cartográfico; regime de tolerância religiosa, tendo</p><p>sido a sinagoga Kahal Zur Israel a primeira construída no</p><p>continente americano; e formação de alianças estratégi-</p><p>cas com povos indígenas, como os Tapuia.</p><p>No entanto, em 1644, Nassau retorna à Europa e ini-</p><p>cia-se o período final da ocupação holandesa em Recife.</p><p>A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais passa a</p><p>cobrar dívidas de senhores de engenho, ampliando, as-</p><p>sim, a resistência local à ocupação holandesa, o que de-</p><p>sencadeia a Insurreição Pernambucana. As batalhas dos</p><p>Guararapes, ocorridas entre 1648 e 1649, foram decisi-</p><p>vas para que os defensores do Império português expul-</p><p>sassem os holandeses, cuja capitulação e saída definitiva</p><p>de Recife se deu em 1654. Entretanto, mesmo tendo ven-</p><p>cido os holandeses e retomado a posse de Pernambuco,</p><p>Portugal teve de pagar uma elevada indenização à Ho-</p><p>landa mediante tratado conhecido como Paz de Haia, fir-</p><p>mado em 1661. Além disso, os holandeses se valeram do</p><p>conhecimento das técnicas de produção do açúcar adqui-</p><p>ridas após a empreitada no Nordeste e, assim, iniciaram</p><p>a produção de açúcar nas Antilhas, o que contribuiu para</p><p>a decadência do ciclo do açúcar no Brasil.</p><p>CONFLITOS COM PAÍSES EUROPEUS</p><p>NO BRASIL COLÔNIA</p><p>As invasões territoriais e as pilhagens comandadas</p><p>por holandeses, franceses e ingleses marcaram mais</p><p>de três séculos de nossa história colonial. Um dos epi-</p><p>sódios mais conhecidos de ataque de corsários ocorreu</p><p>em 1595 (século XVI) e foi liderado pelo inglês James</p><p>Lancaster contra a cidade de Olinda, que fica no atual</p><p>estado de Pernambuco. Os corsários, diferentemente</p><p>dos piratas, tinham apoio oficial dos monarcas em mo-</p><p>mentos de guerra entre as nações europeias. Assim,</p><p>eles tomavam mercadorias e embarcações e saquea-</p><p>vam vilas e cidades. Com três navios e 275 tripulantes,</p><p>Lancaster encontrou, em Olinda, uma população mal</p><p>treinada para o combate, cujas desarticulação e falta</p><p>de treinamento em defesa territorial possibilitaram ao</p><p>inglês promover o saque conhecido como o mais rico</p><p>da história da Inglaterra Elisabetana, levando navios</p><p>de especiarias, metais preciosos, açúcar, pau-brasil e</p><p>algodão para a Europa.</p><p>No entanto, as práticas corsárias, por vezes, resultavam</p><p>em tentativas de ocupação e colonização de territórios da</p><p>América portuguesa promovidas especialmente por potên-</p><p>cias europeias que se recusavam a reconhecer a validade</p><p>do Tratado de Tordesilhas. Entre as tentativas de invasão</p><p>dos franceses ao litoral brasileiro, destacam-se as invasões</p><p>ao Rio de Janeiro e ao Maranhão. Assim, em 1612, cerca de</p><p>500 franceses desembarcaram em uma ilha, à qual deram</p><p>o nome São Luís (atual capital do Maranhão), fizeram um</p><p>forte nela. Como essa porção do território era distante dos</p><p>centros de poder da Colônia e pouco ocupada pelos portu-</p><p>gueses, os franceses não só a invadiram como tentaram</p><p>ocupá-la denominando-a França equinocial. Porém, a resis-</p><p>tência portuguesa, que contou com o apoio de povos indí-</p><p>genas, não deu trégua aos franceses, expulsos em 1615.</p><p>Entre 1630 e 1654, foi a vez dos holandeses se esta-</p><p>belecerem no Nordeste do Brasil. Eles invadiram Pernam-</p><p>buco, a mais rica porção do território da América</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» Piratas no Brasil: as incríveis histórias dos ladrões</p><p>dos mares que pilharam nosso litoral, de Jean Mar-</p><p>cel Carvalho França e Sheila Hue. Rio de Janeiro:</p><p>Globo Livros, 2014.</p><p>O livro apresenta os casos dos ataques de piratas e cor-</p><p>sários à costa brasileira e tem como base a pesquisa</p><p>sobre a história do Brasil.</p><p>Mapa de Nicolaes Visscher</p><p>que representa o cerco a</p><p>Olinda e Recife em 1630.</p><p>A</p><p>ce</p><p>rv</p><p>o</p><p>da</p><p>F</p><p>un</p><p>da</p><p>çã</p><p>o</p><p>B</p><p>ib</p><p>lio</p><p>te</p><p>ca</p><p>N</p><p>ac</p><p>io</p><p>na</p><p>l,</p><p>R</p><p>io</p><p>d</p><p>e</p><p>Ja</p><p>ne</p><p>iro</p><p>. F</p><p>ot</p><p>og</p><p>ra</p><p>fia</p><p>: I</p><p>D</p><p>/B</p><p>R</p><p>140 Não escreva no livro.</p><p>CONFLITOS TERRITORIAIS ENTRE O BRASIL E</p><p>OUTROS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL</p><p>No século XXI, os conflitos entre Brasil e outros países persistem, apesar de</p><p>não serem bélicos. O caso que envolve a hidrelétrica de Itaipu é um dos exemplos</p><p>mais atuais. Localizada no rio Paraná, fronteira entre Brasil e Paraguai, a constru-</p><p>ção da hidrelétrica teve início na década de 1970, sob protestos, sobretudo de</p><p>ambientalistas, devido aos grandes impactos socioambientais que provocaria.</p><p>Itaipu foi construída entre 1975 e 1982, durante ditaduras militares em ambos</p><p>os países sul-americanos; portanto, em uma época cuja oposição era duramente</p><p>reprimida e as determinações autoritárias não eram transparentes. Itaipu era a</p><p>maior hidrelétrica do mundo até 2012, quando Três Gargantas, na China, passou</p><p>a funcionar em sua capacidade máxima. Em 1979, Argentina, Brasil e Paraguai</p><p>assinaram o Acordo Tripartite, o qual estabelece as variações no nível do rio Pa-</p><p>raná que cada país pode utilizar em seus projetos hidrelétricos, uma vez que as</p><p>águas do rio são compartilhadas pelos três países.</p><p>Em 1973, Brasil e Paraguai haviam assinado o Tratado de Itaipu, visto que a</p><p>construção da hidrelétrica seria feita no trecho de fronteira entre esses dois paí-</p><p>ses. Portanto, a Itaipu é uma empresa binacional, cuja energia gerada pertence</p><p>às duas nações (50% para cada). Porém, como o Paraguai não tinha recursos su-</p><p>ficientes para custear a construção da hidrelétrica, assumiu uma dívida com o</p><p>Brasil a ser paga até 2023. Além disso, ficou estabelecido que, devido ao investi-</p><p>mento majoritário do Brasil, o Paraguai é obrigado a vender ao Brasil, a preço de</p><p>custo, a parte da energia gerada que não utiliza. Atualmente, o Paraguai consome</p><p>cerca de 15% do total de energia gerada por Itaipu, o que supre praticamente to-</p><p>da a sua necessidade interna; o Brasil, por sua vez, consome cerca de 85% do to-</p><p>tal da energia produzida pela hidrelétrica, considerando-se os seus 50% de direi-</p><p>to mais a parte comprada do Paraguai.</p><p>Em 2009, uma crise entre os dois países exigiu a revi-</p><p>são do acordo, pois o Paraguai se considerava penalizado</p><p>ao ter de vender a sua parte de energia não utilizada por</p><p>preços considerados baixos. O Brasil passa, então, a pagar</p><p>mais pela energia comprada do Paraguai. Mas, em 2019,</p><p>o assunto voltou à tona por denúncias sobre um acordo</p><p>secreto que cobrava do Paraguai um preço mais elevado</p><p>pela energia consumida gerada pela usina.</p><p>A questão energética também já foi o cerne de tensões</p><p>entre Brasil e Bolívia, que é grande produtora e exporta-</p><p>dora de gás natural. O Brasil é um de seus principais com-</p><p>pradores, e a Petrobras é uma das exploradoras desse re-</p><p>curso energético. Em 2006, a Bolívia aumentou o imposto</p><p>sobre o gás natural de 50% para 82%, enfrentando os in-</p><p>teresses comerciais das empresas estrangeiras presentes</p><p>no país e gerando crises diplomáticas com as nações en-</p><p>volvidas no comércio de gás natural.</p><p>À época, o exército boliviano invadiu as áreas ocupadas</p><p>pelas empresas estrangeiras que exploravam gás natural</p><p>no país e deu 180 dias para que aceitassem as novas regras de taxação. Em 2007,</p><p>Brasil e Bolívia negociaram um novo acordo, no qual o governo brasileiro aceitou</p><p>que a Petrobras pagasse mais pela exploração do recurso energético no país. Em</p><p>2019, cerca de um quinto do gás natural consumido no Brasil era importado da Bo-</p><p>lívia, sendo transportado pelo gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), cuja construção foi</p><p>iniciada em 1997 e sua operação plena se deu em 2010. Partindo da cidade boli-</p><p>viana de Rio Grande (próxima à Santa Cruz de la Sierra), o gasoduto entra em ter-</p><p>ritório brasileiro pelo município de Corumbá (MS), atravessa 136 municípios distri-</p><p>buídos pelos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e</p><p>Rio Grande do Sul e chega a seu destino final, a cidade de Canoas (RS).</p><p>1. O gasoduto Bolívia-Bra-</p><p>sil atravessa quais es-</p><p>tados brasileiros até</p><p>chegar a seu destino?</p><p>2. Quais conflitos geopo-</p><p>líticos esse tipo de obra</p><p>pode ocasionar?</p><p>IN</p><p>TE</p><p>RA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>Fonte de pesquisa: TBG. Disponível em: http://www.tbg.com.br/</p><p>pt_br/o-gasoduto/tracado.htm. Acesso em: 22 maio 2020.</p><p>GO</p><p>MG</p><p>SP</p><p>PR</p><p>ES</p><p>RJ</p><p>SC</p><p>RS</p><p>MS</p><p>MT</p><p>BOLÍVIA</p><p>Rio Grande</p><p>Corumbá</p><p>Paulínia</p><p>Guararema</p><p>Araucária</p><p>Canoas</p><p>PARAGUAI</p><p>ARGENTINA</p><p>URUGUAI</p><p>OCEANO</p><p>ATLÂNTICO</p><p>60ºO</p><p>Trópico de Capricórnio</p><p>20ºS</p><p>0 365 km</p><p>Gasoduto</p><p>Principais</p><p>estações</p><p>AMÉRICA DO SUL: GASODUTO BOLÍVIA-BRASIL (2020)</p><p>Jo</p><p>ão</p><p>M</p><p>ig</p><p>ue</p><p>l A</p><p>. M</p><p>or</p><p>ei</p><p>ra</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>141Não escreva no livro.</p><p>brasileiro. Brasil e Colômbia, em apoio à oposição vene-</p><p>zuelana, enviaram mantimentos ao país vizinho sob a</p><p>forma de ajuda humanitária, mesmo com o fechamento</p><p>das fronteiras imposto pelo governo venezuelano.</p><p>Devido à conturbada situação política e econômica na</p><p>Venezuela, muitos venezuelanos passaram a emigrar,</p><p>especialmente, para os demais países da América do Sul.</p><p>Em 2019, quatro milhões de venezuelanos deixaram o</p><p>país. Colômbia, Peru, Chile, Equador, Brasil e Argentina</p><p>eram, nesta ordem, os países que mais recebiam os ve-</p><p>nezuelanos, muitos deles, como refugiados.</p><p>Milhares de jovens venezuelanos têm sua vida drastica-</p><p>mente afetada por violência, fome ou pela interrupção de</p><p>seus estudos. Além disso, muitas vezes, esses jovens são</p><p>vítimas de xenofobia (aversão a estrangeiros) nos países</p><p>para onde migram. Entre agosto de 2018 e junho de 2019,</p><p>cerca de 1 900 crianças e jovens venezuelanos cruzaram a</p><p>fronteira do Brasil sozinhos ou acompanhados de pessoas</p><p>que não são seus responsáveis legais, o que os coloca em</p><p>situação de grande vulnerabilidade.</p><p>Em 2018, em meio ao grande fluxo migratório, uma de-</p><p>cisão judicial fechou a fronteira brasileira à entrada de ve-</p><p>nezuelanos no estado de Roraima até que houvesse condi-</p><p>ções de amparo humanitário para recebê-los. Algumas</p><p>horas depois, outra decisão da justiça reabriu a fronteira.</p><p>Entretanto, devido à violência que vigora na região, em que</p><p>grupos de brasileiros começaram a perseguir e responder</p><p>com violência à presença dos imigrantes em Roraima, o go-</p><p>verno estadual pediu ao Supremo Tribunal Federal que per-</p><p>mitisse o fechamento temporário das fronteiras, o que lhe</p><p>foi negado por contrariar a Constituição Federal do Brasil e</p><p>os tratados internacionais.</p><p>A CRISE VENEZUELANA</p><p>Em situações de graves desacordos políticos entre</p><p>países ou em momentos de crise econômica ou sanitária,</p><p>os Estados podem fechar suas fronteiras. Isso implica a</p><p>proibição da passagem de pessoas e/ou mercadorias que</p><p>venham do país que sofreu essa retaliação.</p><p>A Venezuela, país que faz fronteira com o Brasil nos</p><p>estados do Amazonas e de Roraima, vive uma crise polí-</p><p>tica e econômica. Essa crise está relacionada a fatores</p><p>como a dependência do petróleo como principal fonte de</p><p>renda do país, a queda do preço do valor do barril no mer-</p><p>cado internacional, o desenvolvimento incipiente da in-</p><p>dústria e da agricultura e as sanções impostas pelos Es-</p><p>tados Unidos e seus interesses em obter acesso às</p><p>reservas petrolíferas da Venezuela. A crise se tornou mais</p><p>aguda no final de 2015, quando foram realizadas eleições</p><p>legislativas e a oposição ao governo do presidente Nico-</p><p>lás Maduro ganhou maioria na Assembleia Nacional.</p><p>Em 2016, após a posse dos novos parlamentares, a</p><p>oposição defendia a interrupção do governo de Maduro</p><p>ainda naquele ano, cujo mandato duraria até 2019, devido</p><p>às acusações de perseguição a líderes oposicionistas, ao</p><p>desrespeito aos direitos humanos e ao insustentável qua-</p><p>dro de crise econômica. Em meio à severa crise de abaste-</p><p>cimento e às elevadas taxas de inflação, milhares de ve-</p><p>nezuelanos também foram às ruas, em uma sequência de</p><p>protestos contra o governo, e começaram a cruzar as fron-</p><p>teiras com a Colômbia e o Brasil para conseguir comprar</p><p>alimentos, medicamentos e demais produtos de primeira</p><p>necessidade. O governo de Maduro chegou a fechar e a</p><p>controlar os horários de passagem pelas fronteiras terres-</p><p>tres do país e, em resposta à oposição, criou uma nova As-</p><p>sembleia Legislativa Constituinte formada por governistas</p><p>e antecipou as eleições presidenciais para 2018. Em um</p><p>pleito não reconhecido pela oposição e contestado por di-</p><p>versos países, Maduro foi reeleito, o que levou o líder do</p><p>parlamento, Juan Guaidó, a se autodeclarar presidente.</p><p>Diversos Estados passaram a apoiar e reconhecer o</p><p>oposicionista Guaidó como presidente, o que levou ao</p><p>agravamento das tensões diplomáticas. Em 2020, o Bra-</p><p>sil ordenou a retirada de seus diplomatas da Venezuela</p><p>e deu um prazo para que o governo de Maduro fizesse o</p><p>mesmo em relação aos seus funcionários em território</p><p>1. Que tipo de preconceito sofrem os venezuela-</p><p>nos que chegam ao Brasil? Como isso culmina</p><p>em conflitos?</p><p>2. De que maneira os preconceitos, como racismo</p><p>e LGBTQI+fobia, resultam conflitos cotidianos</p><p>no Brasil? Dê exemplos de situações conflitantes</p><p>em decorrência da existência de preconceitos e</p><p>comente como é possível combater as diferentes</p><p>formas de discriminação.</p><p>IN</p><p>TE</p><p>RA</p><p>ÇÃ</p><p>O</p><p>Venezuelanos formam fila</p><p>no posto da Polícia Federal</p><p>em Pacaraima (RR) para</p><p>dar entrada ao pedido de</p><p>refúgio. Foto de 2018.</p><p>E</p><p>dm</p><p>ar</p><p>B</p><p>ar</p><p>ro</p><p>s/</p><p>Fu</p><p>tu</p><p>ra</p><p>P</p><p>re</p><p>ss</p><p>142</p><p>Pessoas usam máscaras e respeitam</p><p>o distanciamento social no metrô de</p><p>São Paulo (SP) durante a pandemia</p><p>de covid-19. Foto de 2020.</p><p>FECHAMENTO DAS FRONTEIRAS: A PANDEMIA DE</p><p>COVID-19 E O BOICOTE AOS PRODUTOS BRASILEIROS</p><p>O fechamento imperativo de fronteiras pode ocorrer devido a emergências sa-</p><p>nitárias. Em 2020, devido à pandemia de covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2,</p><p>mais de 50 países decidiram fechar suas fronteiras temporariamente a fim de evi-</p><p>tar a propagação da doença. Fronteiras terrestres e aéreas passaram a ser estri-</p><p>tamente controladas, restringindo a entrada e a saída de pessoas.</p><p>Aos nacionais e residentes permanentes do país em questão, as fronteiras ge-</p><p>ralmente permanecem abertas garantindo o direito constitucional de entrada em</p><p>seu país de origem. No entanto, aqueles que estavam no exterior, ao regressarem,</p><p>podem ser submetidos à quarentena, ou seja, de acordo com o período de incu-</p><p>bação da doença, as pessoas são submetidas a medidas restritivas de circulação</p><p>para evitar que a moléstia se propague. Em março de 2020, dado o contexto da</p><p>pandemia de covid-19, o Brasil também fechou temporariamente suas fronteiras</p><p>a fim de restringir a entrada de pessoas de todas as nacionalidades por via aérea,</p><p>terrestre ou aquaviária.</p><p>Em momentos de pandemia, a vida cotidiana é profundamente modificada,</p><p>resultando não apenas a privação da circulação de pessoas, mas também a alte-</p><p>ração de sua rotina de trabalho e estudos. Muitos jovens são afetados por altera-</p><p>ções em seu calendário escolar e têm de se adaptar às aulas a distância (videoau-</p><p>las ou transmissões simultâneas via internet), acirrando, dessa maneira, as</p><p>desigualdades educacionais. A falta de acesso à internet, por exemplo, impede</p><p>que muitos estudantes tenham condições de acompanhar o ensino remoto. Além</p><p>disso, muitos deles não dispõem de espaço adequado ao estudo em casa ou não</p><p>conseguem organizar uma rotina de estudos, por ficarem incumbidos dos cuida-</p><p>dos de irmãos mais novos. É crítica a situação das crianças cujos pais trabalham</p><p>em atividades essenciais e não podem deixá-las nas creches e nas escolas de</p><p>Ensino Infantil porque elas estão fechadas. As famílias menos favorecidas sofrem</p><p>com a impossibilidade de seus filhos poderem se alimentar com a merenda ser-</p><p>vida nas escolas, e muitas pessoas, ao perderem seus empregos durante a crise,</p><p>são submetidas à situação de pobreza e de grande insegurança alimentar.</p><p>O fechamento de fronteiras, por sua vez, também pode ser aplicado à entrada</p><p>de mercadorias, alcançando uma dimensão econômica. Devido às grandes quei-</p><p>madas provocadas na Amazônia brasileira em 2018, por exemplo, diversos paí-</p><p>ses ameaçaram fechar suas fronteiras a determinados produtos exportados pe-</p><p>lo Brasil. A postura ambientalista visou pressionar o governo federal a rever seus</p><p>posicionamentos e mecanismos de fiscalização em relação à conservação e à</p><p>preservação da região que abriga a mais rica biodiversidade do planeta.</p><p>Além da ameaça de boicote a produtos como a carne brasileira, uma vez que a</p><p>pecuária é uma das atividades responsáveis</p><p>pelo aumento do desmatamento da floresta</p><p>Amazônica, as</p><p>fronteiras também podem ser</p><p>fechadas aos produtos agrícolas em cuja pro-</p><p>dução são usados pesticidas já proibidos em</p><p>outros países. Nos últimos anos, o Brasil, apon-</p><p>tado como o maior consumidor mundial de</p><p>agrotóxicos, é alvo de auditorias e visitas a</p><p>cadeias produtivas, promovidas por países</p><p>importadores de suas commodities, com o</p><p>objetivo de se certificarem da qualidade des-</p><p>ses produtos e dos possíveis riscos à saúde</p><p>que eles representam.</p><p>D</p><p>an</p><p>ie</p><p>l C</p><p>ym</p><p>ba</p><p>lis</p><p>ta</p><p>/P</p><p>ul</p><p>sa</p><p>r</p><p>Im</p><p>ag</p><p>en</p><p>s</p><p>143Não escreva no livro.</p><p>O CAMPO BRASILEIRO: TERRITÓRIO DE LUTAS</p><p>E CONFLITOS</p><p>O Brasil ainda é palco de muitos conflitos de origem histórica, a exemplo das lu-</p><p>tas contra a concentração de terras nas mãos de poucos, uma herança do modelo</p><p>agroexportador cuja base é o latifúndio e o trabalho escravo. Esse modelo perpe-</p><p>tuou a exclusão social e a violência como características da dinâmica do campo bra-</p><p>sileiro. Um dos pilares históricos desse conflito é a Lei de Terras, de 1850, primeira</p><p>tentativa de regulamentar a questão fundiária no Brasil que, na prática, inaugurou</p><p>o mercado de terras no país. A partir dessa lei, o acesso à terra só pode ser feito</p><p>mediante a compra, o que agravou a concentração fundiária.</p><p>Para compreender as lutas organizadas pela reforma agrária, é preciso voltar</p><p>às ligas camponesas, que surgiram no Nordeste. Nessa região, conservou-se o</p><p>modelo de latifúndio do passado açucareiro, em que a posse de terras, mesmo</p><p>que improdutivas, garante o poder político às velhas oligarquias. Desde a déca-</p><p>da de 1940, as ligas já atuavam como movimento social durante o governo de</p><p>Getúlio Vargas, mas foi na década de 1950 que passam a se organizar mais efe-</p><p>tivamente com os trabalhadores rurais, destacadamente em Vitória de Santo</p><p>Antão, município pernambucano. Sob forte oposição do coronelismo vigente nes-</p><p>sa região, as lutas pela reforma agrária foram associadas ao socialismo dos tem-</p><p>pos da Guerra Fria, o que resultou contínuas perseguições e assassinatos de</p><p>seus líderes, sobretudo após o golpe civil-militar de 1964.</p><p>Durante os anos de ditadura militar, os movimentos sociais foram violentamen-</p><p>te reprimidos, mas, no final da década de 1970, as ocupações de terra voltaram</p><p>a ser mais intensas. Em 1979, um grande acampamento, conhecido como Encru-</p><p>zilhada Natalino, foi montado no Rio Grande do Sul, próximo à cidade de Passo</p><p>Fundo, no norte do estado, e chegou a ter cerca de 600 famílias, tornando-se o</p><p>símbolo da luta dos sem-terra. Sob o cerco militar, o desfecho ocorreu apenas em</p><p>1982, quando as pessoas foram transferidas para abrigos provisórios montados</p><p>em uma propriedade adquirida pela Igreja católica. Em 1984, enfim, os trabalha-</p><p>dores rurais reuniram-se em um congresso na cidade de Cascavel (PR) e funda-</p><p>ram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que hoje agrega</p><p>mais de 1 milhão de integrantes. Ao longo dos anos, o MST incorporou as práticas</p><p>agroecológicas de produção, contrapondo-se ao agronegócio, grande consumi-</p><p>dor de agrotóxicos. Assim, o MST tornou-se, por exemplo, o maior produtor de ar-</p><p>roz orgânico da América Latina.</p><p>Violência no campo</p><p>Em 17 de abril de 1996, ocorreu um dos mais sangrentos conflitos no cam-</p><p>po brasileiro, quando 150 policiais militares armados e sem fardas interrom-</p><p>peram uma caminhada do MST em Eldorado dos Carajás, no estado do Pará,</p><p>o que resultou no massacre dos trabalhadores sem-terra, com 21 mortos e</p><p>69 feridos. Dois comandantes da operação militar foram presos e condena-</p><p>dos, no entanto nenhuma autoridade política ou policial foi punida pelo ocor-</p><p>rido. Segundo a Anistia Internacional, massacres como o de Eldorado dos</p><p>Carajás são recorrentes e representam uma grave violação dos direitos hu-</p><p>manos, bem como as injustiças cometidas contra trabalhadores rurais, povos</p><p>indígenas e povos quilombolas. Entre 1964 e 2014, foram registrados, ape-</p><p>nas no estado do Pará, 947 assassinatos de trabalhadores rurais, lideranças,</p><p>religiosos e advogados. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, em 2019, o</p><p>Brasil registrou 1 833 conflitos no campo.</p><p>1. Você conhece outros episódios de violência no campo? Qual foi a resolu-</p><p>ção dada ao conflito?</p><p>2. Quais ações podem ser empregadas para diminuir a violência no campo?</p><p>Explique.</p><p>RE</p><p>FL</p><p>EX</p><p>Ã</p><p>O</p><p>PARA EXPLORAR</p><p>» Cabra marcado para morrer.</p><p>Direção: Eduardo Coutinho.</p><p>Brasil, 1984 (119 min).</p><p>No início da década de 1960,</p><p>o líder camponês João Pedro</p><p>Teixeira é assassinado por or-</p><p>dem de latifundiários do</p><p>Nordeste. Sua história é con-</p><p>tada em um filme, interpreta-</p><p>do pelos próprios camponeses.</p><p>A produção, porém, é inter-</p><p>rompida pelo golpe civil-mili-</p><p>tar de 1964. Anos depois, o</p><p>cineasta Eduardo Coutinho</p><p>retoma o projeto e sai em bus-</p><p>ca da viúva Elizabeth Teixeira</p><p>e de seus filhos, separados</p><p>devido à repressão e à perse-</p><p>guição imposta pela ditadura.</p><p>Grupo de pessoas integrantes do</p><p>Movimento dos Trabalhadores Rurais</p><p>Sem Terra (MST), em acampamento</p><p>no Mato Grosso do Sul. Foto de 1984.</p><p>A</p><p>rq</p><p>ui</p><p>vo</p><p>/E</p><p>st</p><p>ad</p><p>ão</p><p>C</p><p>on</p><p>te</p><p>úd</p><p>o</p><p>144 Não escreva no livro.</p><p>CONFLITOS URBANOS</p><p>As cidades brasileiras são marcadas por diferentes conflitos territoriais, nos quais</p><p>se incluem aqueles que contrapõem interesses especulativos do mercado imobiliá-</p><p>rio, de um lado, e as lutas e reivindicações por moradia social, de outro. A exclusão</p><p>social e a ineficácia das políticas de habitação em assegurar o direito constitucional</p><p>à moradia digna a toda a população brasileira relacionam-se, atualmente, aos mais</p><p>de 13 milhões de pessoas que vivem em habitações precárias no país. Em geral, elas</p><p>não são contempladas com infraestrutura que garanta o saneamento básico, o for-</p><p>necimento de energia elétrica e a chegada de linhas de transporte público. Além</p><p>disso, muitas dessas moradias ocupam áreas de risco ou terrenos sobre os quais</p><p>a justiça pode pedir reintegração de posse ao proprietário, obrigando a saída dos</p><p>habitantes locais.</p><p>O déficit habitacional no Brasil revela a contradição expressa pela existência de</p><p>cerca de 7 milhões de sem-teto e dos mais de 6 milhões de imóveis desocupados.</p><p>Muitos desses imóveis, em vez cumprir a função social da propriedade, acabam</p><p>servindo à especulação imobiliária. Esses imóveis aguardam por uma futura valo-</p><p>rização para serem reinseridos no mercado, enquanto milhares de famílias não</p><p>têm onde morar. Como consequência, muitos prédios abandonados, sem infraes-</p><p>trutura adequada, são ocupados por sem-tetos. Em 2018, o edifício Wilton Paes</p><p>de Almeida, no centro do município de São Paulo, que estava ocupado por 240 fa-</p><p>mílias sem-teto, sofreu um grande incêndio e desabou, deixando sete mortos e</p><p>dois desaparecidos.</p><p>Outro conflito que atinge a vida de milhões de brasileiros, principalmente nas</p><p>grandes cidades, é a violência gerada pelo tráfico de drogas em razão da luta pe-</p><p>lo controle do poder local e as disputas territoriais entre facções criminosas. Se-</p><p>gundo dados do Atlas da violência de 2019, do Ipea, a violência atinge sobretudo</p><p>os jovens brasileiros. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes no grupo de</p><p>pessoas entre 15 e 29 anos é de 69,9%, semelhante à dos países mais violentos</p><p>do mundo, afetando principalmente a população masculina (cerca de 92% das</p><p>vítimas). A principal causa das mortes são as disputas entre facções criminosas,</p><p>tanto nos territórios dominados pelo tráfico nas grandes cidades quanto nas ro-</p><p>tas regionais por onde as drogas são escoadas, especialmente para o exterior.</p><p>Os conflitos envolvem, ainda, policiais militares e soldados do exército, mobili-</p><p>zados em operações de combate ao narcotráfico. Muitas operações malsucedidas</p><p>em áreas urbanas e de grande adensamento populacional expõem práticas vio-</p><p>lentas da polícia contra as populações locais, revelando comportamentos autori-</p><p>tários e discriminatórios das forças policiais.</p><p>Área onde onde se localizava o</p><p>edifício Wilton Paes de Almeida em</p><p>São Paulo (SP). Foto de 2019.</p><p>Violência policial</p><p>Operações policiais em comunidades são cotidianas no país, e os conflitos</p><p>fazem</p><p>as populações menos favorecidas reféns da violência praticada pelos</p><p>traficantes e também pela resposta policial. Em setembro de 2019, a morte da</p><p>menina Agatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, foi um dos casos que ganhou</p><p>grande repercussão nacional. Ela foi atingida por um tiro nas costas no Com-</p><p>plexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro. Depoimentos da comunidade</p><p>local acusam a polícia militar de ter realizado um disparo contra uma moto sus-</p><p>peita, e o tiro atingiu o veículo onde estava a criança; a versão da polícia falava</p><p>em confronto com criminosos. Em maio de 2020, João Pedro Mattos Pinto, de</p><p>14 anos, também foi vítima de um tiroteio durante uma ação policial no Com-</p><p>plexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ). Esses casos repercutiram como uma</p><p>parte dos trágicos episódios da violência policial nas periferias das metrópoles</p><p>brasileiras.</p><p>1. Você conhece outros casos de vítimas em ações policiais? Se sim, em que</p><p>tipos de conflito? Converse com os colegas.</p><p>RE</p><p>FL</p><p>EX</p><p>Ã</p><p>O</p><p>A</p><p>lo</p><p>is</p><p>io</p><p>M</p><p>au</p><p>ric</p><p>io</p><p>/F</p><p>ot</p><p>oa</p><p>re</p><p>na</p><p>145Não escreva no livro.</p><p>ATIVIDADES</p><p>a) Aponte as principais razões da migração de jovens</p><p>venezuelanos para o Brasil.</p><p>b) Cite as maiores dificuldades enfrentadas por</p><p>esses jovens recém-chegados ao Brasil.</p><p>3 Com base em uma análise mais ampla sobre o fe-</p><p>chamento de fronteiras aos produtos agrícolas</p><p>brasileiros devido ao uso de agrotóxicos proibidos</p><p>nos demais países, por que se pode dizer que esses</p><p>defensivos químicos afetam a soberania econômica</p><p>nacional?</p><p>4 Leia o fragmento a seguir e responda à questão.</p><p>1 Leia o texto a seguir e, depois, responda às questões.</p><p>Desde 2007 a Coordenação das Organizações In-</p><p>dígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Adminis-</p><p>tração Regional da Fundação Nacional do Índio (Fu-</p><p>nai) em Tabatinga, região Sudoeste Amazonense,</p><p>próxima às fronteiras com o Peru e Colômbia, denun-</p><p>ciam o aumento do tráfico de drogas na região, bem</p><p>como o uso de indígenas no transporte de entorpe-</p><p>centes por grupos ligados às Forças Revolucionárias</p><p>da Colômbia (Farc). Essa situação tem ocorrido espe-</p><p>cialmente no município de Tabatinga, mas também</p><p>pode ser verificada em São Gabriel da Cachoeira, Bar-</p><p>celos, Santa Izabel do Rio Negro, Benjamin Constant,</p><p>São Paulo de Olivença, Amaturá, São Antônio do Içá,</p><p>Japurá e Tonantins. Segundo autoridades locais, a fal-</p><p>ta de ações de combate ao tráfico por parte da Polícia</p><p>Federal e a falta de ações sociais por parte do gover-</p><p>no federal vêm contribuindo para a intensificação do</p><p>tráfico e do consumo de drogas entre as comunidades</p><p>indígenas da região.</p><p>Fiocruz. Mapa de conflitos envolvendo injustiça</p><p>ambiental e saúde no Brasil. Disponível em:</p><p>http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/?conflito=am-</p><p>intromissao-do-trafico-de-cocaina-na-vida-dos-povos-</p><p>indigenas-do-sudoeste-amazonense-inoperancia-dos-</p><p>governos-federal-e-estadual-facilita-a-atividade-dos-</p><p>narcotraficantes-e-deixa-os-jovens-indi.</p><p>Acesso em: 18 maio 2020.</p><p>O ministro da Comunicação da Venezuela, Jorge</p><p>Rodríguez, acusou o Brasil de estar por trás de um</p><p>ataque a uma base militar no sul do país, que deixou</p><p>um morto e um ferido.</p><p>[…]</p><p>Segundo o ministério da Defesa da Venezuela, os</p><p>autores do ataque são setores extremistas da oposi-</p><p>ção, apoiados pelo Brasil. Ainda segundo o ministério,</p><p>os invasores levaram um lote de armas e um cami-</p><p>nhão da base, que fica em Gran Sabana, estado de</p><p>Bolívar, na fronteira com o Brasil.</p><p>Ministro venezuelano acusa Brasil de estar por trás de</p><p>ataque a base militar. Folha de S.Paulo, 22 dez. 2019.</p><p>Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/</p><p>mundo/2019/12/ministro-venezuelano-acusa-brasil-de-</p><p>estar-por-tras-de-ataque-a-base-militar.shtml.</p><p>Acesso em: 18 maio 2020.</p><p>Uma preocupação comum entre os adolescentes</p><p>de 14 a 17 anos que chegam sozinhos ao Brasil é ar-</p><p>rumar emprego para “sustentar” os pais e irmãos que</p><p>ficaram na Venezuela.</p><p>Nesses casos, os defensores avaliam a maturidade</p><p>do adolescente para decidir se devem ser encaminha-</p><p>dos para casas de acolhimento de menores de idade</p><p>ou se podem ser emancipados. Também é feita uma</p><p>busca por parentes que possam se responsabilizar</p><p>pelo jovem no Brasil. […]</p><p>a) Qual a relação entre a proximidade da fronteira</p><p>e a violência contra os povos indígenas?</p><p>b) Em sua opinião, qual é o grupo de maior vulnera-</p><p>bilidade entre os indígenas do Sudoeste Amazo-</p><p>nense? Se preciso, faça uma rápida pesquisa</p><p>sobre a questão apresentada pelo texto.</p><p>2 Sobre a crise venezuelana, leia o texto a seguir e,</p><p>depois, responda às questões.</p><p>A vontade de se mudar para o Brasil é motivada</p><p>pela vontade de “estudar e futuramente trabalhar</p><p>e ajudar a mãe e os irmãos”, conforme informações</p><p>do relatório do subcomitê de triagem que atendeu</p><p>o jovem.</p><p>[…]</p><p>Alguns jovens, no entanto, enfrentam grande difi-</p><p>culdade para conseguir emprego formal no Brasil, es-</p><p>pecialmente porque a porta de entrada, Pacaraima, é</p><p>uma cidade pobre de Roraima, que oferece poucas</p><p>oportunidades de trabalho.</p><p>paSSarinho, Nathalia. Crianças venezuelanas cruzam</p><p>sozinhas a fronteira com o Brasil. Época, 9 set. 2019.</p><p>Disponível em: https://epoca.globo.com/mundo/criancas-</p><p>venezuelanas-cruzam-sozinhas-fronteira-com-</p><p>brasil-23936485. Acesso em: 18 maio 2020.</p><p>Do ponto de vista político-ideológico, o que justifica</p><p>a acusação do governo venezuelano ao Brasil?</p><p>146 Não escreva no livro.</p><p>A vasta maioria dos mortos era de homens – o Paraguai</p><p>teve sua população masculina praticamente dizimada. […]</p><p>A polícia do estado do Rio de Janeiro é a mais letal do</p><p>Brasil. Em 2018, foi responsável pelas mortes de 9 a cada 100</p><p>mil habitantes – uma taxa três vezes e meia maior que nos</p><p>demais estados do país. O número de vítimas da polícia flu-</p><p>minense vem crescendo de forma ininterrupta há cinco anos.</p><p>Em 2018, foi recorde. Os dados iniciais de 2019 apontam pa-</p><p>ra nova alta. De janeiro a julho, policiais do Rio de Janeiro</p><p>mataram 1 075 pessoas – o dobro de mortes cometidas pela</p><p>polícia dos Estados Unidos nesse mesmo período. […]</p><p>Mazza, Luigi; Rossi, Amanda; Buono, Renata. A polícia que mais</p><p>mata. Piauí, 26 ago. 2019. Disponível em: https://piaui.folha.uol.</p><p>com.br/policia-que-mais-mata. Acesso em: 13 maio 2020.</p><p>5 Leia o texto a seguir, analise o gráfico e, depois,</p><p>responda às questões.</p><p>Rio de Janeiro × EUA</p><p>= 10 vítimas</p><p>Rio de Janeiro e Estados Unidos: Número de vítimas da</p><p>polícia (2019).</p><p>GO</p><p>MG</p><p>SP</p><p>PR</p><p>RJ</p><p>SC</p><p>RS</p><p>MS</p><p>MT</p><p>BOLÍVIA</p><p>ARGENTINA</p><p>PARAGUAI</p><p>URUGUAI</p><p>BRASIL</p><p>BA</p><p>DF</p><p>C</p><p>H</p><p>IL</p><p>E</p><p>OCEANO</p><p>ATLÂNTICO</p><p>60ºO</p><p>Trópico de Capricórnio</p><p>20ºS</p><p>0 365 km</p><p>Território perdido</p><p>Território atual</p><p>do Paraguai</p><p>sMink, Veronica. 150 anos do fim da Guerra do Paraguai: a história</p><p>do conflito armado mais sangrento da América Latina. BBC News</p><p>Brasil, 2 mar. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/</p><p>portuguese/brasil-51693818. Acesso em: 15 maio 2020.</p><p>AMÉRICA DO SUL: TERRITÓRIOS ANTES</p><p>E DEPOIS DA GUERRA DO PARAGUAI</p><p>a) Em que período da história do Brasil ocorreu a</p><p>Guerra do Paraguai?</p><p>b) Quais países estavam envolvidos nesse conflito?</p><p>c) Quais países ganharam territórios que pertenciam</p><p>ao Paraguai após o conflito?</p><p>d) Faça uma pesquisa e explique os motivos que</p><p>desencadearam a Guerra do Paraguai.</p><p>7 (Fuvest)</p><p>Na história da América Latina, não houve nenhum con-</p><p>flito armado em que lutaram e morreram tantos homens</p><p>como na Guerra do Paraguai.</p><p>O Brasil, a Argentina e o Uruguai perderam cerca de</p><p>120 mil soldados. Mas a verdadeira tragédia foi enfrentada</p><p>pelo país que, há um século e meio, terminou derrotado no</p><p>conflito com esses três países aliados: o Paraguai.</p><p>Para o Paraguai, não foi só uma derrota militar, mas sim</p><p>um massacre que alguns historiadores consideram um</p><p>genocídio.</p><p>As cerca de 280 mil vítimas paraguaias representavam</p><p>mais da metade da população do país.</p><p>A Lei de Terras, de 1850, e a legislação subsequente co-</p><p>dificaram os interesses combinados de fazendeiros e co-</p><p>merciantes, instituindo as garantias legais e judiciais de</p><p>continuidade do padrão de exploração</p><p>da força de trabalho,</p><p>mesmo que o cativeiro entrasse em colapso. Na iminência</p><p>de transformações nas condições do regime escravista, que</p><p>poderiam comprometer a sujeição do trabalhador, criavam</p><p>as peculiares condições que garantissem, ao menos, a su-</p><p>jeição do trabalho na produção do café.</p><p>José de Souza Martins. O cativeiro da terra. 1979. Adaptado.</p><p>a) Considerando o contexto social de transformações</p><p>a que se refere o autor, explique os interesses com-</p><p>binados de fazendeiros e comerciantes que se co-</p><p>dificaram na promulgação da Lei de Terras de 1850.</p><p>b) Cite e explique um impacto da abolição da escra-</p><p>vidão em relação aos processos de urbanização</p><p>e de industrialização.</p><p>a) A violência policial descrita no texto retrata espe-</p><p>cialmente qual tipo de conflito urbano?</p><p>b) A violência policial afeta sobretudo qual classe</p><p>social e qual porção territorial da capital do Rio</p><p>de Janeiro?</p><p>6 Leia o texto a seguir e analise o mapa desta página</p><p>referente à Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864</p><p>e 1870. Depois, faça o que se pede.</p><p>A</p><p>di</p><p>ls</p><p>on</p><p>S</p><p>ec</p><p>co</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>Jo</p><p>ão</p><p>M</p><p>ig</p><p>ue</p><p>l A</p><p>. M</p><p>or</p><p>ei</p><p>ra</p><p>/ID</p><p>/B</p><p>R</p><p>147Não escreva no livro.</p>

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