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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO ADM 320 – Marketing I Prof: Afonso A. T. F. C. Lima Estagiária de Ensino: Camila S. Gomide O CASO PORTGUARD - Oi Danilo! Danilo olhou para cima e viu João caminhando pelo estacionamento da UFMG. - Alô João – respondeu Danilo enquanto trancava o carro. - Puxa – é este o seu carro? Pergunto João admirando o Golf novo vermelho perolizado, com teto solar. - Isso mesmo. Essa é uma das razões de minhas férias da faculdade terem sido tão boas. Foi o terceiro ano que eu trabalhei no serviço de manutenção de jardins de meu irmão aqui em BH. Além de me divertir bastante, com o dinheiro que economizei trabalhando durante três anos nas férias, pude comprar este carro. - Estou impressionado. Eu reparei que você estacionou aqui, bem longe dos outros carros. - É verdade. Eu não meu preocupava com meu Chevette velho, mas não quero que gente sem cuidado fique fazendo mossa (pequenos amassados na pintura) nas laterais do meu carro. Isso acontecia com meu carro velho, especialmente nos estacionamentos de alunos que tem passagens estreitas. - Devia haver uma lei contra abrir portas batendo no carro dos outros. Ou então deviam inventar uma forma de proteger as portas do carro. Aquelas faixas de borracha que os fabricantes colocam nunca parecem estar no lugar certo. - Concordo com você, comentou Danilo. Seria bom se os carros tivessem um dispositivo que, automaticamente, fizessem uma mossa no carro que o amassou. Talvez assim as pessoas tivessem mais cuidado. Danilo e João riram ao pensar nisso, e passaram a dar outras idéias para solucionar o problema enquanto caminhavam para sua faculdade. Durante os dias seguintes, Danilo viu-se pensando cada vez mais na forma de evitar mossas no carro. Ele sempre foi metido a inventor, e tinha muito jeito para mecânica. Com a dificuldade de emprego para recém-formados, uma tentativa empresarial começou a parecer uma boa idéia. Danilo lembrou-se que um dos professores tinha falado sobre o sucesso dos criadores do autoshades, painéis de papelão colocados por trás dos pára-brisas para manter os carros mais frescos e protegidos do sol. Os inventores do autoshades tiveram êxito porque o produto realmente funcionava, e também porque podiam imprimir nos papelões nomes de empresas que seriam beneficiadas com a propaganda. Danilo achou que, se criasse um dispositivo que protegesse as portas dos carros e, também, fosse uma mídia para propaganda, ele teria o mesmo sucesso. Então, começou a pensar com mais seriedade em desenvolver o produto com essa finalidade. O Produto Danilo mencionou seu projeto a um amigo que acabara de formar-se em engenharia mecânica, e o amigo sugeriu um painel, talvez de borracha, para ser preso do lado de fora do carro. Deveria ser um painel leve, à prova de choque e impermeável. Depois de conversar com inúmeros fornecedores de materiais e ir a várias exposições industriais, Danilo descobriu uma espuma especial que parecia boa. Fabricada por uma firma da cidade, a Minicell 200 (M200) era leve, à prova de choque, relativamente fina (pouco mais de 1 cm.), e podia ser guardada enrolada. Apresentava, porém, algumas desvantagens: era cara, não podia ser exposta ao sol e rasgava facilmente. Danilo achou que podia resolver o problema colocando um tecido por cima da espuma. Descobriu um material com uma variedade de cores que bloqueava o sol e resistia a puxões. Mas o material não aceitava bem a pintura, detalhe que parecia necessário para o sucesso do projeto. Danilo conversou sobre isso com o fabricante, e algumas semanas depois o fabricante descobriu uma nova forma de tratar o material para ele aceitar a pintura. Depois de pesquisar o material para cobrir a espuma, Danilo começou a experimentar métodos de prender o painel no carro. Ele sabia que tinha que ser fácil de usar, como no caso dos autoshades, e acabou optando por ímãs que podiam ser presos com facilidade na espuma. Danilo passou uma tarde inteira escolhendo um nome para o produto. Fez um levantamento de vários nomes, como PORTGUARD, PORTSALV, PORTPRESERV, dentre outros e, por puro instinto, escolheu o primeiro. Ele já tinha o nome, mas percebeu que ainda não tinha o produto completo. Se usasse apenas os ímãs, o painel preso na porta poderia ser roubado. Pensou em vários dispositivos contra o roubo, e decidiu-se por um cabo para ser preso no painel de espuma. Depois de prender o painel, o usuário jogaria o outro lado do cabo e trancaria a porta. O PORTGUARD só poderia ser roubado se fosse rasgado, o que o inutilizaria. Danilo achou que havia chegado a um produto perfeito. Absorvia o impacto das portas dos outros carros, era à prova de roubo e impermeável, podia ser guardado facilmente na mala do carro ou no assento traseiro, e aceitava pintura. Depois disso, ele voltou sua atenção para a fabricação do novo produto. Sabia que não tinha tempo nem experiência e nem dinheiro para fabricar o produto por conta própria. Procurou então organizações que assistiam deficientes na busca de ocupação e renda, que poderiam fabricar seu produto a um preço mais baixo, inclusive montar e pintar os painéis. Em seguida, veio a consideração do preço. Com base no custo total de R$ 30,00 pelo conjunto de dois painéis, Danilo colocou 100% sobre o custo e mais um pouco, totalizando R$ 65,00 pelo conjunto. Depois de ter projetado, dado nome e preço ao produto, ele considerou em que mercado deveria entrar. O Mercado Danilo sabia que devia pesquisar o potencial do mercado, mas achava que tinha pouca base para fazer uma estimativa razoável do potencial de vendas do PORTGUARD. Usando fontes secundárias, ele descobriu que havia 50 milhões de carros rodando no país. Quase 80% deles tinham, pelo menos, 3 anos de fabricação, e 50%, pelo menos 6 anos. Como não havia no mercado produtos comparáveis ao PORTGUARD, Danilo não sabia ao certo quantos proprietários de carros comprariam seu produto. O autoshades parecia ser a comparação mais próxima, mas o preço era muito diferente: custava de R$ 3,00 a R$ 12,00, e o PORTGUARD seria vendido por R$ 65,00. Muitas empresas distribuíam gratuitamente protetores contra o sol como propaganda, mas poucas fariam o mesmo com o PORTGUARD. Ainda assim, Danilo acreditava que seu produto atingia um amplo mercado. Sabia que as vendas de carros do ano anterior no Brasil haviam chegado a 1,8 milhões. Poucos compradores de carros novos encomendavam acessórios de proteção vindos de fábrica, e quem pagasse R$ 25.000,00 ou mais por um carro pagaria, pensava Danilo, um preço razoável para protegê-lo. Isso explicava o sucesso do autoshades. Sua venda foi lenta de início, afinal, era um mero pedaço de papelão, mas depois que foram impressos gráficos e mensagens nos painéis as vendas aumentaram muito, chegando a R$ 40.000,00 ao ano. Danilo sonhava com resultados semelhantes para o PORTGUARD. Se ele conseguisse apenas 10% do mercado de carros novos, estaria vendendo cerca de 180.000 painéis ao ano. Se vendesse para 5% de proprietários dos 50 milhões de carros, corresponderia a vender 2,5 milhões de conjuntos de PORTGUARD. Com esses números na cabeça, Danilo começou a pensar nos detalhes para o lançamento do PORTGUARD. A Abordagem do Mercado Danilo considerou três diferentes abordagens pára a distribuição do produto. Primeiro, achou que poderia atrair uma cadeia varejista nacional, como Pão de Açúcar ou o Carrefour, ambas com grandes departamentos de acessórios automotivos. Depois, considerou vendas por internet e duas empresas vieram à sua cabeça como distribuidores em potencial: Submarino e Shoptime. Essas empresas atingiam um público com poder aquisitivo para comprar o PORTGUARD. E, por fim, pensou em vender diretamente para grandes companhias de cerveja, cigarros, marcas de automóveis, grandes construtoras etc., que poderiam oferecer o produto como propaganda oubrinde. Calculou qual destas três formas de distribuição seria melhor, ou se deveria considerar outras. Apesar de todo o esforço, Danilo sabia que ainda faltava um longo caminho pela frente. Ao voltar da faculdade ele olhou o seu carro parado no canto do estacionamento e sorriu para si mesmo. “Ainda não tem nenhuma mossa”, pensou, “e vou fazer com que continue assim”. Perguntas 1. Que necessidade e desejos do consumidor o PORTGUARD satisfaz? A necessidade humana pode ser definida como um estado de carência percebida. Danilo precisa proteger o investimento que seu carro representa para ele. A conversa que ocorre logo no início do caso indica que sua necessidade não é satisfeita pelos produtos já existentes ou mesmo por suas próprias estratégias pessoais. Isto faz com que ele tente achar uma forma de satisfazer a necessidade. Danilo também está tentando satisfazer sua necessidade de emprego. O mercado de trabalho não está contratando muita gente e, na condição de formando, ele precisa pensar na maneira de inserir-se e sustentar-se depois da graduação. O desejo é a forma que uma necessidade assume na medida em que esta última é moldada pela cultura e pela personalidade do indivíduo. Danilo, assim como outras pessoas, precisa de segurança e de proteção para seu patrimônio. No entanto, após avaliar as alternativas existentes, ele não acredita que qualquer um dos produtos disponíveis possa satisfazê-lo em termos de preservação da carroceria de seu carro. Esta constatação o alerta para uma oportunidade de marketing. Se ele puder desenvolver uma forma de satisfazer sua necessidade de consumidor, ele poderá estar estabelecendo um negócio bem-sucedido. 2. Qual das filosofias de Administração de Marketing foi seguida por Danilo? O conceito de produto estabelece que os consumidores favorecerão produtos que ofereçam a maior qualidade, o melhor desempenho e as características mais avençadas, de forma que a administração deve devotar esforços e energia para realizar melhorias contínuas do produto. Danilo ainda não chegou nesse ponto, embora possa se argumentar que ele esteja seguindo o conceito de produto. Claramente, ele está tentando desenvolver um produto de alta qualidade com características que atrairão os consumidores. Ele tem tentado pensar em todos os aspectos de funcionamento do produto, projetando o PORTGUARD de maneira que solucione os problemas identificados. A estratégia seguida por Danilo é evidentemente guiada pelo conceito de produto. 3. Se o mercado é “o conjunto de compradores reais e potenciais de um produto”, que mercado Danilo deseja atender com o PORTGUARD? Danilo não identificou um mercado-alvo. Ele presumiu que todo proprietário de carro compartilha de sua preocupação com a integridade das laterais de seu veículo, dispondo-se a comprar um produto com a finalidade de protegê-las. Por conta de suas percepções, Danilo encara qualquer pessoa que tenha um carro, ou pelo menos qualquer pessoa que tenha um carro relativamente novo, como um cliente potencial. Além disso, Danilo também encara as empresas como clientes em potencial, supondo que usariam o PORTGUARD como ferramenta promocional. Porém, Danilo não considerou que grande parte das pessoas que tem carros novos e que desejam protegê-los pode não estar disposta a ficar exibindo a logomarca de uma dada empresa em suas laterais. 4. Quais são os problemas de Danilo? Utilize o modelo dos 4 P´s para analisar e responder. Produto: Danilo desenvolveu o produto antes de identificar o mercado-alvo. Ele escolheu rapidamente uma marca para o produto sem discuti-la com clientes potenciais ou outras pessoas que poderiam tê-lo alertado acerca de possíveis problemas. Será que o nome já é usado por outra empresa, por exemplo? Ele também não pensou com cuidado em como os clientes usarão os produtos. Se o tivesse feito, teria percebido que muito pouca gente estaria disposta a montar e desmontar o produto todas as vezes que estacionasse o carro. Danilo também deve pensar sobre questões relativas à garantia do produto. Preço: Danilo fez um bom trabalho ao listar os elementos de custo e então estabeleceu uma margem de 100%. No entanto, ele não considerou que, a menos que se decida pela opção de distribuição direta, seus intermediários também deverão ser remunerados pelo trabalho de fazer o produto chegar ao consumidor, devendo-se considerar margens para eles. Ainda, Danilo não considera os custos de transporte e de marketing, como por exemplo, o custo de promoção. Embora este tipo de item normalmente não seja incluído como custo do produto, ele não pode ser desconsiderado. Promoção: Danilo não considerou promoção de modo algum. Talvez ele tenha presumido que os revendedores de seu produto se encarregariam de todas as atividades promocionais. Porém, não se sabe se as lojas varejistas desejariam ter o PORTGUARD em suas prateleiras sem dispor de informações sobre a demanda e o comportamento do consumidor. Distribuição: O caso termina com Danilo considerando três alternativas de distribuição – lojas de varejo, catálogos, ou venda direta a empresas nacionais. Em qualquer uma delas, Danilo terá que ser capaz de produzir grandes quantidades do produto rapidamente. Ele não tem planos para conseguir isto nem tampouco possui os recursos de fabricação e distribuição para atender as demandas destes três canais.
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